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Volume 1, Número 3
ISSN 2527-0532 João Pessoa, 2017
Artigo
A EDUCAÇÃO LIBERTADORA E O FAZER PEDAGÓGICO: O DESAFIO DA ESCOLA PÚBLICA
Páginas 199 a 212 199
A EDUCAÇÃO LIBERTADORA E O FAZER PEDAGÓGICO: O DESAFIO DA
ESCOLA PÚBLICA
Nilma Maria de Oliveira Leal1
Leila Cristina B. C. Rodrigues Pinto2
João Rodrigues Pinto3
RESUMO - O presente artigo propõe uma reflexão acerca da gênese da educação
libertadora, partindo do pressuposto de que a mesma pode ser compreendida como uma
base de formação humano/social capaz de sistematizar o conhecimento, a partir da leitura
da realidade que se estende para além dos muros escolares. Trata-se de um estudo
dialético, pautado nas concepções de Karl Marx, Konder e Adorno, entre outros, levando
em conta, a priori, o pensamento de Paulo Freire. O mesmo considera que a educação é a
prática da liberdade, porque sempre acreditou em democracia – no seu sentido mais
profundo, transformador e humano. Para esse estudioso, “[...] a educação é um ato
coletivo (cultural), solidário, um ato de amor. É saber que somos ensinados”. Assim,
pode-se considerar essa proposta, como um elemento motivador para o debate sobre a
educação emancipatória que coloca em pauta dois polos: a escola ideal e a escola real.
Entender os desafios, os avanços e a prática pedagógica na educação básica, nesse
contexto, é o objetivo central desse estudo.
Palavras-chave: Educação. Ensino. Conhecimento. Libertação.
ABSTRACT - This article proposes a reflection about the genesis of liberating education,
starting from the assumption that it can be understood as a base of human / social
formation capable of systematizing knowledge, from the reading of reality that extends
1 Graduada em História (FAFI-BH); Especialista em Cultura Afro-Brasileira (FINOM);
Especialista em Planejamento Educacional (UNIVERSO); Mestranda em Ciências da Educação
(SCHOOL OF EDUCATION). nilmamarialeal@hotmail.com 2 Graduada em Ciências Biológicas (UFES); Especialista em Biologia (FIJ); Gestão Ambiental
(UFLA). leilacrisbc@hotmail.com 3 Graduado em Letras (UFES); Especialista em História do Brasil (UFES); Mestre em Teatro
(UNIRIO); Doutor em Linguística (PUC-Minas). Professor do Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia Baiano.
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beyond the walls school children. It is a dialectical study, based on the conceptions of
Karl Marx, Konder and Adorno, among others, taking into account, a priori, the thought
of Paulo Freire. He considers education to be the practice of freedom, because he has
always believed in democracy - in its deepest, most transformative and humane sense.
For this scholar, "[...] education is a collective act (cultural), solidarity, an act of love. It's
knowing we're being taught”. Thus, this proposal can be considered as a motivating
element for the debate on emancipatory education that deals with two poles: the ideal
school and the real school. Understanding the challenges, advances and pedagogical
practice in basic education, in this context, is the central objective of this study.
Keywords: Education. Teaching. Knowledge. Release
CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O tema educação sempre foi largamente debatido na sociedade mundial. No
Brasil, não é diferente, pois aqui, o ato de educar ainda é o maior desafio e quanto mais a
sociedade se desenvolve, mais se abre o leque de questionamentos e poucas respostas
diante da grande interrogação: é possível educar, de fato e de direito, uma pessoa?
Embora alguns avanços tenham sido pontuados no sistema educacional brasileiro,
sobretudo, na escola pública, diversos estudiosos são unânimes em afirmar que ainda
estamos distantes de uma educação verdadeiramente emancipatória. As escolas ainda são
jaulas que prendem os jovens e estes, atrás das grades, são separados da realidade. A
escola é um espaço fechado e esse fechamento é incorporado no processo de formação
do estudante. Existe vida para além dos muros escolares, todo mundo sabe disso, menos
a escola - o que é penoso. Da estrutura física, para o fazer pedagógico, outra muralha se
ergue: aquela que separa a teoria da prática. Não de modo equivalente, mas extremamente
desigual: 95% de teoria (aulismo, pedagogismo, ativismo) e o restante 5%, de prática (a
saber: visitas e viagens de estudo, palestras, feiras de ciência, hortas comunitárias,
práticas laboratoriais, entre outras “novidades” – confundidas com prática).
Mas não para aí. Os estudantes saem da educação básica e, exultantes, vão para o
ensino médio, pensando que tudo será diferente. Entretanto, verão as mesmas grades, a
mesma jaula, o percentual de 95% de teoria e os mesmos 5% de prática. O saldo é
extremamente doloroso: formação alienada, de gabinete, sem sabor. Esses “formandos”
serão os novos cidadãos, os novos políticos, os novos legisladores.
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Posto tais considerações, voltemos à pergunta inicial: é possível educar, de fato e
de direito, uma pessoa? Parafraseando Paulo Freire, podemos argumentar que educar a
criança, o adolescente e o adulto é uma tarefa ilusória, afinal ninguém educa ninguém.
Aprendemos juntos, no dia-a-dia, observando tudo aquilo que nos cerca e interpretando
aquilo que vemos e/ou vivemos. Desse modo, será possível compreender a realidade que
nos cerca, a história, a cultura, as tradições, a comunidade, e assim por diante. São os
chamados elementos reais que fazem parte da vida do ser humano e que a escola, na
maioria das vezes, releva a terceiro plano ou até ultrapassa o limite da insensatez: trocam
as informações reais, locais e vivas, pelas “verdades” dos livros, do computador, da
televisão.
O conhecimento empírico desaparece como algo desprovido de sentido. Ora, se a
escola afirma que uma suposta criança da periferia não possui história, mas, afirma e
respeita a história de centenas de personalidades, certamente estará transformando aquela
criança numa máquina, pois se ela não possui história, logo, não existe: é objeto, coisa,
máquina.
Embora muitos teóricos “torçam o nariz”, não há como negar que o ponto de
partida é a realidade do aprendiz e é exatamente esse o nó da questão: libertar aquele
aluno de sua condição de ouvinte passivo, para a de participante ativo, inserido no
processo que ele está construindo, partindo daquilo que ele conhece. Eis a missão da nossa
escola. Se a dona Joaquina lá do morro está morando ali, existe um ou inúmeros motivos
e tais são elementos constituidores de uma história social, política, econômica de uma
mulher que retrata as desigualdades do seu país. A geografia, a história, o português, a
matemática devem – e isso é possível – harmonizar seus conteúdos, estreitando as
distâncias entre o que a escola ensina e o que é vivido pelos seus frequentadores. Então,
a palavra (a teoria), fará sentido. Terá sabor. Graça. Libertação.
Para Fiori (1991, p. 56):
[...] com a palavra, o homem se faz homem. Ao dizer a sua palavra,
pois, o homem assume conscientemente sua essencial condição
humana. E o método que lhe propicia essa aprendizagem comensura-se
ao homem todo, e seus princípios fundam toda pedagogia, desde a
alfabetização até os mais altos níveis do labor universitário.
Para esse estudioso freireano, o educador considera – e sempre fez questão de
enfatizar – a palavra liberdade, uma verdadeira bandeira educacional e se o indivíduo
acreditar em liberdade é porque acredita que existe opressão. Assim, a visão de liberdade
tem nesta pedagogia, uma posição de relevo. É a matriz que atribui sentido a uma prática
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educativa que só pode ser alcançar efetividade e eficácia na medida da participação livre
e crítica dos educandos.
Desse modo, torna-se transparente a pedagogia de Paulo Freire e suas bases:
educação como prática de vida, portanto, fomentadora de libertação.
O povo é a representação da vida e da própria historia, portanto deve participar,
protagonizar. O pretenso educador deve aprender a ouvir o povo, anotar fielmente as suas
reais dificuldades e reconhecer os conhecimentos internalizados desse público-alvo: a sua
prática de vida, a cultura, a identificação social e a sua existência-humana-no-mundo.
O discurso vazio sobre a educação e todos os seus conceitos deve ser superado, o
que deve ser instaurado é a pedagogia educacional da formação, que começa
prioritariamente pelo diálogo, pela troca de experiências, pela comunicação, por uma
relação humana que possibilite ao próprio povo a elaboração de uma consciência crítica
do mundo em que vive.
A EDUCAÇÃO NA SOCIEDADE CAPITALISTA
As mudanças ocorridas com o advento das Revoluções Inglesa e Francesa, tanto
provocaram transformações profundas na sociedade como consolidou um novo modo de
produção o capitalismo, o recém-sistema inaugurado na época cria um fosso entre as
classes sociais. É importante entendermos que a Revolução Industrial altera visivelmente
as relações sociais e econômicas. Se não bastasse a expulsão do camponês - fruto do
processo de urbanização, temos as péssimas condições de trabalho nas fábricas, criando
assim um sistema tão desigual quanto o anterior.
As contradições que brotavam no sistema capitalista evidenciavam a luta entre o
proletariado e a burguesia. Afinal, os trabalhadores encontravam-se expropriados dos
instrumentos de trabalho, confiscados pelos capitalistas, que os submetiam à dominação
econômica, política, cultural e social. Isto inclui, também, a educação.
A partir dessa realidade capitalista, nascem os estudos de Karl Marx. Para ele, era
inevitável a superação da injustiça, apresentando, assim, um contexto inverso onde a
educação apresenta uma divisão e separação das profissões manuais e intelectuais,
causando assim uma contradição entre o homem e a cultura. Qual a relação entre a visão
filosófica e a tese de Marx com a educação? Sabe-se que ele não teoriza especificamente
sobre a educação, entretanto suas obras serviram de base para se discutir a serviço de
quem está a educação. Se do opressor ou oprimido?
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Embutida na sua concepção do homem e da história, como uma
dimensão inerente às práxis, a educação em Marx é pensada
filosoficamente como uma atividade essencial à dinâmica das
sociedades. Só podemos entendê-la como espaço permeado de choques,
de conflitos, marcado pela colisão de valores, interesses e convicções
que correspondem às perspectivas distintas – e muitas vezes
inconciliáveis – dos grandes grupos humanos (as classes sociais) que
exercem maior influência na formação das pessoas (KONDER, 2004,
p. 23).
Konder nos explica que não havia equilíbrio e harmonia na sociedade, sendo ela
permeada de interesses entre grupos humanos, entendendo que a educação dentro do
contexto capitalista oferece contradições que devem ser revisadas. Já no âmbito do
trabalho deveria ter significado especifico de produzir a essência do ser, entretanto na
sociedade capitalista torna-se um elemento de degradação e servidão do trabalhador.
Para Konder (2004), na concepção de Marx, a educação era controlada pela classe
dominante, sendo que o mesmo defendia uma educação voltada para a classe
trabalhadora, ou seja, uma educação emancipatória, voltada a todos os cidadãos.
Nesse sentido, Gramsci (1995), afirma que a educação, enquanto processo de
formação do homem na sociedade capitalista, é produzida mediante o processo de
convivência social, ensinando e aprendendo, não só na escola, mas, sobretudo, na vida.
Portanto, a educação é um processo contínuo e a escola uma via fundamental para a
realização de uma educação humana que considere a disciplina no agir, onde o indivíduo
aprende na medida em que faz escolhas. E essas escolhas o modificam e modificam outras
coisas.
Essa dinâmica da modificação é o reflexo da educação emancipatória, uma vez
que a mesma é vista como referência na contribuição concreta entre a escola e sociedade.
A escola torna-se o portal entre a teoria e a prática.
Por outro lado, o educador que usa do seu instrumento de poder – o conhecimento
– para anular o pensamento dos seus aprendizes, apenas para ilustrar o seu constante
“achismo”, é a revelação cortante da pura contradição. E o que é pior: anula e/ou mata o
verdadeiro propósito do conhecimento – libertar o homem - pois estará negando a
dialética entre ensino e aprendizagem e consequentemente, abolindo a construção de uma
nova sociedade, onde a fraternidade e a comunhão sejam os verdadeiros pilares. Portanto,
o educador que não convida os seus alunos à reflexão, limitando-os a uma sala de aula,
sem contato com a realidade, é o protótipo do conservadorismo e da contradição. E assim,
o reino da alienação e da ignorância se amplia, reforçando a discriminação, a pobreza e a
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acumulação de riquezas. A força ideológica do sistema capitalista se vangloria cada vez
mais.
Segundo Adorno (1995), a práxis pedagógica deve realizar uma autocrítica sobre
seu desenvolvimento, revelando as diferenças que existem entre o que se pretende e o que
se faz, entre a teoria e a prática. Também deve possibilitar a efetivação de um clima
cultural que favoreça a construção de uma identidade autocrítica, combatendo os
elementos subjetivos e objetivos que, através do processo formativo atual, debilitam o
ego. Portanto, deve se opor à educação pela dureza que reprime o medo, deforma os
indivíduos e reforça a prática sadomasoquista.
A escola tem como papel fundamental no contexto das relações capitalistas de
produção, formar cidadãos capazes de viver e transformar esta sociedade. E o que se
percebe é que a mesma atua entre conflitos, onde o educando seja preparado para o
ambiente de trabalho. O assunto também esclarece a contemporaneidade do pensamento
de Marx, personificado pelo pensamento Freireano ao defender uma educação
emancipatória.
EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO
Uma educação emancipatória, segundo Adorno e seus seguidores, se radica no
enfrentamento das situações de alienação e opressão que marcam considerável parcela da
humanidade. Ela reivindica soluções e indaga o porquê da humanidade que alicerçou o
projeto de emancipação da razão ter se fixado nesses impasses.
Vivemos em uma sociedade na qual a instrumentalização da razão não permite a
verdadeira emancipação do homem em relação à natureza e a si mesmo, mas sim o
retrocesso de suas próprias capacidades. Para Adorno (1995), a formação se converteu
em semiformação socializada, travando a dimensão emancipatória para fazer imperar a
dimensão instrumental da razão. Segundo ele, na sociedade construída pela indústria
cultural, os indivíduos são educados para subordinarem-se ao processo de difusão da
semicultura, que prega o conformismo e a satisfação com a fragmentação do todo.
Adorno defende que a educação poderia ser considerada sinônimo de
emancipação. Emancipação principalmente da situação em que se encontram os homens,
pois cada vez mais se perde o contato com a possibilidade do exercício da autoconsciência
crítica. Porém, o capitalismo tardio, através da negação da formação cultural, educa os
indivíduos para aceitarem as exigências do processo de difusão da semicultura e as
imposições da sociedade administrada.
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Segundo Adorno apud Ripa (2008), para que a emancipação possa ser considerada
possível, as pessoas devem desenvolver uma firmeza do eu, pois, cotidianamente, muitas
delas aceitam o que a existência dominante impõe, representando uma personagem que
perpetua a não identidade delas consigo mesmas.
[...] Gostaria de acrescentar que a emancipação precisa ser
acompanhada de uma certa firmeza do eu, da unidade combinada do eu,
tal como formada no modelo do indivíduo burguês. A situação
atualmente muito requisitada e, reconheço, inevitável, de se adaptar a
condições em permanente mudança, em vez de formar um eu firme,
relaciona-se, de uma maneira a meu ver muito problemática, com os
fenômenos da fraqueza do eu conhecidos pela psicologia. (ADORNO,
1995, p. 180)
O PAPEL DA EDUCAÇÃO NO VIÉS MARXISTA
Conforme disserta Konder (2004), embutida na sua concepção do homem e da
história, como uma dimensão inerente às práxis, a educação em Marx é pensada
filosoficamente como uma atividade essencial à dinâmica das sociedades.
[...] Só podemos entendê-la como espaço permeado de choques, de
conflitos, marcado pela colisão de valores, interesses e convicções que
correspondem às perspectivas distintas – e muitas vezes inconciliáveis
– dos grandes grupos humanos (as classes sociais) que exercem maior
influência na formação das pessoas (KONDER, 2004, p. 23).
Por isso, Marx julgava inevitável a superação da injustiça, apresentando assim um
contexto inverso onde a educação apresenta uma divisão e separação das profissões
manuais e intelectuais, causando assim uma contradição entre o homem e a cultura. Qual
a relação entre a visão filosófica e a tese de Marx com a educação? Sabe-se que ele não
teoriza especificamente sobre a educação, entretanto suas obras serviram de base para se
discutir a serviço de quem está a educação. Se do opressor ou oprimido.
Neste ponto a educação é vista como referência na contribuição concreta entre a
escola e sociedade, onde a mesma torna-se um portal entre a teoria e a prática. Mas que,
se distingue como elemento de características capitalista, onde a sua função não pode
ajustar-se aos trabalhadores.
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A escola tem como papel fundamental no contexto das relações capitalistas de
produção, formar cidadãos capazes de viver e transformar esta sociedade. E o que se
percebe que a mesma atua entre conflitos onde o educando seja preparado para o ambiente
de trabalho formando assim a personalidade de cada um modificando assim o mundo com
sua atitude. O assunto também esclarece a contemporaneidade do pensamento de Marx.
Ele não concorda com a educação promovida pela burguesia capitalista,
essencialmente pela forma que a mesma seria conduzida. Atualmente, mesmo com toda
dinâmica e rotatividade das demandas capitalistas, sustentadas em avanços tecnológicos,
perpassando pelas novas formas de intervenção do estado na economia, atuando às vezes
no sentido de favorecer uma classe ou outra, na educação ainda não resolveu o impasse
vivido pela maioria da população.
Há uma necessidade humana com relação à educação, pois a mesma se faz
presente no dia a dia, porem existem diversos tipos de modelos relacionados. A prática
vai bem além da escola, possui técnicas que envolvem desde as sociedades primitivas á
desenvolvidas e industrializadas. Com esta junção deu-se início a uma nova fase
relacionando a prática no âmbito escolar onde esta união contempla o exercício entre a
filosofia e a prática educacional. Para Ozmon e Craver (2004, p. 355), afirma que:
A filosofia da educação começou quando as pessoas se tornaram
conscientes da educação como uma atividade humana diferenciada. As
sociedades pré-alfabetizadas não tinham os objetivos em longo prazo e
os sistemas sociais complexos dos tempos modernos nem possuíam as
ferramentas analíticas dos filósofos modernos, mas mesmo a educação
da pré-alfabetização envolvia uma atitude filosófica com relação à vida.
Em essência a filosofia da educação é aplicação de princípios
fundamentais da filosofia à teoria e ao trabalho da educação.
Segundo Adorno, o professor é envolvido pela sociedade e pela profissão em um
jogo desonesto, pois como docente acredita ter o dever de castigar e de utilizar seus
conhecimentos como vantagem perante o saber dos alunos. Com isso, o processo
formativo em que os alunos estão envolvidos encontra-se baseado na autoridade do
professor. Em muitas situações, ele assume o papel de influenciar, convencer ou iludir, o
que perpetua a ausência da possibilidade de se desenvolver a emancipação dos que estão
sob a sua tutela.
Na concepção de Freire, há uma pluralidade nas relações do homem com o mundo,
na medida em que responde à ampla variedade dos seus desafios. Em que não se esgota
num tipo padronizado de resposta. A sua pluralidade não é só em face dos diferentes
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desafios que partem do seu contexto, mas em face de um mesmo desafio. No jogo
constante de suas respostas, altera-se no próprio ato de responder. Organiza-se. Escolhe
a melhor resposta. Resta-se. Age. Faz tudo isso com a certeza de quem usa uma
ferramenta, com a consciência de quem está diante de algo que o desafia.
Nas relações que o homem estabelece com o mundo há, por isso
mesmo, uma pluralidade na própria singularidade. E há também uma
nota presente de criticidade. A captação que faz dos dados objetivos de
sua realidade, como dos laços que prendem um dado a outro, ou a um
fato a outro, é naturalmente crítica, por isso, reflexiva e não reflexiva,
como seria na esfera dos contatos (FREIRE, 1967, p. 47).
Para Enguita (2004) Um dos debates mais insistentes e repetidos em torno da
instituição escolar, sempre foi à questão de evidenciar o seu papel, que era reprodutor ou
transformador, isto é, se contribuía para conservar a sociedade ou mudá-la. Até certo
ponto, era trivial, pois, por um lado nenhuma sociedade poderia substituir sem formar
seus membros em certos valores, habilidades, etc. e, por isso, toda educação é
reprodutora; mas ao mesmo tempo, nenhuma sociedade atual seria, sem a escola, o
mesmo que chegou a ser com ela, e, por isso, toda educação é transformadora.
O autor consequentemente questiona, de que forma a educação vem sendo
interpretada em relação a seu papel nas mudanças e evoluções sociais, e se realmente
estão sendo feitas as mudanças. Entender sua importância como veículo transformador
seria compreender que a sociedade segundo as teorias do próprio Marx, a escola que
queremos ter diante das divisões de classes dentro do contexto do capitalismo.
Pela educação o ser humano aprende como se criam e recriam as
invenções de uma cultura em uma sociedade. Cada povo, cada cultura,
apresenta sua educação. Ela pode ser imposta por um sistema
centralizado de poder ou existe de forma livre entre os grupos. Pela
educação se pensa tipos de homens, pois ela existe no imaginário das
pessoas e na ideologia dos grupos sociais, cuja missão é transformar
sujeitos e mundos em algo melhor a partir da imagem que se tem uns
dos outros (BRANDÃO, 1984, p. 10).
Dentro de uma visão marxista, o próprio Estado legitima e representa os interesses
das classes dominantes, através de mecanismos para manter a estrutura da produção,
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partindo deste princípio a educação não estaria fora desta engrenagem ideológica e
reguladora dos sistemas. Neste sentido, Delors (2004, p. 28-29), lembra que:
Um dos principais papeis reservados à educação consiste antes de tudo,
dotar a humanidade de capacidade de dominar o seu próprio
desenvolvimento. Ela deve, de fato, fazer com que cada um tome o seu
destino nas mãos e contribua para o progresso da sociedade em que
vive, baseando o desenvolvimento na participação responsável dos
indivíduos e das comunidades.
Segundo o autor, renovar a educação torna-se cada vez mais necessário e
imprescindível, mas é preciso desmistificá-la para dar credibilidade, mesmo que existam
diversidades relacionadas à mesma. Então, para que se promova uma educação
emancipatória, é importante compreender simplesmente que há necessidade de educar
para mudar. Devemos perceber que o entendimento transforma e elucida, tornando-se um
passaporte para a libertação e modificação social, cultural e política.
Sendo assim, a proposta da educação é proporcionar possibilidades ao indivíduo,
é contribuir com a libertação exterior do homem, colocando-o na sociedade e no mundo
diante de seus anseios e pretensões relacionadas aos seus objetivos e propósitos.
Os filósofos educacionais, independentes de sua teoria particular, sugerem que a
solução para os nossos problemas pode ser mais bem alcançada por meio de um
pensamento crítico e ponderado, sobre a relação entre mudanças perturbadoras e as ideias
resistentes (OZMON e CABER, 2004).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
No decorrer desse estudo, vimos que o educar é um grande desafio social. Ao
mesmo tempo, torna-se um condutor essencial para modificar a sociedade. Os teóricos
mencionados, são unânimes em afirmar que a educação é o portal para o conhecimento,
onde a liberdade vem juntamente com o entendimento, e que a sociedade atual se prepara
exclusivamente para produção de bens e consumo desprezando a natureza humana e sua
história.
Para que a educação se torne de fato e de direito emancipatória, é preciso investir
no processo de formação docente e discente. Romper com as amarras e a ausência de
senso da realidade. O homem alienado é um eterno marginalizado, passivo e não sabe
lutar, nem se dispõe, dada a sua comodidade e ausência de um senso crítico aguçado. Eis,
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mais uma vez a revelação do papel da escola: fomentar lenta e gradualmente a formação
integral da criança, situando-a no seu mundo real, com seus defeitos e qualidades, na
expectativa de que ela cresça sem perder de vista a sua base, a sua meta de transformação
social, partindo da sua própria realidade.
Hoje, sabemos, que Freire nunca se preocupou, de fato, com a sala de aula,
enquanto espaço físico. Mas, sim, com a formação integral do homem iniciada neste
espaço. Sentia-se incomodado e profundamente ferido diante do intenso abismo entre as
classes mais abastadas e os oprimidos. O oprimido assiste passivo aos problemas sociais,
ampliando a sua distância e negando qualquer vestígio de envolvimento. Como se
estivesse simplesmente apreciando a mais um capítulo da sua novela predileta. Diante de
um mundo fantasioso, ele aciona a sua máquina de ilusões e penetra no mundo das
celebridades, agigantando a sua desinformação.
A passividade e a ausência de questionamentos dos oprimidos – sem vez e sem
voz – sempre incomodou Paulo Freire e foi assim, embalada na tradução dos versos de
Geraldo Vandré que a Pedagogia do Oprimido deixou a sua marca na história da educação
de um certo país, chamado Brasil: “aprender e ensinar uma nova lição”. Significa
simplificar a educação sem empobrecê-la, tornar a escola uma forma pública e notória de
exercício da formação e da democracia, numa fusão perfeita entre educadores e
educandos, constituindo-se o soberano fermento que faz a massa crescer, agigantar-se,
fortalecer-se e solidificar-se, sem perder, contudo, o seu eterno sabor. É o nascer de uma
consciência. É a revelação de um novo homem, pronto para enfrentar novos desafios.
Caem por terra as vendas e o homem esquece a bengala. Já consegue enxergar e já não é
o “coitadinho” de outrora. Caminha de mãos dadas a seu semelhante.
Os estudos de Marx, por sua vez, dialogam com a educação atual, ao valorizar o
trabalho e produção de riquezas, inserindo aí, o trabalhador, como protagonista. A obra
de Freire, Gramsci, Adorno, entre outros, por exemplo, apresentam, em sua essência, os
fundamentos marxistas com denominações que, semanticamente se tornaram universais:
educação libertadora; educação emancipatória; pedagogia do oprimido; Educação para a
transformação, entre outros.
Podemos afirmar que Marx, de certo modo, preconiza uma educação como porta
voz de libertação social. Aquela que capacita, forma, conscientiza e educa sujeitos
críticos. Ele acreditava que se houvesse um sistema educacional voltado para a politécnica
com certeza unificaria a educação e o trabalho com aspectos de libertação e não de
escravismo para o capitalismo.
Basta entender que tanto Marx quanto outros quando pensaram em intervir na
elaboração de uma educação de base socialista tiveram grande importância na história e
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principalmente na área voltada para a classe trabalhadora, vinculando trabalho e ao
ensino. Visando integrar uma educação voltada para o tempo integral.
Suas contribuições foram fundamentais para a construção de novos horizontes
educacionais para a emancipação da classe trabalhadora.
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