A escola como sinal dos tempos: da promoção do sucesso à ... · Uma escola que promove sucesso...

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Helena Águeda Marujolenamar@fpce.ul.pt

A escola como sinal dos tempos:da promoção do sucesso à construção

da felicidade

“A existência humana tem lugar no espaçorelacional das conversas”

Humberto Maturana

Que palavras se escolheram parahoje?

PromoPromoççãoão

SucessoSucesso

EducativoEducativo

“Somos as palavras que usamos”José Saramago, 2008

As As palavraspalavras nãonão sãosão triviaistriviais. . Com Com umauma palavrapalavra fafaççoo um um caminhocaminho e e

umauma realidaderealidade, , diferentediferente dasdasrealidadesrealidades e e caminhoscaminhos queque fareifarei com com

outrasoutras palavraspalavras..

MasMas avanavanççamosamos com com consensosconsensosde de palavraspalavras queque se se tornamtornam unasunas e e

úúnicasnicas. Como se com . Como se com elaselas ssóóhouvessehouvesse umauma realidaderealidade posspossíívelvel..

Coordenamo-nos através dalinguagem, procurando consensos ou

acordos que surgem como a “realidade”

A A nossanossa linguagemlinguagem comumcomumdistinguedistingue umauma forma de forma de habitarhabitar a a comunidadecomunidade, a , a histhistóóriaria e a e a culturacultura

humanashumanas..

● A obscuridade tem vindo progressivamente a desembarcar na cultura e na vida. Já não é só umamoda de passerelle.

● Não questionamos o manto asfixiante crepuscular quecaiu sobre a escola, a familia, a sociedade em geral...

● Ajustados a uma magreza estética de optimismo e esperança, desacreditamos da possibilidade de mudança e de reinvenção. Sabem-nos bem as nossasdoses de tristeza partilhada.

● Aceitamos a anorexia cultural como atitude mental.● Estamos na ressaca de uma inflação de facilitismo e de

desânimo.

Como se Como se nãonão fossemfossem posspossííveisveis outrasoutrasconversasconversas e e outrasoutras realidadesrealidades

Como catalisar melhores futuros atravésda prática do diálogo?

Como consolidar uma cultura e uma rede de diálogo a partir do que funciona, das excepçõesaos problemas, dos recursos, dos pontos altos,

dos sonhos?

● Precisamos de uma nova língua e de novas conversas.

● De pura invenção colectiva e de inteligênciaspartilhadas.

● Querem ajudar-me a trazer novas palavras e conversas sobre o que é, e como se promove, o sucesso educativo?

● Tudo muda e evolui em redor daquilo que escolhemosconservar através dos nossos diálogos.

●● As As organizaorganizaççõesões emergememergem dasdas redesredes vivasvivas de de conversasconversas queque conservamconservam certascertas formasformas de de viverviver ememconjuntoconjunto..

−− A A nossanossa capacidadecapacidade de de refllectirrefllectir atravatravééss dadalinguagemlinguagem éé umauma dasdas essênciasessências dada humanidadehumanidade..

−− UmaUma pessoapessoa queque refllecterefllecte criacria novosnovos mundosmundos. . AtravAtravééss dasdas conversasconversas, , geramosgeramos mundosmundos..

Cada um é um co-inspirador das conversas queintroduz na rede de comunicações daorganização ou cultura de que faz parte.

Todas as mudanças culturais são mudançasno espaço relacional e na rede de conversas– e, depois, na forma de viver que surge delas.

● A linguagem e as conversas são “fazeres” queestão no coração da nossa capacidade de intencionalmente trazer à luz mundos queafirmam a vida e a ética.

● Somos responsáveis pela polinização.

● Estimulamos conversas de vida e com vida?

A inteligência colectiva (a “magia que está no meio de nós) emerge da evolução de conversas

Um exemplo recente...

Jornalismo Utópico:

1.2 milhões de Jornais (edição falsa do New York Times) saídos no dia 13 de Novembro nos EUA com notícias sonhadas, mundos idealizados. (“Todas as notícias que esperamos publicar em4 de Julho de 2009; É altura de imaginar o céu”)

Criaram uma nova realidade desejada e possível. E ficaram mais próximo dela.

Um outro exemplo, esteapocalíptico e de créditos voláteis:

A medicação psicotrópica de crianças e jovens como“instrumento de sucesso”

Aumento exponencial da prescrição de medicamentos psicotrópicos

Só em 2002 foram passadas 11 milhõesde receitas de anti-depressivos paramenores de 18 anos nos EUA (Rigoni, 2004, cit in Sparks & Duncan, 2008)

Aumento exponencial da prescrição de medicamentos psicotrópicos

• A polimedicação virou a norma(dosReis et al., 2005)

• Ao mesmo tempo que aumenta a medicação, diminui o tratamento em saúde mental, passando o conceito “tratar” cada vez mais a ser sinónimo de “medicar” (Martin & Lesli, 2003, cit. in Sparks & Duncan, 2008)

Aumento exponencial da prescrição de medicamentos psicotrópicos

• Pela primeira vez na história os gastos com medicação para tratar problemascomportamentais nos mais novos forammaiores do que para tratar doenças do forofísico, incluindo antibióticos (Medco Health Solutions, Inc., 2004, cit in Sparks & Duncan, 2008).

Aumento exponencial da prescrição de medicamentos psicotrópicos

• Entre 2000 e 2003 hove um aumento de 184% nos gastos com a medicação para a Desordemde Défice de Atenção com Hiperactividade(DDAH)

• Estes gastos com DDAH aumentaram 369% na faixa etária das crianças com menos de 5 anos (Sparks & Duncan, 2008)

Aumento exponencial da prescrição de medicamentos psicotrópicos

• Na faixa etária com menos de 6 anosverificou-se um aumento de 580% naprrescrição de anti-depressivos.

Aumento exponencial da prescrição de medicamentos psicotrópicos

• Preconceitos e estigmas em relação à posiçãona escala social e à história de vida:

• Crianças institucionalizadas têm 16 vezes maisprobabilidade de serem medicadas do que as não institucionalizadas (Zito et al., 2003, cit in Sparks & Duncan, 2008)

Aumento exponencial da prescrição de medicamentos psicotrópicos

• Crianças que recebem subsidios de pobreza, como o correspodente norte-americano do RSI, recebem duas ou três vezes maismedicação psicotrópica do que as que estãofora dos sistema do suporte financeiro dasegurança social. (Raghavan, Zima, Andersen, Leibowitz et al., 2005, cit in Sparks & Duncan, 2008).

Como continuar a regatear o valoreconómico dos bens culturais, e da

educação em particular?Como menosprezar a saúde mental

no processo de promoção do sucesso?

Inflacionámos o valor de produtos como o rendimento escolar e as notas, enquanto víamosdiminuir a importância do escasso património da

experiência de vida, das relações, das emoções e do sentido das coisas – todos encerrando umagenuina riqueza de saber acerca da existência

humana e de potencial de felicidade.

Que tipo de insights e reflexões lhes surgiram emconversa interior com esta minha escolha de palavras?

A magia acontece quando noslibertamos e temos conversas

profundas sem saber quais vão ser osresultados.

Quando vamos juntos por caminhosimprevisíveis de descoberta.

Quando nos deixamos levar pelopoder transformativo das conversas.

E fazê-lo enquanto fluímos com prazer.

Como promover um sucesso(con)sentido?

● Que nova linguagem entrou na escola e naeducação?

● Porque surgem associadas à escola palavrascomo felicidade e bem-estar, emoçõespositivas, auto-determinação, fluir...e com elasnovos sentidos morais e complexos para a ideia de sucesso e de pessoa?

Na perspectiva das crianças, o que éuma escola segura e estimulante?

(Ebersöhn, 2008)Clima académico que facilita a aprendizagem:● Através de expectativas elevadas● Respeito mútuo● Suporte na aprendizagem● Encorajamento à colaboração da família e da

comunidade● Que oferece actividades fora dos muros e

programas de competências de vida

Na perspectiva das crianças, o que éuma escola segura e estimulante?

(Ebersöhn, 2008)

Com individuos emocionalmente:● Optimistas● Auto-eficazes● Com locus de controlo interno● Com competências de adaptação positivas● Com capacidade de coping face às dificuldades

Na perspectiva das crianças, o que éuma escola segura e estimulante?

(Ebersöhn, 2008)

Onde há envolvimento da comunidade e daescola – acessibilidade e participação saudável

das famílias e de todos os sistemas vitais

Onde há bons recursos em termos de estruturasfísicas e relacionais – pátios de brincadeira,

jardins,e professores competentes e dedicados.

Uma escola que promove sucessoacadémico e riqueza psicológica:

(Benard, 1999; Oddone, 2002)- estimula relações positivas entre TODOS os

envolvidos- investe na participação activa e com sentido

- potencia capacidade de bonding pró-social dos alunos

- define regras e limites claros e consistentes, usando uma disciplina justa e eficaz

- ensina competências de vida- fornece suporte e carinho

- estebelece e comunica expectativas elevadas- promove actividades “fora muros”

Add Health Survey – National Longitudinal Study of Adolescent Health

(Blum & Libbey, 2004)Os estudantes que se sentem ligadosligados àà escolaescola

(como resultado de se sentirem cuidados e apoiados por professores e colegas e alvo de

comportamentos justos) têm melhor saúdemental, menor probabilidade de consumirem

drogas ou se envolverem em comportamentos de risco, menos probabilidade de se envolverem em

comportamento violento, de experimentarperturbações emocionais, ter ideias ou

comportamentos suicidas ou engravidar.

AUTO-DETERMINAÇÃOE MOTIVAÇÃO(Ryan & Deci)

ESPERANÇA E

OPTIMISMO(Snyder; Seligman; Marujo, Neto & Perloiro)

FORÇAS E VIRTUDES(Peterson & Seligman)

EMOÇÕES POSITIVAS (APREÇO, GRATIDÃO, HUMOR, AMOR...)

(B. Fredrickson)

FLUIR(Csikszentmihalyi; Delle Fave, Freire)

ESPERANÇA

OBJECTIVOS AGENCIAMENTO CAMINHOS

FLUIR

EQUILÍBRIO DESAFIO CAPACIDADESAUTO-EFICÁCIA

ESFORÇOPERCEPÇÃO DE CONTROLO

MOTIVAÇÃO INTRÍNSECAPRAZER

ENVOLVIMENTO/FLUXOOBJECTIVOS CLAROS

FEED-BACK PERMANENTE

ENVOLVIMENTO SENTIDO

PRAZER

FELICIDADE

A ciência da Felicidade(Seligman, 2008)

A felicidade é um tema científico: Compõe-se deEmoções Positivas (A vida agradável)Carácter Positivo (A vida envolvida)Instituições Positiva (A vida com sentido)

Cada uma émensurável

Cada uma éeducável

F = EP + ENVOLVIMENTO+ SENTIDOEducação Positiva

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Educação Positiva (Seligman, 2008)

Mais emoções positivasMais fluir

Mais propósito e sentidoMelhores relações

O desvendar dos mistérios daFelicidade e da Riqueza Psicológica

(Diener & Biswas-Diener, 2008)● Ter direcção : metas e valores● Viver relações fortes e de suporte● Possuir suficiência material sem materialismo● Cultivar emoções espirituais (as que nos ligam

aos outros: gratidão, compaixão, espanto pelabeleza...)

● Desenvolver forte identidade e fronteiraspessoais claras para chegar a escolhas sensatase predições inteligentes

● Treinar o AIM: Atenção, Interpretação e Memória

Escolas que Florescem(CAPP, Inglaterra, 2007)

Construção de Bem-estar nos Alunos(Tobi Noble, Ministério da Educação,

Governo Australiano, 2008)

Escolas Construtoras de Resiliência(Ebersöhn; Johnson & Lazarus,

África do Sul, 2008)

A 360° Approach to Positive Psychology in Education

http://www.flourishingschools.com/

DESENVOLVIMENTO DO SENTIDO DE HUMOR PARA PROFESSORES E ALUNOS(BEGOÑA LARRAURI, 2007)

Peter Schrag, Harper’s Magazine, 2007“50 anos a culpar o sistema educacional dos E.U da América pela nossa estupidez”

Educar para o optimismo; Psicologia positiva nas escolas...

(Portugal - Marujo e colegas, 2008)

-Intervenções sistémicas e colaborativas- Centradas na linguagem como motor de

mudança e de construção da realidade- Positivas e em redor do melhor da experiênciapassada, dos sonhos de futuro e das excepções

actuais aos problemas- Criativas, “out of the box”, feitas à alfaiate,

apoiadas na ciência e actuais- imprevisíveis nos resultados porque

“rizomáticas”

Projecto ECO, Casa Pia de Lisboa. Todos os membrosde uma escola e ATL que lheé adjacente desenham, colam e pintam os sonhosque têm para o futuro dainstituição e se comprometem a pequenasmudanças – passos de bebé– para caminhar para essessonhos.

• Café-esplanada (www.worldcafe.com) com famílias beneficiárias de RSI e profissionais/ responsáveis/políticos/professores/técnicos de saúde... que com elastrabalham no apoio às situações de vida, na escola Secundária da Lagoa, em S. Miguel, Açores.

• Cada mesa tem um tema positivo e apreciativo(www.inqueritoapreciativo.com), e as pessoas vão rodando pelas mesas para terem conversas com o máximopossivel de diferentes participantes, enquanto comem. Mais tarde as toalhas de mesa serão apresentadascom os resultados das conversas, com as pinturas, ideias, projectos de futuro...

VIP (Marujo & Neto, 2008) e WC com pais-homens, em busca dos sonhospara o futuro em termosde paternidade e daconsciência dasqualidades e talentos jápresentes na relação com os seus filhos, e quedesejam “fazer crescer”. Aconteceu num Jardim de Infância da Fundação D. Pedro IV em Lisboa.

• Projecto Eco (Educar com Optimismo), Casa Pia de Lisboa

• Conversas sobre o melhordo passado vivido poraquela comunidade, com “especialistas” e “heróis”, envolvendo a escola, o ATL e a comunidade.

• Projecto “Quem sai aosseus”, num Internato daCasa Pia de Lisboa

• Projecto “Família Mais”, num Colégio da Casa Piade Lisboa

• Crianças a fazerementrevistas apreciativasaos logistas e elementosda comunidade em redorda sua escola, em buscado melhor da experiênciade vida comunitária. Foram preparadas pelosprofessores, e a instituição educativatrabalhou os resultados e devolveu-os àcomunidade.

Trata-se de“Explorar possibilidades de uma nova forma de vivermos em

conjunto, e de identificar possibilidades, soluções e ideiasque beneficiem a todos os envolvidos, incluindo o ambiente. De co-criar possibilidades para que a vida no planeta seja

sustentável.Esta é uma meta global. Uma meta mais próxima, a curto-prazo, é sermos capazes de perceber que precisamos uns

dos outros, e que as conversas são o espaço onde podemoscriar os futuros que queremos, para nós e para os nossos

filhos. Para que possamos atingir os nossos sonhos. Este é o tempo de chegarmos à nossa sabedoria colectiva. É o

momento da acção, com um elevado sentido de urgência, mas também de paixão e alegria. É o tempo em que

precisamos de ser o melhor de nós mesmos. É tempo de perguntar o que é essencial nas nossas vidas.”

Carlos Mota, México

Numa comunidade saudável o sucesso flui.

Com todos os actores presentes, explorar os sonhos para aquela

comunidade no futuro – aquilo em querealmente se desejam transformar – e criar ligações e diálogos para apoiar a coordenação harmónica das práticas

desse sonho.

Há um grande potencial em estimular conversasentre pessoas que não costumam conversar nem

conviver entre si, na polinização cruzada de riquezas, ideias, possibilidades, diferenças.

No reconhecimento de que todos têm o mesmovalor.

De que todos querem ser aceites, reconhecidos e amados.

Isto implica menos dogmatismo, mais aceitação e tolerância e uma visão “rizomática”(Hoffman &

Kidman, 2008) das hierarquias e poderes.

Estamos realmente dependentes do lado prático das coisas.

Mas para mudar, precisamos de sonhar juntos.

Preocupamo-nos com o que émensurável, tangível, objectivável –

e limitamos o incrível potencialhumano.

Até termos os pensamentos livres e prontos para abrir asas e voar.

Numa colaboração entre iguais.

Nunca como peritos.

Nunca como portadores do verdadeiro conhecimento.

“A felicidade não é um substantivoou um verbo. É uma conjunção. Étecido criativo.”

Eric Weiner, 2008

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