A Ilha de São Sebastião No Estado de São Paulo

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II Seminário de Pesquisa em Geografia Física - Programa de Pós-graduação em Geografia Física -USP- 11 a 12 dez 2004

A ILHA DE SÃO SEBASTIÃO NO ESTADO DE SÃO PAULO: ESTUDOS PLUVIOMÉTRICOS1

Marcos Alexandre MILANESI Aluno do Programa de Pós-Graduação em Geografia Física

FFLCH – Universidade de São Paulo maalex@terra.com.br

Resumo A chuva orográfica é o resultado da movimentação do ar que, ao cruzar a barreira de um acidente de relevo (montanhas, por exemplo), eleva-se e sofre um processo de esfriamento e condensação, devido às baixas temperaturas encontradas em maiores altitudes. A ilha de São Sebastião, no litoral norte paulista, apresenta condições naturais para o surgimento desse tipo de precipitação: relevo, vegetação e a proximidade com o oceano. Busca-se aqui a identificação e espacialização deste fenômeno. 1. Introdução e Objetivos O objetivo principal deste estudo é a investigação da distribuição pluviométrica do litoral nordeste do Estado de São Paulo, através da confecção de síntese têmporo-espacial resultante de análises gráficas e estatísticas dos dados da precipitação obtidos do Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), localizando entre outros fenômenos atmosféricos conhecidos, as chuvas orográficas, causadas por uma topografia de ilha e observáveis tanto na escala regional como na local. Esta é uma segunda aproximação das análises realizadas anteriormente para o ano de 1997, onde se buscou também responder questionamentos baseados na distribuição espacial da chuva na mesma área, com os mesmos métodos, porém, com uma série temporal homogênea - um determinado espaço de tempo com coleta de dados sistemática e confiável - que respeitasse apenas um critério: anos que fornecessem 12 meses completos de dados ou com dois meses de falhas (5%) para os pluviômetros escolhidos (entre 1976 a 1994, há o cumprimento dessa premissa). A proposta inicial para ampliação dos resultados até 2003 encontrou problemas de ordem técnica, pois os dados disponibilizados via web, cessam entre os anos de 1998 a 2002. Optou-se então pela análise das séries temporais em sua totalidade. Pretende-se delinear assim os caminhos desta investigação onde os maciços localizados no interior central da ilha, agindo como obstáculo natural, alteram as características primeiras do ar oceânico em sua transposição, aumentando a barlavento a quantidade da umidade atmosférica, diminuindo os totais pluviométricos na vertente continental da ilha e no município de São Sebastião, já no continente. 1.1. Área de Estudo A Ilha de São Sebastião (a maior do município de Ilhabela - fig.1), no Litoral Norte do estado de São Paulo, impõe um quadro físico favorável à gênese da

1 Artigo apresentado no VI Simpósio Brasileiro de Climatologia Geográfica (Aracajú - SE/ 2004), como resultado de pesquisa concluída, sob a orientação do Prof. Dr. Emerson Galvani

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precipitação orográfica: relevo fortemente ondulado, com alinhamento NE-SW (atingindo elevações superiores a 1200 m, erguendo-se diretamente aos fluxos de ventos predominantes) e recoberta por vegetação de Mata Atlântica (em parte preservada pela existência do Parque Estadual de Ilhabela). A interação entre os elementos clima, relevo e vegetação, mas essencialmente a influência dos ventos de NE somada às características geomorfológicas da ilha, apontam para a

Fig.1 - Carta hipsométrica da Ilha

existência da chuva orográfica.

de São Sebastião/ continente e localização dos postos

. Metodologia e Dados de sete postos pluviométricos da rede do DAEE

ais dados, partindo-se da concepção sorreana do clima e dos pressupostos

pluviométricos 2Os dados foram obtidos(Ubatuba, Caraguatatuba, Porto Novo, São Francisco, Ilhabela (ilha), Burrifas (ilha) e Maresias - apresentados em latitudes crescentes), entre 1943 e 2000, respeitando o seguinte critério: posição geográfica (em abrigo ou exposição aos fluxos atmosféricos predominantes). Tteóricos de Monteiro (1969, 71 e 73), foram tratados de forma gráfica e estatística, em escala anual e mensal (acumulado e médio), para que se pudesse chegar

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com alguma significância ao regime das chuvas, existência da influência orográfica, comportamento sazonal dos postos e distribuição espacial pluvial. Não sendo possível o detalhamento diário e horário da pluviosidade, não foram pesquisadas informações adicionais sobre os tipos de tempo que os deram origem. 3. Resultados Alcançados

viosidade (fig.2) mostra a importância da situação

s intervalos de pluviosidade média apresentados indicam altos valores de

A distribuição anual da plugeográfica de cada posto: Ubatuba e Maresias, expostos diretamente aos fluxos atmosféricos oceânicos, apresentam os maiores valores acumulados, acima de 2000 mm anuais (são considerados postos externos); entre 1500-2000 mm, estão Burrifas e Ilhabela (ambos na ilha), abaixo de 1700 mm e, Caraguatatuba e Porto Novo (no continente), com acumulados anuais entre 1780 e 1800 mm respectivamente, são considerados postos intermediários e, São Francisco (posto interno), particularmente localizado a sotavento das serras de São Sebastião (ilha) e do Juqueriquerê (continente), encontrando-se em posição de abrigo quase absoluto apresenta precipitação média anual abaixo dos 1500 mm anuais. Na série analisada, foi este o que mais contrastou com os outros postos. É considerado o centro da área de sombra de chuva. Oprecipitação nas encostas da Serra do Mar e no setor leste da ilha (que, teoricamente, tem uma dinâmica atmosférica semelhante à da Sa. do Mar); redução das chuvas no canal de São Sebastião; e, maior redução das chuvas no sentido do continente. Esses indicativos são confirmados pela análise a análise de Conti (1975).

Fig. 2 – Chuva acumulada anual para os postos utilizados do DAEE.

Média Climatológica do Acumulado Anual

0250500750

1000125015001750200022502500

Ubatub

a

Caragu

atatub

a

Porto N

ovo

S Fran

cisco

Ilhab

ela

Burrifa

s

Maresia

s

chuv

a (m

m)

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Na análise sazonal (fig.3) o verão reafirma-se como a estação mais chuvosa do

e maneira geral, o comportamento dos postos ao longo do ano é semelhante e

síntese têmporo-espacial (fig.4) demonstra com mais clareza a existência da

ano, detendo aproximadamente 40% da precipitação. O outono é marcado pela redução das chuvas, é um trimestre transicional para o inverno, que apresenta aproximadamente de 15% da pluviosidade anual, indicando que o litoral, como o restante do Estado, é afetado pela estiagem dessa estação. A partir do mês de setembro, início do ano hidrológico e da primavera, retoma-se o crescimento dos valores de precipitação e atingindo-se os máximos em janeiro.

Fig. 3 – Médias pluviométricas mensais para os postos utilizados do DAEE.

Médias Climatológica do Acumulado Mensal

0255075

100125150

175200225250275300325

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

chuv

a (m

m)

Ubatuba

Caraguatatuba

Porto Novo

S. Francisco

Ilhabela

Burrifas

Maresias

Dreflete sua posição geográfica local e regional. Há um declínio natural dos montantes de chuva no período de estiagem e uma elevação sensível nos meses chuvosos, assim como nas demais áreas do estado. O que mais chama a atenção aqui não são os baixos valores do posto São Francisco, e sim a diferença existente entre os postos Ubatuba (localizado a norte da área) e Maresias (localizado a sul da área). Contradizendo Milanesi (1998), Ubatuba apresenta menores volumes do que Maresias. Nota-se que neste último posto, há uma distribuição mais uniforme ao longo do ano, ao contrário de uma concentração de chuva no verão, em Ubatuba; entretanto, apresentam valores anuais muito parecidos. Asombra de chuva no sentido do continente, causada possivelmente pela Ilha de São Sebastião. O posto São Francisco tende a passar em média, oito meses do ano com baixíssimos índices pluviométricos, abaixo de 100 mm mensais, sendo que nenhum outro posto acompanha esta dinâmica.

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Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Ubatuba

Caraguatatuba

Porto Novo

S. Francisco

Ilhabela

Burrifas

Maresias

Distribuição têmporo-espacial média (esquemática)

0-50 50-100 100-150 150-200 200-250 250-300

Fig. 4- Distribuição têmporo-espacial mensal média da chuva, expressa em intervalos regulares. 4. Conclusões Crê-se que o fluxo de ar predominante, vindo do oceano (úmido), aumente seu teor de umidade ao elevar-se forçosamente na passagem pelo obstáculo relevo, gerado pelo resfriamento de sua temperatura em maiores altitudes, condensando o vapor d’água presente na atmosfera com umidade relativa próxima ou igual a 100%, transformando-se em nuvem e possivelmente em chuva. A posição de abrigo, determinada pelas serras, no continente e na ilha, sugere a perda de umidade dos fluxos segundo os valores de chuva encontrados. Assim, a principal conclusão que se pode chegar é de que os maciços rochosos localizados no interior da Ilha de São Sebastião, atuam verdadeiramente como obstáculo natural que altera a característica do ar úmido, procedente do setor leste, em sua transposição, intensificando em uma vertente e reduzindo em outra a quantidade de umidade observada, culminando com a baixa de totais pluviométricos na área da cidade de São Sebastião (posto São Francisco). Crê-se ainda que a disposição espacial da ilha não afete a distribuição temporal das chuvas, que está ligada sim, às características da circulação geral e secundária. 5. Referências CONTI, J.B. - Circulação secundária e efeito orográfico na gênese das chuvas na região lesnordeste paulista. São Paulo, USP,Instituto de Geografia, 1975. 85p. (Série Teses e Monografias, 18). MILANESI, M.A. - “O Litoral Norte do Estado de São Paulo e a Ilha de São Sebastião: breve estudo sobre a pluviometria em seus arredores.” São Paulo, USP, Departamento de Geografia, 1997 (Trabalho de Graduação Individual)

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MONTEIRO, C.A.F. - A frente polar atlântica e as chuvas de inverno na fachada sul-oriental no Brasil: contribuição metodológica à análise rítmica dos tipos de tempo no Brasil. São Paulo, USP, Instituto de Geografia, 1969. 68p. (Série Teses e Monografias, 1). ---------------------------- Atlas Pluviométrico, 1972 ----------------------------- A análise rítmica em Climatologia: problemas da atualidade climática em São Paulo e achegas para um programa de trabalho. São Paulo, USP, Instituto de Geografia, Laboratório de Climatologia, 1971. 21p. (Climatologia 1). ----------------------------- A dinâmica climática e as chuvas do Estado de São Paulo: estudo geográfico em forma de atlas. São Paulo, USP, Instituto de Geografia, 1973. 129p.

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