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SEMINRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM LEITURA,
LITERATURA E LINGUAGENS:
Novas topografias textuais
04 a 06 de outubro de 2017
UPF-Passo Fundo (RS), Brasil
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A LITERATURA INFANTOJUVENIL BRASILEIRA
PROIBIDA NAS ESCOLAS DE ENSINO BSICO: ENTRE A
CENSURA E O CONTROLE SOCIAL
Jaime dos Reis SantAnnai (UEL)
1 INTRODUO
Para o trabalho de formao de leitores literrios competentes, o protagonismo do
professor de Lngua Portuguesa quando da escolha das obras uma conquista relativamente
recente e que ainda est em processo de consolidao. Todavia, observa-se um crescente
movimento na sociedade brasileira, a exemplo do que ocorre tambm em outros pases, em
direo ao controle rigoroso e at censura de algumas obras literrias selecionadas pelos
docentes do ensino bsico junto s escolas pblicas e privadas.
No so poucos os casos quer os amplamente publicizados pelas plataformas
comunicacionais, quer os se restringem ao mbito das comunidades escolares em que que
escolas e professores se veem constrangidos pelas aes da chamada sociedade organizada e
que retrocedem at ao ponto de recolher as obras e desistir dos projetos de leitura. Por isso,
torna-se necessrio discutir o tema, sobretudo tendo em vista o posicionamento do professor
em meio ao acirramento de nimos que costumam nortear tais embates.
Nessa comunicao, apresentamos os primeiros resultados de uma pesquisa acadmica
realizada no mbito da Universidade Estadual de Londrina, acerca da censura e/ou controle
social sobre obras da literatura infantojuvenil em ambientes escolares. Para dar incio a este
debate, propomos a discusso em a partir de uma trplice articulao terico-metodolgica.
Em um primeiro momento, necessrio discutir o conceito de censura quer aquela
pertinente s aes do Estado organizado, quer aquela que se consolida na atualidade por meio
das mobilizaes de organizaes no-governamentais, sobretudo quando se articula de
maneira rpida (e eficiente), utilizando as facilitaes comunicacionais das redes sociais
disponveis do ciberespao, tais como facebook, instagram e twiter. Neste ponto do estudo,
i Professor de Literatura Infantojuvenil e de Prtica de Ensino de Literaturas; docente-pesquisador, orientador no
ProfLetras Mestrado Profissional em Letras da Universidade Estadual de Londrina. Autor de Literatura e
Ideologia (Novo Sculo, 2003) e de O sagrado em Jos Saramago: em que creem os que no creem (Fonte
Editorial, 2009). E-mail: jsantann@hotmail.com
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ancorados em textos tericos de autores como Robert Darnton, Fernando Baz e Peter Hunt,
buscaremos identificar o perfil dos principais grupos sociais responsveis pelas aes que
resultaram em proibies e a maneira como tais instncias censoras refletem alguns
motivadores ideolgicos que norteiam suas aes repressivas, cujos exageros refletem certa
ignorncia de parcelas da sociedade.
Em seguida, discutiremos alguns casos paradigmticos de obras da literatura
infantojuvenil brasileira contempornea que foram cerceadas e/ou censuradas em ambientes
escolares, cada uma delas escolhias como forma de exemplificar um tipo especfico de censura
aplicada a este tipo de literatura. Neste sentido ainda que sem o aprofundamento merecido ,
abordaremos trs ttulos que foram objeto de censura ou controle social em ambientes escolares,
elencando e rebatendo as alegadas razes para a sublevao contra elas. Trata-se do juvenil
A marca de uma lgrima, do escritor paulista Pedro Bandeira, publicado em 1985; o infantil A
mquina de brincar, do escritor e crtico literrio gacho Paulo Bentancur (com ilustraes de
Os figuras), publicado em 2005; e o infantil Enquanto o sono no vem (com ilustraes de
Ana Maria Moura), do escritor e artista cnico carioca Jos Mauro Brant, publicado em 2003.
A censura envolvendo este ltimo caso, em particular, nos servir para o
encaminhamento de uma proposta de postura do docente em face s aes coibitivas, sobretudo
devido publicao da Nota Tcnica sobre o livro Enquanto o sono no vem, pelo CEALE
(Centro de Alfabetizao, leitura e escrita da Faculdade de Educao da Universidade federal
de Minas Gerais), rgo responsvel junto ao Ministrio da Educao pela avaliao das obras
que compem as ltimas edies do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE), de cujos
acervos a obra faz(ia) parte.
Por fim, apontaremos para a necessidade de um amplo debate sobre o processo de
seleo das obras da literatura infantojuvenil que, no obstante reconhea a importncia do
acompanhamento dos variados segmentos da sociedade brasileira, mantenha o protagonismo e
a autonomia dos docentes de lngua materna no processo de escolha e trabalho com as obras da
literatura infantojuvenil no processo de formao de leitores crticos, visando ao aprimoramento
de sua formao inicial ou continuada no que se refere abordagem de temas e linguagens
polmicos.
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2 CONCEITO AMPLO DE CENSURA E A CENSURA DOS TRS ESSES NA
LITERATURA INFANTOJUVENIL BRASILEIRA CONTEMPORNEA
Neste artigo, e em decorrncia dos propsitos inicialmente estabelecidos na proposta de
discusso discutir a proibio, censura ou controle social de obras da literatura infantojuvenil
brasileira em ambientes escolares para alm de restringirmos o uso do termo censura para
designar o fenmeno de cerceamento das liberdades de expresso e publicizao de ideias
imposto pelo Estado, utilizaremos a palavra censura para nos referirmos tambm s aes
inibidoras movidas por grupos organizados fora do aparelhamento do Estado, mas que
semelhantemente atingem a autonomia do professor de Lngua Portuguesa quando da escolha
das obras literrias com as quais deseja trabalhar a formao de leitores.
Robert Darnton, na obra Censores em ao: como os Estados influenciaram a literatura,
aps estudar em trs momentos fulcrais de coibio da circulao de literatura e demais
atividades intelectuais, como a Frana dos Bourbon, no sculo XVIII, a ndia sob ocupao
britnica, no incio do sculo XIX e a Alemanha Oriental, na segunda metade do sculo XX,
restringe o uso do termo censura s aes orquestradas pelo Estado, em sua natureza
totalitria.
Todavia, compreendemos, seguindo as reflexes do prprio Darnton (2016, p. 273), que
a banalizao da censura como um conceito contrasta com a experincia da censura entre
aqueles que a sofreram. Para Darnton, as sanes censrias impostas pelo Estado e cuja
essncia, a nosso ver, tambm se aplicam aos casos atuais de origem no-governamental - so
arbitrrias e que se revestem de um verniz de legalidade. Neste sentido, no causa surpresa que
os movimento cibernticos voltados para a censura de obras de literatura infantojuvenil nas
escolas de ensino bsico aludam s preocupaes laicas que devem nortear a proteo de
crianas e adolescentes na sociedade. Nesse sentido, evocam o artigo 70 do Estatuto da Criana
e do Adolescente (ECA) explcito: dever de todos prevenir a ocorrncia de ameaa ou
violao dos direitos da criana e do adolescente.
Desta forma, seja o conjunto de textos literrios escolhidos pelo sistema como no caso
especfico dos acervos selecionados por iniciativa governamental, por meio de aes como o
PNBE , seja o ttulo escolhido a partir de uma proposta pessoal do professor de lngua materna,
o trabalho com a literatura tem sido alvo de inmeras e variveis intentonas, muitas vezes
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chamadas de aes cidads com vistas ao controle social acerca do que ocorre nas escolas,
mas que, na maioria dos casos, resultam em cerceamento da liberdade de escolha das obras com
as quais se pretende a formao do leitor no ensino bsico.
Para Laura Canteros (apud COMINO, 2005, n.p.), secretria da ALIJA (Associao de
literatura infantil e juvenil da Argentina), as aes persecutrias recaem sobre obras que, de
alguma maneira, abordam temas tabus, que facilmente se convertem em polmicas junto a
parcelas da sociedade menos esclarecidas. Segundo a pesquisadora, tais temas proibidos se
resumem ao que ela chama de trs esses, a saber: S de sexo, de qualquer classe em texto ou
imagem; S de Satans, ou tudo o que se atenha s Sagradas Escrituras; e S de Soez (grosseiro,
em portugus), [ou seja], nada de palavras ruins, [pois] todas as crianas devem falar como se
usassem um manual de boas maneiras. Aos tabus proibidos na literatura infantojuvenil sexo,
satans (sagradas escrituras) e palavras chulas poderamos acrescentar outros esses, como os
problemas sociais. Trata-se de um tema complexo, pois se de um lado o banimento da censura
no prescinde da construo de algum tipo de controle social, por outro, entendemos que h
riscos em um controle social descontrolado, cuja exacerbao precisa ser evitada.
Segundo crtico britnico Peter Hunt, grosso modo, no a m linguagem em si que
poderosa em todo caso, poucos de ns ousamos imprimir a linguagem do parquinho , mas
seu aparecimento impresso que lhe d uma fora diferente. Para ele, e partir das reflexes
pronunciadas por Jill Paton Walsh: O que est impresso ainda tem uma qualidade especial aos
olhos de muita gente. O que est em um livro de algum modo oficial, santificado (HUNT,
2010, p. 208).
No pura coincidncia, conclui Hunt, que tenha a Bblia Sagrada o primeiro livro
impresso por Johannes Gutenberg, na segunda metade do sculo XV: o livro passa a carregar
uma urea sagrada e qualquer m palavra nele impressa, chula ou obscena, torna-se uma mcula
pecaminosa para os leitores. Em outros termos: no parquinho ou nos corredores da escola, a
criana fala e ouve palavras e frases inadequadas e isto tolerado e/ou corrigido dentro de certos
limites; mas o mesmo no ocorre quando se trata das mesmas palavras e frases impressas em
um livro voltados para o pblico infantil ou juvenil que frequenta as escolas.
Alguns casos de censura ou controle social sobre obras da literatura infantojuvenil
brasileira so curiosos. Ana Maria Machado teve, no Paran, uma tentativa de proibio de seu
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livro Tapete mgico, voltado para o pblico equivalente ao Ensino Fundamental I. A obra em
questo se compe de narrativas mitolgicas e folclricas de quatro pases: um touro de lngua
de ouro; um heri que decide sair pelo mundo procura de uma noiva; uma mulher que se
transforma em serpente da cintura para baixo; e irmos gmeos que brigam desde o nascimento.
Dentre os motivos alegados estava a presena de narrativas mitolgicas e folclricas de
diferentes pases e que atentam aos preceitos cristos professados pela mantenedora do
Colgio.
Machado relata, em conferncia proferida na Academia Brasileira de Letras, em 2008,
os diversos telefonemas do editor de seu livro O menino Pedro e seu boi voador, publicado em
originalmente em 1978. O editor sugere mudana no episdio em que o personagem Pedro
chega jogou futebol e chega em casa, toma um banho demorado; e enquanto toma o banho
demorado pensa uma srie de coisas. A escritora sups que a editoria estivesse preocupada
com insinuaes sexuais referentes ao menino trancado no banheiro: masturbao? Mas se
tratava de uma outra ordem de preocupaes e que se refletem neste tipo de controle a
interveno censria. Diz a escritora: Numa das ltimas edies, a editora resolveu tirar o
adjetivo demorado porque no faz bem pro planeta tomar banho demorado (MACHADO,
2014).
O texto literrio voltado para o pblico juvenil Crianas na escurido, de Jlio Emlio
Braz (Saraiva, 1992) em que se narra os conflitos de oito crianas em situao de risco social
foi recolhido de uma instituio de ensino de Londrina, PR, pois a construo de algumas das
personagens emblemticas da obra podia fazer lembrar prticas similares realizadas por
empresrios pais de alunos daquela escola particular.
Ainda em Londrina, PR, foi desaconselhado pela coordenao de uma escola privada o
trabalho com a obra juvenil Meu pai sem terno e gravata (Moderna, 1992), de Cristina
Agostinho, pois os conflitos enfrentados pela protagonista em face ao desemprego, primeiro do
pai, depois da me, e as adaptaes decorrentes desta nova realidade, podiam ser tomadas como
provocao a meninos e meninas que estivessem vivendo drama semelhante em seus lares.
Lembro-me que, quando eu cursava o 1 Ano do Ensino Mdio, em 1977 ainda durante
os anos de chumbo da Ditadura Cvico-militar meu professor de Lngua Portuguesa
orgulhosamente se apresentou turma como algum prximo escritora paulistana Luclia
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Junqueira de Almeida Prado, autora dentre outras obras, do clssico juvenil Uma rua como
aquela. Ele trazia para a sala de aula um exemplar autografado do livro de contos Depois do
aguaceiro, de 1976, de cujo lanamento ele havia participado na noite anterior. Mas ele nunca
trabalhou com o livro, pois a obra, a despeito de ter sido produzida por uma autora consagrada
na literatura voltada para o pblico infantojuvenil, era uma coletnea de narrativas que
abordavam temas-tabus, sobretudo relacionadas a sexo, tais como o adultrio, o
desvirginamento, anedotas picantes. O conservadorismo do professor o impedia de abordar com
seus alunos adolescentes um texto literrio que mencionasse questes ligadas a sexo, assunto
proibido.
Curioso que minha turminha, formada por garotos com 15 ou 16 anos, comentava cada
conto com bastante empolgao, destacando todos os elementos da narrativa com entusiasmo
que causou inveja muitos anos enquanto professor de prtica de leitura literria no ensino
bsico...
3 TRS ESSES PROIBIDOS: ESTUDO DE CASOS PARADIGMTICOS DE
CENSURA NA LITERATURA INFANTOJUVENIL BRASILEIRA
COMTEMPORNEA
Passamos ao estudo de trs casos paradigmticos de censura e/ou controle social da
literatura infantojuvenil brasileira ocorridos no cenrio atual da educao bsica.
3.1 A mquina de brincar (2005), de Paulo Bentancur
O primeiro uma coletnea de poemas intitulada A mquina de brincar, de Paulo
Bentancur, publicado em 205 pela Editora Bertrand Brasil. A obra com ilustraes e projeto
grfico de tima qualidade concebidos por Os figuras contm 25 poemas elaborados para
o pblico infantil, e dividida em duas partes: I. Para ler no claro; II. Para ler no escuro. A capa
estampa a ilustrao calcada na tcnica da tela dupla dividida pela linha horizontal (imaginria
ou real) em que se v o retrato bifronte do mesmo menino, deitado na cama de seu quarto, com
um livro aberto nas mos. Destacam, a princpio, as marcas identitrias distintas do dia (cu
azul, pequenas nuvens brancas, montanhas verdejantes, sol nascente, cabelos bem penteados,
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olhos pequenos, boca sorridente, luz natural, cobertas claras) e as marcas identitrias da noite
(escurido, estrelas, lua, morcego, luz de luminria artificial, cabelos espetados, sobrancelhas
erguidas, boca arregalada, olhos esbugalhados).
A Parte I do livro (para ler no claro) traz nove poemas dentre os quais destaca-se o
poema que d ttulo obra impressos em papel de fundo branco, com ilustraes coloridas,
alegres, tratando de temas variados como a letra tagarela, a mquina de brincar, cartola de
mgico, filosofia do espelho e muitos versos zoo-antropomrficos. A ilustrao de pgina
inteira que abre esta parte (p.5) traz a figura do mesmo menino deitado em sua cama, porm
com marcas totalmente dia, ressaltando na figura os traos de alegria. Na pgina 18,
encontramos a sntese da proposta no dstico Brincar no brinquedo! / Tem mil e um
segredos.
A Parte II do livro (para ler no escuro) comea na pgina 29, com a ilustrao que
estampa o mesmo menino deitado na cama de seu quarto com o livro aberto nas mos; todavia,
os traos da ilustrao revelam as marcas identitrias totalmente noite. Todos os poemas so
impressos em pginas com fundo escuro, cujas ilustraes so marcadas por traos
aterrorizantes. Os poemas versam sobre Criaturas das trevas, em versos como A velhinha
entrevada / na mais funda das trevas /gritava (p.31); ou sobre O que a bruxa escreveu, com
versos como Versos de bruxa so / perigosos como cobra / no rimam, no tocam msica / e
envenenam as palavras (p.34); ou sobre A visita da morte, como versos como A morte
chegou sem pressa / Ficou olhando o menino / que escutava as paredes / cheias de frestas e
aranhas (p.39); ou sobre O tmulo aconchegante, com versos como Meia-noite ou meio-
dia / tanto faz, no importa / O defunto est dormindo / seja qual for a hora (p.42).
No obstante os poemas da Parte II, dos quais alguns versos esto acima reproduzidos,
abordarem temas soturnos da noite, nada neles se distancia do mundo de Hqs, cartoons, jogos
de vdeo games com os quais as crianas precocemente j esto inseridas. Todavia, dois poemas
causaram reao agressiva em parcelas da sociedade e repercutiram no ciberespao, provocando
a censura da obra de Paulo Bentancur.
No poema O que deus nos deu, por abordar a dificuldade em se acreditar em uma
figura divina desconhecida, distante e que no se manifesta em momentos em que dele se espera
uma interveno. Os versos que causaram especial repdio se apresentam em forma
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interrogativa, de questionamento, de abertura reflexo sobre o relacionamento com o sagrado:
Deus s uma ideia? / Deus o nome de uma esperana? / Deus um pedido de socorro? e,
sobretudo, o verso que encerra o poema: No que o capeta venceu?.
O outro poema objeto da polmica ciberntica travada contra o livro de Bentancur,
classificado como blasfemo, intitula-se O diabo que me carregue (p.35). Nele, o eu lrico faz
a invocao ao diabo no primeiro verso de cada uma das cinco estrofes, como vemos na
primeira: Diabo, meu grande amigo / vem, vem brincar comigo / A tua cara malvada / deixa
Maria assustada. No obstante a publicao do livro ser de 2005 e de estar no PNAIC h alguns
anos, a reao no meio religioso somente ocorreu em 2014, com a veiculao em site gospel de
matria intitulada Livro infantil distribudo em escolas pblicas chama o diabo de amigo e
Deus de covarde. A reao dos internautas foi veemente. Apresento dois exemplos, pinados
to somente para dar a dimenso do repdio violento: Esse autor ridculo a editora outra.
E no fossem satanistas mnimo querem causar polmica e Essas aberrao que quer coloca
lixo a qualquer custo e as nossas custas. Uma besta destas ainda acha outro animal imundo pra
concordar.
Para aqum de avaliar a qualidade literria da obra infantil de Bentancur, prevalece a
iconoclastia. Melhor prevenir e retirar o veneno das proximidades de nossas crianas. Como
disse Peter Hunt, nesses casos, aceita-se o direito de ter veneno em casa; mas no se pode
aceitar que seu dono o distribua como bom alimento (HUNT, 2010, p. 189). Mas, em todo
caso, ningum duvida que se trate de veneno.
3.2 A marca de uma lgrima (1985), de Pedro Bandeira
Quando foi lanado o romance de Pedro Bandeira A marca de uma lgrima, em 1985,
o Brasil passava por um momento que alguns chamavam de desbunde. Sobretudo porque o
pas tinha vido sob o regime ditatorial imposto por um golpe cvico militar, em 1964, e sofrera
quase duas dcadas de intensa represso poltica e de arguta censura s produes artsticas,
quer na literatura, teatro, cinema e televiso.
Na literatura, em particular, como aponta Ana Maria Machado, driblava-se a censura
com a produo de uma elaborada literatura infantojuvenil que conseguia, ardilosamente,
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criticar o regime antidemocrtico e denunciar as desigualdades sociais. Segundo Machado,
surgiram no final dos anos 1960 e incio de 1970, alguns autores em geral, oriundos de
variados setores artsticos que, escrevendo para o pblico infantojuvenil, conseguiu criar
espaos alternativos para a publicao de textos crticos, notadamente a partir de dezembro de
1968, quando o AI-5 (Ato Institucional nmero 5) fechou o Congresso, censurou a imprensa,
proibiu reunies, demitiu professores, prendeu centenas de pessoas. Neste contexto de
perseguio e censura, autores como Ziraldo, Lgia Bojunga, Joo Carlos Marinho, Ruth Rocha,
Joel Rufino dos Santos e a prpria articulista, comearam a publicar contos numa revista para
crianas, na Revista Recreio, com 250 mil exemplares vendidos semanalmente (MACHADO,
2011, p. 111). Destacam-se, segundo Machado, quatro livros de Ruth Rocha, editado neste
contexto de censura: O reizinho mando; O que os olhos no veem; O rei que no sabia de
nada; Era uma vez um tirano. Todos eles, ainda de acordo coma avaliao de Machado,
retratando, criticando, denunciando a tirania de governos ditatoriais: A explicao que os
analistas geralmente deram que os militares no liam para os filhos e netos. Assim, no tinham
a menor ideia sobre o que estvamos fazendo, apesar das grandes vendagens (MACHADO,
2011, p. 113).
No fim deste perodo, surge o romance de Pedro Bandeira. Devido quele contexto
efervescente, a obra foi tomada como nova literatura cor de rosa, gua com acar, proibida
para diabticos. Em A marca de uma lgrima, Bandeira estabelece uma relao dialgica com
a pea Cyrano de Berjerac, de Edmond Rstand, produzida e encenada na Frana do sculo
XIX. No hipotexto (texto de partida) francs, Cyrano apaixonado por Roxane, mas tem medo
de declarar seu amor, pois sente vergonha de sua aparncia, sobretudo do avantajado nariz.
Assim, pede ajuda ao belo Cristina, a partir do qual, feito um ventrloquo, afirma poeticamente
a profundidade de seu amor, sempre escamoteando sua aparncia. No romance de Bandeira, o
mesmo conflito retomado; todavia, alguns mecanismos de intertextualidade modificam o
hipertexto (texto de chegada), adaptando-os s inter-relaes amorosas de adolescentes, cuja
idade gira em torno de 15 anos, em uma escola privada de So Paulo, nos anos 1980. Muito
conflito amoroso, falta de correspondncia amorosa, cartas de coita de amor, lgrimas, etc; tudo
dentro de um roteiro romntico que vem sensibilizando adolescentes apaixonadas.
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No entanto, a despeito das vicissitudes romnticas da obra de Bandeira, e da tima
recepo que o romance teve junto ao alunado, sobretudo do Ensino Fundamental II, ao longo
de suas quatro edies, mais de 500 mil exemplares vendidos, estoura a censura obra. A
principal razo do repdio a questo sexual. A personagem Isabel (equivalente a Cyrano, na
pea de Rstand), narrando em primeira pessoa seus conflitos amorosos acerca do belo e
distante Cristiano, registra algumas fantasias sexuais com o colega adolescente, em cuja
imaginao menciona frases erticas como Quer tirar minha calcinha agora, Cristiano?
(BANDEIRA, 2010, p. 29); ou quando escreve um poema sobre o amado, com referncias
erticas a cobras e aranhas (BANDEIRA, 2010, p. 59-60); ou quando toca seu corpo,
descobrindo-se um ser dotado de corpo sexual (BANDEIRA, 2010, p. 67-68); ou quando relata
um sonho ertico em que lhe aparece o adolescente Cristiano como um prncipe que lhe faz
carcias pelo corpo (BANDEIRA, 2010, p. 18-120).
Confesso que havia lido o lido nos anos 1980 e nada me despertara acerca do erotismo
da obra. Reli o texto no incio do sculo XXI para atualizar minhas aulas de Literatura
Infantojuvenil na Universidade Estadual de Londrina. Mas, ao reler os fragmentos apontados
por pais de alunos de uma escola privada de Londrina e o pedido que me foi encaminhado
quanto a uma avaliao da obra, tudo me pareceu estranho. Seria A marca de uma lgrima uma
obra inadequada para a formao de alunos dos ltimos anos do Ensino Fundamental II? O
reestudo da obra me mostrou o quanto a leitura isolada dos fragmentos classificados por pais
como exageradamente erotizados e, por isso mesmo, inadequados para seus filhos em torno de
14 ou 15 anos, fazia sentido. Quando me coloquei em favor da manuteno da obra no trabalho
de sala de aula para a formao de leitores crticos, j era tarde. A obra indecente do autor de O
mistrio da feiurinha j havia sido recolhida pelos coordenadores e diretores pedaggicos da
escola.
3.3 Enquanto o sono no vem (2003), de Jos Mauro Brant (ilustraes de Ana Moura)
A censura obra de Brant um caso mais recente, tendo ocorrido em 2017. As primeiras
reaes obra comearam nas cidades de Vila Velha e Cariacica, no Esprito Santo. As redes
sociais repercutiram o caso e logo foi noticiado nos grandes jornais da regio Sul. Internautas
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envolvidos na denncia, apontavam que a obra incentivava a violncia contra a criana (por
meio de uma estria que se parecia com a famosa estria do Homem do saco, largamente
conhecida na tradio rural) e que incentivava o incesto entre pai e filha, n uma trama proposta
pelo pai criana, como forma de se livrarem da me. Quando as professoras da rede municipal
de Rolndia, PR, abriram as caixas com os livros dos acervos do PNBE, imediatamente retiram
o livro Enquanto o sono no vem, de Jos Mauro Brant e colocaram nas redes sociais a grande
feito heroico. Em seguida, a cidade Londrina, por meio de sua secretria municipal de
Educao, recolhia centenas de exemplares. Em entrevista a diversas redes de televiso e rdios,
perguntada se j havia lido a obra, secretria afirma, com o livro numa das mos, que ainda no
o lera, mas avisava com veemncia: J ordenei o recolhimento da obra e pedi um parecer
tcnico-pedaggico para justificar o recolhimento e a devoluo ao Ministrio da Educao.
Ao cabo desta pendenga, 197 mil exemplares do livro de poemas de Brant foram recolhidos
pelo MEC.
A obra tem uma proposta criativa: oito lendas conhecidas na regio do sul da Bahia,
norte de Minas Gerais e partes do Espirito Santo, foram recolhidas, semelhana do que fez o
folclorista Lus da Cmara Cascudo e, a partir de mecanismo intertextuais que travavam uma
estreita relao dialgica com as lendas, verteram-se as lendas em versos, moda dos
romances medievais. Ao trmino da obra, cujo projeto editorial se destaca pela alta qualidade
e esmero, canes sobre cada lenda eram publicadas como apndices, incluindo a as partituras
para reproduo em sala de aula ou para uso nas atividades de contao de estrias.
Algumas semanas aps o imbrglio, o CEALE (Centro de Alfabetizao, leitura e
escrita da Faculdade de Educao da Universidade federal de Minas Gerais), entidade
responsvel junto ao Ministrio da Educao pela avaliao das obras que compem as ltimas
edies do PNBE, emitiu uma Nota Tcnica sobre o livro Enquanto o sono no vem. Mas o
estrago j estava feito: autor e obra se desmancham, ante a ignorncia, a intolerncia e
irresponsabilidades.
Na Nota, disponvel no site da UFMG/CEALE, encontramos a detalhada explicao,
ponto a ponto, das razes que levaram os avaliadores recomendao da obra e por que
ratificavam a deciso. Elementos estticos, temticas, discusses sobre psicanlise, estudo
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analtico-interpretativo da obra elementos presentes na Nota publica pelo CEALE no
puderam reverter o que j estava feito.
4 CONSIDERAES FINAIS
Abordar a censura na literatura infantojuvenil brasileira contempornea em ambientes
escolares uma forma de capacitar os professores de Lngua Portuguesa e demais educadores,
no que tange s inquietaes que dominam o cenrio conservador de segmentos da sociedade
brasileira.
Evidencia-se a necessidade de capacitao dos docentes responsveis pela formao de
leitores literrios para que possam agir com autonomia junto aos rgos que tem se apresentado
repressores. As redes sociais, importantes parceiros no processo de educao, acabam por
contribuir para o que se pode chamar de efeito manada, levando de roldo milhares de pessoas
incluindo a professores e professoras envolvidos com a educao bsica a se posicionarem
preventivamente contra a obra literria. Membros da sociedade civil, sem conhecimentos
especializado de literatura voltada para o pblico infantojuvenil, tais com delegados de
delegacias da criana e do adolescente, procuradores da infncia, defensores pblicos,
sacerdotes catlicos e religiosos, se apresentam precipitadamente condenando as obras,
espalhando pnico entre os pais e incrementando a intolerncia.
Por isso, reafirmamos a necessidade do debate pblico acerca do assunto e a abordagem
do tema nos cursos de formao continuada dos docentes envolvidos com a formao de
leitores literrios no ensino bsico.
REFERNCIAS
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http://gibitecacom.blogspot.com.br/2009/06/censura-nas-bibliotecas-escolares.html
REFERNCIAS ON LINE (FAVOR censura)
http://www.escolasempartido.org/livros-didaticos/344-flagrante-de-doutrinacao-ideologica
https://www.facebook.com/Professornaoeeducador
http://dererummundi.blogspot.com.br/2009/10/sobre-saramago.html
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A INTERNET COMO FONTE DE TEXTOS AUTNTICOS
PARA A AULA DE LNGUA ADICIONAL E A SELEO DE
SITES APROPRIADOS PARA O USO PEDAGGICO: UMA
APLICAO PRTICA DO ROTEIRO DE AVALIAO
Jancileidi Hbneri (UFFS)
1 INTRODUO
Ao se pensar o ensino de lngua adicional hoje, difcil fugir da automtica relao entre
esta ao pedaggica e uma to referida metodologia de ensino estruturada que, por
consequncia, eleva o livro didtico ao posto de figura central do processo.
O uso do livro didtico legitimado pelo nome da editora ou do autor e, dessa forma,
utilizado por instituies de ensino e muitos professores de lngua adicional de olhos fechados.
Apesar desta ser uma questo muito sria, o foco deste trabalho no propriamente questionar
o uso do livro didtico. Em contrapartida, com base nesta realidade, o que nos move a vontade
de complementar esta prtica pedaggica de maneira que a aula de lngua adicional consiga
aproximar os contedos trabalhados da realidade do aluno.
Se tomarmos as diretrizes dos documentos oficiais que apresentam os parmetros para
o ensino de lngua adicional no Brasil e no Rio Grande do Sul (BRASIL, 1998; RS, 2009), o
foco central deste processo est na interao entre as pessoas e na comunicao propriamente
dita, veiculando ideias atravs da lngua em questo. No entanto, a passagem entre o que se
defende enquanto princpios e concepes e o fazer efetivo da sala de aula no ocorre de forma
automtica.
Muitas vezes, as amostras da lngua oferecidas pelo livro didtico para anlise so
dissociadas de contexto e servem puramente para atividade de foco gramatical, sem carregar
em seu contedo a questo da interao social existente na comunicao em meio real. Marisa
Lajolo (1985), h tempo, alertava para o fato de que, em situaes escolares, comum o texto
virar pretexto intermediando outras aprendizagens que no ele mesmo.
Tal fato ressalta a necessidade de os professores buscarem boas fontes de textos situados
i Especialista em Ensino e Aprendizagem de Lngua Inglesa pela UPF, mestranda em Estudos Lingusticos pela
UFFS e professora de lngua inglesa no Centro de Lnguas da URI-Erechim. E-mail: jancihubner@hotmail.com.
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em contextos comunicativos que vm ao encontro das necessidades e dos interesses dos alunos,
pois somente assim que o ensino de lnguas pode fazer sentido. Este material contextualizado,
autntico e de grande valia para o processo de aprendizagem pode ser encontrado muito
facilmente na Internet.
Com isso, o presente trabalho busca retomar estudos realizados anteriormente, nos quais
desenvolveu-se um roteiro de anlise de sites que pode ser uma valiosa ferramenta ao professor
de lngua adicional. E nesta perspectiva que sero discutidos critrios para guiar o professor
durante a escolha dos sites a serem utilizados em aula e se dar, tambm, a aplicao prtica da
ferramenta supracitada por meio da anlise de um site escolhido pela pesquisadora.
2 REVISO TERICA
A fim de iniciar esta reflexo em torno do presente objeto de estudo, tomemos por base
o questionamento: para que serve o ensino de lngua adicional na escola?
Ainda que atenda a diferentes demandas e necessidades, o ensino de lngua adicional
tem (ou deveria ter) na emancipao, na autonomia e na construo da identidade do sujeito sua
principal preocupao, pois, atravs da linguagem, o aluno pode se afirmar como ser humano e
como cidado. Segundo os Parmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), esta prtica
deve possibilitar o engajamento discursivo do aluno a fim de lev-lo a aprender mais sobre si
mesmo e sobre os diversos valores culturais, polticos e sociais que marcam o mundo em que
vive.
Este trabalho, portanto, est fundamentado na abordagem scio-cultural do letramento
que, com a contribuio de Barton e Hamilton (1998 apud FIGUEIREDO, 2009, p.33) pode ser
entendido como
[] primeiramente algo que as pessoas fazem; uma atividade situada no espao entre
pensamento e texto. Letramento no reside apenas nas cabeas das pessoas como um
conjunto de habilidades a serem apreendidas, assim como tambm no est s no papel,
capturado como textos a serem analisados. Como toda a atividade humana, letramento
essencialmente social e est localizado na interao entre as pessoas. (BARTON;
HAMILTON, 1998, p.03 apud FIQUEIREDO, 2009, p. 33)
Nesta perspectiva, ressalta-se tambm as ideias de Almeida Filho (2008), segundo o
qual, no processo de ensinar e aprender um idioma, deve-se tomar o sentido ou a significao
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como requisito central. por isso que ressaltamos a necessria interao do estudante com o
texto e com colegas e professores, pois de nada adianta decodificar o que est escrito se no
possvel entender toda a significao veiculada atravs do cdigo.
Trata-se, portanto, de priorizar o ensino comunicativo da lngua explicado aqui atravs
das palavras de Almeida Filho:
O ensino comunicativo aquele que no toma as formas da lngua descritas nas gramticas
como o modelo suficiente para organizar as experincias de aprender outra lngua, mas sim
aquele que toma unidades de ao feitas com linguagem como organizatrias das amostras
autnticas de lngua-alvo que se vo oferecer ao aluno-aprendiz. (ALMEIDA FILHO, 2008,
p. 49-48)
Reitera-se, dessa forma, o objetivo principal do ensino de lnguas que levar o aluno a
entender que a linguagem sempre uma prtica social que carrega em si valores, ideais e
diferentes vises de mundo. E para que este objetivo seja atingido, necessrio que o professor
tenha em mente o que os Referenciais Curriculares do Rio Grande do Sul (RS, 2009, p. 135)
afirmam: o texto a matria-prima para a aula.
a partir da discusso de textos e do posicionamento diante deles que o aluno ser capaz
de chegar aos discernimentos requeridos de leitores proficientes. Ento, a qualidade dos textos
oferecidos em aula questo crucial para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem de
uma lngua adicional. frente a esta necessidade que se discute a questo da importncia dos
textos autnticos escolhidos pelo professor.
Entenda-se aqui, como texto autntico, o uso real da linguagem em seus variados
gneros a fim de veicular uma mensagem socialmente. Segundo Kramsch (1993), este tipo de
texto caracteriza uma oposio linguagem artificial pr-fabricada dos livros-texto e dos
dilogos instrucionais, ou seja, uma forma no-pedaggica e natural de uso da linguagem. So
exemplos de textos autnticos propagandas, bulas de remdio, receitas de culinria, cartas, entre
outros.
Dessa forma, esta pesquisa toma o ensino de lngua adicional a partir de uma viso da
linguagem como prtica social, preocupando-se com a seleo adequada de textos autnticos e
levando em conta a necessidade de abordar diferentes gneros discursivos nas atividades junto
aos alunos.
Com base nesta preocupao, ressaltamos o papel da Internet como ferramenta aliada
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do professor de lngua adicional. Primeiramente, pelo fato de a Internet ser uma das principais
fontes de textos autnticos em outras lnguas que est mo dos professores brasileiros. Alm
disso, em oposio ao livro didtico, a oferta de material atualizada e de grande diversidade
temtica. Qual seria outra fonte com tantas opes de gneros textuais, barata e de fcil acesso?
Para Baladeli e Alto (2009), difcil encontrar um recurso melhor para minimizar a escassez
de material de apoio e de pesquisa.
Assim, o trabalho do professor de lngua adicional tendo a Internet como recurso
pedaggico, tem condies de proporcionar o contato dos alunos com uma variedade de
materiais produzidos na lngua alvo que veiculam questes culturais e posicionamentos dos
interlocutores que devem ser explorados. Segundo Baladeli e Alto (2009), este auxlio leva
construo de uma prtica dinmica, desafiadora e contextualizada, que exatamente o
necessrio.
A web disponibiliza dois tipos de sites quando se pensa em utiliz-la para fins
educacionais nas aulas de lngua adicional. Tomando Dudeney e Hockly (2007) como base,
pode-se dizer que existem sites prprios para o ensino da lngua e sites autnticos. Os sites
autnticos, em nmero muito maior na rede, so o foco deste trabalho e trazem uma variedade
imensa de possibilidades aos professores de lnguas, embora no tenham sido diretamente
organizados para suas necessidades profissionais.
Utilizar sites autnticos apropriados ao nvel do conhecimento lingustico dos alunos,
partindo de uma escolha consciente, um ponto positivo para a prtica pedaggica, pois far
com que os textos explorados em aula sejam vinculados realidade, possivelmente do interesse
dos alunos e adequados as suas necessidades de aprendizagem. para isso que a partir deste
ponto discutiremos critrios que ajudaro o professor na escolha de sites e textos autnticos de
qualidade para uso em sala de aula.
O papel do professor como facilitador em meio insero de recursos computacionais
na educao imprescindvel. Como figura central na organizao do processo de
aprendizagem, cabe a ele conhecer as potencialidades oferecidas pelo computador e pela
Internet em sua disciplina, refletindo sobre a relevncia e a viabilidade desses recursos no
contexto em que atua. (BALADELI; ALTO, 2009)
Nesta perspectiva, toma-se, a partir deste ponto, as ideias de Dudeney e Hockly (2007)
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registradas no livro How to teach English with technology a fim de discutir o que o professor
pode fazer para avaliar o contedo disponvel na web antes de lev-lo para a sala de aula. Os
autores citados sugerem quatro critrios que podem servir como ponto de partida para a
avaliao dos sites. So eles: a.) preciso; b.) atualidade; c.) contedo; d.) funcionalidade.
Quando se fala em preciso, busca-se verificar se o contedo apresentado no site
confivel e correto. Para tal, sugere-se checar por quem ou por qual instituio o site foi criado.
Assim, medida que sabemos quem disponibiliza os dados na pgina, certificando-nos de que
uma organizao confivel, possvel ter certeza de que no estamos levando nenhum dado
incorreto para a sala de aula.
Isto far, tambm, com que o professor tenha certeza de que est disponibilizando aos
seus alunos uma boa amostra da lngua em estudo, pois verificam-se interlocutores situados em
um contexto de comunicao formal no qual as informaes normalmente so veiculadas
atravs de textos bem escritos.
Mas h, ainda, outra estratgia possvel sugerida pelos autores a fim de verificar a
preciso dos dados disponveis no site. Pode-se fazer uma comparao de dados com outras
pginas e com enciclopdias disponveis online para que o professor possa se certificar de que
as informaes contidas no texto so verdadeiras.
Quanto questo da atualidade, sugere-se sempre buscar no site informaes sobre a
ltima data de atualizao. s vezes esta informao est disponvel e bem visvel aps a
expresso em ingls last updated. Esta uma forma precisa para saber se as informaes so
atuais ou no. Se o site no disponibilizar este dado especificamente ou se o professor ainda
tiver dvidas, possvel tentar outras estratgias que ajudam a verificar a atualidade dos dados,
como confrontar as informaes com outros recursos, buscando outros sites ou outras fontes,
no necessariamente na Internet.
J quando a questo o contedo, deve-se levar em conta, principalmente, o nvel
lingustico dos alunos e suas necessidades de aprendizagem. a que se torna necessrio
conhecer bem a turma e saber quais os assuntos que seriam interessantes e estimulantes de
acordo com suas preferncias, bem como o nvel de dificuldade adequado. Segundo os
Referenciais Curriculares do Rio Grande do Sul, essa escolha deve levar em conta valores
ideolgicos e culturais presentes no texto e a relao com o conhecimento prvio dos alunos
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(RS, 2009, p.161)
Dudeney e Hockly (2007) sugerem tambm analisar a estrutura visual do site se o
trabalho for desenvolvido online. A lgica da organizao dos links, a combinao de cores, as
fontes utilizadas entre outros aspectos, so de suma importncia no momento de guiar os alunos.
Estas caractersticas do site, quando mal pensadas ou organizadas, podem levar os alunos a se
perderem durante o desenvolvimento do trabalho, especialmente se esto em um laboratrio
multimdia, no qual cada aluno ou cada dupla realiza as atividades em computadores separados.
O quarto e ltimo critrio sugerido por Dudeney e Hockly (2007) a funcionalidade.
Segundo eles, o professor deve testar o funcionamento do site antes de lev-lo para a sala de
aula. Isto quer dizer que necessrio percorrer todo o caminho a ser utilizado em aula, testando
links, sons, animaes, etc. O professor precisa ter certeza de que tudo funcionar
adequadamente. Do contrrio, se algum link no funcionar, se faltarem informaes ou se a
velocidade da conexo exigir muito tempo de espera para baixar vdeos ou outras mdias, a
atividade proposta pode se tornar frustrante para os alunos.
Assim, com o intuito de auxiliar o docente na tarefa de seleo de material autntico,
ser apresentada, no decorrer do texto, uma proposta de roteiro de anlise de sites baseada nos
critrios aqui descritos.
2.1 Procedimentos Metodolgicos
Em estudos prvios, aps a realizao do levantamento terico, deu-se a elaborao de
um roteiro de anlise. Para tanto, tomou-se como base os critrios de avaliao de sites
sugeridos por Dudeney e Hockly (2007) com a finalidade de listar perguntas para guiar o
professor de lnguas durante a escolha dos sites e dos textos que apresentar aos alunos. Alm
dos questionamentos sugeridos pelos autores, outras perguntas foram acrescentadas pela
pesquisadora com o intuito de abranger todas as caractersticas dos sites que podem interferir
no desenvolvimento de atividades pedaggicas de qualidade.
O roteiro conta com 20 perguntas fechadas de resposta sim ou no. Os questionamentos
guiam o professor enquanto ele busca as informaes necessrias no site e, a partir disso, quanto
mais respostas afirmativas o professor puder assinalar, mais adequado ao uso em sala de aula o
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site .
A proposta consiste em avaliar, primeiramente, a veracidade e a atualidade do contedo
veiculado pelo site em questo. Ento, busca-se aproximar o site dos alunos que se tem em
mente durante a preparao das atividades, verificando se o contedo, ou seja, a temtica, a
aparncia e o nvel lingustico so apropriados realidade da turma. E, por fim, o questionrio
aborda a funcionalidade do site, que tambm de suma importncia para o desenvolvimento de
atividades online.
Partindo do referido estudo prvio que culminou na elaborao do roteiro de anlise, o
presente trabalho desenvolveu a aplicao prtica desta ferramenta ao buscar um texto autntico
online para uso pedaggico com alunos de 11 e 12 anos que estavam trabalhando, no livro
didtico adotado pela escola, uma unidade que aborda tipos de comida e hbitos alimentares.
Tendo em mente a idade e a preferncia dos alunos, dentre tantas possibilidades
disponveis na web, deu-se a escolha do site de uma revista americana www.seventeen.com, que
apresenta notcias e novidades que podem interessar faixa etria em questo. Tambm foi de
fundamental importncia para a escolha, a recente postagem do texto 6 Scary Things That
Happen To Your Body When You Skip Meals.i, que vem ao encontro das atividades
desenvolvidas com base no livro didtico e pode proporcionar boas reflexes a respeito dos
hbitos alimentares dos alunos. O texto e o site foram, ento, avaliados com base nos
questionamentos do roteiro de anlise conforme o que segue.
2.2 Anlise
A anlise do site e do texto escolhidos se deu com vistas a abarcar os quatro aspectos
destacados por Dudeney e Hockly (2007). Assim, os questionamentos do roteiro foram
respondidos a fim de verificar a preciso, a atualidade, o contedo e a funcionalidade da
ferramenta. Na sequncia, possvel observar estes questionamentos e os respectivos
apontamentos feitos durante a anlise.
A. Preciso
i 6 Coisas Assustadoras Que Acontecem Ao Seu Corpo Quando Voc Pula Refeies. (traduo nossa)
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1. A pgina apresenta um link com informaes sobre o autor ou a instituio
responsvel?
Sim. Clicando no link About us, encontramos informaes sobre os responsveis pela
verso online e escrita da revista.
2. O autor reconhecido por saber sobre o assunto em questo?
Sim. Observando o site, pode-se dizer que este apresenta uma nfase maior nos assuntos
relativos moda, beleza, sade e entretenimento direcionados ao pblico jovem feminino, mas
que podem interessar tambm ao pblico masculino. A revista vem sendo publicada h 73 anos,
uma tradio que confere um maior reconhecimento aos artigos publicados.
3. possvel contatar o responsvel atravs do site?
Sim. A pgina apresenta todos os contatos, incluindo email e endereo, clicando no link
Contact us.
4. Os dados apresentados conferem com os de outra fonte de confiana?
Sim. Para realizar essa conferncia visitamos pginas de outras revistas que abordam o
mesmo tipo de assunto. Os dados apresentados no artigo escolhido para o trabalho em sala de
aula est em consonncia com as informaes encontradas em artigos semelhantes das revistas
Womens Health e Mens Fitness.
5. Linguisticamente, o contedo apropriado para os aprendizes de lngua
adicional?
Sim. O artigo bem escrito, mas dentro da informalidade caracterstica das revistas
destinadas a esta faixa etria. O texto apresenta grias, abreviaes e emoticons, alm de utilizar
pontuao e letras maisculas para destacar alguns termos de forma bastante informal. Pode-se
dizer que este um ponto positivo para a utilizao do artigo, medida que os marcadores
conversacionais e toda a informalidade presentes no texto proporcionam uma aproximao de
seu contedo com os alunos em questo.
B. Atualidade
6. A pgina apresenta informaes de quando foi atualizada pela ltima vez?
7. Se no, existem outros dados como comentrios ou postagens atuais?
Sim. Todas as postagens so datadas, inclusive as informaes do site disponveis nos
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links About us e Contact us. As publicaes so normalmente dirias, mas a pgina no permite
comentrios dos usurios.
8. As informaes esto atualizadas em comparao com outras fontes?
Sim. As informaes contidas no texto escolhido, conforme j mencionado, esto em
consonncia com outras fontes, mas, como no se trata de uma notcia ou de um fato especfico
com tempo definido, a atualidade do texto no fica to visvel, pois o assunto de certa forma,
atemporal.
C. Contedo
9. O site parece interessante no ponto de vista dos alunos?
Sim. Por ser desenvolvido para adolescentes, o site apresenta artigos contendo assuntos,
linguagem e ilustraes voltadas a esta faixa etria. Esta caracterstica o torna interessante aos
olhos dos alunos em questo.
10. A combinao de cores favorece a leitura e o trabalho em aula?
Sim. Os textos apresentam fundo branco e letra preta, o que facilita a leitura. So as
ilustraes que deixam a pgina mais informal e divertida, pois so vivas, coloridas e motivam
o jovem leitor.
11. Os links so organizados de uma forma que facilitaria o trabalho?
Sim. Alguns links dos assuntos mais pesquisados na revista so apresentados no topo
da pgina e os demais pode ser acessados atravs do menu, no canto superior esquerdo.
12. O nvel de dificuldade lingustica do texto a ser utilizado compatvel com o
conhecimento dos alunos?
De certa forma sim. O texto apresenta vocabulrio e estruturas que ainda no foram
trabalhados com os alunos em aula, mas se o vocabulrio for explorado em atividades anteriores
leitura, o entendimento seria facilitado.
13. A temtica vem ao encontro dos interesses da faixa etria dos alunos?
Sim. A princpio, a temtica no parece ser interessante aos olhos de alunos de 11 ou 12
anos, mas a abordagem, devido forma como as ideias so expressas, escolha de vocabulrio
e insero de marcadores conversacionais, fazem com que a temtica se aproxime dos
interesses da faixa etria.
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14. possvel adaptar o contedo do site ao plano de aula em desenvolvimento?
Sim. O plano em desenvolvimento promove discusses em torno dos hbitos
alimentares e das refeies em geral, e busca o desenvolvimento das habilidades comunicativas
para que, ao final, os alunos sejam capazes de falar sobre seus hbitos alimentares, as refeies
que fazem durante o dia e suas preferencias em relao alimentao.
15. Pensando nos objetivos da aula, o contedo til a fim de atingi-los?
Sim. Os objetivos principais da aula em questo so voltados comunicao dos hbitos
alimentares e, consequentemente, da frequncia com que os alunos comem determinados tipos
de comida. Portanto, o texto pode leva-los a refletir em torno de seus hbitos e, dessa forma,
ajuda a atingir os objetivos da aula.
D. Funcionalidade
16. O site limpo, claro, fcil de navegar e sem propagandas ou pop-up que
dispersam a ateno dos alunos?
Sim. O site fcil de navegar e no apresenta pop-ups que possam dispersar a ateno.
Algumas propagandas so apresentadas ao lado dos artigos, mas so limpas e no atrapalham a
leitura.
17. Quando testados, os links, o som, as animaes e os vdeos funcionaram bem?
Sim. Apenas os links foram testados, pois o texto escolhido no apresenta animaes,
sons ou vdeos. O nico link apresentado funciona bem e direciona o leitor a outro artigo da
revista que contem fotos e receitas de pratos saudveis.
18. A pgina prtica, sem arquivos pesados que levem tempo para baixar?
Sim. Os arquivos so de fcil acesso e abrem rapidamente.
19. Voc consegue acessar o contedo sem ter programas especficos instalados em
seu computador?
Sim. A pgina no apresenta nenhum arquivo difcil de acessar e no exige programas
especficos.
20. A escola conta com o suporte necessrio para a utilizao do site em aula?
Sim. A leitura pode ser realizada no laboratrio de informtica da escola que conta com
os equipamentos necessrios.
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Com base na quantidade de respostas afirmativas obtidas durante a aplicao do roteiro
de anlise no site escolhido, consideramos adequado o uso pedaggico do texto 6 Scary Things
That Happen To Your Body When You Skip Meals com a turma em questo.
Consideramos importante ressaltar, neste momento, que o objetivo principal deste
trabalho a aplicao prtica da ferramenta desenvolvida. Portanto, no cabe, aqui, abordar
como este texto ser utilizado em sala de aula, apesar de sabermos que esta questo tambm
merece nossa ateno devido a sua importncia. Assim, levantamos a possibilidade de abordar
as formas como o texto autntico online escolhido e analisado pode ser trabalho em sala de aula
em estudos futuros.
3 CONSIDERAES FINAIS
Ao se tomar a Internet como importante ferramenta de apoio no ensino de lngua
adicional, necessrio considerar tambm o excesso de informaes nem sempre verdadeiras
ou apropriadas para a prtica docente disponveis neste meio. Levando em conta esta realidade,
a busca por textos autnticos que venham a requintar o ensino de lngua adicional, carrega em
si uma preocupao a mais. Assim, a necessidade de avaliar os sites a serem utilizados em aula
norteou o presente trabalho, pois tal avaliao de suma importncia para o sucesso do uso
pedaggico de recursos disponveis online.
Nessa perspectiva, lanamos mo de uma ferramenta previamente desenvolvida com
base nos critrios de avaliao de sites autnticos propostos por Dudeney e Hockly (2007). O
roteiro de anlise que conta com 20 perguntas, foi pensado com a finalidade de guiar o professor
durante a escolha de sites e textos online que podem ser inseridos na sua prtica pedaggica.
Com o intuito de servir de modelo de abordagem e postura diante da vasta oferta de
material disponvel na web, este estudo apresentou a anlise do texto 6 Scary Things That
Happen To Your Body When You Skip Meals, disponvel no site www.seventeen.com,
verificando que ambos so prprios para o uso pedaggico com a turma em questo, aqui no
especificada, no momento da escolha do site.
Sabendo da importncia do input de qualidade durante as aulas de lngua adicional e da
motivao dos alunos em relao temtica dos textos apresentados, pode-se dizer que o
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referido estudo, se tomado com ateno e propriedade, de grande relevncia para o sucesso
da utilizao de sites junto s turmas.
Muitas vezes, a utilizao das tecnologias digitais pode se dar simplesmente para
diversificar as atividades sem preocupao em definir propriamente os objetivos do trabalho.
Lembramos que o necessrio, pelo contrrio, atrelar as atividades online a um projeto
pedaggico com objetivos claros para que os contedos curriculares possam ser explorados de
forma significativa, por meio de textos autnticos, atuais, precisos e apropriados para os alunos
em todos os sentidos.
Portanto, destacamos que a analise explanada no presente trabalho apenas um recorte
do processo de insero do texto analisado na prtica pedaggica da pesquisadora. A
continuidade desta pesquisa por meio da anlise das possveis abordagens deste texto diante
dos alunos tambm pode trazer importantes contribuies para a ao docente no ensino de
lngua adicional.
REFERNCIAS
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A (INTER) AO ENTRE A VARIAO LINGUSTICA E A
HISTRIA EM QUADRINHOS: PRTICAS DOCENTES
Jane Kelly de Freitas Santos i (UPF)
Joo Ricardo Fagundes dos Santos ii
1 INTRODUO
por meio da linguagem que estabelecemos relaes com o meio em que vivemos, que
nos apropriamos do mundo e nele (inter) agimos. Isso torna a lngua um objeto vivo, com
diversas variaes e situaes de uso que no podem ser consideradas como erro, j que os
falantes se entendem e comunicam.
Por estar em constante movimento, diretamente relacionada com fatores histricos,
socioculturais, econmicos, geogrficos, a lngua manifestada verbalmente com distintas
variaes, que so diferenas de realizaes lingusticas falada por locutores de uma mesma
lngua. Assim, compreende-se que a linguagem padro ou tambm denominada norma culta e
a linguagem popular so variantes de uma mesma lngua, da Lngua Portuguesa, e por isso no
seria correto consider-las em nenhuma de suas variaes, enquanto erro. O que acontece
que em toda lngua do mundo existe um fenmeno chamado variao, isto , nenhuma lngua
falada do mesmo jeito em todos os lugares, assim como nem todas as pessoas falam a prpria
lngua de modo idntico (Bagno, 2002, p. 52).
por isso que em sala de aula, alm de se abordar a norma culta (funo social da
escola), o professor deve desenvolver trabalhos com a lngua em uso, evidenciando diferentes
variantes lingusticas e mostrando que, alm de existirem, essas lnguas diferentes dentro da
mesma lngua portuguesa brasileira, elas so importantes para a formao cultural da sociedade
e da identidade.
Dessa forma, com a inteno de aproximar os estudantes do seu contexto sociocultural,
buscando instigar a reflexo sobre variao lingustica e consecutivamente evitar o preconceito
i Mestre em Educao pela Universidade de Passo Fundo (UPF - Bolsista Taxa CAPES). Licenciada em
Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paran (UNIOESTE Campus Foz do Iguau) Brasil. E-
mail: janekellyfreitas@yahoo.com.br ii Licenciado em Letras, Portugus - Ingls e Respectivas Literaturas, pela Universidade de Passo Fundo (UPF)
Brasil. E-mail: joao.ricardo1995@hotmail.com.
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lingustico, propomos possibilidades de trabalhos que envolvem o gnero histria em
quadrinhos e tirinhas, que alm de ser de interesse e da realidade dos estudantes, rico em
linguagem popular.
As indicaes pedaggicas so tirinhas do Chico Bento e da Turma do Xaxado,
personagens que exemplificam e expressam o uso da linguagem coloquial retratando situaes
tipicamente brasileiras, aproximando os estudantes da realidade popular. Neste sentido, luz
da Sociolingustica abordada por Bagno (2002), busca-se evidenciar possibilidades de
desenvolver estratgias que, alm de trabalhar a norma padro da lngua, mostrem aos alunos a
importncia de conhecer e valorizar as variaes lingusticas, prestigiando os conhecimentos,
culturas e saberes populares dos alunos, que servem de ponto de partida para significaes
posteriores.
2 SOCIOLINGUSTICA E HISTRIAS EM QUADRINHOS: UMA COMBINAO
SIGNIFICATIVA
A realidade sociocultural e a extenso territorial do Brasil fazem com que a Lngua
Portuguesa sofra uma grande variao. J que o falante tem autonomia no seu uso, a lngua em
uso se altera devido a vrios fatores, que vo desde classe social, escolaridade at a formalidade
na situao de fala. Dessa forma, torna-se indispensvel a discusso sobre a variao lingustica
e a possibilidade de fazer com que os estudantes possam refletir sobre essa diversidade de usos.
2.1 Sociolingustica: valorizao da lngua em uso
Assim, h anos os linguistas procuram pesquisar as variaes da lngua, a forma
individual que cada falante se expressa. Essas pesquisas resultaram em uma base terica que
norteia as reflexes deste artigo, denominada sociolingustica. Ramo da Lingustica que estuda
as relaes entre a lngua e a sociedade, a sociolingustica deixa de lado alguns conceitos da
Gramtica Tradicional e visa as vivncias socioculturais do falante. Os autores elencados para
dilogo; Bagno (2002), Faraco (1998), Bortoni-Ricardo (2004), debruam seus estudos na
compreenso dos processos de socializao, cultura e valorizao da lngua materna. Assim, a
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maior preocupao da sociolingustica so as manifestaes de uma lngua, principalmente
falada, levando em conta todas as influncias externas e internas no modo de se comunicar.
A lngua no est desvinculada s mudanas que a sociedade sofre. Muito pelo contrrio,
por no ser um sistema perfeito e finalizado, a lngua muda, renova-se, adapta-se conforme a
evoluo da sociedade. A variedade lingustica o espelho da sociedade e, sendo assim, com
uma sociedade to heterognea, no existe a possibilidade de somente uma forma de falar.
Para Bagno (2002), a Sociolingustica, desde o seu surgimento se mostra preocupada
com as questes educativas. O autor defende que a escola deve valorizar, compreender e aceitar
as variedades lingusticas dos alunos, no taxar como erro expresses que no fazem parte da
norma culta. O autor complementa ainda que o que pode ser considerado enquanto erro, na
verdade so heranas culturais:
O que quero mostrar muito simples: Quero mostrar que muitas coisas que a gente pensa
que est errada, que fala de gente ignorante, na verdade no nada disso. De fato, esses
supostos erros so heranas muito antigas, vestgios de outros tempos, verdadeiros fsforos
lingusticos (BAGNO, 2004, p.79).
Mesmo assim, muitas prticas escolares defendem como certo a norma padro sem levar
em conta o contexto de fala de cada pessoa, sua comunidade, sua rotina, sua forma de falar e
de ser entendido pelos que o rodeiam. Fazendo isso, a escola acaba por valorizar a forma de
falar prestigiada pela gramtica, que deve sim ser estudada, mas no como a nica forma de
comunicao.
Quando a linguagem utilizada pelos alunos no valorizada na escola, o professor acaba
por distanciar o processo de ensino e de aprendizagem do cotidiano dos alunos, da realidade
vivenciada por eles fora da sala de aula, dificultando que as atividades sejam motivadoras e
interessantes.
Um trabalho pedaggico que aborda as tantas variaes existentes no cotidiano dos
alunos, relacionando-as com as normas gramaticais, alm de aproximar os alunos tambm torna
mais significativa a conduo do trabalho com a lngua. Porm, muito se discute sobre essa
forma de conduo, pois ainda se tem a ideia de que trabalhar a variao lingustica em sala de
aula deixar o aluno falar errado. Cabe ressaltar o que diz Marcos Bagno em uma entrevista
revista Carta Capital:
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[...] nenhum linguista srio jamais disse ou escreveu que os estudantes usurios de variedades
lingusticas mais distantes das normas urbanas de prestgio deveriam permanecer ali,
fechados em sua comunidade, em sua cultura e em sua lngua. [...] defender uma coisa no
significa automaticamente combater a outra. Defender o respeito variedade lingustica dos
estudantes no significa que no cabe escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada e
aos discursos que ela aciona. Cabe escola ensinar aos alunos o que eles no sabem! Parece
bvio, mas preciso repetir isso a todo momento. (BAGNO, 2011).
Na escola, o processo pedaggico deve fazer refletir sobre a lngua e suas mais variadas
situaes de uso. Assim, o estudante deve conhecer as diversas variedades lingusticas de seu
meio para poder adequar e escolher qual se enquadra em cada situao. Os professores iro sim
ensinar a norma padro, para ser utilizada em situaes formais que a exigem, mas tambm
abriro espao para o uso de outras formas de se comunicar. A viso que deve ser evitada
(...) a ideologia da necessidade de dar ao aluno aquilo que ele no tem, ou seja, uma
lngua (BAGNO, 2004, p.62), pois ele tem sua bagagem quando chega escola, que faz parte
de sua identidade e cultura. Esse conhecimento prvio deve ser valorizado, sua variedade
lingustica, por mais distante da linguagem padro ela seja. Essa valorizao vai alm da lngua,
um reconhecimento do prprio estudante, como um indivduo inteligente e capaz de se
comunicar.
Tanto na escola quanto na sociedade em geral, ainda presenciamos muitas situaes
onde a variedade padro da norma culta defendida como a forma certa de se falar, e as
demais variaes como a forma errada, desvalorizando os falantes e desmerecendo sua forma
de se expressar e comunicar. Esses casos so nomeados por preconceito lingustico, quando
um indivduo discriminado pelo seu modo de falar. Esses atos vo muito alm de desmerecer
a variedade utilizada, o preconceito lingustico atinge diretamente o falante, como lembra
Scherre (2005, p. 42) com frequncia, banem-se da escola no as formas lingusticas
consideradas indesejveis, mas, sim, as pessoas que as produzem. Isso se d pelo fato da lngua
ser parte fundamental da identidade de cada indivduo, tanto individual quanto social.
Portanto, o preconceito lingustico na verdade o preconceito social que divide as
pessoas que falam certo daquelas que falam errado, j que, normalmente, aqueles que usam
as variantes da lngua popular so considerados inferiores em relaes econmicas e sociais
comparados com os que usam o portugus padro.
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Contudo, engana-se quem acha que o domnio desse portugus padro, baseado
somente na norma culta, ser uma algo milagroso que vai mudar a realidade do indivduo. Cada
pessoa tem suas razes na fala e o reconhecimento delas que tornar o falante mais confiante
e reflexivo em relao lngua. Assim, compreendemos que o professor deve demonstrar as
diversas variantes, a de prestgio (norma padro) e tambm levar os estudantes a reconhecerem
as demais variaes, regionais, populares, respeitando-as e valorizando-as. Por meio de
situaes onde os estudantes interajam e investiguem as variedades lingusticas, refletindo
assim sobre a lngua e podendo chegar ao entendimento do que adequado ou no, sem
menosprezar nenhuma variedade. Marcos Bagno lembra que o espao de sala de aula [...] se
transforme num laboratrio vivo de pesquisa do idioma em sua multiplicidade de formas e usos
(BAGNO, 2002, p. 134).
Lembramos tambm que um dos objetivos de atividades com variedades lingusticas
orientar o uso da lngua de acordo com o contexto, levando os estudantes a pensarem sobre
como usam a lngua em diferentes situaes. Essa reflexo sobre a lngua muito significativa,
pois faz com que a pessoa reflita sobre seu uso da lngua e tambm sobre o uso das outras
pessoas, evitando assim que os prprios estudantes pratiquem o preconceito lingustico.
Nesse sentido, para abrir espao ao trabalho com variaes lingusticas, fazem-se
necessrios textos que alm de terem a ocorrncia de diferentes variantes, tambm produzam
discusses interessantes e significativas. Um gnero que cumpre estes critrios so as Histrias
em Quadrinhos e Tirinhas pois retratam cenas urbanas, rurais, escritas, orais, formais ou
informais, e engrandecem ainda mais o trabalho com textos autnticos em sala de aula.
2.2 Histrias em quadrinhos: linguagem popular evidenciando diferentes culturas
Desde a pr-histria, o homem conta suas experincias por meio de figuras, desenhos,
sequncias de imagens. Com o passar do tempo, a maneira de se contar e explicar a realidade
foi mudando e aos poucos foi ficando mais organizada. Os desenhos foram sendo divididos em
cenas, em quadros, comeou a ganhar explicaes mais detalhadas, falas dos personagens,
legendas, at termos contato com as Histrias em Quadrinhos (HQs) que conhecemos hoje.
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Comeando como forma de humor, com histrias leves e engraadas, as HQs
mostravam uma sequncia linear breve e simples, que ganhou o gosto do pblico infantil. Com
a juno de texto e imagem, uma compreenso mais rpida e com um visual atrativo, as HQs
foram evoluindo e ganhando a credibilidade de jovens e adultos. Como ressalta o estudioso da
rea, Lovetro:
O Brasil desenvolveu seu mercado de quadrinhos mais voltado ao pblico infanto-juvenil.
Histrias de humor e de super-heris dominaram as bancas at pouco tempo. O
desenvolvimento de um mercado de publicaes adultas, com textos mais densos e de valor
plstico em nvel de outras artes como a pintura, deu-se h pouco mais de uma dcada
(LOVETRO, 1995, p. 96).
Antes vistos como leitura para passar o tempo, hoje as tirinhas e histrias em quadrinhos
so de grande valia em sala de aula para se trabalhar com texto, compreenso e at mesmo uso
da lngua. E ainda, para muitos estudantes, as HQs so o primeiro contato com o universo da
leitura, como ressalta a estudiosa Valria Aparecida Bari (apud JUNIOR, 2008).
Na verdade, os quadrinhos se tornaram quase sempre o primeiro contato de vrias geraes
de crianas com o aprendizado da leitura e da escrita e de entretenimento, alm de um objeto
de grande valor afetivo, sempre ligado infncia.(...) A Leitura de histrias em quadrinhos
forma leitores que gostam de todo tipo de leitura, com a vantagem de criar tambm a cultura
de leitura infantil e comunidades leitoras de grande abrangncia.
Alm de aparecer em provas, concurso e livros didticos, esse gnero est cada vez mais
presente no cotidiano escolar e j mostra seu grande valor discursivo. Primeiramente, por
chamar a ateno e ser uma leitura rpida e acessvel. Depois, por mostrar realmente um bom
uso da lngua, onde podem ser abordados diferentes assuntos, relao entre texto verbal e visual,
crticas sociais, e at mesmo variao lingustica.
Por esses motivos, escolhemos como gnero norteador do nosso trabalho as Histrias
em Quadrinhos e Tirinhas de duas colees especficas, a Turma do Chico Bento e a Turma do
Xaxado, pois so textos que alm de conterem traos culturais interessantes de serem
trabalhados, tambm mostram as variedades lingusticas sendo evidenciadas e significativas no
sentido geral do texto.
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2.2.1 Mediaes a partir das tirinhas da Turma do Chico Bento
Ao propor que as tirinhas e histrias em quadrinhos do personagem Chico Bento sejam
trabalhadas em sala de aula, destacamos a importncia de valorizar a linguagem popular
enfatizada de maneira clara e evidente nos textos de Maurcio de Sousa, criador do personagem
que compe a Turma da Mnica, clssico das Histrias em Quadrinhos desde o incio dos anos
60. Chico Bento fruto das observaes de Maurcio em relao ao homem do campo. O
personagem simples, simptico, puro, representa o caipira, o homem que anda de p no cho,
usa chapu de palha, caracterstico de pessoas que moram no interior. O cotidiano de Chico
Bento retratado demonstrando suas atividades dirias: pescar, brincar com seus amigos, ir a
escola, dormir em rede.
O personagem, juntamente com Rosinha, Z Lel, Hiro, Z da Roa, Professora Dona
Marocas, Padre Lino, formam a Turma da Roa, onde a realidade econmica, sociocultural e
geogrfica do homem do campo retratada.
O aspecto fundamental de anlise neste artigo diz respeito linguagem utilizada por
Chico Bento e a Turma da Roa - linguagem coloquial - onde possvel reconhecer variaes
da lngua em uso, situaes informais do uso da lngua. Nas histrias desse personagem,
notamos expresses tpicas do caipira do interior. A forma de falar de Chico causou polmica
por no privilegiar a norma culta do portugus. As crticas eram que essa forma de se expressar
ensinava as crianas a falarem errado, exemplo ntido de preconceito lingustico. Porm,
podemos perceber que a linguagem utilizada por Chico Bento est muito bem adequada ao
contexto de suas histrias. Ele um menino do campo, que carrega enxadas, vara de pesca,
anda descalo e conversa com pessoas que tm a mesma linguagem que ele. Chico Bento se
comunica, isso que importante salientar em sala de aula.
Observaremos a seguir duas tirinhas que podem auxiliar no trabalho com variao em
sala de aula. Nelas, a linguagem coloquial de Chico Bento retratada e as atividades pensadas
devem ir alm da compreenso dos elementos verbais e no-verbais. vejamos uma delas:
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FIGURA 1
No primeiro quadrinho Chico Bento oferece a Z Lel um copo de leite, a frase do balo
- toma um leite, Z Lel? - construda gramaticalmente com a presena do vocativo, termo
que invoca o receptor da mensagem, no segundo quadrinho Z Lel rasga as mangas de sua
blusa e indagado por Chico Bento: pru que oc t rasgando a manga da camisa? Destacando
a maneira como Chico se comunica com os que esto sua volta, a linguagem prpria e
caracterstica do interior. No terceiro quadrinho, Z Lel explica o motivo de rasgar suas
mangas: Dizem qui tom manga com leite faz mar! Existe, no contexto da tirinha a presena de
aspectos relativos ao senso comum, conhecimento emprico em relao ao fato de manga com
leite fazer mal.
Alm do trabalho de compreenso do texto, que envolve a polissemia da palavra
manga, devemos aqui ressaltar que tanto Chico quanto Z utilizam a variedade lingustica
popular e mesmo assim se entendem, se comunicam. A linguagem que eles utilizam tambm
est adequada ao contexto visual da tirinha, uma casa simples, com objetos simples, roupas sem
luxo, personagens de ps descalo. Ainda, percebemos o uso de mitos populares, tradio
tpica das reas rurais, que contribuem para a construo da situao de comunicao entre os
locutores. Dessa forma, usar uma variante lingustica com caractersticas rurais na fala dos
personagens o mais adequado, pois assim a linguagem confirma o contexto construdo pelos
elementos visuais.
Trabalhar estas tirinhas em sala de aula permite dialogar com os alunos sobre as
situaes de uso da lngua, sobre as variedades e formas de comunicao adequadas a cada
situao comunicativa. Vejamos mais uma tirinha que levanta essa discusso:
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FIGURA 2
Nesse texto, temos a fala da me de Chico, que pergunta: Cum qui ? Hoje oc s que
salada pro armoo? O que aconteceu cos ovo?. Como parte da interpretao, precisamos levar
em conta os elementos no verbais que deixam implcito que Chico no conseguiu colher os
ovos, por isso pediu salada para o almoo. Agora, na discusso sobre sociolingustica, devemos
levar em conta a cena: Chico est em casa, conversando com sua me, em uma situao bem
informal. Ela utiliza vrias palavras aglutinadas, como Cum e cos, e ainda no concorda
o plural em cos ovo. Essas caractersticas so claramente da variedade rural, o que condiz
com a cena, onde a me de Chico cozinha em um fogo a lenha, em uma casa com galinheiro,
entre outros elementos. Mais uma vez, percebemos que a linguagem est adequada e que est
contextualizada com realidade dos personagens.
Sobre esse texto, ainda cabe a discusso da valorizao da linguagem aprendida com a
famlia. Em muitos casos, os pais dos alunos no tiveram a oportunidade de estudar e acabam
conhecendo e usando somente a variedade aprendida em casa. Trabalhar a variao em sala de
aula mostra para essas crianas que seus pais no esto errados por falarem diferente da norma
padro, eles somente tem uma maneira diferente de se comunicar. Isso auxiliar com que o
aluno no pratique preconceito lingustico com sua prpria famlia.
Ainda sobre os textos do Chico Bento, uma discusso importante a ser levantada em
sala de aula o grande preconceito que ainda se tem com o dialeto chamado caipira. Na
maioria das vezes, essa variedade vis
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