View
217
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Graduada em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. Aluna especial do programa de Mestrado em História – UFGD. Docente do Colégio Innovare. E-mail: fatimaassisnascimento@gmail.com. ** Graduada em Turismo pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS. Aluna especial do programa de
Mestrado em História - UFGD. E-mail: jessika.tur@gmail.com.
A PARTICIPAÇÃO DA INGLATERRA E DAS MULHERES NA GUERRA DO
PARAGUAI
APARECIDA DE FÁTIMA ASSIS DO NASCIMENTO*
JESSIKA BORGES DE SOUZA**
1. INTRODUÇÃO
Tradicionalmente a Guerra do Paraguai é retratada nos livros didáticos com dois eixos
principais: causas e batalhas. Estas motivações se transformaram em mitos como e o caso do da
participação inglesa na guerra por conta do medo frente ao desenvolvimento industrial paraguaio. Para
Bethell, citando o historiador nicaragüense Fornos Peñalba (1979)em sua tese de doutorado, “a Grã-
Bretanha era o ‘quarto aliado indispensável’, de certa forma "o mais implacável de todos os inimigos
do século XIX do Paraguai independente”. (BETHELL,1995).
E incrível imaginar a economia do Paraguai afrontando a Inglaterra se partirmos como
comparação a economia Paraguai hoje. Claro, ao fazer isso devemos situar as circunstâncias
contextos histórico e seus meandros. A partir desta situação, surge uma pergunta: O Paraguai
tinha realmente condições econômicas para enfrentar a Inglaterra?
As "maquinações imperialistas da Inglaterra", concluiu Fornos Peñalba, em muito
contribuíram para "eliminar uma das nações mais promissoras e progressistas da América
Latina no século XIX". (BETHELL 1995).
A primeira corrente denominada de “Tradicional”, considera que os fatores que
promoveram a guerra se encontram em uma visão positivista, nacionalista no qual Solano
Lopez é o único culpado pela guerra. Já a segunda corrente conhecida como “Revisionista”
aponta os interesses ingleses na Bacia Platina como causa maior para o estopim da guerra. Por
última temos a corrente “Recente”, que atribui, como marco inicial da guerra os interesses dos
jovens países platinos em garantir sua independência também garantir a continuidade (aberta
antes mesmo da guerra) da navegação do Rio da Prata.
A Historiografia mais recente sobre a Guerra do Paraguai, esta trazendo a tona a a
presença feminina durante a guerra, descontruindo a percepção que os participantes
envolvidos na guerra fosse somente homens. Nada sobre como as mulheres foi registrado de
forma oficial.
2
Em que ambiente elas viveram? Que tipo de estratégias usou para sobreviver ao caos
da guerra e pós-guerra? Uma pergunta e obvia neste momento: Como se relata o estudo dessas
mulheres?
Elas não aparecem nos espaços públicos já que a historiografia tradicional não valoriza
os ambientes ocupados pelas mulheres, tamanha era e ainda é a exclusão feminina na história.
2. DESENVOLVIMENTO
Quando o assunto é a Grande Guerra do Paraguai, os motivos que a provocaram
perpassa por três correntes historiográficas. A corrente que atribui a participação britânica
com o real motivo para a eclosão da guerra, já perdeu terreno para a corrente a mais recente
que aponta os interesses das jovens nações na constituição do seu pais. Segundo Doratioto
(2002), a “guerra foi um desdobramento da política exterior das jovens nações sul-
americanas”. (DORATIOTO, 2002)
No entanto, por muito tempo acreditou-se que a expansão econômica paraguaia
prejudicaria os interesses ingleses na região, haveria ainda, a ameaça de que o Paraguai
eventualmente se transformasse em exportador de manufaturados ou que seu modelo de
desenvolvimento autônomo e independente pudesse servir de exemplo para outros países da
região.
Dentro da historiografia brasileira (cf. SQUINELO, 2002), a partir da década de
1970, difundiu-se o paradigma de que a Guerra do Paraguai foi resultado de uma
política imperialista, que teria na Inglaterra sua principal interface. Desse modo, o
interesse inglês seria o de aniquilar o modelo potencialmente industrializante e
independente do Paraguai comandado pela família Lopez, já que este poderia servir
de (mau) exemplo para os demais países da região. Esta vertente, que se consolidou
através das publicações de autores como Leon Pomer e José Chiavenato, colocou o
trono inglês como principal articulador do conflito, transformando Brasil e
Argentina, de certa forma, em coadjuvantes, no papel de seguidores das ordens do
império inglês.(CREMONESE-ADAMO, 2002, p.19).
Assim, partir da década 70, os professores de história passaram a adotar como verdade
inquestionável o livro Genocídio Americano, a Guerra do Paraguai, de Júlio José
Chiavenatto. Nele consta que o imperialismo inglês manipulou o Brasil, a Argentina e o
Uruguai, integrantes da Tríplice Aliança contra o ditador paraguaio Francisco Solano Lopez.
Segundo Chiavenatto em entrevista a Folha de S.Paulo em:
3
Folha -- Que era o Paraguai? Era um vilão?
Chiavenatto -Era praticamente o único Estado livre da influência inglesa no Cone
Sul. O Brasil, a Argentina muito mais, não tomavam nenhuma medida importante
sem a anuência da Inglaterra. Não poderiam ter ido à guerra se a Inglaterra não
tivesse feito os espetaculares empréstimos que a financiaram. O Paraguai era livre
desse esquema. Por ser um país "insular", não era tão fácil, inclusive
geograficamente, interferir no Paraguai quanto no Brasil. Em determinado momento,
o Paraguai criou um desequilíbrio de poder que, com outras razões --o Paraguai
também não é inocente-- gerou a guerra. (FOLHA DE S.PAULO, 2007).
Partindo desta indicativa de que a Inglaterra teria razões para promover a guerra, dois
historiadores paraguaios indicam a pouca expressividade dos ingleses como centro radiador
do conflito. A falta de fontes que comprovem a participação inglesa acaba por derrubar por
terra esta explicação da década de 60 sobre os motivos do conflito.
A opinião pessoal dos agentes britânicos que tiveram que negociar com o Paraguai
foi principalmente desfavorável, tanto sobre a natureza do regime político do país,
bem como o potencial comercial. Isso não impediu que os seguia instruções mais ou
menos consistente emitidos a partir de Londres a respeito da política para o
Paraguai, que consiste essencialmente evitar que o país utiliza-se Grã-Bretanha em
conflitos com os países visinhos. (HERKEN KRAUER;GIMENEZ DE HERKEN,
1983).
Dentro deste quadro, a Inglaterra não tinha o que temer. Suas relações com o Paraguai
sempre aconteceram dentro de formalidades diplomáticas voltadas para um comercio de
matérias primas como ocorria com os outros países da América Latina
Uma das intervenções mais importantes tomadas pelo governo britânico no
desenvolvimento da Guerra do Paraguai foi a publicação do texto do Tratado
Secreto da Tríplice Aliança, que teve lugar com a apresentação de documentos
oficiais do Ministério das Relações Exteriores do Parlamento britânico, em
1866. Esta decisão cria uma série de protestos por parte dos aliados e, acima de tudo,
em certa medida, marcar o tombamento da opinião pública européia e norte-
americanos em favor da causa de Paraguai. (HERKEN KRAUE;GIMENEZ DE
HERKEN, 1983).
A Inglaterra fora durante o século XIX o maior império do mundo o que implica
afirmar que essa condição fazia dos ingleses grandes parceiros da América Latina. Os países
latinos giravam na orbita britânica como fornecedores de matérias-primas e como países que
tinham débitos. Assim, a Inglaterra não mostrava interesse em produzir a guerra.
Não teria como o Paraguai se tornar uma potencia que viesse a ameaçar a Inglaterra.
O Paraguai estava iniciando seu processo industrial. Este contava com apenas uma20 km de
rede ferrovia, e algumas indústrias como casas de fundição como canhão e espada.
4
[...] Ferrovias e pequenas indústrias foram criadas com a contratação de
especialistas estrangeiros e a educação continuou a ser estimulada pelo
governo. “Tudo o que o Paraguai consome, ele mesmo produz”. Porém essa
autonomia é precária, apesar do desenvolvimento interno do país, a pobreza
ainda é muito grande (menor do que no período colonial). (AMIGOS DA
HISTÓRIA, 2013).
Não se pode, negar que o Paraguai dava seus primeiros passos para iniciar seu
processo de industrialização, porém, este processo não representou uma seria ameaça aos
interesses ingleses na Bacia Platina.
Na década de 60 surge a idéia que a Inglaterra é responsável pelo conflito no contexto
da Guerra Fria onde intelectuais latinos tentam ligar o imperialismo americano sobre os países
latinos fazendo paralelos com o imperialismo britânico no século XIX. Para o historiador
Menezes, “ao pesquisar a documentação diplomática britânica, não encontrou comprovação
para o envolvimento da Inglaterra como promovedora da guerra”. (MENEZES, 1998).
Confirmar que a guerra do Paraguai foi motivada pelos interesses do capitalismo
inglês em destruir o desenvolvimento paraguaio, que ameaçava os projetos britânicos na bacia
do Prata, hoje é errado.Na verdade o conflito deveu-se, basicamente, a disputas por
hegemonias geopolítica e controle das rotas de navegação na bacia do Prata.
No tocante a participação das mulheres na Guerra do Paraguai, acredito ser necessário
ter em mente que exclusão feminina na História, acontece por comportamentos de dominação
masculina. Simbolismos e representações em torno da condição histórica da mulher são
menosprezados nos meios didáticos como forma de perpetuar a exclusão feminina. Pouco se
trabalha a presença feminina nos fatos históricos, dando a impressão que as mulheres nunca
existiram. Essa negação histórica tradicional imposta às mulheres nos espaços públicos levou,
sumariamente, a marginalização social, sem direito de serem vistas como sujeito (as) histórico
(as).
Os estudos de genero são recentes dentro da pespectiva historiografica. A “Nova
História” favorece o estudo de grupos sociais excluidos. A grande problemática para quem
se envolve no estudo sobre mul heres são as fontes. Onde elas estão? Como acha-las? A
invisibilidade feminina na História Tradicional projetou novas abordagens de investigação
histórica.
5
No livro da Scott (1989, p. 28-29), ela também faz esse questionamento. “Porque e
desde quando as mulheres são invisiveis como sujeitos históricos, quando sabemos que elas
participaram dos grandes e pequenos eventos da história humana?”.
Uma pergunta e obvia neste momento: Como se relata o estudo das mulheres? Elas
não aparecem nos espaços públicos já que a historiografia tradicional não sabia achar os
ambientes ocupados pelas mulheres, tamanha era e ainda é a exclusão feminina na história.
Elas estão na “escuridão da História”.
Conforme a fala de Tedeschi,
O nascimento de novas abordagens e perspectivas na história com a fundação dos
Annales, em 1929, traz consigo uma nova agenda que conquistará um espaço
fundamental para a emergência da história das mulheres: a critica as narrativas
históricas tradicionais, da história factual particularmente política ou econômica, a
procura de colaboração com outras ciências, a substituição da história simplesmente
narrada, pela história- reflexiva problema.”(TEDESCHI 2012, p. 10).
No século XX, grandes mudanças sociais ocorridas nos anos 60 e 70, possibilitou
mudanças na historiografia com relação as mulheres, surgindo várias correntes para tentar se
explicar as causas da opressão feminina.
Para Guardia,
Este período inicial los estúdios centraron sua tencion em los origenes y causas de la
opression feminina y la respuesta de las mujeres. (...) A década de 80 marcou a luta
das mulheres contra a opressão, liderada por várias tendências feministas que vão do
político, defendida por Ellen DuBois¸ a uma releitura histórica cultural e da
consciência apoiado por Carol Smith Rosemberg, ou em relações igualitárias dentro
da história da mulher sustentada por Michelle Pierrot e ArlleteFargue. (GUARDIA,
2005, p. 16-18).
A nova Historiografia tem como ponto de partida que a construção social e histórica,
elas estão intrinsecamente ligadas às relações sociais e os significados de poder e aos
discursos de linguagens. O estudo do passado da historia feminina deve romper com
paradigmas tradicionais, romper com culturas e comportamentos abarcando as leis, o ensino,
o trabalho para que possamos realmente ver as resistências, lutas, consentimentos, poder,
exclusão na sua realidade histórica. O que temos em mente é que as poucas e ate inexistência
rede de informações força os pesquisadores da Nova História a valorizar fontes tidas como
menores.
Estudar o papel das mulheres deve-se partir do principio em forma de questionamento
e não tão somente de forma narrativa e continua de permanências e reforço da desigualdade
6
entre os sexos. O historiador deve levar em conta estas relações entre os sexos na constituição
social. É necessário entender os meios que causam as diferenças entre os sexos.
Para isso, Guardia (2005, p. 20) In.Villamil apud Guardia, 1992, p. 40) diz:
Plantear el estúdio de las relaciones entre os sexos como aspecto central, permitirá
reconstruir processos políticos, sociales y relaciones de poder, em el entendido que
lo privado no está em contraposicionconlo público y lo politico, sino vinculando
estas esferas como una totalidad. (apud GUARDIA, 2005 p. 20).
A relação de gênero formada por homens e mulheres é norteada pelas diferenças
biológicas, geralmente transformadas em desigualdades que tornam o ser mulher vulnerável à
exclusão histórica. Quando se trabalha com livros didáticos, temos noção de como o discurso
androcêntrico é o grande agitador da exclusão feminina. Ao analisarmos a Guerra do Paraguai
nos livros didáticos, nada ou pouco mencionam a presença das mulheres na guerra. Para
Dourado,
Ao estudar a condição feminina no passado e, em particular, a mulher na Guerra do
Paraguai, essa questão aparece como um desafio, ou mesmo um desejo de recuperar
a mulher na sua identidade social e de mostrar a sua presença nos campos de
batalha. Mesmo que não fizesse parte do processo de tomada de decisão, ela tinha
um papel relevante nos bastidores, pois o fato de não participar da história política e
administrativa não diminuiu a importância do papel que desempenhou.
(DOURADO, 2010).
Falar sobre mulheres para muitos ainda parece algo novo. Pouco se lê sobre elas nos
livros didáticos de História, principalmente em conflitos. Na Guerra do Paraguai, as mulheres
quando representadas, foram a partir do olhar masculino que as colocava em segundo plano,
representadas como frágeis ou como esposas de oficias que se configurava no silencio
feminino. Qual era afinal, o papel que desempenharam na Guerra do Paraguai?
No Brasil, os estudos e pesquisas sobre a participação das mulheres na guerra segundo
Colling,
A participação feminina na guerra é mais estudada no Paraguai que no Brasil.
Existem dezenas de livros sobre a principal personagem da guerra, somente igualada
à Solano Lopes em importância – sua companheira Elisa Alicia Linch, a irlandesa,
tida como francesa. Madame Lynch, mulher e mãe de 5 filhos de Solano Lopes, que
sonhava em ser a Imperatriz do Prata. (COLLING, 2014).
Muito recentemente, a figura de Madame Linch foi resgatado do limbo histórico.
Exilada, esquecida pela História Tradicional hoje, ela é terma de pesquisa. Conforme Dourado
(2005, p.41):
7
Elisa Alicia Lynch, chamada simplesmente La Madama, pelos paraguaios da época,
ao contrário de La Señora, a esposa do presidente Carlos Antonio López e mãe de
Solano Lopes, foi a mulher mais famosa da história Paraguai e até hoje,
historiadores e novelistas do mundo inteiro procuram avalia-la, escrevendo sobre
ela, constantemente, em topo tipo de literatura.Sem dúvida, qualquer que seja o
julgamento dos estudiosos interessados em sua vida, seu caráter e sua atuação, não
se pode negar sua influência na história tanto social como política do Paraguai.
(DOURADO, P. 41).
E as outras mulheres de classes menos abastadas que conviveram durante a guerra, e
as que sobreviveram à guerra? O que falar então de Ana Néri, a heroína brasileira que prestou
serviços voluntários nos hospitais militares de Assunção, Corrientes e Humaitá, durante a
Guerra do Paraguai. Outras tantas mulheres seguiam o exército espontaneamente, seguindo
filhos ou maridos,exercendo varias atividades
Tanto as tropas paraguaias como as brasileiras eram acompanhadas por um
verdadeiro exército de mulheres. Esposas, prostitutas, companheiras, mães, que se
alimentavam das sobras de seus companheiros, cozinhavam, lavavam, cuidavam dos
feridos, abrigavam-se em barracas, distribuíam solidariedade humana, sendo por
vezes até maltratadas pelos maridos. Combatiam e morriam esquecidas. As
vivandeiras e andarilhas seguiam a tropa, vendendo víveres e bebidas. (PASCAL,
2006).
Com relação a Mato Grosso,em dezembro de 1864, o Paraguai invade a região. O líder
paraguaio aproveitou-se da fraca defesa brasileira da província para invadi-la e conquistá-la.
Fez isso sem grandes dificuldades e, após esta batalha, e deu continuidade à expansão do
Paraguai através de territórios disputados por Brasil e Argentina até atingir seu próximo
objetivo: Rio Grande do Sul.
No que tange a população feminina em termos de registros históricos no quadro maior
da guerra, neste episodio observa-se a forma que a mulher é registrada, como sexo frágil,
vitimada, desamparada frente a violência do combate.
A entrada do exército paraguaio em Mato Grosso desencadeou luta apenas em
Coimbra e em Dourados. Exceto em Corumbá, onde a população não teve barcos
para escapar, por todo o território invadido os povoadores brasileiros fugiram. A
fuga foi possível devido à própria escassez da população e ainda mais dramática era
a situação das mulheres, quando sob a dominação dos opositores. Além de sofrerem
violência sexual, havia possibilidade de degola. Tinham ainda que plantar, lavar,
cozinhar e transportar mercadorias para a tropa paraguaia. (DORATIOTO, 2002).
As dificuldades encontradas em se encontrar material sobre a história das mulheres
nos remetem a analisar campos ate então menosprezados pela História do herói, do macho que
8
reforçam a fala androcêntrica. Ambientes como, o domestico, o privado, o cotidiano, espaços
familiares, o casamento, os filhos foram e ainda permanecem como redutos que ao mesmo
tempo revelam-se de confinamento, mas, de resistência feminina.
Nesse sentido, os principais relatos sobre a presença feminina na guerra são obtidos
por meio de literatura e de relatos de viajantes como afirma Maria Aparecida Macedo Pascal,
Aa literatura destacou a presença das mulheres no conflito. Em “Escenas de la
Guerra Del Paraguay y los Caminhos de laMuerte” de Manuel Galvez, romance
histórico que se passa no plano argentino e paraguaio, o autor comentou o hábito dos
brasilieiros de levarem suas mulheres e companheiras para a guerra, dizendo que
argentinos e uruguaios riam-se de seus aliados que se entorpeciam com seu exército
feminino e uma multidão de carretas para transportá-lo. Porém reconhecia que os
brasileiros tinham quem os cuidassem na enfermidade e compartilhasse com eles as
dificuldades atrozes da marcha. (PASCAL, 2006).
No Brasil, Machado de Assis, escreveu sobre o papel da mulher na guerra no sentido
submisso da condição feminina. Como espartanas as mulheres brasileiras entregavam seus
filhos a guerra como parte de uma construção e fortalecimento da identidade nacional daquele
período. Publicado no ano de 1878, “Dona Valéria, mãe de Jorge, que é apaixonado por
Estela. Contrária ao romance entre os dois manda o filho para a Guerra do Paraguai para
acabar com o relacionamento...” (ARAÚJO, 1997 aput ASSIS, 1878).
Na imprensa paraguaia durante o conflito as mulheres eram valorizadas denotando um
caráter nacionalista e patriótica por parte de toda população do país ajudou a construir a ideia
de que os paraguaios estavam engajados no conflito. As mulheres de modo especial tendiam
sobre os mesmos atos heróicos e de bravura como forma de assustar os inimigos. Seja fazendo
doações de jóias ou participando ativamente dos regimentos militares, é fato a participação
feminina na guerra. No entanto, quando o conflito acaba a condição feminina no Paraguai e as
lutas por igualdade se restringem somente ao campo das ideias, para Ortolan,
Enquanto no período do desenrolar da Guerra do Paraguai, as capacidades das
mulheres receberam destaque na imprensa, com o intuito de motivá-las a colaborar
com o Estado; no período do pós-guerra, as campanhas que defendiam a
participação política, a libertação da mulher de sua prisão doméstica e a garantia de
acesso a melhores níveis de educação para as mulheres, visando sua lenta e gradual
emancipação, ficariam restritas aos discursos. (ORTOLAN, 2007).
Com o final do conflito e a derrota do Paraguai, as mulheres sucumbiram a uma das
mais antigas formas de tortura, humilhação, sujeição que pode existir. Não falo somente deste
9
conflito claro, mas a questão em si perpassa pelo domínio do corpo, controle físico das
representações de poder do patriarcalismo.
Com o fim da guerra, as exultantes notícias dos jornais não fariam efeito em favor
das mulheres. Quase todas as que caíram nas mãos de brasileiros foram violentadas.
Muitas foram presas fáceis para os 30 mil soldados que tomaram a capital do
Paraguai. Os soldados brasileiros celebraram a queda de Assunção violando as
mulheres, saqueando casas e edifícios públicos. “A soldadesca desenfreada abriu as
válvulas a sua feroz lascívia e essas infelizes que haviam visto morrer seus maridos,
filhos e noivos sofreram os ultrajes da luxúria na noite mais negra de sua vida”,
afirmou na época o general Garmendia, do Paraguai. (ORTOLAN, 2004).
A grande questão na narrativa histórica tradicional é o pouco espaço legado às
mulheres, privilegiando somente política e a economia (não que acredito que estas narrativas
não sejam importantes, são também), onde elas pouco apareciam e continuam aparecendo
minoritariamente. O historiador deve se emaranhar em novas fontes e tem novos olhares sobre
sua pesquisa. Segundo Dourado,
Às mulheres restam as entrelinhas, um espaço casual nas narrativas das grandes
batalhas. Mas nem tudo se perdeu. Por meio da análise de relatórios de refugiados e
de documentos oficiais, ordens do dia, cartas, memórias, reminiscências e diários
(inclusive em língua francesa, inglesa e espanhola), é possível conhecer, por
exemplo, as dificuldades vividas pelas brasileiras que foram aprisionadas pelo
inimigo na região fronteiriça do Mato Grosso. (DOURADO, 2014).
Emaranhar-se no estudo das Mulheres sugere um caminho tortuoso, árduo nos quais
pesquisadores irão se deparar com relatos, circunstâncias, que fizeram ou ainda faz parte do
seu cotidiano. Enxergar estas correlações culturais irá ser mais uma fonte de pesquisa sobre as
mulheres e sua exclusão. As mulheres nunca foram mudas, elas nunca foram ouvidas. Elas
estão presentes em todos os momentos, situações e ações humanas.
3. CONCLUSÃO
A guerra do Paraguai ocorrida no Segundo Reinado possui diferentes correntes
historiográficas que ao longo do tempo vem explicando as razões do conflito. Alguns
especialistas afirmam que o conflito era parte da política expansionista de Solano López. Há o
consenso na Historiografia Tradicional que o único culpado da guerra fora Solano López, que
levou o Paraguai a ruína econômica.
10
Nos anos 1960, uma corrente historiográfica, apresentou a versão de que o conflito
bélico teria sido motivado pelos interesses da Inglaterra que buscava a qualquer custo impedir
o crescimento da economia paraguaia. Nesta corrente, os países da Tríplice Aliança não
passaram de meras marionetes nas mãos dos britânicos. O que percebi nas pesquisas é que, a
teoria que aponta ser a Inglaterra culpada pelo conflito não procede em função das fontes que
assinalam que os ingleses não teriam nada a ganhar com o conflito já que a América Platina
era um grande parceiro comercial incluindo desta maneira o Paraguai.
As causas do conflito não foram em razão de influência externa ou por uma pura e
simples ambição de um único homem. Mas sim, uma série de fatores que envolveram os
países participantes no sentido de garantir suas independências e de concretizar a formação
dos Estados nacionais na região.
O intuito neste artigo é dar inicio aos estudos teóricos sobre as mulheres na Guerra do
Paraguai. Procurar fontes bibliográficas sobre o tema para construir uma analise das
representações construídas sobre as mulheres paraguaias no conflito.
Em especial sobre as mulheres na guerra as fontes que pretendo utilizar se baseiam na
Literatura, trabalhos acadêmicos recentes, relatos de oficiais, pesquisas em museus. Este
projeto tem com principal objetivo encontrar a presença de mulheres paraguaias no conflito
para colocar em voga sua existência na História deste grande episodio da América do Sul. As
informações sobre o conflito que narram a presença das mulheres paraguaias.
Como exemplo, temos Antônia Alves Feitosa no Brasil, que no Piauí conseguiu ser
incluída no Exército Nacional como segundo sargento para ir para o campo de batalha na
Guerra do Paraguai ou, Ana Justina Ferreira Neri que serviu, o Exercito brasileiro como
voluntária na Guerra do Paraguai como auxiliar do corpo de saúde do Exército brasileiro. Da
resistência liderada por Ludovina Alves Portocarrero, em Forte Coimbra no momento do
ataque paraguaio. Figura presente nos acampamentos seguindo seu marido Solano Madame
Elisa Lynch.
BIBLIOGRAFIA
11
AMIGOS DA HISTÓRIA. Disponível em:
http://amigodahistoria.blogspot.com.br/2013/11/aguerra-do-paraguai-breve-historico-e.html.
Acessado em 02 de maio de 2016.
ARAÚJO, Felipe. Info Escola aput ASSIS, Machado. 1878. Iaiá Garcia. São Paulo: Globo, 1997.
Disponível em: http://www.infoescola.com/livros/iaia-garcia/. Acessado em: 15/10/2016.
BETHELL, Leslie. Cronologia da Guerra. In: MARQUES, Maria Eduarda Castro Magalhães.
(Org.). A Guerra do Paraguai: 130 anos depois. Rio de Janeiro, Relume-Dumará, 1995.
COLLING, A. M.; José Carlos da Silva Cardozo; Jonathan Fachini da Silva; Denize
Teresinha Leal Freitas. As chinas gaúchas: a invisibilidade do feminino na Guerra do
Paraguai. In: XII Encontro Estadual de História, 2014, São Leopoldo. História, Verdade e
Ética. São Leopoldo: UNISINOS, 2014.
CREMONESE-ADAMO, Camila. Fronteira, mitos e heróis: a criação e apropriação da figura
do Tenente Antônio João Ribeiro no antigo sul de Mato Grosso. Input:SQUINELO, Ana
Paula. A Guerra do Paraguai, essa desconhecida... Ensino, memória e história de um conflito
secular. Campo Grande: UCDB, 2002. Dourados, MS: UFGD, 2010. 177p.
DORATIOTO, Francisco. Maldita guerra: nova história da Guerra do Paraguai. São Paulo:
Companhia das Letras, 2002, 617 p. ISBN: 85-359-0224-4.
DOURADO, M. T. G. Mulheres comuns, senhoras respeitáveis: a presença feminina na
Guerra do Paraguai. Campo Grande, MS: Ed. UFMS, 2005. 135 p.
__________________. A história esquecida da Guerra do Paraguai: Fome, doenças e
penalidades. 2010. 221 f. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas, Departamento de História, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
FOLHA DE SÃO PAULO. Disponível em: www1.folha.uol.com.br/.../336867-e-impossivel-
ser-neutro-diz-julio-jose-c... Acessado em 28 de out de 2007.
GUARDIA, Sara Beatriz. (Edición y compilación). Escritura de la historia de lasmujeresen
América Latina. El retorno de lasdiosas.(Compilación y Edición). Coedición: CEMHAL,
Universidad de San Martín de Porres, Universidad Fernando Pessoa (Portugal), Foro de
EstudiosCulturales de Viena (Austria). Lima: Editorial Minerva, 2005.
_________ Escritura de la historia de lasmujeresen América Latina. El retorno de
lasdiosas.(Compilación y Edición). Coedición: CEMHAL, Universidad de San Martín de
Porres, Universidad Fernando Pessoa (Portugal), Foro de EstudiosCulturales de Viena
(Austria). Lima: Editorial Minerva, 2005. In. PERROT, Michelle. Lesfemmes ou lessilences
de l’ Histoire. Paris: Flamarion, 1999.
12
HERKEN KRAUER, Juan Carlos; GIMENEZ DE HERKEN, Maria Isabel. GranBretaña y
laGuerra de la Triple Alianza. Asunción: Arte Nuevo, 1983.
MENEZES, Alfredo da Mota. Guerra do Paraguai: como construímos o conflito. Cuiabá, MT:
Editora da Universidade Federal de Mato Grosso, 1998.
ORTOLAN, Fernando L. As mulheres espartanas da Guerra do Paraguai. Aventuras na
História, Brasil, p. 66 - 66, 16 dez. 2004.
ORTOLAN, Fernando Lóris. Acabou a Guerra...de volta ao lar. Representações das mulheres
na imprensa paraguaia durante e após a Guerra do Paraguai 1864 - 1904. Revista Ágora,
Vitória, n. 5, 2007, p. 1-19
PASCAL, Maria Aparecida Macedo. As mulheres e a Guerra do Paraguai. 2006. Disponível
em: http://www.mackenzie.com.br/fileadmin/Graduacao/EST/Publicacoes_-
_artigos/pascal_11.0.pdf. Acessado em 02 de maio de 2016.
SCOTT, J. W..Gender and the Politics of History. New York: Columbia University Press,
1988. PP. 28-50.
TEDESCHI, LosandroAntonio. As mulheres e a história: uma introdução teórico
metodológica. Dourados, MS: ed. UFGD, 2012.
Recommended