View
522
Download
1
Category
Preview:
DESCRIPTION
Monografia apresentada em Junho de 2011.Orientador: Prof. Me. Marcel Vitor Magalhães e GuerraExaminador: Prof. Me. Gilberto Fachetti SilvestreNota: 10
Citation preview
CENTRO UNIVERSITÁRIO VILA VELHA – UVV
CURSO DE DIREITO
AUGUSTO CESAR MARTINS PEREIRA
A REGULAMENTAÇÃO DA FUNÇÃO DO JUIZ LEIGO NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: UMA ANÁLISE SISTEMÁTICA À LUZ DA LEGISLAÇÃO FEDERAL, DAS EXPERIÊNCIAS ENCONTRADAS NO BRASIL E DA NECESSIDADE DE UMA REGULAMENTAÇÃO GERAL.
VILA VELHA-ES
2011
10
AUGUSTO CESAR MARTINS PEREIRA
A REGULAMENTAÇÃO DA FUNÇÃO DO JUIZ LEIGO NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO: UMA ANÁLISE SISTEMÁTICA À LUZ DA LEGISLAÇÃO
FEDERAL, DAS EXPERIÊNCIAS ENCONTRADAS NO BRASIL E DA
NECESSIDADE DE UMA REGULAMENTAÇÃO GERAL.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito do Centro Universitário
Vila Velha – UVV.
Orientador: Prof. Me. Marcel Vitor de Magalhães e
Guerra.
VILA VELHA-ES
2011
11
AUGUSTO CESAR MARTINS PEREIRA
A REGULAMENTAÇÃO DA FUNÇÃO DO JUIZ LEIGO NO ESTADO DO
ESPÍRITO SANTO: UMA ANÁLISE SISTEMÁTICA À LUZ DA LEGISLAÇÃO
FEDERAL, DAS EXPERIÊNCIAS ENCONTRADAS NO BRASIL E DA
NECESSIDADE DE UMA REGULAMENTAÇÃO GERAL.
Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito do Centro Universitário Vila Velha – UVV,
requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Direito.
Condição de Aprovação do TCC:
____________________
Vila Velha (ES), ____ de ___________________ de 2011.
12
COMISSÃO EXAMINADORA
________________________________________________
Prof. Me. Marcel Vitor de Magalhães e Guerra.
Orientador
Centro Universitário Vila Velha
________________________________________________
Prof. Me. Gilberto Fachetti Silvestre
Examinador
Centro Universitário Vila Ve
13
Ao meu pai: Orlando Fernandes Pereira, verdadeiramente, por ser exemplo vivo de homem de bem, temente à Deus, de honestidade e caráter únicos. Por todo sacrifício para me dar a melhor das heranças: educação. À minha mãe, Maria Tereza Martins Pereira, por todo amor, atenção, tempo e cuidados dispensados desde sempre. Jamais irei esquecer os almoços diários e os pratos feitos por suas mãos. Estes são meus eternos agradecimentos.
14
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos, que de alguma forma, colaboraram na tarefa de realizar este trabalho e a
fazer trilhar mais esta etapa em minha vida.
À Deus, fonte de Luz, Amor e sustentação constante durante o percurso de vida, e força
preeminente na transposição dos obstáculos.
Minha família, pela incondicional dedicação e apoio. Meus pais, exemplos de tudo e proteção.
Aos meus irmãos, que desde o meu nascimento me acolheram com tanto carinho, trocaram
minhas fraldas, me deram comida e dividiram atenção. Minha família, Deus não poderia ter
me dado outra melhor.
De uma maneira muito especial à família Frasson: Valério, Kátia (in memoriam), Dyego e
Ludmila. Que me acolheram em sua amizade e me apoiaram profundamente ao decidir-me
buscar, no Curso de Direito, o meu objetivo.
Aos meus amigos, que, de perto ou de longe, nunca deixaram de me ajudar, e sem os quais
essa realização se tornaria tarefa muito mais árdua.
Aos meus colegas de faculdade que por muitas das vezes foram solícitos a ajudarem. Aos
companheiros do Centro Acadêmico João Baptista Herkenhoff, que mesmo com todas as
dificuldades, fazemos o melhor para o nosso curso por um mesmo ideal.
Aos meus supervisores e colegas de estágio do Escritório Walmir Barroso & Advogados
Associados, do 7o Juizado Especial Cível de Vitória, do Ministério Público do Estado do
Espírito Santo e da Procuradoria Geral de Justiça.
Não poderia deixar de agradecer ao Wilson Witzel, professor que me presenteou com o tema
da monografia e que tive o prazer de ser aluno. Ao professor Marcel Victor Guerra, professor
e orientador deste trabalho, e ao professor Gilberto Fachetti, não só pelos valiosos
ensinamentos e conselhos de ambos durante a produção deste, mas pelas aulas durante o
curso, que muito me ajudaram em minha formação acadêmica. Obrigado professores.
15
“Há pessoas que amam o poder. Outras tem o poder de amar” Robert
Nesta Marley
16
RESUMO
A necessidade de desburocratizar o sistema judiciário no âmbito dos Juizados Especiais no
Estado do Espírito Santo, no que cerne ao exercício jurisdicional dos magistrados, inserindo a
figura constitucional do Juiz leigo, é real. Busca-se um entendimento doutrinário e legal, com
pilares na Constituição da República, bem como nas Leis Federais 9.099/95 e 12.153/09 e
realidades encontradas em outros estados da Federação. Apresenta-se em um ótimo momento,
quando o Tribunal de Justiça do Espírito Santo promulgou em janeiro do presente ano a
Resolução 002/2011, que cria o cargo de Juiz leigo, confirmada, por unanimidade, em sessão
do Pleno no mês de maio de 2011, revogada pela Resolução 17/2011 em abril do mesmo ano,
do qual foram apontadas algumas críticas. Esta necessidade se deu pelo crescimento
exponencial de demandas nos Juizados, provocado principalmente pela banalização do Dano
Moral. Os magistrados pouco podem fazer, pois ficam divididos na tarefa de realizar cerca de
30 audiências por dia, atender advogados em seu gabinete, despachar e sentenciar outros
inúmeros processos pilhados em seus gabinetes.
Entretanto, aumentar o número de Juízes togados significa onerar demasiadamente o Estado, e
por isso os Juízes leigos tornam-se a melhor saída. Por fim, busca-se mostrar também que há
necessidade de uma lei federal regulamentando o exercício destes leigos, que de “leigos” não
têm nada, ao mesmo passo que modificações nas atuais leis também é imprescindível.
Palavras-chaves: Juiz leigo, auxiliares da justiça, Juizado Especial Cível, Juiz togado,
Conciliadores, Tribunal de Justiça do Espírito Santo, Resolução 002/2011 TJ/ES, Resolução
17/2011 TJ/ES, Lei 9.099/95, Lei 12.153/09.
17
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1 – Referente aos cadastros de processos no ano de 2007 no 1º Juizado Especial
Cível de Vitória/ES ......................................................................................... 14
ESPÍRITO SANTO, Portal do Judiciário do. Coordenadoria dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
<http://www.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/eprocees/pdf/grafAnuais/Graf_2007_1jecvix.pdf> Acesso em 15 de
fevereiro de 2011a.
Ilustração 2 – Referente aos cadastros de processos no ano de 2009 no 1º Juizado Especial
Cível de Vitória/ES ......................................................................................... 15
______. Portal do Judiciário do. Coordenadoria dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
<http://www.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/eprocees/pdf/grafAnuais/Graf_2009_1jecvix.pdf> Acesso em 15 de
fevereiro de 2011b.
Ilustração 3 – Referente aos cadastros de processos no ano de 2008 no 1º Juizado Especial
Cível de Vitória/ES ........................................................................................ 15
______. Portal do Judiciário do. Coordenadoria dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.
<http://www.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/eprocees/pdf/grafAnuais/Graf_2008_1jecvix.pdf> Acesso em 15 de
fevereiro de 2011c.
18
ABREVIATURAS
AIJ = Audiência de Instrução e Julgamento.
CERJ = Constituição Estadual do Estado do Rio de Janeiro.
CF = Constituição Federal.
CNJ = Conselho Nacional de Justiça.
CR = Constituição da República.
EMJEES = Encontro de Magistrados de Juizados Especiais do Espírito Santo.
EMES = Escola da Magistratura do Espírito Santo.
EMERJ = Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro.
EOAB = Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil.
FONAJE = Fórum Nacional dos Juizados Especiais.
JEC´s = Juizados Especiais Cíveis.
TJ = Tribunal de Justiça
TJ/ES = Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo.
19
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 21
2 NOÇÕES GERAIS SOBRE OS JUÍZADOS ESPECIAIS CÍVEIS ....................
22
2.1 Dos princípios processuais fundamentais – art. 2º da lei 9.099/95 .............................. 23
2.1.2 Do princípio da oralidade .......................................................................................... 23
2.1.3 Do princípio da simplicidade e/ou informalidade ..................................................... 24
2.1.4 Do princípio da economia processual ........................................................................ 25
2.1.5 Do princípio da celeridade ......................................................................................... 26
2.2 Do acesso à Justiça ....................................................................................................... 27
2.3 Dos problemas que sobrevieram com a Lei 9.099/95 .................................................. 30
2.4 Dos Juízes leigos como auxiliadores da Justiça .......................................................... 35
3 DOS JUÍZES LEIGOS COMO AUXILIARES DA JUSTIÇA .............................. 37
3.1 Conceitos (Juiz Togado, Conciliadores, Árbitros e, Juiz Leigo) .................................. 38
3.2 Da Constituição da República de 1988 ......................................................................... 40
3.3 Da Lei Nº 9.099/95 (Estatuto dos Juizados Especiais) .............................................. 41
3.4 Da Lei Nº 12.153/09 (Estatuto dos Juizados da Fazenda Pública) e da revogação do artigo 7º da Lei 9.099/95 ................................................................................................... 42
3.5 Da compatibilidade com o exercício da Advocacia ..................................................... 44
3.6 Das atribuições dos Juízes Leigos ................................................................................ 46
3.7 Juízes Leigos e Tutelas de Urgência ............................................................................. 47
4 RESOLUÇÃO 002/2011 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESPÍRITO SANTO: ASPECTOS POLÊMICOS .....................................................................
48
4.1 Da necessidade de ter cursado a Escola Superior da Magistratura do Espírito Santo. 50
4.2 Da impossibilidade da Advocacia pelos Juízes Leigos nos Juizados Especiais ........... 52
4.3 Possibilidade de utilizar Juízes Leigos como Conciliadores ........................................ 54
20
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 55
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 58
21
INTRODUÇÃO
A Constituição da República em seu artigo 98, inciso I, instituiu a figura do Juiz Leigo, ao
passo que a Lei 9.099/95, conhecida também como Estatuto dos Juizados Especiais Cíveis,
disciplinou a atuação destes perante estes órgão. Entretanto, na prática os Juízes leigos não
eram utilizados, nem mesmo conhecidos, por grande parte dos profissionais e doutrinadores.
O objetivo da criação dos Juizados Especiais é fulcro da necessidade de uma Justiça menos
burocrática, célere e de alcance a todos. Com o passar do tempo a população foi apresentada a
este modelo, e assim, a procura pela solução dos conflitos por meios judiciais tornaram-se
cotidiano.
Diante deste fato, o problema passou a ser outro. Os Juizados passaram a ficar abarrotados de
processos e quantidade de juízes, servidores e estagiários aumentaram exponencialmente.
A questão é que por muito tempo esqueceram que estes Juizados foram criados para ser o
simples, não burocrático e com o mínimo assim, mais rápidos a chegar em uma solução do
conflito.
Hoje, está se disseminando nos estados da federação a utilização dos Juízes leigos como
forma de se chegar a esta plataforma. Santa Catarina, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul,
Paraná, Rio Grande do Sul, já possuem este cargo em seus Juizados, enquanto Bahia e
Espírito Santo estão colocando em prática esta ideia.
Escrever acerca de um tema novo como este, principalmente para o Estado do Espírito Santo,
é o desafio proposto neste trabalho, que se deu através de pesquisas bibliográficas, legislativas
e através analogias.
Começa com uma apresentação dos princípios que servem de base aos Juizados Especiais
Cíveis: princípio da oralidade, simplicidade (informalidade), economia processual e
celeridade. De fato, não há como falar acerca do assunto sem mencionar os mesmos.
O terceiro capítulo foi destinado a conceituar, a luz da Constituição e das Leis Federais, os
Juízes leigos, e ainda as suas atribuições, compatibilidade com a advocacia e acerca da
atuação dos leigos nas tutelas de urgências.
No quarto, e último capítulo, restou tecer comentários críticos à Resolução 002/2011 do
Tribunal de Justiça do Espírito Santo, que em janeiro foi apresentado e em maio foi aprovada
22
pelo Pleno, onde institui os Juízes leigos no âmbito do Tribunal de Justiça do Espírito Santo,
nos Juizados Especiais Cíveis. No final de abril, o Tribunal de Justiça revogou a Resolução
002/2011, no qual o órgão reconheceu a maneira equivocada que se faria no tocante ao
ingresso ao cargo de Juiz leigo.
Cabe ressaltar que a dita Resolução revogada foi retirada do Portal do Judiciário capixaba. No
entanto, encontra-se no Diário da Justiça do dia 24 de janeiro de 2011 no mesmo sítio.
Por fim, foi apresentado de uma maneira geral todo o trabalho, conclusões e considerações
que se chega ao final das pesquisas e estudos.
2 NOÇÕES GERAIS SOBRE OS JUÍZADOS ESPECIAIS CÍVEIS –
JEC´S
Os Juizados foram criados, sobretudo, para ampliar o acesso à justiça1. A dispensa do
pagamento de custas iniciais, redução de possibilidades de recursos e o fato de deixar a
obrigatoriedade de ser representado por advogado são algumas das especialidades deste
órgão, apoiados pelos princípios processuais fundamentais trazidos em seu texto.
Para muitos, a exemplo do mais novo ministro do Supremo Luiz Fux, a Lei 9.099/95 significa
“sonho de justiça”2. Aos operadores do Direito, juntamente com a Lei 10.259/01 e da Lei
12.153/09, formam o chamado Estatuto dos Juizados Especiais.
Muito embora os Juizados tenham conseguido fazer seu papel de aproximar a justiça do
cidadão hipossuficiente, fica claro também os problemas colaterais que neles sobrevieram.
Não há maneira de iniciar um estudo relacionado com os JEC´s sem pairar em seus princípios
que se fazem alicerces, dos quais passaremos adiante a descrever.
1 CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais Uma Abordagem Crítica. 5
ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2009b, p. 5. 2 FUX, Luiz. Manual dos Juizados Especiais Cíveis. Rio de Janeiro: Editora Destaque, 1998, p. 9.
23
2.1 Dos Princípios Processuais Fundamentais – Art. 2º da Lei 9.099/95
Os legisladores tiveram o cuidado de inserir no corpo do texto da lei em comento os
princípios que serviram de pilares, mas precisamente no art. 2º da Lei 9.099/95: “O processo
orientar-se-á pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia
processual e celeridade, buscando, sempre que possível, a conciliação ou a transação”.
(Grifo nosso)3.
Insta esclarecer que estes princípios – critérios – adotados são de natureza procedimental,
contudo a Lei 9.099/95 está também amparada em outros princípios como: legalidade,
contraditório, ampla defesa, devido processo legal e outros; entendemos que não houve
necessidade de citá-los por ser totalmente lógico às suas inserções e amparados por
dispositivos constitucionais.
2.1.1 Do Princípio da Oralidade
Não foi por acaso que foi inserido como o primeiro dos princípios, pois é o mais importante
dentre o rol trazido pelo artigo 2º da lei. O princípio da oralidade é o diferencial mais
evidente, processualmente falando, dentre os demais que concretizam a especialidade dos
Juizados.
Através da linguagem falada a tendência é haver concentração procedimental neste rito –
sumaríssimo – sendo assim o magistrado poderá ouvir as partes, testemunhas e acolher outras
provas em uma só audiência – a de instrução e julgamento – e logo após proferir sua sentença,
tornando o processo mais célere e o mais importante, o julgador irá ter todos os fatos narrados
ainda bem memorizados e ainda poderá fazer novas perguntas às partes no mesmo instante,
para sanar uma possível dúvida.
Infelizmente o predomínio da palavra falada fica apenas na teoria. Na prática são poucos os
procedimentos utilizados dessa forma, como muito bem exposto pelo desembargador e
doutrinador Alexandre Freitas Câmara:
Digo em tese [quanto ao princípio da oralidade se faz presente em tese na lei] porque na prática não é bem assim que se passam as coisas. A experiência prática mostra
3 BRASIL. Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995: Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e Criminais e dá
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9099.htm>. Acesso em: 17 de fevereiro de 2011c.
24
que, na imensa maioria dos casos, o ajuizamento da demanda é escrito, assim como a resposta do demandado. Embargos de declaração verbais jamais vi serem interpostos, bem como nunca vi [...] o requerimento verbal de execução da sentença.4
Na prática vivenciada, a linguagem falada está sim presente em audiências e em alguns
simples procedimentos, como por exemplo: pedido de cumprimento de sentença pelo
exequente que se manifesta no próprio cartório e o serventuário coloca a termo, confirmação
de satisfação da obrigação que enseja na extinção do feito, intimações feitas por telefone que
certificadas e inseridas no processo dão prosseguimento ao mesmo e etc.
Note que mesmo sendo utilizada a linguagem falada, a vontade do seu interlocutor é colocada
a termo – linguagem escrita – pelo encarregado da justiça, seja estagiário ou servidor. Assim,
conclui Felippe Borring Rocha:
É preciso lembrar, no entanto, que para um processo ser oral não é necessário, nem desejável, abolir a forma escrita. Com efeito, processo oral é aquele que oferece às partes meio eficazes para praticarem os atos processuais da palavra falada, ainda que eles tenham que ser registrados por escrito. Em suma, o princípio da oralidade pressupõe a convivência harmônica da palavra escrita e a falada servindo a primeira basicamente para registrar ou subsidiar a segunda.5
Sobre a especialidade do princípio da oralidade em sede de Juizado Especial enfatizou os
julgadores do Juizado Especial de Araraquara/SP:
Concentração dos atos em audiência que é peculiaridade do procedimento, em virtude dos princípios da oralidade, celeridade e economia processual - Inadmissível a condução do feito pelo procedimento comum ordinário, com dispensa de audiência, máxime quando existe prova oral para ser produzida - Ofensa a principio constitucional - Recurso provido para anular a sentença e determinar o retorno dos autos ao Juízo de origem, a fim de que seja marcada Audiência de Conciliação, Instrução e Julgamento 6 (Grifo nosso)
Desta forma, enfatizaram os julgadores, da excepcionalidade no procedimento sumaríssimo a
concentração dos atos em audiência, fundados nos princípios da oralidade, celeridade e
economia processual.
4 CÂMARA, op cit, 2009b, p. 9 5 ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis Aspectos Polêmicos da Lei nº 9.099, de 26/9/1995. 5.
ed. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009. p. 7. 6 SÃO PAULO (Estado) Juizado Especial de Araraquara. Recurso Inominado nº 3350. Recorrente: Ricardo
Basso. Recorrido: Banco do Brasil. Disponível em: <http://www.jusbrasil.com.br/filedown/dev1/files/JUS2/TJSP/IT/RI_3350_SP_24.06.2008.pdf> Acesso em: 24/006/2008.
25
2.1.2 Do Princípio da Simplicidade e/ou Informalidade
A doutrina que trata dos princípios informadores dos Juizados Especiais Cíveis ao citar os
princípios da simplicidade e informalidade não faz distinção um do outro.
Para Câmara: Não obstante fala a lei em simplicidade e informalidade como conceitos distintos, a rigor está-se aqui diante de um só princípio, que tanto pode ser chamado de princípio informalidade como de princípio da simplicidade. Por força deste princípio o processo perante os Juizados Especiais Cíveis deve ser totalmente desformalizado.7
Segundo Alexandre Freitas Câmara o princípio da simplicidade e da informalidade possuem
conceitos distintos, no entanto, descreve que “[...] a rigor está-se aqui diante de um só
princípio que tanto pode ser chamado de princípio da informalidade como de princípio da
simplicidade”, igualando-os. No mesmo sentido Felippe Boring Rocha descreve que “[...]a
maioria da doutrina tem defendido que o princípio da simplicidade nada mais é do que um
desdobramento do princípio da informalidade ou do princípio da instrumentalidade”8.
Entende-se através do trecho acima que o princípio da simplicidade é o desenvolvimento do
princípio da instrumentalidade, e vice-versa. Rocha, sem contextualizar exageradamente, do
qual podemos concluir com um trecho de Luiz Fux: “[...] a fusão da simplicidade e da
informalidade sob mesmo título decorre do fato de que a primeira é instrumento da segunda,
ambas, consectários da instrumentalidade”9.
Luiz Fux10 que escreveu em 1998 acerca dos Juizados Especiais tinha um visão
completamente diferente dos atuais autores, pois naquele tempo tratava-se do nascimento de
uma nova justiça, mais cidadã e mais simples, mas que chamara atenção de vários autores a
escrever desvendando seus artigos.
7 CÂMARA, op cit, 2009b, p.16 8 ROCHA, op cit, 2009, p. 10. 9 FUX, op cit, 1998, p. 28 10 Ibidem.
26
A finalidade deste princípio é contextualizar o objetivo da criação dos Juizados em ser uma
Justiça mais próxima do cidadão sem formação jurídica e que muitas das vezes não tem
condições de contratar um advogado.
A simplicidade, literalmente, neste sentido, é tornar a linguagem e os procedimentos os menos
complexos possível nos Juizados Especiais, deixando todas aquelas formalidades advindas
com a tradição do Direito que desempenhamos em sede judicial, termos em latim, formas de
tratamento, dentre outros.
Apesar do simples conceito, o princípio da simplicidade ou informalidade possui grande
importância para os Juizados Especiais, pois todos os atos neles praticados, pelas partes e
funcionários da justiça, deverão ser pautados no mesmo.
2.1.3 Do Princípio da Economia Processual
Falar em Economia Processual no âmbito dos Juizados Especiais é sintetizar o objetivo final
que a Lei 9.099/95 veio normatizar, visto que se tem como objetivo diminuir os atos
processuais tornando os processos mais céleres e simplificados.
Em uma primeira conceituação por Mario Bellavitis11, que busca em Chiovenda sua
fundamentação, o objetivo deste princípio é “[...] obter um máximo de resultados através de
um mínimo de esforço processual”.
Contudo, o princípio da economia processual fundamenta na prática procedimentos sob teus
utilizados também fora da extensão dos Juizados, e muitos deles foram vedados nestes,
certamente para não criar delongas processuais desnecessárias, como por exemplo a
intervenção de terceiros.
Conforme Câmara: Economia processual consiste, como sabido, em se extrair do processo o máximo de proveito com o mínimo de dispêndio de tempo e energias. E isso é um alvo a ser atingido com o processo que se desenvolve perante os Juizados Especiais Cíveis. A
11 BELLAVITIS apud FUX. op. cit. 1998, p. 26.
27
possibilidade de conversão da sessão de conciliação em audiência de instrução e julgamento, a colheita de prova pericial de forma simplificada, com a oitiva do perito em audiência, a possibilidade de realização de inspeção judicial [...] durante a audiência de instrução e julgamento, todos esses são exemplos de aplicação do princípio da economia processual nos Juizados Especiais Cíveis.12
Ainda assim insta mencionar o Estatuto em seu art. 13: Os atos processuais serão válidos
sempre que preencherem as finalidades para as quais forem realizados, atendidos os critérios
indicados no art. 2º desta Lei.13.
De fato certos institutos mesmo sendo amparados por este princípio tornam-se onerosos aos
processos nos Juizados. Demandar nomeação à autoria e chamamento ao processo não deixa
o mesmo simples e não há maneira de se fazer sem deixar de lado as formalidades. Tornar-se
um processo complexo.
2.1.4 Do Princípio da Celeridade
Este princípio, assim como o da economia processual, é vinculado a todos os ritos e
procedimentos adotados nos Juizados. Todos que trabalham neste órgão ao realizar uma
movimentação no processo, seja qual for, deve ser pautado na celeridade processual. Isso
ocorre desde o juízo de admissibilidade da petição inicial até a prolação da sentença, bem
como nos recursos que poderão vir a ser impetrados:
É do princípio da celeridade processual que decorrem alguns institutos presentes no Estatuto dos Juizados Especiais Cíveis, como a possibilidade de conversão da sessão de conciliação em audiência de instrução e julgamento, a diminuição de alguns prazos processuais14.
A busca por uma solução rápida da lide é a justiça com eficiência, pois a demora processual
pode gerar efeitos irreversíveis, tornando-se inócua a sentença proferida, mesmo se
benevolente a quem pede.
DECISÃO: Assim, rejeito a preliminar de carência de ação arguida em contestação, e havendo as partes protestado pela produção de provas, inclusive com a oitiva das testemunhas já arroladas na petição inicial, em sendo o caso de realização de audiência de instrução, determino a intimação das partes para, no prazo de 10 (dez)
12 CÂMARA, op cit, 2009b, p. 18. 13 BRASIL, op cit, 2011c. 14 CÂMARA, op cit, 2009b, p. 20.
28
dias, especificarem as provas a serem produzidas. Visando a celeridade do feito defiro, desde já, a produção de prova testemunhal requerida pela demandante em sua inicial, designando o dia 16/08/2011, às 12:00 horas, para realização de audiência de instrução e julgamento, momento em que serão ouvidas as testemunhas já arroladas pela parte autora e as que eventualmente vierem a ser arroladas pelo demandado, acaso requeridas e cujo rol seja apresentado no prazo legal. Intimem-se as partes acerca da presente decisão e para comparecimento ao ato processual designado. Intimem-se as testemunhas já arroladas e as que vierem a ser oportunamente arroladas pelo demandado para comparecimento à audiência. Cumpra-se. Tucuruí (PA), 06 de maio de 2011. Rosa Maria Moreira da Fonseca Juíza de Direito..15(Grifo nosso)
Insta colecionar: Ora, se a sentença proferida pelo Magistrado do Juizado Especial não pode ser ilíquida, posto que genérico o pedido, não haverá possibilidade, então, de utilização do procedimento da liquidação em sede de Juizados. Essa orientação, ademais, encontra-se em sintonia com o princípio da celeridade processual, previsto no art. 2º do citado diploma legal.16
Na decisão supra inserida os julgadores indeferiram o recurso do qual a apelante almejava
que, apesar necessitar de perícia técnica complexa, fosse acolhida em sede de Juizado
Especial, entretanto, pautados pelo princípio da celeridade resolveram em sua negativa por ser
incompatível prolatar sentença ilíquida, expressamente acolhido na Lei 8.099/95 em seu art.
38.
2.2 Do Acesso à Justiça
A criação dos Juizados Especiais foi justificada da necessidade de melhorar o serviço prestado
pelo Poder Judiciário em face do crescente número de demandas travadas com o advento do
novo momento democrático vivido no país, da nova Constituição da República e do recente
Código de Defesa do Consumidor.
Utilizando menos formalidade e de toda tradicional linguagem de praxe do meio jurídico, a
Lei 9.099/95 veio abolir a litigiosidade contida – demandas judiciais sem solução – do qual
flagra a incapacidade do Estado em relação da real necessidade.
15PARÁ, Tribunal de Justiça do Estado do. Ação de Aposentadoria de Trabalhador Rural por Idade. Nº do
Processo 00035422120098140061. Requerente: Antonia de Souza Nascimento. Requerido: INSS – Instituto Nacional de Seguro Social.
16 HERTEL, Daniel Roberto. Curso de Execução Civil. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 140.
29
A título de exemplo podemos verificar no art. 9 da Lei 9.099/95 que a parte, sendo o valor da
causa em ate 20 salários mínimos, não tem a obrigatoriedade de contratar advogado para
requerer o que, supostamente, se tem direito, in verbis:Art. 9º “Nas causas de valor até vinte
salários mínimos, as partes comparecerão pessoalmente, podendo ser assistidas por
advogado; nas de valor superior, a assistência é obrigatória”17.
O legislador dessa forma quis diminuir os obstáculos aos procedimentos adotados nos
Juizados, facilitando assim a quem necessita de recorrer a Justiça de não precisar de contratar
um advogado nas causas de até 20 salários mínimos - “Art. 54 O acesso ao Juizado
Especialindependerá, em primeiro grau de jurisdição, do pagamento de custas, taxas ou
despesas.”18 – e ainda, além da possibilidade de postular ação sem a assistência de um
profissional a parte também é isenta de pagamento de custas com o processo, como pode ser
visto no artigo 54 da Lei supra averbado.
O Acesso à Justiça faz frente ao direito do devido processo legal que considerado uma
garantia constitucional, no sentindo que o cidadão contribuirá pela democracia, que teve
inicio na ideologia liberal com a Revolução Francesa.
Insta esclarecer que o direito processual moderno caracteriza o processo não somente como
instrumento técnico, mas com visão política e social que o mesmo representa para a
sociedade.
Na concepção da democracia aqui proposta o projeto democrático só é pensável a partir da explicação das exigências éticas intrinsecamente presentes à ação política. Nesse sentido, e somente nesse, a democracia, em sua idéia, pode ser considerada expressão de dignidade humana. É a expressão adequada no campo político, da essencial dignidade humana, que reside em seu ser moral. Quanto a tornar concreta essa expressão na prática política das atuais democracias, é esse um problema que ultrapassa os limites da reflexão filosófica e que se propõe à iniciativa, à capacidade e à própria sensibilidade moral dos homens políticos. Mas, à luz de tudo o que ficou dito, ele está longe de ser uma questão marginal ou ociosa. Na verdade, diz respeito à própria essência do projeto democrático. Podemos pois afirmar, com absoluta certeza, que qualquer intento de efetivação de uma democracia real coloca em primeiro plano as exigências éticas e da ação política. É nesse plano que irá decidir-se, afinal, o êxito da experiência democrática e, com ele, o destino da liberdade nas
17 BRASIL, op cit, 2010c. Acesso em 17 de fevereiro de 2011. 18 Ibidem.
30
sociedades contemporâneas vem a ser o próprio destino do homem político, como ser dotado de uma essencial dignidade.19
Fica clara a necessidade, que para se alcançar a desejada democracia as exigências éticas e de
ações políticas são fundamentais, de modo que seja na prática efetivada, não ficando apenas
nas teorias de livros universitários.
2.3 Dos Problemas que sobrevieram com a Lei 9.099/95
Quinze anos se passaram após a promulgação do Estatuto dos Juizados Especiais e temos que
reconhecer que o mesmo transformou-se num marco divisor de águas na Justiça brasileira.
Juntamente com o Código de Defesa do Consumidor viu-se o poder do povo de reclamar de
vícios em produtos e serviços como jamais tinha se visto. A procura pela tutela estatal para as
resoluções dos conflitos e reclamações se deu por toda essa facilidade e celeridade em que os
Juizados Especiais se fundamenta.
Apesar da ótima intenção dos legisladores o que podemos constatar é que todas essas
benevolências em forma de artigos trouxe consigo efeitos colaterais que o Estado não estava
preparado.
As facilidades encontradas em impetrar ações nos Juizados criaram uma grande procura, e
como nos meios estatais a Lei da Oferta e da Procura não gera nenhuma preocupação, o que
vemos é o término da litigiosidade contida como exposto anteriormente para uma
litigiosidade exacerbada, como definiu Alexandre Câmara:
[...] A criação dos Juizados Especiais Cíveis, porém, se por um lado diminuiu a litigiosidade contida, por outro lado contribuiu para uma litigiosidade exacerbada. Hoje, muitas causas que normalmente não seriam levadas ao Judiciário por serem verdadeiras bagatelas jurídicas acabam por ser deduzidas em juízo através dos Juizados Especiais Cíveis.20
19 VAZ, Padre Henrique Cláudio de Lima, apud OBERG, Eduardo, Os Juizados Especiais Cíveis e a Lei nº
9.099/95 Doutrina e Jurisprudência do STF, STJ e dos Juizados Cíveis. Rio de Janeiro: Lumen Jures, 2009, pg. 102.
20 CÂMARA, op cit, 20092, pg. 5.
31
A realidade dos Juizados quinze anos depois é bem diferente do sonho de justiça idealizado.
Nos JEC´s capixabas o que vemos nos dias de hoje é designação de audiência com um ano de
lapso temporal, as sentenças dos processos conclusos – processos já instruídos que só
aguardam a sentença – esperam por dois ou três anos pelo seu desfecho.
Para Eduardo Oberg: O sistema dos Juizados é uma Justiça gratuita (artigo 55 da Lei 9.099/95), onde a parte pode litigar desacompanhado de advogado (artigo 9º da Lei nº 9.099/95); tais possibilidades indicam que o acesso à Justiça começou a se tornar realidade palpável; pequenos problemas, situações irritantes do cotidiano; tratamento inadequado relativo às atuações dos funcionários dos fornecedores em geral, que irritam o cidadão, que não possuía instrumento de ação; diversas e múltiplas são as situações da vida que se apresentam nos Juizados Especiais Cíveis.21
A título de comparação temos no common Law a participação do advogado como o primeiro
filtro do poder judiciário, pois são esses profissionais os responsáveis pelas custas
processuais. Inicialmente parece absurdo que fique ao encargo dos advogados tais
pagamentos se estão defendendo direito alheio.
Contudo a conclusão é satisfatória desse modelo, pois o requerente antes de ajuizar ação
deverá convencer o advogado que de fato lhe assiste tal direito, pelo fato que nenhum
advogado irá onerar-se em taxas processuais por uma causa com vícios ou sem nexo. Outro
ponto que merece ser mencionado é quanto o interesse do advogado em fazer um acordo
extrajudicial com a parte adversa para evitar tais pagamentos.
Com efeito, lá o advogado é visto e admitido como um elemento de “fiscalização de condutas sociais” e, assim sendo, de controle de posturas, tendo profunda atuação capitalista. Uma vez verificando alguma lesão a direito, passa o attorney (advogado) a poder atuar em favor da parte prejudicada contra o ofensor com intuito de buscar a devida compensação financeira para vítima, e para tanto (e aí vem a peculiaridade) deverá ele (advogado) inclusive financiar a causa, pagando não só as custas processuais, mas também as despesas da própria dilação probatória – chamada discovery. A atuação contenciosa, nesses termos, deságua, de início, em uma atividade, para nós, “estranha”, mostrando-se, no entanto, justificável dentro da visão econômica e capitalista fortemente desenvolvida dentro de alguns países integrantes do Common Law, como é o caso, principalmente, dos Estados Unidos.22 (Grifos nossos)
21 OBERG, 2009, pg. 99. 22 CARPENA, Márcio Louzada. Os poderes do Juiz no common Law.Revista de Processo Civil, REPRO V.
180, Ano 2010
32
A justiça brasileira seguiu o modelo em sentido totalmente oposto. Retirou a necessidade de
estar representado por um advogado, pagamento de custas e taxas de encargos processuais,
ensejando assim em uma grande demanda de ações que são verdadeiras bagatelas, ou que
seriam facilmente resolvidos sem a necessidade de intervenção do estado – ação judicial – ou
que ao requerente não lhe assiste o direito pretendido e ações que são impetradas e
simplesmente abandonadas. A essas últimas a Lei contrapõe:
Art. 51. Extingue-se o processo, além dos casos previstos em lei: I - quando o autor deixar de comparecer a qualquer das audiências do processo; § 2º No caso do inciso I deste artigo, quando comprovar que a ausência decorre de força maior, a parte poderá ser isentada, pelo Juiz, do pagamento das custas. (Grifo nosso)23
Ficará a escolha do magistrado, quando sem justificativa o autor deixa de comparecer em
audiência, extinguir o processo na forma do artigo 267 do CPC24 e aplicar de forma
sancionatória obrigação de pagar custas processuais calculados pela contadoria, sob pena de
inscrição de dívida ativa, mecanismo este para evitar que ações sejam aJuizadas por mera
conveniência.
Portanto, haja vista que nossa legislação seguiu essa linha, deveria então o Estado ter-se
preparado para o aumento da demanda processual, logo, aumentar o número de servidores,
informatizar o sistema e iniciar um planejamento de educação jurídica à população seria o
mínimo.
Procurando diminuir as longas filas processuais em seus Juizados Especiais Cíveis muitos
Estados buscaram saídas para melhorar a situação. Concluíram então que não bastava somente
aumentar o número de estagiários, conciliadores e demais servidores sem aumentar o número
de Juízes para dar solução nas lides, pois mesmo que os processos tenham seus movimentos
cartoriais agilizados, a fila apenas será “transportada” para o gabinete. Por outro lado
aumentar o número de Juízes satisfatoriamente significa também em aumentar os gastos
públicos.
A solução encontrada por muitos Estados da Federação está prevista na Constituição da
República, bem como na Lei 9.099/95, e que por muito tempo foi simplesmente ignorada
pelos legisladores estaduais e pelos responsáveis pela coordenação estrutural dos Juizados. A
mudança foi em aderir à presença do Juiz Leigo nos Juizados Especiais Cíveis.
23 BRASIL, op cit, 2010c. Acesso em 17 de novembro de 2010. 24 BRASIL, op cit, 2010b. Acesso em 17 de fevereiro de 2011.
33
No Espírito Santo a situação não é em nada diferente. Em consulta ao sítio do Tribunal de
Justiça do Espírito Santo, na seção dos Juizados Especiais, como pode ser visto nos relatórios
estatísticos dos cadastros de processos em cada Juizado, disponível no Portal do Judiciário.
Com o relatório do 1º Juizado Especial Cível de Vitória tem-se que em 2007 (Ilustração 01) o
mês de maior cadastro foi em dezembro, com 114 ações cadastradas. Já em 2009 (Ilustração
2) o mês de maior cadastro foi março, com 263 ações cadastradas.
Ilustração 01 - Tribunal de Justiça do Espírito Santo Fonte: ESPÍRITO SANTO, 2011a
34
Ilustração 02 - Tribunal de Justiça do Espírito Santo Fonte: ESPÍRITO SANTO, 2011b
Note que não há dados anteriores a setembro de 2007, pois ainda não havia o sistema E-
Procees, mas é visível seu crescimento exponencial em comparação a setembro de 2009 e aos
meses de 2008 (Ilustração 3).
Ilustração 03 - Tribunal de Justiça do Espírito Santo
Fonte: ESPÍRITO SANTO, 2011c
35
Um estudo realizado pelo Departamento de Informações Gerenciais (DEIGE) do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro aponta que a demanda de ações nos Juizados Especiais Cíveis deste
estado praticamente dobrou de 2002 para 2008, ao passo que depois que os Juízes leigos
começaram a serem utilizados, o serviço ficou, apesar do número crescente, eficaz, em 2006.
Em comentários a esta pesquisa ponderou Eduardo Oberg que “a importância do Juiz leigo já
aparece de forma clara”25.
O Tribunal de Justiça do Espírito Santo em janeiro de 2011 votou e publicou a Resolução
002/2011, do qual prevê o recrutamento de Juízes Leigos para comporem os Juizados
Especiais Cíveis do estado, fazendo parte da missão de sua reestruturação. Por sua vez, essa
resolução, ainda muito recente, será estudada mais adiante nesta pesquisa.
2.4 Dos Juízes Leigos como Auxiliadores da Justiça
Para as causas de menor complexidade o legislador constituinte considerou que a participação
do Juiz togado em todos os procedimentos do processo é dispensável, inserindo o conciliador
e o Juiz leigo, que são terceiros, capazes de dar prosseguimento desde a conciliação até o final
do processo ao redigir o projeto de sentença.
Sendo assim, Constituição da República de 1988 trouxe em seu texto a figura do Juiz Leigo,
porém sua existência foi ignorada por alguns anos pelos Tribunais, e mesmo 13 anos após sua
promulgação são poucos os estados que lhe apreciaram.
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - Juizados especiais, providos por Juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de Juízes de primeiro grau;26 (Grifo nosso)
O artigo supra é o único que descreve acerca do Juiz leigo e note que foi feito de maneira bem
genérica. Ao contrário dos Juízes togados, que possuem na Carta Magna, artigos
discriminando as garantias e deveres dos magistrados, como pode ser observado:
25OBERG, 2009, pg. 85. 26 BRASIL, op cit, 2010a. Acesso em 17 de fevereiro de 2011.
36
Art. 7º - Lei 9.099/95 Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com mais de cinco anos de experiência. Parágrafo único. Os Juízes leigos ficarão impedidos de exercer a advocacia perante os Juizados Especiais, enquanto no desempenho de suas funções. (Grifos nossos)27
Veja que o Estatuto dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95) veio complementar o que a
Constituição da República, conceituando sobre os Juízes leigos, enquanto ficou a cargo dos
legisladores estaduais e da Coordenação dos Juizados Especiais o encargo de resolver o
restante que falta.
Fazendo uma leitura mais sistemática o que seria um Juiz que é leigo? Leigo é “Pessoa não
pertencente a determinada profissão ou não versada em algum ramo de conhecimento ou arte”
(Michaelis – Moderno Dicionário da Língua Portuguesa).
Posteriormente iremos discutir com maior profundidade as atribuições dos Juízes Leigos, por
ora iremos expor a doutrina acerca do tema faz-se necessário citar:
A figura do Juiz leigo remete à pessoa comum do povo, sem conhecimento jurídico especializado, mas com o senso jurídico comum suficiente para resolver as causas mais simples. De toda sorte, como a lei estabelece que a escolha recairá preferentemente sobre advogados, nada impede que pessoas sem essa qualificação exerçam a função de Juízes leigos.28 (Grifo nosso)
Não achamos razoável chamar de leigo um profissional com 05 (cinco) anos de atividade
jurídica. Por isso, entendemos que a lei 9.099/95 foi exagerada ao exigir no mínimo 05 anos
de experiência para o cargo de Juiz leigo, pois fazendo uma analogia para se estar apto a
assumir o cargo de Juiz substituto, in verbis:
Art. 93 CR/88. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: I - ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de Juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação; (Grifo nosso)
No Espírito Santo já há uma ampla utilização de conciliadores nos Juizados Especiais, do qual
realizou-se no em 2010 um processo seletivo entre estudantes de Direito para assumirem o 27BRASIL, op cit, 2010c. Acesso em 17 de novembro de 2010. 28 CÂMARA, op cit, 20092.
37
cargo, enquanto os Juízes leigos ainda não são uma realidade, acontece semelhantemente em
outros Estados, como observa José Eduardo Carreira Alvim:
Os conciliadores têm sido, de certa forma, prestigiados nos Juizados especiais, mas não na pessoa dos bacharéis, e sim dos estudantes de Direito, que vêm cumprindo satisfatoriamente a sua função; mormente porque esse trabalho conta como estágio, indispensáveis para se tornarem advogados. O mesmo não se pode dizer dos Juízes leigos, que deveriam ser uma das vigas mestras dos Juizados especiais, mas são na verdade uma abstração, por não contarem com a simpatia dos Juízes togados, que nunca os vêem com bons olhos (...)29
Como foi dito anteriormente, o Tribunal de Justiça do Espírito Santo passará a contar com a
figura do Juiz Leigo nos Juizados Especiais Cíveis, e por isso deve desde já começar um
projeto de conscientização da sociedade, incluindo os operadores da justiça, para evitar que
sentimentos como este citado pelo ilustre doutrinador faça parte também nos Juizados
capixabas.
3 DOS JUÍZES LEIGOS COMO AUXILIARES DA JUSTIÇA
Os auxiliares da justiça são aqueles que não fazem parte do “triângulo” processual, contudo
são pessoas com funções que o sistema processual lhe atribui, sob autoridade do Juiz, como
sujeitos secundários do processo, possuindo legitimidade exclusiva aos atos que lhe foram
conferidos pela Lei.
“São auxiliadores da justiça todos aqueles que contribuem com o Juiz para a realização das
funções do juízo”30. Dentre eles podemos destacar os conciliadores, Juízes leigos, oficiais de
justiça, pregoeiro, assistentes, técnicos especialistas – ou peritos – e etc.
Um procedimento judicial inicia quando o interessado, por sua iniciativa, procura o Judiciário
e cumpre o primeiro ônus processual, que seja do autor de demandar com o objetivo de se ter
o que pretende, que virá em conjunto com demais ônus como o pagamento de custas, indicar
o endereço de citação e etc. Ao réu caberá ônus de resposta sob pena de revelia, de se
apresentar em audiência, dentre outros com o seguimento do processo.
29 ALVIM, J. E. Carreira. Juizados especiais cíveis estaduais. 2.ed. Curitiba: Juruá, 2004. 30 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Civil. 19. ed.. Rio de Janeiro: Lumen Jures, 2009
38
Entretanto, ao Juiz não lhe é conferido nenhum ônus, como sucintamente pondera Greco: O
Juiz não tem ônus. Tem o poder-dever de agir nos termos da lei, conduzindo o processo a seu
final, respeitando a igualdade das partes e aplicando corretamente a lei material ao caso
concreto.31
Para dar continuidade ao estudo se faz necessário saber diferenciar os diferentes atributos dos
julgadores previstos na Constituição da República, de forma que se fará a seguir.
3.1 Conceitos referentes ao Juiz Togado, Conciliadores e Juiz Leigo
A começar pelo Juiz Togado, ou magistrado, é o Juiz propriamente dito, amparado pela Lei
Orgânica da Magistratura Nacional (Lei Complementar Nº35, de 14 de março de 1979), ao
passo que concede a estes garantias de vitaliciedade, inamovibilidade e irredutibilidade de
vencimentos, além de imputar-lhes deveres.
Os Juízes são funcionários públicos federais ou estaduais, investidos pelo poder estatal para
exercer, em seu nome, a vontade do Estado. São também Juízes os desembargadores e
ministros dos tribunais superiores, sendo diferenciados em suas competências bem como
julgar recursos interpostos contra decisão ou sentença de seus pares de 1º piso. Para melhor
entendimento cito:
O primeiro sujeito da relação processual a ser analisado é o Estado, a que se costuma designar, in casu, Estado-Juiz, pelo fato de estar o mesmo no exercício da função jurisdicional. O Estado ocupa, na relação jurídica processual, uma posição de supremacia a equidistância das partes32.
Dentre as atribuições dos magistrados está entre as principais a de interpretação da lei diante
um caso concreto, trazido ao Poder Estatal – Judiciário – afim de concluir o fático-jurídico
através de uma sentença, que se chega após todo o desenrolar procedimental que preside.
Os conciliadores foram apresentados à sociedade juntamente com a Lei 9.099/95 e da criação
dos Juizados Especiais Cíveis. São personagens que atuam com o principal objetivo de fazer
31 GRECO Filho, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro 2º Volume. 16ª Edição. São Paulo: Saraiva,
2003. 32 CÂMARA, op cit, 2009. Pg. 136.
39
que as partes consigam um acordo antes da Audiência de Instrução e Julgamento, antes
mesmo de um contato com o Juiz.
O art. 7º da Lei 9.099/95 define que: Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da
Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os
segundos, entre advogados com mais de cinco anos de experiência (Grifos nosso).
Há uma grande dificuldade em interpretar o artigo acima por conta do advérbio
preferencialmente. Surgiu então uma celeuma dentre os doutrinadores por conta deste texto,
no que tange aos conciliadores quanto aos Juízes leigos, visto que o que é preferencial não é
uma única escolha, mas sim, o que possui condição de preferência, logo, em caso de empate
entre um candidato que é bacharel em direito e outro que não o é, este tem a preferência.
Por isso, há em todo o Brasil, maneiras assimétricas de recrutamento de Conciliadores para os
Juizados Especiais. No Espírito Santo durante muito tempo estes cargos eram preenchidos
através de cargos comissionados sendo um dos critérios ser bacharel em Direito. Contudo, em
2011 houve um processo seletivo entre estudantes de direito para compor essas vagas, aos
agora chamados Estagiários Conciliadores.
Na Bahia os conciliadores são recrutados entre os bacharéis ou acadêmicos em direito,
administração, psicologia e assistentes sociais, segundo a Resolução Nº7 de 28 de julho de
2010 do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia.
A função do conciliador, como já foi dito, é tentar conciliar as partes antes de passar para fase
instrutória do processo a fim de evitar um maior desgaste no relacionamento das partes,
causado pelo “mal estar” das audiências, como também desafogar a máquina do Judiciário.
Os Juízes leigos, assim como os conciliadores, são auxiliares da justiça, com a principal
finalidade em agilizar o tramite legal e esvaziar as pilhas e pilhas acumuladas nos Juizados. A
estes são conferidos poderes para instruir o processo – presidir audiência de instrução e
julgamento – ouvir testemunhas, despachar, determinar provas a serem produzidas e apreciá-
las, bem como confeccionar projeto de sentença, que com a homologação do Juiz togado,
decidirá o processo.
Divergem os Tribunais quanto ao recrutamento dos Juízes leigos, uma vez que o artigo 7º da
Lei 9.099/95, anteriormente citado, fala em advogados com mais de cinco anos de
experiência. O principal questionamento é o fato de se chamar de leigo um profissional com
40
pelo menos 05 (cinco) anos de experiência, e ainda não somente a nomenclatura, mas também
o trabalho que, teoricamente, não exige para tanto, pelo fato do mesmo estar sempre aos
olhares do Juiz titular do Juizado.
Equivocou-se, porém, o legislador, ao exigir que o Juiz leigo seja escolhido preferentemente entre advogados com mais de cinco anos de experiência. Estes advogados jamais poderiam ser qualificados como leigos. A figura do Juiz leigo remete à pessoa comum do povo, sem conhecimento jurídico especializado, mas com senso jurídico comum suficiente para resolver as causas mais simples. De toda sorte, como a lei estabelece que a escolha recairá preferentemente sobre advogados, nada impede que pessoas sem essa qualificação exerçam a função de Juízes leigos.33
Não é novidade para ninguém que os acadêmicos são obrigados pela legislação proveniente
do Ministério da Educação de realizar pratica jurídica, muitas das vezes estes estudantes são
os verdadeiros proprietários intelectuais das petições assinadas pelos advogados,
manifestações e alegações finais dos promotores e despachos e sentenças dos Juízes.
Diante deste fato torna-se fácil aceitar que Juízes leigos possam realizar AIJ´s, despachar,
decidir e confeccionar projetos de sentenças para homologação pelos Juízes, pois na realidade
essas tarefas são muitas das vezes realizadas por estagiários.
Diante deste quadro de divergências passamos a analisar os dispositivos legais acerca do
assunto a seguir.
3.2 Da Constituição da República de 1988
Em seu artigo 98, o texto Constitucional concebe a atuação dos Juízes leigos no âmbito dos
Juizados especiais:
Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I - Juizados especiais, providos por Juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de Juízes de primeiro grau; (Grifo nosso)
33 CÂMARA, op cit, 20092. Pg. 53.
41
Esse é o único dispositivo Constitucional que menciona os Juízes leigos, ficando totalmente
omisso quanto a descrição do trabalho destes auxiliares da justiça, ficando a cargo das leis
infraconstitucionais e das normas dos tribunais estaduais estabelecer tais regras.
O objetivo do legislador constitucional em inserir os Juízes leigos aos Tribunais estaduais foi
inseri-los juntamente ao conceito de Estado Democrático de Direito, vindo a “amenizar a
rigidez da estrutura funcional do órgão jurisdicional tradicional”34.
3.3 Da Lei Nº 9.099/95 (Estatuto dos Juizados Especiais)
A lei federal que dispõe acerca dos Juizados Especiais Cíveis pouco fala sobre a atuação dos
Juízes leigos, assim como a Constituição da República. Além do artigo 7º, citado
anteriormente, há também outros na Seção que versa sobre a Conciliação e do Juízo Arbitral
(artigos de 21 a 26), porém de maneira muito superficial.
Por equivoco o legislador equiparou os Juízes leigos com os árbitros. O arbitro é pessoa
nomeada pelas partes interessadas para conduzir o “processo” sem intervenção estatal, como
define Dagolberto Calazans:
A arbitragem é um processo alternativo, extrajudicial e voluntário, entre pessoas físicas e jurídicas capazes de contratar, no âmbito dos direitos patrimonais disponíveis, sem a tutela do Poder Judiciário. As partes litigantes elegem em compromisso arbitral, uma ou mais pessoas denominadas árbitros ou juízes arbitrais, de confiança das partes, para o exercício neutro ou imparcial do conflito de interesse, submetendo-se a decisão final dada pelo árbitro, em caráter definitivo, uma vez que não cabe recurso neste novo sistema de resolução de controvérsias.35
Apesar disso, são estes artigos que nos dão as primeiras clarezas sobre as atribuições dos
Juízes leigos, dos quais cabe citar o Art. 21: Aberta a sessão, o Juiz togado ou leigo
esclarecerá as partes presentes sobre as vantagens da conciliação, mostrando-lhes os riscos
e as conseqüências do litígio, especialmente quanto ao disposto no § 3º do art. 3º desta Lei.
34 Letteriello, Des. Rêmolo. O Juiz Leigo e os Juizados Especiais.
http://www.tjms.jus.br/juizados/doutrina/DTR_20050607181228.pdf 35PEREIRA, Dagolberto Calazans Araújo. Arbitragem: Uma Alternativa na Solução de
Litígios.http://www.advogado.adv.br/estudantesdireito/candidomendes/dagolbertocalazansaraujopereira/arbitragem.htm
42
A palavra “sessão” citada no artigo supra pode-se ler “audiência”, que no caso mencionado
trata-se da conhecida Audiência de Conciliação, hoje ministrada nos Juizados Especiais
Cíveis do Espírito Santo por Estagiários Conciliadores.
Note que, apesar de já conhecido a atribuição dos Juízes leigos em presidir audiências de
instrução e julgamento, a sessão que define o procedimento (Sessão IX da Lei 9.099/95
artigos de 27 a 29) não vislumbra o Juiz leigo. Vejamos: art. 27 – Não instituído o juízo
arbitral, proceder-se-á imediatamente à audiência de instrução e julgamento, desde que não
resulte prejuízo para a defesa.
Na realidade, o referido artigo deixa a entender que sendo a Conciliação com resultado inócuo deixará
o processo de se estar na esfera do conciliador ou do Juiz leigo. Do primeiro de fato estará, contudo as
normas institucionais dos Tribunais de Justiça que utilizam da figura do Juiz leigo é unanime ao fato
destes atuarem após a Conciliação.
Mesmo ficando com essa omissão nesta Seção do corpo do texto legal, o legislador na Seção
pertinente a Sentença (Seção XII), em seu artigo 40, vislumbrou o anteriormente omissa
função citada:
Art. 40 – O Juiz Leigo que tiver dirigido a instrução proferirá sua decisão e imediatamente a submeterá ao Juiz togado, que poderá homologá-la, proferir outra em substituição ou, antes de se manifestar, determinar a realização de atos probatórios indispensáveis.36
3.4 Da Lei Nº 12.153/09 (Estatuto dos Juizados da Fazenda Pública) e da Necessidade de
Mudança do artigo 7º da Lei 9.099/95.
Apesar do artigo 7º da Lei 9.099/95 dispor que serão escolhidos os Juízes leigos entre os
advogados com cinco anos de experiência, temos a Lei 12.153 de 22 de dezembro de 2009,
que dispõe dos Juizados Especiais da Fazenda Pública em seu artigo 15 e parágrafos que
descrevem:
Serão designados, na forma da legislação dos Estados e do Distrito Federal, conciliadores e Juízes leigos dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, observadas
36BRASIL, op cit, 2010c. Acesso em 17 de novembro de 2010.
43
as atribuições previstas nos arts. 22, 37 e 40 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995. § 1o Os conciliadores e Juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em Direito, e os segundos, entre advogados com mais de 2 (dois) anos de experiência. (Grifo nosso) § 2o Os Juízes leigos ficarão impedidos de exercer a advocacia perante todos os Juizados Especiais da Fazenda Pública instalados em território nacional, enquanto no desempenho de suas funções.37
Note que a Lei acima exposta também é federal e posterior a Lei 9.099/95, do qual
regulamenta os procedimentos adotados nos Juizados Especiais da Fazenda Pública.
Cabe ainda mencionar a Emenda Constitucional nº45 de 2004 que passou a exigir mínimo de
(03) três anos de experiência em atividade jurídica para ingressar na carreira de Juiz
substituto, fatos estes que o CNJ através do provimento nº 7 de 2010 levou à conclusão que o
artigo 7º da Lei 9.099/95 está revogado compulsoriamente no tocante a exigência de 05
(cinco) anos de experiência para concorrer a vaga de Juiz Leigo.
Enfim, os Tribunais Estaduais estão oficialmente autorizados a admitir Juízes leigos com 02
(dois) anos de experiência como advogados, assim como fez Paraná e Bahia. O estado de
Mato Grosso38 continua requisitando os 05 (cinco) anos de experiência, enquanto Rio de
Janeiro39 e Espírito Santo40 requerem que o candidato seja aluno ou ex-aluno de sua Escola da
Magistratura. Art. 1º (Resolução 002/2011 TJ/ES) A Escola da Magistratura do Estado do Espírito Santo – EMES organizará processo seletivo interno de provas e títulos para a designação de Juízes leigos, dentre os seus ex-alunos que tenham concluído com aproveitamento o Curso de Especialização e Preparatório à Carreira de Magistratura e preencham os demais requisitos desta Resolução, sem prejuízo de outras modalidades de seleção, instituídas pela Presidência do Tribunal de Justiça. §1º - O aluno que esteja matriculado e freqüentando regularmente o Curso de Especialização e Preparatório à Carreira da Magistratura, estará automaticamente habilitado a atuar como Juiz Leigo, desde que tenha sido submetido a processo seletivo de provas e títulos, para ingresso no curso, e preencha os demais requisitos desta Resolução.
37BRASIL, op cit, 2010d. Acesso em 07 de março de 2011. 38 MATO GROSSO, Sítio do Poder Judiciário de. http://www.tjmt.jus.br/cgj/Pagina.aspx?IDConteudo=3261.
Acesso em 07/02/2011. 39RIO DE JANEIRO, Sítio da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Lei 4.578, de 12 de julho de 2005. Dispõe sobre os Conciliadores e os Juízes Leigos no âmbito do Poder Judiciário do Estado Do Rio de Janeiro. http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/0/4cda9ef28ef86c7483257043006787e0?OpenDocument>Acesso em 07 de março de 2011. 40 ESPÍRITO SANTO, Sítio do Poder Judiciário do. Resolução 002/2011 do Tribunal de Justiça do Espírito
Santo, de 24 de janeiro de 2011. <http://diario.tj.es.gov.br/2011/20110124.pdf> Pg.04. Acesso em 26/03/2011.
44
Por ora cabe salientar que somos contrários a posição dos Estados do Rio de Janeiro e Espírito
Santo em limitar o processo seletivo ao cargo de Juiz Leigo aos alunos ou ex-alunos da Escola
da Magistratura, por razões expostas no capítulo seguinte desta pesquisa.
3.5 Da compatibilidade com o exercício da Advocacia
As leis que dispuseram sobre a atuação dos Juízes Leigos (Leis 9.099/95 e 12.453/10) bem
como as leis estaduais proibiram que estes atuem perante os Juizados Especiais. A resolução
do Tribunal de Justiça do Espírito Santo foi mais longe, proibiu também ter vínculo com
Escritório de Advocacia que atua perante os Juizados: art. 20 da Resolução 0022011 TJES –
O Juiz Leigo estará impedido de exercer a advocacia e de manter vínculo com escritório de
advocacia que atue perante os Juizados Especiais, enquanto durar sua designação.
Em primeiro plano parece ser razoável tal proibição, mas na verdade trata-se de um excesso
de vigilância, por parte do Judiciário, impedir que os Juízes Leigos continuem exercendo o jus
postulandi que lhe foi conferido por estar atuando em um dos Juizados.
Primeiramente, insta ressaltar que as citadas leis federais convencionaram que o requisito
primário para o cargo é ser advogado com experiência na advocacia, sendo que se o candidato
atua como advogado dificilmente não terá processos perante os Juizados Especiais. Logo, ao
assumir o cargo de Juiz Leigo, o sujeito terá que abdicar de seus clientes, ou pior, de seu
emprego ou sociedade em Escritório que já se encontrava, por um emprego que não lhe dará
vínculo empregatício, é temporário e por tempo limitado.
Será conveniente, entretanto, a proibição do Juiz Leigo ficar impedido de trabalhar em
processos em que ele próprio irá conduzir em seu Juizado, por óbvio. Contudo não há
problemas de advogar nos demais, pois o mesmo estará à mesa em seu devido lugar. Para
tanto as ditas leis preveniram, que todas as sentenças projetadas deverão ser homologadas
pelo Juiz togado, ou seja, a responsabilidade da decisão final é do Juiz, que poderá modificá-
la e até mesmo revisar todos procedimentos realizados.
Para Câmara, o texto legal deixa algumas dúvidas:
45
Não se pode deixar que o Juiz leigo que seja advogado ficar impedido de exercer a advocacia perante o mesmo Juizado Especial Cível em que atua (art. 7º, parágrafo único, da Lei nº 9.099/95), mas não perante outros Juizados Especiais Cíveis, como o texto da lei dá a entender41.
Não é conveniente então que coloquem como requisito ser advogado com anos de experiência
se após assumir o cargo praticamente o obriguem a abandonar a advocacia, ademais o salário
percebido é de monta a ficar claro que serve de complementação financeira. Exatamente por
isso que entendemos que o Juiz leigo nem mesmo necessita ser um advogado experiente para
exercer o cargo.
Mesmo não sendo Juiz togado, os leigos estarão obrigados aos mesmos princípios que estes
estão sujeitos, sobretudo quanto a imparcialidade, que é pressuposto essencial de toda
atividade jurisdicional, ou seja, todos envolvidos nos procedimentos judiciais – estagiários,
assessores, escrivães, Juízes, etc – estão vinculados, sobretudo àqueles que possuem
atribuições decisivas como os Juízes leigos e togados.
Por esta razão, a qualquer suspeita de imparcialidade, a coordenação dos Juizados Especiais
poderá afastar o Juiz leigo de suas atribuições, e após mediante procedimento administrativo,
dispensá-lo, vide artigo 24 da Resolução 002/2010 do TJ/ES:
Artigo 23, VI – pelo descumprimento das normas legais e regimentais aplicáveis. Artigo 24 – Os casos previstos nos incisos III e VI serão apurados mediante regular procedimento administrativos. Parágrafo único: O Juiz da causa, apurando a inadequada atuação do Juiz Leigo, poderá afastá-lo motivadamente do feito, informando o fato ao Tribunal de Justiça para a instauração do respectivo procedimento administrativo. (Grifo nosso)
Neste sentido, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná com a Resolução 03/2010 do
Conselho de Supervisão dos Juizados Especiais, sai à frente dos demais em seu dispositivo
acerca dos deveres dos Juízes leigos: art. 50, inciso XII – não advogar perante a unidade do
Juizado Especial para qual foi designado, observando o impedimento previsto no §2º do art.
15 da Lei 12.153/2009.
41 CÂMARA, op cit, 20092. Pg. 53.
46
3.6 Das atribuições dos Juízes Leigos
Os Juízes leigos estão sujeitos aos deveres éticos dos magistrados, tendo em vista que a estes
são atribuídas atividades jurisdicional, mesmo tendo que remeter aos Juízes togados para
apreciação e homologação.
A Resolução nº 002/2010 do TJ/ES trás as seguintes atribuições aos Juízes leigos: Art. 17 [...] I – Dirigir audiências de conciliação, auxiliando na composição da controvérsia; II – Dirigir audiências de instrução e julgamento, podendo, inclusive, colher provas; III – Projetar decisões, em qualquer matéria de competência dos Juizados Especiais, a ser submetida ao Juiz Togado do Juizado no qual exerça suas funções, para homologação por sentença. §1º O Juiz Leigo intimará as partes, na Audiência de Instrução e Julgamento, para comparecerem em Cartório, para ciência da sentença, em data que não ultrapasse quinze (15) dias de sua realização. §2º Caberá ao Juiz Togado competente estabelecer quais os feitos serão conduzidos pelo Juiz Leigo, em conformidade com a disponibilidade horários que este informe previamente. §3º É atribuição do Juiz Leigo a digitação e impressão das atas de audiências por ele dirigidas. (Grifos nossos)
Aos Juízes leigos, novamente descrevendo, foi conferido a competência de dirigir audiências
de conciliação, bem como as de instrução de julgamento, anteriormente somente atribuído aos
Juízes togados. Sem dúvidas é um passo muito importante que o Judiciário deu para
aproximar-se da efetiva capacidade de julgar os processos em tempo hábil.
Em relação às decisões proferidas, o texto legal (art. 40 da Lei 9.099/95) diz que o Juiz leigo
remeta ao Juiz togado, o que consideramos equivocado. A lei federal diz que os projetos de
sentença devem ser levados a apreciação do Juiz togado para, se for o caso, homologá-la,
entretanto, as decisões interlocutórias e despachos não são necessários, porém, podem ser
revistos.
O segundo parágrafo do dispositivo legal assim como o inciso III “amarra” o Juiz leigo a
ponto de ceifar o maior propósito da criação desta figura no Judiciário, que é dar mais
celeridade aos processos, cujo resultado não seria diferente do que transladar a grande pilha
de processos esperando sentenças, para uma grande pilha de processos esperando decisões e
despachos, ao passo que os Juízes não terão tempo hábil para apreciá-las de pronto.
De fato, ao criar a figura do Juiz leigo, o escopo da Lei nº 9.099/95 foi o de descentralizar atos em que considera desnecessária a atuação direta do Juiz togado, permitindo assim a agilização do julgamento de causas simples. Noutras palavras, o
47
propósito da Lei é de desburocratizar e não de dispersar o poder decisório, especialmente quando se trata de valores fundamentais, como o direito à vida ou à liberdade.42
Ademais, é válido ressaltar que o Juiz leigo é quem terá contato direto com as partes, durante
audiência, proporcionando melhores condições para tomar decisões, do qual se pode fazer
menção aos princípios da oralidade e identidade física do Juiz.
3.7 Juízes Leigos e Tutelas de Urgência
Como já descrito, o objetivo de criar a figura do Juiz leigo ocorreu da necessidade de
descentralizar atos em que se considera desnecessária atuação direta do Juiz togado, em
causas mais simples. No tocante a antecipação de tutela, seria continuar a desburocratizar o
sistema processual e não banalizar o ato de decisão, especialmente quando se tratar de valores
fundamentais como o direito à vida ou à liberdade.
De acordo com o Código de Processo Civil Brasileiro:
Art. 273 - O Juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II- fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu.
Cabe destacar que houve uma celeuma acerca da antecipação de tutela em sede de Juizado
Especial, do qual a Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis do Espírito Santo, do qual
gerou o Enunciado Nº05 de 10/10/2008: “É Possível Julgamento Antecipado Da Lide Em
Sede De Juizado Especial.”43 (Enunciado nº 5 do 2º EMJEES).
42ALTEMANI, Renato Lisboa. Manual do Juiz Leigo no Juizado Especial Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. 2006. ALTEMANI, Renato Lisboa. Manual do Juiz Leigo no Juizado Especial Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. 2006. <http://www.tj.sc.gov.br/institucional/especial/coordjuzesp/modelos_relacionados/manual_Juiz_leigo.pdf> Acesso em 09 de março de 2011. 43ESPÍRITO SANTO, Sítio do Poder Judiciário de. Enunciados das Turmas Recursais.
http://www.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/conteudo.cfm?conteudo=5199. Acesso em 21/03/2011.
48
O Juiz, através de decisão interlocutória, irá decidir antecipadamente, ou seja, antes da
sentença, concedendo ou não ao autor que lhe assegure os efeitos que poderão ser concedidos
ao final do processo, porém, não se pode esperar até o seu fim sob alegação stricto sensu
conforme os incisos do dispositivo acima destacado.
O ‘julgamento antecipado da lide’ é, pois, o julgamento imediato do mérito, e tal assertiva se faz fundamental para que se possa descobrir seu alcance. Como já se disse, o julgamento antecipado do mérito será adequado nas hipóteses em que o prosseguimento do feito se revele desnecessário, o que se dá pelo fato de todos os elementos de que se precise pra a apreciação do objeto do processo já se encontrarem nos autos.44
Apesar de ser uma decisão provisória, do qual o Juiz que a proferiu não está vinculado ao
final do procedimento, terá efeito total ou parcial do julgamento de mérito, e ainda poderá ser
alvo de recurso de Agravo de Instrumento, como pode ser observado na decisão in verbis:
PODER JUDICIÁRIO / COMARCA DA CAPITAL JUÍZO DE DIREITO DA JUIZADO ESPECIAL CÍVEL JUIZ(A) DE DIREITO ANTONIO AUGUSTO BAGGIO [...]. Processo 023.03.373295-0 - Ressarcimento de Danos causados em Acidente de Veículos / Juizado Especial Cível [...] José Fenelon Bôavista Pedra Júnior Juiz Leigo HOMOLOGAÇÃO: Sobre a competência do Juiz leigo no âmbito dos Juizados Especiais Cíveis, colhe-se da jurisprudência das Turmas de Recursos de Santa Catarina: “AÇÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO POR VÍCIO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE SENTENÇA PROFERIDA POR JUIZ LEIGO, HOMOLOGADA POR JUIZ TOGADO ALEGADA NULIDADE DA SENTENÇA POR VIOLAÇÃO AO ART. 40 DA LEI N.º 9.099/95 INOCORRÊNCIA. A interpretação literal do disposto no art. 40 da Lei n.º 9.099/95 poderia conduzir à falsa idéia de que a competência do Juiz leigo limita-se a proferir sentença tão-somente nos processos em que tenha presidido à audiência de instrução e julgamento. Ocorre que dirigir a instrução significa não apenas acompanhar a colheita da prova oral, mas também a produção da prova documental, pelo que se tem por competente o Juiz leigo para sentenciar processos onde não tenha havido audiência de instrução e julgamento” (Sétima Turma de Recursos. Recurso Inominado nº 2007.700806-6, de Balneário Camboriú. Relator: Juiz José Carlos Bernardes dos Santos. Julgado em 15-09-2008). Assim, para os fins do artigo 40 da Lei 9.099/95, HOMOLOGO a decisão proferida nos autos nº 023.03.373295-0, em seus precisos termos, para que surta seus jurídicos e legais efeitos. Procedam-se as anotações de praxe. P. R. I. [...] (grifos nosso)
Por esta razão – das tutelas de urgências estarem aplicando o efeito da sentença – entendemos
que a função do Juiz leigo é desburocratizar o sistema jurídico, mas concordamos que quanto
a decisão antecipada da lide, deve o Juiz leigo submeter a apreciação do Juiz togado o seu
projeto de decisão, como ocorre com a sentença, mesmo sendo uma decisão.
44 CÂMARA, op cit, 2009. Pg. 343.
49
Portanto deixar a cargo do Juiz togado decidir nas tutelas de urgência, por questão de
segurança jurídica, não é interessante, como entende a doutrina majoritária.
4 RESOLUÇÃO 002/2011 DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESPÍRITO
SANTO: ASPECTOS POLÊMICOS.
No dia 24 de janeiro de 2011 o Tribunal de Justiça do Espírito Santo publicou resolução que
regulamenta a figura do Juiz leigo nos Juizados Especiais Cíveis do estado. Anteriormente o
assunto não havia entrado em pauta em nenhum veículo informativo e pouco foi debatido em
salas de aulas entre professores e acadêmicos. Muitos desconhecem a função, bem como não
sabem que é previsto na Constituição da República de 1988.
Apesar da ótima notícia, tecemos algumas críticas acerca desta Resolução, que passamos a
expor neste trabalho.
4.1 Da necessidade estar cursando ou ter cursado a Escola Superior da Magistratura do
Espírito Santo
A Constituição da República de 1988 criou a figura do Juiz leigo, mas não disciplina a forma
de como irá proceder quanto a contratação, responsabilidades e etc. Já a Lei 9.099/95,
disciplina acerca destes juízes, como, por exemplo, no artigo 7º que descreve que o requisito
para concorrer a vaga é ter 05 (cinco) anos de experiência como advogado.
Anteriormente debatemos este assunto, e concordamos que não é razoável a exigência de 05
anos para a investidura no cargo, e de certo, como fora estabelecido na Lei 12.153/09, em seu
artigo 15º, parágrafo 1o, do qual indica expressamente que o candidato a Juiz leigo deve ser de
02 (dois) anos de experiência.
O TJ/ES definiu na resoluçãosupra citada, que os candidatos deverão ser alunos ou ex-alunos
da Escola Superior da Magistratura do Estado do Espírito Santo, in verbis:
Art. 1º. A Escola da Magistratura do Estado do Espírito Santo – EMES organizará processo seletivo interno de provas e títulos para a designação de juízes leigos, dentre os seus ex-alunos que tenham concluído com aproveitamento o Curso de
50
Especialização e Preparatório à Carreira da Magistratura e preencham os demais requisitos desta Resolução, sem prejuízo de outras modalidades de seleção, instituídas pela Presidência do Tribunal da Justiça.45 (Grifos nossos)
A Escola da Magistratura oferece cursos de especialização para profissionais da área de
Direito, do qual além de ter que prestar prova, os alunos deverão pagar mensalidade.
Fazer restrição aos alunos e ex-alunos da EMES a concorrer a vaga de Juiz leigo através de
um concurso interno é inconstitucional e viola os princípios da isonomia, moralidade,
impessoalidade e razoabilidade. Forçoso acrescentar que as resoluções emanadas do Tribunal
de Justiça têm força de Lei.
Aos Juízes leigos, certamente, foram equiparados os deveres funcionais, bem como
impedimentos e conduta dos magistrados, pois são conferidos a estes a função estatal de
jurisdição, logo a sua escolha também deveria proceder da mesma forma, ou seja, através de
concurso público com igualdade entre os candidatos, com publicidade dos atos, e fiscalização
da Ordem dos Advogados do Brasil e do Ministério Público, mesmo que o cargo seja
transitório.
Além disso, não há justificativa plausível para que ocorra desta forma a escolha dos Juízes
leigos. Frequentar o curso preparatório para carreira da magistratura não significa dizer que
somente estes estão aptos a desempenhar a função, alias, se esta for a justificativa, então os
alunos e ex-alunos da EMES deverão provar tal habilidade durante o concurso.
Quanto aos princípios violados, podemos citar o dispositivo:
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: I - os cargos, empregos e funções públicas são acessíveis aos brasileiros que preencham os requisitos estabelecidos em lei, assim como aos estrangeiros, na forma da lei; II - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração; (Grifos nossos)
45ESPÍRITO SANTO, Sítio do Poder Judiciário do. Resolução 002/2011 do Tribunal de Justiça do Espírito
Santo, de 24 de janeiro de 2011. <http://diario.tj.es.gov.br/2011/20110124.pdf> Pg.04. Acesso em 26/03/2011.
51
Observe que no texto constitucional exposto é muito claro ao descrever que os cargos,
empregos ou funções públicas depende de aprovação em concurso, pois todos os brasileiros
que preencham as requisitos que são estabelecidos pela lei, têm o direito de concorrer à vaga.
Sendo assim, entendemos que o processo desta forma resulta em injustiça, aos advogados
com mais de 02 anos de experiência, que se interessam na vaga de Juiz leigo.
Neste mesmo sentido, a Ordem dos Advogados do Brasil Seção do Estado do Rio de Janeiro
impetrou a Representação por Inconstitucionalidade de nº 2005.007.00219 atacando a Lei
4.578/2005 do Estado do Rio de Janeiro, que dispõe sobre os Conciliadores e os Juízes Leigos
no Âmbito do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. No Tribunal de Justiça o
Desembargador Marcos Faver proferiu o seguinte voto (vencido):
Como se sabe, a constituição estadual, em norma de reprodução obrigatória da Constituição Federal, estabelece a necessidade de concurso público para quaisquer ‘cargos, empregos ou funções’ públicas (art. 77, incisos I e II da CERJ, em observância ao art. 37, incisos I e II da CF).
Os dispositivos apontados possuem razão história de alto componente ético, no sentido de vetar, por completo, a investidura em qualquer atividade pública sem aprovação em concurso público. Em outras palavras, a Administração Pública, qualquer que seja a atividade a ser preenchida, deve respeitar a obrigatoriedade do certame público, revelando e refletindo a imposição constitucional, além dos inafastáveis princípios da isonomia e moralidade pública [...].
Os juízes leigos percebem remuneração; têm restrições profissionais; são obrigados a carga horária, produtividade, etc. e, com todas as vênias o ‘concurso’ realizado pela EMERJ não supre a exigência constitucional, ainda mais quando estabelece uma espécie de ‘reserva de mercado’, só permitindo o exercício por seus alunos [...].46
Note que o ilustríssimo desembargador lembra que a norma constitucional é de necessidade
obrigatória. O legislador constituinte quis assegurarcom este dispositivo que a ética ficasse em
primeiro lugar, bem como se apoiar nos princípios da isonomia e da moralidade pública. E
continua o nobre julgador:
Reitere-se que não há de se alegar que a atividade do juiz leigo é ‘função pública transitória e precária’ razão pela qual não haveria necessidade para o seu preenchimento. Como se observa dos dispositivos constitucionais supracitados, não há qualquer distinção efetuada pelos constituintes que possa autorizar tal raciocínio. O princípio da obrigatoriedade de concurso público, por se tratar de imposição de isonomia, não deve ser interpretado de forma restritiva, sob pena de restar caracterizada a infração aos princípios constitucionais.
A isonomia e a obrigatoriedade de concurso público são normas constitucionais, na feliz distinção de José Afonso da Silva, de eficácia plena. Ou seja, sua efetividade
46RIO DE JANEIRO, Sítio do Poder Judiciário do. Consulta Processual Ação Direta de Inconstitucionalidade
Processo No: 0032597-47.2005.8.19.0000. http://www.tjrj.jus.br. Acesso em 15/04/2011.
52
nasce na forma máxima a partir do momento de vigência da Constituição. Daí a impossibilidade do art. 3º da lei estadual nº 4.578/2005 em limitá-lo apenas aos alunos da EMERJ. Note-se que a regra constitucional é intransigente em relação à imposição à efetividade do princípio do concurso público, como regra, a todas as admissões da Administração Pública.
Ocorre, portanto, a nosso sentir, violação ao art. 77, incisos II e III da Constituição estadual, bem como aos princípios constitucionais da isonomia, impessoalidade, igualdade e legalidade”. 47
A função de Juiz leigo, embora não criar vinculo empregatício, é remunerada, sem caráter de
comissão, conta como título e tempo de experiência profissional para quem deseja realizar
concursos públicos.
Ademais, não é razoável que as vagas para a função de Juiz leigo seja ocupada somente por
aluno e ex-alunos da EMES, pois senão às vagas para magistratura também deveriamproceder
com o mesmo requisito.
É flagrante a intenção paliativa do Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo em aderir
este procedimento, provavelmente para melhorar os índices da EMES, diante da grande
concorrência de cursos na área de Direito.
4.2 Da impossibilidade da Advocacia pelos Juízes Leigos nos Juizados Especiais.
A Resolução ainda define em seu artigo 20 que: O Juiz Leigo estará impedido de exercer a
advocacia que atue perante os Juizados Especiais, enquanto durar sua designação.
De todos os argumentos das Leis Federais, Leis Estaduais e Resoluções de Tribunais que trata
do assunto, há um denominador comum, no tocante que a submissãodo projeto de sentença ao
Juiz togado para que assim, concordando, homologue-o. Todos doutrinadores e profissionais
do ramo concordam com tal procedimento fiscalizatório pelo magistrado.
Desta forma, não há motivos aparentes que fundamenta a proibição dos Juízes leigos atuarem
como advogados em Juizados Especiais Cíveis do qual ele não exerce sua função.
Esta conclusão se deu porque, em primeiro lugar, o Juiz leigo enquanto advogado, em Juizado
diverso àquele que trabalha, não terá acesso aos autos, visto que seu certificado de usuário e
senha do sistema eletrônico não lhe permite privilégios em local diverso onde atua, haja vista
47Ibidem.
53
é o que acontece em relação aos juízes togados e servidores atualmente, e em segundo lugar
estarão sob crivo do juiz togado.
Não sabemos por qual motivo o Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo resolveu
inserir esta regra desta forma, já que o Fórum Nacional dos Juizados Especiais (FONAJE)
definiu em seu Enunciado de nº 40 a seguinte redação: “O conciliador ou juiz leigo não está
incompatibilizado nem impedido de exercer a advocacia, exceto perante o próprio Juizado
Especial em que atue ou se pertencer aos quadros do Poder Judiciário”.
Enquanto o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, em sua Resolução Nº7 de 28 de julho de
2010 proclamou:
Art. 1º, §2º: Os candidatos designados, quando bacharéis em direito, ficarão impedidos de exercer a advocacia perante os Juizados Especiais instalados na comarca em que desempenham suas funções, sob pena de revogação da nomeação e comunicação à Ordem dos Advogados do Brasil.48
A questão foi levada ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, que decidiu
por maioria que o advogado com cargo de Juiz leigo ficaria impedido de exercer suas
prerrogativas de profissão no Juizado onde na área em que atua. Assim, deixa a entender que,
para a OAB, os advogados com função de Juiz leigo não podem advogar na Comarca onde
atua como Juiz leigo.
A justificativa para esta decisão foi sob fundamento de que a função de Juiz leigo são
privativas de advogados, logo, não se pode privar que estes advoguem em comarcas diferentes
àquelas que atuam como Juiz leigo, e não gera incompatibilidade com o Estatuto da Ordem
dos Advogados do Brasil. Enquanto os conciliadores, por não ser cargo privativo de
advogados, não gera nenhum problema neste contexto.
Sob tais argumentos, a decisão do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, foi
pronunciada nos seguintes termos:
Juiz leigo de Juizado Especial. Função privativa de advogado com mais de cinco anos de experiência forense. Impedimento. Inteligência do art. 7º, parágrafo único, da Lei 9.099/95 e do art. 8º do Regulamento Geral EOAB. O exercício, sem caráter
48BAHIA, Sítio do Tribunal do Estado da. Resolução 7/2010, de 28 de julho de 2010. Regulamenta o Processo Seletivo, a atividade e remuneração de Conciliadores e Juízes Leigos dos Juizados Especiais, no âmbito do Poder Judiciário do Estado da Bahia e dá outras providências. <http://www.tj.ba.gov.br/secao/noticiares.wsp?tmp.id=5116&tmp.ano=2010> Acesso em 17 de abril de 2011.
54
permanente, de funções de juiz leigo em Juizado Especial, por serem privativas de advogado, não gera a incompatibilidade prevista no art. 28, IV, do EOAB, mas apenas, impedimento para exercer a advocacia na área daqueles juizados. Conciliador de Juizado Especial. Por não se tratar de função privativa de advogado, mas que deve ser cometida, preferencialmente, a bacharel em direito, implica incompatibilidade e não apenas impedimento. Revisão da decisão proferida na proposição nº 4062/95. Recomendação para que a OAB promova gestões junto ao Congresso Nacional para revogação da privatividade de provimento por advogado da função de juiz leigo, dando-se nova redação ao art. 7º, com revogação do seu parágrafo único, da Lei nº 9.099/95. Decisão por maioria.49 (Grifo nosso)
Diante todo exposto fica claro que impedir os juízes leigos de exercer a advocacia perante os
Juizados Especiais é uma atitude drástica e contra a função social do cargo criado, pois, não
se deve esquecer que, antes de serem Juízes leigos, estes profissionais são advogados de
carreira, ou seja, a advocacia é a sua profissão primária.
Como visto, os Tribunais preferiram aderir a idéia de o juiz leigo fica impedido de exercer a
advocacia na comarca que atua, contudo, acreditamos que a decisão do FONAJE foi mais
feliz em desmitificar de uma vez todo este processo.
4.3 Possibilidade de utilizar Juízes Leigos como Conciliadores
Na Comarca da Capital, no âmbito do Poder Judiciário do Espírito Santo, os conciliadores são
estagiários do Curso de Direito que foram aprovados no processo seletivo para comporem o
cargo, substituindo pelos Conciliadores que eram escolhidos pelo Presidente do Tribunal
como cargos comissionados.
Em alguns Juizados e nas comarcas do interior acreditamos que os juízes leigos poderão
exercer a função de conciliador, além da sua função de juiz leigo. Desta forma eles
poderãoacompanhar o procedimento desde o começo.
Na Resolução do Tribunal capixaba não trouxe nenhum impedimento para que isso não ocorra. Apenas no art. 2º que verba: É vedado o exercício da função de Juiz Leigo por serventuários do Poder Judiciário do Espírito Santo.50 Os Conciliadores acadêmicos são renumerados. Nosso pensamento é que se caso o Juiz leigo
optasse por também exercer o cargo de Conciliador, o faria de modo voluntário, com fulcro ao
49 OAB, Conselho Federal. Juiz leigo de Juizado Especial. Função privativa de advogado. Impedimento.
http://www.oab.org.br/msEmentario.asp?idt=747. Acesso em 117/04/2011 50 ESPÍRITO SANTO, op cit, 2011b, p.4
55
artigo 12, parágrafo único, da mesma Resolução, que pondera que o valor de renumeração
destes juízes não pode, em qualquer hipótese, ultrapassar R$ 2.000,00 (dois mil reais).
Desta forma, o juiz leigo com acumulo de cargo, obteria ao final, certificado que poderá ser
usado em provas de títulos em concursos públicos.
Assim, a sociedade ganharia em qualidade no serviço de conciliação e na economia dos gastos
públicos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os Juizados Especiais Cíveis, foram criados especialmente para diminuir a vida útil do
processo, a burocracia e atender àqueles que não têm condições de arcar com as custas da
justiça comum, sob o crivo dos princípios fundamentais da oralidade, simplicidade
(informalidade), economia processual e da celeridade.
A procura pelo poder jurisdicional através dos Juizados ficoubanalizada, e de uma certa
maneira diminuiu sua eficácia, pois a demora para se chegar a uma sentença final, torna a
mesma inócua.
A Constituição da República, em seu artigo 98, previu uma das possíveis soluções para
melhorar o sistema jurisdicional em sede de Juizado, que é a figura do Juiz leigo. O legislador
constitucional visualizou que os processos levados a esta instância seriam mais simples, sem a
necessidade de ser menos burocrático do que na justiça comum, podendo então ser conduzido
por um profissional habilitado, mas sem a necessidade de ser um magistrado.
Na realidade a Constituição apenas cita os Juízes leigos como um auxiliar da justiça, ficando
omissa quanto a sua função, deveres, requisitos ao cargo e etc. Assim, cada Estado da
Federação está legislando de maneira desuniforme.
A título de exemplo a Lei 9.099/95 diz que o Juiz leigo deverá ter 05 (cinco) anos de
experiência, enquanto a Lei 12.453/10 fala em 02 (anos), e nenhuma delas prevê qual é o
procedimento em caso de medidas antecipatórias. Logo vemos a necessidade de uma Lei
56
Federal regulando a matéria,depois de um estudo mais preciso, uniformizando a atuação,
ingresso, deveres e requisitos destes serventuários, mesmo que sejam temporários.
É sabido que, durante muito tempo, o cargo de Juiz leigo ficou ignorado, mas com o passar do
tempo e devido a necessidade de ampliar o serviço, Estados como Rio Grande do Sul, Paraná,
Santa Catarina, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e recentemente Bahia e Espírito Santo –
ainda em processo de seleção - passaram a contar com mais este auxiliar da justiça.
No Tribunal de Justiça do Espírito Santo o processo é novidade. Poucos profissionais do ramo
no Estado conhecem a novidade e ainda não há uma lei específica, apenas há resolução do
próprio TJ acerca do assunto, contudo não parece que ainda chegaram a uma norma concreta.
Em a janeiro de 2011 o TJ/ES publicou a Resolução 002/2011 definindo todas as atribuições,
responsabilidades, ingresso, requisitos e deveres dos Juízes leigos, alvo desta pesquisa.
Contudo, no final de abril do corrente ano, o Tribunal revogou esta resolução, e publicou a
Resolução 17/2011 de uma maneira um tanto quanto confusa. Insta mencionar que a
Resolução 002/2011 foi retirada do Portal do Judiciário do Espírito Santo.
Nesta última Resolução, o TJ resolveu que o ingresso para o cargo de Juiz leigo será por
processo seletivo e provas de títulos, não havendo mais obrigatoriedade do candidato ser
aluno ou ex-aluno da Escola da Magistratura do Estado do Espírito Santo. Devendo o
candidato aprovado submeter-se a capacitação prévia e continuada ministrada pela EMES,
independente se o mesmo já ter concluído o curso. Resta saber se ao candidato ficará o ônus
das mensalidades do curso.
Ademais, continuam com a proibição ao Juiz leigo de exercer advocacia em qualquer Juizado
Especial, e desta vez – na Resolução 17/2011, não se pode advogar em qualquer Juizado do
território nacional. Iniciativa desnecessária, haja vista que os Juízes não conseguem manipular
processos em juizados que não seja de sua designação e toda sentença construída por estes
estão sob o crivo dos Juízes togados. Entretanto, é saudável proibir que o Juiz leigo não possa
advogar perante o Juizado que atua, assim como é feito, por exemplo, no Estado da Bahia e
do Paraná.
Apesar das críticas tecidas ao modelo capixaba nesta pesquisa, acredito que, com o passar do
tempo, somado às experiências que serão adquiridas, os Juizados Especiais Cíveis do Espírito
Santo irão evoluir muito mais com esta desburocratização do poder jurisdicional, e quem irá
ser beneficiado é a sociedade capixaba.
57
O Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo e a Coordenação dos Juizados Especiais
estão de parabéns pela iniciativa. Quando esta pesquisa iniciou tinha como objetivo propor a
utilização dos Juízes leigos no Estado, meses depois passou a examinar o modelo que iniciara,
que muito em breve será realidade.
58
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTEMANI, Renato Lisboa. Manual do Juiz Leigo no Juizado Especial Cível do
Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. 2006.
<http://www.tj.sc.gov.br/institucional/especial/coordjuzesp/modelos_relacionados/manual_Jui
z_leigo.pdf>Acesso em 09/03/2011
ALVIM, J. E. Carreira. Juizados especiais cíveis estaduais. 2.ed. Curitiba: Juruá, 2004.
BAHIA, Sítio do Tribunal do Estado da. Resolução 7/2010, de 28 de julho de 2010.
Regulamenta o Processo Seletivo, a atividade e remuneração de Conciliadores e Juízes
Leigos dos Juizados Especiais, no âmbito do Poder Judiciário do Estado da Bahia e dá
outras
providências.<http://www.tj.ba.gov.br/secao/noticiares.wsp?tmp.id=5116&tmp.ano=2010>
Acesso em 17 de abril de 2011.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm>. Acesso em
17/02/2011a.
______. Lei 5.869, de 11 de janeiro de 1973: Institui o Código de Processo Civil.
<http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L5869.htm> Acesso em 17/02/2011b
______. Lei 9.099, de 26 de setembro de 1995: Dispõe sobre os Juizados Especiais Cíveis e
Criminais e dá outras providências. <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L9099.htm>
Acesso em 17/02/2011c.
______. Lei 12.153, de 22 de dezembro de 2009. Dispõe sobre os Juizados Especiais da
Fazenda Pública no âmbito dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos
Municípios.<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12153.htm>
Acesso em: 07 de março de 2011d.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Civil. 19a Edição. Rio de Janeiro: Lumen
Jures, 2009.
CÂMARA, Alexandre Freitas. Juizados Especiais Cíveis Estaduais e Federais Uma
Abordagem Crítica. 5ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009b.
59
CARPENA,Márcio Louzada. Os poderes do Juiz no common Law.Revista de Processo
Civil, REPRO Vol. 180, Ano 2010.
ESPÍRITO SANTO, Sítio do Poder Judiciário de. Enunciados das Turmas
Recursais.<http://www.tj.es.gov.br/cfmx/portal/Novo/conteudo.cfm?conteudo=5199>
Acesso em 21/03/2011a.
______. Sítio do Poder Judiciário do. Resolução 002/2011 do Tribunal de Justiça do
Espírito Santo, de 24 de janeiro de 2011. <http://diario.tj.es.gov.br/2011/20110124.pdf>
Pg.04. Acesso em 26/03/2011b.
HERTEL, Daniel Roberto. Curso de Execução Civil. Rio de Janeiro: Lumen Jures, 2008.
Letteriello, Des. Rêmolo. O Juiz Leigo e os Juizados Especiais.
<http://www.tjms.jus.br/juizados/doutrina/DTR_20050607181228.pdf>
MATO GROSSO, Sítio do Poder Judiciário de.
<http://www.tjmt.jus.br/cgj/Pagina.aspx?IDConteudo=3261>. Acesso em 07 de fevereiro de
2011.
MICHAELIS: Moderno Dicionário Da Língua Portuguesa. Companhia Melhoramentos.
http://michaelis.uol.com.br/. Acesso em 10/02/2011.
OBERG, Eduardo. Juizados Especiais e a Lei 9.099/95. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris,
2009.
PEREIRA, Dagolberto Calazans Araújo. Arbitragem: Uma Alternativa na Solução de
Litígios.<http://www.advogado.adv.br/estudantesdireito/candidomendes/dagolbertocalazansar
aujopereira/arbitragem.htm> Acesso em 04 de fevereiro de 2011.
RIO DE JANEIRO, Sítio da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Lei 4.578,
de 12 de julho de 2005. Dispõe sobre os Conciliadores e os Juízes Leigos no âmbito do
Poder Judiciário do Estado Do Rio De
Janeiro.<http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/CONTLEI.NSF/0/4cda9ef28ef86c7483257043006787e
0?OpenDocument>Acesso em 07 de março de 2011e.
______. Sítio do Poder Judiciário do. Consulta Processual Ação Direta de
Inconstitucionalidade Processo No: 0032597-47.2005.8.19.0000.
<http://www.tjrj.jus.br>Acesso em 15 de abril de 2011.
60
ROCHA, Felippe Borring. Juizados Especiais Cíveis Aspectos Polêmicos da Lei nº 9.099,
de 26/9/1995. 5ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2009,
Recommended