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Aquela máxima de estar no lugar certo na hora certa definitivamente não se aplica a Victoria Jones. A jovem datilógrafa inglesa estava no lugar errado na hora errada: em Bagdá, no início da Guerra Fria, quando uma cúpula que reuniria o presidente dos Estados Unidos e o líder da União Soviética estava prestes a acontecer. A este explosivo cenário se soma o rumor de que alguém estaria se preparando para acabar com qualquer tentativa de paz. Aventura em Bagdá é um verdadeiro thriller de suspense ambientado num país que a autora conhecia como ninguém, o Iraque dos anos 50. A experiência adquirida ao acompanhar o marido arqueólogo em diversas escavações na região imprimiu uma cor local à história da aventureira Victoria que, indo atrás de uma paixão fulminante, acaba no centro de uma trepidante intriga internacional
IO CAPITÃO CROSBIE saiu do banco com o ar de quem
tinhacobradoumchequeedescobertoquehaviaumpouquinhomaisemsuacontadoquepensara.
OCapitãoCrosbiefrequentementepareciacontenteconsigomesmo. Era essa espécie de homem. De aparência era baixo eatarracado, comum rosto extremamente vermelho e um bigodemilitar de escovinha.Empertigava-se umpouco ao andar. Suasroupaseramtalvezumpoucoberrantesdemaiseelegostavadeumaboahistória.Erapopularentreoutroshomens.Umhomemalegre, lugar-comum mas gentil, solteiro. Nada notável a seurespeito.HámontesdeCrosbiesnoLeste.
AruanaqualoCapitãoCrosbiesaiuerachamadaRuadosBancos, pela excelente razão de que a maioria dos bancos dacidade estava localizada nela. Dentro do banco estava fresco eescuro e bastante bolorento. O ruído predominante era degrandes quantidades de máquinas de escrever crepitando aofundo.
ForanaRuadosBancoshaviasolepoeiraredemoinhanteeosruídoseramterríficosevariados.Haviaopersistentebarulhode buzinas de automóvel, os gritos dos vendedores de diversasespéciesdemercadorias.Haviadisputasacirradasentrepequenosgrupos de pessoas que pareciam a ponto de matar-se uns aosoutros,masnarealidadeeramamigosíntimos;homens,meninose meninas estavam vendendo toda a sorte de árvores, doces,laranjasebananas,toalhasdebanho,pentes,lâminasdebarbeareoutrasmercadoriassortidas,carregadosrapidamentepelasruasem travessas. Havia tambémum ruído perpétuo e perenementerenovadodepigarrosaoseremlimposecusparadasesobretudoissootênuelamentomelancólicodehomensconduzindoasnosecavalos pela torrente de carros e pedestres, gritando: "Balek-Balek!"
EramonzehorasdamanhãnaCidadedeBagdá.OCapitãoCrosbieparouummeninoquepassavacorrendo
rapidamente com um molho de jornais debaixo do braço ecomprouum.DobrouaesquinadaRuadosBancosechegouaRashidStreet,queéaruaprincipaldeBagdá,queapercorrepor
cercadeseisquilômetros,paralelaaoRioTigre.OCapitãoCrosbieolhouasmanchetesdojornal,caminhou
unsduzentosmetroseemseguidadobrouparaumaaldeiazinhaque dava para um grande khan, ou pátio. Do outro lado domesmo, empurrou uma porta abrindo-a e encontrou-se numescritório.
Um empregado iraquiano bem arrumado deixou a suamáquina de escrever e veio ao seu encontro sorrindo as boas-vindas.
Bomdia,CapitãoCrosbie.Emquelhepossoserútil?OSr.Dakinestánasuasala?ótimo,voupassar.
Passouporumaporta,subiuumaescadadedegrausbeminclinadose seguiuporumapassagembastantesuja.Bateunaportaaofundoeumavozdisse:"Entre!"
Eraumasalaextremamentealtaevazia.Haviaumaestufaaóleocompirescomáguacolocadoemcima,umassentolongoalmofadadoeumapequeninamesadecafénasuafrenteeumaescrivaninhaesmolambada.Aluzelétricaestavaacesaealuzdodia cuidadosamente excluída. Atrás da escrivaninhaesmolambada estava sentadoumhomem tambémesmolambadode rosto cansado e indeciso - o rosto de alguém que não tinhaprogredidonomundo,sabedissoedeixoudepreocupar-secomisso.
Os dois homens, o alegre e autoconfiante Crosbie e omelancólicoefatigadoDakin,olharamumparaooutro.
Dakinfalou-Olá,Crosbie.AcabadechegardeKirkuk?O outro assentiu com a cabeça. Fechou a porta
cuidadosamente atrás de si. Era uma porta de aspectoesmolambado, mal pintada, mas tinha uma qualidadeinesperada;ajustava-sebem,semfrestasesemespaçoporbaixo.
Era,narealidade,àprovadesom.Com o fechar da porta as personalidades de ambos os
homens mudaram apenas perceptivelmente. O Capitão Crosbietornou-se menos agressivo e determinado. Os ombros do Sr.Dakin ficaram menos caídos e seus modos ficaram menoshesitantes.Sealguémtivesseestadonasalaouvindo,poderiaterficado surpreso ao constatar que Dakin era o homem comautoridade.
-Algumanovidade?-perguntouCrosbie.
- Sim. -Dakin suspirou.Diantedelehaviaumpapel quetinhaestadoadescodificar.Rabiscoumaisduasletrasedisse:
-TerálugaremBagdá.Em seguida riscou um fósforo, tocou fogo no papel e
observou-o queimar. Quando tinha sido reduzido a cinzas,soprousuavemente.Ascinzasergueram-seesedispersaram.
-Sim-comentou. -DecidiramqueseriaBagdá.Diavintedomêsquevem.Temosque"guardaromaiorsegredo".
-EstiveramcomentandoissonoSuq...durantequatrodias-disseCrosbiesecamente.
Ohomemaltosorriuseusorrisocansado.- Segredomáximo!Nãohá segredosmáximosnoOriente,
nãoémesmo,Crosbie?-Nãosenhor.Sequiseraminhaopinião,nãohásegredos
máximosemlugaralgum.DuranteaguerranoteifrequentementequeumbarbeirodeLondressabiamaisdoqueoAltoComando.
-Nãotemmuitaimportâncianestecaso.Seoencontrodeverealizar-se emBagdá, embreve terá que ser tornado público.Edepoisafarra...anossafarrinhaparticular...começa.
-Achaquevaicomeçar?-perguntouCrosbieceticamente.- O Grande Ditador acha (assim desrespeitosamente se
referia Crosbie ao chefe de uma grande potência europeia) epretenderealmentevir?
- Acho que desta vez sim, Crosbie - disse Dakinpensativamente.
-Achoquesim.Eseoencontroserealizar...serealizarsemqualquerembaraço...bem,podeserasalvaçãodetudo.Seapenasse pudesse chegar a qualquer espécie de entendimento... - einterrompeu-se.
Crosbieaindaparecialigeiramentecético.-Existe... desculpe-me, senhor... existe a possibilidade de
umentendimentodequalquerespécie?- No sentido que você quer dizer, Crosbie, provavelmente
não!Sefosseapenasoencontrodedoishomensquerepresentamideologias completamentediferentes, provavelmentea coisa todaterminaria como de costume... em suspeita e má compreensãoaumentadas. Mas há um terceiro elemento. Se aquela históriafantásticadeCarmichaeléverdadeira...
Interrompeu-sedenovo.
- Mas certamente, senhor, não pode ser verdadeira. Éfantásticademais!
O outro ficou em silêncio por alguns momentos. Estavavendo,bemvividamente,umrostosério,preocupado,escutandouma voz calma, indiferente, dizendo coisas fantásticas einacreditáveis. Estava dizendo a simesmo, como então o tinhafeito:
- Ou o meu melhor homem, o mais digno de confiança,ficoulouco,ouentãoessacoisaéverdadeira...
Disse,namesmavoztênueemelancólica:-Carmichaelacreditavanisso.Tudoqueele foracapazde
descobrir confirmava-lhe sua hipótese. Ele queria ir lá paradescobrirmais,trazerprovas...Sefoiacertadoeutê-lodeixadoir,eunãosei.Seelenãovoltaréapenasaminhahistóriadoqueelemecontou,queporsuavezéahistóriadoquealguémcontouaele.Issoébastante?Eunãopensoassim.É,comovocêdiz,umahistóriatãofantástica...MasseohomemmesmoestiveraquiemBagdá,nodiavinte,paracontarasuahistória,ahistóriadeumatestemunhaocular,eapresentarprovas...
-Provas?-perguntouCrosbieasperamente.Ooutroanuiu.-Sim,eletemprovas.-Comoéquesabe?.-Afórmulacombinada.Amensagemveioporintermédiode
SalahHassan-citoucuidadosamente:-UmcamelobrancocomumacargadeaveiaestávindoporsobreoPasso.
Fezumapausaecontinuou:-DemodoqueCarmichael,conseguiuoqueveioprocurar,
mas não consegue escapar sem suspeita. Estão na sua pista.Qualquerquesejaocaminhoqueeletomar,serávigiadoe,oqueémuitomaisperigoso,estarãoàesperadele...aqui.Primeironafronteira. E se ele conseguir passar pela fronteira, haverá umcordão estendido em volta das embaixadas e dos consulados.Olheparaisso.
Mexeu em alguns papéis sobre a sua escrivaninha ecomeçoualer:
-UminglêsviajandoemseucarrodaPérsiaparaoIraquemorto a tiros, supostamente por bandidos.Ummercador curdo
viajandocolinasabaixoemboscadoemorto.Outrocurdo,AbdulHassan,suspeitodeserumcontrabandistadecigarros,mortoatiros pela polícia. Corpo de um homem, posteriormenteidentificado como um motorista de caminhão armênio,encontradonaestradadeRowanduz.Todoseles,presteatenção,de aproximadamente a mesma descrição. Altura, peso, cabelo,corpo,correspondeaumadescriçãodeCarmichael.Nãoestãosearriscandoemnada.Estãodispostosapegá-lo.Umavezqueeleestiver no Iraque o perigo é ainda maior. Um jardineiro naEmbaixada, um empregado do Consulado, um funcionário noAeroporto,naAlfândega,naestaçãodaEstradadeFerro...todososhotéisvigiados...Umcordãobemapertado.
Crosbielevantouassobrancelhas.Achaqueétãoespalhadoassim?Não tenho a menor dúvida. Mesmo no nosso espetáculo
têm havido vazamentos. Como posso ter certeza de que asmedidas que estamos adotando para trazer CarmichaelseguramenteparaBagdánãosãoconhecidasjádooutrolado?Éumdosmovimentoselementaresdojogo,comosabe,teralguémnafolhadepagamentodocampooposto.
-Háalguémdequemsuspeita?LentamenteDakinmeneouacabeça.Crosbiesuspirou.-Enquantoisso-perguntou-nóscontinuamos?-Sim.-EcomreferênciaaCroftonLee?-ConcordouemvirparaBagdá.- Todo mundo está vindo para Bagdá - disse Crosbie.
MesmooGrandeDitador,deacordocomoquediz,senhor.MassealgoacontecesseaoPresidente-enquantoeleestiveraqui-ofogueteirásubir,comumestrondo.
- Nada deve acontecer - afirmouDakin. - Essa é a nossaparte.Providenciarparaquenadaaconteça.
QuandoCrosbietinha-seretirado,Dakindobrou-sesobreasuamesa.Estavamurmurando:
-ElesvieramparaBagdá...Traçou um círculo no mata-borrão e escreveu embaixo
Bagdá.-Emseguidafezpontinhosemvolta,esboçouumcamelo,um avião, um navio, um pequeno trem de chaminé bafejante,
todosconvergindosobreocírculo.Emseguidanocantodafolhadesenhou uma teia de aranha. No meio da teia escreveu umnome: Ana Scheele. Por baixo colocou um grande ponto deinterrogação.
Em seguida pegou seu chapéu e saiu do escritório. AopassarporRashidStreetumhomemperguntouaoutroquemeraele.
- Aquele? Oh, é Dakin. De uma das companhias depetróleo.Bomsujeito,masnãochegaalugarnenhum.Letárgicodemais.Dizemquebebe.Nuncachegaráasernada.Éprecisoterenergiaparachegaraseralgumacoisanestapartedomundo.
- Está com os relatórios sobre a propriedade Krugenhorf,Srta.Scheele?
-Sim,Sr.Morganthal.ASrta.Scheele, friaeeficiente,colocouospapéisà frente
doseuempregador.Estegrunhiuenquantolia.-Satisfatório,achoeu.-Eucertamentepensoassim,Sr.Morganthal.-Schwartzestáaqui?-Estáesperandonaantessala.-Mande-oentraragora.ASrta.Scheeleapertouumacampainha-umadasseisque
havia.-Aindaprecisademim,Sr.Morganthal?-Não,achoquenãoSrta.Scheele.AnaScheeleesgueirou-sesilenciosamenteparaforadasala.Erauma loura platinada,masnãouma loura glamorosa.
Seucabelopálidoalouradoestavarepuxadolisodasuatestaparaformarumroloordenadoemseupescoço.Seusolhosazul-pálido,inteligentes,olhavamomundopordetrásdelentesfortes.Orostotinha feições límpidas emiúdas,mas erabastante inexpressivo.Tinha subido na carreira não pelos seus encantos, mas porsimples eficiência. Era capaz de decorar qualquer coisa, nãoimportaquãocomplicada,ereproduzirnomes,datasehorassemconsultarapontamentos.Eracapazdeorganizaraequipedeumgrande escritório de tal forma que tudo funcionava como umamáquinabemazeitada.Eraadiscriçãoempessoaesuaenergia,emboracontroladaedisciplinada,nuncaesmorecia.
Otto Morganthal, chefe da firma nova-iorquina deMorganthal, Brow & Shipperke, banqueiros internacionais,estavabemconscientedofatodequedeviaasuaScheelemaisdoque simples dinheiro poderia pagar. Confiava plenamente nela.Suamemória,suaexperiência,seujulgamentoesuacabeçafriaeequilibradaeramimpagáveis.Ele lhepagavaumaltosalárioeoteriaaumentadoseelaotivessepedido.
Elaconhecianãosomenteosdetalhesdoseunegócio,masosdetalhesde sua vidaparticular também.Quando ele a tinhaconsultado no assunto da segunda Sra. Morganthal, ela tinhaaconselhado o divórcio e sugerido a importância exata dosalimentos. Não expressara nem simpatia nem curiosidade. Nãoera, diria ele, essa espécie demulher. Ele não pensava que elativessequaisquersentimentosenuncalheocorreupensaroqueelapensavaarespeito.Narealidadeteriaficadoespantadoselhecontassemqueelaabrigavaquaisquerpensamentos -anãoser,claro,pensamentos ligadosaMorganthal,Brown&ShipperkeeaosproblemasdeOttoMorganthal.
Assim foi comsurpresacompletaqueeleaouviudizeraosairdoescritório:
- Eu gostaria de ter umas férias de três semanas fora deNovaYork, se for possível, Sr.Morganthal. Apartir dapróximaterça-feira.
Olhandoparaela,falou,embaraçado:-Seriaembaraçoso,muitoembaraçoso.-Nãoachoqueseriadifícildemais,Sr.Morganthal.ASrta.
Wygate é perfeitamente competente para tratar das coisas. Voudeixar-lhe minhas anotações e instruções completas. O Sr.CornwallpodeseocupardaFusãoAscher.
Aindaembaraçado,eleperguntou:-Nãoestádoente,oualgoassim?NãopodiaimaginaraSrta.Scheeleestandodoente.Mesmo
os germes respeitavam Ana Scheele e ficavam fora do seucaminho.
-Oh,não,Sr.Morganthal.EuqueroiraLondresparaverminhairmã.
Suairmã?Elenãosabiaqueelativesseumairmã.Nuncaconcebeua
Srta. Scheele como tendo qualquer família ou parentes. Nunca
mencionou tê-los.Eaqui estava ela, casualmente se referindoaLondres. No outono passado tinha estado em Londres com ele,masnuncahaviamencionadoterumairmãlá.
Comumsentimentodeofensadeclarou:-NuncasoubequetivesseumairmãnaInglaterra.ASrta.Scheelesorriumuitosuavemente:-Oh,sim,Sr.Morganthal.Écasadacomuminglês,ligado
aoMuseu Britânico. Ela terá que se submeter a uma operaçãomuitoséria.Querqueeuestejacomela.Eugostariadeir.
Emoutraspalavras,viuoSr.Morganthal, tinharesolvidoir.
Resmungou:-Muitobem,muitobem...Voltelogoquepuder.Nuncavio
mercado tão variável. Todo esse maldito comunismo. A guerrapodeestouraraqualquermomento.Àsvezespensoqueéaúnicasolução.Todoopaísestácrivadocomisso...crivadocomisso.Eagora o Presidente decidiu ir a essa Conferência em Bagdá. Éuma encenação na minha opinião. Estão querendo pegá-lo.Bagdá!Detodososlugaresomaisesquisito!
- Oh, tenho a certeza de que será bem guardado disse aSrta.Scheeleapaziguadoramente.
- Apanharam o Xá da Pérsia o ano passado, não foi?PegaramBernadotte na Palestina. É loucura... isso é o que é...loucura.
-Masentão-acrescentouoSr.Morganthalpesadamente-o mundo todo está louco. inerentes do emprego dos própriostalentosparticularesnomomentoerrado.
Vitória era, como a maioria de nós, uma moça comqualidadestantoquantodefeitos.Doladodocréditoeragenerosa,de coração quente e corajosa. A sua inclinação natural para aaventurapodeserconsideradaoucomomeritóriaouocontrárionestaidademodernaqueavaliamuitoaltoovalordesegurança.Seudefeitoprincipaleramentir tantonosmomentosoportunosquantonos inoportunos.A fascinaçãosuperiorda ficçãoao fatosempre tinha sido irresistível para Vitória. Tinha mentido comfluência, facilidade e fervor artísticos. Se Vitória chegasseatrasadaaumencontro (oquefrequentementeeraocaso),paraelanãoeraobastantemurmurarumadesculpadoseurelógioterparado(oquerealmenteaconteciacombastantefrequência)oude
um ônibus inexplicavelmente atrasado. Para Vitória pareceriapreferível fornecer a desculpa esfarrapada de que tinha sidoimpedidaporumelefantefugido,deitadoatravessadonaestradaprincipal do ônibus, ou por um excitante reide relâmpago dapolícia, na qual ela mesma tinha tomado parte para ajudar apolícia. Para Vitória ummundo agradável seria aquele no qualtigres estavam de atalaia no Strand e bandidos perigososinfestavamTooting.
Umamoçamagra, comuma figura agradável e pernas deprimeira classe, as feições de Vitória poderiam ser descritas narealidadecomocomuns.Erammiúdaselímpidas.Mashaviaalgoestimulantenela,poisa"carinhadeborracha",comoumdosseusadmiradoresatinhaapelidado,podiadestorceraquelaexpressãoimóvel para um arremedo espantoso de praticamente qualquerpessoa.
Foiesteseutalentomencionadoporúltimoquealevaraàsua presente entalada. Empregada como datilógrafa pelo Sr.Greenholtz de Greenholtz, Simmon & Lederbetter, da RuaGraysholme,deLondres,W.C.,Vitóriatinhamatadootempodeumamanhã paulificante entretendo três outras datilógrafas e omoçoderecadoscomumaperformancevívidada
Sra. Greenholtz ao fazer uma visita ao escritório do seumarido.SeguranoconhecimentodequeoSr.Greenholtz tinhasaídopara visitar seus clientes,Vitória tinhadeixadoarrebatar-se.
- Porque nós não podemos ter aquele banquinho Knole,paiée? - perguntava ela em voz alta e lamurienta. A Sra.Dievatakiselatemumemcetimazulelétrico.
Você diz que o dinheiro está curto?Mas quando você saicomaquelalouraparajantaredançar-Ali!pensaqueeunãosei-esevocêsaicomaquelapequena,entãovouterumbanquinhotodoemcordeameixa,dealmofadasdeouro.Equandovocêdizqueéumjantardenegócios,vocêéumtrouxaperfeito-sim-evoltacombatomnacamisa.Então,vouterobanquinhoKnoleevou encomendar uma capa de pele -muito bonita - toda comarminho,masnãorealmentearminhoeeuvouconsegui-lamuitobaratoevaiserumbomnegócio.
A falha súbita do seu auditório - a princípio arrebatado,mas agora subitamente voltado ao trabalho com concordância
espontânea, fez Vitória interromper e voltar-se para onde o Sr.Greenholtzestavadepénoumbraldaporta,observando-a.
Vitória, incapaz de pensar em algo relevante para dizer,simplesmenteexclamou:
-Oh!OSr.Greenholtzgrunhiu.Tirandoseucasaco,oSr.Greenholtzencaminhou-separa
seu escritório particular e fechou a porta com estrondo. Quaseque imediatamente a campainha soou, dois curtos e um longo.EraumchamadoparaVitória.
- É para você, Johnezinha - comentou uma colega
desnecessàriamente,deolhosbrilhantespeloprazercausadopeladesgraça dos outros. As outras datilógrafas colaboravam nestesentimento,ejaculando:
-Éasuavez,Jones.-Paraaberlinda,Joezinha.O mensageiro, uma criança desagradável, contentou-se
puxando o indicador diante do pescoço e proferindo um somsinistro.
VitórialevantouseucadernodeapontamentoselápisefoiparaoescritóriodoSr.Greenholtz,comtantasegurançaquantoconseguiareunir.
-Estámechamando,Sr.Greenholtz?-murmurou,fixandoumolharlímpidonele.
OSr.GreenholtzestavaamarfanhandotrêsnotasdeumalibraeprocurandoemseusbolsosmoedasdoTesouro.
-Ora,aíestávocê-observouele.-Paramimchegadesuaparte,minha jovem.Vêalgumarazãoespecialpelaqualnão lhedeva pagar uma semana de salário em lugar de aviso prévio emandá-laemboraagoramesmo?
Vitória (uma órfã) tinha acabado de abrir a boca paraexplicar como a aflição de uma mãe, neste momento sofrendoumaoperaçãosériaatinhadesmoralizadotantoquetinhaficadode cabeça completamente aérea e como o seu saláriominguadoeratudoqueamãeacimacitadatinhaparasustentar-se,quando,lançando um olhar de soslaio para a face desagradável do Sr.Greenholtz,fechouabocaemudoudepensamento.
-Nãopoderiaestarmaisdeacordocomosenhordisseela
abertaeagradavelmente.-Pensoqueestáabsolutamentecerto,sesabeoquequero
dizer.O Sr. Greenholtz parecia ligeiramente espantado. Não
estava acostumado a ter suas despedidas tratadas com esseespírito aprovador e congratulatório. Para esconder um ligeiromal-estar, remexeu a pilha de moedas à sua frente naescrivaninha. Em seguida mais uma vez procurou pelos seusbolsos.
-Faltamnovepences-murmurousoturnamente.- Não tem importância - disse Vitória gentilmente. Vá ao
cinemaoucompreumasbalas.-Parecequenãotenhonemselos.-Nãoimporta.Eununcaescrevocartas.-Poderiamandarpelocorreio-disseoSr.Grenholtz,mas
semmuitaconvicção.- Não se incomode. Que tal uma referência? - perguntou
Vitória.AcóleradoSr.Greenholtzvoltou.- Por que diabo deveria eu lhe dar uma referência?
perguntouelefuriosamente.-Écostumeiro-retrucouVitória.OSr.Greenholtzpuxoudeumpedaçodepapelerabiscou
algumaslinhas.Empurrouopapelemsuadireção.-Estábomassim?A Srta. Jones esteve comigo por dois meses como
estenodatilógrafa.Suataquigrafiaeinexataenãosabeortografia.Estásaindodevidoàperdadetempoduranteoexpediente.
Vitóriafezumacareta.-Dificilmenteumarecomendação-observou.-Nãopretendiaquefosse-observouoSr.Greenboltz.- Acho - disseVitória - quepoderia pelomenosdizer que
sou honesta, sóbria e respeitável. Eu sou, como sabe. E talvezpudesseacrescentarquesoudiscreta.
-Discreta?-latiuoSr.Greenholtz.Vitóriaencontrouseuolharcomumaexpressãoinocente.-Discreta-repetiugentilmente.Lembrando-se de diversas cartas que foram ditadas a
Vitória e datilografadas por ela, o Sr. Greenholtz decidiu que a
prudênciaeraapartemelhordorancor.Agarrou o papel de volta, rasgou-o e começou uma folha
nova.A Srta. Jones esteve comigo por dois meses como
estenodatilógrafa.Estánosdeixandoporestarsendodiminuídoopessoaldeescritório.
-Quetalisso?-Podiasermelhor-disseVitória-masservirá.Foi assim com o salário de uma semana (menos nove
pences) na bolsa que Vitória estava sentada num banco nosJardins Fitz James, que são uma plantação triangular dearbustosextremamentetristes,aoladodeumaigrejaedominadaporumarmazémalto.
ErahábitodeVitória,emqualquerdiaemquenãoestivesse
realmente chovendo, comprar um queijo e um sanduíche dealface e tomate numa lanchonete e comer esse lanche simplesnestapaisagempseudo-rural.
Agora, ao mastigar meditativamente, estava dizendo a simesma,nãopelaprimeiravez,quehaviaumtempoeum lugarpara cada coisa - e que o escritório não era certamente o lugarparaimitaçõesdamulherdopatrão.Nofuturoteriaquedominarasuaexuberâncianaturalquealevouailuminarodesempenhode uma tarefa paulificante. Enquanto isso, ela estava livre deGreenhoItz,Siminon&Lederbettereaperspectivadeconseguirumemprego emoutro lugar enchia-a de antecipação agradável.Vitóriaestavasempredeliciadaquandoestavaemviasdeassumirum novo emprego. Nunca se sabia, sentia ela, o que poderiaacontecer.
Tinha acabado de distribuir o último farelo de pão entretrêspardaisatentos,queimediatamentecomeçaramabrigarcomfúria entre si pelo pão, quando se apercebeu de um jovem queestavasentadonaoutrapontadobanco.Vitóriaotinhanotadojávagamente,mascomasuamentecheiadeboasresoluçõesparaofuturo,nãooobservaraatentamenteatéagora.Doquevia (pelorabo do olho) gostava muito. Era um jovem de boa aparência,querubicamente bonito, mas com um queixo firme e olhosextremamenteazuisquetinhamestado,elagostavadeimaginar,aexaminá-lacomadmiraçãoencobertaporalgumtempo.
Vitórianãotinha inibiçõesarespeitode fazeramigoscomjovensestranhoselugarespúblicos.Consideravaasimesmaumexcelente juiz de caracteres e bemcapazde controlar quaisquermanifestações de ousadia por parte de homensdesacompanhados.
Começouasorrirfrancamenteaeleeojovemreagiucomoummarionetequandosepuxaacorda.
-Olá-disseojovem.-Bonitolugareste.Semprevemparacá?
-Quasetodososdias.-Ébemaminhasortequenuncavimpara cáantes.Foi
esseoseualmoçoqueestavacomendo?-Sim.-Achoquevocênãocomebastante.Eumorreriadefomese
comesseapenasdoissanduíches.QuetalvircomigoecomerumalinguiçanoSPOnaestradadeTottenhamCourt?
- Não obrigada. Eu estou bem. Não poderia comer maisnadaagora.
Elaquasequeesperavaqueeledissesse:"Outrodia,então",maselenãoofez.Simplesmentesuspiroueemseguidafalou:
-MeunomeéEdward,qualéoseu?-Vitória.-Porqueéqueseuspaisaquiseramchamarporumnome
deestaçãodeestradadeferro?- Vitória não é somente uma estação de estrada de ferro
indicouaSrta.Jones.-TambémháaRainhaVitória.-MMM...hum,sim.Qualéoseuoutronome?-Jones.-VitóriaJones-disseEdward,experimentandoonomena
língua.Meneouacabeça.-Nãocombinam.-Vocêtemmuitarazão-disseVitóriacomsentimento.-Se
eu fosse Jenny seria bem bonito... Jenny Jones. Mas Vitóriarequeralgocommaisclasse.VitóriaSackville-West,porexemplo.Essaéaespéciedecoisadequeagenteprecisa.Algoparafazerrolarpelaboca.
-VocêpoderiaacrescentaralgoaoJones-sugeriuEdwardcominteressesimpatizante.
-BedfordJones.
-CarisbrookeJones.-Sta.ClairJones.-LonsdaleJones.Este jogoagradável foi interrompidopeloolhardeEdward
aoseurelógioesuaexclamaçãohorrorizada.-Tenhoquecorrerdevoltaaomeumalditopatrão..hem,e
você?-Estousememprego.Fuidespedidahojepelamanhã.- Oh, quero dizer, sinto muito - disse Edward com real
preocupação.-Nãodesperdiceasuasimpatia,porquenãoestounemUM
pouquinhotriste.Porumlado,vouconseguiroutroempregocomfacilidadee,depois,tudoissofoideverasengraçado.
DaE,atrasandoavoltadeEdwardaodeveraindamais,ela
lhe fez uma reprodução espirituosa da cena de manhã,reapresentando a sua personificação da Sra. Greenholtz paraimensodivertimentodeEdward.
- Você é realmente maravilhosa, Vitória - disse ele. Vocêdeviaestarnopalco.
Vitória aceitou este tributo com um sorriso agradecido ecomentouqueEdwarddevia irandandosenãoquisessereceberelemesmoobilhetinhoazul.
- Sim, e eu não conseguiria um outro emprego com amesma facilidade que você. Deve ser maravilhoso ser uma boaestenodatilógrafa-disseEdwardcominvejanavoz,
-Bem,narealidadenãosouboaestenodatilógrafa-admitiuVitória francamente - mas tenho sorte de que as pioresestenodatilógrafashojeemdiapodemconseguirumempregodequalquerespécie -pelomenosumeducacionaloudecaridade -estesnãopodempagarmuito, demodoque conseguempessoalcomoeu.Prefiroaespéciedeempregointelectual.Essesnomeselugares e ternos científicos de qualquer forma são tãoassustadores, mesmo quando não souber escrevê-loscorretamente,narealidadeissonãolhefarávergonhanenhuma,porqueninguémseriacapaz.Qualéoseuemprego?PresumoquevocêsaiudeumadasarmasdaRAF??
-Bompalpite.–Pilotodecaça?
Acertou de novo. São muito amáveis em nos conseguiremprego e tudomais, mas, veja você, o problema é que somosespecialmente inteligentes. Quero dizer que não era preciso sermuitointeligentenaRAF.Elesmecolocaramnumescritóriocomummonte de arquivos e números e algo em que pensar, e eusimplesmente entreguei os pontos. Toda a coisa, de qualquerforma, parecia completamente sem propósito. Mas é isso. Achoquedeprimeumpoucosaberquevocênãoserveabsolutamenteparanada.
Vitóriaanuiusolidária.Edwardcontinuouamargamente:-Semcontato.Completamente foradomapa.Estava tudo
certo durante a guerra... era possível a gente aguentar aspontas... eu por exemplo ganhei a DFC (cruz por serviçosrelevantes em voo, nota do tradutor)... mas agora, bem possoconsiderar-memuitobemforadomapa.
Masdeviahaver...Vitória interrompeu-se. Sentia-se completamente incapaz
decolocarempalavrasasuaconvicçãodequeasqualidadesquetrouxeramumaDFCaseuproprietáriodealgummododeveriamterseulugardesignadonomundode.
-Issoquasequemearrasou-disseEdward.-Nãoserbomem nada, quero dizer. Bem... melhor eu ir andando... querodizer... você se importaria... não seriamuita presunção... se euapenaspudesse...
Quando Vitória abriu olhos surpresos, um Edwardbalbuciante e de faces repentinamente coradas tirou umapequenacâmera.
-Eugostariamuitodeterumretratoseu.Vocêsabe,vouparaBagdáamanhã.
-ABagdá?-exclamouVitóriacomvivodesapontamento.-Sim.Querodizer,gostariaquenão fosse...agora.Antes,
pela manhã, eu estava bastante animado com isso; foi a razãopelaqualnarealidadeaceiteiesseemprego...parasairdopaís.
-Queespéciedetrabalhoé?- Horroroso. Cultura, poesia, toda essa espécie de coisas.
Um tal de Dr. Ratlibone é meu chefe. Uma porção de títulosdepoisdonome,olhaagentecomoventementeporumpince-nez.Eleéterrivelmenteentusiasmadoporinstruçãoeespalha-aperto
elonge.Abrelivrariasemlugaresremotos.estácomeçandoumaemBagdá.FaztraduzirasobrasdeShakespeareeMiltonparaoárabe e curdo, e persa e armênio e tem todas elas à mão.Bobagem,achoeu,porquetemosoConselhoBritânicofazendoamesmacoisaemtodososlugares.Noentanto,aíestá.Amimmedaumemprego,demodoqueeunãodeviareclamar.
-Queéquevocêfaznarealidade?-perguntouVitória.Bem,nofimdecontastudoseresumeemseropuxasaco
pessoal do velhote e capachildo. Comprar os bilhetes, fazer asreservas, preencher os formulários de passaporte, conferir aembalagem de todos aqueles pequenos manuais horrendos depoesia,correrparacá,paraláeparatodolugar.Então,quandochegarmos lá devo fraternizar - uma espécie de movimentoglorificado de juventude - todas as nações juntas para umacampanha unida pela instrução - o tom de Edward se tornoumaisemaismelancólico.-Francamente,ébematerrador,nãoé?
Vitóriafoiincapazdeadministrarqualquerconforto.- Demodo que você vê - disse Edward. - Se você não se
importar demais... uma de lado e uma olhando de frente paramim...oh,assimestámaravilhoso...
A câmera deu dois cliques e Vitória demonstrou aquelacomplacência ronronantedemonstradapormulheres jovensquesabem que causaramuma impressão nummembro atraente dosexooposto.
- Mas é bastante chato realmente ter que ir embora,justamentequandoaencontrei-disseEdward.-Eutenhoumameiaideiademandartudoàsfavas...masachoquenãopoderiaagora, no último momento, não depois de todos aquelesformulários tenebrosos e vistos e tudo. Não seria um bomdesempenho,nãoé?
- Pode sair melhor do que você pensa - disse Vitóriaconsoladoramente.
-N-não-replicouEdwardemdúvida.-Acoisamaisgozadaé - acrescentou - que tenhoumpressentimento de quehá algopodrenissotudo.
-Podre?- Sim. Vigarice. Não me pergunte por quê. Não tenho
motivoalgum.Éumaespéciedepalpitequeagentetemàsvezes.Umaveztiveissoarespeitodomeuóleodebombordo.Comeceia
fuçaramalditacoisaenãoéquehaviaumaarruelaencravadanabombadacremalheira?
Os termos técnicos nos quais isso foi ministrado tornavatudobastante ininteligívelparaVitória,masconseguiucaptaraideiageral.
Achaqueelevirouvigarista...Rathbone?Não vejo como ele possa ser. Quero dizer, é
assustadoramenterespeitáveleestudadoeésóciodetodasessassociedades;eéumaespéciedechapadearcebisposediretoresdecolégios.Não é apenasumpalpite.Bem, o tempomostrará.Atélogo.Eugostariaquevocêviessetambém.
-Eutambém-disseVitória.-Queéquevocêvaifazer?-irparaaAgênciaSt.Guildric
na Rua Gower e procurar outro emprego - disse Vitóriasombriamente.
- Adeus, Vitória. Partir, saymourir un peu - acrescentouEdward com um sotaque muito britânico; - aqueles rapazesfrancesessabemdoquesetrata.Nossoscolegasinglesesapenasvão se lamentando sobre a partida que é uma doce dorzinha...asnáticos.
-Adeus,Edward.Boasorte.-Nãocreioquevocêpensaráemmimnovamente.-Sim,pensarei.-Vocêécompletamentediferentedequalquermoçaquevi
antes...euapenasgostaria.-Orelógio-deuabadaladadoquartodehoraeEdwarddisse:
-Diabo,tenhoqueirvoando...Retirando-se rapidamente, foi engolidopelo grandebucho
de Londres. Vitória, ficando para trás em seu lugar absorta emmeditação, estava consciente de duas correntes distintas depensamentos.
Uma tratava do tema de Romeu e Julieta. Ela e Edward,sentia ela, estavam de algum modo na posição daquele casalinfeliz,embora talvezRomeueJulieta tivessemexpressadoseussentimentosemlinguagemumpoucodeclassemaiselevada.Masa situação, pensava Vitória, era a mesma. Encontro, atraçãoinstantânea-frustração-doiscoraçõesquesequeriamseparadosà força. A lembrança de uma rima, há muito tempofrequentementerecitadapelasuababávelhalheveioàmente.
Jumbo said to Alice "I love you". Alice said to Jumbo, "Idon'tbelieveyoudo, If you really lovedme,asyousayyoudo,Youwouldn'tgotoAmericaandleavemeintheZoo."
Substitua Bagdá no lugar de América e a coisa está aí!Vitória finalmente levantou-se,escovandofarelodocoloeandoudecididamente para fora dos Jardins Fitz James na direção daRuaGower.Vitóriatinhachegadoaduasdecisões:aprimeiraeraque(comoJulieta)elaamavaessejovemeestavadecididaatê-lo.
A segunda decisão à qual Vitória tinha chegado era que,comoEdwardembreveestariaemBagdá,aúnicacoisaparaelafazer seria ir aBagdá também.O que agora estava ocupando asuamenteeracomo issopoderiaser feito.Que issopudesseserfeito de ummodo ou de outro, Vitória não duvidava. Era umamoçadeotimismoeforçadecaráter.
Parting is such sweet sorraw (Partir é uma dorzinha tãodoce),comosentimento,aatraíatãopoucoquantoaEdward.
-Dealgummodo-Vitóriaestavadizendoparasimesma-tenhoqueiraBagdá!
IIO HOTEL SAvoy deu as boas-vindas a Ana Scheele com
todo o empenho devido a um cliente antigo e valioso -perguntarampelasaúdedoSr.Morganthal -e lheasseguraramque, se a suíte não estivesse ao seu gosto, ela somente teria dedizê-lo-poisAnaScheelerepresentavadólares.
A Srta. Scheele tomou banho, vestiu-se, fez um chamadotelefônicoparaumnúmeroemKensingtoneemseguidadesceupelo elevador.Passoupelaportagiratória epediuum táxi.EstechegoueelaoencaminhouaCertieremBondStreet.
QuandootáxisaiudaentradadoSavoyparaoStrand,umpequenohomemmoreno,quetinhaestadoaadmiraravitrinadeumaloja,subitamenteolhouseurelógioefezsinalaumtáxiqueestava passando convenientemente e que tinha estadosingularmentecegoaosacenosdeumamulheragitada,cheiadeembrulhosunsmomentosantes.
OtáxiseguiupeloStrand,nãoperdendooprimeirotáxidevista. Quando ambos foram detidos pelas luzes de tráfegocircundandoaPraçaTrafalgar,ohomemdosegundotáxiolhoupelajaneladaesquerdaefezumpequenogestocomamão.Umcarroparticularque tinhaestadoparadona travessaao ladodoArco do Almirante, acionou seumotor e entrou na torrente detráfegoatrásdosegundotáxi.
O tráfego tinha começadonovamente a semovimentar.Otáxi de Ana Scheele seguiu a torrente de tráfego que ia para aesquerdaparaoParMall,otáxinoqualestavaopequenohomemmoreno dobrou à direita, continuando em volta da PraçaTrafalgar. O carro particular, um Standard cinza, agora estavabem perto, atrás do táxi de Ana Acheele. Continha doispassageirosumjovemlouro,deolharbastantevácuonovolanteeumamulherjovem,elegantementevestidaaseulado.OStandardseguiuotáxideAnaScheeleporPiccadillyeBondStreetacima.Aquiporummomento,paroujuntoaomeio-fioeamulherjovemsaiu.
Gritoualegreeconvencionalmente:-Muitoobrigada.O carro seguiu viagem. Amulher continuava olhando de
vez em quando para uma vitrina. Um engarrafamento parou otráfego.AmulherjovempassoutantopeloStandardquantopelotáxideAnaScheele.ChegouaCertiereentrou.
AnaScheelepagouoseutáxieentrounajoalheria.Gastoualgum tempo olhando para diversas joias. Finalmente escolheuumaneldesafiraebrilhante.Pagouporelecomumchequesobreumbanco de Londres. À vista do nome escrito nele, umpoucomaisdeurbanidadeextraveioaosmodosdoassistente.
-Prazeremvê-lanovamenteemLondres,Srta.Scheele.OSr.Morganthalveio?
-Não.-Euestavacurioso.Temosumalindasafira-estrelaaqui...
euseiqueeleseinteressaporsafiras-estrelas.Gostariadevê-la?A Srta. Scheele expressou seu desejo de vê-la, admirou
devidamenteeprometeumencioná-laaoSr.Morganthal.Saiu novamente para Bond Street e a mulher jovem que
tinha estado olhando clipes de orelha, expressou-se incapaz dedecidiretambémsaiu.
O carro Standard cinza, tendo virado na Rua Grafton edescido pelo Piccadilly, estava justamente subindo novamentepela Bond Street. A mulher jovem não mostrou sinais dereconhecimento.
AnaScheeletinhaentradoparaaArcada.Entrounalojadeum florista. Encomendou três dúzias de rosas de caboscompridos, uma concha cheia de grandes e doces violetaspúrpuras, uma dúzia de brotos de lírios brancos e uma jarracheiademimosas.Deuumendereçoparaaentrega.
-Sãodozelibrasedezoitoxelins,madame.Ana Scheele pagou e saiu. A jovem mulher que tinha
acabado de entrar perguntou pelo preço de um maço deprimaveras,masnãoascomprou.
AnaScheelecruzouBondStreet,foipelaRuaBurlingtonedobrou para Savile Row. Ali entrou no estabelecimento de umdesses alfaiates que, enquanto trabalham exclusivamente parahomens, ocasionalmente condescendem em cortar um tailleurparacertosmembrosfavorecidosdosexofeminino.
OSr.BolfordrecebeuaSrta.Scheelecomoscumprimentosconcedidos a um cliente apreciado e foram tomados em
consideraçãoostecidosparaumcostume.-Felizmentepossodar-lhenossaqualidadedeexportação.
QuandovaivoltaraNovaYork,,Srta.Scheele?-Nodiavinteetrês.-Darábastantetempo.PeloCliper,suponho?-Sim.-EcomoestãoascoisasnaAmérica?Aquiestãobastante
tristes...bastantetristesnaverdade.O Sr. Bolford meneou a cabeça como um médico
descrevendoumpaciente.-Ocoraçãonãoestánascoisas,seéquemeentende.Enão
aparece ninguém que tenha prazer num bom trabalho. Sabequem é que vai cortar o seu costume, Srta. Scheele? O Sr.Lantwick - temsetentaedoisanosde idadee ele éoúnicoemquempossorealmenteconfiarparaosnossosmelhoresfregueses.Todososoutros...
AsmãosgorduchasdoSr.Bolfordosvarriamembora.- Qualidade - disse ele. - É o que fez esta terra célebre.
Qualidade! Nada barato, nada gritante. Quando tentamosproduçãoemmassanãosomosbonsnisso,eissoéumfato.Estaéaespecialidadedoseupaís,Srta.Scheele.Oquenostemosquedefender, e eu o digo de novo, é qualidade. Levar tempo eincômodopara as coisas e produzirumartigo queninguémnomundo pode superar. Agora, que dia vamos marcar para aprimeiraprova.Daquiaumasemana?Àshm?Muitoobrigado.
Abrindo seu caminho pela claridade arcaica em volta depeçasdetecido,AnaScheelechegounovamenteàluzdodia.
Parou um táxi e voltou ao Savoy. Um táxi que estavaestacionado do lado oposto da rua e continha um homenzinhomorenofoipelomesmocaminho,masnãodobrouparaoSavoy.Seguiuparao ladododiqueealiapanhouumamulherbaixaegorda que tinha recentemente saído da entrada de serviço doSavoy.
-EarespeitodeLuísa?Vasculhouoquartodela?-Sim.Nada.AnaScheele almoçouno restaurante do hotel.Umamesa
tinha sido reservadapara ela ao ladoda janela.Omaitre tinhaperguntadoafetuosamentepelasaúdedeOttoMorganthal.
Depois do almoço Ana Scheele tomou sua chave e subiu
paraasuíte.Acamatinhasidofeita,toalhasfrescasestavamnobanheiro e tudo estava em excelente forma. Dirigiu-se para asduasmalas levesdeaviãoqueconstituíamasuabagagem,umaestavaabertaeaoutrafechada,Passouoolharpeloconteúdodaqueestavaaberta;emseguida,tirandoaschavesdabolsa,abriuaoutra. Tudo estava em ordem, dobrado, como ela dobrava ascoisas, nada tinha sido aparentemente tocado ou perturbado.Uma pasta de couro encontrava-se em cima. Uma pequenacâmeraLeicaedoisrolosdefilmeestavamnumcanto.Osfilmesestavamaindacoladossemteremsidoabertos.Passouumaunhasobre a dobra e puxou-a. Em seguida sorriu gentilmente. Ocabelo touro isolado que tinha estado ali, não mais estava.Destramente polvilhou um pouco de pó de arroz sobre o couroluzidiodapastaesoprou.Apastapermaneceuclarae lustrosa.Não havia impressões digitais. Mas esta manhã, depois de terpassadoumpoucodebrilhantinasobreacobertasuavedeseuscabeloslouros,tinhamanuseadoapasta.Deviahaverimpressõesdigitaissobreela,assuaspróprias.
Sorriunovamente.-Bomtrabalho-disseparasimesma.-Masnãobastante
bom...Destramente fez a mala pequena de pernoite e dirigiu-se
para baixo. Um táxi foi chamado e ela novamente mandou omotoristatocarparaosJardinsElmsleignº.
Os Jardins Elmsleigh eram uma espécie de praçaKensington, bastante encardido. Ana pagou o táxi e correuescadasacimaparaaportaqueestavadescascando.
Apertou a campainha. Depois de alguns minutos umamulher idosa abriu a porta com um rosto suspeitoso, queimediatamentesetransformounumbrilhodeboas-vindas.
- A Srta. Elsie ficará tão contente em vê-la! Ela está noestúdiodosfundos.Ésomenteopensamentodesuavindaqueatemconservadodisposta.
Ana foi rapidamente pelo longo corredor escuro e abriu aporta na outra extremidade. Era um quarto pequeno eesfarrapado com grandes poltronas de couro desgastadas. Amulhersentadaemumadelaspulou.
-Anaquerida.-Elsie.
Ambasbeijaram-seafetuosamente.-Está tudoarranjado -disseElsie. -Eu ireihojeànoite.
Espero...-Anime-se- interrompeuAna;-tudoestaráperfeitamente
bem.O homenzinho moreno de capa de chuva entrou num
telefonepúbliconaestaçãodeKensingtondeHighStreetediscouumnumero.
-CompanhiadeGramofonesValhalla?-Sim.-AquiéSanders.-SandersdoRio?Querio?- Rio Tigre. Relatório sobre A.S.. Chegou esta manhã de
NovaYork.FoiparaCertier.Comprouaneldesafiraebrilhantecustando cento e vinte libras. Foi ao florista, Jane Kent - dozelibrasedezoitoxelinsdefloresparaserementreguesaumacasade saúdena Praça Porfiand.Encomendouum casaco e saia noBolford & Acory. Nenhuma dessas firmas que se saiba temcontatos suspeitos, mas no futuro serão objeto de atençãoespecial.QuartodeA.S.noSavoyrevistado.Nãofoiachadonadadesuspeito.Pastanamalacontendopapéis relacionadoscomafusão de ações comWolfensteins. Tudo legítimo.Câmera e doisrolosdefilmesaparentementevirgens.Possibilidadedeosfilmesserem cópias fotostáticas, substituídos por outros filmes, masfilmes originais relacionados como sendo filmes virgenshonestamentenãoexpostos.A.S.levouumamalinhadepernoitee foi visitar irmãemJardinsElmsleigh . Irmã internando-senacasadesaúdedaPraçaPortlandparaumaoperaçãointerna.Issoconfirmado pela casa de saúde e também pelo livro deapontamentosdocirurgião.AvisitadeA.S.pareceperfeitamentelegítima.Nãodemonstrouqualquerdesassossegoouconsciênciadetersidoseguida.Compreendoquevaipassarestanoitenacasadesaúde.ConservouseuquartonoSavoy.PassagemderegressoparaNovaYork,peloCliper,reservadaparaodiavinteetrês.
OhomemquesechamavaSandersdoRiofezumapausaeacrescentouumpós-escrito,porassimdizer,porsuaconta:
-E se quiser saber o que penso disso, é tudopestanademinhoca!Jogandodinheirofora,ésóoqueelaestáfazendo.Dozelibrasedezoitoparaflores!Vêseteagrada!
ApossibilidadedefracassarnoseuintentonãoterocorridonemporummomentoaVitória,falabemafavordalevezadoseutemperamento.Versossobrenaviosquepassamdentrodanoitenãoeramparaela.Eracertamentedesafortunadosetinha-bem-francamente-caídoporumjovematraente,queestejovemteriaqueresultarjustamenteemviasdepartirparaumlugardistantecercadecincomilquilômetros.EletãofacilmentepoderiateridoparaAberdeenouBruxelasoumesmoBirmingham.
MastinhaqueserBagdá,pensouVitória,erabemaespéciede sorte que tinha! Não obstante, por difícil que fosse, elatencionava ir para Bagdá de um modo ou de outro. Vitóriacaminhava decididamente ao longo da estrada de TottenhamCourt, remoendo caminhos e meios. Bagdá. Que estavaacontecendo em Bagdá? De acordo com Edward: "Cultura".Poderia ela, de alguma forma interpretar cultura? UNESCO? AUNESCOestavasempremandandogenteparaaqui,acoláeparatodososlugares,àsvezesaoslugaresmaisdeleitosos.Masessaseramgeralmente,refletiaVitória,jovensmulheressuperiores,comgraus universitários, que tinham entrado para a Máfia muitomaiscedo.
Vitória, resolvendo que as primeiras coisas vinham emprimeirolugar,finalmentedirigiuseuspassosparaumaagênciadeviagensealifezassuasindagações.Nãohaviadificuldade,aoque parecia, em viajar paraBagdá. Podia-se ir pelo ar, por altomaratéBasrah,portremparaMarselhaepornavioparaBeiruteeatravésdodesertoporcarro.Podia-seirviaEgito.
Podia-seirtodoocaminhoportrem,seestivessedispostoa
assim fazer, mas os vistos presentemente estavam difíceis eincertos e estavam sujeitos a terem expirado na realidade até ahoraderecebê-los.Bagdáseencontravanaáreadeinfluênciadalibra esterlina e dinheiro por issonão apresentavadificuldades.Istoé,naaceitaçãodapalavradofuncionário.Tudoficava,pois,reduzido a quenãohavia dificuldades em ir paraBagdá, desdequesetivesseentresessentaecemlibrasemdinheiro.
ComoVitóriatinhanestemomentotrêslibrasedez(menosnove pence), uns doze xelins extras e cinco libras na CaixaEconômicadoCorreio,ocaminhosimplesediretoestavaforadecogitação.
Ela fez perguntas inquiridoras sobre um emprego comorecepcionista de bordo ou comissária aérea, mas estes, eladescobriu,erampostosaltamentecobiçadosparaosquaishaviaumalistadeespera.
Vitória em seguida visitou a Agência St. Guildric, onde aSrta. Spenser, sentada à sua eficiente escrivaninha, a saudoucomo uma daquelas que estavam destinadas a passar pelo seuescritóriocomfrequênciarazoável.
-Nossa,Srta.Jones,nãoestásemempregooutravez.Eurealmenteespereiqueesteúltimo...
- Completamente impossível - disse Vitória firmemente. -Eu realmente não poderia tentar contar-lhe o que tive queaguentar.
Um rubor prazeroso subiu às faces pálidas da Srta.Spenser.
-Não-começouela.-Euesperoquenão...Elemepareciarealmenteessaespéciedehomem;masnaturalmenteéumpoucogrosso...eurealmenteespero.
-Estátudomuitobem-disseVitória.Conseguiuproduzirumpálidosorrisocorajoso.-Seitomarcontademimmesma.
-Naturalmente,masédesagradável.-Sim-anuiuVitória. -Édesagradável.Noentanto... -de
novosorriucorajosamente.ASrta.Spenserconsultouseuslivros.- A Assistência de São Leonardo para Mães Solteiras
procura uma datilógrafa - informou a Srta. Spenser. -Naturalmente,elesnãopagammuito.
- Existe alguma possibilidade - perguntou Vitóriaabruptamente-deumempregoemBagdá?
- Em Bagdá? - perguntou a Srta. Spenser com vívidoespanto.
Vitóriapercebeuquepoderia terditodamesma formaemKamchatkaounoPoloSul.
-EugostariamuitodeirparaBagdá-disseVitória.-Euachodifícil...achaquequerdizercomosecretária?-Dequalquerjeito-respondeuVitória.-Comoenfermeira,
ou cozinheira, ou tomando conta de um lunático. Do jeito quepuder.
ASrta.Spensermeneouacabeça.
- Temo que não possa oferecer muita esperança. OntemumasenhoraesteveaquicomduasmenininhasoferecendoumapassagemparaaAustrália.
VitóriavarreuaAustráliacomamãoelevantou-se.-Sesouberdealgumacoisa.Sóapassagemdeida.Étudo
dequepreciso-enfrentouacuriosidadenosolhosdaoutramoçaexplicando:-Tenhoparentes...lá.Esoubequeháumaporçãodeempregos bem pagos. Mas, naturalmente, é preciso chegar láprimeiro.
-Sim-repetiuVitóriaparasimesma,aosairdoescritóriodeSt.Guildric.-Éprecisochegarlá.
EraumaborrecimentoadicionalparaVitóriaque,comodecostume,quandoaatençãodagente ficafocalizadasubitamentesobre um determinado nome ou assunto, tudo parece terconspirado de repente para forçar o pensamento de Bagdá àatenção.
Um breve parágrafo no jornal da noite que ela comproudizia que o Sr. Pauncefoot Jones, o afamado arqueólogo,começara as escavações da antiga cidade de Murik, situada acento e oitenta quilômetros deBagdá.Um anúnciomencionavalinhasdenavegaçãoparaBasrah(edeláparaBagdá,Mosuletc.). No jornal que forrava a sua gaveta das meias, umas linhasimpressassobreestudantesemBagdásaltaramaosseusolhos.OLadrãodeBagdáestavaemcartaznocinemalocalenavitrinadalivraria altamente intelectual, a qual sempre olhava, estavaexposta proeminentemente uma Nova Biografia de Harun AllRashid,CalifadeBagdá.
Omundotodo,parecia-lhe,estavasubitamentesetornandoconscientedeBagdá.Eatéaquelatarde,aproximadamenteàhm,para todosos finsepropósitos,elanunca tinhaouvido falardeBagdáecertamentenuncatinhapensadoarespeito.
As perspectivas para chegar lá eram insatisfatórias, masVitória não tinha a menor ideia de desistir. Tinha umaimaginaçãofértileopontodevistaotimistadeque,sevocêquerfazerumacoisa,sempreháumamaneiradefazê-la.
Gastouatardefazendoumalistadeabordagenspossíveis.Constavadoseguinte:
Publicaranúncio?TentarMinistériodoExterior?
TentaraLegaçãodoIraque?-Quetalfirmasdeencontros?Idem,firmasdeexportação?ConselhoBritânico?EscritóriodeInformaçõesSelfridge?EscritóriodeConselhoaosCidadãos?Nadadisso,eraforçadaaadmitir,pareciamuitopromissor.
Acrescentouàlista:Deumaformaoudeoutra,conseguircemlibras?Os esforçosmentais intensos de concentração que Vitória
tinhaexercidoanoiteepossivelmenteasatisfaçãosubconscientede não mais ter que estar pontualmente às nove no escritório,fizeramcomqueVitóriadormissedemais.
Acordouàsdezequinzeeimediatamentesaltoudacama,ecomeçouavestir-se.Estava justamentepassandoumapenteadafinalpelocabeloescurorebelde,quandootelefonetocou.
Vitória apanhouo fone.UmaSrta.Spenserpositivamenteagitadaestavaooutrolado.
-Tãocontentedetê-laalcançado.Realmenteacoincidênciamaisextraordinária.
-Sim?-gritouVitória.- Como digo, uma coincidência realmente extraordinária.
UmatalSra.HamiltonClipp,viajandoparaBagdá,dentrodetrêsdias, quebrou o braço e precisa de alguém para ajudá-la naviagem;telefonei-lheimediatamente.Naturalmentenãoseisenãoconsultoutambémoutrasagências...
-Jáestouacaminho-respondeuVitória.-Ondeéqueelaestá?
-NoSavoy.-Equaléonomeestúpido?Tripp?-Clipp,querida.Comoumclipdepapel,mascomdoisPP...
Nãoseiporque,maselaéamericana-terminouaSrta.Spenser,comoseissoexplicassetudo.
-Sra.Clipp,noSavoy.-Sr.eSra.HamiltonClipp.Realmente foiomaridoquem
telefonou.-Vocêéumanjo-declarouVitória.-Atélogo.Apressadamente escovou seu costume marrom e desejou
quefossemenosesmolambado,repenteouseucabeloparafazê-lo
parecermenosexuberanteemaisdeacordocomopapeldoanjooficiantee viajanteexperimentada.Emseguida tiroudabolsaarecomendaçãodoSr.Greenholtzemeneouacabeçasobreela.
-Temosquefazermelhorqueisso.Vitória saltou de um ônibus em Green Park e entrou no
HotelRitz.Umbreveolharsobreoombrodeumamulher lendono ônibus resultara compensador. Entrando na sala de estar,VitóriaescreveuparasimesmaalgumaslinhasdeelogiogenerosodeLadyCynthiaBradbury,quetinhasidoanunciadacomotendoacabadodesairda InglaterraparaaÁfricaOriental... "excelentena doença", escreveu Vitória "e muito capaz em todos ossentidos..."
SaindodoRitzcruzouaruaecaminhouumcurtopedaçoAlbemarle Street acima, até que veio para o Hotel Balderton,renomadocomoorefúgiodocleromaisaltoedevelhasherdeirasdointerior.
Numaletramenosousadaefazendoessesgregospequenosebonitos,elaescreveuumarecomendaçãodoBispodeLlangow.
Assimequipada,VitóriapegouumônibuseseguiuparaoSavoy.
NarecepçãoperguntoupelaSra.HamiltonClippedeuseunomecomovindodaAgênciaSt.Guildric.Oempregadoestavajápuxando o telefone para si quando parou, olhou em frente edisse:
-Olhe,aliestáoSr.HamiltonClipp.O Sr. Hamilton Clipp era um americano imensamente
comprido e muito magro, de cabelos grisalhos, de aspectobondosoefalalentaedeliberada.
Vitóriadeu-lheseunomeemencionouaagência.-Ora,então,Srta.Jones,émelhorsubireveraSra.Clipp.
Ela ainda está no nosso apartamento. Acho que estáentrevistando alguma outra jovem, mas pode ser que já tenhasaído.
UmfriopânicoagarrouocoraçãodeVitória.Seráquedeveriaestar tãopróximoeaomesmotempotão
longe?Foramdeelevadorsubindoaoterceiroandar.Quando estavam indo pelo corredor de tapetes grossos,
uma jovemsaiudeumaportadoextremoopostoeveioemsua
direção. Vitória teve uma espécie de alucinação de que era elamesma que estava se aproximando. Possivelmente, pensava ela,porqueotailleurfeitosobmedidaeratãoexatamenteaquiloqueela gostariade estar vestindo elamesma.Emeassentariabem.Sou bem do tamanho dela. Como gostaria de arrancá-lo dela,pensouVitóriacomumareversãoàselvageriafemininaprimitiva.
A jovem passou por eles. Um pequeno chapéu de veludo,colocado de um lado da cabeça, parcialmente escondia o rosto,masoSr.HamiltonClippvoltou-separaolharatrásdelacomumardesurpresa.
- Ora, sim senhor - disse para si mesmo. - Quem teriapensado?AnaScheele.
Acrescentoudemaneiraexplanatória.-Desculpe-meSrta. Jones. Fiquei surpreso ao reconhecer
umajovemsenhoraqueencontreiemNovaYorkháapenasumasemana. Secretária de um dos nossos grandes banqueirosinternacionais.
Parouaochegaraumaportado corredor.A chave estavapenduradanafechaduraecomumabrevebatidaoSr.HamiltonClippabriuaportaeficoudeladoparaqueVitóriaoprecedesseparadentrodoquarto.
A Sra. Hamilton Clipp estava sentada numa cadeira deespaldaraltopertoda janelaepulou levantando-sequandoelesentraram. Era uma mulherzinha baixa, parecia com umpassarinho de olhar penetrante. Seu braço direito estava nummoldedegesso.
SeumaridoapresentouVitória.- Veja, tem sido tudo tão infeliz - exclamou a Sra. Clipp,
sem respiração. - Aí estávamos nos com um itinerário cheio eapreciando Londres e todos os nossos planos feitos e minhapassagem reservada. Estou indo fazer uma visita àminha filhacasada no Iraque, Srta. Jones. Faz quase dois anos que não avejo.Eentãoqueacontece, levoumtombo...narealidadefoinaAbadia de Westminster, descendo uns degraus de pedra... e aíestava eu. Levaram-mepara ohospital às carreiras e colocaramtudono lugar e considerando todasas coisasnãomesintopordemais inconfortável... mas aí está. Eu estou um tantodesamparada e comovou conseguir viajarnão sei.EGeorgeaí,está completamente abafado com negócios e simplesmente não
podesairdaquipormaisdeumastrêssemanaspelosmenos.Elesugeriuqueeulevasseumaenfermeiracomigo...mas,nofinaldecontas, uma vez que eu esteja lá, não vou precisar de umaenfermeiraàminhavolta.Sadiepodefazertudoqueforpreciso-e issosignificapagaraelapassagemdevoltatambém,demodoquepenseiqueiriaconsultarasagênciasparaverseencontravaalguémdispostaavirjuntoapenaspelapassagemdeida.
- Não sou exatamente uma enfermeira - disse Vitória,conseguindocausara impressãodeque issoerapraticamenteoque era. -Mas tive um bocado de experiência de enfermagem -apresentou o primeiro testemunho. - Estive com Lady CynthiaBradbury pormais de um ano. E se quiser algum trabalho decorrespondência ou de secretária, fui secretária domeu tio poralguns meses. Meu tio - declarou Vitória modestamente - é oBispodeLlangow.
-EntãoseutioéBispo.Ora,queinteressante.AmbososHamiltonClippestavam,aoqueVitóriapensava,
decididamente impressionados. E também deveriam ter ficadodepoisdetodootrabalhoquetinhatido!
ASra.HamiltonClippestendeuambosostestemunhosaoseumarido.
- Parece realmente tão maravilhoso - disse elareverentemente.-Bemprovidencial.Éumarespostaàprece.
- Vai assumir algum cargo lá? Ou indo encontrar umparente?-perguntouaSra.HamiltonClipp.
NapressadefabricartestemunhosVitóriatinhaesquecidocompletamentequeteriaqueprestarcontasdesuasrazõesparaviajarparaBagdá.Apanhadadesprevenida,tinhaqueimprovisarrapidamente. O parágrafo que tinha lido na véspera lhe veio àmente.
-Vouencontrarmeutiolá.Dr.PauncefootJonesexplicou.-Realmente?Oarqueólogo?-Sim-porummomentoVitóriacismouquetalvezestivesse
semunindo de tios famosos em demasia. - Estou terrivelmenteinteressada em seu trabalho, mas naturalmente não tenhoqualificações especiais, de modo que estava fora de cogitação aexpediçãopagaraminhapassagemparalá.Nãoestãoprovidosdefundosdemasiados.Massepossoirporcontaprópria,possomejuntaraelesemetornarútil.
- Deve ser trabalho muito interessante - interpôs o Sr.Hamilton Clipp - e a Mesopotâmia é certamente um grandecampoparaaarqueologia.
-Temo-disseVitória,voltando-separaaSra.Clippqueomeu tio, o Bispo, esteja na Escócia nestemomento.Mas possodar-lheonúmerodotelefonedasecretáriadele.ElanomomentoestáemLondres.Público:umadasextensõesdoPalácioFulham.Elaestaráláaqualquerhora(oolhardeVitóriaescorregouparaorelógio sobre o rebordo da lareira) depois das hm se quisertelefonar-lheeperguntar-lhesobremim.
Oqueeraexatamenteoqueera,pensouVitória.- Ora, tenho certeza - começou a Sra. Clipp, mas seu
maridointerrompeu.- O tempo é muito curto, sabe. O avião sai depois de
amanhã.Agora,temumpassaporteSrta.Jones?- Sim - Vitória sentiu-se agradecida que, devido a uma
pequena viagem de férias para a França no ano anterior, seupassaporteestavaemdia.-Acrescentou:
-Trouxe-ocomigo,casofossenecessário.- Isso é que eu chamo de eficiência - disse o Sr. Clipp
aprovadoramente.Sequalqueroutracandidatativesseestadoemconsideração, obviamentenãoestavamais.Vitória, comassuasboas recomendações e seus tios e seu passaporte àmão, tinhavitoriosamenteconquistadooslouros.
- Vai precisar dos vistos necessários - disse o Sr. Clipp,tomandoopassaporte.Vouatéonossoamigo,Sr.Burgeon,noAmerican Express e ele vai tratar de tudo. Talvez seja melhorpassaraquihojeàtarde,parapoderassinaroqueforpreciso.
Vitóriaconcordouemfazerisso.Quandoaportadoapartamentosefechouportrásdela,ela
escutouaSra.HamiltondizeraoSr.HamiltonClipp:-Umameninatãoboaedireitinha.Nósrealmenteestamos
desorte.Vitóriateveodecorodeenrubescer.Voltou ao seu apartamento e ficou grudada no telefone,
preparada a assumir o sotaque graciosamente refinado dasecretária de um bispo, para o caso de a Sra. Clipp querer aconfirmação da sua capacidade. Mas a Sra. Clipp obviamentetinha ficado tão impressionada pela sua personalidade tão
honesta e direta que não iria se incomodar com esses detalhestécnicos.Nofinaldecontasocontratoeraapenasporalgunsdiascomocompanhiadeviagem.
Nodevidotempo,papéisforampreenchidoseassinados,osvistos necessários foram obtidos e Vitória recebeu o pedido depassar a última noite no Savoy, de modo a estar à mão paraajudaraSra.ClippalevantaràshorasdamanhãseguinteparaestarnoterminaldaslinhasaéreasdoAeroportodeHeathrow.
IIIO BARCO TINHA saído do pântano dois dias antes,
patinavasuavementeaolongodoShattel.Arab.Acorrentezaerarápida e o velhoqueo estavamanejando tinhaque fazermuitopouco. Seus olhos estavam semicerrados. Quase sussurrandocantava muito suavemente uma cantiga árabe, triste einterminável:
AsribilelyayamaliHadhialekyaibnal¡Destaforma,eminúmerasoutrasocasiõesAbdulSuleiman
dosÁrabesdoPântanotinhadescidoorioaBasrah.Haviaoutrohomemnobarco,uma figuravista frequentementehoje emdia,comumamistura patética de Leste eOeste em sua vestimenta.Sobreacamisacompridadealgodãolistrado,usavaumatúnicacáquidescartada,velha,manchadaerasgada.Umlençovermelhodesbotado demalha estava enfiado no casaco esfarrapado. Suacabeçaostentavadenovoadignidadedocostumeárabe,akeffiyáinevitável de branco e preto, segura e presa pelo agal de sedanegra.Seusolhos, forade foconumolharamplo,perscrutavamturvamente as margens do rio. Agora ele também começava azumbirnamesmaclaveenomesmotom.Erauma figuracomomilhares de outras figuras na paisagem daMesopotâmia. Nadahavia paramostrar que eraum inglês e que levava consigoumsegredo que homens influentes em quase cada país do mundoestavamempenhadosainterceptaredestruir,juntamentecomohomemqueocarregava.
Sua mente retrocedeu nebulosamente sobre as últimassemanas. A emboscada namontanha.O frio de neve vindo porsobreoPasso.Acaravanadecamelos.Osquatrodiasgastosemandarapésobreodesertovazioemcompanhiadedoishomensque levavam um cinema portátil. Os dias na barraca preta e aviagem com a tribo Aneizeli, seus velhos amigos. Tudo difícil,tudo permeado de perigo - escorregando cada vez de novo pelocordãoestendidoparaolharporeleeparainterceptá-lo.
"HenryCarmichael.Agentebritânico.Idadecercadetrintaanos. Cabelos castanhos, olhos escuros,metro e de altura. Falaárabe,curdo,persa,armênio,hindustani,turcoemuitosdialetos
demontanheses.Amigodastribos.Perigoso."Carmichael. tinha nascido em Kashgar, onde seu pai era
funcionáriodoGoverno.Sualínguadecriançatinhabalbuciadodiversos dialetos e gírias - suas babás, e mais tarde seuscarregadores,tinhamsidonativosdemuitasraçasdiferentes.EmquasetodososlugaresselvagensdoOrienteMédiotinhaamigos.
Somente nas cidades grandes e pequenas é que contatoslhefaltavam.Agora,aproximando-sedeBasrah,elesoubequeomomentocríticodasuamissão tinhavindo.Mais cedooumaistardetinhaquereentrarnazonacivilizada.EmboraBagdáfosseseu destino final, ele tinha julgado prudente não se aproximardiretamente.EmcadacidadedoIraquefacilidadesestavamasuaespera, cuidadosamente discutidas e arranjadas com muitosmeses de antecedência. Tinha sido deixado a seu próprio juízoonde devia, por assim dizer, fazer a sua aterragem. Não tinhamandadonotíciasaosseussuperiores,nemmesmopeloscanaisindiretos,pelosquaispoderiatê-lofeito.Assimeramaisseguro.Oplano fácil, oaviãoesperandono lugardeencontrocombinado,tinha falhado, como ele havia suspeitado que falharia. Aqueleencontro tinha sido conhecido dos seus inimigos. Vazamento!Sempreaquelemortífero,incompreensívelvazamento.
E foi assim que suas apreensões de perigo ficaramaumentadas. Aqui em Basrah, à vista da segurança, sentiu-seinstintivamentecertodequeoperigoseriamaiordoqueduranteosazaresloucosdasuaviagem.Efalharnaúltimaestiradaissonemerabompensar.
Puxando seus remos ritmicamente, o velho árabemurmurousemvoltaracabeça:
-Omomentoseaproximameufilho.Alátefavoreça.-Nãodemorenacidade,meupai.Volteaospântanos.Não
gostariaquenadaderuimlheacontecesse.-IssoécomoAládispõe.Estáemsuasmãos.-InShàAllah-repetiuooutro.Porummomentoansiavaintensamenteserumhomemde
sangueorientalnãoocidental.Nãosepreocuparcomaschancesde sucesso ou fracasso, não calcular sempre de novo asprobabilidades,repetidamenteperguntandoasimesmosetinhapensado sabiamente e com previsão. Atirar a responsabilidadesobreoTodo-Piedoso,oOnisciente.-InShàAllah,vencerei!
Mesmopronunciandoessaspalavraselesentiuacalmaeofatalismodopaíssobrepujando-oeagradeciaisso.Agora,dentrode algunsmomentos, tinha que sair do abrigo do barco, andarpelas ruas da cidade, arriscar-se ao gume de olhares afiados.Somentepoderiatersucessosentindo-setantoquantoparecendoumárabe.
O barco entrou suavemente na via aquática que seencontrava em ângulo reto para com o rio. Ali toda espécie deveículosdorioestavaamarradaeoutrosbarcosestavamvindonafrentedeleseportrás.Eraumacenaadorável,quaseveneziana;osbarcos comsuasproasaltas esculpidas e as cores levementeesmaecidas de suas pinturas. Havia centenas deles amarradospertounsdosoutros.
Ovelhoperguntoubaixinho:- É chegado o momento. Foram feitos preparativos para
você?- Sim. Realmente,meus planos estão feitos. É chegada a
horadeeupartir.-QueDeustorneseucaminhoretoequeaumenteosanos
desuavida.Carmichael juntou suas saias listradas em sua volta e
subiupelosdegrausdepedraescorregadiosparaoancoradouroemcima.
Em toda a sua volta estavam as costumeiras figuras debeira de cais. Meninos pequenos, vendedores de laranja,agachados ao ladode suas travessasdemercadoria.Quadradospegajosos de bolos e doces, travessas de cordões de sapato epentes baratos e pedaços de elástico. Transeuntescontempladores, cuspindo roucamente de tempos a tempos,andandocomcontasestalandoemseusdedos.Dooutroladodarua,ondeestavamaslojaseosbancos,elendisocupadosestavamcaminhando energicamente em ternos europeus de umatonalidadelevementepúrpura.Haviatambémeuropeusingleseseestrangeiros. E em lugar algum foi demonstrado interesse oucuriosidade porque um dos cinquenta ou mais árabes tinhaacabadodesubiraoancoradourosaindodeumbarco.
Carmichael caminhava muito quieto, seus olhosabsorvendoacenacomexatamenteotoqueinfantilevendocertodesprazeremseusarredores.Devezemquandolimpavaopigarro
ecuspia,nãoviolentamentedemais,apenasparanãodestoardoquadro.Duasvezessoprouonarizcomosdedos.
E assim o estranho que veio para a cidade, alcançou aponte na cabeceira do canal, caminhou por sobre ela e dobrouparaoSuq.
Ali tudo era barulho e movimento. Homens enérgicos detribos iam passando, empurrando outros para fora do seucaminho - burricos carregados abriam seu caminho, com seustropeirosgritandoroucamente.Balek-Balek...Criançasbrigavame guinchavam e corriam atrás dos europeus chamandoesperançosos: Bakhsheesh, madame. Bakhsheesh.Meskinmeskin...
Aqui os produtos de Leste e Oeste estavam igualmente àvenda,ladoalado.Panelasdealumínio,xícaras,piresechaleiras,artigos de cobre batido, prataria de Amara, relógios baratos,canecas de esmalte, bordados e tapetes de padrões alegres daPérsia.ArcaschapeadasdecobredoKuwait,casacosecalçasdesegundamão e suéteres de lã para crianças. Edredons feitos amão, locais, lâmpadas de vidro pintado, pilhas de moringas epotesdebarro.Todaamercadoriabaratadacivilizaçãojuntocomosprodutosnativos.
Tudo como normal e costumeiro. Depois de sua longaestada nos espaços mais selvagens, a azáfama e a confusãopareciam estranhas a Carmichael, mas estava tudo como deviaestar,elenãopôdedetectarnenhumanotadissonante,nenhumsinaldeinteressepelasuapresença.Enoentanto,comoinstintodealguémque tinhaconhecidopormuitosanosoquesignificaserumhomemcaçado, ele sentiuumdesassossego crescente, -umvagosensodeameaça.Nãoconseguiuencontrarnadaforadolugar.Ninguémtinhaolhadoparaele.Ninguém,eletinhaquasecerteza,oestavaseguindooutendo-osobobservação.Noentanto,eletinhaaquelacertezaindefiníveldeperigo.
Foi para uma curva estreita e escura, novamente para adireita, em seguida para a esquerda. Ali entre as barracaspequenas, veio para a abertura do Khan e entrou pela porteiraparaopátio.Diversaslojasseencontravamemtodaasuavolta.Carmichael foi paraumaonde estavampendurados ferwahs, oscasacos de pele de carneiro do Norte. Ficou ali apalpando-osexperimentalmente.Oproprietáriodalojaestavaoferecendocafé
aum freguês,umhomemalto, debarba, depresença fina, queusavaverdeemvoltadoseuferwah,mostrandoserumhadji,quetinhaestadoemMeca.
Carmichaelestavaaliapalpandooferwah.-BeshHadha?-perguntouele.-Setedinares.-Demais.Ohadjiperguntou:amanhã?-VaientregarostapetesnomeuKhan?-Semfalta-respondeuocomerciante.-Vaipartir-AoamanhecerparaKerbela.- É aminha cidade, Kerbela - disse Carmichael. - Já faz
quinzeanosdesdequeviotúmulodoHussein.-Éumacidadesagrada-disseohadji.OcomerciantedisseporsobreoombroaCarmichael:-Háferwahsmaisbaratosládentro.-UmferwahbrancodoNorte,édoqueeupreciso.-Tenhoumassimnasalaafastada.Omercadorindicouaportaembutidanaparedeinterna.O ritual tinha ido de acordo com um padrão - uma
conversatalcomopodeserouvidaqualquerdiaemqualquerSuq-masasequenciafoiexata-aspalavras-chavesestavamtodasali-Kerbela,ferwahbranco.
SomentequandoCarmichaelpassouparaatravessarasalae entrar na parte interna, levantou seu olhar para o rosto domercador e soube instantaneamente que o rostonão era aqueleque ele tinha esperado ver. Embora tivesse visto esse homemparticular apenas uma vez antes, a sua memória aguçada nãoestavaemfalta.Haviaumasemelhança,umasemelhançamuitoíntima,masnãoeraomesmohomem.
Parou.Dissenumtomdesurpresaleve:-Onde,então,estáSalahHassan?-Erameuirmão.Morreuhátrêsdias.Seusnegóciosestão
emminhasmãos.Sim, este provàvelmente eraum irmão. A semelhança era
muito íntima. E era possível que o irmão também estivesseempregado pelo departamento. Certamente as reações tinhamsidocorretas.NoentantofoicomumapercepçãoaumentadaqueCarmichaelpassouparaoaposentointernosombrio.Alidenovo
haviamercadoriaempilhadasobreprateleiras,cafeteirasepilõesde açúcar de bronze e cobre, prataria persa velha, montes debordados, abas dobradas, bandejas esmaltadas de Damasco ejogosparacafé.
Um ferwah branco estava cuidadosamente dobrado sobreumapequenamesade café.Carmichael foi até ele e levantou-o.Porbaixodelaestavaumconjuntoderoupaseuropeias,umternode trivial usado, ligeiramente espalhafatoso. A carteira comdinheiroecredenciais jáseencontravamnobolsodopeito.Umárabedesconhecidotinhaentradonaloja:oSr.WalterWilliams,deCross&Co.,ImportadoreseAgentesdeDespachos,surgiriaeteria que cumprir certos compromissos feitos para ele comantecedência. Havia naturalmente um verdadeiro Sr.Williams -era tudotãocuidadosoassim-umhomemcomumpassadodenegóciosabertoerespeitável.Tudodeacordocomoplano.ComumsuspirodealívioCarmichaelcomeçouadesabotoarseudólmãmilitaresfarrapado.Estavatudoemordem.
Seumrevólvertivessesidoescolhidocomoarma,amissãodeCarmichaelteriaterminadoentãoali.Mashávantagensnumafaca-notavelmenteaausênciaderuído.
Na prateleira em frente a Carmichael estava uma grandecafeteiradecobreeessacafeteiratinhasidorecentementepolidaapedidodeumturistaamericanoqueviriaapanhá-la.Obrilhoda faca estava refletido naquela superfície arredondada - umquadrocompleto,destorcidomasaparente,estavarefletidoali.Ohomem, esgueirando-se pelas cortinas atrás de Carnuchael, alongafacacurva,quetinhaacabadodetirarpordebaixodesuasvestes.NummomentoaquelafacaestariaenterradanascostasdeCarmichael.
Como um relâmpago Carmichael voltou-se. Com ummergulhoparaaspernasdooutro, levou-oaochão.Afacavooupelo quarto. Carmichael desembaraçou-se rapidamente e correuparaaoutrasala,onde teveumvislumbredorostomalevolenteespantadodomercadoreaplácidasurpresadohadjigordo.Emseguida estavado ladode fora, atravésdoKhan,novamentenoSuqapinhado,indoprimeiroparaumlugar,voltandoemseguidapara outro, caminhando novamente agora, não demonstrandopressanumpaísondeapressapareceriaincomum.
E, andando assim, quase sem destino, parando para
examinar uma peça de fazenda, sentir a tessitura, seu cérebroestava trabalhando com atividade furiosa. A maquinaria tinhaquebrado!Maisumavezeleestavaporsuaconta,empaísalheio.
E ele estava desagradavelmente consciente do significadodoquetinhaacabadodeacontecer.
Não eramapenasos inimigosno seu rastro que ele tinhaque temer. Nem eram os inimigos guardando as aproximaçõesparaacivilização.Haviainimigosatemerdentrodosistema.Poisaspalavrasdesenhatinhamsidoconhecidas,asreaçõestinhamvindasprontaecorretamente.Oataquetinhasidocalculadoparaexatamenteomomentoemqueeleestariaembaladonumailusão-de segurança. Não era de surpreender, talvez, que houvessetraição por dentro. Devia ter sido sempre meta do inimigointroduzirumoumaisdosseushomensparadentrodosistema.Ou talvez, comprar o homem de que eles precisavam. Comprarum homem era mais fácil do que se possa pensar podia-secomprarcomoutrascoisasquenãodinheiro.
Bem, não importa como tenha acontecido, aí estavafugindo,devoltaparaseusprópriosrecursos.Semdinheiro,semaajudadeumanovapersonalidade e suaaparência conhecida.Talvez que nestemesmomomento estivesse sendomansamenteseguido.
Não voltou sua cabeça.De que adiantaria?Aqueles que oseguiamnãoeramnovatosnojogo.
Calmamente, sem destino, continuava a passear. Por trásde sua maneira despreocupada, estava revendo váriaspossibilidades. Saiu finalmente do Suq e atravessou a pequenaponte sobre o canal. Continuou a andar até que viu a grandetabuleta com o brasão pintado sobre o portal e a legenda:ConsuladoBritânico.
Olhou a rua para cima e para baixo. Ninguém pareciaprestar amínimaatençãoa ele.Nada, ao queparecia, eramaisfácildoquesimplesmenteentrarnoConsuladoBritânico.
Pensou,ummomento,numaratoeira,umaratoeiraabertacomseupedaçodequeijoprovocador.Issotambémerasimplesefácilparaocamundongo.
Bem, o risco tinha que ser tomado. Não via o que maispodiafazer.
Entroupeloportaladentro.
IVRICHARDBAKERestava sentadono escritório externodo
ConsuladoBritânico,esperandoatéqueoCônsulestivesselivre.Tinha descido à terra do Indian Queen esta manhã edesembaraçado a sua bagagem pela alfândega. Consistia quaseque completamente de livros. Pijamas e camisas estavamespalhados entre eles, quase como uma lembrança de últimahora.
O IndianQueen tinhachegadonohorário eRichard,quetinha dado uma margem de dois dias, já que barcos de cargapequenos, tais como o Indian Queen frequentemente eramatrasados, tinha agora dois dias à sua disposição, antes deprosseguir, via Bagdá, para seu destino final, Tell Aswad, nalocalizaçãodaantigacidadedeMurik.
Seusplanos jáestavam feitosa respeitodoque fazercomesses dois dias. O fato de uma certa elevação reputada conterantiguidades num lugar perto da praia emKuwait já hámuitotinha aguçado a sua curiosidade. Essa era uma oportunidademandadadocéuparainvestigaramesma.
Dirigiu-se para o Hotel do Aeroporto e perguntou acercados métodos para ir a Kuwait. Um avião saía às dez horas damanhã seguinte, disseram-lhe, e ele poderia voltar no diaseguinte.Tudoassimestavabarralimpa.Havia,naturalmente,asformalidadesinevitáveis,vistodesaídaevistoparaKuwait-Paraesseseleteriadeencaminhar-seaoConsuladoBritânico.RichardtinhaencontradooCônsul-GeraldeBasrah,Sr.Clayton,algunsanosantes,naPérsia.Seriaagradável,pensouRichard,vê-lodenovo.
OConsuladotinhadiversasentradas.Umportãoprincipalparacarros.Outroportãozinhosaindodojardimàestradaqueiaao longodoShatte[Arab.AentradadenegóciosdoConsuladoestava na rua principal. Richard entrou, deu seu cartão para ohomemdeserviço,recebeuainformaçãodequeoCônsulestavaocupadonomomento,masembreveestarialivreefoilevadoparauma pequena sala de espera a esquerda da passagem que iadiretamentedaentradaparaojardimalém.
Jáhaviadiversaspessoasnasaladeespera.Richardquase
não olhou para elas. Ele, de qualquer forma, raramente estavainteressado em membros da raça humana. Um fragmento decerâmica antiga para ele era sempremais excitante do que umsimplesserhumanonascidoemalgumlugardoséculovinte.
Deixou que seus pensamentos se detivessemagradavelmente sobre alguns aspectos dos caracteresMari e osmovimentosdastribosbenjaminitasemA.C.
Seriadifícildizerexatamenteoqueodespertouaumsensovívidodopresenteedosseuscompanheirossereshumanos.Eraaprincípioumdesassossego,umasensaçãode tensão.Veioaele,pensou,aopassoquenãopodiatercerteza,peloseunariz.Nadaquesepudessediagnosticaremtermosconcretos-masestavaali,inconfundivelmente, levando-o de volta para os dias da últimaguerra. Uma ocasião em particular, quando ele e dois outrostinham saltado de paraquedas de um avião e tinham esperadonashorasfriasantesdocrepúsculoparafazeremseuserviço.Ummomentoemqueomoralestavabaixo,emquetodososazaresdaempresaeramclaramentepercebidos,ummomentodetemoremqueagentepoderiavernãoseradequada,umencolherdacarne.Amesmacoisaacre,intangível,estavanoar.
Ocheirodomedo...Por alguns momentos isso teve registro apenas do
subconsciente. Metade de sua mente ainda se esforçava parafocalizar-seantesdeCristo,masoempuxodopresenteera fortedemais.
Alguémnestasalaestavacommedomortal...Ele olhou em volta. Um árabe numa túnica #cáqui
esfarrapada, seus dedos indolentemente escorregando sobre ascontas de âmbar que segurava nas mãos. Um inglês gorduchocom um bigode cinzento - o tipo do viajante comercial - queestavarabiscandonúmerosnumpequenocaderninhodenotas,eparecendo absorto e importante.Um jovemde aspecto cansado,decompleiçãomuitoescura,queestava recostadonumaatituderespeitosa, sua face plácida e desinteressada. Um homem quepareciaumempregadoiraquiano.Umpersadeidade,emroupasesvoaçantesdeneve.Todospareciambastantepreocupados.
O estalo das contas de âmbar caiu num ritmo definido.Parecia familiar de uma forma estranha. Richard forçou-se aprestar atenção. Tinha estado quase adormecido. Curto-longo-
longo-curto-longo era Morse, definitivamente sinalização Morse.Ele estava familiarizado com Morse: parte do seu trabalho naguerra tinha que ver com sinalização. Podia lê-lo com bastantefacilidade. OWL. F.L.O.R.E.A.T.E.T.O.N.A. Que diabo? Sim, eraisso. Estava sendo repetido Floreat Etona. Batido, (ou melhor,estalado).porumárabeandrajoso.olá,queeraisso?"Owl.Eton.Owl."
Seu próprio apelido em Eton - para onde tinha sidomandadocomumpardeóculosespecialmentegrandeesólido.
Olhouatravésdasalaparaoárabe,notandocadadetalhedesuaaparência-aroupalistrada-avelhatúnicacaqui-olençovermelhoesfarrapado,tricotadoamão,cheiodepontosfalhados.Uma figura como se viam centenas na beira do cais. Os olhosencontraram os dele vagamente, sem sinal de reconhecimento.Masascontascontinuaramaestalar.
Faquiraqui.Presteatenção.Encrenca.Faquir?Faquir?Claro!FaquirCarmichael.Ummeninoque
tinhanascidoouquetinhamoradoemalgumaparteestranhadomundo-Turquestão-Afeganistão?
Richard tirou seu cachimbo. Deu uma baforadaexploradora,olhouparadentrodoforninhoeemseguidabateu-onumcinzeiroperto:Mensagemrecebida.
Depois disso, as coisas aconteceram muito rapidamente.MaistardeRichardtevedificuldadeemsepará-las.
O árabe da jaqueta militar esfarrapada levantou-se eencaminhou-se para a porta. Tropeçou quando passou porRichard, suamão saiu das vestes e agarrou-se a Richard paralevantar-se.Emseguidaseendireitou,pediudesculpase foi emdireçãoàporta.
Foi tão surpreendente e aconteceu com tanta rapidez quepareceu aRicharduma cena de cinema antes que algo da vidareal. O viajante comercial gordo deixou cair seu caderninho denotasepuxoualgumacoisanobolsodoseucasaco.Porcausadasuagorduraeoapertodocasacolevouumoudoissegundosparatirá-loenestesegundooudoisRichardentrouemação.Aotirarorevólver,Richardoarrebatoudamãodele.Disparoueumabalaenterrou-senoassoalho.
Oárabepassoupelaportae tinhavoltadoparao ladodoescritório do Cônsul, mas estacou subitamente e, voltando-se,
correu rapidamente para o outro lado, para a porta pela qualtinhaentradoeparafora,paraaruamovimentada.
O kavass correu para o lado de Richard, onde ele estavasegurando o braço do homem gordo. Dos outros ocupantes dasala, o empregado iraquiano estava dançando excitadamentesobreseuspés,ohomemescuroemagroestavaolhandoeopersaidosoolhavaparaoespaçocompletamenteimperturbável.
Richarddisse:Quediaboestáfazendo,acenandocomumrevólverassim?Houveumapausadeapenasummomentoeemseguidao
homemgordodissecomumavozlamurientadecockney.- Sinto meu velho. Acidente absolutamente. Apenas
desajeitado.- Mentira. Estava querendo atirar naquele árabe que
acaboudecorrerparafora.-Não,não,meuvelho.Nãoiaatirarnele.Apenasassustá-
lo.Reconheci-osubitamentecomoumsujeitoquemeenganouarespeito de umas antiguidades. Apenas um pouco dedivertimento.
Richard Baker era alma fastidiosa que não gostava depublicidadedequalquerespécie.Seus instintoserama favordeaceitaraexplicaçãopeloseuvalordeface.Nofimdecontas,quepoderiaeleprovar?EovelhoFaquirCarmichaelagradeceriaaelefazerdocasotantoespalhafato?Presumivelmente,seeleestivesseemalgumnegóciosecretodecapaeespada,elenãoofaria.
Richardrelaxouagarranobraçodooutro.Osujeitoestavasuando,conformenotou.
O kavass estava falando excitadamente. Estava muitoerrado,diziaele,trazerarmasdefogoparadentrodoConsuladoBritânico.Nãoerapermitido.OCônsulficariabastantezangado.
N.doT.:Sotaquelondrino.- Peço desculpas - disse o homem gordo. - Pequeno
acidente.Foisó.Atirou algum dinheiro para a mão do kavass, que o
empurroudevoltaindignadamente.-Melhoreusair-disseohomemgordo.-Nãovouesperar
paraveroCônsul.EstendeuumcartãosubitamenteaRichard:- Esse sou eu e estou noHotel do Aeroporto e se houver
alguma encrenca...masna realidade, foi puro acidente.Apenasumapiada,seéquesabeoquequerodizer.
Relutantemente, Richard o viu sair da sala com umcambalearindeciso,evoltar-separaarua.
Ele esperava que tivesse agido certo, mas era uma coisadifícilsaberoquefazerquandoseestavanoescurotantoquantoeleestava.
-OSr.Clayton,eleestáadisposiçãoagora-disseokavass.Richardseguiuohomempelocorredor.Ocírculoabertode
luz do sol da outra ponta se tornou maior. A sala do Cônsulestavaadireitanapontaextremadapassagem.
O Sr. Clayton estava sentado atrás de uma escrivaninha.Era um homem calmo, de cabelos grisalhos com um rostopensativo.
-Nãoseiselembrademim-disseRichard.-Conheci-onoTeerãhádoisanos.
-Naturalmente.EstavacomoDr.PauncefootJones,nãoéverdade?Estásereunindoaelenovamenteesteano?
-Sim,estouacaminhodeláagora,mastenhoalgunsdiasde sobra e gostaria muito de ir a Kuwait. Não há dificuldade,presumo?
-Oli,não,háumaviãoamanhãdemanhã.Éapenasumahora emeia.Vou telegrafar aArchieGaunt... é oResidente ali.Elepoderáabrigá-loenóspodemoshospedá-loaquiestanoite.
Richardprotestoulevemente.-Realmente...eunãoqueroincomodarosenhornemàSra.
Clayton.Possoirparaohotel.O Hotel do Aeroporto está muito cheio. Ficaremos
encantadosemtê-loaqui.Seiqueminhamulhergostariadevê-lode novo. No momento... deixe-me ver... temos Crosbie, DaCompanhiadePetróleo,eumjovemrapazdoDr.Rathbone,aqueestá aqui para desembarcar algumas caixas de livros naalfândega.VenhaparacimaevejaRosa...
Levantou-se e acompanhou Richard pela porta para ojardim ensolarado. Um lance de escada levava às acomodaçõesdomésticasdoConsulado.
Gerald Clayton empurrou abrindo a porta no alto dosdegrausefezseuhóspedeentrarparaumlongocorredorescurocomtapetesatraentesnochãoepeçasescolhidasdemobíliade
ambososlados.Eraagradávelvirparaapenumbrafriadepoisdoesplendordefora.
Claytonchamou:- Rosa, Rosa - e a Sra. Clayton, de quem Richard se
lembrava como de uma personalidade vivaz com abundantevitalidade,saiudeumquartonofimdocorredor.
-Vocêse lembradeRichardBaker,querida?Eleveiover-noscomoDr.PauncefootJonesnoTeerã.
-Naturalmente-respondeuaSra.Clayton,apertando-lheamão.
- Nós fomos juntos para os bazares e você comprou unstapetesadoráveis.
EraadelíciadaSra.Clayton,quandoelamesmanãoestavacomprandocoisas,deinsistircomseusamigoseconhecidosparaqueprocurassempechinchasnos suqs locais.Ela sempre tinhaumexcelentesensodevaloreseeraexcelentepechincheira.
-Umadasmelhorescomprasquejáfiz-disseRichard.Ecompletamentepelosseusbonsofícios.- Baker quer voar para Kuwait amanhã - disse Gerald
Clayton.-Eulhedissequepodemosacomodá-loaquiporestanoite.-Masseéalgumincômodo...-começouRichard.-Claroquenãoéincômodo-interpôsaSra.Clayton.Não poderá ficar com omelhor quarto de reserva, porque
este o Capitão Crosbie já tem, mas podemos acomodá-lo combastanteconforto.NãoquercompraralgumbaúlindodeKuwait,nãoé?PorqueháunsadoráveisnoSuqjustamenteagora.Geraldnão me deixou comprar outro para aqui, embora tivesse sidobastanteútilparaguardarlençóisextras.
Vocêjátemtrês,querida–interpôsClaytonsuavemente.- Agora, se me permitir, Baker, tenho que voltar ao
escritório.Pareceterhavidoumaconfusãonasalaexterior.Parecequealguémdisparouumrevólver.
- Um dos xeques locais, presumo - disse a Sra. Clayton.Elessãotãoexcitáveisegostamtantodearmasdefogo.
- Pelo contrário - disse Richard. - Foi um inglês. Suaintenção parecia dar um tirinho num árabe - suavementeacrescentou.-Empurreiobraçodeleparacima.
-Entãovocêestavametidonissotudo-comentouClayton.
- Eu não sabia. Pescou um cartão do seu bolso. - Robert liall.FábricaAquiles,Enfieldpareceseronomedele.Nãoseiarespeitodequequeriafalarcomigo.Nãoestavabêbado,estava?
- Ele disse que era uma brincadeira - disse Richardsecamente-equeaarmadisparouporacidente.
Claytonlevantouassobrancelhas.-Viajantescomerciaisnãousam,costumeiramente,armas
carregadasemseusbolsos.Clayton,pensouRichard,nãoeranenhumbobo.-Talvezeuodeveriaterimpedidodeescapar.- É difícil saber o que se deveria ter feito quando essas
coisasacontecem.Ohomemnoqualeleatirounãoficouferido?-Não.- Então provavelmente é melhor deixar as coisas como
estão.-Ó!queseráqueestavapordetrásdisso?-Sim,sim...queterásido?Claytonpareciaumpoucodesconfortável.-Bem,tenhoquevoltar-disseeapressou-separasair.A Sra. Clayton levouRichard para a sala de visitas, uma
grandesalainterna,comalmofadasecortinasverdeseofereceu-lhe a escolha entre café e cerveja. Escolheu cerveja que veiodeliciosamentegelada.
Ela perguntou por que estava indo para Kuwait e ele lhedisse.
Perguntou-lhe por que não tinha casado ainda e Richardreplicouqueachavaquenãoeradaespéciecasadoura,aoqualaSra.Claytonrespondeuasperamente:
- Bobagem. Arqueólogos - disse ela - dão excelentesmaridos... e haveria alguma mulher jovem indo para asescavaçõesnestatemporada?
-Umaouduas-respondeuRichard-enaturalmenteaSra.PauncefootJones.
A Sra. Clayton perguntou esperançosa se havia moçasbonitasentreasqueestavamindoláeRichardconfessouquenãosabia, porque ainda não as conhecera. Eram bastanteinexperientesdisseele.
PoralgumarazãoissofezaSra.Claytonrir.Em seguida entrou um homem baixo, atarracado, de
maneirasabruptase foiapresentadocomooCapitãoCrosbie.OSr.Baker, disse a Sra.Clayton, eraumarqueólogo e escava ascoisasmais selvagemente interessantes, demilhares de anosdeidade. O Capitão Crosbie disse que nunca tinha sido capaz decompreender como os arqueólogos eram capazes de dizer tãodefinidamente que idade tinham essas coisas. Sempre pensaraqueeramrefinadosmentirosos,ha,ha,disseoCapitãoCrosbie.Richard olhou-o de modo extremamente cansado. Não, disse oCapitãoCrosbie,mascomoéqueumarqueólogosabiaqueidadetinhaumacoisa?Richarddissequeissolevariamuitotempoparaexplicar e a Sra. Clayton rapidamente o afastou dali paramostrar-lheoquartoondeficaria.
-Ele émuitobom -disseaSra.Clayton -masnãobem,bem,sabe.Nãotemomenorvernizdecultura.
RichardachouoquartoextremamenteconfortáveleasuaapreciaçãodaSra.Claytoncomohospedeirasubiuaindamais.
Tateandonobolsodoseucasaco,tirouumpedaçodepapeldobradoesujo.Olhou-ocomsurpresa,poisbemsabiaquenãoseencontravaaliantes,pelamanhã.
Lembrou-se então de como o árabe o tinha agarradoquando tropeçara. Um homem de dedos ligeiros poderia tê-loenfiadoemseubolsosemqueseapercebessedisso.
Alisou o papel. Estava sujo e parecia ter sido dobrado eredobradodiversasvezes.
Em seis linhas de escrita um tanto amontoada o MajorJohn Wilberforce recomendava um certo Ahmed Mohammedcomo um trabalhador industrioso e dócil, capaz de dirigir umcaminhão,estritamentehonesto.-Era,defato,otipocostumeirode papel ou recomendação dada no Leste. Estava datada de hádezoitomeses, o que tambémnão é fora do comum, pois essespapéissãoguardadoszelosamentepelosseusproprietários.
Franzindoosobrecenhoparasimesmo,Richardrepassouosacontecimentosdamanhãdemaneiraprecisaeordenada.
OFaquirCarmichaelestavaagorabemseguro,tinhaestadocommedomortal.Eraumhomemcaçadoetinha-searremessadoparadentrodoConsulado.Porquê?Paraencontrarsegurança?Mas em lugar disso tinha encontrado uma ameaça maisinstantânea. O inimigo, ou um representante do inimigo tinhaestadoàsuaespera.Estesujeito,viajantecomercial,devetertido
ordens bem definidas, para estar disposto a arriscar-se a atirarem Carmichael no. Consulado, na presença de testemunhas.Deve, por isso, ter sido muito urgente. E Carmichael tinhaapelado ao seu velho companheiro de escola por auxílio econseguidopassarestedocumentoaparentementeinocenteàsuaposse.Devia,porisso,sermuitoimportantee,seosinimigosdeCarmichaeldessemcomeleeachassemquenãomaispossuíaodocumento, sem dúvida juntariam dois e dois e procurariamqualquer pessoa ou pessoas à qual Carmichael possivelmentepoderiatê-lopassado.
OqueentãoRichardBakerdeviafazercomele?Elepoderiapassá-loparaClaytoncomoorepresentantedeSuaMajestadeBritânica.Ouelepoderiaficarcomasuaposseatéumahoraemque
Carmichaeloreclamasse?Depois de alguns minutos de reflexão optou pela última
hipótese.Masantesdissotomoualgumasprecauções.Arrancandoumameiafolhadeumacartavelha,sentou-se
para compor uma carta de referência para um motorista decaminhãoemtermosidênticos,masusandoexpressõesdiversas-seessamensagemfosseemcódigo,issodariacontadele-emboranaturalmente era possível que houvesse umamensagem escritaalicomqualquerespéciedetintainvisível.
Em seguida lambuzou a sua própria composição compoeira de seus sapatos - esfregou em suas mãos, dobrou eredobrouatéquedavaumaaparênciarazoáveldeidadeesujeira.
Em seguida amassou-a e enfiou-a, em seu bolso. Ficouolhando por algum tempo para o original enquanto pensava erejeitavaváriaspossibilidades.
Finalmente, comum ligeiro sorrisodobrou-a.e redobrou-aatéquetivesseumpequenoobjetooblongo.Emseguidatomandoumpedaçodeplasticina(semaqualnuncaviajava)dasuamala,emprimeirolugarembrulhouseupacoteemplásticoimpermeáveldoseusacodeesponja,emseguidaencerrou-oemplasticina.Issofeitoeleenrolouealisouaplasticinaatéobterumasuperfícielisa.Nesta colocou a impressão de um selo cilíndrico que tinhaconsigo.
Estudouoresultadocomferozapreciação.
Mostrava um desenho lindamente esculpido do Deus SolShamash,tarinadocomaEspadadaJustiça.
-Esperemosque issosejaumbomhomem-disseparasimesmo.
Nestanoite,quandoprocurounobolsodocasacoquetinhausadopelamanhã,orolodepapeltinhasumido.
VAVIDA, PENSOU Vitória, a vida enfim! Sentada em seu
lugarnoTerminalAéreo,omomentomágicoerachegadoemqueerampronunciadasaspalavras:"PassageirosparaoCairo,.BagdáeTeerã,tomemseuslugaresnoônibus,porfavor."
Nomes mágicos, palavras mágicas. Despidas de encantoparaaSra.HamiltonClippque,atéondeVitóriapôdeperceber,tinhapassadograndepartedesuavidapulandodebarcosparaaviõesedeaviõesparatrens,combreves intervalos intercaladosem hotéis caros. Mas para Vitória elas eram uma mudançamaravilhosa das frases frequentemente repetidas: "Tome notadisso,porfavor,Srta.Jones.""Estacartaestácheiadeerros.Teráquebatê-ladenovo,Srta.Jones.""Achaleiraestáfervendo,bolas,faça o chá, sim." "Sei onde pode conseguir uma permanentemaravilhosa." Acontecimentos paulificantes do trivial diário! Eagora:Cairo,Bagdá,Teerã-todooromancedoOrienteglorioso(eEdwardnofimdetudoisso).
Vitóriavoltouaterraparaescutarasuaempregadora,quejátinhadiagnosticadocomofaladorasemparar,concluindoumasérie de observações dizendo: e nada realmente limpo, se vocêentendeoquequerodizer.Eusempretomomuitocuidadocomoquecomo.Asujeiradasruasedosbazaresvocênãoacreditaria.E os trapos anti-higiênicos que o povo usa. E algumas dastoaletesora,nãosepoderiachamá-lasdetoaletes!
Vitória escutava atenciosamente esses comentáriosdeprimentes,masseuprópriosentimentodeencantopermaneceusemdiminuição.Sujeiraegermesnadasignificavamemsuavidajovem.ChegaramaHeathroweelaajudouaSra.Clippasaltardoônibus.Jáestavaencarregadadospassaportes,bilhetes,dinheiroetc.
-Arre!Écertamenteumconfortotê-lacomigo,Srta.Jones.Eu simplesmente não sei o que teria feito se tivesse de viajarsozinha.
Viajandopeloar,pensouVitória,erabemcomoserlevadaauma excursãoda escola. Professoras vivazes, gentismas firmes,estavam àmão para pastoreá-la em cada volta. Comissárias debordo,emuniformesalinhados,comaautoridadedegovernantas
de jardimde infância, tratandode crianças retardadasmentais,explicavam gentilmente exatamente o que você deveria fazer.Vitória quase que esperava que começassem seus comentárioscom:"Agora,crianças..."
Jovens cavalheiros de aspecto cansado atrás deescrivaninhas estendiam mãos fatigadas para verificarempassaportes, para perguntarem intimamente sobre dinheiro ejoias. Conseguiram incutir um sentimento de culpa nosquestionados. Vitória, sugestionável por natureza, sentiu umavontadesúbitadedescreveroseumirradobrochecomoumatiarade brilhantes de dez mil libras de valor, apenas para ver aexpressãonorostodojovementediado.PensamentosdeEdwardareprimiram.
Passadas as várias barreiras, sentaram-se para esperarmais uma vez numa ampla sala que dava para o aeródromodiretamente.Doladodefora,oruídodeumaviãocomosmotoresesquentando dava,o fundo apropriado. A Sra. Hamilton Clippagora estava alegremente ocupada em fazer um comentáriocorridosobreosseuscompanheirosviajantes.
-Aquelasduascriancinhasnãosãoengraçadinhasdemaispara palavras?Mas quemaçada viajar sozinha comum par decrianças.Achoquesãoinglesas.Esseéumcostumebemcortadoque a mãe está vestindo. Mas ela parece um tanto cansada.Aquele homem é simpático... parece bem latino, eu diria. Quexadrezberrantequeaquelehomemestávestindo...eudiriagostomuito estragado. Negócios acho. Aquele homem ali é holandês.Estavabemnanossafrentenoscontroles.Aquelafamíliaacoláéoupersaouturca,eudiria.Nãoparecehaveramericanos.Achoque em sua maioria viajam pela Pan American. Eu diria queaquelestrêshomensconversandosãodopetróleo,vocênãoacha?Euadoroolharparaaspessoaseespeculararespeitodelas.OSr.Clipp me diz que tenho uma verdadeira queda pela naturezahumana. Para mim parece apenas natural tomar um interessenas suas criaturas companheiras. Você não diria que aquelecasacodearminhocustacadacentavodetrêsmildólares?
A Sra. Clipp suspirava. Tendo devidamente avaliado seuscompanheirosviajantes,elatornava-seinquieta.
-Gostariadesaberoqueestamosesperandoassim.Aqueleavião esquentou osmotores já por quatro vezes. Estamos todos
aqui.Porqueéqueelasnãoandamcomascoisas?Certamentenãoestãoseguindoohorário.
- A senhora gostaria de uma xícara de chá, Sra. Clipp?Estouvendoqueháumbufetenofundodasala.
-Ora,não,obrigada,Srta.Jones.Tomeicaféantesdepartireomeuestômagosesenteumtantoperturbadoagoraparatomarqualqueroutracoisamais.Porqueestamosesperandogostariadesaber?
Sua pergunta parecia ser respondida, quase antes que aspalavrastinhamsaídodeseuslábios.
Aportaque levavadocorredorpara foradodepartamentodealfândegaedepassaportesabriu-se comruído eumhomemaltoatravessoucomoefeitodeumalufadadevento.Funcionáriosdalinhaaéreaocircundavam.DoisgrandessacosseladosdelonaeramcarregadosporumfuncionáriodaBOAC.
ASra.Clippendireitou-secomalacridade.-Eleécertamentealguémimportante-comentou.-Esabedisso-pensouVitória.Houve algo como sensacionalismo calculado a respeito do
viajante atrasado. Ele vestia uma espécie de manta de viagemcinza comum largo capuz nas costas. Em sua cabeça estava oque em essência era um largo sombreiro, mas de cinza claro.Tinha cabelos encaracolados de cinza prateado, bastantecomprido e um lindo bigode cinzento prateado de pontasenroladasparacima.Oefeitoeradeumbandidobonitodepalco.Vitória que desprezava homens teatrais que posavam, olhou-ocomdesaprovação.
Os funcionários aéreos estavam, como ela notava corridesprazer,emtodaasuavolta.
Sim, Sir Rupert Naturalmente Sir Rupert. - avião saiimediatamente,SirRupert.
Comum ruflar de sua capa volumosa,SirRupert passoupelaportaquelevavaaoaeródromo.Aportafechou-sepordetrásdelecomveemência.
- SirRupert -murmurouaSra.Clipp. -Ora, quemseriaele,estoucismando?
Vitória meneou a cabeça, embora tivesse uma ligeirasensação de que o rosto e a aparência geral não lhe eramdesconhecidos.
- Alguém importante em nosso Governo - sugeriu a Sra.Clipp.
-Nãoacho-respondeuVitória.Os poucosmembros do Governo que ela já havia visto a
tinham impressionadomais como homens ansiosos de pediremdesculpas por estarem vivos. Somente nas plataformas era quepulavamparaumavidapomposaedidática.
-Agora,porfavor-disseababá-aeromoçaalinhada.Tomem seus lugares no avião. Por aqui. Tão depressa
quantopuderem.A sua atitude sugeria que uma porção de crianças
brincalhonas e zaranzentes tinham feito os adultos pacientesesperar.
Todomundopassavaemfilaparaoaeródromo.Ograndeaviãoestavaesperando,seusmotores zumbindo
comooronronarsatisfeitodeumleãogigante.VitóriaeumcomissárioajudaramaSra.Clippasubirpara
bordoe instalaram-naemseuassento.Vitória sentou-seaoseulado na passagem. Só depois que a Sra. Clipp estavaconfortavelmente instalada e Vitória ter apertado seu cinto desegurança, amoça teve oportunidadede observar quena frentedelasograndehomemestavasentado.
Asportassefecharam.Algunssegundosmaistardeoaviãocomeçouamover-selentamentesobreosolo.
-Estamosindodeverdade-pensouVitóriaemêxtase.-Oh,nãoéassustador?Suponhaquenuncasaiadosolo?Realmenteeunãoseicomopode!
Durante o que parecia um século, o avião taxiava peloaeródromo, emseguidaguinou lentamente eparou.Osmotoresaumentaram para um urro feroz. Goma de mascar, açúcar decevadaealgodãoforamdistribuídos.
Maisemaisruidoso,maisemaisferoz.Emseguida,maisuma vez, o avião moveu-se para a frente. Aos pouquinhosprimeiro,emseguidamaisrápido-maisrápidoainda-estavameleschispandopelosolo.
-Nuncasubirá-pensouVitória-vamosmorrer...Mais depressa - mais suave - sem socos - sem pulos
estavam livres do solo, para a frente, para cima, uma volta, denovosobreoestacionamentodecarroseaestradaprincipal,para
cima, mais alto - um trenzinho bobo fumegando lá embaixo -casasdebonecas-carrosdebrinquedoemestradas...aindamaisalto-esubitamenteaterraláembaixoperdiaointeresse,nãoeramais humana ou viva - apenas um grande mapa plano comlinhasecírculosepontos.
Dentro do avião as pessoas desamarravam seus cintos desegurança, acendiam cigarros, abriam revistas. Vitória estava -nummundonovo-ummundodetantospésdecomprimentoeapenas uns poucos pés de largura, habitado por vinte a trintapessoas.Nadamaisexistia.
Olhouparaforadapequenajanelinhadenovo.Abaixodelaestavamnuvens,umpavimentofofodenuvens.Oaviãoestavanosol.Abaixodasnuvensemqualquerlugarestavaomundoqueelahaviaconhecidoatéentão.
Vitória refez-se. A Sra. Hamilton Clipp estava falando.Vitóriatirouoalgodãodoouvidoeinclinou-seatentamenteparaela.
Noassentoàsuafrente,SirRupertlevantou-se,jogouseuchapéu de feltro de abas largas para a prateleira, levantou ocapuzporsobreacabeçaerelaxouemseuassento.
-Asnopomposo-pensouVitória,irrazoavelmenteimbuídadeprevenção.
A Sra.Clipp estava acomodada comuma revista aberta àsua frente. Em intervalos cutucava. Vitória, quando, tentandovirarapáginacomumamão,arevistaescorregava.
Vitóriaolhouàsuavolta.Decidiuqueviagensaéreaseramnarealidadebempaulificantes.Abriuumarevistaeencontrou-seà frente de um anúncio que dizia: "Quer aumentar a suaeficiênciacomoestenodatilógrafa?"-estremeceu,fechouarevista,recostou-seecomeçouapensaremEdward.
AterraramnoAeródromoCastetBenitodebaixodechuva.Vitóriaagoraestavase sentindo ligeiramentemal e estava
reunindotodasassuasenergiasparacumprirassuasobrigaçõesperanteasuaempregadora.Foramlevadospelachuvaapressadapara a casa de repouso.Omagnífico Sir Rupert, notouVitória,tinha sido esperado por um oficial de uniforme com alçasvermelhas e conduzido por um carro de Estado-Maior paraalgumaresidênciadospoderososnaTripolitânia.
Receberamquartos;VitóriaajudouaSra.Clippcomasua
toaleteedeixou-adescansandosobreacamadepeignoiratéquefossehorado jantar.Vitória retirou-separa seupróprio quarto,deitou-se e fechou os olhos, agradecida de ter sido poupada àvisãodoassoalhoarquejante,queafundava.
Acordouumahoramaistardedeboasaúdeedisposiçãoefoi ajudar a Sra. Clipp. No momento uma aeromoça maisperemptória instruiu-as no sentido de que os carros estavamprontosalevá-lasaojantar.
Depois do jantar a Sra. Clipp entrou em conversa comalgunsdosseuscompanheirosdeviagem.Ohomemdocasacodexadrez gritante parecia ter tomado um interesse em Vitória econtou-lhe detalhadamente tudo sobre a fabricação de lápis degrafita.
Maistardeforamlevadasdevoltaàssuasacomodaçõesdedormir e instruídas secamente que deveriam estar prontas parapartiràshmdamanhãseguinte.
- Não vimos muita coisa da Tripolitânia, não é? disseVitóriaextremamentetriste.-Viagensaéreassãosempreassim
- Ora, sim. Eu diria que sim. É simplesmente,positivamente sadistaamaneirapelaqual elesa fazem levantarpela manhã. Depois disso frequentemente lhe deixam ficarmofandopeloaeródromoporumaouduashoras.Ora,lembro-meque em Roma nos chamaram às hm. Café da manhã norestauranteàshoras.Eemseguidanarealidadenoaeroportonãosaímosantesdasoito.Noentanto,agrandecoisaéquealevamaoseudestinologo,semdelongaspelocaminho.
Vitóriasuspirou.Elabemqueteriagostadodeumbocadodedelongas.Queriaeraveromundo.
- E que acha você, minha cara - continuou a Sra. Clippexcitadamente;-sabeaquelehomemdeaspectointeressante?
O inglês? Aquele que causou toda aquela comoção?Descobriquemeleé.ÉSirRupertCroftonLee,ograndeviajante.Éclaroquevocêjáouviufalardele.
Sim, Vitória lembrava agora. Tinha visto diversasfotografias nos jornais há uns seis meses. Sir Rupert era umagrandeautoridadesobreointeriordaChina.Eraumadaspoucaspessoas que tinham estado no Tibete e visitado Lhasa. TinhaviajadopelaspartesdesconhecidasdoCurdistãoedaÁsiaMenor.Seus livros tinham tido ampla vendagem, porque tinham sido
escritosaudaciosamenteecomhumor.SeSirRuperteraapenasnotavelmenteumauto-anunciador, eraporumaboa razão.Nãofazia reivindicações que não fossem inteiramente justificadas. Acapa com o capuz e o chapéu de abas largas eram, Vitórialembravaagora,umamodadeliberadadesuaprópriaescolha,
-Nãoéemocionante?-perguntavaaSra.Clippcomtodooentusiasmodeumcaçadordeleões,enquantoVitóriaajustavaasroupasdecamaàsuavolta.
Vitóriaconcordavaemqueissoeraemocionante,masdiziaa si mesma que preferia os livros de Sir Rupert à suapersonalidade.Eleera,achavaela,oqueascriançaschamamde"umfaroleiro!"
A partida na manhã seguinte foi feita em boa ordem. Otempo tinha clareado e o sol estava brilhando. Vitória ainda sesentia desapontada de ter visto tão pouco da Tripolitânia. Noentanto, o avião devia chegar ao Cairo na hora do almoço e asaída para Bagdá não teria lugar antes damanhã seguinte, demodo que ela seria capaz de ver um pouco do Egito à tardeEstavam voando por sobre o mar, mas nuvens em brevebloquearam a vista da água azul por baixo deles e Vitóriareclinou-se em seu assento com um bocejo. Na frente dela, SirRupertjáestavadormindo.Ocapuztinhacaídoparatrásdesuacabeça, que estava pendurada para a frente, cabeceando aintervalos.Vitóriaobservoucomumligeiroprazermaliciosoquehavia um pequeno furúnculo começando nas costas do seupescoço. Porque é que ela deveria ter ficado satisfeita com essefatoeradifícildizer-talvezqueissofizesseograndehomemmaishumano e vulnerável.Ele era, afinal de contas, comoos outroshomens, sujeito aos pequenos aborrecimentos carnais. Pode serditoqueSirRupert.tinhaconservadosuasmaneirasdoolimpoenão tinha tomado conhecimento da existência de seuscompanheirosdeviagem.
-Quempensaelequeé,gostariadesaber,pensouVitóriaconsigomesma.Arespostaeraóbvia.EleeraSirRupertCroftonLee, uma celebridade, e ela era Vitória Jones, umaestenodatilógrafa,indiferenteedenenhumaimportância.
Chegando ao Cairo, Vitória e a Sra. Hamilton Clippalmoçaramjuntas.AúltimaentãoanunciouqueestavaindotirarumcochiloatéàsseishorasesugeriuqueVitóriapoderiagostar
deirvisitaraspirâmides.-Fizarranjosparaumcarroparavocê,Srta.Jones,porque
sei que, de acordo com os dispositivos do seu Governo, nãopoderátrocardinheiroaqui.
Vitória, que de qualquer forma não tinha dinheiro paratrocar, estava devidamente agradecida e disse isso com algumaefusão.
-Ora, issonãoénada.Você temsido tão, tãogentilparacomigo. E, viajando com dólares, tudo é fácil para nós. A Sra.Kitchin - a senhora com as duas crianças engraçadinhas -também está ansiosa por ir também e eu sugeri que você sejuntariaaela...seéqueestádeacordo?
-Desdequepossaveromundo,tudoestabemparamim.-ótimo.Entãoémelhorvocêirandandoagoramesmo.
Atardenaspirâmides foidevidamentedesfrutada.Vitória,embora gostasse razoavelmente de crianças, poderia ter gostadomais sem os rebentos da Sra. Kitchin.Crianças, quando se vaidar um passeio turístico, são aptas a serem algo como umempecilho. A criançamais nova tornou-se tãomanhosa que asduas mulheres voltaram de sua expedição mais cedo do quetinhamtencionado.
Vitóriaatirou-sesobreasuacamacomumbocejo.Desejavamuito que pudesse ficar uma semana noCairo - talvez subir oNilo.
-Eusariacomodinheiro,minhapequena?-perguntava-seasimesmadesanimada.JáeraummilagrequeestivessesendotransportadaparaBagdádegraça.
Eque,perguntavaumavozfriainterior,vocêvaifazerumavezquehouverchegadoaBagdácomsomentealgumaslibrasnobolso?
Vitória dispensou esta pergunta. Edward tinha queencontrarumempregoparaela.Ouse isso falhasse,elamesmaencontrariaumemprego.Porquepreocupar-se?
Seus olhos, ofuscados pela luz do sol, fecharam-sesuavemente.
Uma batida à porta, ao que pensava, despertou-a.Respondeu:
- Entre - em seguida, como não houvesse resposta,levantou-sedacama,atravessouatéaportaeabriu-a.
Masabatidanão tinha sidonaportadela,masnaportaseguinte corredor abaixo. Outra das inevitáveis comissárias debordo, de cabelos escuros e alinhada em seu uniforme, estavabatendo na porta de Sir Rupert Crofton Lee. Ele a abriujustamentequandoVitóriaestavaolhandoparafora.
-Equeéqueháagora?Pareciaaborrecidoesonolento.- Sinto muito incomodá-lo, Sir Rupert. - gorjeou a
aeromoça. - Mas poderia descer até o escritório da BOAC; é aterceiraportaaquinapassagem.ApenasumpequenodetalhearespeitodovooparaBagdáamanhã.
-Oh,muitobem.Vitória retirou-se para o seu quarto. Estava menos
sonolentaagora.Olhouparaseurelógio.Apenasquatroemeia.Aindaumahora emeia antes que aSra.Clippprecisasse dela.DecidiusaireandarporHeliópolis.Paraandar,pelomenos,nãoprecisavadedinheiro.
Empoou o nariz e colocou os sapatos de novo. Pareciambemcheiosdededos.Avisitaàspirâmidestinhasidoumcastigoparaospés.
Saiu do seu quarto e andou ao longo do corredor emdireçãoaohallprincipaldohotel.TrêsportasadiantepassoupeloescritóriodaBOAC.Tinhaapenasumcartãoanunciandoo fatopregadoàporta.Justamentequandopassavaporela,aportaseabriueSirRupert:saiu.Eleestavaandandodepressaepassou-aemalgumaspassadas.Continuouàfrentedela,capaesvoaçanteeVitória imaginouqueeleestavaaborrecidoarespeitodealgumacoisa.
A Sra. Clipp estava com disposição um tanto petulantequandoVitóriaseapresentouparaoserviçoàshoras.
Eu estou preocupada com o excesso da minha bagagem,Srta.Jones.Eusupunhaqueestavapagaocaminhotodo,masparece que está paga somente até o Cairo. Nós continuamosamanhã pela Iraque Airways. Meu bilhete é um bilhete direto,masnãooexcessodebagagem.Seráquevocêpoderiadescobrirseérealmenteassim?PorquepodeserqueeuprecisetrocaroutroTravellerscheque.
Vitória concordou em fazer indagações. Não conseguiuencontraroescritóriodaBOACprimeiroefinalmentelocalizou-o
nocorredordooutrolado-dooutroladodohall-umescritóriobemgrande.Ooutro,supunha,tinhasidoumescritóriopequenousado apenas durante as horas da siesta depois do almoço.Ostemores da Sra. Clipp a respeito da bagagem de excesso foramconstatadosseremjustificados,oqueaaborreceubastante.
VINOQUINTOANDARdeumaquadradeescritóriosnaEty
de Londres estão localizados os escritórios da Companhia deGramofonesValhalla.Ohomemqueestavaatrásdaescrivaninhanaquele escritório estava lendo um livro sobre economia. Otelefonetocoueelelevantouoreceptor.Dissenumavozcalmaesememoção:
-CompanhiadeGramofonesValhalla.-AquiSanders.-SandersdoRio?Querio?-RioTigre.RelatóriosobreA.S..Houveummomento de silêncio. Em seguida a voz calma
faloudenovo,comumanotadeaço.-Seráqueescuteicorretamenteoquedisse?-PerdemosAnaScheele.-Semnomes.Issoumerromuitosériodesuaparte.Como
foiqueaconteceu?-Foiparaaquelacasadesaúde.Eulhedisseantes.Airmã
delaiaseroperada.-Bem?-Aoperaçãofoirealizada.EsperávamosA.S.voltarparao
Savoy.Elatinhaconservadoasuasuíte.Nãovoltou.Tinhasidovigiadanacasadesaúdeenóstínhamoscertezadequeelanãohaviasaídodelá.Presumimosqueelaaindaestivesseali.
-Enãoestá?-Acabamosdedescobrir.Saiudelá,numaambulância,no
diaseguinteaodaoperação.-Eladeliberadamenteosenganou- Parece. Eu juraria que ela não sabia que estava sendo
seguida.Tomamostodasasprecauções.Haviatrêsdenóse...- Esqueça as desculpas. Onde foi que a ambulância a
levou?-AoHospitalColégioUniversitário.-Quedescobriudohospital?- Que uma paciente foi entregue acompanhada por uma
enfermeiradohospital.AenfermeiradohospitaldevetersidoAna
Scheele.Elesnãotêmideiadeondeelapoderáteridodepoisquetrouxeapaciente.
-Eapaciente?-Nãosabedenada.Estavasobmorfina.- De modo que Ana Scheele saiu do Hospital Colégio
Universitário vestida como enfermeira e agora pode estar emqualquerlugar?
-Sim.SeelavoltarparaoSavoy...Ooutrointerrompeu.-NãovaivoltaraoSavoy.-Devemosverificaremoutroshotéis?-Sim,masduvidoqueobtenhamalgumresultado.É isso
queelaesperariaquevocêsfizessem.-Temoutrasinstruções?-Verifiquenosportos-Dover,Folkestoneetc.Verifiquenas
companhias aéreas. De modo particular verifique todas asreservas para Bagdá por avião para a próxima quinzena.. Apassagem não estará reservada em seu próprio nome. Verifiquetodosospassageirosdeidadeadequada.
-SuabagagemaindaestánoSavoy.Talvezqueelaamandeprocurar.
-Nãovai fazernadadisso.Vocêpodeserumtrouxa,maselanãoé!Airmãsabedealgumacoisa?
- Estamos em contato com a sua enfermeira especial nacasa de saúde. Aparentemente a irmã pensa que A.S. está emParistratandodenegóciosparaMorganthalehospedadanoRitzHotel.AcreditaqueA.S.irávoardevoltaaosEstadosUnidosnodia.
Emoutraspalavras,A.S.nadalhecontou.Elanãoofaria.Verifiqueaquelaspassagensaéreas.Éaúnicaesperança
-ElatemqueiraBagdá...epeloaréaúnicamaneiracom
queelapodefazê-loatempoe,Sanders...-Sim?Nadamaisdefracassos.Estaéasuaúltimachance.
VIIO JOVEM SR. SHRIVENHAm da Embaixada Britânica
passou o peso de um pé para o outro, olhando para cimaenquantooaviãopassavaporsobreoaeródromodeBagdá.Umaconsiderável tempestade de poeira estava redemoinhando.Palmeiras, árvores, seres humanos, tudo estava amortalhadonuma densa cortina marrom. Tinha acontecido bem derepente.Lionel Shrivenham observou num tom de profundoaborrecimento:
-Disseramquenãovãopoderdesceraqui.-Oqueirãofazer?-perguntouseuamigoHarold.-ContinuarparaBasrah,acho.Ouvidizerqueláotempo
estábom.-VocêdeveseencontrarcomalgumaespéciedeVIP,OjovemSr.Shrivenhamgrunhiunovamente.- É a minha sorte. O novo Embaixador foi atrasado na
saída. Lansdowne, o Conselheiro, está na Inglaterra. Rice, oConselheiroOrientalestádoente,decamacominfluenzagástrica,temperatura perigosamente elevada. Best está no Teerã e aquiestoueu,comtodaacoleçãodosabacaxis.Omovimentoacercadessecamaradanãopara.Nãoseiporquê.Mesmoosmeninosdafofoca estão arreliados. Ele é um desses viajantes do mundo,sempre de partida para algum lugar, inacessível, nas costas deum camelo. Não sei por que é tão importante assim, masaparentementeeleéabsolutamenteoimportantãoeeutenhoqueobedecer ao seu menor desejo. Se for levado para Basrah,provavelmente ficará danado da vida. Não sei que arranjos eupoderiafazer.Tremparaláhojeànoite?OuarranjarparaaRAFlevá-lodeaviãoamanhã?
O Sr. Shrivenham suspirou novamente, enquanto asensação de ofensa e responsabilidade se aprofundava.Desde asua chegada a Bagdá, há três meses, ele tinha estadoconstantemente com falta de sorte.Umúnico sabão amais, elesentia, finalmenteafundariaoquedeoutramaneirapoderia tersidoumacarreirapromissora.
Oaviãopassoumaisumavezporsobreascabeças.- Evidentemente pensa que não vai conseguir - disse
Shrivenham,emseguidaacrescentouexcitado:-Olá,pensoqueeleestábaixando.Alguns momentos mais tarde e o avião tinha taxiado
serenamenteparaoseulugareShrivenhamestavadeprontidãoparacumprimentaroVIP.
Seu olhar não profissional notou "uma pequena bembonita..." antes dele pular para a frente para cumprimentar afigurasemelhanteaumbucaneirodacapaesvoaçante.
Praticamente uma fantasia, pensou consigo mesmodesaprovadoramente,enquantoemvozaltadizia:
-SirRupertCroftonLee?SouShrivenhamdaEmbaixada.Sir Rupert, pensava, era ligeiramente seco de maneiras -
talvez compreensível depois do esforço de circular por sobre acidadenaincertezaseaaterragempudesseserefetuadaounão.
-Dia feio-continuouShrivenham.-Tivemosumaporçãodesta espécie de tempo este ano. Ah, o senhor já está com asmalas.Então,semequiserseguir,senhor,estátudoarranjado...
Quandosaíramdoaeródromonocarro,Shrivenhamdisse:- Por um instante pensei que estava sendo levado para
algum outro aeroporto. Não parecia que o piloto seria capaz defazer uma aterragem. Apareceu de repente, esta tempestade depoeira.
SirRupertinflavaasbochechasdemaneiraimportante,aocomentar:
- Isso teria sidodesastroso... bastantedesastroso.Semeuprogramativessesidoprejudicado,meujovem,eulhedigoqueosresultadosteriamsidogravesedegrandealcanceaoextremo.
Um monte de tapete, pensou Shrivenham.
desrespeitosamente. Esses VIPs pensam que seus negóciosmalucossãoaquiloquefazomundogirar.
Emvozaltadisserespeitosamente:-Achoquesim,senhor.-TemalgumaideiadequandooEmbaixadorvaichegara
Bagdá?-Nãohánadadefinido,senhor.- Ficarei triste se não me encontrar com ele. Não o vejo
desde...deixa-mever,sim,Índia,em.Shrivenhamguardouumsilênciorespeitoso.
-Deixe-mever,Riceestáaqui,nãoé?-Simsenhor,éoConselheiroOriental.- Sujeito capaz. Sabe uma porção de coisas. Ficarei
contenteemvê-lodenovo.Shrivenhamtossiu.- Na realidade, senhor, Rice está no rol dos doentes. Foi
levadoaohospitalparaobservação.Tipoviolentodegastrenterite.Algo um pouco pior do que a costumeira barriga de Bagdá,aparentemente.
-Queé isso? -SirRupertvoltousuacabeçadesupetão -Umagastrenteritefeia...hum.Veioderepente,nãofoi?
-Anteontem,senhor.Sir Rupert estava franzindo as sobrancelhas. A grande
quantidadedemaneirasextremamenteafetadaabandonou-o.Eleeraumhomemmaissimples-eumtantomaispreocupado.
-Ficoacismar-disse.-Sim,acismar.Shrivenhampareciapolidamenteinquiridor.-Ficopensando-disseSirRupert-senãoseriaumcasode
VerdeScheele...Embatucado,Shrivenhamconservou-seemsilêncio.Estavam justamente aproximando-se da Ponte Feisal. e o
carrodobrouàesquerda,emdireçãoàEmbaixadaBritânica.SubitamenteSirRupertinclinou-separaafrente.-Paraumminuto,sim?-comandourispidamente.Sim,do
ladodireito.Ondeestãotodosaquelespotes.O carro encostou ao meio-fio direito e parou. Era uma
pequena loja nativa com pilhas altas de potes de barro cru,brancosejarrasdeágua.
Umeuropeubaixo e atarracado, que tinha estado falandocomoproprietário,afastou-seemdireçãoàponte,quandoocarroparou.ShrivenhampensouqueeraCrosbieda&p,queeletinhaencontradoumaouduasvezes.
Sir Rupert saltou do carro e foi para a pequena cabina.Levantandoumdospotes começouuma rápida conversação emárabecomoproprietário.Ofluxodaconversaerarápidodemaispara Shrivenham cujo árabe ainda era lento e laborioso edistintamentelimitadoemvocabulário.
O proprietário estava sorridente, seus braços abriam-selargamente, gesticulava, explicava com detalhes. Sir Rupert
pegava diferentes potes, aparentemente fazendo perguntas arespeitodeles.Finalmenteselecionouumajarradeáguadebocaestreita,jogoualgumasmoedasaohomemevoltouparaocarro.
- Técnica interessante - comentou Sir Rupert. - Vemfazendo-as assim pormilhares de anos, damesma forma comonumdosdistritosdasmontanhasdaArmênia.
Seu dedo escorregou para dentro da abertura estreita,torcendoetorcendoemvolta.
- É coisa muito rudimentar - disse Shrivenham nadaimpressionado.
Oh! nada de mérito artístico! Mas historicamenteinteressante. Veja essas indicações de aças aqui! Conseguem-semuitasindicaçõeshistóricasdeobservaçõesdascoisassimplesdeusodiário.Tenhoumacoleçãodelas.
OcarroentroupelosportõesdaEmbaixadaBritânica.Sir Rupert queria ser levado imediatamente para seu
quarto. Shrivenham ficou divertido ao notar que, terminada apreleção sobre o pote de barro, Sir Rupert o tinha deixadodespreocupadamentenocarro.Shrivenhamfezquestãodelevá-lopara cima e colocá-lo, meticulosamente sobre a mesinha decabeceiradeSirRupert.
-Seupote,senhor.Eh?Oh,obrigado,meurapaz.SirRupertpareciadistraído.
Shrivenhamdeixou pois de repetir que o almoço estaria prontologoapósequebebidasaguardavamasuaescolha.
Quando o jovem deixou o quarto, Sir Rupert foi para ajanelaedesdobrouopequenopedaçodepapelquetinhaestadoenfiado na boca do pote. Alisou-o. Havia duas linhas escritasnele. Leu-as cuidadosamente, em seguida tocou fogo no papelcomumfósforo.
Emseguidachamouumcriado.-Simsenhor!Eudesfazermalasparasenhor?-Aindanão.Euquero falarcomoSr.Shrivenham...aqui
emcima.Shrivenham apareceu com uma expressão ligeiramente
apreensiva.-Algoqueeupossafazer?Algumacoisaerrada?-Sr.Shrivenham,umamudançadrásticaseverificounos
meusplanos.Possocontarcomasuadiscrição,naturalmente?
-Oh,absolutamente,senhor.- Já faz algum tempo desde que estive em Bagdá pela
últimavez;narealidadenãoestivemaisaquidesdeaguerra.Oshotéisemsuamaioriaestãodooutroladodorio,nãoé?
-Simsenhor,emRashidStreet.-DefundosparaoTigre?-Sim,oBabylonianPalaceéomaiordeles.Éohotelmais
oumenosoficial.-QueéquesabeacercadeumhotelchamadooTio?-Oh,umaporçãodegentevailá.Acomidaérealmenteboa
e é administrado por um tipo terrífico chamadoMarcus Tio. ÉumaverdadeirainstituiçãoemBagdá.
- Eu gostaria que me reservasse um quarto ali, Sr.Shrivenham.
-Querdizer...osenhornãovaificarnaEmbaixada?Shrivenhamparecianervosamenteapreensivo.-Masmas...
estátudoarranjado,senhor.- O que está arranjado pode ser desarranjado... latiu Sir
Rupert.-Oh,certamente,senhor.Eunãoqueria...Shrivenham interrompeu-se.Tinhaumpressentimentode
quenofuturoalguémoculparia.- Eu tenho que realizar umas negociações um tanto
delicadas. Estou sabendo que não podem ser realizadas naEmbaixada.EuqueroquemereserveumquartohojeànoitenoHotel Tio e quero sair daEmbaixadademaneira razoavelmentediscreta.IssoquerdizerquenãoquerochegarnoTionumcarrodaEmbaixada.TambémqueroumlugarreservadonoaviãoquevaiparaoCairodepoisdeamanhã.
Shrivenhamaindapareciamaisaterrado.-Maseucompreendiqueiriaficarcincodias...-Issojánãoémaisocaso.Éimperativoqueeuchegueao
Cairo logo que meu negócio aqui estiver terminado. Não seriaseguroparamimpermanecermaistempo.
-Seguro?Um súbito sorriso transformou a face de Sir Rupert. As
ManeirasqueShrivenhamtinhacomparadoàsdeumsargentodeinstruçãoprussiano forampostasde lado.Ocharmedohomemtornou-sesubitamenteaparente.
- A segurança não tem geralmente sido uma de minhaspreocupações,concordo-disseele.-Masnestecasonãoéapenasa minha própria segurança que tenho que levar emconsideração... minha segurança inclui a segurança de umaporçãodeoutraspessoastambém.Entãofaçaessesarranjosparamim. Se a passagem aérea for difícil, peça prioridade. Até sairdaqui,hojeànoite,ficareinomeuquarto.
Quando a boca de Shrivenham se abriu em espanto, SirRupert.acrescentou:
-Oficialmenteestoudoente.Ligeiroataquedemalária.Ooutroanuiucomacabeça.Assimnãoprecisareidecomida-disseSirRupert.Mascertamentenãopodemosmandá-lo...Jejumdevinteequatrohorasparamimnãoénada.Passei
fomemais tempo do que isso em, algumas deminhas viagens.Façaapenascomolhedigo.
Embaixo Shrivenham foi cumprimentado pelos seuscolegasegrunhiuemrespostaàsperguntasdeles.
-Coisadecapaeespadaemgrandeestilo-disseeleNão posso bem compreender sua grandiloquência. Sir
RupertCroftonLee.Se é genuínoou se está representandoumpapel. Aquela capa esvoaçante e o chapéu de bandido e todo oresto.Umcamaradaque leuumdos livrosdelemecontouque,embora seja um bocado autopromotor, ele realmente fez todasaquelascoisaseestevenesseslugares...maseunãosei...GostariaqueThomasRiceestivessedepéeaquiparatomarconta.Issomelembra,queéVerdeScheele?
-VerdedeScheele?,- disse seuamigo franzindoa testa. -Algo que ver com papel de parede, não é? Venenoso. É umaespéciedearsênico,achoeu.
-Nossa!-exclamouShrivenham,olhandofixamente.Pensei que fosse uma doença. Algo como uma disenteria
amebiana.- Oh, não, é algo no campo da química. O que esposas
usamparadarcabodosseumaridosouvice-versa.Shrivenham tinha recaído para um silêncio espantado.
Certosfatosdesagradáveisestavamcomeçandoaficarclarosparaele. Crofton Lee sugeriu que Thomas Rice, Conselheiro orientalna Embaixada, estava sofrendo não de gastrenterite, mas de
envenenamento por arsênico. Acrescentando a isso Sir Ruperttinhasugeridoqueasuaprópriavidaestavaemperigoea suadecisãodenãocomercomidaebebidapreparadasnascozinhasda Embaixada Britânica abalou a alma decorosa e britânica deShrivenhamatéseuâmago.Elenãoeracapazdeimaginaroquepensardetudoisso.
VIIIVITÓRIA, RESPIRANDO a asfixiante poeira amarela, ficou
desfavoravelmente impressionada por Bagdá. Do Aeroporto aoHotel Tio, seus ouvidos tinham sido assaltados por barulhocontínuo e incessante. Buzinas estridentes de automóveis, compersistência enlouquecedora, vozes gritando, apitos soando, emseguida mais ensurdecedor e sem propósito de buzinas deautomóveis.Acrescidoaosruídosaltoseincessantesdaruahaviaum finopinga-pingade somcontínuo,queeraaSra.HamiltonClippfalando.
VitóriachegouaoHotelTioemcondiçãoaturdida.Uma pequena álea levava da zoada de Rashid Street em
direçãoaoTigre.Umpequenolancedeescadaparasubireali,naentradadohotel,foramcumprimentadasporumjovembastantecorpulento com um sorriso largo que, metaforicamente pelomenos, as acolheu ao coração. Isso, compreendeu Vitória, eraMarcus, oumais corretamente, o Sr. Tio, proprietário do HotelTio.
Suas palavras de boas-vindas foram interrompidas porordensgritadasaváriossubalternoscomreferênciaaodestinodesuabagagem.
-Eaquiasenhoraestámaisumavez,Sra.Clipp...masseubraço...porqueéqueestánessenegócioesquisito?... (Oh,seustrouxas, não carreguem aquilo com o barbante! Imbecis! Nãoarrastem aquele casaco)... Mas, minha cara... que dia parachegar... nunca, pensei eu, o avião conseguiria aterrar. Ficoudando voltas e voltas e voltas - Marcus, disse eu para mimmesmo,nãoévocêquevaiviajardeaviões.todaessapressa,queimporta?...easenhoratrouxeumajovemconsigo.ÉsemprebomveralgumanovajovememBagdá..porquefoiqueoSr.Harrisonnão veio para encontrá-la... eu o esperava ontem. Ofereceu-lheumabebidaimediatamente.
Agora, um tanto aturdida, Vitória de cabeça levementeatordoada pelo efeito de um uísque duplo autoritariamenteimpingidoaelaporMarcus,estavadepénumquartoaltocaiado,que,continha uma cama grande de latão, um echinché muitosofisticadodomaisnovomodelofrancês,umvelhoguarda-roupa
Vitoriano e duas cadeiras de pelúcia vividas. Sua modestabagagem repousava a seus pés e um homemmuito velho, comrosto amarelo e cabelos brancos, sorriu e acenou para elaenquanto colocava toalhas no banheiro e perguntava se queriaqueesquentasseáguaparaseubanho.
-Quantotempoissoirialevar?-Vinteminutos,meiahora.Euvouefaçoagora..Comumsorrisopaternalretirou-se.Vitóriasentou-sesobre
acamaepassouumamãoexperimentalsobreocabelo.Sentiu-oencardidodepoeiraeseurostoestavasensívelegretado.Olhou-senoespelho.Apoeira tinhamudadoseucabelodepretoparaummarromavermelhado,estranho.Puxouparaoladoumcantodacortinaeolhouparaumavarandalargaquedavaparaorio.MasnadapodiaservistodoTigre,anãoserumabrumaamarelaespessa. Vítima de profunda depressão, Vitória dizia para simesma:
-Quelugarodioso.Em seguida, levantou-se, atravessou o patamar e bateu à
porta da Sra. Clipp. Ministrações prolongadas e ativas seriamexigidasdelaantesquepudesse tratardesuaprópria limpezaereabilitação.
Depoisdeumbanho,almoçoecochiloprolongado,Vitóriasaiu do seu dormitório para a varanda e olhou com aprovaçãosobreoTigre.Atempestadedepoeiratinhaamainado.Emlugardeumabrumaamarelaumapálidaluzclaraestavaaparecendo.Dooutroladodoriohaviaasilhuetadelicadadepalmeirasedecasascolocadasirregularmente.
Vozeserguiam-separaVitóriadojardimembaixo.Foiparaabordadavarandaeespiouparabaixo.
A Sra. Clipp, aquela tagarela infatigável e alma amiga,tinhafeitoconhecimentocomumainglesa-umadessasinglesascastigadas pelo tempo, de idade indeterminada, que semprepodemserencontradasemqualquercidadeestrangeira.Eoqueeu poderia ter feito sem ela, eu simplesmente não sei, - a Sra.Clippestavadizendo.-Elaésimplesmenteamoçamaisdócilquevocêpossaimaginar.Emuitobemrelacionada.NetadoBispodeLlangow.
-Bispodequê?-Ora,Llangow,creioqueera.
-Bobagem,nãoexistetalpessoa-disseaoutra.Vitória franziu a testa. Estava reconhecendo o tipo de
inglesa do campo que dificilmente poderia ser enganada pelamençãodebisposespúrios.
-Ora, então, talvez eu tenhacompreendidomalonome -disseaSra.Clippemdúvida.
- Mas - concluiu - ela certamente é uma moça muitoencantadoraecompetente.
Aoutradisse:-Ha!-demaneiraindiferente.Vitória resolveu ficar à maior distância possível dessa
senhora.Algolhediziaqueinventarhistóriasparasatisfazeressaespéciedemulhernãoeratarefafácil.
Vitória voltou para o seu quarto, sentou-se na cama eentregou-seaespeculaçõessobreasuapresentesituação.
Ela estava hospedada no Hotel Tio que era, como estavarazoavelmentesegura,nemumpoucobarato.Tinhaquatrolibrasedezessetexelinsemsuaposse.TinhaingeridoumalmoçolautopeloqualnãotinhapagoaindaepeloqualaSra.HamiltonClippnãotinhaobrigaçãonenhumadepagar.DespesasdeviagematéBagdá foi o que a Sra. Clipp tinha oferecido. O negócio estavacompleto. Vitória tinha chegado a Bagdá. A Sra. Clipp tinharecebido a atenção perita da sobrinha de um bispo, uma ex-enfermeiradehospitalesecretáriacompetente.Tudo issoestavaterminado, para amútua satisfaçãode ambas aspartes.ASra.ClipppartirianotremnoturnoparaKirkuk-e,eratudo.Vitóriabrincava esperançosa com a ideia de que a Sra. Clipp poderiainsistir em fazer-lhe um presente de despedida na forma demoedacorrente,masabandonou-acomoimprovável.ASra.Clippnãopoderia ternenhuma ideiadequeVitóriaseencontravaemextremosfinanceirosrealmentepericlitantes.
O que então deveria Vitória fazer? A resposta veioimediatamente.EncontrarEdward,naturalmente.
Comumsentimentodeaborrecimentoelateveconsciênciade que não sabia em absoluto nada do sobrenome de Edward.Edward-Bagdá.Bemcomoamoçasarracena,refletiaVitória,quechegou na Inglaterra, sabendo apenas o nome do seu amado"Gilbert"e"Inglaterra".Umahistóriaromântica-mascertamenteinconveniente.VerdadequenaInglaterraaotempodasCruzadas
ninguém - pensava Vitória - tinha qualquer sobrenome. PelooutroladoaInglaterra,eramaiordoqueBagdá.Aindaassim,aInglaterraeraescassamentepovoadanaquelaocasião...
Vitória arrancou seus pensamentos dessas especulaçõesinteressantes e voltou aos fatos duros. Tinha que encontrarEdwardimediatamente.Edwardtinhaqueencontrarumempregoparaela.Tambémimediatamente.
Não sabia o sobrenome de Edward, mas ele tinha vindopara Bagdá como secretário de um Dr. Rathbone e,presumivelmente,oDr.Rathboneeraumhomemdeimportância.
Vitória empoou o nariz, alisou o cabelo e partiu escadasabaixoembuscadeinformações.
O sorridente Marcus, passando pelo hall do seuestabelecimento,saudou-adeliciado.
-Ali,éaSrta.Jones,quervircomigoetomarumtrago,nãoquerminhacara?Eugostomuitodesenhorasinglesas.TodasassenhorasinglesasdeBagdá,elassãominhasamigas.Todosestãomuitocontentesnomeuhotel.Vamos,vamosaobar.
Vitória, não de todo avessa a hospitalidade gratuita,consentiualegremente.
Sentadanumbancoebebendogim,começouasuaprocuradeinformação.
- O senhor conhece algum Dr. Rathbone que acaba dechegaraBagdá?-perguntouela.
- Eu conheço todo mundo em Bagdá - disse Marcus Tioalegremente.EtodomundoconheceMarcus.Éverdadeissoquelheestoudizendo.Oh!Eutenhomuitos,muitosamigos.
-Acreditoquetenha-disseVitória. -OsenhorconheceoDr.Rathbone?
-NasemanapassadaeutiveoMarechal-do-Ar,comandantede todo o Oriente Médio de passagem. Ele diz para mim,"Marcus",seuvilão,eunãovivocêdesde.Vocênãoficounemumpouco mais magro." Oh, ele é um homem muito bom. Gostomuitodele.
-EsobreoDr.Rathbone.Eleéumhomembom?-Eugosto, sabe,degentequesabesedivertir.Gostodas
pessoasseremalegrese jovense encantadoras... comovocê.Eledizparamimassim,aqueleMarechal-do-Ar,"Marcus,vocêgostademaisdasmulheres".Maseudigopraele:"Não,omeumaléeu
gostar demais de Marcus... " = Marcus ribombava de riso,interrompendo-separachamar:
-Jesus...Jesus!Vitória parecia espantada, mas parecia que Jesus era o
nomedebatismodohomemdobar.VitórianovamentesentiuqueoLesteeraumlugaresquisito.
Outrogimelaranja,euísque,-comandouMarcus.Nãocreioqueeu...Sim,sim,tomará...sãomuito,muitofracos.SobreoDr.Rathbone-insistiuVitória.EssaSra.HamiltonClipp...quenomeestranhocomaqual
chegou, ela é americana, não é? Eu também gosto de genteamericana,mas gostomais dos ingleses. Gente americana, elesparecem sempre muito preocupados. Mas algumas vezes, sim,elessãoboaspraças...OSr.Summers...vocêoconhece?ElebebetantoquandochegaaBagdá,quevaidormirportrêsdiasenãoacorda.Édemaisisso.Nãoébonito.
- Mas naturalmente eu a ajudo. Eu sempre ajudo meusamigos.Vocêmedizoquequerquesejafeito...eimediatamente,seráfeito.Umabistecaespecial...ouperucozidomuitobomcomarrozepassaseervas...oupintinhos.
- Não quero pintinhos - disse Vitória. - pelo menos nãoagora-acrescentouprudentemente.-Euquero
- Por favor,me ajude - implorou Vitória.Marcus pareceusurpreso encontrar esseDr.Rathbone.Dr.Rathbone, ele acabadechegaraBagdá.Comum...comum...secretário.
-Eunãosei -disseMarcus. -ElenãoestáhospedadonoTio.
A implicação era claramente que alguém que não estavahospedadonoTionãoexistiaparaMarcus.
- Mas há outros hotéis - insistiu Vitória, - ou talvez eletenhaumacasa?
- Oh, sim, há outros hotéis. Babylonian Palace,Sennacherib,HotelZobeida.Sãobonshotéis,sim,masnãosãocomooTio.
- Tenho certeza de que não são - assegurou-lheVitória. -MasnãosabeseoDr.Rathboneestáhospedadoemalgumdeles?Háuma espécie de sociedade que ele dirige... temalguma coisaquevercomculturas...elivros.
Marcustornou-sebastantesérioàmençãodecultura.- É do que precisamos - disse ele. - Deve haver muita
cultura.Arteemúsica,émuitobonito,muitobonito realmente.Eu mesmo gosto de sonatas de violino, se não são muitocompridas.
Embora completamente de acordo com ele, especialmentequantoaofimdodiscurso,Vitóriaapercebeu-sedequenãoestavachegandomaispertodoseualvo.AconversaçãocomMarcusera,pensava ela, extremamente entretida e Marcus era uma pessoaencantadora em seu entusiasmo infantil pela vida, mas aconversaçãocomele lembrava-lheosempenhosdeAlicenoPaísdas Maravilhas de encontrar um caminho que levasse para acolina. A cada tópico achava-se voltando ao ponto de partida -Marcus!
Recusou outro trago e levantou-se tristemente. Sentiu-seligeiramentetonta.Oscoquetéistinhamsidotudo,menosfracos.Foi do bar para o terraço do lado de fora e ficou no encosto,olhandoporsobreorio,quandoalguémfaloupordetrásdela.
-Desculpe-memasseriamelhorvestirumcasaco.Achoquelhe parece como o verão, chegando da Inglaterra, mas ficabastantefrioaopordosol.
Era a inglesa que tinha estado falando com a Sra. Clippmais cedo. Tinha a voz rouca de alguém que tem o hábito detreinarechamarcachorrosdecriação.Usavaumacapadepele,tinhaumamantasobreospés e estavabebericandoumuísquecomsoda.
-Oh,obrigada-disseVitóriae jáestavaquaseescapandoapressadamentequandosuasintençõesforamfrustra-Tenhoqueapresentar-me.SouaSra.CardewTrench. (A implicação estavaclara: uma das Cardew Trenches). -Acredito que chegou com aSra....comoéonomedela...HamiltonClipp.
-Sim-disseVitória,-cheguei.- Ela me contou que você era a sobrinha do Bispo de
Llangow.Vitóriaativou-se.- Foi, é? - perguntou ela com o vestígio correto de ligeiro
divertimento.-Entendierrado,presumo?Vitóriasorriu.
- Americanos geralmente estão sujeitos a entenderemerradosalgunsdosnossosnomes.SoacomoLlangow.Meutio,-disseVitória,improvisandorapidamente,-éoBispodeLanguao.
Languao?- Sim, no Arquipélago Pacífico. É um bispo colonial,
naturalmente.-Oh,umbispocolonial-disseaSra.CardewTrench,com
suavozcaindopelomenostrêssemitons.ComoVitória tinhaantecipado: aSra.CardewTrench era
magnificamentedesapercebidadebisposcoloniais.-Issoexplica-o-acrescentou.Vitóriapensoucomorgulhoqueissooexplicavamuitobem
paraummergulhodeinspiraçãomomentânea.-Equeéqueestáfazendoaqui?-perguntouaSra.Cardew
Trench com a benignidade inexorável. que esconde umadisposiçãodecuriosidadenatural.
Procurando um jovem com quem falei por algunsmomentos num parque público em Londres, dificilmente seriauma resposta que Vitória pudesse dar. Falou, lembrando, oparágrafoquetinhalidono jornaleoquetinhacontadoparaaSra.Clipp.
-Estoumereunindoaomeutio,Dr.PauncefootJones.Bemparecido.Oh, é isso que você é - a Sra. Cardew Trench estava
claramentedeliciadaporter identificadoVitória. -Éumhomemencantador,emboraumpoucodistraído...masachoqueissoerade ser esperado. Escutei-o conferenciar o ano Passado emLondres... excelente apresentação... não consegui entender umapalavraarespeitodequeeratudoisso.
Sim, ele passou por Bagdá, faz mais ou menos umaquinzena.Achoqueelemencionouquealgumasmoçasestariamchegandomaistardenaestação.
Apressadamente,tendoestabelecidoasuasituação,Vitóriaentroucomumapergunta.
- Sabe me dizer se o Dr. Rathbone está por aqui?perguntou.
-Acaboudechegar-disseaSra.CardewTrench.Acredito que lhe pediram para fazer uma conferência no
instituto na próxima quinta-feira. Sobre relações mundiais e
irmandade...ouqualquercoisaassim.Tudobobagem,sevocêmeperguntar.Quantomaisvocêtentajuntaraspessoas,tantomaisficamsuspeitandoumasdasoutras.Todaessapoesiaemúsicaetraduzir Shakespeare e Wordsworth em árabe e chinês ehindustam."Umaprimaveraàbeiradorio"etc....queadiantaissoparagentequenuncaviuumaprimavera?
-Ondeéqueeleestáhospedado,sabe?- No Babylonian Palace Hotel, creio. Mas seu quartel-
general épertodomuseu.ORamodeOliveira...nome ridículo.Cheio de jovens mulheres de slack, com pescoços por lavar eóculos.
-Conheçoligeiramenteseusecretário-disseVitória.-Oh sim, qual é seunome,EdwardCoisa... bom rapaz...
bom demais para aquele bando de cabeludos; saiu-se bem naguerra, ouvi dizer. No entanto um emprego é um emprego,acredito. Rapaz bem parecido... aquelas jovens mulheres sériasestãobemimpressionadascomele,imagino.
UmacutiladadeciúmedevastadoratravessouVitória.-ORamodeOliveira-disseela.-Ondedissemesmoque
era?- Para cima depois da virada para a segunda ponte. uma
das esquinas de Rashid Street... um tanto escondido. Não ficalongedobazardecobre.
EcomoestáaSra.PauncefootJones? - continuouaSra.Cardew Trench. - Virá logo? Escutei dizer que está de saúdeabalada?
Mas tendo conseguido as informações que queria, Vitórianão estava se arriscando mais com invenções. Olhou para seurelógiodepulsoeproferiuumaexclamação.
- Nossa! Prometi acordar a Sra. Clipp às seis e meia eajudá-laapreparar-separaaviagem.Tenhoquecorrer.
AdesculpaerabastantelegítimasebemqueVitóriativessesubstituído -seis e meia por sete horas. Correu para cimasentindo-sebastanteexcitada.AmanhãentrariaemcontatocomEdward no Ramo de Oliveira. Jovens mulheres sérias compescoços sujos, realmente! Soavam extremamente falhas deatrativos... No entanto, Vitória refletia desassossegada quehomens são menos críticos de pescoços pardacentos do quemulheresinglesashigiênicasdemeia-idade-especialmenteseas
proprietáriasdosditospescoçosestãoolhandocomgrandesolhosdeadmiraçãoeadoraçãoaoobjetomasculinoemquestão.
Atardepassourapidamente.VitóriateveumarefeiçãocedonasaladejantarcomaSra.HamiltonClipp,estaúltimafalandotrêspordoissobrequalquerassuntosobosol.InstoucomVitóriaparavirefazer-lheumavisitamaistarde-eVitóriatomounotadoendereçocuidadosamente,porque,afinaldecontas,nuncasesabia...AcompanhouaSra.ClippparaaEstaçãoNortedeBagdá,viu-a seguramente instalada em seu compartimento e foiapresentada a uma conhecida também viajando para Kirkuk equeajudariaaSra.Clippcomasuatoaletenamanhãseguinte.
Amáquinaproferiagritosaltosemelancólicos,comoumaalmapenada;ASra.ClippcolocouumgrossoenvelopenamãodeVitória,edisse:
- Apenas uma pequena lembrança, Srta. Jones, de nossacompanhia muito agradável, que eu espero que aceite com osmeuscumprimentosmuitoagradecidos.
Vitóriadisse:-Masérealmentemuitagentilezasua,Sra.Clipp,comvoz
deliciada.Amáquinasoltoumaisumgritocruciantedeangústiaeo
tremlentamentecomeçouasairdaestação.Vitória tomouumtáxidaestaçãodevoltaparaohotel, já
quenãotinhaamenorideiadecomochegarládequalqueroutromodo e não parecia haver ninguém por perto a quem pudesseperguntar.
VoltandoparaoTio,elacorreuparacima,paraseuquartoe ansiosamente abriu o envelope.Dentro estavamdoisparesdemeiasdenylon.
Vitóriaaqualqueroutromomentoteriaficadoencantada-sendo que meias de nylon geralmente tinham estado além doalcancedesuabolsa.Nomomento,porém,moedacorrenteeraoqueela tinhaestadoesperando.ASra.Clipp,noentanto, tinhasidodelicadademaisparapensaremdar-lheumanotadecincodinares. Vitória desejava ardentemente que ela não tivesse sidotãodelicadaassim.
NoentantonodiaseguintehaveriaEdward.Vitóriadespiu-se, foi para a cama e em cincominutos estava ferradano sonosonhandoqueestavaesperandoporEdwardnumaeroporto,mas
queele era impedidoa juntar-sea elaporumamoçadeóculosque o agarrava firmemente pelo pescoço enquanto o aviãocomeçavaaafastar-selentamente..
IXVITÓRIAACORDOUnumamanhãdesolbrilhante.Depois
de se vestir saiu para o grande terraço à frente da sua janela.Sentadonumacadeiraumpoucoafastadacomsuascostasparaela estava sentado um homem com cabelos grisalhosencaracolados crescendoparaumpescoçomusculoso castanho-avermelhado. Quando o homem voltou a cabeça para o lado,Vitóriareconheceu,comumsentimentodistintodesurpresa,SirRupertCrofton Lee. Porque deveria ter ficado tão surpreendida,eladificilmentepoderiaterdito.Talvezporqueelateriasupostocomo coisa natural que um VIP assim como Sir Rupert estariahospedado na Embaixada e não num hotel. Não obstante, aliestava ele, olhando o Tigre com uma espécie de intensidadeconcentrada. Notoumesmo que ele tinha um par de binóculospendurados do lado de sua cadeira. Possivelmente, pensou ela,eleestudavapássaros.
Um jovem a quem Vitória em certa época tinha achadoatraente tinha sido um entusiasta de pássaros e ela o tinhaacompanhadoemdiversasexcursõesdefimdesemana,parasercolocadadepé,comoqueparalisada,navegetaçãomolhadaeemventos gélidos, durante o que parecia horas, para escutarfinalmente, em tons de êxtase, para olhar pelo binóculo paraalgum pássaro insípido num galho remoto que, quanto a suaaparênciasecomparavadesfavoravelmente,atéondeVitóriapodiaver,comumtico-ticoouumpardalcomum.
Vitóriaencaminhou-separabaixo,encontrandoMarcusTionoterraçoentreosdoisedifíciosdohotel.
- Estou vendo que o senhor tem Sir Rupert Crofton Leecomohóspedeaqui-disseela.
- Oh, sim - disse Marcus sorrindo. - Ele é um homembom...umhomemmuitobom.
-Conhece-obem?-Não,estaéaprimeiravezqueovejo.OSr.Shrivenham,
daEmbaixadaBritânica, o trouxeaquinanoitepassada.OSr.Shrivenham, ele também é homem bom. Eu o conheço muitobem.
Continuandoparaocafédamanhã,Vitóriaficouacismar
seexistiaalguémqueMarcusnãoconsiderariaumhomembom.bom.Elepareciaexercerumacaridadeextensiva.
Depois do café, Vitória partiu em busca do Ramo deOliveira.
Como cockney criada emLondres, elanão tinhaamenornoção das dificuldades inerentes a encontrar qualquer lugarparticular numa cidade assim como Bagdá, até que começou aembarcarnatarefa.
EncontrandoMarcusnovamentena saída, pediu-lhe paraindicar-lheocaminhoparaomuseu.
-Éummuseumuitobonito-disseMarcussorrindo.-Sim.Cheio de coisas interessantes,muito,muito velhas.Não que eumesmotenhaestado lá.Mastenhoamigos,amigosarqueólogos,que ficam lá sempre que passam por Bagdá, o Sr. Baker, Sr.Richard Baker, conhece-o? E Professor Kalzman? E o Dr.PauncefootJones...eSr.eSra.McIntyre...todoselesvêmparaoTio. São meus amigos. E eles me contam sobre o que está nomuseu.Muito,muitointeressante.
-Ondeficaecomochegolá?- Você vai direto por Rashid Street... sempre em frente...
passa pela entrada para a Ponte Feisal e pelaRua dosBancos.ConheceaRuadosBancos?
-Nãoconheçonada-disseVitória.-Eemseguidaháumaoutrarua,tambémindoparauma
ponte,eéláquefica,àdireita.PerguntepeloSr.BetounEvans,eleéConselheiroinglêsali...umhomemmuitobom.Eamulherdele e muito boa também; ela veio para cá como sargento detransportesduranteaguerra.Oh,elaémuito,muitoboa.
-Eunarealidadenãoqueroirparaomuseu-disseVitória.Eu... Quero achar um lugar... uma Sociedade... uma
espéciedeclubechamadoRamodeOliveira.- Se quiser azeitonas - disse Marcus, - posso dar-lhe
azeitonas lindas, de qualidade muito boa. São guardadasespecialmenteparamim...paraoHotelTio.Vaiver,voumandar-lhealgumasparaasuamesaestanoite.
-Émuitagentilezasua-disseVitóriaeescapouemdireçãoaRashidStreet.
-Paraaesquerda-gritouMarcuspordetrásdela.Nãoparaadireita.Maséumcaminholongoparaomuseu.
Émelhorpegarumtáxi.-UmtáxisaberiaondeeraoRamodeOliveira-Não.Elesnãosabemondeficacoisaalguma.Vocêdizao
motorista esquerda, direita, pare, em frente... exatamente ondevocêquerir.
-Nestecasopossomuitobemirandando-opinouVitória.ChegouaRashidStreetedobrouàesquerda.Bagdáeracompletamentediferentedaideiaquefaziadela.
Uma via principal, apinhada, cheia de gente, carros buzinandoviolentamente, gente gritando, artigos europeus à venda nasvitrinasdas lojas,cuspidelasvigorosasemtodaasuavoltacomprodigiosos limpadores de pigarros como preliminar. NenhumafiguramisteriosadoLeste,amaioriadaspessoasvestindoroupasocidentais, esfarrapadas ou molambentas, túnicas velhas doExércitooudaForçaAérea,asfigurasocasionaisderoupanegraeveladaeramquasequeinconspícuas;entreosestiloseuropeushíbridos de vestimenta. Mendigos lamurientos vinhamaproximar-sedela-mulherescombebêssujosemseusbraços.Opavimento sob seus pés era desigual com ocasionais buracosescancarados.
Prosseguiuseucaminho,sentindo-sesubitamenteestranhae perdida e longe de casa. Aqui não havia encanto de viagem,apenasconfusão.
Finalmente chegou à Ponte Feisal, passou por ela econtinuou.Apesardesimesma,elaestavaintrigadapelamisturacuriosadecoisasnasvitrinasde lojas.Aquiestavamsapatosdebebêeroupinhasde lã,pastadedentesecosméticos, lanternaselétricas e xícaras e pires de louça - tudo exibido junto.Lentamente uma espécie de fascinação apoderou-se dela, afascinação de mercadoria sortida vinda de todo o mundo parasatisfazer as necessidades estranhamente sortidas e variadas deumapopulaçãomista.
Encontrou o museu mas não o Ramo de Oliveira. ParaalguémacostumadaaencontrarseucaminhoemLondrespareciaincrível que não havia ninguém ali a quem pudesse perguntar.Elanãosabiaárabe.Aqueleslojistasquelhefalarameminglêsaopassar,apregoandosuasmercadorias,apresentaramrostosvaziosquandoelaperguntavaocaminhoparaoRamodeOliveira.
Sealguémpudesse"perguntaraumpolicial...masolhando
Paraospoliciais, ativamenteagitandoosbraços, soprando seusapitos,elaseconvenceudequeissonãoseriasoluçãoalguma.
Entrou numa livraria com livros ingleses na vitrina,masuma menção do Ramo de Oliveira apenas provocou um cortêsencolherdeombrosemeneiodecabeça.Infelizmentenãotinhamamenorideia.
Eemseguida,aocaminharaolongodarua,ummartelareclamor prodigioso chegou aos seus ouvidos e olhando por umaálealongaeobscura,elalembrouqueaSra.CardewTrenchtinhaditoqueoRamodeOliveiraerapertodoBazardeCobre.Aqui,finalmente,eraoBazardeCobre.
Vitória mergulhou nele e pelos próximos três quartos dehora esqueceu completamente o Ramo de Oliveira. O Bazar deCobrea fascinava.As tochasdesolda,ometalderretido, todoonegóciodo artesanato veio comouma revelaçãopara apequenacockney, acostumada apenas a produtos acabados empilhadosparaavenda.PasseavasemdestinopeloSuq,passoudoBazardeCobre, veio para as alegres mantas de cavalo de listras e osedredons de algodão para cama. Aqui a mercadoria europeiaassumia um ar completamente diferente. Na escuridão fresca,arqueada, tinha a qualidade exótica de algo vindo de ultramar,algo estranho e raro. Peças de algodão barato, estampado, emcoresalegres,produziamumafestaparaosolhos.
Ocasionalmente comum grito deBalek,Balek, umburroOuumamulacarregadapassavaporela,ouhomenscarregandograndes cargas equilibradas em suas costas.Meninos pequenoscorriam para ela com travessas penduradas em volta dos seuspescoços.
- Veja, senhora, elástico, bom elástico, elástico inglês.Pente,penteinglês?
Asmercadorias eramarremessadaspara ela, pertodo seunariz, com instâncias veementes para comprar. Vitória andavanumsonhocontente. Issoerarealmenteveromundo.Emcadavolta do vasto mundo arqueado de veredas chegava-se a algocompletamente inesperado - uma álea de alfaiates sentadoscosturando, com lindas ilustrações de roupas de homemeuropeias, uma linha de relógios e joalheria barata. Peças develudos e brocados ricos bordados de metal, em seguida umacurvaporacasoe vocêestavaandandoporumaáleade roupas
europeias de segunda mão, baratas e andrajosos suéterespequenospateticamenteesmaecidosedesbotadoselongoscoletesdesgrenhados.
Em seguida aqui e ali havia vislumbres de vastos pátiosquietoseabertosparaocéu.
Chegouaumavistadecalçasdehomem,commercadoresdignificadosdepernascruzadasemturbantessentadosnomeiodosseuspequenosrecessosquadrados.
-Baleck!Um burrico pesadamente carregado, vindo por detrás fez
Vitória voltar-separao ladonumaveredaestreitaabertaparaocéuqueseesgueiravaentrecasasaltas.Andandoporela,topou,bem por acaso, com o objeto de sua busca. Por uma aberturaolhouparaumpequenopátioquadradoenapartemaisafastadadeleumaportaabertacomORAMODEOLIVEIRAnumaplacaenormeeumpássarodeestuquedeaspectoimpossívelsegurandoumramoirreconhecívelemseubico.
AlegrementeVitóriaatravessouopátioeentroupelaportaaberta. Encontrou-se num aposento fracamente iluminado commesas cobertas de livros e revistas emais livros arrumados emprateleirasàvolta.Pareciaumpoucocomumalivraria,excetoquehaviapequenosgruposdecadeirasarrumadasaquieali.
Da escuridão uma moça chegou para perto de Vitória edisseeminglêscuidado:
-Emquepossoajudá-la,sim,porfavor?Vitóriaolhouparaela.Usavacalçasdeveludopiqueeuma
camisadeflanelalaranjaecabelospretosúmidos,cortadosnumaespéciedecoquedeprimido.AtéaípareceriamaisdeacordocomBloomsbury,mas seu rosto não eraBloomsbury. Era um rostomelancólicocomgrandesolhostristeseumnarizpesado.
-Istoé,éisto...é...oDr.Rathboneestáaqui?Exasperante ainda não saber o sobrenome de Edward!
MesmoaSra.CardewTrenchotinhachamadodeEdwardCoisa.-Sim.Dr.Rathbone.ORamodeOliveira.Querjuntar-sea
nós?Sim?Issoseriamuitobom.-Bem,talvez.Eu...poderiaveroDr.Rathbonc,porfavor?Ajovemsorriudemaneiracansada.-Nósnãoincomodamos.Eutenhoumformulário.Eulhe
conto tudo sobre tudo. Em seguida você assina seu nome. Sãodoisdinares,porfavor.
- Ainda não estou certa de que vou querer aderir disseVitória,alarmadaàmençãodedoisdinares.-EugostariadeveroDr.Rathbone...ouoseusecretário.Seusecretárioserásuficiente.
- Eu explico. Eu lhe explico tudo. Somos todos amigosaqui, amigos juntos, amigos para o futuro... lendo livrosmuitobonseducacionais...recitandopoesiasunsparaosoutros.
- O secretário do Dr. Rathbone - disse Vitória alto eclaramente.-Elemepediuparticularmentequeperguntasseporele.
Uma espécie de amuo obstinado insinuou-se no rosto dajovem.
-Hojenão-insistiuela-euexplico...-Porquenãohoje?Elenãoestáaqui?ODr.Rathbonenão
estáaqui?-Siiiimm,oDr.Rathboneestáaqui.Estáemcima.Nósnão
incomodamos.Uma espécie de intolerância anglo-saxônica para com
estranhosseapoderoudeVitória.Infelizmente,aoinvésdoRamodeOliveiracriarsentimentosamistososinternacionais,pareciateroefeitoopostonoquesereferiaaela.
-Acabei de chegarda Inglaterra - disse ela e seu sotaqueera quase o da própria Sra. Cardew Trench. - E eu tenho umamensagemmuitoimportanteparaoDr.Rathbone,mastenhoqueentregar-lhe pessoalmente. Por favor, leve-me a eleimediatamente!Sintomuitoperturbá-lomastenhoquefalarcomele.Imediatamente!-acrescentou,paraencerraroassunto.
Diante de uma britânica imperativa que está disposta aconseguiroquequer,asbarreirasquasesemprecaem.A jovemvoltou-seimediatamenteemostrouocaminhoparaosfundosdasala e escada acima, ao longo de uma galeria que dava para opátio. Parou diante de uma porta e bateu. Uma voz de homemdisse:
-Entre!A cicerone de Vitória abriu a porta e fez um gesto para
Vitóriapassarparadentro.-ÉumasenhoradaInglaterraparafalar-lhe.Vitóriaentrou.
Detrásdeumagrandeescrivaninhacobertadepapéisumhomemlevantou-separacumprimentá-la.
Eraumhomemde aspecto imponente, idoso, de cerca desessentaanos,comumatestaalta,arqueadaecabelosbrancos.Benevolência, bondade e encanto eram as qualidades maisaparentes de sua personalidade. Um produtor de espetáculos opoderia ter designado sem hesitação para o papel do grandefilantropo.
CumprimentouVitóriacomumsorrisoquenteeumamãoestendida.
- Então acabou de vir da Inglaterra - disse e. A primeiravisitaaoOriente,hein?
-Sim.-Gostariadesaberoquepensadetudoisso...Temqueme
contarumdia.Agora,deixe-mever,seráqueJáaencontreiantesounão?Eusoutãomíopeevocênãodeuoseunome.
- Não me conhece - disse Vitória, - mas sou amiga deEdward.
-UmaamigadeEdward-disseoDr.Rathbone.Ora,issoéesplêndido.EdwardsabequeestáemBagdá?
Não-disseVitória.-Bem,seráumasurpresaagradávelquandovoltar.-Voltar?-repetiuVitória,suavozsumindo.- Sim, Edward está em Basrah no momento. Tive que
mandá-lo lá para tratar de alguns engradados de livros quechegaram pra nós. Houve uma demora extremamente vexatórianaAlfândega...simplesmentenãoconseguimosfazê-lospassar.OtoquepessoaléaúnicacoisaeEdwardébomparaessaespéciedecoisa.Elesabeexatamentequandoencantarequandofincaropé e não descansará enquanto não tiver a coisa resolvida. Épersistente.Umagrandequalidadenumjovem.PensomuitobemsobreEdward.
Seusolhoscintilaram.- Mas não suponho que tenha que cantar as loas de
Edwardavocê,minhajovem.- Quando... quando Edward estará de volta de Basrah? -
perguntouVitóriafracamente.- Bem isso... agora, eu não poderia dizer. Não voltará
enquantonãotiverterminadooserviço...enãosepodemapressar
ascoisasdemaisnestepaís.Diga-meondeestáhospedadaeeuassegurareiqueeleentreemcontatocomvocêlogoquevoltar.
-Eu estavapensando... -Vitória falavadesesperadamenteconscientedosseusembaraçosfinanceiros.-Euestavapensandosenãopoderiafazeralgumtrabalhoaqui.
-Ora,issoeuaprecio-disseoDr.Rathbonecalidamente.-Sim,éclaroquepode.Precisamosdetodosostrabalhadores,detodo auxílio que possamos conseguir. E especialmente moçasinglesas. Nosso trabalho está indo esplendidamente, bemesplendidamente-mashámuitomaisparaserfeito.Noentanto,as pessoas estão interessadas. Eu tenho trinta auxiliaresvoluntáriosatéagora... trinta... todosafiadoscomonavalhas!Seestárealmentefalandosério,poderáserextremamentevaliosa.
A palavra voluntário soou desagradavelmente aos ouvidosdeVitória.
- Eu na realidade queria um emprego remunerado -disseela.
-Ora,ora!-orostodoDr.Rathbonecaiu.-Issojáémaisdifícil.Nossaequipepagaébastantereduzidaeparaomomento,comoauxíliovoluntário,ébastanteadequada.
-Nãopossomepermitirnãoaceitarumemprego-explicouVitória.-Souumaesteriodatilógrafacompetenteacrescentousemcorar.
- Tenho certeza de que é competente, minha queridasenhorita;estáirradiandocompetência,sepossodizerassim.Masconoscoéumaoutraquestão.Masmesmoseaceitarumempregoem outro lugar espero que nos ajudará no seu tempo livre. Amaioria dos nossos trabalhadores tem seus próprios empregosregulares. Tenho certeza de que achará ajudar-nos realmenteinspirador.Devehaverumfimparatodaaselvagerianomundo,as guerras, os mal-entendidos, as suspeitas, Um campo deencontrocomum,édissoquetodosnósprecisamos.Drama,arte,poesia... as grandes coisas do espírito... não há lugar aí parapicuinhasouódios.
-N-não-disseVitóriaemdúvida,lembrando-sedeamigosseusqueeramatrizeseartistasecujasvidaspareciamobsecadaspelas ciumeiras das espécies mais triviais e por ódios de umavirulênciaparticularmenteintensa.
- Mandei traduzir o Sonho de uma Noite de Verão para
quarenta línguas diferentes - disse oDr. Rathbone. -Quarentaequipes diferentes de pessoas jovens todos reagindo à mesmapeçamaravilhosade literatura.Pessoas jovens,eesseosegredo.Nãotenhousoparaninguémmaisanãoserjovens.Oespíritoeamenteumavezesclerosados,é tardedemais.Não,sãoos jovensque têm que encontrar-se. Tome aquela moça lá de baixo,Catarina, a que a trouxe aqui para cima. É síria de Damasco.Você e ela são provavelmente da mesma idade. Normalmentevocêsnuncaseencontrariam,nãoteriamnadaemcomum.MasnoRamodeOliveiravocêeelaemuitos,muitosoutros,russos,judeus, iraquianos, moças turcas, armênias, egípcias, persas,todasseencontramegostamunsdosoutrose leemosmesmoslivrosediscutemfilmesemúsica(temosexcelentesconferencistasquevêmparacá)todosvocêsdescobrindoeficandoexcitadosporencontrarem um ponto de vista diferente... ora, isso é o que omundoestádestinadoaser.
Vitória não pode furtar-se a pensar que o Dr. Rathboneestava ligeiramente otimista demais em presumir que todosaqueles elementos divergentes que se estavam encontrando,necessariamente gostariam uns dos outros. Ela e Catarina, porexemplo,nãotinhamgostadoumadaoutranomínimo.EVitóriafortementesuspeitavadeque,quantomaisvissemumaàoutra,tantomaisoseudesagradocresceria.
Edward é esplêndido - disse oDr.Rathbone. -Seda contodomundo.Melhortalvezcomasmoçasdoquecomoshomensjovens.Osestudantesmasculinosaquiestãopropensosaseremumpoucodifíceisaprincípio,suspeitosos,quasehostis.Masasmoças adoram Edward, farão qualquer coisa por ele. Ele eCatarina,sedãoespecialmentebem.
- Realmente - disse Vitória friamente. Seu desagrado deCatarinacresceuaindamaisintensamente.
-Bem-disseoDr.Rathbone,sorrindo,-venhaeajude-nossepuder.
Eraumadespedida.Apertou-lheamãocàlidamente.Vitóriasaiudasalaedesceuasescadas.Catarinaestavaempépróximoàporta,falandocomumamoçaquetinhaacabadodeentrarcomuma pequena mala em sua mão. Era uma morena de boaaparênciaeporjustamenteummomentoVitóriaimaginouquejáa tinha visto antes em algum lugar. Mas a moca olhou-a sem
qualquersinaldereconhecimento.Asduasjovenstinhamestadoa conversar avidamente em alguma língua que Vitória nãoconhecia.Pararamquandoaviramepermaneceramsilenciosas,olhando para ela. Passou por elas para a porta, forçando-se adizer"Atélogo",polidamente,paraCatarina,enquantosaía.
Encontrou seu caminho da álea tortuosa para RashidStreete lentamentedevoltaparaohotel,deolhoscegosparaamultidãoemsuavolta.Tentouimpedirasuamenteapreocupar-secomasuaprópriasituação(semtostãoemBagdá),fixandoseupensamento noDr. Rathbone e a arrumação geral doRamo deOliveira. Edward tinha tido a impressão em Londres que haviaalgoque"cheiravamal"sobreessehomem.Quecheiravamal?ODr.Rathbone?OuopróprioRamodeOliveira?
Vitória dificilmente podia acreditar que havia algocheirando mal acerca do Dr. Rathbone. Parecia ser um dessesentusiastasmalorientadosqueinsistememveromundopelasuaprópriamaneiraidealista,independentedasrealidades.
QueteriaEdwardqueridodizercomcheirandomal?Tinhasidomuitovago.Talvezqueelepróprionãosoubesse.
Poderia o Dr. Rathbone ser alguma espécie de vigaristacolossal?
Vitória recém-vinda do seu encanto acalentador demaneiras, meneou a cabeça. Suas maneiras de fato tinhammudado, se bem que tão ligeiramente, à ideia de lhe pagar umsalário. Claramente ele preferia pessoas que trabalhavam pornada.
Masisso,pensouVitória,eraumsinaldesensocomum.OSr.Greenholtz,porexemplo,teriasentidoexatamenteo
mesmo.Vitória chegoude volta ao Tio, de pés bastante doloridos,
para ser cumprimentada entusiasticamente por Marcus, queestava sentado fora, no gramado sobre o rio, falando com umhomemmagrobastantemalvestido,demeia-idade.
- Venha tomar um trago conosco, Srta. Jones. Martini...sidecar?EsteéoSr.Dakin.ASrta.Jones,daInglaterra.Então,minhacara,quevaitomar?
Vitóriadissequegostariadeumsidecar"ealgumasdessaslindas nozes?" sugeriu ela esperançosa, lembrando-se de quenozeseramnutritivas.
-Vocêgostadenozes.Jesus! - eledeuaordememáraberápido.OSr.Dakindisse comvoz triste que ele gostariade terumalimonada.
-Ah-gritouMarcus,-masissoéridículo.Ah!AquiestáasuaSra.CardewTrench.ConheceoSr.Dakin?Quevaitomar?
- Gim e lima - disse a Sra. Cardew Trench, inclinando acabeça na direção de Dakin demaneira distraída. - Parece quevocêestácomcalor-acrescentouparaVitória.
-Tenhoestadoaandaradmirandoavista.Quandoasbebidasvieram,Vitóriacomeuumgrandeprato
cheiodenozesdepistacheetambémalgumasbatatasfritas.Dentro em pouco um homem baixo atarracado subiu os
degrauseohospitaleiroMarcusocumprimentouporsuavez.Foiapresentado a Vitória como o Capitão Crosbie; e pela maneiracomo seus olhos ligeiramente protuberantes olhavam para elaVitória, compreendeu que ele era suscetível aos encantosfemininos.
-Acabadechegar?-perguntouele.-Ontem.-Penseitê-lavistoporaqui.- Ela é muito boa e bonita, não é? - disse Marcus
alegremente.-Oh,sim,ébomestarmoscomaSrta.Vitória.- Vou dar uma festa em homenagem a ela... uma festa
muitobonita.-Compintos?-perguntouVitóriaesperançosa.-Sim,sim...efoiegras...foiegrasdeEstrasburgo.*etalvez
caviar-eemseguidateremosumpratocomPeixe-muitobom-um peixe do Tigre, mas tudo com molho e cogumelos. E emseguida vem um peru recheado de maneira que o fazemos naminha casa: com arroz e passa e condimentos, e tudo cozidoassim!Oh,émuitobom...masvocêstêmquecomermuitodisso...não apenas uma amostrinha numa colher. Ou se preferiremcomerãoumabisteca... umabisteca realmente grande e tenra...eu tratarei disso.Vamos terum longo jantar que se prolongarápor horas. Vai ser muito bonito. Eu mesmo não como... euapenasbebo.
- Será encantador - disse Vitória com voz sumida. Adescrição desses pratos a fazia sentir-se bastante trêmula de
fome. Ela pensava seMarcus estava realmente disposto a fazeressafestae,casoafirmativo,comquepressapossívelelapoderiaacontecer.
-Penseiquetinhaido-paraBasrah?-disseaSra.CardewTrenchaCrosbie.
-Volteiontem-respondeuCrosbie.Olhouparacimaaoterraço.-Queméobandido?-perguntou.-Sujeitodefantasiacom
ochapelão?-Esse,meucaro,éSirRupertCroftonLee-disseMarcus.-
OSr.ShrivenhamotrouxeaquidaEmbaixadananoitepassada.É um homemmuito bom, viajantemuito distinguido. Anda decamelopeloSaara,sobemontanhas.Ébastantedesconfortáveleperigoso,essaespéciedevida.Eunãogostariadelaparamim.
-Oh,éesseosujeito,nãoé?-disseCrosbie–liolivrodele.-Vimcomelenomesmoavião-disseVitória.É a bebida - disse Marcus. Suspirou fundo. - Eu bebo
muitodemais.Estanoitevêmminha irmãeomaridodela.Voubeberebeberebeber,atéquasedemanhã-suspirounovamente;emseguidaproferiuseuurrocostumeiro:-Jesus!Jesus!Tragaamesmacoisaoutravez.
- Para mim não - disse Vitória apressadamente e o Sr.Dakin recusou também, terminou a sua limonada e trotouemborasuavementeenquantoCrosbiesubiaparaoseuquarto.
Ambososhomens,ouassimlheparecia,olhavam-nacominteresse.
-ÉespantosamenteconvencidoesatisfeitoconsigomesmodisseVitóriacomdesprezo.
ConheciatiadeleemSimla-disseaSra.CardewTrench.-Afamíliatodaéassim.Inteligentesàbeça,masnãopodemdeixardesevangloriardisso.
-Eletemestadosentadoláfora,nãofazendonadaamanhãtoda-interpôsVitóriacomligeiradesaprovação.
- É o estômago dele - explicou Marcus. - Hoje não podecomernada.Étriste.
- Eu não posso pensar - disse a Sra. Cardew Trench -porque você é deste tamanho, Marcus, quando você não comenada.
ASra.CardewTrenchtocouocopodeDakincomaunha.
-Limonada,comosempre?-disseela.-Mausinal.Vitóriaperguntouporqueeramausinal.
-Quandoumhomembebesomentequandoestásozinho.-Sim,minhacara-interpôsMarcus.-Issoéverdade.
Então,elerealmentebebe?-perguntouVitória.Éporqueelenuncaprogrediu-disseaSra.CardewTrench.-Apenasconseguemanterseuempregoeissoétudo.-Mas
éumhomemmuitobom-disseocaridosoMarcus.- Pah - respondeu a Sra. Cardew Trench. - É um Peixe
molhado. Fuça e anda por aí... nenhum tutano... nenhumcontrole da vida. Apenas outro inglês que foi para o Oriente edeteriorou.
Elaprecisavaconseguiralgumdinheiro-ouconseguirum
emprego - qualquer emprego, colar selos num escritório, servirnumrestaurante...Deoutraformaamandariampara
Agradecendo a Marcus pela bebida e recusando umasegunda, Vitória subiu para seu quarto, tirou seus sapatos edeitou-senacamaparaunspensamentossérios.Astrêslibrasepoucoàsquaisseucapitaltinhaficadoreduzido,jáeramdevidas,aoqueimaginava,aMarcusparaacomodaçãoecomida.Devidoàsua disposição generosa e se conseguisse sustentar a vidaprincipalmente com líquidos alcoólicos ajudados por nozes,azeitonas e batatinhas fritas, ela poderia resolver o problemapuramente alimentar dos próximos poucos dias. Quanto tempolevaria Marcos a presenteá-la com a conta e quanto tempodeixariapassarsemquefossepaga?Nãotinhaideia.Elenãoerarealmente descuidado, pensava ela, em assuntos de negócios.Naturalmente deveria encontrar algum outro lugarmais baratopara viver.Mas como poderia ela descobrir aonde ir? Ela deviaencontrarumemprego-rapidamente.Masondeéqueagentesecandidatava para empregos? Que espécie de emprego? A quempoderia perguntar sobre procurar um? Como era terrivelmentecerceador da liberdade de movimentos estar desembarcadapraticamente sem tostão numa cidade estrangeira, onde não seconheciamosmacetes.Comapenasumpoucodeconhecimentodo terreno, Vitória se sentia confiante (como sempre) de quepoderiatomarcontadesimesma.QuandoéqueEdwardestariadevoltadeBasrah?Talvez(horror)Edwardtivesseesquecidodela
completamente.Porquecargasd'águatinhaelavindoparaBagdácorrendodessaformaasinina?QuemeoqueeraEdward,nofinaldecontas?Apenasoutro jovemcomumsorrisocativanteeumamaneira atraente de dizer as coisas. E qual - qual era seusobrenome? Se ela soubesse isso, poderia mandar-lhe umtelegrama - não, não servia, nem mesmo sabia onde estavahospedado.Nãosabianada-Issoeraoempecilho-eraissoqueaincomodava.
Enãohavianinguémaquempudessepedirconselho.NãoaMarcusqueerabondoso,masquenuncaescutava.NãoàSra.CardewTrench(quetinhatidosuspeitasdesdeoprincípio).NãoàSra.HamiltonClipp,quetinhadesaparecidoparaKirkuk.NãoaoDr.Rathbone...umcônsuleelaseriarepatriadaparaaInglaterraenuncamaisveriaEdward...
Nesteponto,esgotadapelaemoção,Vitóriaadormeceu.Acordoualgumashorasmaistardeedecidindoquepoderia
tanto ser enforcada por um carneiro como por um cordeiro,desceuparaorestauranteebatalhouseucaminhovalentementepor todo o cardápio, que era bem generoso. Quando tinhaterminado, sentiu-se ligeiramente como uma jiboia, masdefinitivamenteanimada.
-Nãoadiantapreocupar-memais-pensouVitória.Voudeixar tudoparaamanhã.Algopodeaparecer, ou eu
podereipensaremalgo,ouEdwardpodevoltar.Antesdeirparaacama,passeouatéogramadoaoladodo
rio. Desde que no sentir dos moradores de Bagdá era invernoártico, ninguém mais estava ali, exceto um dos garçons queestava debruçado sobre uma amurada, olhando para a água. esaltou com um sentimento de culpa, quando Vitória apareceu,apressando-seavoltaraohotelpelaentradadeserviço.
Vitória,aquem,vindodaInglaterra,pareciaumanoitedeverãocomumcomumligeiroaromanoar, ficouencantadapeloTigre visto à luz do luar com a margem afastada parecendomisteriosaeorientalcomsuamolduradepalmeiras.
-Bem,dequalquerforma,chegueiatéaqui-disseVitória,animando um bocado; - e eu me ajeitarei de qualquer forma.Qualquercoisatemqueacontecer.
ComestepronunciamentoàmodadeMicawber,elasubiu,foi para a cama e o garçom saiu de novo, sorrateiramente. e
concluiu a sua tarefa de prender uma corda cheia de nós, demodoqueficoupenduradaparaamargemdorio.
Dentrodepoucooutrafigurasaiudassombrasejuntou-seaele.OSr.Dakindisseemtombaixo:
-Tudoemordem?-Simsenhor,nadasuspeitoarelatar.Tendocompletadoatarefaparasuasatisfação,oSr.Dakin
voltouparaassombras, trocouocasacobrancodegarçompeloseu próprio, azul listrado indefinido, e perambulou suavementeao longodo gramado até que ficoudestacado contra a beira daágua,justamenteondeaescadalevavaàruaembaixo.
-Estáficandobastantefrioàsnoitesagora-disseCrosbie,vindodobarparareunir-seaele.-Suponhoquevocênãoosentetanto,vindodoTeerã.
Ficaramaliporummomentooudois,fumando.Anãoserquelevantassemasvozes,ninguémpodiaouvi-los.Crosbiedissemansamente:
-Queméapequena?-SobrinhaaparentementedoarqueólogoPauncefootJones.Oh, bem... isso deveria estar em ordem. Mas vindo no
mesmoaviãoqueCroftonLee...Certamenteserábom-disseDakin-nãotomarnadacomo
certo."Oshomensfumaramemsilêncioporalgunsmomentos.Você realmente acha aconselhável mudar a coisa da
Embaixadaparacá?-Acho,sim.- Apesar de toda a coisa estar arranjada até o mínimo
detalheemBasrah...eissosaiuerrado.Oh,eusei.MohammedSalahHassan,aliás,foienvenenado.Sim,eleseria.Haviaqualquersinaldealgumaabordagem
aoConsulado?Suspeitodequepossa terhavidoumbocadode encrenca
ali.Umcarapuxouumrevólver-pausoueacrescentou:-RichardBakeroagarrouedesarmou-o.
-RichardBaker-disseDakinpensativamente.-Conhece-o?Eleé...-Sim,conheço.HouveumapausaeentãoDakindisse:
- Improvisação. É no que estou jogando. Se nós temos,comovocêdiz, tudoarrumado,enossosplanossãoconhecidos,então é fácil para o outro lado ter-se arrumado também. Euduvido muito que Carmichael. teria conseguido chegar mesmopertodaEmbaixada...emesmoquetivessechegadolá-.-
-meneouacabeça..Aqui,apenasvocê,eueCroftonLeeestamosapardoque
estáacontecendo.Eles saberão que Crofton Lee mudou para cá da
Embaixada.- Oh, naturalmente. Isso era inevitável. Mas você não vê,
Crosbie,quequalquerquesejaoespetáculoquearmemcontraanossa improvisação teráqueser improvisado também?Temqueser pensado apressadamente e arranjado apressadamente. Temquevir,porassimdizer,doladodefora.Nãoimportaquealguémtenha se estabelecido no Til seis meses atrás esperando. O Tilnuncaestevenacenaatéagora.NuncahouvequalquerideiaousugestãodeusaroTiocomolugardeencontro.
Olhouparaseurelógio.-VousubirefalarcomCroftonLee.AmãoerguidadeDakinnãotevenecessidadedebaterna
porta de Sir Rupert. Ela abriu-se silenciosamente para deixá-loentrar.
Oviajantesomentetinhaumapequenalâmpadadeleituraacesa e tinha colocado sua cadeira a seu lado. Ao sentar-se denovo, empurrou suavemente uma pequena automática namesinhaaoalcancedamão.
Falou:-Quetal,Dakin?Achaqueelevirá?-Achoquesim,SirRupert.-Emseguidadisse:-Nuncachegouaencontrar-secomele,nãofoi?Ooutromeneouacabeça.-Não.Esperoencontrá-loestanoite.Aquelejovem,Dakin,
devetertutano.-Oh,sim-disseoSr.Dakincomasuavozinexpressiva.-
Eletemtutano.Pareciaumpoucosurpresopelofatodequeissotinhaque
serconstatado.
Não quero dizer apenas coragem - disse o outro. Muitacoragemnaguerramagnificente...querodizer...
-Imaginação?-sugeriuDakin.-Sim.Teracoragemdeacreditaremalgumacoisaquenão
éprováveldamenorproporção.Arriscarsuavidaporacharqueumahistóriaridículanãoédetodoridícula.Issorequeralgumacoisaqueo jovemmodernogeralmentenão tem.Esperoqueelevenha.
-Achoquevirá-disseoSr.Dakin.SirRupertolhou-oinsistentemente.-Vocêtemtudoarranjado?- Crosbie está na varanda e eu ficarei vigiando a escada.
QuandoCarmichaelchegaravocê,batanaparedeeeuentrarei.CroftonLeefezquesimcomacabeça.Dakin saiu mansamente da sala. Dobrou à esquerda,
dirigiu-seaoterraçoefoiparaocantooposto.Aquitambémumacordacheiadenóscaíaporsobreaamuradaechegavaàterranasombradeumeucaliptoealgunsarbustosdeolaia.
O Sr. Dakin voltou passando pela porta de Crofton Lee,para seu próprio quarto além. Seu quarto tinha uma segundaporta,levandoparaapassagempordetrásdosquartoseabriaaalgunsmetrosdo altoda escada.Comestaportadiscretamenteaberta,oSr.Dakinaprontava-separaasuavigília.
Foi cercade quatrohorasmais tarde queuma gufa,umaembarcação primitiva do Tigre, veio mansamente, correntezaabaixo, e chegou à margem do baixio enlameado, embaixo doHotelTio.Algunsmomentosmaistardeumafiguramagrasubiupelacordaeficouagachadaentreasolaias.
XTINHASIDo intenção deVitória ir para a cama, dormir e
deixar todos os problemas para a manhã seguinte, mas, tendodormidojáamaiorpartedatarde,elasesentiadevastadoramentebemacordada.
Finalmente ligou a luz, terminou uma história da revistaque tinha estado lendo no avião, cerziu. as suas meias,experimentou as meias novas de nylon, escreveu diversosanúncios diferentes procurando emprego (ela podia perguntarpelamanhãondeestesdeviamserpublicados),escreveutrêsouquatro cartas experimentais à Sra. Hamilton Clipp, cada qualapresentando um conjunto diferente e mais engenhoso decircunstâncias que tinha resultado nela ficando encalhada emBagdá, esboçou um ou dois telegramas pedindo ajuda ao seuúnicoparentesobrevivente,umcavalheiromuitovelho,ranzinzaedesagradávelnoNortedaInglaterra,quenuncatinhaauxiliadoninguémemsuavida,experimentouumnovotipodepenteadoe,finalmente,comumsúbitobocejo,resolveuqueenfimelaestavadesesperadamentesonolentaeprontaparaacamaeorepouso.
Foinestemomentoque,semqualqueraviso,aportadoseudormitórioseabriu,umhomemseesgueirouparadentro,rodouachavenafechaduraatrásdeleelhedissecomurgência:
- Pelo amor de Deus, me esconda em algum lugar...rápido...
As reações de Vitória nunca foram lentas. Numpiscar deolhos ela tinha notado a respiração laboriosa, a voz sumida, amaneirapelaqualohomemseguravaumvelholençovermelhodetricô amassado contra o peito comumamão desesperadamenteagarrada.Mexeu-seimediatamenteemreaçãoparaaaventura.
Oquartonãoseprestavaamuitoslugaresdeesconderijos.Havia o armário, um gaveteiro, uma mesa e o pechincheextremamente pretensioso. A cama era grande, quase dupla ememórias de brincadeiras infantis de esconder tornaram asreaçõesdeVitóriaimediatas.
-Depressa-disseela.Tiroutravesseiroselevantouacolchaefronha.Ohomemsedeitousobreacama.Vitóriapuxoufronhaecolchasobreele,amontoouostravesseirosporcimaesentou-se
nabeiradacama.Quaseimediatamenteveioumabatidainsistenteàporta.Vitóriachamou:-Quemé?-numavozlevementealarmada.- Por favor - disseuma vozmasculinade fora. -Abra, por
favor,éapolícia.Vitóriaatravessouoquarto,puxandoseupeignoiremsua
volta.Ao fazê-lonotouo lençovermelhotricotadodohomemnochão, levantou-o e jogou-o numa gaveta, em seguida girou achaveeabriuumpoucoaportadoquarto,olhandoparaforacomumaexpressãodealarme.
Um jovem de cabelos escuros, de terno malva listradoestava do lado de fora e atrás dele estava um homem numuniformedeoficialdapolícia.
-Queéquehá?-perguntouVitória,deixandoumtremorentraremsuavoz.
O jovem sorriu risonho e falou num inglês bastantepassável:
-Sintotanto,senhorita,emperturbá-laaestashoras-disseele - mas estamos com um criminoso fugido. Ele correu paradentrodestehotel. Temos queprocurar em todos os quartos.Éumhomemmuitoperigoso.
-Nossa!-Vitóriarecuouabrindoaportaempar.Entre,porfavoreveja.Queassustador.Olhenobanheiro,
porfavor.Oh!enoarmário...e,será,iriaseincomodaremolharpordebaixodacama?Elepodeterestadoaíanoitetoda.
Abuscafoimuitorápida.-Não,nãoestáaqui.-Temcertezadequenãoestádebaixodacama?Ora,que
estúpidodeminhaparte.Elenãopodeestaraquidemodoalgum.Eufecheiaportaquandofuiparaacama.
-Obrigado,senhorita,eboanoite.O jovem inclinou-se e retirou-se com seu assistente
uniformizado.Vitória, seguindo-o até a porta perguntou: Não é melhor
fechardenovo?Paraestarsegura.Sim,serámelhor,certamente.Obrigado.
Vitória fechou a porta de novo e ficou ao lado dela poralgunsminutos.Escutouosoficiaisdepolíciabateremdamesma
formaaportadooutro ladodocorredor,ouviuaportaabrir-se,uma troca de comentários e a voz rouca indignada da Sra.Cardew Trench e em seguida a porta se fechando. Reabriu-sealgunsminutosmaistardeesomdepassosmovimentou-separamais longe no corredor. A batida seguinte veio de muito maislonge.
Vitóriavoltou-seecaminhoupeloquartoparaacama.Teveumanoçãodequeprovavelmentetinhasidoexcessivamenteboba.Arrastada pelo espírito romântico e pelo som de sua próprialíngua, impulsivamente tinha dado auxílio a quem eraprovavelmente um criminoso extremamente perigoso. Umadisposiçãodeestardo ladodocaçadocontraocaçadoràsvezestraz consequências desagradáveis. Ora, pensou Vitória, agoraestoumetidanissodequalquerjeito!
Depéaoladodacamadissebrevemente:-Levante-se.NãohouvemovimentoeVitóriadisseasperamente,embora
semlevantaravoz.-Jáforamembora.Podelevantar-seagora.Mesmo assim não houve sinal de movimento debaixo do
monte de travesseiros ligeiramente levantado. ImpacientementeVitóriajogou-ostodosparabaixo.
O jovemestavadeitadoexatamentecomoo tinhadeixado.Masagoraseurostoestavadeumacorcinzentaesquisitaeseusolhos estavam fechados. Então, com uma súbita detenção darespiração, Vitória notou algo mais - uma mancha vermelhabrilhantefiltrando-separaolençol.
Oh,não-exclamouVitória,quasecomoqueimplorandoaalguém.-Oh,não!-Não!
Ecomoqueemreconhecimentodesteapeloohomemferidoabriuosolhos.Olhou-a,olhoucomodemuitolongeparaalgumobjetoquenãoestavasegurodeestarvendo.
Seus lábios se entreabriram - o som era tão tênue queVitóriaquasenãoescutou.
Abaixou-se.-Oquê?Ouviu desta vez. Com dificuldade, grande dificuldade, o
jovem disse duas palavras. Se ela as escutava corretamente ounão, Vitória não sabia. Pareciam a ela bastante sem sentido e
significado.Oqueelediziaera:-Lucifer...Basrah...Aspálpebrasbaixavame tremiamsobreosolhosansiosos
escancarados.Dissemaisumapalavra -umnome.Emseguidasuacabeçasacudiu-seumpoucoparatráseeleficouquieto.
Vitóriaficoubemfirme,seucoraçãobatendoviolentamente.Estavaagoracheiadeumapenaintensaedeaborrecimento.Nãotinhaideiadoquefazeremseguida.Tinhaquechamaralguém-fazerviralguém.Elaestavaali,sozinha,comumhomemmortoemaiscedooumaistardeapolíciairiaquererumaexplicação.
Enquantoseucérebrotrabalhavarapidamentenasituação,umpequenoruído fezsuacabeçavoltar-se.Achave tinhacaídodaportadoseudormitórioe,enquantoestavaolhandoparaela,escutou o ruído da fechadura girando. A porta abriu-se e o Sr.Dakinentrou,cuidadosamente,fechandoaportaatrásdele.
Caminhouparaela,dizendomansamente:-Bomtrabalho,querida.Vocêpensadepressa.Comoéque
eleestá?ComavozengasgadaVitóriadisse:-Pensoqueestá...estámorto.Viuorostodooutroalterar-se,captouapenasumlampejo
deraivaintensa,eentãooseurostoerajustamentecomootinhavistonodiaanterior-sóqueagoralhepareciaqueaindecisãoeflacidezdohomem tinhamdesaparecido,dando lugarparaalgomuitodiferente.
Ele abaixou-se - e gentilmente afrouxou a túnicaesfarrapada.
- Esfaqueado, limpo, pelo coração - disse Dakin aoendireitar-se.-Eraumrapazbravo...eesperto.
Vitóriaencontrouasuavoz.-Apolíciaesteveaqui.Disseramqueeraumcriminoso.Era
umcriminoso?-Nãonãoeraumcriminoso.-Eleseram....eramdapolícia?-Nãosei-disseDakin.-Podemser.Étudoamesmacoisa.Emseguidaperguntou:-Eledissealgumacoisa...antesdemorrer?-Sim.
-Oqueera?-EledisseLucifer...eemseguidaBasrah.EdepoisdeUma
pausaeledisseumnome...pareciaumnomefrancês...maspodeserqueeunãotenhaentendidodireito.
-Oquelheparecia?-CreioqueeraLefarge.-Lefarge-repetiuDakinpensativamente.-Quesignificatudoisso?-perguntouVitóriaeacrescentou
comcertodesânimo:-Equedevofazer?-Temosquetirá-ladissoatéondepudermos-disseDakin.-Quantoaquevemasertudoisso,voltareielhedireimais
tarde.AprimeiracoisaafazerélocalizarMarcus.OhotelédeleeMarcustemmuitosensocomum,emboraagentenãoseapercebadisso,àsvezes,aofalarcomele.Voulocalizá-lo.Nãoteráidoparaa cama. É apenas uma emeia. Ele raramente vai para a camaantesdasduashoras.Apenastratedesuaaparênciaantesqueeuotragaparacá.Marcusémuitosuscetívelàbelezaemapuros.
Saiu do quarto. Como que num sonho ela foi para apenteadeira,penteouocabelopara trás,pintouseurostonumapalidez que lhe ficava bem e deixou-se cair numa cadeira aoescutarpassosqueseaproximavam.Dakinentrousembater.PortrásdeleseavolumavaovultodeMarcusTio.DestavezMarcusestavasério.Osorrisocostumeironãoestavaemsuaface.
-Agora,Marcus-disseoSr.Dakin-vocêdevefazeroquepuder a respeito disso. Foi um choque terrível para esta pobremoça. O camarada entrou, desmoronou... ela tem um coraçãomuitogentileescondeu-odapolícia.Eagoraestámorto.Elanãodeviatê-lofeito,talvez,masmoçastêmocoraçãomole.
-Naturalmenteelanãogostoudapolícia-disseMarcus.-Ninguémgostadapolícia.Eunãogostodapolícia,maseutenhoqueestardebemcomelesporcausadomeuhotel.Querqueeuosengraxecomdinheiro?
-Queremosapenasficarlivresdocorpoemsilêncio.-Issoémuitobonito,minhacara.Eeu,também,nãoquero
umcadávernomeuhotel.Masé,comovocêdiz,nãotãofácildefazer?
-Achoquepoderá ser feito - disseDakin. -Você temummédiconafamília,nãoé?
-Sim,Paul,omaridodeminhairmã,émédico.Éumrapaz
muitobom.Maseunãooquerometidoemencrencas.-Nãovaificar-disseDakin.-Escute,Marcus.Nóslevamos
ocorpodoquartodaSrta.Jonesparaomeuquarto. Issoatirafora.Emseguida euusoo seu telefone.Dentrodedezminutosumjovemvemcambaleandoparadentrodohoteldarua.Eleestámuito bêbado, aperta o lado. Ele quer falar comigo a plenospulmões. Vai cambaleando para o meu quarto e desfalece. Eusaio,chamovocêepeçoummédico.Vocêapresentaseucunhado.Elemanda virumaambulância e vainela comestemeuamigobêbado.Antesdeeleschegaremaohospitalmeuamigomorre.Foiesfaqueadonaruaantesdeentrarnoseuhotel.
-Meucunhadolevaocorpo...eojovemquefazopapeldebêbadoelevaiemborasilenciosamente,demanhãtalvez.
-Éessaaideia.-Enão temcadáverencontradoemmeuhotel?EaSrta.
Joneselanãoficacomqualquerpreocupaçãoouaborrecimento.Eu acho, meu caro, que tudo isso é ideia muito boa. - ótimo,então se você verificar se a barra está limpa, vou levar o corpoparaomeuquarto.Essesseusempregadosficamperambulandopeloscorredoresametadedanoite.Váparaoseuquartoe façaumbarulho.Mandetodoselescorrendoparabuscarcoisasparavocê.
Marcusanuiuesaiudoquarto.-Vocêéumapequenaforte-disseDakin.-Podeajudar-me
acarregá-lopelocorredorparaomeuquarto?Vitóriaassentiucomacabeça.Osdoislevantaramocorpo
mole,carregaram-nopelocorredordeserto(nadistânciaavozdeMarcuspodiaserouvidaerguida,emraivafuriosa)edeitaram-nonacamadeDakin.
Dakindisse:- Tem uma tesoura? Então corte a parte de cima do seu
lençol onde ficou manchado. Não acho que a mancha tenhaatravessadoparaocolchão.A túnicachupouamaiorparte.Euestareicomvocêemaproximadamenteumahora.Ora,espereumminuto,tomeumtragodestemeufrasco.
Vitóriaobedeceu.-Boamenina-disseDakin.-Agoravolteparaoseuquarto.
Apaguealuz.Comoeudisse,estareiláemumahora.-Evaimedizeroquesignificatudoisso?
Elelançou-lheumolhardemorado,bastantepeculiar,masnãorespondeuàsuapergunta.
XIVITÓRIA ESTAVA deitada na cama com a luz apagada,
escutandonaescuridão.Escutousonsdealtercaçãobêbadaemvozalta.Escutouumavozdeclarar:
-Sentiquetinhaquetrancá-lo,meuvelho.Brigacomumcaraláfora.
Escutouo soarde campainhas.Outras vozes.Umbocadode confusão, Em seguida veio um lapso de silêncio relativo -exceto pelo som distante de música árabe num gramofone noquarto de alguém. Quando lhe parecia que horas tinhampassado,escutouosuaveabrirdasuaporta,sentou-senacamaeacendeualâmpadadecabeceira.
-Issomesmo-disseDakin,aprovadoramente.Trouxeumacadeiraparaabeiradacamaesentou-senela.
Ficou sentado ali olhando-a do modo pensativo de um médicofazendoumdiagnóstico.
Conte-meaquevemtudoisso-pediuVitória.-Façadecontas-disseDakin-quemeconteprimeirotudo
aseurespeito.Queéqueestá fazendoaqui?ParaqueveioparaBagdá?
Quertenhamsidoosacontecimentosdanoite,quertenhasidoalgonapersonalidadedeDakin (Vitóriamais tardepensouquetinhasidooúltimo)Vitóriaporestavez lançoumãodeumrelato inspiradoda suapresença emBagdá.Bastante simples ediretamente contou-lhe tudo. Seu encontro com Edward, suadeterminaçãodeirparaBagdá,omilagredaSra.HamiltonClippeseuprópriodebackfinanceiro.
-Estouvendo-disseDakinquandoelaterminou.Ficouemsilêncioporummomentoantesdefalar.-Talvezeuaquisessedeixarforadisso.Nãotenhocerteza.
Masocasoéquevocênãopodeserconservada foradisso.Estámetida nisso quer goste quer não. E, já que estámetida nisso,poderámuitobemtrabalharparamim.
Temumempregoparamim?-Vitóriasentou-senacama,suasfacesbrilhantesdeantecipação.
-Talvez,masnãodaespéciequevocêestápensando.Esteéumtrabalhosério,Vitória.Eéperigoso.
- Oh. isso estámuito bem - disse Vitória animadamente.Acrescentandoduvidosa:
-Nãoédesonesto,é?Porqueemboraeusaibaquecontoummonteenormedementiras.,nãogostariadefazeralgorealmentequefossedesonesto.
Dakinsorriuumpouco.- Por estranho que pareça a sua capacidade de pensar
rapidamente numa mentira convincente é uma das suasqualificações para o trabalho. Não, não é desonesto. Pelocontrário, você está alistada na causa da lei e da ordem. Voucolocá-laemcena,apenasdeummodogeral,masdemaneiraquepossa compreender completamente o que está fazendo eexatamente quais são os perigos. Você parece ser uma moçasensata e não creio que tenha pensado muito sobre políticamundial, o que vem a dar na mesma, porque, como Hamletsabiamente comentou: "Não há nada nem bom nemmau,maspensarofazficarassim."
-Seiquetodomundodizquevaihaveroutraguerramaiscedooumaistarde-disseVitória.
-Exatamente-disseDakin.-Porqueéquetodomundodizisso,Vitória?
Elafranziuatesta.- Ora, porque a Rússia... os comunistas... a América, ela
parou.-Você vê -disseDakin. -Estasnãosãoas suaspróprias
opiniões ou palavras. São apanhadas dos jornais, da conversacasualedorádio.Hádoispontosdevistadivergentesdominandodiferentes partes do mundo; isso é bastante verdade. E sãorepresentados superficialmente na mente do público como"Rússiaeoscomunistas"e"América".Oraaúnicaesperançaparao futuro, Vitória, está em paz, em produção. em atividadesconstrutoras--destruidoras.Porissotudodependedaquelesquedefendemessesdoispontosdevistadivergentesouconcordaremem divergir e cada qual contentando-se com a sua respectivaesferadeatividade,ouentãodeencontraremumabasemútuadeconcordância ou pelo menos tolerância. Em lugar disso ocontrário está acontecendo. Uma cunha está sendo inserida otempotodoparaforçaroafastamentocadavezmaiorentreessesdoisgruposmutuamentesuspeitosos.Certascoisaslevaramuma
ou duas pessoas a acreditar que esta atividade vem de umaterceiraparteougrupotrabalhandosobcoberturaeporenquantoabsolutamente insuspeitopelomundoemgeral.Semprequeháuma possibilidade de um entendimento a ser alcançado, ouqualquersinaldedispersãodesuspeita,algumincidenteaconteceparaarremessarumladodevoltaàdesconfiança,ouooutroladoem medo histérico definitivo! Essas coisas não são acidentes,Vitória,sãoproduzidasdeliberadamenteparaumefeitocalculado.
-Masporquepensaassimequeméqueestáfazendoisso?Umadasrazõespelasquaispensamosassiméporcausade
dinheiro. O dinheiro, você vê, está vindo das fontes erradas.Dinheiro, Vitória, é sempre a grande pista para o que estáacontecendonomundo.Comoummédicotomaoseupulso,paraconseguir uma pausa para o seu estado de saúde, assim odinheiro e o sangue vital que alimenta qualquer grandemovimentooucausa.Semeleomovimentonãopodeprogredir.Ora, aqui há uma quantidade enorme de dinheiro envolvida e,emboramuito espertamente camuflado comarte, certamenteháalgo errado sobre donde o dinheiro vem e para onde vai. Umagrandepartedegrevesnãooficiais,diversasameaçasagovernosna Europa que demonstram sinais de reconvalescença, sãoencenadosoucriadosporcomunistas-zelosospelasuacausa-masosfundosparaessasmedidasnãovêmdefontescomunistas,e, seguidas à origem, vêm de partes muito estranhas eimprováveis, Não é dinheiro capitalista, embora naturalmentepasse por mãos capitalistas. Outro ponto, enormes somas dedinheiroparecemestarsaindocompletamentedacirculação.Bemcomo se você - para torná-los simples - você gastasse seuordenado cada semana em coisas - braceletes ou mesas oucadeiras-eessascoisasemseguidadesaparecessemousaíssemdacirculaçãoedavistanormal.Em todoomundosurgiuumagrandedemandapor diamantes e outras pedraspreciosas.Elasmudamdemãosumadúziaoumaisdevezesatéquefinalmentedesaparecemenãopodemserencontradas.
-Isso,naturalmente,éapenasumesboçoamploevago.Oresultado é que em algum lugar um terceiro grupo de pessoas,cujametaporenquantoéaindaobscura,estáfomentandobrigaedesentendimento e estão ocupadas em transaçõesde dinheiro ejoiasinteligentementecamufladasparaseusprópriosfins.Temos
razõesparaacreditarqueem todopaísháagentesdessegrupo,algunsestabelecidoshámuitosanos.Algunsemposiçõesmuitoelevadas e de responsabilidade, outros desempenhando papéishumildes,mastodostrabalhandocomumfimdesconhecidoemvista. Em essência é exatamente como as atividades da QuintaColuna no começo da última guerra, só que desta vez é numaescaladeâmbitomundial.
-Masquemsãoessaspessoas?-perguntouVitória.- Não são, acreditamos nós, de alguma nacionalidade
especial. O que elas pretendem, é, temo, o melhoramento domundo!Ailusãodeque,pelaforça,sepodeimporoMilêniosobrearaçahumanaéumadasilusõesperigosasqueexistem.Aquelesqueestãoquerendoapenasencherosprópriosbolsospoucomalpodem fazer - a mera cobiça vence seus próprios fins. Mas acrençanumsuperextrato de sereshumanos - noSuper-homemparadominarorestodomundodecadente-esta,Vitória,éapiordetodasascrenças.Poisquandovocêdiz"Nãosoucomooutroshomens", você perdeu as duas mais valiosas qualidades quesempretemosprocuradoatingir:-humildadeeirmandade.
Eletossiu.- Bem, não devo pregar um sermão. Deixe-me apenas
explicar a você o que nós sabemos. Há diversos centros deatividade.UmnaArgentina,umnoCanadá-certamenteumoumais nos EstadosUnidos da América, e eu imaginaria, emboranão possamos saber, um na Rússia. E agora chegamos a umfenômenomuitointeressante.
- Nos últimos dois anos, vinte e oito jovens cientistaspromissores de várias nacionalidades têm silenciosamentedesaparecido de seus ambientes. O mesmo tem ocorrido comengenheiros de construção, aviadores, com eletricistas emuitasoutrasprofissõesespecializadas.Estesdesaparecimentostêmissoem comum: relacionam-se todos com jovens, eram todosambiciosos e todos sem laços estreitos. Além daqueles quesabemos,devehavermuito,muitomaiseestamoscomeçandoaadivinharalgosobreoqueelespoderãoestarconseguindofazer.
Vitóriaescutava,desobrancelhasrepuxadas.-Poder-se-iadizerqueera impossívelparaalguém,nestes
dias, viver em qualquer país, desconhecido para o resto domundo.Nãoquero,naturalmente,dizeratividadessubterrâneas;
essas podem realizar-se em qualquer lugar.Mas qualquer coisanuma grande escala de produção moderna. E, no entanto, háaindapartesobscurasdomundo, remotasdas rotascomerciais,nomeiodepovosqueaindatêmaforçaparabarrarestranhoseque nunca são conhecidos ou visitados, exceto por um viajantesolitárioeexcepcional.Coisaspoderiamaconteceraliquenuncapenetrariamaomundoexterior,ouapenascomoumrumortênueeridículo.
-Nãoprecisareio lugar.PodeseralcançadodaChina... eninguém sabe o que se passa no interior da China. Pode seralcançado dos Himalaias, mas a viagem para lá, salvo aosiniciados, é dura e um longo caminho. Maquinaria e pessoaldespachado de todas as partes do globo chegam lá depois deterem sido desviados de seu destino ostensivo. Não é precisoentrarempormenoresdomecanismo.
-Mas um homem ficou interessado em seguir uma certatrilha.Eraumhomemincomum,umhomemquetinhaamigosecontatosportodooOriente.NasceuemKashgareconheciaumavintenadedialetose línguaslocais.Elesuspeitoueseguiuumatrilha. O que ouviu era tão incrível que, quando voltou àcivilização e o relatou, não foi acreditado. Ele admitiu ter tidofebreefoitratadocomoalguémquetivessetidoumdelírio.
- Apenasduaspessoas acreditaramemsuahistória.Umafui eu mesmo. Nunca faço objeção para acreditar em coisasimpossíveis-tãofrequentementeelassãoverdadeiras.Aoutra...-elehesitou.
-Sim?-perguntouVitória.A outra foi Sir Rupert Crofton Lee, um grande viajante e
um homem que tinha ele mesmo viajado por essas regiõesremotas e que conhecia alguma coisa a respeito de suaspossibilidades.
- O resultado de tudo isso foi que Carmichael, é o meuhomem, decidiu ir e descobrir por si mesmo. Foi uma viagemdesesperadaearriscada,maseleestava tãobemequipadocomoqualqueroutropararealizá-la.Issofoihánovemeses.Nadamaisouvimosatéumaspoucassemanasatráseentãovieramnotícias.Eleestavavivoetinhaconseguidooquetinhaidobuscar.Provasdefinitivas.
-Masooutroladoestavaemseurastro.Eravitalparaeles
queelenuncaregressassecomassuasprovas.Enóstemostidoampla evidência de como todo o sistema está permeado einfiltrado com seus agentes. Mesmo no meu departamento hávazamentos.Ealgunsdessesvazamentos,oscéusnosprotejam,estãoemnívelmuitoelevado.
- Cada fronteira tem sido vigiada em busca dele. Vidasinocentes foram sacrificadas por engano, pela sua... não dãomuitovaloràvidahumana.Masdeuma formaoudeoutraeleconseguiuatravessarsemumarranhão...atéestanoite.
Entãoeraisso-quem-quemeleera?Sim,minhacara.Umhomemmuitobravoeindomável.-Mas,easprovas?Seráqueelesaspegaram?Um sorriso muito lento apareceu no rosto cansado de
Dakin.- Não acho que tenham conseguido. Não, conhecendo
Carmichael,tenhobastantecertezadequenãoconseguiram.Maselemorreu sem ter podido nos dizer onde estas provas estão eonde encontrá-las. Penso que provavelmente tentou dizer algoquando estava morrendo que nos deveria dar a pista - repetiulentamente. - Lucifer - Basrah - Lefarge. Ele tinha estado emBasrah,tentoucontatocomoConsuladoeporpoucoescapoudelevar bala. É possível que tenha deixado as provas em algumlugaremBasrah.Oqueeuqueroquevocêfaça,Vitória,éirparaláetentardescobrir.
-Eu?- Sim. Você não tem experiência. Não sabe o que está
procurando.MasvocêescutouasúltimaspalavrasdeCarmichaeleelaspodemsugeriralgoavocêquandochegar lá.Quemsabe,vocêpoderátersortedeprincipiante?
-EuadorareiirparaBasrah-disseVitóriaavidamente.Dakinsorriu.-Convém-lheporqueoseujovemestálá,hein?Estátudo
muito bem. Boa-camuflagem também. Não há nada como umcaso de amor genuíno para camuflagem. Você vai paraBasrah,fiquedeolhoseouvidosabertoseolheemsuavolta.
Eu não posso lhe dar quaisquer instruções sobre comocomeçarascoisas...narealidadeprefironãofazê-lo.Vocêpareceuma jovem com bastante engenhosidade própria. O quesignificam as palavras Lucifer e Lefarge... supondo que você
escutou corretamente... eu não sei. Estou inclinado a acreditarque]Lefargedeveserumnome.Fiquedeolhonestenome.
- Como é que vou para Basrah? - perguntou Vitória emformaconcretadenegócios.-Equevouusarcomodinheiro?
Dakin tirou a sua carteira e entregou-lhe um maço decédulas.
- Isso é o que você usa como dinheiro. E quanto a comochegar aBasrah, comece a conversar comaquela velha truta, aSra. Cardew Trench, amanhã demanhã, diga que está ansiosapor visitar Basrah, antes de ir para essa escavação onde vocêpretendetrabalhar.Pergunte-lhesobreumhotel.Elavailhedizerimediatamente que deverá ficar no Consulado e mandará umtelegrama para a Sra. Clayton. Provavelmente encontrará seuEdwardlá.OsClaytonsconservamacasaaberta-cadaqualquepassa por lá fica com eles. Além disso não posso lhe darquaisquer palpites, exceto um: se... hem... qualquer coisadesagradávelacontecer,selheperguntaremoquesabeequemamandou fazer o que está fazendo, não tente ser heroica. Cantetudologodeumavez.
- Muito obrigada - disse Vitória agradecida. - Sou umacovardequantoàdor,esealguémquisessetorturar-me,temoquenãoseriacapazdeaguentar.
-Nãovãoseincomodaremtorturá-la-disseDakin.Anãoserqueentrealgumelementosádico.Torturaémuito
antiquada. Uma pequena fisgada com uma agulha e vocêrespondequalquerperguntacomaverdadeenemsabeoqueestáfazendo.Estamosvivendonuma idadecientífica.Épor issoquenãoqueroquevocêfiquecomgrandesideiasdesegredo.Vocênãolhesestarácontandonadaqueelesjánãosaibam.
Elessaberãoameurespeito.Terãoquesaberdepoisdestanoite.EarespeitodeRupertCroftonLee.
-EarespeitodeEdward?Eulhesconto?-Issotenhoquedeixaraseucargo.Teoricamentevocêdeve
ficar de bico calado diante de todos sobre o que esta fazendo.Praticamente! - suas sobrancelhas ergueram-seinterrogativamente. - Você o coloca em perigo também. Há esteaspectodacoisa.Noentanto, seiqueele temumaboa fichanaForçaAérea.Nãocreioqueoperigoopreocupará.Duascabeçasfrequentemente sãomelhoresdo queuma.Então ele pensaque
algocheiramalarespeitodesteRamodeOliveiraparaoqualestátrabalhando?Issoéinteressante...muitointeressante.
-Porquê?-Porquenóstambémachamos-disseDakin.Emseguidaacrescentou:-Sómaisduasobservaçõesdedespedida.Primeiro,senão
se importa que o diga, não conte muitas mentiras de espéciesdiferentes.Emaisdifícildelembrarerepresentar.Seiqueéumbocado virtuose, mas conserve a coisa simples, é este o meuconselho.
-VoulembrarretrucouVitóriacomumahumildadequelheficavabem.Eooutroconselho?
-ApenasfiquedeorelhasempéparaqualquermençãodeumajovemchamadaAnaScheele.
-Queméela?Não sabemos muito a respeito dela. Poderíamos saber se
tivéssemosmaisalgumasinformações.
XII-NATURALMENTEvocêtemqueficarnoConsulado-disse
aSra.CardewTrench.-Bobagem,minhaquerida,vocênãopodeficarnoHotelAeroporto.OsClaytons ficarãoencantados.Euosconheçoháanos.Vamosmandarumtelegramaevocêpodeirlápelotremnoturnodehoje.ElesconhecemoDr.PauncefootJonesbastantebem.
Vitóriateveaelegânciadecorar.OBispodeLlangow,aliás,oBispodeLanguaoeraumacoisa;umDr.PauncefootJonesrealdecarneeossoerabemoutra.
Suponho - pensouVitória comumsentimentode culpa -quepoderiasermandadaparaaprisãoporisso...falsaqualidadeouqualquercoisaassim.
Emseguidaanimou-serefletindoqueeraapenasquandoseprocuravaobterdinheirocom falsasalegaçõesqueos rigoresdalei eram postos em movimento. Se isso realmente era ou nãoassim, Vitória não sabia, sendo tão ignorante em leis quanto amaioriadaspessoasmédias,masissotinhaumtomanimador.
A viagem de trem teve toda a fascinação de umanovidadenaideiadeVitóriaotremdificilmenteeraumexpresso-mas ela tinha começado a tornar-se consciente de suaimpaciênciaocidental.
UmcarrodoConsuladofoiencontrá-lanaestaçãoeelafoilevadaparalá.Ocarrofoiporgrandesportõesparadentrodeumjardimdeliciosoeparounafrentedeumlancedeescadaslevandopara um terraço que circundava a casa. A Sra. Clayton, umamulher sorridente, enérgica, vinha pela porta de vaivém demosquiteiroparasaudá-la.
- Estamos tão contentes por vê-la - disse ela. -Basrah érealmente deliciosa nesta época do ano e não deveria deixar oIraque sem vê-la. Felizmente não há muita gente aqui nomomento...àsvezesnãosabemoscomonosvirarparaacomodaraspessoas,masnãoháninguémaquiagora,excetoo jovemdoDr. Rathbone, que é bem encantador. Acabou de desencontrarcomoSr.RichardBaker,porfalarnisso.EletinhapartidoantesdeeureceberotelegramadaSra.CardewTrench.
Vitórianão tinha ideiade quem fosseRichardBakermas
pareciaafortunadoquetivessepartidoquandoofez.-Ele tinhaestadoemKuwaitpordoisdias - continuoua
Sra.Clayton.-Agora,esseéumlugarqueprecisaverantesquefique estragado. Ouso afirmar que em breve o será. Qualquerlugar fica estragado mais cedo ou mais tarde. Que é que vocêprefereprimeiro-umbanhooucafé?
-Umbanho,porfavor-respondeuVitóriaagradecida.-ComoestáaSra.CardewTrench?Esteéoseuquartoeo
banheiroéporaqui.Elaéumavelhaamigasua?- Oh Não - disse Vitória de acordo com a verdade. Eu a
conhecihápoucotempo..- E eu suponho que ela a tenha virado do avesso no
primeiroquartodehora?Éuma fofoqueira terrível, comopensoque já o terádescoberto. Temumamaniade querer saber tudosobretodoomundo.Masémuitoboacompanhiaeumajogadoradebridgerealmentedeprimeira.Agora,temcertezaquenãoquerumcaféouqualqueroutracoisaprimeiro?
Nãorealmente.Muito bem... então a verei mais tarde. Tem tudo de que
precisa?ASra.ClaytonzumbiuemboracomoabelhaalegreeVitória
tomou um banho e tratou do seu rosto e do seu cabelo com ocuidado meticuloso de mulher jovem que brevemente seencontrarácomumjovemqueseapoderoudesuafantasia.
Sepossível,VitóriaesperavaencontrarEdwardsozinho.Elanão pensava que ele faria quaisquer comentários sem tato -felizmente ele a conhecia como Jones e o Pauncefoot adicionalnão lhe causaria surpresa. A surpresa de todo seria que elaestivesse no Iraque. e por isso Vitória esperava que o pudesseencontrar sozinho, nem que fosse por um ou dois escassossegundos.
Comestametaemvista,quandotinhavestidoumcostumedeverão(aelaoclimadeBasrahlembravaumdiadejunhoemLondres)elaseesgueiroumansamentepelaportadomosquiteiroe assumiu suaposiçãona varanda onde elapoderia interceptarEdwardquandoelechegassedevoltadeoquequerquefossequeestava fazendo - brigando com os funcionários da Alfândega,presumia.
Oprimeiroachegar foiumhomemmagro, comumrosto
pensativo, e, quando ele subiu os degraus, Vitória esgueirou-sepela esquina do terraço. Ao fazer isso viu realmente Edwardentrandoporumaportadojardimquedavaparaacurvadorio.
Fiel à tradição de Julieta, Vitória debruçou-se sobre obalcãoejogouumbeijoprolongado.
Edward (que estava parecendo, ao que Vitória pensava,mais atraente do que nunca) voltou sua cabeça abruptamente,olhandoàsuavolta.
-Psiu,aquiemcima-chamouJulietaemvozbaixa.Edward ergueu a cabeça e uma expressão de extremo
espantoapareceuemsuaface.-BomDeus!-exclamouele.ÉCharingCross!-Quieto.Esperepormim.Estoudescendo.Vitória correu em redor do terraço, escada abaixo e pela
esquinadacasaatéondeEdwardtinhaficadoobedientementeempé,aexpressãodeaturdimentoaindaemseurosto.
-Nãopossoestarbêbadotãocedoainda-disseEdward.-Évocê?
-Sim,éeu-disseVitóriaalegreepoucogramaticalmente.-Mas que está fazendo aqui?Como chegou até aqui?Eu
penseiquenuncamaisaveria.-Eutambémpenseiassim.-Érealmentecomoummilagre.Comofoiquevocêchegou
atéaqui?-Euvimvoando.- Claro que você voou. Não poderia ter chegado aqui em
tempo de outra forma. Mas quero dizer, que abençoado emaravilhoso acaso a trouxe paraBasrah? - o trem - respondeuVitória.
-Vocêestáfazendoissodepropósito,seupequenomonstro.Céus,estoucontentedevê-la.Mascomofoiquevocêchegouaqui,realmente?
-Vimcomumamulherque tinhapartidoobraço....umaSra. Clipp. Uma americana. Ofereceram-Me o emprego no diaseguinte ao de encontrá-lo e você tinha falado de Bagdá e euestava um pouquinho chateada com Londres; assim pensei,então,porquenãoveromundo?
-Vocêérealmentemuitoesportiva,Vitória.OndeéqueestáessaClipp,aqui?
- Não, foi para junto de uma filha perto de Kirkuk. Foisomenteumtrabalhodeviagem.
-Entãooqueéqueestáfazendoagora?-Aindaestouvendoomundo-disseVitória. -Mas foram
precisos alguns subterfúgios. Isso é porque eu queria falar comvocêantesquenos encontrássemosempúblico, querodizer, eunão quero quaisquer referências falhas de tato de que sou aestenodatilógrafasemempregodequandovocêmeviupelaúltimavez.
-Noquemedizrespeito,vocêétudooquedizser.Estouprontoparainstruções.
-A ideiaé -disseVitória -queeusouaSrta.PauncefootJones. Meu tio é um eminente arqueólogo que está fazendoescavações em alguns lugares mais ou menos inacessíveis poraquieeuvoumereuniraelebrevemente.
Enadadissoéverdade?Claroquenão.Masfazumahistóriabembonita.Oh, sim, excelente. Mas suponha que você e o velho
PussyfootJonesseencontremcaraacara.- Pauncefoot. Não acredito que isso seja provável. Tanto
quanto eu percebo, uma vez que os arqueólogos começam aescavar, eles continuam cavando feito doidos e não param decavar.
-Oumaiscomoterriers.Verdadehámuitonoquevocêdiz.Seráqueeletemrealmenteumasobrinha?
-Comoquerqueeusaiba?-perguntouVitória.- Oh, então você não está personificando ninguém em
particular.Issotornaacoisamaisfácil.-Sim,nofimdecontasumhomempodeterumaporçãode
sobrinhas. Ou, num aperto posso dizer que sou apenas umaprima,masquesempreochameidetio.
-Vocêpensaemtudo-admitiuEdwardcomadmiração.-Você é realmente uma pequena espantosa, Vitória. Nuncaencontreininguémcomovocê.Eupenseiquenãoaveriadenovopor anos e quando a visse, você teria esquecido tudo a meurespeito.Eagora,aquiestávocê.
OolhardeadmiraçãoehumildadequeEdwardlhelançoucausouintensasatisfaçãoaVitória.Seelafosseumgato,estariaronronandoagora.
-Masvocêvaiquererumemprego,nãoé?-disseEdward.-Querodizer,vocênãorecebeuumafortunarepentinaouqualquercoisaassim?
-Longedisso!Sim-disseVitórialentamente.-Vouprecisardeumemprego.NarealidadeeufuiàqueleseulugardoRamodeOliveiraefaleicomoDr.Rathboneelhepediumemprego,masele não foimuito receptivo... quer dizer, quanto a um empregocomsalário.
-Ovelhoteébemsegurocomdinheiro-disseEdward.Sua ideiaéquetodomundovemetrabalhapeloamorda
coisa.-Vocêachaqueeleéumvigarista,Edward?- N-não. Não sei exatamente o que pensar. Mas não vejo
comopodedeixardeserlegal...elenãoganhadinheironenhumcomoespetáculo.Atéondeeupossover,todoaqueleentusiasmoterrífico temque ser genuíno.Eno entanto, sabe, eunão sintorealmentequeelesejaumtrouxa.
- Melhor entrarmos - disse Vitória. - Podemos falar maistarde.
-EunãotinhaideiadequevocêeEdwardseconheciam-exclamouaSra.Clayton.
- Oh, somos velhos amigos - riu-se Vitória - aconteceapenas que perdemos de vistaumao outro.Não tinha ideia dequeEdwardestavanestepaís.
O Sr. Clayton, que era o homem quieto de aspectopensativoqueVitóriatinhavistosubiraescada,perguntou:
-Comosesaiuestamanhã,Edward?Algumprogresso?-Parecemuitotrabalhomontanhaacima,senhor.Ascaixas
dos livros estão ali, todas presentes e corretas, mas asformalidadesparadesembaraçá-lasparecemintermináveis.
Claytonsorriu.-AstáticasprotelatóriasdoOrienteparavocêsãonovas.-Ofuncionárioparticularqueéprecisoversempreparece
estarausentenaqueledia-queixou-seEdward.-Todomundoémuitoagradávelecooperante...apenasnadapareceacontecer.
TodomundoriueaSra.Claytondisseconsoladoramente:-Você só conseguirá passarno final.Bastante inteligente
dapartedoDr.Rathbonemandaralguémpessoalmente.Deoutraformaprovavelmenteficariamaquidurantemeses.
- São muito desconfiados acerca de bombas. Também deliteraturasubversiva.Suspeitamdetudo.
- O Dr. Rathbone não está mandando para cá bombasdisfarçadasemlivros,esperoeu-disseaSra.Claytonrindo.
Vitória pensou ter visto um súbito tremor no olho deEdward,comoseocomentáriodaSra.Claytontivesseabertoumanovalinhadepensamento.
Claytondissecomumaligeiraindicaçãodereprimenda:- O Dr. Rathbone é um homem muito estudado e
conhecido,minhacara.ÉsóciodeváriassociedadesimportanteserespeitadoemtodaaEuropa.
- Isso tornaria tanto mais fácil para ele contrabandearbombasparacá-indicouaSra.Claytoncomespíritoirreprimível.
Vitória pôde ver que Gerald Clayton não estava gostandoMuitodestasugestãoleviana.
Franziuatestaparasuamulher.Osnegóciosestandoparadosduranteashorasdomeio-dia,
Edward eVitória saíramdepois do almoçopara passear e ver apaisagem. Vitória ficou encantada com o rio, o *Shatt el Arab,com a sua moldura de plantações de tamareiras. Adorou oaspecto veneziano dos botes árabes de proa alta amarrados nocanal,emcima,nacidade.EmseguidaperambularamparaoSuqeolharamarcasdenoivadoKuwait, guarnecidas com latão emdesenhoseoutrasmercadoriasatraentes.
Quando voltavam em direção ao Consulado e Edwardestavasepreparandoparaassaltarodepartamentodaalfândegamaisumavez,Vitóriaperguntou,subitamente:-Edward,qualéoseu nome? Edward olhou-a. - De que é que você está falandoVitória?-Seuúltimonome.Vocênãosabequeeunãooconheço.
-Nãoconhece?Não,suponhoquenão.ÉGoring.- Edward Goring. Não faz ideia de como me senti idiota
indoparaaquelelugardoRamodeOliveira,querendoperguntarporvocê,semsabermaisnadaanãoserEdward.
- Havia uma moça escura ali? Cabelo extremamentecompridoamontoado?
-Sim.- Essa é Catarina. Ela é muito boa. Se você tivesse dito
Edward,elateriasabidoimediatamente.
-Garantoquesim-disseVitóriacomreserva-Elaéumapequenaformidável.Vocênãoacha?-Oh,sim...-Nãorealmentebonita...narealidadenadamuitoparase
olhar,masétremendamentesimpática.- ]É?-avozdeVitóriaagoraestavapositivamenteglacial,
masEdwardaparentementenãonotavanada.- Realmente não sei o que teria feito sem ela. Ela me
colocou a par de tudo e me ajudou quando eu poderia terbancadootrouxa.Tenhocertezadequeelaevocêvãosergrandesamigas.
-Nãoacreditoquetenhamosaoportunidade- Oh, sim, terão. Vou arranjar-lhe um emprego no
espetáculo.-Comovaiarranjarisso?-Nãosei,masconseguireidealgumaforma.Direiaovelho
Rathbonequemaravilhosadatilógrafaetceteravocêé.-Elelogodescobriráquenãosou-disseVitória.-Dequalquer formaeua levareiparaoRamodeOliveira,
não vou deixá-la zanzando por aí por sua conta. A próximanotíciaqueeuteriaéquevocêestavadepartidaparaaBirmâniaouaÁfricamaisnegra.Não, jovemVitória,vouconservá-labemsobasminhasvistas.Nãovoucorrerqualquerriscodevocêfugirde mim. Não confio em você nem uma polegada. Você gostademaisdeveromundo.
Seuqueridomaluco - pensouVitória - vocênão sabequecavalosselvagensnãopoderiamarrastar-meparalongedeBagdá!
Emvozaltadisse:- Bem, seria bem divertido ter um emprego no Ramo de
Oliveira.- Eu não o descreveria como divertimento. ]É tudo
terrivelmentesério.Bemcomosendoabsolutamentelunático.-Evocêaindapensaqueháqualquercoisadeerradocom
isso?-Oh,essaeraumaideiamalucaminha.- Não - disse Vitória pensativamente. - Não acho que era
apenasumaideiamaluca.Pensoqueéverdade.Edwardvoltou-separaelaabruptamente:-Queéqueafazdizerisso?
-Algoqueeuescutei...deumamigomeu.-Quemera?-Apenasumamigo.- Pequenas como você têm amigos demais - resmungou
Edward-Vocêéumadiaba,Vitória.Euaamoloucamenteevocênãoseimportanemumtiquinho.
Em seguida, escondendo sua satisfação deliciada,perguntou:
-Edward,háalguémchamadoLefargeemconexãocomoRamodeOliveiraouqualqueroutracoisa?
-Lefarge?-Edwardpareciaintrigado.-Nãocreio.Queméele?
Vitóriacontinuouseuinterrogatório.OualguémchamadoAnaScheele?DestavezareaçãodeEdwarderabemdiferente.Voltou-se
paraeladerepente,agarrouseubraçoeperguntou:-QueéquevocêsabedeAnaScheele?- Oh, Edward, larga! Não sei nada sobre ela. Somente
queriasabersevocêsabia.-Ondefoiquevocêouviufalardela?ASra.Clipp?-Não...nãoaSra.Clipp...pelomenosachoquenão,mas
narealidadeelafalavatãodepressaetãointerminavelmentesobretodomundoesobretudo,queprovavelmente,eunãolembrariaseelaativessemencionado.
-Mas,oqueafezpensarqueessaAnaScheeletinhaalgoquevercomoRamodeOliveira?
-Elatem?Edwarddisselentamente:-Nãosei...étudotãovago.Estavam em pé do lado de fora da porta do jardim do
Consulado.Edwardolhouseurelógio.-Tenhoqueirefazerminhaobrigação-disse.Gostaria de saber um pouco de árabe. Mas temos que
conversar,Vitória.Háumaporçãodecoisasquequerosaber.- Há uma porção de coisas que quero lhe contar - disse
Vitória.Qualquer terna heroína de uma época mais sentimental
poderia ter tentado conservar seu homem fora de perigo. NãoVitória.Homens, na opinião deVitória, nascerampara o perigo
assim como as faíscas voam para cima. Edward não lheagradeceriapordeixá-loforadascoisas.E,pensandoumpouco,elaestavabemcertadequeoSr.Dakinnãotencionavaqueelaodeixasseforadascoisas.
Ao por do sol naquela tarde, Edward e Vitória estavampasseando no jardim do Consulado. Em deferência para com ainsistência da Sra. Clayton de que o tempo estava hibernal,Vitóriausavaumcasacodelãsobreseucostumedeverão.Opordo sol estava magnífico mas nenhum dos jovens o notou.Estavamdiscutindocoisasmaisimportantes.
- Começou bem simplesmente - disse Vitória - com umhomementrandonomeuquartonoHotelTioesendoesfaqueado.
Não era, talvez, a ideia da maioria das pessoas de umcomeçosimples.Edwardolhou-aedisse:
Sendooquê?Esfaqueado - disse Vitória. - Pelo menos penso que foi
esfaqueado, mas poderia ter sido um tiro, só que não pensoassim, porque então eu teria escutado o barulho do tiro. Dequalquerjeito-acrescentou-eleestavamorto.
-Comopodiaviraoseuquartoseestavamorto?-Oh,Edwardnãosejaburro.Alternadamente, mal e vagamente, Vitória contou a sua
história.Poralgumarazãomisteriosa,Vitórianuncapodiacontarocorrências verdadeiras de forma dramática. Sua narrativa erafreada e incompleta e ela a contou com o jeito de alguém queofereceumafalsificaçãopalpável.
Quandotinhachegadoaofim,Edwardolhou-aemdúvidaedisse:
- Você está se sentindo bem,Vitória, não é?Quero dizer,você não teve um princípio de insolação ou... um sonho... ouqualquercoisa?
-Certamentequenão.-Porque,querodizer,pareceumacoisatãoabsolutamente
impossíveldeteracontecido.-Bem,aconteceu-disseVitóriamelindrada.-Etodaessahistóriamelodramáticasobreforçasmundiais
e instalações misteriosas secretas no coração do Tibet ouBaluquistão.Querodizer. tudo issosimplesmentenãopodiaserverdade.Coisasassimnãoacontecem.
-Issoéoqueagentesempredizantesdeacontecerem.- Mão no coração, Charing Cross... você esta inventando
tudoisso?-Não-gritouVitóriaexasperada.-EvocêveioatéaquiprocurandoalguémchamadoLefarge
ealguémchamadaAnaScheele...-Dequemvocêmesmoouviufalar- interpôsVitória.Você
tinhaouvidofalardela,nãoéverdade?-Ouvionome,sim.-Como?Onde?NoRamodeOliveira.Edward ficou em silêncio por alguns momentos, em
seguidadisse:- Não sei se isso significa alguma coisa. Era apenas...
esquisito...-Vamos.Conte-me.- Veja, Vitória. Sou tão diferente de você; não sou tão
aguçadoquantovocê,Vitória.Euapenassinto,deumamaneiraestranha, que as coisasde algummodo estão erradas... não seiporquepensoassim.Vocêvêascoisasenquantoavançaededuzcoisasdelas.Eunãosoubastanteespertoparaisso.
Eu apenas sinto vagamente que as coisas estão... bem...erradas...masnãoseiporque.
- Sinto assim também, às vezes - disse Vitória. Como SirRupertnavarandadoTio.
-QueméSirRupert?- Sir Rupert Crofton Lee. Ele estava no avião na viagem
paracá.Muitoempertigadoefazendofarol.UmVip,vocêsabe.EquandoovisentadonavarandadoTioaosol,eutiveaestranhasensação que você acabou de dizer de alguma coisa estandoerrada,masnãosabendooqueera.
-Rathbonepediu-lheparafazerumaconferêncianoRamodeOliveira,eucreio,maselenãopôde.VooudevoltaparaoCairoouparaDamascooualgumlugarontem,pelamanhã.
-Bem,continuesobreAnaScheele.-Oh,AnaScheele.Nãofoinadarealmente.Foiapenasuma
daspequenas.-Catarina?-perguntouVitóriainstantaneamente.-AchoquefoiCatarina,agoraquepensonisso.-ClaroquefoiCatarina.Épor issoquevocênãomequer
dizer.-Bobagem,issoémuitoabsurdo.-Bem,oqueera?-Catarinadisseaumadasoutrasmoças:- “Quando Ana Scheele vier, podemos ir avante. Então
receberemosordensdelasó.AnaSchelevier,podemosiravante.Entãoreceberemosasordensdela...edelasó.”
-Issoéterrivelmenteimportante,Edward.-Lembra,nemmesmotenhocertezadequeesseeraonome
-preveniuEdward.-Vocênãoachouestranhonahora?- Não, naturalmente que não. Eu pensei que era apenas
algumamulherqueviriaparamandarnascoisas.Umaespéciedeabelha-rainha.Vocênãoestáimaginandotudoisso,Vitória?
Imediatamenteeleseencolheuligeiramentediantedoolharquesuajovemamigalhelançou.
-Muitobem,muitobem-disseapressadamente.Mas você tem que admitir que toda essa história soa
esquisito. como uma novela: um jovem entrando e proferindoumapalavraquenãoquerdizernada...eemseguidamorrendo;simplesmentenãoparecereal.
- Você não viu o sangue - disse Vitória e tremeuligeiramente.
-Deveter-lhedadoumchoqueterrível-disseEdwardcomsimpatia.
-Deusim-disseVitória.-Edepois,porcimadetudovemvocêeperguntaseestouinventandotudoisso.
- Sinto muito. Mas você é bastante boa para inventarcoisas.OBispodeLlangowetudoisso!
-Oh,issoeraapenasjoiedevivredemenina-disseVitória.-istoésério,Edward,realmentesério.
- Este homem, Dakin... é esse seu nome? Deu-lhe aimpressãodequesabiadoqueestavafalando?
- Sim, ele foimuito convincente.Mas olhe aqui, Edward,comoéquevocêsabe...
Umgritodavarandaainterrompeu.-Entremvocêsdois...bebidasesperando.-Indo-gritouVitória.ASra.Clayton,observando-oschegaremàescada,dissea
seumarido:- Há qualquer coisa no ar aí! Bonito par de crianças...
provavelmentejuntosnãotêmumtostão.Querquelhedigaoquepenso,Gerald?
-Certamente,minhaquerida,estousempreinteressadoemouvirsuasideias.
-Pensoqueaquelameninanãoveioparacáparasejuntaraoseutionasuaescavação,masapenasmenteporcausadaquelemoço.
- Dificilmente penso assim, Rosa. Ficaram bastantesurpresosdeveremumaooutro.
-*Poosli!- fezaSra.Clayton.- Issonãoénada.Ele ficouespantado,eudiria.
GeraldClaytonsacudiuacabeçaparaelaesorriu.-Elanãoéotipoarqueológico-disseaSra.Clayton.São geralmente moças sérias, de óculos... e muito
frequentementedemãosúmidas.Minhaquerida,vocênãopodegeneralizarassim.E intelectuais e tudo aquilo. Essa pequena é uma
cabecinha de vento adorável com um monte de senso comum.Muito diferente. Ele é um bom rapaz. uma pena que estejaamarradocomtodoessenegóciobobodoRamodeOliveira...massuponhoqueosempregosestãodifíceis.Deviamacharocupaçãoparaessesrapazes.
-Nãoé tão fácil,minhaquerida;eles tentam.Masvocêvênãotêmtreino,nenhumaexperiênciaegeralmentenãocultivamohábitodaconcentração.
Vitória essa noite foi para a cama num redemoinho desentimentosmisturados.
Oobjetodesuabuscaestavaatingido.Edward tinhasidoencontrado! Ela sofria da reação inevitável. Fizesse o quequisesse,umsentimentodeanticlímaxpersistia.
EraparcialmenteadescrençadeEdwardquefaziatudoqueaconteciaparecerteatraleirreal.Ela,VitóriaJones,umapequenadatilógrafa londrina, tinha chegado a Bagdá, tinha visto umhomemassassinadoquasediantedosseusolhosesetornadoumagente secreto ou qualquer coisa igualmente melodramática;tinha finalmente encontrado o homem que amava num jardimtropical com palmeiras abanando por cima e com toda a
probabilidade não longe do lugar em que o Jardim do Édenoriginaleraconsideradoestarsituado.
Um fragmento de rima infantil flutuava pelo seupensamento:
HowmanymilestoBabylon?Threescoreandten:CanIgetthereby*candlilight?Yes,andbackagain.(QuantasmilhasparaaBabilônia?Trêsvintenasmaisdez:Possochegarláàluzdavela?Sim,edevoltatambém).Mas ela não estava de volta de novo - estava ainda na
Babilônia.Talvezquenuncavoltasse-elaeEdwardnaBabilônia.AlgumacoisaelatinhaqueridoperguntaraEdward-alino
jardim.JardimdoÉden - ela eEdward -perguntaraEdward -masaSra.Claytontinhachamado-etinhasaídodesuacabeça.-Maselatinhaque lembrar-porqueera importante-nãofaziasentido - Palmeiras - jardim -Edward - Virgem sarracena - AnaScheele-RupertcroftonLee-Tudoerradodealgumaforma-eseapenaspudesseselembrar.
Umamulhervindoaoseuencontronumcorredordehotelumamulhernumcostumesobmedida-eraela-masquandoamulherchegoupertoviuqueo rostoeradeCatarina.EdwardeCatarina-absurdo!-"Venhacomigo",diziaelaaEdward,"vamosencontrarM.Lafarge"-esubitamenteaíestavaeleusandoluvasdepelicaamarelaseumpequenocavanhaquepontudo.
Edward tinha ido e agora ela estava sozinha. Tinha quevoltardaBabilôniaantesqueasvelasseapagassem.
Enóssomosparaoescuro.Quem foi que disse isso? Violência - terror - maldade -
sanguesobreumatúnicacáquiesfarrapada.Elaestavacorrendo-correndo-porumcorredordehotel.Eelesestavamvindoatrásdela.
Vitóriaacordoucomumarquejo.-vocêgostadosovos?Mexidos?-Adorável.-Vocêparecebemdesbotada.Nãoseestásentindodoente?
- Não. Eu não dormi bem esta noite. Não sei por que. Éumacamamuitoconfortável.
-Ligueorádio,porfavor,Gerald.Éhoradasnotícias.Edwardentrounomomentoemqueoprefixosoava.- Na Câmara dos Comuns a noite passada o Primeiro-
Ministrodeunovosdetalhessobreoscortesnasimportaçõesemdólares.
Uma reportagem do Cairo anuncia que o corpo de SirRupert Crofton Lee foi pescado do Nilo. Vitória baixourepentinamentesuaxícaradecaféeaSra.Claytonproferiuumaexclamação.SirRupertsaiudohotelna tardedeontem,depoisde terchegadodeBagdádeaviãoenãoregressouaeleànoite.Estavadesaparecidoporvinteequatrohorasquandoseucorpofoi recuperado. A morte se verificou por uma ferida a faca nocoraçãoenãoporafogamento.SirRuperteraumfamosoviajante,conhecidoporsuasviagenspelaChinaeBqluqistaneeraautordevárioslivros.
- Assassinado! - exclamou a Sra. Clayton. - Penso que oCairoépiorquequalqueroutro lugaragora.Vocêsabiaalgodetudoisso,Gerry?
-Eusabiaqueestavadesaparecido-disseoSr.Clayton.-Parecequerecebeuumbilhete,trazidopessoalmente,edeixouohotelcomgrandepressa,apé,semdizerparaondeestavaindo.
-Vocêvê-disseVitóriaaEdward,depoisdocafédamanhã,quandoestavamjuntosasós.
-Étudoverdade.PrimeiroestehomemCarmichaeleagoraSir Rupert Crofton Lee. Agora sinto tê-lo chamado de faroleiro.Parece pouco bondoso. Todas as pessoas que sabem ouadivinhamsobreessenegócioestranhoestãosendoretiradasdocaminho.Edward,vocêpensaqueapróximasereieu?
- Pelo amor de Deus, não fique assim tão agradada pelaideia,Vitória!Seusensodedramaéfortedemais.Nãoseiporquealguém eliminaria você, porque na realidade você não sabe denada...mas,porfavor,tenhamuito,muitocuidado.
-Nósambostemosquetercuidado.Euoarrasteiparaisso.-Ah!Issoestámuitobom.Aliviaamonotonia.-Sim,mascuidedesi.Elasentiuumfrêmitosúbito.-Ébemhorrível.Eleestavatãovivo...Croftonquerodizer-
eagoratambémestámorto.Éassustador,realmenteassustador.
XIII-ENCONTROUSEUJOVEM?-perguntouoSr.Dakin.Vitória fez que sim com a cabeça. Achou mais alguma
coisa?ExtremamentepesarosaVitóriameneouacabeça.- Bem, anime-se - disse o Sr. Dakin. - Lembre-se de que
neste jogo os resultados são poucos e muito espaçados. Vocêpoderiaterapanhadoalgoali,nuncasesabe,maseudemaneiraalgumaestavacontandocomisso.
-Possocontinuartentandoainda-perguntouVitória.-Vocêquer?- Sim, quero. Edward pensa que me pode arranjar um
emprego no Ramo de Oliveira. Se eu conservar meus olhos eouvidos abertos, poderei descobrir alguma coisa, não é? ElessabemalgumacoisasobreAnaScheele.
- Isso, agora, é muito interessante, Vitória. Como foi quevocêsoube?
Vitória repetiu o queEdward lhe tinha contado - sobre ocomentário de Catarina que quando "Ana Scheele vier" elesreceberiamsuasordensdela.
-Muitointeressante-disseoSr.Dakin.-QueméAnaScheele?-perguntouVitória.-Querodizer,
temquesaberalgosobreela-ouelaéapenasumnome?- É mais que um nome. É secretária particular de um
banqueiro americano, chefe de uma firma de banqueirosinternacionais.SaiudeNovaYorkefoiparaLondreshácercadedezdias.Desdeentãodesapareceu.
-Desapareceu?Nãoestámorta?-Seestiver,seucorponãofoiencontrado.-Maselapodeestarmorta?-Oh,sim,podeestarmorta.-Elaestava...vindoparaBagdá?-Nãotenhonoção.Pareceriapelocomentáriodessajovem,
Catarina, que estava. Ou devemos dizer... está... desde que porenquantonãohárazãoparaacreditarquenãoestejamaisviva.
- Talvez eu possa descobrir mais no Ramo de Oliveira. -Talvezpossa-masqueropreveni-laumavezmaisparasermuito
cuidadosa,Vitória.Aorganizaçãocontraaqualvocêsemeteuébastante impiedosa.Nãogostariade ter seucadáver encontradoflutuandoTigreabaixo.
Vitóriaestremeceuligeiramenteemurmurou:ComoSirRupertCroftonLee.Sabe,aquelamanhãemque
estevenohotel,haviaalgoestranhoarespeitodele..algoquemesurpreendeu.Eugostariadelembraroqueera...
-Estranhodequemaneira...?- Bem... diferente - em seguida, em resposta ao olhar
inquiridor,elameneouacabeçavexada.-Euvoulembrar,talvez.Dequalquerformanãosuponhoquerealmenteimporte.
-Qualquercoisapodeserdeimportância.- Se Edwardme conseguir um emprego, ele acha que eu
deveriaalugarumquartocomoasoutraspequenas,numaespéciedepensãoouumlugarpagodehóspedes,nãocontinuaraqui.
- Criaria menos desconfiança. Os hotéis de Bagdá sãomuitocaros.Seujovemparecequetemacabeçanolugarcerto.
-Gostariadevê-lo?Dakinmeneouacabeçaenfaticamente.- Não, diga a ele para ficar longe de mim. Você,
infelizmente, pelas circunstâncias da noite da morte deCarmichael,estáaptaasersuspeita.MasEdwardnãoestáligadoàquele acontecimento ou comigo de qualquer forma... e isso évalioso.
-Euestavaquerendoperguntar-lhe-disseVitória.QuemrealmenteesfaqueouCarmichael?Eraalguémqueo
seguiuatéaqui?-Não-disseDakinlentamente.-Nãopodiatersidoassim.-Nãopodia?-Eleveionumagufa...umdessesbarcosnativos...enãofoi
seguido.Nós sabemosdissoporque eu tinhaalguémvigiandoorio.
-Entãoeraalguémde...dentrodohotel?-Sim,Vitória.Eoqueémais,alguémnumadeterminada
ala do hotel, pois eu mesmo estava vigiando as escadas eninguémsubiuporelas.
Ele observou seu rosto extremamente intrigado e dissecalmamente:
-Issonarealidadenãonosdámuitosnomes.Vocêeeuea
Sra. Cardew Trench, e Marcos e suas irmãs. Um casal deempregados idosos que tem estado aqui durante anos. UmhomemchamadoHarrison,deKirkuk,contraquemnãosesabedenada.UmaenfermeiraquetrabalhanoHospitalJudeu...Podeserqualquerumdeles...mastodoselessãoimprováveisporumarazãomuitoboa.
-Qualé?-Carmichaelestavaemguarda.Elesabiaqueomomento
culminante de sua missão estava se aproximando. Era umhomemcomuminstintomuitoapuradoparaoperigo,Comofoiqueesseinstintooabandonou?.
-Aquelespoliciaisquevieram...-começouVitória.- Ah, esses vieram depois... subiram da rua. Tiveram um
sinal, presumo.Mas eles não o esfaquearam. Isso deve ter sidofeito por alguém que Carmichael conhecia bem, em quem eleconfiava...oudeoutraformaaquemconsideravadesimportante.Seapenaseusoubesse...
Arealizaçãotrazconsigoseupróprioanticlímax.ChegaraBagdá, encontrar Edward, penetrar nos segredos do Ramo deOliveira:tudoissotinhaparecidoumprogramaextasiante.Agora,conseguido seu objetivo, Vitória, num raro momento de auto-lndagação,àsvezescismavaoqueestavafazendo!Oarroubodareunião com Edward tinha vindo e desaparecido. Ela amavaEdward, Edward a amava. Estavam, na maioria dos dias,trabalhando sob o mesmo teto - mas pensando sobre issodesapaixonadamente,oque,afinaldecontas,estavamfazendo?
Por algummeio ou outro, simples força de determinação,oupersuasãoengenhosa,EdwardtinhasidoinstrumentalnofatodeofereceremaVitóriaumempregomagramentepagonoRamodeOliveira.Amaiorpartedo tempoelapassavanumquartinhoescuro, com a luz elétrica acesa, batendo numa máquinaescangalhadadiversasnotícias,cartasemanifestosdoprogramadeleiteeáguadasatividadesdoRamodeOliveira.EdwardtinhatidoumpalpitedequehaviaalgoerradocomoRamodeOliveira.O Sr. Dakin parecia concordar com esse ponto de vista. Ela,Vitória, estava ali para tentar descobrir o que pudesse,mas atéondeelapodiaver,nãohavianadaadescobrir!AsatividadesdoRamodeOliveiraestavampingandodomeldapazinternacional.Diversasreuniõesforamorganizadascomlaranjadaparabebere
petiscosdeprimentesparaacompanhá-laenelasVitóriadeviaagircomo quase anfitrioa; para misturar-se, apresentar, parapromover uma boa vontade geral entre nacionais de diversospovos estranhos, que estavam inclinados a olharem comanimosidade uns para os outros e devorarem avidamente osrefrescos.
Até onde Vitória era capaz de ver não havia correntessubterrâneas, conspirações, nem rodas internas. Tudo estava àvista,clarocomoáguae leite,edesesperadamentechato.Váriosjovens de epiderme escura tentaram namorá-la, outros lheemprestavam livros para ler, que ela folheava e achavaenfadonhos. Nesta altura tinha abandonado o Hotel Tio einstaladoseuquartelcomoutras jovens trabalhadorasdeváriasnacionalidades numa casa da margem ocidental do rio. Entreessasjovensachava-seCatarinaepareciaaVitóriaqueCatarinaaobservavacomolharessuspeitos,masseissoeraporqueCatarinaasuspeitavaserumaespiãdasatividadesdoRamodeOliveira,ou se era pelo assunto mais delicado das afeições de Edward,Vitórianãoeracapazdedecidir.Antes imaginavaoúltimo.Erasabido que Edward tinha conseguido o emprego de Vitória ediversos pares de olhos invejosos olhavam para ela sem afeiçãoindevida.
O fatoera,pensavaVitóriasotumamente,queEdwarderaatraentedemais.Todasessaspequenastinhamcaídoporeleeasmaneiras amáveis e cativantes para com um e com todos nadafaziam para ajudar. Vitória e Edward não deviam mostrarnenhum sinal de intimidade especial. Se quisessem descobriralguma coisa digna de ser descoberta, não podiam estar sobsuspeitadeestaremtrabalhandojuntos.AsmaneirasdeEdwardparacomela eramasmesmasqueparacomqualquerumadasoutrasjovens,comumanuanceadicionaldefrieza.
Embora oRamodeOliveiramesmoparecesse tão inócuo.Vitóriatinhaasensaçãodistintadequeseuchefeefundadorseencontravanumacategoriadiferente.Umaouduas vezes ela seapercebeu do olhar escuro e pensativo do Dr. Rathbone caídosobre ela, e embora lhe correspondesse com a expressão maisinocente e de gatinha, ela sentiu a garra súbita de algo comomedo.
Umavez,quandotinhasidochamadaàsuapresença(para
explicaçãodeumerrodemáquina),ocasofoialémdeumolhar.Você está contente em trabalhar conosco, espero eu?
perguntouele.-Oh,sim,senhor,realmente-disseVitóriaeacrescentou:-
Sintocometertantoserros.-Nãonosimportamoscomerros.Umamáquinasemalma
nãoseriadeusoparanós.Precisamosdejuventude,generosidadedeespírito,larguezadeperspectiva.
Vitóriaconseguiupareceransiosaegenerosa.-Vocêtemqueamarotrabalho..amaroobjetivopeloqual
está trabalhando... olhar para a frente, para o futuro glorioso.Estárealmentesentindotudoisso,minhacriança?
-Étudotãonovoparamim-disseVitória.-Narealidadenãopensoquejátenhaabsorvidotudoainda.
- Juntem-se, juntem-se... os jovens em todo lugar devemjuntar-se.Issoéoprincipal.Vocêsgostamdassuasnoitesdelivrediscussãoecamaradagem?
-Oh,sim-disseVitória,queasabominava.- Concordância, não dissensão... irmandade, não ódio.
Lentamenteeseguramenteestácrescendo...vocêsenteisso,nãoé?
Vitória pensou nas intermináveis ciumeirazinhas, asantipatias violentas, as querelas intermináveis, os sentimentosferidos,desculpasexigidas;edificilmentesabiaoqueseesperavaqueeladissesse.
-Algumasvezes-disseelacautelosamente-aspessoassãodifíceis.
- Eu sei... eu sei... - o Dr. Rathbone suspirou. Sua testanobre e abaulada se franziu emperplexidade. - *É verdade queMichaelRakounianbateuemIsaacNahoumearrebentouolábiodele?
- Eles estavam apenas tendo uma ligeira discussão disseVitória.
ODr.Rathbonemeditousoturnamente.- Paciência e fé - murmurou ele. - Paciência e fé. Vitória
murmurou um assentimento perfunctório e voltou-se para sair.Em seguida, lembrando que tinha deixado seu trabalho demáquina, voltou. A mirada que vislumbrou nos olhos do Dr.Rathbone a espantou um pouco. Era um olhar claramente
suspeitosoeelaficoucismandodesassossegadaexatamentequãode perto estava sendo observada e o que o Dr. Rathbonerealmentepensavaaseurespeito.
AsinstruçõesdoSr.Dakinerammuitoprecisas.Tinhaqueobedecercertasregrasparasecomunicarcomele,setivessealgoa relatar. Ele lhe tinha dado um velho lenço cor-de-rosadesbotado. Se tivesse algo a relatar, ela devia andar, comofrequentemente faziaquandoosolseestavapondo,ao longodamargemdo rio,pertodo seuhotel.Haviaumavereda estreitaàfrentedascasasaliporcercadequinhentosmetros.Num lugarum lance de escadas levava à beira d'água e barcos estavamconstantemente amarrados ali. Havia um prego enferrujado noalto de um dos postes de madeira, onde ela devia prender umpedacinho do lenço cor-de-rosa se ela quisesse entrar emcomunicaçãocomDakin.Atéagora,refletiaVitóriaamargamente,não tinha havido necessidade para nada disso. Ela estavasimplesmente fazendo um trabalho mal pago de maneirarelaxada.Edward ela via em raros intervalos, já que ele sempreestavasendomandadoparalugaresafastadospeloDr.Rathbone.Nomomento tinha acabado de voltar da Pérsia. Durante a suaausência, ela tinha tido uma entrevista curta e um tantoinsatisfatóriacomDakin.SuasinstruçõestinhamsidoiraoHotelTioeperguntarsetinhaesquecidoumsuéter.Arespostasendonegativa,Marcus apareceu e imediatamente a arrebatou para abeira do rio para um trago. Nesse momento, Dakin tinhaaparecidodaruae,cumprimentadoporMarcus,queochamarapara lhes fazer companhia, e, dentrodepouco enquantoDakinsorvia limonada,Marcus tinha sido chamado e os dois tinhamficadosentadosemladosopostosdapequenamesinharedonda.
Bem apreensivamente Vitória confessou sua extrema faltadesucesso,masDakinfoiindulgentementeacalmador.
-Minhaqueridacriança,vocênemmesmosabeoqueestáprocurando ou mesmo se existe algo para encontrar. De modogeral,qualéasuaopiniãopensadasobreoRamodeOliveira?
-Éumespetáculo completamente apagado - disseVitórialentamente.
-Apagadosim.Masnãofictício?-Nãosei-disseVitórialentamente.-,Aspessoasestãotão
entreguesàideiadecultura,sevocêsabeoquequerodizer.
-Vocêquerdizerque,quandoháqualquercoisadeculturaenvolvida, ninguém examina banalidades da maneira como ofariam se fosse uma proposição caritativa ou financeira? Isso everdade.E você encontrará entusiastas genuínos ali, não tenhodúvida.Masaorganizaçãoestásendousada?
- Acho que há um monte de atividade comunista serealizando - disse Vitória duvidosa. - Edward também pensaassim... ele está me fazendo ler Karl Marx e deixá-lo à vista,apenasparaverquaisserãoasreações.
Dakininclinouacabeça.-Interessante.Algumareaçãoporenquanto?-Não.Aindanão.-EcomrespeitoaRathbone?Eleégenuíno?- Eu penso realmente que ele é... - Vitória parecia em
dúvida.-Eleéquemmepreocupa,sabe-disseDakin.Porque ele é importante. Suponha que maquinações
comunistas estejam sendo realizadas... estudantes e jovensrevolucionáriostêmmuitopoucachancedeentrarememcontatocom o Presidente. Medidas policiais tomarão conta de bombasatiradas da rua.MasRathbone é diferente. Ele é umdos lá decima, um homem distinguido com uma linda ficha debeneficência pública.Ele poderia entrar em íntimo contato comos visitantes distinguidos. Provavelmente irá. Eu gostaria desaberarespeitodeRathbone.
Sim,pensavaVitóriaparasimesma,tudorevolviaemtornode Rathbone. Naquele primeiro encontro em Londres, semanasatrás, os comentários vagos de Edward sobre a "esquisitice" doespetáculotinhatidoasuaorigemnoseuempregador.Edeveterhavido, decidiu Vitória subitamente, algum incidente, algumapalavra, que tinha despertado o desassossego de Edward. Poisassim, no pensar de Vitória, era como funcionavam asmentes.Suadúvidavagaoudesconfiançanuncaerasomenteumpalpite-na realidade era sempre devido a uma causa. Se pudesse fazerEdward agora pensar para trás, a recordar, entre os doispoderiamacertarcomofatoouincidentequetinhadespertadoassuas suspeitas. Da mesma forma, pensou Vitória, ela mesmatinhaquepensarpara trásoque tinhasidoqueasurpreendeuassimquando chegouao terraçodoTio e encontrouSirRupert
CroftonLeesentadoaosol.Eraverdadequetinhaesperadoestarele na Embaixada e não no Hotel Tio, mas isso não era osuficiente para justificar o sentimento forte que tinha tido ali equeofatodeeleestarsentadoalieracompletamenteimpossível!ElairiarepassarerepassarosacontecimentosdaquelamanhãeEdwardtinhaqueserinduzidoarepassarasuaassociaçãomaisantiga com o Dr. Rathbone. Ela lhe diria isso quando oencontrassesóapróximavez.MasencontrarEdwardsozinhonãoera fácil.Paracomeçar,ele tinhaestado fora,naPérsia,eagoraque estava de volta, comunicações particulares no Ramo deOliveiraestavamforadequestão,ondeoslogandaúltimaguerra(Les oreilles ennemis nous écoutent) poderia estar escrito emtodas as paredes. Na casa armênia onde estava hospedada,intimidadeeraigualmenteimpossível.Realmente,pensouVitóriacom seus botões,* por tudo que vejo de Edward, eu poderiatambémterficadonaInglaterra.
Queissonãoerabemverdade,ficouprovadologodepois.Edward veio a ela com algumas folhas de manuscrito e
disse:-ODr.Rathbone gostaria de que isso fosse datilografado
imediatamente, por favor, Vitória. Tome cuidado especial com asegundapágina,háalgunsnomesárabesintricadosnela.
Vitória,comumsuspiro,enfiouumafolhadepapelemsuamaquina e começou em seu estilo costumeiro apressado. AcaligrafiadoDr.Rathbonenãoeraparticularmentedifícildeserlida e Vitória estava justamente se congratulando por tercometido menos erros que de costume. Ela colocou a folha decima de lado e prosseguiu para a próxima - e imediatamentecompreendeuosignificadodoavisodeEdwarddesercuidadosacom a segunda página. Uma nota diminuta, com a letra deEdward,estavapregadanoaltodela.
VáparaumpasseioaolongodamargemdoTigre,alémdoBeitMelekAli,amanhãdemanhã,pelasonze.
O dia seguinte era sexta-feira, o feriado semanal. Adisposição de Vitória elevou-se mercurialmente. Ela estariavestindo seu pulôver verde-jade. Na realidade poderia ter seucabelolavado.Asamenidadesdacasaondeviviatornavamdifícillavá-loelamesma.-Erealmenteestáprecisando-murmurouelaemvozalta.
-Quefoiquevocêdisse?-Catarina,trabalhandocomumapilha de circulares e envelopes, levantou sua cabeçasuspeitosamentedamesaseguinte.
Vitória rapidamente amassou a nota de Edward em suamão,aodizerlevemente:
Meu cabelo está pedindo uma lavagem. Amaioria dessascasasdecabeleireirosparecemtãoassustadoramentesujas.Nãoseiaondeir.
- Sim, são sujas e caras também. Mas eu conheço umamoçaque lava cabelomuitobemeas toalhas são limpas.Eualevareilá.
-Émuitagentilezasua,Catarina-disseVitória.-Vamosamanhã.Éferiado.-Nãoamanhã-disseVitória.Um olhar suspeitoso foi lançado em sua direção. Vitória
sentiu aumentar seu desgosto e antipatia costumeiros porCatarina.
-Prefiroirdarumpasseio..apanharalgumar.Fica-setãofechadaaquidentro.
-Ondeéquevocêpodeandar?NãohálugarparaseandaremBagdá.
-Euachareialgum-insistiuVitória.-Seriamelhor ir ao cinema.Ouentãoaumaconferência
interessante.-Não,euquerosair.NaInglaterragostamosdedarpasseios
apé.- Só porque é inglesa você é tão orgulhosa e tão
empertigada.Oquequerdizerseringlesa?Quasenada.Aquinóscuspimosnosingleses.
- Se você começar a cuspir em mim, poderá ter umasurpresa -disseVitória, espantando-se comode costumecomafacilidadecomquepaixõesaborrecidaspareciamsurgirnoRamodeOliveira.
-Queéquevocêfaria?-Experimenteeveja.-PorqueéquevocêlêKarlMarx?Vocênãopodeentendê-
lo. É muito burra demais. Pensa que alguma vez a aceitariamcomo membro do Partido Comunista? Você não tem bastante
educaçãopolítica.- Por que não deveria eu lê-lo? Foi feito para gente como
eu...trabalhadores.-Vocênãoetrabalhadora.Vocêéburguesa.Nãosabenem
escreverdecentementeamáquina.Olheoserrosquevocêcomete.- Algumas das pessoas mais inteligentes não sabem
soletrar-disseVitóriacomdignidade.-Ecomopossoeutrabalharquandovocêcontínuafalandocomigo?
Matraqueou uma linha em velocidade suicida - e emseguida ficou um tanto penalizada de constatar que, comoresultadodeterpremidosemquereraalavancadasmaiúsculas,elatinhaescritoumalinhadepontosdeexclamação,númeroseparêntesis. Tirando a folha da máquina, dedicou-sediligentementeatésuatarefaestarterminadaelevouoresultadoaoDr.Rathbone.
Passandoosolhosporsobreafolhaelemurmurou:Então,quandoelaestavadeixandoasala,chamou-ade-ShirabénoIrã,nãoIraque...edequalquerformanãose
escreveTraquecomumk...obrigado,Vitória.-Volta.Wasit..Wuzie...er...- Vitória, você é feliz aqui? -Oh, sim, Sr. Rathbone. - os
olhos escuros por sobre as sobrancelhas espessas eramperscrutadores.Elasentiuumdesassossegoaproximando-se.
-Temoquenãoestejamoslhepagandomuito.- Isso não tem importância - disse Vitória. Gosto do
trabalho.-Realmente?-Oh,sim-disseVitória.-Sente-se-acrescentouela-que
estetipodecoisarealmentevaleapena.Seuolharlímpidoencontrouosolhosperscrutadoresenão
tremeu.Evocêconsegueviver?Oh, sim... encontrei um lugar barato bastante bom... na
casadeunsarmênios.Estoubastantebem.-Há falta agora de estenodatilógrafas emBagdá - disse o
Dr.Rathbone.-Eupenso,sabe,queeupoderiaconseguir-lheumempregomelhordoqueoquetemaqui.
-Maseunãoqueroqualqueroutrolugar.
-Poderáserdebomavisoaceitarum.-Bomaviso?-Vitóriafraquejouumpouco.-Foioquedisse.Apenasumapalavradeadvertência...um
conselho.Haviaalgoligeiramenteameaçadoremsuavoz.Vitóriaarregalouosolhosmaisainda.-Eurealmentenãocompreendo,Dr.Rathbone.-àsvezesé
melhornãosemetercomcoisasquenãosecompreendem.Ela se sentiu bem certa da ameaça desta vez. mas
conseguiucontinuaraolharcomumainocênciadegatinha.-Porquevocêveioparatrabalharaqui,Vitória?Porcausa
deEdward?Vitóriacorouaborrecida.- Naturalmente não - disse ela indignadamente. Estava
muitoaborrecida.ODr.Rathboneacenoucomacabeça.-Edwardtemsuacarreiraparaseguir.Passar-se-ãomuitos
anosantesqueestejaemposiçãodeserútil,avocê.EudesistiriadepensaremEdwardseeufossevocê.E,comoeudisse,hábonsempregosaseremconseguidosnopresente,combonssalárioseperspectivas...equealevarãoparaodesuaprópriagente.
Ele ainda estava observando-a, pensou Vitória, bem deperto. Isso seria um teste? Ela disse com uma afetação deansiedade.
Mas eu realmente gosto muito do Ramo de Oliveira, Dr.Rathbone.
Ele então encolheu os ombros e ela o deixou, mas pôdesentirseusolhosnocentrodasuaespinhaquandosaiudasala.
Ficouumtantoperturbadapelaentrevista.Aconteceraalgopara levantar suspeitasnele?Teria adivinhadoque ela eraumaespiã colocada no Ramo de Oliveira para descobrir os seussegredos? Sua voz e suas maneiras a tinham feito sentir-sedesagradavelmentetemerosa.SuasugestãodequetinhaidoparaláparaficarpertodeEdwardatinhafeitoficarzangadanahoraeelavigorosamenteatinhanegado,masagoraelapercebeuqueerainfinitamentemaisseguroqueoDr.RathbonefossesuporqueelatinhaidoparaoRamodeOliveiraporcausadeEdward,doquetermesmoqualquerpalpite,dequeoSr.Dakintinhaalgoquevercomessahistória.Dequalquerforma,devidoaoseucoraridiota,
Raffione provavelmente estava pensando que tinha sido porEdward-demodoquetudonarealidadetinhasaídodamelhorforma.
Não obstante foi dormir essa noite com uma garradesagradáveldemedoemseucoração.
XIVFoi muito simples para Vitória na manhã seguinte sair
sozinha com poucas explicações. Ela havia perguntado sobre oBeit Melek Ali e tinha aprendido que era uma grande casaconstruída bem sobre o rio, um pouco para baixo, namargemoeste.
Até então Vitória tinha tido muito pouco tempo paraexplorar os seus arredores e ela ficou agradavelmente surpresaquandochegouao fimda rua estreita e encontrou-se realmentenamargemdorio.Dobrouparaadireitaeseguiulentamenteaolongodamargemdaencostaalta.Emalgunspontosoavançoeraprecário - a encosta tinha sido desgastada e nem sempre tinhasidoconsertadaoureconstruída.Umacasatinhadegrausàsuafrente, os quais, se descesse um a mais numa noite escura, afariamparardentrodorio.Vitóriaolhavaparaaáguaembaixoetateouseucaminhoemvolta.Então,porumtrecho,ocaminhoeralargoepavimentado.Ascasasdoseuladodireitotinhamumaragradáveldeintimidade.Nãoofereciamnenhumapistaquantoaosseusocupantes.Ocasionalmenteaportacentralestavaabertae,olhandoparadentro,Vitóriaficavafascinadapeloscontrastes.Numa destas ocasiões olhou para um pátio com uma fonteesguichandoeassentosalmofadadosecadeirasdeconvésemsuavolta com palmeiras altas crescendo e um jardim por trás quepareciaopanodefundodeumpalco.Acasaseguinte,damesmaaparência externa, abriu-se sobre uma mixórdia de confusão epassagens escuras, com cinco ou seis crianças sujas brincandoemtrapos.Emseguidachegouajardinsdepalmeirasearvoredosespessos. à sua esquerda tinha passado por degraus desiguaislevando para baixo, para o rio e um barqueiro árabe, sentadonum remo primitivo, gesticulava e chamava, perguntando“aparentemente se queria ser levada para o outro lado”. Agora,maisoumenos, julgavaVitória,eladeveriaestarexatamenteemfrenteaoHotelTio, embora fossedifícil distinguirdiferençasnaarquitetura vista deste lado e os edifícios de hotel se pareciammais oumenos. Agora ela chegava auma estrada levando parabaixoporentreaspalmeiraseemseguidaparaduascasasaltas
com varanda. Atrás havia uma casa grande, construídadiretamenteparafora,sobreorio,comumjardimebalaustrada.O passeio namargem passava por dentro do que deveria ser o*BeitMelekAli,ouaCasadoReiAli.
Emmais alguns minutos Vitória tinha passado pela suaentrada e chegado a uma parte mais esquálida; o rio estavaescondidodelaporplantaçõesdepalmeirascercadascomaramefarpado enferrujado. Do lado direito estavam casas em ruínasdentro de muros toscos de adobe e pequenas cabanas comcrianças brincando na sujeira e nuvens demoscas penduradassobremontes de lixo. -Uma estrada levava embora do rio e umcarroestavaestacionadoali-umcarroumtantogastoearcaico.AoladodocarroEdwardestavaempé.-ótimo-disseEdward.-Vocêchegou.Entre.
-Aondevamos?-perguntouVitóriaentrandonoautomóvelcastigado,comprazer.Omotoristaquepareciaserumatrouxadetraposanimada,voltou-seesorriualegrementeparaela.
-Vamospara aBabilônia - disseEdward. - Já era tempoquetivéssemosumdiadeexcursão.
O carro partiu com um arranco terrífico e pulavaloucamenteporcimadasrudespedrasdapavimentação.
-ABabilônia?-gritouVitória.-Queadorávelquesoaisso.RealmenteparaaBabilônia.
Ocarrovirouparaaesquerdaeelesestavamrodandosobreumaestradabempavimentada,delarguraimpressionante.
-Sim,masnãoesperedemais.Babilônia... sevocêsabeoquequerodizer...nãoémaisbemoqueera.
Vitóriazumbia:-Howmanymile toBabylon?Threescoreand ten:Can I
gettherebycandlelight?Yes,andbackagain.- Eu costumava cantar isso quando era uma criança
pequena.Sempreme fascinou.E agora estamos realmente indoparalá!
-Evamosvoltaràluzdasvelas.Oudevíamos.Narealidade,nuncasesabenestaterra.
-Ocarroparecemuitocomosefossequebrar.-Provavelmente irá.Écertoqueestátudoerradocomele.
Mas esses iraquianos são terrivelmente bons em amarrarem-nocombarbanteedizendoInshallahedepoiseleandanovamente.
-ÉsempreInshallah,nãoé?- Sim. Nada como empurrando a responsabilidade para
cimadoTodo-Poderoso.-Aestradanãoémuitoboa,é?-arquejouVitória,pulando
emseuassento.Aestradadecepcionamentebempavimentadaelarga não tinha correspondido à sua promessa. A estrada eraaindalarga,masagoraenrugadaporsulcos.
Elaficapiormaistarde-gritouEdward.Elespulavamebatiamalegremente.Apoeiraerguia-seem
nuvens ao redor deles. Grandes caminhões cheios de árabesrompiam pelo meio da pista e estavam surdos a todas asintimaçõesdabuzina.
Passavam por jardins murados e grupos de mulheres ecrianças e burricos e para Vitória era tudo novo e parte doencantamentodeestarindoparaaBabilôniacomEdwardaseulado.
ChegaramàBabilônia,machucadosesacudidosnumparde horas. A pilha insignificante de lama arruinada e tijoloqueimado era um tanto de desapontamento para Vitória queestava esperando por algo no gênero de colunas e arcos,parecendocomosretratosqueelatinhavistode*Baalbek.
Mas aos poucos seu desapontamento cedeu, quandoestavam engatinhando por sobre montes e montinhos e tijoloqueimado, levados pelo guia. Ela escutava apenas com meioouvido as suas explicações profusas,mas quando seguiam peloCaminho Processional para a Porta de Ishtar, com os fracosrelevosdeanimaisinacreditáveisnoaltodasparedes,umasúbitasensaçãodagrandiosidadedopassadoapossou-sedelaetambémum desejo de saber alguma coisa sobre essa cidade vasta eorgulhosa que agora ali estava morta e abandonada. Logo emseguida, cumprindo seu dever para com a antiguidade, eles sesentarampertodoLeãodaBabilôniaparacomeremo lanchedepiqueniquequeEdwardtinhatrazido.Oguiaafastou-sesorrindoindulgentementee lhesdizia firmementequemaistardetinhamqueveromuseu.
- Temos? - perguntou Vitória sonhadora. - Coisas todasrotuladas e metidas em caixas, de alguma forma não parecemnemumpoucoreal.FuiumavezaoMuseuBritânico.Foihorríveleterrivelmentecansativoparaospés.
-Opassadoésempretedioso-disseEdward.-o futuroémuitomaisimportante.
-Issonãoétedioso-disseVitória,agitandoumsanduíchepara o panorama de tijolos caídos. - Há uma sensação degrandezaaí.Oqueéapoesia:
WhenyouwereaKing inBabylonAnd IwasaChristianSlave?(QuandovocêeraumReinaBabilôniaeeuumaescravacristã?)
-Talveznósfomos.Vocêeeuquerodizer.-EunãoachoquehaviareisnaBabilôniaaotempoemque
haviacristãos -disseEdward. -CreioqueaBabilôniaparoudefuncionaralgumtempoentrequinhentosouseiscentosanosA.C.Um ou outro arqueólogo sempre aparece para fazer conferênciasobreestascoisas;maseununcachegoa lembrarqualquerdasdatas...querodizernãoatéasprópriasgregaseromanas.
-VocêgostariadetersidoumReinaBabilônia,Edward?Edwardrespiroufundamente.Simteriagostado.Então digamos que- você foi. Você agora está numanova
encarnação.- Naqueles tempos eles sabiam ser Reis! - disse Edward.
Issoéporquepodiamdominaromundoedar-lheforma.- Eu não sei se teria gostado muito de ser escrava disse
Vitóriameditando-cristãoudeoutrotipo.-Miltonestavabemcerto -disseEdward. -Melhor reinar
no Inferno do que servir no Céu. Sempre admirei o Satã deMilton.
- Eu nunca cheguei até Milton - disse Vitória como quepedindo desculpas. - Mas fui assistir a Comus nas Fontes deSadierefoiadorávelquandoMargotFonteyndançoucomoumaespéciedeanjodeaçúcar.
- Se você fosse uma escrava, Vitória - disse Edward eu alibertaria e a levaria para omeu harém... ali - acrescentou ele,gesticulandovagamenteparaomontedeentulho.
UmbrilhoveioparaoolhareVitória.-Falandodeharéns...-começouela.- Como é que você está se dando com Catarina? -
perguntouEdwardapressado.- Como é que você sabia que eu estava pensando em
Catarina?-Bem,vocêestava,nãoé?Honestamente,Vicky,euquero
quevocêfiqueamigadeCatarina.-NãomechamedeVicky.-Muitobem,CharingCross.Queroquevocê- fiqueamiga
deCatarina.-Comosãofátuososhomens!Semprequerendoquesuas
amigasgostemumasdasoutras.Edward se sentou energicamente. Ele tinha estado
reclinadocomasmãosatrásdacabeça.-Vocêentendeu tudoerrado,CharingCross.Dequalquer
formaassuasreferênciasaharénssãosimplesmentebobas.- Não, não são. A maneira como todas essas pequenas
olhamintensamenteparavocêeanelamporvocêmedeixalouca.- Esplêndido - disse Edward. - Gosto de você louca.Mas
paravoltaraCatarina,Arazãopelaqualeuqueroquevocêsejaamiga de Catarina é que estou bastante seguro de que ela é amelhormaneiradeabordagemparatodasascoisasquequeremosdescobrir.Elasabe,algumacoisa.
-Vocêrealmentepensaassim?-Lembra.doquevocêaescutoufalarsobreAnaScheele.-Eutinhaesquecido.- Como é que você está indo com Karl Marx? Algum
resultado?- Ninguém avançou paramim para convidar-me a aderir.
Na realidade Catarina me disse ontem que o Partido não meaceitariaporquenãosoupoliticamentebastante instruída.Eterquelertodoaquelenegóciopaulificante...honestamente,Edward,eunãotenhocabeçaparaisso.
-Vocênãoépoliticamenteconsciente,nãoé?-Edwardriu.-PobreCharingCross.Bem,bem,Catarinapodeestarcheiademiolos e intensidade e consciênciapolítica,masminha fantasiaaindaéumapequenadatilógrafacockneyquenãosabesoletrarqualquerpalavradetrêssílabas.
Vitóriafranziuatestasubitamente.AspalavrasdeEdwardtinhamrecordadoàsuamenteacuriosaentrevistaqueelatinhatidocomoDr.Rathbone.ContouaEdwardsobreela.Elepareciamuitomaisperturbadodoqueelateriaesperadoqueficasse.
- Isso é sério, Vitória, realmente sério. Tente conter-me
exatamenteoqueeledisse.Vitóriafezomelhorquepodiaparalembraraspalavrasque
Rathbonetinhaempregado.-Masnãovejo-disseela-porqueissooperturbaassim.- Eh? - Edward parecia distraído. - Você não vê... mas
minhaqueridamenina, vocênãovêque issomostraquesabemtudo sobre você? Estão Prevenindo-a. Eu não gosto disso,Vitória...nãogostodissonemumpouco.
Elefezumapausaeemseguidadissegravemente:-Comunistas,vocêsabe,sãomuitoimpiedosos.Épartedo
credodelesnãorecuardiantedenada.EunãoquerovocêbatidanacabeçaejogadanoTigre,querida.
Queestranho,pensouVitória,estarsentadaentreasruínasda Babilônia debatendo as chances que havia num futuropróximodelevarumapancadanacabeçaeserjogadanoTigre
Semicerrandoseusolhos,pensousonolenta:Vou acordar brevemente e achar que estou em Londres
sonhando um sonho maravilhoso e melodramático sobre aperigosa Babilônia. Talvez - pensou ela - que eu esteja emLondres... o despertador vai tocar logo, logo e eu terei quelevantar e ir para o escritório do Sr.Greenholtz - e nãohaveránenhumEdward.
E a este último pensamento ela abriu os olhos de novoapressadamente para assegurar-se de que Edward na realidadeestavaalide verdade (eque foi que euqueria lheperguntar emBasrahenosinterromperameeuesqueci)enãoeraumsonho.Osol estava queimando para baixo e ofuscando de umamaneiracompletamente não londrina e as ruínas da Babilônia erampálidas e brilhantes com um fundo de palmeiras escuras esentado com suas costas um pouco em sua direção estavaEdward.Comocresciaseucabeloextraordinariamentebemparabaixo, com um ligeiro redemoinho para seu pescoço -e quepescoçobonito -bronzeado,umvermelhoamarronzadodosol -sem máculas sobre ele - tantos homens tinham pescoços comquistosouperebasondeocolarinhotinhaesfregado-umpescoçocomo o de Sir Rupert por exemplo, com um furúnculo apenascomeçando...
SubitamentecomumaexclamaçãoabafadaVitóriasentou-se como uma estaca e seus sonhos acordados eram coisa do
passado.Estavaselvagementeexcitada.Edwardvoltouumacabeçaindagadora.-Queéquehá,CharingCross?- Acabei de lembrar - disse Vitória - sobre Sir Rupert
CroftonLee...Como Edward ainda a favorecia com um olhar vazio,
inquiridor,Vitória começoua elucidar seu significadoque,paradizeraverdade,elanãofezmuitoclaramente.
-Foiumfurúnculo-disseela-nopescoçodele.-Umfurúnculonopescoço?-Edwardestavaintrigado.-Sim,noavião.Eleestavasentadonaminhafrente,sabe,e
ocapuzqueeleestavausandocaiueeuovi...ofurúnculo.- Por que não deveria ele ter furúnculos? Dolorido, mas
muitaspessoasostêm.-Sim,naturalmentequeostêm.Masocasoéquenaquela
manhãnavarandaelenãotinha.-Nãotinhaoquê?- Não tinha um furúnculo. Oh, Edward, trate de
compreender isso.Noaviãoeletinhaumfurúnculoenoterraçodo
HotelTioelenãotinhaumfurúnculo.Seupescoçoestavabemlisoesemsinal...comooseuagora.
-Bem,suponhoquetivesseidoembora.- Oh, não, Edward, não podia. Era apenas um dia mais
tardeeeleestavaapenasacabandodeaparecer.Nãopoderiaterido embora não completamente sem deixar sinal. O homem noTionãoeraSirRupertdetodo.
Elasacudiuacabeçacomveemência.Edwardolhou-a.- Você estámaluca, Vitória. Tem que ter sido Sir Rupert.
Vocênãoviuqualqueroutradiferençanele.-Mas, você não vê Edward, eu nunca na realidade tinha
olhado direito para ele... somente o seu... bem você poderáchamá-lo de efeito geral. O chapéu... e a capa... e a atitude defanfarrão.Eleseriaumhomemfácildepersonificar.
-MaselesteriamsabidonaEmbaixada...-ElenãosehospedounaEmbaixada,nãofoi?Eleveiopara
o Tio. Foi um dos secretários menores ou auxiliares que oencontraram. O Embaixador está na Inglaterra. Além disso eleviajouetemestadolongedaInglaterraportantotempo.
-Masporquê...- Por causa de Carmichael, naturalmente. Carmichael
estavavindoparaBagdáparaencontrá-lo...paracontar-lheoquetinha descoberto. Apenas nunca se tinham encontrado antes.AssimCarmichaelnãosaberiaqueelenãoeraohomemcerto...enãoestariaemguarda.Naturalmente,foiRupertCroftonLee.Eraumadascomissáriasouaeromoças,oucomoissotudoseajusta.
-Nãoacreditoumapalavradisso.Émaluco.Não esqueçaqueSirRupertfoimortodepoisnoCairo.
-Foiondetudoaconteceu.Euseiagora.Oh,Edward,quehorrível.Euoviacontecer.
- Você viu acontecer... Vitória, você está completamentemaluca?
-Nãoestoumalucanemumpouco.Apenasouça,Edward.Houve uma batida àminha porta, noHotel emHeliópolis, pelomenoseupenseiquefossenaminhaportaeolhei,masnãoera...eraumaportamaisadiante,nadeSirRupertCroftonLee.Erauma das comissárias ou aeromoças, ou como quer que aschamem.Elaperguntouseeleseimportariadeir*-simvaivêissosignificasimtemquesignificaraoescritóriodaBOAC... logoaolongodocorredor.Eusaídomeuquartologodepois.PasseiporumaportaquetinhaumavisocomBOACnelaeaportaseabriueelesaiu.Eupenseientãoqueeletinhatidoalgumanotíciaqueofaziaandardemododiferente.Vocênãovê,Edward?Eraumaarmadilha,osubstitutoestavaesperando,completamenteprontoe logo que ele entrou, eles apenas lhe deram uma pancada nacabeça e o outro saiu e desempenhou o papel. Acho que oconservaram em algum lugar no Cairo, talvez no hotel comoinválido, conservaram-no dopado e em seguida o mataramjustamentenomomentocertoquandoofalsotinhavoltadoparaoCairo.
-Éumahistóriamagnífica-admitiuEdward.-Massabe,Vitória, muito francamente, você está inventando a coisa toda.Nãohácorroboraçãodisso.
-Háofurúnculo...-Oh,aodiaboofurúnculo!-Ehátambémumaouduascoisasmais.-Oquê?-AqueleavisodaBOACnaporta.Maistardenãoestavalá.
Eu me lembro de ter ficado intrigada quando achei que oescritóriodaBOACestavadooutroladodohalldeentrada.Essaéumacoisa.Háaindaumaoutra:acomissáriadebordo,aquebateunaportadele.Euavidepois...aquiemBagdá...eoqueémais, no Ramo de Oliveira. No primeiro dia em que fui lá. ElaentrouefaloucomCatarina.Penseientãoqueatinhavistoantes.
Depoisdeummomentodesilêncio,Vitóriafalou:- Então, você tem que admitir, Edward, que não é tudo
imaginaçãominha.É:Edwarddisselentamente:- Tudo volta ao Ramo de Oliveira... e a Catarina. Vitória,
todas as picuinhas de lado, você temque chegarmais perto deCatarina.Adule-a,engraxe-a,conversecomelaideiasdecomuna.De alguma forma ou de outra fique bastante íntima dela parasaberquemsãoosamigosdelaeondeelavaiecomquemelaestáemcontatoforadoRamodeOliveira.
-Nãoseráfácil-disseVitória-masvoutentar.EarespeitodoSr.Dakin?Devocontar-lhesobreisso?
-Sim,éclaro.Masespereumoudoisdias.Poderemostermais emquenosbasearmos -Edward suspirou. -Euvou levarCatarinaparaLeSelectparaescutaroCabaréumanoite.
E desta vez Vitória não sentiu a pancada do ciúme. -Edward tinha falado com ferrenha determinação que eliminavaqualquer antecipação de prazer na comissão que tinhaempreendido".
RegozijadapelassuasdescobertasVitórianãoachoudifícilcumprimentar Catarina no dia seguinte com uma efusão degentilezas. Era tão gentil da parte de Catarina, disse, ter-lhefalado de um lugar para ter seu cabelo lavado. Precisava serlavado com terrível urgência. (Isso era inegável; Vitória tinhavoltadodaBabilôniacomseuscabelosescurosdacordeferrugemvermelhadaareiaentranhada).
-Estácomaspectoterrível,sim-disseCatarina,olhando-ocomsatisfaçãomaliciosa. -Você então saiunaquela tempestadedepoeiraontemàtarde?
-AlugueiumcarroefuiveraBabilônia-disseVitória.-Foimuito interessante, mas no caminho de volta a tempestade depoeiracomeçoueeuquasequesufoqueiefiqueicega.
- É interessante, Babilônia. - disse Catarina - mas você
devia ir com alguém que entenda dela e lhe pode contaradequadamentearespeito.Quantoaoseucabelo,voulevá-laparaessamoçaarmêniahojeànoite.Elavailheaplicarumxampudecreme.Émelhor.
- Não sei como você consegue conservar seu cabelo comaspecto tão maravilhoso - disse Vitória, olhando com o quepareciamolhosdeadmiraçãoaspesadasmontagensdeCatarina,quepareciamcachosdelinguiçaengordurados.
UmsorrisoapareceunorostodeCatarinageralmenteazedoe Vitória pensou como Edward tinha estado certo acerca deadulação.
Quando saíramdoRamodeOliveiranestanoite, asduasmoçasestavamnasmelhoresrelações.Catarinaentravaesaíadepassagens estreitas e áleas e finalmente bateu numa portaintromissora que não dava sinal de quaisquer operações decabeleireiro sendo realizadas do outro lado dela. Foram, porém,recebidasporumamoçasimples,masdeaspectocompetente,quefalavaum inglês lento cuidadoso, e que levouVitória paraumabaciaimaculadamentelimpa,comtorneirasbrilhantesediversasgarrafaseloçõesarrumadasàsuavolta.CatarinapartiueVitóriaentregou seu cacho de cabelos às mãos peritas da Srta.*Ankoumian.Embreveseucabeloestavaumapastadeespumacremosa.
-Eagora,porfavor...Vitória inclinou-separaa frente,paraabacia.Águarolou
sobreseuscabelosegargarejouparabaixopeloralo.Subitamente seu nariz foi assaltado por um cheiro doce,
bastante doentio, que ela associava vagamente a hospitais. Umchumaçomolhado, saturado, foi aplicado firmemente sobre seunariz e sua boca. Ela lutou selvagemente, estrebuchando etorcendo-se, mas uma garra de ferro conservou o chumaço nolugar.Elacomeçouasufocar,suacabeçarodavazonzamente,umruídodeurrolheveioaosouvidos.
Edepoisdisso,escuridão,fundaeprofunda.QuandoVitóriarecobrouossentidos,foicomumasensação
de imensa passagemdo tempo.Memórias confusas se agitavamnela -socosnumcarro - tagarelaraltoebrigaemárabe - luzesquerelampejavamemseusolhos-umhorrívelataquedenáusea-então vagamente se lembravade estar deitadanuma cama e de
alguémlevantarseubraço-afisgadaagudaeagonizantedeumaagulha-depoismaissonhosconfusoseescuridãoeportrásdissoumsensomontantedeurgência...
Agora,finalmente,demaneiraligeira,elaeraelamesma-VitóriaJones...EalgotinhaacontecidoaVitóriaJones-
hámuito tempo-meses talvezanos...no finaldecontas, talvezapenasdias.
Babilônia - sol brilhante poeira - cabelo - Catarina -Catarina, naturalmente, sorrindo, seus olhos ardilosos sob oscachosdelinguiça-Catarinaatinhalevadoparaumxampudecabelo e depois - que tinha acontecido? O cheiro horrível - elaaindapodiasenti-lo-nauseante-clorofórmionaturalmente.Elesatinhamcloroformizadoelevado-paraonde?
Cautelosamente Vitória tentou sentar-se. Parecia estardeitadanumacamaumacamamuitodura-suacabeçadoíaesesentia zonza ela ainda estava sonolenta, horrivelmentesonolenta...aquelafisgada,afisgadadeumaagulhahipodérmica,elesaestiveramdopando...elaaindaestavameiodopada.
Bem, de qualquer forma não a tinham morto (por quenão?).Demodoqueissoestavabem.Amelhorcoisa,pensou
Vitóriaaindameiodopada,édormir.Eprontamenteassimofez.
Quando acordou novamente, sentiu-se muito mais decabeçaclara.Eraluzdodiaagoraeelapodiavermaisclaramenteondeestava.
Estavanumquartopequenomasmuitoalto,destemperadoparaumcinzaazuladopálido.Ochãoeradeterrabatida.Aúnicamobílianoquartopareciaseracamanaqualelaestavadeitada,comumtapetesujojogadosobreelaeumamesamambembecomumabaciaesmaltadarachadasobreelaeumajarradezincoporbaixo.Haviaumajanelacomumaespéciedegradeadodemadeiraà sua frente. Vitória saltou lépida da cama sentindo-sedistintamente comdor de cabeça e esquisita e aproximou-se dajanela.Podiaverbemclaramenteporentreogradeadoeoqueviaera um jardim compalmeiras alémdele.O jardim era bastanteagradávelpelospadrõesorientais,emborapudesseseresnobadoporalgumproprietário suburbano inglês. Tinhaumaporçãodecravos-de-defunto amarelos e alguns eucaliptos empoeirados ealgunstamarindosextremamentedelgados.
Umacriançapequenacomumrostotatuadoemazuleumaporçãodecachinhosestavapisoteandoemvoltacomumabolaecantandonumlamentonasalagudobastanteparecidocomgaitasdefolesdistantes.
Vitóriaemseguidavoltousuaatençãoparaaportaqueeragrandeemaciça.Semmuitaesperançafoiatéelaeexperimentou-a.Aportaestavafechada.Vitóriavoltouesentou-senabeiradacama.
Ondeestavaela?NãoemBagdá, issoeracerto.Eque iriafazeremseguida.
Depois de um ou dois minutos ocorreu-lhe que a últimaperguntanarealidadenãoseaplicava.Oqueeramaisexatoeraoquealguémiriafazeraela?Comumasensaçãodesagradávelnoestômago lembrou-se da recomendação do Sr. Dakin de contartudo que sabia.Mas talvez que já tivessemarrancado tudo issodelaenquantoestavasoboefeitodadroga.
No entanto - Vitória voltou a este ponto com alegriadeterminada-elaaindaestavaviva.Seconseguisseficarviva,atéqueEdwardaencontrasse-quefariaEdwardquandodescobrissequeelatinhadesaparecido?SeráqueeleprocurariaoSr.Dakin?Jogaria uma mão solitária? Colocaria o temor de Deus emCatarina e forçá-la a contar? - Será que de todo suspeitaria deCatarina? Quanto mais Vitória procurava conjurar um retratoreassegurador de Edward em ação, a imagem dele esmaecia etornava-seumaespéciedeabstraçãosemrosto.Quãointeligenteera Edward? Isso era realmente do que se tratava. Edward eraadorável. Edward tinha encanto. Mas será que Edward tinhamiolos?Porque,claramente,emsuapresenteembrulhada,miolosseriamnecessários.
O Sr. Dakin, agora sim, este teria osmiolos necessários.Mas teriaeleo ímpeto?Ouseráqueeleapenasriscariaonomedeladeumcadernodenotas,riscando-oeescrevendodepoisdeleum*RIPcaprichado.Afinaldecontas,paraoSr.Dakin,elaeraapenasumadamultidão.Assumiaseuriscoe,seasortefalhasse,azar. Não, ela não estava vendo o Sr. Dakin encenando umasalvação.Afinaldecontas,eleatinhaprevenido.
E o Dr. Rathbone a tinha prevenido. (Prevenido ouameaçado?).Esobsuarecusadesentir-seameaçada,nãotinhahavidomuitademoraemrealizaraameaça...
Mas eu ainda estou viva, repetiu Vitória, determinada aolharparaoladoclarodascoisas.
Passosaproximaram-sedoladodeforaehouveorangerdeumachavenumafechaduraenferrujada.Aportaestremeceuemsuas dobradiças e entrou um árabe. Carregava uma velhatravessadeestanhosobreaqualestavaalouça.
Parecia estar bem-humorado, sorria largamente, proferiualguns comentários incompreensíveis em árabe, finalmentedepositou a travessa, abriu a boca, apontando goela abaixo, epartiu,novamentefechandoaportaatrásdesi.
Vitóriaaproximou-sedatravessacominteresse.Haviaumagrande terrina com arroz, algo que parecia folhas de repolhoenroladaseumgrandepedaçodepãoárabe.Tambémumajarradeáguaeumcopo.
Vitória começou por beber um grande copo d'água e emseguida atacou o arroz, o pão e o repolho cujas folhas estavamcheias de carne picadinha de gosto bastante peculiar. Quandoterminoudecomer,sentiu-seumbocadomelhor.
Tentou omelhor que pôde pensar nas coisas claramente.
Tinhasidocloroformizadaeraptada.Háquantotempo?Quantoaissonãotinhaaideiamaisnebulosa.Dasmemóriassonolentasedormireacordarelajulgavaquetinhasidounsdiasatrás.Tinhasido retirada de Bagdá - para onde? Aí novamente, não tinhameiosparasaber.Devidoàsuaignorânciadoárabe,nemmesmoera possível fazer perguntas. Não podia descobrir um lugar, ouumnomeouumadata.
Diversashorasdetédioagudoseseguiram.Aquelanoiteseucarcereiroreapareceucomoutra travessa
decomida.Comeledestavezveioumpardemulheres.Estavamdepretoenferrujadocomsuasfacesescondidas.Nãoentraramnoquarto,masficaramnaentradadaporta.Umatinhaumbebênosbraços.Pelatenuidadedosvéus,elasentiaqueosolhosdelasaestavam avaliando. Para elas era excitante e altamentehumorísticoterumamulhereuropeiapresaali.
Vitóriafalouaelaseminglêseemfrancês,masconseguiuapenasrisadinhascomoresposta.Eraestranho,pensavaela,serincapaz de se comunicar com seu próprio sexo. Ela disse
lentamente e comdificuldadeumadas poucas frases que tinhaapanhado.
-Ehamdufiliah.Seuenunciadofoirecompensadoporumjorrodeliciadode
árabe. Elas anuíam vigorosamente com as cabeças. Vitóriamoveu-senadireçãodelas,masrapidamenteoempregado-ouoque quer que ele fosse, deu um passo para trás e barrou seucaminho.Fezsinalparaasduasmulheresrecuaremeelemesmosaiu, fechandoaportadenovo.Antesde fazer isso,pronunciouumapalavrarepetindo-adiversasvezes.-bukra-bukra...
Era uma palavra que Vitória tinha ouvido antes. Queriadizeramanhã.
Vitória sentou-se na cama para pensar nas coisas.Amanhã? Amanhã viria alguém ou amanhã algo estava paraacontecer.Amanhãasuaprisão iria terminar (ounão?) - ouseterminasse, ela também poderia terminar! Juntando todas ascoisas, Vitória não se importava muito com o amanhã. Sentiainstintivamentequeseriamelhorque,quandoamanhãchegasse,elaestivesseemoutrolugar.
Mas isso seria possível? Pela primeira vez deu toda aatenção a este problema. Primeiramente foi para a porta eexaminou-a.Certamentenadaafazerali.Essanãoeraotipodefechadura que se abria com um grampo de cabelo - se narealidade ela fosse capaz de abrir qualquer cadeado com umgrampodecabelo,oqueeladuvidadabastante.
Permaneciaentãoajanela.Ajanela,eladescobriulogo,eraumaproposiçãomuitomaisesperançosa.Otrabalhodegradeadode madeira que a guarnecia estava nos estágios finais dedecrepitude. Tomando como certo que seria capaz de quebrar osuficientedomadeiramentopodreparaforçarasuapassagemporele,dificilmentepoderiaassimfazersemumaporçãodebarulhoquenãopodiadeixardeatrairaatenção.Aindamaisqueoquartono qual ela estava confinada ficava num andar superior, issosignificava ou fabricaruma corda de algum tipo ou saltar, comtodaaprobabilidadedeumtornozelotorcidoououtroferimento.Noslivros,pensouVitória,faz-seumacordadetirasderoupasdecama.Elaolhouduvidosaparaoespessoedredomdealgodãoeacolchaesfarrapada.Nenhumdosdoispareciade todoadequadoparaseupropósito.Nãotinhanadacomquecortaroedredomem
tiras e embora provavelmente fosse capaz de rasgar a colcha, asua condição de podridão eliminaria qualquer possibilidade delheconfiaroseupeso.
-Maldição-disseVitóriaemvozalta.Estavamaisemaisenamoradada ideiade fuga.Atéonde
ela podia julgar seus carcereiros eram gente de mentalidademuito simples, para os quais o simples fato de que ela estavafechadanumquarto significava finalidade..Não esperariamqueelaescapassepelosimplesfatodequeeraumaprisioneiraenãopodia.Quemquerquetivesseusadoaagulhahipodérmicanelaepresumivelmenteatrouxeraatéaqui,agoranãoseencontravaemcena-distoelaestavasegura.Eleouela,oueleseramesperados"bukra". Eles a tinham deixado em algum lugar remoto sob aguardadegentesimplesqueobedeceriainstruçõesmasquenãoapreciariasutilezasequenãoestava,presumivelmente,alertadaquanto às faculdades inventivas de uma jovem europeia comtemordeextinçãoiminente.
Vou sair daqui de alguma forma - disse Vitória para simesma.Aproximou-sedamesaeserviu-sedonovosuprimentodecomida. Podiamuito bem conservar sua força em forma. Havianovamente arroz, algumas laranjas e alguns pedaços de carnenummolhoclarodelaranja.
Vitória comeu tudo e em seguida tomou um gole d'água.Quando colocou a jarra de novo na mesa, esta inclinou-selevemente e um pouco d'água foi para o chão. O chão naquelelugarimediatamentetornou-seumpequenolagodelamalíquida.Olhandoparaeleumaideiamexeu-senocérebrosemprefértildaSrta.VitóriaJones.
Aquestãoera,achaveteriasidodeixadana fechaduradoladodeforadaporta?
Osolagoraestavasepondo.Logoestariaescuro.Vitóriafoiparaaporta,ajoelhou-seeolhouparadentrodoimensoburacoda fechadura. Não podia ver luz. Agora, o que precisava era dealgumacoisacomqueempurrar-umlápisouumacaneta.Queaborrecidoqueasuabolsinhatinhasidotirada.Olhouemvoltadoquartofranzindoatesta.Oúnicoartigodecutelarianamesaera uma colher grande. Isso não servia para suas necessidadesimediatas, embora pudesse vir a calhar mais tarde. Vitóriasentou-se para parafusar e planejar. Logo proferiu uma
exclamação,tirouseusapatoeconseguiuretirarasolainternadecouro.Enrolouestafirmemente.Erarazoavelmenterígido.Voltoupara a porta, agachou-se e cutucou vigorosamente: pelo buracoda fechadura. Felizmente a imensa chave adaptava-sefrouxamente à fechadura. Depois de três ou quatro minutosreagiu aos esforços e caiu da porta do lado de fora. Fez poucobarulhoaocairsobreochãodeterra.
Agora,pensouVitória, tenhoqueapressar-meantesquealuzsevácompletamente.Apanhouajarrad'águaedespejouumpouco cuidadosamente sobre o lugar ao fundo da moldura daporta,tãopróxima.quantopossíveldolugaremquejulgavaqueachave tinha caído.Emseguida coma colher e o dedo raspou efuxicounalamaresultante.Poucoapouco,comnovasaplicaçõesde água da jarra, cavou uma longa trilha por baixo da porta.Deitando-se procurou olhar por ela, mas não era fácil verqualquercoisa.Arregaçandoamanga,achouquepodiaenfiaramãoepartedobraçopordebaixodaporta.Tateouemvoltacomdedosexploratóriose finalmenteapontadodedotocouemalgometálico.Tinha localizadoachave,masera incapazdeesticarobraço bastante para agarrá-la mais de perto. Seu movimentoseguintefoitomardoalfinetedesegurançaqueestavasegurandoumaalçarasgadadacombinação.Dobrando-oemgancho,enfiouneleumpedaçodepãoárabeedeitou-senovamenteparapescar.Justamentequandoestavaapiquedegritarderaivaoalfinetedesegurançaemganchoagarrounachaveeelafoicapazdepuxá-laaoalcancedeseusdedoseemseguidapuxá-lapelatrilhadelamaparaoladodedentrodaporta.
Vitóriasentou-seemseuscalcanharescheiadeadmiraçãopela suaprópria engenhosidade.Agarrandoa chave comamãoenlameada, levantou-se e colocou-a na fechadura. Esperou porummomentoquandohouveumgrandecorodecachorroslatindona vizinhança próxima, e deu a volta. A porta cedeu ao seuempurrão e abriu-se um pouco. Vitória olhou cautelosamentepelaabertura.Aportadavaparaumoutroquartopequenocomuma porta aberta do outro lado.. Vitória esperou.. por ummomentoeemseguida,napontadospés,saiueatravessou-o.Oquartoexteriortinhagrandesburacosescancaradosnotelhadoeumoudoisnochão.Aportadooutroladodavaparaoaltodeumlancede escadadedegraus rudesde tijolosdebarro fixadosde
umladodacasaequelevavamparaojardim.Isso era tudo que Vitória queria ver. Na ponta dos pés
voltou para sua prisão. Havia pouca probabilidade de alguémvoltarachegarpertodelanovamenteduranteanoite.Esperariaatéqueficasseescuroeaaldeiaoucidademaisoumenosemviasdeirdormireentãoelairiaembora.
Outracoisaaindahavianotado.Umpedaçodetecidopretorasgadoestavanummontepertodaportaexterior.Era,pensava,uma velha aba e calharia bem para encobrir suas roupasocidentais.
Quanto tempo esperou Vitória não sabia dizer. A elapareciamhoras intermináveis.No entanto, finalmente, os váriosruídosdaespéciehumanalocalmorriam.Orumorlongínquodeumgramofoneou fonógrafoparoucomsuascançõesárabes,asvozes roufenhas, e escarradas pararam e não havia mais asrisadasaltasguinchantes.demulheresaolonge;nemochorodecrianças.
Finalmenteouviuapenaso ruído longínquodeuivos,quejulgavaseremchacais,easexplosõesintermitentesdelatidosqueelasabiaqueiriamcontinuarportodaanoite.
-Bem,aquivai!-disseVitóriaeselevantou.Depois de ummomento de espera, cerrou a porta de sua
prisão pelo lado de fora e deixou a chave na fechadura. Emseguidatateou.seucaminhoatravésdoquartoexterior,levantouomontede fazendaescuraesaiunoaltodasescadasdebarro.Haviaumalua,masaindaestavabaixanocéu.ForneciabastanteclaridadeparaVitóriaenxergarseucaminho.Desceupelaescadaefezumapausaaunsquatrodegrausdofundo.Aquiestavaaoníveldomurodeadobequeencerravao jardim.Secontinuassepelaescadateriaquepassaraoladodacasa.Podiaescutarroncosdosquartosdebaixo.Seseguissepeloaltodomuroseriamelhor.Omuroerabastantelargoparaseandarporele.
Escolheu o último caminho e foi ligeira e algoprecariamenteatéondeomuroviravanumânguloreto.Aqui,doladodefora,estavaoquepareciaumjardimdepalmeirasenumlugar o muro estava se esfarelando. Vitória encontrou seucaminhopara ali, emparte pulava e emparte escorregava parabaixo e alguns momentos mais tarde estava serpenteando seucaminho por entre as palmeiras em direção a uma brecha na
paredeoposta.Chegouasairnumaruazinhaestreitadenaturezaprimitiva, estreita demais para a passagem de um carro, masadequada para burros. Esgueirava-se entre muros de adobe.Vitóriacorreuaolongodelatãodepressaquandopôde.
Agora cachorros começaram a latir furiosamente. Doiscachorros castanho-claro vieram rosnando para ela, saídos deuma porta. Vitória pegou umamancheia de detritos e tijolos ejogou-a contra eles. Ganiram e correram embora. Vitória corriaadiante. Contornou uma esquina e chegou ao que eraevidentementearuaprincipal.Estreitaepesadamentesulcadadecarros, ela atravessava uma aldeia de casas de adobe,uniformemente pálidas à luz do luar. Palmeiras olhavam porsobre muros, cachorros rosnavam e latiam. Vitória inspirouprofundamente e correu. Cachorros continuavam latindo, masnenhumserhumanotomouqualquerinteresseporessepossívelsalteador noturno. Logo saiu num espaço largo, com umacorrente enlameada comumaponte decrépita e corcunda sobreela.Alémdelaaestradaoutrilhalevavaaoquepareciaoespaçoinfinito.Vitóriacontinuouacorreratéqueficousemfôlego.
Aaldeia ficarabematrásdelaagora.A lua estavaaltanocéu.Àsuaesquerdaeàdireitaeàsuafrenteestavachãoárido,pedregoso. Parecia plano, mas na realidade ligeiramenteabaulado. Não havia, até onde Vitória pôde ver, nenhumasinalizaçãoenãotinhaideiaemquedireçãoatrilhalevava.
Elanãoerabastanteentendidaemestrelasparasaberaomenos em que direção da bússola estava indo. Havia algosutilmente terrífico nesta grande extensão vazia, mas eraimpossívelvoltarparatrás.Elaapenaspodiaavançar.
Pausandoalgunsmomentospararecuperararespiraçãoeassegurando-se,olhandosobreoombro,dequeasua fuganãotinha sido descoberta, ela continuou, caminhando constantescincoquilômetrosporhoraemdireçãoaodesconhecido.
O crepúsculo veio finalmente, para encontrar Vitóriacansada,depésferidosequaseàsbeirasdahisteria.Notandoaluznocéueladescobriuqueestavaindoaproximadamenteparaosudoeste,mascomonãosabiaondeestava,essa informaçãoeradepoucautilidadeparaela.
Umpoucoparaoladodaestradaemsuafrenteestavaumaespécie de pequena colina compacta ou monte. Vitória saiu da
trilhaeseguiucaminhoparaomonte,cujosladoserambastanteíngremes,etrepouparaoseualto.
Aquifoicapazdefazerumainspeçãodapaisagememtodaasuavoltaeseusentimentodepânico insensatoretornou.Poisemtodolugarnãohavianada...Acenaeralindanaluzdoinícioda manhã. O solo e o horizonte estavam brilhantes emesmaecidascorespasteldeabricóecremeecor-de-rosa,nosquaisseachavamdesenhosdesombras.Eralindomasassustador.
- Sei agora - pensou Vitória - o que quer dizer quandoalguémdizqueestásozinhonomundo...
Havia um pouco de grama leve e agreste em manchasescurasaquiealiealgunsespinheirossecos.Masdeoutraformanão havia nada cultivado nem sinais de vida. Havia apenasVitóriaJones.
Daaldeiadaqualtinhafugidotambémnãohaviasinais.A estrada pela qual tinha vindo se estendia para trás
aparentemente para um infinito de deserto. Parecia incrível aVitória que ela poderia ter andado tanto para perder a aldeiacompletamente de vista. Por um momento teve uma ânsiamomentâneaassoladadepânicoparavoltar.Obternovamentedeumaformaoudeoutracontatocomaespéciehumana...
Emseguidadominou-se.Elatinhaqueridoescaparetinhaescapado, mas suas preocupações não tinham simplesmenteterminado apenas porque tinha colocado diversos quilômetrosentresieseuscarcereiros.Umcarropormaisvelhoealquebrado,faria trabalho rápido nesses quilômetros. Logo que a sua fugafossedescobertaalguémviriaàsuaprocura.Ecomoentãoelairiaconseguir cobertura ou esconder-se. Simplesmente não haviaonde esconder-se. Ainda carregava a aba preta esfarrapada quetinhaapanhado.Agoraexperimentalmenteelaseembrulhouemsuas dobras, puxando-a por sobre o rosto. Ela não tinha ideiacom que se parecia, pois não tinha espelho consigo. Se tirasseseussapatoseuropeuseasmeiaseprosseguissedepésdescalços,possivelmente poderia fugir à detecção. Uma mulher árabe,virtuosamentevendada,poresfarrapadaepobrequefosse,tinha,ela sabia, qualquer imunidadepossível.Seria o cúmuloda faltadeboasmaneirasparaqualquerhomemdirigir-seaela.Masestedisfarce poderia enganar olhos ocidentais que poderiam estarnum carro à sua procura? De qualquer forma, era a única
chance.Estavamuitocansadademaisparacontinuarnopresente.
Estava terrivelmente sedenta também, mas era impossível fazeralgoaesserespeito.Amelhorcoisa,decidiuela,eradeitar-seaoladodessemonte.Poderiaescutarumcarroseviesseeseelaseconservasse achatada contra a pequena garganta que a erosãotinhafeitoabaixoedoladodomonte,elapoderiaadquiriralgumaideiadequemestavanocarro.
Podia encontrar cobertura, esgueirando-se para o lado detrásdomonte,demodoaficarforadasvistasdaestrada.
Poroutrolado,oqueelaprecisavaurgentementeeravoltarparaacivilizaçãoeoúnicomeio,atéondeelapodiaver,erapararumcarrocomeuropeusdentroepedirumacarona.
Masela tinhaquetercertezadequeoseuropeuseramoseuropeus certos. E como diabo era que ela podia assegurar-sedisso?
Preocupando-se com este detalhe, Vitória beminesperadamentecaiunosono,cansadadesualongacaminhadaepelaexaustãototal.
Quandoacordouosolestavadiretamenteapino.Sentia-sequenteeduraezonzaesuasedeagoraeraumtormento louco.Vitória soltou um grunhido, mas quando o grunhido saiu dosseuslábios,elasubitamenteendureceueescutou.Ouviulevemasdistintamenteosomdeumcarro.Muitocautelosamentelevantouacabeça.Ocarronãoestavavindodadireçãodaaldeia,masindoemsuadireção.Issoqueriadizerquenãovinhaemperseguição.Ainda era umpontinho preto, lá longe na estrada.No entanto,ficandodeitadaetãoescondidaquantopossível,Vitóriaobservou-ochegarmaisperto.Comoeladesejouterunsbinóculoscomela.
Desapareceu por alguns momentos numa depressão doterreno, em seguida reapareceu montando uma elevação nãomuitodistante.Haviaummotorista árabe e ao ladodele estavaumhomemderoupaseuropeias.
Agora - pensou Vitória. - Tenho que decidir. Seria esta asuachance?Eladeveriacorrerparabaixo,paraaestradaefazersinalparaocarroparar?
Justamente quando ela estava se preparando para assimfazer,umadúvidasúbitaafreou.Suponha,apenassuponha,queesteeraoinimigo?
Afinal de contas, como poderia ela saber? A trilha eracertamente muito deserta. Nenhum outro carro tinha passado.Nem caminhão. Nem mesmo uma tropa de burros. Este carroestava indo, talvez, para a aldeia que ela tinha deixado a noitepassada...
O que devia ela fazer? Era uma decisão terrível para sertomadanuminstante.Sefosseoinimigo,seriaofim.Massenãofosse o inimigo, poderia ser a sua única esperança desobrevivência. Pois se ela continuasse a perambular,provavelmentemorreriadesedeeinanição.Quedeveriafazer?
Enquanto ela estava agachada, paralisada com a suaindecisão, a rota do carro que se aproximavamudou. Baixou avelocidade, em seguida, guinando, saiu da estrada e pelo solopedregosoveioemdireçãoaomontenoqualelaestavaagachada.
Tinhasidovista!Estavamprocurandoporela!Vitóriaescorregouparabaixopelagarganta,engatinhouem
voltadascostasdomonte,paralongedocarroqueseaproximava.Escutou-ofreareoruídodaportaquandoalguémsaiu.
Então alguém disse algo em árabe. Depois disso nadaaconteceu.Subitamente,semqualqueraviso,umhomemchegouao seu campo de visão. Estava andando em volta do monte, acercademeiaalturadele.Seusolhosestavampregadosnochãoedemomento amomento ele parava e levantava qualquer coisa.Fosseoquefossequeestivesseprocurando,nãopareciaserumapequena chamada- Vitória Jones. Além disso ele erainconfundivelmenteuminglês.
ComumaexclamaçãodealívioVitóriapôs-sedepéeveioaoseuencontro.Elelevantouacabeçaeolhousurpreso.
- Oh, por favor - disse Vitória. - Estou tão contente quetenhavindo.
Eleaindaaolhava.Ora,bolas-começouele.-Vocêéinglesa?Mas...Comum
acessoderiso,Vitóriajogoulongeaabaqueaenvolvia.-Claroquesouinglesa-disse.-Eporfavor,vocêpodeme
levardevoltaparaBagdá?-EunãoestouindoparaBagdá.Acabeidevirdelá!Maso
que, emnomedodemônio, você está fazendo aqui, sozinha,nomeiododeserto?
- Fui raptada - disse Vitória sem fôlego. - Fui para lavar
meus cabelos emederamclorofórmio.E quandoacordei estavanumacasaárabenumaaldeiaacolá.
Gesticulouemdireçãoaohorizonte.-EmMandali?-Nãoseiseunome.Escapeianoitepassada,caminheipor
todaanoiteeemseguidameescondiatrásdestemorro,paraocasoquefosseuminimigo.
Seu salvador estava olhando-a comuma expressãomuitoesquisita no rosto. Era um homem de cerca de trinta e cincoanos,de cabelos louros, comumaexpressãoum tantopedante.Sualinguagemeraacadêmicaeprecisa.Colocouumpince-nezeolhou-a através dele com uma expressão de dissabor. Vitóriapercebeuqueessehomemnãoestavaacreditandonumapalavradoqueelaestavadizendo.
Imediatamentefoilevadaàindignaçãofuriosa.-Éperfeitamenteverdadeira-disseela-cadapalavraque
digo.Oestranhopareciamaisdescrentedoquenunca.-Muitonotável-disseeleemtomfrio.OdesesperoseapossoudeVitória.Quãoinjustoeraque,ao
passoque ela semprepoderia fazerumamentira soarplausível,nas récitas de verdade nua ela carecia de poder de fazer-seacreditada.Fatosreaiselacontavamalesemconvicção.
-Esevocênãotrazalgoparabeber,voumorrerdesede-disse ela. - Eu de qualquer formamorrerei de sede, se vocêmedeixaraquieforemborasemmim.
- Naturalmente eu não sonharia fazer isso - disse oestranhoempertigado.-Ébastanteinadequadoparaumainglesaestarperambulandosozinhanodeserto.Nossa,seuslábiosestãobemrachados...Abdul.
-Sahib?Omotoristaapareceuemvoltadabeiradadomonte.Depois de receber instruções em árabe, saiu correndo em
direçãoaocarro,paravoltarlogodepoiscomumagrandegarrafa.térmicaeumcopodebaquelite.
Vitóriabebeuaáguaavidamente.-Oh!-disseela.-Assimestámelhor.-MeunomeéRichardBaker-disseoinglês.Vitóriareagiu.
- Sou Vitória Jones - disse. E, em seguida, num esforçoparareconquistaroterrenoperdidoeparasubstituiradescrençaqueviaporumaatençãorespeitosa,acrescentou:
- Pauncefoot Jones. Estou me juntando ao meu tio, Dr.PauncefootJones,emsuaescavação.
-Queextraordináriacoincidência-disseBaker,olhando-asurpreso.-Eumesmoestouemmeucaminhoparaaescavação.Éapenasa cercade vintequilômetrosdaqui.Fuibemapessoaacertadaparatê-lasalvo,nãoé?
DizerqueVitóriaestavaespantadaédizê-lobrandamente.Estava completamente abilolada. Tanto assim que eracompletamente incapaz de dizer uma palavra de qualquerespécie.MansamenteeemsilêncioelaseguiuRichardparaocarroeentrou.
- Suponho que você é a antropóloga - disse Richard,quandoaacomodounoassentodetrásretirandodiversosobjetos.-Ouvidizerquevocêestavaparachegar,masnãoaesperavatãocedonatemporada.
Ficou por ummomento sortindo diversas lascas de potesque tiravadosbolsos eque, comoVitóriaagorapercebeu, era oquetinhaestadoapanhandonochãodasuperfíciedomonte.
- Pequeno ell bem parecido - comentou, gesticulando nadireçãodomonte.-Masnadaespecialneleatéondeeupossover.Peçasassíriasmaisrecentesnamaioria,umpoucodepartianos,algumasbasesdeanéisbastanteboasdoperíodokassista-sorriuaoacrescentar.-Estoucontenteemverificarque,apesardassuasencrencas,seusinstintosarqueológicosalevaramaexaminarumTeli.
Vitória abriu a boca e a fechou novamente. O motoristaengrenouocarroeelespartiram.
O que, no fim de contas, podia ela dizer? Verdade, seriadesmascarada tão logo chegassem à Casa da Expedição -, masseria infinitamente melhor ser desmascarada ali e confessarpenitênciaparasuasinvençõesdoqueseriaconfessartudoaoSr.RichardBakernomeiodelugaralgum.Opiorquepoderiamlhefazer era mandá-la para Bagdá. E, de qualquer modo, pensouVitória, incorrigível como sempre, talvez antes de chegar lá eutenha pensado em alguma coisa. Sua imaginação ocupadacomeçou a trabalhar incontinente. Um lapso de memória? Ela
haviaviajadoparacácomumamoçaquelhetinhapedido-não,realmente,atéondeelapodiaver, teriaque fazerumaconfissãosincera.MaspreferiainfinitamentefazerumaconfissãosinceraaoDr.PauncefootJones,qualquerquefosseaespéciedehomemqueeleera,doqueaoSr.RichardBaker,comsuamaneirapedantedelevantar as sobrancelhas e a sua descrença óbvia da históriaverdadeiraeexataqueelalhetinhacontado.
-Nósnão vamosdiretoparaMandali - disseoSr.Baker,voltando-se no assento dianteiro. - Saímos da estrada para odesertodaquiamaisoumenosumquilômetro.Umpoucodifícilacertarcomolugarexatosemquaisquersinaisespeciais.
Logo em seguida disse alguma coisa a Abdul e o carroguinou abruptamente da trilha e entrou deserto adentro. Semquaisquermarcosvisíveisparaguiá-lo,atéondeVitóriapôdever,RichardBakerdirigiuAbdulcomgestos-dobrou-seagoraparaadireita-agoraparaaesquerda.LogoRichardfezumaexclamaçãodesatisfação.
-Estamosnatrilhacertaagora-disseele..Vitórianãoconseguiaver trilhanenhuma.Masconseguiu
avistardequandoemquandomarcassumidasdepneus.Umaocasiãoemquecruzaramumapistaumpoucomais
claramentemarcada,RichardproferiuumaexclamaçãoemandouAbdulparar.
- Aqui está uma vista interessante para você - disse aVitória.-Jáqueénovanestepaísnãodeverátê-lavistoantes.
Dois homens estavam avançando em direção ao carro aolongoda trilha transversal.Umdelescarregavaumbancocurtodemadeiraàscostas, ooutroumobjetograndedemadeira,dotamanhodeumpianodeapartamento.
Richard saudou-os; eles o cumprimentaram com todos ossinaisdeprazer.Richardtiroucigarroseumespíritointegral
EmseguidaRichardvoltou-separaela.-Gostadecinema?Entãovaiverumespetáculo.Ele falou aos dois homens e eles sorriram com prazer.
Colocaram o banco e fizeram gestos para Vitória e Richardsentarem-se.Emseguidamontaramaengenhocaredondanumaespéciedebase.TinhadoisburacosparaosolhoseaoolharparaelaVitóriagritou:
-Écomoascoisasempiérias.Oqueomordomoviu.
-Éisso-disseRichard.-Éumaformaprimitivadisso.Vitóriaencostouseusolhosaoburacoenvidraçado,umdos
homenscomeçouagirarlentamenteumaalavancaoumanivelaeooutrocomeçouumaespéciedecantomonótono.
-Queéqueeleestádizendo?-perguntouVitória.Richard traduziu enquanto o canto cantarolado
continuava.- Chegue perto e prepare-se para grande maravilha e
delícia.Prepare-separaverasmaravilhasdaantiguidade.Um retrato toscamente pintado de negros colhendo trigo
flutuouparaoolhardeVitória.-FellahinnaAmérica-anunciouRichard,traduzindo.Afestapareciaestarsedesenvolvendo.Emseguidaveio:- A mulher do Grande Xá do Mundo Ocidental e a
Imperatriz Eugênia com um sorriso tolo e afetado tateava umlongoaneldecabelo.UmretratodoPalácioRealemMontenegro,outrodaGrandeExibição.
Umacoleçãoestranhaevariadaderetratosseguiu-seumaàoutra, todas completamente sem inter-relação e às vezesanunciadasnostermosmaisestranhos.
O Príncipe Consorte, Disraeli, Fiordes da Noruega ePatinadores na Suíça completaram este estranho vislumbre dediasvelhosedistantes.
O exibidor terminou a sua exposição com as seguintespalavras:
"E assim levamos até vocês os milagres e maravilhas daantiguidade em outros países e lugares longínquos. Que o seudonativo seja generoso para corresponder às maravilhas queacabamdever,poistodasessascoisassãoverdadeiras."
Estavaterminado.Vitóriabrilhavadecontentamento.-Issorealmentefoimaravilhoso!-disseela.-Eunãooteria
acreditado.Os proprietários do cinema ambulante estavam sorrindo
orgulhosamente. Vitória levantou-se do banco e Richard, queestavasentadonaoutraponta,foijogadoaochãonumaposiçãoumtantoindignificada.Vitóriapediudesculpas,masnãoestavamalsatisfeita.Richardrecompensouoshomensdocinemaecomadeuses corteses e expressões de preocupação com o bem-estar
umdooutro,invocandoasbênçãosdeDeusunsparaosoutros,separaram-se.RichardeVitória entraramnovamentenocarro eoshomenscontinuaramcaminhandodesertoadentro.
-Paraondevãoeles?-perguntouVitória.- Viajam por todo o país. Primeiro os encontrei na
Transjordânia, vindo pela estrada do Mar Morto para Amã. NarealidadeestãoacaminhodeKerbelaagora,indo,naturalmente,por rotas não frequentadas para poderem dar espetáculos emaldeiasremotas.
-Talvezalguémlhesdêumacarona.Richardriu.- Provavelmente não a aceitariam. Uma vez ofereci uma
caronaaumvelhoqueestavaandandodeBasrahaBagdá.Perguntei-lhequantotempoesperavaviajareelerespondeu
umpar demeses. Eu lhe disse para subir e estaria lá naquelanoite,maselemeagradeceuedissequenão.Daquiadoismeseslheserviriaigualmentebem.Otemponãosignificanadaporaqui.
Uma vez que a gente mete isso na cachola, sente umacuriosasatisfação.
-Sim.Possoimaginar.-Osárabesachamanossa impaciênciaocidentalde fazer
ascoisasrapidamenteextraordinariamentedifícildeentendereonossohábitodeirdiretamenteaoassuntonumaconversaçãolhesparece extremamente de má educação. Sempre se deveria ficarsentado apresentando observações gerais por uma hora, ou, sepreferir,nãoprecisafalarnada.
-ExtremamenteesquisitosefizéssemosissonosescritóriosemLondres.Perder-se-iaummundodetempo.
-Sim,masvoltamosnovamenteàquestão:Queétempo?Equeédesperdício?
Vitóriameditousobreessespontos.Ocarroaindapareciaestarprosseguindoparalugaralgumcomamaiorconfiança.
-Ondeéqueficaesselugar,-perguntouporfim.- Tell Aswad? Bem fora, nomeio do deserto. Você verá o
Ziggurat logo, logo.Enquanto issoolheparaasuaesquerda, láondeeuestouapontando.
- São nuvens? - perguntou Vitória. - Não podem sermontanhas.
-Sim,são.AsmontanhasdoKurdistão,cobertasdeneve.
Vocêsópodevê-lasquandootempoestáclaro.Umasensaçãosonhadoradecontentamentoapossou-sede
Vitória. Se apenas ela pudesse continuar a viajar assim parasempre. Se apenas ela não fosse umamentirosa tão miserável.Encolheu-se como uma criança ao pensamento do desenlacedesagradávelàsuafrente.QuetalseriaoDr.PauncefootJones?Alto,comumalongabarbacinzaeumfranzirdetestaferoz.Nãoimportava, por mais aborrecido que o Dr. Pauncefoot Jonespudesseficar,elahaviacontornadoCatarinaeoRamodeOliveiraeoDr.Rathbone.
-Aíestá-disseRichard.Eleapontouparaafrente.Vitóriavislumbrouumaespécie
deborbulhanohorizontedistante.-Parecemuitosquilômetrosdistante.Oh, não, são apenas alguns quilômetros agora. Você vai
ver.E, na realidade, a borbulha se transformou, com rapidez
espantosa, primeiro numa pústula e em seguida nummonte efinalmentenumTellgrandeeimpressionante.Aoladodeleestavaumedifíciolongoeesparramadodetijolosdebarro.
-ACasadaExpedição-disseRichard.Encontraram-se com um floreado em meio ao latido dos
cachorros. Empregados em mantas brancas corriam para foraparacumprimentá-los,todosorrisos.
Depoisdeumatrocadecumprimentos,Richarddisse:-Aparentementenãoestavamesperandoporvocêtãocedo.
Mas vão arrumar a sua cama. E vão lhe trazer água quenteimediatamente. Gostaria de um banho e descanso? O Dr.PauncefootJonesestá láemcimanoTefl.Euvousubiratéele.Ibrahimtomarácontadevocê.
Ele afastou-se e Vitória seguiu o Ibrahim sorridente paradentro da casa. Parecia escuro do lado de dentro, primeiro,quando se saía diretamente do sol. Passaram por uma sala deestarcomalgumasmesasgrandesealgumaspoltronasdebraçoscastigadaseemseguidaelafoilevadaemvoltadeumpátioparadentro de um quarto pequeno com uma janela minúscula.Continha uma cama, um gaveteiro rústico, uma cadeira e umamesa com uma jarra e uma bacia sobre ela. Ibrahim sorriu e
trouxe-lheumajarragrandedeáguaquentedeaspectobastantelamacentoeumatoalhaáspera.Emseguida,comumsorrisodedesculpa, voltou comumpequeno espelho que cuidadosamentefixounumpregonaparede.
Vitória estava agradecida por ter a oportunidade de umalavagem. Tinha acabado de constatar quão completamentecansadaeesgotadaelaestavaequantoencardidadesujeira.
-Suponhoqueestejaparecendosimplesmenteassustadora-disseparasimesmaeaproximou-sedoespelho.
Poralgunsmomentosficouolhandoparaoseureflexosemcompreender.
Issonãoeraela-issonãoeraVitóriaJones.E então compreendeu que, embora as feições fossem as
feiçõesmiúdasebonitasdeVitóriaJones,seucabeloestavalouroplatinado!
XVRICHARD ENCONTROU o Dr. Pauncefoot Jones nas
escavações,agachadoaoladodoseufeitorebatendosuavementecomumapequenapicaretanumaseçãodeparede.
O Dr. Pauncefoot Jones cumprimentou seu colega commaneirascasuais.
- Então, Richard, meu rapaz, então você apareceu. Eutinhaumaideiadequevocêvirianaterça-feira,nãoseiporque.
-Hojeéterça-feira-disseRichard.-Émesmo?-disseoDr.PauncefootJonesseminteresse.-
Venha para cá e me diga que é que você pensa disso. Paredescompletamente boas aparecendo e nós apenas cavamos ummetro.Parece-mequeháalgunstraçosdepinturaaqui.Venhaevejaoquepensa.Parece-memuitopromissor.
Richard pulou para dentro da trincheira e os doisarqueólogosdivertiram-sedemaneiraaltamentetécnicaporcercadeumquartodehora.
-Aliás-disseRichard-eutrouxeumagarota.-Oh,sim,queespéciedegarota?-Eladizqueésuasobrinha.-Minhasobrinha?-oDr.PauncefootJonesarrancousua
mentecomumalutadesuacontemplaçãodasparedesdebarro.-Eu penso que não tenho qualquer sobrinha - disse em dúvida,comoseelepudesseteralgumaeesquecidoaseurespeito.
- Ela está vindo para trabalhar aqui com você, pelo quecompreendi?
-Oh-orostodoDr.PauncefootJonesseaclarou-Naturalmente.DeveserVerônica.-Vitóriaachoquefoioqueeladisse.- Sim, sim. Vitória. Emerson escreveu-me sobre ela de
Cambridge. Uma moça bastante capaz, compreendo. Umaantropóloga.Nãoseiporquealguémquerserantropólogo, vocêpodeimaginar?
-Euescuteiquevocêtinhaalgumamoçaantropólogavindoparacá.
-Nãohánadanocampodelaporenquanto.Naturalmente,
pois estamosapenas começando.Realmente eu compreendi queelanãoviriaporoutraquinzenaoumais,masnarealidadenãoliacartadelamuitoatentamenteedepoisaperdidevista,demodoquenãomelembrorealmentedoquedisse.Minhamulhercheganapróximasemana...ounasemanaseguinte...ora,que foiquefizcomacartadela?...eeupenseiqueVenetiaestavavindojuntocom ela... mas naturalmente posso ter entendido tudo errado.Bem,bem,eudiriaquenóspodemostorná-laútil.Háummontedecerâmicaaparecendo.
-Nãohánadaestranhosobreela,nãoé?- Estranho? - o Dr. Pauncefoot Jones olhou para ele. De
quemaneira?Bem, ela não teve um colapso nervoso ou qualquer coisa
assim? - Emerson disse, segundo lembro, que ela tinha estadotrabalhandomuito.Diplomaougrauouqualquercoisa,masnãocreioquetenhaditoalgosobreumcolapso.Porquê?
- Bem, eu a apanhei à beira da estrada, perambulandocompletamente sozinha. Foi na realidade, naquele pequeno Tellque você encontra a cerca de um quilômetro antes de sair daestrada.
Lembro - disse o Dr. Pauncefoot Jones. - Sabe, uma vezencontrei um bocado de material Nuzu naquele Tell.Extraordinário,narealidade,deencontrá-lotantoparaosul.
Richard recusou-se a ser distraído por tópicosarqueológicosecontinuoufirmemente.
-Elamecontouahistóriamais extraordinária.Dissequetinha ido para ter seu cabelo lavado e eles a cloroformizaram eraptaramelevarampara*Mandalieaprenderamnumacasaeelaescapounomeiodanoite...alenga-lengamaisdisparatadaquejáseouviu.
ODr.PauncefootJonesabanouacabeça.- Não parece de todo provável - disse ele. - O país está
perfeitamente calmo e bem policiado. Nunca tinha estado tãoseguro.
-Exatamente.Elaobviamenteinventouessacoisatoda.Foiporissoquepergunteiseelatinhatidoumcolapso.Deveserumadessas moças histéricas que dizem que os curas estãoenamorados delas, ou que médicos as assaltam. Pode dar-nosumaporçãodeincômodo.
-Oh,esperoqueelaseacalmará -disseoDr.PauncefootJonesotimisticamente.-Ondeestáelaagora?
-Deixei-apara tomarbanhoe searrumar - elehesitou. -Nãotembagagemdequalquerespéciecomela.
-Nãotem?Issonarealidadeéembaraçoso.Vocênãopensaqueelaesperaque lheemprestepijamas.Só tenhodoispareseumdelesestátristementerasgado.
- Ela tem que se arrumar omelhor que puder até que ocaminhãováàcidadenapróximasemana.Devodizerqueficoapensar o que ela pode ter estado fazendo sozinha e fora nodesconhecido.
-Moçassãoespantosashojeemdia-disseoDr.PauncefootJones vagamente. - Aparecem em todo lugar. Grandeaborrecimentoquandosequertocarascoisasparaafrente.Estelugar é bastante afastado, pensaria você, para se ficar livre devisitantes, mas você ficará surpreso como carros e pessoasaparecem quando menos você precisa delas. Nossa, os homenspararam de trabalhar. Deve ser hora do almoço. Melhor nósvoltarmosparaacasa.
Vitória reuniu seus sentidos dispersos e dissecautelosamentequeaasmanãotinhaestadoruimdemais.
-Embrulhademaissuagarganta -disseoDr.PauncefootJones. -Grande erro, eu lhe disse isso. Todos esses camaradasacadêmicos que ficam pelas Universidades ficam absorvidosdemais em sua saúde. Não devia pensar a respeito. Essa é amaneira de ficar em forma. Bem, espero que você vá seacomodar... minha mulher virá na semana que vem. Ou nasemanaseguinte...elatemestadoadoentada,sabe.Eurealmentetenho que encontrar a carta dela. Richard me disse que suabagagemperdeu-se.Comoéquevocêvaisearranjar?Nãopossomandarocaminhãoparaacidadeantesdapróximasemana.
- Acho que posso me arranjar até lá - disse Vitória. Narealidadevouprecisar.
ODr.PauncefootJonesriu.- Richard e eu não lhe podemos emprestar muita coisa.
Escovadedentesestácerto.Hádúziasdelasemnossodepósito...e algodão, se isso lhe serve de alguma coisa e... deixe-me ver...talco...ealgumasmeiasdereservaelenços.Nãotemmuitomais,temo.
-Euestareibem-disseVitóriaesorriualegremente.- Não há sinais de cemitério para você - preveniu o Dr.
PauncefootJones. -Algunsmurosbonitosestãoaparecendo - equantidades de sacos de cerâmica das trincheiras afastadas.Podereiencontraralgumasjuntas.Vamosconservá-laocupadadeumamaneiraoudeoutra.Esquecisevocêfazfotografias.
- Conheço alguma coisa sobre isso - disse Vitóriacautelosamente, aliviada pela menção de alguma coisa da qualrealmentetinhaalgumaexperiênciaútil.
- Bem, bem, sabe revelar negativos? Eu sou antiquado,ainda,usochapas.Acâmaraescuraébastanteprimitiva.Vocêsjovens, que estão acostumados com todas as inovações,frequentemente acham essas condições primitivas um tantoperturbadoras.
-Nãovoumeimportar-disseVitória.Dosarmazénsda expedição ela selecionouumaescovade
dentes,pastadedentes,umaesponjaealgumtalco.Vitória, esperando com alguma trepidação, achou o Dr.
PauncefootJonesenormementedistantedesuaimaginação.Eraumhomemrotundo,pequeno,comumacabeçasemicalvaeumolhocintilante.Paraseuextremoespantoveioemsuadireçãodemãosestendidas.
-Bem,bem,Venetia...querodizer,Vitória-disseele.-Issoéumaverdadeirasurpresa.Metinaminhacabeça,quevocênãoiriachegarantesdomêsquevem.Masestou?.encantadoporvê-la. Encantado. Como está Emerson? Não incomodado demaispelaasma,espero.
Sua cabeça estava ainda em roda enquanto procuravacompreenderexatamentequaleraasuaposição.Claramenteelaestava sendo confundida com uma moça chamada Venetiaqualquer coisa, que estava saindo para juntar-se à expedição eque era antropóloga. Vitória nem mesmo sabia o que era umantropólogo.Sehouvessealgumdicionárioporali, ela teriaqueprocurarsaber.Aoutramoçaprovavelmentenãoiriachegarantesda próxima semana pelo menos. Muito bem, então, por umasemana-ouporumtempoaqueocaminhãofosseparaBagdá,VitóriaseriaVenetiaCoisa,aguentandoaspontasomelhorquepodia. Não tinha medo do Dr. Pauncefoot Jones que parecia
deliciosamente vago, mas Richard Baker a fazia nervosa. Eladesgostava damaneira especulativa pela qual olhava para ela etinha uma ideia de que, a não ser que fosse cuidadosa, elebrevementeveriaatravésdesuaspretensões.Felizmenteelatinhasido, por um breve período, secretária-datilógrafa no InstitutoArqueológico de Londres e assim tinhauma tintura de frases emiudezas que agora viriam a calhar. Mas ela tinha que sercuidadosa para não dar uma rata grande. Felizmente, pensouVitória, os homens eram sempre tão superiores diante demulheres,quequalquerrataquedesseseriatratadamenoscomouma circunstância suspeita do que comoumaprova de quantoeramridiculamentedesajeitadastodasasmulheres!
Este intervalo lhedariaumadiamento,deque,elasentia,precisava urgentemente. Pois, do ponto de vista do Ramo deOliveira, o seu completo desaparecimento seria bastantedesconcertante. Ela havia escapado da sua prisão, mas o queacontecera a eladepois seriamuitodifícil de seguir.O carrodeRichardnão tinhapassadoporMandali,demodoqueninguémpodia adivinhar que ela estava agora em Tell Aswad. Não, dopontodevistadeles,Vitóriadeveriaparecerdesaparecidanoéter.Poderiam concluir, muito possivelmente concluiriam, que elaestavamorta.Quetinhaidoparaodesertoemorridodeexaustão.
Bem, deixá-los pensar assim. Infelizmente, era natural,Edwardpensariaassim,também!Muitobem,Edwardtinhaqueaguentar. De qualquer modo não teria que aguentar muito.Justamentequandoseestivessetorturandocomremorsoportê-lamandado cultivar a amizade de Catarina - ela estaria alisubitamente restauradapara ele - de voltadosmortos - apenasumalouraaoinvésdemorena.
Isso a trazia de volta,ao mistério de por que eles (fossemquemfossem)tinhamtingidoseucabelo.Devia,pensavaVitória,ter havido alguma razão -mas pela sua vida não era capaz decompreender o que essa razão poderia ser. Como estavam ascoisas, ela embreve estaria começandoa ficardeaparênciaumtantopeculiar,quandoseucabelocomeçasseacrescerpretonasraízes.Umalouraplatinadafalsa,sempófacialoubatom!Poderiaqualquerpequenaestarcolocadamaisdesafortunadamente?Nãoimporta, pensou Vitória. Estou viva, não estou? E não vejo detodoporquenãomedeveriadivertirumbocado,pelomenospor
umasemana.Era realmentemuitodivertido fazerpartedeumaexpediçãoarqueológica e verque tal era.Seapenaselapudesseaguentaraspontassemsetrair.
Elanãoachavaseupapelespecialmentefácil.Referênciasapessoas, a publicações, a estilos de arquitetura e categorias decerâmicatinhamquesermanejadascuidadosamente.Felizmenteumbomouvinteésempreapreciado.Vitóriaeraexcelenteouvintepara os doishomens e, cuidadosamente tateando seu caminho,elacomeçouaaprenderagíriacombastantefacilidade.
As escondidas lia furiosamente quando estava na casasozinha.Haviaumaboabibliotecadepublicaçõesarqueológicas.Vitória foi rápida.em apanhar umas noções do assunto.Inesperadamente ela achava a vida bem encantadora. O cháservido a ela cedo de manhã, em seguida para a escavação.AjudandoRichardcomotrabalhodecâmera.Juntandoecolandocacosdecerâmica.Observandohomenstrabalhando,apreciandoaperíciaeadelicadezadoshomensdapicareta -apreciandoascanções e os risos dos meninos pequenos que corriam paraesvaziar seus cestos de terra sobre a pilha. Ela dominou osperíodos,conheciaosdiversosníveisnosquaisaescavaçãoestavaserealizandoefamiliarizou-secomotrabalhodaestaçãoanterior.Aúnicacoisadequetinhapavoreradequecadáverespudessemaparecer. Nada do que lia lhe dava qualquer ideia do que seriaesperadodelacomoantropólogaemfuncionamento.
-Seencontrarmosossosouumtúmulo-disseVitóriaparasi mesma - eu devo ficar com um terrível resfriado.. não, umseveroataquedebílis...eirparaacama.
Masnãoapareciamtúmulos.Emlugardissoasparedesdeumpalácioforamlentamenteescavadas.Vitóriaficoufascinadaenãoteveoportunidadededemonstrarqualqueraptidãooupericiaespeciais.
RichardBaker,àsvezesaindaaolhavainterrogativamentee ela sentia seu criticismo*impronunciado, mas os seus modoseramamistososeagradáveiseeleestavagenuinamentedivertidopeloseuentusiasmo.
-ÉtudonovoparavocêchegandodaInglaterra-disseeleumdia.-Eulembrodecomofiqueiexcitadonaminhaprimeiratemporada.
-Háquantotempofoiisso?
Elesorriu.-Hábastantetempo.Quinze...não,hádezesseisanos.-Vocêdeveconhecerestaterramuitobem.-Oh,nãotemsidosóaqui.SíriaePérsiatambém.- Você fala árabe bastante bem, não é? Se você estivesse
vestidocomoumdeles,poderiapassarporumárabe?Elemeneouacabeça.-Oh,não...issoprecisademuitomais.Duvidoquealgum
inglês alguma vez tenha conseguido passar por árabe... poralgumtempoprolongado,querodizer.
-Lawrence?- Não acho que Lawrence qualquer dia passou por árabe.
Não, o único homem que conheço e que é praticamenteindistinguível.doprodutonativo éumcamaradaque realmentenasceu nestas terras. Seu pai foi Cônsul em Kashgar e outroslugares selvagens. Ele falava toda sorte de dialetos esquisitosquandocriançae,acredito,continuoupraticandomaistarde.
-Queaconteceuaele?- Perdi-o de vista depois que saímos da escola. Estivemos
juntosnaescola.Faquirécomocostumávamoschamá-lo,porqueeracapazde ficar sentadocompletamentequietoe entrarnumaestranha espécie de transe. Não sei o que está fazendo agora...emborapudessedarumpalpiteperfeitamentebom.
-Vocênuncamaisoviudepoisdaescola?-Bastante estranhamente, encontrei-o ainda outrodia foi
emBasrah.Umnegócioestranhodetodo.-Estranho?- Sim. Não o reconheci. Estava vestido como um árabe,
effiyaheroupalistradaeumvelhodólmãdoexército.Eletinhaum fio daquelas contas de âmbar que eles carregam às vezes eestava estalando-as pelos seus dedos da maneira ortodoxa...apenas, na realidade, estava usando código do exército. Morse.Estavaestalandoumamensagem...paramim!
-Oquedizia?-Meunome...oumelhor,apelido...eodele,e,emseguida,
umsinalparaficaratento,paraesperarencrenca.Ehouveencrenca?Sim.Quandoeleselevantouesaiupelaporta,umviajante
comercialquietoeinconspícuoemseutipopuxoudeumrevólver.
Euempurreiobraçodeleparacima...eCarmichael,escapou.-Carmichael?Elevirouacabeçarapidamenteaoseutomdevoz.-Esseeraseunomereal.Porque-conhece-o?Vitóriapensouconsigomesma:-Queestranhosoariaseeudissesse:"Elemorreunaminha
cama.-Sim-disselentamente-euoconheci.-Conheceu?Porque...eleestá...Vitóriaanuiucomacabeça:-Sim-disse.-Estámorto.-Quandofoiqueelemorreu?-EmBagdá.NoHotelTio-elaacrescentourapidamente:-
foiabafado.Ninguémsabe.Ele fez um sinal afirmativo com a cabeça. - Estou vendo.
Eraessaespéciedenegócio.Masvocêolhouparaela. -Comoéque você sabe? - Fiquei envolvida nisso... por acidente. Elelançou-lhe um longo olhar pensativo. Vitória perguntousubitamente: - Seu apelido na escola não era Lucifer, era? Eleolhousurpreso.-Lucifer?Não.Chamavam-mecorujasempretivequeusaróculosbrilhantes.*...porqueeu
- Não conhece ninguém chamado Lucifer em Basrah?Richard meneou a cabeça. - Lucifer, Filho da Manhã... o AnjoCaído.
Eleacrescentou:-Ouumfósforoantiquadodecera.Seumérito,sebemme
recordo,eraquenãoseapagavaaovento.Ele a observou de perto enquanto falava, mas. Vitória
estavafranzindoatestaabstratamente.- Eu gostaria de que vocême contasse exatamente o que
aconteceuemBasrah.-Eulhecontei.- Não, quero dizer, onde estava você quando tudo isso
aconteceu?-Oh,estouvendo.Narealidadeeuestavanasaladeespera
do Consulado. Estava esperando para falar com Clayton, oCônsul.
- E quem mais estava lá? O viajante comercial eCarmichael?Maisalguém?
- Havia um par de outros penso eu, um francês ou síriomagroeumvelho,umpersadiriaeu.
- E o viajante comercial tirou o revólver e você o parou eCarmichaelsaiu...como?
-Ele foiprimeiroemdireçãoaoescritóriodoCônsul.FicadooutroladodeumapassagemCOMumjardim...
Elainterrompeu.- Eu sei. Fiquei hospedada lá um ou dois dias. Na
realidade,foidepoisquevocêhaviapartido.- Ah, era mesmo? - mais uma vez ele a observou
atentamente mas Vitória estava inconsciente disso. Ela estavavendo aquela longa passagem no Consulado, mas com a portaabertadooutrolado-abertaparaárvoresverdesealuzdosol.
- Bem, como eu estava dizendo, Carmichael foi primeironaqueladireção.Emseguidavirou-seecorreunadireçãoopostaparaarua.Foiaúltimacoisaquevidele.
-Esobreoviajantecomercial?.Richardencolheuosombros.-Eulembroqueelecontouumahistóriaconfusasobreter
sido atacado e roubado por um homem na noite anterior eimaginando que tinha reconhecido seu assaltante no árabe noConsulado.NãoouvimuitomaissobreissoporqueeuvoeiparaoKuwait.
- Quem estava hospedado no Consulado então? -perguntouVitória.
-UmcamaradachamadoCrosbie...umdoscamaradasdopetróleo.Ninguémmais.Oh, sim, creioquehaviamaisalguém,vindodeBagdá,masnãooconheci.Nãopossolembrarseunome.
- Crosbie - pensou Vitória. Ela lembrava do CapitãoCrosbie, sua figura baixa atarracada, sua conversação. Umapessoamuitoordinária.Umaalmadecente,semmuitafinesse.ECrosbie tinha estado de volta em Bagdá na noite em queCarmichaelveioparaoTio.PoderiaserporquetinhavistoCrosbienaoutrapontadapassagem,suasilhuetacontraaluzdosolqueCarmichaeltinha-sevoltadotãosubitamenteeidoparaaruaemlugardetentarchegaraoescritóriodoCônsul-Geral?
Ela havia estado a pensar nisso com alguma absorção.Espantou-se culposamente quando levantou o olhar paraencontrarRichardBakerobservando-acomatenção.
-Porquequersabertudoisso?-perguntou.-Estouapenasinteressada.-Maisalgumapergunta?Vitóriaperguntou:-VocêconhecealguémchamadoLefarge?-Não.Nãopossodizerqueconheça.Homemoumulher?-Nãosei.Estava cismando novamente sobre Crosbie. Crosbie?
Lucifer?SeráqueCrosbieigualavaLúcifer.Nesta noite, quando Vitória tinha dito boa noite aos dois
homens e ido para a cama, Richard disse ao Dr. PauncefootJones:
- Será que eu poderia dar uma olhada naquela carta deEmerson.Eugostariadever exatamenteoque foi queeledissesobreessamoça.
-Naturalmente, caro rapaz,naturalmente.Estáporaí emalgumlugar.Fizalgumasanotaçõesnascostasdela,lembro.ElefalavamuitobemdeVerônica,seme lembrobem-dissequeeraterrificamente viva. Amimme parece umamoça encantadora...bem encantadora. Muito corajosa pela maneira como fez tãopouco barulho sobre a perda de sua bagagem. A maioria daspequenas teria insistido em ser levada para Bagdá logo no diaseguinte para comprar um novo sortimento. Isso é o que euchamodeumapequenaesportiva.Por falarnisso, como foi queelaperdeuabagagem?
-Foicloroformizada,raptadaetidacomoprisioneiranumacasanativa-disseRichardimpassivelmente.
-Nossa,nossa,sim,assimvocêmecontou.Lembroagora.Tudo extremamente improvável. Issome lembra... que será queisso me lembra?... ali! sim, Elizabeth Carming, naturalmente.Você lembra que ela apareceu com uma história extremamenteimprováveldepoisdeterestadodesaparecidaporumaquinzena.Conflitodeevidênciamuito interessante...sobrealgunsciganos,se este é o caso certo no qual estou pensando. E ela era umamoça tão sem graça, que não parecia provável que houvessealgumhomemnocaso.Agora,apequenaVitória...Verônica...eununcaconsigoacertaronome...elaéumacoisinhanotavelmentelinda.Ébastanteprovávelterumhomemnocasodela.
- Ela ficariamuitomelhor se não pintasse o cabelo disse
Richardsecamente.- Ela o pinta? Realmente. Como você é sabido nesses
assuntos.-SobreacartadeEmerson,senhor...-Naturalmente...naturalmente.Nãotenhoideiadeondea
botei. Mas procure onde quiser... eu de qualquer forma estouansiosoporencontrá-laporcausadaquelasnotasquetomeinascostasdela...eumesboçodaqueleemaranhadoarameenrolado.
XVINA TARDE SEGUINTE o Dr. Pauncefoot Jones proferiu
umaexclamaçãodedesgostoquandoosomdeumcarrochegoufracamenteaosseusouvidos.Logolocalizou-oserpenteandopelodesertoemdireçãoaoTell.
Visitantes - disse venenosamente. - No pior momentopossível, também. Quero supervisionar a plastificação daquelaroseta pintada no canto Nordeste. Decerto são alguns idiotasvindo de Bagdá com um monte de fofocas sociais e esperandovisitartodasasescavações.
- IstoéondeVitóriachegaaserútil -disseRichard.Vocêestáouvindo,Vitória?Écomovocêrealizarumaexcursãoguiadapessoalmente..
- Eu provavelmente direi todas as coisas erradas - disseVitória.-Narealidadesoumuitoinexperiente,vocêsabe.
-Achoquevocêestásesaindomuitobem-disseRichardcontente. - Aqueles comentários que você fez estamanhã sobretijolosplano-convexospoderiamtersaídodiretamentedolivrodeDelougaz.
Vitória mudou levemente de cor e resolveu parafrasear asuaerudiçãomaiscuidadosamente.Àsvezesoolharinterrogativopelas espessas lentes a fazia sentir-se desconfortável.- disseRichard.
Fareiomelhorquepuder-dissemeigamente.EmpurramostodasastarefasaborrecidasparavocêVitóriasorriu.Na realidade, as suasatividadesdurante osúltimos cinco
dias a surpreenderam bastante. Ela tinha revelado chapas comágua filtrada por algodão e à luz de uma lanterna escuraprimitiva,contendoumavelaquesempreseapagavanomomentomais crucial. A mesa da câmara escura era um caixote e paratrabalhartinhaqueagachar-seouajoelhar-se-aprópriacâmaraescura sendo, como Richard tinha comentado, um modelomoderno do Pequeno Conforto medieval. Haveria maisamenidades nas temporadas vindouras, conforme o Dr.PauncefootJones lheassegurava-masnomomento,cadapeneera necessário para pagar os trabalhadores e conseguir
resultados.Os cestos de cerâmica quebrada primeiramente tinham
despertado a sua troça espantada (embora ela tivesse sidocuidadosaparanãomostrá-la).Todosessespedaçosquebradosdecoisasrudes-paraqueserviameles.
Em seguida, quando encontrava junções, enfiava-as epunha-as em caixas de areia, começou a tomar interesse.Aprendeu a reconhecer formas e mesmo períodos. E entãofinalmente chegoua experimentar e reconstruir em suaprópriamenteexatamentecomoeparaquefinalidadeessesvasostinhamsido usados há uns três mil anos. Na pequena área na qualalgumas casas particulares de baixa qualidade tinham sidoescavadas, ela imaginava as casas como originalmente tinhamexistido e as pessoas que nelas tinham vivido com suasnecessidades, suas possessões e ocupações, suas esperanças eseus temores. Já que Vitória tinha uma vívida imaginação, umretrato surgia com bastante facilidade em sua mente. Um dia,quandoumpequenopotedebarrofoiachado, incrustadonumaparede com umameia dúzia de brincos de ouro nele, ela ficouenfeitiçada. Provavelmente o dote de uma filha, Richard Bakertinhadito,sorrindo.
Recipientes cheios de cereais, brincos de ouro guardadospara um dote, agulhas de osso, moinhos de mão, almofarizes,pequenasfiguraseamuletos.Todaavidaeesperançasetemoresdodia-a-diadeumacomunidadedegentesimplesdesimportante.
Éissoqueeuachotãoexcitante-disseVitóriaaRichard.-Vocêvê,eusemprecostumavapensarquearqueologiaeraapenasPalácios e Túmulos Reais. Reis na Babilônia - acrescentou elacom um pequeno sorriso estranho. - Mas o que gosto tanto arespeito de tudo isso é que são a gente ordinária de todo dia...gentecomoeu.MeuSanto
Antônio que encontra as coisas para mim quando asperco...eumporquinhodeporcelanadesortequetenho..eumabaciademisturamuitobonita,azuldentroebrancaporfora,naqualeucostumavafazerbolos.Quebrou-seeanovaquecompreinãoeranemumpoucoparecida.Possocompreendercomoessagente consertava suas cuias ou recipientes favoritos tãocuidadosamente com betume. A vida na realidade é toda amesma,nãoé...naqueletempoouhoje?
Ela estava pensando nessas coisas quando observava osvisitantes subindo pelo lado do Tell. Richard foi paracumprimentá-los,Vitóriaseguindoatrásdele.
Havia dois franceses, interessados em arqueologia, queestavam fazendo uma excursão pela Síria e pelo Iraque. Depoisdoscumprimentos,Vitóriaoslevoupelasescavações,recitandoàmaneira de papagaio o que estava acontecendo, mas sendoincapaz de resistir, sendo Vitória, de acrescentar diversosembelezamentos próprios, apenas, como dizia para si mesma,paratorná-lomaisexcitante.
Ela notou que o segundo homem era de uma cor muitoruimequeelesearrastavaporaísemmuitointeresse.Logodissequeseamademoiselleodesculpasseelevoltariaparaacasa.Elenãose tinhasentidobemdesdecedopelamanhãeosolestavafazendo-osentir-sepior.
ElepartiunadireçãodaCasadaExpediçãoeooutro,emtonsadequadamenteabaixados,explicouque,infelizmente,eraoestômagodele.ABarrigadeBagdá,eraquechamavamaisso,nãoera?Elenarealidadenãodeviatersaídonestedia.
O circuito estava completo, o francês ficou conversandocom Vitória, finalmente foi dado o toque de reunir e o Dr.Pauncefoot:Jones,comardeterminadodehospitalidade,sugeriuqueoshóspedestomassemcháantesdepartirem.
Aisso,porém,ofrancêshesitou.Elesnãodeveriamatrasarsua partida até que estivesse escuro, ou nunca encontrariam ocaminho.RichardBakerdissequeissoestavabemcerto.Oamigodoentefoireconduzidodacasaeocarroafastou-senavelocidademáxima.
- Suponho que isso é apenas o começo - grunhiu o Dr.Pauncefoot,Jones.-Vamostervisitantetododiaagora.
Tomou um grande pedaço de pão árabe e cobriu-ogenerosamente com geleia de abricó,* Richard foi para o seuquartodepoisdochá.TinhacartaspararespondereoutrasparaescreverempreparaçãoparaaidaaBagdánodiaseguinte.
Subitamentefranziuatesta.Nãosendohomemdeespecialorganização para um aspecto exterior, no entanto tinha umamaneiradearrumarsuas roupaseseuspapéisquenãovariavanunca.Agoraviaimediatamentequetodasasgavetastinhamsidomexidas.Nãoeramoscriados,dissoele tinhacerteza.Devia ter
sidoentãoovisitantedoente,quetinhaachadoumpretextoparair à casa, tinha friamente esquadrinhado seus pertences. Nadaestava faltando, ele assegurou-se disso. Seu dinheiro não tinhasidotocado.Oque,então,tinhaeleprocurado?Seurostotornou-sesérioquandopensavanasimplicações.
Ele foi à ala das antiguidades e olhou para a gaveta quecontinhaosseloseasimpressõesdosselos.Deuumsorrisoferoz-nadatinhasidotocadoouretirado.Foiparaasaladeestar.ODr. Pauncefoot estava no pátio com o capataz. Somente Vitóriaestavaali,enroscadacomumlivro.
Richarddissesempreâmbulo:-Alguémesteverevistandoomeuquarto.-Masporquê?Equem?-Nãofoi:você?-Eu! -Vitóriaestava indignada. -Claroquenão.Porque
deveriaeuxeretarassuascoisas?Lançou-lheumolharduro.Emseguidadisse:-Deve tersidoaquelemalditoestranho.aqueleque fingiu
dedoenteeveioparaacasa.-Rouboualgumacoisa?-Não-disseRichard.-Nadafoitirado.-Masporqueentãoalguémiria...Richardatalhouparadizer:-Penseiquevocêpoderiasaber.-Eu?- Bem, pelo que você mesmo conta, coisas bastante
estranhastêmacontecidoavocê.-Oh, isso... sim. - Vitória parecia assaz espantada.Disse
lentamente. -Mas não sei por que iriam revistar o seu quarto.Vocênadatemquevercom...
-Comquê?Vitórianão respondeuporumoudoismomentos.Parecia
perdidaempensamento.-Sintomuito -dissepor fim.Que foi que vocêdisse?Eu
nãoestavaescutando.Richard não repetiu a sua pergunta. Em lugar disso
perguntou.:-Queequevocêestálendo?Vitóriafezumaligeiracareta:
-Vocênãotemgrandeescolhadeficçãoleveaqui.ContodeDuasCidades,Orgulho e Preconceito eOMoinhonoFloss.EuestavalendooContodeDuasCidades.
-Nuncatinhalidoantes?-Nunca,semprepenseiqueDickensseriatedioso.-Queideia!-Estouachandobastanteemocionante.-Ondeéquevocêestá?-olhousobreseuombroeleu:-"EastricoteirascontaramUm".-Euachoqueelaémuitoassustadora-disseVitória.- Madame Defarge? Sim, um tipo bom. Embora se você
podia guardar um registro de nomes em tricotagem sempremepareceu um tanto duvidoso. Mas, naturalmente, eu não soutricoteira.
-Oh,euachoqueseriapossível -disseVitória,pensandono assunto. - Reto e enrolado... e pontos fantasia... e o pontoerrado com intervalos. Sim, poderia ser feito... Camuflado,naturalmente, de modo que pareceria obra de alguém bastanteruimemtricôequecometiaenganos...
Subitamente com a intensidade de um relâmpago, duascoisas se juntaram em sua mente e afetaram-na com a forçaduma explosão. Um nome... e uma memória visual. O homemcomolençotricotadoàmão,vermelhoeesfarrapadoagarradoemsuasmãos - o lenço que tinha apressadamente apanhadomaistardeejogadonumagaveta.Ejuntocomissoumnome.Defarge-nãoLefarge-Defarge,MadameDefarge.
Foi chamada a si quando Richard lhe perguntoucortesmente:
-Estáacontecendoalgumacoisa?-Não...não,istoé.Acabeidepensaremalgo.-Estou vendo -Richard levantouas sobrancelhasdo seu
modomaispedante.Amanhã, pensava Vitória, eles iriam todos a Bagdá.
Amanhã a espera dela estaria terminada. Por mais de umasemanaelatinhatidosegurança,paz,tempoparareorganizar-se.E ela tinha-se divertido neste tempo - tinha-se divertidoenormemente.Talvezeusejacovarde,pensouVitória,talvezsejaisso.Elatinhafaladoalegrementesobreaventura,masnãotinhagostadomuitoquandorealmenteveio.Tinhaodiadoaquela luta
contraoclorofórmioealentasufocaçãoetinhaestadoassustada,terrivelmente assustada naquele aposento superior, quando oárabeesfarrapadotinhadito"Bukra".
E agora tinha que voltar a tudo isso. Porque ela eraempregada do Sr. Dakin e paga pelo Sr. Dakin e tinha quemerecer seu,pagamento e apresentar uma fachada corajosa!TalvezmesmotivessequevoltaraoRamodeOliveira.Tremeuumpouco quando pensou no Dr. Rathbone e naquele seu olharescuroeperscrutador.Eleatinhaprevenido...
Mas talvez não precisasse voltar. Talvez o Sr. Dakindissessequeeramelhornãovoltar-agoraquesabiamarespeitodela.Maselatinhaquevoltaràsuamoradiaeapanharascoisasdela,porque,jogadodesatentamenteemsuamala,estavaolençovermelho tricotado... Ela havia empacotado tudo em malasquando saiu paraBasrah.Uma vez que tivesse colocado aquelelenço nas mãos do Sr. Dakin, talvez a sua tarefa estivessecumprida. Ele talvez lhe dissesse, como nos filmes: Oh, bomtrabalho,Vitória.
LevantouoolhareencontrouRichardBakerobservando-a.- Aliás - disse ele. - Você será capaz de apanhar seu
passaporteamanhã?Vitóriapensousobreaposição.Eracaracterísticodaparte
delaqueaindanão tinhadefinido seuplanodeaçãonoque sereferiaàExpedição.DesdequeaverdadeiraVerônica(ouVenetia)estaria em breve chegando da Inglaterra, uma retirada em boaordem era necessária. Mas se ela meramente desapareceria ouconfessaria a sua decepção com desculpas adequadas, ou narealidadeoquepretendia fazer,aindanãose tinhaapresentadocomoumproblemaaserresolvido.Vitóriaestavasempredispostaa adotar a atitude à moda de Micawber de que Alguma CoisaApareceria.
-Bemdisseelacontemporizando.-Nãotenhocerteza.- É preciso, sabe, para a polícia deste distrito - explicou
Richard.-Elestomamnotadoseunúmeroeseunomeeidadeesinais especiais etc., todos os etceteras. Como não temos opassaporte, devemos pelomenosmandar seu nome e descriçãoparaeles.Porfalarnisso,qualéseuúltimonome?EusempreachameiVitória.
Vitóriarecompôs-sevalentemente.
- Ora vamos - disse ela. Você sabemeu último nome tãobemquantoeu.
-IssonãoébemverdadedisseRichard.Seusorrisocurvou-separacimacomumaindicaçãodecrueldade.-Euseiseuúltimonome.Achoqueevocêquenãosabe.
Pordetrásdaslentesosolhosaespreitavam.-Claroqueseimeupróprionome-retrucouVitória.-Entãovoudesafiá-laadizer-nosagora.Suavozrepentinamenteeraduraelacônica.-Nãoadiantamentir -disse ele. -O jogo está terminado.
Você tem sido muito esperta a respeito de tudo. Você temprocurado ler sobre o seu assunto, tem demonstrado pedaçosreveladoresdesabedoriae...maséotipodeimposturaquenãosepodeaguentarmuitotempo.Tenho feitoarmadilhasparavocêevocê caiu nelas. Tenho citado trechos de completas bobagens evocê os aceitou - pausou. - Você não é Venetia Savile. Quem évocê?
-Eu lheconteiaprimeiravezquenosencontramosdisseVitória.-SouVitóriaJones.
-AsobrinhadoDr.PauncefootJones?-Nãosousobrinhadele...masmeunomeéJones.-Vocêmecontouummontedeoutrascoisas.-Sim,contei.Eeramtodasverdade!Maseupudeverque
nãomeacreditava.E issomedeixou furiosa,porqueemboraeuconte mentiras algumas vezes... na realidade bemfrequentemente...oqueacabeidedizeravocênãoeramentira.Eassim, apenas para tornar-me mais convincente, eu disse quemeu nome era Pauncefoot Jones... disse isso antes por aqui esempre tem sidomuito bemaceito.Como eu poderia saber quevocêestavavindorealmenteparaestelugar.
-Deve tersidoum ligeirochoqueparavocêdisseRichardferozmente.-Vocêaguentoumuitobem,frescacomoumpepino.
-Nãopordentro-disseVitória-euestavaabsolutamentetrêmula.Maseusentique,seeuesperasseparaexplicarquandochegasseaqui...bem,dequalquerformaeuestariasegura.
-Segura?-elepensousobreapalavra.-Olheaqui,Vitória,aquela lenga-lenga incrível que você me *contou sobre sercloroformizadaerarealmenteverdade?
- Claro que era verdade! Você não vê, se eu quisesse
inventar uma história poderia inventar uma muito melhor econtá-laaindamelhor!
-Conhecendo-aumpouquinhomelhoragora,possoveropeso que isso tem!Mas você precisa concordar que, a primeiravista,ahistóriaeracompletamenteimprovável.
-Masvocêestádispostoapensaragoraqueépossível.Porquê?
Richarddisselentamente:- Porque, se você, comodiz, estava envolvidanamortede
Carmichael...bem,entãopodeserverdade.-Foicomissoquetudocomeçou-disseVitória.-Émelhorquevocêmecontesobreisso.Vitóriafixou-omuitoduramente.-Estoupensando-disse
ela-sepossoconfiaremvocê.-Osapatoestánooutropé!Vocêsedacontadequetenho
tidogravessuspeitasdequevocêseplantouaquicomumnomefalsoparaconseguirinformaçõesdemim?Etalvezsejaissooquevocêestáfazendo.
-QuerdizerquevocêsabealgosobreCarmichaelqueelesgostariamdesaber?
-Quemexatamentesãoeles?-Tereiquecontar-lhetudosobreisso-disseVitória.Não há outromeio... e se você é um deles, então você já
sabedetudo,demodoquenãotemimportância.Contou-lhe da noite da morte de Carmichael, de sua
entrevista com o Sr. Dakin, de sua viagem a -Basrah, seuempregonoRamodeOliveira,dahostilidadedeCatarina,doDr.Rathboneeseuavisoedoresultadofinal, incluindodestavezoenigma do cabelo tingido. As únicas coisas que deixou demencionarforamolençovermelhoeMadameDefarge.
-Dr.Rathbone? -Richardagarrouodetalhe. -Vocêachaque ele está metido nisso? Por trás disso? Mas minha carapequena, ele é um homem muito importante. É conhecido nomundotodo.Contribuiçõestêmvindodetodasaspartesdogloboparaseusprojetos.
- Ele não teria que ser todas essas coisas? - perguntouVitória.
-Eusempreoconsidereiumasnopomposo-disseRichardpensativamente.
-Eissotambémémuitoboacamuflagem.-Sim,sim...creioqueé.QuemeraLefargesobrequemvocê
meperguntou?-Apenasumoutronome-disseVitória.-HáAnaScheele
também-disseela.-AnaScheele?Não,nuncaescuteifalardela.- É importante - disse Vitória. - Mas não sei exatamente
comonemporquê.Estátudotãomisturado.- Diga-me apenas de novo - disse Richard. - Quem é o
homemqueafezcomeçartudoisso?- Edward... Oh, você quer dizer o Sr. Dakin. Está
trabalhandocompetróleo,pensoeu.- Ele é um camarada curvado, cansado, de aspecto
extremamentevago?-Sim,masnarealidadeelenãoé...Vago,querodizer.-Elenãobebe?-Aspessoasdizemisso,maseunãoacredito.Richardrecostou-seeolhou-a:- Phillips Oppenheim, William Le Queux e diversos
imitadoresdistintosdesdeentão?Issoseráreal?Seráquevocêéreal?Evocêseráaheroínaperseguidaouamalvadaaventureira?
Vitóriadissedemaneiraprática:- O grande caso é: o que vamos dizer ao Dr. Pauncefoot
Jonessobremim?- Nada - disse Richard. - Na realidade não vai ser
necessário.
XVIIELES PARTIRAM cedo para Bagdá. O ânimo de Vitória
estava curiosamente baixo. Quase que tinha um aperto nagargantaquandoolhouparatrásparaaCasadaExpedição.Noentantoodesconfortoagudodevidoaossocosmalucosquedavaocaminhão, eficientemente distraíram a sua mente de tudo quenãofosseatorturadomomento.Pareciaestranhoviajaraolongodeumaassimchamadaestradanovamente,passandoburacoseencontrandocaminhões empoeirados.Levoucercade trêshorasaté que chegassem aos arredores de Bagdá. O caminhãodespejou-osnoHotelTioeemseguidaseguiucomocozinheiroeo motorista para fazerem todas as compras necessárias. UmgrandemaçodecartasestavaàesperadoDr.PauncefootJoneseRichard.Marcusapareceurepentinamente,maciçoesorridente,ecumprimentouVitóriacomasuaradiânciaamistosacostumeira.
-Ali-disseele-fazmuitotempoquenãoavia.Vocênãovemparaomeuhotel.Nãoporumasemana,duassemanas.Porqueéisso?Vocêalmoçaaquihoje,vocêtemtudodequeprecisa?Ospintinhos?Ograndebife?Apenasnãooperurecheadocomcondimentosmuitoespeciais earroz,porquepara issovocê temquemeavisarumdiaantes.
Pareciaclaroque,atéondeascoisasserelacionavamcomoHotelTio,oraptodeVitórianãotinasidonotado.PossivelmenteEdward,aosconselhosdoSr.Dakin,nãotinhaidoàpolícia.
- O Sr. Dakin está em Bagdá, você sabe, Marcus?perguntouela.
-OSr.Dakin...ahsim,homemmuitobom...claro,éum
amigoseu.Eleesteveaquiontem...nãoanteontem.EoCapitãoCrosbie, conhece-o?UmamigodoSr.Dakin.Ele chegahojede*Karmanshah.
-SabeondeficaoescritóriodoSr.Dakin?- Claro que sei. Todo mundo conhece a Companhia de
PetróleoIraquiana.- Bem, quero ir lá agora. Num táxi. Mas eu quero estar
seguradequeotáxisaberáondemelevar.-Eumesmodigoaele-disseMarcusobsequiosamente.
Acompanhou-a até a ponta do corredor e gritou da suaforma violenta costumeira. Um servente espantado chegou nacarreira. Marcus ordenou-lhe que conseguisse um táxi. Emseguida Vitória foi acompanhada ao táxi eMarcus falou com omotorista.Emseguidadeuumpassoatráseagitouamão.
-Equeroumquarto-disseVitória.-Possoconseguirum?- Sim, sim. Eu lhe dou um quartomaravilhoso emando
fazer o grandebife ehoje eu tenho...muito especial... caviar.Eantesdissovamostomarumpequenotrago.
- Adorável - disse Vitória. - Oh, Marcus, você podeemprestar-mealgumdinheiro?
-Claro,meubem.Aquiestá.Tirequantovocêquiser.O taxi partiu com uma buzinada violenta e Vitória caiu
paratrássobreoassento,agarradanumsortimentodemoedasenotas.
CincominutosmaistardeVitóriaentravanosescritóriosdaCompanhiadePetróleoIraquianaeperguntoupeloSr.Dakin.
O Sr. Dakin levantou o olhar da escrivaninha em queestava sentado, quando Vitória foi feita entrar. Levantou-se eapertouasmãosdeladeumamaneiraformal.
-Srta...er...Srta.Jones,nãoé?Tragacafé,Abdullah.Quando a porta a prova de som se fechou por trás do
empregado,eledissecalmamente:-Vocênaverdadenãodeveriaviraqui,sabe.-Desta vez eu tive - disseVitória. -Há alguma coisa que
tenho que lhe contar imediatamente... antes que mais algumacoisameaconteça.
-Aconteçaavocê?Algoaconteceuavocê?-Nãosabe?-perguntouVitória.-Edwardnãolhecontou?-Atéondeeusei,vocêaindaestátrabalhandonoRamode
Oliveira.Ninguémmecontoucoisaalguma.-Catarina-exclamouVitória.-Como,porfavor?-AquelagatadaCatarina!ApostoqueencheuEdwardcom
algumahistóriaououtraeopalermaacreditounela.-Bem,deixeouvirarespeito-disseoSr.Dakin.Eu...sepossodizer isso -seusolhos foramdiscretamente
paraacabeçalouradeVitóriaeuaprefirocomomorena.-IssoeapenaspartedotododisseVitória.Houve uma batida na porta e o mensageiro entrou com
duas pequenas xícaras de café doce. Quando ele foi embora,Dakindisse:
-Agorafiquedescansadaemecontetudo.Nãonospodemescutaraqui.
Vitória mergulhou na história de suas aventuras. Comosempre, quando estava falando com Dakin, ela conseguiu sertantocoerentequantoconcisa.Terminouasuahistóriacomumrelatodo lenço vermelhoqueCarmichael tinhadeixado cair e aassociaçãodelecomMadameDefarge.
EmseguidaolhouansiosamenteparaDakin.Ele lhe tinha parecido, quando entrara, estar aindamais
curvado e cansado. Agora viu um novo brilho entrar em seusolhos.
-EudeverialerDickenscommaisfrequência-disseele.- Então você pensa que eu estou certa? Acha que foi
Defargequeeledisse-evocêpensaquealgumamensagemestavatricotadanolenço?
-Penso-disseDakin-queestaéaprimeiraoportunidaderealquetivemos...etemosqueagradeceravocêpor isso.Masacoisaimportanteéolenço.Ondeestá?
-Com todo o resto dasminhas coisas. Eu o enfiei numagavetanaquelanoite-equandoempacotei,lembro-medeterfeitoumatrouxadetudosemselecionarousepararcoisaalguma.
-Evocênuncachegouamencionaraquemquerquesejamesmo...queaquelelençopertenciaaCarmichael?
- Não, porque tinha esquecido tudo a respeito dele. E oenfiei numa mala com algumas outras coisas quando fui paraBasrahenuncamaisabriamaladesdeentão.
-Entãodeveestaremordem.Mesmosetiveremrevistadoassuascoisas,nãoterãodadoimportânciaalgumaaumlençodelãvelho e sujo... a não ser que lhes tivessem chamado a atençãoparaisso,oque,atéondepossover,éimpossível.Tudoquetemosquefazeragoraéterassuascoisasapanhadasemandadasparavocê...aliás,vocêtemalgumlugarparaficar?
-TomeiumquartonoTio.Dakinassentiu.
Melhorlugarparavocê.Eu tenhoque... você quer que eu... volte para oRamode
Oliveira?Dakinolhouparaelainteressado.-Commedo?Vitóriaavançouoqueixo.-Não-disseelacomdesafio-euvousevocêquiser.-Nãoachoquesejanecessário...oumesmointeligente.Seja
comoforquedescobriram,alguémalifarejouassuasatividades.Sendo assim, você não seria capaz de descobrir mais nada, demodoqueserámelhorficaraolargo.
Elesorriu.-Deoutra formavocêpode teracabeçaruivadapróxima
vezqueaencontrar.- Issoéoquequerosabermaisde tudo -gritouVitória. -
Por que tingirammeu cabelo. Tenho pensado e pensado e nãopossoverqualquerrazãoparaisso.Vocêpode?
-Apenasarazãoumtantodesagradáveldequeseucorpomortoseriamenosfácildeidentificar.
-Masseelesqueriamqueeufosseumcadáver,porquenãomemataramlogo?
- Essa é uma pergunta muito interessante, Vitória. É aperguntaqueeugostariadeverrespondidaantesdetodas.
-Enãotemnenhumaideia?- Não tenho nenhuma pista - disse o Sr. Dakin com um
sorrisoapagado.-Falandodepistas-disseVitória- lembraqueeu disse que havia alguma coisa sobre Sir Rupert Crofton Lee,quenãopareciacerto,naquelamanhãnoTio?
-Sim.Nãooconheciapessoalmente,nãoé?,Não,eunãootinhaencontradoantes,não.Pensei que não. Porque, você vê, ele não era Sir Rupert
CroftonLee.E mais uma vez ela mergulhou em narrativa animada,
começandocomo furúnculonascentenas costasdopescoçodeSirRupert.
- Então foi assim que foi feito - disseDakin. - Não podiaconceber como Carmichael podia estar suficientemente fora deguardaparasermortonaquelanoite.Elechegouseguramentea
Crofton Lee... e Crofton Lee: o esfaqueou, mas ele conseguiuescapare irrompeunoseuquartoantesdedesmoronar.E ficouagarradoaolenço...literalmentecomamorteferoz.
- Pensa que é porque eu vinha contar-lhe isso que lheraptaram?Masninguémsabia,excetoEdward.
- Acho que eles sentiram que tinham que tirá-la de cenaràpidamente. Você estava tropeçando com coisas demais queestavamacontecendonoRamodeOliveira.
-ODr.Rathbonemepreveniu - disseVitória. -Eramaisumaameaçaqueumaviso.Achoqueelesederacontadequeeunãoeraoquefingiaser.
-Rathbone-disseDakinsecamente-nãoétrouxa.-Estoucontentepornãoterquevoltarlá-disseVitória.-
Fingi ser corajosa agora mesmo.. mas na realidade, estou commedo.
-SeeunãoforaoRamodeOliveira,comoéquepossoencontrarEdward.-Dakinsorriu.SeMohammednãoquerviràmontanha,amontanhatem
que ir aMohammed. Escreva-lhe uma nota agora. Apenas digaqueestánoTioepeça-lheparaapanharsuasroupasepertencese trazê-los para lá. Vou consultar o Dr. Rathbone esta manhãsobreumadesuasnoitadasdeClube.Seráfácilparamimpassaruma nota ao seu secretário... assim não haverá perigo da suainimigaCatarinafazê-ladesaparecer.Quantoavocê,volteparaoTioefiquelá...e,Vitória..
-Sim?-Vocêestánumaembrulhada...dealgumaespécie.Façao
melhorquepuderparasimesma.Tantoquantopossívelvocêserávigiada, mas seus adversários são extremamente audaciosos einfelizmentevocêsabeumbocado.Umavezqueasuabagagemesteja no Hotel Tio, suas obrigações para comigo terminaram.Compreendaisso.
-VoltodiretamenteparaoTioagora-disseVitória.Pelomenosvoucomprarapenasalgumpó facial,batome
cremeevanescentenocaminho.Afinaldecontas...- Afinal de contas - disse o Sr. Dakin - não se pode
encontrarojovemdealguémcompletamentedesarmada.-NãoimportavatantocomRichardBaker,maseugostaria
de que ele soubesse que posso parecer bastante bem, quandotento-disseVitória.
-MasEdward...
XVIII-Comocabelolourocuidadosamentearrumado,seunariz
empoadoeoslábioscompinturanova,VitóriaestavasentadanoterraçodoTio,maisumaveznopapeldeumaJulietamodernaesperandoporRomeu.
E no devido tempo Romeu veio. Apareceu no gramadoolhandoparacáeparalá.
-Edward-disseVitória.Edwardolhouparacima.-Oh,aíestávocê.Vitória...-Subaaqui.-Jávou.Um momento mais tarde veio para o balcão que estava
deserto.-Émaiscalmoaquiemcima-disseVitória.-Vamoslogo
desceredeixarMarcusnosdarbebidas.Edwardestavaolhando-aperplexamente.-Diga,Vitória,vocênãofezalgumacoisacomoseucabelo?Vitóriasoltouumsuspiroexasperado.- Se alguém mais mencionar cabelos para mim, eu
realmenteachoquevoudar-lheumapancadanacabeça.-Achoquegostavamaisdelecomoera-disseEdward.-DigaissoaCatarina!-Catarina?Queéqueelatemquevercomisso?- Tudo - disse Vitória. - Você me disse para ficar
camaradinhadelaefoioquefizeachoquevocênãofazamínimaideianoqueissomemeteu!
-Ondefoiquevocêestevetodoestetempo,Vitória?Estavaficandobastantepreocupado.
-Oh,sim,estava,nãoé?Ondevocêpensaqueestive?-Bem,Catarinamedeuasuamensagem.Dissequevocê
lhe contou que tinha que ir a Mossul subitamente. Era algomuito importante e boas novas eu ouviria de você no devidotempo.
- E você acreditou nisso? - perguntou Vitória numa vozquasequecondoída.
-Penseiquevocêtinhatopadocomapistadealgumacoisa.
NaturalmentevocênãopoderiadizermuitoaCatarina...-Não lheocorreuqueCatarinaestavamentindoequeeu
tinhalevadoumapancadanacabeça.-Oquê?-Edwardfixou-a.-Dopada,cloroformizada...mortadefome...Edwardpassouumolharperscrutadoremvolta.-Nossa!Eununcasonhei - olheaqui,nãogostode estar
falandoaqui.Todasessasjanelas.Nãopodemosiraoseuquarto?-Muitobem.Vocêtrouxeaminhabagagem?-Sim,despejeitudocomoporteiro.- Porque quando alguém não mudou de vestido durante
umaquinzena...-Vitória,quetemestadoaacontecer?Eusei-tenhocarro
aqui.VamosparaDevonshire.Vocênuncaestevelá,nãoé?-Devonshire?-Vitóriaolhousurpresa.- Oh, é apenas um nome para um lugar não longe de
Bagdá.Ébastanteagradávelnestapartedoano.Vamos.Nãotivevocêparamimháanos.
-NãodesdeaBabilônia.MasquedirãooDr.RathboneeoRamodeOliveira?.
-AodiabooDr.Rathbone.Estoucheiodaquelevelhoasnodequalquerjeito.
Correram escadas abaixo e para fora, onde o carro deEdward estava estacionado. Edward dirigiu para o sul,atravessandoBagdáporumaavenidacomprida.Emseguidasaiuda avenida; saltitavam e esgueiravam-se por palmeiras e sobrepontes de irrigação. Finalmente, com estranha surpresa,chegaram a um bosque de arbustos rodeado e atravessado porcanais de irrigação. As árvores do bosque, em sua maioria deamêndoas e abricó, estavam justamente começando a florescer.Era um lugar idílico. Atrás do bosque, a pequena distância,estavaoTigre.
Saíramdocarroeandaramjuntospelasárvoresemflor.-Isto aqui é lindo - disseVitória suspirando profundamente. - ÉcomoestardevoltaàInglaterranaprimavera.
O ar estava suave e quente. Logo sentaram-se sobre umtroncodeárvorecaídacomflorescor-de-rosadependuradassobresuascabeças.
- Agora, querida - disse Edward. - Conte- me o que tem
estadoaacontecercomvocê.Eumesentitãohorrivelmentemal.-Realmente?-elasorriusonhadora.Em seguida lhe contou. Da cabeleireira. Do cheiro de
clorofórmioedasualuta.Deacordardopadaedoente.DoqueelatinhaescapadoedeseuencontroafortunadocomRichardBakere como tinha alegado ser Vitória Pauncefoot Jones em seucaminhoparaaescavaçãoecomoquasequemiraculosamenteelahaviamantidoopapeldeumaestudantedearqueologiachegadadaInglaterra.
NestepontoEdwardberrouderir.- Você é maravilhosa, Vitória! As coisas em que você
pensa...einventa.-Eusei-disseVitória.-Meustios:oDr.PauncefootJones
eantesdele...oBispo.E nisso ela subitamente lembrou o que era que tinha
queridoperguntaraEdwardemBasrah,quandoaSra.Claytonostinhainterrompidochamando-osparaasbebidas.
- Eu queria perguntar-lhe antes - disse ela. - Como vocêsabiaarespeitodobispo?
Sentiu enrijecer amão que segurava a sua, subitamente.Eledisserapidamente,rapidamentedemais:
-Ora,vocêmecontou,nãofoi?Vitóriaolhouparaele.Estranho,pensavadepois, queum
pequenodeslizeinfantilpudesseterconseguidooqueconseguiu.Poisele foi tomadocompletamentedesurpresa.Nãotinha
históriapreparada-sua faceestavasubitamente indefesaesemmáscara.
Eaoolharparaele,tudosemovimentou,mudoudelugarefirmou-senumdesenho,exatamentecomoumcalidoscópioeelaviu a verdade. Talveznão fosse realmente súbito. Talvezno seusubconscienteestapergunta:ComoEdwardsabiasobreobispo?tinha estado amofinando e perturbando e tinha chegadolentamente à resposta única, inevitável... Edward não tinhasabido acerca do Bispo de Llangow por intermédio dela e asoutrasúnicaspessoaspelasquaispodiatersabidoteriamsidooSr. ou a Sra. Hamilton Clipp. Mas eles não poderiam ter vistoEdwarddesdeasuachegadaaBagdá,poisEdwardtinhaentãoestadoemBasrah,demodoquetinhaquetersabidodelesantesmesmodeeleterdeixadoaInglaterra.Eledeviatersabidoentãoo
tempo todo que Vitória estava vindo com eles - e toda acoincidência maravilhosa não era, no final de contas, umacoincidência.Eraplanejadaeintencional...
E quando olhou a face desmascarada de Edward, elasubitamente sabia o que Carmichael tinha querido dizer comLucifer. Sabia o que tinha visto naquele dia, quando olhava aolongo do passeio para o jardim do Consulado. Ele tinha vistoaquela face jovemebonitaàqualelaestavaolhandoagorapoiseraumafacebonita...
Oh,Lucifer,FilhodaManhã,comocaíste?Não o Dr. Rathbone - Edward! Edward, desempenhando
um papel menos importante, - papel de um secretário, mascontrolando e planejando e dirigindo, usando Rathbone comouma figura de proa - e Rathbone avisando-a para ir emboraenquantopodia...
Quandoolhouparaesterostolindamentemau,todooseuamordebezerra adolescente e estúpidadesapareceu e ela sabiaqueoquesentiraporEdwardnuncatinhasidoamor.Tinhasidoomesmosentimentoquetinhaexperimentadoalgunsanosantespor Humphrey Bogart emais tarde pelo Duque de Edimburgo.Tinha sido atração ilusória. E Edward nunca a amara. Tinhaexercido seu encanto e seu feitiço deliberadamente. Tinha-aapanhado naquele dia, usando seu encanto tão facilmente, tãonaturalmente que ela havia caído por ele sem uma luta. Tinhasidoumatrouxa.
Eraextraordinárioquantopodiarelampejarpelasuamenteem apenas alguns segundos. Não era preciso pensar ospensamentos até o fim. Vinham simplesmente. Conhecimentointegraleinstantâneo.Talvezporquerealmente,noíntimo,vocêotinhasabidootempotodo...
E ao mesmo tempo algum instinto de autopreservação,rápido, como eram rápidos os processos mentais de Vitória,conservou seu rosto numa expressão de admiração. boba,impensante. Pois ela sabia, instintivamente, que estava emgrande perigo. Havia apenas uma coisa que poderia salvá-la,apenasumacartaquepoderiajogar.Elaapressou-seajogá-la.
-Vocêsabiaotempotodo!.-disseela.-Vocêsabiaqueeuestavavindoparacá.Vocêdeveterarrumado isso.Oh,Edward,vocêémaravilhoso!
Seu rosto, esse rosto plástico, impressionável, mostravaapenasumaemoção-umaadoraçãoquasesaturada.Eelaviuareação - o sorriso levemente escarnecedor, o alívio. Ela podiaquasesentirEdwarddizerparasimesmo:"Pequenaestúpida!Elaécapazdeengolirtudo!Possofazercomelaoquequiser."
-Mascomofoiquevocêarranjouisso?-perguntou.Vocêdevesermuitopoderoso.Vocêdeveserbemdiferente
daquiloquevocêfingeser.Você...écomodisseooutrodia...vocêéumReinaBabilônia.
Elaviuoorgulhoqueiluminavaaquelerosto.Viuopodereaforçaeabelezaecrueldadequetinhamestadodisfarçadospordetrásdafachadadeumjovemmodestoeamável.
Eeusouapenasumaescravacristã-pensouVitória.Disserápidaeansiosamente,como toqueartístico final (equanto issocustou ao seu orgulho nunca ninguém saberá). -Mas vocêmeama,nãoé?
Seuescárniodificilmentepoderiaserescondidoagora.Essapequenaboba - todas essas trouxasmulheres!Tão fácil fazê-laspensar que você as amava e era tudo que lhes importava! Nãotinham concepção da grandeza de construção de um mundonovo, apenas ganiampor amor! Eram escravas e você as usavacomoescravasparafavorecerasuafinalidade.
-Naturalmentequeaamo-disseele.-Masacercadequeétudoisso?Conte-meEdwardFaça-me
compreender.- É um mundo novo, Vitória. Um mundo novo que se
erguerádosdetritosedascinzasdovelho.-Conte-me.Elecontou-lhee,adespeitodesimesma,elaquasequefoi
arrastada, arrastada para um sonho. As velhas coisas ruinstinhamquedestruirumasasoutras.Tinhaquehaverguerratotal- destruição total.E emseguida - onovo céu e anova terra.Opequeno bando escolhido de seres superiores, os cientistas, osperitosagrícolas,osadministradores -os jovenscomoEdward -os jovens Siegfrieds do Novo Mundo. Todos jovens, todosacreditando em seu destino como Super-homens. Quando adestruição tivesse tomado seu curso, eles entrariam eassumiriam.
Eraloucura-maseraloucuraconstrutiva.Eraaespéciede
coisa que num mundo, esfacelado e em desintegração, poderiaacontecer.
-Maspense -disseVitória - em todaessagenteque serámortaprimeiro.
- Você não compreende - disse Edward. - Isso não temimportância.
Não tem importância - esse era o credo de Edward. Esubitamente,pornenhumarazão,umalembrançadaquelabaciade cerâmica rude de três mil anos de idade, remendada combetume,relampagueouatravésdamentedeVitória.Certamente,essas eram as coisas que contavam - as pequeninas coisas decadadia,a famíliaparasecozinharparaela,asquatroparedesque circundavam a casa, uma ou duas possessões conservadascomcarinho.Todasasmilharesdepessoasordináriasna terra,tratandodosseusprópriosnegóciosetratandodaterraefazendopotes e criando famílias e chorando e rindo, e levantando-sedemanhãeindoparaacamadenoite.Essaseramaspessoasqueimportavam,nãoessesanjosdecarasmalvadasquequeriamfazerummundonovoequenãoseimportavamaquemferissemparafazê-lo.
E cuidadosamente, tateando seu caminho, pois aqui emDevonshireelasabiaqueamortepoderiaestarmuitoperto, eladisse:
- Você é maravilhoso, Edward. Mas e eu? Que é que eupossofazer?
-Vocêquerajudar?Vocêacreditanisso?Maselaeraprudente.Nenhumaconversãosúbita.Issoteria
sidodemais.-Euachoquesimplesmenteacreditoemvocê!-exclamou.-
Qualquercoisaquevocêmemandarfazer,Edward,eufarei.-Boamenina-disseele.-Porquefoiquevocêarranjouascoisasparaqueeuviesse
paracá,paracomeçar?Deveterhavidoalgumarazão.-Naturalmentequehavia.Lembraquetireiumafotografia
suanaqueledia?-Lembro-disseVitória.(Sua boba, como você ficou lisonjeada, como você sorriu
bobamente!-pensouelaconsigomesma).-Eu tinha ficado impressionado comseuperfil... por sua
semelhança comalguém.Tirei aquela fotografia para assegurar-me.
-Comquemmepareço?- Uma mulher que nos tem dado um bocado de
aborrecimento...AnaScheele.- Ana Scheele - disse Vitória e olhou-o com surpresa
enorme. O que quer que tivesse esperado, não tinha sido isso.Vocêquerdizer...elaseparececomigo?
-Bemnotavelmente,vistade lado.As feiçõesdeperfilsãoquase exatamente as mesmas. E há uma coisa bemextraordinária: você temumamarcazinhabempequenadeumacicatriznoseulábiosuperior,doladoesquerdo.
- Sei. É quando caí de um cavalo de lata quando eracriança.Tinhaumaorelhapontudaecortoubastantefundo.Nãoparecemuito,nãocomopóporcima.
-AnaScheeletemumamarcaexatamentenomesmolugar.Esse foi um ponto extremamente valioso. Vocês são iguais emalturaeconstituição...elaéunsquatrooucincoanosmaisvelhaquevocê.Arealdiferençaéocabelo,vocêémorenaeelaéloura.E seu tipo de penteado é bemdiferente. Seus olhos são deumazulmaisprofundo, irias issonão importariamuito comvidroscoloridos.
-EporissovocêqueriaqueeuviesseparaBagdá?Porquemepareciacomela.
-Sim,penseiqueasemelhançapoderia...viracalhar.-Assimvocêarrumouacoisatoda...OsClipps..quemsão
osClipps?- Eles não são importantes... eles apenas fazem o que se
lhesmanda.Algo no tom de voz de Edward mandou um leve temor
espinha abaixo em Vitória. Era como se ele tivesse dito comdesapegodesumano:"Estãosobobediência."
Havia um sabor religioso acerca desse projeto maluco."Edward", pensava ela, "é seu próprio Deus. Isso é que é tãoassustador."
Emvozaltadisse:- Vocême contou que Ana Scheele era o chefe, a abelha
rainhanoseuespetáculo.
-Eutinhaquelhecontaralgoparatirá-ladapista.Vocêjátinhaaprendidodemais.
EseeunãomeparecessecomAnaScheele,issoteriasidoomeufim-pensouVitória.
Disse,porém:-Queméelarealmente?- É secretária confidencial de Otto Morghanthal, o
banqueiroamericanoeinternacional.Masissonãoésóoqueé.Ela tem o cérebro financeiro mais notável. Temos razão paraacreditarqueelaestánapistadeumaporçãodenossasoperaçõesfinanceiras. Três pessoas têm sido perigosas para nós - RupertCrofton Lee, Carmichael... bem, esses foram ambos apagados.Permanece Ana Scheele. Ela deveria chegar a Bagdá dentro dedoisdias.Nesseínterim,eladesapareceu.
-Desapareceu?Onde?- Em Londres. Desapareceu, aparentemente da face do
mundo.-Eninguémsabeondeelaestá?-Dakinpoderásaber.Mas Dakin não sabia. Vitória sabia isso, embora Edward
nãosoubesse-então,ondeestavaAnaScheele?Elaperguntou:-Vocêrealmentenãotemamenorideia?-Nóstemosumaideia-disseEdwardlentamente.-Bem?- É vital que Ana Scheele esteja aqui em Bagdá para a
Conferência.Essa,comovocêsabe,serádaquiacincodias.-Tãodepressaassim?Eunãotinhaamenorideia.-Temosvigiadocadaentradaparaestepaís.Elacertamente
nãoviráaquicomseupróprionome.Enãoestávindoemaviãodeserviçodogoverno.Temososnossosmeiosparaverificarisso.Demodoqueinvestigamostodasasreservasparticulares.Háumapassagem reservada na BOAC em nome de Grete Harden.Procuramos levantar a pista de Grete Harden e não existe talpessoa. É um nome fictício. O endereço dado é falso. A nossaideiaédequeGreteHardenéAnaScheele.
Acrescentou:-OaviãodelafaráescalaemDamascodepoisdeamanhã:-Edepois?OsolhosdeEdwardolharamsubitamenteparadentrodos
dela.-Issodependedevocê,Vitória.-Demim?-Vocêtomaráolugardela.Vitóriadisselentamente:-ComoRupertCroftonLee?Era quase um sussurro. No curso daquela substituição
Rupert Crofton Lee tinhamorrido. E quando Vitória tomasse olugar dela, presumivelmente Ana Scheele, ou Grete Harden,morreria...Masmesmoqueelanãoconcordasse,aindaassimAnaScheelemorreria.
E Edward estava esperando - e, se por algum momentoEdwardduvidassedalealdadedelaentão,ela,Vitória,morreria-emorreria provavelmente sem a possibilidade de prevenir aqualquerpessoa.
Não,ela tinhaqueconcordareagarrarumaoportunidadederelatartudoaoSr.Dakin.
Mas,suspiroufundamenteedisse:- Eu... eu... oh,mas, Edward, eu não poderia fazê-lo. Eu
seriadescoberta.Eunãopossoimitarumavozamericana.-AnaScheelepraticamentenãotemsotaque.Emqualquer
casovocêestarásofrendodelaringite.Umdosmelhoresmédicosnestapartedomundodiráisso.
Elestêmgenteemtodolugar-pensouVitória.-Queéqueeuteriaquefazer?-perguntou.Voar de Damasco para Bagdá como Grete Harden. Ir
imediatamenteparaacama.Ter licençapara levantar-sedoseumédicodereputaçãojustamenteatempodeirparaaConferência
Lá você lhes apresentará os documentos que você terálevado.
Vitóriaperguntou:-Osdocumentosreais?-Claroquenão.Nóssubstituiremospelanossaversão.-o
queéqueosdocumentosmostrarão?Edwardsorriu.-Detalhesconvincentesdamaisestupendaconspiraçãona
América.Vitóriapensou:Comoplanejaramtudotãobem!
Emvozaltadisse:- Você realmente pensa que eu possa passar com isso,
Edward?Agora que estava desempenhandoumpapel, era bastante
fácilparaVitóriaperguntá-locomtodaaaparênciadesinceridadeansiosa.
-Tenhocertezadequesim.Noteiqueasua interpretaçãode um papel lhe proporciona tanto prazer que é praticamenteimpossívelnãoacreditaremvocê.
Vitóriadissepensativamente:- Aindame sinto uma trouxa enorme quando penso nos
HamiltonClipps.Eleriudeumamaneirasuperior.Vitória, com seu rosto ainda uma máscara de adoração,
pensouconsigomesmavenenosamente:Masvocêtambémfoiumtrouxa enorme tendo deixado escapar aquilo sobre o Bispo emBasrah.Sevocênãootivessefeito,eununcateriavistoatravésdevocê.
Elafalousubitamente:-EsobreoDr.Rathbone?-Queéquevocêquerdizercom"esobreele"?-Eleéapenasumafiguradeproa?OslábiosdeEdwardsecurvaramemdivertimentocruel.-
Rathbonetemqueconformar-secomaorientação.Sabeoqueeletemestadoafazertodosessesanos?Espertamenteapropriando-sedecercadetrêsquartosdascontribuiçõesquevêmdetodasaspartes do mundo, para seus próprios usos. É a vigarice maisespertadesdeotempodeHoratioBottomley.
Oh,sim,Rathboneestácompletamenteemnossasmãos...
nósopodemosexporaqualquermomentoeelesabedisso.Vitóriasentiuumasúbitagratidãopelovelhodatestaalta
abaulada e a alma mesquinha aquisitiva. Ele podia ser umvigarista-mastinhaconhecidoapiedade-tinhatentadofazê-laescaparatempo.
-Todasascoisastrabalhamemdireçãoànossanovaordem-disseEdward.
Elapensouparasimesma:Edward,queparecetãosão,narealidade está maluco! Talvez que se fique maluco quando se
experimentar fazer o papel de Deus. Dizem sempre que ahumildadeéumavirtudecristã-agoraseiporquê.Humildadeéoquelheconservasãoeumserhumano...
Edwardlevantou-se.-Horadeirandando-disseele.-Temosquefazê-lachegar
aDamascoenossosplanosalirealizadosdepoisdeamanhã.Vitória levantou-se comalacridade.Uma vez que estivesse
longe deDevonshire, de volta a Bagdá com suasmultidões, noHotel Tio, comMarcus gritando, sorrindo e lhe oferecendo umtrago,aameaçapróximaepersistentedeEdwardseriaremovida.Seu papel era continuar fazendo jogo duplo - continuar aenganar Edward por uma devoção doentia, canina e contrariarsecretamenteosseusplanos.
Eladisse:-VocêpensaqueoSr.DakinsabeondeestáAnaScheele?
Talvezeupossadescobririsso.Elepoderádeixarescaparalgumapista.
- Improvável... e de qualquer modo, você não verá o Sr.Dakín.
-Elemedisse para ir conversar com ele estanoite -disseVitóriaembusteiramente, comumasensação ligeiramentegélidaatacandosuaespinha.-Eleacharáestranhoseeunãoaparecer.
- Nesta altura não importa o que ele pense - contestouEdward.-Nossosplanosestãofeitos.-Acrescentou:
VocênãoserámaisvistaemBagdá.- Mas Edward, todas as minhas coisas estão no Tio!
Reserveiumquarto.Olenço.Opreciosolenço.- Você não precisará das suas coisas por algum tempo.
Tenhoumenxovalàsuaespera.Venha.Entraramnovamentenocarro.Vitóriapensava:-EudeviatersabidoqueEdwardnãoseriaumtrouxatão
grandeparadeixar-meentraremcontatocomoSr.Dakindepoisdeeutê-lodescoberto.Eleachaqueestougamadaporele-sim,penso que tem certeza disso - mas mesmo assim não vai searriscar.
Eladisse:-Nãohaveráumabuscapormimseeu...nãoaparecer?-Vamostratardisso.Oficialmentevocêmediráatélogona
ponteevaivisitaralgunsamigosnamargemoeste.-Enarealidade?-Espereeverá.Vitória ficou sentada em silêncio quando passavam
corcoveando sobre a trilha rústica e serpenteavam em redor dejardinsdepalmeirasesobreaspequenaspontesdeirrigação.
-Lefarge-murmurouEdward.-GostariaquesoubéssemosoqueCarmichaelqueriadizercomisso.
Vitóriasentiuumpulodeansiedadedoseucoração.-Oh-disseela.-Esquecidelhedizer.Nãoseisequerdizer
algumacoisa.UmM.LefargeveioparaasescavaçõesumdiaemTellAswad.
-Oquê?-Edwardquaseafogouomotoremsuaexcitação.-Quandofoiisso?
-Oh!Hácercadeumasemana.DissequevinhadealgumaescavaçãonaSíria.DeM.Parrot,poderiaser?
- Dois homens chamados André e Juvet passaram por láenquantovocêláesteve?
- Oh, sim - disse Vitória. - Um deles estava de estômagoencrencado.Foiparaacasaesedeitou.
-Eramdoisdosnossos-disseEdward.-Porqueforamparalá?Paraprocurarpormim?- Não... eu não tinha ideia de que você estava lá. Mas
Richard Baker estava em Basrah ao mesmo tempo queCarmichael. Tínhamos ideia de que Carmichael poderia terpassadoalgumacoisaparaBaker.
- Ele disse que suas coisas tinham sido revistadas.Encontraramalgumacoisa?
- Não... agora pense com cuidado, Vitória. Esse homemLefargeveioantesdosdoishomensoudepois?
Vitória refletiu demaneira convincente, enquanto resolviaquemovimentoatribuiraomísticoM.Lefarge.
-Foi... sim,umdiaantesdosoutrosdois chegaremdisseela.
-Quefoiqueelefez?-Bem-respondeuVitória.-Elefoiparaaescavaçãocomo
Dr.PauncefootJones.EdepoisRichardBakerolevouparaacasaparaveralgumascoisasnasaladasantiguidadeslá.
-ElefoiparaacasacomRichardBaker.Elesconversaram
juntos?- Acho que sim - disse Vitória. - Quero dizer, não iriam
olharparaascoisasemsilêncioabsoluto,nãoé?-Lefarge-murmurouEdward.-QueméLefarge?Porque
nãotemosinformaçãoalgumasobreele?- Vitória ansiava por dizer: É irmão da Sra. Harris, mas
dominou-se. Estava contente com sua invenção do M. Lefarge.Podiavê-loagorabemclaramenteaosolhosdesuaimaginação-um homemmagro, jovem, de aspecto tuberculoso, com cabelosescuroseumpequenobigode.Logo,quandoEdwardperguntou,elaodescreveucuidadosaeminuciosamente.
EstavamagorarodandopelossubúrbiosdeBagdá.Edwarddobrou numa travessa de vilasmodernas construídas em estilopseudo-europeu,comvarandasejardinsemsuavolta.Emfrenteaumacasaestavaparadoumgrandecarrode turismo.EdwardparouatrásdeleeVitóriasaiuesubiuosdegrausparaaportadafrente.
Uma mulher magra, escura, veio para encontrá-los; eEdward falou-lhe rapidamente em francês. O francês de Vitórianão era bastante bompara compreender inteiramente o que foidito,maspareciaquepassariaaseressajovemsenhoraequeamudançatinhaqueserfeitaimediatamente.
Amulhervoltou-sepolidamenteparaelaedisseemfrancês:-Venhacomigo,porfavor.LevouVitóriaaumdormitórioonde,estendidosobreuma
cama, estava o hábito de uma freira. A mulher fez-lhe sinal eVitória se despiu e vestiu a peça interna de lã dura e asvolumosas dobras medievais de fazenda escura. A francesaajustou a cobertura da cabeça. Vitória teve um vislumbre seunumespelho.Seurostopálidoepequenosobagigantescatouca;comasdobrasbrancassoboseuqueixo,pareciaestranhamentepura e extraterrena. A francesa jogou um rosário de contas demadeirasobreasuacabeça.Emseguida,arrastandoossapatosrudimentares, grandes demais, Vitória foi levada para fora paraencontrarEdward.
-Vocêparecebem-disseeleaprovadoramente.Fique de olhos no chão, especialmente quando houver
homensporperto.A francesa juntou-se a eles um ou dois momentos mais
tarde,vestidadamesmaforma.Asduasfreirassaíramdacasaeforamparaocarrodeturismoqueagoratinhaumhomemalto,escuro,vestidoàeuropeia,noassentodomotorista.
- Agora é com você, Vitória - disse Edward. - Façaexatamentecomolhedizem.
Haviaumaligeiraameaçatensapordetrásdaspalavras.-Vocênãovem,Edward?-Vitóriasoavaimplorante.Elesorriuparaela.- Vocême verá dentro de três dias - disse. E em seguida
comumaretomadadeseusmodospersuasivos,murmurou:-Nãome falhe, querida. Somente você poderia fazer isso... eu a amo,Vitória.Nãoousoservistobeijandoumafreira...maseugostaria.
Vitória baixou suas pálpebras da maneira aprovada parafreiras,masnarealidadeparaescondera fúriaqueapareciaporummomento.
TerrívelJudas-pensou.Emlugardissoelafaloucomaretomadadesuasmaneiras
habituais:-Bem,eupareçomesmoumaescravacristã.-Issomesmopequena!-disseEdwardeacrescentou:Não se incomode, seus papéis estão em perfeita ordem...
nãovaiterdificuldadesnafronteirasíria.Seunomenareligião,por falar nisso, é Irmã Marie des Anges. Irmã Thérèse, que aacompanha, tem todos os documentos e está encarregada detudo, e pelo amor de Deus, obedeça às ordens... ou eu lheprevino,francamente,vocêestáfrita.
Deu um passo para trás, agitou a mão alegremente e ocarrodeturismopartiu.
Vitória recostou contra as almofadas e entregou-se àcontemplação das futuras alternativas possíveis. Ao passar porBagdá,ouquandochegassemaocontroledafronteira,elapodiafazerumaagitação,gritarporsocorro,explicarqueestavasendolevadaemboracontraasuavontade-defatoadotarumaououtravariantedeprotestoimediato.
O que é que isso conseguiria? Com toda a probabilidadeisso significaria o fimdeVitória Jones.Ela tinhanotado que aIrmãThérèse fêz escorregarpara amangaumapequenapistolaautomática de aspecto eficiente. Não lhe seria dada nenhumaoportunidadedefalar.
OuelapoderiaesperaratéchegaraDamasco?Fazerseusprotestos ali? Possivelmente o mesmo destino lhe seriaproporcionado, ou suas alegações poderiam ser superadas porprovas do motorista e sua freira companheira. Poderiam sercapazes de apresentar papéis dizendo que ela eramentalmenteperturbada.
A melhor alternativa era continuar com as coisas. Aconcordar com o plano. Vir para Bagdá como Ana Scheele edesempenharopapeldeAnaScheele.Porque,afinaldecontas,seelaassimfizesse,chegariaummomento,noclímaxfinal,quandoEdward não mais poderia controlar a sua língua ou as suasações. Se ela pudesse convencer Edward de que faria qualquercoisaqueelelhedissesse,entãochegariaomomentoemqueelaestaria de pé diante da Conferência, com seus documentosforjados-eEdwardnãoestariaali.
E ninguém poderia pará-la então ou impedi-la de dizer:"NãosouAnaScheeleeessespapéissãoforjadosefalsos."
Ela ficou pensando se Edward não temia que ela fizesseexatamente isso.Mas refletiu que a vaidade era uma qualidadeestranhamentecegante.AvaidadeeraocalcanhardeAquiles.EtambémhaviaofatoaserconsideradodequeEdwardesuagentetinham quemais oumenos ter uma Ana Scheele se seu planofossedar certo.Encontrarumamoçaque separecessebastantecom Ana Scheele - mesmo até o ponto de ter uma cicatriz nolugarcertoeraextremamentedifícil.NoCorreiodeLyon,Vitórialembrou, Dubose e Lesurque tinham a coincidênciaextraordinária de ambos terem uma cicatriz sobre umasobrancelha e também de terem uma distorção, um pornascimentoeumporacidente,dodedomindinhodeumamão.Essas coincidências deviam ser muito raras. Não, os Super-homens precisavam de Vitória Jones, datilógrafa - e até essepontoVitóriaJonesostinhaemseupoder-nãoaocontrário.
Ocarroatravessouaponteemvelocidade.VitóriaolhouoTigrecomsaudadenostálgica.Emseguidaestavamcorrendoporumaestrada larga, empoeirada.Vitóriadeixouascontasdoseurosáriopassarpelosseusdedos.Seuestalareraconfortante.
Nofimdecontas-pensouVitóriacomsúbitoconforto,soucristã.Equandoseécristã,suponhoqueécemvezesmelhorserumamártir cristã do que um Rei na Babilônia - e, devo dizer,
parece para mim haver uma grande possibilidade de que sereiumamártir.Oh!Bem,dequalquermaneiranãoserão leões.Euteriaodiadoleões!
XIXOGRANDESKYMASTERdesceudoarefezumaaterragem
perfeita.Deslizousuavementepelapistaelogochegoueparounolugar designado. Os passageiros foram convidados a descer.AquelesqueseguiamparaBasrahforamseparadosdaquelesqueiamapanharumaviãodeconexãoparaBagdá.
Havia quatro dos últimos. Um homem de negóciosiraquiano, de aspectopróspero,um jovemmédico inglês e duasmulheres. Todos eles passaram pelos vários controles equestionários.
Uma mulher escura com cabelos desalinhadosimperfeitamente amarradosnum lenço eum rosto cansado veioprimeiro.
-Sra.PauncefootJones?Inglesa.Sim.Paraencontrarseumarido.SeuendereçoemBagdá,porfavor?Qualodinheiroqueleva?...
Continuou.Emseguidaasegundamulher tomouo lugardaprimeira.
- Grete Harden. Sim. Nacionalidade? Dinamarquesa. DeLondres.Fimdavisita?Massagistanumhospital?EndereçoemBagdá?Qualodinheiroqueleva?
Grete Harden era umamulher magra, de cabelos louros,usandoóculos escuros.Usava roupasbonitas,mas ligeiramenterotas.
Seufrancêseratropegante-ocasionalmentetinhaqueteraperguntarepetida.
FoiditoaosquatropassageirosqueoaviãodeBagdásairianapartedatarde.SeriamlevadosagoraparaoHotelAbassidparaumdescansoealmoço.
Grete Harden estava sentada em sua cama quando umabatidaveioàsuaporta.Abriu-aeencontrouumamoçaesbeltaejovemvestindoouniformedaBOAC.
- Sinto muito, Srta. Harden. Poderia vir comigo para oescritóriodaBOAC?Umapequenadificuldadesurgiucomoseubilhete.Poraqui,porfavor.
GreteHarden seguiu sua guia pelo corredor. Numa portaestavaumagrandeplacacomletrasdeouro:"EscritórioBOAC."
Aaeromoçaabriuaportaefezaoutraentrar.Emseguida,quandoGreteHardenpassou,fechouaportapeloladodeforaerapidamentedesenganchouaplaca.
QuandoGreteHardenpassoupelaporta,doishomensquetinhamestadoatrásdela,passaramumpanosobresuacabeça.Empurraramumamordaça para sua boca. Um deles arregaçousua manga e, tirando uma seringa hipodérmica, deu-lhe umainjeção.
Emalgunsminutosseucorpoafrouxoueficoumole.Ojovemmédicodissecontente:- Isso tomará conta dela por cerca de seis horas, de
qualquermaneira.Agora,vocêsduas,continuemcomisso.Acenou para as duas outras ocupantes do quarto. Eram
freiras que estavam sentadas, imóveis, à janela. Os homenssaíram do quarto. A mais velha das duas freiras foi até GreteHardenecomeçouatirarasroupasdoseucorpoinerte.Afreiramais moça, tremendo um pouco começou a tirar seu hábito.ProntamenteGreteHarden,vestidacomohábitodafreira,estavadeitada repousandona cama.A freiramaismoça estava vestidaagoracomasroupasdeGreteHarden.
A freira mais velha voltou agora suas atenções para oscabeloslourosdasuacompanheira.Olhandoparaumafotografiaque encostava a um espelho, penteou e arrumou o cabelo,trazendo-odatestaparatráseenrolando-obaixonopescoço.
Deuumpassoatrásedisseemfrancês:- É espantoso como isso a muda. Coloque os óculos
escuros.Seusolhossãoumazulprofundodemais.Sim- issoéadmirável.
Houve uma ligeira batida na porta e os dois homensentraramnovamente.Estavamsorrindo.
-GreteHardenéAnaScheelemesmo-disseum.-Tinhaos
papéis na sua bagagem, cuidadosamente camuflados entre asfolhas de uma publicação dinamarquesa sobre massagens emhospital. Então, Srta. Harden - ele inclinou-se com cerimôniazombeteiraparaVitória.-Medaráahonradealmoçarcomigo.
Vitóriaseguiu-opara foradoquartoeao longodohall.Aoutra passageira estava tentando mandar um telegrama narecepção.
- Não - dizia ela - P. A. U. N. C. E foot. Dr. PauncefootJones.ChegandohojeHotelTio.Boaviagem...
Vitóriaolhouparaelacomsúbitointeresse.Essadeviasera mulher do Dr. Pauncefoot Jones, vindo para juntar-se a ele.Que era uma semana antes de ela ser esperada, a Vitória nãopareciadetodoextraordinário,desdequeoDr.PauncefootJonesdiversas vezes tinha lamentado que tinha perdido a carta deladandoadatadesuachegada,masqueestavaquasecertodequeeranodia!
Seapenaselapudessemandardeumamaneiraoudeoutrauma mensagem por intermédio da Sra. Pauncefoot Jones paraRichardBaker...
Quase como se tivesse lido seus pensamentos, o homemqueaacompanhavaaguioupeloscotovelosparalongedobalcão.
- Nenhuma conversa com companheiros de viagem, Srta.Harden-disse.-Nãoqueremosqueaquelaboamulhernotequevocê é uma pessoa diferente daquela com quem ela veio daInglaterra.
Levou-a do hotel para um restaurante para almoçar.Quando voltaram a Sra. Pauncefoot Jones estava descendo asescadasdohotel.AcenouparaVitóriacomsuspeita.
-Estevepasseando?-chamou.-EuestoujustamenteindoparaverosBazaars.
-Seeupudesseenfiarqualquercoisaemsuabagagem...-pensouVitória.
Masnãoeradeixadasozinhaporumsómomento.•aviãoparaBagdásaíaàstrêshoras.•assentodaSra.PauncefootJonesestavabemnafrente.O
deVitória estava na cauda, perto da porta, e do outro. lado dapassagemestavasentadoojovemqueeraseucarcereiro.
Vitórianão tinhachancedechegaràoutramulheroude
introduzirumamensagememqualquerdassuascoisas.Ovoonãofoilongo.PelasegundavezVitóriaolhoudoare
viu a cidade esboçada por baixo dela, o Tigre dividindo-a comoumalinhadeouro.
Assim foi que ela a tinha visto menos de ummês atrás.Quantacoisatinhaacontecidodesdeentão.
Dentrodedoisdiasoshomensquerepresentavamasduas
ideologias predominantes do mundo encontrar-se-ão aqui paradiscutiremofuturo...
Eela,VitóriaJones,teriaumpapeladesempenhar.-Vocêsabe-disseRichardBaker-estoupreocupadocom
aquelagarota.ODr.PauncefootJonesperguntoudistraído:-Quegarota?-Vitória.-Vitória?-ODr.PauncefootJonesolhavaemvolta.Onde está... ora, valha-me Deus, nós voltamos sem ela
ontem.-Euestavacuriosoparasabersevocê tinhanotadodisse
Richard.- Muito descuidado da minha parte. Eu estava tão
interessado naquele relatório das escavações em Tell Yameni.Estratificação completamente irregular. Ela não sabia ondeencontrarocaminhão?
-Nãohaviaquestãodeelavoltaraqui-disseRichard.-NaverdadeelanãoéVenetiaSavile.
-Não éVenetiaSavile?Que estranho.Mas eupensei quevocêtinhaditoqueseuprimeironomeeraVitória.
- E é. Mas ela não -é -antropóloga. E ela não conheceEmerson. Na realidade, a coisa toda foi um... bem... um mal-entendido.
-Céus.Issoparecemuitoestranho-oDr.PauncefootJonesrefletiu por alguns momentos. - Muito estranho. Eu realmenteespero... será que a culpa é minha? Eu sei que sou um tantodistraído.Acartaerrada,talvez?
- Eu não consigo compreendê-lo - disse Richard Baker,franzindo a testa e sem prestar atenção às especulações doDr.Pauncefoot Jones. - Ela foi embora num carro, comum jovem,parece,enãovoltoumais.Oqueeramais,abagagemdelaestavaali e ela nem se tinha incomodado em abri-la. Isso me pareceestranho, considerando o embrulho em que estava metida. Eupensaria que ela por certo iria embonecar-se. E nós tínhamoscombinado encontrar-nos para o almoço... Não, não possocompreenderisso.Esperoquenadatenhaacontecidoaela.
-Oh,eunãopensaria issoporummomento-disseoDr.Pauncefoot Jones, confortavelmente. - Vou começar por ir a lá.
amanhã. Pelo plano geral parece amelhor chance de encontrarumarquivo.Aquelefragmentodetábuaerabastantepromissor.
- Eles a raptaram uma vez - disse Richard. - O que osimpediriadeterem-naraptadonovamente?
- Muito improvável... muito improvável - disse o Dr.PauncefootJones.-Opaísestárealmentebastantecalmoagora.Vocêmesmoodisse.
-Seapenaspudessemelembrardonomedaquelehomememalgumacompanhiadepetróleo.EraDeacon?Deacon,Dakin?Qualquercoisaassim.
-Nuncaouvifalardele-disseoDr.PauncefootJones.Acho que vou mudar Mustafá e sua turma para o canto
nordeste.EmseguidapoderemosestenderatrincheiraJ...- O senhor se importaria muito, senhor, se eu fosse
amanhãnovamenteparaBagdá?ODr.PauncefootJones,subitamentedandotodaaatenção
aoseucolega,olhou-o:-Amanhã?Masestivemosláontem.-Estoupreocupadocomaquelamoça.Realmenteestou.-Ora, ora,Richard, eunão tinha ideiade quehavia algo
dessaespécie.-Queespécie?Quevocêtinhaformadoumafeto.Éopioremtermulheres
numa escavação... especialmente as bonitas. Eu na realidadepensei que estávamos seguras com Sybil Muirfield no anoretrasado, realmente uma pequena desesperadamentedesinteressante...evejanoquedeu!EudeviaterescutadoClaudeem - Londres... esses franceses sempre acertam no alvo. Elecomentousobreaspernasdelanaocasião...estavaextremamenteentusiasmado sobre ela. Vitória, Venetia, naturalmente, o quequerquesejaseunome...extremamenteatraenteeumacoisinhatão linda. Você tem bom gosto, Richard, vou admitir isso.Engraçado, é a primeira pequena que conheço que interessouvocê.
- Não há nada dessa espécie - disse Richard corando eparecendo ainda mais pedante que de costume. - Eu apenas...Eu...estavapreocupadocomela.TenhoqueiraBagdá.
-Bem,sevocêvaiamanhã-disseoDr.PauncefootJones-você pode trazer aquelas picaretas extras. Aquele idiota do
motoristaasesqueceu.RichardcomeçouaviagemparaBagdá,cedoaocrepúsculo
e foi direto para o Hotel Tio. Ali soube que Vitória não tinhavoltado.
- E estava tudo arranjado: ela iria ter um jantar especialcomigo - disseMarcus. -E reserveiumquartomuitobomparaela.Éestranho,nãoé?
-Vocêestevenapolícia?-Ali,não,meucaro,issonãoseriabonito.Elapoderianão
gostar.Ecertamenteeunãogostaria.Depoisdeumapequenaindagação,RicharddescobriuoSr.
Dakinevisitou-onoseuescritório.Suamemóriadohomemnãootinhaenganado.Olhoupara
afiguradobrada,afaceindecisaeoligeirotremordasmãos.Essehomem não prestava! Pediu desculpas ao Sr. Dakin se estavafazendo-o perder tempo, mas será que ele tinha visto a Srta.VitóriaJones?
-Elameprocurouanteontem.-Podedar-meoendereçopresentedela?-EstánoHotelTio,acredito.-Abagagemdelaestálá,maselanão.OSr.Dakinlevantouassobrancelhasligeiramente.- Ela estava trabalhando conosco nas escavações em Tell
Aswad-explicouRichard.- Oh, estou vendo. Bem... temo que não sei de nada que
possa ajudá-lo. Ela tem diversos amigos em Bagdá, acredito...masnãoaconheçobastanteparadizerquemsão.
-SeráqueelaestarianoRamodeOliveira?-Nãoacredito.Vocêpoderiaperguntar.Richarddisse:-Olheaqui,nãovousairdeBagdáatéqueaencontre.FranziuatestazangadoparaoSr.Dakinesaiudoquarto.OSr.Dakin, quando a porta se fechou atrás deRichard,
sorriuesacudiuacabeça.-Oh,Vitória-murmurouemtomderepreensão.Espumando e entrando no Hotel Tio, Richard foi
encontradoporumMarcussorridente.-Elavoltou-gritouMarcusansiosamente.-Não,não,éaSra.PauncefootJones.Elaacabadechegar
de avião. O Dr. Pauncefoot Jones me disse que ela viria napróximasemana.
- Ele sempre se engana nas datas. Mas, e a respeito deVitóriaJones?
OrostodeMarcussetornougravenovamente.- Não. Não ouvi nada dela. E não gosto disso, Sr. Baker.
Não é bonito. Ela é umamoça tão jovem. E tão bonita. E tãoalegreeencantadora.
-Sim,sim-disseRichard,fazendoumacareta.-ÉmelhoreusubireveraSra.PauncefootJones.Qualéonúmerodela?
-Estáno.ComumpassopesadoRichardsubiuaescada.Você!-exclamouVitóriacomhostilidadeindisfarçada.- Levada ao seu quarto no Hotel Babylonian Palace, a
primeirapessoaqueviufoiCatarina.Catarinasacudiuacabeçacomvenenoigual.-Sim-disseela.-Sou.Eagora,porfavor,váparaacama.
Omédicologoestaráaqui.Catarina estava vestida como enfermeira de hospital e
levava os seus deveres a sério, estando obviamente bemdeterminada a não sair do lado de Vitória. Esta, deitadadesconsoladanacama,murmurava:
-SeeupudessefalarcomEdward...- Edward - Edward! - disse Catarina depreciativamente. -
Edwardnuncaseimportoucomvocê,suamoçainglesaestúpida.ÉamimqueEdwardama.
VitóriaolhouorostoemburradoefanáticodeCatarinasementusiasmo.
Catarinacontinuou:-Sempreodiei vocêdesdeaquelaprimeiramanhãemque
vocêentrouequeriafalarcomoDr.Rathbonecomtantarudeza.Procurandoporumtomirritante,Vitóriadisse:-De qualquer forma eu soumuitomais indispensável do
quevocê.Qualquerumpodia fazeroseunúmerodeenfermeiradehospital.Masacoisatodadependedeeufazeromeu.
Catarinadissecomfatuidadeempertigada:-Ninguéméindispensável.Nosensinamisso.- Bem, eu sou. Pelo amor deDeus,mande vir um jantar
substancial.Senãovoucomeralgumacoisa,comoquerqueeu
faça uma boa interpretação da secretária de um banqueiroamericanoquandootempochegar?
-SuponhoquevocêpoderácomerbemenquantopodedisseCatarinademávontade.
Vitória não tomou conhecimento de sua sinistraimplicação.
OCapitãoCrosbiedisse:-CompreendiquevocêtemaíumaSrta.Harden,acabada
dechegar.O cavalheiro suave no escritório do Babylonian Palace
inclinousuacabeça:-Simsenhor.DaInglaterra.-Elaéamigadaminhairmã.Quer levarmeucartãopara
ela?Com um lápis escreveu algumas palavras no cartão e
mandou-onumenvelope.Logoorapazquetinhalevadooenvelopevoltou.- A senhorita não está passando bem. Garganta muito
ruim.Doutorvemlogo.Estácomumaenfermeiradehospital.Crosbievoltou-seesaiu.FoiandandoparaoTio,ondefoi
abordadoporMarcus.- Ah, meu caro, vamos tomar um trago. Esta noite meu
hotelestábemcheio.ÉparaaConferência.Masquepena,oDr.PauncefootJonesvoltouparaasuaexpediçãoanteontemeagoraaquiestásuamulherquechegaeesperaqueeleestejaaquipararecebê-la.Eelanãoestácontente,não!Edizque lhedissequeestavavindonesteavião.Massabecomoeleé,aquele.Cadadata,cadahora...elesemprelembratudoerrado.Maseleéumhomemmuitobom-finalizouMarcuscomasuacostumeiracaridade.-Eeu tive que acomodá-la de qualquer jeito - fiz sair um homemmuitoimportantedaONU...
-Bagdáparececompletamentemaluca.-Todaapolíciaelesmobilizaram...estãotomandograndes
precauções... dizem... você ouviu?... Há uma conspiração paraassassinaroPresidente.Prenderamsessentaecincoestudantes!Têmmuita suspeitadequalquerpessoa.Mas tudo isso émuitobomparaonegócio...muitobomdeverdade.
A campainha do telefone tocou e foi prontamenterespondida.Embaixadaamericana.
-Aqui édoHotelBabylonianPalace.ASrta.AnaScheeleestáhospedadaaqui.
-AnaScheele?-logoumdosadidosestavafalando.ASrta.Scheelepodiaviraotelefone?
-ASrta.Scheeleestádoente,decamacomlaringite.AquifalaoDr.Smallbrook.EstoutratandodaSrta.Scheele.Elatemunspapéisimportantesconsigoegostariaquealgumapessoaderesponsabilidade da Embaixada viesse e os apanhasse.Imediatamente?Obrigado.Estareiàsuaespera.
Vitória voltou-se do espelho. Estava vestindo um tailleurfeitosobmedida.Cadacabelo louroestavaemseu lugar.Elasesentiunervosamasextasiada.
Ao voltar-se apanhou o brilho exultante nos olhos deCatarinaesubitamenteficouemguarda.PorqueCatarinaestavaexultante?
Oqueestavaacontecendo?-Porquevocêestátãoalegre?-perguntou.-Vaiverlogo.Amalíciaestavabemindisfarçadaagora.- Você pensa que é tão inteligente - disse Catarina
raivosamente.-Vocêpensaquetudodependedevocê.Pah,vocêéapenasumaboba.
Com um pulo Vitória estava sobre ela! Agarrou-a peloombroeenterrouosdedos.
-Diga-meoquevocêquerdizer,suagarotahorrível.-Ach,vocêmemachuca.-Conte-me...Uma batida na porta. Uma batida repetida duas vezes e
depoisdeumapausa,umaisolada.-Agoravocêvaiver!-exclamouCatarina.Aportaabriu-seeumhomementrou.Eraumhomemalto,
vestindoouniformedaPolíciaInternacional.Fechouaportaatrásdesietirouachave.EmseguidaavançouparaCatarina.
-Rápido-.disse.Tirouumpedaçodecorda finadobolsoe, coma integral
cooperação de Catarina, amarrou Vitória numa cadeira. Emseguida tirouum lenço eamarrou-o sobrea suaboca.Deuumpassoatráseacenouapreciativamentecomacabeça.
-Isso...estáótimo.
Em seguida voltou-se para Vitória. Ela viu o pesadocassetete:queeleestavaagitandoenummomentorelampagueoupeloseucérebroqualeraoplanoreal.Nuncatinhammencionadoque ela fizesse o papel de Ana Scheele na Conferência. Comopoderiam eles arriscar uma coisa assim? Vitória era conhecidademaisemBagdá.Não,oplano foi,sempretinhasido,queAnaScheele seria atacada e morta no último momento... morta deumamaneira talqueassuas feiçõesnão ficassemreconhecíveisdemais. Apenas os papéis que tinha trazido consigo - aquelespapéiscuidadosamentefalsificados-permaneceriam.
Vitóriavoltou-separaajanelaegritou.Ecomumsorrisoohomemavançouparaela...
Em seguida diversas coisas aconteceram - houve umbarulho de vidro quebrado - uma mão pesada a fez cair aocomprido - ela viu estrelas - e escuridão... depois da escuridãoumavozfalou,umavozinglesareconfortadora:
-Estásesentindobem,senhorita?Vitóriamurmuroualgumacoisa.-Quefoiqueeladisse?-perguntouumasegundavoz.OPrimeirohomemcoçouacabeça.- Disse que era melhor servir no céu do que reinar no
inferno-disseduvidosamente.-Issoéumacitação-disseooutro.-Masestáerrada.-Não,nãoestáerrada-disseVitóriaedesmaiou.OtelefonetocoueDakinapanhouofone.Umavozdisse:-
OperaçãoVitóriaconcluídaacontento.-Bom-disseDakin.- Temos Catarina Serakis e o médico. O outro sujeito se
jogoudobalcão.Estáferidomortalmente.Apequenanãoestáferida?Desmaiou,masestáOK.AindasemnovidadessobreA.S.?Nenhumanovidade..Dakindepôso fone -Anamesma,pensouele,devia estar
morta... Ela tinha insistido em jogar uma mão solitária, tinhareiteradoqueestariaemBagdásemfaltanodia.HojeeraenãohaviaAnaScheele.Talvezelatinhatidorazãoemnãoconfiarnoarranjo oficial - ele não sabia. Certamente tinha havidovazamentos,traições.Masaparentementeasuainteligênciainatanãolhetinhaservidomelhor...
EsemAnaScheeleasprovaseramincompletas.Ummensageiro entrou com um pedaço de papel sobre o
qualestavaescrito:"Sr.RichardBakereSra.PauncefootJones."-Nãopossoverninguémagora -disseDakín. -Diga-lhes
quesintomuito.Estouocupado.O mensageiro retirou-se mas logo reapareceu. Entregou
umanota:"Querofalar-lhesobreHenryCarmichael.R.B."-Mande-oentrar-disseDakin.Em seguida Richard Baker e a Sra. Pauncefoot Jones
entraram.RichardBakerdisse:- Não quero tomar o seu tempo,mas eu estive na escola
com um homem chamado Henry Carmichael. Perdemo-nos devistapormuitosanos,masquandoestiveemBasrahháalgumassemanas,euoencontreinasaladeesperadoConsulado.Estavavestido como um árabe e, sem dar qualquer sinal exterior dereconhecimento, conseguiu comunicar-se comigo. Isso lheinteressa?
-Interessa-memuito-disseDakin.-EuformeiaideiadequeCarmichaelsejulgavaemperigo.
Isso foi logo confirmado. Ele foi alvejado por um homem, masconseguidesviarparacimaoprojétil.Carmichaelescapuliu,mas,antesdeir,escorregoualgoparameubolso,ondefoiencontradomais tarde...Nãoparecia ser importante: parece ser apenasumpapel...umareferênciaparaumtaldeAhmedMohammed.MaseuaginasuposiçãodequeparaCarmichaelera importante.Jáque ele não me tinha dado instruções, conservei o papelcuidadosamente,acreditandoqueumdiaoreclamaria.NooutrodiasoubeporVitóriaJonesqueeleestavamorto.Deoutrascoisasque ela me contou cheguei à conclusão de que o senhor é apessoaindicadaparareceberisso.
Levantou-seecolocouumpedaçodepapelsujocomescritasobreelenaescrivaninhadeDakin.
-Issosignificaalgoparavocê?Dakindeuumprofundosuspiro.-Sim-disseele.-Significamaisdoquevocêprovavelmente
possaimaginar.Levantou-se.
-Estou-lheprofundamenteagradecido,Baker-disse.Perdoa-meporabreviarestaentrevista,masháummonte
decoisasdequeprecisotratarsemperderumminuto.-ApertouasmãosdaSra.PauncefootJones,dizendo:
- Suponho que esteja se juntando ao seu marido naescavação.Esperoquetenhamumaboatemporada.
-ÉumacoisaboaquePauncefootJonesnãoveiocomigoparaBagdáestamanhã-disseRichard.-OqueridovelhoJohnPauncefootJonesnãonotamuitodoque *sepassaasuavolta,maseleprovàvelmentenotariaadiferençaentreasuamulhereairmãdesuamulher.
Dakin olhou com ligeira surpresa para a Sra. Pauncefoot
Jones.Eladissenumavozbaixaeagradável:é-AminhairmãElsieaindaestánaInglaterra.Eutingimeu
cabeloevimparacácomopassaportedela..Onomedesolteirada minha irmã era Elsie Scheele. Meu nome, Sr. Dakin, AnaScheele.
XXBAGDÁ ESTAVA transformada. A policia tarjava as ruas
polícia convocada de fora, a Polícia internacional. Finalmente aConferênciahistóricatinhacomeçado.
Numa pequena antessala, certos acontecimentos que bempoderiamalterarocursodahistóriaestavamtendolugar.Comoamaioria dos acontecimentosmomentosos, os trâmites não eramnadadramáticos.
O Doutor Alan Breck, do Instituto Atômico Harwell,contribuiucomasuaquotadeinformaçõesnumavozinhabaixamasprecisa.
Certos espécimes tinham sido deixados com ele paraanálise pelo finado Sir Rupert Crofton Lee. Eles tinham sidocolhidos no decorrer de uma das viagens de Sir Rupert pelaChinae*Turquestão,atravessandooCurdistãoparaoIraque.AevidênciadoDr.Breckemseguidatornou-seseveramentetécnica.Minériosmetálicos...altoteordeurânio...Fontedodepósitonãoconhecidaexatamente,jáqueSirRuperttevesuasnotasediáriosdestruídosduranteaguerraporaçãoinimiga.
Em seguida o Sr. Dakin continuou a história. Numa vozgentilmentecansadacontouasagadeHenryCarmichael,desuacrença em certos rumores e historias malucas de vastasinstalações e laboratórios subterrâneos funcionando num valeremoto além das fronteiras da civilização. De sua procura e doêxito da sua procura. Do grande homem, viajante, Sir RupertCroftonLee,ohomemque tinhaacreditadoemCarmichael.porcausa do seu conhecimento daquelas regiões, tinha consentidoem vir para Bagdá, e de como ele tinha morrido. E comoCarmichael, mesmo tinha encontrado sua própria morte nasmãosdopersonificadordeSirRupert.
- Sir Rupert estámorto e Henry Carmichael. estámorto.Mas há uma terceira testemunha que está viva e que hoje seencontra aqui. Chamarei a Srta. Ana Scheele para dar-nos seutestemunho.
AnaScheele,tãocalmaecompostacomoseelaestivessenoescritóriodoSr.Morganthaldeulistasdenomesenúmeros.Dasprofundezas daquele seu notável cérebro financeiro, esboçou a
vastaredefinanceiraquetinhadrenadodinheirodecirculaçãoecolocado no financiamento de atividades que deveriam tender adividiromundocivilizadoemduasfacçõesopostas.Nãoeraumamera afirmação. Produziu fatos e números para apoiar a suacontenção.Aquelesqueaescutaramelalevavaumaconvicçãoqueainda não estava integralmente adequada a história maluca deCarmichael.
Dakinfaloudenovo.- Henry Carmichael. estámorto - disse ele. - Mas trouxe
comeledaquelaviagemperigosaprovastangíveisedefinidas.Nãoousava ficar com essas provas... seus inimigos lhe estavamnoscalcanhares,pertodemais.Maseraumhomemdemuitosamigos.Pelas mãos de dois desses amigos, ele mandou as provas àsalvaguardadeoutroamigo -umhomemaquemtodoo Iraquereverencia e respeita. Ele cortesmente consentiu em vir para cáhoje.Refiro-meaoXequeHusseinelZiyaradeKerbela.
O Xeque Hussein era renomado, como Dakin tinha dito,por todo omundomuçulmano, tanto quantoumhomemsantoquanto um poeta. Por muitos era considerado um santo.Levantou-se agora, uma figura imponente com sua barbacastanho profundo tingida. Sua jaqueta cinza com alamares deouroeracobertaporummantoesvoaçantededelicadezadeteiadearanha.Emvoltadesuacabeçausavaumacobertadepanoverde,amarradacommuitos fiosdeagaldeouropesadosequelhe davaumaaparência patriarcal. Falounuma voz profunda esonora:
-HenryCarmichaelerameuamigo-disse.-Euoconhecicomomeninoeeleestudoucomigoosversosdosnossosgrandespoetas.DoishomensvieramaKerbela,homensqueviajampelopaís com um espetáculo de cinema. São homens simples, masbons seguidores do Profeta. Trouxeram-me um pacote quedisseramque lheshavia sidodadopara entregarememminhasmãos do meu amigo, o inglês Carmichael. Eu deveria guardarsegredo e em segurança e entregá-lo apenas ao próprioCarmichael. ou a um mensageiro que deveria repetir certaspalavras.
Dakindisse:- Sayid, o poeta árabe Mutanabbi, chamado às vezes o
Pretensor da Profecia, que viveu há exatamentemil anos atrás,
escreveuumaode aoPríncipeSayfu I-Dawla emAlepo,na qualocorremestaspalavras:ZidHashshibashshitafaddaladnisurrasifi.(*)
Comumsorriso oXequeHussein el. Ziyara estendeuumpacoteaDakin.
-Eudigo,comodisseoPríncipeSayfuI-Dawla:"Terásoteudesejo..."
-Senhores -disseDakin. -Estessãomicrofilmes trazidosporHenryCarmichaelcomoprovadesuahistória...
Mais uma testemunha falou - uma figura alquebrada etrágica:umvelhocomumacabeçaabauladaqueemtempostinhasidouniversalmenteadmiradoerespeitado.
Faloucomdignidadetrágica:Cavalheiros-disse.-Embreveeu serei denunciado como um trapaceiro comum. Mas háalgumas coisas quemesmo eu não posso sancionar. Existe umbandodehomens,namaioriahomens jovens, tãomaldososemseuscoraçõesefinalidadesqueaverdadedificilmentepoderiaseracreditada.
Eleergueuacabeçaeurrou:-Anticristo!Eudigoqueessacoisadeveserparada!Temos
que ter paz... pazpara lambermosasnossas feridas e fazerumnovomundo...eparafazerissonostemosquenoscompreenderuns aos outros, Eu comecei uma vigarice para fazer dinheiro...sim,masporDeus,acabeiporacreditarnaquiloqueeuprego -embora não defenda os métodos que usei. Pelo amor de Deus,cavalheiros, vamos começar de novo e experimentar puxarjuntos... a Acrescei, ride, alegrai-vos, fazei acontecer, regozijai,mostraifavor,dai!
Houveummomentodesilêncioeemseguidaumavozinhaoficialfinacomaimpersonalidadeexanguedaburocraciadisse:
- Estes fatos serão apresentados em seguida diante dosPoderesReunidos...
XXI-OQUEME INCOMODA - disseVitória - é aquela pobre
mulherdinamarquesaquefoimortaporenganoemDamasco.-Oh!elaestámuitobem-disseoSr.Dakinalegremente.-
Logoqueseuaviãotinhalevantadovoo,nósprendemosamulherfrancesaelevamosGreteHardenparaohospital.Elavoltouasidireitinho.Elesa teriamdeixadodopadapormaisalgumtempoaté que estivessem certos de que o negócio de Bagdá saíssedireito.Eraumadasnossas,naturalmente.
-Era?- Sim, quando Ana Scheele desapareceu, pensamos que
ficariabemsedéssemosaooutroladoalgumacoisaparapensar.De modo que reservamos uma passagem para Grete Harden ecuidadosamente não lhe demos um fundo. Caíram nessa:chegaram à conclusão de que Grete Harden tinha que ser AnaScheele. Demos-lhe um lindo jogo de papéis falsificados paraprová-lo.
Enquanto a verdadeira Ana Scheele ficou calmamente nacasadesaúdeatéquefossetempodeaSra.PauncefootJonessereuniraoseumaridoláfora.
-Sim.Simples,maseficiente.Agindonapressuposiçãodequeemtemposdeapertoasúnicaspessoasnasquaisrealmentese pode confiar são a nossa própria família. É uma jovemextremamenteesperta.
Eurealmentepenseiqueestavaliquidada-disseVitória.-Asuagenterealmenteotempotodomeacompanhou?
-Otempotodo.SeuEdwardnãoerarealmentetãoespertocomo ele mesmo se julgava, sabe. Na realidade nós tínhamosestado investigando as atividades do jovem Edward Goring poralgumtempo.Quandovocêmecontouasuahistória,nanoiteemqueCarmichaelfoimorto,euestavafrancamentepreocupadoporvocê.
- A melhor coisa na qual eu podia pensar era mandá-ladeliberadamenteparadentrodacontagemcomoumaespiã.Seoseu Edward soubesse que você estava em contato comigo, vocêestariarelativamentesegura,poiselesaberiaporseuintermédiooque estávamos planejando. Você seria preciosa demais para
matar.Eassimelepoderiapassarparanósinformaçõesfalsasporseuintermédio.Vocêeraumelodeligação.Masemseguidavocêpercebeu a personificação de Rupert Crofton Lee e Edwarddecidiuquevocêficariamelhorconservadadoladodeforaatéquefosse precisa (se você fosse necessária) para a personificação deAna Scheele. Sim, Vitória, você está com muita sorte de estarsentadaondeestácomendotodasessasnozesdepistache.
-Seiqueestou.OSr.Dakindisse:-Quantovocêsente...arespeitodeEdward?Vitóriaolhou-ofixamente.- Nem um pouco. Eu apenas fui uma burrinha muito
idiota.EudeixeiqueEdwardmeapanhasseefizesseseunúmerode encantamento. Eu simplesmente senti por ele uma gamaçãocompleta de menina de escola... imaginando-me Julieta e todaespéciedecoisasbobas.
- Não precisa se culpar demais. Edward tinha ummaravilhosodomnaturalparaatrairmulheres.
-Sim,eeleousou.-Certamentequeousou.-Dapróximavezqueeumeapaixonar-disseVitórianão
será a aparência queme atrairá, nem encanto. Vou querer umhomemverdadeiro...nãoumquemedigacoisasbonitas.Nãovoumeimportarseeleforcarecaouseusaróculos,ouqualquercoisaassim. Quero que ele seja interessante... e conheça coisasinteressantes.
-Cercadetrintaecincooucinquentaecinco?-perguntouoSr.Dakin.
Vitóriaolhou.-Oh,trintaecinco-disse.- Estou aliviado. Pensei por um momento que estava se
declarandoamim.Vitóriariu.- E - eu sei que não devo fazer perguntas - mas havia
realmenteumamensagemtricotadanolenço?- Havia um nome. As Tricoteuses das quais Madame
Defargeerauma, tricotaramumregistrodenomes.O lençoeopapel eramasduasmetadesdapista.UmanosdeuonomedoXequeHusseinelZiyradeKerbela.Aoutra,quandotratadacom
vapordeiodonosdeuaspalavrasparainduziroXequeaseparar-se da sua incumbência. Não podia ter havido um lugar maisseguroparaescondera coisa, sabe,doquea cidadesagradadeKerbela.
- E isso foi levado pelo país por esses dois homens docinemaambulante.-osmesmosquerealmentenósencontramos?
- Sim. Simples figuras bem conhecidas. Nada político arespeitodelas.ApenasamigospessoaisdeCarmichael.Eletinhaummontedeamigos.
-Eledevetersidomuitosimpático.Sintoqueestejamorto.-Todosnóstemosquemorrerumdia-disseoSr.Dakin.-
E se houver outra vida depois desta, coisa que acreditointegralmente, ele teráa satisfaçãode saberquea sua crença esuacoragemfizerammaisparasalvarestevelhoinundotristedeoutroataquedesangriasemisériadoquequasequalquerumemquemsepossapensar.
- Estranho, não é - disse Vitória meditativamente - queRicharddevatertidoumametadedosegredoeeuaoutra.Pareceatéque...
- Que foi o destino - terminou o Sr. Dakin com umapiscadela.-Equevaifazeragora,possoperguntar?
-Eutereiqueencontrarumemprego-disseVitória:tenhoquecomeçaraprocurar.
-Nãoprocuredemais-disseoSr.Dakin.-Estoupensandoqueumempregoestávindoaoseuencontro.
Afastou-sesuavementeparadarlugaraRichardBakcr.-Olheaqui,Vitória-disseRichard.-VenetiaSavile,afinal
decontasnãopodevir.Aparentementeficoucomcaxumba.Vocêfoibastanteútilnaescavação.Vocêgostariadevoltar?Apenasoseusustento,peloquetemo.EprovavelmenteasuapassagemdevoltaparaaInglaterra...masvamosfalarnissomaistarde.ASra.PauncefootJonesviránasemanaquevem.Bem,queéquevocêdiz?
-Oh,vocêrealmentemequer?-gritouVitória.PoralgumarazãoRichardBakerficoutodocor-de-rosaem
seurosto.Tossiuepoliuseupince-nez.- Eu penso - disse ele - nós a poderemos achar.. er...
bastanteútil.Euadorarei-disseVitória.
Nestecaso-disseRichard-émelhorrecolhersuabagageme voltar para a escavação. Não quer ficar perambulando porBagdá,ouquer?
-Nemumpouco-disseVitória.-Então,aíestávocê,minhaqueridaVerônica-disseoDr.
PauncefootJones.Richardpartiucomgrandeestardalhaçoatrásdevocê.Bem,bem*..esperoquevocêsambossejammuitofelizes.- Que é que ele quer dizer? - perguntou Vitória, perplexa,enquantooDr.PauncefootJones*zaranzavaembora.
-Nada-disseRichard.-Vocêsabecomoeleé.Estásendo,apenasumpouco...prematuro.
SobreaAutora
AgathaChristieiniciousuabrilhantecarreiraliteráriacomo
livro “Omisterioso casodeStyles”em1921.Desdeseuprimeiro
romance, revelou uma habilidade fantástica para arquitetar um
mistério policial, engendrando uma série de pistas falsas. Ao
mesmo tempo, demonstrava um notável senso de observação
psicológica.
NascidaemTorquay,na Inglaterra,emsetembrode1891,
Agatha Mary Clarissa Miller era filha de mãe inglesa e pai
americano, que morreu quando ela ainda era bem criança. Na
infânciae juventude,dedicou-secomentusiasmoàleitura,e logo
descobriu seusautorespreferidos.Emvezdehistóriasdeamor,
seu interessevoltava-separaCharlesDickenseConanDoyle,o
criadordeSherlockHolmes.
Seusconhecimentosdequímica,poçõesevenenos,quetêm
papelrelevanteemquasetodasassuastramas,foramadquiridos
quando trabalhou como voluntária em um hospital da Cruz
Vermelha, durante a Primeira Guerra Mundial, ajudando
especialmenteosrefugiadosbelgas.
Dame Agatha sempre foi excelente cozinheira, gostava da
vidadomésticaeodiavaapublicidadeeasocasiõesemquetinha
de aparecer em público. Construía seus mistérios caminhando
pelos parques ou devorando maças em grande quantidade,
durante seus banhos de imersão. Lia muita poesia moderna e
detestava o revólver e o punhal: “Prefiro as mortes por
envenenamento”,costumavadeclarar.
“Aparticipaçãodo leitorêessencial.Eledevedesvendaro
mistério lentamente, como se estivesse sendo envenenado.” Tão
traduzida quanto Shakespeare, com quase quatrocentosmilhões
deexemplaresvendidos,a“damadocrime”éaresponsávelpela
quarta tiragemmundial de todos os tempos: à sua frente estão
apenasLênin,JúlioVerneeLievTolstói.
Ao falecer, em 1976, deixou uma obra que continua a
mereceraadmiraçãodeleitoresdomundointeiro.
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