View
73
Download
3
Category
Preview:
Citation preview
AUGUSTO JERÔNIMO DA SILVA : Hoasca o chá revelador ou vinho da almahttp://www.rondoniadinamica.com/ler.php?
id=10868&edi=5&sub=29
A entrevista que vamos publicar nesta edição com o Mestre
Augusto Jerônimo da Silva popularmente conhecido como
Augusto Queixada, foi gravada no dia 30 de outubro, com o
objetivo de sabermos sobre a história da toada de boi bumbá em
Porto Velho, uma vez, que juntamente com os amos Carlos
Mariano, Aluízio Guedes e Silvio Santos, Augusto havia sido
convidado pela coordenação do III NEER para participar da “Meia
Lua de Boi” que aconteceu no Mercado Cultural no dia 4 de
novembro. Durante a entrevista na redação do Diário da
Amazônia, Augusto cantou uma série de toadas de sua autoria e
de outros Amos que brincaram boi em Porto Velho nas décadas
de 1940/50 e 1960 como Cabo Fumaça, Galego, Luiz Amaral,
Sipitiba, Zé Luiz e outros.
Acontece, que durante nossa conversa, procuramos saber de
uma outra atividade vivida pelo Augusto que é a sua história
enquanto Mestre da União do Vegetal.
Por sugestão do nosso editor Guarim Liberato Jr., editamos a
parte da entrevista, na qual Augusto fala sobre a história do seu
encontro com o Mestre Gabriel e de como ele também se tornou
Mestre da União do Vegetal criando seu próprio núcleo ou
associação. “Tenho muita consideração ao Mestre Gabriel pois
foi ele que me ensinou os preceitos da União do Vegetal”. Aos 76
anos de idade pai (segundo ele), de 62 filhos, Augusto cumpre
pena em prisão domiciliar por um fato acontecido há alguns anos.
“Só agora após 17 anos fui levado a júri e estou pagando pelo
que fiz”.
Questionado sobre o apelido Queixada, explica: “Queixada na
realidade, era o apelido do meu irmão Joaquim que quando era
guarda territorial participou de uma caçada e matou um bocado
de Porco Queixada e então o pessoal botou o apelido de Joaquim
das Queixadas. Quando eu ia atrás dele na guarda, sempre
diziam: “É o Augusto irmão do Queixada, com o tempo, ficou
Augusto Queixada”. Cearense filho de pai e mãe curandeiros
“Meu pai e minha mãe eram rezadores e faziam garrafadas”.
Augusto diz que cura qualquer doença através de garrafadas.
“Desde que a pessoa tenha fé em Deus”. Quanto a Hoasca
fomos pesquisar no site da União do Vegetal criada pelo Mestre
Gabriel e encontramos o seguinte:
“O chá Hoasca (Ayahuasca, “vinho da alma” em quéchua), que
também chamamos de Vegetal, é resultado da decocção de duas
plantas: um cipó, o Mariri (Banisteriopsis caapi) e as folhas de um
arbusto, a Chacrona (Psychotria viridis), largamente utilizado há
muitos séculos pelas comunidades amazônicas e povos andinos
em rituais religiosos e de cura. O Mestre Gabriel já afirmava nos
primeiros documentos do Centro assinados por ele que o
“Vegetal que chamamos de Hoasca” é “comprovadamente
inofensivo à saúde”, consciente de que a comunhão desse chá
era benéfica à transformação da consciência humana, quando
bem orientada”.
Vamos às historias do Mestre Augusto Jerônimo da Silva o
Augusto Queixada
ENTREVISTA
Zk – Sabemos que o senhor é considerado Mestre da União do
Vegetal. Na realidade quando foi o seu primeiro contato com
Ayahuasca ou Vegetal como é mais conhecido o chá feito com a
folha da Chacrona e do cipó Mariri?
Augusto Jerônimo – Acharia bom que você tirasse uma hora para
a gente falar sobre esse assunto. No momento não estou
preparado para falar sobre essa história, mas, eu conto todinha.
Vamos marcar um dia para gente conversar sobre a história do
Vegetal!
Zk – Como foi que o senhor conheceu o Mestre Gabriel?
Augusto Jerônimo – Foi o seguinte: Conheci o Mestre Gabriel
durante nossa viagem do nordeste para a Amazônia no navio
chamado Para isso em 1943. O Mestre Gabriel vinha da Bahia e
em Fortaleza Ceará minha família, meu pai minha mãe, meus
irmãos embarcou já que estávamos alistados como soldado da
Borracha. Naquela época eu estava com 11 anos e o Mestre
Gabriel que ainda não era Mestre tinha 22 anos.
Zk – Como foi que um menino conseguiu manter contato com
uma pessoa mais velha que nem conhecia?
Augusto Jerônimo – Durante a viagem, eu era menino travesso
mesmo, subi pela beirada do navio e fui bater lá no toldo, o dia
vinha amanhecendo. Quando cheguei no toldo vi aquele homem
sentado em cima de uma Jangada.
Zk – Jangada?
Augusto Jerônimo – É! Em cima do navio tinha uma jangada para
socorrer os passageiros caso o navio afundasse. Bem! Lá estava
aquele senhor sentado e eu dei bom dia e como não sabia seu
nome chamei de Mestre. Bom dia Mestre! Ele olhou pra mim e
mandou eu sentar. Durante nossa conversa ele perguntou quem
era meu pai e minha mãe. Respondi que eles estavam no
compartimento de baixo perto do porão do navio. Ele pediu para
conhecê-los e eu o levei até lá. Isso na viagem de Fortaleza pro
Maranhão.
Zk – É verdade que Gabriel gostava de Umbanda?
Augusto Jerônimo – Pois então, ele ficou conversando com
minha mãe e na conversa disse que gostava de trabalhar na
macumba na Bahia.
Zk – E a amizade entre vocês?
Augusto Jerônimo – Acontece que quando o navio chegou ao
Maranhão passou 11 dias na boca da barra esperando a maré
subir o suficiente para poder navegar. Quando chegamos a
Belém (PA) tinha uma pousada chamada São Geraldo que era
onde ficavam os arigós que vinham do nordeste como soldado da
Borracha. Então o Mestre Gabriel soube de um terreiro de
Umbanda que ficava na Pedreira e pediu da minha mãe que
deixasse eu ir com ele. Vale salientar que sabia bater tambor. No
batuque da Pedreira comecei a bater tambor pra ele. Foi assim
que nasceu nossa amizade.
Zk – E em Porto Velho?
Augusto Jerônimo – Em Porto Velho ele foi pra Guarda Territorial,
trabalhou como enfermeiro no Hospital São José e depois foi pro
seringal em Jacy Paraná e nesse seringal eu também fui
trabalhar. O gerente do seringal era o João de Sá Nobre. Minha
mãe foi dono do Hotel em Jacy. Foi justamente nesse seringal
que ele começou a procurar o cipó Mariri.
Zk – E o senhor entra como nessa história do cipó?
Augusto Jerônimo – Acontece que ele chegou comigo e disse:
“Qualquer cipó que você encontrar na mata traga pra mim”.
Assim eu fazia, ele morava a duas horas e meia da nossa
colocação.
Zk – A sua colocação tinha nome?
Augusto Jerônimo – A nossa colocação se chamava Abismo e a
dele Mina de Ouro. Depois de muito procurar o cipó e não
encontrar, ele me chamou e disse agora você procura uma planta
parecida com Café. Certo dia eu na curiosidade para saber o que
ele queria com uma planta parecida com café e um cipó, fui e fiz
a seguinte pergunta: Mestre Gabriel o senhor sabe que planta é
essa. O senhor conhece a planta?
Zk – E ele?
Augusto Jerônimo – Ele respondeu, não conheço, mas, se pegar
na minha mão vou saber que é ela. Um dia ele resolveu voltar
para Porto Velho e me disse, se eu encontrar o cipó e a planta
que estou procurando trago pra você conhecer.
Zk – Ele chegou a falar onde iria procurar a planta?
Augusto Jerônimo – Ele me disse que ia pra Bolívia.
Zk – E quando o senhor veio também para Porto Velho, foi fazer
o que?
Augusto Jerônimo – Entre tantas coisas, batia tambor no batuque
de Santa Bárbara da Mãe Esperança e no batuque “Samburucu”
da Mãe Chica Macaxeira. Aliás, a Mãe Esperança e a Chica
Macaxeira estavam entre as primeiras pessoas que beberam o
Chá em Porto Velho quando ninguém nem sabia o que era.
Zk – E o Mestre Gabriel?
Augusto Jerônimo – Ele foi embora no rumo da Bolívia e demorou
uns 10 anos para a gente se encontrar de novo. Nessas alturas,
em 1958, virei artista de circo.
Zk – Qual era o circo?
Augusto Jerônimo – Fui dono do circo Twist Circo Show e
trabalhei também no Roque Circo e no Circo Panamericano.
Zk – Andou por aonde trabalhando em circo?
Augusto Jerônimo – Saí por esse mundo afora, pulando que nem
macaco no trapézio, corda bamba, fui palhaço e também
motoqueiro do globo da morte. Foi justamente por causa do globo
da morte que voltei a encontrar com o Mestre Gabriel depois de
muitos anos.
Zk – O senhor tava dentro do globo na hora que o bicho
quebrou?
Augusto Jerônimo – Não! Mas, durante uma apresentação em
Brasiléia no Acre caí e quebrei a cabeça e foi também em
Brasiléia que o globo quebrou.
Zk – E o que o globo da morte tem a ver com seu reencontro com
o Mestre Gabriel?
Augusto Jerônimo – Fui a Rio Branco comprar a peça do globo
que havia quebrado. Fazia 10 anos que eu não via o Mestre
Gabriel. Fiquei hospedado no melhor hotel de Rio Branco, afinal
de contas, era um empresário dono de circo. Foi então que vi
andando pelos corredores do hotel aquele homem, cheguei e
disse: Bom dia Mestre o que o senhor está fazendo aqui? Ele me
respondeu: “To esperando você” – Como esperando, se faz 10
anos que a gente não se vê.
Zk – Como foi a conversa entre vocês durante esse reencontro?
Augusto Jerônimo – Eu sabia que você vinha encontrar comigo
aqui disse ele. E prosseguindo ele disse, – Nós vamos pra Porto
Velho agora. – Não Mestre, tenho que levar a peça do globo da
morte do meu circo que está armado lá em Brasiléia. Ele falou –
Lembra que eu disse pra você que quando encontrasse a planta
e o cipó para fazer o chá eu iria contar pra você? – Lembro – Pois
estou levando 10 litros aí pra nós – Se é uma ordem sua!
Zk – E ao desembarcar no aeroporto do Caiari já em Porto
Velho?
Augusto Jerônimo – Ele me disse: Vá e convoque todos os
macumbeiros de Porto Velho para beber o “Vegetal”.
Zk – Aonde foi que beberam o Vegetal pela primeira vez em
Porto Velho?
Augusto Jerônimo – O Cláudio Carvalho que era homem forte
dentro do governo do Território cedeu uma fazenda que ele tinha
ali perto onde está o prédio do Fórum Cívil na rua Lauro Sodré
que naquele tempo a gente chamava de Estrada dos Tanques.
Zk – O senhor lembra quem estava na reunião?
Augusto Jerônimo – Lá estava a Chica Macaxeira, Mãe
Esperança, Paixão, Eu, finado Hilton, Luiz Lopes, a Margarida e o
marido dela e outros que não lembro o nome agora. Sei que
juntou umas quarenta pessoas.
Zk – E a chamada borracheira?
Augusto Jerônimo – Ninguém sabia qual o efeito que o Vegetal
iria provocar a não ser o Mestre Gabriel os demais eram todos
marinheiros de primeira viagem. Só que na minha borracheira eu
tive uma recordação de uma encarnação minha.
Zk – Nessa encarnação o senhor era o que?
Augusto Jerônimo – Eu era toureiro na Espanha e fui morto
durante uma tourada, o chifre do boi pegou na minha barriga que
varou do outro lado e então veio uma música naquele momento
cuja letra é: “Foi numa tourada, lá na Espanha, um toureiro de
valor, que triste hora, depois da hora marcada, que atrapalhada o
toureiro não chegou, me apontaram como seu substituto, fui
aplaudido pela aquela multidão, e o touro com sua ponta afiada,
senti uma pancada dentro do meu coração, saltei de banda cai
dentro do poleiro, eu mato o cabra que disse que sou toureiro. Eu
morri naquela hora. A história tem mais fundamento, é porque tô
contando ela pela metade. Depois ainda bebemos outras vezes e
fomos embora pro Acre.
Zk – E daí pra frente ficaram juntos?
Augusto Jerônimo – Quando chegamos em Rio Branco ele
embarcou para Vila Plácido de Castro e eu para Brasiléia onde
estava meu circo esperando pela peça dó globo da morte. Na
despedida ele disse:
Zk – O que?
Augusto Jerônimo – Vou instalar junto com você uma sociedade
em Porto Velho e eu respondi: Sim Senhor!
Zk – Quer dizer que o senhor junto com o Mestre Gabriel criou a
União do Vegetal em Porto Velho?
Augusto Jerônimo – Não! Vou contar a verdade! Vendi o Circo e
já estava em outras atividades em Porto Velho, isso em
1960/1961 foi quando o Mestre veio criar a União do Vegetal aqui
eu estava cumprindo pena na Colônia Penal de um caso que
aconteceu comigo que não gosto de lembrar. Ele foi lá na Penal
comigo e disse que ia montar a União do Vegetal. Eu não
participei da criação da Associação. Em junho de 1961 fui
absolvido e então fui para União, bebo o chá desde 1958 até
hoje.
Zk – É verdade que o senhor também sabe a maneira de curar
uma série de doenças?
Augusto Jerônimo – Eu curo qualquer doença desde que a
pessoa tenha confiança em Deus. Trabalho com garrafa, sei
rezar pra quebranto, espinhela caída e tantos outros males.
Zk – Aprendeu a fazer garrafada com quem?
Augusto Jerônimo – Aprendi tudo isso trabalhando na macumba.
Aliás, na macumba eu era da “pesada” mesmo, da chamada
magia negra. Quando entrei para União do Vegetal parei com a
macumba, mas tem o seguinte, não mexa comigo que sei mexer
com os pauzinhos também. (sorrindo).
Zk – O senhor ainda tem aquela casa aonde as pessoas iam em
busca da cura do câncer. O Vegetal cura câncer?
Augusto Jerônimo – O Vegetal cura qualquer doença que você
sentir no seu corpo desde que a pessoa tenha confiança em
Deus. Agora, tem umas coisas que a gente precisa conversar
muito a respeito.
Zk – Da para adiantar alguma coisa a respeito desse assunto?
Augusto Jerônimo – Acontece que o pessoal fala muito em Deus,
mas, Deus não é do jeito que o pessoal fala não, é muito
diferente! Eu fui crente, adventista do sétimo dia, pentecostal, fui
da Assembléia de Deus, fundei igreja de crente, feiticeiro da
magia negra, rosa cruz, isoterista e de todas elas, se a União do
Vegetal não existisse eu seria Isoterista, foi a única na qual
encontrei alguma coisa boa. Se eu fosse um dia ser evangélico
seria Maranata.
Zk – Por que Maranata?
Augusto Jerônimo – Porque a pessoa que fundou essa igreja
bebeu Vegetal durante 35 anos e o lema dela é a mesma coisa
da União do Vegetal.
Zk – Qual a diferença da União do Vegetal para o Daime?
Augusto Jerônimo – O Daime foi implantado pelo senhor Irineu e
o Vegetal pelo Mestre Gabriel. O Daime mistura alguma coisa
dentro da bebida e o Vegetal é só as duas plantas.
Zk – O que quer dizer Mariri e Chacrona?
Augusto Jerônimo – Mariri (cipó) significa Marechal a Chacrona
(folha) significa Rainha.
Zk – O que o Rei Salomão tem a ver com a União do Vegetal?
Augusto Jerônimo – Justamente, Salomão pelo seu
conhecimento e sabedoria foi quem criou a União do Vegetal. No
tempo do Rei Carlos Magno o nome era “Balsamo da Vida”, tudo
indica que Jesus bebeu o Vegetal. Essa história vem do Império
Inca, mas, não é o Império Inca do peru não. Aí a pessoa
pergunta assim pra mim: Mestre Augusto como é que o senhor
sabe dessa história toda?
Zk – Sim, por que?
Augusto Jerônimo – Sou fruto de 33 reencarnações. Sei quem eu
era nas encarnações passadas.
Zk – Aonde o senhor reúne os seguidores para beber o chá?
Augusto Jerônimo – A sede geral é lá perto do hospital João
Paulo II no bairro Nova Floresta, porém temos cinco núcleos em
funcionamento onde sempre estou ministrando os ensinamentos;
O núcleo para iniciantes funciona no bairro Mariana. Tem o
Hospital Rosa Luz onde já tratei mais de 600 pessoas do vicio da
maconha, cocaína do álcool e outras drogas, ta fechado agora
por falta de apoio dos governantes.
Acessado em: http://www.bialabate.net/news/augusto-jeronimo-da-silva-hoasca-o-cha-revelador-ou-vinho-da-alma no dia 10.01.2014.
Recommended