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CURSO DE DIREITO - FATEPS DISCIPLINA – ATIVIDADES COMPLEMENTARES (CURSO DE EXTENSÃO) PROF. MS. MAKVEL REIS NASCIMENTO
A u l a – T e o r i a G e r a l d o s R e c u r s o s
I - INTRODUÇÃO
O Sistema Recursal passa, a priori, pela análise dos meios de impugnação das decisões
judiciais, porque os recursos são uma espécie de meios de impugnação de decisão judicial.
Afirma-se1 corretamente que dentro do gênero “meios de impugnação das decisões
judiciais” existem duas espécies de instrumentos processuais: os recursos e os sucedâneos
recursais.
O CONCEITO DE RECURSO deve ser construído partindo-se de cinco características
essenciais a esse meio de impugnação:
(a) Voluntariedade;
(b) Expressa previsão em lei federal (taxatividade);
(c) Desenvolvimento no próprio processo no qual a decisão impugnada foi proferida;
(d) Manejável pelas partes, terceiros prejudicados e MP; e (legitimidade recursal)
(e) Com o objetivo de reformar, anular, integrar ou esclarecer decisão judicial. 1 Neves, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil; Nery Jr., Nelson e Araken de Assis
TÓPICOS:
I - Introdução
II - Conceito
III - Classificação
IV – Atos sujeitos a Recursos
V – Juízo de Admissibilidade e Juízo de Mérito
VI – Requisitos
V – Efeitos
VI - Princípios
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Das 5 características mencionadas, as duas primeiras serão analisadas no tratamento
dos princípios recursais (voluntariedade e taxatividade). A quarta será analisada com os
requisitos de admissibilidade (legitimidade recursal) e a quinta (objetivo do recorrente) será
enfrentada na análise do juízo de mérito recursal.
No que tange ao desenvolvimento do recurso no próprio processo em que foi
proferida a decisão impugnada, insta esclarecer que na eventual hipótese de criação de um
novo processo para instrumentalizar a impugnação de decisão judicial, estar-se-á, diante de
uma espécie de sucedâneo recursal, mais especificamente de AÇÃO AUTÔNOMA DE
IMPUGNAÇÃO.
A demonstração mais clara de que o Recurso se desenvolverá no próprio processo em
que a decisão judicial foi proferida é a inexistência de citação do recorrido, havendo uma
mera intimação para, querendo, apresentar contrarrazões no mesmo prazo que o recorrente
teve para apresentar seu recurso.
Importe recordar que a identidade de processo não significa necessariamente a
identidade de autos, considerando-se que o recurso pode se desenvolver em autos próprios
– por exemplo, agravo de instrumento –, mas continuará a fazer parte do mesmo processo
no qual a decisão foi impugnada foi proferida.
II - CONCEITO
ATENÇÃO: A exceção fica por conta da “citação” do réu
para responder a apelação na hipótese do art. 285-A, § 2°,
do CPC, mas isso só ocorre porque a sentença impugnada
foi proferida inaudita altera partes.
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Recurso é o mecanismo processual que visa a provocar um reexame da decisão judicial, antes
da COISA JULGADA FORMAL, ou seja, antes do trânsito em julgado da sentença.
Recurso é uma espécie de remédio processual que a lei coloca à disposição das partes para
impugnação de decisões judiciais, dentro do mesmo processo, com vistas à sua reforma, invalidação,
esclarecimento ou integração, bem como para impedir que a decisão impugnada se torne preclusa ou
transite em julgado.
Segundo José Carlos Barbosa Moreira, recurso é o “REMÉDIO VOLUNTÁRIO IDÔNEO A
ENSEJAR, DENTRO DO MESMO PROCESSO, A REFORMA, A INVALIDAÇÃO, O ESCLARECIMENTO OU A
INTEGRAÇÃO DE DECISÃO JUDICIAL QUE SE IMPUGNA”.
III - CLASSIFICAÇÃO
1.1. QUANTO À EXTENSÃO (ABRANGÊNCIA) DA MATÉRIA (ART. 505 DO CPC)
Segundo tradicional regra do direito pátrio, o objeto do recurso será limitado pela decisão
recorrida, não podendo extrapolá-lo. A exceção atualmente fica por conta do disposto no
art. 515, § 3° do CPC, que permite ao Tribunal, no julgamento da apelação contra sentença
terminativa (art. 267 do CPC), conhecer imediatamente o mérito da ação ainda que tal
matéria não
1.1.1. Recurso Parcial: É aquele que não compreende a totalidade do conteúdo impugnável da
decisão. O que não for impugnado fica acobertado pela preclusão e só poderá ser
modificado por ação rescisória.
1.1.2. Recurso Total: É aquele que abrange todo o conteúdo impugnável da decisão recorrida.
Se o recorrente não especificar a parte em que impugna a decisão, entender-se-á total o
recurso.
1.2. QUANTO À FUNDAMENTAÇÃO
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Em decorrência do PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE, todo o recurso deverá ser devidamente
fundamentado, expondo o recorrente os motivos pelos quais ataca a decisão impugnada e
justificando seu pedido de anulação, reforma, esclarecimento ou integração. Trata-se na verdade da
causa de pedir recursal.
1.2.1. Fundamentação livre (Regra): É aquele em que a causa de pedir recursal não está
delimitada pela lei, podendo o recorrente impugnar a decisão alegando qualquer vício.
Ex.: apelação, agravo, recurso ordinário e embargos infringentes.
1.2.2. Fundamentação vinculada: É aquele em que lei limita o tipo de crítica à decisão,
estabelecendo tipos legais de vícios que podem fundamentar o recurso, sob pena de não
conhecimento, por ausência de regularidade formal. O recorrente não poderá alegar
qualquer matéria que desejar, estando sua fundamentação vinculada às matérias
expressamente previstas em lei. O rol de matérias alegáveis em tais recursos é exaustivo,
e o desrespeito a essa exigência legal acarretará a inadmissibilidade do recurso por
irregularidade formal. Essa espécie de Recurso é excepcional, havendo somente três:
Recurso Especial, Recurso Extraordinário e embargos de declaração.
1.3. QUANTO AO FIM COLIMADO
1.3.1. De reforma: Visa a modificação na solução dada à lide, favoravelmente ao recorrente.
1.3.2. De Invalidação: Pretende-se apenas anular ou cassar a decisão, para que seja proferida
outra em seu lugar.
1.3.3. De esclarecimento ou integração: Quando o recurso visa afastar a falta de clareza ou
imprecisão do julgado, ou suprir alguma omissão do julgador.
ATOS SUJEITOS A RECURSOS
O conhecimento do tipo de pronunciamento feito pelo juiz assume, em matéria de recurso,
especial relevância, uma vez que, conforme o tipo, será cabível um ou outro recurso. Por isso,
vamos analisar os tipos de pronunciamentos judiciais.
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O art. 162 do Código de Processo Civil estabelece quais são os tipos de atos praticados pelo
juiz, que são de três espécies:
(a) (§1º) Sentença: Ato que implica em alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 do
Código de Processo Civil. O §1º do art. 162 foi alterado pela 11.232/2005. Antes, sentença era
conceituada como o ato do juiz que colocava termo (encerrava) o processo, com ou sem
julgamento do mérito. Apesar disso, para a nossa estrutura recursal, é de suma importância
que se compreenda a sentença como decisão judicial que encerra o procedimento em 1ª
instância, ultimando a fase de conhecimento ou de execução.
Isso se deve ao fato de que, essa alteração legislativa, pode causar sérios problemas: há casos
de decisões proferidas com base nos arts. 267 e 269 do Código de Processo Civil, que não
encerram o processo, como o caso de indeferimento parcial da petição inicial (art. 267, I),
reconhecimento de decadência em relação a um dos pedidos cumulados (art. 269, IV). Nesses
casos, o procedimento seguirá. E qual seria o recurso cabível? Em que pese, pelo art. 162, §1º
tratar-se de sentença, o recurso, aqui, será o agravo e não a apelação, porque, se fosse
apelação, como o processo subiria ao tribunal, para julgamento do recurso, se o
procedimento ainda há de prosseguir para a solução do restante do litígio. Isso explica a
impropriedade da alteração legislativa e, ela, não modificou o sistema recursal.
(b) (§2º) Decisões interlocutórias: Ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão
incidente. É toda decisão que não encerra o procedimento em 1ª instância.
(c) (§3º) Despachos: Todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a
requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.
De SENTENÇA, o recurso cabível é a apelação, nos termos do art. 513 do Código de Processo
Civil. Das DECISÕES INTERLOCUTÓRIAS, o recurso é o agravo, segundo art. 522 do Código de
Processo Civil. Os DESPACHOS são, por sua vez, irrecorríveis, conforme art. 504 do Código de
Processo Civil.
Entretanto, doutrina e jurisprudência vêm admitindo agravo de instrumento contra despacho,
desde que comprovado que ele causou prejuízo à parte.
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- Apelação;
- Sentença - Recurso inominado (art. 41 da Lei 9.099/95)
Decisões - Embargos de declaração.
Pronunciamentos
Judiciais - Decisões - Agravo;
Interlocutórias - Embargos de declaração.
Despachos (em regra irrecorríveis)
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO
Assim como ocorre com a ação ajuizada, que para ter seu mérito examinado deve preencher
determinados pressupostos, os recursos, para serem conhecidos e, após, providos, também devem
observar alguns requisitos.
Aliás, o estabelecimento de um paralelo entre as condições da ação e os requisitos de
admissibilidade dos recursos tem sido voz corrente na doutrina.
Desta forma, as mesmas condições da ação e pressupostos processuais que devem se fazer
presentes para que haja o julgamento de mérito da ação, hão de ser observados também para que os
recursos tenham a sua questão de fundo julgada pelo tribunal.
É verdade, todavia, que, enquanto na ação os requisitos são verificados em relação a fatos
exteriores e anteriores ao processo, no recurso os requisitos são aferidos tendo em vista o próprio
processo já existente.
Nos recursos, existem dois tipos de juízos que devem ser feitos:
(a) JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL;
(b) JUÍZO DE MÉRITO DO RECURSO.
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JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL
A atividade por meio da qual o juiz ou o tribunal examina a presença ou não dos requisitos ou
pressupostos recursais denomina-se juízo de admissibilidade recursal e pode ser exercido, em regra:
Primeiro, pelo juízo a quo: aquele que proferiu a decisão recorrida; e
Depois, pelo juízo ad quem: aquele que julgará o recurso.
O agravo retido e de instrumento são exceções, pois o juízo de admissibilidade será feito apenas
pelo juízo ad quem.
Vale ressaltar que o CONJUNTO DOS REQUISITOS DE QUALQUER RECURSO REPRESENTA
MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA E PODE SER CONHECIDO DE OFÍCIO PELO ÓRGÃO JUDICIÁRIO A
QUALQUER TEMPO, mesmo depois de ter reputado admissível o recurso (§2º do art. 518 do Código
de Processo Civil).
ELE PODE SER:
Negativo: Quando conduzirá ao não-conhecimento do recurso. Neste caso, inviabiliza-se o
exame de mérito. Sempre virá em decisão explícita e devidamente motivada.
Positivo: Quando autorizará o órgão julgador a ingressar no juízo de mérito do recurso, que
é aquele em que se apura a existência ou inexistência de fundamento para o que se postula,
tirando-se daí as conseqüências cabíveis, isto é, dando provimento ou negando provimento
ao recurso. O juízo de admissibilidade positivo pode ser implícito, circunstância que é
revelada no processamento do recurso ou no seu julgamento de mérito.
O juízo de mérito é feito pelo juízo ad quem.
CLASSIFICAÇÃO DOS REQUISITOS RECURSAIS
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Diversos critérios são sugeridos para a classificação dos requisitos de admissibilidade. A doutrina
mais tradicional entende oportuno dividir os requisitos em objetivos e subjetivos; enquanto os
estudos mais recentes preferem separá-los em intrínsecos e extrínsecos.
A reunião em intrínsecos e extrínsecos parece de melhor proveito e vem sendo mais utilizada
pela doutrina. Portanto, os requisitos intrínsecos e extrínsecos que são examinados nos JUÍZO DE
ADMISSIBILIDADE RECURSAL são:
1. REQUISITOS INTRÍNSECOS: São aqueles concernentes à própria existência do direito de recorrer.
São eles:
1.1. Cabimento;
1.2. Legitimação para recorrer,
1.3. Interesse em recorrer (sucumbência); e
1.4. Inexistência de fato impeditivo (art. 881, caput, fine) ou extintivo (arts. 502 e 503) do
poder de recorrer.
2. REQUISITOS EXTRÍNSECOS: Referem-se ao modo de exercer o recurso. Enquadram-se neste
grupo:
2.1. Tempestividade;
2.2. Regularidade formal; e
2.3. Preparo.
REQUISITOS INTRÍNSECOS
1.1 CABIMENTO
É a capacidade de o ato judicial ser questionado e a conformação do recurso com as normas
legais. O exame de tal requisito dar-se-á por meio de dois ângulos distintos, mas complementares: A
RECORRIBILIDADE DO ATO E A PROPRIEDADE DO RECURSO EVENTUALMENTE INTERPOSTO.
Para CADA ESPÉCIE DE DECISÃO JUDICIAL RECORRÍVEL, HÁ UM ÚNICO MEIO RECURSAL
DISPONÍVEL NO ORDENAMENTO, sendo vedada a interposição simultânea ou cumulativa de mais
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outro objetivando a impugnação do mesmo ato judicial. Extrai-se daí o princípio da
unirrecorribilidade, unicidade ou singularidade recursal, vigente em nosso sistema.
Entretanto, a existência de hipóteses perante as quais avaliar qual o recurso cabível para
impugnar determinada decisão se torna tarefa árdua, tendo em conta a natureza do pronunciamento
judicial que se pretende atacar. Isto ocorre não só por impropriedades constantes do próprio
código, como também pela dúvida doutrinária e jurisprudencial que envolva determinado caso.
Nestes casos, e somente nestes, para evitar que a parte seja prejudicada por algum desajuste
do sistema recursal que ocasiona dúvida objetiva sobre qual o recurso cabível, aplicável o PRINCÍPIO
DA FUNGIBILIDADE, que faz possível o conhecimento de um recurso que não seja o adequado para
impugnar determinada decisão, como se o fosse.
A ADOÇÃO DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE, contudo, como já afirmou o STJ, exige a
presença de TRÊS REQUISITOS:
a) Dúvida objetiva sobre qual o recurso a ser interposto;
b) Inexistência de erro grosseiro, que se dá quando se interpõe recurso errado quando o
correto encontre-se expressamente indicado em lei e sobre o qual não se opõe nenhuma
dúvida;
c) Que o recurso erroneamente interposto tenha sido agitado no prazo do que se pretende
transformá-lo.
Assim, POR EXEMPLO, deve ter conhecido o seu recurso a parte que interpôs agravo de
instrumento para impugnar a decisão proferida em incidente de falsidade documental, embora o art.
395 a qualifique como sentença. Isto porque tal ato tem todas as características de decisão
interlocutória, consoante a definição do § 2º do art. 162.
1.2 LEGITIMAÇÃO PARA RECORRER
Consoante dispõe o art. 499, podem interpor recurso:
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a) A parte vencida,
b) O terceiro prejudicado e
c) O Ministério Público.
Tal regra é aplicável de forma genérica a todos os recursos, inclusive aos agravos.
PARTE é quem participou do processo no pólo ativo ou passivo. Destarte, podem ser
considerados partes, em sentido amplo, além do autor e do réu (mesmo o revel), os litisconsortes,
os intervenientes (que com a intervenção se tornam partes) e os assistentes (tanto na hipótese do
art. 50, quanto do art. 54).
TERCEIRO PREJUDICADO é quem não é parte no momento da decisão que feriu seus interesses.
É quem, com interesse na causa que se discute entre outros dois sujeitos, mantém-se a ela alheio até
que sobrevenha decisão que lhe cause gravame.
Malgrado nosso ordenamento permita a eficácia plena da sentença apenas em relação aos
integrantes do relacionamento processual, a verdade é que seus efeitos, não raro, atingem quem não
é parte no processo. Esses efeitos são conseqüências da eficácia natural da sentença, que não
conhece limitação subjetiva.
Em razão disso é que se admite o recurso do terceiro prejudicado, como forma
intervencional e que atende, sobremaneira, ao princípio da economia processual.
O terceiro, para se legitimar à interposição do recurso, deve ser juridicamente prejudicado e,
consoante o § 1º do art. 499, deverá demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse
de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial.
O termo inicial do prazo recursal do terceiro é aquele atribuído às partes.
O terceiro prejudicado pode interpor qualquer recurso e contra qualquer manifestação
judicial - inclusive, evidentemente, o agravo -, desde que demonstre os mencionados requisitos.
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O MINISTÉRIO PÚBLICO, segundo estabelece o § 2º do art. 499, é legitimado para recorrer
tanto nos processos em que figura como parte, como naqueles em que funciona como fiscal da lei.
1.3 - INTERESSE PARA RECORRER
O interesse em recorrer está intimamente ligado à idéia de sucumbência. Argumenta-se que
esta sucumbência seria reflexo de um prejuízo, que por sua vez configurar-se-ia com a ocorrência de
uma lesão, de um gravame.
Costuma-se dizer, considerando isto, que falta interesse recursal àquele que não pode
alcançar posição mais vantajosa com o recurso, pois isto seria a maior evidência de que a decisão
não lhe trouxe qualquer prejuízo.
Incide no procedimento recursal o binômio "UTILIDADE + NECESSIDADE" como integrantes do
interesse de recorrer.
ÚTIL é o recurso que pode conduzir o recorrente a uma situação mais favorável. Deve o
recorrente, portanto, almejar algum proveito, do ponto de vista prático, com a interposição do
recurso.
NECESSÁRIO é o recurso que aparece como único meio de obter, no mesmo processo, a
reforma que pretende na decisão. Sendo possível obter a modificação vantajosa sem a interposição
do recurso, ausente se fará o requisito do interesse recursal.
Focando especificamente no agravo, falece interesse, por exemplo, para se impugnar a
resolução que se limita, no saneamento do processo, a remeter a questão para decisão final. É que
neste caso sequer houve, de fato, uma decisão, não se podendo verificar verdadeira sucumbência de
qualquer das partes. O exclusivo intento de ver a questão mais rapidamente definida, não preenche,
por si só, o requisito do interesse recursal.
1.4 INEXISTÊNCIA DE FATO IMPEDITIVO OU EXTINTIVO DO PODER DE RECORRER
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O poder de recorrer, de regra, é atribuído a todo aquele que detém interesse e legitimação
para fazê-lo. Contudo, há fatos que conduzem à extinção ou ao impedimento do poder de recorrer.
A RENÚNCIA (art. 502) e a AQUIESCÊNCIA (aceitação da decisão - art. 503) constituem fatos
extintivos do poder de recorrer, enquanto a DESISTÊNCIA (art. 501) consubstancia fato impeditivo
deste mesmo poder.
Renúncia: quando o interessado e legitimado para interposição do recurso contra
determinada decisão manifesta a sua vontade de não fazê-lo. A renúncia, desta forma, é ato
anterior à apresentação da inconformidade recursal e independe de consentimento da parte
adversa, bem como de homologação judicial, sendo, portanto, unilateral.
Aquiescência: consiste na manifestação de vontade de conformar-se com o pronunciamento,
como na hipótese em que a parte comparece aos autos informando que irá cumprir a decisão
ou postula prazo para efetuar o pagamento a que foi condenada. É ato que pode ocorrer
antes ou após a interposição do recurso e da prolação da decisão.
Desistência: "o recorrente poderá, a qualquer tempo, sem anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso". A desistência, como se vê, deve ser manifestada após a
interposição do recurso e antes do seu julgamento. No caso de a parte desistir do recurso
principal, há o efeito colateral de tornar inadmissível o recurso adesivo (art. 500, III).
2. REQUISITOS EXTRÍNSECOS:
Referem-se ao modo de exercer o recurso. Enquadram-se neste grupo:
(a) Tempestividade;
(b) Regularidade formal; e
(c) Preparo.
2.1 TEMPESTIVIDADE
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Relacionada à observância pelo recorrente dos prazos em lei fixados.
Superado o prazo estabelecido pelo ordenamento, sobre a questão decidida opera-se a
preclusão (temporal) e eventual recurso que venha a ser interposto com o intuito de rediscuti-la não
poderá ser conhecido, porquanto intempestivo.
Intempestivo, também, conforme os egrégios STF e STJ, é o recurso interposto antes da
publicação da decisão recorrida, porque manejado "fora" (antes) de o prazo respectivo começar a
fluir.
Importante não olvidar que deve ser observada a prerrogativa do prazo em dobro para
recorrer, assegurada:
(a) À Fazenda Pública e ao Ministério Público (seja atuando como parte seja como fiscal da lei),
conforme art. 188 do CPC;
(b) Aos litisconsortes que litigarem com diferentes procuradores, em obediência ao comando do
art. 191 do CPC;
(c) Aos Defensores Públicos, por força do § 5º do art. 5º da Lei nº. 1.060/50.
A contagem do prazo se dá na forma estabelecida pelo art. 184, ou seja, excluindo-se o dia do
começo (dies a quo) e computado o do vencimento (dies ad quem), a partir da data da intimação da
parte - por meio de seu advogado - da decisão, conforme os arts. 242 e 506.
Em certas situações, entretanto, a intimação pessoal é a única modalidade possível, como sucede,
por exemplo, em relação ao Ministério Público, por força do § 2º do art. 236, bem assim com os
Defensores Públicos, em razão do disposto no § 5º do art. 5º da Lei nº. 1.060/50, e também em
relação aos representantes judiciais da Fazenda Pública nas execuções fiscais, a teor do art. 25 da Lei
nº. 6.830/80.
2.2 REGULARIDADE FORMAL
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É a necessidade de serem observados certos preceitos de forma, disciplinados pelo CPC.
Consoante o art. 154, os atos processuais não dependem de forma determinada, senão
quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que, realizados de outro modo, lhe
preencham a finalidade essencial.
Nesses termos, é necessário que o recorrente exponha as matérias de fato e de direito, isto é,
as razões do pedido de reforma da decisão, o que possibilitará ao Tribunal conhecer as
circunstâncias fáticas e jurídicas em cujo âmbito a decisão interlocutória foi proferida.
2.3 PREPARO
Consiste o preparo no prévio pagamento das despesas relativas ao processamento do
recurso, incluindo a taxa judiciária e despesas postais (portes de remessa e retorno dos autos).
O preparo, consoante estabelece o art. 511, HÁ DE SER COMPROVADO NO ATO DE
INTERPOSIÇÃO DO RECURSO, sob pena de ser este considerado deserto e, por conseguinte, não-
conhecido.
Passando a lei a fixar o momento em que deve ser comprovado o preparo, exercido o direito
de recorrer sem que seja demonstrada a sua efetivação, dar-se-á a preclusão consumativa
relativamente a este requisito, isto é, o recorrente não mais poderá juntar a guia comprobatória do
pagamento, ainda que o prazo recursal não se tenha esgotado e mesmo que efetivamente tenha sido
realizado anteriormente à interposição e simplesmente não demonstrado.
Há casos, todavia, em que o PREPARO É DISPENSADO.
O § 1º do art. 511 preceitua que são dispensados de preparo os recursos interpostos pelo
Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e pelos que
gozam de isenção legal.
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CURSO DE DIREITO - FATEPS DISCIPLINA – ATIVIDADES COMPLEMENTARES (CURSO DE EXTENSÃO) PROF. MS. MAKVEL REIS NASCIMENTO
Não se exige preparo, outrossim, dos beneficiários da assistência judiciária gratuita, consoante
determinam os arts. 3º, II, e 9º, da Lei nº. 1.060, de 05.02.50.
A não coincidência do encerramento do expediente forense com o do estabelecimento
bancário, onde deverá o recorrente efetuar o pagamento do preparo e obter a comprovação a ser
acostada aos autos simultaneamente às razões recursais, traz outra dificuldade à exigência do preparo
imediato.
Penso que não acarreta qualquer diminuição no prazo o encerramento do expediente
bancário antes do forense, porquanto é disponibilizada a integralidade do horário de funcionamento
do Tribunal para a entrega do recurso. O preparo é ato independente, que pode ser realizado em
qualquer momento dentro do prazo.
Na hipótese de insuficiência do preparo efetuado, a deserção não será desde logo decretada.
Cabe ao órgão judicial determinar a intimação do recorrente para complementá-lo em cinco dias,
consoante estabelece o § 2º do art. 511. Esgotado o prazo sem que tenha sido atendida a
determinação, ou havido o preparo por ainda insatisfatório, apesar do reforço, daí sim há de ser
decretada a deserção, a requerimento da outra parte ou de ofício.
JUÍZO DE MÉRITO DO RECURSO
É a ANÁLISE DA PRETENSÃO RECURSAL, que pode ser a invalidação, a reforma, a integração ou o
esclarecimento (os dois últimos nos embargos de declaração).
É realizado apenas pelo Juízo ad quem, aquele que irá julgar o recurso, ao contrário do juízo de
admissibilidade, que tem duplo controle, seja pelo juízo a quo, seja pelo juízo ad quem. Contudo, no
caso de embargos de declaração, ele é julgado pelo próprio órgão a quo.
A causa de pedir no recurso, que está relacionada aos fatos aptos a autorizar a invalidação, a
reforma, a integração ou o esclarecimento.
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Para se pedir a invalidação, deve ocorrer o chamado error in procedendo e, na reforma, o error
in iudicando.
O error in iudicando é o equivoco de juízo, uma má apreciação da questão de direito e/ou de
fato. O juiz decidiu mal.
O error in procedendo releva um defeito/vício da decisão. Nesse, discute-se a validade da
decisão, como um ato jurídico.
EFEITOS DOS RECURSOS
A - IMPEDITIVO DO TRÂNSITO EM JULGADO
A interposição do recurso impede o trânsito em julgado da decisão, prolongando a
litispendência em uma nova instância.
B - SUSPENSIVO OU OBSTATIVO
A interposição do recurso prolonga o estado de ineficácia da decisão, pois seus efeitos ainda não
serão produzidos.
C - DEVOLUTIVO OU TRANSLATIVO
A interposição do recurso transfere ao órgão ad quem ou ao próprio órgão julgador o
conhecimento da matéria impugnada. Possibilita o reexame da matéria objeto da decisão. É comum a
todos os recursos.
A extensão do efeito devolutivo é representada pela expressão latina: “tantum devolutum
quantum appellatum”. Ou seja, só será devolvido o conhecimento da matéria impugnada, relacionada
ao objeto litigioso (art. 515 do Código de Processo Civil).
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Contudo, o § 1º do art. 515, permite ao tribunal apreciar todas as questões suscitadas e
discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro, mas desde que
relacionada ao objeto litigioso do recurso.
Por exemplo: se o autor invocara dois fundamentos para o pedido, se o juiz o julgou
procedente apenas por um deles, silenciando sobre o outro, ou repelindo-o, a apelação do réu, que
pleiteia a declaração da improcedência, basta para devolver ao tribunal o conhecimento de ambos os
fundamentos.
D - REGRESSIVO OU DE RETRATAÇÃO OU DIFERIDO
Autoriza o órgão a quo a rever a decisão recorrida.
Exemplos: Agravo, apelação contra sentença que indefere a petição inicial (art. 296).
E - EXPANSIVO SUBJETIVO
É quando o recurso interposto por um dos litisconsortes aproveita a todos, salvo se distintos
ou opostos os seus interesses (art. 509 do Código de Processo Civil).
É uma situação excepcional, pois a regra é a da personalidade do recurso, ou seja, ele só
produz efeitos para o recorrente.
PRINCÍPIOS RECURSAIS
A - PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO
Garantia de boa justiça (Nery) – A CF/88 traça os limites do duplo grau, garantindo-o, mas não de
forma ilimitada.
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B - PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE
O rol legal – CPC, art. 496 - de recursos é numerus clausus.
C - PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE OU UNIRRECORRIBILIDADE
Para cada decisão judicial deve existir um único recurso a ela correlacionado, num mesmo momento
processual.
D - PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE
O recurso deverá ser dialético, isto é, discursivo. O recorrente deverá declinar o porquê do
pedido. Essencial para se formar o contraditório e o quantum apellatum.
E - PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE
Possibilidade de que, em casos de dúvida objetiva, o tribunal receba um recurso por outro.
SÃO CONDIÇÕES DA FUNGIBILIDADE:
ATENÇÃO: O agravo Regimental não é novo tipo
de recurso, mas espécie de recurso de agravo. O
pedido de Reconsideração não é considerado
Recurso
EXCEÇÃO: acórdão que, decidindo uma única
questão, com fundamento legal e constitucional, leva
a parte a interpor Resp e RE simultaneamente
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a) existência de dúvida objetiva, assim entendidos os casos em que há controvérsia
jurisprudencial e doutrinária, ou erro do juiz;
b) interposição no prazo menor, em caso de prazos diferentes para os recursos possíveis
(segundo parcela da doutrina, não se faz necessário obedecer esse requisito). Não se aplica a
fungibilidade em casos de erro grosseiro ou má-fé.
F - PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE
Decorre do princípio dispositivo e indica que o recurso depende de iniciativa da parte
interessada. Também insere-se nesse princípio a liberdade do interessado para delimitar a órbita de
abrangência de seu recurso.
G - PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS
O recurso não deve resultar para o recorrente situação de piora em relação àquela em que
lhe fora imposta pela decisão recorrida (também não se aceita a reformatio in melius, pois não pode
o tribunal melhorar a situação do recorrente para além dos limites por ele mesmo fixados no
recurso). Princípio que decorre da interpretação do princípio dispositivo.
H - PRINCÍPIO DA CONSUMAÇÃO
Uma vez já exercido o direito de recorrer, consumou-se a oportunidade para fazê-lo, de
sorte a impedir que o recorrente torne a impugnar o pronunciamento judicial já impugnado.
ATENÇÃO: reformatio in pejus e remessa
necessária: possível o agravamento da Fazenda
Pública? - STJ 45 – “No reexame necessário, é defeso, ao Tribunal, agravar a condenação imposta à Fazenda Pública”.
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I - PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIDADE
Recurso e razões devem ser oferecidos na mesma oportunidade. Segundo esse princípio,
poder-se-á complementar a fundamentação de recurso, se houver alteração da decisão em virtude de
Embargos de Declaração.
RECURSO ADESIVO – ART. 500
É o recurso interposto por aquela parte que não se dispunha a impugnar a decisão e só veio a
fazê-la porque o fizera o outro litigante.
REQUISITOS:
a) Sucumbência recíproca.
b) Admissível só na apelação, nos embargos infringentes, no recurso especial e no recurso
extraordinário.
c) Deve obedecer todos os requisitos de admissibilidade exigidos para os recursos, inclusive o
preparo.
d) O prazo para a sua interposição é o mesmo de que dispõe para apresentar as contra-razões
ao recurso principal, que será de 15 dias (art. 508).
e) Fica dependente do recurso principal, na medida em que o principal não for conhecido, o
adesivo também não será.
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