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AVALIAÇÃO DO PERFIL DE ESTUDO DE ALUNOS DE PEDAGOGIA E GESTÃO AMBIENTAL FRENTE AS QUESTÕES AMBIENTAIS
Ana Cristina Siewert Garofolo
Faculdade de Paulínia – SP
Universidade Paulista -SP
Tércia Zavaglia Torres
Embrapa Informática Agropecuária - SP
Faculdade de Paulínia – SP
Universidade Paulista - SP
Sandra Julia Gonçalves Albergaria
Faculdade de Paulínia – SP
Universidade de Guarulhos – SP
Instituto de Geociências –UNICAMP/SP
RESUMO:
A formação ambiental deveria constar de um conjunto de dinâmicas e conteúdos a serem
trabalhados totalmente voltados a abertura de horizontes reflexivos na linha de romper com as
tradicionais cadeias discursivas verificadas nas práticas educativas Tal conhecimento exige pesquisa,
que, de preferência, deve ser organicamente integrada ao processo de formação, para que técnicas que
possam vir a serem usadas no processo pedagógico reflitam a ênfase que deve ser a capacitação para
perceber as relações entre as áreas e como um todo, enfatizando uma formação local/global. Nesse
contexto a educação ambiental aponta para propostas pedagógicas centradas na conscientização,
mudança de comportamento, desenvolvimento de competências, capacidade de avaliação e
participação dos discentes. Objetivando avaliar técnicas possíveis de serem usadas em cursos de
educação ambiental realizou-se junto aos discentes do curso de pedagogia e de gestão ambiental da
Faculdade de Paulínia, uma pesquisa sobre o seu perfil de estudo frente as questões ambientais.
PALAVRAS-CHAVE: técnicas de aprendizagem, pedagogia e gestão ambiental
1. Introdução
Nos dias atuais muito é dito a respeito da gravidade dos problemas ambientais
que cercam a sociedade e que têm origem em fontes diversas, destacando-se aqueles advindos
das atividades industriais, agrícolas e urbanas as quais vêm colocando em xeque o futuro da
humanidade e do planeta. É notório o efeito da atividade antrópica nos ecossistemas naturais:
observa-se atualmente grande ameaça a vida biológica nos lagos, rios e oceanos, graças ao
impacto causado pelas atividades poluidoras em águas, bem como envenenamento da
atmosfera por poluentes gasosos e destruição do solo através de seu uso indivíduo causando
erosões e perda de solo fértil. A problemática ambiental tornou-se assim um sério desafio para
a comunidade mundial requerendo estudos cada vez mais profundos da causa destes impactos
e definição de respectivas medidas mitigadoras e corretivas. Neste cenário, a educação
assume um papel fundamental na formação de cada indivíduo, levando-o a reflexão de seus
comportamentos e valores pela aquisição do conhecimento, compromisso e responsabilidade
frente a sociedade no qual está inserido (REIGADA et al., 2004). Consequentemente faz-se
necessária uma abordagem educativa pautada em uma nova formação voltada para o estudo
do ambiente natural, a qual deverá levar o educando a posicionar-se e a agir em busca de
soluções coletivas e pessoais para a realidade que o cerca. Neste contexto uma educação
voltada para as questões ambientais deve buscar nos dias atuais a valorização da vida, sem
consumismo excessivo, sem desperdício de recursos naturais e sem a degradação ambiental,
sendo necessária uma mudança de paradigma que implica tanto uma revolução científica
quanto política, devendo ser acima de tudo voltada para a transformação social. (OLIVEIRA,
1998; JACOBI, 2003)
Deverá a formação ambiental estabelecer diálogos permanentes contextualizados,
tanto do ponto de vista pedagógico quanto dos conteúdos próprios de ensino, características
evidenciada tanto por pesquisadores quanto por documentos oficiais de orientação curricular
(SANTOS, 1997; BRASIL, 1999; BRASIL, 2002). Sendo assim, uma de suas características
mais marcantes é proporcionar a organização coletiva na busca de soluções para os problemas
ambientais atuais, visto as questões ambientais afetarem diretamente a qualidade de vida da
população e compõem um elenco de problemas e situações com enorme potencial para a
compreensão crítica da sociedade brasileira (MARTINEZ,2004). Considerando o quadro de
crise ambiental atual e a necessidade da implantação de currículos pertinentes, surge a figura
do professor como mediador oferecendo oportunidades para a construção e reconstrução de
representações do significado ambiental para o aluno. Ressalta-se aqui o papel do professor,
que por meio do currículo realiza em sala de aula a transposição didática do mesmo currículo,
visto que não poderá ocorrer ensino possível sem o reconhecimento e legitimação do objeto
ensinado pelo professor (FORQUIN, 1993). Neste contexto a escola, como espaço de
formação crítica, deve promover constantemente práticas educativas voltadas à
conscientização da problemática socioambiental e conseqüente busca de soluções. A
formação ambiental deverá por primicia constar de um conjunto de dinâmicas e conteúdos a
serem trabalhados por professores totalmente voltados a abertura de horizontes reflexivos na
linha de romper com as tradicionais cadeias discursivas verificadas nas práticas educativas
(CASCINO, 2003).
Para obter-se sucesso no processo educativo deve-se conseqüentemente, conhecer as
concepções e práticas dos professores e bem como a dinâmica de aprendizagem dos alunos
submetidos aos processos de formação, para que se possa adequar os programas e ações aos
seus perfis. Tal conhecimento exige pesquisa, que, de preferência, deve ser organicamente
integrada ao processo de formação, para que técnicas que possam vir a serem usadas no
processo pedagógico reflitam a ênfase que deve ser a capacitação para perceber as relações
entre as áreas e como um todo, enfatizando uma formação local/global. A educação em seu
mais amplo aspecto necessita entender o processo de ensino-aprendizagem como meta para
conhecer como processa-se a aquisição do conhecimento e o saber. É necessária a
planificação e a operacionalização dos conhecimentos escolares por meio de uma dimensão
vertical, que implica a idéia de profundidade e em uma dimensão horizontal, que estabelece a
interação dos conhecimentos com as outras áreas/disciplinas (AZEVEDO, 2007). Desse modo
o currículo não se limita a fazer uma seleção entre os conteúdos disponíveis, mas deverá
torná-los objeto de ensino, de modo a serem perfeitamente transmissíveis ao educando.
Tradicionalmente nas escolas formais o ensino de conteúdos de ciências, na qual os
assuntos da área ambiental estão contemplados, são pautados na transmissão e memorização
de conhecimentos. Embora possamos considerar que a para uma ação educativa ambiental a
“aprendizagem significativa” é uma referência teórico-metodológica importante pois torna-se
uma alternativa à aprendizagem por memorização (MOREIRA, 1999a, 1999b). Nesse
contexto uma educação voltada para as questões ambientais aponta para propostas
pedagógicas centradas na conscientização, mudança de comportamento, desenvolvimento de
competências, capacidade de avaliação e participação dos discentes. Nos dias atuais a
importância dada a educação, à ação dos professores bem como ao papel da escola em relação
a sociedade, mudaram muito acompanhando as mudanças da sociedade no qual estão
inseridas. Hoje o objetivo primeiro da ação docente deverá ser a construção do conhecimento
para que o discente desenvolva plenamente suas potencialidades sejam elas intelectuais,
afetivas, sociais, criativas ou morais, onde modelos prontos deverão ser abandonados a favor
da valorização do conhecimento prévio e experiência (PORTILHO et al., 2008). Ao encontro
de tal realidade, também as iniciativas pedagógicas, bem como as inúmeras praticas de ensino
procuram responder as novas demandas sociais, reorientando as praticas educacionais,
revendo seus conteúdos, metodologias e a formação de seus próprios professores
(MARTINEZ, 2004).
Com o objetivo de avaliar técnicas possíveis de serem usadas em cursos de Pedagogia
e Gestão Ambiental para aprendizagem de questões ambientais realizou-se durante o segundo
semestre letivo de 2009, junto aos discentes do segundo semestre do curso de Pedagogia e dos
discentes do segundo, terceiro e quarto semestres de Gestão Ambiental da Faculdade de
Paulínia situada na cidade de Paulínia, pólo petroquímico do Estado de São Paulo, uma
pesquisa sobre o seu perfil de estudo destes discentes frente as questões ambientais.
2. Desenvolvimento
A pesquisa exploratória realizada junto aos alunos foi dividida em duas etapas, ambas
elaboradas no segundo semestre de 2009. Os alunos entrevistados de Pedagogia foram
escolhidos por terem cursado a disciplina Fundamentos e Projetos em Educação Ambiental e
elaborado durante o semestre letivo, projetos educativos na área ambiental junto a
comunidade escolar da cidade. Alunos de Gestão Ambiental foram escolhidos pelo fato de
terem como exigência profissional grande conhecimento ambiental e apresentarem como
competência profissional a gestão de atividades de Educação Ambiental. Em ambas as etapas
os alunos avaliados foram os mesmos, sendo estes convidados a participarem da pesquisa.
Foram considerados 29 alunos de Pedagogia concluintes da disciplina obrigatória de segundo
semestre de graduação e 48 alunos de Gestão Ambiental, pertencentes ao segundo, terceiro e
quarto semestres letivos. Durante o semestre letivo alunos de pedagogia tiveram como
exigência curricular a leitura de material previamente selecionado pelo docente,
correspondente a 20% da carga horária total da disciplina. Este material em questão constou
de uma série de dez artigos científicos publicados em revistas indexadas, onde os discentes
realizavam com uma semana de antecedência a leitura em classe e extra-classe. Após a leitura
e resumo do material em questão os discentes realizavam em sala discussões, discutiam casos
reais e ou propunham atividades práticas docentes pautadas nas referidas leituras. As leituras
propostas bem como as temáticas abordadas e uma breve descrição dos projetos constam na
tabelas 1 e quadro 2 a seguir. Alunos de gestão ambiental tiveram como exigência durante o
semestre, atividades de caráter interdisciplinar (tabela 2), com elaboração de trabalhos
voltados a área ambiental também pautados em leituras e discussões conduzidos por
professores responsáveis em cada semestre.
Tabela 1 – leituras propostas e temática envolvida utilizadas na disciplina Fundamentos e Projetos em Educação Ambiental
Na primeira etapa objetivando conhecer o hábito de estudo dos entrevistados a
pesquisa foi dividida em duas partes. Em um primeiro momento objetivou-se avaliar o quanto
a técnica de leitura aliada a outras técnicas poderiam contribuir para um aprendizado mais
significativo. Foram elaboradas seis questões as quais aliavam a leitura a outras atividades
cognitivas. As questões Q1, Q2 e Q3 tinham por meta conhecer se técnicas como leitura
silenciosa, leitura em voz alta ou leitura em grupos questionadores contribuíam ou não para
LEITURA PROPOSTA TEMATICA ENVOLVIDA AUTOR (ANO)
Educação e meio ambiente: transformando as práticas.
Praticas pedagógicas JACOBI ( 2004)
Educação Ambiental: caminhos para reverter a crise ambiental?
Crise ambiental DIOGENES et al. (2009)
Educação ambiental: caminho para a sustentabilidade
Sustentabilidade TEIXEIRA ( 2007)
Educar, participar e transformar em Educação ambiental
Participação Social LOUREIRO (2004)
Educação Ambiental e a Educação Infantil: a criança e a percepção do espaço.
Educação infantil Ambiental UNGARO et Al. (2007)
Educação Ambiental: possibilidades e limitações
Fundamentos de Educação Ambiental
SAUVÉ (2005)
Saberes e fazeres da educação ambiental no cotidiano escolar
Fundamentação da prática ambiental
TRISTÂO (2005)
Rumos da formação de professores para a Educação Ambiental
Formação de professores GOUVÊA ( 2006)
As representações sociais do lixo: subsídeos para a Educação do Consumidor.
Resíduos Solidos DAMASIO et al. (2003)
Ecopedagogia Ecopedagogia AVANZI ( 2004)
uma maior motivação no estudo. As demais questões Q4, Q5 e Q6, procuraram aliar a leitura
a outras técnicas de estudo tais como grifar, resumir e explicar o entendido para o colega.
Quadro 1 – Caracterização dos Projetos da disciplina Fundamentos e Projetos em Educação Ambiental
NOME DO PROJETO
NÚMERO DE DISCENTES
ENVOLVIDOS
TEMA CENTRAL DO PROJETO
BAIRRO DA COMUNIDADE
Disposição do Lixo e o problema social
5 Lixo e Reciclagem Centro
Meio Ambiente na Escola Semente da Mudança
6 Escola como meio de transformação
João Aranha
Docência consciente em ação
5 Reflexão do Professor em ação Jardim Calegari
Reaproveitamento de Alimentos
6 Beneficio dos Alimentos Betel
Construção de saberes
7 Práxis sustentável Jardim Aparecidinha
Quadro 2 – Caracterização dos Projetos Interdisciplinares do Curso de Gestão Ambiental – ano de 2009
NOME DO PROJETO
NÚMERO DE DISCENTES
ENVOLVIDOS
TEMA CENTRAL DO PROJETO NUMERO DE DOCENTES
ENVOLVIDOS
Relações Naturais e Atividade Antrópica: relações do solo disponibilidade hídrica e seus efeitos na vegetação de regiões brasileiras.
28 Interrrelações entre Meio Biótico e Abiotico e antrópico na
caracterização de paizagens brrasileiras
5
Disposição de resíduos, Ciclo de vida do produto e a possibilidade de geração de energia: solução viável?
30 Residuos e Poluentes: como administra-los no ambiente urbano
4
Manejo de Áreas Degradadas
25 Estudos de recuperação de áreas degradadas: correlação com
legislação ambiental e educação ambiental neste processo
4
Na segunda parte desta etapa buscou-se pesquisar com o mesmo grupo de alunos se a
técnica de escrita e pesquisa contribuía para um aprendizado mais eficiente. Foram elaboradas
quatro questões nos moldes das seis anteriores onde Q7 abordava a resolução de exercícios,
Q8 o passar de matéria a limpo. As questões Q9 e Q10 buscavam avaliar a ferramenta de
pesquisa em material de aula e a consulta prévia do assunto a ser trabalhado na aula. Para
cada questão o discente foi convidado a apontar se a técnica o motivava ou não no estudo e de
que maneira, pontuando como zero quando a técnica não o auxiliava e como quatro quando
ele a considerava excelente.
Na segunda etapa a pesquisa procurou avaliar a aluno frente as possíveis dinâmicas em
sala de aula. Foram apresentadas aos alunos técnicas de ensino tais como discussões em
grupo, atividades de escrita, estudos de casos reais, execução de projetos, uso de vídeos e
estudos do meio. Também foi solicitado nesta etapa ao entrevistado que para cada questão ele
apontasse se a técnica o motivava ou não no estudo e de que maneira, pontuando como zero
quando a técnica não o auxiliava e como quatro quando ele a considerava excelente.
3. Resultados e discussão
Resultados da pesquisa realizada com vinte e nove alunos recém-concluintes da
disciplina Fundamentos e Projetos em Educação ambiental eletiva do segundo semestre de
graduação em Pedagogia, e com 48 alunos concluintes da disciplina obrigatória Educação
Ambiental do terceiro semestre graduação do Curso de Gestão Ambiental, apontaram algumas
diferenças entre seus hábitos de estudo frente as questões ambientais. Pesquisa preliminar
revelou que aproximadamente 83% dos discentes do curso de Pedagogia com idade entre
dezoito e vinte e nove anos, terminaram o ensino médio nos últimos dez anos, indicando ser
esta uma geração pós-parâmetros curriculares nacionais, onde o meio ambiente apresentado
como tema transversal (BRASIL, 1988), passou a permear todos os conteúdos programáticos
curriculares. No tocante aos discentes de Gestão Ambiental, apenas 45% dos alunos estavam
na mesma faixa etária sendo que 55% apresentaram idade acima de 30 anos, com tempo de
conclusão do ensino médio acima de 10 anos.
No tocante a aprendizagem pautada em leituras ao considerarmos o hábito de estudo
em situações tais como ler e grifar textos, ler e questionar e ler em silencio a pesquisa revelou
não haver diferença entre os dois grupos de estudo, sendo que aproximadamente 65% dos
entrevistados consideravam-nas como sendo motivadoras. Acima de 79% dos alunos de
pedagogia pontuaram com sendo uma atividade considerada boa a ótima para aprendizagem a
execução de leitura atrelada ao feitio de resumos. Leituras quando realizadas em grupos de
partilha ou acompanhadas por questionamentos foram pontuadas por 65% dos alunos de
pedagogia como sendo uma atividade que auxilia em seus estudos, sendo que menos de 45%
dos alunos de Gestão Ambiental apresentaram esta técnica como eficiente (Quadro 3).
Independente da técnica pontuada é importante salientar que os alunos devem escolher seus
métodos próprios de estudo. Quanto mais autonomia o discente tiver em sua aprendizagem
mais esta contribuirá para uma aprendizagem significativa (CLOW, 1998).
De modo geral atividades de leitura foram apontadas pelos alunos de pedagogia como
geradoras de aprendizagem, o que não ocorreu com o grupo de alunos de gestão ambiental.
Esta possível predominância pode estar atrelada ao fato de que durante a disciplina de
Fundamentos e Projetos em Educação Ambiental os discentes tiveram uma exigência de
leitura de material obrigatório em classe e extra-classe, correspondente a 20% da carga
horária total, conforme descrito anteriormente, neste artigo.
A pesquisa revelou que alunos dos dois grupos de estudo preparam-se para as aulas,
sendo que 88% dos alunos de Gestão ambiental e 96,6% dos alunos de Pedagogia tiveram por
habito consultar previamente o material pertinente ao curso antes do inicio das aulas.(quadro
4). Este dado nos reporta ao próprio papel da escola como mediadora do processo de
aprendizagem do educando: capacitá-lo a acessar, analisar e interpretar a informação em um
processo que jamais termina (MENEZES e FARIA, 2003).
Para 64,6% dos alunos de Gestão Ambiental a atividade de resolução de exercícios
práticos foi pontuada como fundamental no preparo pessoal para acompanhamento das aulas,
sendo que 62% dos alunos avaliados consideraram como boa a ótima esta técnica para estudo
e compreensão do trabalhado em sala de aula. No tocante aos alunos de Pedagogia apenas
58% tinham por habito esta prática. (Quadros 5 e 6, apresentados a seguir).
De modo geral observou-se que alunos do curso de pedagogia pontuaram que a
consulta prévia de materiais a serem utilizados em aula e sugeridos pelo docente favoreceu a
aprendizagem, sendo que 52% dos entrevistados reconheceram ser esta técnica como boa a
ótima para a motivação no estudo do discente. Neste caso, um fato interessante a considerar
reside na valorização da atividade intelectual em detrimento a simples memorização: ao
resolver exercícios práticos o aluno compreende, apropria e torna significativo o
conhecimento. Entretanto a consulta prévia a livros ou mesmo o fato de passar matéria “a
limpo” contribuiu com a aprendizagem em menos de 40% dos alunos avaliados nos dois
grupos de estudo. É importante observar que alunos de gestão ambiental pontuaram que
técnicas pautadas em escrita e em pesquisa facilitaram a aquisição do conhecimento sendo
pontuadas como boas a ótimas em valores porcentuais maiores que para os alunos de
pedagogia em todos os quesitos (quadro 6).
Quadro 3. Aprendizagem pautada em leituras
Quadro 4. Contribuição da tecnica para a motivação do aluno. Foram consideradas as classificações “bom” e “otimo” somadas em termos porcentuais.
Quadro 5: Aprendizagem relacionada a escrita e pesquisa.
Quadro 6. Contribuição da tecnica para a motivação do aluno. Foram consideradas as classificações “bom” e “otimo” somadas em termos porcentuais
No tocante as técnicas possíveis de serem desenvolvidas no cotidiano escolar,
constatou-se que atividades tais como discussões em grupo em sala de aula, estudos de cases
em educação ambiental, elaboração de projetos e visitas a locais onde projetos estão
implantados estimularam e motivaram a participação nas aulas segundo cerca de 70 % de
alunos entrevistados de ambos os cursos (Quadro 7). Discussões em grupo envolvem a prática
da persuasão e da instrução os quais em sua essência são muito parecidos. Ambos exigem a
atividade cognitiva consciente pois necessitam de argumentos e provas com o objetivo de
conseguir alguém para fazer algo ou a acreditar em algo (KOBALLA, 1992). O trabalho com
projetos apresenta como característica fundamental a renuncia do professor de sua atitude de
especialista, o qual passa a cooperar com os alunos ao problematizar a realidade de estudo,
passando a ser orientador e mediador do processo. Com isso o aprendizado não ocorre de
modo unidirecional, mas percorre caminhos alternativos, enriquecendo o aprendizado do
discente e do grupo no qual ele está inserido (MENEZES e FARIA, 2003). Entretanto cabe
aqui pontuar que trabalhos com projetos e estudos interdisciplinares levam a própria escola a
repensar suas ações, pois exigem integração e compreensão entre disciplinas envolvidas.
Estas práticas pedagógicas têm características que requer uma disposição curricular no qual
não só os docentes, mas os gestores no núcleo escolar também compreendam suas
singularidades; os aspectos que envolvem tais práticas necessitam ser articuladas em um
projeto maior de investigação (SUERTEGARAY,1996) o qual toca e transforma os currículos
dos cursos e transpira o plano político pedagógico do núcleo escolar.
Novamente nesta fase da pesquisa a discussão de assuntos ambientais em grupo foi
apontada como uma técnica que contribuiu para a aprendizagem sendo vista como uma boa a
ótima motivação para 82,7% dos alunos de pedagogia e 83,3 % dos alunos de gestão
ambiental (quadro 8). É importante observar que ao expor-se em um grupo, alunos
contribuem de muitas maneiras, permitindo que suas observações particulares sejam
compartilhadas pelo grupo, levando a uma evolução do próprio conhecimento. Sendo assim o
saber passa a ser compreendido não como um dado estanque que pode ser “apreendido”, mas
como algo que se constrói em comunidade (PORTILHO et al., 2008). Estudos tem
demonstrado que em ciências a discussão de assuntos previamente selecionados pelo
professor em um grupo de estudos constitui-se uma pratica de ensino com resultados positivos
de aquisição de conhecimento significativo pelo aluno (CHIN, 2007).
Aproximadamente 90% dos alunos de Gestão Ambiental e Pedagogia pontuaram que
estudos de casos reais (quadro 7) e elaboração de projetos ambientais, aliados as atividades
interdisciplinares preparatórias para estudos do meio são técnicas que motivam a
aprendizagem e justificam sua permanência no curso. Destas técnicas a participação em
atividades interdisciplinares foi classificada pelos discentes como boa (42%) a ótima (36%)
sendo interessante observar que quando consideramos estudos interdisciplinares na área
ambiental, necessariamente partimos do pressuposto de que os docentes deverão atuar em
conjunto com os alunos na mediação do conhecimento. Os docentes que se envolvem com as
práticas interdisciplinares e oferta aos seus discentes comprometem-se com o domínio das
técnicas de observação, da percepção e da aquisição de saberes integrados, compreendem o
domínio de técnicas adequadas que levam a compreensão conjunta dos “modos de ver” de
cada ciência assinalada nas diferentes disciplinas. Tais procedimentos exigem do docente
amadurecimento no que tange a sua formação pedagógica.
Quadro 7. Contribuição da tecnica apontada para a motivação pessoal no estudo
Vale pontuar que em temas presentes no cotidiano da comunidade local podem ser
tratados pelos docentes em sala de aula, a compreensão de aspectos tecnológicos e problemas
sócio-ambientais que tenham implicações diretas na vida local auxiliam o discente à cognição
de problemas enfrentados pela sociedade, indústria, por populações organizadas
(COMPIANI,2007) é justamente as técnicas de ensino interdisciplinar ,os projetos de estudo
do meio junto as comunidades não fazem parte do escopo dos livros e por conseguinte das
leituras em salas de aula. Percebe-se que o agrado pelos alunos em realizar atividades
interativas vivenciando situações contextualizadas no universo real/local se dá pelas
proposições pedagógicas destas atividades propiciarem a construção ativa de conhecimentos.
Quadro 8. Contribuição da tecnica para a motivação do aluno. Foram consideradas as classificações “bom” e “otimo” somadas
4. Conclusão
Ao termino desta pesquisa podemos concluir que técnicas válidas para um grupo de
graduação específico podem não ser viáveis para outro, bem como dinâmicas pedagógicas
com o objetivo de educar para as questões ambientais devem ser reavaliadas conforme o curso
em questão. Em um mesmo curso de graduação cada aluno vivencia e participa da aula de
modo diferenciado conforme sua história e conhecimentos prévios que ele traz para a sala de
aula. Sendo assim compreender como os alunos aprendem e o que gera a aprendizagem
significativa pode ajudar os professores a elaborarem estratégias cada vez mais eficazes de
ensino.
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