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❞ MARCELO HENRIQUES DE BRITO,DIRETOR DA ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DO RIO DE JANEIRO
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DE ACORDO COM The Economist, opreço do famoso sanduíche, em dólares, noBrasil, é US$ 6,16 – para cálculo foi utilizadaa taxa de câmbio do dia 25 de julho, de R$1,54 por unidade norte-americana e o preçoem reais (R$ 9,50). Nos Estados Unidos(emissor da moeda de referência – o dólar),o Big Mac custa US$ 4,07. Segundo o con-sultor Marcelo Henriques de Brito, diretorda Associação Comercial do Rio de Janeiro eautor de um livro que esmiúça o tema – Cri-se e Prosperidade Comercial Financeira ePolítica – a partir do último resultado do Ín-dice Big Mac (IBM) e do próprio histórico doBrasil no indicador, a partir de 1992, perce-be-se claramente que o atual nível da moe-da brasileira é insustentável.
HENRIQUES DE BRITO explicaque no gráfico publicado pela revista a retade regressão (linha amarela) indica qual de-veria ser o preço do Big Mac, em dólares,para um dado PIB per capita, consideran-do-se, assim, a posição do país na cadeiaprodutiva global. No caso brasileiro, para opreço da guloseima convergir para a reta,haveria três possibilidades (que, em tese,podem ocorrer em conjunto): o preço no-minal (em reais) declinar substancialmen-te; o PIB per capita dar um salto extraordi-nário; ou a taxa de câmbio se desvalorizar.Dentre as três hipóteses, ressalta o admin-istrador, a última é a que parece ser viávelno curto prazo. Tomando-se como base oPIB per capita brasileiro de 2010 (R$ 19.016ou US$ 12.384, usando-se a paridade de R$1,54 por dólar), a taxa de câmbio de equilí-brio, segundo a revista, seria de R$ 2,34 pordólar, o que levaria o Big Mac no Brasil acustar US$ 4,06 (9,50/2,34) e o PIB per capi-ta, em dólares, a US$ 8.126 (19.016/2,34).Note-se que, desde o dia 25, o real se desva-lorizou 3,1% frente ao dólar (de R$ 1,54 paraR$ 1,587). Pelos dados da The Economist,contudo, haveria espaço para uma desvalo-rização bem mais acentuada da divisa bra-sileira, levando a taxa de câmbio a R$ 2,34por dólar.
HÁ OUTRAS INDICAÇÕES impor-tantes nos resultados do IBM, ressaltadas porMarcelo Henriques de Brito. Nos EstadosUnidos, onde o sanduíche está supostamen-te barato, seria de se esperar acréscimo nopreço nominal e/ou decréscimo do PIB percapita que ajuste o preço à renda do ameri-cano. Para o professor do Ibmec-RJ, pelo an-dar da carruagem, o desequilíbrio tende a sercorrigido com inflação ao consumidor e oconsequente encarecimento do produto. NaChina, tão criticada pelo controle ferrenhodo valor de sua moeda, nota-se que o yuanestá em patamar coerente com a renda percapita (bem próximo à reta). O problema chinês, le-vantado por Henriques de Brito, é que está havendocrescimento com forte concentração de renda. Oconsultor entende que a estratégia do dragão seassemelha à brasileira nos anos 70, quando foi cu-nhada a frase: ‘crescer primeiro para distribuir o bo-lo depois’. “Há bolsões de pobreza comparados a re-giões africanas contrastando com centros extrema-mente prósperos, que não deixam nada a dever aNova York”, assinala. Nessas circunstâncias, obvia-mente, perde-se um pouco o sentido de se associarum preço único do Big Mac ao PIB per capita.
DE MANEIRA SIMILAR, isso tambémacontece na Zona do Euro. Embora o preço do san-duíche esteja em cima da reta de regressão, trata-sede uma situação média, pois em alguns países o BigMac está mais caro do que deveria ser. “Isso nãodeixa de ser mais uma evidência das enormes difi-culdades da União Europeia para gerir uma moedaúnica e padronizar uma política fiscal”, constataHenriques de Brito. O consultor enfatiza ainda aforte apreciação das divisas da Noruega, onde sevende o Big Mac mais caro do mundo (na compara-ção em dólares), a US$ 8,31, da Suíça (US$ 8,06) e daSuécia (U$ 7,64). Ele chama a atenção, porém, quesendo a renda per capita desses países bastante su-
perior à brasileira, os preços do Big Mac não estãotão distantes da reta de regressão quanto no caso doBrasil. O que explica a valorização das moedas des-sas três nações, segundo Henriques de Brito, seria abusca de investidores por portos considerados maisseguros ante a turbulência global.
“O IBM CUMPRE a importante função deatestar a insustentabilidade da Lei do Preço Úni-co”, enfatiza Marcelo Henriques de Brito. Na suavisão, a prática de preços iguais (comparados emuma moeda referencial) é inviável, sobretudoquando se nota a presença de obstáculos à livrecomercialização e se consideram as peculiarida-des de cada país dentro da cadeia produtiva mun-dial. Ele sustenta o argumento dizendo que paísesque são grandes importadores de matérias-primase exportadores de produtos de alto valor agregado,por exemplo, teriam, a princípio, interesse emmanter suas moedas mais valorizadas. Isso ocorreporque seus produtos com alto valor agregadotendem a apresentar demanda mais inelástica,apoiados em forte marketing, em leis eficazes deproteção à propriedade intelectual e em marcaspoderosas, pelos quais consumidores mundiaisestão dispostos a pagar. Nesse grupo estaria in-cluída a Suíça. “No Brasil, assim como em outras
economias de PIB per capita mais baixos, opoder aquisitivo da população não com-porta os mesmos preços praticados emeconomias mais ricas (com PIB per capitamais altos), além de a sua posição na cadeiaprodutiva global não suportar de forma du-radoura uma divisa mais apreciada”. Henri-ques de Brito acredita que, para paísesatuantes em etapas preliminares da cadeiaprodutiva, produtores de mercadorias debaixo valor agregado e/ou que sejam gran-des exportadores de matérias-primas (nosetor primário) beneficiam-se em ter amoeda na situação mais desvalorizada pos-sível, até o limite de impedir uma saudávelconcorrência de produtos estrangeiros e in-viabilizar a exportação de produtos quecontêm componentes importados.
O TOMBO NA BOVESPA em 2011 é opior, entre as principais bolsas do planeta. Oque isso tem a ver com o Índice Big Mac? Ba-sicamente, nos últimos dez anos, não falta-ram atrativos para a entrada de recursos es-trangeiros no País, o que resultou, em últimainstância, em valorização excessiva do real ede outros ativos nacionais, assim como naatual posição brasileira no IBM.
EM 2002, NO BRASIL, havia um am-biente de ativos altamente desvalorizados,com imenso potencial para apreciação, ta-xas de juros extremamente convidativas (asmaiores do mundo), enorme espaço para avalorização do real, além de um mercado in-terno em expansão. O dinheiro lá fora estavabarato e abundante, a conjuntura global eratranquila, a economia mundial crescia in-discriminadamente e o apetite por risco es-tava aguçado. O estrangeiro veio e esticou acorda até onde deu. Atualmente, o real estásobrevalorizado (aumentando os riscos deperda cambial ao se trazer recursos para cá),a Bolsa de São Paulo atingiu patamares dis-crepantes com o momento econômico glo-bal, a inflação ameaça e o consumidor estáendividado. No plano externo, até agora, nãosaiu uma nova rodada de compra de títulosdo governo pelo Federal Reserve nos EUA(QE3), o que começa, de forma tímida, a di-minuir a liquidez. Ou seja, com exceção dosjuros domésticos estratosféricos no Brasil,todo o resto mudou.
O IBOVESPA QUASE cravou um topoduplo histórico – o primeiro em 73.920 pon-tos, em maio de 2008, e o segundo em73.103 pontos, em novembro de 2010. Essaperformance resultou de duas característi-cas básicas dos mercados financeiros. A pri-meira diz respeito a que agentes sempre seatêm a perspectivas futuras. A segunda serefere à tendência de investidores exacerba-
rem (e prolongarem) essas mesmas perspectivas,de onde deriva o efeito manada, uma vez que se es-palha a crença de que a trajetória das cotações (eda própria economia) só podem seguir em deter-minada direção. Em 2009, os ganhos auferidos naBolsa de São Paulo, para quem apostou na valori-zação do Ibovespa, superou, em dólares, a impres-sionante marca de 145%, um manancial e tanto pa-ra investidores estrangeiros.
RECENTEMENTE, no mundo inteiro, as pers-pectivas futuras que justificam as apostas se inver-teram. Em termos empresariais, após ser registradonos EUA recorde de rentabilidade nos últimos 18anos, a maioria dos estrategistas enxerga declíniono futuro próximo, no que tange ao desempenhonão apenas das corporações americanas, mas decompanhias no âmbito global. O aperto de cintogeral soa inevitável.
POR FIM, em determinado momento, especula-dores passam a vender a descoberto e a casa cai, ouseja, as cotações desabam. É o que está acontecendoagora. Lembrando sempre que a venda a descobertopode gerar lucros extraordinários, quando as açõessão compradas (ao se encerrarem as posições), a pre-ços inferiores aos que foram (inicialmente) vendidos.
SEGUNDA-FEIRA
BRASIL£ Pesquisa Focus
(BC)/semanal£ Balança Comercial
(MDIC)/semanal£ IPC-S (FGV)/agosto£ IGP-DI (FGV)/julho
JAPÃO£ Balança
Comercial/junho
CHINA£ Índice de Preços ao
Produtor (PPI)/julho£ Índice de Preços ao
Consumidor(CPI)/julho
£ ProduçãoIndustrial/julho
£ Vendas noVarejo/julho
TERÇA-FEIRA
BRASIL£ IPC (Fipe)/agosto£ Pesquisa Industrial
Mensal(IBGE)/junho
£ Produção Agrícola(IBGE)/julho
EUA£ Anúncio do Fed
(DecisãoMonetária)
£ Custo da Mão-de-Obra/2° trimestre
ALEMANHA£ Balança
Comercial/junho
REINO UNIDO£ Produção
Industrial/junho£ Balança
Comercial/junho
JAPÃO£ Índice do Setor
Terciário/junho£ Índice de Preços ao
Consumidor(CGPI)/julho
CHINA£ Balança
Comercial/julho
QUARTA-FEIRA
BRASIL£ IGP-M (FGV)/agosto
EUA£ Estoques no
Atacado/junho£ Estoques de
Petróleo/semanal£ Orçamento do
Tesouro/julho
ALEMANHA£ Índice de Preços ao
Consumidor(CPI)/julho
JAPÃO£ Pedidos de
Máquinas/junho
QUINTA-FEIRA
BRASIL£ Vendas no Varejo
(IBGE)/junho£ Pesquisa Mensal de
Emprego e Salário(IBGE)/junho
EUA£ Balança
Comercial/junho£ Pedidos Iniciais de
AuxílioDesemprego/semanal
JAPÃO£ Produção
Industrial/junho
SEXTA-FEIRA
EUA£ Vendas no
Varejo/julho£ Estoques de
Empresas/junho£ Confiança do
Consumidor daUniversidade deMichigan/agosto
ZONA DO EURO
£ ProduçãoIndustrial/junho
PA
RA
OLH
AR
DU
RA
NTE
A S
EMA
NA
DE OLHONO MERCADO
pguimaraes@jcom.com.brP A U L O G U I M A R Ã E S
IbovespaO mercado é urso. Só uma sucessão de notícias boas da China edos EUA poderia amainar a volúpia vendedora. O próximo suporterelevante está em 48.260 pontos, com possível enrosco na casa dos51.000. Mais abaixo, a referência passa a ser 44.274 pontos. Paracima, a jornada será árdua. É necessário a formação consistente defundos e topos ascendentes para o índice ganhar momentum.
MERCADOSB-2 Segunda-feira, 8 de agosto de 2011Jornal do Commercio
Em meio a colapso de ações, Índice Big Macaponta para desvalorização do real
Ocolapso da bolsa de valores brasileira era tragédia anunciada. A desvaloriza-ção de 23,6% no ano e de 10% somente na semana passada não chega a sur-preender, já que alertas foram emitidos repetidamente por conceituadosanalistas, tanto em nível doméstico, quanto no exterior. Em 28 de julho, a re-vista The Economist publicou sua mais recente edição do Índice Big Mac,
que afere o nível de valorização (ou desvalorização) de moedas. Nela, o real aparece comouma das divisas mais apreciadas no mundo, em termos da Paridade de Poder de Comprafrente ao dólar dos EUA, sobretudo se for considerado o Produto Interno Bruto (PIB) per ca-pita de cada nação. Há pouco tempo, quando o Ibovespa se encontrava na casa dos 70 milpontos e a taxa de câmbio na faixa de R$ 1,60 por dólar (em queda), as empresas brasileirasestavam entre as mais valorizadas do planeta, em um momento de incertezas econômicascrescentes, dívidas soberanas explodindo e ameaças inflacionárias disseminadas por todosos continentes. A derrocada do mercado acionário nacional emite um sinal muito claro: apercepção internacional do Brasil como uma ilha de prosperidade pode estar sucumbindo.
O ÍNDICE BIG MAC
No Brasil, assim como em
outras economias de PIB
per capita mais baixos, o
poder aquisitivo da
população não
comporta os mesmos
preços praticados
em economias
mais ricas
0 20 40 60 80 100
CHINA
2,27
PR
EÇ
O
DO
B
IG
M
AC
U
$
PIB PER CAPITA , 2010, EM US$ 000
PREÇO DO BIG MAC/PIB PER CAPITAJULHO 2011
FONTE: THE ECONOMIST
0
3
6
9
NORUEGA
8,31
SUIÇA
8,06
SUÉCIA
7,64
BRASIL
6,16
ZONA DO EURO
4,93
ESTADOS UNIDOS
4,07
FÁB
IO C
OST
A/J
CO
M/D
AP
RES
S
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