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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE
DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM EMPREENDEDORISMO
COMPUTAÇÃO EM NUVEM E O DESAFIO DE INOVAÇÃO DAS
CONSULTORIAS INTEGRADORAS DE SISTEMAS
Marcelo Seiji Tokumaru
Orientador: Prof. Dr. Antonio Geraldo da Rocha Vidal
São Paulo
2019
Prof. Dr. Vahan Agopyan
Reitor da Universidade de São Paulo
Prof. Dr. Fabio Frezatti
Diretor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
Prof. Dr. Moacir de Miranda Oliveira Júnior
Chefe do Departamento de Administração
Prof. Dr. Marcelo Caldeira Pedroso
Coordenador do Programa de Mestrado Profissional em Empreendedorismo
MARCELO SEIJI TOKUMARU
COMPUTAÇÃO EM NUVEM E O DESAFIO DE INOVAÇÃO DAS
CONSULTORIAS INTEGRADORAS DE SISTEMAS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Mestrado Profissional em
Empreendedorismo do Departamento de
Administração da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da
Universidade de São Paulo, como requisito
parcial para obtenção do título de Mestre em
Ciências.
Orientador: Prof. Dr. Antonio Geraldo da Rocha Vidal
Versão Corrigida
(Versão original disponível na Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade)
São Paulo
2019
FICHA CATALOGRÁFICA
Elaborada pela Seção de Processamento Técnico do SBD/FEA com os dados inseridos
pelo(a) autor(a)
Tokumaru, Marcelo Seiji.
COMPUTAÇÃO EM NUVEM E O DESAFIO DE INOVAÇÃO DAS
CONSULTORIAS INTEGRADORAS DE SISTEMAS / Marcelo Seiji Tokumaru. - São
Paulo, 2019. 87 p.
Dissertação (Mestrado) - Universidade de São Paulo, 2019. Orientador: Antonio
Geraldo da Rocha Vidal.
1. Computação em nuvem. 2. inovação. 3. consultoria integradora. 4. transformação
digital. 5. aplicativo mobile IES. I. Universidade de São Paulo. Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade. II. Título.
AGRADECIMENTOS
À Deisi, meu grande amor. Não consigo traduzir em palavras o quanto significa sua presença
em minha vida. Nada disso seria possível sem seu apoio incondicional nesta iniciativa e em
outras tantas de nossa história. Agradeço imensamente pelo amor, parceria e cumplicidade.
Aos meus filhos, Alice e Kenzo, enorme fonte de inspiração que, com seus desafios e
questionamentos, sempre me fazem querer ser uma pessoa melhor.
Aos meus pais pelo amor, carinho, valores e motivação com que sempre me guiaram nos
estudos e na vida. Tenham a certeza que os sacrifícios que fizeram por tanto valorizarem a
educação, mesmo em uma situação pouco privilegiada, refletiram muito em minhas escolhas.
À minha irmã, Suemi, meu maior exemplo acadêmico e pessoal. Professora Doutora,
orientadora e pesquisadora que com dedicação, conhecimento, paixão e competência
contribue com a tão necessária formação mais ampla e contextualizada de profissionais
cidadãos. Muito obrigado pela ajuda.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Antonio Geraldo da Rocha Vidal, pela sua disponibilidade,
paciência e dedicação durante toda a pesquisa. Muitas foram as discussões e argumentações,
e sua habilidade de criticar de forma construtiva sem perder a gentileza tornou esta
experiência muito mais rica, sendo fundamental para a qualidade deste estudo.
Aos meus empregadores, cuja confiança estabelecida viabilizou a proposição de novas ideias,
a utilização de recursos e a assunção de riscos que tornaram possível a realização desta
pesquisa. Meu muito obrigado.
Aos membros da banca de qualificação, Prof. Dr. Edson Ricardo Barbero e Prof. Dr. Gilberto
Perez, que, com suas contribuições assertivas, iluminaram o caminho deste mestrando.
Aos coordenadores e professores do Mestrado Profissional em Empreendedorismo da FEA-
USP, cuja dedicação e conhecimento contribuem para nossa formação acadêmica e
melhoram nossa condição profissional. Um agradecimento especial ao Prof. Martinho, ao
Prof. Marcelo, à Profa. Lilian, ao Prof. Sauaia, à Profa. Jane e ao Prof. Arnaldo. Esta
dissertação foi muito enriquecida com o aprendizado que tive com cada um.
E finalmente aos meus colegas da T4 e também a Fabiana que tanto nos ajudou no dia a dia,
foi enriquecedor conhecê-los e trocar tantas experiências. As contribuições de todos
contaram muito para este trabalho.
“Em um lugar escuro nos encontramos e um pouco mais de
conhecimento ilumina nosso caminho”
Mestre Yoda1
1 STAR Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith. Direção: George Lucas, Produção: Rick Mccallum. EUA:
Fox Films, 2005, 1 DVD.
RESUMO
A adoção da computação em nuvem pelo mercado ocorre no modelo de subscrição de
software, plataforma e infraestrutura como serviço, permitindo às empresas a implantação de
sistemas de gestão de forma mais rápida e com custos menores. Para as consultorias
integradoras de TI que compõem o ecossistema das grandes empresas de tecnologia, esse
novo formato de subscrição afeta a receita tradicional e altera a relação de parceria com os
fornecedores de software, exigindo que as consultorias inovem seu portfólio de serviços e
modelos de entrega de forma ativa, e não mais apenas pela adoção da inovação embutida nos
softwares e abordagens desenvolvidas pelos grandes fabricantes de tecnologia. Por meio de
uma pesquisa-ação participativa, este trabalho teve como objetivo executar um processo de
inovação estruturado que permitisse a uma empresa de consultoria o contato com a cultura de
inovação. Foram aplicados os conceitos de processo de inovação para identificar
oportunidades de negócio, gerar ideias, selecionar um projeto, desenvolver um novo produto
(baseado em soluções disponibilizadas pela plataforma de computação em nuvem) e lançá-lo
comercialmente. Como contribuição prática houve o efetivo lançamento no mercado de um
produto inovador e o encorajamento de comportamentos que fortaleceram o
compartilhamento de uma visão inovadora para a empresa estudada. Para a academia
consideramos que a habilidade de inovação de uma organização é fundamental para sua
sobrevivência e evolução e, estudos como o presente contribuem para a consolidação de
pesquisas aplicadas em empreendedorismo e inovação.
Palavras-chave: Computação em nuvem, inovação, consultoria integradora, transformação
digital, aplicativo mobile IES.
ABSTRACT
The adoption of cloud computing by the market occurs in the software subscription
model, platform and infrastructure as a service, allowing companies to deploy management
systems faster and at lower costs. For systems integration consulting firms that belong to the
ecosystems of large technology companies, this new subscription format affects traditional
revenue and alters the partnership relationship with software vendors and requiring that
consultancies innovate their portfolio of services and delivery models and not just for the
adoption of the innovation embedded in the software and approaches developed by the big
technology manufacturers. Through a participatory action research, this work had as objective
to execute a structured process of innovation that allowed a consulting company the contact
with the culture of innovation. The concepts of innovation process were applied to identify
business opportunities, generate ideas, select a project, develop a new product (based on
solutions provided by the cloud computing platform) and launch it in the market. As a
practical contribution there was the effective launching of an innovative product in the market
and the encouragement of behaviors that strengthened the sharing of an innovative vision for
the studied company. For the academy we consider that the innovation ability of an
organization is fundamental for its survival and evolution, and studies like the present
contribute to the consolidation of applied research in entrepreneurship and innovation.
Keywords: Cloud computing, innovation, system integrator firms, digital transformation,
mobile application for higher education.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABES: Associação Brasileira das Empresas de Software.
AI: Inteligência Artificial, do Inglês.
AOL: Assegurar o Aprendizado, do Inglês.
CAPEX – Despesas de Capital ou Investimento em Bens de Capital, do Inglês.
CRM – Sistema de Gerenciamento do Relacionamento com o Cliente, do Inglês.
EPM – Sistema de Gerenciamento de Performance, do Inglês.
ERP – Sistema de Gerenciamento de Recursos Empresariais, do Inglês.
HCM – Sistema de Gerenciamento de Capital Humano, do Inglês.
IAAS – Infraestrutura como Serviço, do Inglês.
IDC – International Data Corporation.
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.
IOT – Internet das Coisas, do Inglês.
ISACA – Information System Audit and Control Association.
ITIL – Information Technology Infrastructure Library.
LMS – Sistema de Gestão de Aprendizagem, do Inglês.
MVP – Mínimo Produto Viável, do Inglês.
NIST – National Institute of Standards and Technology.
OECD – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico.
OPEX – Despesas Operacionais, do Inglês.
PAAS – Plataforma como Serviço, do Inglês.
PC – Computador Pessoal, do Inglês.
PMI – Project Management Institute
SAAS – Software como Serviço, do Inglês.
SCM – Sistema de Gestão da Cadeia de Suprimentos – do Inglês.
SIS – Sistema de Informações do Estudante – do Inglês.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Evolução percentual dos principais modelos de utilização – 2013 a 2017. ........... 24
Figura 2 – Framework conceitual da pesquisa. ....................................................................... 25
Figura 3 – Funil de Desenvolvimento. .................................................................................... 35
Figura 4 – Stage Gate. ............................................................................................................. 35
Figura 5 – Modelo de processo de inovação. .......................................................................... 36
Figura 6 – Estrutura para condução de pesquisa-ação............................................................. 44
Figura 7 – Estruturação Proposta ............................................................................................ 45
Figura 8 – Análise de causa e efeito. ....................................................................................... 46
Figura 9 – Arquitetura do modelo de negócio da empresa de consultoria em julho de 2017. 48
Figura 10 – Síntese da situação atual da unidade de negócio de educação. ............................ 52
Figura 11 – Ensino superior – Visão geral dos processos ....................................................... 53
Figura 12 – Análise SWOT para desenvolvimento de sistemas específicos. .......................... 59
Figura 13 – Análise SWOT Big Data para Educação. ............................................................ 60
Figura 14 – Análise SWOT para desenvolvimento de aplicativo mobile. .............................. 60
Figura 15 – Modelo de Negócio Canvas – Aplicativo Mobile para IES. ................................ 62
Figura 16 – Especificação da interface do usuário para o protótipo. ...................................... 65
Figura 17 – Arquitetura do aplicativo mobile para instituições de ensino superior. ............... 67
Figura 18 – Diferença média entre as avaliações de cada quesito. ......................................... 73
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Comparativo dos modelos. ..................................................................................... 33
Tabela 2 – Taxa de serviços profissionais mundial (receita) .................................................... 39
Tabela 3 – Ensino superior – Processos vs. Soluções de Mercado .......................................... 54
Tabela 4 – Síntese da análise de dados. ................................................................................... 55
Tabela 5 – Síntese das oportunidades identificadas. ............................................................... 57
Tabela 6 – Resumo geração de ideais x dores x proposta de valor. ........................................ 58
Tabela 7 – Questionário para pesquisa de percepção. ............................................................ 71
Tabela 8 – Avaliação dos participantes quanto às mudanças no ambiente sobre inovação. . 72
Tabela 9 – Relatório sumário da pesquisa vs resultados obtidos. ........................................... 75
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ........................................................................................... 11
LISTA DE FIGURAS ..................................................................................................................... 12
LISTA DE TABELAS ..................................................................................................................... 13
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 19
1.1 Contexto ........................................................................................................................... 19
1.2 Relato da experiência profissional ..................................................................................... 20
1.3 Problema e questões de pesquisa ...................................................................................... 22
1.4 Objetivos .......................................................................................................................... 23
1.5 Justificativa ....................................................................................................................... 23
2. REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................................... 25
2.1 Transformação digital ......................................................................................................... 25
2.1.1 Computação em Nuvem .................................................................................................. 26
2.1.2 Tecnologia mobile ........................................................................................................... 28
2.1.3 Negócios Sociais .............................................................................................................. 29
2.1.4 Big Data ............................................................................................................................ 30
2.1.5 Inteligência artificial ........................................................................................................ 30
2.1.6 Internet das coisas ........................................................................................................... 31
2.2 Inovação.............................................................................................................................. 32
2.2.1 Processo de Inovação ...................................................................................................... 32
2.3 Consultorias integradoras de sistemas ............................................................................... 36
2.3 Futuro das consultorias integradoras de sistemas ............................................................. 38
3. MÉTODO ............................................................................................................................... 41
3.1 Natureza ............................................................................................................................. 41
3.2 Abordagem ......................................................................................................................... 42
3.3 Método ............................................................................................................................... 43
3.4 Estrutura da pesquisa-ação ................................................................................................ 45
3.4.1 Planejamento da pesquisa-ação ...................................................................................... 46
3.4.1.1 Definição do contexto e propósito da pesquisa (relato da experiência, identificação,
análise e segmentação do problema) ...................................................................................... 46
3.4.1.2 Definição da estrutura conceitual teórica .................................................................... 47
3.4.1.3 Seleção da unidade de análise ..................................................................................... 47
3.4.1.3 Definir técnicas para coleta de dados .......................................................................... 49
4. INTERVENÇÃO E RESULTADOS ............................................................................................. 51
4.1 Coleta de dados .................................................................................................................. 51
4.2 Análise de dados e planejamento de ações ....................................................................... 55
4.3 Implementação de ações.................................................................................................... 56
4.3.1 Identificação de oportunidades ...................................................................................... 56
4.3.2 Geração de ideias ............................................................................................................ 58
4.3.3 Triagem e análise das ideias ............................................................................................ 59
4.3.4 Definição do projeto ........................................................................................................ 61
4.3.5 Planejamento ................................................................................................................... 61
4.3.6 Design .............................................................................................................................. 63
4.3.7 Prototipagem ................................................................................................................... 65
4.3.8 Desenvolvimento do projeto ........................................................................................... 66
4.3.9 Lançamento ..................................................................................................................... 67
4.3.9.1 Lançamento da versão beta ......................................................................................... 68
4.3.9.2 Lançamento da primeira versão (MVP) ........................................................................ 68
4.3.9.3 Primeiras vendas .......................................................................................................... 69
4.4 Sondagem ........................................................................................................................... 69
4.5 Prazos .................................................................................................................................. 73
5. ANÁLISE ................................................................................................................................ 75
5.1 Análise da intervenção ....................................................................................................... 76
5.2 Análise da sondagem .......................................................................................................... 79
6. CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 81
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................................. 83
19
1 INTRODUÇÃO
1.1 Contexto
Observa-se atualmente uma aceleração da revolução tecnológica, cujos pilares são a
globalização, a sustentabilidade e uma sociedade conectada por meio da evolução de
tecnologias que vêm impondo profundas mudanças nas relações sociais, na economia, na
cultura, na política e nos negócios (SCHWAB, 2016; RIFKIN, 2012; CASTELLS, 2001).
Pode-se perceber claramente a mudança na forma de ver novos negócios em empresas
como Uber, AliExpress e Airbnb. Até pouco tempo atrás, companhias que fossem atuar
nesses segmentos precisariam inicialmente investir muitos recursos em veículos, estoques e
imóveis. Tradicionalmente, teriam um planejamento estratégico para vários anos e teriam que
criar uma infraestrutura de TI compatível com as exigências desse tipo de modelo de negócio
(MARSTON et al., 2011; COKINS, 2017).
Com a adoção de tecnologias baseadas na computação em nuvem, as empresas passam
a ter acesso a soluções de TI que não eram economicamente viáveis na modalidade de
licenciamento, como passam também a usufruir de recursos de mobilidade, big data, internet
das coisas e outros avanços inerentes a essa plataforma (SOUZA et al., 2009; WATSON,
2014, BERROCAL et al., 2017).
Segundo Marston et al. (2011), a adoção da computação em nuvem representa, assim,
uma convergência de duas grandes tendências em tecnologia da informação: (a) eficiência de
TI, por meio da qual o poder dos computadores é utilizado de forma mais eficiente através de
recursos de hardware e software altamente escaláveis e (b) agilidade de negócios, por meio de
uma rápida implementação, utilização de dispositivos conectados, análises comerciais
intensivas e aplicações interativas móveis que respondem em tempo real às necessidades dos
utilizadores.
Esse modelo traz profundos impactos para as consultorias integradoras de sistemas
(LEIMEISTER, 2010; CECERE et al., 2016), que, em sua maioria, foram muito bem
sucedidas ao se adaptarem continuamente e estarem de acordo com novas soluções inseridas
pelas empresas globais de software que demandaram aumento de serviços atrelados à
aquisição dos mesmos, tanto pela evolução da arquitetura que adicionava complexidade
técnica às soluções, como pelo próprio aumento de soluções verticalizadas.
20
Nesse sentido, o desafio das consultorias será como empreender em uma nova
estrutura de empresa em um cenário no qual a receita de projetos de implementação
tradicionais irá diminuir frente a novos projetos, cujas tecnologias serão habilitadas
digitalmente e os clientes não precisarão de um exército de técnicos para implantar ou manter
um sistema.
Haverá redução na receita gerada por consultores puramente técnicos e também
mudanças no formato de contratação. Além disso, todo o processo comercial também será
afetado.
As empresas de consultoria, que hoje possuem importante participação no processo de
prospecção, execução de campanhas, programas de referência de clientes e venda das
soluções de gestão, possuem uma remuneração das áreas comerciais baseada nos resultados
de vendas de licenças, seja como distribuidor das licenças de uso, quando a remuneração está
embutida no preço final da solução, seja como comissionado pelo fabricante de software em
vendas nas quais a consultoria teve uma influência importante desde a prospecção até a pré-
venda.
No modelo de subscrição dos softwares como serviço, a contratação é feita
diretamente com o fabricante de software e, mesmo que a consultoria tenha uma comissão por
ter auxiliado no processo comercial, os valores mensais são muito menores do que os valores
envolvidos em uma negociação de licenciamento tradicional.
A partir da experiência profissional do autor, dos objetivos e resultados esperados -
apresentados nos itens 1.3 e 1.4 -, o que será investigado neste estudo é o desafio das
consultorias de como estruturar novas maneiras de criar e capturar valor no cenário de
computação em nuvem.
1.2 Relato da experiência profissional
Esta pesquisa irá partir da experiência prática do autor, que atua no mercado de
consultoria de sistemas de gestão empresarial há mais de 29 anos e hoje ocupa o cargo de
diretor comercial.
A empresa em que o autor atua profissionalmente está no mercado desde 1.988,
quando iniciou sua atuação oferecendo serviços de desenvolvimento de sistemas de gestão
para baixa plataforma (PC’s). Em 1.992, a empresa foi uma das primeiras organizações
nacionais de consultoria em sistemas a celebrar uma parceria com um provedor global de
soluções de gestão empresarial, a Baan Company, que iniciou neste ano o processo de
21
localização de seu ERP para o Brasil. Com a proximidade do bug do milênio, o crescimento
de mercado para sistemas de gestão foi acelerado e diversos outros fornecedores
internacionais chegaram ao Brasil. Entre eles, pode-se destacar SAP, Oracle, PeopleSoft,
Computer Associates, JdEdwards, IFS e Infor. Da mesma forma, diversas empresas nacionais
também disponibilizaram ao mercado soluções de gestão empresarial desenvolvidas
localmente, das quais pode-se destacar Microsiga, Datasul, Sênior, RM e Logocenter.
Com o crescimento do mercado, a empresa expandiu a operação no Brasil para o
Estado do Rio Grande do Sul e para a América Latina, abrindo filiais em Porto Alegre,
Buenos Aires e Bogotá. Com a experiência adquirida na parceria com a Baan e o contínuo
crescimento da demanda, a consultoria tornou-se também parceira da Computer Associates e
da PeopleSoft.
Nas décadas de 1.980 a 2.000, importantes evoluções ocorreram com a tecnologia da
informação. Os sistemas na década de 1.980 trabalhavam de forma isolada, tendo o banco de
dados e o programa propriamente dito em uma única máquina, e integrações ocorriam via
cópia de dados de uma máquina para outra por meio de disquetes. Na década de 1.990, os
computadores foram integrados em rede e a plataforma evoluiu para uma arquitetura cliente-
servidor, tendo o banco de dados e a parte do programa instalados em um computador central
(servidor) sendo acessados simultaneamente por computadores (cliente) conectados por cabos
que também tinham parte do programa instalado. Na década de 2.000, houve a adoção
comercial da internet e a plataforma evoluiu novamente para uma arquitetura em três
camadas, na qual foi adicionada uma camada a mais que gerenciava a interface com o usuário,
permitindo o acesso aos sistemas e dados sem ter que instalar nenhum programa ou parte do
sistema na estação cliente, fazendo o acesso simplesmente a partir do navegador web
(browser).
Ao mesmo tempo em que a arquitetura da tecnologia foi evoluindo e agregando novas
capacidades, os sistemas também foram sendo aprimorados e segmentações de processos de
negócio foram dando origem a diversas soluções de gestão. Os primeiros sistemas de gestão
foram os Enterprise Resource Planning (ERP), que abrangeram os processos de negócio
transacionais de industrialização de produtos, suprimentos, pedidos de vendas e financeiros.
Os ERP’s, na década de 1.990, tinham foco na integração da empresa, transformando a
visão departamental em uma visão por processo. Com a globalização e a adoção comercial da
internet, os fabricantes de software criaram soluções que atendessem a novas demandas de
integração fora da empresa. Tanto a conexão com fornecedores, quanto com os clientes,
22
passou a ser importante fator de inovação e competitividade para empresas. Assim, soluções
de gestão da cadeia de suprimento (SCM – Supply Chain Management) e gestão do
relacionamento com cliente (CRM – Customer Relationship Management) passaram a ser
sistemas amplamente adotados pelo mercado.
Com a evolução da arquitetura e a ampliação do portfólio de soluções, as consultorias
integradoras de sistemas, como aquela em que o autor atua, foram sendo moldadas pelo
discurso dos fornecedores de software. Isso também proporcionou para as consultorias
serviços complementares e a adoção de melhores práticas para projetos de implantação e
desenvolvimento.
A inovação e as adaptações no portfólio de serviços das consultorias foram
fundamentadas em todas essas etapas pelo aumento da oferta de produtos e serviços. A
plataforma baseada em redes e em aplicações com arquitetura cliente-servidor adicionou
complexidade técnica que criou oportunidades de oferta de serviços de instalação e
configuração desses equipamentos. A necessidade de integrações on-line entre sistemas de
fabricantes diferentes também proporcionou mais vendas de serviços de desenvolvimento de
integrações.
Com a popularização da internet e a arquitetura de três camadas tornando-se padrão de
mercado, a oportunidade de comercialização das novas soluções também aumentou as opções
de revenda de software e de serviços de implantação, desenvolvimento e integração.
Nos últimos anos, o autor vem acompanhando o movimento dos fabricantes de
software na adoção da arquitetura em nuvem e quase todas as soluções já podem ser
comercializadas no formato SaaS - software como serviço; algumas exclusivamente (como as
soluções Salesforce, por exemplo), outras ainda com a opção de licenciamento.
1.3 Problema e questões de pesquisa
Desde a consolidação dos sistemas de gestão na década de 1.990, o caminho de
evolução para as consultorias de integração foi marcado pelo aumento da necessidade de
serviços atrelados à aquisição dos softwares. A abordagem de inovação para essas empresas
sempre foram orientadas pelos fabricantes de software, seja pela mudança de plataformas que
aumentaram a complexidade técnica das soluções, seja pelo aumento de soluções
verticalizadas.
Com a adoção dos sistemas baseados em nuvem, esse cenário sofreu alterações e as
consultorias de integração passaram a ter o desafio de criar soluções próprias, ferramentas e
23
ativos reutilizáveis, permitindo, assim, a execução de projetos mais rápidos e com menores
custos.
Nesse sentido, a questão de pesquisa formulada foi:
Como pode ser executado um processo de inovação em uma consultoria
integradora cuja abordagem de inovação tradicionalmente foi determinada por
fornecedores de software?
1.4 Objetivos
O objetivo geral desta pesquisa é executar um processo de inovação estruturado,
contribuíndo para o processo de aprendizagem da consultoria na construção de uma
abordagem de inovação pró-ativa.
Os objetivos secundários são:
1. Aplicar os conceitos de processo de inovação, a fim de identificar oportunidades
de negócio de acordo as competências da empresa em um dos segmentos de
mercado em que atua.
2. Criar um novo produto e/ou serviço, tendo como base as soluções disponibilizadas
pela adoção da computação em nuvem.
3. Estruturar e documentar o processo de inovação, para que se possa contribuir com
outras iniciativas da empresa e para outras organizações em situações semelhantes.
1.5 Justificativa
De acordo com a pesquisa sobre o Mercado Brasileiro de Software e Serviços –
Panorama e Tendências” da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software – de
2018, consolidando os dados de 2017, o mercado doméstico de Tecnologia da Informação,
que inclui hardware, software e serviços, movimentou 39,5 bilhões de dólares, representando
1,9% do PIB brasileiro e 1,8% do total de investimentos de TI no mundo. Desse valor, 8,183
bilhões vieram do mercado de software e 10,426 bilhões, do mercado de serviços, sendo que a
soma desses dois segmentos representou 48,8% do mercado total de TI.
O setor de serviços apresentou um crescimento de 3,8% em relação ao ano anterior. O
estudo apontou para cerca de 4.470 empresas dedicadas à prestação de serviços.
24
A ABES também apontou 10 tendências para o ano de 2018, quase todas baseadas na
constatação de que novos modelos de negócios continuarão a ganhar espaço, suportados pela
computação em nuvem. Dentre as tendências apresentadas pelo estudo, pode-se destacar:
Haverá aceleração de projetos de IoT.
Demanda por Cloud Pública cresce intensamente. Construção de novos datacenters
segue em alta em 2018.
Casos de uso de cognitive/AI começam a proliferar, mas investimentos ainda são
discretos.
Fabricantes de Smartphones e Tablets com maior foco em segmento corporativo
em 2018.
A evolução percentual da adoção de soluções em nuvem nos últimos anos corrobora
com as tendências apresentadas, conforme demonstrado na Figura 1.
Figura 1 – Evolução percentual dos principais modelos de utilização – 2013 a 2017.
Fonte: pesquisa sobre o Mercado Brasileiro de Software e Serviços – “Panorama e
Tendências” da ABES – Associação Brasileira das Empresas de Software – de junho de 2018.
Nesse cenário, muito se tem pesquisado sobre a adoção da tecnologia em nuvem pelas
empresas como premissa para inovação e até para a sobrevivência em uma economia
disruptiva, assim como inúmeros são os estudos focados na tecnologia de nuvem em si, porém
poucas são as publicações que abordam o impacto da computação em nuvem para o mercado
de empresas de consultoria integradoras que prestam serviços de implementação,
desenvolvimento, suporte e atualização dos sistemas de gestão. Trata-se de um mercado, que
conforme, apresentado acima, movimentou, em 2.017, mais de 10 bilhões de dólares em
serviços e é composto por mais de 4.000 empresas.
25
2. REFERENCIAL TEÓRICO
O papel da teoria é significante para gerar ideias, hipótese e diretrizes para a
orientação da pesquisa. Apresenta-se, neste capítulo, os principais tópicos encontrados na
literatura sobre negócios relacionados a temas como consultoria em sistemas, futuro da
consultoria, transformação digital, computação em nuvem e inovação, que foram empregados
como base teórica para o presente estudo. O framework conceitual que demonstra a função de
cada conjunto de literatura que embasou o desenvolvimento da pesquisa é apresentado na
Figura 1.
Figura 2 – Framework conceitual da pesquisa.
Fonte: Elaborado pelo autor.
2.1 Transformação digital
A rápida evolução da tecnologia nos últimos anos vem trazendo inovações em todas as
áreas do conhecimento humano. Essa aceleração deriva da convergência e recombinação de
emergentes tecnologias: computação em nuvem, mobilidade, inteligência artificial,
aprendizado de máquina, robótica, nanotecnologia, biometria, biologia sintética, impressão
3D, veículos autônomos e geração de energia a partir de fontes renováveis, entre outras
(SCHWAB, 2016; NOBRE et al., 2016).
Atualmente, segundo Schwab (2016), vive-se o limiar da quarta revolução industrial,
na qual o modelo produtivo anterior está em processo de ruptura por meio da integração entre
sistemas físicos e virtuais que criarão as fábricas inteligentes, permitindo a personalização
total de produtos e a criação de novos modelos de negócio.
26
Essa nova revolução foi precedida por três anteriores. A primeira revolução industrial,
ocorrida na Inglaterra, iniciada em meados do século XVIII, teve o carvão como fonte de
energia e o desenvolvimento de máquinas a vapor, tanto para o processo de produção, como
para as locomotivas. A segunda revolução industrial, a partir da segunda metade do século
XIX, teve como pilares o combustível fóssil, a energia elétrica e as telecomunicações, que
impulsionaram a aceleração do ritmo industrial, a especialização do trabalho e a ampliação da
produção, permitindo a fabricação de itens em série e barateando os custos unitários. A
terceira revolução industrial, que teve início em meados do século XX, baseou-se no uso
intenso de eletrônicos e na tecnologia da informação, proporcionando um alto grau de
automação da manufatura.
Conceitualmente, para Schwab (2016), a quarta revolução industrial possui
tecnologias impulsionadoras desse processo que, de forma ampla, são divididas em três
categorias: física, digital e biológica. Na categoria digital, estão as tecnologias de computação
em nuvem, big data, internet das coisas e inteligência artificial, cujo uso e convergência
denominam a chamada transformação digital.
A transformação digital propicia ferramentas que permitem novos modelos e
processos de negócio, resultando em novos produtos, serviços e estruturas organizacionais
(HESS et al., 2016) e diversos setores da economia vêm passando por um processo de
transformação que vem provocando mudanças nas relações sociais, na economia, na cultura,
na política e nos negócios.
Dessa forma, a convergência dessas tecnologias vêm permitindo que o mundo esteja
hiperconectado e as atividades pessoais e corporativas sejam realizadas online, gerando,
assim, um enorme volume de informações que são armazenadas e compartilhadas a cada
instante.
O tema é bastante amplo e, nas próximas páginas, serão descritas as principais
tecnologias que compõem a plataforma da categoria digital descrita por Schwab (2016).
2.1.1 Computação em Nuvem
A computação em nuvem revolucionou a forma como empresas e pessoas consomem
tecnologia. A capacidade de armazenar e compartilhar dados em qualquer lugar, por meio de
qualquer dispositivo conectado à internet, eliminou os esforços das empresas e consumidores
em relação à criação de uma infraestrutura de recursos computacionais. Além disso, a nuvem
é praticamente infinita em tamanho, permitindo uma elasticidade em relação aos recursos de
27
armazenamento e capacidade de processamento de acordo com as necessidades de cada
consumidor ou empresa, levando-se também em consideração a sazonalidade dessas
necessidades (MARSTON et al., 2011).
A adoção da computação em nuvem tornou-se um componente essencial na estratégia
das empresas pela facilidade da provisão de recursos computacionais, que são medidos e
cobrados pelo volume de consumo, da mesma forma como outros serviços cotidianos, tais
como água e energia elétrica (MARSTON et al., 2011; MELL, 2011).
Mell (2011) do NIST – National Instutite of Standards and Technology (Instituto
Nacional de Padrões e Tecnologia), do Ministério do Comércio americano, publicou, em
setembro de 2011, sua versão final de definição de computação em nuvem.
Para Mell, computação em nuvem é:
Um modelo que permita acesso ubíquo, conveniente e sob demanda
a uma rede compartilhada de recursos de computação configuráveis
(por exemplo, redes, servidores, armazenamento, aplicativos e
serviços), que podem ser rapidamente provisionados e lançados
com o mínimo esforço de gerenciamento ou interação do provedor
de serviços (2011, 6).
Esse modelo de nuvem é composto por cinco características essenciais, três modelos
de serviço e quatro modelos de implantação.
As características essenciais são:
Autosserviço sob demanda – no qual o consumidor pode habilitar por conta
própria e digitalmente a contratação de serviços de computação em nuvem.
Amplo acesso por rede – acesso por vários dispositivos conectados
(computadores, tablets, smartphones).
Agrupamento de recursos – os recursos de computação devem ser
compartilhados entre vários consumidores.
Elasticidade rápida – os recursos de computação contratados devem ser
escaláveis, podendo ser incrementados ou diminuídos rapidamente.
Serviço mensurado – permitir ao consumidor pagar pelo uso efetivo dos
recursos computacionais de forma transparente.
Os modelos de serviço agrupam o tipo de recursos computacionais em nuvem. Os três
modelos de serviço foram definidos como:
28
SaaS (Software as a Service / Software como Serviço) – sistemas de gestão, de
produtividade e aplicativos que passam a ser consumidos como serviço por
meio de uma subscrição do software.
PaaS (Platform as a Service / Plataforma como Serviço) – plataformas de
desenvolvimento, incluindo linguagens de programação, frameworks,
bibliotecas e banco de dados, que passam a ser consumidos como serviço por
meio da subscrição da plataforma de desenvolvimento.
IaaS (Infrastructure as a Service / Infraestrutura como Serviço) – infraestrutura
física de recursos computacionais, definindo a capacidade de processamento,
armazenamento e comunicação, entre outros.
Ao se implantar o modelo de nuvem, as possibilidades são:
Nuvem pública – os recursos computacionais são compartilhados pelos
consumidores, são provisionados em qualquer lugar do mundo e gerenciados
totalmente pelo fornecedor do serviço.
Nuvem privada – os recursos computacionais são utilizados por apenas uma
organização. Podem ser provisionados externa ou internamente à organização.
Nuvem comunitária – os recursos computacionais são utilizados
exclusivamente por um grupo de organizações. O provisionamento pode ser
dar em um ou mais participantes da comunidade, em fornecedores terceiros ou,
ainda, de forma combinada.
Nuvem híbrida – os recursos computacionais combinam dois ou mais modelos
de implantação descritos acima.
2.1.2 Tecnologia mobile
A tecnologia mobile é um dos pilares da transformação digital, que trabalha
intimamente ligado à computação em nuvem. A capacidade de acessar informações e realizar
transações a qualquer hora e em qualquer lugar revolucionou o comportamento de pessoas e
empresas ao permitir comunicação, colaboração e a realização de muitas atividades e
negócios de forma disruptiva.
Essa disponibilidade de informações, aliada à mobilidade e aplicações em nuvem,
permite às empresas se beneficiarem dos dados disponíveis para entender melhor as
29
necessidades dos clientes e aumentar suas ofertas em alta escala, de forma mais personalizada
e assertiva.
Inúmeras são as aplicações já disponíveis, e não só marketing de relacionamento e os
aplicativos de e-commerce foram adotados de forma definitiva pelas empresas, mas em
praticamente todas as áreas de atuação pessoal e profissional existem soluções mobile.
Aplicações para o setor de saúde, para a área de educação, para personal trainners,
para o serviço de transporte compartilhado e para controle das finanças pessoais são apenas
alguns exemplos. Na WWDC – worldwide developers conference – 2016 da Apple, a empresa
anunciou que já existiam mais de 2 milhões de aplicativos disponíveis para download em sua
loja – a Apple Store.
2.1.3 Negócios Sociais
O Social Business (negócios sociais) tornou-se um novo canal de comunicação entre
clientes e empresas, compreendendo todas as aplicações com características de redes sociais.
As redes sociais são estruturas formadas por pessoas e organizações que se conectam por sites
e aplicativos, a partir de interesses ou valores comuns. O pilar das redes sociais é a cultura de
engajamento e colaboração dessas redes, facilitando, assim, a construção e o
compartilhamento de informações em que se baseiam os negócios inteligentes, principalmente
para venda de produtos e serviços.
Existem grandes redes sociais de alcance global, tais como Facebook, LinkedIn,
Twitter, Snapchat e Instagram, reunindo interesses gerais e conectando bilhões de pessoas na
mesma plataforma. De acordo com o próprio Facebook, no final do primeiro trimestre de
2018, havia 2,13 bilhões de usuários ativos na plataforma.
Outras redes com foco em grupos com interesses específicos também alcançaram um
efetivo sucesso em todo o mundo. De atletas de ciclismo a praticantes de direção 4x4 off-
road, encontram-se redes sociais - tais como o Strava e o Wikloc-, respectivamente, com
milhares de usuários cada uma.
Com mais informações e interações circulando entre os usuários – que, para as
empresas, são clientes e potenciais clientes -, uma enorme janela de oportunidades é aberta.
Desde o já consolidado modelo de vendas de produtos e serviços, até a diferenciação no
atendimento ao consumidor, esse novo cenário promove a melhoria na experiência dos
clientes e diminui, assim, custos operacionais, facilitando o processo de inovação e geração de
valor das empresas.
30
2.1.4 Big Data
Big Data é o termo que descreve o grande volume de dados em diversos formatos,
tanto estruturado como não estruturado, de diversas fontes, que são criados e/ou alterados
rapidamente. As empresas podem capturar, armazenar e analisar esses dados, gerando um
enorme valor potencial para os negócios. (WATSON, 2014)
Embora o termo Big Data seja relativamente atual, a coleta e o armazenamento de
dados para serem analisados e suportar negócios é uma prática utilizada desde o início do uso
de recursos computacionais no âmbito empresarial.
De acordo com Davenport (2013), a terminologia de análise de dados pode ser
classificada em gerações, de acordo com o período. As características de uso e as tecnologias
de cada período são apresentadas abaixo:
Sistemas de Suporte à decisão – décadas de 1.970 e 1.990 – relatórios
quantitativos e sumarizados sobre as operações transacionais, processadas
pelos computadores de grade porte que subsidiavam as operações.
Inteligência aplicada aos Negócios (Business Intelligence - BI) – décadas de
1.990 e 2.000 – relatórios e consultas com base em tabelas de dados
multidimensionais para suportar decisões.
Analytics – décadas de 2.000 e 2.010 – incorporação de análises estatísticas e
matemáticas ao BI para apoio às decisões.
Big Data – 2.010 em diante – análise de grande volume de dados, estruturados
e não estruturados, e em rápido movimento.
2.1.5 Inteligência artificial
A inteligência artificial já está presente em uma diversidade de sistemas operacionais e
aplicativos, afetando o cotidiano de pessoas e empresas, como, por exemplo, os recursos de
reconhecimento de voz, de biometria, atendimento on-line por robôs (chatbot) e corretores de
texto disponíveis em computadores e smartphones (MAKRIDAKIS, 2017).
Mendonça et al., (2018), demonstra que a inteligência artificial é, atualmente, um
vasto campo de pesquisa com diversas abordagens diferentes na construção de algoritmos
com foco em ensinar os computadores a pensar por si mesmos e a improvisar soluções para
problemas comuns. Isso permitiria aos computadores não somente aplicar decisões
previamente programadas, mas também tomar decisões com base em sua capacidade de
aprendizagem.
Para Schwab (2016), por causa da facilidade de reconhecer padrões e automatizar
processos, a adoção da inteligência artificial gerará uma reviravolta nas organizações, com
31
relação às funções administrativas até 2025. Com a disseminação dos serviços em nuvem que
permitem o uso de aprendizagem de máquina, tais como o Watson da IBM, o Google Cloud
AI e o Oracle AI’s Platform, qualquer empresa e/ou desenvolvedor tem fácil acesso a modelos
previamente treinados e a uma enorme capacidade de processamento para a criação de
aplicações diversas: de robôs de atendimento que possam ofertar produtos e responder
dúvidas, a sistemas complexos de gerenciamento de linhas de produção.
Embora a introdução de inteligência artificial, no mercado e nas organizações,
apresente aspectos positivos de redução de custos, ganhos de eficiência e facilidade para que
as empresas de todos os portes explorem fortemente o aspecto da inovação, Mendonça et al,
(2018) observa também vários aspectos negativos, tais como a perda de postos de trabalho,
mudanças legais e a eventuais dificuldades de prestação de contas e responsabilização.
2.1.6 Internet das coisas
Uma das principais inovações tecnológicas da transformação digital é a internet das
coisas - IoT (Internet of Things) que, na visão de Lu e Singh (2018), é uma rede mundial de
objetos inteligentes conectados, baseada em protocolos de comunicação entre si e com um
endereço específico.
Billet e Issarnv (2014) definem a internet das coisas como uma extensão da internet
para interação entre objetos, ou coisas do mundo físico para o virtual, incluindo dispositivos,
aparelhos e objetos inertes identificados por radiofrequência (RFID) e sensores, permitindo
que as coisas cooperem de forma autônoma, com interação simples com os usuários finais.
A capacidade de medição das tecnologias de sensores conectados aos objetos e à
internet, integrando tecnologias de big data e inteligência artificial, entre outras, apresenta a
possibilidade de aplicações em praticamente todos os processos de negócio e na vida
cotidiana da sociedade, gerando uma nova realidade de mercado (BORGIA, 2014). A partir
de informações coletadas por sensores embarcados nos objetos conectados, aplicações podem
medir, compreender e inferir ações que possam prover mais conforto, produtividade,
informações e praticidade em geral.
Segundo o Gartner (2015), aproximadamente 26 bilhões de objetos IoT estarão
conectados até 2020 e, de acordo com a ABI Research (2018), cerca de 50 bilhões de coisas
estarão conectadas entre si e trocando informações até 2022.
Nesse cenário, observa-se que organizações e governos vêm investindo em pesquisas e
projetos de IoT, adquirindo dispositivos, programas e serviços, de modo a expandir as
32
aplicações nas mais diversas áreas, tais como indústria, agricultura, casas inteligentes, saúde,
energia, segurança pública e privada e construção civil, entre outras.
2.2 Inovação
Desde o trabalho seminal de Schumpeter (1961), observa-se que o crescimento
baseado na inovação tem sido considerado como estratégia-chave no mercado, assim como a
relação entre a inovação, a criação de novos mercados e a ação do empreendedor. Para
Schumpeter, a inovação é a aplicação comercial ou industrial de algo novo, podendo ser um
novo produto, novos métodos de produção, novas fontes de matéria prima, novos mercados
e/ou novas formas de organização das empresas.
O Manual de Oslo (OECD, 2005) define que inovação é “a implementação de um
produto (bem ou serviço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou um
novo método de marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na
organização do local de trabalho ou nas relações externas”.
Tidd e Bessant (2015) definem a existência de quatro categorias ou tipos de inovação:
a inovação de produtos, que implica em mudanças nos bens ou serviços que uma empresa
oferece; a inovação de processos, que consiste em mudanças na forma em que os bens e
serviços são criados e entregues; a inovação de posição, que abrange mudanças no contexto
em que os bens ou serviços são introduzidos e a inovação de paradigma, que implica em
mudanças nos modelos mentais que moldam o que a organização faz.
2.2.1 Processo de Inovação
Segundo Davenport (1993), a origem do processo de inovação está na intensa
concorrência e nas pressões comerciais que as organizações sofrem desde a década de 1.990.
O autor afirma que, embora essenciais, as iniciativas de controle de qualidade e a melhoria
contínua não são mais suficientes, pois as pressões de mercado passam a exigir não mais
objetivos de melhorias de 5% ou 10%, mas sim de 50% a 100%. Além disso, o autor já cita
também o foco no cliente e a cultura organizacional como impulso para mudanças no
processo.
A proposta de Davenport (1993) é de uma abordagem de melhoria do negócio,
compreendendo tanto como o negócio é visto, quanto como o negócio é estruturado, ou seja, o
negócio deve ser visto não como funcional ou departamental, mas como um conjunto de
33
processos-chave. Assim, a melhoria desses processos seria redesenhá-los inteiramente,
aplicando tecnologias e recursos organizacionais inovadores.
Tidd e Bessant (2015) corroboram com essa visão e argumentam que o processo de
inovação não ocorre de forma isolada, mas como uma sequência de atividades integradas pela
organização, na qual a empresa deve gerar, selecionar e implementar ações inovadoras. Os
autores também observam que as competências da empresa na estruturação do processo de
inovação são desenvolvidas ao longo do tempo, por meio de experimentações, e que estas
dependem da disposição da empresa em criar essa cultura.
Os modelos encontrados na literatura de gestão da inovação descrevem diferentes
níveis de granularidade e/ou especificidades em relação à inovação em produto ou processo,
entretanto esses modelos apresentam características comuns. Em uma extensa revisão de
modelos de processos de inovação, Silva, Bagno e Salerno (2014) constatam que, na maioria
dos modelos apresentados, o processo é iniciado por uma etapa de geração de ideias, a qual
pode ser direcionada pelo planejamento estratégico, pelo desenvolvimento tecnológico ou de
demandas identificadas do mercado (ou de forma combinada). Os autores também observam
que, quanto ao desfecho do processo, os modelos convergem para a relação com o mercado,
seja pela introdução do novo produto ou serviço, seja pela comercialização efetiva ou pela
estruturação do pós-venda. Essas descobertas são apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 – Comparativo dos modelos.
Autoria Modelo Objetivo (visão) Evento de início Evento final
Pugh (1991) Total design Atender a especificação
técnica Pesquisa de mercado Venda
Cooper
(1993, 1994,
2008)
Stage-gate Satisfazer estratégia de
negócio
Geração de ideias ou
descoberta, conforme a versão
do modelo
Lançamento comercial
Rozenfeld et
al., (2006)
Modelo
unificado de
NPD
Satisfazer estratégia de
negócio
Necessidade demandada pelo
planejamento estratégico
Descontinuação do
produto
Thomas
(1993)
Processo de
NPD
Maximizar avaliação no
pós-lançamento, segundo
parâmetros definidos em
um programa de marketing
Lacunas identificadas nas
avaliações de produtos
correntes,
agregadas em um esforço de
marketing, vendas e finanças
Monitoramento do
produto no pós-
lançamento
Clark e
Wheelwright
(1992)
Funil de
desenvolviment
o
Identificar e desenvolver as
melhores oportunidades
dentre um universo de
possibilidades
Geração de ideias e
desenvolvimentos conceituais
Sem definição precisa.
Denomina-se
genericamente como
“embarcar”
Docherty
(2006)
Funil de
inovação aberta
Agregar valor à organização
através de múltiplas formas
de se tratar as
oportunidades, no negócio
atual ou criando novos
negócios
Captação da oportunidade.
Funil é permeável à inputs em
quaisquer pontos: geração de
ideias, desenvolvimentos
internos,
aquisição de licenças,
produtos para scale up, etc.
Captação do valor do
projeto. Funil é
permeável
à outputs em quaisquer
pontos: licenciamentos,
venda de projetos
parcialmente
desenvolvidos,
spin-outs, etc.
34
Autoria Modelo Objetivo (visão) Evento de início Evento final
Utterback
(1970)
Processo de
inovação
tecnológica
Sobrevivência e ampliação
da competitividade do
negócio.
Geração de ideias. Resulta do
reconhecimento integrado de
uma
necessidade e de meios
técnicos a ela aderentes.
Difusão: primeiro uso
(processos) ou
introdução no mercado
(produto).
Hansen e
Birkinshaw
(2007)
Cadeia de valor
da inovação
Maximizar fluxo de
inovações ao longo da
cadeia, identificar e
melhorar elos fracos
Geração de ideias (interna ou
de forma colaborativa)
Difusão: disseminação
pela corporação e pelo
mercado
Bessant et al.,
(2005)
Rotinas
emergentes para
gestão da
inovação
disruptiva
Alavancar competitividade
em contextos de inovação
disruptiva ou incremental
Implicitamente, geração de
ideias, mas autores chamam
genericamente de disparo do
processo
Implantação e
aprendizado
Temaguide
(1998)
Guia para a
gestão
tecnológica
Promoção da inovação
tecnológica e
organizacional
contínuas
Varredura do ambiente:
necessidades de inovação e
oportunidades em potencial.
Destaca, no entanto, que a
inovação pode começar em
qualquer
ponto: foco, recursos,
implantação ou varredura
“Implantação”
O modelo, no entanto,
salienta uma
característica de
circularidade, de forma
que cada implantação
dispara nova varredura
Jonash e
Sommerlatte
(2001)
Modelo de
inovação
avançada e de
alto
desempenho
Desenvolvimento de
inovações de forma
contínua e
sustentável no âmbito da
empresa
Geração de ideias (ideação) Comercialização
Roberts
(1988)
Processo de
inovação
tecnológica
Sistematização dos esforços
de pesquisa básica e
Integração ao NPD
Reconhecimento da
oportunidade (viabilidade
técnica e demanda potencial)
Utilização da
tecnologia e/ou difusão
Coral et al.,
(2008) NUGIN
Estabelecimento de um
processo formal de gestão
da
inovação na organização.
Geração de ideias/Plano do
produto. Validação do produto
Khurana e
Rosenthal
(1998)
Modelo
estilizado do
front end de
NPD
Atender a estratégia de
produto e de portfólio
Geração de ideias (via análise
tecnológica e de mercado) Lançamento comercial.
Rothwell
(1992)
Modelo
acoplado de
inovação
Confluência de capacidades
tecnológicas e necessidades
de mercado na firma
inovadora
Geração de ideias (via
captação de necessidades do
mercado e/
ou novas tecnologias)
Inserção no mercado
Levy (1998)
Modelo de
inovação em
empresas de alta
tecnologia
Captação de valor nas
oportunidades de mercado
Identificação de necessidades
de mercado “Resposta ao mercado”
Kamm
(1987)
Abordagem
integrativa para
inovação
organizacional
Transformação
organizacional pela
inovação.
Geração de ideias. É
salientado que inovação pode
começar em qualquer ponto
do processo, que se apresenta
como modelo circular.
Testes reais (pós-
venda), que alimentam
nova
geração de ideias.
Brockhoff
(1994)
Processo de
gestão
tecnológica
Gerir a inovação de forma
integrada (gestão da
tecnologia + gestão do
P&D)
Aplicação de know-how
tecnológico.
Implantação da
inovação no mercado.
Fonte: SILVA, Débora Oliveira da; BAGNO, Raoni Barros; SALERNO, Mario Sergio. Modelos para
a gestão da inovação: revisão e análise da literatura. Prod., São Paulo, v. 24, n. 2, p. 477-
490, jun. 2014.
35
Independentemente do tipo de inovação, identifica-se que a geração de ideias é o ponto
inicial para a inovação na maioria dos modelos analisados. O fluxo contínuo de ideias, isto é,
a qualidade das ideias, pode apresentar várias possibilidades de desenvolvimento, porém
poucas serão realmente trabalhadas e incorporadas ao portfólio ofertado pela empresa, como
se pode observar no modelo de Clark e Wheelwright (1992), representado graficamente por
um funil que é apresentado na figura 3.
Figura 3 – Funil de Desenvolvimento.
Fonte: Clark e Wheelwright (1992).
Cooper (1993) defende que o funil de desenvolvimento de novos produtos e serviços
seja dividido em estágios predeterminados, denominados stage-gates, no qual cada um possui
uma lista de atividades, suas relações e condições de checagem, como, por exemplo, Geração
de Ideias, Elaboração de Plano de Negócio, Seleção de Projeto, Especificação,
Desenvolvimento, Homologação e Lançamento. Em cada gate, haveria a decisão de
continuidade ou não do projeto, conforme figura 4.
Figura 4 – Stage Gate.
Fonte: Cooper (1993).
36
Tidd e Bessant (2015) propõem um modelo que representa o processo de inovação em
quatro fases. Apesar de enfatizarem que diferentes tipos de ações precisam ocorrer à medida
que se avança pelas diferentes fases do modelo proposto, de acordo com o tipo de inovação e
das características de cada organização, os autores afirmam que o modelo se concentra nos
aspectos comuns no que se refere ao modelo de processo de inovação, conforme apresentado
na Figura 5.
Figura 5 – Modelo de processo de inovação.
Fonte: Tidd e Bessant (2015).
Observa-se que os modelos de processo de inovação estudados apresentam um
conjunto de etapas, fases e decisões bem estruturados e definidos; de forma geral, envolvendo
as atividades de gerar ideias, avaliar, selecionar, planejar, especificar, projetar, desenvolver e
lançar o novo produto, processo ou serviço.
Observa-se também que, mesmo existindo a necessidade de flexibilização na definição
das atividades e etapas do processo de acordo com o contexto do projeto e da cultura da
empresa em cada iniciativa, a utilização desses modelos contribui para a diminuição de riscos
de investimentos, das incertezas de mercado a adequação de prazos.
2.3 Consultorias integradoras de sistemas
Nas últimas décadas, empresas globais e nacionais investiram bilhões de dólares na
adoção de sistemas de gestão. As empresas fabricantes de software sempre tiveram a inovação
como narrativa, desenvolvendo soluções para a integração de processos, ganhos de
produtividade e aumento de vendas.
Se, por um lado, os fabricantes de sistemas de gestão moldaram esse discurso com o
intuito de demonstrar o caminho da competitividade, da eficiência e da alta produtividade por
37
meio da adoção de suas tecnologias; por outro lado, a disseminação e validação dessa retórica
foi baseada em uma estratégia de criação de ecossistemas de parcerias, independente do país e
da cultura onde esses fabricantes se instalaram (OSHIRO, 2008).
No mercado brasileiro, a penetração das empresas fabricantes de sistemas de gestão
integrada, principalmente as globais como Baan, SAP e Oracle, por exemplo, foi baseada na
construção de uma rede de parcerias com empresas de consultorias locais que garantiram o
atendimento ao mercado com maior escala e segmentação e, principalmente, auxiliaram na
doutrinação para a aceitação de sua tecnologia de modo a comprovar o valor agregado
disponibilizado pelos sistemas para os negócios. Nesse tipo de ecossistema, de acordo com
Jansen et al., (2009), o proprietário da plataforma tecnológica ganha o papel de empresa
central.
Essa evangelização promovida pelos grandes fabricantes e influenciadores do mercado
de tecnologia da informação conceituou as melhores práticas, metodologias e frameworks
sobre o processo de governança e do ciclo de vida de software. A estruturação em etapas para
os processos de seleção, implantação, manutenção, suporte e evolução criou padrões de
mercado conceituados por institutos e associações internacionalmente reconhecidas e até por
governos, tais como PMI (Project Management Institute), ISACA (Information Systems Audit
and Control Association) e a ITIL (Information Technology Infrastructure Library).
As empresas de consultoria que se associaram aos fornecedores de sistemas de gestão
empresarial criaram suas estruturas comerciais e técnicas para atuarem como uma extensão da
própria força de trabalho dos fabricantes e se tornaram empresas especializadas para a
prospecção de clientes, na comercialização dos aplicativos e na prestação de serviços de
consultoria para a seleção, instalação, implementação, desenvolvimento de melhorias e/ou
funcionalidades específicas, manutenção, suporte e atualização de versões (upgrade), em cada
uma das soluções de gestão desses fornecedores.
Este cenário gerou duas tradicionais fontes de receita para as consultorias: uma
relacionada à revenda dos sistemas de gestão e outra ligada aos serviços de implantação.
A revenda de solução é baseada no modelo licenciamento, no qual a empresa
fabricante do software cede de forma perpétua o direito de uso do programa para o cliente,
mediante o pagamento de um valor de licenciamento. Esse valor ocorre de acordo com uma
métrica de licenciamento. Por exemplo, para sistemas de gestão de recursos humanos, a
métrica é normalmente o número de empregados; para sistemas de gestão empresarial, o
número de usuários. Dessa forma, existe um desembolso inicial da empresa que adquire as
38
licenças de uso de acordo com a quantidade definida pela métrica. Esse desembolso é
classificado como investimento (CAPEX) e passa inclusive a sofrer depreciação ao longo dos
exercícios fiscais.
Nesse modelo, a consultoria atua como uma revenda, recebendo um valor do cliente e
repassando parte deste valor para o fabricante. A diferença é a receita sobre revenda de
software da consultoria e deve cobrir os custos de prospecção, marketing, esforços de pré-
vendas, vendas e, ainda, gerar uma margem de lucro.
O cliente deve também adquirir ou disponibilizar a infraestrutura de hardware para a
instalação e uso do sistema, que envolve servidores de aplicação, de banco de dados e de
conexão com a internet.
Com a aquisição da solução e disponibilização da infraestrutura, inicia-se a etapa de
implantação, que exige atividades de instalação, configuração inicial, análise de aderência,
definição de procedimentos de uso, parametrização, cargas de dados e testes de aceitação dos
usuários, entre outras. Essas atividades compõem a fonte de receita de serviços de
implantação para a consultoria e deve cobrir os custos diretos e indiretos, bem como
proporcionar a margem de lucro necessária ao negócio.
2.3 Futuro das consultorias integradoras de sistemas
Ao adotar um software como serviço, o impacto para as consultorias integradoras é
enorme. Isso ocorre tanto nas receitas de revenda de software, como em receitas provenientes
de serviços. No modelo SaaS, não há a aquisição de licenças. O cliente efetua a subscrição de
um serviço, cujo valor também é baseado em métricas de acordo com o software, porém os
valores por usuário são muito menores do que o valor de aquisição, uma vez que a
computação em nuvem permite o compartilhamento dos recursos de computação, reduzindo
drasticamente os custos (MARSTON, et al., 2011).
Não há um investimento inicial nem no software e nem em infraestrutura. O acesso é
totalmente pela internet. O pagamento é periódico (mensal, trimestral, anual) e é classificado
como despesa (OPEX). Nesse modelo de comercialização, as consultorias ou não são
remuneradas ou passam a ser remuneradas também de forma periódica, porém com valores
muito menores por transação.
Com o sistema já disponível, as atividades de implantação também são reduzidas, não
existindo a necessidade de instalação e configuração inicial. O projeto de implantação já
começa a partir da definição dos procedimentos de uso e a quantidade de personalizações
39
também é limitada. Dessa forma, as receitas provenientes de serviços também são reduzidas
quando comparadas ao modelo tradicional de implantação.
Em um relatório da Waterstone Management Group LLC de 2015, apresentado na
conferência anual de tendências do IDC de 2016, Mark Hauser, diretor e fundador da
Waterstone, afirmou que as tendências que afetam as soluções também afetam os serviços de
consultoria que acompanham esses softwares. Uma vez que as soluções em nuvem permitem
que os clientes aproveitem mais rapidamente os recursos, os clientes também esperam por
implementações mais rápidas, mais fáceis e menos dispendiosas.
Por um lado, o relatório (WATERSTONE, 2015) prevê que a mudança do mercado
para a nuvem provocará um aumento da demanda por serviços profissionais capazes de
auxiliar nesaa migração e de fornecer serviços e soluções complementares. Por outro, os
valores praticados pelas empresas de consultoria para os serviços de implantação vem
diminuindo e, com a adoção das soluções em nuvem, a tendência é que sejam metade do valor
que era cobrado no licenciamento tradicional.
Tradicionalmente os valores de serviços profissionais para implantação são calculados
como uma taxa a partir da razão entre o valor do serviço e o valor de licenciamento. Dessa
forma, no modelo tradicional de licenciamento e implantação, quando uma organização
investe R$ 100.000,00 em licença e R$ 200.000,00 em serviços, tem-se uma taxa de 2 para 1.
A análise da Waterstone (2015) indica que há uma crescente preferência por soluções
baseadas em nuvem e que, em média, têm uma taxa serviço em torno de 0,5x a 1,0x (contra os
2,9x tradicionalmente vistos com produtos licenciados tradicionais), conforme demonstrado
na Tabela 2:
Tabela 2 – Taxa de serviços profissionais mundial (receita)
Fonte: Cloud Migration’s Impact on Professional Services and the Opportunity It Presents,
Sandhill, 2016.
40
Cecere et al., (2016), aponta que, em uma pesquisa feita com 30 executivos de
empresas de consultoria de grande e médio porte pela Forrester Research, identificou-se a
necessidade das consultorias de inovarem em seu portfólio de serviços e soluções para se
adequarem à dinâmica do mercado de computação em nuvem, no qual tecnologias são
habilitadas digitalmente e os clientes não mais necessitam de um exército de técnicos para
implantar ou manter um sistema de gestão.
A pesquisa identificou que o trabalho de muitos consultores de tecnologia está
mudando de implementação técnica para áreas de modelo de negócio e design de experiência
do cliente, bem como para áreas altamente especializadas em análise, segurança, mobilidade e
inteligência artificial (CECERE ET AL., 2016).
Em paralelo, o número de projetos grandes envolvendo sistemas legados, que
absorvem um grande número de consultores técnicos, começarão a encolher com a adoção de
soluções em nuvem, uma vez que implantações dessas soluções exigirão muito menos
conhecimento técnico do que as gerações anteriores de sistemas.
Outra importante tendência destacada pela pesquisa (CECERE ET AL., 2016) aponta
que as consultorias utilizarão cada vez mais soluções de software dinâmicos, ferramentas e
ativos próprios baseados em dados e em modelos de processo de negócio como aceleradores
reutilizáveis para novos projetos. Em grandes consultorias, como a Deloitte, KPMG e
Accenture, grupos de trabalho foram criados nos últimos anos com o objetivo de desenvolver
esses ativos dinâmicos, que já estão sendo aplicados comercialmente, reduzindo, assim,
equipes, prazos e custos de implantação. Já as consultorias de menor porte, por não terem a
mesma capacidade de investimento, deverão construir seus ativos reutilizáveis durante os
projetos para clientes, encontrando maiores dificuldades na abrangência de reutilização.
41
3. MÉTODO
O presente capítulo tem por objetivo apresentar a concepção metodológica desta
dissertação, classificando-a quanto ao propósito, abordagem e método.
3.1 Natureza
Para Gil (1999, p.42), a pesquisa é definida como um “processo formal e sistemático
de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir
respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”.
Cooper e Schindler (2016) caracterizam os estudos em duas categorias: a pesquisa
básica, que busca entender um fenômeno e obter conhecimentos novos de natureza
experimental ou teórica com pouco impacto imediato na sociedade, e pesquisa aplicada, que
tem uma ênfase prática em solução de problemas, devendo ser conduzida de forma a
encontrar respostas para questões específicas relacionadas à ação, desempenho ou
necessidades da sociedade.
Segundo Gil (1999), a classificação quanto ao tipo e a natureza da pesquisa deve
ocorrer com base em critérios diretamente relacionados aos objetivos do estudo. O autor
classifica as pesquisas em três grupos:
a) Pesquisa exploratória: o principal objetivo da pesquisa exploratória é
proporcionar maior familiaridade com o objeto do estudo, buscando-se conhecer
o assunto mais a fundo e sendo realizada quando o tema escolhido é pouco
explorado e torna-se difícil formular hipóteses precisas.
b) Pesquisa descritiva: o principal objetivo da pesquisa descritiva é descrever as
características de determinada população, fenômeno ou estabelecimento de
relações entre as variáveis.
c) Pesquisa explicativa: o principal objetivo da pesquisa explicativa é o de
identificar fatores que contribuem ou são determinantes para a ocorrência de
determinado fenômeno, buscando explicar a razão e os porquês de determinados
eventos.
Este estudo, conforme apresentado, busca propor um processo de inovação estruturado
e regular que permita à empresa de consultoria oferecer produtos e serviços competitivos em
42
um cenário de adoção de soluções em nuvem pelo mercado. Nesse sentido, a pesquisa foi
classificada como aplicada de objetivo híbrido exploratório-descritivo. Trata-se de um estudo
aplicado, pois visa identificar como pode ser estruturado um processo de inovação e aplicado
em um caso real. É exploratória, pois existem poucos estudos sobre a aplicação desse
processo em empresas integradoras de sistemas de médio porte no mercado nacional, em um
contexto de mudança de plataforma tecnológica. Por fim, é descritiva, na medida em que se
preocupa em descrever características de determinada população.
3.2 Abordagem
Quanto à abordagem para se conhecer o fenômeno social em estudo, destacam-se as
pesquisas quantitativas e qualitativas.
Segundo Godoy (1995), a pesquisa qualitativa apresenta um crescimento considerável
a partir da década de 1970, gerando uma grande diversidade de métodos de trabalho, estilos
de análise e apresentação de resultados e diferentes considerações sobre o sujeito.
De acordo com Martins e Theóphilo (2007), na abordagem qualitativa, o pesquisador
busca compreender os fenômenos através da observação, interpretação e descrição, sob uma
perspectiva subjetiva dos dados; enquanto na abordagem quantitativa, busca-se descrever
significados de forma objetiva, obtendo resultados por meio de dados medidos, organizados e
tratados estatisticamente.
Reconhecendo a diversidade existente nas pesquisas qualitativas, Godoy (1995)
apresenta alguns aspectos essenciais em estudos desse tipo:
A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o
pesquisador como instrumento fundamental: abordagem na qual valoriza-se o
contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente que está sendo
estudado.
A pesquisa qualitativa é descritiva: os dados coletados aparecem sob a forma
de transcrições de entrevistas, anotações de campo, fotografias, desenhos e
vários tipos de documentos.
O significado que as pessoas dão às coisas e a sua vida são a preocupação
essencial do investigador: compreender os fenômenos que estão sendo
estudados a partir da perspectiva dos participantes.
43
Pesquisadores utilizam o enfoque indutivo na análise de seus dados:
construção do quadro teórico se dá paulatinamente, à medida que os dados são
coletados e examinados.
Em função da natureza do problema, das questões e dos objetivos desta dissertação, a
opção pela abordagem qualitativa demonstrou-se a mais apropriada, uma vez que esta é uma
pesquisa aplicada de objetivo híbrido exploratório-descritivo que investiga um fenômeno
ainda pouco estudado, na qual se busca o entendimento do mundo empírico em seu ambiente
natural, levando em consideração a perspectiva dos participantes.
3.3 Método
A pesquisa nos campos de atuação das ciências sociais, sobretudo na administração, é
fortemente influenciada pelo paradigma dominante, o positivismo, que orienta os
procedimentos metodológicos utilizados para seu desenvolvimento (BURRELL e MORGAN,
1979; THOMPSON e PERRY, 2004; NOVAES e GIL, 2009). Embora a hegemonia
positivista ainda seja evidente, segundo NOVAES e GIL (2009), verifica-se uma ênfase cada
vez maior nas pesquisas de cunho interpretativista no campo da administração, em que a
ênfase está na maneira como os sujeitos de pesquisa interpretam a realidade que vivenciam e
não na procura da objetividade.
Segundo Ribeiro (2005), no mestrado profissional, deve ocorrer a imersão na
pesquisa, porém almeja-se a formação de alguém que, no campo profissional, externo à
academia, tenha a habilidade de reconhecer, identificar e utilizar a pesquisa para agregar valor
as suas atividades profissionais ou sociais. A orientação trazida pela CAPES na portaria
normativa n. 17/2009, em seu artigo 4o, coloca os objetivos do mestrado profissional voltados
para a questão da prática profissional. Krakauer, Marques e Almeida (2015) apontam que as
diretrizes de um estudo em um mestrado profissional são orientadas por um problema
encontrado na prática profissional e o pesquisador deve encontrar as propostas de solução por
meio do emprego de um método de pesquisa.
Craighead e Meredith (2008) afirmam que a pesquisa-ação é um dos métodos
qualitativos emergentes, podendo ser empregado para que o pesquisador aprofunde seus
conhecimentos acerca de um fenômeno e estabeleça questões de pesquisa mais pertinentes.
Para Thiollent (2007), a pesquisa-ação consiste na execução de pesquisa e ação em um único
processo, no qual existe uma interação explícita entre o investigador e os participantes
implicados, buscando interativamente compreender os problemas coletivos e experimentar
44
soluções na situação observada. O autor também lembra que a pesquisa deve ser conduzida de
forma a não ser predeterminada pelos interesses dominantes que atravessam a organização
(THIOLLENT, 2007). Martins e Theóphilo (2007) definem a pesquisa-ação como uma
investigação na qual o pesquisador atua de modo ativo e interativamente, requerendo a
cooperação entre pesquisador e os participantes, identificando e atacando os problemas por
meio de ações planejadas.
Coughlan e Coughlan (2002) apresentam um conjunto de premissas e condições que
caracterizam a pesquisa-ação. São eles:
O pesquisador toma a iniciativa da ação e não é um mero observador;
Envolve sempre dois objetivos: 1) solucionar um problema e 2) contribuir para
a ciência;
É interativa (cooperação e interatividade entre os envolvidos);
Objetiva desenvolver um entendimento holístico;
É fundamentalmente relacionada à mudança;
Pode incluir diferentes métodos de coleta de dados;
Deve ser conduzida em tempo real e
Requer critérios próprios de qualidade para sua avaliação.
Mello, Turrioni, Xavier e Campos (2012), por meio de uma pesquisa conceitual-
teórica, elaboraram uma proposta de conteúdo e sequência para a condução de uma pesquisa-
ação com base nos trabalhos de Westbrook (1995), Coughlan e Coughlan (2002) e Thiollent
(2007), conforme demonstrado na Figura 6. Para os autores, cada ciclo do processo de
pesquisa-ação acontece em cinco fases: planejar; coletar dados; analisar dados e planejar
ações; implementar ações; avaliar resultados/gerar relatórios.
Figura 6 – Estrutura para condução de pesquisa-ação
Fonte: Mello, Turrioni, Xavier e Campos (2012). Adaptado de Westbrook (1995), Coughlan e
Coughlan (2002) e Thiollent (2007).
45
Considerando o problema de pesquisa, os objetivos delineados e a condução deste
estudo em um caso real no qual o autor foi participante ativo, foi definida a pesquisa-ação
como método de exploração.
3.4 Estrutura da pesquisa-ação
Na pesquisa-ação, o pesquisador interfere no objeto de estudo de forma cooperativa
com os participantes da ação, para resolver um problema real e para contribuir com a base de
conhecimento.
As etapas e atividades previstas para se atingir os objetivos propostos nesta pesquisa,
em sintonia com o problema apresentado, são demonstradas graficamente na Figura 7, e
foram elaboradas pelo autor a partir das fases de pesquisa-ação propostas por Mello et all
(2012), das atividades identificadas para o processo de inovação propostas por Tidd e Bessant
(2015) e das diretrizes que orientam o mestrado profissional, conforme sustentação do
arcabouço teórico apresentado no capítulo 2.
Figura 7 – Estruturação Proposta
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Mello, Turrioni, Xavier e Campos (2012) e Tidd e Bessant
(2009).
46
3.4.1 Planejamento da pesquisa-ação
Mello, Turrioni, Xavier e Campos (2012) indicam que esta fase é composta por 3
etapas: 1) definição do contexto e propósito da pesquisa, 2) definição da estrutura conceitual
teórica e 3) seleção da unidade de análise e técnicas de coleta de dados. Os autores também
afirmam que a iniciação de uma pesquisa-ação pode ocorrer com o pesquisador identificando
um problema na literatura e depois buscar um objeto de estudo no qual esse problema possa
ser resolvido cientificamente ou a partir de um problema existente em uma organização.
3.4.1.1 Definição do contexto e propósito da pesquisa (relato da experiência, identificação,
análise e segmentação do problema)
Nesta dissertação, a proposta de pesquisa surgiu da experiência prática do autor em
uma empresa de mercado que, conforme já contextualizado neste trabalho, está passando por
mudanças decorrentes de inovações tecnológicas que ameaçam o atual modelo de operações e
geração de receita.
A partir do relato da experiência e da análise do contexto, aplicou-se o diagrama de
causa-efeito de Ishikawa (1993), objetivando a exploração e identificação do problema. O
resultado final é apresentado na Figura 8.
Figura 8 – Análise de causa e efeito.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Com a aplicação dessa técnica, identificou-se que o atual modelo de negócio não é
sustentável diante do cenário de adoção de soluções em nuvem, uma vez que tanto os custos
47
comerciais, quanto os custos de implantação, não são suportados pelos valores obtidos com o
comissionamento pela venda de subscrição e pelos serviços de implantação nesse novo
cenário de adoção de soluções de gestão em nuvem.
A decomposição do problema identificou a necessidade não só de se buscar
alternativas para inovar em produtos e serviços - demonstrando as causas Comercialização e
Serviços de Consultoria, conforme o diagrama da Figura 8-, mas também de fazer essa
inovação de forma pró-ativa pois, como uma empresa de consultoria que sempre atuou
representando indústrias globais de sistemas de gestão, as inovações sempre foram absorvidas
junto aos produtos e serviços gerados por essas indústrias, auxiliando-as na narrativa de
valorização da informação para maximização da eficiência dos processos de negócio.
Com a oferta das indústrias de software de soluções em nuvem, a causa Parceria com
os Fabricantes do diagrama da Figura 8 demonstra que a possibilidade de habilitação digital
de suas soluções e novos canais de distribuição leva à busca de novos caminhos,
independentemente dos fornecedores, para se adaptar a esse cenário.
3.4.1.2 Definição da estrutura conceitual teórica
Segundo Mello, Turrioni, Xavier e Campos (2012), na pesquisa-ação, a
fundamentação teórica identifica as lacunas nas quais podem existir problemas a serem
solucionados, em comunhão com o contexto organizacional que promove a pesquisa
participativa.
A partir do problema de pesquisa definido e do aprofundamento na revisão da
literatura, identificou-se a necessidade de se buscar a fundamentação teórica nas áreas de
conhecimento relacionadas à consultoria em sistemas, ao futuro da consultoria, à
transformação digital, à computação em nuvem e à inovação, que suportassem o presente
estudo, gerando-se, assim, a estrutura conceitual teórica apresentada na Figura 2 do capítulo 2.
3.4.1.3 Seleção da unidade de análise
Yin (2005) considera que a definição da unidade de análise está relacionada com a
maneira como as questões iniciais de pesquisa foram definidas. Uma vez que a abordagem de
pesquisa-ação deste estudo teve iniciação motivada pelo problema a partir da experiencia
profissional do autor na empresa em que atua, naturalmente, a unidade de análise selecionada
foi a própria organização.
48
A organização em estudo é uma empresa de consultoria em sistemas, também chamada
de integradora, cujo histórico e serviços foram apresentados no capítulo 1. As características
da empresa, bem como sua estrutura, são apresentadas abaixo, para uma clara identificação da
situação no momento inicial da pesquisa.
A empresa possui 3 unidades de negócio, sendo que cada uma é responsável por um ou
mais segmentos de mercado. As unidades de negócio são: Saúde, que trabalha soluções de
gestão para hospitais, clínicas e operadoras de saúde; educação, que atende o mercado de
instituições de ensino superior com soluções de gestão acadêmica e financeira do aluno, e
multi indústria, que atende os demais segmentos de mercado (varejo, telecomunicações, etc)
com soluções cross industry, tais como ERP, CRM e HCM.
A empresa é uma sociedade limitada, cuja composição acionária compreende dois
sócios com a mesma participação. Possui cerca de 105 colaboradores, sendo 15 profissionais
nas áreas administrativa, financeira, de gestão de pessoas e comercial e 90 profissionais
atuando na operação com funções de Gerente de Projetos, Consultores Técnicos e Funcionais.
Para ilustrar os componentes do modelo de negócio da empresa no momento inicial
desta pesquisa, utilizou-se a arquitetura de modelagem proposta por Pedroso (2016), inspirada
em Osterwalder (2004), apresentada na Figura 9, o que facilita o entendimento detalhado da
situação da empresa na fase inicial da pesquisa.
Figura 9 – Arquitetura do modelo de negócio da empresa de consultoria em julho de 2017.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Pedroso (2016).
49
3.4.1.3 Definir técnicas para coleta de dados
O planejamento da pesquisa-ação abrange a definição das técnicas a serem utilizadas
na coleta de dados e, de acordo com Mello, Turrioni, Xavier e Campos (2012), a combinação
e o uso diferentes técnicas favorece a validação da pesquisa.
A coleta de dados nesta pesquisa está baseada na proposição de Woodside e Wilson
(2003), que afirmam que a triangulação frequentemente inclui:
Observação participante do pesquisador no ambiente da pesquisa;
Sondagens por meio de questionamento dos participantes quanto às
explicações e interpretações dos dados operacionais e
Análise de documentos escritos e dos locais integrantes do ambiente da
unidade de análise selecionada.
De acordo com a proposição de Woodside e Wilson (2003), realizou-se uma
sondagem que foi tangibilizada por meio de um questionário enviado a 13 participantes
selecionados por conveniência. As questões foram elaboradas de acordo com Tidd e Bessant
(2015), com o objetivo de avaliar diferentes quesitos aos quais poderiam ser atribuídas notas
de 0 a 7. Foram realizadas análises descritivas (média e desvio padrão) das avaliações obtidas
para cada questão em cada ano. Utilizaram-se testes de Wilcoxon para amostras dependentes,
a fim de avaliar se as médias obtidas para cada ano diferiram significativamente. Foi utilizado
o teste de Wilcoxon pelo pequeno número de participantes e pela ausência de distribuição
normal dos dados (DANCEY e REIDY, 2006).
50
51
4. INTERVENÇÃO E RESULTADOS
4.1 Coleta de dados
A efetivação da intervenção seguiu-se buscando a aplicação dos conceitos,
metodologias e técnicas fundamentadas no referencial teórico explicitado nos Capítulos 2 e 3,
bem como de acordo com as condições reais da empresa em que o autor atua. Assim, a
obtenção dos dados primários, que, de acordo com Coughlan e Coughlan (2002), acontecem
por meio do envolvimento ativo do pesquisador no dia a dia dos processos organizacionais
relacionados com o projeto de pesquisa-ação, foi possível através da proposição do
pesquisador, junto à direção da empresa, de um planejamento que identificasse ações para a
sustentabilidade da operação da unidade de negócio de educação em médio e longo prazo,
buscando soluções e serviços que auxiliassem no processo de inovação do portfólio da
empresa. Para tanto, houve a aprovação dos sócios da empresa para que se criasse um grupo
de estudo para executar esse planejamento, que foi formado pelo pesquisador, na sua função
de diretor comercial, pelo diretor de serviços e por um gerente de projetos da área.
O primeiro passo foi diagnosticar a situação atual da unidade de negócio e equalizar a
percepção de todos os envolvidos, o pesquisador propôs efetuar um estudo conjunto entre as
áreas comercial e técnica que identificasse o atual posicionamento da unidade de negócio e a
busca de informações sobre mercado de educação, contemplando informações quantitativas,
desafios do setor, entendimento da jornada dos alunos e das soluções já existentes.
O levantamento da situação atual demonstrou que a unidade de negócio estava
mantendo uma receita estável nos últimos seis meses, baseada em quatro clientes. Em três
desses clientes, havia contratos de serviços de suporte de média duração (12 meses) e
pequenos projetos de desenvolvimento. Dada a boa relação com os clientes, havia a
perspectiva de renovação dos contratos recorrentes, porém com a existência de negociação em
cada renovação. Em um cliente, havia projetos tanto de implantação, como de
desenvolvimento sendo executados, com a estimativa de pelo menos mais oito meses de prazo
de execução, bem como a possibilidade de se conquistar um contrato de suporte pós-
implantação.
Todos os serviços prestados estavam baseados nas tecnologias dos sistemas de gestão
licenciados pelos clientes na forma tradicional. O levantamento também demonstrou que a
empresa havia iniciado a relação contratual com esses clientes nos últimos três ou quatro anos
52
e que, em todas as renovações anteriores de contratos, houve pressão para a diminuição de
valores contratados ou para a não aplicação do reajuste contratual previsto.
Além disso, o parceiro atual que fornece a solução de gestão acadêmica afirmou que
não haveria a adaptação da solução atual para o formato de comercialização em nuvem.
Uma síntese deste diagnóstico é apresentada na Figura 10, excluindo-se apenas os dados
referentes à receita.
Figura 10 – Síntese da situação atual da unidade de negócio de educação.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Em relação aos dados de mercado, o levantamento foi efetuado com base no censo do
INEP divulgado em 2017, referente às informações de 2016, que apresentou os seguintes
números:
2.069 instituições de ensino superior privadas
6.900.000 alunos matriculados na rede particular
Os desafios do setor foram pesquisados avaliando-se as iniciativas dos próprios clientes
da empresa objeto do estudo e pela análise de artigos sobre o ensino superior. Em relação às
instituições de ensino, identificou-se que, no planejamento estratégico para os próximos cinco
a dez anos, quatro desafios em comum apresentados por reitores, vice-reitores e
coordenadores de cursos, quais sejam:
53
1) promover o sucesso do estudante;
2) adotar a excelência operacional;
3) individualizar o aprendizado e
4) personalizar a experiência do estudante.
O entendimento da jornada do aluno foi elaborado considerando-se a experiência do
grupo de estudo nos processos de negócio e entrevistas com funcionários dos clientes das
áreas de tecnologia da informação, secretaria e administrativo. Foram identificadas seis etapas
na jornada do aluno, além dos processos institucionais e de back office, conforme colocado
abaixo:
1. captação de alunos;
2. inscrição no vestibular;
3. processo seletivo;
4. matrícula;
5. progressão;
6. titulação;
7. Processos administrativos financeiros;
8. Recursos Humanos;
9. Institucional;
A figura 11 apresenta esses processos e as principais atividades em cada um:
Figura 11 – Ensino superior – Visão geral dos processos
Fonte: Elaborado pelo autor
54
Ao se identificar os processos de negócio que envolvem a jornada do aluno e o back
office da instituição, o grupo de trabalho procurou relacionar esses processos com as soluções
de gestão disponíveis no mercado. Para os processos e/ou atividades que não possuem
soluções de mercado, haveria oportunidades de negócio que poderiam ser avaliadas. A Tabela
3 apresenta o resultado desse levantamento.
Tabela 3 – Ensino superior – Processos vs. Soluções de Mercado
Processo Atividades Soluções de Mercado
Captação de alunos
Campanhas de marketing
Jornada do candidato
Funil de captação
Chat on line / call center
Loja virtual
Soluções de CRM
Inscrição no vestibular Forma de ingresso
Agendamento
Não foram encontradas soluções de
mercado.
Processo seletivo
Lista de inscritos
Logística
Monitoria
Correção
Lista de aprovados
Não foram encontradas soluções de
mercado.
Matrícula
Lista de aprovados
Ensalamento
Cobrança
Para Ensalamento foram encontradas
soluções internacionais.
Para as demais atividades não foram
encontradas soluções.
Progressão
Gestão acadêmica
Financeiro do aluno
Atendimento ao aluno
SIS – Student information Systems
LMS – Learning Management Software
Titulação Emissão diploma
Gestão alumni
Processos administrativos
e financeiros
Contabilidade / Contas a pagar
Tesouraria / Fiscal / Ativo
Fixo / Contratos / Orçamento
Fechamento
ERP – Enterprise Resource Planning
EPM – Enterprise Performance
management
Recursos humanos
Recrutamento & Seleção
Treinamento
Avaliação desempenho
Folha de pagamento admin.
Folha de pagamento docente
Integração plataforma Lattes
HCM – Human Capital Management
Systems
Para as atividades de folha de
pagamento docente e integração com a
plataforma Lattes, não foram
encontradas soluções de mercado.
Institucional e
regulamentação
CPC e IGC
Avaliação Institucional
ENADE
Censo INEP
Não foram encontradas soluções de
mercado.
Fonte: Elaborado pelo autor.
55
4.2 Análise de dados e planejamento de ações
O aspecto crítico da análise de dados na pesquisa ação, de acordo com Coughlan e
Coughlan (2002), é que ela é colaborativa: tanto o pesquisador, como o membro da unidade
de análise devem fazê-la em conjunto. Mello, Turrioni, Xavier e Campos (2012) afirmam que,
durante a análise de dados, é pertinente a comparação dos dados tabulados com a teoria
envolvida no tema pesquisado.
Nesse contexto, o pesquisador propôs que o grupo de estudo efetuasse uma análise de
acordo com os objetivos da pesquisa e baseada no referencial teórico analisado (contexto,
processo de inovação e futuro das consultorias), contemplando tanto as necessidades de
mudanças no perfil da consultoria, como em relação ao processo de inovação, abarcando as
atividades de identificação de oportunidades, geração de ideias, seleção de projetos e
planejamento.
Uma síntese da análise de dados e do planejamento é apresentada na Tabela 4.
Tabela 4 – Síntese da análise de dados.
Situação Levantamento da
situação Diagnóstico Plano de ação
Clientes atuais
Clientes de relacionamento
antigo nos quais prestamos
serviços com receitas
recorrentes e projetos pontuais.
Tendência de pressão por margens
cada vez menores em cada
renovação de contrato.
Identificar
oportunidades para o
desenvolvimento de
novos produtos e
serviços para estes
clientes.
Tecnologias atuais
Sistemas de Gestão Empresarial
- ERP
Sistemas de Gestão Acadêmcia
- SIS
Sistemas de Gestão de Capital
Humano - HCM
Como o fornecedor destas soluções
está descontinuando a oferta e
provendo uma nova plataforma
baseada em nuvem a tendência é de
que a base de clientes existente opte
a medio/longo prazo pela migração
para as soluções SaaS do atual
provedor ou migrem para outros
fornecedores de solução.
Identificar novos
parceiros e soluções.
Identificar
oportunidades para o
desenvolvimento de
novos produtos e
serviço.
Prospeção e vendas
na base de clientes
que utilizam as
soluções que a
empresa possui
especialização
Poucas vendas acontecendo.
Forte concorrência na atual base de
clientes que utilizam as soluções
ofertadas pela empresa.
Identificar
oportunidades para o
desenvolvimento de
novos produtos e
serviços para estes
clientes.
Prospeção e vendas
em novos clientes Não estão ocorrendo.
Não estão acontecendo novas
vendas pois as tecnologias atuais
que a empresa possui especialização
está sendo descontinuada pelo
fornecedor do software.
Identificar
oportunidades para o
desenvolvimento de
novos produtos e
serviços para estes
clientes.
Fonte: Elaborado pelo autor.
56
Conforme demonstrado pelo entendimento do grupo de estudo, constatou-se a tendência
descrita no contexto desta pesquisa de que o número de projetos grandes envolvendo sistemas
legados, que absorvem um grande número de consultores, começarão a encolher com a
adoção de soluções em nuvem. Nesse sentido, a necessidade de buscar novos parceiros,
produtos e serviços para a continuidade da área torna-se uma realidade para a empresa de
consultoria.
Ao mesmo tempo, o levantamento das informações sobre o tamanho do mercado de
ensino superior no Brasil e as carências apontadas em relação a vários processos de negócio
demonstraram que a área de educação tem potencial interessante para se buscar novas
oportunidades de negócio.
Definiu-se então um plano de ação para se identificar oportunidades para o
desenvolvimento de novos produtos e serviços, que foi apresentado aos sócios da consultoria
e aprovado para execução.
4.3 Implementação de ações
Conforme a estruturação proposta para esta pesquisa, apresentada na Figura 7,
considera-se, a partir desta etapa, a utilização do modelo de processo de inovação proposto
por Tidd e Bessant (2015) como o guia para implementação das ações, contemplando a busca
de oportunidades para inovação, a seleção do que pode ser feito, a implementação e a captura
de valor.
Com a anuência dos sócios da empresa, o grupo de estudo iniciou as atividades que
serão descritas a seguir.
4.3.1 Identificação de oportunidades
A coleta de dados sobre os desafios no ensino superior e sobre a cadeia de valor do
segmento foi o ponto de partida para a análise de oportunidades.
Em relação aos desafios da área de educação, observou-se que muito tem sido feito
sobre as metodologias e as tecnologias de ensino. Metodologias ativas de ensino, sistemas de
avaliação de aprendizagem, tais como o assurance of learning (AoL), ensino a distância
utilizando sistemas de LMS tais como Canvas e Blackboard e o uso de aplicativos de
gamificação e de apoio aos estudos tem auxiliado as instituições de ensino a superar os
desafios para promover o sucesso do estudante e para se individualizar o aprendizado.
57
Porém, quanto à personalização da experiência do estudante, não foi possível identificar
ações concretas, uma vez que o mapeamento dos processos de negócio e das soluções
disponíveis apontou para uma grande segmentação da informação dos estudantes, de suas
atividades e resultados em diversas plataformas, dificultando, assim, o seu acesso e tornando a
experiência mais desgastante.
Quanto aos processos de negócio e as soluções disponíveis, observou-se diversos gaps
em relação aos processos de inscrição no vestibular, processo seletivo, tratamento da relação
com os professores e em toda a parte institucional e de regulamentação. Esse fator também
dificulta o atingimento da excelência operacional, uma vez que exige a integração de diversos
sistemas e a flexibilidade de mudanças torna-se morosa e envolve maiores custos.
A Tabela 5 apresenta um sumário das dificuldades encontradas em relação aos desafios
apresentados e aos processos mapeados que podem representar oportunidades de negócio para
a empresa.
Tabela 5 – Síntese das oportunidades identificadas.
Desafio / Processo Dores
Personalizar a experiência do
estudante
Em virtude da segmentação das informações em diversos
sistemas, as instituições têm dificuldade para personalizar
ações e comunicações.
Processo seletivo
Matrícula
Como os sistemas de gestão acadêmica contemplam o
gerenciamento de alunos a partir da matrícula e os
sistemas de captação tratam das campanhas para atrair
candidatos, as instituições de ensino têm que desenvolver
suas próprias soluções para integrar esses dois processos.
Apuração da folha de pagamento
dos professores
Integração plataforma Lattes
São possíveis diversos vínculos entre as instituições e os
professores. Cada vínculo pode ter taxas de remuneração
diferentes, de acordo com atividades distintas. Essa
característica demanda um esforço grande para as
instituições controlarem a quantidade de horas efetivas em
cada modalidade de contrato para enviar essas
informações para a folha de pagamento.
Acompanhar as atualizações dos currículos dos
professores na plataforma Lattes é um processo manual.
Gestão Alumni
As instituições têm dificuldade de acompanhar a evolução
dos ex-alunos para obter informações que poderiam
utilizar em campanhas de captação para a educação
continuada.
Processos regulatórios
O envio de informações obrigatórias já é bastante
automatizado em geral, porém o tratamento dos resultados
sobre as avaliações institucionais é analisado isoladamente
e tanto o planejamento, como o controle de ações
necessárias, são feitos manualmente.
Fonte: Elaborado pelo autor.
58
4.3.2 Geração de ideias
Conforme a metodologia adotada, baseada em Tidd e Bessant (2015), o grupo de
estudos fez uso intensivo do conhecimento dos clientes para a descoberta de novos caminhos.
O entendimento sobre os desafios do setor e os processos não atendidos por soluções de
mercado identificados pelo grupo junto aos clientes, demonstraram algumas possibilidades de
se inovar em produtos e serviços, com a premissa de utilizar as tecnologias da transformação
digital.
Três foram as ideias geradas nesse contexto: 1) desenvolver sistemas específicos com o
objetivo de automatizar processos manuais e preencher lacunas existentes entre os diversos
sistemas que compõem a plataforma tradicional de soluções de uma instituição de ensino
superior; 2) criação de uma estrutura de captura e análise de informações combinada com um
sistema específico que auxiliasse as instituições de ensino superior na análise, planejamento e
controle de ações institucionais e 3) desenvolvimento de um aplicativo mobile que permitisse
às instituições de ensino proporcionar uma experiência mais personalizada para seus alunos.
A Tabela 6 apresenta um resumo das ideais geradas, correlacionando-as à dor encontrada e à
proposta de valor inicialmente idealizada.
Tabela 6 – Resumo geração de ideais x dores x proposta de valor.
Ideia Dores da Instituição Proposta de Valor
Desenvolvimento de
sistemas específicos para
serem comercializados na
modalidade SaaS
Processo seletivo
Matrícula
Gestão folha de pagamento e
plataforma Lattes
Processos regulatórios
Automatização de processos
Custo por uso
Plataforma escalável
Big Data para auxiliar
ações institucionais
Adotar a excelência operacional
Processos regulatórios
Demonstrar ações que podem ser
executadas em relação aos planos
de ação relacionados às notas da
instituição no processo de
avaliação coordenado pelo INEP
Aplicativo mobile para
alunos e professores
Personalizar a experiência do
estudante
Atendimento presencial
Gestão alumni
Transformar a jornada do aluno
em uma experiência mobile
personalizada
Fonte: Elaborado pelo autor.
59
4.3.3 Triagem e análise das ideias
Para Tidd e Bessant (2015), a estruturação nesta etapa é fundamental no processo de
inovação, uma vez que definirá o caminho a seguir. Para os autores, essa definição deve ser
baseada em pontos de decisão estruturados que permitam ao máximo identificar os riscos e
balizar as decisões.
Para estruturar esta etapa, o pesquisador propôs ao grupo de trabalho utilizar a
abordagem de análise SWOT, de forma a embasar a decisão sobre o que a empresa iria fazer e
a razão para tal ação. Segundo Ansoff e McDonnell (1984), a análise SWOT é uma das
ferramentas de gestão para suporte ao planejamento estratégico que auxilia na determinação
racional da capacidade de competir. O termo SWOT é um acrônimo das palavras strenghts
(forças), weaknesses (fraquezas), opportunities (oportunidades) e threats (ameaças).
Para a avaliação das forças, foram consideradas as três ideias geradas na etapa anterior e
mapeadas as forças, fraquezas, oportunidades e ameaças para cada uma delas. O resultado é
apresentado nas Figuras 12, 13 e 14 – Análise SWOT de cada ideia.
Figura 12 – Análise SWOT para desenvolvimento de sistemas específicos.
Fonte: Elaborado pelo autor.
60
Figura 13 – Análise SWOT Big Data para Educação.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 14 – Análise SWOT para desenvolvimento de aplicativo mobile.
Fonte: Elaborado pelo autor.
61
4.3.4 Definição do projeto
Após a estruturação da argumentação de cada ideia, o grupo de estudo entendeu que a
melhor oportunidade apresentada foi a do desenvolvimento de um aplicativo mobile. Uma
pesquisa por fornecedores de aplicativos para IES, constatou que havia poucas empresas,
todas fundadas nos últimos dois anos, que faziam a oferta de aplicativos mobile para
instituições de ensino superior e cuja arquitetura oferecida por essas soluções não tinha o
mesmo nível de governança e segurança dos sistemas de classe mundial. Dessa forma, esse
poderia ser um diferencial para uma nova solução de mercado.
Além disso, a fábrica de software já havia prestado serviços de desenvolvimento de
aplicações mobile para outros clientes em outros segmentos, tendo, assim, competências
técnicas para essa iniciativa.
Outro importante fator foi a especulação junto a uma importante instituição de ensino
superior, já cliente da consultoria, que poderia se tornar uma parceira nessa iniciativa. Havia o
planejamento para se adotar um aplicativo nessa instituição e essa parceria poderia iniciar o
processo. Dessa forma, a instituição assumiria o papel de auxiliar nas definições e se tornaria
um earlier adopter (primeiro cliente a adotar, fazer os testes e ajudar a aprimorar) do
aplicativo.
As demais ideias foram consideradas boas iniciativas, mas apresentavam maior
dificuldade de desenvolvimento e maiores riscos de mercado, conforme a avaliação do grupo
de estudo.
A partir dessa decisão, o pesquisador sugeriu ao grupo de estudo a elaboração de um
plano de negócio para apresentação aos sócios da empresa e a viabilização do
desenvolvimento.
4.3.5 Planejamento
Para desenvolver o plano de negócio dessa ideia. o pesquisador sugeriu que, em uma
primeira etapa, fosse utilizada a ferramenta Business Model Canvas (quadro de modelo de
negócio) proposta por Osterwalder e Pigneur (2010), englobando um conjunto de conceitos e
a relação entre eles, de forma a representar a lógica dessa iniciativa de maneira simples e
objetiva, demonstrando como se poderia criar, entregar e capturar valor com essa inovação.
O resultado desse trabalho é apresentado na Figura 15.
62
Figura 15 – Modelo de Negócio Canvas – Aplicativo Mobile para IES.
Fonte: Elaborado pelo autor.
O plano de negócio foi complementado com as informações apresentadas na fase
anterior sobre o tamanho do mercado e a análise SWOT. Além disso, conforme dito por
Koller, Goedhardt e Wessels (2005), o valor de uma companhia deriva primariamente de sua
capacidade de converter o capital investido em retorno superior ao custo médio ponderado de
capital (ROIC – Return on invested capital maior que o WACC - weigthened average cost of
capital) e, depois, de sua capacidade de crescimento. Por isso, o pesquisador elaborou um
demonstrativo de resultado, prevendo os custos e receitas para essa iniciativa, considerando
um período de três anos.
Em relação à estruturação de como deveria ser o desenvolvimento técnico do aplicativo,
havia o desafio de se definir uma arquitetura inerente a um produto pois, apesar de se ter uma
fábrica de software que já possuía alguma experiência no desenvolvimento de aplicativos
mobile para clientes, nunca havia sido desenvolvido um produto próprio. Dessa forma, a
expertise era só na codificação propriamente dita, sem atuação nas etapas de análise da
experiência do usuário, de especificação de funcionalidades, de desenho da interface do
usuário e do ciclo de vida de um produto.
Nesse cenário, o grupo de estudo propôs no planejamento a busca de recursos
especializados na definição da experiência do usuário e no desenho da interface do usuário de
aplicativos mobile, para suprir essa falta de conhecimento interna.
O planejamento foi apresentado aos sócios da empresa, que aprovaram a sua execução.
63
4.3.6 Design
Com o plano aprovado, foi fechado o acordo com uma instituição de ensino altamente
reconhecida no mercado. Conforme já havia sido citado no item 4.3.4, existiram conversas
prévias com a instituição, que já era cliente da consultoria e que poderia se tornar uma
parceira nessa iniciativa. Em reuniões anteriores, havia sido definido um escopo inicial de
funcionalidades desejadas por essa instituição, bem como sugestões do grupo de estudo em
relação às funcionalidades necessárias para uma primeira versão do produto.
Na sequência, houve a cotação e contratação dos serviços de profissionais de user
experience (experiência do usuário) de mercado e foi iniciado o trabalho de definição da
experiência do usuário. Foi utilizada a metodologia do Design Thinking, cuja abordagem é
centrada no usuário, a fim de se encontrar novas soluções para problemas complexos ou
melhora de um serviço estava totalmente aderente à proposta do projeto. Vianna et al., (2014)
afirma que o Design Thinking se apresenta como um instrumento para se desenvolver a
inovação nos mais diversos contextos e negócios, com uma abordagem focada no ser humano,
para encontrar caminhos que levem a soluções inovadoras. Para uma melhor compreensão das
atividades envolvidas na abordagem do Design Thinking, os autores apresentam quatro etapas
para o processo, quais sejam: 1) Entendimento, 2) Síntese, 3) Ideação e 4) Prototipação.
A primeira etapa tem a finalidade de aproximação do contexto do problema por parte da
equipe do projeto. Na segunda etapa, as informações obtidas precisam ser analisadas e uma
síntese do contexto e problemas é elaborada. Na terceira etapa, são geradas ideias inovadoras
para o tema e a última etapa tem o objetivo de validar as ideais geradas e torna-las tangíveis.
Vianna et al. (2014) afirma que, para cada etapa do processo de Design Thinking, são
utilizadas diversas técnicas, de acordo com a necessidade apresentada. Os analistas de UX
contratados apresentaram o seguinte planejamento e técnicas para a execução das atividades
sob a abordagem do Design Thinking:
Entendimento
o Preparação e construção de roteiro de pesquisa para entrevista com
usuários e potenciais usuários levantados na fase de Planejamento;
o Pesquisa com usuários e potenciais usuários;
o Análise da atual volumetria de acessos e dados internos de solução
existente (se houver);
o Mapeamento e identificação de concorrentes, inclusive mercado análogo,
não somente no setor especificado;
o Realização de dinâmica para entendimento e equalização de expectativas
e atividades dos stakeholders levantados na fase de planejamento;
64
o Entendimento da jornada ideal;
o Validação de conceitos.
Síntese
o Tabulação das informações e dos dados levantadas na fase de
Entendimento;
o Definição de KPIs;
o Identificação dos principais pontos de atenção para percepção de valor
do usuário final;
o Planejamento das atividades de resolução dos pontos de atenção
levantados;
o Exercício de revisão de horas para realização de protótipos;
o Validação dos pontos de atenção com o demandante e compartilhamento
de insights.
Ideação
o Revisão das necessidades dos usuários e principais pontos de atenção
levantados na Síntese;
o Planejamento de atividade de ideação;
o Recrutamento dos stakeholders para atividade de ideação (workshps,
sprints);
o Preparação de material de apoio para atividade de ideação;
o Realização de atividade de ideação (workshop, design sprint,
brainstorming, etc.);
o Alinhamento sobre agenda e entregáveis da ideação com o demandante.
Prototipagem e validação
o Preparação de wireframes e conceitos com base nos resultados da
ideação e informações levantadas nas fases anteriores;
o Alinhamento com stakeholders das features desejáveis para teste de
usabilidade;
o Refinamento do protótipo conforme validação do solicitante;
o Testes de usabilidade;
o Refinamento do protótipo a cada três ou quatro testes de usabilidade
(entrevistas com usuários reais);
o Validação com demandante;
o Refinamento do protótipo conforme validação do demandante.
Ao longo do processo, foram entrevistados sete professores e quinze alunos de três
diferentes instituições de ensino superior, de forma a permitir sintetizar o passo a passo da
execução de suas atividades. Com isso, foi possível entender a forma como alunos e
professores executam suas atividades e quais eram as “dores” e, portanto, as oportunidades de
melhorias.
65
Também houve uma intensa análise de três aplicativos de mercado e dois aplicativos
desenvolvidos internamente por instituições de ensino.
Isso permitiu entender que um aplicativo com chances de sucesso para instituições de
ensino, além das funcionalidades mais desejadas para os alunos e professores, seria aquele
que trouxesse o efetivo engajamento no seu uso. Isso poderia ser alcançado por meio de um
conteúdo relevante, simples e atrativo.
Com isso, ao final dessa fase, as premissas adotadas para buscar a solução foram a
utilização de uma lógica de cards, a possibilidade de personalização em notificações e na
home, a segmentação de informações e a simplicidade no uso, de forma que pudesse
proporcionar a colocação do contexto em primeiro lugar, independentemente da plataforma.
A questão do contexto em primeiro lugar e da plataforma em segunda plano foi o
principal aspecto identificado. Constatou-se que, para os alunos e os professores, não importa
se a origem e o processamento das informações se dão no sistema acadêmico (SIS), no
sistema de apoio ao ensino (LMS) ou no sistema de biblioteca. O que importa seria poder
acessar rapidamente essas informações de forma simples e objetiva por meio do aplicativo.
4.3.7 Prototipagem
Com a abordagem idealizada e as funcionalidades definidas, foi desenvolvido o
protótipo para tangibilizar a ideia criada e efetuar sua validação.
As premissas identificadas na fase de busca do processo de design foram todas
consideradas no desenvolvimento do protótipo, como mostra a Figura 16. Nele, pode-se
perceber que cada informação inserida na interface do usuário busca melhorar a experiência
de uso do aluno ou do professor.
Figura 16 – Especificação da interface do usuário para o protótipo.
Fonte: Elaborado pelos analistas de user experience contratados para o projeto.
66
O protótipo foi testado com cinco alunos e três professores e, de um modo geral, o
aplicativo apresentou grande relevância. Foi identificado que os requerimentos são úteis, mas
não eram prioridade. Notas, faltas e atividades da semana contavam mais para a organização
dos alunos. Foi confirmado que os aplicativos de sistemas de gestão de ensino tentam ser um
portal, mas, por terem foco no material didático, não colocam o conceito do contexto em
primeiro lugar. Outro ponto bastante aderente foi a apresentação das atividades já na home
(página inicial) do aplicativo, permitindo uma visualização rápida das atividades e locais de
sua realização.
4.3.8 Desenvolvimento do projeto
Em paralelo às atividades de prototipagem e design, iniciaram-se as atividades de
especificação. Tão importante quanto as funcionalidades e a interface do usuário que estarão
disponíveis no aplicativo, é a arquitetura do sistema, sua segurança e performance na
execução das atividades a que se propõem.
As funcionalidades disponíveis no aplicativo, bem como sua interface, é a parte
chamada de Front End de uma aplicação. Ela deve possuir conteúdo relevante e tornar a
experiência do usuário fluída e agradável.
Porém, um enorme desafio é disponibilizar as informações para essa interface de forma
segura e com alta performance. Para isso, foram necessários esforços de profissionais de
arquitetura de sistemas e de segurança da informação, assim como de especialistas em
sistemas de soluções acadêmicas, para o desenho da arquitetura do banco de dados e das
integrações que o aplicativo faria com os sistemas de uma instituição de ensino, tais como:
SIS – Student Information System,
LMS – Learning Management System
Biblioteca
ERP – Enterprise Resource Management
O resultado desse trabalho é apresentado na Figura 17.
67
Figura 17 – Arquitetura do aplicativo mobile para instituições de ensino superior.
Fonte: Elaborado pelo arquiteto de sistemas da empresa para o projeto.
A partir da validação do protótipo, também foi elaborado um road map para se chegar
ao MVP, definindo-se três etapas que contemplavam um conjunto de funcionalidades a serem
disponibilizadas em cada uma. Iniciou-se, então, a fase de desenvolvimento da aplicação
mobile, envolvendo toda a estrutura de banco de dados, serviços de autenticação de usuários e
serviços de integração de informações.
Em paralelo ao desenvolvimento técnico, houve o planejamento comercial,
contemplando a identificação de instituições a serem prospectadas, ações de marketing e
comunicação, preparação de documentação de apoio a vendas (proposta, folders) e a alteração
no CRM interno para comportar novas informações inerentes a um processo de comercial de
oferta de sistemas próprios na modalidade SaaS.
4.3.9 Lançamento
Entre os modelos compilados por Silva, Bagno e Salerno (2014), apresentados na
Tabela 1 desta pesquisa, observa-se, na maioria deles, o fechamento do processo de inovação
em relação à exposição do novo produto ou serviço ao mercado. Não existe, entretanto, uma
clareza sobre a possibilidade desse encerramento ocorrer com o lançamento do produto, a
primeira venda ou com a sua maturação.
Como a pesquisa foi realizada ao longo de dois anos, foi possível acompanhar o
processo desde o lançamento da primeira versão de testes (versão beta) junto à instituição de
ensino superior parceira da empresa de consultoria nessa iniciativa, até as duas primeiras
comercializações.
68
4.3.9.1 Lançamento da versão beta
A disponibilização da versão beta ocorreu junto à instituição de ensino parceira para os
alunos dos cursos de pós-graduação e de extensão. A decisão pela disponibilização de uma
versão beta ocorreu em conjunto com a instituição por dois motivos:
Considerou-se que o lançamento de uma versão beta transmite a mensagem de
que eventuais informações equivocadas que pudessem ser apresentadas pelo
aplicativo teriam um impacto menor do que se fosse apresentado o aplicativo já
como uma versão comercial.
Os alunos da graduação ainda não teriam acesso ao aplicativo, pois a instituição
estava em processo de implantação de um novo sistema acadêmico que somente
seria disponibilizado em produção em um prazo de três meses.
Não houve nenhum tipo de comunicação oficial da instituição nesse lançamento, uma
vez que o aplicativo estaria disponível para cerca de apenas 10% dos alunos (pós-graduação).
Durante o período de testes da versão beta junto aos alunos da pós-graduação, foram
identificados alguns pontos de melhoria nas funcionalidades, identificados e corrigidos
problemas técnicos em relação aos serviços de integração. Diversas sugestões foram colhidas
junto aos alunos e iniciou-se a construção de um road map de desenvolvimento para o
produto, alinhado às demandas que foram sendo identificadas. Esse período durou três meses
- entre a disponibilização da versão beta inicial e a disponibilização da primeira versão
comercial.
4.3.9.2 Lançamento da primeira versão (MVP)
O lançamento da versão comercial envolveu um grande trabalho de comunicação da
instituição de ensino junto a todos os alunos e professores (cerca de 11.000 alunos e 600
professores) distribuídos em quatro campi e em três estados diferentes. Houve o envolvimento
da área de marketing, tecnologia da informação da instituição e da equipe de implantação da
consultoria para alinhar as mensagens das peças de comunicação com os benefícios propostos
pela adoção do aplicativo.
Os retornos obtidos pela instituição foram considerados excelentes. A equipe de
implantação recebeu dezenas de comunicados informais e formais elogiando o aplicativo e
com sugestões para a incorporação de novas funcionalidades. O canal de comunicação oficial
69
foi o sistema de chamados da instituição e, em um período de 45 dias de acompanhamento,
foram recebidos 94 chamados em relação ao aplicativo, sendo 43% de sugestões para novas
funcionalidades, 49% referente a problemas de acesso e apenas 8% afirmando ter problemas
relacionados com os dados apresentados no aplicativo ou com o seu uso. Os chamados
relacionados a problemas de acesso ocorreram por uma falha na comunicação. Para entrar no
aplicativo, os alunos deveriam usar o número de matricula e a primeira comunicação
solicitava o uso do e-mail. A equipe de projeto atuou para permitir os dois tipos de acesso e o
problema foi resolvido rapidamente. A adesão também foi considerada excelente pela
instituição, uma vez que, nesse período, houve mais de 6.000 usuários que se conectaram ao
aplicativo.
4.3.9.3 Primeiras vendas
Em paralelo ao lançamento do produto, iniciou-se também o processo de preparação de
material para suportar a comercialização do aplicativo, bem como foi providenciado o
cadastramento do novo produto e das regras de comercialização no sistema de vendas da
consultoria.
Iniciou-se o processo de prospecção no mercado de IES e, ao longo de três meses,
diversos contatos foram realizados e apresentações foram marcadas, tanto em reuniões
presenciais, como por videoconferência. O grupo de estudo observou que, em todas as
apresentações, os comentários dos interlocutores das instituições de ensino foram positivos e,
nesse período, mais duas instituições contrataram o aplicativo.
Dessa forma, ao término do período de acompanhamento desta pesquisa, o aplicativo
havia sido comercializado para três instituições de ensino e contava com uma base de
aproximadamente 16.000 alunos.
4.4 Sondagem
O objetivo geral da pesquisa foi o de se executar um processo de inovação estruturado
que contribuisse com o processo de aprendizagem da consultoria na construção de uma
abordagem de inovação pró-ativa, em um contexto de mudança tecnológica que impõe às
empresas de consultoria a necessidade de encontrar novas maneiras de criar e capturar valor.
Para levantamento dos resultados em relação a este aprendizado, foi elaborada uma
sondagem baseada nos conceitos de Tidd e Bessant (2015), que afirmam que um conjunto
70
integrado de componentes trabalham juntos para criar e fortalecer o tipo de ambiente
permitindo que a inovação prospere na organização. Os autores apresentam uma lista de
componentes-chave que são listados a seguir para a criação desse tipo de organização:
a) visão compartilhada, liderança e desejo de inovar compartilhado e articulado
entre todos;
b) estrutura que permita a criatividade, aprendizagem e interação;
c) indivíduos-chave que energizam ou facilitam a inovação;
d) trabalho em equipe eficaz, de modo a solucionar problemas, exigindo
investimento em seleção e formação de equipe;
e) desenvolvimento individual contínuo e amplo;
f) comunicação extensiva dentro, fora e entre a organização;
g) alto envolvimento na inovação com a participação de toda a organização em
atividades de melhoria contínua;
h) foco externo com extensivo trabalho em rede;
i) ambiente criativo, uma abordagem positiva para as ideias criativas, apoiadas por
sistemas de motivação relevantes;
j) organizações voltadas para aprendizagem, com altos níveis de envolvimento
dentro e fora da empresa, em uma experimentação proativa, encontrando e
resolvendo problemas, comunicando e compartilhando experiências e
capturando e disseminando conhecimento.
A sondagem ocorreu junto aos colaboradores da empresa que tivessem mais de quatro
anos de vínculo com a consultoria. O questionário apresentado na Tabela 7 foi enviado a 18
colaboradores, abrangendo os sócios, diretores, gerentes e consultores. O formulário de
sondagem foi enviado eletronicamente, utilizando-se a ferramenta de formulários do Google,
sendo que a participação era voluntária. Foram obtidos 13 respondentes de forma anônima.
71
Tabela 7 – Questionário para pesquisa de percepção.
Questões
Em
maio de
2017
Em
maio de
2019
Como você classifica a vontade de inovar da empresa?
Qual o grau de flexibilidade que você entende existir na empresa
em relação às estratégias para inovação?
Em sua visão, qual o grau de comprometimento da alta
administração da empresa em relação à promoção de inovações?
Como você classifica a estrutura da empresa em relação a promover
a criatividade, aprendizagem e interação entre os profissionais?
Como você classifica a existência de pessoas dentro da organização
com habilidades de promover iniciativas que facilitem a inovação?
Como você classifica a capacidade das equipes da empresa na
resolução de problemas?
Qual o grau de comprometimento de longo prazo da empresa com
educação e treinamento para com os colaboradores?
Como você avalia a facilidade de comunicação na empresa em
todas as direções, tanto entre pares, como com cargos superiores e
subordinados?
Como você classifica a existência de atividades de melhoria ampla
e contínua da empresa?
Como você avalia o foco no cliente nas atividades desenvolvidas
pela empresa?
Você considera que existe uma abordagem positiva com efetivo
apoio para ideias criativas na empresa?
Como você classifica o nível de envolvimento dentro e fora da
empresa quanto à experimentação, descoberta e resolução de
problemas, comunicação e compartilhamento de experiências e de
aquisição e disseminação do conhecimento.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Tidd e Bessant (2015).
Os resultados demonstraram que houve aumento na avaliação média de todos os
quesitos, comparando-se o período anterior à intervenção (2017) ao período posterior (2019),
conforme apresentado na Tabela 8.
A avaliação foi realizada atribuindo-se notas de 0 a 7 à cada item em cada ano.
Apresentam-se os valores mínimo e máximo, as médias e desvio padrão das notas, os
resultados do teste de Wilcoxon (Z) e a probabilidade de significância (p).
72
Tabela 8 – Avaliação dos participantes quanto às mudanças no ambiente sobre inovação.
* Obs: valores de p menores que 0,05 são considerados significativos. Fonte: Elaborado pelo autor.
Questões
N
2017 2019
Z P* Mín. Máx. Media
Desvio
Padrão Mín.
Máx
. Media
Desvio
Padrão
1 Como você classifica a
vontade de inovar da empresa? 13 1 5 3,2 1,2 1 7 5,2 1,6
-
3,097a
0,00
2
2 Qual o grau de flexibilidade
que você entende existir na
empresa em relação às
estratégias para inovação?
13 1 5 3,0 1,4 1 7 4,9 1,7 -
2,971a
0,00
3
3 Em sua visão, qual o grau de
comprometimento da alta
administração da empresa em
relação à promoção de
inovações?
13 0 6 3,0 1,8 1 6 4,7 1,8 -
2,848a
0,00
4
4 Como você classifica a
estrutura da empresa em relação
a promover a criatividade,
aprendizagem e interação entre
os profissionais?
13 1 4 2,6 1,2 1 5 3,6 1,3 -
2,739a
0,00
6
5 Como você classifica a
existência de pessoas dentro da
organização com habilidades de
promover iniciativas que
facilitem a inovação?
13 1 6 3,6 1,7 1 7 4,4 1,7 -
2,332a 0,02
6 Como você classifica a
capacidade das equipes da
empresa na resolução de
problemas?
13 3 7 4,6 1,3 3 7 5,2 1,3 -
2,333a 0,02
7 Qual o grau de
comprometimento de longo
prazo da empresa com educação
e treinamento para com os
colaboradores?
13 1 5 2,5 1,2 1 5 3,1 1,4 -
2,333a 0,02
8 Como você avalia a facilidade
de comunicação na empresa em
todas as direções, tanto entre
pares, como com cargos
superiores e subordinados?
13 1 7 3,9 2,0 1 7 4,5 2,2 -
2,271a
0,02
3
9 Como você classifica a
existência de atividades de
melhoria ampla e contínua da
empresa?
13 1 5 2,9 1,2 1 7 3,9 1,9 -
2,754a
0,00
6
10 Como você avalia o foco no
cliente nas atividades
desenvolvidas pela empresa?
13 2 7 4,5 1,3 3 7 4,9 1,5 -
1,732a
0,08
3
11 Você considera que existe
uma abordagem positiva com
efetivo apoio para ideias
criativas na empresa?
13 1 5 3,0 1,3 1 6 4,0 1,6 -
2,754a
0,00
6
12 Como você classifica o nível de
envolvimento dentro e fora da empresa quanto à experimentação,
descoberta e resolução de
problemas, comunicação e compartilhamento de experiências e
de aquisição e disseminação do
conhecimento.
13 0 7 3,2 1,9 1 7 3,8 1,8 -
2,111a
0,03
5
Média 13 1,7 4,8 3,3 1,0 1,7 5,9 4,3 1,3 3,180a
0,00
1
73
A melhora não foi percebida da mesma maneira entre os quesitos avaliados (Figura 18).
Os quesitos avaliados nas questões 1, 2 e 3 apresentaram os maiores aumentos de 2017 para
2019 (entre 1,6 e 2,1 pontos). Os quesitos avaliados nas questões 4, 9 e 11 apresentaram
aumento de cerca de 1 ponto cada, enquanto os demais quesitos apresentaram menores
aumentos (menos de um ponto).
Figura 18 – Diferença média entre as avaliações de cada quesito.
Fonte: Elaborado pelo autor.
4.5 Prazos
Para um melhor entendimento sobre o passo a passo da pesquisa nesta fase de
intervenção, apresentamos abaixo as fases e tempos de execução de cada uma.
Etapa Atividade Prazo
Coleta de Dados Dados primários e secundários
1 mês Analisar dados e planejar ações Comparar dados empíricos com teoria
Elaborar plano de ação
Implementar ações
Identificação de oportunidades
Geração de ideias 1 semana
Triagem e análise de ideias 1 semana
Definição do projeto 1 semana
Planejamento 1 semana
Design 3 meses
Prototipagem 1 mês
Desenvolvimento do projeto 5 meses
Lançamento 3 meses
Fonte: Elaborado pelo autor.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
Questão1
Questão2
Questão3
Questão4
Questão9
Questão11
Questão5
Questão8
Questão7
Questão12
Questão6
Questão10
74
75
5. ANÁLISE
Os capítulos anteriores descreveram o passo a passo da pesquisa, desde seu
planejamento até a intervenção, detalhando as atividades de cada fase, sua correlação com a
teoria e os resultados de cada uma. Para uma melhor reflexão sobre os resultados obtidos com
a intervenção, foi elaborado um relatório da pesquisa, sumarizando essas informações e
indexando-as com os Itens da presentes dissertação. Este relatório é apresentado na Tabela 9
e, na sequência, o processo como um todo é analisado.
Tabela 9 – Relatório sumário da pesquisa vs resultados obtidos.
Etapa Atividade Teoria Resultados
Planejar a
pesquisa-
ação
Relato da
experiência
Ribeiro (2005)
Krakauer, Marques e Almeida (2015)
1.2 Relato da experiência
profissional
Identificação do
problema Ishikawa (1993)
Mello, Turrioni, Xavier e Campos (2012)
3.4.1.1 Definição do
contexto e propósito da
pesquisa Análise e
segmentação do
problema
Selecionar a
unidade de
análise
Yin (2005)
Krakauer, Marques e Almeida (2015)
3.4.1.3 Seleção da
unidade de análise
Definir técnicas
de coleta de
dados
Mello, Turrioni, Xavier e Campos (2012)
Woodside e Wilson (2003)
3.4.1.3 Definir técnicas
para coleta de dados
Coleta de
Dados
Dados primários
e secundários Coughlan e Coughlan (2002) 4.1 Coleta de dados
Analisar
dados e
planejar
ações
Comparar dados
empíricos com
teoria
Schwab (2016)
Nobre et al., (2016)
Hess et al., (2016)
Marston et al.,
(2011)
Mell (2011)
Watson (2014)
Davenport (2013)
Makridakis (2017)
Mendonça, et al.,
(2018)
Lu & Singh (2018)
Billet & Issarnv
(2014)
Borgia (2014)
Gartner (2015)
Schumpeter (1961)
Manual de Oslo
(OECD, 2005)
Davenport (1993)
Tidd e Bessant
(2015)
Silva, Bagno e
Salerno (2014)
Clark e
Wheelwright
(1992)
Cooper (1993)
Oshiro (2008)
Jansen et al., (2009)
Hauser (2015)
Cecere et al.,
(2016)
2. Referencial Teórico
2.1 Transformação digital
2.2 Inovação
2.3 Consultorias
integradoras de sistemas
Elaborar plano
de ação
76
Etapa Atividade Teoria Resultados
Implemen-
tar ações
Identificação de
oportunidades Tidd e Bessant (2015)
4.3.1 Identificação de
oportunidades
Geração de
ideias Tidd e Bessant (2015) 4.3.2 Geração de ideias
Triagem e
análise de ideias
Tidd e Bessant (2015)
Ansoff e McDonnell (1984)
4.3.3 Triagem e análise
das ideias
Definição do
projeto Tidd e Bessant (2015)
4.3.4 Definição do
projeto
Planejamento
Tidd e Bessant (2015)
Osterwalder e Pigneur (2010)
Koller, Goedhardt e Wessels (2005)
4.3.5 Planejamento
Design Tidd e Bessant (2015)
Vianna et al., (2014) 4.3.6 Design
Prototipagem Tidd e Bessant (2015)
Vianna et al., (2014) 4.3.7 Prototipagem
Desenvolvimen-
to do projeto Tidd e Bessant (2015)
4.3.8 Desenvolvimento
do projeto
Lançamento
Tidd e Bessant (2015)
Silva, Bagno e Salerno (2014)
4.1.9.2 Lançamento da
primeira versão
4.1.9.3 Primeiras vendas
Fonte: Elaborado pelo autor.
Para se avaliar o resultado como um todo, e na perspectiva temporal desta pesquisa,
optou-se pela análise tanto das consequências das ações da intervenção, como dos resultados
sob a ótica geral do estudo.
5.1 Análise da intervenção
Como apresentado no Capítulo 2, existe um vasto número de referências sobre o tema
inovação, sendo que há convergência para o entendimento de que a inovação não é um
simples evento, mas um processo que abrange uma complexa gama de atividades que devem
acontecer de forma coordenada e integrada. Observou-se, nesta pesquisa, que a busca de uma
abordagem estratégica para a inovação e a utilização de técnicas para sua implantação foi
77
fundamental para que ocorresse o efetivo desenvolvimento e lançamento de um novo produto
no mercado.
As fases iniciais do processo, compostas pelas etapas de identificação de oportunidades,
geração de ideias, triagem, análise e definição do projeto, demandaram um intenso trabalho de
levantamento de informações, análises de tendências e entrevistas com especialistas para o
aprofundamento do conhecimento em processos de negócios do setor analisado. Mesmo
baseando-se em um vasto referencial teórico que indicava os objetivos de cada etapa no
processo, ao se aplicar os conceitos ao caso prático, observou-se uma grande dificuldade do
grupo de estudo em estruturar com precisão os trabalhos de identificação de oportunidades e
geração de ideias. O método de pesquisa foi baseado em Tidd e Bessant (2015) que indicam
que o uso do conhecimento dos clientes é intenso e fundamental para a descoberta de novos
caminhos. Contudo, ficou evidente que o “como” buscar esse conhecimento dos clientes e
estruturá-lo para ser usado no processo dependeu do conhecimentos, da competência e da
motivação da equipe envolvida que, de forma colaborativa, permitiu o levantamento eficaz de
informações e o mapeamento estruturado da jornada do aluno (Figura 11), o que proporcionou
de fato a identificação de oportunidades.
Já as etapas de análise e definição do projeto foram conduzidas de forma mais
pragmática, uma vez que inúmeras são as técnicas e ferramentas disponíveis para análises de
estratégias que permitem a comparação de vantagens e desvantagens de cada uma, bem como
sua aderência à estratégia geral da empresa. O uso da análise de forças apresentada no Item
4.3.3 desta pesquisa demonstrou sua eficiência, ao prover informações suficientes para a
tomada de decisão. Apesar da objetividade aplicada, destaca-se também a competência do
grupo de estudo na coleta de dados e na estruturação das informações sobre o mercado, para
definir as informações sobre as ameaças externas apresentadas na análise SWOT elaborada
para cada ideia.
Em relação à etapa de planejamento, observou-se que duas iniciativas foram
fundamentais. A primeira foi a clara definição do projeto, evidenciada pelo modelo de
negócio Canvas elaborado (Figura 15), que permitiu a equalização da percepção do que estava
sendo proposto entre todos os envolvidos. A segunda foi o correto mapeamento das
competências internas na empresa que apontaram a necessidade de se buscar recursos
externos com conhecimento em user experience (experiência do usuário), competência
fundamental para uma inovação em aplicativos mobile. Outra atividade importante dessa
etapa foi a elaboração da perspectiva financeira, estimando-se todos os custos e receitas, de
78
forma a proporcionar aos sócios da consultoria a visão de retorno sobre o investimento do
projeto.
As etapas de design e prototipagem foram conduzidas pelos profissionais externos
contratados, conforme detalhamento apresentado na intervenção, porém houve um
acompanhamento total das atividades, visando a aquisição dessas competências pela equipe
interna. Foi observado um grande impacto no grupo de estudo sob a diversidade de
conhecimentos necessários para inovação, ao se vivenciar a aplicação da metodologia de
design thinking por meio do acompanhamento das entrevistas junto aos alunos e professores e
também dos trabalhos de síntese e ideação. Observou-se um amadurecimento dos
profissionais internos que colaboraram com os consultores contratados em relação a um
entendimento mais profundo do processo de desenvolvimento de tecnologia e de abordagens
que promovem soluções inovadoras.
A etapa de desenvolvimento foi totalmente executada pela equipe interna. Entretanto,
observou-se uma organização diferente da tradicional com essa iniciativa, provavelmente
influenciada pelas ações anteriores que foram amplamente apresentadas e debatidas com a
equipe técnica que participou do desenvolvimento. Houve o interesse da equipe da fábrica de
software em se adotar métodos ágeis de desenvolvimento e uma nova ferramenta colaborativa
para controle e gestão do processo.
Em relação à última etapa, a de lançamento do produto, houve a oportunidade de se
acompanhar desde a implantação inicial de uma versão beta até a efetiva comercialização.
Dessa forma, é importante uma avaliação de cada momento. Quanto ao lançamento inicial,
observou-se que a estratégia de se fechar uma parceria com um cliente para ser earlier
adopter mostrou-se bastante eficiente sob a ótica de ajustes e aprimoramento do produto. Sem
essa oportunidade, a incidência de erros e/ou mal posicionamento de algumas funcionalidades
do aplicativo teriam certamente ocorrido. Mesmo com todos os esforços empenhados nos
testes, tanto no protótipo, como na fase de testes unitários e integrados do processo de
desenvolvimento, existiram situações não previstas em relação a dados e também em relação
ao uso, que só puderam ser identificadas com um maior volume de informações e usuários.
Quanto às primeiras comercializações, foi evidenciada uma grande aderência do novo produto
às necessidades dos clientes. Comparando-se com o processo comercial de outras soluções, o
índice de sucesso na marcação de apresentações em relação ao número de contatos efetuados
foi muito superior. Em média, a cada 30 contatos efetivos com instituições de ensino, apenas
2 evoluem para uma apresentação. Durante um mês de prospecção, foram feitos 18 contatos e,
79
desses, oito evoluíram para apresentação e dois fecharam negócio em um prazo de 45 a 90
dias após a apresentação.
5.2 Análise da sondagem
A análise das respostas às questões feitas aos participantes mostrou que houve
aumento na avaliação média de todos os quesitos, apesar da evidenciação de níveis distintos
entre eles. Os quesitos avaliados nas questões 1, 2 e 3 apresentaram os maiores aumentos
(entre 1,6 e 2,1 pontos). Os quesitos avaliados nas questões 4, 9 e 11 apresentaram aumento
de cerca de 1 ponto cada, enquanto os demais quesitos apresentaram menores aumentos
(menos de um ponto).
Os quesitos que apresentaram maior significância são os relacionados à visão
compartilhada, liderança e desejo de inovar compartilhado e articulado entre todos. Pode-se,
então, sugerir que houve uma melhora significativa quanto à percepção de que a consultoria
possui uma visão de empresa com desejo de inovar.
Os quesitos relacionados à estrutura e aos processos definidos que permitem o
envolvimento na inovação com a participação disseminada pela organização também
apresentaram aumento, porém não tão significante quanto os que representam a visão da
empresa e desejo de inovação. Assim, uma afirmativa que pode ser abstraída deste resultado é
a de que, apesar da melhora na visão de empresa com desejo de inovar, o ambiente
organizacional ainda não possui uma estrutura que viabilize o processo de inovação bem
definida, mas que está progredindo nesse sentido.
Já os quesitos que apresentaram menor significância foram os relacionados às pessoas
chaves, comunicação e desenvolvimento contínuo dos colaboradores. Dessa forma, pode-se
supor, tendo-se em vista as respostas obtidas, que a percepção sobre o envolvimento da
empresa em relação a uma abordagem voltada para aprendizagem e compartilhamento de
experiências que permitam capturar e disseminar o conhecimento é um dos aspectos que
favorecem uma visão inovadora menos explorados pela organização.
80
81
6. CONCLUSÃO
O objetivo geral da pesquisa foi o de se executar, por meio de uma pesquisa-ação, um
processo de inovação estruturado que contribuisse com o processo de aprendizagem da
consultoria na construção de uma abordagem de inovação pró-ativa. Foram aplicados os
conceitos de processo de inovação para identificar oportunidades de negócio, gerar ideias,
selecionar um projeto, desenvolver um novo produto (baseado em soluções disponibilizadas
pela plataforma de computação em nuvem) e lançá-lo efetivamente no mercado.
Para a execução do processo que promovesse uma inovação, foram necessárias muitas
etapas, sendo fundamental o engajamento da alta administração da organização. Os
administradores devem perceber que a habilidade de inovar da organização está diretamente
ligada à sua sobrevivência e evolução.
A partir desse engajamento, outro fator determinante para os resultados obtidos foi a
cultura de confiança estabelecida, sem a qual não seria possível propor novas ideias, utilizar
recursos e assumir riscos. Entender que eventuais falhas devem ser compreendidas como
oportunidades de aprendizagem é um dos pilares que auxiliam a construir uma cultura de
inovação.
A estratégia da pesquisa de se criar um novo produto com base nos conceitos de
processo de inovação (e existindo o engajamento da alta administração) foi um caminho
eficiente para favorecer a disseminação de comportamentos condizentes com a visão de se
tornar uma empresa inovadora. Discutir essas visões com as lideranças, influenciadores e
demais colaboradores da organização, tanto em reuniões formais como informais, enfatizar a
necessidade de se empenhar esforços na análise de problemas, na identificação de
oportunidades e na geração de ideias contribuíram com o início da construção de uma
mentalidade inovadora.
Assim, como consideração final do estudo, pode-se afirmar que, apesar de não existir
um caminho único para se estimular a inovação, a estratégia adotada neste estudo
demonstrou-se efetiva para se atingir os objetivos da pesquisa ao se efetivar o lançamento de
um novo produto no mercado e encorajar comportamentos que fortaleceram o
compartilhamento de uma visão inovadora para a empresa estudada.
Faz-se necessário apontar as limitações dessa pesquisa, como o fato de a sondagem ter
sido realizada apenas ao final do estudo, solicitando aos respondentes que emitissem suas
avaliações não só da situação atual como também da situação de dois anos passados. Além
82
disso, houve uma reestruturação da marca da empresa nesse período. Fatores assim podem
refletir alguns viesses não claramente demonstrados nas interpretações dos resultados.
Como contribuição prática, o principal resultado do estudo foi o efetivo lançamento no
mercado de um produto inovador da empresa estudada, corroborando com os objetivos do
mestrado profissional, a saber, formar pesquisadores que, no campo profissional, externo à
academia, tenham a habilidade de reconhecer, identificar e utilizar a pesquisa para agregar
valor a suas atividades profissionais.
Como contribuição para a academia, considera-se que, independentemente do porte ou
do ramo de uma organização, seja pelo surgimento de concorrentes que passem a disputar os
mesmos clientes ou por novas tecnologias que tragam impactos no formato tradicional de
receita, a habilidade de inovação de uma organização é fundamental para a sobrevivência e
evolução das empresas, e estudos como este contribuem para a consolidação de pesquisas
aplicadas em administração e empreendedorismo.
Para pesquisas futuras, sugere-se o aprofundamento do objeto de estudo,
principalmente na exploração da questão da cultura de inovação que é fortemente refletida no
conjunto integrado de componentes que trabalham juntos para criar e fortalecer o tipo de
ambiente inovador de acordo com os autores utilizados na sondagem efetuada neste estudo,
além disso sugere-se poder agregar um saber tácito de fora da organização estudada, por
meio da exploração de técnicas como o método Delphi ou entrevistas semi-estruturadas, o que
possibilitaria uma análise de resultados da intervenção, além da comparação com a literatura e
da avaliação interna.
83
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