View
212
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
0
UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO
LIBERTAS CONSULTORIA E TREINAMENTO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE EQUIPES
BIOENERGÉTICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
Débora Restiffe Eitler
RECIFE
2007
1
BIOENERGÉTICA, SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA
2
Monografia apresentada com requisito para a
obtenção do título de especialista, sob a
orientação da professora Grace Wanderley
de Barros Correia.
3
Orientadora Grace Wanderley de Barros Correia
4
RESUMO
Este trabalho foi realizado com o objetivo de testar a possibilidade de juntar os
conceitos teóricos e práticos da análise bioenergética, aliado à dinâmica de grupo,
atuando em busca de uma melhoria da saúde e da qualidade de vida do ser humano,
integrando corpo e mente. O trabalho em campo foi aplicado em um grupo de idosos,
em sua maioria hipertensos e diabéticos, moradores de uma comunidade carente de
Alcaçuz, Município de Nísia Floresta, estado do Rio Grande do Norte. A vivência
proporcionada resultou em certa evolução na percepção corporal e psíquica dos
participantes, mostrando que o caminho integrado da bioenergética e da prática desta
através dos recursos da dinâmica de grupo pode ser um caminho de autodescoberta e
de integração corpo/mente.
Palavras-Chaves: Análise Bioenergética. Saúde e Qualidade de Vida.
5
ABSTRACT
This essay was made to test the possibility of joining the theoretical and practical
concepts of the Bioenergetics, allied to the group dynamics, acting in search of an
improvement of the health and the quality of people’s life, integrating body and mind.
The research was applied in a group of elders in its majority presenting symptoms of
hypertension and diabetic, living of a careless community of Alcaçuz, City of Nísia
Floresta, state of the Rio Grande do Norte. The experience resulted in a improvement in
the corporal and psychic perception of the participants, showing that the integrated way
of the Bioenergetics and the group dynamic can be a way of self-discovery and
integration of mind and body.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS....................................................................................9
1.1 Sobre as psicoterapias: da fala à terapia corporal......................................................9
1.2 Sobre a Análise Bioenergética..................................................................................12
1.3 Sobre a aplicação da Análise Bioenergética ao trabalho com grupos......................13
2.
METODOLOGIA..............................................................................................................15
3. RELATO DOS ENCONTROS COM O GRUPO..........................................................16
CONCLUSÃO..................................................................................................................25
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA....................................................................................28
ANEXOS.........................................................................................................................29
7
INTRODUÇÃO
Esta monografia é o trabalho final do curso de Pós Graduação em Gestão de
Pessoas, realizado com um enfoque da disciplina de “Treinamento em facilitação de
grupos”.
O tema abordado, qual seja, a Análise Bioenergética, saúde e qualidade de vida,
surgiu da constatação da importância do trabalho corporal na saúde das pessoas e na
sua conseqüente qualidade de vida. O estágio, como programado, incluía oito horas de
trabalho em campo, mas, ao constatar-se os benefícios imediatamente sentidos na
relação com o público alvo, estendeu-se os encontros, chegando-se na prática a cerca
de 40 horas de observação. Mesmo assim, como se poderá verificar adiante, a forma
de realmente chegar-se a conclusões definitivas sobre a atuação do trabalho, como
proposto, sobre a saúde da população em foco, demandaria um tempo muito mais
largo, para que se pudesse ter uma amostragem significativa dos efeitos a médio e
longo prazos.
De qualquer forma, o que se depreendeu, do percorrer a bibliografia, do contato
com outros trabalhos corporais, e da própria experiência vivida durante os trabalhos de
campo, foi a importância do tema abordado, pois não se vislumbra um crescimento da
humanidade sem que esta se aperceba de que são seres que integram as dimensões
corpórea e mental, sem que rompam definitivamente o paradigma atual e se tornem
realmente holísticos, na verdadeira acepção da palavra, íntegros e saudáveis, e sem
dúvida nenhuma a Análise Bioenergética é um dos caminhos possíveis.
O objetivo deste trabalho foi o de testar, em campo, os conceitos teóricos
decorrentes da bioenergética aliados aos oferecidos pelas dinâmicas de grupos, no
sentido de verificar a possibilidade de atingir uma melhoria da saúde do grupo alvo da
pesquisa.
Para tanto, escolheu-se a comunidade de Alcaçuz, e um grupo pertencente à
terceira idade, com problemas de saúde, buscando através de práticas dentro dos
8
conceitos da bioenergética integradas com atividades lúdicas fazer com que os mesmos
tivessem uma experiência de auto descoberta corporal, que os levasse à integração
corpo/mente e a uma conseqüente melhoria de suas condições de saúde.
9
1. CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS 1.1 Sobre as psicoterapias: da fala à terapia corporal
A história das psicoterapias tem início na prática psicanalítica tal qual
foi postulada por Sigmund Freud. A partir de seu trabalho com pacientes histéricas,
Freud substituiu a hipnose, o ponto de partida para o entendimento do inconsciente,
através da associação livre como forma de entrar em contato com o inconsciente e seus
mecanismos, e, posteriormente enriqueceu essa técnica com a interpretação dos
sonhos. Outros pilares da Psicanálise podem ser: a transferência, onde o paciente
atualiza e reconhece seus afetos vivenciando-os na relação com o analista; e a
resistência, processo no qual o analisando reage às possibilidades de acesso ao
inconsciente a fim de que seus conteúdos não sejam trazidos à luz (ou seja, à
consciência). A Psicanálise, também chamada de cura pela fala (talking cure), seria
uma técnica passiva, onde o analista deveria manter-se o mais distante possível de
intervenções diretas, não utilizando o corpo do paciente como foco de atuação.
Freud traz ainda a atenção para a sexualidade. Introduz o conceito de libido que
pode ser definido como a energia da pulsão de vida. Para ele, o sintoma neurótico seria
a manifestação de um impulso reprimido que surgiu, disfarçado, através da repressão.
A "cura" seria atingida ao tornar o impulso reprimido consciente e, assim, acessível à
condenação do ego maduro.
Apesar de colocar a questão da sexualidade como um dos pontos centrais de
sua teoria, Freud manteve sua escuta voltada para o discurso do paciente, regido pela
técnica da associação livre e absteve-se de qualquer aproximação mais direta, como
pode ocorrer em uma abordagem corporal.
10
.Ferenczi, um discípulo de Freud, ao perceber as limitações dos procedimentos
analíticos comuns, propõe uma “técnica ativa”, onde tarefas são dadas ao paciente,
além da regra fundamental da psicanálise de dizer tudo que lhe viesse à mente. Passou
a dar atenção à atividade muscular e à expressão corporal. Chegou a afirmar ser útil
sugerir exercícios de relaxamento para trabalhar com a resistência. Pela primeira vez o
corpo passa a ser trabalhado na prática psicanalítica.
Um avanço considerável neste sentido foi alcançado através do trabalho de
Wilhelm Reich, que partindo da teoria psicanalítica, considerou o ser humano como um
organismo, cuja estrutura corporal e organização neurofisiológica evoluíram numa
adaptação prática ao ambiente terrestre, através de milênios de história orgânica. Para
ele, a fonte da energia do ser humano provinha de sua organização primordial,
somática, ou seja, dos processos primários inconscientes. Chega a afirmar: “...’ o
inconsciente’ de Freud está presente e é concretamente perceptível sob a forma de
sensações e impulsos do meio vegetativo”. (1942). A razão de qualquer distúrbio,
neurose ou psicose, seria algum bloqueio ou desvio desses padrões primários de
energia de seus canais normais de expressão.
Reich “corporificou” o mecanismo de repressão postulado por Freud, dando-lhe o
nome de couraça muscular: os seres humanos reprimem a consciência e a expressão
de conteúdos inconscientes mediante uma contração muscular e quando estas
contrações se prolongam por um período considerável da vida, tornam-se habituais e
passam gradualmente para o controle do sistema nervoso autônomo. A partir daí
tornam-se espasmódicas, isto é, permanecem em um estado constante, sendo que a
própria pessoa não teria consciência dessa condição.
Tais descobertas tiveram desdobramentos importantes em sua prática clínica.
Reich pôde assim prescindir do divã, uma vez que chegara à conclusão de que olhar
para seu paciente era mais importante do que ouvi-lo. Olhar para um paciente é
observar o seu corpo em ação expressiva - desta forma, a terapia reichiana revelou-se
radicalmente somática.
11
O processo terapêutico buscava primeiramente conseguir que o paciente
respirasse mais fácil e profundamente. Em seguida, mobilizar qualquer expressão
emocional que se mostrasse mais evidente na face ou no comportamento. Seriam mais
interpretações de forma do que de conteúdo.
O objetivo do tratamento seria desenvolver no paciente a capacidade de se
entregar totalmente aos movimentos espontâneos e involuntários do corpo no processo
respiratório. Com a respiração plena e profunda produzir-se-ia um movimento de
ondulação do corpo, ao que Reich chamou de reflexo do orgasmo. Para ele a saúde
emocional estaria intimamente ligada à potência orgástica, ou seja, “a capacidade de
abandonar-se, livre de quaisquer inibições, ao fluxo de energia biológica: a capacidade
de descarregar completamente a excitação sexual reprimida, por meio de involuntárias
e agradáveis convulsões do corpo”. (1942).
Em sua prática, Reich descobriu que não existiria nenhum indivíduo neurótico
que possuísse esta capacidade e que, aqueles que a desenvolveram através do
tratamento, libertaram-se de qualquer atitude ou sintoma neurótico, mantendo-se livres
deles continuamente. O orgasmo pleno, segundo ele, descarrega todo o excesso de
energia do organismo, não restando, portanto, nenhuma energia para manter um
sintoma ou comportamento neurótico. O ponto de partida de Freud, ou seja, a
sexualidade foi levada às suas últimas conseqüências. Todo o trabalho reichiano visa
restabelecer energeticamente a capacidade para a satisfação genital plena.
Poder-se-ia dizer que Wilhelm Reich foi um dos psicanalistas cuja prática visava
a saúde, não se detendo nos sintomas, nem mesmo nas doenças propriamente ditas; e
esta saúde estaria intimamente ligada ao fato de se estar plenamente vivo em todas as
situações da vida.
12
1.2 Sobre a Análise Bioenergética
Alexander Lowen, partindo dos conceitos reichianos e de sua experiência como
paciente deste, criou a Análise Bioenergética, técnica terapêutica que busca auxiliar o
paciente a reencontrar-se com o seu corpo, e a poder usufruir o mais possível de toda a
vitalidade que há nele. Para Lowen, “a vida de um indivíduo é a vida de seu corpo”
(Lowen, 1975). Não acredita, portanto, em mudança psíquica sem uma transformação
na dimensão física, no corpo propriamente dito.
A proposta da Análise Bioenergética poderia ser vista como um estudo da
personalidade humana em termos dos processos energéticos do corpo. A ênfase do
trabalho de Reich era dada à sexualidade, como função básica, Lowen passou a incluir
funções como respiração, movimento, sentimento e auto-expressão visando retomar a
fluidez natural da vida. A meta terapêutica é a mobilidade do organismo, liberar não só
o movimento, mas a correlação entre este e a expressão da emoção.
Para tanto desenvolveu conceitos como o de grounding, que significa: solo, chão,
com os pés no chão, fazer com que o paciente tenha contato com a realidade, entre em
contato com o chão onde pisa. Refere-se a uma postura reta, com os joelhos
flexionados, que leva o indivíduo a entrar em contato com a sua realidade através do
“enraizamento”. É uma postura que deixa a pessoa firme, com a planta do pé fixada no
chão, sendo capaz de se manter de pé, em equilíbrio. Para Lowen os pés são decisivos
na relação da saúde com o corpo, pois na planta dos pés tem-se os meridianos que
correspondem aos diversos órgãos do corpo. Estar em grounding é estar bem centrado,
conectado com a natureza, com a sexualidade, e com o universo. O grounding favorece
a vibração e a circulação da energia vital na direção da posse e apropriação de si
mesmo como agente principal do viver pleno e sadio.
Segundo Lowen, quanto melhor for a respiração, mais viva a pessoa irá se sentir,
pois terá mais oxigênio no sangue, promovendo uma melhor circulação. É fundamental
o contato com o processo respiratório para que ocorra a redistribuição da circulação da
13
energia. A respiração é um elemento essencial para centrar, acalmar e aumentar a
atenção e a concentração.
Desta forma, a Análise Bioenergética propõe exercícios para reconquistar a
respiração plena e profunda, como a respiração dos animais e dos bebês, tornando o
corpo mais saudável. O processo respiratório deve ser amplo, pleno, toráxico,
abdominal e harmonioso, para que promova a circulação sanguínea e o
desenvolvimento dos órgãos.
Além dos exercícios, a Análise Bioenergética dá ênfase a um trabalho verbal da
história de vida presente e passada e do futuro do paciente, através da utilização de
consígnias, ou seja, sentenças que dirigem os exercícios, com o objetivo de tornar mais
consciente o movimento do indivíduo, reorganizando o foco do seu pensamento, para
que aspectos profundos de sua queixa, ligados á sua infância, incrustados no
inconsciente, venham à tona de uma forma mais eficaz, para que sejam reorganizados
no presente.
Para que estas palavras tenham valor, o paciente deve estar em contato com os
seus sentimentos. As consígnias ajudam o indivíduo a exercitar suas potencialidades
de auto-expressão, reconhecendo suas emoções, encorajando a comunicação de suas
opiniões e sentimentos de uma forma mais consciente e espontânea.
1.3 Sobre a aplicação da Análise Bioenergética ao trabalho com grupos
O trabalho de bioenergética com grupos surge da experiência de Grace
Wanderley e Jayme Panerai, ao agregarem a teoria clínica da análise às experiências
em grupos e organizações. Através disto começaram a perceber que esta prática
facilitava a comunicação e o desenvolvimento da confiança nas equipes, através de
exercícios que facilitavam desbloqueios corporais, transformando ambientes
competitivos em cooperativos.
14
Segundo Grace Wanderley, em seu livro “O Corpo nos Grupos”, os exercícios
criados por Lowen possuem uma sadia possibilidade de permitir uma interação imediata
e corporal entre integrantes de um grupo, já que se trabalham: os olhos como área de
comunicação e localização; os ouvidos, como área de audição de si e do outro e o
toque (a pele), representando o cuidado e atenção com o outro.
A Análise Bioenergética, nos grupos, leva as pessoas da interiorização à auto-
expressão, do mental ao corporal, do aprisionamento à liberdade, do individual ao
coletivo. O cruzamento da dinâmica de grupo com a abordagem bioenergética parte de
um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos que são capazes de transformar
dores, mágoas e conflitos em energia para um viver criativo e solidário.
Nos trabalhos em grupo é de extrema importância que o facilitador esteja
sensibilizado e em harmonia com o seu organismo, para que possa estar ligado aos
sentimentos do grupo e para que possa fazer a leitura do mesmo. Desta forma o
facilitador poderá atuar de acordo com o emergente, ou seja, poderá propor atividades
que tenham relação com o processo de desenvolvimento do grupo naquele momento.
15
2. METODOLOGIA
Pesquisa de Campo:
Foram realizados encontros quinzenais, com duração de três horas cada, onde
técnicas de dinâmica de grupo e de exercícios de bioenergética foram propostos e
vivenciados pelo grupo.
Sujeito:
Participaram da pesquisa moradores da comunidade carente de Alcaçuz, em sua
maioria: idosos, hipertensos e diabéticos.
Material:
Os encontros foram realizados numa sala da Associação das Mulheres
Rendeiras. Foram utilizados diversos aparelhos, tais como: som, dvd, T.V. Também
foi disponibilizado material gráfico e expressivo: massa para modelar, lápis, papel e
argila.
Procedimento:
Foi realizada uma conversa inicial com a Médica do PSF para levantamento das
possibilidades do trabalho a ser efetuado. Paralelamente foi sendo feita uma
seleção bibliográfica. A proposta de trabalho era de que os encontros com o grupo
fossem quinzenais. Houve cinco encontros. Ao final de cada encontro a
coordenadora escrevia um resumo do que foi feito, bem como suas impressões.
16
3. RELATO DOS ENCONTROS COM O GRUPO
1º. Encontro
O trabalho com o grupo, propriamente dito, teve início no dia 04/09/06. Os
componentes haviam sido indicados anteriormente pela equipe médica. Num primeiro
momento, não havia chegado ninguém. A médica pediu aos Agentes de Saúde para
que fossem de casa em casa buscar as pessoas indicadas. Desta forma, após certo
tempo, o trabalho teve início. O grupo se constituiu de 20 pessoas, incluindo a Médica,
a enfermeira e dois Agentes de Saúde.
Foram apresentados aos participantes os objetivos do trabalho, o tempo de
duração e quais seriam os procedimentos, bem como feito um contrato quanto ao sigilo
do que ali fosse trazido.
A seguir, foi pedido às pessoas que se apresentassem através da origem de
seus nomes. Percebeu-se que cada um começou gradualmente a falar de si, sendo um
princípio de integração e descontração para o grupo.
As coordenadoras propuseram, em seguida, que todos fechassem seus olhos e
voltassem sua atenção para a respiração. Um primeiro contato com seus corpos,
tentando através deste silêncio voltado para orespirar, perceber seus sons internos,bem
como os sons externos. Ao mesmo tempo, foi-lhes pedido que refletissem sobre o
porquê de estarem ali.
Cada participante relatou o que sentiu trazendo alguns sentimentos como
alegria, felicidade, etc.
17
Na continuação, as coordenadoras falaram brevemente sobre alguns conceitos,
tais como: auto-conhecimento, escuta profunda de si e do outro, comunicação inter-
pessoal, bem como mostraram a importância da atenção e cuidado com a respiração.
Para terminar foi proposto um exercício de caminharem descalços pela sala,
experimentando diferentes formas de fazê-lo como: a passos curtos, a passos largos,
como um "robô", como uma "geléia” etc, percebendo as variações nas sensações.
Finalmente foi formado um grande círculo e fechado o primeiro encontro.
18
2º Encontro
O segundo encontro aconteceu no dia 18/09/12. Após vinte minutos do horário
marcado, as pessoas começaram a aparecer e o trabalho foi iniciado com oito
participantes, um Agente de Saúde, a Enfermeira e a Auxiliar de Enfermagem.
Os participantes foram convidados a falar um pouco de seus sentimentos e de
seu estado de saúde. As queixas que mais apareceram foram: dor nas pernas,
canseira, diabete, pressão alta, entre outras.
Depois foram propostos exercícios de caminhar, de respiração e de grounding.
Foi percebida uma evolução grande nos participantes: estes já conseguiram fazer o
grounding e respirar profundamente.
Logo depois foi feita junto ao grupo uma breve leitura sobre a respiração e sobre
o grounding utilizando o livro de Exercício de bioenergética para a saúde, de autoria
do Professor Jayme Panerai Alvespara que os participantes pudessem entender melhor
a importância dos exercícios.
Foi ensinado ao grupo o exercício dos pés, pedindo para que eles fizessem
diariamente em casa.
Na segunda etapa do encontro, foi trabalhado um exercício de praticar o ouvir
com o coração, o auto-conhecimento e o conhecimento do outro, através da dinâmica
das frutas, onde cada participante se apresenta dizendo qual fruta se identifica e por
que ( foi lançada a seguinte pergunta: “se você fosse uma fruta, qual fruta você seria e
porque?).
Na finalização do encontro, foi feito um círculo, de mãos dadas e cada
participante pode desejar uma boa tarde para uma pessoa especial, de sua escolha.
19
Apesar das limitações do grupo, o pessoal teve um bom entendimento e
colocaram-se dispostos a dar continuidade no trabalho. Desta forma, o próximo
encontro ficou marcado para o dia 04/10/06.
20
3º Encontro
Devido a algumas resistências aparecidas no grupo, colocadas pela
Médica através de informações de um dos Agentes de Saúde, o terceiro encontro foi
iniciado com uma nova construção dos três pilares básicos da formação de um grupo: a
apresentação, o objetivo e o contrato.
Compareceram neste dia nove participantes, sendo que eram os mesmos
participantes dos dois encontros anteriores, com exceção de um, que estava presente
pela primeira vez.
As apresentações foram feitas através de uma lembrança boa da infância.
Alguns trouxeram coisas boas como: a primeira namorada, a pescaria, a primeira
boneca, etc. Outros trouxeram lembranças ruins, disseram que não tinham lembranças
boas, pois eram muito sofridos e passavam fome. Mas no fim foi conseguido fazer com
que todos lembrassem de algo bom, percebendo-se que as coisas boas estão na
simplicidade. A atividade foi satisfatória, onde alguns se emocionaram, outros riram e
todos puderam expressar um pouco de seus sentimentos e recordações.
Logo depois, partiu-se para o levantamento das expectativas do grupo. Foi
sondado de cada um o que eles estavam esperando com o trabalho ali realizado, o que
eles haviam imaginado quando souberam que iam fazer parte do grupo, etc. Alguns não
conseguiram se expressar, alguns disseram estarem satisfeitos e felizes, outros
colocaram a vontade de conversarem e de desabafarem sobre as suas preocupações e
outros disseram ter vontade de saber mais informações sobre doenças e de como
conquistar uma melhor saúde.
Desta forma percebeu-se que o trabalho estava indo pelo caminho certo, uma
vez que os primeiros encontros haviam sido sempre compostos de uma primeira parte
de conversa e de uma segunda parte de exercícios para a promoção da saúde. Mas,
que talvez pudesse trabalhar mais em cima de algumas informações sobre doenças e
21
como preveni-las através de outras formas além da bioenergética e, também, incluir
mais atividades de conversas e de troca de sentimentos, promovendo assim um certo
alívio das tensões e preocupações de cada um.
Foi esclarecido novamente ao grupo os objetivos do trabalho.
Em seguida, foi trabalhado o contrato, onde todos concordaram e se
comprometeram a comparecer nos próximos encontros.
Foi feito um acordo de que para o próximo encontro cada um levaria uma pessoa
para participar do grupo.
Depois disso, foi iniciada uma caminhada para aquecer (andar em passos curtos,
passos longos, na ponta do pé, etc.). Logos após, abriu-se um círculo e foram
introduzidos novamente o grounding e a respiração. Os participantes foram convidados
a trabalhar todos os anéis e partes do corpo (pés, pernas, pélvis, diafragma, pescoço,
boca, nariz e olhos).
Depois o encontro foi fechado com uma salada de frutas, que representava ali a
personalidade de cada um (dando continuidade à dinâmica das frutas realizada
anteriormente), todas juntas formando um grande grupo.
Neste encontro foi definido o nome do grupo: GRUPO ALEGRIA. A Médica se
comprometeu de fazer um cartaz para colocar no posto de saúde, com as datas dos
próximos encontros.
22
4º Encontro
Neste dia compareceram os mesmos participantes de sempre, mais duas
pessoas que estavam indo pela primeira vez.
Foi realizado um exercício de apresentação, onde cada participante escolheu
uma parte do corpo que mais gosta para se apresentar e justificar por que escolheu.
Logo em seguida foram lançadas as seguintes perguntas para reflexão:
-O que mais prejudica sua saúde hoje e o que você pode fazer para melhorá-la? -Você acredita que fazer exercícios faz bem à saúde?
-Você acha que a sua saúde tem relação com os seus pensamentos e sentimentos?
Os participantes tiveram um tempo para reflexão e logo após explanaram as
suas opiniões.
Constatou-se que as pessoas ali presentes estavam descrentes de que poderiam
melhorar de saúde, acreditando apenas na ajuda dos remédios. Apenas dois
participantes colocaram que estavam se sentindo melhor depois que iniciaram alguns
exercícios de respiração e de grounding em casa. O Agente de Saúde fez o seu
depoimento, fazendo uma relação entre a mente e o corpo, contribuindo para o
processo de conscientização do grupo. Uma das participantes colocou que é muito
stressada e nervosa, acreditando que isso pode estar prejudicando a sua saúde.
Depois deste exercício, foi assistido o filme de Bioenergética do Libertas, onde o
Professor Jaime pontua os conceitos principais da abordagem e explica
detalhadamente como devem ser feitos os exercícios dos anéis e a respiração
completa. Finalizou-se assim o encontro.
23
5º Encontro
A tarde foi iniciada com uma atividade utilizando-se massas de modelagem. Foi
pedido para que cada participante fizesse um símbolo, com as massinhas, que
representasse o que eles estavam sentindo. O objetivo deste exercício foi promover um
momento lúdico e de descontração ao grupo, além do entrar em contato com os
sentimentos.
O objetivo da atividade foi alcançado com sucesso, uma vez que o grupo se
divertiu, puderam rir e brincar uns com os outros e com as massinhas.
Em seguida passou-se para os exercícios de Bioenergética:
Aquecimento: Andando pela sala em vários sentidos, iniciando o aquecimento pelos
pés, ponta de pé, calcanhar, lateral e dorso dos pés. Logo após foram passados
comandos imaginários, tipo: andando pelo centro da cidade e um cachorro corre atrás;
depois se diminui o ritmo chutando as pernas; voltando para casa e, na rua, quando
passam pelas pessoas deixa-se tocar sutilmente, ombro a ombro; logo em seguida
alongam-se os braços, espreguiçando-se e encerrando a caminhada.
Exercícios dos anéis:
Pernas e pés: em grounding, trabalhando a respiração. Depois com os pés para fora,
respirando, na expiração flexiona-se o joelho levemente.
Pélvis: movimenta-se o quadril, como se estivesse com um bambolê na cintura.
Diafragma: movimentam-se os braços, como se estivesse nadando de frente e de
costas.
Ombro: movimentam-se os ombros para cima (ao inspirar) e para baixo (ao expirar),
emitindo um som, como se estivesse empurrando um muro bem pesado.
Pescoço: gira-se o pescoço 360º, para um lado e para o outro, lentamente.
Cabeça: com as mãos se faz uma massagem em todo o rosto e na região capilar;
fechar e abrir os olhos como se tivesse levado um susto; imaginar uma carne bem dura
e mastigá-la.
24
Terminado os exercícios foi proposto um espaço para expressão dos
sentimentos do grupo. Todos colocaram que estavam se sentido melhor e que haviam
gostado muito das atividades.
Obs: Os demais encontros foram desmarcados pela própria equipe do posto de saúde,
visto que o Motorista da Prefeitura não teve mais condições de buscar as
Coordenadoras, e que a comunidade fica situada em um lugar de difícil acesso para
veículos comuns, não possuindo transporte coletivo.
25
CONCLUSÃO
Existe hoje a clara percepção, em função dos desdobramentos do conhecimento
sobre o ser humano, decorrentes da convergência das várias disciplinas que o
estudam, desde a física quântica ate a própria psicologia, de que, principalmente no
ocidente, enveredamos por um caminho algo equivocado: contrariando a consciência
de unidade anteriormente presente, passamos a nos perceber divididos entre corpo e
mente.
Identificamo-nos, a partir do nosso processo cultural, prioritariamente, senão
exclusivamente, com o nossa mente, de forma que apenas uma faceta do nosso
organismo tem a ver com meu “eu”, sendo que o corpo é percebido como algo que
“pertence” ao meu eu, algo “meu”, e não algo que faz parte do meu eu. Biologicamente
não existe nenhum fundamento para tal, para essa dissociação, essa ruptura entre
mente e corpo, mas, o fato é que a maioria dos seres humanos, aqui deste lado do
mundo, não parece ter corpo.
As perspectivas, a partir da quais se desenvolveram todas as linhas dentro da
psicologia, que contemplam trabalhos que evolvem o corpo, partiram da constatação
desta ruptura entre mente e corpo e da conseqüente tentativa de resgate da unidade
perdida, entendendo-se que este resgate nos devolve a integridade e a saúde
decorrente.
Ao executar o trabalho de campo descrito, pôde-se perceber que, não fugindo à
regra, os participantes não tinham nenhuma, ou, apenas uma rudimentar primária,
consciência corporal. Ora, se não havia consciência corporal, também não havia
nenhuma crença de que o corpo pudesse colaborar na “construção” de sua saúde.
Há que se lembrar que o grupo participante dos trabalhos incluía apenas
indivíduos da terceira idade e “doentes”: hipertensos e diabéticos e que principalmente
no caso desta última, é amplamente aceito no meio médico o conceito de que se trata
26
de uma doença psicossomática, como vários autores o sugerem, ou seja, sofre a
influencia de fatores emocionais em sua etiologia. Em conseqüência também é hoje
aceito que a medicina sozinha não consegue dar conta de ajudar no controle da
doença, e que, embora possa prevenir as complicações crônicas decorrentes dela, é
necessário, além de exames e medicamentos dieta, exercícios físicos e equilíbrio
emocional, visto que estes aspectos influem diretamente sobre a doença,
descontrolando-a e agravando o quadro.
Por outro lado, cada vez mais se percebe, através das várias modalidades de
tratamento envolvidas com a saúde, que a cura vem muito mais de dentro do que de
fora do indivíduo, como tem nos mostrado principalmente as curas tidas como
“milagrosas” de algumas doenças, mesmo em estado terminal.
No entanto, nem os médicos e muito menos os pacientes, têm esta postura,
tanto de considerar certas doenças como psicossomáticas e de entender a cura a partir
de dentro para fora, e ainda a crença, o paradigma básico é o da cura de fora para
dentro, e normalmente sem nenhuma ou com muito pouca participação do “doente”.
Esta postura na medicina é ainda preponderante, sendo que o paciente mal sabe do
que se trata sua doença e quase nunca é convidado é ser “parceiro” do médico em sua
própria cura. Também aqui, diga-se de passagem, o médico vai tratar o corpo como
algo separado do doente, algo estranho a ele.
Voltando ao grupo estudado, são moradores de uma comunidade pobre,
“viciados” em um tipo de tratamento feito através de medicação dada pelo médico, sem
nenhum acesso a qualquer outro tipo de possibilidade, e, portanto encarcerados na
única possibilidade de cura que lhes é apresentada. Acrescente-se a isso a pouca
cultura, carência de informações e mesmo as dificuldades de comunicação e se tem o
quadro típico de comunidades do interior, onde, qualquer proposta nova é vista com
enorme desconfiança, e conseqüentemente muitas dificuldades em sua implantação.
27
Mesmo assim, depois da dissidência inicial, em que se passou de 20 para, em
média, oito participantes por encontro, houve uma boa receptividade do trabalho
proposto, percebendo-se que as pessoas gostavam de poder falar um pouco de si e de
sentirem seus corpos através dos exercícios, principalmente de respiração e grounding,
propostos. Os participantes mostraram-se mais alegres e bem dispostos, tendo
momentos em que visivelmente sentiram-se atendidos de forma mais ampla,
informados e podendo refletir conjuntamente sobre suas vidas e seus estados.
Embora curta, a vivência proporcionada por estes encontros resultou em certa
evolução na percepção corporal e psíquica dos participantes, mostrando que o caminho
integrado da bioenergética e da prática desta através de atividades de dinâmicas de
grupo pode ser um caminho de autodescoberta e de integração corpo/mente, que pode
levar, a médio e longo prazos, a resultados de, no mínimo, diminuições na medicação
aplicada e melhorias nas condições de vida para a população considerada, ou seja,
mais saúde.
28
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
ALVES, JAYME PANERAI. Exercícios de Bioenergética para a saúde, 2ª ed. Santa
Maria – RS. Pallotte, 2001.
ALVES, Jayme Panerai; CORREIA, Grace Wanderley de Barros. O corpo nos grupos: experiências em análise bioenergética. Recife: Ed. Libertas, 2004.
BEZERRA, DJAKSON DA ROCHA. Análise Bioenergética. Natal (RN): EDUFRN
Editora da UFRN, 2003.
LOWEN, ALEXANDER. O corpo em depressão: as bases biológicas da fé e da realidade. São Paulo: Summus, 1993.
LOWEN, ALEXANDER. O corpo em terapia: a abordagem bioenergética. São Paulo:
Summus, 1977.
LOWEN, ALEXANDER. Bioenergética, 9ª edição. São Paulo: Summus, 1982.
REICH, WILHELM. A Função do Orgasmo.São Paulo:.Círculo do Livro,1991.
SERVAN-SCHREIBER, DAVID. Curar – o stress, a ansiedade e a depressão sem medicamentos nem psicanálise, 13ª edição. São Paulo: Sá Editora, 2004.
29
ANEXOS
30
31
32
33
34
Recommended