Brasil Retratos Poéticos 2

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brasilretratospoéticos

2

fotosedson sato

fábio colombinimaurício simonetti

walter firmo

textos/poemasraimundo gadenha

escrituras editorasão paulo, 2001

.brasilretratospoéticos2

Tenho grande admiração pela fina sensibilidade dos

fotógrafos brasileiros. Participo dos que julgam que o

olho do fotógrafo é aquele que possui maior força no

registro dos componentes das paisagens. É o único com

sensibilidade de captar a beleza e a significância dos

detalhes das cenas e cenários ocorrentes no cotidiano de

nosso mundo. Na diversidade e bizarria das minúcias

escondem-se ensinamentos, hábitos tradicionais,

luminosidades impensadas. Muitas vezes pode-se sentir,

através dos flashes do mundo real retratado, a própria

dinâmica de sua atuação.

Aziz Ab´Saber

Para onde será levado o pensamento

ao se lavar coloridas vestes

em tão calma paisagem?

Sobre o chão, sombras são tentáculos

tentando tudo alcançar

O gato, impassível...

Os olhos do menino,

Impossível saber onde vão dar.

Hoje, a roda é um círculo de saudade

Há muito já não range o velho carro-de-boi

Nas paredes, em lenta agonia,

as evidências da passagem do tempo.

Na água que transparece, a alma aparece

no sorriso e no brilho do olhar.

Das brancas nuvens não vem

nenhum sinal de onde elas vêm...

Parece que as brancas nuvens

apenas brandamente brincam

de, pelo denso e fixo azul, passar.

Na pequena casa, longínquo interior,

o simples ato de abrir a porta

transforma-se em uma intensa viagem

à bela e verdadeiramente rica paisagem.

Estendem-se em perfeita simetria

finos fios vindos de galhos tortos...

Natureza em constante harmonia.

O barco, casa sobre as águas,

segue num ritmo modorrento

O pequeno motor é canção de ninar

Algumas tantas crianças já sonham

A natureza, lentamente, vai apagando as luzes.

Em busca de novos destinos

o homem arrisca-se

riscando a natureza.

Foram tantos os mares navegados...

Mas hoje, sob sol e lua,

O navio é só âncora, triste imobilidade!

Com natural enlevo,

Plantas rompem a terra e elevam-se...

Verdume, velas agitam-se no espaço

Espalhando ao vento suave perfume.

Longe, o rio Tietê se veste de dourado.

O sol, brando, brinca de apagar identidades

Sonhos sobram das sombras.

A natureza, grandiosa e bela,

sem ressentimentos incorpora à sua paisagem

velhos – e hoje silenciosos – canhões.

Um vento passou soprando diferente

Que novas sementes ao tempo terá espalhado?

No intento de descobrir,

a árvore tenta o vento acompanhar.

O sólido rochedo abre-se em fenda

e lágrimas cristalinas jorram...

Estupenda paisagem que a lua,

antecipando sua passagem, contempla.

Onde as ferramentas?

Onde o cinzel que, neste céu,

esculpiu estes rochedos revestidos de verde?...

Diante dos naturais adereços

a introspecção a tudo aderiu

Endereços, memória, saudade...

Tudo passando lento como o rio.

A beleza do Rio transborda

e prédios e cores invadem a lagoa

Solene, o coqueiro se curva ao espetáculo.

Numa aquarela de sonhos

equilibram-se confiantes

a jovem sobre saltos altos

e o rapaz de flores amarelas.

Escamas coloridas brilham

sobre o dorso negro do menino

Doce sorriso por, naturalmente,

extrair do mar alegria e sustento.

Em que solo pisarão

e que rastros vão deixar

estas cores hoje suspensas no ar?

Festa, fé, tradições...

Cores oscilam sobre cores

O vento murmura orações.

SATO, Edson, GADELHA, Raimundo et al. BRASIL: RETRATOS

POÉTICOS 2. São Paulo: Escrituras, 2001.

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