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ALUMNI FORUM
II Série, Volume 1, nº 2, 2011
Publicação da Associação dos Antigos Alunos
da Faculdade de Medicina de Lisboa
ISSN 2182-3545
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 1
EDITORIAL
Presente e Futuro…
Rui Bento
ARTIGOS E RESUMOS CIENTÍFIC0S
• TEXTOS DA REUNIÃO SOBRE “TESTAMENTO VITAL E EUTANÁSIA” A Morte Filomena Mónica
Problemáticas do fim de vida: controvérsias actuais João Semedo
• ARTIGO DE REVISÃO
A genotipagem do vírus do papiloma humano (VPH) está a tornar-se gradualmente relevante na prática clínica Rute Marcelino
NOTICIÁRIO
• Acta do acto eleitoral para os órgãos sociais da Associação dos Antigos
Alunos da Faculdade de Medicina de Lisboa, triénio 2012/2015
• Reunião científica realizada “Testamento Vital e Eutanásia”
• Outras actividades- Sessão de apresentação do livro “A Faculdade de Medicina
da Universidade de Lisboa – um olhar sobre a sua história”, de Manuel Valente
Alves
FICHA TÉCNICA E NORMAS PARA AUTORES
ALUMNI FORUM II Série, Volume 1, nº 2, 2011
ÍNDICE
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 2
EDITORIAL
Presente e Futuro…
Durante o triénio de 2009-2012, conseguimos cumprir praticamente todas as metas
programáticas. Contudo, há que destacar os aspectos mais ambiciosos,
nomeadamente, os protocolos assinados com a Associação de Estudante da Faculdade
de Medicina de Lisboa e Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Ciências
Médicas de Lisboa.
Propusemos também uma cooperação à Direcção da Associação dos Antigos Alunos da
Universidade de Lisboa, mas ainda não obtivemos uma resposta.
Estamos também a ultimar um protocolo com a Fundação INATEL, pela sua destacada
importância na cultura, no desporto e no turismo.
Estabelecemos também contactos, com os nossos colegas espanhóis que estão a
fomentar e difundir a cooperação entre as Associações de Antigos Alunos das
Universidades Espanholas, Portuguesas e Latino-americanas.
Apesar das múltiplas actividades desenvolvidas, estamos cientes que o mais
importante para o desenvolvimento da nossa instituição, passa pelo rejuvenescimento
dos futuros membros.
Para esse fim temos desenvolvido acções, a fim de aliciar voluntariamente os colegas
recém- formados.
Contamos já com a preciosa colaboração directa dos jovens colegas eleitos e que
integram os órgãos sociais da AAAFML, eleitos para o triénio 2012-2015.
Resumindo, a nossa grande ambição é de reformar a nossa Associação, onde todos os
grupos etários estejam representados e acabar de vez com a ideia generalizada que se
trata de um conjunto de idosos reformados.
Apesar da crise em que o país actualmente vive, pensamos dar o nosso firme
contributo para ajudar a ultrapassar o próximo triénio, com energia muito positiva…
Rui Simões Bento
Presidente da Direcção
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 3
ARTIGOS E RESUMOS DE REUNIÕES CIENTÍFICAS
A Morte
Maria Filomena Mónica*
O livro, que intitulei A Morte, não foi escrito contra os médicos, os juristas ou os
padres: à sua maneira, qualquer deles têm um papel a desempenhar*. Penso, contudo,
que os problemas levantados pelos avanços tecnológicos da Medicina não podem ser
deixados nas suas mãos. Porque é da vida, da nossa vida, que se trata. Os especialistas
devem pronunciar-se, mas é a nós, cidadãos, que compete a última palavra.
Ao contrário do que alguns círculos da direita pensarão, não tenciono transformar-me
numa militante pró-morte. Não só rejeito a designação, como não tenho feitio para
empunhar bandeiras. Além disso, não considero o tema uma «questão fracturante».
Se alguma coisa, é «uma questão englobante». Porque nos toca a todos. O que está
em causa é uma liberdade fundamental: a forma como desejamos morrer. Os liberais,
de esquerda ou de direita, têm de concordar comigo.
O objectivo do meu livro é modesto: gostaria que, conscientes de que a definição da
morte deixou de ser consensual, os portugueses debatessem o problema. Não sei
datar o acontecimento, mas nos últimos dez anos, descobri que estava a envelhecer,
um processo que terminará no «medonho muro», de que falava Cesário Verde. Não foi
tanto o facto de ter passado a ser «uma pessoa idosa», como oficialmente sou
designada, que me levou até aqui, mas a morte de familiares e amigos. Primeiro, em
2001, a do meu cunhado, Luís Pinto Coelho, vítima de um cancro no pulmão, depois,
em 2004, a de um grande amigo, João Paulo Amorim, sofrendo de esclerose múltipla,
e, por fim, em 2006, a da minha mãe, padecendo há onze anos da doença de
Alzheimer. Aquilo a que assisti, nestes três casos, levou-me a reflectir sobre os dilemas
que se colocam a quem é vítima de uma doença terminal, especialmente no caso de
perder a capacidade de se exprimir, como sucedeu com a minha mãe.
Intervenção na Reunião Científica organizada pela Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de Medicina de Lisboa sobre “Testamento Vital e Eutanásia”, Lisboa, Aula Magna da FML, 17 de Novembro de 2011.
* Investigadora Emérita do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
* Maria Filomena Mónica, A Morte, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos/Relógio d´Água,
2011
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 4
Tentei não me atolar nas mornas águas do consenso. Nesse sentido, posso ter
exagerado a solidez das minhas convicções, mas, para início de um debate, é bom
partir de posições contrastadas. Quanto ao suicídio assistido, não tenho dúvidas:
quando o próprio está lúcido e, por qualquer razão – normalmente por se encontrar
paralisado – não consegue, como desejava, pôr fim à vida, a pessoa que o ajuda não
deve ser penalizada. Claro que deve haver uma lei bem elaborada, mas um gesto de
compaixão diante de um amigo em sofrimento é, para mim, moralmente aceitável. Tão
pouco tenho dúvidas quanto à legitimidade de um doente recusar ser ligado a um
ventilador ou a qualquer outra máquina. Penso igualmente que, se lúcido, o doente
tem legitimidade para solicitar ao clínico que o desligue dos aparelhos que lhe
permitem respirar. Sei quanto isto custa a médicos formados na convicção de que a
sua função é manter a vida, mas a classe tem de reflectir sobre os problemas éticos
que hoje rodeiam a morte.
Já quanto à eutanásia, embora a admita, desde que devidamente regulamentada,
como sucede na Holanda, demorei muito tempo até chegar a uma conclusão: a de que
sou a favor. Embora deteste eufemismos, neste caso talvez tenhamos de mudar o
nome, dado que a palavra «eutanásia» tem uma conotação muito negativa, devido à
sua ligação com os movimentos eugénicos do início do século XX e, mais tarde, com o
Nazismo. É preciso explicar bem que se tratava de mortes impostas de fora: aquilo de
que estamos agora a falar é de uma morte a pedido do próprio.
No livro, abordo criticamente a posição da Igreja Católica no que se refere a estes
problemas. Como é evidente, esta tem o direito de dizer o que pensa, de divulgar a sua
doutrina e até de excomungar quem lhe apetecer. O que não pode, porque vivemos
num país onde há separação entre o Estado e a Igreja, é tentar dominar as opções dos
não crentes. É o poder político que legisla, não os sacerdotes.
Haverá talvez quem imagine que de tal forma fui marcada pela educação recebida às
mãos de uma mãe rigidamente católica e de um colégio de freiras frequentado
durante catorze anos que portanto não sou capaz de isenção. Não é o caso: julgo ter a
distância necessária para reconhecer o que, de mau e de bom, o Cristianismo nos
legou. Não esqueço os seus períodos negros, mas estes não me impedem de constatar
que a sua afirmação de que toda a vida humana é sagrada constitui um progresso
civilizacional.
Não é o Cristianismo que contesto, mas a imposição a todos, por via do poder político,
da doutrina da Igreja. Viu-se como esta se comportou durante a polémica sobre o
aborto, ou seja, durante a discussão sobre o início da vida, pelo que receio que o
mesmo aconteça quando começarmos a debater o seu fim. Ora, eu não aceito a
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 5
autoridade dos padres para dizerem o que devo pensar, até porque a leitura da Bíblia,
especialmente a do Antigo Testamento, nem sempre coincide com o que a Igreja
prega. Gostaria de citar aqui as belas linhas do Eclesiastes, 3: «Todas as coisas têm o
seu tempo e tudo o que existe debaixo dos céus tem a sua hora. Há tempo para nascer
e tempo para morrer; tempo para plantar e tempo para se arrancar o que se plantou;
tempo para matar e tempo para dar vida; …». Repare-se na última frase: «tempo para
matar» e «tempo para dar vida». Como a interpretar?
Pelo meu lado, sigo o que a minha consciência me dita. Embora, em Portugal, isto nem
sempre seja reconhecido, os que não professam uma crença religiosa também se
regem por normas éticas. Devo dizer que a morte não me assusta tanto quanto a
loucura. Foi por isso que, há seis anos, redigi um testamento vital. Quero evitar
àqueles que amo o sofrimento por que passei durante a doença da minha mãe.
Portugal deve aprovar, tão rapidamente quanto possível, uma lei que torne legal o
texto em que os indivíduos que assim o entenderem declaram a forma como
gostariam de ser tratados, na eventualidade de, quando chegar o fim, serem incapazes
de exprimir a sua vontade.
Nenhuma questão, especialmente se for de tipo moral, pode ser resolvida em
absoluto, o que nos obriga a admitir que as respostas tenham de ser provisórias. Por
mais chocantes que sejam as opiniões dos adversários, deveremos ouvi-las, porque, se
as eliminarmos, corremos o risco de não chegar às conclusões mais justas.
Bibliografia Seleccionada†
- Ariès, P., Essais sur l´Histoire de la Mort en Occident: du Moyen Age a nos Jours, Paris,
Seuil, 1975.
- Barnes, J, Nothing to Be Frightened of, Londres, Jonathan Cape, 2008.
- Bayley, J, Iris: A Memoir of Iris Murdoch, Londres, Abacus, 1999
- Bennett, «Untold Stories», em Untold Stories, Londres, Faber and Faber, 2005, pag.
3/125.
- Cícero, «Cato the Elder on Old Age: On Old Age», em Selected Works, Londres,
Penguin, 1971, pag. 211/47.
† De entre os livros que consultei, seleccionei apenas os que mais me ajudaram a formar uma opinião.
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Série II,Volume1, Nº1 Página 6
- Didion, Joan, The Year of Magical Thinking, Londres, Harper Perennial, 2006.
- Enright, D. J, The Oxford Book of Death, Oxford University Press, 2008.
- Gawande, A, «Letting go: what should medicine do when it can´t save your life?», The
New Yorker, 2.8.2010.
- Gorsuch, N. M., The Future of Assisted Suicide and Euthanasia, Princeton University
Press, 2009.
- Grant, Linda, Remind Me Who I Am Again, Londres, Granta, 1998.
- Morrison, B., And When Did You Last See Your Father? Londres, Granta, 1993.
- Roth, P., Patrimony: A True Story, Londres, Vintage, 1999.
- Santos, Laura Ferreira dos, Ajudas-me a Morrer? A Morte Assistida na Cultura
Ocidental do Século XXI, Lisboa, Sextante, 2009.
- Spark, Muriel, Memento Mori, Londres, Penguin, 1961.
- Tolstoy, The Death of Ivan Ilyich, Londres, Penguin, 2006.
- Warnock, Mary and Elizabeth Macdonald, Easeful Death: Is There a Case for Assisted
Dying?, Oxford University Press, 2009.
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Série II,Volume1, Nº1 Página 7
Problemáticas do fim de vida: controvérsias actuais
João Semedo‡
Um debate actual
É verdade que as problemáticas do fim de vida não constituem, hoje, o centro da
atenção nem dos indivíduos nem da sociedade. Excluindo as mortes violentas ou
trágicas e a especial atracção da comunicação social por elas, há muitas outras
temáticas que motivam muito maior reflexão e debate. A morte impõe distância,
reserva, respeito. E a vida, a vida de todos os dias, está carregada de problemas e
preocupações, não libertando nem muito tempo nem muito espaço para nos
ocuparmos com o seu final, fatalidade que, intuitivamente, todos querem afastar e
desejam que aconteça tão tarde quanto possível.
De facto o tema da morte não está naquilo a que vulgarmente se chama a agenda. No
entanto, é uma evidência que nos últimos anos, mais recentemente se quiserem, a
morte é um tema cada vez mais presente, mais discutido, mais analisado, muito para
além dos círculos académicos, científicos, médicos, da filosofia, da teologia, da
sociologia. De certa forma podemos mesmo afirmar que as problemáticas do fim de
vida (re) ganharam uma certa actualidade.
Esta actualidade tem certamente múltiplas razões. Adianto apenas três. A primeira é a
constatação que se morre mal em Portugal e que isso podia não ser assim. Morre-se
demasiadas vezes na cama de um hospital – mais de 60% - e, quando assim não é, a
probabilidade de morrer sozinho, afastado e isolado é muitíssimo grande. Em casa, no
lar ou no hospital, a morte é, em muitos casos, sinónimo de imenso sofrimento físico e
psíquico, em grande parte evitável se fossem outras as condições em que esses
últimos momentos são vividos. É necessário discutir e mudar as condições em que
grande número de portugueses e portuguesas se despedem da vida. E muitos
pretendem discutir e participar nessa mudança.
A esperança média de vida aumentou significativamente e, mesmo que a um ritmo
mais lento, a longevidade continuará a crescer. Em Portugal, a esperança média de
vida aos 65 anos é de 16,64 anos para os homens e de 19,89 para as mulheres. Apesar
de todos os progressos da medicina e da cobertura assistencial realizada pelo SNS, de
uma maior atenção à prevenção da doença e da melhoria dos níveis de educação para
‡ Médico e deputado do Bloco de Esquerda à Assembleia da República
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Série II,Volume1, Nº1 Página 8
a saúde entre a população, a recta final da vida é, quase sempre, preenchida pelas
mais variadas doenças crónicas que, para além do sofrimento e limitações que
provocam, inevitavelmente nos confrontam com o aproximar da morte. Hoje, vivemos
durante mais anos mas, também, durante mais tempo antevemos e reflectimos sobre
a nossa própria morte e a forma como vamos morrer.
É certo que não podemos escolher quando morremos nem de que morremos. Não
escolhemos nem causa nem momento mas podemos escolher como morremos. A
consciência crescente desta possibilidade entre os cidadãos contribuiu para a
afirmação de um novo direito: o direito a decidir sobre a forma como pretendemos
despedir-nos da vida, como desejamos viver os seus últimos momentos quando a
morte é inevitável. Um direito que permite a cada um preservar até ao fim os padrões
de qualidade e dignidade pessoal pelos quais se conduziu ao longo da vida e que,
obviamente, são diferentes de pessoa para pessoa.
O Testamento Vital e a Morte Assistida são, em termos políticos e jurídicos, a resposta
a esse direito.
Uma questão de direitos
Não se contesta que são múltiplas as abordagens possíveis às problemáticas
relacionadas com o fim de vida. A morte é objecto da medicina, da filosofia, da
teologia, da ética, do direito, da sociologia e de muitas outras disciplinas. Mas,
fundamentalmente, Testamento Vital e Morte Assistida são uma questão de direitos
dos cidadãos, direitos sobre a forma como cada um lida com a doença terminal e fatal,
com o sofrimento físico ou psíquico, com a certeza e proximidade da morte.
Este direito prolonga outros direitos amplamente consagrados na legislação e na
sociedade portuguesa, em particular nas instituições de saúde: o direito a ser
informado sobre o seu estado de saúde e os tratamentos ou exames prescritos e o
direito a aceitar ou recusar os cuidados propostos (“consentimento informado”).
No processo de afirmação e respeito pelos direitos humanos, a problemática particular
dos direitos das pessoas doentes assume uma crescente centralidade. A sociedade
portuguesa está hoje muito mais consciente da necessidade de garantir aqueles
direitos e os profissionais de saúde revelam, na sua atitude pessoal e prática clínica,
uma maior atenção e sensibilidade pelos direitos individuais dos seus doentes. As
próprias instituições prestadoras de cuidados de saúde cada vez mais se organizam e
desenvolvem a partir de uma cultura de exigência perante aqueles direitos.
Para a protecção dos direitos humanos e da dignidade de cada pessoa, é essencial
promover o exercício pleno da autonomia individual e respeitar o princípio da auto-
determinação dos indivíduos, nomeadamente, nas matérias relacionadas com o seu
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Série II,Volume1, Nº1 Página 9
estado de saúde e, em particular, nas situações em que a pessoa se encontra mais
fragilizada por motivo de doença.
Autonomia e autodeterminação significam e devem traduzir-se no reconhecimento da
faculdade e do direito de cada cidadão decidir por si próprio e de forma livre,
informada e consciente sobre o seu estado de saúde, mas também sobre os cuidados
que pretende ou não receber.
O conceito e a prática do consentimento informado radicam no reconhecimento
destes direitos. Quer o consentimento informado quer a opção de recusar um
tratamento estão profusamente contemplados e valorizados como direitos dos
cidadãos na legislação nacional, reconhecendo-se a todos os indivíduos o direito, em
matéria de cuidados de saúde, de exprimirem a sua vontade livre, esclarecida e
consciente quanto aos cuidados que lhe são prestados mas, também, o direito a que
os profissionais de saúde, as instituições prestadoras de cuidados e a sociedade de
uma forma geral, respeitem integralmente essa vontade.
Testamento Vital
É necessário assegurar que os direitos dos cidadãos em matéria de cuidados de saúde,
nomeadamente, quanto a aceitar ou recusar esses cuidados, permanecem e são
respeitados mesmo quando, por motivo de doença, se perde a capacidade de exprimir
a vontade individual, de forma autónoma e consciente, sobre a prestação desses
cuidados.
A legislação deve consagrar o direito dos cidadãos a exprimir antecipadamente a sua
vontade quanto aos cuidados de saúde que desejam ou recusam receber no caso de,
em determinado momento, se encontrarem incapazes de manifestar a sua vontade.
Através desse direito, reforça-se o respeito pelo consentimento informado e, também,
pela autonomia prospectiva dos cidadãos.
Na prática, a formalização desse direito faz-se através da outorga do Testamento Vital,
que consiste na manifestação por escrito feita por pessoa capaz que, de forma
consciente, informada e livre, declara antecipadamente a sua vontade em relação aos
cuidados de saúde que deseja ou não receber, no caso de se encontrar incapaz de a
expressar pessoalmente e de forma autónoma.
O Testamento Vital garante que a vontade de um cidadão, desde que livre e
conscientemente afirmada, é respeitada mesmo quando, em virtude do seu estado de
saúde, ele deixar de poder exprimi-la autonomamente. A diminuição de capacidade
por motivo de doença não pode traduzir-se na perda de um direito. O Testamento
Vital impede que isso se verifique.
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Série II,Volume1, Nº1 Página 10
Morte Assistida (vulgar, errada e malevolamente designada por Eutanásia)
A medicina, apesar dos seus fantásticos e indesmentíveis avanços, tal como não
consegue evitar todas as mortes, também, não evita todo o sofrimento. Em
determinadas situações – grosso modo designadas por terminais – a morte é inevitável
e antecedida por marcado sofrimento.
Por muito grande que tenha sido a evolução dos cuidados paliativos – e foi – eles
minimizam o sofrimento físico ou psíquico mas, em grande número de situações, não o
eliminam. Muitas pessoas na fase terminal da sua doença – e da sua vida – recusam
esse sofrimento, não se dispondo nem aceitando tratamentos dos quais não há nada a
esperar a não ser o prolongamento da agonia e da dor. A obstinação paliativa é tão
condenável como a obstinação terapêutica porque ambas são igualmente inúteis e
causadoras de mais sofrimento, sem qualquer resultado ou benefício.
A Morte Assistida interrompe o curso da vida para interromper o curso natural da
doença e do sofrimento, ao contrário do que se verifica no Testamento Vital em que é
o livre curso da doença que interrompe a vida.
A Morte Assistida não é a escolha entre a morte ou a vida mas sim entre duas formas
de morrer, com ou sem sofrimento, com ou sem degradação pessoal. E essa escolha,
como todas as outras que respeitam à individualidade e intimidade de cada um, só o
próprio a pode fazer.
Diversos países, na Europa ou fora dela, legalizaram o direito à Morte Assistida mas
consagrando formalidades e procedimentos bastante diferentes. Mas, em todos eles,
há duas condições sempre exigidas: primeira, a doença ser incurável e estar em fase
terminal (nalguns casos, pré-terminal); segunda, apesar da doença, a pessoa estar
informada, lúcida, consciente e no pleno uso de todas as suas faculdades. Qualquer
legislação que venha, em Portugal, a regular a Morte Assistida deve contemplar e
construir-se a partir destes dois princípios.
O Parlamento e as problemáticas do fim de vida
Em Portugal, a legislação não permite nem o Testamento Vital nem a Morte Assistida.
Na legislatura anterior – interrompida em Abril de 2011 – estava em curso na
Assembleia da República a discussão de quatro projectos de lei (BE, PS, PSD e CDS)
sobre o Testamento Vital. Para além do debate entre os partidos proponentes, o
Parlamento recolheu o testemunho de diversas entidades e personalidades com
actividade e reflexão sobre estes temas. Realizaram-se mais de 20 audições.
Esses projectos foram retomados na actual legislatura pelos seus autores e todos eles
foram aprovados na generalidade em sessão plenária, decorrendo agora o debate na
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 11
especialidade. Há uma generalizada convicção que será possível encontrar um
consenso entre os quatro projectos – apesar das suas diferenças – de forma a tornar
possível a legalização do Testamento Vital ainda no primeiro trimestre de 2012. Um
Testamento Vital claro, eficaz e vinculativo.
Até hoje, nenhum partido apresentou qualquer projecto de lei para legalizar a Morte
Assistida. É vantajoso concluir primeiro o processo do Testamento Vital, não
misturando discussões sobre assuntos diferentes embora relativos à mesma
problemática - o fim de vida. Deve evitar-se uma coincidência geradora de equívocos e
falsas questões.
É, no entanto, conhecido que o Grupo Parlamentar a que pertenço não deixará de
apresentar nesta legislatura o seu projecto de lei para a legalização da Morte Assistida.
É um direito individual que falta reconhecer e estabelecer no ordenamento jurídico
português. A sua consagração não obrigará ninguém mas permitirá que cada um
oriente e decida da sua vida, de acordo com os seus critérios e valores. A liberdade e a
democracia são isso mesmo.
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 12
A genotipagem do vírus do papiloma humano (VPH) está a tornar-se
gradualmente relevante na prática clínica
Rute Marcelino§
Sumário
O vírus do papiloma humano (VPH) é um agente etiológico necessário, embora não
suficiente, para o desenvolvimento de carcinoma cervical. O DNA do vírus pode ser
detectado em mais de 99% dos carcinomas cervicais. Actualmente, existem diversos
testes comerciais para detecção do DNA de VPH, sendo que a maioria pesquisam cerca
de 13 a 14 tipos diferentes de DNA do VPH sem discriminar os tipos que estão a ser
detectados. Este teste tornou-se um teste padrão, na última década, no diagnóstico da
infecção em amostras cervicais. Contudo, gradualmente os testes de genotipagem do
VPH têm ganho terreno no sentido em que não apenas parecem conseguir
complementar o resultado da pesquisa de DNA salientando casos que, com apenas este
último teste poderiam não ser detectáveis, mas também porque começam a revelar um
importante papel na previsão de evolução das lesões pré-cancerígenas, CIN2 e CIN3.
Uma nova geração de testes, em que a detecção do DNA do vírus está
automaticamente associada à genotipagem dos tipos oncogénicos predominantemente
associados a casos de carcinoma cervical, pode vir a representar um novo tipo de teste
padrão num futuro próximo, desde que as validações clínicas se revelem satisfatórias.
A detecção do VPH
O carcinoma cervical tornou-se a segunda doença maligna feminina mais prevalente a
nível mundial e a infecção oncogénica pelo VPH tem sido reconhecida como um factor
de risco primário responsável por mais de 99% dos carcinomas cervicais e pelas lesões
pré-cancerígenas de alto grau, CIN2 e CIN 3 (cervical intraepithelial neoplasia grade 2
and 3). A infecção oncogénica persistente tem sido considerada como o factor mais
importante na determinação da progressão das lesões cervicais pré-cancerígenas. Nos
§ Licenciada em Biologia Microbiana e Genética (FCUL), Mestre em Epidemiologia (FCM-UNL).
GenoMed-Diagnósticos de Medicina Molecular, SA. Unidade de Virologia, Instituto de Medicina
Molecular/Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, Edifício Egas Moniz, Sala P3-A-23, Av. Prof
Egas Moniz, 1649-028 Lisboa.
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 13
últimos anos a detecção do DNA do VPH tem sido reconhecida como uma forma de
melhorar a sensibilidade clínica na previsão de CIN 2, 3 e carcinoma em mulheres que
no teste de papanicolau apresentam ASC-US (Atypical Squamous Cells of Under-
determined Significance). Com métodos de detecção do DNA do VPH adequadamente
sensíveis, a taxa de detecção do VPH é cerca de 95% a 100% no tecido cervical. Por este
motivo, a detecção do DNA do VPH assumiu na última década o papel de teste padrão
em combinação com o teste de papanicolau, no que respeita à identificação de
infecções provocadas por este vírus.
O papel da genotipagem do vírus
A genotipagem do VPH tem sido recentemente descrita, com frequência, como uma
abordagem que permite prever a progressão de lesões CIN 2/3 e melhorar a
especificidade e o valor preditivo positivo da pesquisa de DNA do VPH, pelo que alguns
autores referem que a associação da genotipagem ao teste de pesquisa de DNA do VPH
deve tornar-se um procedimento padrão. Até porque apesar de terem sido
reconhecidos 14 tipos de VPH como os tipos oncogénicos primários responsáveis pela
maioria dos cancros cervicais e de lesões CIN 2/3, há evidências de variações
significativas do potencial carcinogénico entre os vários tipos oncogénicos de VPH,
sendo este risco mais elevado nas mulheres que têm infecção persistente com o tipo
16.1,2
Estudos epidemiológicos recentes têm demonstrado que 8 tipos oncogénicos do VPH
(16, 18, 31, 33, 35, 45, 52 e 58) são responsáveis por mais de 80% dos cancros cervicais
e lesões CIN 2/3.3 Em particular, os tipos 16 e 18 estão referidos como os responsáveis
por 70% das situações CIN2/3.4 Um estudo de 2008 estabeleceu também uma
associação entre estes 8 tipos oncogénicos e, não apenas CIN2/3, mas também
carcinoma, partindo de amostras de tecidos cervicais.5, 6
Estes factos levam a considerar que a detecção dos tipos oncogénicos do VPH que têm
associações estatisticamente significativas com CIN 2/3/carcinoma e a persistência da
infecção pode ser clinicamente mais relevante na previsão de CIN2/3 ou da progressão
de lesões CIN.7
Nas mulheres com risco elevado de progressão de lesões CIN, como as que estão
infectadas com o VPH tipo 16 e tipo 18, um resultado positivo na detecção de DNA sem
identificação do tipo de VPH associado à infecção confere pouca informação para uma
gestão personalizada do tratamento que irá requer um seguimento clínico mais
frequente. Os testes de genotipagem têm sido referidos na literatura para 4 aplicações
clínicas principais:
a) Triagem de mulheres com ASC-US.
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 14
b) Seguimento de mulheres com citologia anormal e que são negativas para
colposcopia/biopsia inicial.
c) Previsão dos resultados de tratamento de casos CIN2 positivos.
d) Rastreio primário de mulheres na casa dos 30 anos ou mais em combinação com o
teste de Papanicolau.
A experiência da GenoMed
A GenoMed, criada em 2004, é um spin-off do Instituto de Medicina Molecular (IMM),
localizada no edifício da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e é um
laboratório nacional exclusivamente licenciado para Genética e Patologia Molecular,
oferecendo mais de 300 testes em áreas de grande impacto como nas Doenças
Genéticas e Farmacogenéticas, nas Doenças Infecciosas e na Hemato-Oncologia nas
suas vertentes de citogenética e biologia molecular.
A GenoMed tem como principal missão promover a transferência de conhecimentos da
Biologia e da Genética Molecular para aplicações médicas com o intuito de:
• Melhorar o diagnóstico e prognóstico das doenças.
• Melhorar a avaliação/monitorização da resposta às terapêuticas.
• Disponibilizar na prática clínica, informação que possibilite optar pelas melhores
terapêuticas para os doentes.
• Contribuir para o desenvolvimento de redes de excelência, prestigiando a
investigação científica nacional.
Os testes realizados na área da virologia são realizados na nossa unidade de Doenças
Infecciosas. Devido à evolução na área de diagnóstico e monitorização da infecção a
VPH, a GenoMed disponibilizou um teste de genotipagem, com um prazo de resposta
de 5 a 10 dias úteis, que diferencia os tipos de alto risco: 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51,
52, 56, 58 e 59. A metodologia baseia-se numa tecnologia de PCR em tempo real e as
amostras requeridas para realização do teste são esfregaços cervicais em meio de
conservação e transporte ThinPrep, sendo a colheita da responsabilidade do médico
que solicita a pedido de genotipagem.
O teste de genotipagem foi disponibilizado em Outubro de 2008.
Por comparação com o início da nossa actividade na área da genotipagem do VPH,
pode concluir-se que a casuística do nosso laboratório aumentou 3,7 vezes até ao final
de 2011. Mais precisamente, de 71 amostras que chegaram ao nosso laboratório
durante o ano de 2009 passamos para cerca de 270 amostras no ano de 2011. Este
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 15
facto reflecte em grande parte a percepção, por parte dos médicos requisitantes, da
importância do valor do resultado de genotipagem no contexto específico da situação
clínica das suas pacientes.
Ao longo destes 3 anos, verificou-se alguma variação nos genótipos encontrados, tal
como se pode observar no gráfico 1.
Em termos epidemiológicos é possível concluir que na nossa população de doentes, os
tipos predominantes foram os 16, 31, 51 e 52, todos de alto risco. Estes dados,
nomeadamente no que se refere aos tipos 16 e 31, estão de acordo com outros dados
portugueses recentemente publicados.8
Gráfico 1. N.º de ocorrências dos tipos de VPH nos anos de 2009, 2010 e 2011,
na GenoMed.
Durante os primeiros anos e até meados de 2011, a GenoMed ainda genotipou alguns
tipos de baixo risco, como o 6, 11, 42, 43 e 44. Contudo, actualmente, e porque o
tratamento destes tipos não está recomendado, a genotipagem dos tipos de baixo risco
também não é considerada uma informação essencial. Apesar disto, na GenoMed o
tipo 42 revelou-se o mais frequente dos tipos de baixo risco, chegando a ser no ano de
2010 mais frequente do que a maioria dos tipos de alto risco.
No que respeita aos tipos de alto risco, pode observar-se que o tipo 16, um dos que é
abrangido pelas vacinas contra o VPH, é o mais frequente entre as nossas pacientes
mas sofreu um decréscimo no seu número de ocorrências de 2010 para 2011.
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Série II,Volume1, Nº1 Página 16
Curiosamente, os tipos 31, 39, 52 e 56 sofreram um aumento de casos, com maior
incidência nos tipos 39 e 56 que aumentaram para mais do dobro. O significado clínico
deste facto ainda nos é desconhecido.
Esta é uma área ainda em evolução, cujo algoritmo de diagnóstico ainda está a ser
padronizado e tem vindo a sofrer alterações à medidas que novos testes vão revelando
a sua robustez e utilidade clínica neste campo. Contudo, já existe um conjunto de
testes que associados permitem restringir bastante o número de infecções pelo vírus
do papiloma humano que noutras condições escapariam ao diagnóstico. Este facto
torna a adesão às consultas de rotina de ginecologia como um dos factores mais
importantes para que o diagnóstico de infecção se concretize e a paciente possa
usufruir de todos os cuidados e follow-up habitual e posterior ao mesmo.
Referências
1. Munoz N et al. Epidemiologic classification of human papillomavirus types associated
with cervical cancer. N Engl J Med 2003; 348: 518–527.
2. Castle PE et al. Human papillomavirus type 16 infections and 2-year absolute risk of
cervical precancer in women with equivocal or mild cytologic abnormalities. J Natl
Cancer Inst 2005;97:1066–1071.
3. Clifford GM et al. Comparison of HPV type distribution in high-grade cervical lesions
and cervical cancer: a meta-analysis. Br J Cancer 2003; 89:101–105.
4. Clifford GM, Smith JS, Plummer M, et al. Human papillomavirus types in invasive
cervical cancer worldwide: a meta-analysis. Br J Cancer 2003;88:63–73.
5. Ming Guo, Ching-Yu Lin, Yun Gong, David E Cogdell, Wei Zhang, E Lin and Nour
Sneige. Human papillomavirus genotyping for the eight oncogenic types can improve
specificity of HPV testing in women with mildly abnormal Pap results. Modern
Pathology (2008) 21, 1037–1043.
6. Guo M, Sneige N, Silva EG, et al. Distribution and viral load of eight oncogenic types
of human papillomavirus (HPV) and HPV 16 integration status in cervical intraepithelial
neoplasia and carcinoma. Mod Pathol 2007;20:256–266.
7. Rodriguez AC, Schiffman M, Herrero R, et al. Rapid clearance of human
papillomavirus and implications for clinical focus on persistent infections. J Natl Cancer
Inst 2008;100:513–517.
8. Silva J, Ribeiro J, Sousa H, Cerqueira F, Teixeira AL, Baldaque I, Osório T, Medeiros R.
Oncogenic HPV Types Infection in Adolescents and University Women from North
Portugal: From Self-Sampling to Cancer Prevention. J Oncol. Nov 28, 2011.
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NOTICIÁRIO
Eleição dos órgãos sociais da Associação dos Antigos Alunos da
Faculdade de Medicina de Lisboa - triénio 2012/2015
-Acta eleitoral
Decorreu no dia dezassete de Novembro de 2011 o acto eleitoral para os Órgãos
Sociais da AAAFML.
Concorreu uma lista única (lista A), que foi aprovada com dezanove (19) votos a favor,
zero (0) votos contra e zero (0) abstenções. É de seguida reproduzida a constituição
dos Órgãos Sociais, para o triénio 2012/2015, em acta assinada pelo presidente da
Assembleia Geral:
Mesa da Assembleia Geral
Presidente Prof. Doutor J. Martins e Silva
Vice-Presidente Prof. Doutor Fernando Vale
Secretário Prof. Doutor António Cidadão
Vogal Suplente Dr. Mário Gomes Marques
Vogal Suplente Dr. Gonçalo Envia
Direcção
Presidente Dr. Rui Simões Bento
Vice-Presidente Dra. Maria do Céu Gomes
Secretário Geral Dra. Maria Florinda Almeida
Tesoureiro Prof. Doutor Alberto Escalda
Vogal Nuno Gaibino
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Série II,Volume1, Nº1 Página 18
Vogal Diogo Medina
Vogal Dra. Dulce Correia
Vogal Suplente Dra. Ângela Valênça
Vogal Suplente Dra. Liliana Guerreiro
Conselho Fiscal
Presidente Prof. Doutor Rafael Ferreira
Vogal Dr. José Daniel Araújo
Vogal Dr. Luis Dutschman
Vogal Dra. Zara Soares
Vogal Dr. João Carlos Sarmento
Reunião científica realizada “Testamento Vital e Eutanásia”
Organizada pela AAAFML, decorreu na Aula Magna da Faculdade de Medicina de
Lisboa, em 17 de Novembro do corrente ano, a última reunião científica de 2011.
O evento, que abordou a temática sobre “Testamento Vital e Eutanásia”, foi moderado pelo Dr. Rui Simões Bento, presidente da AAAFML, com a participação dos seguintes prelectores:
Prof. Doutor António Pereira Coelho; Prof. Doutor Miguel Oliveira da Silva; Dra. Maria
do Céu Gomes; Dr. João Semedo; Professor e Padre Anselmo Borges; Profª. Doutora
Maria Filomena Mónica.
Integraram o Painel de Intervenção o Prof. Doutor António Gentil Martins; Prof.
Doutor Rafael Ferreira; Dr. Carlos França; Francisco Silva; Nuno Gaibino; Diogo Medina.
Depois de concluído o período previsto para a apresentação de prelecções, seguiu-se a
respectiva discussão pelo Painel de Intervenção e pela assistência.
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Série II,Volume1, Nº1 Página 19
Outras actividades
Por convite da AAAFML, o nosso associado e membro do Conselho Consultivo, Dr.
Manuel Valente Alves apresentou no dia 17 de Novembro de 2011, em sessão especial
presidida pelo Dr. Rui Simões Bento, presidente da AAAFML, o seu livro mais recente,
intitulado “A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa – um olhar sobre a sua
história”.
Capa e ficha técnica:
Título: A FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE LISBOA – UM OLHAR SOBRE A SUA HISTÓRIA Autor: Manuel Valente Alves Publicação: Gradiva Local e data: Lisboa, 2011
200 pp. ISBN: 978-989-616-442-3 Através de uma narrativa clara e rigorosa, o autor traça neste livro a história da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, fundada em 1911, desde a sua origem, que remonta à criação da Universidade portuguesa na Idade Média, até aos dias de hoje, destacando, ao longo
deste percurso, as diferentes épocas e momentos históricos, os professores, cientistas e pensadores mais relevantes, as ligações com outras instituições, as dinâmicas de investigação, os trabalhos mais inovadores, as reformas e mudanças mais significativas nos planos curriculares, a sua estrutura organizacional, entre outros aspectos, proporcionando ao leitor uma visão global e integrada dos diferentes ciclos de vida desta prestigiada instituição centenária.
A apresentação da obra esteve a cargo do Prof Doutor José Pereira Miguel (vide
texto). A sessão terminou com cumprimentos da assistência ao autor e pela assinatura
de autógrafos.
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“A Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa – um olhar sobre a sua história”
De Manuel Valente Alves
Palavras de apresentação do Prof. Doutor José Pereira Miguel**
, na cerimónia de
lançamento do livro, Aula Magna da Faculdade de Medicina de Lisboa, 17 de
Novembro de 2011
Sobre o autor
Médico, especialista em Medicina Geral e Familiar, director do Museu de Medicina
desta Faculdade, co-regente da disciplina de História da Medicina do Curso de
Mestrado Integrado em Medicina, clínico, investigador em história da Medicina e do
pensamento médico e das suas relações com a cultura visual, editou dezassete livros e
foi comissário de cinco importantes exposições. Pessoa de cultura e de fino trato é
também autor na área das artes visuais.
Sobre a obra em geral
A obra é uma monografia de 200 páginas, cuidada apresentação, fácil leitura, imagem
da capa e contracapa do Autor (onde predomina o amarelo como convém a Medicina),
todos os créditos devidamente referenciados, com a qualidade da Gradiva.
Que eu saiba, é a obra mais abrangente sobre a história da Faculdade de Medicina de
Lisboa até hoje publicada.
Trata-se de “Um olhar” – que é sem dúvida pessoal. Pessoal, pela escolha dos temas
principais, sua sequência, citações, ilustrações; pela visão optimista sobre o passado e
o devir da instituição; pela valorização do progresso científico mas, também, do
humanismo e da ética/deontologia. É um olhar pessoal que selecciona as “escolas” de
pensamento e acção, que reconhece o aperfeiçoamento institucional constante. É um
olhar que se preocupa ao longo de toda a Obra com a contextualização nacional e
internacional (social, política, científica). Um olhar que não podia esquecer uma
justíssima referência à academização da clínica geral na nossa Faculdade, há mais de
20 anos.
** Professor Catedrático de Medicina Preventiva e Saúde Pública, director do Instituto de Medicina
Preventiva da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Presidente do Instituto Nacional de
Saúde Doutor Ricardo Jorge
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Série II,Volume1, Nº1 Página 21
Há simultaneamente uma grande preocupação de objectividade, preocupação em
referenciar as fontes e as citações – mas não é um historiador clássico a escrever –
sente-se que é mais livre, mais solto dos cânones da historiografia, ainda que muito
bem informado e documentado – sente-se um grande afecto pela Faculdade.
Sente-se ainda um grande cuidado na apreciação da história recente – o Autor não se
perde em louvaminhas desnecessárias, faz apenas a descrição mais indispensável,
evita enaltecer as figuras da actualidade sobre as quais falta ainda o distanciamento
indispensável.
A abrir cita George Steiner quando este diz que “a necessidade de transmitir
conhecimento e competências são intrínsecas aos humanos mas que há sempre
mudanças importantes em curso”. Está lançada a finalidade da obra – mostrar como
na Faculdade se concretizou essa permanente angústia, assumindo sempre novas
modalidades, adaptadas às várias épocas, a reboque dos grandes mestres e das forças
conjunturais. Compreender os fios condutores, como o saber transitou e se
acrescentou de geração em geração, e reflectir sobre as causas e as consequências.
Breve descrição
Parte I – Educação e investigação médicas em Lisboa antes de 1911
De 1131 a 1772
O Autor procura desde os primórdios da nacionalidade as raízes do ensino médico e da
Universidade – começa com o Mosteiro de Santa Cruz em Coimbra (1131), com o início
do distanciamento entre a ciência e a fé, alude a Pedro Julião (Papa João XXI), aos
Estudos Gerais e ao vaivém Lisboa-Coimbra-Lisboa, ao Hospital Real de Todos-os-
Santos (fundado por D.JoãoII – 1492) resultante da concentração de mais de quarenta
pequenos hospitais/hospícios, refere a rede de hospitais das Misericórdias
(patrocinada pelo cardeal D.Henrique), fala-nos da estrutura dos primeiros cursos de
Medicina (com as cadeiras de Prima, Véspera, Anatomia e Cirurgia) assentes em
leituras dos textos de Hipócrates, Galeno e Avicena. Cita mestres de renome e críticos
do ensino, como o iluminista Luís António Verney, autor do Verdadeiro Método de
Estudar. Fala-nos da projecção que os nossos médicos começaram a ter além-
fronteiras, das suas obras mais importantes e do seu pioneirismo em muitos domínios.
De 1772 a 1911
Neste período, destaca a segunda grande reforma da Universidade portuguesa e as
propostas de António Ribeiro Sanches para o ensino da Medicina, incluindo o envio de
médicos recém-formados para aprendizagem no estrangeiro e o surgimento das
preocupações com os aspectos mais técnicos e experimentais.
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 22
É neste capítulo que assinala as diversas escolas do saber médico: a Escola de
Anatomia Portuguesa (com Manuel Constâncio e sucessores), a Real Escola de Cirurgia
e a Escola Médico-cirúrgica de Lisboa, a Histologia (com May Figueira, mais tarde Mark
Athias e o Laboratório de Histologia de Lisboa), a microbiologia (com Câmara Pestana e
o Laboratório Bacteriológico de Lisboa, Real Instituto Bacteriológico e mais tarde
Instituto Bacteriológico Câmara Pestana), a oftalmologia (com Gama Pinto e o Instituto
de Oftalmologia de Lisboa), a higiene (com Ricardo Jorge e o Instituto Central de
Higiene, mais tarde Instituto Nacional de Saúde), a medicina tropical (recuando a
Garcia de Orta, mais tarde Bernardino António Gomes e outros, até Francisco
Cambournac), a luta contra as doenças infecciosas (com destaque para a tuberculose e
suas instituições) etc.
A história deste período compreende-se melhor através dos primeiros congressos
nacionais e internacionais, a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa (de 1822) e a
Associação dos Médicos Portugueses (de 1898), precursora da Ordem dos Médicos
(1939), e responsável pelo primeiro código deontológico. Descrevem-se
detalhadamente os contributos de grandes mestres como Manuel Bento de Sousa,
Sousa Martins, Serrano, Miguel Bombarda.
E o Autor detém-se nos admiráveis quadros de Columbano, existentes no Conselho
Directivo da Faculdade, em que salienta o livro como principal elemento iconográfico –
é assim que vejo e recordo sempre Ricardo Jorge, médico e humanista, precisamente
sentado à minha frente, nas reuniões do Conselho Científico, com um livro na mão.
Seria fastidioso descrever tudo nesta breve resenha – melhor será ler a obra! Gostaria,
contudo, de assinalar a preocupação do Autor em interligar as personalidades e a sua
obra à Faculdade de Medicina. É sempre esse o fio condutor do livro – mostrar como
os mestres se ligam aos discípulos, como as ideias se perpetuam e ultrapassam de
geração em geração e como a influência é recíproca entre o meio e a Universidade e
entre esta e o seu contexto. Como ora absorvemos ora exportamos ciência. Encoraja-
nos sentir esse pulsar ao reler a história da nossa Faculdade.
Parte II – Da fundação da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa até 2011
De 1911 a 1947
Este período inicia-se com a República. Manuel Valente Alves reconhece que há uma
clara adesão da classe médica aos ideais republicanos: dos 226 deputados da
Assembleia Constituinte, cerca de um quinto eram diplomados em Medicina. Ao longo
de todo este período muitos são os professores da Faculdade que desempenham
funções políticas, situando-se nos mais diversos quadrantes (como ainda hoje): são
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conselheiros de Estado, ministros, deputados, autarcas. Mas, o traço dominante é
sempre o idealismo – a intervenção social ao serviço dos valores mais nobres, assente
no conhecimento, na reflexão e na experiência das necessidades de saúde que a
vivência médica permite de modo ímpar.
O nascimento da Faculdade de Medicina de Lisboa surge com a Reforma Universitária
de 1911, com a grande preocupação com o ensino prático e a preparação para o
exercício profissional da Medicina.
Os Mestres dos primeiros trinta anos, vêm a ser conhecidos como a “Geração Médica
de 1911” e recorda-se sempre Jaime Celestino da Costa e a sua evocação desta época.
O ensino alicerça-se cada vez mais na evidência científica, na investigação básica
apoiada em laboratórios, e na articulação com os cuidados hospitalares (sobretudo o
Hospital de Santa Marta). Francisco Gentil é o grande impulsionador da reforma,
acompanhado de uma plêiade de colegas que o Autor detalhadamente descreve.
Aqui, como em muitos outros pontos da obra, o Autor adianta-se muitas vezes no
tempo, sai da cronologia estrita dos subcapítulos para nos mostrar os percursos das
“escolas” nas décadas seguintes, para nos mostrar as consequências a la longue desse
esforço inicial: não se pode falar de Augusto Celestino da Costa e da Histologia
portuguesa sem aludir ao recém-criado Instituto de Medicina Molecular, falar de Júlio
de Matos sem chegar a Barahona Fernandes, de Francisco Gentil sem mencionar os
três Institutos de Oncologia, de Ricardo Jorge sem referir o Instituto Nacional de Saúde
que o tem como patrono.
Nestes cem anos de vida da Faculdade várias são as reformas universitárias que a
instituição atravessa, condicionadas pelo contexto político e científico: 1918, 1930. O
Autor tenta caracterizar os progressos e os eventuais retrocessos, valoriza as
instituições que tiveram influência na vida académica, como o Instituto de Investigação
Científica Bento da Rocha Cabral, o Instituto para a Alta Cultura, a JNICT, a FCT, as
Sociedades de Biologia e de Ciências Naturais, a Fundação Calouste Gulbenkian etc.
De novo se salientam as grandes escolas científicas: a angiografia (Egas Moniz,
Reynaldo dos Santos, Eduardo Coelho e tantos outros), a cirurgia (de José Gentil a
António Baptista Fernandes), a moderna clínica médica – a chamada anatomo-clínica
(com Pulido Valente, Fernando da Fonseca, Eduardo Coelho, Arsénio Cordeiro e muitos
outros que desenvolveram as especialidades médicas).
De 1947 a 1979
Evidencia-se a “colisão entre professores e o poder político”, com o afastamento de
vários professores da Faculdade por razões políticas, mas também com a pressão
resultante da re-organização da assistência pública, com a criação da rede hospitalar, a
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Série II,Volume1, Nº1 Página 24
Federação das Caixas de Previdência, a necessidade de produção acelerada de mais
médicos, a inauguração do Hospital de Santa Maria mas, também, a sua dissociação
administrativa da Faculdade.
O Autor detém-se, com razão, nas dificuldades de relacionamento entre estas duas
instituições que, apesar dos obstáculos políticos, administrativos, financeiros, de
carreiras e outros, tentam ultrapassar as dificuldades e acabam entrelaçadas com o
IMM num promissor Centro Académico de Medicina.
As reformas sucedem-se: 1948, 1955. Revêem-se os programas curriculares, destacam-
se algumas figuras notáveis, as suas equipas e os seus discípulos: João Cid dos Santos,
Eduardo Coelho, Arsénio Cordeiro, Jorge Horta (e o Relatório das Carreiras Médicas),
João Cândido de Oliveira, Fernando de Pádua, Artur Torres Pereira e tantos outros.
Como entrei para a Faculdade em 1964 tive o privilégio de ser aluno de quase todos.
Entre outras lembranças guardo religiosamente a minha caderneta escolar, um
recordatório de etapas importantes da formação com as notas assinadas pelo punho
de todos estes Mestres.
Pelo ensino, pela investigação, pela intervenção política e social a Faculdade vai
progredindo – a minha convicção é de que a visão do Autor é optimista, mas com
fundamento. A Faculdade, desfalcada no fim dos anos quarenta, regenera-se, avança.
O 25 de Abril e o nascimento da Faculdade de Ciências Médicas merecem uma entrada
própria, recordam-se Artur Torres Pereira e Esperança Pina.
De 1979 a 2011
O contexto obriga a uma evocação do Serviço Nacional de Saúde, criado em 1979, e
novamente o Autor viaja no tempo, agora pretérito, para recordar o direito
constitucional à assistência pública da primeira República (ainda que pouco
concretizado) e as sucessivas etapas, para, com trinta anos de atraso sobre o Reino
Unido, ser possível criar um serviço de saúde universal e abrangente em cuidados.
A Faculdade adaptou-se a todas estas transformações e influenciou-as também. Miller
Guerra e outros actores importantes não são esquecidos – como o não são, neste e em
muitos outros pontos, professores de outras escolas. Neste particular, Francisco
Gonçalves Ferreira e Arnaldo Sampaio que marcaram a evolução do sistema de saúde
e também, por essa via, o ensino e a prática profissional.
Seguem-se efemérides chave da vida nacional e internacional – a adesão à OMS, à
Comunidade Económica Europeia, a Declaração de Edimburgo e a Iniciativa de Lisboa.
Destaca-se a preocupação com a aprendizagem baseada em competências, a educação
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Série II,Volume1, Nº1 Página 25
médica continuada – e o início do ensino pós-graduado, a clínica geral introduzida pela
primeira vez como disciplina académica – em linha com o reforço progressivo dos
cuidados de saúde primários, esteio indispensável de qualquer moderno sistema de
saúde.
As últimas etapas são a reforma curricular de 1995, a colaboração interinstitucional
(Instituto Gulbenkian de Ciência, Faculdade de Medicina Dentária, Instituto Superior
Técnico), as novas licenciaturas (Dietética e Nutrição, Engenharia Biomédica,
Microbiologia, Ciências da Saúde), as adaptações logísticas de uma Faculdade em clara
expansão – com o GEPOG, o DEM, o Instituto de Formação Avançada, a criação do
laboratório associado do sistema científico que é o Instituto de Medicina Molecular,
novos serviços e clínicas no Hospital de Santa Maria, novos centros de investigação, o
edifício Egas Moniz etc.
O Autor não esquece os progressos na Biblioteca (cada vez mais virtual e acessível), no
Museu de Medicina, a influência do processo de Bolonha nas últimas reorganizações
do ensino e… finalmente o Centro Académico de Medicina de Lisboa e a panóplia de
doutoramentos e mestrados com programas específicos.
As últimas páginas são dedicadas a uma reflexão pessoal, à guisa de conclusão: evoca-
se a globalização, a reorganização mundial após a queda do Muro de Berlim, o novo
conceito de universidade-empresa (com as reticências que merece), as lógicas
transnacionais que se repercutem na escola e … surge o lamento do Autor esperando
que o triunfo da produtividade e do consumo não cilindrem os valores humanísticos, e
… um apelo a que se cultivem as humanidades, se incentive a reflexão moral e se
contrarie a excessiva tecnologização do acto médico.
Últimos comentários (de um não historiador)
Como disse creio que esta obra é a primeira história abrangente da Faculdade de
Medicina de Lisboa. É um “olhar” próprio, é certo, mas culto e informado, apaixonado
nos limites da decência, que devemos respeitar e enaltecer. É um serviço à Faculdade
e ao País que devemos ter em alta estima. Uma obra de referência obrigatória. O
Autor merece todo o nosso elogio.
Como contributo final gostaria de deixar algumas modestas pistas para uma revisão e
ampliação futura ou para que outros, igualmente capazes e amantes da casa, as
possam percorrer. Será um rápido olhar transversal: enquanto aluno, enquanto
médico, enquanto docente.
Enquanto aluno, recordei a Associação de Estudantes (sem esquecer a secção editorial
e as sebentas), as diversas lutas universitárias (sobretudo nos anos sessenta e setenta),
a dispersão do ensino por várias instituições em Lisboa, os estágios e visitas de estudo
Alumni Forum
Série II,Volume1, Nº1 Página 26
(nalguns casos inovadores), os modelos de ensino e os exames, a solidariedade social
exercida pelos estudantes (incluindo as Campanhas de Alfabetização), as récitas
(repletas de humor e crítica), alguns funcionários não-docentes dignos de nota, a
estética envolvente, os costumes e as preocupações de cada época.
Enquanto médico, recordei o internato geral, o serviço médico à periferia, o Ultramar
Português e as Faculdades aí estabelecidas, a influência no desenvolvimento dos
cuidados de saúde primários e nos mais relevantes programas de saúde nacionais, o
confronto com os colegas de outras escolas.
Enquanto docente, os concursos académicos que fizeram história, o Conselho
Científico e o registo de muitas discussões e emanações cruciais, os saneamentos
políticos em diversas épocas, a história de algumas cátedras, serviços e instituições
associadas ainda por contar, as relações com o poder político que merecerão ser mais
aprofundadas, os expatriados e as suas interacções com a Faculdade, o marketing e os
símbolos da Faculdade, as diversas revistas científicas, os não médicos no corpo
docente, as últimas lições.
Lembrei-me ainda das múltiplas influências, para além das citadas, que os docentes da
Faculdade tiveram numa miríade de instituições importantes em que praticaram ou
foram mesmo seus directores ou mentores. Os nossos docentes foram médicos,
cientistas e humanistas mas, também, líderes, organizadores, gestores – o Autor faz
muitas referências, mas há muito mais para contar.
Foram professores de relevo noutros domínios: recordemos Leite de Vasconcelos,
Mário Gomes Marques e tantos outros que se distinguiram noutras ciências e na
interdisciplinaridade. E tantos nas artes … o Autor dá justo relevo a Reynaldo dos
Santos. Até no desporto marcámos presença.
Guardo as últimas pistas para o que eu próprio, ou outros mais disponíveis e dotados,
deveremos fazer sobre o legado de Ricardo Jorge, Artur Torres Pereira, Fernando Leal
da Costa e Fernando de Pádua, entre muitos: a história da Medicina Preventiva, da
Saúde Pública, da Cardiologia Preventiva e Social, da Clínica Geral e de diversas outras
áreas científicas que temos desenvolvido.
Não há especialidade médica que a Faculdade não tenha cultivado. Mas, mesmo
naquelas em que a história tem sido feita, como a Cardiologia, a Saúde Mental, a
Pediatria, a Neurologia, só para dar alguns exemplos, a marcha imparável do tempo
exige uma actualização. Não escreveu Eduardo Coelho extensamente sobre Ricardo
Jorge? Mas foi há cinquenta anos! Barahona Fernandes sobre Egas Moniz, há décadas.
Alumni Forum
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Creio que temos sempre o dever de ir mais longe: conhecer melhor o passado, tirar as
lições, reflectir para melhor perspectivar o futuro. Creio ser essa uma das lições que
podemos colher do recente estudo de João Lobo Antunes sobre Egas Moniz.
Nunca o trabalho histórico se deverá dar por concluído. Lançamos hoje uma obra que
faltava e já queremos mais. O passado empurra-nos e o futuro atrai-nos. É o vis a tergo
e o vis a fronti de que nos falava Jorge Horta nas suas memoráveis lições – em que não
dispensava começar pela história e pela genealogia da Anatomia Patológica.
Termino, repetindo os meus louvores ao Autor, desejando que todos se interessem
por esta magnífica Obra, que reconheçam a “belíssima” história da nossa Faculdade,
que a amem e façam progredir e transmitam estes sentimentos aos seus discípulos,
colaboradores e amigos.
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FICHA TÉCNICA E NORMAS PARA AUTORES
FICHA TÉCNICA
O boletim ALUMNI FORUM, órgão oficial da Associação dos Antigos Alunos da Faculdade de
Medicina da Universidade de Lisboa (AAA-FML), é uma publicação digital semestral (ISSN
2182-3545) reservada aos sócios, outros membros da comunidade médica, entidades e
instituições afins.
Proprietário, Editor, Administração e Secretariado: Associação dos Antigos Alunos da
Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
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Secretariado: Helena Cabeleira
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CARACTERIZAÇÃO E NORMAS PARA AUTORES
A Revista ALUMNI FORUM destina-se a publicar as actividades, projectos e outros assuntos aprovados pela AAAFML, bem com artigos ou resumos de intervenções dos seus sócios ou convidados em reuniões científicas realizadas. Aceita-se também a publicação de outros trabalhos enviados por sócios sobre assuntos nos âmbitos dos Objectivos Estatutários da AAAFML, depois de apreciação prévia do Coordenador Editorial e Direcção. Os textos enviados para publicação deverão ser apresentados em suporte electrónico (a enviar para aaa@fm.u.pt). A Revista ALUMNI FORUM fica a deter o direito de propriedade sobre os artigos publicados e difundidos. Os originais não serão devolvidos. Normas de apresentação dos trabalhos: - Corpo de letra: Calibri 10, redigido em Word, 1,5 espaçamento, organizados por sumário, texto, tabelas, quadros e ou figuras e referências bibliográficas (máximo de 15 ), bem como da indicação do nome do autor, título profissional e contacto. Os trabalhos deverão ser, preferencialmente, acompanhados de palavras-chave e de um resumo com cerca de seis linhas, em português e inglês. - A bibliografia deverá ser apresentada segundo as normas internacionais «Exemplo:Goate AM, Haynes AR, Owen MJ, Farral M, James LA, Lai LY, et al. Predisposing locus for Alzheimer's.
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