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CENTRO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
PROGRAMA DE CAPACITAÇÃO CONTINUADA – MINISTÉRIO DO ESPORTE
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR
DALVÂNIA MARIA MANIÇOBA SANTANA
IMPACTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO NA MELHORIA DA
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
PETROLINA – PE: A VISÃO DOS GESTORES
Petrolina - PE 2007
CENTRO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA - CEAD ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR
DALVÂNIA MARIA MANIÇOBA SANTANA
IMPACTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO NA MELHORIA DA
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
PETROLINA – PE: A VISÃO DOS GESTORES
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em Parceria com o Programa de Capacitação Continuada de Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientadora: Profª Ms. Andréa Carla de Paiva
Petrolina-PE 2007
CENTRO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA - CEAD ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR
DALVÂNIA MARIA MANIÇOBA SANTANA
IMPACTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO NA MELHORIA DA QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
PETROLINA – PE : A VISÃO DOS GESTORES – PETROLINA, 2007.
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em Parceria com o Programa de Capacitação Continuada de Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão Formada pelos professores:
Petrolina, 03 de setembro de 2007
CENTRO DE EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA - CEAD ESPECIALIZAÇÃO EM ESPORTE ESCOLAR
DALVÂNIA MARIA MANIÇOBA SANTANA
IMPACTO DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO NA MELHORIA DA
QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE
PETROLINA – PE : A VISÃO DOS GESTORES – PETROLINA, 2007.
Relato de Experiência apresentado para obtenção do título de Especialista à banca
examinadora no Curso de Capacitação Continuada em Esporte Escolar, da
Universidade de Brasília / CEAD.
Aprovada em:
Recife, 20 de agosto de 2007
Banca Examinadora:
Orientador
Andréa Carla de Paiva
Alexandre Viana Araújo
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus. Ele está sempre conosco, onde quer que
estejamos, em qual situação nos encontremos, nos
ajudando por todo tempo.
Agradeço as colegas Luzimar e Irinéia pelo incentivo
durante o Curso.
O meu carinho a Edmeia, Nara Itla e Jucileide que fazem a
Diretoria de Programas e Projetos/SEDESP e que me
ajudaram nas formas diversas nesse período de trabalho.
Agradeço a minha orientadora Andréa Paiva que com
amizade e dedicação deu-me orientações na elaboração
deste trabalho.
Dedico esta monografia a uma pessoa maravilhosa, compreensivo, amigo, companheiro e incentivador. Uma pessoa que enche minha vida de alegria e brilho, que me faz perceber que gosto delicioso tem a vida, Marcelo, meu marido. Aos meus filhos Roger e Kátia, Daniela e Hermes, Sylvia e Rodrigo que acreditaram em meu sucesso.
RESUMO O presente estudo teve como objetivo geral descrever as ações desenvolvidas nos núcleos/escolas da Rede Municipal de Ensino, para realização das atividades propostas pelo Programa Segundo Tempo, durante seu período de execução na cidade de Petrolina. Para tanto, foi aplicado um questionário para todos os diretores dos núcleos/escola da zona urbana e zona rural no intuito de verificar o impacto do programa no ensino aprendizagem. Os resultados indicam que o esporte tem muita importância para promoção de uma educação de mais qualidade. A prática de diversas modalidades esportivas, o grande interesse das crianças e adolescentes pelas ações do programa, mostram a contribuição decisiva do Segundo Tempo na melhoria da educação na escola. Destacamos que o papel do gestor, que é fundamental importância para efetivação e o direcionamento das metas traçadas coletivamente. Cabe aos diretores coordenar as atividades dos envolvidos no programa, tendo o compromisso de tratar da estrutura física e material, providenciando o que for necessário para o bom andamento do trabalho pedagógico, lidando com gestões interpessoais, além de verificar se tudo estava se efetivando de modo satisfatório, tanto para a escola como para o ensino aprendizagem. O importante é que os gestores escolares tenham estimulo para administrar as escolas.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................09
2. REVISÃO DE LITERATURA.............................................................................13 2.1. A Trajetória Histórica do Esporte na Escola......................................................13 2.2. O Programa Segundo Tempo: Concepções e Diretrizes....................................15 2.3 – O Papel do Gestor............................................................................................18
3. METODOLOGIA.................................................................................................23
3.1 – Caracterização da área de abrangência do Programa Segundo Tempo...........23 3.2 – Caracterização do Esporte e do Programa Segundo Tempo............................24 3.3 – Resultados e Discussões...................................................................................26
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS..............................................................................29
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................31
ANEXOS
1. INTRODUÇÃO
O presente estudo tem como objetivo descrever as ações desenvolvidas nos
núcleos/escolas da Rede Municipal de Ensino, para a realização das atividades propostas pelo
Programa Segundo Tempo durante seu período de execução, a partir da percepção dos
gestores escolares da cidade de Petrolina/PE.
Isto porque, políticas públicas voltadas para o esporte e lazer vem tomando posição de
destaque pela implementação do Programa Segundo Tempo nas escolas, partindo do
pressuposto que o esporte é um grande instrumento para resgatar crianças carentes das ruas e
proporcionar-lhes a oportunidade de garantir um futuro melhor.
A importância da prática esportiva ultrapassa os limites da simples recreação. Pelo Art.
217 da Constituição: “É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e não formais,
como direito de cada um” (BRASIL, 1998). Esse, assume a condição de direito, na dimensão
da inclusão social e educacional, legitimado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, no
capítulo IV, em seu Art. 59 – “Os Municípios, com apoio dos Estados e da União,
estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços para programações culturais,
esportivas e de lazer voltadas para a infância e juventude”. (BRASIL, 1998).
A socialização através do esporte constitui-se assim um meio de formação da consciência
da realidade, em que crianças e adolescentes se encontram, sendo levadas a pensar e a indagar
os motivos da sua situação, percebendo a importância das suas ações na sociedade.
O esporte é um dos últimos lugares da sociedade onde a mistura das culturas, das
diferenças, dos talentos e das vontades ainda é possível. É o espaço onde crianças e
adolescentes atuam ativamente ou passivamente; onde é encorajada, onde ela pode ser até
uma das condições de jogo. Se é claro que o esporte não pode responder a todos os problemas
e a todas as questões, enfim que ele não é uma panacéia para os problemas da sociedade, é
claro também que ele representa um extraordinário revelador de êxitos culturais, sociais ou
étnicos.
O êxito no esporte não é um engodo e fundamenta-se na vontade e no trabalho,
reconhecidos e reivindicados pelos seus principais ícones. Os esportes coletivos são
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portadores de valores como a sublimação do grupo: conviver, aceitar as diferenças para
melhorar a performance do coletivo.
A sociabilidade particular induzido pelo esporte, os encontros por ele fornecidos, a
economia que ele induz, sua expressão midiática são muitos dos elementos que mostram
incontestavelmente que o esporte tem um papel de coesão, enfim de integração, na nossa
sociedade.
Há que se relevar o papel da escola como lugar de iniciação à prática esportiva. Aqui cabe
revelar que a pesquisa é, sobretudo, a visão que os gestores têm do programa Segundo
Tempo. Nesse sentido, o interesse pela pesquisa se deu em função das experiências
vivenciadas com gestores das escolas da Rede de Ensino do Município de Petrolina, o que
possibilitou a aquisição de informações reais sobre o atendimento de crianças e jovens, dentro
de uma pedagogia inclusiva, levando-se em conta as diferenças e as potencialidades dos
participantes no espaço físico escolar.
Dentro desta perspectiva, a Secretaria Municipal de Educação acompanhou as ações do
Programa Segundo Tempo, desenvolvidas nos núcleos da Zona Urbana e Zona Rural da
cidade, possibilitando contribuir para a reflexão dos problemas referentes à gestão
educacional e fornecendo subsídios para o desenvolvimento do esporte escolar.
O Programa Segundo Tempo caracteriza-se pelo acesso a diferentes modalidades
esportivas, através de atividades individuais e coletivas, desenvolvidas sob a forma de
projetos educacionais em espaços físicos escolares que possam ser utilizados pelo público
alvo do programa. O seu objetivo é democratizar o acesso à cultura do esporte como
instrumento educacional, visando ao desenvolvimento integral de crianças, adolescentes e
jovens como meio de formação da cidadania e melhoria da qualidade de vida. A escola, nesse
caso, é a célula de projeção do Programa.
O Programa Segundo Tempo contempla o esporte da educação. Dessa forma, o esporte
educacional deve enfatizar as bases pedagógicas e garantir o direito de todos ao acesso e à
prática desportiva como componente curricular.
Numa parceria com o Ministério do Esporte, a Secretaria Municipal de Educação e
Esportes implantou o Programa em 2004, com a fundação de núcleos nas Escolas da sede e do
interior. Tendo em vista observar como ocorreu a implantação do programa e, principalmente,
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seus efeitos a partir da ótica dos gestores, resolvemos fazer essa investigação. O estudo
poderá contribuir para melhoria das relações gestão escolar e gestão do programa Segundo
Tempo.
Apesar das mudanças que aconteceram na educação, vê-se que muitas escolas ainda não
romperam com a metodologia do ensino tradicional. Algumas ainda continuam transmitindo o
conteúdo de forma doutrinária, moralista, sem o mínimo de participação do aluno. Tentando
focalizar o programa Segundo Tempo como propiciador para quebrar esse conservadorismo
na investigação, colhemos depoimentos de diretores sobre as questões relacionadas à
integração escola/alunos/comunidade, à diminuição da violência, à melhoria no rendimento e
qual o impacto do programa na vida dos alunos.
Considerando a importância dos Programas Institucionais para promoção do esporte
educacional, buscou-se responder como foram realizadas as ações propostas pelo Programa
Segundo Tempo nos núcleos da Rede Municipal de Ensino e o papel do gestor para a
efetivação das ações desenvolvidas.
Na investigação, observamos os princípios e trajetória do esporte no ambiente escolar,
pois é dentro deste contexto que o esporte educacional constitui-se uma ferramenta importante
no desenvolvimento humano.
Muitos estudos sugerem mudanças pedagógicas de cunho crítico a educação escolar no
Brasil. Procura, em suas proposições, estabelecer princípios que orientem os professores de
Educação Física a construir e desenvolver uma postura pedagógica comprometida com um
projeto político-pedagógico que vise a transformações (CAPARROZ, 2001).
Entretanto, não é propósito no tópico apresentado discorrer sobre as correntes que
defendem ou criticam o esporte, mas de apresentar seu processo histórico, desde a
implantação no ambiente escolar, via Educação Física, bem como algumas considerações
teóricas sobre o esporte escolar.
Destacaremos o papel do gestor, que é de fundamental importância para a efetivação e o
direcionamento das metas traçadas coletivamente.
Neste contexto, fica clara a importância do planejamento no processo administrativo, pois
é ele que possibilita o direcionamento das ações, favorecendo uma compreensão de como
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poderá se desenrolar o processo de modo a revelar o melhor caminho a ser seguido,
facilitando, assim, todo o trabalho nos diversos seguimentos em questão.
Procuramos desse modo conhecer a relação entre concepções pedagógicas e prática
profissional no Programa Segundo Tempo, percebendo sua aplicabilidade, pois a Educação
Física e suas diversas abordagens devem estar, acima de tudo, aliadas à prática profissional e,
fundamentalmente, exercendo o papel de formadora. Para isso, buscamos respostas nos vinte
núcleos escolares onde o Programa foi desenvolvido na cidade de Petrolina.
Educar positivamente é educar no diálogo, na participação democrática, na auto-gestão, na
criatividade, no trabalho, na práxis, na justiça e na esperança. Por sua vez, administrar
politicamente vai além do gerenciamento. Administrar politicamente é, sem duvida, uma
dimensão essencial da liderança. Envolve gerenciar recursos financeiros, desenhar,
implementar, acompanhar e avaliar planos, organizar, prover, facilitar, criar condições
favoráveis ao aproveitamento dos alunos. BRASIL (1999) Boa administração politizada
garante manter a casa em ordem, não basta para fazer com uma escola se aperfeiçoe e mude.
O papel da equipe gestora é fundamental para unir o grupo e todos se perceberem construtores
e responsáveis pelos resultados.
Sendo assim, o estudo está organizado num primeiro momento descrevendo as mudanças
ocorridas na história do esporte na escola; num segundo momento descrevendo as ações do
Programa segundo Tempo no Município de Petrolina; e por último, identificando o papel do
gestor como incentivador do programa em seus núcleos escolares. Em seguida são
apresentados os procedimentos metodológicos e as considerações finais.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
Para uma melhor organização sobre a realidade a qual nos propormos a investigar foi feita
a leitura dos elementos teóricos que possibilitassem esclarecer conceitos para a teoria
proposta.
Para Bracht (1989), o esporte foi introduzido dentro da instituição escolar imbuído de
todos os princípios de rendimento atlético/desportivo, de competição acrítica, de comparação
de rendimento, de regulamentação rígida, de racionalização de meios e técnicas, agravando-se
ainda mais nas décadas de 1960 e 1970, quando, segundo Betti (1991), o professor, em
detrimento de seu papel de educador, passou a ser um treinador e o aluno quase um atleta. A
influencia do esporte no sistema educacional é tão forte que não é o esporte da escola
(Coletivo de autores, 1992).
Uma das questões importantes nessa discussão é a trajetória do Esporte na Escola. Essa
trajetória é reforçada na execução do Programa Segundo Tempo, que visa democratizar o
acesso à pratica e a cultura do esporte como instrumento educacional, visando o
desenvolvimento de crianças e adolescentes.
2.1. A Trajetória Histórica do Esporte na Escola
A Escola sempre foi um local limitado para uma pedagogia do corpo e do movimento,
conveniada apenas para lidar, quando muito, com algumas práticas esportivas. Desde a sua
implantação como disciplina curricular, a Educação Física já se mostrou possível de
apresentar tendências no decorrer de sua história. Legitimou-se nos currículos brasileiros,
baseada nos princípios dos médicos higienistas. Sua função era promover a assepsia social e
criar indivíduos fortes, com boa postura e aparência, educando também o físico da prática de
exercícios físicos.
A história da década de vinte do século vinte, associa a disciplina à ordem militar. O
método francês utilizado pelas forças armadas passa a ser o localizado para as aulas de
Educação Física na escola. Assim, neste contexto, nasce em 1933 no Centro Militar o
primeiro curso de Educação Física com status de curso superior (ROCHA, 1991) definindo
assim a tendência da disciplina militarista.
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A década de sessenta do século vinte consolida a Educação Física no Sistema Escolar
Brasileiro. O Artigo 22 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação- LDB, torna obrigatória a
prática da educação física nos cursos primário e médio.
Esse período é influenciado pelo pensamento liberal que originou a escola nova, e a
educação física passa a ser encarada como disciplina educativa. Essa nova tendência eleva a
disciplina a condição pedagógica. Assim os professores começam a abandonar as concepções
mecanicistas em prol de pressupostos pedagógicos educacionais.
Em 1964 é deflagrado o golpe militar que tinha como função garantir a ordem capitalista,
mantendo a dependência e submissão do país aos ditames do capitalismo internacional.
(ROCHA, 1991). Para adequar-se ao modelo de desenvolvimento econômico do país, a
educação carecia também de reformas.
No tocante à Educação Física, o Decreto Lei 705 de 25 de julho de 1969, altera a redação
do artigo 22 e determina: “Será obrigatória a prática da educação física em todos os níveis e
ramos de escolarização, com predominância esportiva no ensino superior”. Já na década de
setenta, impulsionada pelo caráter nacionalista e pela formação de uma grande nação, o
esporte se destaca.
A década de oitenta também tem seu contributo à Educação Física. Segundo Kunz (1994):
Especialmente na década de 80 iniciou no Brasil um período de crítica, talvez até melhor dizer de denuncia sobre a hegemonia e o modelo de esporte praticado nas escolas pela Educação Física. Uma das críticas era fundamentada em modelos teóricos de tendência marxista, que viam no fomento do esporte uma seqüência, até mais rigorosa, do processo de alienação reificação do homem que já acontecia na sociedade, especialmente com a classe trabalhadora na relação com o poder econômico sob o domínio de uma elite.
Na década de noventa, surge a obra que ficou conhecida como o divisor de águas na
Educação Física. É um livro escrito por um Coletivo de Autores (1992), denominado
Metodologia da Educação Física. Os autores apresentam críticas ao paradigma da Educação
Física centrada no esporte institucionalizado e apresentam propostas para repensar a prática
do esporte na escola.
A partir desta década, surgem as primeiras publicações com referências para pensar o
esporte na Educação Física numa perspectiva educacional pedagógica. Assim, entende-se que
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o modelo tecnicista e tradicional já não cabe na atual realidade social. A escola deve oferecer
aos seus alunos não apenas o acesso aos dados, mas a utilidade desse conhecimento para
enfrentar suas vidas cotidianas e ter a oportunidade de viver a riqueza de uma cultura que o
seu meio social não lhe oferece.
Neste contexto, surgem no Brasil diferentes programas de Esporte e Lazer para a
população, entre eles o Programa Segundo Tempo. É o que será apresentado a seguir.
2.2. O Programa Segundo Tempo: Concepções e Diretrizes.
O esporte como prática social historicamente constituída e culturalmente desenvolvida é
um fenômeno bastante consolidado no mundo contemporâneo. Em quase todas as nações, o
esporte desponta como meta importante de programas governamentais e, não raras vezes, as
vitórias e derrotas esportivas têm servido de metáforas para os sucessos e fracassos de
sistemas econômicos e sociais.
O Programa Segundo Tempo constitui-se numa iniciativa do Ministério do Esporte em
parceria com o Ministério da Educação, para democratizar o acesso à prática esportiva de
crianças e adolescentes matriculados em escolas públicas do Brasil. Por meio de atividades
esportivas no contra-turno escolar, pretende-se colaborar com a inclusão social, bem estar
físico, promoção da saúde, desenvolvimento intelectual de crianças e adolescentes que se
encontram em situação de vulnerabilidade social.
Segundo BRASIL, 2004, o Programa fundamenta-se em princípios que norteiam suas
ações. Estes podem ser apresentados como o saber coletivo (co-educação), a capacidade de
organização grupal (cooperação), a reflexão crítica (emancipação), o posicionamento do
educando como sujeito (totalidade) e como agente de sua aprendizagem (participação), a
partir da realidade na qual está inserido (conscientização). Como princípios metodológicos, o
Programa enfatiza:
• Respeitar a individualidade dos alunos, bem como os aspectos gerais do processo de
desenvolvimento e da aprendizagem;
• Buscar o equilíbrio entre ações individuais e coletivas, cooperativas e competitivas;
• Oportunizar a aproximação de pensamento e ação por meio da prática de jogos;
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• Possibilitar vivências de modo que todos os participantes sejam capazes de aprender e
praticar esporte sem pré-requisitos-técnicos.
• O professor é compreendido como facilitador e mediador de experiências,
incentivando e estabelecendo condições de participação dos alunos na construção e
desenvolvimento desta forma o ressignificar esportivo;
• Estabelecer estratégias de construção de política pública, a partir do engajamento do
poder público, da ampliação de parceiros e espaços, constituindo e atuando em rede,
assegurando diversidade, sustentabilidade e complementariedade dos serviços.
Assim, Souza (2004) reflete que: Ensinando o aluno pensar criticamente o esporte, damos-
lhe a oportunidade de manifestar um comportamento que é fruto do seu entendimento, do seu
aprendizado, fazendo seu jogo ser não apenas a imitação e reprodução de performances
existentes. Assim, o autor reflete que “É pensando criticamente a prática de hoje que se pode
melhorar a próxima prática”. (p.96)
De acordo com o livro Elementos do processo de Pesquisa em Esporte Escolar, o
Programa Segundo Tempo vem auxiliar professores e monitores a verem como o processo
alienador pode ser modificado e o acesso à aquisição de conhecimento pode ser desenvolvido
em programas esportivos que ensinam e desenvolvem esportes através de um contexto
gerador de ações democráticas.
O público alvo do Programa são as crianças e adolescentes matriculados em escolas
públicas localizadas prioritariamente em áreas de risco social. O programa trabalha com metas
prioritárias para atendimento de crianças e adolescentes, capacitação/especialização de
professores, capacitação/extensão de estagiários, bolsas para os monitores, beneficiando
municípios, estados e Distrito Federal.
Em Petrolina, houve a participação efetiva de 4.000 alunos nos 20 núcleos existentes,
priorizando crianças de 7 anos a 14 anos, com dificuldades motoras, de relacionamento e
aprendizado. No processo de capacitação/especialização, foram beneficiados professores e
monitores no processo de capacitação/extensão. Além disso, foram distribuídas na Rede
Municipal 40 bolsas estagiário/monitor.
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Entender o esporte como algo que foi construído socialmente e que possui uma força
capaz de penetrar numa sociedade e influenciar hábitos e costumes é uma questão que deve
ser considerada, quando o esporte é avaliado dentro de um contexto de prática social.
Sabe-se que, no Brasil, existem milhares de crianças e adolescentes que freqüentam
escolas públicas e que muitas estão em situação precária, não possuindo condições mínimas
para desenvolver o esporte educacional.
Há também a falta de apoio quanto às estruturas esportivas e investimentos na capacitação
de professores de Educação Física, que acabam não se aperfeiçoando por diversos fatores,
sendo um deles as condições financeiras, deixando-os desmotivados para praticarem o esporte
nas suas atividades em sala de aula.
O artigo 217, da Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1998), menciona que o Estado
tem o dever de fomentar as práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada
um. Assim, o esporte deve receber uma maior atenção, pois tem grande poder de
transformação de uma sociedade.
Dessa forma, o Programa Segundo Tempo tem como ação capacitar recursos humanos
para atuarem dentro das escolas com esporte educacional, melhorando consideravelmente a
qualidade desse ensino e, consequentemente, a valorização dada a estes profissionais da área
de Educação Física.
Esse Programa, além de possibilitar valorização da disciplina e do profissional de
Educação Física, de rever o papel da escola pública que cada dia deve ser mais participativa,
promove a massificação da prática desportiva e a inclusão social de crianças e adolescentes,
através da prática e da cultura esportiva, no contra-turno escolar praticando atividades
esportivas para até 200 alunos por núcleo.
Também pode ser visto como uma proposta de projeto político pedagógico, um
instrumento de transformação que tem como finalidade conquistar e consolidar a autonomia
da escola. Além disso, visa também promover a saúde e ajudar na educação de crianças e
adolescentes e diminuir a exclusão social, já que, nesse sentido, a escola será tanto mais
democrática á medida que acolher, educar e ensinar a todos, ao mesmo tempo que respeite as
diferenças individuais, estimulando, em especial, o desenvolvimento da capacidade do aluno
de aprender a aprender.
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Como diz Rego, a escola deve ser um espaço para as transformações, as diferenças, os
erros, as contradições, a colaboração mútua e a criatividade. Dessa forma, precisamos de uma
escola que não tenha medo de arriscar, que tenha muita coragem para criar e questionar o que
está estabelecido, em busca de rumos inovadores, necessários à inclusão (BRASIL, 1999, p.
14-15).
Frente a esse novo paradigma educativo, a escola deve ser definida como uma instituição
social que tem por obrigação, atender a todas as crianças, sem exceção. A escola deve ser
aberta, pluralista, verdadeiramente democrática e de qualidade, com gestores que façam
intervenções significativas, com clareza do seu papel social e profissional.
2.3 – O papel do gestor
Com as mudanças educacionais e a adoção de novos paradigmas, o perfil do diretor em
ralação a sua postura ética, deu lugar a um educador, maleável, flexível, amigo. Uma pessoa
politizada e democrática, um líder que constrói sonhos e na sua capacidade de sonhar, ele é
capaz de sonhar com nitidez. Compartilhar com os outros essa visão que se traduz
apaixonante, energizadora, sobre o papel e a importância da educação,
Consegue fazer com que a equipe sinta que está embarcando em um projeto vital, até mesmo sagrado, que exigirá sacrifícios, mas também realizará algo muito importante, digno do melhor que existe em cada um.Uma visão suficientemente poderosa pode impulsionar o processo de planejamento. Estimula a comunidade escolar a projetar, programar, elaborar roteiros para concretizar o futuro desejado. Um gestor líder não se limita a registrar o Plano da Escola, as decisões tomadas pela equipe. Ele convida a criar sua declaração de missão: uma forma que sintetiza o que a escola faz, de que forma, com que pessoas e entidades. Divulga em cartazes, a declaração de missão ajuda a manter o foco no que é essencial. (BRASIL.1999:10).
O diretor tem o papel fundamental na escola. Além de administrá-la e gerenciar as
inúmeras demandas da instituição, ele também deve atuar na constituição de uma equipe
colaborativa do trabalho. Incentivando a comunidade de pais e alunos, na reflexão dos rumos
da escola. Até então, os diretores só desenvolviam projetos pontuais – desfiles, festas para
pais, festas para o aluno etc. Esses projetos pontuais geralmente eram determinados e já
planejados pelas Secretarias de Educação.
Escolher o projeto e executá-lo demandaria participar de reuniões sistemáticas e fazer
registros das ações desencadeadas na escola. O próprio fato de o diretor ter de escolher um
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projeto já demanda uma série de decisões que o colocam em um outro lugar, até então não
vivenciado por muitos profissionais: eleger uma prioridade e persegui-la por um tempo mais
longo até alcançar os objetivos.
Dizem que a alma da escola são os seus gestores. A diretora ou diretor têm o poder de
animar, alimentar, fortalecer a cooperação e sinergia entre a equipe, sem as quais um prédio
escolar arquitetonicamente perfeito, contendo equipamentos e materiais pedagógicos
sofisticados, ostentando normas e regulamentos precisos, seria tão patético como um corpo
sem vida coberto de enfeites.
O gestor deve saber escolher um projeto que seja compatível com o projeto político-
pedagógico, saber olhar a realidade para definir em quais prioridades investir, seja no campo
do ensino-aprendizagem, seja em questões operacionais administrativas.
O papel do gestor, Segundo Frade (1993, p. 17) “implica na formação de uma equipe
colaborativa”. O gestor democrático compartilha com os profissionais da escola, as ações
presentes e futuras e estas devem ser o fruto das reflexões do grupo. Essa estratégia utilizada,
que é favorecida por meio do trabalho com projetos faz com que esses profissionais
estranhem e sintam dificuldade, porque são situações não costumeiras em épocas passadas.
Por exemplo, uma escola que não valoriza no seu projeto pedagógico, a formação de uma
equipe reflexiva e colaborativa acaba criando dentro de si nichos que não interage, a não ser
quando obrigados pela Secretaria, ou por alguma outra punição que lhes prejudique. Segundo
Mendonça (2000, p.38):
Com o objetivo de transformar a escola em um ambiente agradável, saudável e prazeroso, o diretor tem estabelecido prioridades e realizado projetos compartilhados com professores, pais, funcionários e alunos. Com isso abre a escola para o diálogo com o mundo da educação e da cultura, estabelecendo parcerias com especialistas e outras instituições que favoreçam o desenvolvimento de todos.
Uma relação compartilhada, amiga, prazerosa é saudável e muito importante. Quando um
diretor ou gestor é democraticamente politizado, torna-se um líder, um grande comunicador,
capaz de mobilizar e articular os mais diferentes setores em torno da missão escolar.
Desenvolver sistematicamente os hábitos de estudo e auto-formação de todos os
professores, incentiva também os alunos, não os obrigando, ao contrário, motivando-os. O
gestor mapeia as organizações culturais locais da comunidade, para que possam desenvolver
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ações complementares junto aos alunos, como dança, teatro, estudo de línguas, informática,
esportes. Enfim, o seu papel, vai mais além, criando uma certa magia que faz cintilar as
escolas felizes, onde ninguém pára de aprender. Agindo desta forma, as suas ações solicitam
uma gestão democrática e democratiza o ensino para o desenvolvimento da cidadania.
Partindo desse princípio de gestão democrática, a escola, na qualidade de instituição da
sociedade civil, tem muito a oferecer. Como diz Paro (1986, p. 162):
Se a participação de todos na administração dos recursos da escola não é algo que se realize do dia para a noite, isso não justifica por outro lado, que a administração escolar em bases democráticas permaneça apenas no nível das intenções, reiteradas permanentemente como ideal a ser atingido, mas nunca colocados em prática, nem mesmo em seus aspectos elementares.
As palavras de Paro (1986), servem de alerta para as pessoas que ainda pensam que basta
eleger um gestor, que a escola já passa a ter uma administração democrática. O ato de gerir
uma unidade educacional, não se resume ao emprego de um novo termo “gestão, sugere uma
nova postura, que, por conseguinte, utilizará as diretrizes antes não praticadas pela maioria
dos gestores que se colocavam frente a uma escola como se fossem seus donos e senhores”.
(p. 162)
Considerando esse novo perfil a ser construído, acredita-se que o papel de um gestor
escolar não se restringe, tão somente, as ações meramente administrativas e burocráticas, mas
é aquele que atua em parceria com todos os segmentos que compreende a escola, pois uma
concepção abrangente de gestão educacional engloba os diferentes espaços de aprendizado
das formas de sociabilidades, especialmente a visão dos diretores sobre a gestão da escola.
É muito importante o posicionamento de um gestor escolar, em especial quando ele
assume esta tarefa consciente do papel que irá assumir diante da sociedade. Não deverá sentir-
se superior a ninguém, apenas mais um que irá desenvolver um trabalho na instituição de
ensino. Mesmo o gestor, ocupando uma posição importante na estrutura do ensino público,
uma vez que responde pela articulação da escola com a comunidade em que se insere e,
também com a rede que compõe o sistema de ensino, será mais um educador que precisará
compartilhar suas ações, para que o seu trabalho tenha sucesso.
Além disso, deve garantir o bom funcionamento da escola, visando o melhor atendimento
pedagógico aos alunos.A educação e a arte do gestor público são tarefas difíceis. Segundo
Barros apud Medeiros (1997, p.20):
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Sua tarefa torna-se mais difícil quando assume o trabalho sozinho, quando aplica apenas as orientações oficiais, ou quando se dedica mais a função administrativa. Espera-se do gestor que, antes de tudo, seja um educador, utilize as orientações do sistema para fortalecer a função educativa da escola e consiga atuar com toda a competência administrativa, para fazer fluir a ação pedagógica.
O gestor não deverá permitir que as questões burocráticas administrativas, absorvam a
dimensão central do trabalho escolar que é a questão pedagógica. O gestor deve pensar em
uma escola que trabalha a qualidade do aluno, a sua formação, incentivar a formação de
grupos para atividades extra-classe relacionadas aos conteúdos que são trabalhados nas aulas.
O papel do gestor está em compartilhar e produzir idéias novas que são valores básicos da
sociedade em que ele atua.
Os seres humanos em sociedade e a aventura da convivência desafia-os a enfrentar e procurar responder a todo momento a pergunta “como agir na relação com os outros?. Trata-se de uma pergunta fácil de ser formulada, mas difícil de ser respondida. (BRASIL , 1998, p. 49).
Antes mesmo de candidatar-se para exercer a função de gestor escolar, o educador deve
ter em mente a concepção da gestão educacional, a sua abrangência e o seu papel na
sociedade e para a escola. Logo, ao ser eleito através do voto, a sua responsabilidade aumenta,
implicando com isto, uma urgência na mudança de sua dinâmica de trabalho uma vez que ele
terá que ter autonomia, sutileza e democracia. Para Vasconcelos (1997, p. 19) o gestor
necessita:
• Uma ótica globalizada e integradora das ações e atitude dos agentes;
• Responsabilidades globais processuais e de resultados;
• Co-responsabilidade pela missão e projeto da escola;
• Coordenação e organização coletivo do trabalho;
• Processos contínuos e estratégicos para atender metas (curto, médio e longo prazo);
• Ação enérgica na medição (negociação das contradições, conflitos e diferenças
próprias de um projeto democrático);
• Qualidade humana, com eixo da proposta de formação continuada do professor e dos
grupos de ação colegiada;
• Projeto político-pedagógico definido pelo colegiado gestor da escola – Conselho
Escolar, etc.
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Com uma gestão democrática definida, organizada e compartilhada, o gestor poderá
exercer o seu cargo, com sucesso. Não é tarefa fácil, mas também não é tarefa impossível.
Hoje a sociedade brasileira cobra a superação do nível de insatisfação da qualidade do ensino,
o fim das práticas inadequadas de avaliação do desempenho educacional do aluno, a definição
de metodologias educacionais apropriadas e contextualizadas e tantas outras reivindicações
que, com certeza, não estão agradando. Com uma gestão democrática pode-se, através da
reflexão, do trabalho coletivo, da divisão das tarefas, mudar um quadro já ultrapassado.
Além de reclamar, a sociedade quer ser ouvida e quer colaborar, por isso tem lutado por maior participação para cumprir, inclusive, o que prevê a Constituição Federal de 1988 em seu Artigo 205: “A educação, direito de todos e dever do estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade visando o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania”. (ROMÃO, 1992, p.64).
É hora de a sociedade escolar convidar a família a fazer parte desta missão de ensinar e
educar, compartilhando e resolvendo problemas, para que, juntos, possam construir a escola
que todos idealizam, a escola sem reprovação, sem discriminação, onde o trabalho pedagógico
é responsável. Esta também é uma missão do papel do Gestor: refletir, compartilhar e juntar-
se aos demais envolvidos no processo educacional.
Neste contexto o esporte escolar vem tomando uma nova dimensão com o incentivo do
Governo Federal através da implementação de programas direcionados à prática esportiva. O
Programa segundo Tempo vem mostrar que é possível colaborar com a inclusão social de
crianças e adolescentes das escolas públicas e que o papel do gestor é importante na condução
de atividades esportivas.
A seguir serão apresentados os procedimentos metodológicos do estudo que trata do
impacto do Programa Segundo Tempo na melhoria da qualidade da educação nas escolas
municipais de Petrolina, através do olhar dos gestores dos 20 núcleos/escolas que realizaram
as ações do Programa.
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3. METODOLOGIA
3.1 – Caracterização da área de abrangência do Programa Segundo Tempo
O município de Petrolina-PE localiza-se no sertão de Pernambuco, à margem esquerda do
Rio São Francisco, ocupando uma área de aproximadamente 4.756 km², situado a 772 km da
cidade do Recife. Limita-se ao Norte com o município de Dormentes-PE, ao Sul com o Rio
São Francisco/Juazeiro-BA, ao Leste com Santa Maria da Boa Vista-PE, e ao Oeste com o
município de Afrânio-PE e Casa Nova-BA.
Considerada cidade de porte médio com uma população de, aproximadamente, 260.000
habitantes, revela um Índice de Desenvolvimento Humano - IDH correspondente a 0,74,
estando, portanto, acima da média em relação à maioria das cidades nordestinas.
Em função da agricultura irrigada do Vale do São Francisco, a cidade de Petrolina-PE se
firmou como um dos maiores centros produtores de frutas e vinhos, respondendo por cerca de
90% das exportações de manga e uva do país. Petrolina é o único representante do interior que
está entre as cinco maiores economias de Pernambuco, o 5º maior PIB do Estado e a 8ª cidade
no ranking brasileiro em crescimento do agronegócio, referência no sertão.
Para atender tal demanda, Petrolina possui ampla rede de Ensino Público e Privado de
qualidade: Universidade do Vale do São Francisco - UNIVASF, Faculdade de Formação de
Professores de Petrolina - FFPP, Faculdade de Administração e Ciências de Petrolina -
FACAPE, além de cursos técnicos federais e estaduais. Na esfera Municipal conta com 81
escolas, sendo 20 na zona urbana e 61 na zona rural, atendendo aproximadamente 40.000
alunos, em 2007.
O progresso econômico coloca Petrolina em posição de destaque no cenário nacional para
onde convergem as expectativas dos municípios circunvizinhos. O aumento da demanda por
serviços essenciais como saúde, educação, habitação, segurança e abertura de novos postos de
trabalho desafiam o poder público municipal a desenvolver políticas públicas de caráter social
e econômico para solucioná-los.
Neste sentido, políticas públicas voltadas para o esporte e lazer vem tomando posição de
destaque pela implementação do Programa Segundo Tempo nas escolas, partindo do
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pressuposto que o esporte é um grande instrumento para resgatar crianças carentes das ruas e
proporcionar-lhes a oportunidade de garantir um futuro melhor.
3.2 – Caracterização do Esporte e do Programa Segundo Tempo
O Programa Segundo tempo foi implantado na rede Municipal de Ensino de Petrolina em
2004, atendendo a 4000 alunos, em 20 núcleos/escolas, selecionadas de acordo com a sua
estrutura física, localização, área de abrangência de comunidades carentes, índice de
violência urbana, priorizando o ensino fundamental. Fotos 1 e 2 – anexo.
Na perspectiva de dinamizar as ações educativas, fazendo com que o aluno encontre no
espaço escolar motivo de satisfação para seu desenvolvimento pessoal, o município de
Petrolina-PE buscou através do Programa Segundo Tempo estimular crianças e adolescentes a
manter uma interação efetiva em torno das práticas esportivas saudáveis, orientadas ao
processo de desenvolvimento da cidadania.
A participação do Governo Federal, em parceria com o município e outras instituições, foi
fundamental para assegurar o direito constitucional de acesso às atividades esportivas e de
lazer à população, priorizando as comunidades escolares, independentemente da condição
sócio-econômica e do estágio de ciclo de vida de seus distintos segmentos. Foto 7 – anexo.
É em sua dimensão recreativa, portanto que o esporte explicita seu potencial socializador,
sua capacidade aglutinadora, oxigenando a vida das pessoas, no seu sentido lúdico, expressão
de festa, de alegria.
Dentro dos resultados esperados pelo Programa Segundo Tempo, destaca-se como
impactos diretos à melhoria das capacidades e habilidades motoras dos participantes; melhoria
do rendimento escolar dos alunos envolvidos; diminuição da evasão escolar nas escolas
atendidas e melhoria da qualificação de professores e estagiários de educação física
envolvidos. Foto 6 - anexo
Como impactos indiretos, podemos considerar a diminuição no enfrentamento de riscos
sociais pelos participantes; a geração de novos empregos no setor da educação física/esporte
nos locais de abrangência do programa e a melhoria da estrutura no sistema de ensino público
do país.
O estudo em questão tratou de captar o pensamento e a expressão daqueles mais
diretamente envolvidos na problemática que queremos estudar. Parte do pressuposto de que a
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realidade não se encontra “fora” do indivíduo, mas é por ele constituída e, desta forma,
somente por meio do seu discurso, pode-se percebê-la.
Dentro desta perspectiva, o papel do pesquisador passa a ser o do observador que
consegue captar, interpretar e redigir a informação de forma a que outros possam também
“vivenciar” a experiência. O observador precisa estar próximo o suficiente para conseguir
entender o que as pessoas falam, porém devidamente “distanciado” não “contaminar” a
realidade com os seus próprios problemas e emoções.
Este estudo procurou descrever a percepção dos gestores escolares sobre o Programa
Segundo Tempo para a melhoria do processo ensino-aprendizagem nas escolas de sua
responsabilidade, assim como, as ações desenvolvidas nos núcleos/escolas da Rede Municipal
de Ensino, para a realização das atividades propostas pelo Programa, durante seu período de
execução.
Uma pesquisa empírica necessita identificar o conjunto dos elementos com os quais irá
trabalhar no sentido de alcançar seus objetivos. A pesquisa descritiva qualitativa, segundo
Moraes e Mont’Alvão (2000, p.37) “está interessada em descobrir e observar fenômenos
procurando descrevê-los, classificá-los e interpretá-los [...] ela poderá abordar um
determinado grupo, família, indivíduo ou mesmo uma comunidade.” Para Molina (1999,
p.99), “a grande vantagem de um estudo de caso qualitativo é o fato desse conectar-se
rapidamente com a realidade, ou sejam, possibilitar a interação teoria-prática e, por isso,
afastar mais os riscos de simplificações.”
Para descrever como foram realizadas as ações do Programa Segundo Tempo, foram
selecionadas vinte escolas municipais de Petrolina que desenvolveram as ações do Programa
Segundo tempo entre 2004 e 2005. Procuramos identificar a visão do gestor sobre a
importância do esporte na melhoria do ensino aprendizagem, as modalidades esportivas
vivenciadas nas escolas/núcleos e mostrar os resultados obtidos durante a execução do
Programa Segundo Tempo.
Para isto, torna-se importante definir a sua população. O estudo foi efetuado com vinte
diretores que atuaram em escolas/núcleos das zonas rural e urbana da Rede Municipal de
Ensino.
As escolas escolhidas ficam situadas em bairros e localidades consideradas área de risco e,
por este motivo, com diversos problemas, sendo dessa maneira um ambiente favorável à
execução do programa que tem como um dos objetivos assegurar o acesso do esporte para as
populações tradicionalmente excluídas e de vulnerabilidade social.
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Dentro dos procedimentos metodológicos, torna-se necessário apresentar os instrumentos
que foram utilizados no processo de levantamento de informações que permitam caracterizar
os objetivos propostos. Para consolidar a pesquisa, optamos pela aplicação de questionário,
pois este instrumento tem a capacidade de preparar previamente as questões e conseguir
respostas escritas dos sujeitos da amostra.
Trata-se de um instrumento mais distante de quem responde, não havendo possibilidade
de interferência da subjetividade do entrevistado, oferecendo menos pressão para uma
resposta imediata.
3.3. Resultados e discussões
O questionário aplicado aos vinte gestores das escolas municipais de Petrolina onde foi
vivenciando o programa Segundo Tempo revelou que o mesmo contribuiu para melhoria
escolar. (Ver tabela 1)
Item Totalmente Muito Regular Pouco Nada
Quantidade 10 10 - - - Tabela 01 – Consolidado do questionário sobre contribuição do programa.
As modalidades que foram mais praticadas, segundo o questionário aplicado, foram futsal,
handebol, voleibol, atletismo e futebol de campo. (Ver tabela 02) Notamos que o futsal recebe
bastante influência devido aos campeonatos realizados em nível regional, em Petrolina. Fotos
4 e 5 – anexo. Por sua vez, o handebol sempre foi destaque no município, tendo até
contribuído com jogadores para a seleção nacional.
Item Quantidade
Futsal 18
Handebol 17
Voleibol 15
Atletismo 13
Futebol de campo 10
Basquetebol 09
Xadrez 03
Outros 03
Ginástica 02 Tabela 02: Modalidades esportivas praticadas na escola
Outro aspecto verificado nas respostas do questionário aplicado foi quanto ao interesse
das crianças e adolescentes pelas atividades do programa. Os gestores foram unânimes em
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observar que a maioria das crianças e adolescentes se interessaram pelo programa. (Ver tabela
03)
Item Totalmente Muito Regular Pouco Nada
Quantidade 10 10 - - - Tabela 03: Quantidade de interesse de crianças e adolescentes pelo programa.
Os gestores também convergiram quando perguntados sobre a contribuição para a
melhoria da educação dos envolvidos no programa. Apesar de não apresentar o quantitativo
das tabelas 01 e 03, que dividiam em números iguais as contribuições, a maioria indicou que o
programa “muito” contribuiu para o rendimento escolar das crianças e adolescentes. (Ver
tabela 04)
Item Totalmente Muito Regular Pouco Nada
Quantidade 05 15 - - - Tabela 04: Contribuição do programa para a melhoria da educação na escola.
As justificativas dos gestores para a contribuição do programa na melhoria da educação e
aprendizagem dos alunos envolvidos com o programa giraram em torno do maior interesse e
permanência em sala de aula; contribuição com a disciplina e afetividade; respeito aos
professores; melhor aparência pessoal; incentivo aos alunos para participarem de
campeonatos municipais e estaduais; maior concentração e redução da violência.
Para um gestor:
Gestor 01:
“As crianças parecem até mais felizes e interessados pelas atividades escolares. Chegam até a
colaborar com os trabalhos de distribuição de lanches, organização de filas etc, quando
solicitados. Até a maneira como eles falam com os colegas mudou”.
Gestor 02:
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“O programa Segundo Tempo veio contribuir muito para a melhoria de educação, pois além
de ocupar o aluno durante o turno que está fora do horário de aula, ocupou com atividades
esportivas, onde a vivência e o companheirismo, a cordialidade, o respeito, a solidariedade, a
ética, deve ser incorporada ao dia-a-dia do atleta (aluno) e que põe em prática em toda
situação de vida”.
Gestor 03:
“Como é impressionante como os alunos se empolgam com o esporte. Após o programa
Segundo Tempo, em que os alunos participavam de atividades em turno diferente do turno das
aulas, até o relacionamento deles melhorou. Passaram a ser mais solidários com os colegas e
mais atenciosos com o pessoal da escola”.
Gestor 04:
“Com o Xadrez as crianças se beneficiaram muito, pois passaram a participar de campeonatos
interclasses, entre escolas, concorrendo igualmente com crianças de diversos níveis e
categorias, às vezes, até de idade superior”.
Foto 3 – anexo.
As falas dos gestores evidenciam a importância do programa. Duas podemos destacar, do
que já foi mencionado: a disciplina e o comportamento. A disciplina como algo inerente à
formação das crianças e adolescentes. O comportamento como via principal da concentração
durante o período de ensino-aprendizagem.
Também não podemos deixar de mencionar a auto-estima, especialmente quando os
mesmos participavam de campeonatos entre eles ou entre outras escolas. Como bem falou
uma gestora: “os alunos agora sentem mais prazer”.
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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Conforme foi visto o estudo indicam que o Programa Segundo teve grande repercussão
nas escolas municipais de Petrolina, onde a contribuição do Programa na melhoria da
educação e aprendizagem se justifica em torno do maior interesse e permanência dos alunos
em sala de aula.
A pesquisa em pauta teve por objetivo mostrar as ações ocorridas nos vinte núcleos
implantados na cidade de Petrolina e o apoio da Secretaria Municipal de Educação e Esportes
na realização das atividades, visando sobretudo a um maior intercâmbio entre alunos, escolas,
professores e comunidades. Segundo Santos (2001), afirma que “a grande maioria da
população brasileira não pratica qualquer tipo de esporte. Faltam ações de sensibilização e
conscientização sobre a importância da prática esportiva.”
Também, a organização das Nações Unidas – ONU divulgou um documento intitulado
Esporte para o Desenvolvimento e a Paz. Trata-se de um relatório que faz uma análise da
situação do esporte no mundo e propõe ações práticas para os governos. Nele fica claro que
no mundo inteiro, há um movimento no sentido de valorizar mais e mais o esporte, para a
melhoria da qualidade de vida no Planeta.
Segundo o caderno de Diretrizes e Orientações do Programa, pode-se mencionar o esporte
comprometido com a reversão do quadro de injustiça, da exclusão e vulnerabilidade social ao
qual se submete grande parcela da nossa população; do reconhecimento deste como Direito
Social; da Inclusão Social, compreendida como possibilidade de garantir o acesso aos
segmentos sociais, sem discriminação de classe, etnia, raça, religião, gênero e nível sócio
econômico.
Nesse sentido, ao realizar a pesquisa com os gestores escolares, percebemos a grande
contribuição do programa com o processo ensino-aprendizagem. Os alunos contemplados,
segundo as informações disponíveis nas citações dos gestores, foram autores do próprio
processo de formação. Isso foi observado na mudança de comportamento, nas relações
interpessoais, na elevação da auto-estima e do prazer. Isso prova que a prática do esporte deve
ser um componente curricular, incentivado, sobretudo, pelos agentes governamentais e/ou
privados. Com a ajuda do esporte, o processo de absorção dos conteúdos tornou-se mais
evidente.
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Esperamos que programas como o citado, tenham continuidade, pois são reveladores da
condução da gestão, da harmonia social e da realização pessoal. A pesquisa é apenas uma
parte do exposto. Outros elementos poderão contribuir para a ampliação desse campo de
saber. Nesse sentido, com essa investigação, esperamos incentivar outros autores desse longo
processo.
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SOARES, C. L. Educação Física Escolar: conhecimento e especificidade. IN. Revista Paulista de Educação Física, n.2, p.6-12, 1996.
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ANEXOS Foto 01
ATIVIDADES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO
ESCOLA JOSÉ FERNANDES COELHO – POVOADO DE TAPERA – PETROLINA-PE
Foto 02
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ATIVIDADES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO ESCOLA JOSÉ FERNANDES COELHO – POVOADO DE TAPERA – PETROLINA-PE
Foto 03
AULA DE XADREZ
ESCOLA ELIETE ARAÚJO – PARQUE JOSEFA COELHO – PETROLINA-PE Foto 04
BANNER DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO
TROFÉUS RECEBIDOS PELOS ALUNOS EM CAMPEONATOS INTERNÚCLEOS – PETROLINA-PE
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Foto 05
ATIVIDADES DO PROGRAMA SEGUNDO TEMPO
ESCOLA JACOB FERREIRA – BAIRRO COSME E DAMIÃO – PETROLINA-PE Foto 06
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