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CESSÃO E SECURITIZAÇÃO DE CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016
Diretoria de Defesa Profissional e Estudos Técnicos – Unafisco Associação
Mauro José Silva
Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil
Julgador na DSRJ/SP
Doutor em Direito pela USP
Out/2016
Em alguns dias, teremos disponível para download no site da Unafisco uma cartilha com perguntas e respostas sobre cessão/securitização.
PROJETOS EM TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO
Projetos na Câmara:
Projeto de Lei Complementar 181/2015 – dispõe sobre a possibilidade de cessão
de créditos tributários da dívida ativa consolidada da União, Estados, Municípios
e DF, a pessoas jurídicas de direito privado;
Projeto de Lei 3.337/2015 – cria uma lei específica que trata sobre a cessão de
créditos da dívida ativa da União a pessoas jurídicas de direito privado. Propõe a
instituição de um REFIS eterno;
Projeto no Senado:
Projeto de Lei do Senado 204/2016 – dispõe sobre a permissão de cessão de
direitos creditórios, originados de créditos tributários e não tributários, parcelados,
inscritos ou não em dívida ativa, a pessoas jurídicas de direito privado.
• Nenhum projeto usa a palavra securitização, apenas cessão.
• PLS 204/2016 atinge créditos tributários parcelados, inscritos
ou não em dívida ativa.
• Quanto existe de créditos tributários parcelados na Receita
Federal?
• 66 bilhões (63 bi em parcelamentos especiais e 3 bi em
parcelamentos ordinários)
CONCEITOS INICIAIS
Cessão x Securitização:
Cessão – transmissão onerosa, pelo credor, de seu direito de crédito a terceiro
Securitização – processo pelo qual uma empresa orginadora/cedente transfere seu
direito creditório a uma securitizadora ou um FIDC. Estes agrupam diversos ativos
financeiros em diferentes níveis, ofertando-os publicamente no mercado de capitais
ou oferta de cotas
Originadora /
Cedente
Venda de
Créditos Securitizadora /
FIDC
Emissão
de Cotas
Investidores
• Qual a diferença entre cessão e securitização?
• Pode-se dizer que a cessão é um passo inicial necessário para que aconteça a securitização.
Mas a securitização exige ir adiante e cumprir vários requisitos da CVM, por meio de SPE ou
FIDC.
• Os projetos, na versão atual, preveem, na verdade, apenas
cessão dos créditos tributários. Um deles (PL 3337/2015) prevê
a novação em favor de empresa privada.
CONCEITOS INICIAIS
Sociedade de Propósito Específico (SPE) – existente no modelo de securitização
utilizado em no estado de São Paulo e em Belo Horizonte, entre outros. É uma
sociedade de economia mista que tem como função emitir e ofertar títulos e valores
mobiliários ao mercado de capitais, lastreados nos direitos creditórios do respectivo
ente federado.
Fundo de Investimento em Direito Creditório (FIDC) – fundo que destina parcela
de seu patrimônio para aplicação em direito creditório. O FIDC adquire créditos a
receber de uma empresa, por um valor abaixo do valor real do crédito. A diferença
entre o valor real do crédito e o valor de aquisição é utilizada para remunerar os
investidores do fundo. Essa modalidade de securitização prescinde da criação da
SPE.
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016
Alteração da Lei 4.320/64 e outras, passando a permitir aos entes da federação,
mediante autorização legislativa, ceder direitos creditórios originados de créditos
tributários e não tributários, objeto de parcelamentos administrativos ou judiciais,
inscritos ou não em dívida ativa, a pessoas jurídicas de direito privado.
Prevê a CESSÃO dos créditos parcelados
A instituição que adquirir os créditos poderá optar pela realização da securitização
• PLS 204/2016 não obriga a securitização, mas apenas prevê a cessão.
• Não há restrição impedindo a cessionária de adquirir créditos no qual ela
própria ou empresa do mesmo grupo, figure como devedora. A cessionária
poderá ceder os créditos adquiridos a terceiro, incluindo o próprio devedor
do crédito ou mesmo alguma empresa do próprio grupo da cessionária.
• Característica dos parcelamentos especiais: valores altos concentrados em
poucas empresas.
• Exemplo: Caso GERDAU (sem sigilo pois está no CARF) – mais de 4
bilhões de créditos tributário. Ainda não parcelado. Aguarda julgamento de
Embargos de Declaração na CSRF.
• Nada impede na redação atual que a Gerdau parcele seus débitos, este
parcelamento seja cedido a uma instituição financeira e esta faça uma nova
cessão para a própria Gerdau.
• A Gerdau aproveitaria, além das condições do parcelamento, boa parte do
deságio que a instituição financeira embutiu.
• Esse exemplo pode servir para créditos que envolvam a própria instituição
financeira ou empresa do grupo.
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016 – CRÉDITOS PARCELADOS NO
ÂMBITO DA RFB
• A aprovação do PLS 204/2016 irá promover um incentivo aos entes federados
para promoverem parcelamentos, principalmente os especiais
• Parcelamento Convencional – disponível para adesão do contribuinte a qualquer
tempo e, em regra, não restringe quais débitos poderão ser parcelados.
• Parcelamentos Especiais – estabelecem regras especiais, incluindo descontos
maiores de multas e juros. Têm prazo específico para adesão e restrição quanto aos
débitos que podem ser objeto do parcelamento.
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016 – CRÉDITOS PARCELADOS NO
ÂMBITO DA RFB
R$ 66 BILHÕES DE CRÉDITOS TRIBUTÁRIOS PARCELADOS
Os parcelamentos especiais apresentam alto índice de exclusão e inadimplência, e
baixo índice de liquidação.
A RFB estima que cerca de R$ 18,6 bilhões deixam de ser arrecadados de
obrigações tributárias correntes, por ano, em decorrência da publicação de
parcelamentos especiais.
A Unafisco, apoiada em artigo de pesquisador do Cnpq, entende que esse número
pode chegar a 50 bilhões.
Cultura de Inadimplência → deixa de pagar o tributo e investe os recursos na espera de
um novo programa de parcelamento. Relatório oficial da Receita Federal destaca essa
atitude.
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016 – CRÉDITOS PARCELADOS NO
ÂMBITO DA RFB
Parcelamentos não se mostram eficazes na recuperação do crédito tributário:
Efeitos danosos à arrecadação tributária corrente → Não há aumento na arrecadação
Contribuintes postergam o recolhimento dos tributos → optam por aplicar seus recursos
e parcelar os débitos tributários com descontos e condições mais vantajosas do que o
pagamento em dia
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016 – DESTINAÇÃO DOS RECURSOS
Os recursos obtidos com a venda dos ativos deverão ser aplicados:
No mínimo 70% em fundos de previdência;
Até 30% em despesas com investimentos → previsão inconstitucional.
Desrespeito às vinculações estabelecidas na Constituição
Desvia recursos da seguridade social (Ex: Parcelamento
de débitos de PIS, COFINS e Contribuições
Previdenciárias) → enfraquecimento da previdência e da
seguridade
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016 – OUTROS PONTOS
RELEVANTES
Limite de deságio e as taxas de juros envolvidas nas operações não estabelecidas.
Estima-se que as instituições financeiras irão atribuir um deságio de, no mínimo, 60%
do valor real do crédito. Em Minas Gerais, o deságio chegou a 82% em operação da
MGI Participações.
Em caso de inadimplência no pagamento do parcelamento pelo contribuinte, quem
arcará com o prejuízo será o Poder Público, uma vez que a estimativa de
inadimplência será considerada na estipulação do deságio.
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016 – OUTROS PONTOS
RELEVANTES
Veda a participação de instituições financeiras controladas pelo ente público emissor
dos créditos, nas operações de aquisição e securitização de créditos.
Proíbe, também, que os entes da Federação, cedentes dos direitos creditórios,
participe do capital social das instituições ou fundos envolvidos nas operações.
Modelo de securitização que envolve a criação de SPE não está permitido pelo PLS
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016 – CONCLUSÃO
Incentivo aos programas de parcelamentos não se mostra eficaz no incremento da
arrecadação → Apresentam alto índice de inadimplência, que será arcado pelo
Poder Público na cessão destes créditos;
Texto do PLS omisso com relação a pontos relevantes, em especial a limitação do
deságio e as taxas de juros a serem aplicadas;
Vinculação dos recursos obtidos fere a Constituição, enfraquecendo a Previdência .
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016 – CONCLUSÃO
Como a cessão/securitização irá impactar o trabalho do Auditor-
Fiscal?
Atualmente, as instituições financeiras já tem boa parte de seu lucro advindo da
exploração da dívida pública, mas com a cessão/securitização, passarão a ser
sócias da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito Federal com relação à
parte nobre dos créditos tributários.
Especificamente em relação à Receita Federal, as operações de cessão e
securitização tornarão os Auditores-Fiscais mão de obra terceirizada das
instituições financeiras privadas, já que estas serão as cessionárias dos direitos
creditórios parcelados.
Cada vez que um Auditor -Fiscal lavar um auto, julgar uma impugnação ou
realizar uma cobrança, estará trabalhando para aumentar o lucro das instituições
financeiras.
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016 – CONCLUSÃO
E para o Brasil, interessa existir essa possibilidade de cessão dos
créditos tributários? Qual a alternativa?
A cessão/securitização envolve ceder os créditos tributários com enorme deságio
e permanecer com o Poder Público todo o risco, então não interessa para o Brasil.
Interessa, e muito, para as instituições financeiras, empresas de consultoria e de
rating, pois são estes os maiores beneficiados com os custos envolvidos e com as
altas taxas de administração.
A cessão/securitização dos créditos tributários parcelados no âmbito da Receita
Federal renderia, no máximo, 26 bilhões a serem divididos entre União, Estados e
Municípios.
PROJETO DE LEI DO SENADO 204/2016 – CONCLUSÃO
E para o Brasil, interessa existir essa possibilidade de cessão dos
créditos tributários? Qual a alternativa?
Uma alternativa a todo tipo de “solução mágica” no lado da arrecadação é a
implantação de um Pacto Nacional de Combate a Sonegação.
Temos uma sonegação de 372 bilhões. Se diminuirmos essa sonegação em 25%
em três anos, teríamos 30/60/90 bi nesses três anos sendo acrescentados à
arrecadação somente combatendo o sonegador, sem criar mais impostos.
Com a criação do Imposto sobre Grandes Fortunas, outros 6 bilhões poderiam ser
arrecadados;
A volta da tributação sobre lucros e dividendos, que existia até 1995, poderia
render 43 bilhões aos cofres públicos.
Tudo isso pode evitar a implantação do remédio amargo previsto na PEC
241/2016, afetando sensivelmente a saúde e a educação.
PROJETOS EM TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO
PROJETOS EM TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO
PROJETOS EM TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO
PROJETOS EM TRAMITAÇÃO NO CONGRESSO
Referência bibliográficas:
ALCAIRE, Mariana Rosa de Azevedo Basso. Securitização de recebíveis. Florianópolis, 2016.
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www.unafiscoassociacao.org.br
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