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Esta obra analisa a comunidade virtual de aprendizagem e interatividade, unindo as relações de ensino e aprendizagem colaborativas e cooperativas. O leitor aprenderá ainda sobre os processos de aprendizagem enquanto resultados de relações sociais on-line, além da apresentação de estudos de casos.
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COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS
COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS
5Comunidades de aprendizagem e estratégias pedagógicasApresentação
Apresentação
Um conteúdo objetivo, conciso, didático e que atenda às expectativas de quem leva
a vida em constante movimento: este parece ser o sonho de todo leitor que enxerga
o estudo como fonte inesgotável de conhecimento.
Pensando na imensa necessidade de atender o desejo desse exigente leitor é que
foi criado este produto voltado para os anseios de quem busca informação e
conhecimento com o dinamismo dos dias atuais.
Com esses ideais em mente, nasceram os livros eletrônicos da Cengage Learning,
com conteúdos de qualidade, dentro de uma roupagem criativa e arrojada.
Em cada título é possível encontrar a abordagem de temas de forma abrangente,
associada a uma leitura agradável e organizada, visando facilitar o aprendizado e
a memorização de cada disciplina.
A linguagem dialógica aproxima o estudante dos temas explorados, promovendo a
interação com o assunto tratado.
Ao longo do conteúdo, o leitor terá acesso a recursos inovadores, como os tópicos
Atenção, que o alertam sobre a importância do assunto abordado, e o Para saber mais, que apresenta dicas interessantíssimas de leitura complementar e curiosida-
des bem bacanas, para aprofundar a apreensão do assunto, além de recursos ilustra-
tivos, que permitem a associação de cada ponto a ser estudado. Ao clicar nas palavras-
-chaveemnegrito,oleitorserálevadoaoGlossário,parateracessoàdefinição
da palavra. Para voltar ao texto, no ponto em que parou, o leitor deve clicar na
própria palavra-chave do Glossário, em negrito.
Esperamos que você encontre neste livro a materialização de um desejo: o alcance
doconhecimentodemaneiraobjetiva,concisa,didáticaeeficaz.
Boa leitura!
7Comunidades de aprendizagem e estratégias pedagógicasPrefácio
Prefácio
A ideia de comunidades de aprendizagem pode ser autoexplicativa: trata-se
de conjuntos de indivíduos independentes que, com base em seus objetivos
e abstrações, agregam-se por vontade própria a fim de trabalhar e aprender,
influenciando-seunsaosoutrosdentrodeumprocessodeaprendizagem.
A aprendizagem de colaboração entre professor e estudante é o elemento principal
das comunidades de aprendizagem. Na verdade, o trabalho em conjunto fomenta
a melhora da educação.
O conteúdo elaborado no material intitulado COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM
E ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS visa levar ao leitor um conteúdo didático e
abrangente acerca do assunto.
Afinal,dentrodascomunidadesdeaprendizagemquecarregamcomoobjetivoa
melhora da educação, quais estratégias podem ser adotadas para que tal objetivo
possa ser alcançado?
Questionamentos como este serão sanados no decorrer dos conteúdos, distribuídos
entre as 4 unidades da disciplina.
Pensadores históricos e a realidade vigente serão levados em conta ao longo do estudo.
O processo de mudança de um determinado contexto somente é possível de ser
alterado se os indivíduos obtiverem interesses comuns. Esse será o maior incentivo
para a mudança e melhora.
Bons estudos.
9Unidade 1 – Educação como processo social: aprendizagem e interação
UNIDADE 1EDUCAÇÃO COMO PROCESSO SOCIAL: APRENDIZAGEM E INTERAÇÃO
Capítulo 1 Introdução, 10
Capítulo 2 Comunidade e sua relação com a sociedade, 10
Capítulo 3Especificidadesdacomunidade,12
Capítulo 4 Interação social e transmissão de conhecimento, 14
Capítulo 5 Tecnologias de transmissão de conhecimento, 18
Capítulo 6 Comunidades de aprendizagem e pedagogia, 23
Capítulo 7 Aprendizagem e história, 25
Glossário, 28
10 Comunidades de aprendizagem e estratégias pedagógicas
1. Introdução
Esta primeira unidade procura apresentar as questões que têm sido discutidas no
âmbitodaFilosofia,dasCiênciasSociaisedaPedagogiasobreatransmissãodo
conhecimento.Ospontosprincipaisaseremabordadossão:1)aespecificidadeda
transmissão do conhecimento em comunidades; 2) a importância da interação/
interatividade no processo de ensino/aprendizagem; e 3) a contribuição deste, por
sua vez, para a constituição da consciência do sujeito histórico.
2. Comunidade e sua relação com a sociedade
Existem provavelmente muitas maneiras de definir o conceito de comunidade.
Em qualquer uma delas é necessário considerar a relação da comunidade com a
sociedade. Sempre que uma comunidade é discutida, seu contraponto conceitual e
necessário é evocado, ou seja, toda vez que se evoca a vida em comunidade, esta se
coloca em contraponto à vida em sociedade. Outro aspecto utilizado para fazer essa
distinção, é o fato de o termo “sociedade” se referir a agrupamentos das grandes
cidades, de metrópoles e de grandes centros urbanos, enquanto “comunidade”,
em linhas gerais, a grupos de pequena escala e tradicionais, como aborígenes ou
índios.
A diferenciação entre os dois tipos básicos de organização social, a comunidade
(Gemeinschaft) e a sociedade (Gesellschaft), certamente é uma das obras mais co-
nhecidas do sociólogo alemão Ferdinand Tönnies (1855-1936), embora não seja
sua única contribuição à análise sociológica. A despeito da discussão sobre a
metodologia científicano campoda sociologia, as relações de comunidade, que
são típicas de grupos como os de caçadores-coletores e hordas – portanto grupos
relativamente pequenos e pré-industriais – baseiam-se na coesão nascida do pa-
rentesco, das práticas herdadas dos antepassados e dos fortes sentimentos mági-
co-religiosos que unem o grupo. Por outro lado, para Tönnies, as relações de so-
ciedade são típicas de grupos que vivem nas cidades desenvolvidas, organizam-se
em Estados e possuem uma complexa divisão do trabalho.
PARA SABER MAIS: MIRANDA, Orlando de. (Org.). Para ler Ferdinand Tönnies. São Paulo: Edusp, 1995.
A explicação das particularidades de cada contexto é dada por meio da noção de
vontade e solidariedade proveniente desta. Para Tönnies, as relações sociais são
provenientes da vontade humana. Existem basicamente dois tipos de vontade:
uma é a vontade essencial que é a tendência básica, instintiva, espontânea,
irrefletida, orgânica, que impulsiona a atividade humana a partir detrás, e a
vontade arbitráriaqueéaformadevontadedeliberada,reflexiva,quevisaaos
11Unidade 1 – Educação como processo social: aprendizagem e interação
fins, finalista, capaz de determinar a atividade humana em relação ao futuro.
A vontade essencial domina a vida dos camponeses, dos artesãos, das pessoas
comuns, enquanto a vontade arbitrária caracteriza as atividades dos homens de
negócios, dos cientistas, das pessoas investidas de autoridade e dos indivíduos
das classes superiores.
Esses dois tipos de vontade explicam a existência de dois tipos fundamentais de
grupos sociais ou de “sociedades”. Um grupo pode existir e manter-se porque a
simpatia entre os seus indivíduos os leva a sentir que essa relação é um “bem em
simesmo”,oupodenascercomoinstrumentoparaseconseguiralcançarum“fim
determinado”. Ao primeiro tipo de grupo, expressão da vontade essencial, Tönnies
chama comunidade (Gemeinschaft) e, ao grupo que deriva da vontade arbitrária,
sociedade (Gesellschaft). A comunidade é uma forma social caracterizada por
relações pessoais, intenso espírito emocional e constituída pela cooperação, pelos
costumes e pela religião. Essa organização social é encontrada na família, na
aldeia e em pequenas comunidades urbanas. A sociedade é uma organização de
grande escala, como a cidade, o Estado ou a nação, que se funda nas relações
impessoais, nos interesses particulares, no direito e na opinião pública. Tönnies
estudou a família, a vizinhança e o grupo de amigos, como exemplos de estruturas
comunitárias, e a cidade e o Estado, como exemplos de estruturas societais.
Tal diferenciação não se aplica somente como uma tipologia “estática” dos
agrupamentos humanos, mas também dá a possibilidade para se explicar a
passagem das “sociedades tradicionais” para as “sociedades modernas”, portanto,
as fases originárias do desenvolvimento histórico da humanidade visto como
processo de racionalização crescente: a modernização. A sociedade emerge,
mediante a especialização das atividades realizadas pelas pessoas, os serviços, a
estrutura da comunidade, em especial no momento em que as mercadorias e os
serviços passam a ser negociados em mercado livre.
A comunidade e a sociedade são produtos de dois
tipos diferentes de vontade social. As vontades hu-
manas podem estabelecer entre si “múltiplas re-
lações” e podem dirigir-se ou para a conservação
da ordem social, ou para a sua destruição. As re-
laçõesde“afirmaçãorecíproca”queinteressam
à sociologia variam de intensidade. Um “estado
social” existe quando duas pessoas desejam es-
tabelecer determinada relação, que geralmente
é reconhecida pelas demais pessoas. O “círculo”
surge quando um estado social prevalece entre duas
oumais pessoas. No entanto, algomais significativo
ocorre quando se amplia esse número. A partir do momen-
12 Comunidades de aprendizagem e estratégias pedagógicas
to em que os indivíduos acreditam que constituem uma comunidade organizada
em função de características naturais ou psíquicas, aparece a noção do “coletivo”.
Ocoletivo é,portanto,nãoapenasumaampliaçãodo círculo,mas,finalmente,
quandosurgeuma“organização”formalqueatribuifunçõesespecíficasadeter-
minados indivíduos. O corpo social converte-se em uma espécie de “corporação”.
Todas essas formações sociais podem fundar-se na vontade essencial ou na von-
tade arbitrária.
Tönniesapresentoutambémumaclassificaçãooriginaldasnormassociais,que
está intimamente relacionada com a distinção fundamental entre comunidade e
sociedade. O direito consiste no conjunto das normas sociais que, de acordo com
o seu sentido, podem ser aplicadas pelos tribunais. As regras morais são aquelas
normas que, de acordo com o seu sentido, são aplicadas por um “juiz”, seja ele
pessoal, divino ou abstrato. A concórdia consiste em regras que se baseiam em
relações derivadas da comunidade e que são consideradas naturais e necessárias.
Os costumes são regras que têm suas raízes nas práticas tradicionais, enquanto
as convenções se baseiam em “acordos” expressos ou tácitos que, por sua vez, se
fundam sobre metas comuns, para cuja consecução as regras são vistas como meios
adequados. O direito e a convenção são característicos das associações ligadas à
sociedade; já as regras morais e a concórdia, às comunidades; e os costumes
parecem implicar os dois tipos sociais básicos. Enfim, todos esses aspectos
(direito, regras morais, concórdia, discórdia, costumes, convenções, acordos) são
os conceitos a partir dos quais são pensadas as relações e particularidades entre
comunidade e sociedade.
A partir das ideias de Tönnies, é possível perceber não só que a comunidade
possui características que lhe são inerentes, mas também que a comunidade é
proveniente de um tipo específico de relação social, qual seja, aquele fundado
sobre os laços de parentesco, da cooperação, dos costumes e das crenças.
3.EspecificidadesdacomunidadeAideianãoéafirmar,pormeiodosargumentosdeTönnies,quenãoexistem,nas
comunidades, questões ligadas à larga escala dos fenômenos sociais, ou que não
se está referindo a alguma forma de Estado, ou de Direito, ou de Opinião Pública.
Aescolhadestepercursoéjustificadapeloexcessodecuidadoemsedefiniroque
vem a ser, no contexto contemporâneo, o conceito de comunidade.
Seguindo as ideias de Tönnies, numa contraposição ao pensamento do sociólogo
francês E. Durkheim (1858-1917), pode-se dizer, sem sombra de dúvidas, que a
comunidadepossuiespecificidades,tantoquantoseuparantípoda:asociedade.
No que diz respeito às qualidades intrínsecas à comunidade, aspectos ligados à
linguagem, à forma, à maneira, ao conteúdo e à importância, mas sobretudo no
que se refere às vontades e, eventualmente, aos objetivos.
13Unidade 1 – Educação como processo social: aprendizagem e interação
No quesito ligado à dimensão, hoje se pode falar de grandes comunidades, embora
aspectos ligados a uma comunidade de pequena escala podem já ter se perdido.
Ademais, existem formas transitórias entre os dois modelos, que funcionam como
espécies de tipos ideais para nos ajudar a pensar.
A comunidade, caracterizada a partir da consanguinidade, expressa uma relação
emotiva e de laços mais consistentes. Mesmo as grandes comunidades, que
poderiam estar a meio termo entre as comunidades de pequena escala e as grandes
metrópoles (e centros urbanos), apresentam muitos aspectos ligados às pequenas
comunidades e aldeias de povos tradicionais.
Outra forma de tratar as comunidades é a abordagem dos grupos que se desen-
volvem no interior das sociedades. Nichos culturais que são caracterizados por
diversas particularidades, mas que devem possuir a recorrência de reunião de
interesses comuns, tal qual nas hordas descritas desde Henry Morgan e Johann
Jakob Bachofen, mas especialmente pela consideração da discussão realizada no
Leviatã, de Thomas Hobbes (1651), sobre os “direitos”, a “moral” e as “formas de
comportamento”. Infringir uma regra, mesmo que esta seja apenas uma parte de
um costume, implica reconhecimento, por parte dos membros, devido ao compar-
tilhamento de códigos. É o Estado que possui a força para repreender aquele que
14 Comunidades de aprendizagem e estratégias pedagógicas
infringe os “direitos” e a “moral” na esfera mais ampla da sociedade, portanto,
um poder exógeno e superior aos grupos de interesses. O Estado é associado por
Hobbes ao monstro marinho Leviatã, citado no Antigo Testamento.
Nas comunidades localizadas dentro das sociedades, é comum que seus integrantes
se reconheçam nas ruas a partir do compartilhamento de determinados códigos
(que podem ser roupas ou acessórios, tatuagens ou piercings,linguagemespecífica,
habilidades etc.). O compartilhamento de códigos possibilita que as condutas
condizentes com esses códigos sejam reconhecidas, mas também possibilita
identificareeventualmenteatépunircomalgumasançãoascondutasqueinfrigem
determinadas regras.
Entreaspossibilidadesdedefiniçãoeparticularidadedoconceitodecomunida-
de, pode-se mencionar que a comunidade é um grupo de indivíduos (geralmente
com relações territoriais) que compartilham sistemas de códigos e com relações
de reciprocidade.
4. Interação social e transmissão de conhecimentoApesar de aparentemente simples, a palavra “interação” (ou “interatividade”) é
umapalavradedifícilconceitualização,poisexistemdiversossignificados,ainda
maisquandosepensaemcontextosespecíficose,principalmente,quandosefala
de educação. Em um sentido mais amplo, a sociologia e a psicologia social falam
da interação a partir das formas comunicacionais que as pessoas utilizam quando
estão em contato. Mais do que apenas um contato, a interação pressupõe uma
relação, que pode ser positiva ou negativa para ambos os interlocutores.
Tomada em sua acepção pedagógica, o interacionismo, segundo Vygotsky,
pressupõe a relação entre o indivíduo e a cultura, o meio cultural em que vive. O
meio cultural distingue-se do meio natural pelo aparato simbólico e social no qual
o sujeito está inserido.
O interacionismo simbólico é uma abordagem teórica realizada pela sociologia
para investigar as relações humanas. Considera-se de suma importância a
influência,nainteraçãosocial,dossignificadosparticularestrazidospeloindivíduo
àinteração,damesmamaneiraossignificadosbastanteparticularesqueeleobtém
a partir dessa interação, sob sua interpretação pessoal. Surgida na Escola de
Chicago, essa abordagem é especialmente relevante na chamada microssociologia
e na psicologia social.
No entanto, o interacionismo simbólico não se limita a essa definição. Segundo
GeorgWilhelm Friedrich Hegel (1770-1831), por exemplo, e outros filósofos que
escreveram sobre a linguagem, o mundo simbólico só se constrói a partir da interação
entre dois ou mais sujeitos. Assim, o simbolismo não é resultado de interação do
15Unidade 1 – Educação como processo social: aprendizagem e interação
sujeito consigo mesmo ou de sua interação com um objeto. Apesar de se tratar de
um sentido individual e uma base para todos e quaisquer sentidos que cada um
produz, tal base é fundada nas interações do indivíduo, ou naquilo que o sujeito
(“eu”) realiza, sendo regulado pela coletividade (“nós”) que é construída socialmente.
PARA SABER MAIS: SCHLEMMER, Eliane. “Projetos de aprendizagem baseados em problemas: uma metodologia interacionista/construtivista para formação de
comunidades em ambientes virtuais de aprendizagem”. In: Colabor@ – Revista Digital da CVA – Ricesu, Pelotas, v. 1, n. 2, nov., 2001. Disponível em: <http://pead.ucpel.tche.br/revistas/index.php/colabora/article/viewFile/17/15>. Acesso em: 23 mar. 2015.
Ointeracionismosimbólicoseinteressapelacriaçãoecirculaçãodossignificados
durante a interação entre as pessoas, pela maneira que se apresentam e constroem
aidentidade,epelomodocomosãodefinidasassituaçõesdecoparticipação.Uma
das ideias centrais dessa perspectiva teórica é que as pessoas agem de determinada
maneiradevidoaomodocomosãodefinidastaissituações.
Embora o uso de conceitos do interacionismo simbólico tenha sido difundido entre
sociólogos e influenciado especialistas em psicologia social, tal perspectiva foi
criticada, particularmente durante os anos 1970, quando os métodos quantitativos
se tornaram dominantes na sociologia.
Às críticas metodológicas, se somam as críticas às supostas limitações teóricas para
lidar com questões mais amplas relacionadas, por exemplo, com o poder e com a
estrutura social, entre outros aspectos macrossociológicos; embora vários teóricos
do interacionismo simbólico tenham trabalhado também com esses temas, sem
contudo alcançarem êxito no reconhecimento e na legitimidade nos campos de co-
nhecimento mais acostu-
mados a enfocarem esse
nível de interação.
A palavra interatividade,
por sua vez, é relativa-
mente recente na história
das línguas. Teria surgi-
do na década de 1960,
nos âmbitos das artes, da
crítica literária e das mí-
dias de massa, bem como
das novas tecnologias,
embora o termo intera-
ção seja bem mais antigo,
constando em dicionários
16 Comunidades de aprendizagem e estratégias pedagógicas
de língua inglesa já no século XIX. Embora com origens relativamente diversas,
os termos interatividade e interação são muitas vezes utilizados como sinônimos
e com um adjetivo em comum. Quando ocorre interação ou interatividade, usa-se
o adjetivo interativo para ambos os casos. Dessa maneira, certa confusão semân-
tica se armou em torno desses vocábulos. Alguns pesquisadores utilizam ambos
ostermos.Outrosprocuramconstruirdefiniçõesmaisespecíficasparacadaum
deles. Outros ainda criticam o uso do termo interatividade, aceitando apenas a
palavra interação, enquanto outros ainda defendem que a interatividade é um dos
fenômenos mais importantes e característicos da modernidade.
PARA SABER MAIS: “O que é interatividade?”. In: Boletim Técnico do Senac, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, maio/ago. 1998. Disponível em: <www.senac.br/BTS/242/
boltec242d.htm. Acesso em: 23 mar. 2015.
E. D. Wagner (1997; 1994) faz uma distinção entre esses dois conceitos. A interação,
segundo esse autor, envolveria o comportamento e as trocas entre indivíduos e
gruposqueseinfluenciam,noscasosemqueháeventosrecíprocos,querequerem
pelo menos dois objetos e duas ações. A interatividade, por sua vez, envolveria os
atributos da tecnologia contemporânea utilizada nas várias modalidades de Ensino
a Distância, que permite conexões em tempo real. Em outras palavras, enquanto
a interação estaria associada a pessoas, a interatividade estaria associada à
tecnologia e aos canais de contato e comunicação. Outros autores falam ainda de
uma nova forma de relação entre os homens e as máquinas (eletrônico/digital),
distinta da interação social e mesmo de outro tipo de interatividade (mecânica/
analógico) característico das mídias mais antigas.
No entender de Marco Silva (2006), interatividade representa o espírito de um novo
tempo, uma revolução na educação. Para Alex Primo (2007), não há interatividade,
por isso utiliza apenas interação em seu vocabulário, na medida em que não
interessa a simples interação entre homens e máquinas, mas, sim, as interações
entre os seres humanos, que podem ser mediadas pelo computador.
De qualquer forma, pode-se dizer, no que concerne à interatividade, que se trata
de um conceito fragmentado e inconsistente justamente pela amplitude de usos
e de significados. Como tem sido utilizado para asmais variadas atividades e
objetos (como programas de televisão, computadores, softwares, brinquedos,
videogames, realidade virtual etc.), tal uso extensivo e elástico acaba tornando o
conceito impreciso e confuso. Não se pretende neste texto resolver esse problema
conceitual, mas o exercício nos ajuda a tatear os campos semânticos dessas
palavras e, quem sabe, poder ter alguma clareza sobre a importância das relações
da interação e da interatividade com a educação e com os processos de transmissão
de conhecimentos.
17Unidade 1 – Educação como processo social: aprendizagem e interação
O processo de aprendizagem pressupõe a relação do sujeito com algo que está fora
dele, ou seja, o mundo, o ambiente externo ao corpo, como objeto do conhecimento;
e o outro, em geral de uma geração anterior (principalmente nos primeiros anos de
vida), como um interlocutor e mediador entre o sujeito e o mundo. O sujeito pode
produzir conhecimento sem a necessidade de interação com o outro. No entanto, o
pressuposto da relação continua valendo, pois não existe conhecimento em si, tendo
em vista que sempre se conhece algo sobre alguma coisa. O objeto do conhecimento
e seu protagonista, o sujeito (ou conhecedor), sempre estarão relacionados.
A relação do sujeito com o ambiente só é possível devido às capacidades per-
ceptivas do ser humano. Sem os órgãos sensoriais não se poderia saber o que
está acontecendo ao redor. A faculdade sensorial do ser humano possibilita sua
relação empírica com o mundo exterior e, consequentemente, a produção de co-
nhecimento sobre este. O que importa – desde a mais remota época da espécie
humanaatéosdiasatuais (filogenia), oudamais tenra infânciaatéa velhice
(ontogenia) – conhecer o meio ambiente no qual o ser humano está inserido. A
sobrevivência da espécie ou do indivíduo depende necessariamente do conheci-
mento que se produz a respeito do mundo. No entanto, não se conhece apenas
o mundo exterior, mas também, e sobretudo, o mundo interior, psicológico, mé-
dico,filosófico,artísticoehumanístico.Énadiscussãosobreesteúltimoqueo
processo de transmissão do conhecimento nos interessa particularmente. Não
existe campo de conhecimento que seja (e esteja) por si mesmo exterior à hu-
manidade, uma vez que é o homem que o produz. Uma árvore fora da botânica
é uma árvore, entretanto, certas propriedades de um vegetal só são conhecidas
porque a botânica as revela.
O conhecimento, em sua origem, teve de ser necessariamente “conhecimento empírico”, no sentido mais forte que essa expressão possa ter. Por esse motivo, os
voosfilosóficos,quersejamsobremetodologiaoumetafísica,puderamserefetivos
quanto à produção de explicações convincentes e legítimas sobre os fenômenos.
Seja como for, o empírico, tanto como substantivo quanto como adjetivo, depende,
por sua vez, da experiência. Não existe o conhecimento empírico sem a devida
experiência sobre tal ou qual objeto. A etimologia da palavra experiência mostra
que seu trajeto inicia com o termo latim empiricus, “médico com experiência”, o
termo grego empeirikós, “experiente”, sendo empeiria, ou seja, “experiência”.
Ao longo dos tempos, a humanidade tem mudado a relação entre sujeito e objeto,
o que ocorre devido às mudanças no meio, produzidas muitas vezes pelo próprio
homem – que o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883) chamou de “condições
materiais de produção e reprodução social”. Pode-se dizer que se trata de um
mecanismo que se retroalimenta continuamente. A base material muda em virtude
do acúmulo de conhecimento e, por outro lado, o conhecimento se amplia devido
às novas possibilidades materiais.
18 Comunidades de aprendizagem e estratégias pedagógicas
Essas transformações conduzem o pensamento necessariamente às diferentes
pedagogias da interação e às formas desenvolvidas com a intenção de analisar
o processo de produção e transmissão de conhecimento. Desde sociedades de
pequena escala até as sociedades complexas, passando por todos os “estágios”
possíveis entre esses dois polos, tal processo se faz presente embora se deva
guardar as proporções e diferenças.
Tanto a epistemologia genética do francês Jean Piaget (1896 - 1980) quanto o so-
ciocronstrutivismo do russo Lev Vygotsky (1896 - 1934) são considerados teorias
interacionistas, ou seja, o indivíduo se desenvolve e aprende por meio de intera-
ções com outros indivíduos e com o meio. O conceito de Zona de Desenvolvimen-to Proximal (ZDP),deVygotsky,ébeminteressante,nessesentido,poisdefineo
espaço entre o que a criança pode aprender sozinha e até onde ela pode chegar por
meio de interações com alguém mais experiente (um adulto, por exemplo). O que
caracteriza a ZDP é justamente o papel desempenhado pela interação.
PARA SABER MAIS: IVIC, Ivan. “Lev Semionovich Vygotsky (1896-1934)”. Perspec-tivas: revista trimestral de educación comparada. Paris: Unesco: Oficina Interna-
cional de Educación, v. XXIV, n. 3-4, 1994. p. 773-799. Também disponível em: <www.ibe.unesco.org/publications/ThinkersPdf/vygotskys.PDF>. Acesso em: 29 abr. 2015.
Abrindomãodatentativadedefinirníveisdeinteratividade(ouinteração)paraos
processos de transmissão de conhecimento e avaliação do aprendizado realmente
adquirido, vale a pena focalizar mais intensamente as questões e dificuldades
relacionadasàtransmissãodeconhecimentoemseuâmbitofilosófico.
A interação – entre pessoas no mundo real, ou entre pessoas no mundo virtual
– é um pressuposto para a transmissão de conhecimento. Como combinar ferra-
mentas que medem os níveis de interação (indo da proatividade à reatividade) e
relacioná-las à transmissão de conhecimento? São diversas as questões possíveis
quando se buscam os pontos de contato entre a transmissão do conhecimento e
as interações. Tais interações podem ser de diversos tipos: interpessoais (entre
pessoas), entre as pessoas e o meio, interpessoais e entre pessoas/meio.
5. Tecnologias de transmissão de conhecimentoA produção de conhecimento por meio das interações entre o sujeito e seu meio
vem sendo discutida pela humanidade desde os pré-socráticos VIII a.C. Heráclito
de Éfeso, Parmênides de Eleia e Demócrito de Abdera são bons exemplos para tra-
zer à lembrança a antiguidade dessas questões entre nós. A relação entre os opos-
tos, a transitoriedade e a estabilidade, os sentidos e a razão, a transformação e a
perenidade, a opinião e o conceito, a essência e a aparência. Os dilemas que move-
ram e movem a curiosidade da humanidade continuam impulsionando a produção
19Unidade 1 – Educação como processo social: aprendizagem e interação
deconhecimentocientíficonabuscado
que se entende por “verdadeiro”.
O conhecimento se constrói tendo como
ambivalência pensamento e percepção.
Qual seria a relação entre o pensamento
e a percepção? O pensamento continua,
nega ou corrige a percepção? (CHAUÍ,
p. 138). A partir de Sócrates, inicia-se
uma nova jornada em busca do conhe-
cimento, quando ele propõe alcançar a
verdade abandonando as ilusões dos
sentidos, as imposições das palavras e
a multiplicidade das opiniões. Os senti-
dos dão apenas a impressão da aparên-
cia das coisas e as palavras são meras
opiniões sobre tais aparências, por essa
razão, para conhecer é preciso abando-
nar o mundo dos sentidos e das opini-
ões, pois aí estaria a contradição e o erro. Para Sócrates, é preciso passar da opinião
ao conceito e da aparência à essência. Para tal deve-se necessariamente abandonar
as opiniões e as ilusões dos sentidos.
O conhecimento é pensado por Sócrates a partir da maiêuticaquesignifica“daràluz (parto)”. Esta palavra é originada do vocábulo grego maiutiké [techné] que desig-
na o processo pedagógico socrático de fazer perguntas para obter um conceito geral
do objeto em questão. Por meio das perguntas o sujeito inquiridor consegue seu
objetivopeloprocedimentoindutivoderaciocínio.Maiêuticasignificaaartedereali-
zarpartos.OtrabalhodeSócratesévistoporelecomoodeumaparteira(profissão
de sua mãe), no caso, ajudando os outros a extrair de dentro de si o conhecimento,
uma vez que se acreditava que a verdade estaria dentro do próprio ser humano.
Assim, o radical techné, utilizado no vocábulo “tecnologia”, possui significados
ligados à “arte de realizar partos”, ou seja, produzir conhecimento, como diria
Sócrates. No entanto, não se trata de qualquer conhecimento, mas, sim, de um tipo
de conhecimento que se afasta da opinião e da aparência e se aproxima do conceito
e da essência. Essa é a busca da verdade para Sócrates. Portanto, conhecimento
“verdadeiro” e “essencial” está intimamente ligado à ideia de tecnologia. Pode-se dizer
que tecnologia, antes de tudo, é tecnologia de pensamento, tecnologia intelectual.
Fala-se de “técnicas” mesmo quando não há o uso de um instrumento ou ferra-
menta. De alguma forma, a tecnologia intelectual desenvolvida ao longo de gera-
ções condicionou o ser humano a utilizar seu corpo de determinadas maneiras.
20 Comunidades de aprendizagem e estratégias pedagógicas
A “arte de realizar partos” e a de “utilizar o corpo humano” estão intimamente
ligadas à educação.
Uma concepção de tecnologia mais ampliada, que englobe também as tecnologias
intelectuais e de pensamento, possibilita romper com um dos debates em torno
da tecnologia e seus usos, devido ao fato de essa controvérsia estar ancorada
na relação entre engenharia e ciência, portanto
ligada à cultura material. As tecnologias
intelectuais possibilitam sua própria ampliação
por meio da produção material. No entanto, o
inverso nem sempre será verdadeiro, uma vez
que a concepção prescinde de sua realização.
De Sócrates aos dias atuais, a despeito das
enormes modificações, o ser humano continua
ligado à ideia de conhecimento como uma forma de
tecnologia. No entanto, para que o conhecimento
pudesse se tornar uma forma de tecnologia
pragmática, foi necessário desenvolver formas de
transmitir às próximas gerações o conhecimento
adquirido, passando, então, a se problematizar a
questão metodológica e metateórica.
21Unidade 1 – Educação como processo social: aprendizagem e interação
A Teoria do Conhecimento, também conhecida como Epistemologia, é o ramo da
filosofiaqueseencarregadanatureza,dasorigensedavalidadedoconhecimento.
Tem muita importância para a ciência, pois se encarrega de corrigir os caminhos
daproduçãodeconhecimentocientífico.
O conhecimento sobre o conhecimento – que pode ou não deixar de fora o “saber
como” e a “familiaridade” (diferentes tipos de conhecimento) – sempre acaba
tratando da ordem da aquisição, da validade, da legitimidade e da transmissão do
conhecimento.Nessecampo,descortinam-seasdificuldades ligadasàsrelações
intersubjetivas. O que e como o outro entende o que lhe é ensinado? Como é
possível legitimar o conhecimento que se transmite? A transmissão em si já seria
uma forma de legitimação? Quais as maneiras de produção de legitimação e suas
relações com a transmissão?
Sabe-se que a transmissão tem o poder de disseminar e de multiplicar o número
de pessoas que adquirem um conjunto de informações, mas o entendimento e o
uso prático de tais conhecimentos são sempre relativos e dependentes de uma
série de outras condições materias para a realização. Dessa forma, sempre se
estará falando de situações nas quais não se pode tomar apenas um parâmetro
comparativo.
O conhecimento como uma forma de tecnologia, por um lado, e a necessidade de
desenvolvimento de tecnologias para a transmissão do conhecimento, por outro,
amarram o problema para a questão da pedagogia e das teorias do conhecimento,
bem como a respeito do metaconhecimento (conhecimento sobre o conhecimento)
ou metateoria (teoria sobre a teoria). Esse campo da filosofia se tornou uma
disciplina específica na IdadeModerna, pois, para osmodernos, a questão do
conhecimento foi considerada anterior à questão da ontologia, sendo assim pré-
requisitoparaafilosofiaeparaasciências.
Mediante essas considerações, serão abordadas
as searas da metodologia para a produção do co-
nhecimento (metodologia científica) e a que trata
da transmissão do conhecimento (pedagogia). A
pedagogia é um campo científico que tem como
objeto de estudo a educação e o processo de ensi-
no-aprendizagem. As formas de educação desen-
volvidas desde os gregos antigos são revisitadas
nos séculos XVII e XVIII, a partir de Jan Amos Co-
menieus, bispo protestante considerado fundador
da didática moderna e das ideias iluministas de
Jean-Jacques Rousseau.
A partir da base iluminista, a pedagogia recebeu
Esta obra analisa a comunidade virtual de aprendizagem e interatividade, unindo as relações de ensino e aprendizagem colaborativas e cooperativas. O leitor aprenderá ainda sobre os processos de aprendizagem enquanto resultados de relações sociais on-line.
COMUNIDADES DE APRENDIZAGEM E ESTRATÉGIAS
PEDAGÓGICAS
ISBN 978-85-221-2383-4
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