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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA –
PROPPEC
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS -
PMGPP
O CALÇADÃO DE CURITIBA:
AVANÇOS E RETROCESSOS COMO ESPAÇO PÚBLICO DA CIDADE
José Cláudio dos Santos Revorêdo
ITAJAÍ (SC) – 2013
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRAUDAÇÃO, EXTENSÃO E CULTURA –
PROPPEC
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS
PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS -
PMGPP
O CALÇADÃO DE CURITIBA:
AVANÇOS E RETROCESSOS COMO ESPAÇO PÚBLICO DA CIDADE
José Cláudio dos Santos Revorêdo
Dissertação apresentada à Banca Examinadora no
Mestrado Profissional em Gestão de Políticas Públicas da
Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, sob a orientação
da Profª Drª Maria Glória Dittrich como exigência parcial
para obtenção do título de Mestre em Gestão de Políticas
Públicas.
ITAJAÍ (SC), 2013
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Deus, nosso criador.
A meus pais Godofredo e Neiva Maria, ‘in memória”, pela educação e formação que me
proporcionaram.
A meu filho André, “in memória”, que me ensinou a ver a vida como um constante desafio a
ser vencido dia a dia, e nunca desistir frente aos obstáculos.
A todos os amigos e amigas que me apoiaram e incentivaram na elaboração deste
trabalho.
A minha orientadora Professora Doutora Maria Glória Dittrich, que me acolheu e norteou
todo o estudo com seu conhecimento inesgotável, dispensando toda a atenção para que
fosse possível elaborar um trabalho à altura do que pretendia explorar de conhecimento.
Ao corpo docente deste mestrado da UNIVALI, pelo apoio recebido nas horas difíceis pelas
quais passei.
À minha esposa e companheira que soube entender e apoiar a minha ausência, para que
fosse possível realizar uma proposta de vida.
TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte
ideológico e conteúdo conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do
Itajaí, a coordenação do Mestrado Profissional em Saúde e Gestão do Trabalho, a Banca
Examinadora e a Orientadora de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.
Itajaí, janeiro de 2013.
José Cláudio dos Santos Revorêdo
MESTRANDO
PÁGINA DE APROVAÇÃO
A presente dissertação do Mestrado Profissional de Gestão de Ciências Políticas –
UNIVALI, elaborada pelo mestrando JOSÉ CLÁUDIO DOS SANTOS REVORÊDO, sob o
título O CALÇADÃO DE CURITIBA: AVANÇOS E RETROCESSOS COMO ESPAÇO
PÚBLICO DA CIDADE foi submetida à banca examinadora composta pelos seguintes
professores:
PROFa. DRª. MARIA GLÓRIA DITTRICH
Orientadora e Presidente da Banca
UNIVALI
PROF. DR. FLÁVIO RAMOS
Membro Interno
UNIVALI
PROFa. DRª. MARIA DO ROSARIO KNECHTEL
Membro Externo
Itajaí, 2013
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. .....12
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................... .....15
2.1 O CALÇADÃO: A RUA QUINZE E A SUA HISTÓRIA .............................................. .....15
2.2 O CALÇADÃO: DA IDEIA À AÇÃO DE IMPLANTAÇÃO .......................................... .....18
2.2.1 Percepções de Urbanismo e Sociedade ............................................................... .....19
2.2.2 Mobiliário Urbano e Sociedade .............................................................................. .....20
2.2.3 Plano Diretor: Histórico .......................................................................................... .....23
2.2.4 Plano Diretor da Cidade de Curitiba ...................................................................... .....25
2.3 O CALÇADÃO: A LEGALIZAÇÃO POLÍTICA COMO ESPAÇO PÚBLICO
DE URBANIZAÇÃO .................................................................................................. .....33
2.3.1 Política pública em espaços urbanos sociais ........................................................ .....33
2.3.2 Política de mobilidade urbana social ..................................................................... .....33
2.3.3 Leis de zoneamento, uso e ocupação do solo ...................................................... .....40
2.3.4 Despoluição visual da cidade......................................................................................40
2.3.5 Feiras de artes ...........................................................................................................42
2.4 O CALÇADÃO: SEU DESENVOLVIMENTO............................................ ............... .....43
2.4.1 Desenvolvimento social e econômico.........................................................................45
3 METODOLOGIA ......................................................................................................... .....46
3.1 EMSABASAMENTO METODOLÓGICO .................................................................. .....46
3.1.1 Pesquisa Bibliográfica .......................................................................................... .....46
3.1.2 Pesquisa Documental ........................................................................................... .....47
3.2 PERFIL DA ÁREA EM ESTUDO ............................................................................. .....48
3.3 ÁREA GEOGRÁFICA: LOCALIZAÇÃO E DIMENSÃO ............................................ .....49
3.4 COLETA E ANÁLISE DE DADOS .......................................................................... .....49
4 AVANÇOS E RETROCESSOS DO CALÇADÃO DE CURITIBA: UM OLHAR
SOBRE A MÍDIA IMPRESSA DE 1972 A 2012 .......................................................... .....51
4.1 AVANÇOS ............................................................................................................... .....51
4.1.1 Década 1972 a 1982 ............................................................................................ .....51
4.1.2 Década 1982 a 1992 ........................................................................................... .....76
4.1.3 Década 1992 a 2002 ........................................................................................... .....95
4.1.4 Década 2002 a 2012 ...............................................................................................109
4.1.5 Quatro décadas de avanços: o olhar de síntese......................................................130
4.2 RETROCESSOS ........................................................................................................131
4.2.1 Década 1972 a 1982................................................................................................131
4.2.2 Década 1982 a 1992................................................................................................142
4.2.3 Década 1992 a 2002................................................................................................150
4.2.4 Década 2002 a 2012................................................................................................160
4.2.5 Quatro décadas de retrocessos: o olhar de síntese.................................................174
5 AVANÇOS E RETROCESSOS: SÍNTESE DA COMPREENÇÃO .................................175
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................180
REFERÊNCIAS .................................................................................................................186
FIGURAS
Figura 1 Situação – Avenida Luiz Xavier e Rua XV de Novembro.......................................15
Figura 2 Esquemático do Plano Agache ........................................................................ .....26
Figura 3 Esquemático do Plano Serete – Plano Diretor de Curitiba ............................... .....28
Figura 4 Fechamento da Avenida Luiz Xavier e Rua XV de Novembro ......................... .....52
Figura 5 Pavimentação da Rua XV de Novembro .......................................................... .....52
Figura 6 Vista superior da Rua das Flores ..................................................................... .....56
Figura 7 Trecho inicial da Rua das Flores ...................................................................... .....58
Figura 8 Recreação das crianças na Rua das Flores ..................................................... .....60
Figura 9 Quiosques em frente aos bares da Rua das Flores ......................................... .....63
Figura 10 Ultima quadra da Rua das Flores ................................................................... .....65
Figura 11 Vista geral da Rua das Flores ........................................................................ .....67
Figura 12 Quiosques em frente aos bares na Rua das Flores ....................................... .....69
Figura 13 Circulação de pessoas na Rua das Flores ..................................................... .....70
Figura 14 Despoluição visual da Rua das Flores ........................................................... .....72
Figura 15 Comércio da Rua das Flores .......................................................................... .....76
Figura 16 Comércio da Rua das Flores .......................................................................... .....78
Figura 17 Vista da Rua das Flores ................................................................................. .....80
Figura 18 Circulação de pessoas na Rua das Flores ..................................................... .....84
Figura 19 Circulação de pessoas na Rua das Flores ..................................................... .....84
Figura 20 Vista da Rua das Flores ................................................................................. .....86
Figura 21 Feira de artes na Rua das Flores ................................................................... .....90
Figura 22 Vista da Rua das Flores .................................................................... ..................91
Figura 23 Desenho em perspectiva em projeto da Rua das Flores.....................................92
Figura 24 Vista da Rua das Flores com bondinho...............................................................95
Figura 25 Edifício da Galeria Ghignone na Rua das Flores ................................................97
Figura 26 Movimento de pessoas na Rua das Flores .........................................................99
Figura 27 Crianças em recreação na Rua das Flores........................................................101
Figura 28 Adultos e jovens em recreação na Rua das Flores............................................102
Figura 29 Vista da Rua XV de Novembro – Rua das Flores .......................................... ...104
Figura 30 Central de monitoramento da Polícia Militar na Rua das Flores ..................... ...107
Figura 31 Lançamento de teatro itinerante do projeto Centro Vivo ................................ ...109
Figura 32 Limpeza / Lavagem da Rua das Flores .......................................................... ...112
Figura 33 Vista da Rua das Flores ................................................................................. ...114
Figura 34 Natal do Palácio Avenida ............................................................................... ...119
Figura 35 Vista da Sala de Estar na Rua das Flores ...................................................... ...122
Figura 36 Fotografia do arquiteto Abrão Assad – Criador da Rua das Flores ................ ...126
Figura 37 Movimentação de pessoas na Rua das Flores ............................................... ...131
Figura 38 Floreira com flores danificadas na Rua das Flores ........................................ ...134
Figura 39 Poluição visual na Rua das Flores ................................................................. ...136
Figura 40 Fotografia do senhor Isaac B. Singer ............................................................. ...140
Figura 41 Ratos na Rua das Flores – Canalização do Ria Ivo ....................................... ...143
Figura 42 Movimentação de pessoas na Rua das Flores ............................................... ...147
Figura 43 Fotografia do senhor Jacques Rigler e vista da Rua das Flores .................... ...150
Figura 44 Vista da Rua das Flores ................................................................................. ...154
Figura 45 Imagem da antiga confeitaria quando encerrou as atividades ....................... ...158
Figura 46 Fotografia do senhor José Ghignone e Rua das Flores ................................. ...161
Figura 47 Imagem da grelha de escoamento de águas pluviais .................................... ...164
Figura 48 Comércio da Rua das Flores .......................................................................... ...167
Figura 49 Comércio popular da Rua das Flores ............................................................. ...171
Figura 50 Comércio popular da Rua das Flores ............................................................. ...172
RESUMO
Esta pesquisa de ordem bibliográfico-documental visa analisar a história do
desenvolvimento socioeconômico do Calçadão de Curitiba como espaço público social da
cidade desde 1972 até 2012. O problema levantado foi: Quais os avanços e retrocessos
socioeconômicos do Calçadão de Curitiba registrados na mídia escrita nacional e
paranaense durante os anos 1972 a 2012?. Diante disso, os seguintes objetivos foram
propostos: Descrever a criação e a implantação do Calçadão; Apresentar referenciais
sobre o Calçadão de Curitiba como espaço público social da cidade; Apresentar os
avanços e retrocessos socioeconômicos do Calçadão de Curitiba desde registros da mídia
escrita paranaense de 1972 a 2012; Compreender sobre os avanços e retrocessos
socioeconômicos no desenvolvimento do Calçadão de Curitiba através de registros da
mídia escrita paranaense. A metodologia pautou-se no método da indução e dedução para
a coleta e análise de dados. Os registros foram construídos desde descrições e reflexões
pertinentes a publicações em jornais desde 1972 a 2012, com reportagens de revistas,
jornais, boletins informativos e imagens fotográficas relacionadas ao Calçadão. Para a
fundamentação se utilizou revistas, livros, periódicos e leis nacionais e locais, que deram a
base documental e científica para a pesquisa. A pesquisa mostra que a implantação do
Calçadão foi uma política pública que transformou a cidade de Curitiba
socioeconomicamente. No seu percurso houve avanços e retrocessos. No entanto,
constatou-se pelos dados que a área econômica resultou em uma readaptação à classe
social que passou a se utilizar do comércio existente na via, em um nível mais popular, e
na área social, com a criação das diversas formas de lazer, deu maior vida e animação à
via pública, principalmente pela incrementação de um maior número de pontos de
encontro, de lazer e cultura.
Palavras-chave: Calçadão de Curitiba, Espaço Público Social, Política Pública.
ABSTRACT
This bibliographic/documentary study analyzes the history, from 1972 to 2012, of the
socioeconomic development of the pedestrianized street known as the Calçadão of
Curitiba, as a social pubic space in the city. The problem investigated was: What
socioeconomic advances and regressions of the Calçadão of Curitiba have been recorded
in the national and Paraná press during the period 1972 to 2012? In this context, the
following objectives were proposed: To describe the creation and implementation of the
Calçadão; to present references on the Calçadão of Curitiba as a social public space of the
city; to present the socioeconomic advances and regressions of the Calçadão of Curitiba
since written records in the press began, in 1972 – through to 2012; and to understand the
socioeconomic advances and regressions in the development of the Calçadão of Curitiba,
through records in the press of the state of Paraná. The inductive method was used for the
research, and the deductive method in the collection and analysis of the data. The records
were constructed based on descriptions and reflections relating to publications in the press
from 1972 to 2012, with reports of magazines, newspapers, information bulletins, and
photographic images related to the Calçadão. For the theoretical background, magazines,
books, periodicals and national and local laws were used, which gave a documentary and
scientific basis to the research. The research showed that the implementation of the
Calçadão was a public policy that brought socioeconomic transformation to the city of
Curitiba. During its history, there have been advances and regressions. However, the data
show that in the economic field, it resulted in a readaptation to the social class that came to
use street commerce, at a more popular level, and in the social area, with the creation of
various forms of leisure, it brought life and animation to the public area, particularly due to
the increase in the number of meeting points and places for leisure and culture.
Keywords: Calçadão of Curitiba, Social Public Space, Public Policy.
12
1 INTRODUÇÃO
Os calçadões de forma geral têm como princípio básico proporcionar um espaço
público exclusivo para o trânsito de pedestres, que se servem do comércio, serviços ou do
lazer local. As políticas públicas relativas ao Calçadão têm como foco principal o bem estar,
uma vez que incentivam a implantação de equipamentos e mobiliários públicos urbanos, e
proporcionam segurança dos que por ele transitam, já que esses não têm que dividir o
espaço com veículos automotores.
Alguns países, tais como Espanha, Suíça e França, entre outros, adotam o sistema
de passeios públicos1 para pedestres no planejamento urbano de algumas de suas cidades
e o utilizam principalmente como forma de dar aos pedestres espaços públicos exclusivos e
democráticos, onde as pessoas encontram uma grande diversidade na oferta de produtos,
serviços e lazer.
No Brasil, algumas cidades, dentre elas Curitiba, adotam no seu planejamento
urbano o “Calçadão” como forma de comporem espaços públicos democráticos com
acesso livre a toda população. De acordo com Boreki (2009, p. 20), o Calçadão de Curitiba
foi o primeiro a ser implantado no Brasil, oferecendo diversos serviços nas áreas
socioeconômicas e de lazer.
Justifica-se este estudo do ponto de vista social e político, na medida em que o
Calçadão de Curitiba deu à população uma via pública sem tráfego de veículos. Em teoria,
dá uma maior segurança para a população transitar em uma rua reservada, apenas, para
pedestres, onde o acesso de veículos é bastante restrito e limitado a determinados
serviços. O calçadão fez de Curitiba referência em planejamento urbano, demonstrando
que é possível planejar e administrar cidades de modo a melhorar a qualidade de vida do
cidadão sem causar transtornos permanentes com obras infindáveis.
É mister salientar que o Calçadão de Curitiba, objeto deste estudo, existe há
quatro décadas e, neste período, observou-se, de início, uma evolução ou avanço na área
socioeconômica e, posteriormente a uma readaptação dos eixos de desenvolvimento e
apropriações feitas pela população.
No entanto, atualmente, se observa ausência de registros sobre a atuação na área
socioeconômica e de lazer em publicações a respeito da sua história. Por se tratar de uma
rua histórica, essa é citada em alguns trabalhos como parte integrante do comércio e lazer
na trajetória da cidade de Curitiba. Contudo, não há notícia de algum trabalho de pesquisa
que faça uma análise específica do Calçadão sob o aspecto socioeconômico e de lazer
1 passeio público aqui é entendido como via exclusiva para pedestres.
13
nele contido desde a sua implantação, englobando suas funções sociais, socioeconômicas,
culturais e de lazer. E é em função desta lacuna que se propõe esta dissertação, que se
intitula: “O Calçadão de Curitiba: avanços e retrocessos como espaço público social da
cidade”.
A pesquisa de ordem bibliográfico-documental, do tipo exploratória, visou
responder ao seguinte problema: Quais os avanços e retrocessos socioeconômicos do
Calçadão de Curitiba registrados na mídia escrita nacional e paranaense durante o período
1972 – 2012?. O objetivo geral implicou analisar a história do desenvolvimento do
Calçadão de Curitiba como espaço público social da cidade desde os anos 1972 até 2012.
Diante disso, se projetaram os seguintes objetivos: Descrever a criação e a implantação do
Calçadão; Apresentar referenciais sobre o Calçadão de Curitiba como espaço público
social da cidade; Apresentar os avanços e retrocessos socioeconômicos do Calçadão de
Curitiba desde registros da mídia escrita paranaense entre 1972 e 2012; Compreender
sobre os avanços e retrocessos socioeconômicos no desenvolvimento do Calçadão de
Curitiba através de registros da mídia escrita paranaense.
A metodologia pautou-se no método da indução e dedução para a coleta e análise
de dados. A coleta de dados foi em conformidade com os parâmetros estabelecidos para
Pesquisa Bibliográfica e Pesquisa Documental sem perder de vista o caso em estudo (O
Calçadão de Curitiba). Assim, dentro do embasamento teórico da metodologia adotada, se
usou o método exploratório descritivo, com procedimentos qualitativos e descritivos para se
obter os dados necessários à pesquisa num exercício metodológico dedutivo-indutivo,
visando construir reflexões pertinentes ao desvelamento do objeto de pesquisa. Os
registros foram construídos desde descrições e reflexões pertinentes a publicações em
jornais entre 1972 e 2012, com reportagens de revistas, jornais, boletins informativos e
imagens fotográficas relacionadas ao Calçadão. Assim, se deixa claro que se utilizou
também, imagens fotográficas no sentido de trazerem elucidação imagética sobre os fatos
históricos, sociais e políticos do objeto de estudo na sua implantação, sua evolução e
readaptação em função das modificações no conjunto da sociedade e das funções sociais
da cidade, como também dentro dos processos de revitalização urbanística e na área
socioeconômica como forma de demonstrar os avanços e retrocessos acontecidos, foram
comprovados com falas políticas em publicações jornalísticas no período compreendido
pela pesquisa. Para a fundamentação foram usados livros, periódicos, revistas e leis
nacionais e locais que deram base documental e científica para a pesquisa.
O texto desta dissertação organiza-se, primeiramente, apresentando a
fundamentação teórica, na qual se aborda a história do Calçadão na sua gênese, sua
14
legalização política como espaço público de urbanização até o seu desenvolvimento como
política pública.
No segundo momento, se apresenta a metodologia, na qual se mostra o conceito
de pesquisa bibliográfica documental, o perfil da área em estudo, sua localização e
dimensão, bem como se apresenta o método para a coleta e análise de dados focados na
dinâmica da indução-dedução. Os registros foram construídos a partir de descrições e
reflexões pertinentes às leituras de textos jornalísticos e outros, visando o desvelamento do
objeto de pesquisa. As fontes utilizadas foram: publicações da mídia paranaense e
nacional de 1972 a 2012, com reportagens de revistas, jornais, boletins informativos e
imagens fotográficas relacionadas ao Calçadão de Curitiba. Para a fundamentação foram
utilizadas revistas, livros, periódicos e leis nacionais e locais, que deram a base documental
e científica para a pesquisa. Deixa-se claro que se utilizou também imagens fotográficas no
sentido de trazerem elucidação imagética sobre os fatos econômicos e sociais que
implicaram na vida do cidadão curitibano.
No terceiro momento se mostra, do ponto de vista socioeconômico, os avanços e
retrocessos do Calçadão de Curitiba, durante quatro décadas (anos 1972 a 2012). Em
seguida expressa-se uma síntese analítica sobre os avanços e retrocessos do Calçadão,
mostrando contradições de sua política pública e a compreensão deste como espaço
público social da cidade.
Por último se registram as considerações finais quando se descreve a
compreensão final sobre os resultados alcançados.
15
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 O CALÇADÃO: A RUA QUINZE DE NOVEMBRO E A SUA HISTÓRIA
A cidade de Curitiba, conforme Menezes (1996) foi fundada em 1693, a partir de
um povoado bandeirante de nome Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. Com a abertura da
estrada tropeira entre Sorocaba-SP e Viamão-RS, situava-se aproximadamente no meio do
caminho, o que a tornou importante área comercial, visto que era um ponto de parada para
os viajantes. Em 1853, tornou-se a capital da província do Paraná, tendo um ritmo de
crescimento urbano acentuado, mas sem nenhum ordenamento.
Com a chegada de imigrantes europeus no século XIX, houve uma diversificação
social, cultural e da economia de grande importância no processo do seu desenvolvimento.
Contudo, o processo de crescimento urbano desordenado se acentuou. Neste contexto de
diversidade situam-se a Avenida Luiz Xavier e a Rua Quinze de Novembro no centro da
cidade de Curitiba. (Figura 1).
Fonte: Google mapas.
Figura 1 – Localização geográfica da Avenida Luiz Xavier e a Rua Quinze de Novembro.
Conforme registro de Boschilia (1996), já existia em 1850 uma rua no centro de Curitiba
conhecida como Rua das Flores, pois os moradores e comerciantes locais tinham o
costume de enfeitar as fachadas (testadas) das casas e lojas com flores, uma vez que esta
era uma rua de chão batido e não existiam calçadas, como forma de embelezamento e
para dar um ar mais aconchegante ao local.
16
Em 1880, em homenagem ao Casal Imperial Português, que visitava a cidade,
para inaugurar a estrada de ferro entre Curitiba e Paranaguá, mudaram o nome para Rua
da Imperatriz. Esta denominação perdurou até a Proclamação da República do Brasil, em
1889, quando os moradores resolveram trocar o nome para Rua Quinze de Novembro, em
homenagem ao regime republicano que se instalava. Sendo este o nome que perdura até
hoje, apesar desta ser conhecida ainda como Rua das Flores. (BOSCHILIA, 1996).
De acordo com Urban (1992), a Rua Quinze de Novembro, alcunhada “A XV velha
de guerra”, era um eixo de grande circulação da cidade. Era na XV que automóveis
importados e nacionais da recém implantada industria automobilística, nos anos 50 e 60,
desfilavam garbosamente ao longo da Rua Quinze de Novembro. Era época da Casa
Louvre, do Café Trocadero, da Confeitaria Shaffer, e outros como do Braz Hotel que
abrigou Getúlio Vargas em campanha à Presidência da República. Era o tempo em que a
minúscula Avenida Luiz Xavier louvava João Pessoa candidato a vice na chapa de Getúlio.
(URBAN, 1992, p. 9).
O autor supracitado complementa que:
[...] era o ponto de footing, local de encontro obrigatório da
estudantada, dos aposentados, de cavalheiros e senhoras vestidos,
respectivamente, com trajes de lã inglesa, linho e seda importados.
A cidade, segundo os cronistas, acontecia ali. (URBAN, 1992, p. 9).
Com este relato fica evidente a importância da Avenida Luiz Xavier e da Rua
Quinze de Novembro, como eixo de grande circulação, mesmo que, na época, para
transpor a cidade havia caminhos alternativos, mas a grande maioria da população se
utilizava desta via, que era um caminho obrigatório para quem se utilizava de veículos
particulares, como menciona Vinicius Boreki (2009, p.10).
Na década de 1960, o ápice dos congestionamentos estava justamente na via
principal da capital. No trânsito bloqueado, os motoristas observavam dos carros as vitrines
das lojas sem descer para ir às compras. Tratava-se de uma relação platônica entre o
curitibano e a Rua XV.
Até mesmo esta via era utilizada pelo transporte coletivo urbano em varias linhas
do transporte de passageiros no sentido leste-oeste utilizando a Rua XV como via de
circulação da cidade. Assim o trânsito congestionado refletia diretamente nas vendas do
comércio. Isto teve grande influência em acelerar o fechamento desta via ao trânsito de
veículos.
17
Segundo informações de Boreki (2009), esta rua sempre foi uma das principais
vias de comércio da cidade. Fato este que se observa até os dias de hoje, mesmo após o
fechamento ao tráfego de veículos no início da década dos anos 70, quando a rua passou
a ser conhecida como o “Calçadão de Curitiba”, embora ainda conserve o epíteto de Rua
das Flores, mesmo porque não perdeu a sua característica original, pois existem grandes
floreiras distribuídas ao longo de toda a via. Ainda assim, os registros oficiais destas vias
na Prefeitura Municipal de Curitiba são Avenida Luiz Xavier e Rua Quinze de Novembro.
O Calçadão de Curitiba como espaço público é democrático, em todas as áreas de
sua atuação, o comércio atende com diversidade de produtos, e como lazer se comporta
de forma análoga a uma grande sala de estar, com bares, cafés, lanchonetes e uma
distribuição de equipamentos e mobiliários públicos urbanos que torna o ambiente propício
a bate-papos informais: é um ponto de encontro da população da cidade. (BLASKIEVICZ,
1999).
Na área socioeconômica a população da cidade por muitos anos se utilizou da
Avenida Luiz Xavier e Rua Quinze de Novembro como um importante setor de comércio da
cidade onde eram ofertados e se encontrava todos os tipos de serviços, mercadorias e
produtos, industrializados ou não. Mas, devido às condições com que esta via pública vinha
sendo utilizada, a Prefeitura Municipal de Curitiba achou que estava no momento certo em
implementar o já previsto e planejado fechamento desta via pública ao tráfego de veículos.
(COELHO, 2008).
Neste local há também um espaço denominado de “Boca Maldita”, situada no início
do calçadão no trecho da Avenida Luiz Xavier, por ser um local de grande circulação de
pedestres onde alguns deles se reúnem para conversas informais.
Segundo Boreki (2009), a Boca Maldita foi fundada em 1956, mas o espaço só foi
institucionalizado em 1966, tendo como eterno presidente Anfrísio Siqueira, já falecido, e é
neste local que se reúnem os “cavaleiros” da Boca Maldita. O lema desde grupo é: nada
vejo, nada ouço, nada falo, o que é um paradoxo, pois ocorre exatamente o contrário: tudo
se vê, tudo se ouve, e de tudo se fala.
Na Boca Maldita, espaço frequentado pelos Cavaleiros da Boca Maldita, se discute
todos os tipos de assuntos de forma aberta e livre. Eles são políticos, empresários,
personalidades e pessoas da população, não há qualquer distinção, todos podem expor
seus pensamentos livremente, sem qualquer restrição.
Enquanto um espaço público social e democrático atende ao princípio
constitucional da liberdade, do direito de ir e vir, da diversidade econômico-comercial e
também ao princípio da liberdade de expressão. É também o termômetro político da
cidade, já que neste local se reúnem também personalidades do cenário público e político,
18
onde no chamado corpo a corpo com a população surgem ideias para novas propostas de
vida da cidade e da população, diante das necessidades que lhes são expostas. (Centro
Político da Cidade, 1992).
Ainda como espaço público democrático foi palco de movimentos políticos de
expressão nacional como o movimento das “diretas já”, dos “caras pintadas” e outros, como
o plebiscito do desarmamento da população.
O Calçadão de Curitiba é assim, uma via pública sem tráfego de veículos, como
uma grande sala de estar, propícia a encontros e bate-papos descontraídos, com isto
proporciona maior segurança à população que pode transitar em uma rua reservada
apenas para pedestres, onde o acesso de veículos é bastante restrito e limitado a
determinados serviços. Enquanto via exclusiva para pedestres tornou o espaço público um
ponto de encontro, “social”, disponível à população no centro da cidade de Curitiba, como
mostra a forma de relacionamento que acontece nesta “grande sala de estar”, onde a todos
acolhe de forma livre e democrática sem qualquer tipo de segregação.
2.2 O CALÇADÃO: DA IDEIA À AÇÃO DE IMPLANTAÇÃO
Nos anos 70 (Século XX), com a política de administração pública tecnocrata e
pela concepção urbanística das cidades brasileiras, concentravam as áreas de comércio e
serviços nas zonas centrais das cidades, formando o coração do sistema socioeconômico
e comercial (LACAZE, 1993) na grande maioria das cidades brasileiras, demonstrando
assim que até a implantação do Calçadão de Curitiba, o centro comercial da cidade de
Curitiba era igual a tantos outros em todo o Brasil.
Em termos do processo de urbanização do centro da cidade o Calçadão promoveu
uma mudança significativa, indo contra os princípios do planejamento urbano da época. Na
área socioeconômica e social, inovou com uma política urbana que visava proporcionar
maior bem estar à população economicamente ativa, tanto no momento de realizar suas
compras quanto nos de lazer.
A Rua das Fores, Calçadão da Rua XV no centro de Curitiba, conseguiu unir o fato
de ser centro comercial e a tradição de ser a primeira rua da cidade a ser apenas de
calçada (passeio). Foi a criação do que mais tarde passou a ser um grande shopping à céu
aberto, que deveria impulsionar a economia local pela concentração de lojas em um
determinado espaço físico e sem trânsito de veículos automotores. (A RUA DE TODOS
NÓS, 1992).
O Calçadão de Curitiba deu à população uma via pública sem tráfego de veículos
automotores, com isto proporcionou maior segurança aos pedestres, para que pudessem
19
transitar livremente em uma rua reservada apenas para eles, onde o acesso de veículos
era bastante restrito e limitado a determinados serviços. Enquanto via exclusiva para
pedestres, tornou o espaço público um ponto de encontro “social”, disponível à população
no centro da cidade de Curitiba. (NA XV UM SHOPPING AO AR LIVRE, p. 10, 1992).
2.2.1 Percepções de Urbanismo e Sociedade
O termo urbanismo, de acordo com Gaston Bardet (GONÇALVES Jr. et al., 1991,
p.12), “parece ter surgido em 1910 no Bulletin de la Societé Geographique de Neufchatel.
Deriva-se do latim urbe (cidade), e etimologicamente falando é o estudo ou compreensão
da cidade”.
Gonçalves Jr. et al. (1991, p. 12) menciona ainda, que: “cidade e urbe não foram
sinônimas no mundo antigo: cidade era aglomeração das famílias e tribos; a urbe era o
local sagrado e de reunião, o santuário destes povos”. Sendo assim, o urbanismo seria a
relação entre o espaço da cidade e a sociedade que nela vive. Nas palavras de Gonçalves
Jr. et al. (1991, p. 18), o urbanismo é conceituado como o estudo das relações entre
determinada sociedade (cultura, tradição, poder, história,...) e o espaço que a abriga (ruas,
construções, limitações geográficas,...), bem como das formas de sua organização e
intervenção sobre elas com determinado objetivo.
Conforme os conceitos aqui mencionados e de acordo com Castells (1983), o
urbano é a cidade e suas relações, composta de diversos fluxos, como de serviços,
mercadorias e pessoas, o que a torna um complexo estrutural a ser planejado e
organizado, e compete ao urbanismo estudar soluções organizacionais e estruturais a
serem aplicadas nas cidades.
O urbanismo passa a organizar os espaços da cidade em toda a sua amplitude e
forma de vida, de maneira a elaborar um plano de organização do espaço urbano com
vistas à melhoria da qualidade de vida da cidade e de sua população (GONÇALVES Jr. et
al., 1991). O urbanista deve tratar a cidade de forma ampla, atendendo ao planejamento e
fluxos característicos de uma cidade, suas tendências e as relações regionais. As cidades
estão em constantes transformações, que não são estanques, portanto, exigem um
planejamento urbano que seja aberto à intervenções corretivas para solução dos diversos
problemas que surgem.
Assim, pode-se mencionar que o planejamento urbano procura constantemente
soluções, algumas inovadoras, para resolver os problemas dos espaços urbanos
(CASTELLS, 1983), pois os espaços estão em constantes transformações pela expansão
da área física e populacional, visto o “inchaço” causado pelo êxodo, principalmente rural,
20
como vem acontecendo nas grandes cidades, causando a desestruturação da
infraestrutura urbana.
O urbanista, enquanto técnico, deve propor planos de ordenamento territorial e se
manter permanentemente atualizado sobre sua cidade, procurando disciplinar e propor as
melhores soluções para os diversos problemas. Também deve observar as ocorrências de
expansão e transformações que acontecem independentemente do planejamento
existente, sendo capaz de propor intervenções que devem solucionar os problemas de
forma a melhorar a qualidade de vida da população. Isto fica evidente ao se observar o
discurso de posse do então prefeito de Curitiba, em 1971, Jaime Lerner:
A alma de uma cidade – a força vital que a faz respirar, progredir,
existir – reside em cada um dos seus cidadãos, em cada homem
que nela aplica e nela esgota o sentido de sua vida. E é essa a
premissa fundamental: a cidade – com todas as suas funções –
deve estar a serviço do homem e não o homem subordinar-se às
imposições urbanas como mero expectador. (MENEZES, 1996, p.
94-95).
Entende-se que o urbanismo deve propor soluções técnicas organizacionais,
pensando no modo de vida das cidades, do ponto de vista que é característico da
sociologia, ou seja, na população e seu bem estar, incluindo também as formas de lazer,
como forma promover o desenvolvimento planejado das cidades e, assim, proporcionar
meios de ordenamento e expansão desta.
2.2.2 Mobiliário Urbano e Sociedade
Mobiliário urbano aqui é entendido como instrumento de que o urbanismo se utiliza
como forma de dar identidade aos espaços urbanos, pois simplesmente o nome mobiliário
indica mobília, móveis, equipamentos acessórios, entre outros e urbano indica urbe,
cidade, ou seja, mobiliário especialmente projetado para ser instalado em vias urbanas,
parques, praças, etc., como forma de comporem os ambientes em espaços urbanos.
A definição de mobiliário urbano oficial é a adotada segundo a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Norma Brasileira Regulamentadora (NBR) 9.283 de
1986, como: “todos os objetos, elementos e pequenas construções integrantes da
paisagem urbana, de natureza utilitária ou não, implantados mediante autorização do poder
público, em espaços públicos e privados”.
A NBR 9.283/1986 divide em categorias e subcategorias cada um dos elementos
que compõem o mobiliário urbano, como circulação e transporte, cultura e religião, esporte
21
e lazer, infraestrutura, entre outros. Essa é uma forma de aglutinar e inserir cada elemento
do mobiliário em diversos conjuntos de uma mesma tipicidade. Desta forma, facilita a
classificação dos elementos que compõem o mobiliário urbano, dentro de grupos que são
semelhantes pela utilização e destinação a que foram criados. Assim a título de
exemplificação bastante restrita, tem-se na classificação de circulação e transporte
elementos como: abrigo e ponto de ônibus, banca de jornais, acesso ao metrô, bicicletário,
calçada, passarela, pavimentação, semáforo dentre outros, ou seja, tipificando todos
dentro da mesma forma de utilização. Dispostos em grupos de assemelhados formam uma
classificação de acordo com o seu uso, para comporem os ambientes urbanos.
O acima disposto é normatizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas
(ABNT). Observe-se aqui, que a (ABNT) - NBR 9050 normatiza o mobiliário urbano para
pessoas portadoras de alguma deficiência física, possibilitando assim a inclusão social dos
deficientes físicos no acesso e utilização do mobiliário urbano a nível nacional.
Pode-se perceber a grande amplitude e complexidade que implica o ato de projetar
espaços urbanos. Além dos serviços que podem ser prestados, o planejamento tem grande
influência dentro da área sociopolítica, pois mostra diretamente os benefícios à população
da cidade, dando a estes comodidades e facilidades, tornando os ambientes urbanos mais
agradáveis e assim classificando-os dentro do princípio de melhorar a qualidade de vida da
população.
De acordo com Serra (1997, p. 18),
Os elementos do mobiliário e micro arquitetura urbanos se instalam
no espaço público com o propósito comum de oferecer um serviço
ao cidadão; um serviço que tem usos e funções muito diferentes, e
vão surgindo conforme aparecem novas necessidades na cidade; a
comunicação, o lazer, o descanso, a manutenção, a limpeza, a
limitação e a ordenação de espaços de pedestres e trânsito de
veículos, etc... São elementos destinados ao uso dos cidadãos que
neles se sentam, compram ou esperam. Este livro é escrito
pensando nos usuários e nos criadores de elementos e espaços
para a cidade: arquitetos, engenheiros e desenhistas, entidades
municipais e empresas produtoras e de serviços.
Serra (1997) também menciona que o mobiliário urbano é um conjunto de
elementos que formam uma visão unitária de todo o território da cidade. O autor inclui os
rebaixos das calçadas como um elemento de urbanização da superfície e que permite
22
delimitar o espaço público. Assim, divide os diversos elementos que compõem o mobiliário
urbano2 da seguinte forma:
Elementos de serviço público, como o mobiliário que tem como principio satisfazer
as necessidades derivadas dos serviços públicos, como transporte, telefonia,
estacionamento para bicicletas, jogos infantis etc.
Elementos de comunicação, como o mobiliário instalado em suportes que compõe
pontos de sinalização, informação e publicidade, colocados em colunas e que segundo o
autor são pontuais, e servem como pontos de informações, Mobiliário Urbano para
Informações, que servem para fixação de cartazes publicitários e que foram idealizados
pela sociedade francesa JCDecaux, pioneira na modalidade de mobiliário urbano
autogestionado.
Elementos de iluminação que requerem indústrias especializadas e servem de
base para o funcionamento das cidades e que priorizam os períodos noturnos, como
colunas e postes de iluminação com lâmpadas, onde fica claro que devem ser instalados
em pontos que requerem fontes de luz, ou iluminação que denotem determinadas áreas
dos centros urbanos.
Serra (1997) propõe que a elaboração de projetos deve levar em conta alguns
fatores e atender a vários critérios, tais como: regular e simplificar os elementos urbanos
quanto a sua manutenção e eficácia, a fim de atender a critérios como o desenho na
concepção dos objetos propostos para compor o mobiliário urbano como também prever a
fabricação, colocação e exploração dos mesmos.
Assim o trabalho se resume no controle da imagem e na qualidade dos espaços
urbanos de forma a não haver saturação, de modo a dar qualidade de vida às cidades e
melhorar o conforto dos cidadãos.
A partir deste princípio, a ideia de conjunto no projeto deve ser mais forte, sobre as
diferentes intervenções realizadas em uma cidade. Desta maneira, se deve elaborar um
roteiro ou esboço, tendo uma visão e conhecimento da cidade de forma a se ter em mãos a
visão dos problemas e a sua evolução, para então se fazer intervenções pontuais dentro
de um projeto que possa ser considerado de forma global como sendo o ideal para o
momento.
De acordo com Serra (1997 p. 18), a preocupação pelo espaço público é um
assunto recente e tem relação direta com o aumento da qualidade de vida e com a defesa
ou proteção do espaço para o individuo frente ao grande crescimento da circulação.
2 Salienta-se que a ABNT 9283 (1986) apresenta uma subdivisão bastante semelhante à
sugerida por Serra.
23
Conforme o exposto acima entende-se que o mobiliário urbano deve ser projetado
de forma criteriosa e bastante estudado. Ele influencia em muito a cultura e os costumes
citadinos, tanto na visão social como também na forma de vida da população, haja vista a
evolução tecnológica, cultural e também o modo de vida das cidades, o que leva a se
propor soluções que sejam adequadas e que deem um aspecto prático e um visual de
forma a alinhar-se com os valores de cada cidade e sem descaracterizá-la, propondo
sempre uma melhor qualidade de vida à população.
O mobiliário urbano compõe, juntamente com os imóveis, o visual de ruas e
avenidas e só são instalados mediante licença prévia dos órgãos competentes, o que os
transforma em motivadores da paisagem urbana da cidade e isso está ligado, direta ou
indiretamente, à visão sociopolítica de uma sociedade.
Em sua grande maioria, as cidades formulam espaços públicos com seus
mobiliários através de projetos próprios ou contratando empresas especializadas, que os
projetam de acordo com as características da cada cidade, valorizando os motivos locais
em formas e dimensões que são próprias de determinadas regiões do país. Assim,
observam-se os mesmos mobiliários urbanos com diversos formatos e aparências, cujo
principal objetivo é caracterizá-los com motivos próprios ou regionais de cada cidade, mas
que em sua essência atendem o proposto para os quais foram criados sociopoliticamente.
O propósito final deste mobiliário, dito urbano, é dar à população comodidades
específicas como a instalação de bancas de jornais e revistas em uma determinada
localização, facilitando o acesso da população que transita por estas vias, ou ainda, um
outro exemplo são as instalações de bancos “de praça” em determinados locais, o que
propicia ao espaço público um visual mais agradável e ameno. Especificamente sobre o
Calçadão de Curitiba este mobiliário proporciona a aparência de uma “sala de estar”,
tornando o visual do espaço público como sendo de lazer e informalidades e muito menos
sisudo. O mobiliário urbano do Calçadão cumpre o seu papel no sentido de formar espaços
e ambientes públicos, que dão à população formas de lazer e comodidades que ajudem na
qualidade de vida da cidade.
2.2.3 Plano Diretor: Histórico.
Toda cidade municipalizada se organiza no seu plano diretor. O Plano Diretor
Municipal tem base legal no art. 182 da Constituição da República Federativa do Brasil, de
05 de dezembro de 1988, que formaliza para o município como uma Lei Municipal com o
objetivo de ordenar o desenvolvimento das funções da cidade e garantir o bem estar de
seus cidadãos.
24
A Lei n° 10.257, de 10 de julho de 2001, em seu art. 41, dispõe sobre as condições
de obrigatoriedade para elaboração do Plano Diretor:
Art. 41. O plano diretor é obrigatório para cidades:
I – com mais de vinte mil habitantes;
II – integrantes de regiões metropolitanas e aglomerações urbanas;
III – onde o Poder Público municipal pretenda utilizar os
instrumentos previstos no § 4° do art. 182 da Constituição Federal;
IV – integrantes de área especial interesse turístico;
V – inseridas na área de influência de empreendimentos ou
atividades com significativo impacto ambiental de âmbito regional ou
nacional.
§ 1º No caso da realização de empreendimentos ou atividades
enquadrados no inciso V do caput, os recursos técnicos e
financeiros para a elaboração do plano diretor estarão inseridos
entre as medidas de compensação adotadas.
§ 2º No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes,
deverá ser elaborado um plano de transporte urbano integrado,
compatível com o plano diretor ou nele inserido. (BRASIL, Estatuto
da Cidade, 2001).
O Plano Diretor Municipal é instituído por uma Lei Municipal aprovada pela Câmara
Municipal, e assim sendo é, portanto, um instrumento político com o objetivo de dar
ordenamento à política de desenvolvimento urbano.
Meirelles (1993, p. 393), cita que o Plano diretor,
[...] é o instrumento técnico legal definidor dos objetivos de cada
Municipalidade, e por isso mesmo com supremacia sobre os outros,
para orientar todas as atividades da Administração e dos
administrados nas realizações públicas e particulares que
interessam ou afetam a coletividade.
Logo, o Plano Diretor Municipal, (aqui pode-se dizer que não só o municipal, mas
seja em qualquer área de administração pública), deve promover e ordenar o
desenvolvimento, por ter características políticas. O plano de desenvolvimento urbano é
primordialmente técnico e, assim sendo, deve ser elaborado por pessoas com capacitação
técnica para tal, contudo, esta equipe de planejamento deve pensar de forma
multidisciplinar.
Este tipo de planejamento envolve problemas não apenas de ordem técnica, que
sejam da área urbanística, mas também das áreas de saúde, de educação, de economia,
de cultura, de habitação, de saneamento, de transporte, de lazer, entre outras; o que exige
uma equipe afinada com as funções sociais das cidades, tecnicamente falando, pois tem
influência direta em todas as áreas da vida em comunidade.
25
Segundo Monteiro (1990, p.13), o Plano Diretor de uma cidade não é apenas um
planejamento urbanístico, pois: “tem um objetivo muito mais amplo: o de interferir no
processo de desenvolvimento local a partir de uma compreensão global dos fenômenos
políticos, sociais, econômicos, e financeiros que condicionam a evolução do município e
contribuem”.
Percebe-se assim que é um método para se ordenar um espaço urbano, mas
também contêm planos e metas que indicam os rumos que o município deve seguir para
atingir seus objetivos fins, visto que nele estão contidos objetivos que visam desenvolver as
funções sociais das cidades.
Outro aspecto ainda nesta linha de pensamento, além dos técnicos, no projeto de
um Plano Diretor é necessário e obrigatório, conforme dispõe a Constituição da Republica
Federativa do Brasil no seu artigo 29 inciso X, a participação da população do município,
através de entidades e associações representativas da sociedade civil, no processo de
elaboração do planejamento municipal. Esse ponto é de grande importância e necessário
para que seja dada transparência total do Plano Diretor e a sua política para o
desenvolvimento das cidades, pois desta forma cumpre a formalidade de tornar público
este documento ou lei, como também alinhar no projeto as necessidade reais das pessoas
política e culturalmente falando.
Desta maneira, transparente, a administração municipal torna pública a política de
desenvolvimento, suas diretrizes, formas e prioridades estabelecidas de expansão e
crescimento urbano; Principalmente os objetivos focados no projeto de desenvolvimento,
nas áreas: urbanísticas, de transporte e circulação, laser, saúde, socioeconômica, etc., que
ficam abertos à população em geral para avaliações e críticas e até novas sugestões que
podem ser acatadas ou não, mas que, de todas as formas, dão transparência, o que é de
grande importância para o município, mesmo que sejam formuladas como críticas ao
planejamento urbano elaborado.
2.2.4 Plano Diretor da Cidade de Curitiba
Historicamente a preocupação de planejar a cidade remonta ao século 19, com
iniciativas de zoneamento e leis esparsas, mas sem duvida, foi com o Plano Agache de
1943 que nasceu o planejamento urbanístico formal de Curitiba. (CAMARGO, 2011).
(Figura 2).
26
Fonte: Menezes (1996, p. 199).
Figura 2 – Plano Agache
A cidade de Curitiba teve o marco inicial dos Planos Diretores, na década de 1940,
quando o arquiteto e urbanista francês Donat Alfred Agache elaborou um plano de forma
geral, que ficou conhecido como o Plano Agache. Tal plano dava ordenamento ao espaço
urbano da cidade, para resolver problemas nas áreas de saneamento,
descongestionamento do tráfego urbano, e quanto aos órgãos funcionais, com a
centralização dos edifícios para a sede do governo do estado, como também um
planejamento urbano prevendo a expansão e crescimento da cidade de forma ordenada.
Previa, também, sistemas viários em círculos concêntricos, avenidas radiais, perimetrais e
diametrais como forma de ordenar o crescimento do sistema viário da cidade. (MENEZES
1996).
Menezes (1996) cita ainda que, em meados dos anos 60 o Plano Agache
encontrava problemas de ordem jurídica, política e econômica. Ele não foi viabilizado
totalmente, principalmente pelas dificuldades nas diretrizes propostas e o pouco que foi
implementado é perceptível até hoje, ainda que com o crescimento da cidade, muitas
diretrizes tenham sido reequacionadas.
O autor supracitado menciona que:
Curitiba, no início da década de 1970, encontrava-se na
insustentável condição de uma cidade que desde os anos 50 vinha,
27
praticamente, duplicando a sua população a cada dez anos. As
intervenções feitas com base no Plano Agache há muito haviam se
tornado obsoletas. (MENEZES, 1996, p. 91).
Eram frequentes enchentes e inundações na área central, havia loteamentos
clandestinos, o sistema de transportes não atendia a demanda e estava precário, além de
praticamente inexistir algum lazer público. Menezes (1996, p. 91), cita o depoimento do
arquiteto Luiz Forte Neto quando ele diz:
Em 1971, lembro-me bem, Curitiba era a “ultima cidade” do Brasil
sem qualquer característica especial. O próprio curitibano era um
cara que não tinha a sua marca, não tinha uma expressão, isto
porque a cidade nada tinha a oferecer. (...) Então na primeira gestão
do Jaime havia muita coisa a fazer e não havia qualquer dúvida
sobre o que precisava ser feito.
Em meados dos anos 1960 foi elaborado pela empresa Sociedade Serete de
Estudos e Projetos Ltda., de São Paulo, um novo plano de urbanismo chamado
inicialmente de Plano Serete. A empresa propôs um Plano preliminar aberto, que era
passível de ser revisado e aperfeiçoado dentro das crescentes necessidades da cidade.
De acordo com Coelho (apud Menezes, 1996, p. 82), “a estratégia de elaboração
de um seminário, “Curitiba de Amanhã”, foi fundamental no processo de planejamento”,
pois teve como função principal legitimar o planejamento quando o identificou, “como de
forma muito mais formal quanto real”, e foi um mecanismo de deliberação democrática pelo
envolvimento da população nas discussões. (Figura 3).
28
Fonte: Menezes (1996, p. 199).
Figura 3 – Plano preliminar (Plano Serete): proposta de esquema viário.
Com efeito, isto provocou o lançamento de um plano preliminar, com suporte em
setores: técnico, cultural e administrativo e o comprometimento de que os futuros
governantes municipais iriam manter como base as diretrizes estabelecidas neste plano
preliminar, e que desta forma se instituiria o início efetivo do planejamento urbano para a
cidade de Curitiba.
Menezes (1996) menciona, ainda, que este plano preliminar seria gerido pelo
recém-criado Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC) e que o
plano preliminar acabou por dar origem ao Plano Diretor de Curitiba, depois de
transformado pela Câmara Municipal de Curitiba na Lei Ordinária n. 2.828 de 1966.
Ainda neste espaço de tempo, foram também criadas empresas públicas
municipais como forma de planejar, gerir e implementar o Plano Diretor elaborado. Neste
contexto do plano preliminar tem-se inserido o planejamento inicial do fechamento ao
tráfego de veículos de algumas ruas do centro da cidade, dentre elas a Avenida Luiz Xavier
e Rua Quinze de Novembro. Conforme Menezes (1996, p. 94-95), “a lógica era integrar as
funções sociais da cidade, valorizando a presença do homem no seu meio ambiente: a
cidade como cenário de encontro”. Assim, o plano propunha fazer com que a população
pudesse usufruir e assumir a cidade em corresponsabilidade pelo sucesso das
29
transformações urbanísticas e propondo que a cidade deveria ser das pessoas. Este fato
envolveu toda a população de Curitiba em um único tema; trabalhar por uma cidade
melhor, pois conforme Jaime Lerner,
a memória é a âncora da nossa identidade. E uma população que
não tem identidade com a sua cidade é uma população infeliz.
Identidade é um componente de qualidade de vida muito importante.
(...) Se você não tem identidade com o lugar, você não faz parte.
(...) Às vezes não é a construção ter valor histórico, é ter o valor que
teve para a cidade, para nosso ponto de referência. (MENEZES,
1996, p. 95).
Nestes termos tem-se que os calçadões exclusivos para pedestres devem visar à
população e seu bem estar de forma geral, promovendo o ser humano como o centro do
planejamento urbano e o desenvolvimento econômico-social em se pensando na cidade.
Conforme o acima exposto, Fachini (apud MENEZES, 1996, p. 84), menciona que
com a aprovação da Lei 2.828/1966 foi instituído o Plano Diretor da Cidade de Curitiba. Em
seu bojo o plano continha a delimitação do Zoneamento do Município, (que deu origem ao
Conselho de Zoneamento) e previa também a pedestrianização de algumas ruas da
cidade, dentre estas estavam a Avenida Luiz Xavier e Rua Quinze de Novembro. Desta
forma a administração da cidade fugia ao modelo administrativo centralizador, que estava
instalado em todo o país, e com isto viabilizava um modelo próprio de gerenciamento e
gestão pública urbana. Assim, a partir do ano de 1965 as ações governamentais teriam um
planejamento prévio. Nas palavras de Fachini:
mais importante que o Plano Diretor foi, no entanto, o processo de
planejamento desencadeado, através do qual o poder público, ao
agir, agiria de forma planejado, constituindo cada vez mais o
planejamento como ato de governo e como uma estratégia o poder
decisório. (MENEZES, 1996, p. 84).
Este tipo de planejamento foi implantado ao final da gestão do então Prefeito Ivo
Arzua Pereira, em 1966, sendo que para gestão seguinte (1967 - 1970), foi indicado como
Prefeito o engenheiro Omar Sabag, que demonstrava certa aversão ao modelo
administrativo proposto. Sabag, como engenheiro sanitarista, direcionou sua administração
para a área do sanitarismo, com a implantação de aterros sanitários, obras de contenção
de enchentes, ampliação do sistema de coleta de lixo e outras como: pavimentação de
ruas e avenidas, tanto em bairros como na área central da cidade, e também iniciou a
implantação do anel central da cidade que estava previsto no Plano Diretor, já aprovado.
Desta forma manteve o IPPUC (Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba)
30
um pouco afastado das suas funções iniciais, tendo-o apenas como órgão de
assessoramento, do prefeito, em aspectos administrativos.
Mais tarde, em 1971, conforme Menezes (1996, p. 90), quando o engenheiro e
arquiteto Jaime Lerner assumiu a Prefeitura Municipal de Curitiba, gestão 1971 - 1974, por
indicação do então Governador de Estado, Haroldo Leon Perez, reuniu a antiga equipe de
trabalho do IPPUC, da qual fazia parte na gestão do então Prefeito Ivo Arzua, e começou
então a implementar o Plano Diretor de Curitiba, Lei nº 2828/1966, pois a cidade
continuava vivendo no passado.
Menezes (1996, p. 92) menciona que: “O desafio de reverter este quadro,
equipando a cidade, implicava decisões ousadas – passíveis de críticas e reações dos
setores da sociedade diretamente envolvidos”, o que provocaria uma série de conflitos e
jogos de interesses. O grande exemplo disto foi o fechamento da principal via da cidade, a
Rua Quinze de Novembro, transformando-a em rua para pedestres. Esta transformação já
estava definida no Plano Serete, que previa a pedestrianização de algumas vias da região
central da cidade, o que provocou a reação do comércio da região central, sob a alegação
de que haveria queda nas vendas.
Boreki (2009, p. 20) na reportagem do jornal Gazeta do Povo descreveu o
fechamento da Rua Quinze de Novembro da seguinte maneira:
Da noite para o dia, toneladas de pedras petit-pavé apareceram na
Rua XV de Novembro como se brotassem da terra. Nas hábeis
mãos de centenas de operários, um quebra cabeças em preto e
branco foi moldado entre a madrugada de sexta e o entardecer de
segunda feira. Havia pressa, e o motivo não eram as horas extras.
Levar a cabo a obra num fim de semana foi a estratégia da
prefeitura para contornar um inevitável embargo judicial. Assim, num
despiste às vozes contrárias nascia o primeiro calçadão do Brasil,
uma via exclusiva para pedestres no centro nervoso da cidade
predestinada a revoluções urbanísticas. Em 20 de maio de 1972,
Curitiba amanheceu com um novo sorriso, como se estivesse
passado por uma cirurgia plástica. O calçadão da XV deu início ao
processo de construção da autoestima do curitibano. Faltava até
então algo para se orgulhar. [...]. A transformação da Rua XV, ao
contrário das obras, não foi intempestiva. Estava prevista havia seis
anos. A lei municipal 2828, de 1966, previa novidades que se
tornariam as referências urbanísticas de Curitiba, como as canaletas
dos ônibus expresso, a cidade industrial de Curitiba (CIC), além do
calçadão. [...] (Boreki, 2009, p. 20).
O autor supracitado relata que “O calçadão como se vê hoje – da Praça Osório à
Presidente Faria – foi concluído apenas em 1976”. Boreki (2009, p. 20) resume as datas e
etapas em que foram realizadas as obras do calçadão, conforme segue:
31
1971 – O projeto é finalizado.
Maio de 1972 – São realizadas obras da Barão do Rio Branco até a
Marechal Floriano.
Dezembro de 1972 – Continuação da Marechal Floriano até a
Doutor Muricy.
Janeiro de 1973 – Avenida Luiz Xavier recebe as pedras de petit-
pavé.
Janeiro 1973 – Implantação do mobiliário urbano. Os moldes
serviram de base para outras construções da cidade, como a
cobertura empregada nos terminais de ônibus.
1976 – Conclusão do trecho entre a Barão do Rio Branco e
Presidente Faria. A praça Tiradentes recebe mobiliário urbano,
incorporando-se ao paisagismo do calçadão.
1991 – Primeira grande recuperação de toda a Rua das Flores: da
praça Osório à praça Santos Andrade. Adjacências, como a
Monsenhor Celso, também são recuperadas.
1999 – Nova revitalização completa: da Praça Santos Andrade à
Praça Osório.
Os comerciantes, antes do início das obras, organizaram uma forma de retaliação
com um abaixo-assinado, e contrataram um advogado para embargar a obra. Sobre este
fato o advogado Renê Ariel Dotti assim relata: Fui procurado por comerciantes para entrar
com uma medida contrária à pedestrianização (BOREKI, 2009). Nesse ínterim o Prefeito
Jaime Lerner se reuniu com os comerciantes contrários à implantação do projeto, tentando
apaziguar os ânimos, explicando os detalhes do projeto, o que aparentemente deu certo,
pois já ao início das obras, os comerciantes perceberam que as mudanças poderiam tornar
o comércio um ponto forte e melhorar as vendas. Assim, não houve ação judicial, e como
menciona Rene Ariel Dotti: “o Lerner foi o melhor advogado do seu projeto”.
Ainda a respeito do assunto, Boreki (2009, p. 20), alude que “hoje Lerner lembra
que o comerciante que coordenou o abaixo-assinado o entregou de presente com as
seguintes palavras: “Guarde de lembrança e estenda a todo o centro da cidade”. O autor
do projeto, o arquiteto Abrão Assad acrescenta: “Antes não se via o curitibano sentado em
bancos ou tomando chope. A Curitiba da Rua das Flores mudou a essa cara. Tanto é que
o público adotou a ideia de sala de estar, fazendo de sua cidade uma sala de visitas”.
(BOREKI, 2009, p. 20).
32
Apesar da exultação do autor do projeto e alguns comerciantes, houve também
insatisfação por parte de outros, conforme editorial intitulado “A Nossa Rua XV” veiculado
pelo Jornal O Estado do Paraná, no dia 18 de maio de 1972, o qual cita:
Depois de ter transformado a Rua 15 de Novembro em parque de
estacionamento, os técnicos do município estão agora projetando
transformá-lo numa rua-praça, avenida-jardim, ‘boulevard-
logradouro’, ou coisa que o valha. E esse absurdo é justificado com
argumentos pseudo-urbanísticos, falando-se muito na
‘humanização’ do centro urbano. [...] Os técnicos pretendem, em
suma, presentear Curitiba com uma rua que seja uma festa. Seria
conveniente, entretanto, que se perguntasse ao curitibano se ele
quer realmente essa rua festiva. (BOREKI, 2009, p. 10).
Entretanto, passado o susto inicial, a reação agradável da população diminuiu a reação da
imprensa, que passou a ser mais amena.
O calçadão é uma realidade. “[...] A rua como ponto de encontro natural, a
iluminação diferenciada, as mesinhas na calçada, a tranquilidade de circulação, são
respostas que geram mais movimento num novo tempo” (ASSAD, apud URBAN 1992, p.
27). De acordo com Urban (1992, p. 35), existe uma alusão ao Calçadão que emite o
pensamento não apenas dos projetistas, mas que dá toda a apropriação da população:
Se as praças – principalmente para as crianças e os de mais idade
– são “ilhas” ainda funcionando como formas de escape da
agressão urbana, configurada pela expressão dos prédios, volumes
de carros, barulho, poluição visual, [...] assim os calçadões, que
nasceram, brasileiramente, de um projeto curitibano, constituem
fenômenos novos e, felizmente, em contínua expansão.
Assim, pela apropriação da população, com relação aos calçadões, a depender de
sua manutenção e revitalizações, serão sempre a extensão da sala de visitas de suas
casas, de forma a haver uma comunhão social, em uma psicologia urbana que em muito
ataca o ser humano, mas que com um planejamento urbanístico adequado deverá ser
equacionada de forma a prever o bem estar da população e dar a essa melhores
condições de vida em uma sociedade que necessita de lazer e de descarregar as tensões
do dia a dia, e que aí os calçadões por serem espaços abertos e democráticos cumprem a
sua função social.
33
2.3 O CALÇADÃO: A LEGALIZAÇÃO POLÍTICA COMO ESPAÇO PÚBLICO DE
URBANIZAÇÃO
2.3.1 Política pública em espaços urbanos sociais
O tema política urbana, na tradição sociológica, “está intimamente imbricado com o
poder local” (CASTELLS, 1983, p. 299), ou seja, um recobre parcialmente o outro. Em
outras palavras, é o processo político dentro da comunidade urbana, como um braço do
estado agindo em nível interno, junto com a comunidade para assim promover o
desenvolvimento e mudar a realidade local.
Quanto à administração pública da cidade de Curitiba, Souza (2005, p. 297):
O que é que Curitiba tem – e que as demais não têm?
Num país formado por uma colcha de retalhos mal costurada de
problemas sociais, a cidade de Curitiba, capital do estado do
Paraná, situada ao sul do Brasil, é o maior exemplo de que quando
o poder executivo se faz presente as coisas podem dar certo,
mesmo num país pobre. Por traz de uma cidade jovem, dinâmica e
relativamente bem resolvida, existe uma administração pública
consciente, que trabalha com os recursos de que dispõe e propõe
soluções criativas para um emaranhado de problemas urbanísticos,
que já se tornaram referência até no exterior.
Portanto, a análise da política urbana aplicada ao “espaço urbano” deverá observar qual o
papel da instituição municipal no processo de proposição da produção do espaço,
considerando suas finalidades, benefícios, facilidades e as influências internas e externas,
verificando principalmente qual a sua importância no contexto local, com foco na
sociologia, para estabelecer qual a efetiva transformação da realidade local que
determinadas políticas públicas de produção de espaços podem realizar e/ou influenciar
nesta realidade.
2.3.2 Políticas de mobilidade urbana e social
Este item tem por intuito compreender as políticas públicas aplicadas à mobilidade
urbana que promovem a transformação da realidade das vias públicas, principalmente por
estas dividirem o espaço entre pedestres e os veículos que nela transitam. O estudo
principal por sobre tais políticas vai se situar quanto aos benefícios que as políticas de
mobilidade implementadas trarão ao comércio de uma forma geral. Com efeito, visto que
34
este depende diretamente do trânsito de pedestres e de veículos, integrando as diversas
zonas das cidades, incluído aqui também a zona central da cidade.
O urbano é composto por determinadas relações entre as cidades e seus fluxos
que o torna um complexo a ser planejado e estruturado. Assim, a política de mobilidade
urbana corresponde às relações do espaço que abriga (ruas, construções, limitações
geográficas etc.) e as formas de organização com determinados objetivos. (GONÇALVES
et al., 1991).
Então, as ações de mobilidade das cidades devem compatibilizar a organização do
espaço urbano e suas soluções organizacionais, como forma de integração social e
também na área econômica de forma a proporcionar qualidade de vida às cidades.
Os transportes constituem-se em infraestrutura básica para o
desenvolvimento econômico e social. Suas características
econômicas (grandes custos enterrados e natureza de monopólio
natural), sociais (elemento de solidariedade e de coesão territorial) e
ambientais (elemento chave para o desenvolvimento urbano
sustentável) tornam obrigatória a presença do Estado na sua
provisão à Sociedade. Daí por que o maior ou menor papel
desempenhado pelo transporte nas políticas públicas, guarda uma
relação direta com os níveis de presença estatal na economia e na
Sociedade. (BRASILEIRO et al., 2006, p. 1).
Nesta mesma linha de pensamento o mesmo autor afirma:
É, pois, nesse atual contexto, que o trabalho realiza uma reflexão
sobre os novos desafios postos à Sociedade com vistas à
formulação de políticas públicas para os transportes urbanos em
que se destacam: i) o papel dos transportes na inclusão social; ii) a
retomada da ação do Estado na provisão das infraestruturas; iii) a
necessidade de novas concepções de planejamento, e de
mudanças institucionais no campo regulamentar e de financiamento.
Assim, o enfrentamento desses desafios parece ser imprescindível
para que se tenha um desenvolvimento baseado em um sistema de
transporte inclusivo e sustentável. (BRASILEIRO et al., 2006, p. 2).
Em outras palavras, o transporte urbano forma a base para que haja o
desenvolvimento nas áreas econômicas e sociais. Na área econômica acarreta à
infraestrutura altos custos na sua implantação e manutenção, como também cria um
monopólio natural, ou seja, fica a cargo de alguns o poder de explorar os serviços de
transporte, o que deve ser observado e regulamentado. Na área social impulsiona o
desenvolvimento pela própria natureza, que é dar mobilidade às pessoas, haja vista que
35
estas ocupam muitas vezes, por força de status, determinados espaços ou áreas distantes
dos centros urbanos, que “seriam de menor custo”, que o autor define como coerção
territorial. Assim, é necessário que o Estado forneça este serviço à sociedade. Desta forma
o Estado deve se fazer presente com políticas públicas adequadas, de forma a
desempenhar seu papel na economia e na sociedade.
De acordo com Boareto (2009, p. 143),
O processo de urbanização verificado nos países em
desenvolvimento, principalmente na ultima metade do século
passado, resultou em grandes concentrações populacionais em um
número reduzido de cidades, tornando explicito o conflito entre
pessoas de diferentes níveis de renda pela apropriação e o uso de
espaços públicos. O aumento da motorização da população,
traduzido na ampliação da frota de automóveis e motos resulta em
uma crise que diariamente é ilustrada pelos congestionamentos e na
disputa pelo uso da rua entre os vários modos de transporte,
motorizados ou não, seja para a promoção da acessibilidade das
pessoas ou para o transporte e distribuição de mercadorias e a
prestação de serviços.
O autor supracitado complementa que, de acordo com Davis (apud Boareto, 2009,
p. 143), “o crescimento urbano sofre maior pressão da migração entre cidades do que da
mudança da área rural para a urbana”.
O autor indica ainda que, Maricato, no prefácio da obra de Davis (2006), afirma
que em vez de cidades de ferro e vidro sonhadas pelos arquitetos, o mundo está na
verdade, sendo dominado pelas favelas. E descreve também, ainda na mesma linha de
pensamento:
Verifica-se assim as pressões ambientais urbanas decorrentes, de
um lado da urbanização da pobreza e, do outro, da reprodução do
padrão de consumo de países desenvolvidos, pela parcela mais rica
dos países em desenvolvimento, que se manifesta na política de
mobilidade urbana e nas suas externalidades negativas. Assim
iniciamos o século XXI construindo verdadeiras sociedades em
risco. Estes riscos, segundo o documento do Proam (2008), seriam
resultantes dos ambientes deteriorados em decorrência dos
processos sociais, ecológicos, econômicos, culturais e políticos que
se materializam na metrópole e criam situações de exposição para a
população que, por sua vez, são mais intensos para grupos sociais
mais pobres, [...]. DAVIS (apud BOARETO, 2009, p. 149).
36
Em outras palavras, o inchaço populacional provoca concentrações populacionais
de diferentes níveis, cultural e de renda, promovidas pela apropriação e uso dos espaços
públicos urbanos. O aumento desordenado dos meios de transporte provocou transtornos
no trânsito, principalmente por congestionamentos e disputa das ruas e avenidas no
transporte de pessoas como também de mercadorias e serviços.
O inchaço populacional das cidades mudou a paisagem urbana, ocasionando o
aparecimento de favelas impulsionado pela baixa renda da população. Desta forma a
política urbana mostra uma visão distorcida da cidade, o que não implica ser falta de
planejamento, mas falta de percepção das autoridades, o que provoca uma distorção da
visão, por não perceberem os problemas decorrentes do que está acontecendo. Como
também por não terem consciência das vantagens de aplicação em tempo hábil dos
benefícios que podem trazer o transporte coletivo de massa para esta população. E mais,
por não realizarem análises sobre o processo em andamento, verificando assim o
aparecimento de uma nova sociedade, o que pode acontecer em diversos lugares, se não
houver uma percepção da situação urbana como um todo.
Seguindo nesta mesma esteira,
O processo de planejamento dos transportes urbanos diz respeito a
todas as facilidades utilizadas para a movimentação de bens e
pessoas, incluindo terminais e sistemas de controle de tráfego. O
processo é baseado na coleta, análise e interpretação dos dados
relativos às condições existentes e ao desenvolvimento histórico,
nas metas e objetivos da comunidade, na previsão do futuro
desenvolvimento urbano e na futura demanda por transportes. Inclui
não apenas a preparação do planejamento, mas também revisões
periódicas e modificações provenientes das modificações que
ocorrem. (MELLO, 1981, p. 26).
O planejamento dos transportes urbanos deve seguir uma metodologia, ter
objetivos fixados a partir de metas comunitárias, incluir usuários e não usuários dos
sistemas de transportes e ter em vista o futuro desenvolvimento urbano e a integração com
os demais sistemas urbanos como forma de dar sustentabilidade a um planejamento de
longo prazo.
Mello afirma que os objetivos do planejamento devem ser de vários tipos:
[...] devem ter natureza variada, como: descentralizar as atividades,
melhorar a distribuição da renda, contribuir para a diminuição da
poluição, reduzir os custos de produção, permitir acesso a locais
turísticos ou áreas de lazer, ou seja, os planos de transportes
poderão ser voltados para vários objetivos. (MELLO,1981, p. 26).
37
As diretrizes devem ser seguidas na metodologia como forma a desenvolver
planos de transporte para as cidades, de maneira a se conseguir elaborar planos que
tenham viabilidade produzida além dos parâmetros comuns aos estudos de transporte, e
devem levar em conta outros parâmetros próprios de área urbana, como a redução dos
tempos de viagem e dos benefícios indiretos, vindos de melhorias na qualidade de vida da
população que se serve do sistema de transporte, como redução do nível de ruídos,
acidentes etc.
Mello (1981, p. 32) acrescenta que:
A escolha do modal poderá ser fixada pelo Governo, com uma
medida de políticas de transportes urbanos, isto é, se a política
governamental para este setor é aumentar a participação do
transporte público no total de viagens, ele pode estabelecer como
meta para determinado horizonte o percentual que deverá utilizar
carros particulares e veículos públicos. Fixados estes valores,
deverão ser adotadas medidas que favoreçam a utilização do
transporte público, ao mesmo tempo que deverão ser tomadas
medidas que desestimulem o uso dos automóveis. As duas séries
de medidas deverão ser tomadas ao mesmo tempo, caso contrário o
objetivo proposto jamais será alcançado.
Percebe-se que se a mobilidade da população é um fato gerador de aceleração da
produção e que o crescimento da população é um fato também gerador de novas
ocupações de uso do solo urbano e integração entre os novos espaços e os existentes.
Deve então prevalecer uma condição de crescimento harmonioso. Dessa maneira, o
transporte coletivo de massa deverá ser capaz de dar respostas às prementes
necessidades da população. Ele deve responder de forma eficaz minorando os problemas
de atendimento a todos e, assim, equacionar de forma rápida e eficaz a redução do tempo
nas viagens, com percursos mais curtos, proporcionando uma melhor qualidade de vida à
população que vive nas áreas urbanas das cidades.
Na mesma linha ele de pensamento, Leite (1990, p. V-13) alega que:
Os fatores econômicos do meio ambiente repercutem na mobilidade
da população, os fatores ecológicos nas emissões de gás de
escapamentos, os fatores sociais na procura quantitativa e
qualitativa, os fatores políticos influem nas concorrências de
mercado e distribuição modal, os fatores tecnológicos influenciam
na propulsão dos meios de transporte e assim por diante.
Percebe-se, assim, que os transportes públicos influenciam a população das
cidades em diversos aspectos como mobilidade, política social e cultural, vida urbana e
38
economia, qualidade de vida, recursos, dentre outros, que devem ser equacionados de
forma a vencer limitações provocadas pelo espaço geográfico das cidades e promover uma
melhor qualidade na prestação dos serviços. (LEITE, 1990).
Os espaços das cidades são limitados e não permitem um tráfego mais denso, pois
há limites impostos, principalmente, pelos de transporte individual. Isto considerado deve
ser feita uma formulação de forma a dividir e adaptar os espaços urbanos de maneira mais
econômica para que sejam mantidas ambas as formas de transporte, quais sejam os
individuais (particulares) e os coletivos (públicos).
Quanto ao transporte individual, este determina seus próprios horários e
frequência, restando dentro do transporte coletivo demandas quantitativas e qualitativas,
que deverão servir como pontos de referência ao planejamento, na área do que pode ser
dito como atendimento de foco social, como pontualidade, frequência, regularidade, tempo
de viagem, segurança, dentre outros, todos de grande importância para o usuário do
sistema de transporte. Há também para o operador do sistema obrigações a serem
atendidas, como eficiência, adaptabilidade, confiabilidade, dentre outras que também
devem ser consideradas para poder oferecer os serviços pelos quais for responsável.
Assim, os transportes públicos devem priorizar a qualidade dos serviços prestados,
prevendo sempre melhorar as formas de prestação dos serviços, de modo a desestimular o
transporte individual e dar prioridade ao transporte público de passageiros, no intuito de
diminuir o volume de veículos de transporte individual, diminuindo tempos de viagem,
aumentando o volume de viagens, etc., pois estas medidas contribuiriam para a adoção de
tarifas menores e mais adequadas, proporcionando melhores condições na vida da
população.
Para que isto ocorra é importante que haja intervenções dos Governos, como
forma de chamar para si a responsabilidade em implementar políticas públicas não apenas
às áreas afetas ao transporte público, mas com políticas de caráter social, na
regulamentação dos serviços, haja vista que este tipo de transporte atende toda a
população, inclusive a de baixa renda.
Verifica-se que a mobilidade é um meio, não dissociável da política social e está
em constante mutação, a fim de atender às necessidades tecnológicas de melhorias do
sistema de transporte público. E também à constante expansão das cidades e sua
população, de maneira a evitar o acúmulo de problemas que são normais devido ao
crescimento físico e populacional que ocorre, em especial nas grandes cidades.
Leite (1990) lembra que o cliente é o objetivo final do sistema de transporte e
recomenda uma série de medidas nas áreas operacionais, organizacionais, planejamento e
construção, econômicas e gerais, a serem adotadas pelos operadores e órgãos públicos.
39
Estas devem acontecer por meio de políticas que objetivem melhorar o sistema de
transporte público e dar ao usuário do sistema condições de confiabilidade e conforto,
como também minimizar os problemas sociais e “desafogar” determinadas vias de
transporte, como se pode observar pelas medidas acima recomendadas.
Leite (1990, p.15), propõe que: “na área central das cidades, fornecer prioridade
aos transportes públicos e nos subúrbios assegurar uma rede básica de apoio com um
traçado de linhas e horários, em conformidade com a demanda”.
Cabe, ainda, ressaltar que as Leis de Zoneamento são políticas públicas também
aplicadas às vias públicas, pois promovem ordenamento, crescimento e desenvolvimento
da cidade, no que se refere à mobilidade. Esta divide a cidade em regiões, chamadas
Zonas, disciplinando tudo o que é permitido, tolerado e permissível quanto ao uso e
ocupação do solo e ao atendimento aos dispositivos legais sobre áreas econômicas,
sociais e de lazer. Com este disciplinamento à forma de desenvolvimento e expansão da
cidade, a Lei dispõe em alguns artigos sobre a política de transporte e mobilidade, citando
o sistema viário e o transporte coletivo como forma de integração entre as diversas áreas,
inclusive integrando a região ou zona central com as demais zonas, distribuídas de acordo
com o planejamento geral.
Resumidamente, as políticas públicas em vias públicas têm como preocupação
principal promover o desenvolvimento local em determinados eixos das cidades. Para isto
propõe programas e projetos diferenciados nas mais diversas áreas de atividade, que
sejam afetas e promovam a transformação da realidade, visando dar uma melhor qualidade
de vida e facilidades à população.
A implementação de políticas públicas dentro da diversidade de propostas que se
encontram para as vias públicas nos eixos de desenvolvimento socioeconômico, social,
cultural e de lazer da cidade, devem visar à ordenação e promover o desenvolvimento local
em benefício da população promovendo qualidade de vida e transformando a realidade
local, principalmente na área do desenvolvimento social.
Enfim, os transportes públicos devem ser ampliados nas cidades de maneira sutil e
ser priorizados de forma a propor políticas de maior eficiência e qualidade como forma de
manter uma convivência saudável a par do transporte privado individual, desestimulando-o,
principalmente nos centros das cidades, como forma de redução dos tempos de viagem e
assim melhorar os sistemas de mobilidade nas cidades de forma geral, dando, portanto,
maior e melhor qualidade de vida às populações, principalmente, nos grandes centros
urbanos.
40
2.3.3 Leis de zoneamento, uso e ocupação do solo.
As Leis de Zoneamento e Ocupação do Solo das cidades formam um conjunto das
principais normas que ditam o rumo das políticas públicas em espaços urbanos. Dentre
elas podem-se citar algumas, como a Lei nº 9.800 (Curitiba, 2000), Lei nº 2.193
(Florianópolis, 1985) e Lei nº 3.253 (São Luiz, 1992). Além disso, as leis citadas revogam
disposições contrárias e leis anteriores, como forma de promover avanços nos parâmetros
já estabelecidos, de forma geral, na expansão das cidades e, que como todas as leis de
zoneamento, dispõem sobre a divisão do território do Município dividindo-o em zonas e
setores, com objetivos claros no desenvolvimento direcionado das cidades e também em
alvos com focos sociológicos, denotando de forma quase imperceptível segregações nas
áreas sociais e econômicas.
As políticas públicas urbanas atendem ao Zoneamento e aos critérios de Uso e
Ocupação do Solo para definir os objetivos das políticas públicas nas áreas de urbanismo,
comércio, habitação e lazer, atendendo a uma visão sociológica, na qual as cidades não
existiriam se não fosse a população que nela habita e trabalha. Dentre estes objetivos
estão o de geração de empregos e renda, compatibilização do uso do solo com o sistema
viário e transporte coletivo, preservação de centros históricos, culturais, sociais,
paisagísticos e outros, como a integração de espaços urbanos periféricos, para viabilizar
meios que proporcionem à população um espaço urbano adequado e com planejamento
integrado às políticas públicas, para assim atingir seus objetivos.
Percebe-se, assim, que as Leis de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo tratam o
município de forma integrada, incluindo os aspectos socioeconômicos, sociais e de lazer,
como forma de promover o bem-estar da população e a integração do município. Grande
parte das políticas públicas em espaços urbanos giram no entorno das Leis de
Zoneamento e de Uso e Ocupação do Solo, pois estas ditam todo o mecanismo e
detalham como deve ser o funcionamento das cidades, em todas as áreas, inclusive na
social, já que coloca as cidades e suas funções sociais na razão direta da população que
nela vive e trabalha.
2.3.4 Despoluição visual da cidade
Outra política pública que merece destaque é a de despoluição visual da cidade.
Esta política também foi implementada no calçadão da cidade de Curitiba. Conforme citam
Macedo, Nascimento e Boschilia (1981, p. 40) existia à época, a Lei nº 1.211 de 19 de
setembro de 1953, que disciplinava a colocação de “outdoors”, placas e outras formas
41
exteriores de propagandas. Com esta regulamentação especifica o então diretor do
Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico da Secretaria de Educação e Cultura, o
arquiteto Sergio Todeschini Alves, procurou aplicar a lei em algumas regiões da cidade,
principalmente as de maior adensamento e concentração do comércio, e como exemplo
cita-se o centro da cidade de Curitiba, mais especificamente onde existiam edificações
históricas, como na Rua das Flores, onde o nível de poluição visual era bastante
desconfortável e confuso, obstruindo as fachadas destas edificações, escondendo parte da
história da cidade.
Esta questão chegou aos Tribunais de Justiça e foi parar no Supremo Tribunal
Federal, que a julgou procedente, acolheu e obrigou a antiga loja Paulistana Modas,
instalada no calçadão, e que tinha a maior descaracterização da fachada, a desmanchar
toda a grande fachada de fibra de vidro de cor de abóbora. Assim fez ressurgir um edifício
construído em 1926 e, tombado em 1972, como “uma das relíquias da velha Curitiba”.
Conforme a reportagem Despoluição visual da cidade dá mais beleza à Rua das
Flores, publicada pelo jornal Diário do Paraná em maio de 1982,
Está praticamente concluída a primeira etapa do programa de
despoluição da cidade, instituído e desencadeado pela Prefeitura
Municipal de Curitiba, através de um projeto elaborado pelo Ippucc –
Instituto de Pesquisa e Planejamento da Cidade de Curitiba. [...]
[...] A ideia é dar uma melhor organização ao aspecto visual da
cidade, considerando que o desenvolvimento desordenado da
publicidade urbana põe em risco a segurança da população e
ocasiona prejuízos à paisagem da cidade.
Este foi um primeiro passo para destacar a paisagem das ruas da cidade de
Curitiba, facilitando a visualização do comércio dentro de uma proposta de racionalização e
padronização da propaganda ao ar livre.
Em maio de 1981, o arcebispo de Curitiba Dom Pedro Fedalto, diretores da
Fundação Roberto Marinho e outras autoridades, estiveram presentes em solenidade
pública, quando o prefeito, à época, Jaime Lerner assinou o Decreto nº 172 de 1981,
baseado no Código de Posturas Municipal, previsto pela Lei 699 de julho de 1953,
considerando o risco à segurança da população e prejuízos a paisagem urbana, a
necessidade de controle da exploração e utilização da publicidade por meio de controles
específicos como: taxas de publicidade locais de afixação e localização, lei de zoneamento
etc., que deveriam dar maior controle neste tipo de publicidade e adequá-los às diversas
zonas e setores da cidade de Curitiba. (MACEDO; NASCIMENTO; BOCHILIA, 1981).
42
Assim, anos mais tarde, com o intuito de melhorar o visual da cidade e padronizar
os moldes de publicidade, por iniciativa da Câmara Municipal foi elaborada a Lei nº
8.471/1994 como forma de regulamentar e disciplinar a propaganda ao ar livre. Diante do
disposto em lei, o setor comercial da cidade está até hoje obrigado a se adequar a
padronização dos diversos moldes e normas de publicidade, que vai desde o
posicionamento e formato até as dimensões das placas ou luminosos de propaganda.
O visual das ruas da cidade ficou mais leve e harmônico dando um ar sóbrio e discreto e
sem agredir as fachadas dos imóveis, principalmente nas áreas históricas da cidade. A lei
teve como intuito, também, coibir excessos que desvirtuem o sentido da publicidade;
manter o convívio harmonioso entre o comércio, população e manter uma política de
manutenção da paisagem natural e histórica da cidade.
2.3.5 Feiras de artes
Dentro do tema políticas públicas urbanas, a Secretaria Municipal de Turismo
através do Ofício nº 342 (1989), propôs ao Prefeito uma forma de regulamentar as feiras
de artes e artesanato que aconteciam em Curitiba sem que houvesse qualquer
regulamentação, no que é atendida com Decreto nº 221/1989, que dispõe:
Art. 1º - As Feiras de Artes e Artesanato de Curitiba tem por fim:
Incentivar a produção artística e de artesanato, alem de outros
produtos que representem e valorizam a cultura local, divulgando-as
no seio da comunidade, bem como entre aqueles que visitam a
cidade;
Identificar os artistas e artesãos curitibanos, dando-lhes espaço para
expor e comercializar seus produtos.
Art. 2º - As feiras existentes na data deste Decreto são:
[...]
d) Feira de Artes Plásticas Luiz Xavier - localizada na Avenida Luiz
Xavier, e que se caracteriza pela oferta de trabalhos de artistas
plásticos, funcionando às quartas-feiras e sábados, das 9:00 às
14:00hs.
Parágrafo Único - Os horários e localizações atuais poderão ser
alterados, assim como outros locais de exposição ser criados, por
Portaria da Secretaria Municipal do Turismo.
[...]
Art. 4º - Nas Feiras de Artes e Artesanato, só poderão ser expostos
produtos reconhecidamente classificados como artísticos e
artesanais e confeccionados pelo próprio expositor, dentro dos
seguintes critérios:
[...].
43
Estes e outros artigos deste Decreto disciplinam as feiras de artes e artesanato a
céu aberto em Curitiba, demonstrando uma política nítida de incentivo a cultura local,
dando preferência, divulgação, promoção e espaço ao artista curitibano como também um
local público para comercializar as suas obras. Aqui, como forma de dar mais visual e
revitalizar um trecho do calçadão, o Decreto instituiu no Art. 2, alínea d, um ponto para esta
atividade comercial de artes na Avenida Luiz Xavier, ponto este localizado na região onde
se reúnem os cavaleiros da “Boca Maldita”, por ser um local de grande concentração
popular.
Percebe-se que a formulação de políticas públicas em espaços urbanos com o
intuito de preservar o patrimônio histórico, incentivar o comércio e explorar os espaços na
perspectiva de promover o desenvolvimento urbano; criando ainda outros espaços em
determinadas áreas, não apenas no centro da cidade, mas em outros locais, visa
principalmente o desenvolvimento na área socioeconômica, buscando atrair a população a
diversos pontos da cidade, e desta forma transformar a realidade urbana local.
2.4 O CALÇADÃO: SEU DESENVOLVIMENTO
2.4.1 Desenvolvimento social e econômico
Este item tem por intuito compreender o desenvolvimento socioeconômico de
centros urbanos, diante da relação com as políticas públicas implementadas, a teoria da
centralização urbana e teorias sociais existentes.
Segundo Gottdiener (1997), em “A centralidade na teoria da localização”, a lógica
da teoria da localização dependente de situações como as necessidades industriais, as
ofertas de fatores de produção, as considerações dos mercados e as exigências
administrativas ou organizacionais. Tais necessidades se cumprem com benefícios obtidos
pela coerção, em que determinados setores impõem a localização central para exercer a
função econômica da cidade.
Neste sentido, Berry menciona que:
O teórico da localização comumente classifica em três tipos as
atividades econômicas concentradas localmente: as que são
orientadas pela matéria-prima, as localizadas em pontos
intermediários entre a matéria-prima e o mercado e as orientadas
pelo mercado [...] Os três princípios clássicos da localização urbana
derivam desses três tipos de orientação das atividades econômicas
em termos de localização: cidades que são locais de funções
especializadas, cidades que expressam o traçado e caráter das
redes de transportes, e cidades que são lugares centrais.
44
Considerando que as cidades são lugares centrais que cumprem as
funções de comércio varejista e de serviços para a área
circunvizinha, nem toda cidade possui os dois primeiros aspectos...
A zona comercial central é um ponto focal em torno do qual se
desenvolveram usos e densidades da terra, a padronização espacial
da população urbana, a localização subsidiária do comércio varejista
e dos serviços, padrões de transporte e commuting e semelhantes.
BERRY (apud GOTTDIENER, 1997, p. 51).
Esta teoria, apesar de ser bastante difundida, encontra divergência de muitos
economistas, mas estes admitem a sua importância, principalmente por considerarem as
decisões econômicas da população das cidades e também por considerarem modelos de
equilíbrio, onde o comércio de bairro deve ser considerado de menor valor para o varejo,
visto que o custo da terra é possivelmente mais barato se comparado ao da região central
das cidades, que por sua vez, têm maiores condições de se desenvolver. A opção da
centralidade só se fundamenta se houver maiores oportunidades, tanto de empregos como
de negócios. É importante ressaltar que “essa opção só tem sentido se admitirmos que o
centro da cidade é um ponto de concentração tanto de oportunidades de emprego quanto
das de negócios. (WINGO, 1961, apud GOTTDIENER, 1997).
Gottdiener (1997, p. 52), acrescenta que:
[...] basicamente é uma concepção à demanda que eleva as
preferências do consumidor individual e dos negócios a um lugar
primordial entre aquelas forças que se articulam com o espaço, e
que descura os fatores sociais que estruturam a oferta diferencial
das localizações atraentes, como os programas de governo.
Romanos 1976:79 (apud GOTTDIENER, 1997, p. 53) afirma que a partir da
concentração de emprego no Central Bussiness Distrit (CDB), duas tendências influenciam
os modelos monocêntricos, são elas:
1) Ao explicar a estrutura urbana e a localização do lar familiar, dá-
se mais importância ao CDB do que ele realmente merece;
2) a análise do restante da área urbana torna-se inadequada porque
a homogeneidade da terra residual é destruída pela presença de
usos não residenciais.
Segundo Nazzari, Reule e Lazarotto (2003) as teorias de diversos autores que
pesquisam sobre desenvolvimento socioeconômico têm como finalidade melhorar a
qualidade de vida das pessoas, pois é em função do desenvolvimento das cidades que as
45
políticas públicas devem ser implementadas, para que realmente atinja o almejado
desenvolvimento em função de melhorias sociais.
Uma variável importante dos índices de desenvolvimento
socioeconômico atual está relacionada à melhora da qualidade das
pessoas, constata-se que, nesta direção o capital social é produtivo
para o desenvolvimento socioeconômico das cidades e para a
vitalidade das instituições democráticas. As formas e os exemplos
de capital social são: congregações baseadas na organização
comunitária relacionada à participação cívica, em questões de meio
ambiente, educação e problemas da comunidade de extensões
municipais, e cooperativas de auxílio mútuo, entre outras.
(NAZZARI, 2003).
Assim percebe-se que o processo de desenvolvimento socioeconômico é
dependente de uma implementação de políticas públicas visando um processo de
aperfeiçoamento que busque metas desejáveis para o conjunto da sociedade,
transformado-as em benefícios sociais que levem a população a ter uma melhor qualidade
de vida. Mesmo sendo a “sociedade” formada por diferentes linhas de pensamentos, mas
com o foco no desenvolvimento, no avanço social e econômico, visando o crescimento de
forma a atingir os objetivos almejados dentro de um planejamento preestabelecido.
46
3 METODOLOGIA
3.1 EMBASAMENTO METODOLÓGICO
Esta é uma pesquisa de ordem bibliográfica com foco documental e exploratória.
Fez-se um estudo sobre o Calçadão de Curitiba e sua história como espaço público social
de urbanização da cidade desde sua implantação (anos 70, século XX) até 2012, visando
compreender seus avanços e retrocessos socioeconômicos. O embasamento teórico
adotado no presente estudo constou de duas fases: pesquisa bibliográfica e pesquisa
documental, as quais são especificadas a seguir.
3.1.1 Pesquisa Bibliográfica
Este estudo tem a característica de uma pesquisa bibliográfica. Para Siqueira
(2005, p. 85), a bibliografia corresponde ao “conjunto de livros e textos científicos
produzidos e referentes a certo tema”, onde a pesquisa bibliográfica passa a ser o exame
para levantamento e análise do material já produzido sobre o assunto. Assim, o
pesquisador se utiliza o que já foi investigado por outros autores sobre o objeto da
pesquisa. Para isto deve ser realizada uma pesquisa bibliográfica prévia, como forma de se
utilizar os conteúdos já estudados, obtendo-se assim informações sobre o tema em estudo.
Contudo, deve-se verificar a procedência destas, para que sejam evitadas reedições de
informações equivocadas.
Vieira (2005, p. 34) define a pesquisa bibliográfica de forma mais sucinta: “as
produções humanas estão guardadas em livros, artigos e documentos, assim nenhum
trabalho científico dispensa a pesquisa bibliográfica”. E continua, citando que este tipo de
pesquisa abrange toda a bibliografia existente e que já foi tornada pública, abrangendo
publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, gravações
em fita magnética e audiovisuais como filmes e televisão. O objetivo é dar ao pesquisador
forma de acesso direto a todo material existente de forma escrita, dita ou filmada sobre o
assunto pesquisado, incluindo também conferências seguidas de debates que de alguma
forma tenham sido transcritos e editados.
Neste estudo, para a realização da pesquisa bibliográfica seguiu-se os passo
sugeridos por Siqueira (2005), quais sejam: Determinação dos objetivos, que foram:
Descrever a implantação do Calçadão; Apresentar referenciais sobre o Calçadão de
Curitiba como espaço público social da cidade; Apresentar os avanços e retrocessos
47
socioeconômicos do Calçadão de Curitiba desde registros da mídia escrita paranaense dos
anos 1972 a 2012, como também através de imagens fotográficas publicadas na mídia
escrita paranaense dos anos de 1972 a 2012; Compreender os avanços e retrocessos, as
relações socioeconômicas no desenvolvimento do Calçadão de Curitiba através de
registros da mídia escrita paranaense e nacional. Em seguida houve a elaboração do
plano de trabalho; Identificação das fontes; Localização das fontes e obtenção do material;
Leitura do material e tomada dos apontamentos; Confecção de fichas e redação do
trabalho.
Por fim, foi realizado “estudo de caso”, por se entender o Calçadão de Curitiba nos
seus avanços e retrocessos socioeconômicos desde 1972 a 2012 como um fenômeno
complexo, que demandou ser compreendido dentro dos limites políticos e sociais.
3.1.2 Pesquisa Documental
Em, Vieira (2005 p. 35), tem-se uma definição esclarecedora sobre pesquisa
documental, que é elaborada com base na definição contida nas normas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), (NBR 6023:2000, p. 2). Tal pesquisa é “aquela
realizada a partir de documentos, contemporâneos ou retrospectivos, considerados
cientificamente autênticos (não fraudados)”. A autora diz que é muito utilizada nas ciências
sociais, na investigação histórica, como forma de comparar fatos sociais firmando sua
forma de agir.
A pesquisa documental dá maior facilidade para se verificar diante do acervo de
fontes bibliográficas, informações e dados, para clarear e/ou delinear o problema científico
da pesquisa que está em foco, na busca de informações e dados com melhor
aproveitamento dos objetivos que se deseja obter.
Assim, Siqueira (2005, p.94) elabora um quadro comparativo das diferenças entre
os dois tipos de pesquisa.
Diferenças
Pesquisa Bibliográfica: Pesquisa Documental:
1. Usa contribuição de vários autores sobre
um determinado assunto.
2. As fontes são constituídas, sobretudo por
material impresso situado na biblioteca.
3. Documentos impressos para certo público.
1. Vale-se de materiais que não receberam
tratamento analítico, ou que podem ser
reelaboradas conforme o problema da
pesquisa.
2. As fontes são diversas e dispersas.
48
As pesquisas bibliográficas e documentais se confundem, e podem ser consideradas
apenas como bibliográficas por se tratar de material escrito, e fazer parte de um “acervo”
de consulta plausível de demonstração como fonte de pesquisa. Isto desde que
devidamente catalogado em bibliografia própria de trabalhos como “fontes de pesquisas”
que são, e desta forma podem ser reconhecidas como tal.
Com base no acima citado, este trabalho é elaborado como um “estudo de caso”.
E irá retratar o Calçadão de Curitiba como área social, uma grande “Sala de Estar”, na
região central da cidade, ladeada por um comércio próprio em área reservada
exclusivamente aos pedestres. Assim dá à população um espaço público propício a
encontros e bate-papos, ladeado de por bares, restaurante, cafés e um comércio de fácil
acesso, o que torna o calçadão também uma área comercial importante. Assim sendo, o
conjunto que forma o “Calçadão de Curitiba” pode ser visto como um grande espaço
público a céu aberto que teve desde a sua implantação avanços e retrocessos. .
3.2 Perfil da área em estudo
A Avenida Luiz Xavier e a Rua XV de Novembro são as ruas que compõem o
chamado “Calçadão de Curitiba”, que é fechado ao tráfego de veículos automotores. O
logradouro tem perfil característico de um espaço público de lazer, mesmo sendo ladeado
de um comércio de características diversas.
A pavimentação em toda a sua extensão e largura é em petit-pavé, que é um tipo
de pedra pequena com formato irregular nas cores preta e branca que possibilita formar
desenhos, da mesma forma que são utilizadas nas calçadas ou passeios. É conhecida
também como “Rua das Flores”, nome que traz desde os tempos do império, e que para
não perder sua identidade, diante do nome pelo qual já era conhecida, foram instaladas em
tudo a sua extensão grandes floreiras, dando ao calçadão a imagem de uma grande praça.
É um espaço público utilizado pela população da cidade como via de passagem, área de
comércio e também como área de lazer, pois neste local existem pontos já definidos pela
própria população como pontos de encontro, como a “Boca Maldita” e outros, que com a
instalação do mobiliário urbano, preparou alguns trechos desta via nos mesmos moldes do
mobiliário instalado na Boca Maldita para serem utilizados como locais de descanso ou
bate-papos informais.
49
3.3 Área geográfica: Localização e dimensão
A área geográfica estudada nesta pesquisa é o espaço público do “Calçadão de
Curitiba”, composto pela Avenida Luiz Xavier e Rua XV de Novembro conforme mostra a
Figura 1, localizada na região central da cidade de Curitiba, perfaz um total de 06 (seis)
quadras. Seu início está na confluência da Avenida Luiz Xavier com a Rua Voluntários da
Pátria, confluência esta também fechada ao tráfego de veículos, o que fez com que o
trecho do calçadão incorporasse um pequeno trecho da Rua Voluntário da Pátria e fez com
que a Avenida Luiz Xavier tivesse início na Praça General Osório.
Partindo da Praça General Osório, o Calçadão é oficialmente Avenida Luiz Xavier,
até a confluência com a Travessa Oliveira Bello, quando então se inicia a Rua XV de
Novembro, onde o Calçadão se estende por mais cinco quadras até a confluência com a
Rua Presidente Faria. Assim o Calçadão de Curitiba perfaz um total de seis quadras que
foram fechadas ao tráfego de veículos, e pelo tratamento urbanístico adotado, ele foi
transformado em espaço público exclusivo à pedestrianização, com benefícios diretos à
população da cidade de Curitiba.
3.4 Coleta e análise dos dados
A coleta de dados foi de conformidade com os parâmetros estabelecidos para
Pesquisa Bibliográfica e Pesquisa Documental sem perder de vista o objeto de estudo (O
Calçadão de Curitiba). Assim, dentro do embasamento teórico da metodologia adotada, se
usou o método exploratório, com procedimentos qualitativos para se obter os dados
necessários à pesquisa num exercício metodológico dedutivo-indutivo, visando construir
reflexões pertinentes ao desvelamento do objeto de pesquisa.
As fontes utilizadas foram as publicações desde 1972 até 2012 com reportagens
de revistas, jornais, boletins informativos e imagens fotográficas relacionadas ao Calçadão.
A título de elucidação quanto às fontes de pesquisa citadas neste trabalho, deixa-
se claro que algumas reportagens e fotografias não foram possíveis de serem localizadas
na autoria, principalmente as mais antigas. Tais reportagens e fotografias foram
conseguidas em acervos pertencentes à Biblioteca Pública do Estado do Paraná (BPP), à
Fundação Cultural de Curitiba (FCC), e ao Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba (IPPUC), que são instituições reconhecidamente idôneas. Estas instituições
mantêm em seus arquivos um grande acervo histórico da cidade de Curitiba, incluído neste
o Calçadão da Avenida Luiz Xavier e Rua XV de Novembro, coletado ao longo dos anos.
50
3Contudo parte do material coletado em recortes de jornais e revistas, que foi utilizado
consta anotado apenas o nome do jornal ou revista que editou a matéria e a data de
publicação, deixando à parte a autoria e outras referências que são também de suma
importância, mas que não foram registradas por não se ter conseguido a informação. Por
este motivo deixa-se de apresentar algumas reportagens, por não ter qualquer
identificação, apesar de constar de acervo fidedigno, mas que não se tinha a certeza de
sua veracidade.
Para a fundamentação se utilizou revistas, livros, periódicos e leis nacionais e
locais que deram a base documental e científica para a pesquisa. Também se utilizou
imagens fotográficas no sentido de trazerem elucidação imagética sobre os fatos
econômicos e sociais que implicaram na vida do cidadão curitibano. Tais imagens
fotográficas foram obtidas dentro dos acervos de jornais, revistas e fotografias mantidos na
Biblioteca Pública do Estado do Paraná, no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano
de Curitiba e na Fundação Cultural de Curitiba, de forma a ilustrarem imageticamente neste
trabalho as diversas fases e situações vividas no Calçadão de Curitiba.
A coleta de dados se organizou desde a publicação da mídia escrita,
especialmente paranaense e nacional, em ordem cronológica, para verificar os avanços e
retrocessos socioeconômicos acontecidos no desenvolvimento do Calçadão. Juntamente
com algumas citações, se agregou fotografias pertinentes ao conteúdo delas.
Posteriormente, num processo indutivo-dedutivo, se descreveu comentário reflexivo sobre
as citações e fotos referentes aos avanços e retrocessos do desenvolvimento do Calçadão
de Curitiba.
3 Referências: ver esclarecimento na página 52, item 3.4
51
4 AVANÇOS E RETROCESSOS DO CALÇADÃO DE CURITIBA: UM OLHAR SOBRE A
MÍDIA IMPRESSA DE 1972 A 2012
Este capítulo tem por objetivo analisar o Calçadão de Curitiba sob os aspectos
socioeconômicos, retratando avanços e retrocessos ocorridos nele, por meio de
constatações obtidas de dados coletados da mídia impressa paranaense e nacional.
Entende-se por avanços, conforme o dicionário eletrônico Aurélio (2012), o ato ou
efeito de avançar. Neste sentido, avanço é entendido como um processo que está ligado
ao progresso e ao desenvolvimento, corresponde assim ao processo de crescimento nas
áreas: econômica, político e sociocultural.
Por outro lado, entende-se por retrocesso, segundo o dicionário eletrônico Aurélio
(2012), o ato ou processo de retroceder, retornar no tempo, voltar ao passado. Neste
estudo, retrocesso significa parar o crescimento e desenvolvimento, é inicialmente entrar
em um processo de estagnação, ou ainda, ficar parado no tempo.
As imagens fotográficas4 e reportagens, extraídas de jornais e revistas, são
apresentadas em intervalos de tempo de cada década, a partir do ano de 1972 de forma
cronológica, sendo elaborado da mesma forma os anos que compõem os interstícios de
tempo da década de acordo com os dados coletados. O foco implica em conhecer
principalmente as transformações ocorridas no Calçadão, no período supracitado, através
dos avanços e retrocessos nas áreas sociais e econômicas.
Iniciamos a exposição das imagens fotográficas e reportagens relatando inicialmente
os avanços acontecidos desde a sua implantação na década de 1972.
4.1 AVANÇOS
4.1.1 Década 1972 a 1982.
A figura 4 (abaixo) mostra o fechamento da Rua XV para o tráfego de veículos,
pois o objetivo era dar início à criação do Calçadão, ocorrida no ano de 1972. A figura 5
mostra o início da execução de pavimentação do leito da rua perfazendo o Calçadão.
4 Algumas páginas foram quebradas para melhor visualização das imagens fotográficas.
52
Figura 4: Fechamento da Rua XV aos veículos. (1972).
Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).
Figura 5: Obras de pavimentação da Rua XV em petit-pavé. (1972).
Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.
As figuras 4 e 5 foram extraídas dos acervos indicados em cada uma delas, para
ilustrar a reportagem intitulada “Rua das Flores, da Imperatriz e XV - As constantes
mudanças desta artéria”, veiculada no Jornal Folha de Londrina, publicada em 1972.
A reportagem aborda a interdição da Rua XV de Novembro ao tráfego de veículos
automotores, de início transformando alguns trechos desta via, em estacionamento pago.
O texto diz que o calçadão seria composto por seis quadras desta via, e não seria possível
executá-los todos ao mesmo tempo, assim a opção era interditá-la aos veículos e a
execução do calçadão seria feita por etapas.
A reportagem continua ainda relatando que o fechamento desta via trouxe para a
maioria dos comerciantes ali estabelecidos incômodos de ordem econômica e social, o que
fez com que eles protestassem contra a medida. Eles acreditavam que o movimento do
comércio iria diminuir ainda mais, mesmo porque já estava enfraquecido. Mas com o
passar dos dias, foram se acostumando com a ideia, contudo os protestos continuavam.
Quando em um final de semana a Prefeitura Municipal iniciou a pavimentação da via em
53
petit-pavé, sendo que o primeiro trecho escolhido compreendia as quadras desde a
esquina da Rua Barão do Rio Branco até a Rua Marechal Floriano, de modo que o trecho
composto de duas quadras seria reservado à pedestrianização, ou seja, de uso exclusivo
aos pedestres. Com isto, os comerciantes novamente foram pegos de surpresa, voltaram a
protestar, inclusive iniciando um processo contra ao município. Neste ponto a prefeitura de
Curitiba se viu obrigada a se justificar, alegando aos comerciantes que as vendas iriam
aumentar, pois o movimento de pedestres seria maior.
Alguns comerciantes aceitaram a dita alegação, enquanto outros continuaram a
protestar. Em um primeiro momento as vendas continuaram como estavam para alguns,
enquanto para outros chegou até a diminuir. Os comerciantes mais conservadores não
queriam modificações, nem mesmo quando souberam que a via voltaria a ser chamada de
“Rua das Flores”.
Por ser uma rua central e de grande importância para a cidade, era sempre o foco
principal das conversas entre os seus frequentadores, como também da parte dos
administradores da cidade. Em conversas falavam que a Rua XV estava servindo como
uma via de testes ou experimento, e alguns comentários diziam que mais tarde poderia se
transformar até em “campo de futebol”.
Outras pessoas achavam que as obras deveriam avançar de forma mais lenta, se
adequando às situações que fossem acontecendo, ao que a prefeitura respondeu que
estavam realizando o disposto no Plano Diretor da Cidade. Este era a Lei nº 2828/66
(Curitiba), que previa ainda a pedestrianização também de outras vias centrais da cidade,
visando estabelecer a hierarquização do sistema viário básico.
Como já dito anteriormente, quando se iniciaram as obras da Rua XV, houve o que
a reportagem chamou de “Clima da Discórdia”, que aconteceu entre os comerciantes.
Alguns eram contra o fechamento da via, por acharem que o movimento iria cair, enquanto
outros preferiam esperar um pouco para ver o que realmente aconteceria com o comércio.
Com o tempo foi constatado que o movimento basicamente continuou o mesmo, sendo que
para alguns tipos de comércio, o movimento realmente diminuiu, enquanto que para outros
o movimento aumentou. Na sequência temos depoimentos de alguns comerciantes e
funcionários do comércio local, alegando que as modificações acontecidas, pouco ou nada
mudaram o comércio.
O trânsito de pedestres continuou o mesmo e o comércio não se desenvolveu por
conta da pedestrianização. Assim, basicamente o comércio continuou a atuar normalmente
sem grandes modificações e com o movimento que já lhe era característico, apenas dentro
de uma nova forma, haja vista ser uma rua exclusiva para pedestres.
54
A reportagem de origem das fotos anexadas faz citações que corroboram com o
descrito, quando diz: “A prefeitura justificou dizendo que as vendas iam aumentar
consideravelmente, pois o movimento será maior”. (JORNAL FOLHA DE LONDRINA,
1972).
Quanto ao aumento do movimento na rua, alguns comerciantes concordaram,
porém com relação ao aumento dos negócios a maioria não confirmou dizendo que não
houve maior vendagem em algumas casas, e em outras chegou até a diminuir.
Em outro trecho a reportagem informa:
A Rua XV de Novembro, que também já foi << da Imperatriz>>
desde os mais remotos tempos vem sofrendo modificações, pois
trata-se de artéria mais central da cidade, e por isso esteve sempre
na pauta dos papos dos seus frequentadores e dos administradores
da cidade. Ultimamente, a impressão que se tem é que está
servindo de campo de experiência, já que em pouco tempo foi
modificada duas vezes. Segundo alguns comerciantes que
discordam das medidas adotadas pela municipalidade “em breve
teremos até um campo de futebol. (JORNAL FOLHA DE
LONDRINA, 1972).
Mais adiante, a reportagem diz ainda:
De acordo com as explicações do Instituto de Pesquisa e
Planejamento Urbano de Curitiba – IPPUC, o que a prefeitura
realizou na Rua XV de Novembro nada mais foi do que dar
cumprimento à Lei nº 2828/66, que instituiu o Plano Diretor. Essa lei
foi fruto de grandes discussões e estudos realizados entre a
municipalidade e entidades ligadas ao planejamento e as classes
produtoras. (JORNAL FOLHA DE LONDRINA, 1972).
Na sequência a reportagem traz alguns depoimentos que são relevantes e devem
ser mencionados como forma de corroborar que houve avanços, muito embora discretos e
sem a objetividade desejada, talvez pela ansiedade ou pela necessidade de avanços
imediatos.
De acordo com Conrado Esser, funcionário da Confeitaria e Leiteria Schaffer, até
o presente momento tendo decorrido uma semana da transformação da rua, o movimento
não sofreu nenhuma alteração. “Não aumentou nem diminuiu”. O que eu acho que não vai
dar certo é a colocação de mesas nas calçadas, pois com o clima que temos, quem é que
vai aguentar ficar à noite sentado em uma mesa na rua?
Para os funcionários do Tancredo’s Magazin, não foi notada nenhuma
modificação: “O que aumentou foi o número de pedestres que transitam, mas o movimento
55
continuou o mesmo”. Alzira Dervanço, da Livraria Ghignone, notou um sensível aumento
de movimento daquela loja, pois com a nova pavimentação ficou melhor para se fazer
compras. É bem maior o número de pessoas na Rua XV. Existe mais tranquilidade para se
escolher o artigo que se deseja sem o barulho dos carros.
De acordo com o exposto, inegavelmente, o Calçadão deu à população
economicamente ativa uma maior tranquilidade no fluxo do tráfego de pedestres e na
escolha das lojas e mercadorias no seu complexo comercial.
Assim, o impacto desta política refletiu não de imediato, mas à médio prazo, haja
vista que com a novidade inicial o movimento de pedestres aumentou, mas apenas como
meros expectadores na medida em que queriam conhecer apenas como ficou a região. A
partir de então, passando a ter mais “intimidade” e conhecimento do local, a circulação de
efetivos consumidores gradativamente aumentou e assim aconteceu, também
gradativamente, a expansão econômica de vários estabelecimentos.
O Calçadão é de trânsito exclusivo para pedestres o que trouxe e traz em parte
certa tranquilidade, para que a população possa transitar calmamente e ter mais tempo
para observar os produtos expostos nas vitrines.
Contudo o pouco tempo de espaço entre a implantação do Calçadão e a
reportagem em tela não foi suficiente para uma análise de juízo mais profunda. Assim
prejudicada a análise, quanto aos propósitos iniciais, o que foi razoável, pois deveria haver
um prazo para que houvesse ajustamentos à nova realidade. Portanto, foi necessário um
período de adaptação na área social e do comércio à nova realidade que estava se
instalando, para então se poder emitir algum juízo de valor. Foi somente com o passar do
tempo que, os técnicos, foram analisando os impactos acontecidos, mesmo porque não se
podia esquecer a celeuma que se deu para que a obra fosse levada a cabo, o que
instaurou algumas incertezas e dúvidas entre os comerciantes. Apenas depois de algum
tempo os usuários e comerciantes puderam ter suas opiniões formadas quanto às
modificações implantadas.
A figura 6 mostra o Calçadão com suas grandes floreiras, bancos de praça, bancas
de jornais e revistas, luminárias estilo globo, as primeiras projetadas para iluminação do
Calçadão, e com a pavimentação em petit-pavé. (JORNAL DA TARDE, 1973).
56
Figura: 6 – Trecho da Rua das Flores - Vista de cima. (1973).
Acervo: Jornal da Tarde – O Estado de São Paulo – Coletânea Biblioteca Pública do
Estado Paraná.
A reportagem em tela foi publicada no Jornal da Tarde do Estado de São Paulo
de 1973, é de autoria de Júlio Moreno, como enviado especial e tem como título “Uma rua
colorida, com flores, sem carros. Uma rua de lazer”. (MORENO, 1973).
Esta reportagem faz um paralelo entre o fechamento ao tráfego da Rua XV, que
em Curitiba é uma das principais vias da cidade, e que em São Paulo equivaleria ao
fechamento ao tráfego da Avenida Ipiranga, expulsando os veículos e transformando-a em
um grande jardim. O leito da rua foi coberto com pequenas pedras, até a altura dos
passeios laterais, formando uma grande calçada, e nesta via instalou-se floreiras e mudas
de arvores, em pleno leito da rua. Em outro trecho da rua, mais precisamente na região
chamada Senadinho, que é ponto de encontro nos finais de tarde de aposentados e
esportistas, como também na frente de uma confeitaria tradicional, a “Cometa”, foram
construídos quiosques de acrílico roxo com mesinhas e cadeiras, o que dava mais conforto
aos frequentadores, que aos finais de tarde costumavam se reunir para conversas
informais.
Em outros pontos de encontro, em toda a via, foram criadas situações especiais
de forma a incentivar circulação e dar vida ao Calçadão. Um destes pontos naturais foi a
“sala de estar”, na Rua XV, entre as Ruas Dr. Murici e Avenida Marechal Floriano Peixoto
onde a Prefeitura instalou um quiosque de café, uma agencia postal, telefone interurbano e
posto de informações.
57
O arquiteto responsável pelo projeto Abrão Assad, ao fechar a Rua XV, projetou o
ambiente com muitas floreiras, bancos corridos e modernas luminárias, mais baixas, que
segundo ele, “são para ficarem mais próximas do homem”. Projetou também uma torre de
informações com painéis luminosos, para informarem tudo o que está acontecendo na
cidade, desde projeções em cinemas e teatro, até jogos de futebol.
A reportagem descrita faz citações que corroboram com o discorrido, quando
afirma:
No início, alguns comerciantes temiam que o movimento diminuísse, como conta o
livreiro José Ghignone, instalado havia 40 anos na Rua XV:
[...] foi uma gritaria geral dos comerciantes da rua. Todo mundo
achava que a ideia de tirar os carros da XV de Novembro não traria
bons resultados, que os negócios das lojas diminuiriam. Fui um dos
primeiros a incentivar o calçadão e estava certo, o movimento do
comércio melhorou sensivelmente. O temor dos comerciantes se
desfez logo que os pedestre descobriram a tranquilidade do
calçadão e começaram a usá-lo cada vez mais, a caminho do
trabalho, das compras, da escola ou simplesmente a passeio.
(GHIGNONE, apud MORENO, 1973, p. 24).
Mais adiante o autor da reportagem cita:
Enquanto passeia à noite, pelas grandes calçadas da Rua XV de
Novembro, o prefeito explica suas ideias; - Ouve-se tanto falar que
as cidades estão preocupadas com sua humanização, que isso já
virou uma simples afirmação, e não uma preocupação de fato. Não
adianta abrir-se largas avenidas, porque isso não é humanizar. Toda
obra que for feita tem, isso sim, que dar prioridade ao homem; tem
que estar na escala do homem. (MORENO, 1973, p. 24).
E continua reportagem mostrando quanto às obras de lazer: A transformação da rua XV de
Novembro, segundo o prefeito, pode ser vista como uma obra de lazer para a cidade. Para
ele foram totalmente compensados pelo interesse que a rua despertou na população como
área de lazer. (MORENO, 1973).
O que se nota é que a administração municipal seguiu a filosofia de uma cidade
para o ser humano, ou para a população, tendo como princípio programar ou projetar a
cidade em função de seus habitantes, no sentido de humanizar e dar à população uma
condição de vida mais humana, visando facilidades no lazer e recreação ou quando se
utilizasse do comércio existente. Desta forma, formulando condições que promovessem o
bem estar, não só para adultos, mas criando uma cultura em que as crianças foram
58
priorizadas, pois seriam os adultos do amanhã, e teriam uma cultura mais humana de
cuidado pelas cidades, colocando o ser humano e sua condição de vida em um plano
preferencial. Essa visão mostrava que os administradores urbanos deviam trabalhar com
as cidades, procurando sempre dar a melhor qualidade de vida ao cidadão, ou seja, tornar
as cidades humanizadas em função de seus habitantes e melhorar a condição de vida de
todos.
A figura 7 mostra o primeiro trecho da Rua XV de Novembro, em 1974. A imagem
apresenta o Calçadão com suas edificações antigas e históricas, seu comércio, a
população circulando e reunida em pequenos grupos. Ela é referendada pela reportagem
do jornal Gazeta do Povo, de 1974, com o título: “Na Rua das Flores, colorido diferente e
maior movimento”. (FERNANDES, 1974).
Figura 7: Rua das Flores – Rua XV de Novembro – Trecho inicial – (1974).
Foto: Acervo Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Fundação Cultural de Curitiba.
A reportagem diz que com a aproximação do final do ano, e início do verão, a via
ganhava maior colorido com a presença de muitas pessoas que passam algum tempo
quando saem do escritório ou mesmo de casa, para passear pela rua em questão, com a
finalidade de se atualizar com as ultimas fofocas da cidade, principalmente no trecho onde
se reúne o pessoal da Boca Maldita.
Nessa época, a remodelação da Rua das Flores proporcionou à população de
Curitiba, e também aos turistas, um local onde se podia passear com tranquilidade,
observando as flores existentes como também as vitrines das lojas. Para os mais antigos
moradores da cidade, ela relembrava a cidade como era no início do século, com sua
59
arquitetura tradicional, em grande parte recuperada, o que provocava lembranças da
cidade provinciana naquele trecho da rua.
A reportagem também diz que a “Boca Maldita” que é um ponto de encontro ao
início do Calçadão e que é um local de grandes reuniões de pessoas ilustres da cidade,
principalmente do campo esportivo, jurídico, político, econômico e social.
A reportagem traz alguns comentários do advogado Hélio Ricardo do Marques, que
se diz frequentador assíduo da “Boca Maldita” e que, praticamente todos os dias, passa
pelo local, mesmo que seja só de passagem quando não encontra ninguém conhecido.
Contudo, diz que o local já foi melhor quando havia trânsito de veículos, pois nos
automóveis passavam muitas garotas, o que dava chance de “paquera”, pelo constante
movimento de veículos e pela segurança que elas tinham dentro dos veículos. Se fosse
necessário iriam embora sem maiores problemas, o que hoje sem o movimento de veículos
é mais complicado, elas estão a pé, o que torna mais difícil saírem se os paqueradores se
empolgarem, e muitas vezes elas nem olham para evitar maiores complicações.
A reportagem mostra que as modificações promovidas na Rua XV, fizeram com
que o movimento de pessoas aumentasse, principalmente nos dias quentes de verão, em
que os quiosques colocados em frente a alguns bares ficavam lotados, com pessoas se
refrescando com um chopp gelado para amenizar o calor.
A reportagem menciona e ratifica o acima descrito, quando diz:
A reformulação de toda a XV de Novembro contribuiu para que os
curitibanos e mesmo os turistas contassem com um local para
passear tranquilamente, apreciando as flores e as vitrines das casas
comerciais de Curitiba entre as construções daquele local, relembrar
um pouco da cidade sorriso do início do século, através de seus
prédios tradicionais e que agora recuperados, para dar um ar mais
provinciano naquele trecho da Rua XV de Novembro.
(FERNANDES, 1974).
Mais adiante o autor mostra a entrevista do advogado Hélio Ricardo do Marques,
frequentador da “Boca Maldita”: Diz o advogado - “Eu acho que não poderia passar um dia,
sem dar uma chegadinha aqui na boca, nem que fosse pelo menos para passar direto por
aqui, caso não houvesse ninguém conhecido” [...].
O autor da reportagem afirma ainda quanto ao aumento de movimento nesta via
de pedestres:
As modificações efetuadas pela Prefeitura Municipal na atual Rua
das Flores, contribuiu bastante para que houvesse um aumento no
movimento, especialmente nos dias de verão, quando os quiosques
colocados defronte a alguns bares e lanchonetes ficam
60
superlotados de gente, que tentam disfarçar o calor, saboreando um
chopp geladinho. (FERNANDES, 1974).
Conforme o descrito acima, o Calçadão foi um avanço social inegável, que deu à
população da cidade e aos turistas a tranquilidade de circular por uma via central da cidade
de forma descontraída, seja a passeio, a trabalho, etc. Como lazer e diversão, por ser um
local de descontração, se pode ter todos os tipos de informações do que acontece na
cidade, como também passear pela via observando a vitrines descompromissadamente,
apenas como lazer. E por ser uma via sem tráfego de veículos automotores, se tem total
segurança em transitar sem qualquer tipo de atropelo e com calma para observar as
vitrines, a movimentação e animação da via.
A figura 8 mostra crianças pintando na Rua XV, sobre rolos de papel estendidos no
chão da rua, dando um ar sóbrio ao visual do Calçadão.
Figura 8: Crianças pintado no Calçadão. (1975).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
Autor: Pedro Serápio.
A reportagem que emoldura a figura 8 acima tem como titulo “Uma Rua de flores e
crianças”, (FERRAZ, 1975), e inicia com versos de uma antiga cantiga de roda: “Se esta
rua fosse minha / eu mandava ladrilhar / com pedrinhas de brilhantes / para o meu bem
passar”. A autora aborda o tema dos assaltos na cidade fazendo trocadilho com os
brilhantes da cantiga e os brilhantes que as pessoas usam (joias).
61
A ideia de fechar a rua, segundo a reportagem, foi do prefeito municipal, arquiteto
Jaime Lerner, que fechou a tradicional via pública no centro da cidade Curitiba ao tráfego
de veículos criando uma via exclusiva ao trânsito de pedestres. Os brilhantes citados na
canção são alusão às pedras petit-pavé que formam a pavimentação da via, não são
preciosas, mas compõem o visual da via com seu mobiliário urbano, que dão uma bela
percepção da primeira via pública do Brasil transformada em rua exclusiva para pedestres.
A via também é composta de quiosques onde se pode saborear um bom “café com nata”,
comprar revistas, postais e obter informações turísticas, como também se tem à disposição
telefones públicos que podem ser utilizados.
Na reportagem, o arquiteto Abrão Assad, criador do projeto, como já citado
anteriormente, define a antiga Rua XV como uma rua aflita e com inconvenientes entre a
convivência dos automóveis e pedestres, assim não havia qualquer possibilidade de se ter
tranquilidade nesta via para um passeio descontraído, principalmente pelos riscos
apresentados aos que por ela transitavam e, mormente para as crianças, mesmo em finais
de semana. E continua, durante os dias de semana era mais perigoso ainda, visto o
movimento que havia de veículos e de pedestres, e mesmo porque estas não tinham nem
o porquê estarem ali, pois não havia qualquer atividade que as atraíssem.
Agora com a criação de uma via pública sem tráfego de veículos, ou ainda um
espaço público exclusivo para pedestres, tudo muda, pois como o próprio título da
reportagem sugere: “Uma Rua de flores e crianças”, o ambiente se transformou. Como foi
dito no início da reportagem, após implantada a via exclusiva para pedestres, calçada e
arborizada de forma adequada e com um colorido todo especial, abriram-se novas
possibilidades de utilização desta via.
A Rua XV, de problemática passou a ser “uma festa”. Nesta mesma data (1975),
conforme a reportagem em tela foi promovido também pela Prefeitura Municipal um
concurso de trovas como homenagem especial à cidade, no qual houve a participação de
diversas pessoas, que não só homenagearam o Estado, mas também outros pontos do
país.
Este concurso teve a coordenação da senhora Vera Vargas, que disse ter sido um
sucesso o referido concurso e comentou também em forma de verso: “Contra mágoas,
dissabores/ um santo remédio há./ Receita: Rua das Flores,/ Curitiba-Paraná./”.
Na reportagem de Ferraz (1975), o arquiteto Abrão Assad diz:
A rua XV apresentava-se congestionada, diria mesmo – aflita. É
certa, pois a inconveniência do convívio veículo-pedestre. Uma rua
aflita seria sempre, é claro, “imprópria para menores”. É o que não
acontece depois que ela foi humanizada e convertida em Rua das
Flores. Assim é que nas manhãs de sábado, renova-se o milagre.
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Funcionários municipais estendem imenso tapete de papel ao longo
da rua, dividindo seus duzentos e tantos metros em telas de um
metro. Logo, brotam crianças em toda a extensão, muito bem
armadas de pincel e tintas, defendendo as suas posições de
pequenos-grandes artistas. E mãos à obra.
A reportagem mostra ainda que este movimento acontecia aos sábados, e que
durante a semana as crianças não eram esquecidas e acrescenta:
Lá está plantado numa das quadras, um antigo bondinho da cidade,
pintado de novo, brilhando e simpático.
- Que faz ali?
- Não leitor, não está de peça de museu. É um bonde funcional,
para abrigar os garotinhos enquanto as mães fazem suas compras.
Para isso, orientadoras da Prefeitura acolhem os guris a fim de
entretê-los do melhor modo, com brinquedos, jogos e desenhos.
(FERRAZ, 1975)
Esta reportagem ao finalizar deixa a seguinte pergunta: Vale ou não vale a pena
ser criança em Curitiba?
Assim tem-se que a Rua XV de Novembro ou Rua das Flores é um local de lazer e
também para compras, visto que ao longo de toda a via existem centenas de lojas que
oferecem uma gama diversificada de produtos.
Percebe-se que a intenção da criação da Rua das Flores, não era apenas acabar
com os constantes congestionamentos de veículos, nem com a incompatibilidade do
trânsito de veículos automotores e pedestres, mas dar à via uma característica a ser
implementada na cidade de Curitiba, ou seja, transformar a cultura de imagem da cidade,
fazendo-a uma cidade humanizada, dando ao homem meios de lazer e diversão, em pleno
centro da cidade sem, contudo afetar suas funções, mas criando uma nova cultura para
criação de cidades, qual seja, a humanização destas em função de sua população dando
uma condição de vida mais humana à população.
A figura 9 mostra os bares da Rua das Flores com mesas na calçada, onde se
servem aos clientes aperitivos e bebidas, que degustam sentados ao ar livre em diversos
pontos do Calçadão.
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Figura 9: Cobertura dos bares da Rua das Flores. (1976).
Acervo: Casa da Memória/Casa Romário Martins - Coletânea da Biblioteca Pública do
Estado do Paraná.
A reportagem do jornal Gazeta do Povo, intitulada: “Quebrada tradição na Rua das
Flores”, em 1976. Inicia contando que os bares com mesas ao ar livre na Rua XV de
Novembro, Rua das Flores, nos dias de calor em Curitiba, passaram a ter maior número de
clientes que se acomodam nas mesas colocadas na calçada, enfrente aos bares, para
degustar aperitivos e tomar um chopp gelado ou um refrigerante. Ao mesmo tempo em que
estão acomodados nas mesas, ficam a observar o grande movimento de pedestres que
circulam por esta via.
No início os frequentadores destes bares que se sentavam nas mesas expostas na
calçada, eram turistas, que passeavam pela cidade, em especial no Calçadão, e por terem
uma cultura diferente dos citadinos, não estão preocupados em estarem expostos e serem
vistos pelos que transitam pela via pública.
Passados alguns anos os curitibanos, em especial os estudantes e comerciantes
das proximidades passaram a frequentar estes bares, sentando nas mesas colocadas nas
calçadas. Assim, quebrando o estigma de que o curitibano é por cultura, muito fechado e
não gosta de aparecer, o que à época desta reportagem já vinha se modificando, conforme
defende a reportagem do jornal Gazeta do Povo (1976) do acervo da Fundação Cultural de
Curitiba. Logo que os quiosques foram instalados na frente destes bares e sob estes foram
colocadas mesas, muitos frequentadores tinham receio de sentar-se ao ar livre, por ficarem
expostos, e preferiam sentar-se dentro dos bares em lugares mais discretos e de onde não
seriam vistos pelos que passavam na via pública.
Nesse processo sociopolítico foi quebrada a ideia de que culturalmente o
curitibano era muito reservado, mesmo tendo este estigma quebrado pelos mais jovens,
que não se importavam em serem vistos nestes bares sob os quiosques, ainda os mais
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recatados preferiam ficar em mesas internas aos bares, que por não serem vistos pelos
que transitam pela via, se sentiam mais à vontade em sua privacidade.
Na grande maioria os jovens quebraram esta cultura de recato, a tal ponto de
levarem os amigos para os bares, sentando-se em mesas sob os quiosques ao ar livre, e
de onde observam todo o movimento da rua. À época, segundo a reportagem, existiam três
pontos principais na Rua XV de Novembro, que se localizavam na Boca Maldita e nas
quadras entre a Avenida Marechal Floriano e a Rua Barão do Rio Branco.
A reportagem comenta ainda que nesta mesma época a cultura de querer manter
a privacidade em muito já havia diminuindo e estava quase esquecida para os
frequentadores dos bares e praças, que eram tachados de desocupados ou vadios.
Apenas os mais velhos, aposentados e crianças é que se utilizavam dos bancos de praça,
como os da Praça Osório, como ponto de encontro, para um bate-papo sem se importar
em serem rotulados de desocupados, e também as crianças que se utilizavam do mesmo
local como parque de lazer. Contudo, apenas os turistas, que desconheciam esta
peculiaridade, é que se utilizavam destes locais descontraidamente, e que abriu
precedentes passando a se tornar moda, assim o curitibano foi também ocupando estes
espaços sem qualquer preconceito.
A reportagem faz menção em alguns trechos, que corroboram com o acima
descrito, quando afirma:
Os bares com mesas ao ar livre na rua XV de novembro, nos últimos
dias, de grande calor, passaram a receber grande número de
pessoas que aproveitam para um chopp geladinho ou uma boa
cerveja enquanto observam o grande movimento de pedestres. Os
frequentadores daqueles bares, inicialmente turistas, já são agora a
maioria curitibanos, estudantes e comerciários [...]. (JORNAL
GAZETA DO POVO, 1976).
A reportagem diz ainda:
Mas nem sempre foi assim, houve uma época, logo após a
instalação dos quiosques com mesas ao ar livre, em que o pessoal
tinha algum receio e, até agora, frequentadores assíduos de bares
preferem sentar-se em salões discretos a ser vistos na rua. [...] O
preconceito que existiu durante muito tempo, fazendo com que uma
clientela reduzida se utilizasse daquele “equipamento urbano” como
chamam os planejadores da cidade, já foi esquecido. Antes sentar-
se numa rua ou praça na cidade significava “desocupação ou
vadiagem”, sendo isto permitido apenas aos velhos que
independente do que o povo fala, faziam dos bancos na Praça
Osório ponto de encontro. (JORNAL GAZETA DO POVO, 1976).
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A criação dos mobiliários urbanos, como os quiosques em frente a alguns bares da
Rua XV de Novembro, deu nova vida e movimento a esta via. Com esta medida, os bares
passaram a ter maior movimento e serem mais ecléticos, atraindo não apenas os antigos,
mas também novos fregueses, de outras classes sociais, passaram a frequentar estes
lugares.
Esta diversificação amenizou a cultura recatada, característica do povo curitibano,
que não gostava de aparecer, e era bastante fechado, sendo que até aquela época era
ainda preconceituoso quanto a frequentar estes locais como forma de lazer. Assim se
salienta que antes de ser fechada ao tráfego de veículos a Rua XV de Novembro se
mantinha dentro de um tipo padrão de comércio, sem dar margem a uma nova forma de
planejamento. Com o Calçadão, deu-se a abertura necessária para que houvessem
implementações, como as do mobiliário urbano, mudando assim as características e o
visual da antiga rua, dando animação e movimento a determinados pontos, como também
ao comércio local.
A figura 10 mostra o Calçadão da Rua XV ainda em obras de acabamento, com as
grades de proteção das floreiras já posicionadas, a pavimentação concluída e os postes de
iluminação decorativos já instalados.
Figura: 10 - Rua das flores. (1977).
Acervo: Jornal Diário do Paraná – Coletânea da Fundação Cultural de Curitiba.
Autor Irony Santos.
A reportagem a que se refere à figura 10, intitulada “Novo calçadão da rua XV fica
pronto até o fim do mês” publicada no Jornal Diário do Paraná em março de 1977, alertava
que as obras complementares do Calçadão, no trecho entre as Ruas Barão do Rio Branco
e Rua Presidente Faria, último trecho da obra, estariam concluídas até o final do mês
março daquele ano. Restava a complementação do projeto elétrico, que estava em
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execução pelo Departamento de Serviços de Utilidade Pública e terminaria nos dias
seguintes.
O atraso na finalização da obra se deu pela dificuldade que os técnicos do referido
departamento tiveram em comprar os materiais semelhantes aos já existentes nos outros
trechos da Rua XV. O departamento de Parques e Praças da Prefeitura de Curitiba estava
decorando a rua com os vasos de flores nos moldes existentes nos outros trechos. Assim,
concluída a obra a população teria à disposição o último trecho da Rua das Flores que
ainda estava pendente.
O processo de sociopolitização do Calçadão deu às pessoas o poder de
usufruírem do comércio e lazer que essa proporcionava, com vantagens de trafegar por
uma via exclusiva para pedestres, o que deu maior segurança e tranquilidade às pessoas
que por ela transitavam.
A reportagem confirma o exposto acima quando diz: “Até o final do mês estarão
concluídas as obras complementares (iluminação e paisagismo) do novo calçadão da rua
XV de novembro no trecho entre Barão do Rio Branco e Presidente Faria e [...]”. E mais
adiante afirma que: “Os trabalhos de infraestrutura, petit-pavé e instalação das floreiras já
foram concluídos pelo Departamento de Obras e agora só resta a complementação do
projeto elétrico, a cargo do Departamento dos Serviços de utilidade pública”. (SANTOS,
1977).
Com a conclusão e entrega das obras do último trecho da Rua XV de Novembro,
de acordo com a reportagem acima, o Calçadão estaria completo em toda a sua extensão,
nos moldes do já existente, e desta forma estariam concluídas todas as obras projetadas
para esta via, sendo este o último trecho da via que restava para completar a obra foi
iniciada em 1972.
A figura 11 mostra a Rua XV de Novembro, Calçadão de Curitiba, sua
configuração como via de pedestres e a movimentação por pessoas simplesmente
passeando ou se utilizando da via como centro de compras.
67
Figura: 11 - Vista da Rua das Flores – (1978).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A foto ilustra a reportagem do jornal JOTABÊ, (1978), cujo titulo era “Memória da
cidade: Rua das Flores, Imperatriz, 15 de Novembro”. A reportagem cita a Rua das Flores
atual através dos tempos. Inicia comentando que esta via foi palco de animados desfiles de
carnaval, manifestações políticas, linha de bondes de tração animal (burros) e elétricas,
ponto alto da boemia em Curitiba na confeitaria do Bube.
A Rua das Flores também era palco também dos desfiles militares, e assim vinha
se consolidando como o principal centro nervoso da cidade. Com o fechamento desta via
ao tráfego de veículos, foi a oportunidade para voltar aos bons tempos dos bares, cafés,
papos na rua, paquera, ou seja, tudo que o curitibano de outrora apreciava fazer. Assim
com a via fechada ao tráfego de veículos, foi dado todo um “toque especial”,
acrescentando flores, árvores, bares, cafés, telefones, enfim, toda uma comodidade ao
estilo bem curitibano, bem provinciano.
A reportagem cita que, hoje se tem esta via como ponto de encontro, como a Boca
Maldita que é um ponto de fofoca, política, futebol, e também espaço para as crianças: é
um local de grande movimento. Aos poucos o curitibano acostumou-se a este novo estilo
da via e também com a ideia de um novo sistema viário, o que fez com que aceitasse
também o fechamento ao tráfego de outras vias para uso exclusivo de pedestres. Assim a
Rua das Flores se tornou um lugar agradável, com facilidades para quem deseja se utilizar
do comércio para fazer compras, como também facilitou o comércio pelo incremento que
este teve pelo aumento de transeuntes o que proporcionou um maior número de possíveis
clientes.
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Não resta duvidas que a Rua das Flores era uma das vias mais movimentadas da
cidade, contudo também era ainda bastante tranquila. A reportagem finaliza fazendo
referência à Rua das Flores como um ponto de encontro e um centro de acontecimentos,
revelando a via como um bom lugar, humanizado e tranquilo, a tal ponto que dava lugar a
um bom bate-papo, encontros de amigos nos cafés, como também abria margem para
noites de boemia.
A reportagem em foco confirma o acima descrito.
RUA DAS FLORES – O movimento é fundamental na Rua das
Flores, na atualidade e através dos tempos. Foi passagem de
animados blocos de carnaval; caminho de manifestações políticas;
linha de bondes de burro e elétrico; teve um relógio de sol da
cidade, no ponto alto da boemia curitibana, esquina da Barão do Rio
Branco (antiga Liberdade), na confeitaria do Bube; na Rua das
Flores desfilavam militares e cada vez mais a rua se tornava o
importante centro nervoso da cidade. [...] O fechamento da rua aos
carros para dar passagem aos pedestres foi uma abertura para que
voltassem os tempos de bares, papos, cafés e paqueras, muito
apreciados pelos curitibanos de outrora. Fechada a Rua estava
dado o especial toque, surgiram as flores, as árvores, os bancos, a
torre de informações, bares cafés, agências postais, telefones e um
[...]. (JOTABÊ, 1978).
E mais adiante continua:
[...] aos poucos o curitibano foi se habituando com a nova Rua das
Flores e foi criando uma mentalidade nova quanto ao sistema viário
da cidade, aceitando o fechamento das ruas principais para o uso
unicamente de pedestres. Estando grande parte do comércio
situado nas imediações centrais, principalmente na Rua das Flores,
tornou-se muito mais fácil fazer compras e dessa forma facilitou o
movimento comercial. (JOTABÊ, 1978).
A reportagem ainda se refere à Rua das Flores como “Não se pode negar que a
Rua das Flores era uma das mais percorridas e vivas da cidade, mesmo assim era
tranquila”.
A via pública Rua das Flores, transformada em espaço público exclusivo para
pedestres, além de ter aumentado o seu movimento, o que consequentemente melhorou e
diversificou o comércio, ganhou a possibilidade de mais negócios. Ao mesmo tempo deu à
cidade de Curitiba um grande espaço de lazer totalmente decorado com um mobiliário
urbano adequado, floreiras e árvores, para desfrute tanto de adultos, com também para as
69
crianças. Aos adultos com os bares, confeitarias e pontos de encontros nos finais de tarde
para conversas informais com amigos e às crianças um centro de animação aos sábados,
onde se divertiam brincando e pintando no chão em cima de folhas de papel, como
também o bondinho, que, além de ser um ponto também de diversão com orientadores de
atividades infantis, era também um local adequado e seguro para as crianças ficarem
brincando, enquanto os pais fazem compras ou qualquer outra atividade.
Percebe-se que o Calçadão transformou-se em uma política pública de sucesso,
pois deu à cidade de Curitiba um espaço público propício ao comércio e ao lazer,
proporcionando com este planejamento até então inédito, uma motivação maior de viver o
centro da cidade, não apenas como eixo comercial, mas como um espaço público também
de lazer.
A figura 12 mostra os quiosques instalados no Calçadão em frente aos bares, com
mesas e cadeiras como extensão destes, na calçada, onde a população pode sentar-se
para saborear petiscos e tomar um chopp ou refrigerante, enquanto faz um intervalo nos
passeios, compras, ou simplesmente se reúne com amigos para conversas informais. A
figura 13 apresenta a população no Calçadão conversando, passeando ou circulando pelo
comércio, ou ainda a caminho de seus afazeres. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ,
1981).
Figura: 12 – Vista de Quiosques dos bares no Calçadão o seu “boulevard”. (1981).
Acervo: Jornal O Estado do Paraná – Coletânea da Fundação Cultural de Curitiba
Autor: Haraton Maravalhas e César Brustolim – Arquivo.
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Figura 13 – Vista de pedestres circulando pelo Calçadão. (1981).
Acervo: Jornal O Estado do Paraná. Coletânea da Fundação Cultural de Curitiba.
Autor: Haraton Maravalhas e César Brustolim – Arquivo.
A reportagem que é ilustrada pelas figuras 12 e 13 acima tem como título “Um
reduto na Rua das Flores” relata um fato que à época estava acontecendo em Curitiba,
como também em outras cidades do Brasil, quando grande número de turistas argentinos
visitava a cidade. (BENETTA, 1981).
Isto acontecia principalmente nas férias, o que aumentava sobremaneira o
movimento, e mesmo sendo só de passagem, outros pontos da cidade poderiam passar
despercebidos, contudo a imagem que levavam da Rua das Flores era de uma rua
movimentada e alegre, ao estilo “boulevard”.
Contudo, a reportagem descreve uma situação aparentemente como sendo
negativa à imagem do Calçadão, que é a especulação imobiliária, mas que em muito pouco
atrapalha os avanços na área social e de lazer, mas que em verdade é um avanço
inicialmente na área econômica, como também de outro ponto da vista pode ser
considerada social, visto que possibilitará a abertura de mais postos de trabalho e espaços
de convívio sociocultural. Trata-se de um prédio que estava em reformas, e que abrigaria
uma grande loja, mas para isto teve que eliminar um cinema e um dos pontos de café que
já tinha tradição naquele local.
Dentro de uma visão dinâmica da estrutura do mobiliário de uma cidade, a
paisagem das ruas, de uma forma geral, são mutantes, e de tempos em tempos se
transformam principalmente na área econômica se, modificam, ou dão lugar a outros tipos
de comércio.
71
Por outro lado, este era um assunto que preocupava os técnicos do Instituto de
Pesquisa e Planejamento Urbano da Curitiba – IPPUC, que não queriam que Curitiba
voltasse a ser o que era há anos atrás, onde após as 21:00 horas o centro de cidade
estava vazio.
A Prefeitura de Curitiba, preocupada com esta situação estimulou a implantação de
habitações coletivas, ou seja, edifícios residenciais na área central da cidade, como forma
de aumentar a circulação de pessoas nas áreas centrais.
De acordo com o arquiteto Sergio Pires, que era à época, ligado ao setor de
paisagem urbana do IPPUC, a demolição do cinema não era uma situação ruim, pois daria
lugar a um novo empreendimento, e nesta medida a Rua XV teria uma grande loja, o que
deveria aumentar as opções de compra no centro da cidade, aumentando a movimentação
de pessoas que passariam a circular pela região.
O mesmo arquiteto defendia nesta reportagem, que a Prefeitura podia contribuir
para melhorar a animação na região central da cidade, restringindo as atividades na área
central, regulando a ampliação do número de agências bancárias, por exemplo, como
forma de manter no centro o comércio e o lazer que são características da animação da
área central da cidade.
A reportagem mostra declarações do arquiteto Rapfael Dely, um dos autores da
restauração da Confeitaria Schaffer, destruída por um incêndio. O arquiteto dizia que a Rua
XV era um ponto de encontro da cidade e assim devia continuar, mesmo porque as
características dos imóveis existentes na via davam reforço à visão da rua como ponto de
encontro. Registrou ele que a Rua XV perdeu a “Cinelândia”, mas por outro lado ganhou
outros pontos como a Confeitaria Schaffer então restaurada, assim o Calçadão foi se
recompondo, e se mantendo dentro da animação constante da via.
Afirma Dely: Os milhares de argentinos que invadem Curitiba, nestas férias,
embora o façam só de passagem, levam da cidade talvez uma única imagem: a de uma
rua movimentada e alegre. O resto de Curitiba pode passar desapercebido, mas seu
“boulevard”, não. (BENETTA, 1981).
Mais adiante a reportagem declara:
O arquiteto Sergio Pires [...] “o IPPC e a prefeitura tem consciência
disso”, “Não queremos que Curitiba volte a ser o que era dez, 15
anos atrás”, “quando às nove da noite já não se via viv’alma no
centro”. O planejamento se preocupa em “devolver o centro para o
pedestre e na escala do pedestre”. É por isso, segundo ele, que a
Prefeitura estimula a implantação de habitações coletivas na área
central (prédios de apartamentos), que representam um aumento no
número de pessoas ali residindo e, consequentemente, uma maior
circulação. (BENETTA, 1981).
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A reportagem mostra a percepção social que já havia politicamente entre as
pessoas de comando na cidade.
[...] a Rua XV é um do principal ponto de encontro da cidade. Deve-
se manter – afirmou – a características das unidades que existem
ao longo da rua e “reforçar ainda mais a ideia de ponto de
encontro”. [...]. Se a XV perde a Cinelândia, diz Dely, ganha (ou
recupera) por outro lado, outros pontos, como a própria Confeitaria
Schaffer. Quer dizer, se auto recompõe. (BENETTA, 1981).
Por fim, a reportagem diz que mesmo tendo perdido um pequeno espaço social,
este foi transformado em um grande espaço comercial que, concomitantemente, também
tinha vantagem social, visto que iria oferecer oportunidades maiores de emprego e renda.
Por ser uma grande loja, iria propiciar à Rua das Flores maior atividade comercial,
promovendo assim o desenvolvimento da região, o que implicaria em uma maior animação
da via, privilegiando o setor econômico-comercial. Contudo, na área social, a rua ganharia
também mais um ponto de encontro, que havia sido destruído em um incêndio, e que foi
reconstruído, a confeitaria Schaffer, que estando totalmente restaurada manteria o
movimento da área social, para a população nesta região.
A figura 14 mostra a Rua XV de Novembro, Rua das Flores, já despoluída
visualmente, com a retirada das placas de propaganda da frente das lojas, deixando um
visual leve e agradável e fazendo aparecer as fachadas dos imóveis.
Figura 14: Na Rua das Flores, a despoluição visual. (1982).
Acervo: Jornal Diário do Paraná. Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A reportagem em que foi colocada a figura 14 se intitula “Despoluição visual da
cidade dá mais beleza à Rua das Flores”, ocorrida no ano de 1982, e que destaca a
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despoluição visual da Rua XV de Novembro, no trecho conhecido como Rua das Flores.
(JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1982).
A reportagem afirmava que estava quase concluída a primeira etapa de
despoluição visual da Rua das Flores, através de um programa desencadeado pela
Prefeitura Municipal de Curitiba. Por meio deste programa elaborado pelo IPPUC, Instituto
de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, o trecho escolhido inicialmente foi entre
as ruas Monsenhor Celso e Barão do Rio Branco. O propósito era é dar uma melhor
organização ao visual da cidade, eliminando a publicidade irregular, instalada em
desacordo com o decreto vigente à época (Decreto nº 172/81).
Por meio deste decreto se regulamentou o tipo e estilo de propaganda e
publicidade na cidade de Curitiba. A lei que regulamentava e normativa este tipo de
publicidade era muito antiga (Lei nº 1211 de 19 de setembro de 1953 - Curitiba), e não
vinha sendo obedecida. Por este motivo a Prefeitura regulamentou a publicidade através
do decreto supracitado, principalmente pelos riscos que as placas de publicidade ofereciam
no que tangia à segurança para a população estava exposta ao transitar pela via. Motivada
por este decreto a Prefeitura passou a ter força por sobre os estabelecimentos comerciais
para impor as normas vigentes.
A ideia era melhorar o visual das vias e destacar a paisagem natural do espaço
público, melhorando a movimentação para o comércio, de forma organizada e natural.
Assim por se tratar de uma via exclusiva para pedestres, a Prefeitura aplicando o disposto
no decreto supracitado, permitiu que a publicidade fosse executada com letras aplicadas
diretamente às fachadas de forma a retirar o material anteriormente aplicado e que
provocava a poluição visual.
A nova regra permitia que as letras dos luminosos fossem aplicadas diretamente
por sobre a fachada com a denominação apenas do estabelecimento, o que minimizava o
problema da poluição. Algumas regras deviam ser seguidas, como locais, cores e formatos,
forma de não agredir paisagem da via pública e nem causar outros problemas.
Segundo a reportagem, alguns lojistas ainda levaram algum tempo para se
acostumar com esta medida, devido ao longo tempo em que passaram sem que qualquer
normativa fosse aplicada. Ainda de acordo com a reportagem, quando se referia ao que a
população achava sobre tal medida, alguns alegaram que pela pressa com que passavam
pela via nem observavam a poluição visual que existia na propaganda das lojas, outros já
estavam tão acostumados com os excessos, e estranharam as amenidades que então
passaram a ver, mas todos admitiram que nunca tinham observado que por traz de tais
publicidades existiam edificações antigas que os técnicos da Prefeitura e IPPUC queriam
fazer aparecer nesta via histórica.
74
A reportagem confirma o exposto quando diz: “A ideia é dar uma melhor
organização ao aspecto visual da cidade, considerando o que desenvolvimento
desordenado da publicidade urbana põe em risco a segurança da população e ocasiona
prejuízos à paisagem da cidade”. (JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1982).
Mais adiante a reportagem afirma que: “Tudo o que está sendo feito procura
destacar a paisagem natural da rua facilitando ainda a movimentação para o comércio”.
(JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1982).
Em outro trecho, a reportagem corrobora com o acima descrito quando diz: Outros
acostumados com o colorido constante da rua veem até com estranheza o programa
desenvolvido pela prefeitura. Mas admitem que poucas vezes repararam nas edificações
antigas, que o IPPUC pretende realçar. (JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1982).
A intenção da Prefeitura Municipal foi promover a despoluição visual do centro,
principalmente na via central da cidade de Curitiba, Rua das Flores, transformada em via
de pedestrianização. O intuito era melhorar o visual da cidade e desta via, destacando o
visual da rua de importância histórica e com edificações antigas, algumas tombadas pelo
Patrimônio Histórico do Estado e Nacional.
A medida foi para que esta via fosse vista da forma como ela realmente era,
retirando destas todo e qualquer material que pudesse encobrir a importância histórica
desta rua para a cidade de Curitiba, através de suas edificações, onde algumas datam do
século 19. A exemplo, o edifício situado na esquina da Rua XV de Novembro com a Rua
Monsenhor Celso, que teve a obra finalizada no ano de 1893, e que tem toda uma história
ao longo dos anos, até foi vendido ao Governo do Estado, e que anos mais tarde, já no
século 20, instalou ali uma agência do extinto Banco do Estado do Paraná. (TAVARES,
2007).
Concluindo, a respeito da década de 1972 a 1982, pode-se sintetizar que a
intervenção começa com a interdição ao tráfego da Rua XV de Novembro, transformando-a
inicialmente em estacionamento, para posteriormente dar inicio à obra. Esta seria
executada por etapas, visto a extensão de todo o trecho de rua que seria transformado.
De início houve um levante por parte de alguns comerciantes que se diziam
contrários à referida obra, alegando que o movimento iria diminuir no que a prefeitura em
conversas com estes comerciantes afirmava o contrário, e assim fez com que parte dos
comerciantes fosse amadurecendo a ideia, contudo, os protestos ainda continuaram.
Neste meio tempo, em um final de semana começou-se a executar a primeira etapa da
obra, destinando de início um trecho composto de duas quadras à pedestrianização, o que
fez com que os comerciantes, pegos de surpresa, protestassem, contudo não havia muito
75
a fazer e assim a principal via da cidade passou a ser destinada apenas aos pedestres,
sendo definitivamente concluída em meados do ano de 1977.
Para o comércio, de início quase nada mudou, pois a maioria das pessoas que
pela via transitavam, o faziam mais pela curiosidade em conhecer a primeira via pública do
país transformada em Calçadão de uso exclusivo dos pedestres. Com o passar do tempo o
comércio foi gradativamente se adaptando ao novo sistema, visto que o movimento de
pedestres havia aumentado. Assim na área econômica, o Calçadão, conforme as
reportagens dos jornais referentes a esta década melhorou bastante sua estrutura
comercial, bem como ampliou-a em alguns estabelecimentos.
Quanto à área social, o Calçadão avançou bastante, mesmo porque esta via antes
de ser fechada ao tráfego de veículos já tinha a tradição de ponto de encontro no centro da
cidade, principalmente na região da Boca Maldita, contudo este foi bastante ampliado,
surgindo novos espaços destinados bate-papo ao longo de toda a via. E não foram só
locais destinados a bate-papos e encontros, foram também criados espaços cobertos
enfrente aos bares com mesas e cadeiras onde as pessoas ficavam sentadas tomando
alguma bebida e apreciando o movimento.
Ainda têm-se as reportagens que citam que as crianças também tiveram seu
espaço reservado nesta via, quando aos sábados pela manhã a Prefeitura promove
eventos para divertimento destas que vão ao Calçadão para brincadeiras ou para pintar no
chão sobre rolos de papel estendidos onde com a imaginação de crianças fazem desenhos
os mais diversos. Há também um bondinho totalmente reformado, pintado e adaptado para
outra finalidade, que foi colocado no trecho inicial do Calçadão, equipado com orientadores
infantis para abrigar e divertir crianças, enquanto seus pais faziam compras ou qualquer
outro compromisso.
A década acima descrita foi de avanços tanto na área econômica quanto na área
social, apesar das contestações iniciais, as quais faziam parte de uma política urbanística
prevista no Plano Diretor da cidade de Curitiba. Esta previa a pedestrianização de algumas
ruas da região central da cidade, e de sua principal via a Rua XV de novembro, que assim
retomou também o nome de como era antigamente conhecida, Rua das Flores.
A política de urbanização do Calçadão tinha em seu bojo promover a humanização
da cidade, principalmente na área central que enfrentava sérios problemas de
congestionamento no trânsito de veículos e também com a circulação de pedestres. Assim,
com a implementação desta política, seriam solucionados ambos os problemas e
efetivamente promoveu mudanças até então inéditas, com a criação de um espaço público
de circulação exclusiva para pedestres, o qual foi primeiro no Brasil. Esta medida foi bem
76
aceita pela população e promoveu também mudanças nos hábitos culturais, de lazer e
comerciais, como também colocou a cidade de Curitiba no roteiro turístico nacional.
4.1.2 Década 1982 a 1992
A figura 15 mostra uma loja comercial ao longo da Rua XV, com cartaz informando
participação desta loja num evento chamado “Shopping Center Rua das Flores”.
Figura 15 – Comércio na Rua das Flores – Rua XV de Novembro – (1983).
Acervo: Jornal do Estado – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A figura 15 ilustra a reportagem do JORNAL DO ESTADO, (1983), “Novo espaço
na Rua das Flores”.
A reportagem comenta sobre o lançamento da campanha de revitalização
comercial da Rua das Flores de forma a colocá-la como um “Shopping Center Natural”,
criando um programa comercial em que participaram mais de sessenta lojas situadas na
Rua das Flores. A extensão deste shopping atingia todo o Calçadão. Para reconhecer as
lojas, bastava procurar o cartaz que estas expunham em frente ao estabelecimento, bem à
vista dos pedestres, nas vitrines.
O programa era patrocinado pelo Clube dos Diretores Lojistas e propunha
melhorias nas vendas, distribuindo aos fregueses, em compras de qualquer valor, cupons
para concorrer a um automóvel Voyage no final do ano, em 31 de dezembro 1983. Muitas
lojas que constituíam o anel central não aderiram à campanha por não terem condições
financeiras para tal. Por serem lojas pequenas e de condições financeiras baixas não
tinham como arcar com tal despesa, mas achavam que mesmo assim seriam beneficiadas
por estarem nas proximidades, de modo que eventualmente possíveis compradores
deveriam passar em frente a suas lojas, o que poderia beneficiá-las.
77
Em lojas maiores o problema das vendas não as afetou, mas achavam que a
promoção poderia render bons lucros. Alguns lojistas afirmaram que isto tinha sido o
embrião para posteriormente ser criada a Sociedade Amigos da Rua das Flores, que seria
a organização de comerciantes que estariam atentos às oscilações do mercado de forma a
propor alternativas mais viáveis. Ainda de acordo com a reportagem, a população aceitou a
iniciativa, principalmente por ser uma situação inusitada. Alguns entrevistados eram
unânimes em dizer que “Curitiba está mesmo carente de coisas diferentes”, enquanto
outros diziam não haver necessidade de sofisticação e envolver grades valores para se
obter um bom resultado.
O Clube dos Diretores Lojistas, organizador do evento, afirmava que a campanha
teve o apoio da Prefeitura na área de segurança das ruas o que dava suporte ao sucesso
da promoção. A reportagem terminava dizendo esperar aumentar o fluxo de pedestres no
anel central, o que proporcionaria ao consumidor maiores opções de compras e ainda com
o aumento de fluxo de pessoas aumentariam também as opções de negócios para os
lojistas.
A reportagem em tela referenda o acima descrito, quando cita:
Com o lançamento feito domingo, Curitiba ganhou um Shopping
Center Natural com mais de um quilômetro de extensão. É o novo
espaço comercial da Rua das Flores que abrange mais de sessenta
lojas dentro de um programa de revitalização do comércio central,
uma vez que as pessoas estavam perdendo o hábito de fazer suas
compras no centro da cidade. Essas lojas se estendem da Rua
Presidente faria até a Praça Osório e para reconhecê-las basta
procurar o cartaz com a chamada especial que deverá estar bem à
vista, na vitrine ou na entrada das mesmas. (JORNAL DO ESTADO,
1983, s/p.).
Mais adiante a reportagem acrescenta:
[...] e o pequeno comerciante não pode arcar com as despesas de
publicidade. “De qualquer forma – alegam – o fluxo de pessoas
passará por nossas lojas, fatalmente. Não entramos por questões
financeiras, mas acabaremos sendo beneficiados”. Com as lojas
maiores o problema não aconteceu, muito pelo contrário. [...] Alguns
afirmam mesmo que esta iniciativa será o embrião daquilo que virá a
ser a Sociedade Amigos da Rua das Flores: uma grande
organização de comerciantes sempre atentos às oscilações do
comércio e unidos para novas e constantes alternativas. (JORNAL
DO ESTADO, 1983 s/p.).
78
Quanto à aceitação desta medida, a reportagem relata:
O público curitibano encarou a iniciativa com grande aceitação,
sobretudo pelo caráter inusitado do empreendimento. Conforme
opinião de vários entrevistados “Curitiba está mesmo carente de
coisas diferentes. E essa é a oportunidade de mostrar o poder de
criatividade nessa hora de crise generalizada”. Outros ainda,
concordam que não há necessidade de muita sofisticação e grande
capital para se ter um bom resultado. (JORNAL DO ESTADO, 1983
s/p.).
Mais adiante a reportagem mostra o pensamento do Clube dos diretores Lojistas
quando diz: “Com a criação de determinadas atrações para o consumidor, esperamos fazer
voltar o antigo fluxo de pessoas para o anel central, que ainda é ótima opção de compras”.
(JORNAL DO ESTADO, 1983, s/p.).
Resumidamente, a reportagem mostrava que o comércio da região central, afim de
não entrar em crise, e para que fosse possível continuar atuando e progredindo, uniu-se
em associação de forma a promover situações socioeconômicas e fazer com que este se
tornasse atraente aos consumidores. Assim, por meio da associação as lojas teriam maior
força e poderiam desta maneira chamar a atenção do público para o local, e desta forma
promover avanços no espaço público.
A figura 16 abaixo mostra um trecho da Rua XV de Novembro, com o comércio na
Rua das Flores, Calçadão de Curitiba e a circulação da população.
Figura 16 – Comércio na Rua das Flores – Rua XV de Novembro – (1984).
Acervo: Jornal Diário da Tarde – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A figura 16 é parte da reportagem do jornal Diário da Tarde (1984), com o título “Na
Rua das Flores, um shopping que é sucesso”.
79
A referida reportagem mostra o sucesso nas vendas realizadas no comércio
instalado no Calçadão, dizendo que isto tinha sido possível graças a promoções deste
comércio efetuadas por ocasião das festas do final de ano. Nesta promoção, mais de 500
pessoas já haviam sido premiadas até a data da publicação da reportagem (15 de
dezembro de 1984) e que há promoção citada tinha a iniciativa do Clube de Diretores
Lojistas de Curitiba. Este tipo de promoção tinha a aprovação dos lojistas, visto o custo
publicitário total que foi acessível, e também da população que frequentava o centro da
cidade, que achava necessários programas de revitalização do centro comercial tradicional
da cidade.
Alguns profissionais da área de urbanismo diziam que a Rua das Flores na
verdade era um shopping natural, pelas suas peculiaridades. Para os lojistas participantes
da promoção o movimento do Shopping Center Rua das Flores e arredores, cresceu
significativamente, e de acordo com entrevistados, isto se devia não só à participação em
sorteios, mas à identificação da população com o referido shopping, por fazer parte da vida
e cultura do curitibano, que tinha uma relação muito estreita com o Calçadão, pelas opções
que este oferecia em termos de consumo.
A reportagem em foco ratificava o acima citado quanto ao sucesso da promoção:
“Mais de 500 pessoas já foram premiadas pela promoção de final de ano do Shopping
Center Rua das Flores, uma realização do Clube de Diretores Lojistas com o apoio [...]”.
(JORNAL DIÁRIO DA TARDE, 1984, s/p.).
Na sequência a reportagem diz:
A ideia vem sendo aprovada não só pelos lojistas que encontraram
nessa iniciativa uma boa oportunidade para reforçar a comunicação
publicitária de final de ano, a baixo custo, como também pelos
frequentadores do centro da cidade, principalmente aqueles que
têm se preocupado com a revitalização da área. (JORNAL DIÁRIO
DA TARDE, 1984, s/p.).
Ainda a reportagem informa, quanto às características da Rua das Flores:
Recentemente, em conversas de fim de tarde na tradicional Boca
Maldita, um grupo de profissionais ligados à área do urbanismo,
lembrou que o Shopping Rua das Flores implanta, na prática, uma
antiga ideia que leva em conta as características peculiares da Rua
das Flores e que a definem efetivamente como um shopping natural
que, além de comércio e serviços, oferece atrações culturais, lazer e
constitui um ponto de encontro. (JORNAL DIÁRIO DA TARDE,
1984, s/p.).
80
A reportagem quanto ao movimento da Rua das Flores cita:
Segundo a grande maioria dos lojistas que aderiram ao projeto, o
movimento na área compreendida pelo Shopping Rua das Flores –
Rua das Flores, suas perpendiculares, Marechal Deodoro e Praças
Tiradentes e Generoso Marques - teve um crescimento significativo.
(JORNAL DIÁRIO DA TARDE, 1984, s/p.).
A reportagem continua ainda no mesmo tema, com o depoimento do gerente da Ótica
Boa Vista que diz: “Há uma certa identificação do público com relação ao Shopping Rua
das Flores por se tratar de um espaço que já faz parte da vida do curitibano”. (JORNAL
DIÁRIO DA TARDE, 1984, s/p.).
Verifica-se que, nessa época, o comércio existente na Rua das Flores e arredores,
que compunha o Shopping Center Rua das Flores, unido pelo Clube dos Diretores Lojistas
em promoções por este realizada, promovia maior movimento no comércio existente na
Rua das Flores, e consequentemente o aumento das vendas, o que resultava em avanços
como a acessibilidade ao comércio por efeito direto da promoção realizada, como também
na área social, visto ser a Rua das Flores, Calçadão de Curitiba, um ponto de encontro e
lazer, que também teve seu movimento aumentado por conta da promoção realizada pelo
comércio, o que acabava por dar mais vida àquela região da cidade.
A figura 17 mostra a Rua XV de Novembro, Calçadão de Curitiba, trecho não
identificado pela foto.
Figura 17 – Calçadão de Curitiba – Rua XV de Novembro.
Acervo: Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná – Revista Veja 1987.
Autor: Nani Gois.
A reportagem que referenda a figura acima, foi publicação da Revista Veja (1987)
com o título “Mania Nacional – O calçadão de Curitiba é imitado em todo o país”.
81
A reportagem inicia citando que o então prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, ordenou
o fechamento de três quadras da Rua XV de Novembro no ano 1971, para neste local
construir uma ampla calçada com 700 metros de extensão, em pleno centro da cidade,
tendo o projeto sido feito às escondidas, tamanho eram os adversários e opositores. Eram
tantos adversários e opositores, conforme diz Jaime Lerner, que a prefeitura se viu
obrigada a executar todo o serviço em um final de semana, para dessa forma impedir que
uma ação judicial embargasse a obra. E assim foi criado o primeiro Calçadão, no Brasil, de
circulação exclusiva para pedestres.
Diz a reportagem à época que após dezesseis anos o calçadão, que foi o primeiro
a ser implantado no Brasil, era imitado em todo o país, e que virou mania nacional. Muitas
cidades haviam copiado a ideia, desde cidades grandes como São Paulo e Florianópolis,
até cidades pequenas como São Gabriel, no Rio Grande do Sul, e que, à época da
reportagem, poucas são ainda as cidades que não o haviam copiado.
Os oposicionistas eram, na época, os comerciantes que viam no Calçadão um
grande inimigo ao lucro do comércio, pois achavam que sem o tráfego de veículos as
pessoas que circulavam pela rua iriam se afastar e assim seus lucros diminuiriam. Isto fez
com que um dos comerciantes liderasse um abaixo-assinado que pedia a reabertura da
rua, onde um comerciante reivindicava à Prefeitura que fizesse o mesmo em outras ruas do
centro da cidade e que incluísse nesta ampliação a rua onde ele mantinha uma loja, sob a
alegação de que o faturamento de sua loja aumentou muito depois da inauguração do
Calçadão.
O presidente do Clube dos Diretores Lojistas, à época, dizia ter sido muito difícil
convencer os antigos lojistas de que em uma rua sem tráfego de veículos e exclusiva para
pedestres seria muito melhor para o comércio, localizado naquela área da cidade, pois pela
concentração de bancos e restaurantes o movimento seria muito maior. Isto porque o
calçadão iria converter aquela via em centro nervoso da cidade, pois por ali circulavam
muitas pessoas diariamente. Continua citando que isto deveria render mais do que
qualquer shopping Center, assim o que se pensava que só iria atrapalhar tinha então
dezesseis anos desde sua implantação, “o valor de uma mina de ouro”.
Desta forma uma pequena loja para se instalar no Calçadão teria que pagar luvas,
que equivale nos dias de hoje, século 21, à compra de um ponto comercial, o que na época
pouco anterior à reportagem, em 1987, nem era cogitado, e mais, teria que pagar pelo
aluguel de um imóvel que estava bastante valorizado em moeda corrente do país à época.
O comércio estava tão em alta na região que muitos comerciantes se diziam privilegiados
por ter um comércio com esta localização, por ser o melhor ponto comercial da cidade.
82
A reportagem corrobora com o acima discorrido, na medida em que faz citações
como:
Quando o então prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, mandou fechar
três quarteirões da rua XV de Novembro em 1971 para ali construir
uma larga calçada de 700 metros de comprimento em pleno coração
da cidade, teve de tocar o projeto quase que às escondidas. “Os
adversários eram tantos que fizemos todo o serviço num único final
de semana”, lembra Lerner. “Foi o único jeito de impedir que uma
ação judicial embargasse a obra”. (REVISTA VEJA, 1987, p. 25).
Na sequência a referida reportagem diz que outras cidades copiaram o projeto até
então inédito no Brasil:
Dezesseis anos depois, depois o primeiro calçadão do Brasil já foi
imitado em todo o país e se tornou uma mania nacional. Das
grandes cidades, como São Paulo e Florianópolis, à pequena São
Gabriel, no interior do Rio Grande do Sul, hoje são poucas as
cidades que não seguem o exemplo de Curitiba. (REVISTA VEJA,
1987, p. 25).
A reportagem mostra também a citação, no que tange aos comerciantes:
A oposição ao projeto de Lerner partia principalmente dos
comerciantes, que enxergavam no calçadão um inimigo dos seus
lucros. Temeroso de que, ao afastar os carros, o calçadão acabasse
também por afastar as pessoas, o imigrante alemão Tancredo
Weinhardt, dono de um magazine de calçados que leva o seu
nome, chegou a liderar um abaixo-assinado dos lojistas locais
exigindo a reabertura da rua. Na mesma semana, o mesmo
Weinhardt liderava outro movimento – desta vez para reivindicar à
prefeitura a ampliação do calçadão a outras ruas do centro da
cidade, incluindo aquela onde ele mantém uma loja. “Hoje eu sei
que o calçadão é a salvação do comércio”, prega Weinhardt, cujo
faturamento triplicou quatro meses depois da inauguração.
“Descobri que sem os carros as pessoas caminham mais à vontade,
vêm vitrines com mais calma e acabam comprando mais”. (REVISTA
VEJA, 1987, p. 25).
A reportagem cita ainda sobre o movimento do Calçadão:
Localizado no pedaço da cidade onde se situa a maior concentração
de bancos e restaurantes, além da Universidade Federal do Paraná,
o calçadão acabou por se converter no centro nervoso de Curitiba e
por ele trafegam atualmente milhares de pessoas por dia. “Com
esse movimento, o que está na vitrine vende mais do que qualquer
shopping center” diz o comerciante de roupas Rubens Teig, dono da
83
loja Universal. Hoje, o que se pensava ser um trambolho tem valor
de mina de ouro. (REVISTA VEJA, 1987, p. 25).
Mais adiante a reportagem informa quanto aos custos para se manter um ponto de
venda no Calçadão,
Quem quiser instalar-se numa lojinha de quatro metros de fachada
localizada no calçadão, por exemplo, terá de pagar 3 milhões de
cruzados só de luvas – uma palavra que antes nem fazia parte do
vocabulário dos negociantes da região. Além disso, o aluguel não
sairá por menos de 50.000 cruzados por mês. “Não saio daqui por
nada”, avisa Teig. “É um privilégio poder estar no melhor ponto de
comércio da cidade”. (REVISTA VEJA, 1987, p. 25).
Considera-se que, mesmo havendo uma grande resistência por parte dos
comerciantes, de início quanto à implantação do Calçadão, por ser uma situação até então
inusitada para o comércio da região, mesmo tendo os seus criadores afirmado que o
projetado para aquela via, tinha toda uma concepção estudada e que era a decisão das
mais acertadas, mesmo assim o medo inicial dos comerciantes era plausível, porque não
conseguiam prever qual seria a reação da população com relação ao comércio local.
Passado o impacto inicial, da implantação, o comércio percebeu que a reação da
população foi bastante positiva e que além de melhorar o movimento de pedestres, pela
segurança em transitar em uma via exclusiva, melhorou também o lado comercial. Com ele
as vendas aumentaram, mas também aumentou o movimento na área de lazer o que
representou um ponto de avanço à região.
Assim, se comparado a um shopping, o Calçadão por ser uma via central, como
citado na reportagem, “o centro nervoso da cidade”, teve uma movimentação muito maior
de pessoas, o que consequentemente melhorava as condições de lazer e gerava maiores
chances na área comercial. Contudo, isto provocava um aumento de custos de
manutenção comercial: como o valor do ponto comercial, aluguel e outros custos indiretos,
como a valorização imobiliária local bastante significativa, como mostrado na reportagem.
Por outro lado, este método de urbanismo proporcionou aos idealizadores deste
espaço público um grande orgulho por ver sua obra servir de incentivo a outras cidades do
Brasil. Estes copiaram a ideia e implantaram projetos semelhantes, fechando vias ao
tráfego de veículos, promovendo a humanização das cidades ao transformarem vias em
calçadões de uso exclusivo aos pedestres. Assim, observa-se diante do descrito nesta
reportagem, os avanços e benefícios que este tipo de planejamento promoveu não apenas
como forma de lazer, mas também como incentivo comercial.
84
As figuras 18 e 19 fazem parte da mesma reportagem, sendo que a primeira figura
mostra um desfile de um grupo que se autodenomina grupo do Fiu-Fiuuu Sport Club, na
Rua XV de Novembro, para anunciar a chegada da primavera. A segunda figura mostra
uma passeata do MAE, Movimento de Ação Ecológica, expressando tristeza pela natureza
violentada.
Figura 18 – Rua XV de Novembro – Rua das Flores – (1988).
Acervo: Jornal do Estado – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
Figura 19 – Rua XV de Novembro – Rua das Flores – (1988).
Acervo: Jornal do Estado – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A reportagem que referenda as figuras 18 e 19 acima tem como título “Rua das
Flores em clima de primavera”. Esta reportagem mostra a Rua das Flores em uma manhã
de sábado, no seu estilo de espaço público democrático e de lazer. Onde grande número
de populares curitibanos, passeia pelo Calçadão onde estão acontecendo eventos
animados por palhaços, teatro de fantoches e uma banda formada por integrantes do
Colégio Estadual do Paraná. Além do acima descrito descrevendo as figuras, acontece
85
também concomitantemente o “2º Pinte o Sete de Verdade”, para as crianças pintarem no
chão, encima de rolos de papel divididos de metro em metro, o que quiserem. Este evento
é relativo ao encerramento da programação da Semana da Árvore.
Acontece ainda que o Movimento de Ação Ecológica - MAE, aproveitando a
oportunidade realizou uma passeata de manifestação, representando o “velório da
natureza”, portando cartazes com dizeres de alerta à população quanto à situação em que
se encontrava o meio ambiente. Esta passeata se iniciou na Praça Santos Andrade, quase
no início do Calçadão e terminou na Praça Osório, onde estes mostravam a devastação
das florestas do país. Esta manifestação mostrou através de painéis com fotos a
devastação por meio de queimadas de florestas nativas do Paraná e também da Amazônia
e que nada adiantava este tipo de manifestação se ninguém se preocupasse com a
preservação das matas nativas. Sendo o Calçadão um espaço eclético e democrático
aceitava todo tipo de manifestação, das mais variadas para atrair seguidores ou
demonstrar qualquer situação, por mais adversa que possa parecer.
Esta reportagem corrobora com o acima descrito quando cita:
Animados por palhaços, teatro de fantoches e a banda do Colégio
Estadual do Paraná, um grande número de curitibanos foram
atraídos na manhã deste sábado, na Rua das Flores para o “2º
Pinte o Sete de Verdade”, onde as crianças puderam expressar a
natureza através das tintas – no encerramento da Semana da
Árvore. (JORNAL DO ESTADO, 1988, s/p.).
Na sequência, a reportagem mostra quanto a passeata do MAE:
O Movimento de Ação Ecológica (MAE) aproveitou a ocasião, no
entanto, para realizar uma passeata silenciosa, cadenciada apenas
pela seca batida de um atabaque, numa espécie de “velório da
natureza”. Os manifestantes portavam faixas e cartazes com frases
de alerta e conscientização para a população. [...] só nos últimos
trinta dias, o Paraná perdeu com as queimadas, mais de 40 mil
hectares de florestas nativas e a Amazônia quase 20 milhões de
hectares. Lembra que não adianta ficar distribuindo mudas de
árvores para reflorestamento se ninguém se preocupa em preservar
as ainda existentes. [...] “Se nós não nos conscientizarmos, num
futuro próximo não estaremos mais comemorando o dia 21, o Dia da
Árvore, quando a data servirá apenas para lembrar o que foram as
devastações [...]”. (JORNAL DO ESTADO, 1988, s/p.).
86
Com o acima descrito a Rua XV de Novembro, e de acordo com todas as outras
reportagens, enfatiza-se o caráter de um espaço público e democrático no centro da cidade
de Curitiba. Nesta via acontecem desde a promoção de eventos, como o citado acima em
comemoração à Semana da Árvore, assim como também manifestações públicas como a
passeata contra as queimadas que estão causando devastações nas matas e florestas, ou
seja, é um espaço de livre expressão.
A figura 20 mostra um trecho da Rua XV de Novembro, Calçadão de
Curitiba, ilustrado por bancos, floreiras e o movimento de populares circulando pela via,
com autoria do texto de Raul Pilatti.
Figura 20 – Rua das Flores – Trecho da Rua XV de Novembro. (1989).
Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).
A figura 20 referenda a reportagem do jornal O ESTADO DO PARANÁ, (1989),
escrita por Pilatti, com o título “A Geografia Humana de uma rua – Rua das Flores, para
principiantes”.
Pilatti (1989) inicia com uma pergunta: “Qual o melhor lugar da cidade para um
bom bate-papo?” O autor responde também com outra pergunta: “Você quer ouvir histórias
antigas e recentes?”.
Estas perguntas já tinham em si uma intencionalidade jornalística de cunho social,
pois na memória social a resposta pertinente era - a Rua das Flores – a parte da Rua XV
de Novembro exclusiva para pedestres era um lugar para se ouvir histórias e viver outros
eventos de ordem cultural e sociopolítico. E assim seguia entre perguntas e repostas,
sobre política, economia, esportes e até sobre fofocas de forma generalizada, sobre todos
os assuntos e também quanto ao governo, respondendo sempre que era na Rua das
Flores que se encontrava tudo em termos de assuntos para um bom bate-papo. Era ali na
Rua das Flores que se podia ficar sabendo um pouco de tudo o que acontece na cidade.
Contudo, devia-se ter o cuidado de se saber onde se está, pois em cada lugar ou quadra
87
teríamos impressões diferentes sobre os mesmos assuntos, e por consequência, focos
também diferentes, o que poderia gerar distorções.
Aqui, para melhor entendimento, convém situar a Boca Maldita, que é um espaço
democrático, criado em 1956, mas só institucionalizado em 1966, situado no Calçadão, na
Avenida Luiz Xavier. Este espaço é frequentado por políticos, empresários, personalidades
e pessoas da população, não há qualquer distinção dentre eles, ali se discute todos os
assuntos sem qualquer censura, onde todos podem expor seus pensamentos livremente e
sem qualquer restrição.
A “Boca Maldita” tem a uma frequência bastante diversificada, e varia muito a
classe e nível das pessoas. Se observarmos atentamente podemos encontrar grupos
diversos como de aposentados principalmente do Poder Judiciário, com desembargadores,
juízes e ex-servidores. O tema principal das conversas é quase sempre ligado às notícias
do Judiciário.
O autor da reportagem cita que o jornalista Luis Geraldo Mazza, assíduo
frequentador da Boca Maldita, onde afirma que a Rua XV mudou “os grupos que hoje se
reúnem ali são multidisciplinares”, o que fez com que os grupos mudassem bastante.
Houve época em que entre os diversos grupos chegavam a ter rixas entre eles, e não se
misturavam, ficavam em rodas separadas, conversando normalmente como se nada
tivesse acontecido, mas continuam frequentando as rodas de conversas no Calçadão.
A exemplo disto tem um grupo de militares da reserva e também da ativa, que se
reúnem próximos à Boca Maldita, que se tornaram, como cita a reportagem, muito críticos à
situação atual do país.
Os anos de repressão não são o assunto favorito, mas os feito durante os
governos militares faz vibrar os corações, e talvez por causa disto forma um grupo à parte,
mesmo sem representar qualquer ameaça, muitos não se atrevem a chegar perto.
Mais adiante a reportagem cita o amargor que existe em certas rodas de
aposentados, que por se sentirem fora do contexto, acham que por serem aposentados
estão descartados pela população que ali se reúne. Assim, por serem em grande número,
continuam circulando pelo espaço público, como se sentissem estar voltando às origens,
de quando eram mais moços, mas são tão apegados ao passado que ficam a circular pelas
rodas de conversas.
Os frequentadores assíduos são os de finais de semana, diferentes dos
frequentadores do decorrer da semana, que desaparecem após alguns instantes de
conversa, pois têm que voltar ao trabalho.
Uma curiosidade são inimigos declarados que se reúnem em uma mesma roda e
conversam sem que haja nenhuma rixa, em um convívio pacífico, mas que ao saírem
88
“podem” ser criticados, mas isto faz parte do convívio em grupos heterogêneos, o que não
atrapalha o convívio entre eles.
Passando os limites da Boca Maldita encontra-se uma roda de mudos conversando
em LIBRAS, linguagem que só eles entendem, mas marcando seu espaço, contando
historias e trocando ideias dentre eles sem nenhuma interferência.
Uma situação mais agradável acontece nos finais de tarde, quando em alguns
bares, se reúnem pessoas a fim de soltar a voz em uma animada roda de samba, são eles
músicos que bebendo um chopp soltam a voz e alegram a rua.
Aqui resumidamente descreveu-se o que acontecia na Boca Maldita, durante a
semana, e nos finais de semana, onde as pessoas se reuniam em conversas informais,
para saber as fofocas do dia, e também como forma de lazer, já os de mais idade
preferiam reviver a nostalgia dos antigos tempos dos passeios pela Rua XV de Novembro e
Avenida Luiz Xavier, encontrando os antigos amigos para conversas informais, revivendo
os áureos tempos com todo o charme que esta via proporcionou em décadas anteriores.
Continuando, a reportagem descreve que é um passeio para mostrar a Rua XV de
Novembro às pessoas, assim tem-se que ao transpor a Travessa Oliveira Belo, os
frequentadores deste novo trecho são de outro nível cultural. Ali se encontra um grupo com
deficiência da fala, mudos, que se reúnem próximo ao bonde, e conversam por meio de
linguagem da mímica, se comunicam entre eles em conversas que só eles se entendem.
Mais adiante se encontram as mesas em frente aos bares colocadas sob
quiosques de proteção, onde pessoas se reúnem em roda de samba ao final da tarde, e
que em sua maioria são músicos, que ao final do dia se encontram para tomar um chopp e
que acabam por alegrar o movimento da rua.
Nas quadras seguintes onde existem algumas escolas de segundo grau, seus
alunos promovem uma grande movimentação e dão vida à rua, que misturando vários
estilos fazem com que a rua tenha por algumas horas um movimento incomum e maior
vivacidade. Seguindo em frente aparece um ponto de encontro um tanto diferente dos
demais, é entre a Galeria Schaffer e a livraria Ghighone, antigo ponto de intelectuais da
cidade, onde se discutiam os diversos lançamentos dos livros da época, inclusive
conceituando os autores, contudo, naquele tempo, no entanto, já não se consegue reunir
mais escritores.
Segundo a reportagem, o mesmo local mudou, nele passaram a se encontrar
jovens, que circulam pelas confeitarias e bares da região. Mais adiante encontramos dois
pontos de cafés onde profissionais liberais e aposentados se reúnem para conversar, e ali
perto encontramos até “buckmakers” e outros profissionais, onde podemos ouvir conselhos
sobre o próximo páreo e até fazer uma aposta. O Calçadão chega ao final, e assim tem-se
89
de forma um tanto genérica o que se pode encontrar em termos de lazer e distração,
contudo a reportagem se encerra com uma sugestão ou conselho: “Ah, um ultimo
conselho: para começar, é sempre melhor ouvir que falar. Você aprenderá muito mais”.
(PILATTI, 1989, s/p.).
Esta reportagem de Pilatti corrobora com o acima descrito quando cita:
Na XV é possível ouvir de tudo um pouco. E se você tiver crédito,
até contar suas histórias. Mas, cuidado. Veja bem onde encostar-se.
Pois a rua é uma só, mas em cada quadra você vai encontrar um
grupo diferente. Todo mundo pensa, da forma mais tradicionalista,
que na XV só tem aposentado. Bola fora. É claro que eles são a
maioria. Mas observando bem, você vai encontrar outros grupos
interessantes. (PILATTI, 1989).
Pilatti (1989) escreve ainda que o lugar mais tradicional da XV é o seu começo: a famosa
Boca Maldita. Como a décadas se sucede, grupinhos se formam entorno dos cafés. Um
dos mais antigos e tradicionais é dos aposentados do Judiciário. Desembargadores, juízes,
ex-servidores e um ou outro advogado. Os assuntos preferidos, como não podia deixar de
ser são os caminhos “tortuosos” do Judiciário.
Mantendo ainda as diferenças territoriais e profissionais, segundo o autor acima
vai-se encontrar perto da esquina da XV com a Travessa Oliveira Belo um dos grupos com
maior “espírito de corpo”. São os militares aposentados – ou da reserva, como se chamam.
“Todos tornaram-se assíduos críticos da situação atual do país”, comenta o mesmo
anônimo parceiro de muitas conversas. Os anos de repressão não são o assunto favorito.
Mas os feitos durante os governos militares ainda faz vibrar os corações verde-olivas.
Para Pilatti (1989) o próximo ponto interessante de encontro é entre a Galeria
Schaffer e a Livraria Ghighone. José Ghighone lembra ainda quando em frente a sua loja
se reunia parte da elite intelectual da cidade. Essa elite parava para trocar ideias sobre os
últimos lançamentos, e conceituar os autores. Ultimamente, no entanto as prateleiras
recheadas de livros não tem conseguido reunir mais escritores. São hábitos que vão
mudando.
A reportagem acima descrita confirma que as transformações acontecidas na Rua
XV de Novembro, levaram esta via pública a se tornar um grande espaço público social, e
que em termos de avanço sociopolítico foca a área do Calçadão como um grande ponto de
encontro da cidade. Sim um ponto de encontros, que reúne a população de Curitiba em
seus diversos trechos como em uma grande sala de estar, promovendo o encontro de
amigos para bate-papos e reuniões após o expediente normal de trabalho de forma a
promover a descontração.
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Pode-se afirmar que o Calçadão transformou uma rua agitada e aflita, em um local
agradável e descontraído que dá à população que trabalha na região uma forma de
relaxamento e lazer após um dia de trabalho.
A figura 21 mostra transeuntes circulando pela feira de artes, no Calçadão, onde
artistas plásticos e pintores expõem suas obras.
Figura 21 – Rua das Flores – Trecho da Boca Maldita – Feira de Artes – (1989).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A figura 21 referenda a reportagem com o título “Ao ar livre, uma galeria de arte”,
(JORNAL GAZETA DO POVO, 1989, s/p.). A reportagem informa resumidamente que nas
manhãs de sábados artistas plásticos curitibanos transformavam a Rua das Flores em uma
galeria de artes ao ar livre. Localizados em um ponto no início da Avenida Luiz Xavier, em
pleno coração da “Boca Maldita”, faziam naquela via em um ponto de exposição de artes,
para pintores e artesãos que pudessem expor e vender suas obras.
Este espaço público a eles reservado, era exclusivo para artistas curitibanos, e
representava uma grande conquista para eles; e que por estarem em contato direto com os
clientes, principalmente turistas, tinham a possibilidade de mostrar suas artes diretamente
ao público, o que tornava tudo mais fácil. Era uma galeria de artes ao ar livre, onde cerca
de 20 artistas expunham suas obras e conseguiam viver com o resultado das vendas que
era bastante atraente pelo movimento que a rua proporciona, propiciando também aos
artistas trabalhos sob encomenda.
91
De acordo com a reportagem, havia possibilidade de mostrar a arte e a cultura
paranaense a um grande número de pessoas, em sua maioria, turistas que circulavam pela
Rua das Flores. “Todos os sábados pela manhã, um grupo de artistas plásticos curitibanos
transforma a Rua das Flores numa galeria de arte ao ar livre. Privilegiados pelo excelente
ponto, na Boca Maldita, conseguem vender seus quadros, além de manter contato direto
com o cliente”. (JORNAL GAZETA DO POVO, 1989, s/p.).
Um destaque era o artista David Donha, que dizia que: “Nossos clientes em
potencial são turistas que ficam encantados com a beleza da natureza e da cultura
paranaense, eternizadas nos nossos quadros”. Assim, esta reportagem mostrava a
implementação de uma política sociocultural, dando espaço ao artista curitibano divulgar
sua arte e socializar-se cultural e economicamente.
Esta “galeria de arte” funcionava ao ar livre, no trecho inicial Calçadão, na mesma
região onde se reúnem os frequentadores da Boca Maldita, ela dá mais vida e movimento
ao espaço público nas manhãs de sábado. Assim, esta “galeria de arte” além de dar um
local e “espaço” ao artista, promove também maior oportunidade de negócios para eles,
visto o grande movimento que acontece na região.
A figura 22 mostra o Calçadão de Curitiba em 1992, 20 anos após o início de sua
implantação. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ, 1992).
A figura 23 demonstra o novo projeto do Calçadão, como ficaria após obras de
revitalização. (1992).
Figura: 22 – Rua das Flores – Trecho da Rua XV de Novembro. - (1992).
Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.
92
Figura: 23 – Rua da Flores – Trecho da Rua XV de Novembro. - (1992).
Acervo: Jornal O Estado do Paraná – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do
Paraná.
A reportagem que referenda a figura 22, tem como título “Rua das Flores terá
obras de recuperação”. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ, 1992, s/p.).
O projeto de recuperação da Rua das Flores tinha como principal objetivo restaurar
a via de forma que esta voltasse a ter os traços arquitetônicos como era na época em que
foi construída.
A recuperação abrangeria toda a sua extensão, que compreende, desde o seu
início na Praça Osório até próximo à Praça Santos Andrade, na confluência desta via com
a Rua Presidente Faria.
O projeto de recuperação previa a recuperação das luminárias, árvores, floreiras e
também a fachada dos prédios, de forma a resgatar a antiga imagem e características
quando da sua implantação no início dos anos 70.
Este projeto tinha sido elaborado em razão da Rua XV ter sido tão modificada, ao
longo dos anos, perdendo as características originalmente projetadas, o que alterou
sobremaneira a paisagem urbana inicial da rua.
A reportagem que referenda a figura 23 tem como título “Prefeitura inicia reforma
na Rua XV”. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ 1992 s/p.).
Esta reportagem segue o mesmo tema, contudo cita alguns pontos de forma mais
detalhada. O projeto de revitalização da Rua das Flores é de autoria do arquiteto Abrão
Assad, o mesmo arquiteto que elaborou o projeto inicial do Calçadão vinte anos antes. A
reportagem menciona que funcionários de uma empresa de instalações elétricas já
93
estavam executando as bases de sustentação em concreto para os postes, no trecho entre
a Rua Presidente Faria e a Rua Barão do Rio Branco. Estas bases dariam suporte para um
novo sistema de posteamento em ferro fundido, que seria instalado de forma a melhorar a
iluminação. Os postes teriam menor altura, dois globos com lâmpadas mais potentes, o que
daria maior luminosidade à rua.
Os postes antigos seriam substituídos, devido ao facho de luminosidade ser
direcionado mais para o piso, e devido ao fato de as árvores existentes no local provocar
grandes áreas de sombras, o que ocasionava deficiências na iluminação da área, enquanto
que os novos postes de iluminação projetados no estilo colonial com globos no topo,
menos altos, com lâmpadas mais potentes e instalados mais próximos uns dos outros,
melhorariam bastante a iluminação da rua. Ao todo seriam instalados 97 postes, o que
além de melhorar a iluminação local, daria mais segurança às pessoas que transitassem
pela via.
O calçamento da rua de pedras no padrão petit-pavé, estava também bastante
disforme em alguns trechos, apesar das diversas recomposições realizadas e seria
recomposto em toda a sua extensão. O mesmo deveria ser feito com as floreiras e bancos
que estavam danificados, e que deveriam ser substituídos.
A revitalização desta via se devia à descaracterização ao longo do tempo do
projeto inicial, a exemplo do que acontece com as bancas de jornais e revistas, que tinha
as paredes em vidro transparente, onde foram colados cartazes que acabaram por
bloquear toda a visão, o mesmo aconteceu com as bancas de sucos, e outras. Desta
forma, descaracterizam o projeto inicial, e contribuíram também para a poluição visual,
distorcendo toda a aparência agradável do local, que se tornou referência turística e foi
copiado por muitas outras cidades.
Ambas as reportagens corroboram com os relatos acima quando citam: O projeto
de recuperação da Rua das Flores tem como objetivo restaurar os traços arquitetônicos do
local como eram na época de sua construção, em 1972. A recuperação vai ser feita desde
a Praça Osório até a Praça Santos Andrade.
As reportagens indicam também:
[...] Entre os itens constantes está a substituição dos postes
existentes por modelos similares aos colocados na via na época da
sua instalação. Ao todo, são 97 postes de ferro fundido com
luminárias em forma de globo, em altura menor que as atuais –
terão, como no projeto inicial 3,5 metros – eles favorecerão uma
melhor iluminação à área. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ 1992
s/p.).
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Quanto ao calçamento, a reportagem que referenda a figura 23 registra que o tipo
de calçamento, agora desuniformizado em vários trecho, voltará a ser igual em toda a sua
extensão: pedras em padrão petit-pavé. As floreiras e bancos danificados pelo tempo
também serão substituídos. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ 1992 s/p.).
A opinião do arquiteto Abrão Assad era:
[...] tornar a rua semelhante ao que era há vinte anos, quando o
calçadão foi criado. “Tudo o que está lá não é original. As coisas
foram mudadas para pior. O calçadão não é um mercado persa”, diz
o arquiteto, numa referência ao grande número de bancas de
revistas e pontos comerciais que surgiram no local”. (JORNAL O
ESTADO DO PARANÁ, 1992, s/p.).
Nesse momento da análise, entende-se que no “Calçadão de Curitiba”, nesta
segunda década de existência, aconteceram muitas modificações que acabaram por alterar
sua concepção original, ocasionando uma desconfiguração que de sobremaneira o
descaracterizou-o.
Talvez, em tese, esta desconfiguração se deveu ao fato de as administrações
municipais não terem dado a devida atenção que o Calçadão exigia, por ser principalmente
um ponto turístico da cidade. Partindo deste princípio, as modificações que aconteceram
no Calçadão tinham uma visão política, a do bairrismo, qual seja incentivar o
desenvolvimento do Calçadão sob o ponto de vista dos individualismos de grupos sociais,
incluindo nos avanços reais da cidade e de suas políticas públicas de desenvolvimento. O
que se percebeu nas diversas reportagens é que o Calçadão vinha ainda satisfazendo
alguns interesses de classes, quando nem sempre se dava a devida atenção a um projeto
que colocou a cidade de Curitiba no roteiro turístico do Brasil.
Resumindo, desta forma o Calçadão passou por mais alguns avanços, mas devia
receber maior atenção na sua complexidade política e social, haja vista o movimento que
ele atraía, tanto durante as semanas, como nos finais destas, não só na área econômica,
mas também na área social, como na “Boca Maldita”, por ser um ponto central da cidade
de grande atração. Como indicava a reportagem inclusa na referência com o título Centro
Político da Cidade, do Jornal Gazeta do Povo, (1992).
Assim, a década em análise mostra um bom desenvolvimento sociopolítico e
econômico do “Calçadão de Curitiba”, pois ele se configurou como ancora de atração na
expansão comercial e social da cidade.
95
4.1.3 Década 1992 a 2002.
A figura 24 mostra o Calçadão de Curitiba em 1993, no trecho inicial da Rua XV de
Novembro – Rua das Flores.
Figura: 24 – Rua das Flores – Trecho da Rua XV de Novembro. - (1993).
Acervo: Jornal O Estado do Paraná – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do
Paraná.
A reportagem que referenda a figura 24 tem como título “Rua das Flores vai virar
um shopping horizontal”. (JORNAL O ESTADO DO PARANÁ, 1993, p. 9).
Esta reportagem fala em transformar a Rua das Flores em um shopping horizontal
moderno, como proposto pelo prefeito Rafael Greca aos lojistas da Rua das Flores, em
reunião na Associação Comercial do Paraná.
Nesta reunião, o prefeito criticou a atitude que a grande maioria dos comerciantes
vinha adotando em suas lojas, eliminando de suas fachadas as portas e vitrines, “no estilo
dos mercados árabes”. Sugeriu aos mesmos que recolocassem as vitrines como forma de
dar maior vivacidade à rua, e também que estas fossem iluminadas para melhorar a
luminosidade das fachadas e da rua à noite, como uma maneira de revitalizar a rua.
O Prefeito pediu ainda aos comerciantes que providenciassem a retirada das
placas de propaganda das fachadas dos prédios e lojas, como forma de promover a
despoluição visual. Sendo esta uma rua com edificações históricas, as fachadas dos
edifícios deveriam ser mantidas, o que seria além de um bom atrativo ao comércio, uma
maneira de preservar o visual original, principalmente por ser uma rua símbolo da cidade.
96
Por outro lado, o prefeito prometera melhorar a segurança na Rua das Flores,
colocando a Guarda municipal no patrulhamento desta, desde a Rua Barão do Rio Branco
até a Praça Osório, criando um corredor de segurança. Assim este patrulhamento daria
segurança tanto aos transeuntes que circulavam por esta via, como também aos lojistas. A
intenção era criar um “Corredor de Segurança”, com homens da Guarda Municipal em todo
o Calçadão, que seria transformado em um grande shopping a céu aberto.
A reportagem corroborava com o acima descrito, quando dizia “Transformar a Rua
das Flores num grande shopping horizontal e moderno. Esta foi a proposta do prefeito
Rafael Greca aos lojistas da Rua das Flores, no encontro que reuniu mais de 50
comerciantes [...]”.
A reportagem registrava ainda com relação à reunião que:
O prefeito sugeriu aos lojistas o retorno das vitrines que serviriam
como instrumento de animação das ruas. “Além de garantir maior
segurança, as vitrines podem ficar iluminadas à noite, animando a
rua e revitalizando ainda mais o centro da cidade”, propôs.
Paralelamente, o prefeito pediu aos comerciantes que seja feita uma
despoluição visual da rua, com a retirada de placas e outros
equipamentos que acabam escondendo os atrativos dos prédios.
(JORNAL O ESTADO DO PARANÁ, 1993 p. 9).
Mais adiante a reportagem informava que o
Corredor de segurança – Em contrapartida, o prefeito Rafael Greca
garantiu aos comerciantes da Rua das Flores – da Barão do Rio
Branco até a Praça Osório. Este trecho seria patrulhado pela
Guarda Municipal, no estilo do que já ocorre na Rua 24 Horas. Ele
propôs ainda que os comerciantes se associassem para criar os
zeladores de quadra. “Seriam pessoas encarregadas de cuidar das
lojas, apagar as luzes, baixar as grades de proteção em horários
previamente determinados”, disse. (JORNAL O ESTADO DO
PARANÁ, 1993, p. 9).
Concluindo, o então prefeito Rafael Greca e as autoridades que participaram da
reunião, juntamente com integrantes da Associação Comercial do Paraná, procuravam
formas junto aos lojistas de melhorar o visual da Rua das Flores, com medidas no sentido
de minorar a poluição visual da rua, de modo a devolver à via seu aspecto visual natural,
ressaltando as suas edificações antigas e ao mesmo tempo promovendo maior animação
do espaço público.
Com estas medidas, sendo a Rua das Flores o símbolo da cidade, devia-se
promover que esta via continuasse ainda a ser o centro nervoso da cidade. Então, propôs-
97
se a criação de um corredor de segurança como forma de dar maior tranquilidade e
segurança aos que por esta via transitavam.
Com a política de segurança do local, a pretensão era que, desta maneira, haveria
maior movimento e consequentemente melhorariam as atividades comerciais e sociais
locais.
A figura 25 mostra a fachada do edifício onde foi instalada a Ghignone Center em
1995.
Figura: 25 – Rua das Flores – Edifício da Galeria Ghignone. - (1995).
Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).
A figura 25 acima referenda a reportagem intitulada “Ghignone investe na Rua das Flores”.
(JORNAL GAZETA DO POVO, 1995, s/p.).
A reportagem conta que as Livrarias Ghignone estavam instaladas na Rua XV de
Novembro, Rua das Flores, desde a década dos anos 40, e era um ponto de encontro de
intelectuais da cidade.
Em 1995, Ghignone estava aproveitando o imóvel de sua propriedade para dar sua
contribuição à cidade, na revitalização da Rua das Flores. Havia criado uma galeria com
um mix de lojas, em um segmento de comércio mais refinado que atenderia a livraria e
ofereceria aos clientes outras opções de compras, de forma a manter uma clientela mais
diferenciada.
Inaugurada havia algumas semanas, tinha intenção de oferecer aos clientes outras
opções de compras, devido aos tipos de comércio que oferecia que iam desde tabacaria,
esporte, dentre outras até um simples café.
98
A galeria devia atender o público que se utilizava da livraria, mas ofereceria outros
produtos, de forma a ser um lugar agradável e atender também pessoas que se utilizassem
do Calçadão para passear ou comprar. Assim devia ser incluído de forma a incentivar
promoções conjuntas entre os lojistas e a Associação Comercial do Paraná, de forma a
incentivar entre os lojistas a formação de um grande shopping a céu aberto.
Por fim, a reportagem referendava a revitalização do Calçadão de forma a dar a
cidade um grande shopping a céu aberto como maneira de incentivar o comércio na região
central da cidade, e dar condições às pessoas de encontrar no centro da cidade, lojas que
ofereçam qualidade e um mix de produtos diversos a oportunidade de encontrar os
produtos que procuram sem que sejam obrigados a se deslocar a outros centros. Por
exemplo:
As livrarias Ghignone, instaladas desde a década de 40 na Rua das
Flores, estão dando a sua contribuição ao projeto de revitalização
do centro da cidade. Aproveitando uma área de cerca de 300
metros quadrados no edifício da loja matriz, a empresa abriu um
strip-center – uma espécie de galeria – e aposta em um segmento
de comércio mais nobre, com lojas de produtos esportivos,
perfumes e charutos. [...] a intenção é oferecer novas opções de
compra ao público da livraria, que completa 75 anos de fundação
em 1996. “A loja é um ponto de atração cultural” avalia Ghignone.
(JORNAL GAZETA DO POVO, 1995, s/p.).
Mais adiante a reportagem cita que A Associação Comercial do Paraná, por
exemplo, começou a coletar propostas para recuperar a rua, incluindo medidas para
incentivar promoções conjuntas entre os lojistas, como em um grande shopping a céu
aberto.
Finalizando, esta reportagem mostra que as políticas públicas, mesmo que
proponham a revitalização de um espaço público, não necessariamente devem partir de
órgãos públicos, mas podem a partir de associações privadas, como no presente caso, a
Associação Comercial do Paraná, que neste pleito, junto com lojistas, procura através
políticas comerciais, formas de revitalizar o espaço público, “Calçadão de Curitiba”, por
meio de promoções colocando-o como um grande shopping a céu aberto. Nesta linha, o
Ghignone Center deu um primeiro arranque, diversificando suas atividades como forma de
dar mais motivação à empresa e movimentação à rua.
99
A figura 26 mostra o “Calçadão de Curitiba”, Rua das Flores no ano de 1997, com
seu movimento constante, como um congestionamento de pedestres.
Figura: 26 – Trecho da Rua XV de Novembro – Rua das Flores – (1997).
Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.
Autor: Valterci Santos.
A reportagem que referenda a figura 26 acima, tem como título “XV bate os
shoppings em movimento – Pesquisa mostra que das 8 às 20 horas, 100mil pessoas
circulam pela Rua das Flores”.
A reportagem em tela afirma que o movimento de pessoas na Rua das Flores é
maior do que qualquer shopping na cidade de Curitiba.
A pesquisa elaborada pelo IPPUC, Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba, visava coletar de dados referentes à Rua das Flores para servir de suporte às
intervenções que seriam necessárias na elaboração do projeto “Revivendo Curitiba”,
quando se queria coletar dados com base em entrevistas com comerciantes, pedestres,
moradores, e conjuntamente a isto, fazendo a contagem da movimentação de pessoas que
diariamente circulavam pelo Calçadão.
O primeiro dado divulgado dava conta de que no período das 08:00 h às 20:00 h,
cerca de 100 mil pessoas, em média, transitavam diariamente por esta via.
Assim, fazendo um comparativo com o mais antigo Shopping Center da cidade, o
movimento deste seria equivalente a um terço do movimento do Calçadão durante todo o
mês de dezembro.
100
Mesmo estando os demais dados coletados ainda em fase de compilação, a
divulgação do movimento de pessoas na Rua das Flores era bastante animador e revelava
em parte o que devia ser levado em conta na elaboração do projeto acima mencionado.
O local de maior movimento revelado pela pesquisa era o trecho entre as ruas
Doutor Muricy e Avenida Marechal Floriano, a parte mais central da via, o que provava,
segundo a coordenadora do projeto, Ariadne Mattei, que o centro da cidade estava mais
vivo do que nunca. Com isto, os lojistas da região central deviam rever as técnicas de
comércio, pois este movimento devia levá-los a adotar estratégias de forma a atrair maior
clientela.
Devido às características da via e ao movimento constatado, a coordenadora do
projeto quer em contato com os comerciantes, analisar formas de melhorar o movimento do
setor comercial, aproveitando os dados coletados pela pesquisa relativos ao movimento da
via, que para ela são bastante positivos, e que podem render em grandes incentivos ao
comércio local.
A reportagem confirma o acima citado quando diz:
O movimento de pedestres na Rua XV de Novembro é de causar
inveja aos shoppings da cidade. Pesquisa do IPPUC mostra que, no
período das 8 às 20 horas, cem mil pessoas, em média, circulam
diariamente pela Rua das Flores. [...] Os números divulgados fazem
parte da pesquisa feita na Rua XV de Novembro, que servirá de
base para as intervenções previstas dentro do projeto Revivendo
Curitiba. (JONAL GAZETA DO POVO, 1997, s/p.).
Mais adiante reforça a visão socioeconômica em termos quantitativos dizendo:
Os números nos surpreenderam positivamente. “Eles provam que o
centro está mais vivo do que nunca”, diz Ariadne Mattei,
coordenadora do projeto Revivendo Curitiba. Para ela, os lojistas
devem ter este movimento como um incentivo a mais para reavaliar
estratégias de comércio e atrair maior clientela. [...] Segundo a
coordenadora, a prefeitura quer trabalhar ao lado dos comerciantes
para ver que tipo de contribuição pode ser dada para potencializar o
movimento do comércio. (JONAL GAZETA DO POVO, 1997, s/p.).
A reportagem acima focava uma política socioeconômica de expansão. Era a
elaboração do programa de revitalização do Calçadão, denominado “Projeto Revivendo
Curitiba”, ainda em fase inicial de elaboração, mas que pretendia recompor a via pública.
Como ponto de partida foi promovido um levantamento ao longo de toda a via, para a
obtenção de dados, que depois de compilados, formassem a base do processo das
101
intervenções que seriam necessárias. Esta coleta de dados foi feita por meio de pesquisas
e entrevistas, nos diversos setores e áreas de atividades existentes no Calçadão.
A pesquisa apontou um grande movimento de pedestres, o que demonstrou que o
centro da cidade era mais movimentado do que outras regiões. Isto representava um
grande incentivo para que as funções desta rua fossem revistas, não apenas do ponto de
vista urbanístico, por ser uma rua histórica, mas também para se utilizar este potencial nas
áreas sociais e econômicas de forma a tornar a rua mais atrativa.
As figuras 27 e 28 mostram atividades recreativas para jovens, adultos e crianças
em plena Rua das Flores.
Figura: 27 – Mostra as crianças em atividades recreativas na Rua das Flores. (1998).
Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.
Autora: Aniele Nascimento.
102
Figura: 28 – Mostra jovens e adultos em atividades recreativas na Rua das Flores. (1998).
Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.
Autora: Aniele Nascimento.
A reportagem que é ilustrada pelas figuras 27 e 28 tem como título “Rua das Flores
agora tem novas atrações – Diversas atividades animam o sábado no tradicional Calçadão
do Centro da Cidade”.
A reportagem diz que a Prefeitura Municipal de Curitiba, por meio da Secretaria de
Esporte e Lazer estava promovendo o projeto “Brincando na Rua XV”, e tinha como alvo a
recreação e lazer de crianças e adultos.
Este projeto buscava levar atividades recreacionais à rua nos sábados, como
forma de dar maior animação à Rua das Flores. Outra intenção era aproveitar o aditivo da
animação e movimentação de pessoas no horário comercial, aos sábados, de forma a
atrair maior movimentação também ao comércio no centro da cidade.
Este projeto era parte integrante do plano de revitalização da Rua das Flores, e
acontecia no trecho entre a Rua Doutor Muricy e a Avenida Marechal Floriano, justamente
o trecho citado na reportagem anterior, que o apontava como o de maior movimento.
A coordenação do evento dizia que este era uma forma de estimular o comércio
local, de modo a promover maior movimentação, e assim atrair as pessoas para o centro
da cidade, em vez de procurarem os shopping centers.
Como era de praxe este tipo de atividade na Rua das Flores, em toda a sua
extensão, no dia das crianças, como também no aniversário da cidade, então se ofereceria
lazer também aos adultos durante o dia inteiro. Um entrevistado dizia ser uma boa
experiência, já que teria a oportunidade de aliviar o estresse do dia a dia.
103
A reportagem demonstra o acima citado quando diz:
Jogos como dama, sinuca, pingue-pongue e futebol de botão, além
de varias atividades educativas e que ajudam a estimular o
desenvolvimento motor das crianças agora fazem parte do cenário
da Rua XV aos sábados pela manhã. A Prefeitura de Curitiba,
através da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SMEL), lançou
ontem o projeto “Brincando na Rua XV”, que tem a intenção de
promover recreação e lazer para crianças e adultos. (JORNAL
GAZETA DO POVO, 1998, s/p).
Mais adiante a reportagem afirma:
Segundo a diretora do departamento de lazer da SMEL, Lenita
Sicupira, essa é uma maneira de oferecer entretenimento para a
população e ao mesmo tempo estimular o comércio de toda a
região. Hoje as pessoas acabam optando pelos shopping centers
para passear e fazer compras. Em função disso, queremos tornar o
Centro da cidade mais atrativo. (JORNAL GAZETA DO POVO,
1998, s/p).
O olhar do Jornal supracitado colocava o Calçadão como área de lazer para
crianças e adultos, como forma de dar animação à via pública nos sábados pela manhã.
Também apresenta uma política de melhorar a movimentação da via, atraindo a população
ao centro da cidade, oferecendo lazer, além de promover também maior tendência a que
as pessoas circulem também pelo comércio. Assim, podemos observar uma política de
incentivo, não apenas social, mas também comercial, onde pessoas economicamente
ativas podem se servir do comércio. Assim, temos claramente que a Prefeitura Municipal
até então vinha olhando o Calçadão como uma via que podia promover maior aglomeração
no centro da cidade.
A figura 29 mostra a Rua XV de Novembro, trecho da Rua das Flores, e referenda
a reportagem com o título “Cassio entrega novo calçadão da XV no aniversário da cidade”.
(JORNAL GAZETA CRISTÃ, 2000, s/p).
104
Figura: 29 – Rua XV de Novembro – Calçadão de Curitiba – (2000).
Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).
A reportagem informa que o então prefeito Cassio Taniguchi, em comemoração ao
aniversario de 307 anos da cidade de Curitiba, entregou o “Calçadão de Curitiba”
totalmente reformado e revitalizado. Isto se deve por ser o Calçadão um marco da cidade,
quando em 1972 a Rua XV de Novembro foi fechada ao tráfego de veículos, e se tornou a
primeira via exclusiva para pedestres no Brasil. Ao completar 30 anos, houve uma reforma
completa em sua infraestrutura, que estava bastante deteriorada. Esta seria a primeira
grande reforma desde a implantação do calçadão.
O prefeito, ao iniciar as comemorações em frente à Associação Comercial do
Paraná, disse ser a Rua XV a sala de visitas e o ponto mais tradicional da cidade e
continuou, “é o palco mais democrático de Curitiba e também uma área importante de
passeio para as famílias”. Esta reforma deu uma nova estrutura de lazer ao calçadão,
principalmente por ter sido executada toda uma reforma estrutural das instalações que
existem embaixo do pavimento, que foram modernizadas pelas obras de saneamento e
instalações em cabos de fibra óticas.
Estas instalações modernizadas facilitariam sobremaneira o trabalho do comércio e
melhorariam em muito a rede de comunicação. Estas obras faziam parte também de todo
um programa de revitalização da região central da cidade, que incluía também restauro de
edificações históricas, que deveriam ser transformadas em espaços culturais.
105
O então governador Jaime Lerner, também presente na solenidade, destacou a
coragem do Prefeito em realizar tal obra e disse: “Para isto é preciso ter visão estratégica e
amor à cidade”. Ele completou, a respeito de uma pesquisa realizada anteriormente sobre
o que achavam e quais as necessidades do Calçadão, “Não é a toa que mais de 90% da
população gosta da cidade”. Ainda durante a inauguração o Prefeito e o Governador foram
convidados a percorrerem toda a extensão do Calçadão e na altura das confeitarias
Schaffer e das Famílias enquanto eram cumprimentados pelas pessoas, quando um
cadeirante se aproximou e cumprimentou o prefeito por ter se preocupado em facilitar a
movimentação de deficientes físicos com a instalação de guias rebaixadas.
A recuperação do Calçadão o manteve com o mesmo formato existente,
introduzindo alguns elementos, como forma de melhorar a animação do eixo que tinha
grande circulação. As obras de infraestrutura além de melhorar a pavimentação, incluíram
nesta uma pista tátil para deficientes visuais, ligada ao mobiliário existente, de forma a
beneficiar os que sofriam com esta deficiência uma forma de circular pelo Calçadão sem
grandes problemas.
Outro ponto que deveria ser implementado, ainda dando continuidade à
revitalização da via, era o da segurança do local. Segundo a reportagem, seria
implementado um sistema de monitoramento, através de câmeras que captariam a rua em
tempo real. A via seria vigiada, dando segurança à população que por esta transitasse e
também ao comércio.
A reportagem corrobora com o acima descrito quando cita:
O prefeito Cassio Taniguchi entregou no dia em que se comemorou
os 307 anos de Curitiba, o novo calçadão da rua XV de Novembro.
Criado em 1972 e considerado um dos marcos do processo de
renovação urbana ocorrido em Curitiba nos últimos 30 anos. A XV
foi a primeira via exclusiva para pedestres criada no país e passou
por uma completa reforma – a primeira desde a sua implantação.
(JORNAL GAZETA CRISTÃ, 2000, s/p).
A reportagem informava também parte do discurso do Prefeito Cassio Taniguchi na
comemoração quando afirmou que,
a revitalização proporcionou essa nova estrutura da lazer em cima
do calçadão, mas também provocou uma transformação embaixo,
com uma estrutura moderna de saneamento e fibras óticas que
ninguém vê. Toda essa transformação, disse: vai facilitar o trabalho
do comércio e proporcionar uma rede de comunicação igual a
106
existente em Londres, na Inglaterra. (JORNAL GAZETA CRISTÃ,
2000, s/p).
Mais adiante a reportagem registrava quanto ao projeto de recuperação do
Calçadão dizendo:
O projeto de recuperação do Calçadão manteve basicamente os
mesmos elementos que estão presentes na via desde a sua criação,
como o calçamento em petit-pavé e as floreiras, e introduziu novos
elementos que reforçam o seu caráter de eixo de animação da
cidade. [...] Além da renovação do piso e da substituição de todos
os equipamentos e mobiliário urbano, a reforma da rua XV ainda
incluiu a recuperação completa de toda a infra estrutura local.
(JORNAL GAZETA CRISTÃ, 2000, s/p).
A reportagem mostrava também quanto à segurança da via:
No projeto de revitalização do calçadão foi dado ênfase à questão
de segurança, que era uma das principais reivindicações dos
comerciantes locais. A iluminação está sendo reforçada com a
colocação de novos postes republicanos que se somam aos já
existentes. [...] Mas a principal inovação no item segurança foi a
inclusão de um sistema de monitoramento com câmeras de vídeo
em toda a extensão da via. Catorze câmeras serão colocadas em
pontos estratégicos da rua e vão funcionar 24 horas por dia. As
imagens serão captadas em uma central que será construída na
Praça Osório e será operada por funcionários da Prefeitura, com
apoio da Polícia Militar. (JORNAL GAZETA CRISTÃ, 2000, s/p).
A reportagem falava uma política de revitalização do espaço público como forma
de recuperar a via tanto na área comercial como na de lazer. Esta revitalização visaria
atrair a população ao centro da cidade, oferecendo uma melhor estrutura, principalmente
comercial, transformando a via pública em um grande shopping.
Desta forma aumentando a movimentação e animação da via deverá atrair
melhores condições de negócios ao comércio local, como também incentivar a utilização da
estrutura de lazer existente.
A figura 30 mostra a central de monitoramento da Rua XV de Novembro, Rua das
Flores, onde a Polícia Militar faz toda a vigilância do Calçadão, desde a Praça Osório até a
confluência da Rua Presidente Faria.
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Figura: 30 – Central de monitoramento do Centro de Operações da Rua XV de Novembro.
(2000).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
Autor: Orlando Kissner.
A reportagem que referenda esta foto tem como título “Câmeras reduzem a ação
de marginais na Rua XV – Equipamentos flagraram 25 ocorrências, a maioria relacionada a
tráfego de drogas e brigas”. (JORNAL GAZETA DO POVO, 2000, p.3).
Esta reportagem abordava a instalação do sistema de monitoramento por câmeras
instalado na Rua XV de Novembro, que vigiava todo o Calçadão da Rua das Flores, e
afirmava que o sistema estaria dando segurança à área. Este monitoramento ia desde a
Praça Santos Andrade até a Praça Osório, promovendo a segurança de todos que
transitassem pela rua e também ao comércio e às ruas vizinhas ao Calçadão.
Segundo o registro jornalístico, a conclusão da Polícia Militar é de que o sistema
implantado estaria funcionando a contento, mesmo estando ainda no início. Alguns
marginais ainda continuavam agindo na área, contudo o sistema vinha inibindo cada vez
mais a ação deles. A Polícia Militar afirmava que isto se comprovava pelo número de
ocorrências registradas entre os meses de outubro e novembro, que diminuiu em 14%, ou
seja, tinha baixado de 421 ocorrências no mês de outubro para 362 ocorrências no mês de
novembro daquele ano.
A polícia Militar descreve que em sua grande maioria as ocorrências são por
brigas, porte de tóxicos e armas, além de embriaguez que provocam transtornos ao
comércio e à população que transita pela via. Ainda enfatiza na contundência do conteúdo
do texto jornalístico que, de acordo com o Cel. Donizete Ribeiro, de janeiro a outubro
daquele ano foram ao todo 37 roubos, o que em média significa 3,7 ocorrências por roubo
ao mês, e no mês de novembro foi apenas 01 caso registrado. Diz ainda que nas
ocorrências de furtos simples, de janeiro a outubro foram registrados 22 casos, uma média
108
de 2,2 casos por mês, e nas de furto qualificado foi mantida a média de uma ocorrência ao
mês, chegando a registrar a diminuição das ocorrências, até mesmo as tentativas de
invasão de lojas, onde os marginais flagrados pelas câmeras acabam sendo pegos. Com
isso o sistema de monitoramento por câmeras surtiu efeito e inibiu a ação dos marginais
em toda a extensão do calçadão.
A reportagem referenda o acima citado quando diz:
Um mês depois do início efetivo do funcionamento do sistema de
câmeras instalado na Rua XV de Novembro – na extensão do
calçadão da Rua das Flores, entre as Praças Santos Andrade e
Osório – a conclusão da Polícia Militar é de que os equipamentos
estão inibindo a ação dos marginais nesta área central. [...] De
acordo com o Cel. Donizete Carlos Ribeiro, comandante do 12º
Batalhão da Polícia Militar, responsável pelo policiamento na região,
foram atendidas 25 ocorrências no mês passado, com o auxílio dos
14 equipamentos instalados na via, sendo que a maioria refere-se a
crimes que causam transtorno à população, como brigas, porte de
tóxico e armas, além de embriaguez. (JORNAL GAZETA DO POVO,
2000, p. 3).
Mais adiante a reportagem afirma:
Diminuiu bastante o registro de crimes que causam impacto na
população”, confirma Ribeiro. Mesmo os delitos que ocorrem dentro
de lojas na Rua das Flores, [...] estão acontecendo menos. Alguns
marginais foram pegos quando tentavam invadir os
estabelecimentos, depois de serem flagrados pelas câmeras,
salienta. (JORNAL GAZETA DO POVO, 2000, p. 3).
O acima descrito mostra a implementação da política de segurança prevista no
plano de revitalização do espaço público “Calçadão de Curitiba”, como forma de promover
o desenvolvimento local. A reportagem indica que o projeto de segurança implementado
tinha parceria entre o Poder Público Municipal e Estadual de modo a promover a
continuidade ao planejamento inicial em melhorar a movimentação e animação da região
central da cidade. Assim, com maior segurança, a população poderia circular pela região
com mais tranquilidade para efetuar suas compras ou participar dos momentos de lazer
que a via oferecia, como também os comerciantes teriam maior tranquilidade para
trabalhar, sabendo que a via estava policiada e segura.
A reportagem ainda defende que o retorno da movimentação deveria acontecer,
talvez não de imediato, mas de forma gradativa, na medida em que a população
economicamente ativa pudesse circular pela via com segurança.
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Esta década, 1992 a 2002, foi de avanços na área socioeconômica, com a
implementação de diversas políticas públicas, de forma a revitalizar a via, e dar maior
movimentação e animação e prover segurança às pessoas que por esta transitavam.
Com a aplicação destas políticas urbanísticas e sociais ficou demonstrada a
preocupação das autoridades em incentivar atividades, de uma forma geral, que
promovesse o centro da cidade e a qualidade de vida do cidadão. Como exemplo, as
atividades sociorrecreativas promovidas atraíram a população à rua, incentivando uma
maior movimentação na via e por consequência também o comércio da região, de acordo
com a reportagem citada na referência neste trabalho intitulada “Na XV um shopping ao ar
livre, do Jornal Gazeta do Povo”, (1992).
Com o acima exposto, havia necessidade de maior preocupação com as
revitalizações das regiões centrais, que devia ser uma constante, de forma a manter em
ascensão as atividades econômicas e sociais, para promover maior movimentação e
agitação do Calçadão. Isso proporcionaria mais vivacidade e animação à via, e
consequentemente incentivaria o desenvolvimento de forma ordenada.
4.1.4 Década 2002 a 2012
A figura 31 mostra apresentações culturais de teatro na Rua das Flores, dentro do
programa de revitalização da região central da cidade “Projeto Centro Vivo”.
Figura 31 – Rua XV de Novembro – Rua das Flores (2004).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A reportagem que referenda a figura 31, da autoria de Girardi se intitula “Vida
longo ao calçadão – Projeto Centro Vivo promove apresentações culturais gratuitas na
região central” e foi publicado no jornal Gazeta do Povo, em 2004. Ela descreve um projeto
de revitalização da região central da cidade, de iniciativa da Associação Comercial do
110
Paraná, denominado “Projeto Centro Vivo” em parceria com empresas privadas. Dentro
deste projeto, existia um programa de atividades culturais gratuitas em parceria com a
Universidade Federal do Paraná, que faria apresentações de teatro. Outras atividades
culturais previstas no projeto, como dança e música, estavam previstas em convênios com
a Faculdade de Artes Plásticas do Paraná (FAP) e a Faculdade de Belas Artes do Paraná
(Embap).
A primeira fase cultural do projeto seria desenvolvida por alunos e professores do
curso de Artes Cênicas – Formação de Ator da Escola Técnica da UFPR, com espetáculos
realizados ao ar livre ao longo do trecho da Rua das Flores e outros pontos da região
central da cidade.
Para a UFPR, do ponto de vista acadêmico era uma boa experiência, pois os
alunos viveriam a prática profissional e os professores poderiam avaliá-los no
desenvolvimento das apresentações. Segundo o coordenador do projeto Centro Vivo, o
convênio com a UFPR previa a realização de espetáculos durante um ano, com temas
comemorativos referentes a cada mês.
Ainda pelo lado da Associação Comercial do Paraná, de acordo com manchetes
contidas na reportagem, este projeto tinha como foco principal, incentivar as pessoas a se
encontrarem no centro da cidade, pelas opções de lazer que este ofereceria. Outro ponto
era que sendo o centro um lugar de características próprias, de grande circulação e
democrático, a intenção do projeto seria colocar realmente o teatro na rua e ao alcance de
todos. De outro lado, esta iniciativa devia promover a desconcentração dos shoppings da
cidade e com isto melhorar o movimento da região central, principalmente para o comércio
e os pontos de lazer, que se beneficiariam da maior movimentação e assim teriam
oportunidades de negócios.
A reportagem em foco corrobora com o descrito acima quando dizia:
HÁ DUAS SEMANAS A CORRERIA QUE domina os ladrilhos da
Rua XV e as praças da região central foi desacelerada. A pausa
para respiro deu-se graças à apresentação da peça Comédias da
Vida Privada, uma adaptação do texto leve e bem humorado do
gaúcho Luis Fernando Veríssimo. A iniciativa integra a o viés cultural
do projeto Centro Vivo, promovido pela Associação Comercial do
Paraná (ACP), em parceria com empresas privadas e que visa a
revitalização da região central da cidade. Até o final do ano, os
frequentadores do centro de Curitiba poderão conferir
apresentações gratuitas de teatro, dança e música, realizadas em
parceria com a UFPR (GIRARDI, 2004, s/p.).
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Mais adiante afirmava:
Do ponto de vista acadêmico dois aspectos da parceria são muito
favoráveis: a prática profissional de alunos do segundo semestre do
curso e a atividade dos professores, que podem avalia-los durante o
desenvolvimento das apresentações, analisa Juarez Alves de Lima,
coordenador do curso Técnico em Artes Cênicas – Formação de
Ator. De acordo com o coordenador do projeto Centro Vivo, o
convênio firmado com a UFPR prevê a realização de espetáculos
por um período de um ano, sempre associando as temáticas a datas
comemorativas de cada mês. (GIRARDI, 2004, s/p.).
A reportagem apresentava em “manchetes” algumas afirmações, dentre elas a de
Jorge Bancamano, coordenador do projeto Centro Vivo, que mencionava:
A grande preocupação do projeto não é realizar ações culturais
pontuais e sim pôr em prática um processo contínuo durante o ano
todo. A ideia principal é fazer do centro um local onde as pessoas
gostem de se encontrar. (GIRARDI, 2004, s/p.).
De acordo com Juarez Alves de Lima, coordenador do curso Técnico AM Artes
Cênicas – Formação de Ator da Escola Técnica da UFPR, para que haja a
descentralização dos shopping centers e a atração dos consumidores ao centro da cidade
é importante que além de bons preços e qualidade dos produtos, se ofereça opções de
lazer. (GIRARDI, 2004, s/p.).
Na opinião de Leandro Bergonha, professor das disciplinas de interpretação e
improvisação no curso Técnico em Artes Cênicas – Formação de Ator, da Escola Técnica
da UFPR e diretor do espetáculo Comédia da Vida Privada. [...] “O Centro é o lugar mais
característico da cidade. O projeto de revitalização sai do discurso corrente de
democratização da cultura e coloca o teatro na rua de forma efetiva”. (GIRARDI,2004, s/p.).
A reportagem apresentava uma política para revitalização do centro da cidade de
Curitiba, em caráter público-privada, de forma a incentivar a população a transitar pela
região central da cidade. Dentro de uma política global de revitalização da região central,
inseriram um programa ou política de fomento cultural, como forma de integrar uma um
programa com finalidade maior, a de dar maior animação à via pública central “Calçadão de
Curitiba”.
Este programa tinha por finalidade maior incentivar o convívio da população em
uma região central, sujeita a adversidades, principalmente por ser a céu aberto, uma
movimentação, por ser mais popular, diversificada, onde transitam pessoas de todas as
112
classes sociais. Assim, esta política não era exclusiva à promoção da cultura, mas servia
como incentivo a aumentar a movimentação da via e por consequência ativar o comércio
de uma forma geral, dando um incremento à movimentação da rua que naturalmente se
serviria do comércio existente, o que refletiria na razão direta de que quanto maior
movimento maior deveriam ser as oportunidades do comércio na realização de negócios.
A figura 32 mostra o mutirão para limpeza do Calçadão, como preparação deste
para as festas de final de ano em Curitiba.
Figura 32 – Rua XV – Rua das Flores. (2005).
Acervo: Jornal HORA H 2005 – Coletânea Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
Autor: Orlando Kissner.
A reportagem que referenda a figura acima, publicada no Jornal do Estado, em
2005, tem como título: “A Rua XV vai passar por limpeza”. Esta reportagem regista que no
dia 28 de novembro de 2005 seriam lançadas pela prefeitura as festividades de final de
ano em Curitiba, entre elas o “Natal Encantado”, promoção esta que consistia em fazer a
iluminação de diversos locais da cidade, dentre eles o Calçadão. Para isto, uma das
primeiras medidas tomadas foi a limpeza total do Calçadão. A “Ação Brilho nas Calçadas”
era um projeto participativo público/privativo onde participaram a Fundação de Asseio e
Conservação do Estado do Paraná (FACOP), o Conselho Gestor do Centro Vivo da
Associação Comercial do Paraná e a Prefeitura Municipal de Curitiba. A FACOP atuaria
com algumas empresas parceiras, cada uma em um dos espaços da Rua XV, completando
o circuito do início ao fim do calçadão. A Rua XV seria divida em lotes, onde cada
participante atuaria no espaço a ele determinado, com funcionários uniformizados para
fazer a limpeza conforme acordado. Assim, deveriam realizar a limpeza de acordo com o
113
determinado pela prefeitura, tendo suporte por esta previsto, com caminhões-pipa e
ligações elétricas para executarem os trabalhos de acordo com o previsto.
O projeto “Brilho nas Calçadas” deveria preparar o ambiente de forma a receber as
festas de final de ano. A reportagem afirma que a faxina teria suporte ainda da Prefeitura
Municipal em arrumar as floreiras e pintar os postes de iluminação e limpar os lustres dos
mesmos. Assim, proporcionaria melhores condições para receber a população com o
mínimo de conforto necessário para assistir o coral de crianças que se apresentaria no
“Palácio Avenida”.
A reportagem referenda o citado quando diz:
O coordenador de projetos da Facop, Pedro Paulo Guerreiro
Carneiro, explica que algumas empresas parceiras, cada qual com
sua equipe de trabalho atuará em toda a extensão da Rua 15,. “A
rua será dividida em 9 lotes e cada empresa participante, com sua
equipe de funcionários devidamente uniformizados, ficará
responsável pela limpeza de cada um desses lotes”. [...] O “Brilho
das Calçadas” quer preparar o ambiente para as festas de fim de
ano deixando o centro de Curitiba limpo e vistoso. Paralelamente à
“grande faxina” a Prefeitura Municipal irá arrumar as floreiras e
pintar os postes republicanos e executar a limpeza dos lustres.
(JORNAL DO ESTADO, 2005, p. b1).
Mais adiante a reportagem afirma que:
O Natal Encantado começa no dia 28 de novembro, quando o
prefeito Beto Richa, a presidente da Fundação de Ação Social
(FAZ), Fernanda Richa, e um grupo de crianças de famílias de baixa
renda vão acender as luzes do Natal de Curitiba, especialmente
decorado para as festas de fim de ano. (JORNAL DO ESTADO,
2005, p. b1).
A reportagem mostrava uma política participativa, público-privada, em prol de uma
ação cooperada, colaborando para criar no Calçadão uma situação de bem-estar à
população que usufrui deste não apenas no aspecto socioeconômico, mas também como
local de manifestação sociocultural. A ação promovida deveria dar mais vista ao local,
melhorando a movimentação da via e incentivando também as atividades econômicas e
sociais.
Finalizando, esta ação mostrava os esforços para manter o Calçadão em continuo
avanço, mesmo porque este paulatinamente vinha readaptando seu perfil às condições
socioeconômicas e mercadológicas, de forma a dar vida e animação à região central da
cidade.
114
A Figura 33 mostra o Calçadão de Curitiba, onde deviam ser implantadas algumas
modificações sugeridas por lojistas de forma a revitalizá-lo.
Figura 33 – Mostra a Rua XV – Rua das Flores. (2006).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
Autor: Daniel Castellano.
A reportagem que referenda a foto acima tem como título “Calçadão no Divã –
Lojistas da Rua XV sugerem seis mudanças para levar mais clientes ao tradicional centro
de compras” (GAZETA DO POVO, 2006). Esta reportagem citava seis sugestões
elaboradas pelos lojistas da Rua XV com o intuito de aumentar o movimento do comércio e
aquecer as vendas. As propostas procuravam a revitalização do espaço público e do setor
comercial da via, de forma a incentivar a população a se utilizar do comércio da região
central da cidade, mais especificamente do Calçadão. Através destas sugestões
elaboradas pelos lojistas junto a Associação Comercial do Paraná, eles acreditavam que o
comércio existente na via teria suas atividades incrementadas.
A primeira sugestão, cujo título era “Grande Shopping”, formulava a criação de um
sistema administrativo equivalente a um grande shopping, ou seja, a criação de um
condomínio comercial de lojistas e instituir um comando administrativo central. Este formato
administrativo se assemelhava ao sistema administrativo de um shopping center, dando a
uma administração central o poder de fazer com que o comércio da rua inteira seguisse
dentro dos mesmos fundamentos administrativos. Com isto, o condomínio poderia
concentrar na administração central a organização de eventos, promoções e outras
atividades ou intervenções de forma a explorar todo o potencial de comércio da via, como
também teria força para cobrar do Poder Público as intervenções que eram de sua
competência.
115
A segunda sugestão tinha como título “Luzes e Câmeras” e solicitava melhoria e
ampliação dos sistemas de segurança ora instalados no Calçadão. O sistema de
segurança por câmeras instalado no espaço público observava os frequentadores vinte e
quatro horas por dia, contando com a ajuda de policiais militares circulando na via, mas
precisava ser reforçado, pois estava se mostrando insuficiente pelo pequeno efetivo de
homens na extensão da rua. Ainda existia outro pedido: as imediações do Calçadão
também deviam ser patrulhadas, pois na maioria das vezes, as pessoas eram assaltadas
nestas vias logo após sair do calçadão, já que as vias estavam fora da área vigiada. Assim
a reivindicação, é que o número de câmeras seja aumentado como também o efetivo de
policiais no patrulhamento, e mais, que este sistema de segurança seja estendido a todas
as vias e logradouros próximos, de forma a estender e melhorar o sistema de segurança na
região central da cidade, nas proximidades do Calçadão.
A terceira sugestão tinha como título “Horário Estendido” e a solicitação era a
extensão do horário de funcionamento das lojas que funcionavam neste espaço, o que
daria mais incentivo ao comércio. Da forma como estava, após as 19:00 h, com o
fechamento das lojas, a rua fica praticamente vazia. Para cobrir esta lacuna, alguns
comerciantes passaram a abrir filiais de suas lojas também em shopping centers. A
alegação destes estava justamente no horário estendido, visto que as pessoas
trabalhavam o dia inteiro e à noite se dirigiam aos shoppings para fazer suas compras. A
Associação dos Lojistas sugeria a aprovação de um acordo coletivo que ampliasse o
horário o horário de funcionamento das lojas, de modo que o comércio tivesse maiores
oportunidades de negócios.
A quarta sugestão tinha como título “Mais Flores” e propunha uma mudança radical
no visual da rua, visto que ao longo dos anos o visual desta via quase não a identifica mais
com o nome pelo qual era conhecida, Rua das Flores. Para tanto, propunha-se que o
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba desenvolvesse projetos de
paisagismo para o Calçadão, elaborando projetos diferentes para cada quadra que compõe
o espaço público, de forma a fazer uma identificação diferenciada do espaço para os
pedestres. Sugeria-se também que os andares superiores dos edifícios que tivessem até
três andares recebessem também ornamentação com flores, o que formaria um paisagismo
diferenciado em alguns trechos da via.
A quinta sugestão tinha como título “Feiras no Calçadão” e propunha um comércio
de ponta de estoque, das próprias lojas instaladas no Calçadão, que teriam assim
oportunidade de vender todo o estoque que via de regra leva bastante tempo para ser
vendido. Desta forma, as pessoas poderiam adquirir as mercadorias a preços mais baixos
e o comerciante teria a vantagem de girar o estoque com mais facilidade. Na continuidade,
116
a sugestão indicava que também poderiam ser implementadas feiras temáticas nos finais
de semana, o que daria mais motivação para o comércio, que abriria as lojas, visto a maior
movimentação de pessoas e consequentemente maiores oportunidades de vendas.
A sexta sugestão tinha como título “Lugar para Estacionar” e propunha que as
diversas lojas localizadas na Rua das Flores, firmassem convênios com estacionamentos
próximos de forma a dar maior comodidade a seus clientes. A falta de locais para
estacionar veículos no centro era um dos maiores empecilhos encontrados pelos
comerciantes da região central da cidade. Isso forçava o comércio a oferecer um mix de
mercadorias mais populares, porque a clientela que se utilizava do comércio central era em
grande maioria de menor renda. Assim, as lojas de produtos mais finos, que formavam o
comércio mais para a população de classe A, estavam migrando para os shoppings centers
ou regiões onde existia facilidade de acesso e estacionamento.
A reportagem confirma o acima descrito desde a primeira sugestão e em ordem
cronológica as demais, quando registra:
A criação de um condomínio comercial é apontada pelo comerciante
Camilo Turmina, diretor executivo da Associação Comercial do
Paraná e dono de uma joalheria na Rua XV de Novembro, como
uma das salvações para o calçadão. “O lojista individualmente não
faz nada. É preciso a força de uma administração central”. [...] O
condomínio também centralizaria a organização de eventos e a
divulgação de promoções, e seria capaz de estabelecer metas e
cobrar resultados dos comerciantes. A administração central teria
maiores condições de tornar realidade as outras intervenções
sugeridas para aproveitar o potencial comercial da Rua das Flores.
Alem disso teria força para cobrar do poder público investimentos
em segurança, limpeza, urbanização e outros que não são de
responsabilidade exclusiva dos lojistas. (JORNAL GAZETA DO
POVO, 2006, p. 2).
Mais adiante a reportagem afirma quanto a segunda proposta:
A Rua das Flores tem câmeras de segurança que observam os
frequentadores 24 horas por dia, além de policiais que por ali
circulam. Mas isto é pouco, diz a proprietária da Confeitaria das
Famílias, há 61 anos no calçadão, Dair da Costa Terzado. [...] A
iluminação também é considerada insuficiente em alguns pontos. “A
rua é uma vitrine de Curitiba, e assim deve ter a ousadia de se
mostrar”, [...] O investimento em segurança, com o aumento no
efetivo de policiais e a instalação de mais câmeras de vigilância, é
apontado como uma das saídas para levar mais pessoas a
frequentarem o calçadão. “Mas não adianta nada tirar os assaltos
da XV e eles acontecerem nas transversais ou na Marechal
Deodoro”, analisa o presidente da Associação dos Lojistas da Rua
117
das Flores, Jacques Rigler. (JORNAL GAZETA DO POVO, 2006, p.
2).
A reportagem afirma ainda no que tange à terceira proposta:
Aumentar o horário de funcionamento das lojas seria uma maneira
de não deixar que o comércio da XV “morresse” após as 19 horas
todos os dias. [...] O presidente da Associação dos Lojistas, Jacques
Rigler, luta para conseguir firmar um acordo coletivo de trabalho
entre comerciante e funcionários. “A gente tem que fechar às 19
horas, mas o shopping fica aberto até às 22 horas. Queremos um
acordo coletivo, porque para se fazer um acordo individual é muito
mais difícil.” [...] “O grande volume de vendas está no segundo
turno, entre as 16 e 22 horas. É depois da atividade profissional que
o consumidor vai às compras” [...]. Os shoppings também estão
lotados nos finais de semana, enquanto a XV está deserta.
(JORNAL GAZETA DO POVO, 2006, p. 2).
Quanto à quarta proposta a reportagem afirma:
Ela é a Rua das Flores, só que as flores lá pouco existem, ironiza
Jacques Rigler, da Associação dos Lojistas, para quem a XV precisa
de uma mudança radical no visual. Ele sugere que o segundo andar
das lojas, usado como estoque pela maioria dos comerciantes,
receba um “make-up”. Eles (os lojistas) poderiam colocar flores nas
varandas, o que tornaria a rua um local aprazível. Rigler também
defende que o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba (IPPUC) desenvolva projetos paisagísticos para o calçadão.
Na opinião dele, cada quadra poderia ter uma “cara” diferente, que
seria reconhecida facilmente pelos pedestres. [...] A marca já foi
construída, as pessoas reconhecem a rua como o centro, [...].
(JORNAL GAZETA DO POVO, 2006, p. 2).
Para a quinta proposta a reportagem afirma:
O calçadão da Rua das Flores poderia dar lugar a uma feira de
ponta de estoque, sugere o proprietário da Camilo Joalheiros,
Camilo Turmina. “Cada Cidade pequena da Itália escolhe a sua rua
principal e as lojas montam barracas para vender o que está
estocado. As pessoas teriam oportunidade de comprar barato e o
comerciante de girar seu estoque”, propõe o empresário. Ele diz que
a colocação da ideia em prática já é estudada pela Associação
comercial do Paraná (ACP). “Seria aos domingos, junto com a feira
da Ordem”, afirma, [...]. Jacques Rigler, da Associação dos Lojistas,
também considera que a Rua XV de Novembro pode ser palco de
feiras temáticas, nos fins de semana. Seria um motivador para a
118
abertura das lojas, já que haveria movimento no calçadão. (JORNAL
GAZETA DO POVO, 2006, p. 2).
A sexta proposta da reportagem afirma:
Os shoppings não são exatamente a principal concorrência ao
comércio da rua, mas sim a facilidade de se chegar até eles. A Rua
XV tem alguns estacionamentos em volta como o shopping, onde
você deixa o carro por três hora e paga apenas R$ 3?, questiona o
superintendente do Estação, Marco Aurélio Jardim Filho. A resposta
vem do comerciante Camilo Turmina: “Se ela ficar com o carro
estacionado nas proximidades da XV, vai gastar R$ 10”. Mas Jardim
Filho, especialista na revitalização de centros comerciais, pondera
que a falta de lugar para estacionar não é exatamente o problema.
“Poderia haver um mix de lojas para o público que vem de ônibus.
Um erro é colocar lojas classe A, para quem vem de carro, quando
não há estacionamento ao redor”, explica. Para resolver este tipo de
problema, Turmina, proprietário da Camilo Joalheiros, sugere que as
lojas firmem convênios com os estacionamentos próximos ao
calçadão para oferecer descontos aos clientes, assim como ele
próprio faz para sua loja. “Senão, a pessoa vai preferir comprar
sempre no shopping. É mais seguro mais confortável e mais barato
para deixar o carro”, admite. (JORNAL GAZETA DO POVO, 2006, p.
2).
Finalizando, a reportagem acima mostrava mais uma ação de união dos lojistas de
maneira cooperada como forma de promover o Calçadão em suas áreas de atividade.
Assim de forma cooperada, com um sistema administrativo centralizado tiram a ação
individualizada dos lojistas, que não produzem efeitos, diante de uma necessidade coletiva.
Desta forma, todos os lojistas unidos por meio da associação, ganham maior força nas
reivindicações legitimas em prol de que haja o desenvolvimento socioeconômico da via.
Observa-se que as propostas visavam promover o sistema cooperado para o
comércio ali instalado, em sua grande maioria há alguns anos. Contudo, até hoje este vem
se mantendo de forma individual. Assim desta forma, individualizada, não conseguem
incentivar a via como um todo, de forma pontual, cada lojista consegue poucos resultados
ou resultados de baixo rendimento. Com a união em associação e com uma proposta
comum a todos seria mais fácil obter melhores resultados. A ideia de um comando central
daria às medidas e propostas comerciais maior força econômica, ainda que se tratasse de
um espaço público, onde a manutenção física não competia aos que nele trabalham. Esta
é uma competência do Poder Público, que via de regra não age de forma individualizada,
mas, sim abrangendo toda a comunidade. Neste caso, estando o comércio unido sob a
forma de um condomínio, o Poder Público atenderia a toda uma região ou comunidade.
119
Enfim, a transformação sócio-comercial da estrutura do Calçadão com uma política
participativa privada e um comando central, daria maior visibilidade ao Calçadão e por
conseguinte melhoraria as atividades socioeconômicas.
A figura 34 mostra o Palácio Avenida, na Rua das Flores, totalmente decorado
para a 18ª edição de apresentações natalinas do coral de crianças do Banco HSBC em
Curitiba.
Figura 34 – Rua XV de Novembro – Rua das Flores – Natal do Palácio Avenida. (2008).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo.
Autor: Pedro Serapio.
A reportagem do Jornal Gazeta do Povo que faz referência à figura 34 tem como
título “Coral emociona o público no Natal do Palácio Avenida – Milhares de pessoas
assistem, encantadas, à apresentação de 160 crianças cantoras no Centro de Curitiba”
(GARCIA, 2008).
A reportagem afirma que se as pessoas pudessem ver, nos bastidores, as 160
crianças, todas silenciosas, prestando atenção, antes da apresentação às orientações de
como deveriam se apresentar, não conseguiria imaginar a empolgação destas quando
começa o espetáculo. As apresentações encantam um público de milhares de pessoas que
assistem ao espetáculo natalino, desde curitibanos a turistas de várias cidades do estado e
do país. Em 2008 estava sendo esperado um público de cerca de 200 mil espectadores.
Com máquinas fotográficas, o público que lotava o calçadão da Rua XV de novembro,
fotografava as janelas do Palácio Avenida onde o coral de crianças fazia a apresentação.
Como acontecia todos os anos, juntamente com o coral, uma atriz ou ator fazia
uma apresentação teatral em uma das janelas, com temas ligados ao espírito das festas
natalinas. Naquele ano tinha sido convidado o ator Fúlvio Stefanini para a exibição. Com
uma peça teatral já predeterminada, o ator faria o papel de um executivo durão que tentava
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voltar a ser criança e para tal teria que passar por algumas provas criadas pelas crianças, o
que, como explicou o produtor do evento, daria um clima mais divertido ao evento. De
acordo ainda com o produtor do evento, muitas crianças do próprio coral não tinham
assistido nem aos ensaios da peça teatral, o que seria surpresa também para elas.
Nos bastidores, algumas crianças antes do início da apresentação, se mostravam
tranquilas e seguras, enquanto outras se apresentavam um pouco nervosas, diante do
espetáculo que iriam apresentar. Assim, junto a cada uma das crianças, atrás de uma das
janelas, estavam pessoas, denominadas anjos, que auxiliavam no trabalho de troca dos
adereços, que acontecia após a apresentação de cada canção. Um deles dizia que o
importante para um anjo era estar motivado e alegre, para que desta forma pudesse
animar e ajudar as crianças antes e durante as apresentações.
Dentre as pessoas que assistiam a apresentação do coral, curitibanos e turistas, a
opinião quanto ao espetáculo era unânime, diziam ser maravilhoso e de encanto e beleza.
A reportagem em questão confirma o acima descrito quando declarava:
Quem visse as 160 crianças do coral do HSBC todas silenciosas
recebendo as últimas orientações antes do espetáculo não poderia
esperar por uma apresentação com tanto ânimo e empolgação.
Diante de um público de milhares de pessoas, o principal evento
natalino de Curitiba encantou moradores da capital e,
principalmente, turistas de várias cidades do país. (GARCIA, 2008,
s/p.).
Mais adiante a reportagem narrava:
[...] Lá no alto, o ator Fúlvio Stefanini vivia um executivo austero e
durão que tentava voltar a ser criança. E, para reviver o espírito
infantil, ele teve de passar por algumas provas criadas pelas
crianças. “Essa é a diferença do espetáculo deste ano: um clima
mais divertido e brincalhão”, explicou o produtor do evento,
Leonardo Kehdi. (GARCIA, 2008, s/p.).
Quanto à apresentação das crianças a reportagem afirmava:
A pequena Giovana de Araújo, de 10 anos, era uma delas. Inquieta
antes de as cortinas da janela a sua frente se abrirem para o
público, ela não escondia o nervosismo. “Dá um friozinho na
barriga”, disse. Quanto à música preferida, Giovana tinha o nome
na ponta da língua: Aquarela. Já Pedro Dias, de 13 anos, que
também fazia a sua estreia, esbanjava confiança. “Estou tranqüilo.
As músicas e a coreografia são fáceis”, brincou. [...] Atrás de cada
janela, os chamados anjos ajudavam as crianças com as dezenas
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de adereços que eram trocados a cada canção. Segundo Sílvia
Malinauskas, o mais importante para um anjo é estar ainda mais
motivado e alegre que as próprias crianças. “Embora ninguém veja
a gente, também precisamos cantar para animar os meninos”,
revelou, pouco antes do início da apresentação. (GARCIA, 2008,
s/p.).
Quanto ao público que assistia ao espetáculo, a reportagem registrava:
Encantada com o que via, Antonieta Campista, que veio de
Teresópolis, pôde conferir de perto o coral de que tanto tinha
ouvido falar. “É mesmo um espetáculo maravilhoso”, disse, sem
tirar os olhos das janelas. A curitibana Lilian Nadalin, por outro
lado, acompanha o coral do HSBC todo ano e acredita que o
evento não perde o encanto e a beleza. “A cada ano, temos uma
surpresa nova. Além do mais, criança é tudo de bom”, afirmou
(GARCIA, 2008, s/p.).
A reportagem acima mostra uma política sociocultural e de assistência social, haja
vista ser o coral formado por crianças carentes, mantidas por uma instituição privada e
assistida pelo, HSBC, sendo, portanto de grande incentivo sociocultural. As apresentações
do “Coral do Palácio Avenida”, além de artísticas e culturais, davam ao Calçadão uma
movimentação maior ao comércio ali instalado, o que proporcionava a este mais
oportunidades de vendas. Assim, mesmo que por poucos dias, elas faziam girar a
economia pela atração turística que se tornou ao longo dos anos.
Enfim, com mais esta atividade cultural, o Calçadão de Curitiba mostrava o avanço,
a diversidade e a dinâmica que existe nesta via, promovendo a cidade de Curitiba em
diversas áreas. Mesmo estando esta via constantemente procurando incentivar todas as
suas áreas de atuação, e enfrentado os limites de incentivo do Poder Público, continua
atuante pela união no entorno da Associação dos Lojistas. Assim, sempre procurando
avançar, mesmo a despeito das varias readaptações a que acabam sendo obrigados, haja
vista a situação econômica do país, sempre instável, os comerciantes continuavam sempre
se readaptando e se atualizando.
A figura 35 mostra a “Sala de Estar” do Calçadão de Curitiba, apresentando suas
floreiras e o chafariz, no trecho entre a Rua Doutor Muricy e a Avenida Marechal Floriano.
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Figura 35 – Rua das Flores – Rua XV de Novembro – Sala de Estar. (2011).
Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC).
A reportagem que faz referência à figura 35 tem como título “OPINIÃO DO DIA - O
verdadeiro centro cívico da Curitiba” (DUDEQUE et al., 2011)
A reportagem do Jornal Gazeta do Povo colocava o “Calçadão de Curitiba”, Rua
das Flores como um espaço público, “cívico”, no sentido amplo da palavra, haja vista ser
um local de encontro e onde de tudo se discutia. Afirma que em verdade o centro cívico de
Curitiba era o Calçadão da Rua das Flores, onde as pessoas se reuniam para conversar,
era o palco da democracia.
Conforme afirmava a reportagem, segundo o romano Marcus Tullio Cicero, “a
definição de que a reunião de pessoas forma a cidade (civis), enquanto que o conjunto de
edifícios forma a urbe”. Esta definição no século 13 repercutiu de tal forma que provocou
sermões do teólogo dominicano Alberto, O Grande, dizendo que “uma cidade não é feita
de pedras, mas de homens”. Já Jean-Jacques Rousseau, no século 18, numa nota de “O
Contrato Social”, afirmou que o verdadeiro sentido da palavra cidade relacionava-se aos
cidadãos, ou seja, “os edifícios, as ruas, as calçadas, os bueiros e todas as outras coisas
tangíveis formam a urbe”. Já “a cidade – civis - é o conjunto das relações estabelecidas
entre pessoas”.
Saindo do âmbito das definições, a reportagem citava que a Rua das Flores era
“cívica”, era um local de encontro da cidade, onde de tudo se discutia falando mais
especificamente da “Boca Maldita” em que, no exercício da democracia, se discutem
diversos assuntos e opiniões, e que muitas delas acabam estampadas nos jornais do dia
seguinte.
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A reportagem citava comparativamente que, ao contrário da movimentação que
acontecia na Rua das Flores, dito como “cívico”, o real Centro Cívico do Paraná, na
Avenida Cândido de Abreu, era um complexo de edifícios onde se centralizavam diversas
repartições públicas. Durante os dias úteis se observava alguma movimentação,
principalmente de veículos, mas não se via aglomerações de pessoas e as poucas que por
ali circulavam pareciam estar perdidas entre os edifícios existentes.
O calçadão da Rua das Flores se assemelhava muito a uma praça do tipo linear,
tanto que na sua implantação em 1972, a Prefeitura não tinha uma classificação, ou
denominação para o empreendimento, chegando a pensá-lo como uma “rua-praça”. À
época, auge do governo militar, os mandatários não estavam interessados em proporcionar
lazer à população, principalmente com uma praça, assim de forma tecnocrata
denominaram de ruas destinadas à pedestrianização. Contudo, esta denominação não
esclarece a mistura que acontece no Calçadão, como a exposição de artistas, pintores,
malabaristas, além das reuniões de aposentados, juízes de direito, repórteres, profissionais
liberais e outros, formando uma diversidade cultural bastante interessante e de convivência
harmoniosa. Assim, dentro dessa diversidade existiam as passeatas que atravessavam
todo o Calçadão com reivindicações ou protestos, chegando na “Boca Maldita” para realizar
comícios de forma a achar que toda a cidade se inteirava dos interesses da manifestação.
Outro ponto de destaque da reportagem, era que ao desenvolver algum projeto no
nesta região, deveria ser levado em conta o potencial democrático desta, a exemplo do
projeto levado a cabo no trecho entre a rua Dr. Muricy e a Avenida Marechal Deodoro, um
espaço forma uma “sala de estar”, com banco, floreiras e chafariz, ambiente propício a se
sentar e ler um jornal, namorar ou apenas apreciar o movimento. Mesmo porque o fluxo
deste trecho da via foi desviado para as para as laterais, deixando a faixa central para o
convívio entre os que por ela transitam. Assim, este espaço poderia ser considerado o
centro cívico da cidade, haja vista ser este totalmente democrático e de encontro da
cidade.
A reportagem defendia o descrito acima quando dizia:
O calçadão da Rua das Flores é “cívico”, no sentido mais amplo da
palavra: o local de encontro e discussão da cidade. Todos os dias,
na Boca Maldita, pessoas reúnem-se para conversar, a atividade
arquetípica da civis e da democracia. (DUDEQUE et al., 2011,
s/p.).
Mais adiante a reportagem citava quanto às definições de civis e urbe:
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O verdadeiro centro cívico de Curitiba é o calçadão da Rua das
Flores. As distinções entre duas palavras latinas ajudam a
esclarecer tal afirmação: civis e urbe. No século 18, Jean-Jacques
Rousseau, numa nota de O Contrato Social, afirmou o verdadeiro
sentido da palavra cidade relacionava-se aos cidadãos. Ou seja: os
edifícios, as ruas, as calçadas, os bueiros e todas as outras coisas
tangíveis formam a urbe. Já a cidade – civis – é o conjunto de
relações estabelecidas entre pessoas. O adjetivo “cívico” deriva de
civis. (DUDEQUE et al., 2011, s/p.).
Na sequencia ela afirmava:
O calçadão da Rua das Flores é “cívico”, no sentido mais amplo da
palavra: o local de encontro e discussão da cidade. Todos os dias,
na Boca Maldita, centenas de pessoas reúnem-se para conversar,
a atividade arquetípica da civis e da democracia. Conversando,
antecipam muitos dos assuntos e opiniões que os jornais divulgam
na manhã seguinte. Ao contrário dessa pulsação, o chamado
Centro Cívico do Paraná (no início da avenida Cândido de Abreu)
apenas centraliza repartições públicas. Nas horas de expediente,
quem passa pela região vê muitos automóveis e poucas pessoas.
Nos fins de semana e nos feriados, resta a desolação. Os poucos
caminhantes que se arriscam a vagar entre os edifícios não se
sentem como parte da civis sugerida pelo adjetivo cívico. Sentem-
se como a decoração de uma maquete, perdidos entre belos
volumes arquitetônicos. (DUDEQUE et al., 2011, s/p.).
A reportagem corroborava, ainda, com o exposto quando dizia:
A prefeitura de Curitiba chegou a falar em “rua-praça”. Mas o país
vivia o auge de uma ditadura, que não estava interessada nos
lazeres proporcionados por uma praça. Isso reduziu as
possibilidades interpretativas das ruas calçadas, por meio de um
pedantismo tecnocrático: pedestrianização. A obsessão com o
mero fluxo combinava com o ambiente político. Mas o termo
pedestrianização jamais esclareceu a mistura diária de artistas,
profissionais liberais, repórteres, sanfoneiros cegos, aposentados,
pintores, hare-krishnas, malabaristas, travestis, juízes de direito e
de futebol, evangélicos, deputados, mendigos e toda a diversidade
urbana. O termo pedestrianização jamais esclareceu por que, a
partir da redemocratização do país, um dos objetivos de quase
todos os movimentos de protesto ou reivindicação em Curitiba seria
atravessar a Rua das Flores em passeata, chegar à Boca Maldita e
ali realizar um comício. Dessa maneira, parecia que toda a cidade
de Curitiba inteirava-se do conteúdo da manifestação. (DUDEQUE
et al., 2011, s/p.).
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A reportagem reafirmava ainda que:
Qualquer projeto para o Centro deve resolver aspectos técnicos e,
ao mesmo tempo, destacar o potencial democrático da região. Um
bom exemplo é o trecho da Rua das Flores entre a Dr. Muricy e a
Marechal Floriano. Há, ali, canteiros, bancos de praça e uma fonte.
Com tais elementos, os divulgadores da pedestrianização
rebelaram-se contra a própria criação, melhorando-a. Alguém
preocupado exclusivamente com rendimento e eficiência
argumentará que tais equipamentos atrapalham os fluxos de
pedestres. Mas uma cidade (tal como a vida) não é feita só de
eficiência. Namorar num banco, ler um jornal ou assistir as
performances de malabaristas mambembes são atividades
citadinas tão dignas e necessárias quanto fluir. (DUDEQUE et al.,
2011, s/p.).
A reportagem reafirmava o Calçadão como um espaço democrático, dando a este
uma conotação de espaço cívico, visto que ali todos podiam discutir quaisquer assuntos
sem restrições, o que demonstrava a liberdade de expressão. Isto, para um projeto criado
dentro de uma liberdade restringida pela ditadura mostrava o avanço, muito embora
houvesse civismo. A comparação feita, a meu ver, é um tanto esdrúxula, pois o local
citado era cívico, mas não determinante à administração citadina.
Esta, a administração citadina, tinha o seu local próprio determinado como centro
administrativo, o Centro Cívico, com a visão do ponto de vista da administração pública,
enquanto que o que acontecia no calçadão era uma exposição de ideias e ideologias a
favor e contra aos atos tomados pelo Poder Público.
Assim os atos ou atitudes acontecidos no Calçadão deviam ter seu valor aferidos,
e podiam ou não serem levados em conta, servindo apenas como medida ou termômetro,
o que não queria dizer que estavam corretos ou refletiam a expressão do real
pensamento dos administradores ou da população. Mesmo assim deviam ser levados em
conta como reflexo do que pensava parte da população e, se viáveis, deviam ter a devida
atenção das autoridades como amostragem das atitudes tomadas ou a serem tomadas.
A figura 36 mostra o arquiteto responsável pelas transformações acontecidas no
Calçadão ao longo dos 40 anos de existência.
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Figura 36 – Mostra o arquiteto Abrão Assad, responsável pelas transformação da Rua XV
de Novembro em Calçadão. (2012).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo.
Autor: Ivonaldo Alexandre.
A reportagem que referenda a figura acima tem como título “Urbanismo: a vitória
do pedestre 40 anos depois” (JUSTINO, 2012, s/ p.). A reportagem se reportava aos anos
70, quando a Rua XV de Novembro foi fechada ao tráfego de veículos, e instituída como
via exclusiva para pedestres. Esta reportagem inicia citando a Rua XV de Novembro em
1972, rememorando os seus quarenta anos de existência, ou seja, desde quando
começou a ser implantado o Calçadão de Curitiba. Este acabou virando símbolo da
cidade, por ser a primeira rua sem tráfego de veículos e de uso exclusivo para pedestres.
Assim, proporcionou à população da cidade uma rua humanizada, com comércio e lazer,
sem tráfego de veículos. Esta medida já estava contemplada no Plano Diretor de Curitiba
aprovado em 1966, o que era a formulação da tese de que a cidade deveria ser do
homem e não dos veículos automotores. A reportagem citou a cronologia programada
para implantação inicial da obra, as suas fases, e os motivos pelos quais esta era
necessária, sendo o principal destes os intermináveis congestionamentos de veículos na
via. Esta medida tinha a intenção de revitalizar a via que à época era palco de
congestionamento de veículos e pedestres, que eram obrigados a dividir o mesmo espaço
de circulação, mesmo porque esta sempre foi a principal via da cidade.
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Na sequência, a reportagem apresentava a entrevista com o ex-prefeito de Curitiba,
Jaime Lerner, que em poucas respostas resumiu a importância da intervenção, mesmo na
contramão do que acontecia em outras cidades do Brasil. Citou resumidamente que estava
investindo em um sistema de planejamento onde o homem deveria ser o privilegiado,
principalmente nas áreas centrais da cidade, dando a este a condição de circular pelo
centro em vias exclusivas, sem o tráfego de veículos. E descreveu na entrevista que mais
importante do que estar no contra fluxo do desenvolvimento que muitas outras cidades
previam, era estar incentivando as atividades de forma a promover a reunião de pessoas, o
que era mais importante para a revitalização da cidade, e não apenas a execução física de
uma obra.
O arquiteto Abrão Assad falou que lembrava quando fez o mesmo trajeto,
comparando com um veículo na Rua XV, da Praça Osório à Praça Santos Andrade em
menor tempo que o veículo, o que demonstrava que a velocidade na via era muito lenta e
que a pé era mais rápido. Assim ficou demonstrado que a via deveria ser revitalizada e que
a forma adotada à época foi a mais recomendável. Assad, lembrou ainda, que um dos
donos de uma loja, “Capital das Modas” o chamou quando estava demarcando os locais
onde deveriam ser plantadas as árvores, em pleno asfalto, e que este lhe pediu que nada
fosse feito em frente a sua loja. Mais tarde, passado algum tempo, o mesmo comerciante
lhe perguntou o porquê nada tinha sido feito em frente à sua loja e que tinha gostado das
mudanças que haviam acontecido.
Finalizando, Assad citou que a via deveria ser de circulação e também de
permanência das pessoas, como um lugar aprazível e que desenvolveu todo um mobiliário
urbano para compor o visual da via. Na época da entrevista, apesar de ter sido readaptada
às novas situações, principalmente na área econômica, a rua continuava atualizada e
dando a sua contribuição às funções da cidade, principalmente por atender ao principio da
humanização. Assim, continuava sendo um dos principais símbolos da cidade, mesmo
tendo que se readaptar às atuais condições socioeconômicas, continua tendo em seu bojo
os princípios iniciais pelos quais foi concebida.
A reportagem acima descrita, em seu texto do jornal, corrobora, quando citava:
Em um fim de semana de maio de 1972, a Rua XV de Novembro
começou a ganhar um imenso calçadão e se tornou símbolo de
resistência ao automóvel. [...] À época, o trânsito era complicado
nas vias que formavam o anel central. Afinal, na capital
paranaense havia um automóvel para cada dez habitantes – cerca
de 60 mil veículos – e muitos deles tinham o Centro como destino.
Era ali que se concentravam os bancos, as lojas e os cinemas: não
128
havia shoppings, o Pinhais Expotrade seria inaugurado somente
em 1979 e o Mueller, que popularizaria o conceito de compras in-
door na cidade, seria aberto apenas em 1983. (JUSTINO, 2012,
s/p.).
Mais adiante, seguiam palavras do arquiteto e ex-prefeito Jaime Lerner:
Quebrar o paradigma foi tão importante quanto à revitalização.
Prefeito em 1972, Jaime Lerner encabeçou a revitalização da Rua
XV de Novembro, uma medida que, a priori, não agradava a maioria
dos comerciantes da região:
Qual a importância da intervenção na Rua XV?
Ela ocorreu no momento em que outras cidades investiam em obras
para o automóvel. Nós trabalhamos no contrafluxo disso. Porém o
mais importante não foi a obra física do calçadão, mas a
revitalização urbana, estimulando atividades que reuniam gente.
Qual era a situação da rua na década de 70?
Não havia condição de todo o trânsito da cidade continuar passando
pelo Centro, como estava ocorrendo. Decidimos fechar e tínhamos
de fazer rapidamente para evitar demandas judiciais que
inviabilizariam a continuidade das obras – e para ter um trecho para
efeito de demonstração. Se a obra fosse parada, nunca mais seria
retomada. Quando ficou pronto, aqueles comerciantes que haviam
assinado uma petição para parar a obra entregaram uma cópia
desse documento para mim, como souvenir. Eles tinham aprovado
as obras.
Qual foi a dinâmica das obras?
A obra começou na sexta-feira e na segunda-feira de noite um
trecho estava concluído, passadas 72 horas. Anteriormente, quando
perguntei ao secretário de obras quanto tempo a obra levaria, ele
me disse cinco meses. Eu pedi em 48 horas. Ele falou: “Você está
louco!” Após muita negociação, ele disse que poderíamos fazer algo
em três dias. Fizemos, quebramos um paradigma e foi aberta uma
legitimidade para as outras mudanças que vieram depois.
(JUSTINO, 2012, s/p.).
E continuava a reportagem afirmando:
À época, o trânsito era complicado nas vias que formavam o anel
central. Afinal, na capital paranaense havia um automóvel para
cada dez habitantes – cerca de 60 mil veículos – e muitos deles
tinham o Centro como destino. Era ali que se concentravam os
bancos, as lojas e os cinemas: não havia shoppings, o Pinhais
Expotrade seria inaugurado somente em 1979 e o Mueller, que
popularizaria o conceito de compras indoor na cidade, seria aberto
apenas em 1983. Era pelas ruas que as pessoas circulavam, mas
129
a artéria principal da capital estava congestionada. “Fiz um teste.
Andei da Praça Osório até a Praça Santos Andrade na direção do
fluxo e cheguei antes de um automóvel que fazia o mesmo trajeto”,
diz o arquiteto Abrão Anis Assad, que foi chamado pela prefeitura,
por meio do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba (Ippuc), para realizar o projeto de revitalização da rua. “Era
uma necessidade de afirmação: precisávamos assinalar que o
homem era mais importante do que o carro”, recorda o presidente
do Ippuc à época, Lubomir Ficinski. (JUSTINO, 2012, s/p.)
Outro ponto ressaltado na reportagem é que:
A rua não tinha que ser um local apenas de circulação, mas
também de permanência”, conta Assad, que desenvolveu o
mobiliário urbano que marcou para sempre a feição da cidade, com
floreiras, quiosques, os clássicos domos roxos, as luminárias de
globos transparentes e a torre de informações culturais. Um ano e
meio depois, a Rua XV ganhou a sua imagem símbolo: o bondinho.
(JUSTINO, 2012, s/p.).
Finalizando, a reportagem mostrava que, após 40 anos de implantação, o
“Calçadão de Curitiba”, mesmo tendo que se readaptar durante toda a sua existência às
varias condições socioeconômicas, ainda estava em voga. Assim demonstrava que o
urbanismo, de vanguarda à época, promoveu muitos avanços que perduraram até os dias
de hoje, após suas quatro décadas de existência. Isto demonstrava que a política
implantada, à época, prevista ao final da década dos anos 60, no Plano Diretor de Curitiba,
era visionária. Era um planejamento consistente a tal ponto de ter uma visão global de
desenvolvimento, em todas as áreas do urbanismo, de forma a dar um planejamento
citadino que perdurasse por muito tempo, promovendo avanços e desenvolvimento à
cidade.
Ao final desta década, 2002 a 2012, observou-se que o Calçadão se manteve em
desenvolvimento na área social, conforme citado por, Gonçalves Jr. et al. (1991, p. 18),
quando conceitua urbanismo. Contudo, na área econômica, para se manter, ressalte-se os
conceitos citados por Castells (1983), foi obrigado a adaptar o comércio à realidade
financeira da classe social que se utiliza da via para fazer compras. Assim, como citado
nas reportagens acima expostas, o Calçadão foi aos poucos transformando o comércio
local em lojas mais populares de forma a poder continuar se desenvolvendo e avançando.
130
4.1.5 Quatro décadas de avanços: o olhar de síntese.
Os avanços acontecidos desde o início de implantação do Calçadão de Curitiba,
no ano de 1972, devem ser considerados realmente como avanços, excetuado o caos
instalado quando na referida via onde circulavam veículos automotores e pedestres. Antes
os veículos causavam problemas que iam desde congestionamentos intermináveis até
riscos às pessoas, pedestres, que por ela transitavam sem qualquer segurança, fazendo
com que via “agonizasse” tanto na área social como na econômica. De acordo com
Castells (1983), as cidades são compostas de diversos fluxos e compete ao urbanismo
propor soluções que organizem os espaços. Era esta a pretensão do projeto para a área
central da cidade como forma de solução diante do problema instalado. E mais, tudo
estava apoiado no Plano Diretor da Cidade de Curitiba, Lei nº 2828 de 1966, já previa o
fechamento ao tráfego de veículos, de algumas vias e dentre elas a Avenida Luiz Xavier e
a Rua XV de Novembro.
Com isto, a implantação do calçadão promoveu a humanização da via, dando
novas formas de lazer à população como também revitalizando o comércio da região. O
calçadão, dentro da proposta a que foi concebido, cumpriu e continua cumprindo seu
objetivo ao longo destes anos de sua existência, considerando uma as funções da cidade,
que é a de promover ações de forma a dar à população qualidade de vida. Desta forma,
independentemente das necessidades de se revitalizar a via, de maneira a dar condições
de continuidade ao processo instalado, é necessário que as autoridades locais, procurem
promover constantemente programas e projetos para a via. Com estas políticas deverá
promover progressos e os avanços, na área socioeconômica, dando condições à via em se
manter dentro dos propósitos a que foi implantada. Castells (1983), diz resumidamente que
os espaços estão sempre em transformações, tanto na área física como na populacional, e
sempre são necessárias constantes revisões das políticas implementadas. Isto posto, os
comerciantes e as associações que os representam, não têm condições de manter o
desenvolvimento sem que hajam políticas adequadas. Assim, resta ao Poder Público
implementar políticas socioeconômicas e constantemente atualizá-las de forma a promover
as condições necessárias para permitir que o Calçadão se mantenha em constante
ascensão.
De acordo com Gottdiener (1997, p. 52), a demanda eleva a preferência do
consumidor por um determinado local, quando forças se articulam para determinado
espaço. Mesmo que estas negligenciem fatores sociais que levem a outros locais, mas
tudo isto está ligado aos programas de governo que direcionem estes fatores.
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Ao longo das várias reportagens ficou claro que era necessário que o Poder
Público investisse não às cegas, mas dentro de políticas propondo investimentos em
setores que tivessem a probabilidade de alavancar avanços e progresso, de forma a dar
suporte e promover a qualidade dos serviços prestados. Assim deve o Poder Público olhar
com bons olhos, de forma a manter o Calçadão como uma via importante da cidade, que é
um cartão postal, promovendo Curitiba como um polo da atração turística. Mesmo a
despeito de todos os shoppings centers que, nas décadas dos anos 80 e 90, se instalaram
e fixaram posições de forma a dar endereços “in doors”, que concentram locais de compras
com grande diversidade na oferta de produtos. Mas como citado em reportagens
anteriores, em dimensão e número de lojas, o Calçadão de Curitiba é maior e circulam
diariamente nele uma grande quantidade de pessoas.
4.2 RETROCESSOS
Agora se iniciará a exposição das imagens fotográficas e reportagens relatando os
retrocessos acontecidos desde a sua implantação no ano de 1972.
4.2.1 Década 1972 a 1982
A figura 37 mostra a Rua XV de Novembro, Rua das Flores, ainda recém fechada
ao tráfego (1975), mas já com problemas que prejudicam o seu visual como via exclusiva
para pedestres.
Figura 37 Rua XV de Novembro – Rua das Flores. (1975).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
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A reportagem que referenda a figura 37 tem como título “Alguns problemas
prejudicam a imagem da Rua das Flores”. (JORNAL GAZETA DO POVO, 1975, s/p.).
A referida reportagem inicia com críticas à principal via da cidade de Curitiba que,
após ser transformada em via destinada a pedestres, pela falta de fiscalização do órgão
responsável, ainda recebia constantemente o tráfego de veículos. A reportagem afirma que
isto não poderia acontecer e somente seria explicável para casos de emergências, como
carros de bombeiros ou outro tipo de emergência. Mas veículos de estabelecimentos
bancários constantemente circulavam pela via durante o dia e alguns veículos que faziam
reparos e manutenção de instalações, principalmente na área de comunicações,
trafegavam pelas calçadas durante o dia e também à noite. Estes veículos causavam
transtornos na via e medo aos pedestres, que podiam ser atropelados. Tal movimento foi
provocando danos ao mobiliário urbano, como os canteiros de flores, vasos das floreiras e
também à proteção destes vasos (feita de madeira), que ficavam quebrados por muito
tempo sem que houvesse conserto ou substituição dos mesmos.
Outro problema citado pela reportagem era quanto à presença neste local de
vendedores ambulantes e camelôs, que denegriam a imagem da via que era ponto turístico
da cidade. A reportagem dizia que no trecho próximo à Rua Monsenhor Celso, alguns
vendedores de doces e pipocas, além de atrapalharem o trânsito de pedestres ainda
sujavam todo o local.
A reportagem confirmava o descrito, quando citava:
A Rua das Flores, principal artéria da capital paranaense, ponto
comercial dos mais movimentados e motivo de atração turística,
apresenta alguns problemas que faz com que sua verdadeira
imagem seja empanada. Tais problemas dizem respeito ao tráfego
de veículos, à presença de alguns vendedores ambulantes e à falta
de cuidado para com os canteiros de flores. [...] O que ocorre é que
a Rua das Flores, segundo se entende é destinada ao tráfego de
pedestres, exclusivamente, exceto em casos de emergências,
quando se faça necessário a presença de veículos dos bombeiros
ou algo semelhante. [...] veículos de empresas que prestam serviços
a estabelecimentos bancários ou realizam reparos dos meios de
comunicação, transitam pela via tanto durante o dia quanto à noite.
Ressalta-se que alguns desses veículos são de médio porte, tais
como camionetas e pequenos caminhões. Esses veículos, além de
causar temor nos pedestres, que receiam se atropelados, ainda
causam, vez ou outra, danos aos canteiros de flores, quebrando as
proteções de madeira e os vasos ali existentes. (JORNAL GAZETA
DO POVO, 1975, s/p.).
133
A reportagem registrava ainda quanto ao tráfego de veículos:
[...] o tráfego de veículos sobre a calçada é fato comum. Isto, tanto
de automóveis e caminhões de carga quanto de motocicletas,
colocando em perigo a vida dos pedestres. O fato acorre
principalmente no período noturno. [...] os motoristas de caminhões,
que fazem o abastecimento de bebidas aos estabelecimentos
comerciais da área, alem dos ônibus que conduzem turistas aos
hotéis locais. (JORNAL GAZETA DO POVO, 1975, s/p.).
Quanto aos vendedores ambulantes, a reportagem mostrava o seguinte:
Por outro lado, já começa a constatar-se a presença de vendedores
ambulantes e camelôs na citada via, pois, a fiscalização das
atividades dos mesmos, quanto à área em que devem atuar, não
está sendo feita como deveria. Em cruzamentos como o da Rua das
Flores com Monsenhor Celso, os camelôs se instalam e passam a
efetuar seu comércio tranquilamente. Há ainda vendedores de
pipocas e doces que, com seus pequenos veículos, além de
prejudicar o livre tráfego de pedestres ainda sujam o calçamento.
(JORNAL GAZETA DO POVO, 1975, s/p.).
Com o relatado acima, via-se o desrespeito à legislação pondo em risco a
população que transitava pela via e os danos causados acabavam sendo assumidos pelo
Poder Público. Isto porque pela falta de fiscalização do próprio Poder Público este mesmo
não tinha como imputar penalidades ou ressarcimento dos danos causados, visto que não
havendo fiscalização não havia como apontar culpados. Assim, era obrigação do Poder
Público rever os princípios pelos quais e para os quais o Calçadão de Curitiba ou Rua das
Flores tinha sido criado. Dentro destes princípios foi necessário elaborar um plano de
ações que regulamentava a utilização e promova a via, como também estancasse o
processo de desolação e desrespeito, pois isto provocaria o esvaziamento da via.
A figura 38 mostra danos causados por vândalos na Rua das Flores,
demonstrando a falta de educação e consciência da parte de algumas pessoas em
preservar o bem público.
134
Figura 38 Floreiras da Rua XV de Novembro – Rua das Flores. (1976).
Acervo: Jornal Diário da tarde – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A reportagem em foco tinha como título “População e Vandalismo – A população
ainda não está preparada para as inovações que estão sendo realizadas”. (JORNAL
DIÁRIO DA TARDE, 1976, s/p.).
A reportagem em questão citava que o mobiliário urbano instalado na Rua das
Flores estava alvo de vandalismo. No caso as floreiras, após o replantio de flores pelo
órgão municipal responsável pela manutenção, alguns vândalos destruíam quase tudo.
Havia certa apreensão por parte dos responsáveis quanto a uma possível depredação e
não se passaram três dias da inauguração para que as floreiras fossem destruídas.
Muitas floreiras foram quebradas e tiveram as flores arrancadas e jogadas ao
chão, por puro ato de vandalismo e sem qualquer motivo. De acordo com a reportagem
alguns pedestres classificaram esta atitude com “um ato revoltante e completamente sem
explicação”.
Diante do acontecido, o Governo do Estado promoveu uma campanha publicitária,
com filmes nas televisões e cartazes distribuídos na cidade, em que pedia a população
para conservar os bens públicos, pois estes pertenciam a todos e não eram exclusivos do
Poder Público. Contudo, as depredações continuavam e a Prefeitura Municipal de Curitiba
continuava insistindo, pois não queria chegar ao ponto de não mais replantar as flores
destruídas para não empobrecer o visual da via. Mesmo assim, a Prefeitura propunha
aumentar a fiscalização de forma ostensiva para conter o vandalismo, por não admitir que
uma cidade do porte de Curitiba, em seu estágio de desenvolvimento, se rendesse a esta
forma de intimidação.
Era necessário conscientizar a população em manter a coisa pública, pois era um
bem de todos e por este motivo devia ser respeitado, e desta forma o Poder Público devia
valer-se de instrumentos coibitivos de forma a não tolerar quaisquer abusos.
135
A reportagem confirmava o acima descrito quando descreve:
[...] Desta vez foram 113 floreiras de amor perfeito, colocadas no
ultimo sábado na Rua das Flores. Várias equipes da Diretoria de
Parques e Praças, órgão ligado à Prefeitura Municipal de Curitiba,
passaram toda a madrugada de sábado afixando floreiras em toda a
extensão da rua e já pela manhã aquela via da cidade apresentava
um novo aspecto. Mas havia apreensão por parte da Prefeitura
Municipal quanto a possíveis estragos. Não passaram três dias e as
floreiras estão em grande parte destruídas. As flores foram
arrancadas e jogadas ao chão. Algumas floreiras foram quebradas e
acredita-se que mais de quarenta delas não estejam em condições
de uso. [...] Fontes ligadas à Prefeitura Municipal de Curitiba
acreditam que os responsáveis pelos atos de vandalismo agem
principalmente à noite e chegam a afirmar que foram avistados
vários casais de namorados, ontem por volta das 11 horas, se
utilizando das floreiras como sofá. No trecho da Avenida Luiz Xavier
alguns menores iam arrancando todas as flores uma a uma,
segundo alguns pedestres “um ato revoltante e completamente sem
explicação”. (JORNAL DIÁRIO DA TARDE, 1976, s/p.).
Mais adiante a reportagem afirmava:
Recentemente campanha publicitária empreendida pelo Governo do
Estado incentivava a população a população a conservar os bens e
as coisas públicas. A campanha se intitulava “Campanha de
Conservação dos Bens de Todos” era composta de três filmes e um
cartaz com os dizeres: “Os bens do Estado são bens de todos. São
seus Conserve-os. Não danifique aquilo que você ajudou a
construir”. Estes cartazes foram espalhados por toda a cidade e os
filmes veiculados intensamente em várias emissoras de TV. No
entanto as coisas públicas continuaram a ser destruídas. [...] Já se
fala que a melhor solução é não mais plantar flores na Rua das
Flores e deixá-la somente uma via para pedestres, sem adornos de
qualquer espécie. Certamente ficará com um péssimo aspecto, mas
o povo terá que se conformar, pois toda a verba destinada a
embelezar a cidade já está se tornando onerosa, uma vez que todas
as tentativas de aplicação não encontram a receptividade esperada.
(JORNAL DIÁRIO DA TARDE, 1976, s/p.).
A reportagem registrava ainda uma solução alternativa:
Embora muita gente acredite que o melhor é não mais plantar flores
na Rua das Flores, ainda existe uma alternativa para a Prefeitura
Municipal de Curitiba: colocar ima intensa fiscalização naquela via,
aplicando sanções pesadas aos vândalos, porque não é admissível
em qualquer hipótese que uma cidade com o porte de Curitiba e
com tal estágio de desenvolvimento não possa abrigar execuções
dessa espécie. É preciso ensinar o povo, talvez de forma mais
eficaz e direta, que as coisas públicas devem ser respeitadas pelo
136
simples fato de serem públicas. É necessário valer-se de todos os
instrumentos legais para coibir os abusos. (JORNAL DIÁRIO DA
TARDE, 1976, s/p.).
Por fim, como finalizado na reportagem anterior, estes atos de vandalismo eram
efeitos da falta de educação da população, que destruía o mobiliário urbano, que era um
bem público, e pertencia a toda a população. O resultado destes atos de vandalismo não
se refletia apenas na má aparência da via, que nesta época já era ponto turístico da
cidade, mas também acabava por onerar os cofres públicos. Isto posto, a falha estava na
falta de segurança da via, o que devia ser revisto. Assim, se não houvesse repreensão a
simples atos de vandalismo, toda a segurança da via estaria fragilizada, o que afetava a
população, que deixaria de circular pela rua como também denegria a imagem da via como
ponto turístico. Não era o caso de deixar de fazer o replantio das floreiras, mas sim de
rever todos os conceitos da política de segurança pública até então aplicados, pois estes
deviam abranger não apenas o patrimônio público, mas também a segurança da população
e da via.
A figura 39 apresenta a Rua XV de Novembro, Rua das Flores, com o seu visual
poluído pelas placas de propaganda afixadas nas fachadas das edificações.
Figura 39 Rua XV de Novembro – Rua das Flores – Poluição Visual. (1977).
Acervo: Fundação Cultural de Curitiba.
Autor: Luiz Gevaerd.
A reportagem que referenda a figura 39 tem como título “A cidade que acabou
poluída pelos painéis”. (JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1977). A reportagem cita a
polêmica criada desde o ano de 1974, quando o Departamento do Patrimônio Histórico e
137
Artístico do Paraná tinha feito o tombamento Calçadão da Rua XV de Novembro. A
intenção era acabar com a poluição visual da via e que até o ano desta reportagem, 1977,
não havia conseguido chegar a nenhuma solução.
De acordo com a reportagem, já havia se passado três anos e a situação
continuava a mesma, sem solução, apenas poucas lojas por conta própria haviam retirado
as placas de propaganda.
A reportagem citava Jorge Menezes, programador visual, que dizia: “O que está
acontecendo naquele trecho, acredita, é um total desrespeito com a preocupação de
localizar fisicamente os cartazes”. Continuava dizendo que as placas escondiam as
construções históricas e ainda avançam por sobre a via, isto tudo feito a critério apenas
dos proprietários das lojas. Tudo o que estava acontecendo estava fora do controle e que o
órgão responsável devia tomar alguma atitude urgente a fim de controlar a situação.
A reportagem citava também o arquiteto Sergio Todeschini Alves, diretor do
Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico, que dizia ser preciso ter bom senso. As
placas de propaganda além de poluir visualmente, da forma como estavam afixadas,
perpendiculares às fachadas, ainda invadiam, mesmo que pelo alto, o espaço do Calçadão
que era público. Falava ainda que toda a via tinha sido tombada pelo patrimônio histórico e
isto obrigava os comerciantes a seguirem os tipos e formas de propaganda conforme
disposto em lei específica para imóveis tombados. Segundo a reportagem, o Departamento
de Patrimônio, em consulta à Procuradoria Geral do Estado, soubera que este problema
devia ser resolvido na esfera municipal. Na sequência, a reportagem afirmava que nem a
Prefeitura Municipal de Curitiba (PMC) e nem o Instituto de Pesquisa e Planejamento
Urbano de Curitiba (IPPUC), tomaram qualquer posição a respeito, deixando a questão
sem solução. Consultada, a Associação Comercial do Paraná (ACP) também não se
posicionou sobre o assunto, se limitando a dizer que a Prefeitura Municipal era quem
fiscaliza e que ela era quem podia dizer se os comerciantes estavam ou não cumprindo as
determinações legais. Contudo, dizia que algumas lojas estavam realmente feias, mas que
sobre o assunto a prefeitura é quem deveria se manifestar.
A reportagem voltava a citar Jorge Menezes, já qualificado anteriormente, que
resumidamente dizia haver uma regulamentação específica para a publicidade em vias
públicas, mas que não era seguida e nem fiscalizada, e não sabia a que ponto as
autoridades municipais eram condescendentes com o que estava acontecendo. Ele definia
ainda o que entendia por poluição visual, e propunha que as fachadas dos prédios antigos
fossem conservadas ou reconstituídas, dizendo que na maioria das vezes as propagandas
apenas eram um revestimento que envolvia as edificações com outros materiais, e que
estes podiam ser facilmente retirados.
138
Para o arquiteto Sergio Todeschini, era importante a preservação dos edifícios
como fator histórico e que deviam ser mantidas as fachadas por fazerem o contraste do
antigo com o novo, de forma a existirem pontos referenciais.
A reportagem confirmava o acima citado quando afirmava:
Uma polêmica até hoje sem solução, foi criada em 1974, quando o
Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico do Paraná
resolveu tombar o calçadão da chamada rua XV. Um dos objetivos
era dar um paradeiro à poluição visual ali reinante. Trazer à vista
dos pedestres as fachadas dos prédios que lembram o início do
século. [...] O vale tudo não é válido, na opinião do programador
Jorge Menezes. O que está acontecendo naquele trecho, acredita, é
um total desrespeito com a preocupação de localizar fisicamente os
cartazes. Estes não apenas escondem obras arquitetônicas que
retratam uma época, como também avançam para o meio da rua,
um metro, dois metros, enfim quanto o proprietário de um
estabelecimento comercial julgar necessário. (JORNAL DIÁRIO DO
PARANÁ, 1977, s/p.).
Mais adiante a reportagem citava a afirmação de Sergio Todeschini Alves:
Sergio Todeschini Alves, diretor do Departamento do Patrimônio
Histórico e Artístico, diz que é preciso lembrar do bom senso.
Quando uma placa ou um anúncio ultrapassa a fachada do prédio
que ocupa, “estão invadindo um bem público”. Isto se torna mais
real em caso de tombamento. [...] A lei que dispõe sobre o
Patrimônio Histórico e Artístico em seu parágrafo 15º, diz o seguinte,
referindo-se a obras tombadas: “Sem prévia autorização da Divisão
do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Paraná, não se
poderá, na vizinhança da coisa tombada, fazer construção que lhe
impeça ou reduza a visibilidade, nem nela colocar anúncios ou
cartazes, sob pena de ser mandada destruir a obra ou retirar o
objeto, impondo-se neste caso, a multa de 50 por cento do valor do
mesmo objeto. (JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1977, s/p.).
A reportagem afirmava ainda quanto às atitudes da Prefeitura Municipal, do
Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba e da Associação Comercial do
Paraná que:
[...] por enquanto ainda são desconhecidas as medidas que a
Prefeitura Municipal possa tomar. O Departamento de Urbanismo
esclarece que nada tem a ver com o fato, depois que o IPPUC
(Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba) concede
a mesma resposta. O engenheiro José Maria Valduga, do
Departamento de Urbanismo, explicou que a Prefeitura só tem uma
coisa a ver com o fato. “Na hora que um estabelecimento comercial
139
pede autorização para veicular sua publicidade nas ruas, o
Departamento autoriza ou não. Isso, sempre com base em normas
do IPPUC”. Mas quanto aos cartazes que já estão lá, poluindo há
bastante tempo? Ele explica que isso cabe ao IPPUC. A assessoria
de imprensa do IPPUC diz que informações sobre a matéria só com
a prefeitura mesmo. Ainda em 1974, Sergio Todeschini enviou um
comunicado à Associação Comercial do Paraná, pedindo
providencias. Pedindo que a Associação intervisse no caso,
principalmente nos casos mais graves, em termos de destruição do
conjunto urbano. Na época a Associação explicou que, de forma
alguma, daria apoio às casas comerciais que utilizassem os
anúncios de mais gritantes de mau gosto. E hoje qual é a posição
da entidade? Seu presidente Carlos Alberto Pereira, prefere não
dizer. “Vai parecer até que a associação quer mexer no problema.
Não vejo razão prá colocar minha posição. A prefeitura e o IPPUC
não levantaram o problema e eu prefiro ficar quieto.” Ele diz que o
importante é saber se a Prefeitura está fiscalizando o setor, se os
comerciantes estão ou não obedecendo. Se as posturas estão
sendo cumpridas. “É a Prefeitura que tem as leis nas mãos”. [...]
Mas, lembra que é inútil iniciar pela parte estética, sem a certeza
que as leis estão sendo ou não cumpridas: “Se falo antes de uma
manifestação da Prefeitura, acabo fazendo papel de bobo”.
(JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1977, s/p.).
Mais adiante Jorge Menezes afirmava:
[...] Regulamento há, mas não há fiscalização, ninguém está
seguindo as normas. Poluição visual é tudo aquilo que agrida
esteticamente: confusão, ruído visual, desorganização [...] E qual a
proposta de Menezes? Uma delas, a de que os prédios sejam
conservados em suas fachadas. Talvez através de uma
reconstituição fiel e bastante adequada. [...] Em Curitiba, no entanto,
confessa Jorge, as casas comerciais “embalam” a fachada antiga,
com uma coisa que nada tem a ver. Mudam desde a parte externa
até a interna. É o varejão com o seu mau-gosto. (JORNAL DIÁRIO
DO PARANÁ, 1977, s/p.).
Resumidamente, a reportagem demonstrava a falta da observância às leis e
normas, não apenas por parte, no caso, dos comerciantes, mas dos órgãos públicos
responsáveis pela aplicação e fiscalização das leis e normas. Ora estava visível a falta de
interesse do setor público, como também do setor privado em aplicar medidas que
tivessem impacto negativo à imagem política dos administradores responsáveis. Isto seria
desnecessário se as leis estivessem sendo aplicadas de forma correta e houvesse uma
fiscalização efetiva e atuante, que coibisse os excessos como previstos em lei.
Assim, os administradores públicos e privados preferiam se omitir e deixar que
houvesse um processo de degradação da via pública pela poluição visual. Isto estava
140
explícito no próprio texto da reportagem, quando o programador visual Jorge Menezes
definia poluição visual: “Poluição visual é tudo aquilo que agrida esteticamente: “confusão,
ruído visual, desorganização”. A paisagem se tornava ruidosa e as coisas iam se
acostumando assim, até que a característica própria de um determinado local ia sendo
destruída”. (JORNAL DIÁRIO DO PARANÁ, 1977, s/p.).
Ora, como descrito na reportagem acima, o tombamento dos imóveis históricos
tinha também como alvo a retirada das placas de publicidades neles aplicadas, o que não
aconteceu. Isto mostrava o descaso para as autoridades quanto à imagem do Calçadão,
que podia continuar sendo gradativamente destruída e retroceder à época antes da
implantação do Calçadão, sem que nenhuma medida fosse tomada.
A figura 40 mostra o senhor Isaac B. Singer, curitibano e colecionador de prêmios
literários.
Figura 40 – Mostra a fotografia do senhor Isaac B Singer. (1982).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A reportagem leva como ilustração a figura 40 tem como título “LAMENTAÇÃO”.
(SINGER, 1982, s/p.).
Esta reportagem iniciava com uma pergunta do autor da “crônica”, o senhor Isaac
B. Singer: “O que estão fazendo com você, minha querida Curitiba?”. Ao que ele mesmo
respondia: “Sua Rua das Flores, conhecida no Brasil inteiro, a sua “Sala de Visitas”, que
era nosso orgulho, está transformada em pátio de igrejinha de vila em dia de festa do
padroeiro...”.
A reportagem no estilo “crônica” descrevia que a via tinha virado um mercado a
céu aberto com a complacência das autoridades, que nenhuma atitude tomavam. A Rua
das Flores, quase em sua totalidade, tinha sido tomada por vendedores ambulantes. Era
141
pura lamentação ver a rua idealizada para ser o centro comercial da cidade sendo
transformada em uma espécie de feira livre. A principal via central e histórica da cidade
tinha mudado a tal ponto que por ela transitavam veículos de coleta de lixo, das
concessionárias de energia elétrica e telefonia, correios e outros, tudo isso em uma via que
deveria ser de uso exclusivo para pedestres. Os vendedores ali localizados, ofereciam
frutas, guloseimas e outros alimentos sem qualquer higiene, e pior, tanto os vendedores e
consumidores sujavam todo o calçamento em petit-pavé, pois jogam no chão as cascas e
restos de alimentos. Todos os artigos ficam expostos também no calçamento, o que além
de sujar, dificultava a passagem dos pedestres.
Paralelamente a tudo isto, ainda havia vendedores que interpelavam os pedestres
querendo vender produtos como loterias, antenas de TVs, etc., e também os hippies se
faziam presentes na via, oferecendo pulseiras, colares, sandálias, e outros produtos, o que
dava à via um ar de total desolação.
A “reportagem-crônica” seguia mostrando a degradação da via, concebida para ser
um centro comercial pelo seu status de ser o centro nervoso da cidade. Contudo, a
degradação desta tinha acontecido a tal ponto que, aos olhos do autor da crônica, só dava
para se lamentar as condições em que esta se encontrava. Até os comerciantes
estabelecidos no local cooperavam para aumentar o desgaste da via, quando colocavam
em frente às suas lojas caixas de papelão, que eram coletadas ao longo do dia pelos
catadores de papel para serem transportadas à noite.
Finalizando, o autor citava desolado o que via, dizendo que “Sua Rua das Flores
conhecida no Brasil inteiro, está transformada em pátio de igrejinha em dia de festa do
padroeiro...”.
A reportagem referendava o acima descrito quando citava:
A princípio foram os carrinhos de pipoca que começaram a chegar,
sempre às 5 horas da tarde, nas esquinas de Barão e Monsenhor
Celso. A excelência dos pontos e a complacência das autoridades
animaram outros pipoqueiros e os carrinhos se multiplicaram em
horário cada vez maior... Vendedores diversos se animaram e
vieram para a Rua das Flores. Os hippies com suas pulseiras de
cobre, colares, bijuterias diversas, cintas, carteiras, sandálias e até
sapatos. Recentemente, mapas geográficos e gravuras variadas.
Tudo exposto no chão, dificultando a passagem dos pedestres. [...]
Até as frutas vieram a fazer parte do “estoque”: laranja, maçã,
tangerina, uva, jabuticaba, mamão, às vezes melancia e abacaxi em
fatias. Todas servidas sem nenhuma higiene e contribuindo para
sujar o “petit-pavé”, pois não só os fregueses como os vendedores
jogam as cascas na calçada. [...] Até os comerciantes contribuem
para a bagunça geral, colocando à frente das lojas, desde cedo,
caixas de papelão que vão sendo reunidas aos montes pelos
142
catadores de papel, para serem transportadas à noite. Além de tudo
isso, carrinhos de lixo da Terpa-Limpater, estafetas pedalando suas
bicicletas ou triciclos, carrinhos de catadores de papel na sua faina
diária, carros de transportadoras de valores, veículos dos correios e
telégrafos, da Copel, da Telepar, da Sanepar, todos andando de um
lado para outro no meio do povo, em pleno calçadão, criado para
uso exclusivo do pedestre. E a coisa está ficando cada dia pior.
(SINGER, 1982, s/p).
O texto acima mostra o descaso por parte das autoridades, pela falta de
fiscalização efetiva e implementações de políticas, o que causava a degradação não
apenas da área física, mas também da imagem do ponto turístico que, como citado na
reportagem, estava sendo transformado em um mercado popular, o que afetava também o
comércio local, por promover certa distância dos compradores em potencial e promover,
em vez disso, a popularização. Assim, era inevitável que seriam obrigados a se adequar a
uma nova realidade socioeconômica pela falta de fiscalização e apoio dos órgãos
competentes.
Finalizando, a década em foco, 1972 a 1982, mostra que a falta de políticas
adequadas, principalmente pela falta de segurança e fiscalização dos órgãos competentes,
o Calçadão padece.
O descaso para com a Rua das Flores ficou demonstrado pelas reportagens acima
mostradas, nas quais se viu que a omissão das autoridades responsáveis provoca atos de
vandalismo e desrespeito às leis pela falta de fiscalização. Tudo isto poderia e ia se refletir
mais tarde nas áreas sociais e econômicas. Dentro deste princípio, a popularização
desestimularia toda e qualquer atividade, haja vista a inconsistência apresentada na via,
pela falta de visualização como um ponto de referência da cidade, não apenas na área
social, mas principalmente na área econômica. Assim faria com que esta via entrasse em
um processo, talvez irreversível, se não for vista com bons olhos pelas autoridades, e dar a
atenção necessária a fim de minimizar a degradação. E desta forma promove-la de
maneira que esta voltaria a ser o ponto de referência, pois a continuar no ritmo de
degradação e retrocesso pelo que passa, fatalmente os seus dias estariam contados.
4.2.2 Década de 1982 a 1992
A figura 41 mostra a Rua das Flores e seus problemas, onde no fundo de alguns
imóveis, atrás de alguns restaurantes ali instalados, corria o antigo leito do Rio Ivo a céu
aberto. Mesmo tendo sido este desviado e canalizado, restava o trecho atrás destes
imóveis que ainda se encontrava aberto, apesar de estar desativado. Neste local era
143
jogada grande quantidade de lixo e restos de comida dos restaurantes ali instalados, o que
provoca grande desconforto pelo mau cheiro que exalava.
Figura 41 – Rua das Flores – Fundo de alguns bares e restaurantes. (1984).
Acervo: Jornal do Estado – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A reportagem que dá suporte à figura 41 foi escrita por Altamiro de Souza e Edson
Jansen e se intitula “Rua das Flores, paraíso”. Foi publicada em 28 de fevereiro de 1984.
O referido texto afirmava que alguns restaurantes localizados na Rua das Flores,
que eram muito frequentados, além de servirem refeições e bebidas, ajudavam a criar
grande parte dos milhares de ratos existentes na capital do Estado. Isto porque as saídas
de esgoto dos estabelecimentos não estavam ligadas à rede pública de coleta e por mais
de vinte anos os estabelecimentos pagaram multa à Saúde Pública. Todo o descarte de
dejetos era jogado no antigo leito do Rio Ivo que passa nos fundos dos estabelecimentos.
Segundo a reportagem, os ratos eram tão grandes que “mais parecem leitõezinhos recém-
nascidos”.
Alguns fregueses haviam questionado quanto à qualidade das refeições servidas
por estes estabelecimentos, sabendo da existência dos ratos, mas nada era feito para
acabar com esta irregularidade. Pessoas que trabalhavam em edifícios próximos não
aguenta o mau cheiro que emana dos fundos destes estabelecimentos comerciais, e eram
obrigados a trabalhar com as janelas fechadas.
O Departamento de Obras da Prefeitura Municipal tinha um projeto pronto para
canalizar este trecho do antigo leito do rio que ficou aberto. Mas para isto necessitaria abrir
um acesso ao local. Era uma obra paliativa, mas que teria resultados. Contudo, o acesso
144
ao locar teria que ser por um dos restaurantes ali instalados, de modo que o
estabelecimento teria que ser fechado por alguns dias, aproximadamente 40, para a
execução do projeto.
O problema maior era convencer um dos proprietários a aceitar ficar fechado por
este período, relativamente pequeno se comparado à extensão da obra. Os proprietários,
sob a alegação de prejuízos, não admitiam ficar com os estabelecimentos fechados e arcar
com os prejuízos. Contudo, o grande absurdo desta polêmica recai por sobre os
frequentadores destes restaurantes e bares, que sentem cheiro de comida estragada, e
ainda eram obrigados a conviver com o mau cheiro que saia das instalações sanitárias
destes estabelecimentos. Tudo isto acontecia pelo aterro sanitário improvisado, pelos
comerciantes, no antigo leito do Rio Ivo que corta parte do centro da cidade, passando por
baixo da Rua das Flores, e atrás dos citados restaurantes estava a céu aberto.
O rio foi canalizado no início da década de 1970, com projeto elaborado ainda no
governo do Prefeito Ivo Arzua e encerrado no governo do Prefeito Omar Sabag. O desvio
feito no leito do rio deixou o trecho desativado, mas esta parte ficou esperando para ser
finalizada posteriormente, o que não aconteceu. O pior era a incompreensão dos
proprietários dos restaurantes e bares, que afirmavam preferir pagar as multas a ter de
fechar por algum tempo para ligar o esgoto de seus estabelecimentos à rede pública de
coleta de esgoto.
A reportagem citava que a prefeitura tinham algumas alternativas, mas os
comerciantes deveriam ceder para dar acesso ao local e que a opção mais barata era o
manilhamento e aterro deste canal, mas os proprietários relutaram em ceder, não havendo
consenso. A prefeitura tentou negociar, mas os proprietários não cederam, principalmente
por terem que arcar ainda com os custos da reconstrução interna dos imóveis acrescido ao
fato de não terem qualquer indenização pelo tempo em que ficariam fechados. Mesmo
assim, a prefeitura se propunha em executar as reconstruções internas, mesmo não sendo
sua obrigação, mas os proprietários não cediam.
Assim, diante do impasse, a vizinhança que trabalhava nos edifícios vizinhos,
como também a população que frequentava os bares e restaurantes, foi obrigada a
conviver com o mau cheiro sem ter qualquer solução.
A reportagem afirmava que:
Alguns restaurantes e bares da Rua das Flores, como o La
Gôndola, Savoy, Cachorro Quente e Triângulo, os mais
frequentados de Curitiba, além de servirem refeições e bebidas
normalmente ajudam a criar com certeza, boa parte dos ratos
existentes na Capital hoje em dia. Há mais de 20 anos eles pagam
145
multas à Saúde Pública, mas nunca ligaram seus esgotos ao
sistema de saneamento da Sanepar. Jogam lixo, restos de comida e
dejetos no antigo leito do Rio Ivo. E os ratos procriam. Aliás,
grandes ratazanas, mais parecidas com leitãozinhos recém-
nascidos, de tão grandes. [...] As pessoas que trabalham nos outros
edifícios próximos – o Santa Maria, na Praça Zacarias é um exemplo
típico – não aguentam mais o horrível cheiro que exala do
verdadeiro monturo que se criou atrás desses estabelecimentos
comerciais. O Departamento de Obras da Prefeitura Municipal já
tem um projeto para canalizar as águas pluviais nesse antigo leito
do Rio Ivo, através da instalação de duas tubulações de 1,5 metro
cada e posterior aterramento do local. Mas apesar de ser uma obra
apenas paliativa, não consegue nem mesmo acesso num dos
restaurantes para concluí-la. Os proprietários argumentam que
levarão prejuízos se paralisarem suas atividades durante parte dos
40 dias que demorará a execução da obra. (SOUZA; JANSEN,
1984, s/p.).
Mais adiante a reportagem classificava o que acontecia como um absurdo, dizendo:
Quem frequenta os restaurante e bares existentes desde o início da
Rua das Flores, em frente ao bondinho, até a Rua Dr. Murici, sente
estranhos cheiros de comidas estragadas e até de excrementos
humanos que saem dos sanitários. Todos esses dejetos são
simplesmente jogados nessa espécie de aterro que se transformou
o antigo leito do Rio Ivo, [...]. O Rio Ivo foi desviado no início da
década de 70, num projeto criado pelo ex-prefeito Ivo Arzua e
concluído por Omar Sabag. [...] Mas apesar do projeto de desvio, o
problema higiênico desses bares e restaurantes jamais foi resolvido.
Dizem que os proprietários preferem pagar pesadas multas a ligar
os seus esgotos no sistema normal da Sanepar. O problema é
tipicamente de Saúde Pública, já que a colocação de tubulação
dupla pela Prefeitura não resolverá o problema. Se os funcionários
dos restaurantes e bares continuarem a jogar os dejetos em cima do
aterro que será construído atrás de seus estabelecimentos, tudo
continuará como está, numa verdadeira afronta ao olfato e à saúde
da população curitibana. (SOUZA; JANSEN, 1984, s/p.).
Continuando, a reportagem mostrava que:
Com a instalação da tubulação fica tudo mais fácil e rápido”. O
serviço demora 40 dias. Mas dependemos da autorização dos
proprietários dos restaurantes para conseguirmos um acesso para
executar o projeto. [...] “O fechamento de um dos restaurantes é
fundamental, como entrar com dezenas de carrinhos de Mão cheios
de terra com gente tomando sorvete?” [...] No dia 4 de novembro de
83, tentou negociar com os proprietários outros acessos, mas não
conseguiu. A intenção da prefeitura, argumenta Ito, é fechar esse
146
acesso de um dos locais por apenas 5 dias no início da obra e no
final. “Pretendemos descarregar o material e fazer um tanque
provisório nos fundos do Savoy ou do La Gôndola”. Ele garante que
essa obra beneficiará os próprios donos dos restaurantes, “os mais
interessados em acabar com aquele cheiro horrível”. [...] “Temos
que arrebentar portas e paredes e esse custo é variável” – diz o
engenheiro civil Roberto Colin, da Divisão de Construção e
Conservação da Prefeitura Municipal. Tanto a Prefeitura quanto a
Saúde Pública informam que, não cabe indenizar aos restaurantes
em função do eventual fechamento deles por alguns dias. “Caberá
aos proprietários executar os serviços. Mas como o problema se
tornou mais abrangente, a Prefeitura fará parte do serviço” –
ressalta Ito. [...] Enquanto isso, os vizinhos reclamam. [...] todo dia
as cozinheiras jogam panelas de feijão, arroz e cascas de batatas
para os ratinhos de estimação dos proprietários dos bares e
restaurantes. Sempre foi assim, há mais de 20 anos. Na Rua das
Flores, os enormes ratos correm na rua de madrugada – e até de
dia. (SOUZA; JANSEN, 1984, s/p.).
Resumidamente, a reportagem mostrava os pontos falhos da Rua das Flores, que
evidentemente provocavam o afastamento da população, haja vista os fatos relatados.
Contudo, à época citada, ano de 1984, pela falta de rigidez na conduta de fiscalização dos
órgãos responsáveis, a situação se arrastou sem solução. Como citado na reportagem isto
acontecia há mais de vinte anos, o que no início do Calçadão não era tão acentuado, haja
visto a densidade populacional da cidade e, por conseguinte a movimentação da via,
mesmo sendo a principal da cidade, e com os veículos que por ela trafegavam não se
acentuava tanto o problema. A partir do momento em que a rua foi transformada em rua
exclusiva para pedestres foram criados vários pontos de reuniões e encontros,
principalmente na frente dos bares e restaurantes, ressaltando ainda mais o problema, de
forma que, pela falta de solução, o problema atingia ainda mais a imagem da via. Assim o
acontecido denegria bastante a imagem da via, pela falta de vontade política em fazer valer
a ordem legal. Deixando chegar ao extremo dos comerciantes citados na reportagem
impedirem a solução do obstáculo, classificado como de saúde pública, que poderia causar
problemas ainda maiores de contaminação, e não apenas se limitarem a aplicar multas
sem, contudo obterem soluções efetivas.
As reportagens demonstram as diversas fases de abandono de um espaço público
tão tradicional, que deveria ter mais atenção das autoridades para não chegar a uma
situação de retrocesso como a apresentada. É mister ressaltar que no dia 08 de junho de
1984 (quatro meses após a publicação da reportagem analisada), o jornal Correio de
Notícias, sobre “Ratos da Rua das Flores”, faz a seguinte alusão:
147
[...] quem mora no miolo da quadra entre a Rua XV e a Praça
Zacarias vai deixar de conviver com ratos, baratas, detritos e mau
cheiro. [...] a prefeitura está agora finalizando a canalização daquele
trecho que agora não está mais a céu aberto, sendo que a galeria
retangular que comportará o rio, já está totalmente concretada.
(JORNAL CORREIO DE NOTÍCIAS, 1984, s/p.).
Este adendo à reportagem anterior se fez necessário, para demonstrar que a
Prefeitura realizou a canalização do ultimo trecho do Rio Ivo que restava, solucionando um
problema que afetava o comércio da região como também da população que trabalhava
nas proximidades ou transitava pela via.
A figura 42 mostra o movimento da Rua XV de Novembro, Rua das Flores e um de
seus lados oculto.
Figura 42 – Rua das Flores – Rua XV de Novembro. (1986).
Acervo: Jornal do Estado – Coletânea da Fundação Cultural de Curitiba.
A reportagem que foca a figura 42 acima tem como título “Rua das Flores cores
ecléticas de um cartão postal”. (JORNAL DO ESTADO, 1986, s/p.). A reportagem em tela
acima inicia com a pergunta: “Quantos lados tem a Rua das Flores, esta via arterial onde
registra-se a pulsação da cidade?”. Esta reportagem girava toda no entorno desta
pergunta, com várias respostas, descrevendo as várias faces da via. As faces normais da
via, sendo que por todos que por ela circulavam eram bastante conhecidas. Contudo, o
autor revelava as faces ocultas, que só as pessoas que viviam o dia a dia da via podiam
mostrar.
148
Assim, o autor iniciava mostrado o lado chique da Rua das Flores, com pessoas
bem arrumadas, o lado político, onde se expressavam as varias opiniões, o lado social,
onde mostrava os pontos de encontros (destacando principalmente a Boca Maldita), mas
sempre dando um tom crítico às descrições. O autor destaca personagens folclóricos que
circulam pela rua, misturados à população que dela se utiliza diariamente, alegrando o seu
movimento.
Por outro lado, também em tom crítico, a reportagem destacava o lado marginal
que na rua existia, onde policiais, trombadinhas, prostitutas, pedintes e outros, circulavam
juntamente com turistas e vendedores ambulantes, todos no mesmo espaço, dando à via
um ar de “mercado persa”.
Com esta mistura, a Rua das Flores, conforme citava a reportagem, mais se
parecia com uma pessoa tendo um ataque epilético. Com isto, comparava toda esta
movimentação da rua, quando os transeuntes sofriam a abordagem de parte dos diversos
vendedores que circulavam pela via, como um “espetáculo de democracia socialista”.
Embora o citado acima mostre uma imagem à Rua das Flores bastante retrograda,
o autor da reportagem citava ainda uma imagem, que intitula de “apocalíptica”, e que falava
sobre as velhas construções históricas existentes na via. Para ele, as edificações, em sua
grande maioria construída internamente em madeira (que é altamente combustível) e com
fiação elétrica antiga, podiam causar grande risco em caso de incêndio, podendo este ser
de grandes proporções. Se um acidente destes acontecesse, provavelmente haveria
grande destruição, pelos diversos empecilhos físicos que se encontravam na rua, como
bancos, floreiras e outros que certamente iriam dificultar a aproximação ao local e o
consequente combate ao fogo por parte dos bombeiros.
A reportagem continuava mostrando a imagem de degradação do espaço público,
citando ainda como exemplo o bondinho que originalmente seria usado pelas crianças,
mas que passou a ser usado por algumas pessoas como local para fazer suas
necessidades fisiológicas.
Esta reportagem termina dizendo que durante o dia a Rua das Flores era usada
pela população que por ela circulava, mas à noite era tomada por prostitutas, gays e
outros, provocando ainda mais a degradação de um espaço público que era referência da
cidade.
A reportagem confirmava o acima citado quando dizia:
Quantos lados tem a Rua das Flores, esta via arterial onde registra-
se a pulsação da cidade?. Tem o lado da rua chique passarela por
onde desfilam os mais diversos modelitos. E o lado político, onde
brotam as mais variadas opiniões, os mais demagógicos discursos,
149
as plataformas exóticas, as revelações de talento, a pousarem no
grande palco dos “showmícios”. Destaca-se também nesta rua, o
lado social, na presença de uma confraria de filósofos do pós-tudo,
ou seja, aposentados e discípulos, que tem uma [...]. Tem não
devemos esquecer o lado marginal, onde se acotovelam policiais
civis, “Cosme-e-damião”, trombadinha, trombadões, prostitutas,
pedintes e menores abandonados em geral. A rua dos turistas
igualmente divide espaço naquele logradouro que também leva jeito
de mercado persa com a ensaiada invasão dos vendedores
ambulantes. (JORNAL DO ESTADO, 1986, s/p.).
Mais adiante a reportagem afirmava quanto a mistura na Rua das Flores:
Esta mistura louca deixa a Rua das Flores com um tique nervoso de
epilético em crise. Não bastassem as abordagens dos vendedores
de bilhete de loteria, de artesanato, de agulheiro, de naftalina, dos
mendigos, os transeuntes apressados correm o risco de choque
com os trombadões e trombadinhas. [...] O apocalíptico é uma sina
que ronda o dia-a-dia desta ilha crivada de velhos edifícios
recheados com madeiras secas, com antigos fios condutores de
eletricidade, formando um verdadeiro barril de pólvora no centro da
cidade. Em caso de incêndio que seria de grande proporção, o
pânico, atropelos e tragédia seriam fatos inevitáveis. Os quiosques,
as floreiras, bancos, bancas, são incômodos obstáculos para uma
ação de emergência do Corpo de Bombeiro. (JORNAL DO
ESTADO, 1986, s/p.).
E continuava a reportagem mostrando a imagem da Rua das Flores, dizendo que
só quem vivia nesta via percebia o lado marginal:
[...] O bondinho projetado para zelar das crianças se tornou uma
espécie de mijadouro improvisado, de marmanjões desocupados.
Na Xavier, onde à tarde desfilam as mais engraçadinhas “gatinhas”,
os mais afoitos “gatinhos”, as pancosas madames, à noite ganha
outro contorno de outra fauna: travestis, prostitutas e “gays” das
mais diversas classes sociais, para delírio das línguas envenenadas
daqueles nem tão ingênuos velhinhos aposentados [...]. Passeia o
pobre, o rico, o sábio, o pseudo-intelectual, a dona de casa, a
mulher da vida, a madame, a executiva, a pedinte, o vagabundo, o
padre, o ladrão, o político, o eleitor, o leitor, e os letreiros das placas
– “compro ouro”, “vote em mim”, como se ali fosse a própria sala de
suas casas. (JORNAL DO ESTADO, 1986, s/p.).
A reportagem acima descrevia a Rua das Flores “por dentro”, observando o quanto
estava degradada com o passar dos anos, pela falta de um policiamento eficaz. Tudo o
que estava apresentado demonstrava a falta de cuidado pelo que um dia fora o cartão
150
postal da cidade e que, pela falta de investimentos, fiscalização e segurança, estava tendo
a sua imagem denegrida. O texto enfatizava que o descaso por parte das autoridades na
fiscalização e segurança do espaço público, acabaria retrocedendo as melhorias ao ponto
da rua se tornar desinteressante até mesmo para o comércio. Dizia que, mesmo se
popularizando, a rua talvez não conseguisse atrativos para sobreviver e se tornaria
decadente, menos a “área social”, que pelo pilar da “Boca Maldita”, com todas estas
décadas de existência, continuaria a movimentar a via.
Finalizando esta década, 1982 a 1992, da forma como exposto nas reportagens
vê-se que a decadência estava se instalando na via. Por um lado o Poder Público não
exercia força em solucionar um problema que se arrastava há muitos anos, mesmo sendo
um problema de saúde pública. Isto porque os comerciantes impediam os reparos no
antigo leito do Rio Ivo, que se transformou em deposito de lixo, e que sob a alegação de
prejuízos financeiros, não permitiam que os reparos fossem feitos. Só meses depois houve
notícias de a prefeitura ter conseguido executar as obras necessárias e assim solucionar o
problema, sem, contudo citar quais tinham sido as negociações. Outro ponto decadente da
via era em relação ao nível de pessoas que transitam por ela, misturadas aos
frequentadores da rua. Dentre os transeuntes encontravam-se vendedores ambulantes,
pedintes, trombadinhas e outros que visivelmente agrediam a paisagem da rua, colocando
em risco a tranquilidade em transitar pela via. Assim, se não houvesse uma política de
segurança com patrulhamento ostensivo, a marginalidade acabaria por se instalar na via o
que levaria ao esvaziamento da via e por consequência a sua decadência.
4.2.3 Década 1992 a 2002
A figura 43 foca a Rua das Flores e seu movimento diário. A via estava bastante
deteriorada e insegura.
Figura 43 – Rua das Flores – Rua XV de Novembro. (1997).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
Autor: Arquivo e Denis F. Neto.
151
A reportagem que foca a figura 43 tem como título “Rua XV implora por
revitalização – Comerciantes reclamam que a Rua das Flores sequer consegue manter a
atração dos turistas”. (GONÇALVES, 1997, s/p.).
De acordo com a reportagem, a Associação dos Lojistas da Rua das Flores e a
Associação Comercial do Paraná (ACP), estavam reivindicando melhorias para a Rua XV
de Novembro e arredores, pois da forma como se encontrava afastaria a população, e esta
seria “carregada” para outros centros comerciais. O Presidente da Associação dos Lojistas
da Rua das Flores apontava diversos problemas, dentre eles a falta de policiamento na
região, a baixa intensidade da iluminação local, a falta de eficácia na fiscalização e aos
poucos atrativos existentes. Isto vinha provocando o esvaziamento de turistas e da própria
população, que sem incentivos não se faziam presente na via, o que vinha enfraquecendo
suas atividades. Se não houvesse uma ação imediata por parte das autoridades, isto
provocaria o abandono do centro da cidade, e consequentemente a decadência que
fatalmente provocaria a “falência” deste.
De acordo com o presidente da Associação dos lojistas da Rua das Flores,
Jacques Rigler, “Os turistas chegam curiosos para conhecer a Rua das Flores e o que
encontram?, Uma rua comum sem qualquer diferencial”. (GONÇALVES, 1997, s/p.).
Diante disto ele sugeria que fossem implantadas mais floreiras para recompor o
aspecto da via, como também uma central de informações turísticas que podia ser no
Bondinho da Rua das Flores, e mais, que a linha de ônibus turístico passasse próximo da
via, de forma a facilitar o acesso dos turistas.
Com isto os lojistas queriam ter condições de possibilitar condições de
enfrentamentos aos shoppings centers, visto que estes ofereciam muitas facilidades, que
não eram encontradas na Rua das Flores.
No entender do presidente da Associação dos lojistas, a Rua XV de Novembro era
pouco atrativa, principalmente à noite, pelo seu horário de funcionamento, que não
passava das 19:00 horas.
Outro fator que contribuía para não atrair as pessoas era a falta das vitrines
iluminadas à noite. Os lojistas alegaram que era necessário o fechamento das vitrines, pela
falta de segurança na via, provocada ainda pela iluminação deficiente em alguns locais.
Cita como exemplo a Praça Osório, que pelo grande número de árvores existentes impedia
o espraiamento da iluminação, tornando o local bastante escuro e perigo.
O presidente da Associação dos lojistas reclamava ainda quanto à ineficiência da
fiscalização, instituída por parte das autoridades, onde os problemas existentes na via
levavam muito tempo, de semanas ou meses para ter alguma solução. A exemplo disto ele
152
citava que os buracos na via ficavam muito tempo aguardando por reparos, que só
aconteciam, em alguns casos, meses depois de comunicados.
Outro fato que afastava muitas pessoas era a falta de segurança no espaço
público, ou via, pela ausência de um policiamento efetivo, haja vista que diariamente
ocorrem diversos casos de furtos o outros tipos de ocorrências. A exemplo deste fato ele
citava que aconteceu um incêndio criminoso na “Boca do Brilho” – conjunto de cadeiras de
engraxates, localizadas na “Boca Maldita”, ao lado de um módulo ou posto policial, sem
que ninguém visse nada, o que era bastante preocupante.
A reportagem referendava o acima exposto, quando citava:
A associação dos Lojistas da Rua das Flores e a Associação
Comercial do Paraná (ACP) estão reivindicando à Prefeitura de
Curitiba melhorias para a Rua XV de Novembro e suas imediações.
As condições ambientais do centro da cidade, aliadas à dispersão
do público, frente às novas opções de comércio e lazer, estão
fazendo com que diminua a frequência à Rua das Flores e áreas
próximas.
São diversos os problemas apontados pelo Presidente da
Associação dos Lojistas da Rua das Flores. Jacques Rigler. Entre
eles a falta de policiamento e de iluminação, ausência de
fiscalização mais eficaz e inexistência de atrativos que levem os
turistas e a própria população a viver o centro da cidade. “Se não
houver uma intervenção imediata, o centro de Curitiba ficará
abandonado como o de outras metrópoles”, adverte. Segundo ele a
Rua das Flores não faz jus ao nome. “Os turistas chegam curiosos
para conhecer a Rua das Flores e o que encontram? Uma rua
comum, sem qualquer diferencial”, diz. Para que seja caracterizada
novamente, ele sugere que sejam instaladas mais floreiras e que
estejam sempre cuidadas pelos jardineiros da prefeitura. “Até
mesmo os lojistas poderiam participar de um programa para
colocação de folhagens em suas fachadas, compondo um cenário
bonito e agradável”, diz.
A intenção dos lojistas da Rua das Flores é transformar a XV num
shopping center linear, com atrativos e condições que possibilitem a
concorrência com os shoppings centers convencionais. [...] ...torna
a Rua XV menos atrativa aos consumidores, é o horário de
funcionamento das lojas, com fechamento às 19h. Ele considera
negativa a falta de exposição das vitrines durante à noite. Os lojistas
não sentem segurança para deixar as vitrines iluminadas, mas por
causa disso perdem a oportunidade de atrair a atenção das
pessoas. “As vitrines abertas e iluminadas levariam um público
diferente à XV provocando maior circulação noturna”, explica.
(GONÇALVES, 1997, s/p.).
153
Mais adiante, Rigler registrava quanto aos problemas da Rua XV:
[...] existem pontos isolados que ainda necessitam a instalação de
mais postes de luz. É o caso da Praça Osório, por exemplo, que fica
muito escura devido à grande quantidade de árvores. Rigler queixa-
se da falta de uma fiscalização mais eficiente por parte da
prefeitura. “Os fiscais estão nas ruas, mas não resolvem os
problemas existentes”, reclama. Como exemplo ele cita a existência
de buracos nas calçadas – que passam semanas ou meses sem
conserto – ou [...].(GONÇALVES, 1997, s/p.).
Outro ponto da reportagem que confirmava a queixa de Rigler era:
A falta de policiamento efetivo é outra causa do afastamento de
grande parte das pessoas que frequentavam a Rua das Flores.
Além dos furtos que ocorrem diariamente no calçadão,
recentemente a Boca do Brilho – conjunto de cadeiras de
engraxates localizada na Boca Maldita – foi incendiada
criminosamente. Rigle salienta que isto ocorreu ao lado de um
módulo policial, sem que houvesse qualquer repressão.
(GONÇALVES, 1997, s/p.).
Resumidamente, Jacques Rigler cobrava maior atenção por parte das autoridades
municipais no sentido de promover o espaço público, dando a este melhor infraestrutura e
segurança, sem o que ele estaria fadado à deterioração.
A falta de atenção que acontecia vinha afastando os turistas e até mesmo a
própria população, que diante dos atrativos oferecidos por outros centros comerciais,
deixavam de frequentar o centro da cidade. O próprio senhor Rigler dizia que: “Se não
houver uma intervenção imediata, o centro de Curitiba ficará abandonado como o de outras
metrópoles”. Assim temos como conclusão, a instabilidade da Rua das Flores, criada para
ser ponto de referência, mas que pelo abandono e falta de incentivos acabaria em um nível
de degradação, que iria confirmar a previsão citada acima pelo próprio senhor Rigler,
quando diz que o centro de Curitiba ficaria abandonado.
A figura 44 mostra a Rua das flores, seu comércio se readaptando à nova realidade
da via.
154
Figura 44 – Mostra a Rua das Flores e o seu comércio. (1998).
Acervo: Instituto de Pesquisa e Planejamento de Curitiba (IPPUC).
A reportagem foca a Rua das Flores tem como título “A Rua das Flores não é mais
a mesma – Ela perdeu até a abundância de flores, que deram o nome de um dos mais
conhecidos cartões postais da Cidade”. A reportagem iniciava citando que o projeto de
revitalização anunciado não seria levado a cabo antes do mês de janeiro de 1999. A
demora causava angustia à população e comerciantes locais, citando ainda que o local
onde as pessoas se encontravam já não era mais o mesmo. Este tinha virado ponto fixo de
marginais e tinha perdido grande parte do movimento para os shoppings, como também as
flores que existiam no local estavam desaparecendo.
O empresário Jacques Rigler previa um quadro bastante pessimista para a Rua
das Flores, e citava: “Se nada for feito a Rua das Flores vai virar o centro velho de São
Paulo, abandonado à marginalidade”. Dizia ainda que “a falta de segurança, iluminação e
liberdade de horário para o comércio funcionar até mais tarde, concorrendo em igualdade
de condições com os shoppings centers”, (KLENK, 1998 s/p.), o que complicava ainda
mais a situação do comércio da via. Ele afirmava que o abandono da via estava provocado
o fechamento de muitas lojas e que os comerciantes estavam desanimados.
A Rua das Flores perdeu varias lojas, que fecharam, e com isto foi-se também a
sua identidade de ponto de encontro. Nem tudo deveria ser atribuído ao comércio existente
na via, mas sim à conjuntura econômica do país, que atravessa dificuldades diversas.
Mesmo com o aumento do fluxo de pessoas, o volume de vendas do comércio caiu
bastante, o que foi atribuído à crise econômica, inviabilizando diversas lojas. Esta queixa
partia de diversos comerciantes locais, que afirmavam que as vendas caíram no entorno de
70%, e para eles estava se tornando difícil manter seus negócios com um rendimento tão
155
baixo. Alguns comerciantes afirmavam ainda que estavam pagando para trabalhar e que
tinha saudades da época em que o movimento nas lojas era alto, quando tinham que
passar os pacotes por sobre as cabeças dos clientes para atender a todos os
consumidores.
Para alguns lojistas, um dos vilões deste problema eram os shoppings centers, que
ofereciam segurança e estacionamento, o que a Rua das Flores não conseguia oferecer. A
falta de segurança era tamanha que algumas operadoras de turismo, alertavam seus
clientes quanto à falta de segurança existente no local, principalmente à noite quando não
havia policiamento da via.
De acordo com as estatísticas da Policia Militar, no mês de maio daquele ano,
1998, aconteceram 22 delitos na Rua XV de Novembro, e 29 na região da Praça Osório.
Mesmo assim os frequentadores e comerciantes da via, afirmavam que o número de
assaltos era muito maior, dezenas aconteciam diariamente. Os frequentadores da Boca
Maldita eram em geral aposentados e idosos, sendo estes os mais visados e os principais
alvos dos marginais devido a sua idade avançada.
A reportagem registrava a fala do jornalista Luiz Geraldo Mazza, frequentador da
Boca Maldita, que afirmava que isto se dava por causa da mudança da função dos edifícios
na região central. Muitos antes eram residenciais e, com a saída dos moradores, se
transformaram em comerciais, provocando grandes mudanças na via, deteriorando-a de
forma a não cumprir o papel cultural para que tinha sido concebida. Com isto, as citadas
moradias transformadas em imóveis comerciais, deram outro tipo de movimentação à via,
dando margem ao crescimento da marginalidade.
Nesta mesma linha, a reportagem citava também a fala do arquiteto Rafael Dely,
que nesta época, ano de 1998, ocupava o cargo de Secretário Estadual da Habitação. Ele
dizia que o centro da cidade não era composto só de valores objetivos, quando criticava o
fechamento de um tradicional ponto de encontro da população, o Café Alvorada. Mas
também de valores subjetivos que deviam ser observados, pois estes formavam um
conjunto de valores importantes que promoviam uma forma de fixar as pessoas na cidade.
E mais, dizia que era necessário, no caso da Rua das Flores, evitar que o centro da cidade
fosse transformado em um local frequentado apenas por pessoas de certa classe social,
mas que fosse aberto para todas as classes. Para isto era preciso que fossem criadas
atrações locais de maneira a atrair todas as pessoas.
Continuava, afirmando que em Curitiba, com a instalação de shoppings centers,
onde estes oferecem muitas comodidades, que com certeza haveria certa seletividade de
frequentadores do centro da cidade, o que atrapalharia em muito a Rua das Flores. Isto
imporia à via uma “popularização”, inclusive porque havia proximidade dos terminais de
156
ônibus. Isso provocaria um nivelamento social, principalmente com frequentadores de
classes de baixa renda. E ia mais adiante, dizendo que o problema se tornaria mais sério
pela falta de locais de estacionamento no centro da cidade, imposto com a política adotada
pelo poder público como forma de restringir o acesso de veículos ao centro, no que ele era
contra. Ele afirmava que a restrição a carros certamente concentraria no centro da cidade
um nível de pessoas de baixa renda, cujo acesso principal era o transporte público coletivo
e isto provocaria a decadência da Rua das Flores.
A reportagem em foco reafirmava o acima citado quando dizia:
O projeto de revitalização da Rua das Flores, anunciado pela
Prefeitura para setembro do ano passado e depois adiado para
junho deste ano, não vai sair do papel antes de janeiro de 1999. A
demora é mais um motivo de angústia para comerciantes e
frequentadores da rua que já foi o principal cartão postal de Curitiba.
Embora ainda seja um dos pontos comerciais mais importantes da
cidade e local de encontro para muita gente, ela já não e a mesma
que nos anos 70, ganhou notoriedade como o primeiro calçadão do
País. Virou ponto fixo de marginais, perdeu boa parte do movimento
comercial para os shoppings e sequer tem mais a abundância de
flores que lhe deram o nome. Dono de uma loja McDonald’s na Rua
das Flores e líder da campanha pela revitalização do local, o
empresário Jacques Rigler desenha um quadro feio e pessimista.
“Se nada for feito, a Rua das Flores vai virar um centro velho de São
Paulo, abandonada à marginalidade, Vai Morrer”, diz. Rigler diz que
a falta de segurança, iluminação e liberdade de horário para o
comércio funcionar até mais tarde, concorrendo em igualdade de
condições com shoppings centers. Segundo ele o “abandono” da
Rua das Flores tem provocado o fechamento de várias lojas e o
desânimo nos comerciantes que permanecem. (KLENK, 1998, s/p.).
Mais adiante a reportagem citava:
[...] Mas é claro que nem tudo pode ser atribuído a peculiaridades da
rua, sujeita às intempéries da conjuntura econômica como qualquer
outra área comercial. Ontem, por exemplo, um shopping aberto em
novembro de 1996 (o XV Street) encerrou as atividades. “O
movimento de pessoas até aumentou nos últimos meses, mas o
volume de vendas caiu muito, inviabilizando o negócio”, disse [...]. A
mesma queixa pode ser ouvida da maioria dos comerciantes. “O
movimento caiu 70% desde o início do Plano Real e reduzimos o
número de vendedores de 18 para seis” diz Jamil Tacla,
imigrante...[...]. “Estou pagando para trabalhar”, ecoa Elvira Ribas
Dittrich, dona de uma minúscula loja de acessórios com 12 metros
quadrados. Há 22 anos no mesmo local – o térreo da
tradicionalíssima Foto Brasil -, ela diz ter saudades dos velhos
Natais em que “precisava passar pacotes por cima das cabeças dos
clientes, de tão lotada que a loja ficava”. [...] Para ao lojistas da Rua
157
das Flores, entre os vilões responsáveis pela redução no movimento
comercial estão os shoppings, que oferecem estacionamento
gratuito ou mais barato e, acima de tudo, um item em falta no
centro: a segurança. “A Rua das Flores ainda é ponto obrigatório
para turistas, mas sempre alertamos que à noite não há
policiamento e ela se torna perigosa”, diz Camila Furillo Fernandes,
gerente de operações de uma empresa de turismo receptivo. As
estatísticas da Polícia Militar apontam a ocorrência, em maio, 22
delitos na Rua XV e 29 na Praça Osório. Mas comerciantes e
frequentadores assíduos da rua dizem que o número de furtos e
outros delitos pode ser contados às dezenas diariamente. “A fauna
que compõe a Boca Maldita, especialmente, é formada basicamente
de aposentados, que representam um potencial muito grande de
atração da marginalidade”, diz o jornalista Luiz Geraldo Mazza,
frequentador quase diário da Boca há mais de 40 anos. Para
Mazza, a Rua das Flores “segue a tendência de decadência dos
centros urbanos, que só pode ser revertida com um trabalho
educativo, de prevenção”. Ele lembra que até mesmo a
característica dos moradores do centro mudou, com a saída das
famílias e a mudança de função dos edifícios. “O próprio calçadão,
que foi concebido para consolidar um tipo de vida cultural, mostrou-
se incapaz de cumprir esse papel”, diz. (KLENK, 1998, s/p.).
Aprofundando a informação sobre as falas do arquiteto Rafael Dely, dizia:
O arquiteto Rafael Dely, hoje secretário estadual da Habitação,
também enfatiza a importância dos “valores subjetivos” da
sociedade. Dely critica o fim de cafés tradicionais como o Alvorada,
e acha que o poder público poderia ter interferido no sentido de
contribuir para mantê-lo aberto. “O centro não é so um conjunto de
valores objetivos, como transporte. Há valores subjetivos que
precisam ser mantidos, porque são importantes como ancoragem
das pessoas na cidade”, defende. Para ele, é preciso evitar que o
centro da cidade se transforme numa área para uma só faixa de
renda e isso passa pela criação de novas atrações. Mas a
comodidade oferecida pelos shoppings parece ter deflagrado esse
processo em Curitiba. O comércio da rua das Flores, por exemplo,
volta-se cada vez mais para uma faixa de renda inferior, cujo fluxo é
impulsionado pela localização dos terminais de ônibus. Por isso,
Dely diz ser totalmente contrário à ideia frequentemente aventada,
de restringir o acesso de veículos ao centro. “A manutenção dos
estacionamentos é uma forma de não destinar o centro a uma só
faixa de renda, o que seria condenar áreas como a Rua das Flores
à deterioração”, afirma. (KLENK, 1998, s/p.).
Todo o acima exposto mostrava o descaso das autoridades, deixando a Rua das
Flores abandonada, mesmo sendo uma artéria de importância comercial e de lazer. Não
havia preocupação em mantê-la, deixando a crise se instalar na via a ponto dos
comerciantes e frequentadores em uma grita geral, clamarem por soluções mais rápidas.
158
Mesmo assim, os responsáveis mantinham a passos curtos todo um processo que poderia
reativá-la.
Assim ao contrário das expectativas, permitiam a degradação da via e a instalação
da falta de segurança, pelo desnorteamento de prioridades em reativa-la. Com isto abriam
as fronteiras para a queda do comércio e a consequente decadência da via, que já foi o
cartão postal da cidade, pelo descaso como era tratada. Desta forma, fatalmente a
degradação se instalaria e a recuperação teria custos muito mais elevados. Ao passo que
se fosse dada a devida atenção, por ser uma via comercial, histórica e turística, e a
recuperação acontecesse de forma constante, os custos seriam mais baixos e a via se
manteria dentro de padrões para os quais foi criada.
A figura 45 mostra a Rua XV de Novembro, onde algumas lojas tradicionais, como
a antiga Confeitaria Schaffer, estavam encerrando suas atividades.
Figura 45 – Rua XV de Novembro, antiga loja da Confeitaria Schaffer. (2002).
Acervo: Jornal Paraná On Line – Coletânea Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
A reportagem em foco que referenda a figura 45 tem como título “Taxas altas
causam abre e fecha de boas lojas”. (VEGAS, 2002, s/p.).
A reportagem contava que, devido às altas taxas do Imposto Predial e Territorial
Urbano (IPTU) dos imóveis da Rua das Flores, era inevitável o fechamento de algumas
lojas tradicionais da cidade. E mais, de acordo com a reportagem, o alto valor do IPTU
aliado aos constantes atos de violência vinham dificultando a permanência de alguns
comerciante na via, fazendo com que muitos deles chegassem a pensar em se mudar para
outras locais.
159
O responsável pela loja “Omar Calçados”, o senhor Valdecir Batista Veloso, dizia
que se o imóvel não fosse tombado pelo Patrimônio Histórico, era difícil conseguir pagar os
impostos. Por ser sua empresa de médio porte, ele ainda conseguia se manter, contudo,
pequenos empresários tinham grandes dificuldades. Nesta linha, a reportagem citava o
senhor Roberto Bresser Cueto, dono da lanchonete Mister XV, que, com uma pequena loja,
dizia ter dificuldades para se manter e que as receitas não eram compatíveis com as
despesas geradas pelo comércio. Dizia ainda que já tinha pensado em alugar o ponto
comercial e ir embora, pois estava difícil sobreviver e que os clientes estavam se afastando
cada vez mais da Rua das Flores.
A reportagem citava ainda que os empresários alegavam também que o imposto
pago não era revertido em benefícios para a via, haja vista a carência em que esta se
encontrava. Apontavam ainda que dentre tudo o que faltava na via, a principal delas era a
falta de policiamento, onde o próprio dono da lanchonete Mister XV dizia que já tivera a sua
loja arrombada e saqueada. E mais, o dono da Mister XV dizia à reportagem também que
já houvera arrastão na via, pelo que ficou perplexo, dizendo ainda que pagavam pelo IPTU
um valor muito alto e não tinham sequer o mínimo de segurança.
Segundo a reportagem, a alegação da Prefeitura, era de que o valor do IPTU pago
seguia uma tabela já prevista e que era aplicada para toda a cidade e que apenas os
imóveis tombados se prevaleciam de descontos.
A reportagem em tela reafirmava o acima citado quando dizia:
A falta de lojas tradicionais e o frequente abre e fecha de
estabelecimentos na Rua XV, apontados pelos comerciantes mais
antigos, são justificados pelos lojistas mais novos. Além da
violência, eles revelam que os altos valores cobrados pelo IPTU
dificultam a permanência dos comerciantes e fazem com que muitos
comecem a pensar em se mudar. Os proprietários de pontos que
não foram tombados pelo Patrimônio Histórico são os que mais
sofrem e pagam caro. “Tenho uma propriedade de quase 300
metros quadrados e tenho pago cerca de R$ 12 mil de IPTU. Acho
um absurdo!”, comenta o responsável pela Omar Calçados, Valdecir
Batista Veloso. “A sorte é que a minha empresa é de médio porte e
ainda consigo pagar o imposto. Porem, pequenos empresários
sobrevivem com muitas dificuldades.” O dono da lanchonete Mister
XV, José Roberto Bresser Cueto, confirma a informação. Ele tem
um estabelecimento pequeno, de 35 metros quadrados, e revela ter
dificuldades para se manter. “Minha receita não é compatível com as
minhas despesas”, declara. “Já pensei em alugar o ponto, pois noto
que os clientes estão se afastando cada vez mais da XV. [...]
Segundo os empresários os benefícios gerados pelo pagamento do
IPTU também não são percebidos. “Falta uma série de coisas na
rua. A principal delas é o policiamento. Já arrebentaram as portas
de meu estabelecimento e roubaram mercadorias diversas vezes.
160
Há alguns dias, tive notícias de que houve um arrastão na XV e
fiquei perplexo. Pagamos uma nota de IPTU e não temos sequer o
mínimo, que é segurança para trabalhar”, conta José. (VEGAS,
2002, s/p.).
Na sequência a reportagem afirmava o citado acima quanto ao valor do IPTU: A
Prefeitura de Curitiba, através de sua assessoria de imprensa, diz que o valor do IPTU na
Rua das Flores segue a tabela de cálculos válida em toda a cidade. Apenas os prédios
históricos, já tombados têm descontos. (VEGAS, 2002, s/p.).
O citado acima mostra as dificuldades pelas quais passava o comércio da Rua XV
de Novembro, muitos comerciantes, principalmente os mais antigos e tradicionais da
cidade, vinham enfrentando crise diante do baixo faturamento de suas lojas. Os motivos
eram variados, mas como citado na reportagem, o movimento de pedestres na via vinha
caindo, devido ao descaso das autoridades principalmente quanto à segurança, que era
bastante fragilizada pela falta de um policiamento mais eficaz, que promovesse realmente
a segurança da via. Isto aliado às altas taxas de impostos cobrados, mais especificamente
no caso do IPTU, acabava por inviabilizar o comércio provocando o fechamento de
algumas lojas, que diante do baixo fluxo de pessoas, tinham o seu faturamento
prejudicado.
Finalizando esta década, 1992 a 2002, diante dos fatos acima relatados, por se
tratar de uma via exclusiva para pedestres, como também ponto de atração turística, a Rua
das Flores deveria ter maior atenção por parte das autoridades. Pois a continuar neste
ritmo, sem uma política definida que desse suporte à sua manutenção, a via tenderia a
uma mudança de perfil, principalmente comercial que se tornaria inconsistente. Isto
provocaria degradação da via que outrora foi cartão postal da cidade.
4.2.4 Década 2002 a 2012
A figura 46 mostra a Rua XV de Novembro, Rua das Flores, ressaltando a imagem
do senhor José Ghignone, em primeiro plano e mais no alto, administrador da Livraria
Ghignone.
161
Figura 46 – Rua das Flores, em primeiro plano o senhor José Ghignone. (2003).
Acervo: Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do estado do Paraná.
Autor: Luiz Augusto Costa.
A reportagem que motivo da figura 46 tem como título “Nova Ordem no Calçadão
– Para frequentadores e comerciantes tradicionais da Rua XV, o centro de Curitiba mudou
para pior”. (PELLANDA, 2003, s/p.).
A reportagem que refenda a figura acima citava que o empresário José Ghignone,
viu em 1930 o então Presidente da República Getúlio Vargas passar em cortejo na Rua
XV, indo até o Palácio Garcez, localizado na esquina das ruas XV de Novembro e
Voluntários da Pátria, onde foi colocada a “bandeira vermelha da Revolução”. Dizia o
empresário que esta era a primeira lembrança que lhe vinha à cabeça quando relembra a
Rua XV de muitos anos atrás, e onde se atém para justificar o radicalismo das opiniões em
relação à degradação da via.
Para Ghignone não existia a Rua das Flores, prefere dizer que é a “Rua do Lixo”,
demonstrando a tristeza de que a via não tinha mais a importância política, comercial e
social de épocas anteriores. E citava que a via apresentou nos últimos anos, até 2003, ano
da reportagem em tela, uma grande desvalorização imobiliária à ponto de que para se
precaver já tinha vendido da propriedade. Com isto, transferiu o Café que mantinha na via
para outro local da cidade, e que pelo descaso da Prefeitura, estava considerando fechar
até a loja matriz da livraria que levava o seu sobrenome. Citava que os problemas
existentes na via eram sempre os mesmos e que já foram listados por antigos
comerciantes, como a falta de segurança, a invasão dos vendedores ambulantes e dos
artistas populares. Havia ainda o surgimento dos bailões, o fechamento dos cinemas, como
também os shoppings nos bairros, além do comércio de lojas conhecidas como “de 1,99”,
162
tudo isto ligado a grande urbanização da cidade nas duas ultimas décadas, aliado ao
crescimento demográfico trouxe para a cidade o caos.
Isto modificou em muito o visual do centro da cidade, tirando as famílias que
vinham passear no centro, mesmo durante a noite, onde as vitrines das lojas ficavam
abertas e iluminadas. Quando da entrevista, só havia portas de ferro nas lojas e vitrines
fechadas.
A reportagem citava ainda o senhor Airton David, proprietário da loja Companhia
da Calça, que estava estabelecido na Rua XV desde 1975. Ele dizia que até 1983 nenhum
vidro das lojas da Rua XV havia sido quebrado por vândalos, mesmo durante a noite. Nos
últimos anos este tipo de vandalismo tinha virado rotina nas madrugadas. A criminalidade
havia se instalado na via. Dizia ainda que algumas providências deviam tomadas para que
as lojas tradicionais da cidade não fechassem suas portas.
Para Ghignone o caso da Confeitaria das Famílias era uma situação à parte,
quando se referia à falta de movimento desta loja em particular, pois conforme citava, os
principais consumidores de doces eram as mulheres. Estas não frequentavam mais o local
por medo de assaltos do assédio de artistas de rua mais salientes e por causa da sujeira
espalhada por todo o calçamento da via. O senhor Ghignone questionava os artistas de
rua, dizendo não saber se é arte imitar um gato apanhando, ou ainda ter debaixo da suas
janela uma dupla caipira cantando mal. Neste ponto o senhor José Ghignone afirmava, no
que era acompanhado pelo senhor Airton David, que se juntasse todos os artistas de rua
que se apresenta na Boca Maldita, como palhaços, músicos, estátuas vivas e outros, não
chegariam a valer a “Gilda”, um travesti folclórico que andava pela Rua das Flores
alegrando as pessoas com suas brincadeiras e dando vida à via. Na continuidade da
reportagem, Ghignone citava ainda diversas situações que mostravam a Rua das Flores
em franca decadência. Indignado, dizia que a entrada da Galeria Minerva tinha virado
ponto de encontro e mictório dos catadores de papel. E mais, insatisfeito com o que via na
Rua das Flores, dizia radical e ironicamente, que seria melhor retirar as agências bancárias
da via e reabri-la ao tráfego de veículos, pois assim acabaria a balburdia que se
generalizou em toda a via.
A reportagem em foco confirmava o acima descrito, quando citava:
Em 1930, O EMPRESÁRIO PARANAENSE JOSÉ GHIGNONE viu
Getúlio Vargas passar, pela Rua XV de Novembro, em cortejo
popular até o Palácio Garcez. Naquele edifício, ele conta, foi
pendurada a “bandeira vermelha da revolução”. É a primeira
lembrança que lhe vem à cabeça quando busca justificar o
radicalismo de suas opiniões em relação à “deterioração” da
principal via do centro de Curitiba. Para Ghignone, não há mais Rua
163
das Flores: prefere chamá-la de Rua do Lixo. Como evidência de
que a região já não apresenta sequer resquícios da importância
política, comercial e social de outras épocas, ele cita a
desvalorização do imóvel onde funciona a tradicional livraria que
leva o seu sobrenome. [...] O café que funcionava no local foi
transferido para a filial da Rua Comendador Araujo, no Batel, e
Ghignone, decepcionado com o que considera um descaso da
prefeitura para com o patrimônio histórico, não descarta a
possibilidade de fechar definitivamente a matriz. A relação de
problemas por que passam a Rua XV e o centro da cidade é
praticamente a mesma quando listada pelos comerciantes mais
antigos do lugar. A falta de segurança, o acumulo de sujeira, a
invasão dos vendedores ambulantes e dos artistas populares, a
instalação das estações-tubo ao lado do Correio, o surgimento de
bailões, o fechamento das velhas salas de cinema e o aumento do
número de shoppings nos bairros e de complexos comerciais de R$
1,99 no Calçadão. [...] A cara do Centro, portanto, é outra. As
famílias que costumavam passear pela rua, mesmo à noite, quando
as vitrines ainda ficavam abertas e iluminadas, sumiram. A onda de
instalações de portas de ferro nas lojas teria acontecido somente a
partir da metade dos anos 80. Quem conta a história é Airton David,
proprietário da Companhia da Calça.David, que trabalha na XV
desde 1975, afirma que, até 83, nunca um vidro fora estilhaçado
durante a madrugada. Nos anos seguintes, porem, a quebradeira
tornou-se rotina. A criminalidade, afinal, seria um sinal dos
tempos...[...]. (PELLANDA, 2003, s/p.).
Mais adiante a reportagem citava a fala do senhor José Ghignone, quanto ao
movimento nas confeitarias da região, que dizia:
Em todo caso, a Confeitaria das Famílias resiste há quase seis
décadas. A Schaffer não teve a mesma sorte. Ghignone expõe uma
teoria muito pessoal a respeito da diminuição violenta da clientela
das casas de doces no Centro. “As mulheres não vão mais para a
Rua XV”, afirma. E elas seriam as principais consumidoras de
açúcar. Entre os vários motivos da evasão feminina, segundo ele,
estaria o medo dos punguistas, o assédio dos artistas mais
“salientes” e a sujeira amontoada pelas esquinas ou espalhada pelo
calçamento. “As mulheres andam abraçadas com as bolsas e são
perseguidas pelos artistas”, reclama. Aliás, não se vê, pela rua,
talento artístico algum. “É arte imitar um gato apanhando?
Experimente trabalhar o dia inteiro com uma dupla de caipiras
cantando mal debaixo da sua janela”. Nesse ponto, a indisposição
de Ghignone é corroborada pela de David. Ele garante que todos os
artistas da Boca Maldita juntos – palhaços, músicos e estátuas vivas
– não valem uma Gilda, antigo e folclórico travesti que reinava na
Rua das Flores. “Aquela, sim, alegrava o pessoal”, lembra Airton.
[...] Além dos filipeteiros, ele se queixa dos catadores de papel.
“Ficam 12 horas estacionados em frente à Casa China. Fizeram da
entrada da Galeria Minerva o seu ponto de encontro e o se
mictório”, acusa. (PELLANDA, 2003, s/p.).
164
A reportagem acima mostra a insatisfação de alguns curitibanos à paisagem que
se instalou na Rua das Flores. O comércio se adaptou à realidade financeira do nível de
renda da população que transita pela via, onde se instalaram lojas populares, até lojas
denominadas de R$ 1,99, de forma a atender os transeuntes. Grandes lojas e confeitarias
fecharam as portas, encerrando suas atividades por falta de clientes sob alegações
diversas sendo a principal delas a falta de segurança, que afastou grande parte dos
consumidores, provocando queda nas vendas. A falta de segurança e a sujeira afastavam
as pessoas da via, e estas pessoas com poder aquisitivo melhor, procuram o conforto e a
segurança dos shoppings para realizar suas compras.
O processo de massificação transformou a rua de tal maneira que mais se parece
com um mercado popular, onde as pessoas que transitavam pela via, a todo o momento
era, interpeladas por vendedores ambulantes e panfleteiros, aliado ainda à falta de
segurança e fiscalização acabando com a tranquilidade do local. Diante deste processo de
massificação, o propósito inicial da rua acabou sendo distorcido a ponto de promover a
degradação e o consequente retrocesso, de uma rua histórica e ponto turístico da cidade.
A figura 47 mostra as grelhas de escoamento de águas pluviais por onde exala o
mau cheiro existente na rede de galerias subterrânea. As grelhas estão cobertas por
plásticos na tentativa de diminuir o desconforto das pessoas que transitam pela Rua das
Flores.
Figura 47 – Mostra as grelhas de escoamento das águas pluviais na Rua das Flores.
(2005).
Acervo: Jornal O Estado do Paraná – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do
Paraná.
Autor: Valquir Aureliano.
165
A reportagem que foca a figura 47 traz como título “Comerciantes reclamam do
mau cheiro na Rua XV”. (RECH, 2005, p. 11)
De acordo com a reportagem, comerciantes da Rua das Flores, no trecho entre as
ruas Barão do Rio Branco e Presidente Faria, há aproximadamente oito meses vinham
sentindo o mau cheiro na via, exalado pelas grelhas de escoamento das águas pluviais.
O senhor Elias Massabki, dono do Café Haiti, situado no trecho citado da via, dizia
ser um odor desagradável de dejetos que era insuportável. O mau cheiro que saía da
galeria era insuportável e afastava os clientes diz o comerciante, e que um turista o
indagou pensando vir do seu estabelecimento, ao que ele explicara que era da rua,
lamentando o acontecido.
Já o gerente de uma lanchonete situada próxima, o senhor Luciano Mendes, falava
o mesmo que havia sido dito pelo senhor Elias, e mais, que isto vinha afastando os clientes
da sua lanchonete, e que os mesmos procuravam outros lugares em busca de
alimentação.
Outra declaração era a do senhor Adélio Vieira, morador no 17º andar do Edifício
Lustosa, que dizia sentir o mau cheiro lá em cima e que quando chovia o mau cheiro ficava
insuportável de modo que era preciso fechar as janelas.
Em uma tentativa de minorar o problema, os comerciantes colocaram sacos
plásticos sobre as grelhas, mas isso de pouco ou quase nada adiantava. Isto vinha
provocando que comerciantes e moradores dos edifícios vizinhos formalizem queixas à
Prefeitura e à concessionária responsável pela rede de coleta de esgoto público, contudo o
problema não era solucionado.
As respostas obtidas junto aos órgãos de saneamento eram de que existiam
imóveis na via que estavam escoando o esgoto domiciliar na rede de coleta de águas
pluviais, mas que já tinham sido notificados e que até então ainda não tinham regularizado
tais ligações. Assim os comerciantes e moradores da região eram obrigados a conviver
com o mau cheiro enquanto aguardavam a solução do problema. Em alguns casos, a
Prefeitura, responsável pelo escoamento das águas pluviais, se utilizava de medidas legais
para que os responsáveis pelas ligações clandestinas de esgoto providenciassem os
devidos reparos.
Em muitos casos, a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná),
identificava os responsáveis usando corantes colocados na rede de esgoto dos imóveis.
Assim, identificavam os imóveis onde havia ligações clandestinas, notificavam os
proprietários a regularizassem as tais ligações, mas isto demandava algum tempo. No caso
a concessionária que gerenciava a rede de coleta de esgoto, se comprometera a
regularizar as tais ligações, e por outro lado iria verificar também se haveria algum
166
rompimento na rede pública de coleta do esgoto, mas que se comprometia a regularizar o
problema com a maior brevidade possível.
A reportagem ratificava o acima relatado quando citando:
A Rua XV, um dos cartões postais de Curitiba, é conhecida como
Rua das Flores. Entretanto, o mau cheiro das galerias de água no
trecho entre as ruas Barão do Rio Branco e Presidente Faria, está
bem longe do agradável perfume floral. Comerciantes do trecho
começaram a sentir o odor desagradável de dejetos orgânicos há
aproximadamente oito meses. “Tenho comércio aqui há 35 anos e
nunca tivemos esse problema. Agora, o cheiro fica insuportável pela
manhã e no final da tarde, especialmente nos dias de chuva”, diz o
comerciante Elias Massabki, proprietário do Café Haiti. O fedor tem
afastado a freguesia, que reclama muito. [...] E não são apenas os
comerciantes que reclamam do mau cheiro. No Edifício Lustosa,
Adélio Vieira, afirma que o mau cheiro chega até o 17º andar. “Se
chove fica insuportável. A gente até fecha as janelas”. Para
amenizar o problema, os comerciantes providenciaram sacos
plásticos que são colocados sob a grelha de ferro, tentando impedir
o mau cheiro. Mesmo assim o problema persiste. [...] Segundo
Marisa Cariglioni da Sanepar, há naquela região 27 imóveis com
redes de esgoto irregulares, já notificados. “O problema é que
muitos proprietários demoram para regularizar a situação e muitas
vezes, precisamos encaminhar o caso à Prefeitura para que sejam
tomadas medidas legais”, explica. Geralmente, as pessoas fazem as
redes clandestinas para fugir das cobranças das taxas cobradas
pela companhia de saneamento do Paraná. São desmascaradas
com testes da Sanepar, “colocamos corantes nos vasos sanitários e
se esse corante não aparece na rede regular, é constatada a
irregularidade”. Prontamente o imóvel é notificado. De antemão, a
Sanepar se compromete a verificar e sanar o problema se o mesmo
for relacionado às redes clandestinas. “Como o comerciante diz que
o problema se intensificou nos últimos meses, pode ter ocorrido
quebra em alguma rede nossa. Vamos investigar...[...]. (RECH,
2005, p. 11).
A reportagem acima relata um problema pontual, mas que acontece bastante,
principalmente nos grandes centros urbanos, pelo falta de um programa de fiscalização
constante. Estes programas nos últimos anos vêm se intensificando em varias cidades,
inclusive Curitiba, contudo pode-se afirmar que é uma situação, não apenas de burlar a
legislação, mas falta de educação e cultura da população. Isto causa não apenas, como a
situação reclamada na reportagem, o mau cheiro que exala das caixas ou bueiros de
águas pluviais, mas também onera em muito o tratamento da água coletada dos rios para
se tornarem potáveis. Assim, esta situação relatada na reportagem, deve ser combatida
imediatamente com meios legais, para não se tornarem práticas comuns. No caso
167
específico da Rua das Flores, além dos incômodos causados aos transeuntes, pelo mau
cheiro que exalam dos bueiros de coleta das águas pluviais, havia ainda os prejuízos
causados também ao comércio, que perdiam clientes, e procuravam locais onde o
ambiente lhes fosse mais agradável.
A figura 48 mostra a Rua das Flores, Rua XV de Novembro, transformada em
comércio popular.
Figura 48 – Calçadão da Rua das Flores e seu comércio popular. (2009).
Acervo Jornal Gazeta do Povo – Coletânea da Biblioteca Pública do Estado do Paraná.
Autor: Rodolfo Bührer.
A reportagem que foca a figura 48 tem como título “Novo perfil atrai todas as
classes – Com a opção da alta sociedade pelos shoppings, o calçadão foi sendo tomado
aos poucos por um comércio mais popular, à medida em que Curitiba crescia.” (BOREKI,
2009, p. 10).
A reportagem em foco se inicia com relatos do arquiteto Abrão Assad, autor do
projeto da Rua das Flores. Ela relata que o Calçadão implantado em 1972, e ao longo do
tempo vem se transformando e se readaptando de forma a dar acesso à pessoas de outros
níveis sociais, mesmo os de menor poder aquisitivo.
Com o aparecimento dos shoppings centers, algumas lojas que existiam no
Calçadão fecharam; principalmente as que trabalhavam com um comércio mais fino,
enquanto outras migraram para os shoppings, pelas facilidades contidas nestes. Isto tornou
visíveis as transformações que aconteceram na Rua das Flores, que teve seu comércio
adaptado a um nível mais popular, visto que as pessoas que circulam na via tinham um
perfil econômico menor.
Assim a via se abriu a todas as classes sociais, sem preconceitos e dando espaço
a todo tipo de comércio. Contudo, continuou com as mesmas características que lhe eram
168
peculiares e não houve nenhum demérito à via pela transformação de perfil acontecida. A
reportagem, para demonstrar a transformação, traça um paralelo do que vem acontecendo
na Rua das Flores em Curitiba, com a Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro.
A reportagem cita que a Rua do Ouvidor durante anos foi uma das principais vias
de comércio no Rio de Janeiro, e que nas ultimas décadas, pela falta de atenção das
autoridades para com a via, esta acabou por ser abandonada pela população. Por ser uma
via de características históricas e com edificações antigas, foi novamente revitalizada, mas
com outras características, onde foi implantado um perfil cultural e assim voltando a ser
novamente um ponto turístico na cidade do Rio de Janeiro.
Este paralelo traçado pelo arquiteto Abrão Assad, autor do projeto da Rua das
Flores, continua quando diz que a Rua do Ouvidor e a Rua das Flores, são regiões onde
há grande tendência de deterioração com o passar do tempo. Elas necessitam de atenção
constante por parte das autoridades da administração pública para continuarem existindo,
e para que não haja degradação. E mais, que por parte das autoridades sejam promovidos
incentivos de modo a se atualizarem como forma de competir com os novos padrões e
tipos de comércio.
Neste paralelo, o autor cita ainda que a “Rua XV é a alma do centro da cidade e
têm atrativos que nenhum shopping Center consegue ter, um charme todo especial”, mas
para manter isso era necessário incentivos à área central da cidade de forma a ativar e
melhorar o movimento no centro da cidade. Tudo isto cabe à citação feita de início nesta
reportagem, que contém fala do arquiteto Abrão Assad, autor do projeto do “Calçadão de
Curitiba”.
Na sequência o autor da reportagem cita a falta de segurança, motivo de muitas
reclamações de comerciantes da região. A via, Rua das Flores no início da década dos
anos 2000, era detentora dos maiores índices de criminalidade acontecidos no centro da
cidade. Isto foi minorado quando da instalação da vigilância eletrônica, que passou a fazer
parte do dia a dia da via, pelas câmeras de vigilância monitoradas pela Polícia Militar do
estado do Paraná. O monitoramento tornou a via menos perigosa. Contudo, os furtos
continuaram a existir, como cita o gerente do Bar Mignon, que presencia constantemente
estes delitos na via. Ele continua, dizendo que muitos fregueses evitam parar na via e
muito menos sentar-se nas mesas existentes na frente dos bares, para não serem
abordados por pedintes e vendedores em geral. Completa que a violência e a miséria
atrapalham em muito o comércio da Rua das Flores.
Outra pessoa citada na reportagem é o gerente da Confeitaria das Famílias,
conhecido como seu Manolo, que mora em cima da loja e diz ser o local muito perigoso. A
falta de segurança na via é o principal problema. Seu Manolo fala que a Confeitaria
169
funciona até as 23:00 h, enquanto o comércio fecha por volta das 20:00 h. Mesmo assim,
ele fica de olho na via e considera perigoso circular e trabalhar à noite, pela falta de
segurança existente.
O arquiteto Luiz Salvador Gnoato, em 2006 propunha que a via fosse aberta ao
tráfego de veículos, contudo não 100% aberta aos veículos, como também não 100% aos
pedestres, propunha mesclar a movimentação da via, pois segundo ele o projeto do
Calçadão não havia vingado. E cita que a mudança promovia a decadência do centro da
cidade de Curitiba. Para o arquiteto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba (IPPUC), Mauro Magnabosco, coordenador do projeto “Novo Centro”, dizia que “se
o comércio muda, o público também”, diante disto era necessário encontrar um meio termo.
Assim com impasse, como exposto acima pelos arquitetos, não havia uma proposta que
desse algum alento e modificasse a situação instalada na região central da cidade.
Conforme cita a reportagem, o ex-prefeito Jaime Lerner e o arquiteto Abrão Assad
têm opinião formada para recuperar o Centro da Cidade. De acordo com eles, é necessário
investimentos no centro da cidade, de forma a fixar moradores. É preciso também investir
em escolas ou faculdades que promovam a movimentação de pessoas, dando vida à
região de maneira independente do horário, fazendo com que as vitrines das lojas fiquem
abertas, de maneira a injetar vida à via, pois esta renova a qualidade a rua. Abrão Assad
finaliza a reportagem afirmando que a Rua das Flores precisa ser bem vista, cuidada e
incentivada, pois sem que haja vida a via sofre as consequências.
A reportagem referenda o acima citado quando diz:
Uma aura especial acompanhou o calçadão curitibano desde a
inauguração em 1972. Sinergia como essa não desaparece, mas
pode ser moldada pelo tempo. A transformação que se viu nesse
espaço promoveu o encontro da Rua XV com estratos sociais antes
alheios a ela. Surgiram os shoppings e a alta sociedade trocou o
local de compras sem nem sequer olhar para trás. Curitiba cresceu
rápido e suas mazelas não puderam mais ser empurradas para
debaixo do tapete. Elas estavam visíveis, no centro. Grandes e
famosas lojas desapareceram ou procuraram o conforto dos
shoppings e, aos poucos um comércio mais popular se impôs no
calçadão. Uma nova configuração, mais versátil, abriu alas, sem
preconceitos para todas as classes sociais. [...] Mas um novo
componente passou a integrar o ambiente: a miséria que invadiu a
região central. Soma-se a isto a pouca estima da administração
pública em determinadas épocas, sobretudo na manutenção e na
segurança pública. Não há demérito para o calçadão na
transformação do seu perfil. [...] mais de 150 anos antes do
calçadão de Curitiba, a Rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, era
considerada a coqueluche nacional, em especial depois da chegada
da família real portuguesa, em1808. Era o ponto de comerciantes
estrangeiros. [...] nas ultimas décadas, a estreita rua carioca não
170
acompanhou as transformações e o ritmo de crescimento da capital
fluminense e foi aos poucos sendo abandonada pelo povo. [...] a via
se aproveitou de características históricas e dos edifícios seculares
e está implantando lojas de perfil cultural, tornando-se, novamente
ponto turístico do Rio. Ouvidor e Rua XV são as principais ruas da
área central dessas cidades, regiões que tendem a se deteriorar
com o tempo. [...] também precisam competir com o novo padrão de
conforto na hora das compras. “O calçadão tem um charme que
nenhum shopping jamais terá. A alma de Curitiba está no Centro, na
Rua XV. Com a administração pensada para isso, é possível
incentivar o movimento para o centro”, diz o arquiteto e autor do
projeto do calçadão, Abrão Assad. (BOREKI, 2009, p. 10).
Mais adiante a reportagem fala quanto à segurança, e diz:
Mais do que a mudança de perfil, os comerciantes reclamam da
falta de segurança da Rua XV por muitos anos. Durante parte da
década de 1990, e especialmente no ano 2000, ela apresentava os
piores índices de criminalidade do Centro da Cidade. O problema foi
amenizado com a instalação das 14 câmeras de vigilância. Apesar
das melhorias, nem todos se sentem seguros ao caminhar pela via
[...]. Profundo observador do calçadão, seu Manolo conta que, nas
noites, ainda é perigoso caminhar ali. Todo mundo fecha às 20
horas e, na nossa quadra, somos a única loja a funcionar até às 23
horas.[...]. (BOREKI, 2009, p. 10).
Mais adiante a reportagem cita a fala do arquiteto Gnoato quanto à segurança da
via:
Se a falta de segurança dificulta o acesso de transeuntes, qual a
vantagem de uma via exclusiva para pedestres? Foi essa questão
que o arquiteto Luis Salvador Gnoato recorreu em 2006 para propor
o inverso do que ocorreu em 1972: o fim do calçadão e a abertura
para veículos. “Minha intenção é ter uma rua que não seja 100%
para carros, nem 100% para os pedestres”, disse à impressa na
época. O projeto não vingou, nem encontrou apelo por parte da
população. Para muitos, a mudança de perfil configurou
decadência, para outros se tratou de uma esperada transformação.
“Se o comércio muda, o público também”, afirma magnabosco,
arquiteto do IPPUC e coordenador do projeto Novo Centro, que
propõe a recuperação de outras vias importantes da cidade.
(BOREKI, 2009, p. 10).
O acima citado pela reportagem mostra a readaptação do comércio, diante da
realidade em que se apresenta a via. O comércio mais fino migrou para os shoppings, pela
segurança e conforto que estes oferecem. Assim, o comércio que se instalou no Calçadão
tem uma configuração popular, de forma a atender o nível das pessoas que por ele
171
circulam. A readaptação da configuração comercial da via foi provocada pelo nível social
da população que por ela passou a circular e pela dificuldade de estacionamento na região
central da cidade, visto que quem circula pelo calçadão acessa este por meio do transporte
público coletivo.
Assim observava-se que o Calçadão não tinha mais o mesmo apelo chamativo de
outras épocas, possivelmente pela popularização do comércio, aliado a migração das
pessoas de maior poder aquisitivo para os shoppings centers, que ofereciam segurança e
conforto. E onde as pessoas não são incomodadas por pedintes, nem por vendedores
ambulantes.
A mudança de perfil da via, aliada a falta de fiscalização e segurança, provoca
uma angústia generalizada em todas as pessoas que por ela transitam ou nela trabalham o
que pode levá-la à “marginalização”, pelo descaso das autoridades em manter uma rua que
é de grande importância histórica para a cidade. Com isto, se a Rua das Flores não for
vista com bons olhos pelas autoridades competentes, esta irá se degradar, pois como
mostrado na reportagem, esta em parte já se instalou.
As figuras 49 e 50 mostram no ano de 2012 as lojas atualmente instaladas na Rua
das Flores e transeuntes sendo abordados por vendedores ambulantes.
Figura 49 – Rua das Flores. (2012).
Acervo: Autor.
Autor: José Cláudio dos S. Revorêdo.
172
Figura 50 – Rua das Flores. (2012).
Acervo: Autor.
Autor: José Cláudio dos S. Revorêdo.
As figuras 49 e 50 demonstram a decadência do comércio e do espaço público da
Rua das Flores, no ano de 2012.
Reportando a Urban, (1992, p. 9):
[...]. Era a época da Casa Louvre, do Café Trocadeiro, do
Restaurante Paraná, da Confeitaria Schaffer, da tradicional Livraria
Ghignone, do Braz Hotel ... [...]. A Rua XV velha de guerra era o
ponto de footing, local de encontro obrigatório da estudantada, dos
aposentados, de cavalheiros e senhoras vestidos respectivamente,
com trajes de lã inglesa, linho e seda importados. Nesse eixo, no
trecho entre a Travessa Oliveira Belo e a Rua Barão do Rio Branco,
que [...].
Após alguns anos os endereços finos e famosos foram desaparecendo aos
poucos, fechando suas portas e encerrando suas atividades, outros depois da instalação
de shopping centers, foram gradativamente se transferindo para estes por oferecerem
algumas facilidades que não são tidas na Rua das Flores. Com isto, cederam seus
endereços, no centro da cidade, a outro tipo de comércio mais popular, pois estava
começando uma nova era, onde para eles não haveria espaço. Isto, não só pelo status
ostentado, mas pelo nível de comércio que estava se instalando na via. De acordo com as
figuras acima, a tendência da via é a de um comércio popular, de forma a atender uma
classe social emergente, que antes não tinha acesso.
A popularização da rua deu lugar a um comércio que oferece mercadorias a
preços muito baixos diante da realidade econômica que se instalava, aliada à falta de
estacionamento nas proximidades do Calçadão e onde o acesso é através do transporte
173
público coletivo. Assim lojas famosas na cidade, que dispunham de mercadorias mais
oneradas não davam acesso à classe social que agora estava se servindo da Rua das
Flores. Por este motivo, muitas fecharam ou se transferiram para outros endereços fora do
centro da cidade, deixando seus pontos à mercê de um comércio mais popular. Ao
observar as figuras acima, percebe-se que muitos destes locais, a exemplo o da antiga
Confeitaria Shaffer, foram transformados em shoppings populares, onde se comercializam
produtos a preços muito baixos se comparados com as antigas lojas instaladas na via.
Por fim, os antigos comerciantes, foram obrigados a fechar seus comércios ou se
transferirem de endereço, visto o nivelamento “por baixo” a que a via ficou exposta. Desta
forma a “popularização da via” deu um ar de degradação ao comércio, pela transformação
imposta, não em nome apenas dos novos tempos, mas pela situação econômica do país,
que em parte contribuiu para esta transformação, visto a transferência de renda entre as
classes sociais.
O principal ponto é que com toda esta transformação o Calçadão se auto impôs
uma popularização comercial, e com isto o rebaixamento de nível ou “status”, não
acompanhado pelas autoridades, que foram condescendentes e não implementaram
políticas públicas que mantivessem o seu status anterior. Desta forma, o comércio do
Calçadão foi rebaixado a nível popular, dando margem pela falta de segurança, à
instalação da marginalidade no amplo sentido da palavra. Com isto pelo abandono, já
citado em reportagens anteriores, acabaram por descaracterizá-lo da sua concepção
original, e que, além disto, pela popularização, e pela falta de fiscalização, fizeram deste
um de mercado popular. Onde não só pela falta de fiscalização, mas também de
policiamento ostensivo, virou como se diz na gíria um “oba-oba” sem qualquer comando
por parte das autoridades competentes, que se limitam a efetuar rondas em determinados
horários, mas que não surtem o efeito desejado. E mais o comércio ambulante continua a
existir, figura 50, sem que haja nenhuma fiscalização e repressão.
Se providências não forem urgentemente tomadas, esta via estará a poucos
passos da degradação e abandono, pois ao que parece, as autoridades municipais estão
apenas preocupadas na arrecadação dos impostos, sem, contudo cuidar da imagem da
cidade e principalmente da via, que já foi cartão postal da cidade. No ritmo acelerado que
acontece a degradação e popularização, dificilmente será possível recuperá-la a ponto de
ser novamente o cartão postal da cidade de Curitiba.
O autor deste trabalho, quando estava fazendo as fotografias apresentadas acima,
e onde permaneceu por aproximadamente duas horas foi abordado por diversos
vendedores ambulantes, panfleteiros e pedintes. Além do que presenciou a colocação de
anúncios em cabines telefônicas, com chamativos sexuais, aos quais fotografou, e
174
percebeu que não havia fiscalização nem policiamento ostensivo, apenas uma viatura
policial passava pelo local, em ronda, o que evidentemente não promove uma segurança
contínua.
Por fim, com esta ultima década de retrocesso, 2002 a 2012, mostra-se claramente
o abandono da via, que um dia foi cartão postal, e que popularizada não apresenta mais as
características pela quais foi projetada e que, pela falta de interesse das autoridades, está
entregue ao movimento de forças que a levem até onde for possível sobreviver. Se
nenhuma providência for tomada urgentemente, a degradação e desolação se instalarão
na via e isto a levará ao caos, tendo por consequência o desaparecimento ou a
marginalização do logradouro.
4.2.5 Quatro décadas de retrocessos: o olhar de síntese.
Os retrocessos acontecidos desde a implantação do “Calçadão de Curitiba”, no
ano de 1972, são pontuais. Grande parte dos retrocessos apontados nas reportagens da
mídia escrita perduram por algum tempo até que sejam solucionados, em geral a partir de
decisão do Poder Público, salvo as soluções já previstas dentro dos programas de
manutenção da via. Os problemas apresentados pelas reportagens têm origem principal na
falta de educação da população no trato com a “coisa pública”, como os atos de
vandalismo, danos ao mobiliário urbano e outros, que se repetem constantemente até os
dias atuais.
Tem-se ainda como ponto negativo o comércio ambulante informal, pedintes e
marginais que circulam livremente pela via sem serem incomodados, o que denigre em
muito a imagem desta via, que é cartão postal da cidade.
Aliado a estes problemas, existem situações realmente graves como a falta de uma
política de fiscalização constante e de segurança ostensiva que são da alçada do Poder
Público, e que não se fazem presentes na via, contribuindo para a decadência desta, tanto
do ponto de vista social como também econômico. Estes são pontos que provocam o
retrocesso da via, visto o ar de abandono desta, que promove o afastamento das pessoas
que se utilizam do que ela oferece em comércio e em lazer.
Por fim, com o acima disposto, os pontos que realmente provocam o retrocesso da
via ficam resumidos a serviços que são obrigação do Poder Público, quais sejam:
fiscalização e segurança permanente e ostensiva de forma a dar aos frequentadores e
transeuntes a tranquilidade mínima necessária. Isto pela falta de implementação de
políticas que efetivamente produzam resultados positivos e permanentes.
175
5 AVANÇOS E RETROCESSOS: SÍNTESE DA COMPREENSÃO
Inicialmente vamos estabelecer a política implementada que resultou na criação do
“Calçadão de Curitiba” e na sequência passar à análise dos avanços acontecidos. O
fechamento da Avenida Luiz Xavier e da Rua XV de Novembro estava previsto no Plano
Diretor da Cidade de Curitiba, Lei nº 2828 de 1966, dentro de uma política urbanística de
humanização da cidade, posta em prática em 1972 e transformando-a em via exclusiva
para pedestres. Isto porque a via se encontrava com sérios problemas de
congestionamentos e o comércio, por conta disto, estava em franco declínio, com o
movimento de vendas cada vez menor.
A implantação do Calçadão, de início, encontrou diversas barreiras, principalmente
pela resistência de alguns comerciantes que achavam que a implementação desta medida
iria prejudicá-los ainda mais. Contudo, após a implantação, e com o passar do tempo, os
efeitos positivos foram aparecendo, de modo que o comércio passou a ter maior
movimentação, e as vendas melhoraram.
Outro ponto a ressaltar é na área social. Ainda dentro da política de humanização
da cidade, foram criados diversos locais nos quais a população poderia se encontrar. Para
isto, em toda a via foram implementados, através de um planejamento urbanístico
adequado, equipamentos de mobiliário urbano, fazendo com que estes locais se
transformassem em verdadeiros pontos de encontro. Assim se promoveu a via a uma
melhor forma e é depois disso que os avanços se iniciam, tanto na área econômica como
na área social, uma vez que as políticas implementadas incentivaram uma maior
movimentação e animação à rua.
Esta do ponto de vista do urbanismo, à época quando foi criada em 1972,
promoveu a Rua das Flores ou “Calçadão de Curitiba”, por ser a primeira rua no país
exclusiva para pedestres e ainda sendo a principal via central da cidade, e ter um
planejamento até então inédito, que passou a ser referência nacional. Principalmente por
ser uma proposta visando um urbanismo de vanguarda, onde propunha a concepção de
que o “homem”, ou seja, a população tinha a preferência, o que em outras palavras, era
uma visão de urbanismo onde promovia a humanização da cidade, e que à época a grande
maioria das cidades não se preocupava com este tipo de planejamento urbano.
Assim a Avenida Luiz Xavier e a Rua XV de Novembro resgataram a antiga
denominação, “Rua das Flores”, que perdura até os dias de até hoje. Desde a época em
que foi implantada, e por vários anos, avançou bastante na área socioeconômica, como
demonstram as reportagens apresentadas. Contudo, com o advento dos diversos
shoppings centers, a partir do final dos anos 80 e início dos anos 90, a Rua das Flores, foi
176
obrigada a gradativamente se readaptar e se reprogramar. Isto aconteceu porque mudou a
classe social que passou a frequentar a via, e que antes não tinha acesso, tornando-a
popular mesmo mantendo ainda a frequência de outras classes sociais. Isto fica
evidenciado com a reportagem de Gonçalves (1997), onde cita resumidamente que a via
popularizou seu comércio, devido ao nível de renda das pessoas que se utilizavam desta
para efetuar suas compras. Dizia também que pessoas de classe média ainda procuravam,
mesmo que com menor frequência, a Rua das Flores para realizar compras, isto porque em
um raio de menos de quatro quilômetros de distância da via existiam sete shoppings
centers.
Esta situação fez com que a Rua das Flores se reprogramasse e adotasse uma
política na área econômica de forma a enfrentar as adversidades e continuasse
avançando, mesmo porque o fluxo de pessoas que circulam pela via se mantinha bastante
atrativo. O fluxo é referendado pela reportagem do Jornal Gazeta do Povo (1997), que diz
que o movimento da Rua das Flores é bastante alto e nela transitam 100 mil pessoas
diariamente. O repórter continua, dizendo ser este movimento muito maior que o existente
em qualquer shopping Center e por este motivo o comércio deve rever suas estratégias de
vendas, de forma a atrair maior número de clientes.
Outro ponto que permitiu que a Rua das Flores continuasse seu processo de
avanços está contido na reportagem do Jornal Gazeta do Povo, (2006), com o título
Calçadão no Divã, que implementa uma política de centralização administrativa. A
reportagem cita a criação de um condomínio comercial, por se tratar de um espaço público,
onde o sistema de administração seria semelhante ao de um shopping Center. Assim, a
administração seria centralizada, de forma que todos os “condôminos” representados por
esta associação condominial teriam maior força em cobrar do Poder Público, as
intervenções necessárias. Desta forma com a criação do citado condomínio, a Rua das
Flores ganharia força e continuaria se desenvolvendo e avançando, contudo tendo ainda
dificuldades em fazer com que o Poder Público investisse permanentemente na via.
Através de uma política comercial prevendo programas, projetos e promoções, a
Associação criada no “Clube de Diretores Lojistas”, ligada à Associação Comercial do
Paraná, passou a dar mais visibilidade à Rua das Flores. Mesmo se popularizando, a via
continuou avançando e promovendo o espaço público de forma a mantê-lo em ascensão.
Resumindo, para que a Rua das Flores continue avançando mesmo que em ritmo
mais lento, e mantendo seu “status” de ponto turístico, se transformou e se readaptou à
realidade socioeconômica, mesclando o comércio entre lojas que oferecem produtos
dirigidos à classe média e lojas mais populares, dirigidas às classes de menor renda.
Também o seu espaço de lazer, os cafés, restaurantes e lanchonetes foram se
177
popularizando, de forma a atender as classes sociais que frequentam a via. Em termos de
política socioeconômica, deveriam as autoridades público/privadas formular políticas de
forma a incentivar a população a frequentar o Calçadão em todas as suas áreas de
atuação. Mais precisamente, pelo o clamor popular, em que pedem maior segurança e
fiscalização de forma a poder transitar pela via com segurança e sem ser interpelado por
vendedores inescrupulosos, nem trombadinhas, visto que em todas as reportagens
analisadas estas são sempre as reivindicações solicitadas.
Quanto aos retrocessos, estes foram causados de início pela falta de consciência
da própria população que, com atos de vandalismo, destruíam parte do mobiliário urbano
projetado, isto era causado pela falta de uma política de segurança. Com o passar dos
anos, a deterioração da via, o que era previsível acontecer pela falta de atenção das
autoridades responsáveis, começou a dar sinais de retrocesso, agravado ainda pela falta
de uma política de fiscalização constante e de uma política que programasse um
policiamento ostensivo que realmente cumprisse a sua função, não se esquecendo de
observar a crescente marginalidade que se instalava. Era visível também a presença da
informalidade comercial que se instalou no Calçadão.
Visivelmente relegada a um segundo plano, o Poder Público só toma alguma
atitude para com a rua diante da grita geral por parte dos comerciantes e das associações
que os representam, que só aí abrem conversações de forma a prover as necessidades da
via, que nem sempre são atendidas em sua totalidade. Esta colocação é referendada por
Gonçalves (1997), quando cita que as reivindicações são quase sempre as mesmas, como
a falta de uma política de policiamento ostensivo e de fiscalização eficiente, o que provoca
o afastamento da população da via central da cidade.
Os retrocessos que acontecem na via são em parte devido à falta de atenção
constante por parte das autoridades responsáveis, que permitem a deterioração da via
chegar a níveis quase insustentáveis.
Conforme relatado acima, entende-se que as autoridades devem se manter
atualizadas como forma a assegurar o Calçadão em condições aceitáveis, sem permitir
chegar a níveis de degradação onde os investimentos do Poder Público se tornarão, como
já citado anteriormente, de custo elevado. Quando nestes níveis, as autoridades recorrem
a políticas em parcerias, o que se houvesse uma atenção maior do que acontece na via e
esta fosse constantemente monitorada, este tipo de situação não se faria necessária.
Os retrocessos apresentados ao longo deste trabalho são pontuais e em, sua
grande maioria, se dão pela omissão do poder público, como exemplo cita-se a segurança,
onde não há um policiamento ostensivo que dê efetivamente segurança à via. Observa-se
aqui que em quase todas as reivindicações feitas pelos comerciantes e suas entidades
178
representativas o item segurança é sempre colocado, o que sinaliza que não está sendo
atendido em sua plenitude. Se fosse dada a devida atenção por parte das autoridades e
estas implementassem uma política de manutenção constante, observando sempre as
necessidades requeridas nas varias áreas de atuação da via, esta se manteria em
melhores condições. Com isto possivelmente o que aconteceria seria a via ficar
desatualizada, mesmo porque a evolução dos tempos provocaria esta situação, e aí sim
seria a hora de ser repensada e revitalizada.
A exemplo disso tem-se o paralelo citado na reportagem de Boreki (2009), que faz
um comparativo traçado com a Rua do Ouvidor, Rio de Janeiro, que pela falta de atenção
das autoridades competentes, esta entrou em sofrimento, e como consequência a
degradação total. Se não for dada a devida atenção, a Rua das Flores, que um dia já foi
referência nacional, entrará em um ritmo de deterioração semelhante, levando-a à
degradação, e destruindo o que já foi referência nacional pelo descaso como esta é
tratada.
Ao perceber os avanços e os retrocessos acontecidos na Rua das Flores, se verá
que há mais avanços do que retrocessos, mesmo porque os retrocessos são pontuais.
Contudo, muitos dos retrocessos apresentados na mídia escrita, pontuais, foram
solucionados mesmo tendo como aspecto negativo o longo tempo para serem reparados.
Os pontos negativos dos retrocessos ficam por conta da política de segurança e de
fiscalização, que apesar das “tentativas”, não tem sido bem desenvolvida. Além disso, é
preciso manter um nível de pessoas que passam pela rua, afastando dela os vendedores
informais, pedintes e comerciantes de objetos piratas. E em tempo, como relatado pelo
autor deste trabalho, quando circulou pela via foi abordado por diversas vezes por
vendedores ambulantes, e não havia fiscalização nem segurança ostensiva. Assim coloca
estes pontos como negativos e que devem ter suas políticas revistas, pois são elementos
cruciais para dar a via e a quem circula por esta, a tranquilidade necessária.
As readaptações e reprogramações acontecidas no âmbito comercial do Calçadão
não podem ser consideradas como retrocessos, porque a conjuntura econômica do país
fez com que classes sociais que antes não tinham grande poder aquisitivo passassem a tê-
lo por meio de reformas econômicas e sociais. Os consumidores tidos como de baixa renda
passaram a ter certo nível econômico, que para o comércio de forma geral deve ser
considerado e não pode ser desprezado.
Com isto a popularização do comércio do Calçadão, mesmo que mesclado de
forma a atender outras classes sociais, faz com que este se mantenha e passe a ter seu
horário estendido até à noite, mesmo perdendo muitos consumidores de maior renda que
passaram a frequentar os shoppings pelas facilidades por estes oferecidas. Principalmente
179
pela flexibilidade de horário de funcionamento, onde após o horário normal obedecido pela
maioria das lojas de rua, estes continuam em funcionamento, facilitando a vida dos
trabalhadores.
Por fim a política de reprogramação acontecida no Calçadão deve ser encarada
como avanço, mesmo tendo um nível de frequentadores de menor renda, mas que se
mantém ativo, mesmo sem o chame que lhe foi atribuído quando do início de suas
atividades. Contudo, o lado negativo fica por conta de não ter mais atrativos comercias
para os turistas de maior poder aquisitivo, que também passaram a frequentar os
shoppings, ficando a Rua das Flores apenas como referência turística, mas não
primordialmente de consumo.
180
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Antes de passar a demonstrar que os objetivos específicos foram atingidos, se
registra que o tema escolhido foi muito relevante para a formação profissional do
pesquisador, como engenheiro civil e também como cidadão que vive e trabalha na cidade
de Curitiba.
O tema escolhido, “O Calçadão de Curitiba: avanços e retrocessos como espaço
público social da cidade” foi em tese bastante complexo e esclarecedor, haja vista que
mesmo morando na cidade há mais de 40 anos, e frequentando esporadicamente o lado
social da Rua das Flores, mais especificamente a “Boca Maldita”, aprendeu muito. Quase
sempre se dirigia a este local, pouco transitava na referida via, desconhecia o que
acontecia nos demais trechos da rua, tendo conhecimento de algumas situações apenas
relatadas por outros frequentadores, mas sem nenhuma profundidade e, em vários
momentos, sem dar a devida atenção.
Com o tema escolhido para a dissertação, passou a ser estudado mais
atentamente pelo pesquisador desde o que acontecia na via. Isto demandou leituras
demoradas dentro das referências jornalísticas coletadas, que nem sempre foram fáceis de
localizar, tanto do ponto de vista textual como também imagético, que fossem relevantes.
Contudo se expôs alguns fatos, que mesmo frequentando este espaço público não tinha
conhecimento.
Em fim, mesmo sendo trabalhoso foi muito elucidativo, considerando assim que o
exposto atingiu as finalidades propostas.
Dentro da pesquisa proposta, os objetivos foram integralmente cumpridos e
oportunizaram estruturar toda a dissertação.
Neste momento, torna-se necessário retomar os objetivos que nortearam este
estudo. O primeiro teve por intuito descrever a implantação do calçadão, já prevista no
Plano Diretor da Cidade, Lei nº 2828/66 (Curitiba), visando à política de desenvolvimento
urbano. A lei previa o fechamento de algumas ruas centrais da cidade ao tráfego de
veículos, dentre elas a Avenida Luiz Xavier e a Rua XV de Novembro, perfazendo as seis
quadras que hoje compõem o Calçadão. A implementação desta política transformou o
principal eixo da cidade em uma via exclusiva para pedestres, conjugando ainda a partir da
implantação outras políticas de cunho socioeconômico. Na área econômica, isso promoveu
incentivo ao comércio pela maior movimentação de pessoas, aumentando assim o
potencial de vendas, e na área social, com a instalação do mobiliário urbano adequado,
promoveu facilidades à população que se utiliza do Calçadão em seus momentos de lazer.
181
O segundo objetivo da pesquisa foi o de apresentar referenciais sobre o Calçadão
de Curitiba como espaço público social da cidade. Ficou claro que o Calçadão tornou-se
um espaço público exclusivo para pedestres. Ele é a imagem de uma política pública social
implementada, pois deu maior movimentação e animação à rua, como também promoveu a
mudança cultural de população.
O Calçadão, principalmente pelo diferencial do mobiliário urbano implantado, criou
na via vários locais que a população adotou como ponto de encontro, onde se reuniam em
bate-papos informais, como exemplo, o espaço onde se reúnem os frequentadores da
“Boca Maldita”, entre outros grupos ao longo da via, que se servem das comodidades e
facilidades do mobiliário nestes instalados. Enfim, o espaço público do “Calçadão de
Curitiba” remonta dentre outras, uma política de humanização da cidade, de forma a
promover melhor qualidade de vida à população.
Seguindo o curso das reflexões, o terceiro objetivo do estudo era analisar os
avanços e retrocessos econômicos do Calçadão de Curitiba veiculado por meio de textos e
imagens fotográficas na mídia paranaense e nacional nos anos 1972 a 2012.
Inicio neste momento relatando de forma mais resumida a análise dos avanços
acontecidos no “Calçadão de Curitiba”.
Após a implantação, em um primeiro momento o comércio não noticia quaisquer
progressos relevantes, apesar do movimento de pedestres ter tido um incremento bastante
significativo, isto não se refletiu no comércio da via. Os avanços eram apenas na área
social, isto devido ao projeto implantado, que criou vários pontos onde a população podia
se encontrar informalmente.
Com o passar do tempo, os primeiros resultados começaram a aparecer. Devido a
grande concentração de lojas, aliada a um espaço exclusivo para o trânsito de pedestres, o
comércio passou a ter reflexos do movimento com a melhoria nas vendas. Isto se manteve
até o final dos anos 90, quando se instalou, conforme citado nas reportagens, uma crise no
setor empresarial brasileiro, quando grandes redes nacionais de lojas varejistas fecharam
suas portas alegando diversos motivos, dentre eles a falência destas redes.
A partir deste momento os comerciantes locais passaram a sentir os efeitos da
crise econômica que se instalava, agravado ainda nesta mesma época pelo aparecimento
dos shoppings centers, que se instalaram próximos à região central da cidade. Como forma
de impulsionar o comércio, devido à grande concorrência e à mudança de perfil dos
consumidores, este se reformulou em forma de condomínio, junto ao Clube de Diretores
Lojistas, que este ditava as normas e políticas a serem seguidas, principalmente as
políticas de promoções que deveriam ser postas em prática nas datas festivas. Desta
182
forma o comércio continuou ativo e avançando, de forma a vencer os obstáculos, o que o
levou a completar os 40 anos de existência em 2012.
Agora passo a descrever os principais pontos de retrocessos relatados pela mídia
paranaense e nacional.
Inicialmente têm-se os atos de vandalismos, onde pessoas destroem a coisa
pública pela falta de consciência em manter o que é do povo, aliados à falta de um
policiamento ostensivo na área.
Os retrocessos acontecidos são pontuais e não retratam uma realidade permanente
na via, podendo ser considerados como consequência da evolução dos tempos. Além
disso, inevitavelmente o mobiliário urbano sofreria pela ação do tempo, o que geraria
despesas para o Poder Público de qualquer maneira. Assim os objetos, instalações, e o
mobiliário urbano requerem manutenção constante, sem o que a deterioração fatalmente
acontece, principalmente por estarem instalados ao ar livre, sujeito às intempéries o que
acelera ainda mais a deterioração.
O que no presente trabalho posso considerar retrocessos são a falta de segurança
e fiscalização do espaço público, que são atribuições das autoridades competentes, que
pela falta de implementações políticas que produzam resultados positivos, colocam a via
em risco e relegada a segundo plano. Com isto vendedores ambulantes, comércio informal,
marginais e pedintes circulam tranquilamente pela via, tomando conta desta, visto que não
são incomodados, pois a falta de atenção por parte das autoridades dá a via uma
aparência de total abandono.
Quanto às políticas implementadas na Rua das Flores, em suas diversas áreas de
atuação, algumas podem ser consideradas tentativas em atender situações requeridas
pelos comerciantes e frequentadores, mas, por não surtirem efeito, acabam por provocar
retrocessos em vez de avanços. Haja vista a implementação das políticas de segurança e
fiscalização que em um primeiro instante surtem efeitos, mas que por falta de estarem
sempre sendo repensadas e reimplementadas, acabam se tornando ineficientes. Isto fica
patente ao observarmos as constantes reivindicações dos comerciantes e frequentadores,
ao longo dos anos de existência do Calçadão, onde estas sempre são requeridas. A
própria política urbanística adotada, pela falta de atenção constante e de uma manutenção
adequada, por ser uma via exclusiva para pedestres, provocou a deterioração do espaço
com o passar do tempo. Assim temos que, como citado acima, a falta de renovação e
ampliação das políticas, principalmente de segurança e fiscalização adotadas, foram
também foi fator crucial para a deterioração. As políticas de segurança e fiscalização nunca
foram completamente adequadas, mesmo com ações em todas as décadas abrangidas
pelo estudo, não conseguiram resolver o problema da segurança no calçadão.
183
Isto posto, de início percebo que pela falta de segurança no local, há ação de
vândalos, conforme citado pelo Jornal da Tarde do Estado de São Paulo (1976), com o
título “População e vandalismo”, mostra desde a época da implantação do Calçadão, havia
falta de segurança do local, e onde vândalos destruíam as floreiras instaladas na via, o que
continua a acontecer até os dias de hoje.
Reimplementada a política de segurança no ano 2000, com câmeras de
monitorizarão, de início surtiu algum efeito reduzindo as ocorrências policiais, contudo
conforme a reportagem de Pellanda, (2003), onde cita que a política de segurança na rua
não está mais produzindo efeito e que isto tem afastado os consumidores, fazendo com
que a marginalidade tomasse conta da via.
Outro ponto negativo das políticas adotadas é a falta de fiscalização efetiva por
parte dos órgãos competentes. O comércio informal na via demonstra o retrocesso, como
citado na reportagem de Pellanda, (2003), já que isso prejudica grandemente o comércio
formalmente estabelecido na via.
Enfim, as políticas adotadas na área de segurança e fiscalização da Rua das
Flores estão sempre dentro da lista das reivindicações dos comerciantes e frequentadores
do espaço público. Estas são implementações que até hoje não tiveram resultados
efetivamente positivos, isto comprova a tese de que as políticas públicas implementadas
correm o risco de, em vez de promoverem avanços, acabam por caracterizar retrocessos.
Finalizando quanto aos retrocessos, mesmo tendo um vasto material coletado em
reportagens de jornais e revistas, apesar de minuciosamente estudado foi bastante difícil
encontrar algo que fosse significativo que mostrasse o lado negativo das políticas
implementadas na via.
As situações negativas apresentadas pelas reportagens, em suma, são sempre
pontuais e não se configuram como duradouras, sendo quase sempre solucionadas em
prazos relativamente curtos. Os únicos pontos detectados onde as políticas implementadas
não promovem resultados positivos e se caracterizam como retrocesso, são nas áreas de
segurança e fiscalização, que são da alçada do Poder Público. Apesar das políticas
implementadas, não houve efeitos positivos que fossem duradouros, ou seja, de início
surtem efeitos positivos, contudo com o passar do tempo retrocedem.
Por fim, esta situação gera grande insegurança, o que afeta diretamente as áreas
social e econômica do Calçadão, que acabam por acumular prejuízos, pois os
frequentadores e consumidores se afastam da via, e procuram locais mais seguros para
efetuar compras ou simplesmente passear.
184
Finalmente, o último objetivo do estudo foi compreender as relações econômicas
sobre os avanços e retrocessos no desenvolvimento do Calçadão de Curitiba através de
registros da mídia escrita paranaense e nacional.
Dentro do registrado pela mídia escrita, compreendi que a política de urbanização
adotada neste espaço público previa a humanização da cidade. Esta política continha no
seu cerne outras políticas de cunho social e econômico. As de cunho social colocavam a
via como um ponto de encontro social da cidade, de forma a atrair a população para a via.
A exemplo temos a “Boca Maldita” e outros pontos espalhados por toda a via, haja vista o
mobiliário urbano espalhado estrategicamente ao longo do Calçadão.
As políticas de segurança e fiscalização, de início, surtiam resultados, contudo,
mas com o passar do tempo, tornavam-se inconsistentes e não mais atendiam aos
propósitos para que foram pensadas, talvez pela diminuição do efetivo, de modo que
quando as ocorrências policiais diminuíam, diminuía-se o efetivo programado, por se tornar
ocioso.
As políticas de cunho econômico só se consolidaram pela mudança do sistema de
administração comercial da via, que passou a ser de forma condominial, já que por se
tratar de uma via pública os comerciantes não podiam interferir na área física. Assim, o
sistema administrativo adotado passou a ser centralizado no Clube dos Diretores Lojistas,
de onde partiam as decisões e as formas de como promover a via, maneira semelhante ao
modelo administrativo adotado pelos shoppings centers. Onde o principio era o de atrair a
população e aumentar a movimentação no comércio, principalmente em datas festivas, que
por conta de promoções e premiações aos clientes das lojas associadas, se propiciava o
intento.
No final dos anos 90, quando diversos shoppings se instalaram próximo à região
central da cidade e com o agravamento da crise que se instalou no setor empresarial
brasileiro, obrigando grandes redes de lojas comerciais de varejo a paralisarem suas
atividades, o comércio do Calçadão, como forma de enfrentamento a estas interferências
comerciais, popularizou as atividades da via, mesclando lojas mais acessíveis à classe
média e lojas populares. Assim conseguiu manter o movimento comercial, ao custo de
redução do nível do comércio, mas mantendo vivo o comércio e a animação da via. Mesmo
porque nas proximidades da via, a prefeitura instalou alguns terminais de ônibus o que
facilitava o acesso ao comércio de uma classe social que antes não tinha condições
financeiras para se utilizar desta rua nas suas compras. Isto tudo aliado às políticas
públicas implementadas pelos administradores públicos, que promoviam com alguma
frequência a revitalização da rua, instalando novos elementos do mobiliário urbano e
185
realizando obras de melhorias de forma a dar mais animação à via, atraindo assim maior
movimentação ao comércio local.
Quanto aos retrocessos, conforme já registrados no item anterior, em grande parte
eram pontuais e causavam transtornos momentâneos, facilmente solucionáveis e sem
grandes incomodações. Entretanto, há retrocessos que, por falta de uma política
consistente, continuam a ser reclamados, como a falta de uma política de segurança e de
fiscalização da via que efetivamente obtenha resultados positivos e seja constantemente
revista, de maneira a dar à via a segurança e a fiscalização necessárias e de forma
permanente.
Com isto fica demonstrado que as políticas públicas implementadas no espaço
público “Calçadão de Curitiba”, em seus avanços e retrocessos, dentro do registrado na
mídia escrita paranaense e nacional deram a ele uma história sociopolítica de espaço
publico social da cidade de Curitiba, caracterizando-se como parte de uma cidade
preocupada com a qualidade de vida do cidadão e com o desenvolvimento de sua cultura.
186
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