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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 20
08
Versão On-line ISBN 978-85-8015-039-1Cadernos PDE
VOLU
ME I
A DINÂMICA POPULACIONAL NO NOROESTE PARANAENSE – O caso do município de Nova Olímpia
Fátima Regina Magrinelli 1
RESUMO - Este trabalho resulta do interesse de verificar o processo histórico de colonização e as consequentes transformações ocorridas no cenário da paisagem do noroeste paranaense, em especial, no município de Nova Olímpia, buscando analisar os impactos sócioeconômicos ocasionados com a mudança no modelo econômico de uso do solo agrícola. Neste contexto procuramos, através de entrevistas realizadas com pioneiros, registrar as narrativas das experiências de vida de pessoas que vivenciaram o processo de colonização do município de Nova Olímpia, buscando a confrontação dos fatos historicamente registrados. O estudo enfatizou a dinâmica populacional ocorrida em razão do avanço e recuo da atividade cafeeira e que tantas transformações ocasionaram no espaço regional.
PALAVRAS-CHAVE: Dinâmica populacional. Atividade cafeeira. Noroeste do
Paraná. Modernização agrícola.
ABSTRACT - This work it results of the interest to verify the historical process of settling and consequences occured transformations in the scene of the paranaense northwestern landscape, in special in the city of Nova Olímpia, searching analyzing the caused partner-economic impacts with the change in the economic model of use of the ground agricultural. In this context we look atravyou are of interviews carried through with pioneers, to register the narratives of the experiences of life of people whom they had lived deeply the process of settling of the city of Nova Olímpia, searching the confrontation of the facts historically registered. The enfatiz studyor the population dynamics occured in reason of advance and jib of the coffee activity e that as many transformations had caused in the regional space.
PALAVRAS-CHAVE: Population dynamics. Coffee activity. The Northwest
of the Paraná. Agricultural modernization.
1 Professora de Geografia da Rede Estadual de Ensino do Paraná. Turma PDE 2008. Orientada pelo Professor DR° Elpídio Serra, Universidade Estadual de Maringá.
INTRODUÇÃO
A idéia de se desenvolver o presente trabalho surgiu diante da
problemática, referente ao ensino da geografia quando na abordagem de
conteúdos em sala de aula, que geralmente são fragmentados, desconectados da
realidade local, pouco significativos e da necessidade de se buscar caminhos
para o enfrentamento dessas dificuldades.
De acordo com a política educacional fundamentada nas DCE-PR -
Geografia (Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná -
Geografia), o ensino da geografia deve refletir práticas que favoreçam a
compreensão do espaço geográfico, seus conceitos básicos e as relações
sócioespaciais, nas diversas escalas. Aprender a ler o mundo que nos cerca, tem
sua importância, pois o espaço traz em si todas as marcas da sociedade que o
construiu; as paisagens que vemos são resultados da vida em sociedade, da
busca do homem pela sua sobrevivência e satisfação das necessidades.
Neste contexto, refletir sobre as possibilidades que representa o ensino de
geografia passa a ser importante para quem quer pensar, entender e propor uma
prática escolar que promova a melhoria qualitativa do ensino nas escolas
públicas. Portanto, a proposta deste trabalho surgiu como uma das estratégias de
contribuir para enfrentar as fragilidades na abordagem de conteúdos significativos
que não estejam alheios ao mundo da vida, considerando que o “ensino deve
subsidiar e estimular os alunos a pensar e agir criticamente, de modo que se
ofereçam elementos para que compreendam e expliquem o mundo” (CALLAI,
2001).
Buscamos com este trabalho de pesquisa acadêmica e produção de
material didático-pedagógica, verificar o processo histórico de colonização e as
conseqüentes transformações ocorridas no cenário da paisagem do noroeste
paranaense, tendo como objeto de estudo o município de Nova Olímpia. A
intenção é analisar os impactos socioeconômicos ocasionados com a mudança
no modelo econômico de uso do solo agrícola e consequente alteração na
dinâmica populacional do mesmo.
Este trabalho, abordando as transformações ocorridas tanto no Noroeste
do Paraná como no município de Nova Olímpia, foi estruturado conforme as
determinações do Programa PDE - Programa de Desenvolvimento Educacional e
dividiu-se em cinco momentos: a pesquisa acadêmica, a Produção Didático-
pedagógica e a implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola,
socialização com professores da rede e a produção de Artigo Final.
A pesquisa foi desenvolvida, a partir da realização de leituras sobre a
colonização paranaense, características físicas naturais para fins de uso do solo
(culturas de subsistência, cultura cafeeira e pastagens), economia cafeeira, as
transformações ocorridas ao longo da colonização e em particular no período pós
1970, com a configuração da modernização da agricultura. A revisão bibliográfica
e a coleta de dados de campo tiveram como objetivo levantamento de
informações para produção de material didático, seguindo a proposta do
Programa – PDE. A intenção é constituir um material didático a ser utilizado pelo
Professor - PDE para implementação na escola, desenvolvido junto aos alunos. O
Programa faz indicação para diversas produções didático-pedagógicas, desde
que, mantenham relação com as ações em curso no âmbito da SEED-PR; neste
caso, optou-se para a produção de um “Folhas”.
O Folhas constitui um material didático criado a partir de um recorte de
conteúdo específico, tendo como interlocutor o aluno. No desenvolver teórico do
conteúdo o planejamento inclui interações com o educando, propondo atividades
de leitura, reflexão, levantamento de dados, junto ao IBGE, referentes à
mesorregião noroeste e especialmente ao município de Nova Olímpia, entrevistas
com antigos proprietários rurais e pioneiros, buscando por meio de seus relatos
identificarem acontecimentos históricos do município, vinculados à colonização e
alteração da paisagem rural.
A implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na escola ocorre
num terceiro momento, quando já aplicado, juntamente com os alunos, o Folhas.
Ressalta-se para a riqueza desse momento, pois constituiu o ápice do projeto,
onde ocorreram as discussões e reflexões da temática. Os alunos foram
colocados frente a frente com a sua realidade, onde tiveram a oportunidade de
refletir e entender como o seu espaço de vivencia foi construído, com quais
interesses e com que tipo de sociedade. Bem como, puderam compreender que o
espaço geográfico é dinâmico e está sempre sendo reconstruído, ressaltando o
papel de cada cidadão na construção de seu “mundo”. Perceberam que houve
alterações significativas na vida da população deste município e que podem ser
sentidas por seus moradores e até mesmo familiares. Puderam compreender,
enfim, que estão inseridos neste contexto e podem atuar na transformação do
mesmo.
Nas entrevistas realizadas com pioneiros procuramos identificar por meio de
seus relatos, acontecimentos históricos do Município vinculados à colonização, ao
cultivo do café, às transformações ocorridas a partir de 1970, bem como,
aspectos peculiares relacionados à dinâmica da paisagem com a introdução das
pastagens e mais recentemente da cana de açúcar. Os entrevistados foram
pessoas escolhidos pelas equipes formadas pelos alunos, onde o critério para a
escolha seria a participação no processo de colonização do município.
2. O PROCESSO DE COLONIZAÇÃO DO NOROESTE DO PARANÁ
O espaço geográfico é a criação da sociedade. O conjunto de atividades
desempenhadas continuamente pela sociedade promoveu a transformação do
espaço geográfico, portanto, o espaço geográfico corresponde ao espaço
construído e alterado pelo homem.
O espaço geográfico é organizado conforme a necessidade da sociedade
que o construiu. Diferentes sociedades apresentam diferentes organizações de
espaço, pois essa organização está relacionada às diferentes formas pelas quais
as sociedades asseguram sua sobrevivência, transformando o meio natural ou o
meio já transformado.
Um determinado espaço, ao mesmo tempo em que reflete a sociedade que
o utiliza, é o resultado de um processo histórico. Através deste processo, o
espaço foi sendo progressivamente moldado, de acordo com as relações sociais
que predominaram no passado e que envolveram constantes conflitos entre os
desiguais segmentos de cada época. Neste sentido podemos dizer que o espaço
é um produto da História.
O espaço paranaense é resultante de um longo processo de formação,
organizado por diferentes sociedades, passando por processos históricos
diferentes. Pinheiro Machado (1951), sugere uma divisão do território paranaense
em três frentes pioneiras: a do Paraná tradicional, a mais antiga, que avançou do
litoral para o planalto de Curitiba e depois para a zona dos Campos Gerais; a da
região Norte, que começa a se deslocar na segunda metade do século XIX, sob o
impulso da onda cafeeira paulista; a da região sudoeste, a mais recente, que
avançou a partir de meados do século XX impulsionada pela corrente migratória
originada do Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Quando o processo de ocupação se estabeleceu no chamado Norte Velho
paranaense através da expansão da frente pioneira paulista no inicio do século
XX, gerou um desconforto para o governo do Estado, uma vez que vinha se
manifestando de forma rápida e desordenada, gerando conflitos de posse da
terra. O Estado preocupado com os problemas relativos à legalização da posse
da terra e visando aumentar a arrecadação estadual, adota duas formas de
política ocupacional: uma pela colonização oficial com a implementação de alguns
núcleos urbanos cabendo ao governo a execução e gerenciamento deste
processo; e, a colonização empresarial privada, empreendida pelas companhias
colonizadoras que por meio de acordos realizados com o Estado desenvolveram
seus projetos de colonização.
O processo de colonização oficial esteve presente desde os primeiros
governos da nova Província, desmembrada de São Paulo em 1853, com
preocupação em desenvolver políticas que incentivassem o povoamento do
território e o desenvolvimento da agricultura, buscando assim, atrair imigrantes
estrangeiros, dando preferência àqueles que tinham experiências em trabalhos
agrícolas. No entanto, deve ser considerado que inicialmente tal política não foi
bem sucedida, porém as frustrações não impediram que o poder público
continuasse insistindo.
A ocupação da região do norte pioneiro paranaense teve inicio de forma
espontânea no final do século XIX, como expansão da fronteira agrícola do café
paulista, alcançando maior proporção a partir de 1920, em decorrência do
aumento do preço do café, no mercado internacional a partir da Primeira Guerra
Mundial.
A chegada e o avanço desta frente pioneira estiveram atrelados a
transtornos referentes à posse e propriedade da terra, pois de maneira geral, na
época adquirir terras no Norte do Paraná, segundo Serra (1991:30), “não
significava comprar, mas simplesmente tomar posse e depois requerer o direito
de propriedade junto ao Estado. Muitas vezes, os conflitos é que determinavam a
quem a terra iria pertencer”.
Após 1930, o Estado preocupado com a forma como essas terras estavam
sendo apropriadas, recupera as terras devolutas desviadas por grileiros e
concessões fraudulentas e estabelece um processo de colonização.
O Estado estabeleceu uma nova ordem na ocupação do espaço,
concedendo a grupos empresariais o encargo de organizar uma estrutura
fundiária e urbana, estruturando a organização espacial da região norte e
noroeste. Segundo Cancián,
“... a fórmula de resolução do problema, foi a mudança da política agrária, o favorecimento à formação de empresas colonizadoras. Conceder terras a empresas, para que estas, mediante a especulação com sua venda em condições remuneradoras, compensassem o investimento com a abertura de estradas. O programa político para facilitar a colonização era favorecer quem tivesse capitais, já que o Estado não dispunha. Tratava-se de incentivar a colonização dirigida. (Cancián 1981, p. 118 ).
Portanto, grande parte da colonização do norte e noroeste do estado foi
realizada por companhias privadas, que através de compra, permuta ou cessão
organizaram a estruturação espacial dessas áreas. O Estado nesse processo de
concessões de terras a baixo custo às companhias atrelou ao contrato a
construção de infraestrutura nessas áreas, já que o mesmo não dispunha de
capital para tal feito.
A colonização privada propiciou o acesso à terra àqueles que tinham pouca
riqueza. O grande atrativo era as facilidades que as companhias ofereciam: lotes
pequenos, preços baixos e pagamentos prolongados, além de oferecer toda a
infra-estrutura básica para aqueles que desejavam derrubar a mata e introduzir
campos produtivos.
A porção do território paranaense que compreende a região Noroeste, é
denominada de Norte Novíssimo por alguns autores, e pelo IBGE (1968), em
virtude desta região ser a última a ser incorporada ao processo de ocupação do
Norte do Paraná. Segundo Serra (1992, p.72) “as designações ‘Norte Velho’,
‘Norte Novo’ e ‘Norte Novíssimo’ levam em conta os diferentes períodos de
ocupação do Norte do Paraná como um todo, via de regra na cadência do café”.
Terras novas foram sendo gradativamente incorporadas conforme o maior ou
menor dinamismo da cultura cafeeira.
A Companhia de Terras Norte do Paraná, de capital inglês, posteriormente
denominada de Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, apresenta-se em
destaque no processo de ocupação dessa área, no que se refere a área loteada,
bem como no modelo de estrutura organizacional a ser seguida, conforme se
apresenta no livro comemorativo ao cinqüentenário:
[...] o Norte do Paraná, colonizado pela companhia, é antes de tudo um exemplo a seguir, um exemplo do que pode alcançar o agricultor brasileiro quando trabalha um solo fértil que seja seu, amparado pela certeza de lucro e pelo direito de propriedade. [...] “. CMNP(1975)
Porém muitas outras companhias fizeram seu papel na ocupação e
colonização desse espaço.
O processo de ocupação da região noroeste ocorreu a partir da década de
1950, impulsionado pela valorização do café no mercado internacional, que em
1954 alcançava bons preços. A busca por novas terras virgens para o plantio do
café se direcionou neste sentido, fundando municípios de grande importância
regional: Cianorte em 1953 e Umuarama em 1955.
Essa região é composta por solo de terras mistas e arenosas,
predominando o solo de Arenito Caiuá., menos propícia para a lavoura cafeeira.
Inicialmente, logo após a derrubada da mata verificam-se boas e rendosas
colheitas, porém poucos anos depois, a produtividade decaía rapidamente. Desta
forma, o ciclo cafeeiro sobre os solos do Arenito Caiuá foi rápida.
Vale destacar que em virtude da ocupação do solo por pequenas e médias
propriedades, a presença de pastagens foi significativa, o que já era indícios de
terras mais pobres, pois, utilizavam-se os espigões para o café e as partes baixas
para o gado.
O fluxo de trabalhadores, que em sua maioria estavam à procura de terras
para desbravar, quer na condição de pequenos proprietários, quer na condição de
empreiteiros contratados pelos proprietários para a derrubada da mata e plantio
do café, foi grande. O resultado foi o crescimento populacional da região e do
Estado atingindo taxas nunca registradas em qualquer parte do país
As estratégias empregadas pelas companhias que levaram em conta muito
mais que a simples comercialização das terras, pois, a associaram com a
atividade econômica da cultura cafeeira, os bons preços pagos a esse produto,
bem como, um solo de alta qualidade e infra-estrutura necessária, assegurou ao
estado no período de 1940 a 1970 elevadas taxas de crescimento demográfico.
Porém, influenciado por mudanças estruturais no contexto nacional, com a
introdução de um modelo capitalista a economia brasileira, muda-se toda a
estrutura de organização do espaço norte paranaense. A mudança nesse cenário
foi baseada em dois aspectos: a crise do café, paralelamente, à modernização da
agricultura.
Quando a cafeicultura norte paranaense entrou no mercado brasileiro, na
década de 1930, constituiu um aumento na oferta do produto já em crise de
superprodução, contribuindo para um desequilíbrio ainda maior entre oferta e
procura. Esse excedente forçou o governo brasileiro a criar o programa nacional
de erradicação, onde os cafezais mais antigos e com baixa produtividade passam
a serem substituídos por outras culturas e por pastagens. Na medida em que se
desestimulavam os cafezais antieconômicos, com desestímulos creditícios,
controlando o replantio, o governo subsidiava os agricultores no período
representado entre a erradicação e a colheita da nova cultura substitutiva, o que
impulsionava a transformação do campo, já na década de 1960.
No norte paranaense em função da boa qualidade do solo e em geral
cafezais mais jovens que o de outras regiões do país, fez com que os produtores
resistissem por mais tempo. No entanto essas transformações foram ocorrendo
de forma gradual, nas diferentes regiões do norte do Estado, associada ao baixo
nível do preço do café, aparecimento da ferrugem e fortes geadas.
Outro fator que impulsionou a mudança na configuração do espaço do
norte e nordeste paranaense foi o processo de modernização da agricultura,
caracterizado por uma política de crédito agrícola, destinado à compra de
máquinas, insumos e sementes selecionadas, que melhorariam o rendimento das
lavouras e colocando a agricultura nos moldes do capitalismo.
Em toda a região colonizada pela CMNP essa incorporação do novo
modelo agropecuário foi acontecendo com intensidade e velocidade diferente.
As regiões próximas às cidades de Londrina e Maringá, onde o processo
colonizador se deu primeiramente, por ter as condições de solo e relevo
excelentes para a mecanização, receberam os maiores incentivos para a
produção de soja, trigo e milho, pois necessitavam de uma cultura que
imediatamente substituísse a erradicação dos cafezais e para que a
modernização da agricultura se estabelecesse.
O norte paranaense com a substituição da lavoura cafeeira na década de
1970 se tornou uma região de grande potencial para a configuração do processo
modernizador do campo, pois, o relevo suavemente ondulado e um solo
favorecido por nutrientes, se constituíram as condições necessárias para as
grandes lavouras de grãos. No noroeste, porém, uma dessas condições – o solo –
em particular não favoreceu da mesma forma a modernização da agricultura
como nas demais regiões do norte paranaense.
Sendo assim, por essas e outras razões onde a modernização da
agricultura não se fez pelas culturas de grãos (soja, trigo, milho) altamente
dependentes de capital, ela abriu espaço para outras culturas como a cana-de-
açúcar e a mandioca e posteriormente para a afirmação do pasto, como é o caso
da área de domínio do Arenito Caiuá.
Nessas áreas a produção do café se mostra com resistência até meados
da década de 1970 mesmo com a política oficial de desestímulo à cafeicultura e
em contra partida o estímulo às culturas modernas. Apesar da resistência, a
penetração da modernização era inevitável, principalmente pela descapitalização
que atravessava os produtores de café, agravada pelo processo de degradação
do solo, alcançando baixas produtividades além das sucessivas geadas. Diante
das dificuldades muitos produtores arrendaram suas propriedades, enquanto
outros venderam, liberando-as para a inserção da modernização da agricultura.
Parte significativa dos municípios da mesoregião noroeste do Paraná
passaram por tempos difíceis com o fim do ciclo do café. Enquanto a cultura
cafeeira dominava a paisagem, ela tratava de fixar o homem ao campo, pois
quase tudo o que necessitavam o campo poderia lhe oferecer. No entanto, essa
situação se altera com introdução da lavoura mecanizada, e ainda com maior
freqüência no noroeste, com as pastagens.
A população rural esteve no campo enquanto a lavoura cafeeira também
esteve presente, pois a cultura do café implica numa rotina de trabalho que
necessitava constantemente de mão de obra, o que assegurava a sobrevivência
da família.
Com o processo de modernização na agricultura alteraram-se as relações
de trabalho, ocasionando quedas progressivas do contingente populacional que
se ocupava do trabalho no campo. Por ser a cafeicultura a grande mantenedora
da população rural, quando esta deixa de ser a cultura principal cedendo espaço
para outras em que as máquinas realizam praticamente todo o trabalho, ou que
não necessita de grande contingente de mão de obra, como o caso da pastagem,
instaura-se um sério problema do êxodo rural.
A trajetória da população que até a década de 1960 se direcionava e se
estabelecia pelo norte e nordeste paranaense, toma sentido inverso a partir de
1970. O dinamismo da população foi marcado até a década de 1960 pela boa
fase da cafeicultura e na fase posterior a 1970 pelo desestímulo causado na
mesma, acompanhado pela inserção da modernização da agricultura.
3- NOVA OLÍMPIA: A COLONIZAÇÃO E AS PRIMEIRAS FORMAS DE USO DO SOLO
Nova Olímpia é um pequeno município do Estado do Paraná, com área de
136,31 km² e uma população de 5.280 de habitantes, de acordo com o Censo
Demográfico do IBGE (2000). Está localizado na mesoregião Noroeste do Estado,
na microrregião de Umuarama.
A colonização do município de Nova Olímpia está atrelada ao processo
de ocupação da região norte do Paraná. De acordo com a territorialização das
frentes pioneiras e classificação do IBGE (1968), corresponde ao Norte
Novíssimo, que abrange a área que se estende do rio Ivai ao rio Paraná e Rio
Piquiri, colonizada de 1940 até 1960.
Neste período, muitos paulistas, mineiros, gaúchos, se dirigiram para a
região noroeste do Estado, particularmente Nova Olímpia, movidos pelo processo
de expansão da cultura cafeeira. Os bons preços do café impulsionavam a busca
por terras virgens. Porém, destaca-se que o noroeste paranaense constitui o
período mais curto de predomínio da lavoura cafeeira, pois a política do governo
federal de desestímulo ao cultivo do café, que impulsionou a transformação do
campo já é grande na década de 1960.
O modo de acesso à terra também foi um grande incentivo para os
colonizadores. O sonho de tornar-se proprietário realizou-se para muitos colonos,
que como trabalhadores em outras regiões cafeeira juntaram suas economias e,
graças à divisão de terras em pequenos lotes e às condições facilitadas de
pagamento, proporcionaram a aquisição de terras e o título de proprietário.
É sabido que as terras da região noroeste paranaense, não eram tão
férteis quanto às demais porções do norte paranaense, de domínio do solo de
terra roxa. Eram terras compostas por solo misto, ora terra roxa, oriunda de
derrames basálticos, ora solo de arenito, proveniente da Formação Arenito Caiuá.
O município de Nova Olímpia abrangia áreas do Arenito Caiuá, de menor
fertilidade, apesar da exuberância da floresta. Porém, isso não se tornou um
empecilho para os colonizadores, principalmente porque logo após a derrubada
da mata os solos rendiam boas colheitas.
A colonização oficial de Nova Olímpia, teve inicio em 1947, com a
chegada à região do Sr. Moacir Loures Pacheco, proprietário de um lote de terra
herdado de seu pai Geniplo dos Santos Pacheco, terras que hoje corresponde a
grande parte dos municípios de Nova Olímpia e Maria Helena.
Em 1924, Geniplo dos Santos Pacheco, recebeu uma área de 26.213
alqueires de terra do governo do Estado do Paraná, cerca de 65.000 hectares,
como metade do pagamento da obra de construção de um trecho da estrada que
liga Ponta Grossa a Guarapuava.
Em virtude do domínio de floresta fechada e da não existência de via de
acesso a essa área, a comercialização ou colonização nesse período tornou-se
impossível. Assim, a colonização só ocorreu mais tarde, quando Moacir Loures
Pacheco, sem capital suficiente para a colonização, associa-se ao capitalista
paulista Mario de Aguiar Abreu, antigo amigo da família, e criam a Sociedade
Colonizadora Paraná Ltda., na década de 1950.
Esse tipo de colonização privada foi uma fórmula política do governo do
Estado de conceder a grupos empresariais o encargo de ocupar os espaços
vazios e integrá-los ao sistema capitalista. O governo preocupado com a
ocupação desordenada e ilegal e sem recursos financeiros para realizar tais
investimentos, viabilizou a ocupação de toda a região norte e noroeste do estado.
Transferiu à empresa de colonização toda a infra-estrutura básica, com estrada
de acesso, instalação de serrarias, motores geradores de energia, entre outras,
para garantir a permanência daqueles que se instalavam nessas cidades e
povoados. Dessa forma o governo poderia se beneficiar também com os impostos
sobre a comercialização dos lotes e da produção.
Buscando oferecer o mínimo de estrutura básica para a comercialização
dos lotes, a Sociedade Colonizadora Paraná Ltda contratou uma empresa de
Curitiba para abertura da primeira estrada de acesso a essas terras, que se
constituiu um trecho de 80 quilômetros de extensão ligando Araruna até Maria
Helena. Com a estrada aberta, contrataram o engenheiro Osvaldo Formighieri que
dividiu a área em lotes, sítios e chácaras, divisão está estruturada nos moldes da
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná.
A área rural seria cortada de estradas vicinais, abertas de preferência ao longo dos espigões, de maneira a permitir a divisão da terra da seguinte maneira: pequenos lotes, de 10, 15 ou 20 alqueires, com frente para a estrada de acesso e fundos para o ribeirão. Na parte alta, apropriada para plantação do café, o proprietário da gleba desenvolveria sua atividade agrícola básica: cerca de 1.500 pés por alqueire. Na parte baixa construiria sua casa, plantaria sua horta, criaria seus animais para consumo próprio, formaria seu pequeno pomar. A água seria obtida no ribeirão ou poços de boa vazão. As casas de vários lotes contíguos, alinhados nas margens dos cursos d'água, formariam comunidades que evitassem o isolamento das famílias e favorecessem o trabalho em mutirão, principalmente na época da colheita de café, que para a maioria dos pequenos agricultores representaria lucro líquido de sua atividade independente...( (CMNP, 1975, p.76)).
A comercialização desses lotes também foram inspirados no modelo de
comercialização da Companhia Melhoramento Norte do Paraná.[...] As áreas eram visitadas por trabalhadores sem posses geralmente colonos paulistas, mineiros ou até mesmo de outra área do norte paranaense já ocupada, que após conseguir juntar algumas economias procuravam os escritórios das companhias colonizadoras. Visitavam as glebas, escolhiam seu lote de acordo com suas posses regressando logo para fechar negócio e pagar a porcentagem inicial(variando de companhia para companhia, dez , vinte ou trinta por cento do valor), assegurando-se assim a posse da terra, o restante era pago em quatr anos, com juros bastantes baixos. ... (CMNP, 1975, p. 76)
Em 1957 começou o planejamento de uma nova cidade a se instalar no
norte novíssimo. Para homenagear sua mãe D.Olímpia Loures Pacheco, Moacir
Loures Pacheco deu o nome de Olímpia, tendo como localização inicial o atual
bairro de Olímpia Velha. Porém, em 1958, a Sociedade Colonizadora Paraná
Ltda., adquiriu 4.000 alqueires da Gleba 11 pertencente ao municipio de Cruzeiro
do Oeste por se tratar de uma área mais plana e que daria um melhor
entroncamento rodoviário, transferiu-se para este local os projetos de construção
da cidade, agora com o nome de Nova Olímpia.
As primeiras familias recém-chegadas, instalavam-se provisoriamente em
ranchos nos seus lotes cobertos de mata. A derrubada da mata era feita por
trabalhadores contratados na forma de empreitada ou pela própria família que
contratava pessoas para auxiliá-la.. Em alguns casos o empreiteiro utilizava a
terra, na forma de porcenteiro, por um período de tempo até ser utilizada pelo
proprietário.
Após a derrubada, seguia-se a limpeza da terra com a queimada, depois
o coveamento e o plantio do café que constituiria-se a principal renda. O plantio
era feito por sementes lançadas nas covas arruadas, distanciadas uma das outras
de 3 a 4 metros. O cafeeiro levava de 3 a 4 anos para produzir, necessitando no
decorrer desse período de várias capinas, podas até a colheita alcançar elevados
índices de produção, como resultado da grande fertilidade da terra virgem.
Dada a necessidade de autossuficiência alimentar e de algum excedente
que pudesse comercializar, a pequena propriedade continha um pouco de tudo.
À espera da produção dos cafeeiros recém-plantados, intercalava-se lavouras
temporárias, criação de suínos e gado.
Vale destacar que no momento de ocupação da maior parte dessas
terras já estava praticamente encerrada a etapa de plantio de cafezais
influenciados pelos preços altos desse produto no mercado, portanto a
diversificação em torno da pecuária foi significativa. As pastagens artificiais foram
formadas a partir da derrubada da mata em terras virgens, utilizando-se o espigão
para o cultivo do café e as partes baixas da propriedade para a criação do gado.
O fluxo de habitantes era intenso, chegavam à média 10 a 15 familias por
semana. A rodoviária localizada no centro da cidade(atual Praça da República)
vivia abarrotada de pessoas. Eram trabalhadores a procura de terras para
desbravar, quer na condição de pequenos proprietários, quer na condição de
empreiteiros contratados pelos proprietários para a derrubada da mata e plantio
do café, ou até mesmo pessoas sem nenhuma intenção de se embrenhar na
mata, mas estabelecer seu negócio na pequena cidade em formação. O resultado
foi um elevado crescimento populacional da área, a exemplo do que ocorria em
outras áreas e municípios da região.
O café foi o produto que impulsionou o povoamento de todo o norte do
Estado e deu impulso ao desenvolvimento do município de Nova Olímpia, onde a
riqueza brotava da terra. Historicamente, terras novas estavam ligadas à
plantação de café. Poucos pensavam em plantar outro produto, pois a maioria das
pessoas era oriunda de regiões cafeeiras e essa tradição já estava enraizada em
sua formação.
A safra de café dava um lucro líquido, pois em pequena propriedade o
trabalho era familiar, portanto não gastavam com o pagamento de empregados;
não havia gastos com a manutenção, pois a terra lhe dava a fertilidade necessária
e todo o alimento que precisavam, plantavam entre as ruas de café; e, o lucro era
utilizado para ampliar a propriedade, adquirindo nova gleba. Era um tempo de
prosperidade.
Toda a produção era vendida na própria cidade, nas “cerealistas”,
empresas que comercilizavam o café e outros cereais, que por sua vez
comecializavam a produção nas cidades maiores, com representantes de casas
exportadoras. O comércio local progredia, pois a riqueza gerada pelo café
circulava na própria localidade.
Os dados estatísticos comprovam esse grande desenvolvimento. O
primeiro censo do IBGE, que registra os dados populacionais do município foi o
de 1970, e consta de uma população de 9.475 habitantes, sendo 4.761 na área
urbana e 4.714 na área rural. Mas, segundo relatos de antigos moradores, a
população de Nova Olímpia teria atingindo os 12 mil habitantes. O que se percebe
é um equilíbrio entre a população rural e urbana, demonstrando também que o
café era um gerador de riqueza, tanto para os proprietários rurais, quanto para a
população urbana local.
4- A DINÂMICA POPULACIONAL: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS
O processo de ocupação da região norte e noroeste do Paraná que durou
do final da década de 1920 até meados da década de 1960, quando se esgota as
últimas faixas de terra para o avanço da frente pioneira no norte novíssimo,
esteve intimamente ligada ao ciclo econômico do café. Segundo BATALIOTI :
O norte paranaense passou a ser o centro de atração populacional no inicio do século XX, mais especificamente com a colonização empresarial privada e também oficial dirigida pelo próprio Estado. Uma colonização que se fundamentou em derrubar a floresta para a atividade da cultura cafeeira, também exigiu numerosa mão de obra, resultando na corrente migratória direcionada a essa região. O adensamento populacional expressivamente no campo, imprimiu traços específicos à região no curto período de tempo de três décadas (1940-1970). (BATALIOTI, 2004, p. 85).
Em virtude da expansão cafeeira do oeste paulista, colonos mineiros e
paulistas, em busca de uma melhora de vida e ascensão social, adquiriram
pequenos lotes de terra para o cultivo do café que exigia grande contingente de
mão de obra, conforme relata SERRA (1992):
...a esta altura, fazendeiros paulistas que relutavam em abandonar a atividade, se deslocam quase que m massa para o Norte do Paraná, transferindo para a nova zona produtora toda a experiência armazenada durante seguidos anos no trato de lavouras. Com os fazendeiros, também se deslocam seus empregados que ao se incorporarem à nova frente pioneira vão garantir mercado fácil para a colocação dos pequenos lotes, vendidos em profusão pelas companhias loteadoras.
A produção cafeeira foi fator decisivo para a permanência da
população no campo. A cultura cafeeira associada às culturas de subsistência
intercalar ao café assegurava a permanência do homem no campo, bem como a
sua sobrevivência e de sua família. BATALIOTI (2004:86).
SERRA (1992:71), destaca essa importância do café para o processo de
ocupação. “A cultura cafeeira foi tão importante para a ocupação humana e econômica e, por extensão, para o desenvolvimento global da região que os avanços e recuos da atividade vão obter respostas imediatas em termos de maior ou menor intensidade na
incorporação de novas terras ao processo produtivo, vale dizer para o avanço da frente pioneira”
O que se observa é que o café vai se expandindo no norte/noroeste do
Paraná em etapas, seguindo a tendência do mercado, onde na alta do preço
novas áreas eram incorporadas; preço baixo, estagnação do cultivo. “Rumo ao
noroeste, na década de 1950, os cafezais foram se estendo, levando o
povoamento mais para o interior, e consequentemente à criação de novos
municípios”. CANCIAN (1981:111).
O fluxo de habitantes que na maioria eram trabalhadores em busca de
terras para desbravar era intenso. Por conseqüência, o crescimento populacional
da região e do Estado reflete essa movimentação de pessoas, atingindo taxas
nunca registradas no país. Os dados da tabela a seguir que expõe a evolução da
população da região norte paranaense, em comparação com a evolução da
população do Estado, nos mostra esse intenso salto na população paranaense,
especialmente na região norte, ora ocupada pelo impulso da cultura cafeeira.
EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO TOTAL, URBANA E RURAL DO NORTE PARANAENSE E DO ESTADO DO PARANÁ - NO PERÍODO DE 1940 A 1970.
AnoNorte paranaense Estado do Paraná
Pop. total Pop.urbana Pop. rural Pop. total Pop.urbana Pop. Rural1940 304.453 64.534 275.929 1.236.276 302.272 974.004
1950 874.287 99.696 774.591 2.115.547 528.288 1.587.259
1960 2.427.768 597.615 1.830.153 4.277.763 1.305.927 2.962.312
1970 3.734.936 1.170.833 2.564.103 6.865.928 2.495.042 4.370.886
Fonte: IBGE: Censos Demográficos – 1940 a 1970.
As formas empregadas pelas companhias para a comercialização das
terras, associadas com a atividade econômica do café, bem como, um solo de
alta qualidade e a infra estrutura necessária, assegurou ao Estado no período de
1940 a 1970 elevadas taxas de crescimento demográfico.
A população rural permaneceu no campo enquanto a lavoura cafeeira
também permaneceu. A partir de 1970, esse contexto começa a mudar. O Estado
do Paraná passa por transformações devido à inserção da agricultura na
economia capitalista. No noroeste paranaense essas transformações foram
sentidas após a geada de 1975. “Gradualmente, no campo, foi ocorrendo a nova
configuração da agricultura mais moderna, produtiva, competitiva e com maior
lucratividade. Porém, atrelado a todos esses benefícios vieram os impactos”.
Conforme ressalta BATALIOTI (2004:110).
Com a modernização da agricultura, houve um aumento da produtividade,
justamente porque se utiliza maiores proporções de insumos modernos, como
fertilizantes e defensivos agrícolas. Porém esse processo de modernização tem
provocado principalmente o desemprego com a redução da mão de obra rural e
como conseqüência o êxodo rural, complementa BATALIOTI (2004).
A diferença sócioeconômica dos produtores rurais também é visível, o que
favorece a concentração fundiária, e segundo FLEISCHFRESSER (1988:12):
Como conseqüência desse tipo de modernização, as desigualdades sócio-econômicas entre os produtores se acentuam, porque se antes já não dispunham de condições homogêneas de produção, com a introdução de técnicas produtivas externas ao meio rural as diferenças se intensificam. Assim, as condições materiais, a própria localização física (relevo, fertilidade natural do solo e ou proximidade do mercado), bem como o tamanho da área apresentam-se para uns como oportunidade e para outros como barreira á introdução do progresso técnico e á apropriação de seus frutos.
O que resta à população rural despojada de emprego e de terra é vender a
sua força de trabalho desqualificado para a indústria urbana que está em fase de
crescimento e necessitando desta reserva de mão de obra barata. GRAZIANO DA
SILVA (1982) nos seus estudos sobre as transformações da expansão do
capitalismo na agricultura do Paraná cita o estudo do IPARDES (1978:25-8):
Em épocas difíceis, o capital permite que os produtores diretos tenham acesso à terra: na formação dos cafezais, após uma geada que os tenha devastado ou em épocas de queda dos preços internacionais do produto, o capital se utiliza de formas de acesso à terra, como a parceria e o arrendamento, como um meio de dividir os riscos da produção. Isso ocorre também em casos de desmatamento, de formação de pastagens. Passado o risco, torna-se desnecessário dividi-lo, principalmente se a agricultura estiver se capitalizando, paralelamente a um processo de valorização das terras. sendo necessário então expropriar os produtores diretos, torná-los livres para que possam servir ao capital como assalariados, vendendo-lhe sua força de trabalho.8
( ... ) Esse processo de expulsão dos produtores diretos ( ... ) se agrava pela substituição de culturas por pastagens e pela insuficiência da expansão industrial do Estado em absorver a
mão de obra liberada do campo. Esta então não encontra alternativa a não ser engrossar as fileiras do contingente de reserva, alternando a ocupação de volantes com empregos urbanos de baixa qualificação.
É importante ressaltar que houve diferenciação na intensidade e na
velocidade de implementação do novo modelo agrícola, tanto em nível de país,
Estado e regiões. Em locais onde a colonização se deu primeiramente, e de
predomínio da terra roxa – norte paranaense – regiões de Londrina e Maringá, o
café foi erradicado e em sua substituição surge o cultivo de produtos para a
exportação aos moldes da agricultura moderna, como a soja, milho, trigo.
Porém, em regiões de colonização mais recente, de domínio do Arenito
Caiuá, solo arenoso, o destaque ficou para a pecuária extensiva e mais
futuramente para o cultivo da cana. “Isso revelou a seguinte situação para os
agricultores: que o arenito serve para a pastagem e a terra roxa para outras
culturas”, segundo BATALIOTI (2004)
Como conseqüência da mudança no modelo agrícola, observa-se uma
mudança sócio-espacial, e um novo arranjo é dado ao espaço, e nova alteração
na dinâmica populacional se observa.
A partir de 1970, porém, tanto a região norte paranaense como o Estado passou de receptor de população para expulsor, o norte paranaense perdeu população até o ano de 1991, chegando a quase um milhão de pessoas e diminuindo o efetivo da população rural [...] .Esse fato foi marcado, principalmente no norte pela substituição da cultura cafeeira pela combinação das culturas temporárias altamente mecanizadas de soja e trigo e mais especificamente no noroeste pelas pastagens, resultando à região o êxodo rural e a presente concentração fundiária. BATALIOTI (2004)
Portanto, a decadência do cultivo do café baseado no trabalho intensivo de
mão de obra, a transformação de extensas áreas em criação de gado, com
utilização de pouca mão de obra e o alto grau de mecanização da agricultura
levaram a um desemprego rural de dimensões catastróficas em grande parte do
norte e noroeste do Paraná. Essa população migrou principalmente para grandes
centros como Curitiba e São Paulo e regiões metropolitanas, aonde iam, em
busca de emprego, escola para os filhos e maior conforto. Muitos também foram
tentar o seu espaço na nova fronteira agrícola que se forma na região de Mato
Grosso e Rondônia.
O fluxo populacional que tinha como direção o norte e nordeste paranaense até a década de 1960, inverte seu trajeto a partir de 1970. Os dados da tabela abaixo mostra o dinamismo da população que foi marcado até a década de 1960 pela euforia da boa fase da cafeicultura e na fase posterior a 1970 pelo desestímulo causado na mesma.
EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO TOTAL, URBANA E RURAL DO NORTE PARANAENSE E DO ESTADO DO PARANÁ - NO PERÍODO DE 1960 Á 2000.
AnoNorte paranaense Estado do Paraná
Pop. total Pop.urbana Pop. rural Pop. total Pop.urbana Pop. rural1960 2.427.768 597.615 1.830.153 4.277.763 1.305.927 2.962.312
1970 3.734.936 1.170.833 2.564.103 6.865.928 2.495.042 4.370.886
1980 3.192.462 1.767.013 1.425.449 7.629.392 4.472.561 4.370.886
1991 2.849.525 2.423.748 864.597 8.448.713 6.197.953 2.250.760
2000 3.018.342 2.524.620 493.722 9.558.126 7.782.005 1.776.121
Fonte: IBGE: censos demográficos (1960 á 2000)
Tal esvaziamento rural, que se deu em função principalmente da
introdução da pastagem extensiva, na região noroeste do Estado vai se agravar
mais recentemente com o avanço das lavouras de cana de açúcar, em razão da
ampliação do parque sucroalcooleiro na região.
No caso do município de Nova Olímpia, essa nova forma de uso do solo,
ganha expressão no final da década de 1980 em virtude da instalação da Usaciga
– Usina Cidade Gaúcha de Açúcar, Álcool e Energia Elétrica S.A, localizada no
município de Cidade Gaúcha, o qual passa a ser fornecedor de matéria-prima
para essa indústria.
Com a erradicação dos cafezais, no município de Nova Olímpia, que
ocorreu de forma gradativa, após a grande geada de 1975, a substituição por
outras culturas foi inevitável. Alguns produtos alternativos foram sendo
introduzidos, como o milho, algodão, para posteriormente se firmar na pastagem.
Porém, na forma extensiva, proporcionando degradação do solo, a pastagem
garantia pouca renda ao proprietário, que descapitalizado, logo viu no cultivo da
cana de açúcar a opção para a sua manutenção na atividade rural.
A produção de cana de açúcar é tão intensa no município, que é visível a
redução do cultivo de produtos agrícolas alimentícios em detrimento de sua
produção. De acordo com o zoneamento agro ecológico da cana-de-açúcar (ZAE
Cana - decreto nº 6.961, de setembro de 2009) que apresenta limitações para o
cultivo da cana no território brasileiro, Nova Olímpia é classificada como município
que não pode aumentar a área (Boletim Informativo do sistema FAEP nº1071.
p.8), o que demonstra a grande expansão da produção canavieira em sua área.
Em linhas gerais, no norte e noroeste paranaense as florestas cederam
lugar à paisagem agrícola produzida pelo homem num processo muito rápido. A
cultura de subsistência intercalada à cultura cafeeira configurou a paisagem
regional no período que se estende da década de 1930 à década de 1960 e, para
posteriormente, ceder lugar às culturas mecanizadas, e/ou para a pastagem com
o processo de modernização da agricultura. Ambas as situações, ou seja, as duas
paisagens produzidas pelo homem, refletiram na espacialização e na densidade
demográfica, ora para uma maior concentração da população no campo, ora para
o declínio da população rural e total de toda a região.
5- AS HISTÓRIAS CONTADAS PELOS PIONEIROS
Esta parte do trabalho corresponde à narrativa das experiências de vida de
pessoas que vivenciaram o processo de colonização do município de Nova
Olímpia. Os entrevistados foram pessoas que atravessaram esse período da
história local com características bem marcadas e conhecidas.
A história oral é um método de pesquisa que leva ao conhecimento. E o
desenvolvimento da investigação é justificado pela busca de respostas a questões
consideradas importantes para o estudo em evidência.
Tínhamos por objetivo a confrontação dos fatos relativos ao processo de
ocupação do norte e noroeste do Paraná e todo o processo de transformação
ocorrido neste espaço a partir de 1970. O documento elaborado pela autora,
denominado “Unidade didática”, foi profundamente estudado pelos alunos em sala
de sala, o que serviu de base para o entendimento do contexto histórico e
posterior confrontação dos dados coletados.
As entrevistas foram direcionadas pelos alunos, seguindo uma ordem de
questões que envolvia os processos históricos, a origem, o período que veio,
formas de aquisição da propriedade, a derrubada da mata, o café como cultura
principal, a crise da agricultura, a erradicação dos cafezais, a introdução de novas
culturas e a paisagem agrária atual do município.
Através dos depoimentos pudemos confirmar que a colonização do
município de Nova Olímpia foi realizada com a participação de pessoas simples
oriundas de outras regiões do Brasil, como São Paulo e Minas, que vinham cheios
de esperança, adquirir sua pequena propriedade e com muito esforço derrubaram
a mata e plantaram café.
O café foi o elemento integrador do homem à terra após a derrubada da
mata. A tradição e experiência no cultivo era sempre o elemento impulsor no
plantio, porém, pessoas que nunca tiveram contato com essa cultura antes da
vinda para o Paraná, também se influenciaram pela onda cafeeira e integraram-se
ao sistema. Os depoimentos ratificaram essa situação.
“Lá em Pernambuco, aonde eu morava não existia café, só tinha assim pra tomar, na feira. Torrava e tomava. Só vim conhecer café aqui no Paraná, aqui que vim mexer com café. Lá em Paranavaí que aprendi a plantar café... nas cabeceiras plantava café. Porque o povo gostava de plantar café. O povo aqui do Paraná só queria saber de plantar café.” (José Marcolino, pequeno proprietário - chegou em 1958, veio de Paranavaí)
“... Eu conheci o café depois que vim pra cá. Não conhecia não. Lá no norte não tinha café, lá onde eu vivia não tinha.” (Jose Maria Pereira da Silva – derrubador de mato – chegou em 1962, veio da Bahia)
“Eu escolhi plantar café, porque é a lavoura que eu sempre gostei. Lá no Estado de São Paulo sempre tocava café... Nunca mexi com outra lavoura.” (Oswaldo Rodrigues de Souza – pequeno proprietário – chegou em 1961, veio de Parapoã-SP)
“Quem tinha pouca terra a única coisa que dava dinheiro era o café. O preço era bom.” (Carlos Emidio da Silva – pequeno proprietário – chegou em 1960, veio de Santa Fé - PR)
O pretendido pelos primeiros colonizadores acontecia no momento que a
floresta cedesse seu espaço para o campo cultivado e assim, com o
desenvolvimento estava a esperança de riqueza. Esse processo de colonização
favoreceu a inexistência de reservas florestais, principalmente ao longo dos
numerosos cursos d´agua. Porém, a consciência ecológica atual é bem diferente,
através dos depoimentos percebe-se que as atitudes e pensamentos mudaram, é
percebível até um arrependimento em relação às ações realizadas no passado.
“Naquele tempo ninguém falava em reserva ambiental não. Naquele tempo o governo mandava derrubar até a beira do “corgo”. Quando comprava um pedaço de terra começava a limpeza da beira da água. E depois ia subindo pra cima”. (Jose Marcolino).
“Quando não se derrubava se paga mais impostos. Era um incentivo pra derrubar. Queria produção. Queria-se abrir para produzir... Não só se culpa o produtor, mas também não tinha orientação nenhuma e essa lei da reserva é de 1900 e trinta e pouco. O agricultor não sabia... e não era interesse do Estado em divulgar... Se pagava mais caro os impostos das áreas sem derrubar do que a área derrubada.” (Eduardo Magrinelli, veio de Oswaldo Cruz-SP, em 1958)
“... hoje destruí a natureza é... A gente pegava empreita. O pessoal conhecia nóis. Falava em derrubar a mata, vinham atrás de nóis. Eles exigia derrubar a mata até a beira do corgo. Faze o que, agente pegava o serviço tinha de dá conta. Hoje tem hora que quando entro no meio de mato assim sinto saudade... agente sente saudade. Porque o nosso serviço foi isso ai. Tocava café, mas era derrubador de mato.” (José Maria)
A comercialização de pequenos lotes e as condições parceladas de
pagamento realizado pela companhia colonizadora foi uma forma facilitada de
acesso a terra. Os colonos, geralmente como trabalhadores em outras regiões
cafeeiras, juntaram suas economias e realizaram o sonho de se tornarem
proprietários.
“Quando chegamos em 62, entramos aqui na Fazenda Eridan (propriedade do Dr. Moacir - atual Fazenda Bela Vista)... derrubemo o mato... formamo café por 4 anos. O serviço era derrubar mato... o serviço era isso ai, derrubava mato... Trabalhava pra formar café, ali na fazenda Eridan, do Dr. Moacir. Depois de uns 6 anos eu e meu irmão compremo uns 5 alqueire. Depois que passaram mais três anos, compramo mais 10. Tinha bastante gente. Era muita gente mesmo naquele tempo, a família veio tudo, dentro da fazenda ali. Eu, meu pai, meus irmão tudo. Muita gente mesmo... cada um pegava por porcentagem, quem podia tocar mais pegava mais, quem podia menos pegava menos. Eu mesmo tocava 4 mil pés de café... A colheitinha dos 4 anos era da gente. Depois dali com o dinheiro da colheita compramo 5 alqueires em dois. Era difícil... demo mil e mil pra pagar com um ano. Derrubemo a mata, plantemos algodão e graças a Deus com 6 meses já pagamo a terra. “ (Jose Maria)
“Lá no estado de São Paulo eu trabalhei uns 4, 5 anos de empregado tocando lavoura. Depois arrendei uma lavoura lá... e consegui dinheiro pra compra essa chacra ai. Comprei 4 alqueires, tinha dinheiro pra comprar mais, mais fiquei preocupado de não dá pra pagar. Essas terras foi o seguinte...
nóis comprava da companhia, pagava 40% e o restante com 3 anos sem juros.” (Oswaldo)
Chegamos aqui em 60, nóis morava em Santa fé, nós tocava lavoura lá. Entremos aqui em 60, mas compramo a terra em 59. A gente trabalhava em terreno dos outros A família veio de Mococa para Cornélio Procópio, em 46. Moramos 10 anos lá e depois viemos para Santa fé. Morando sempre em sitio dos outros. Trabalhava em lavoura de café. Trabalhava como empreiteiro...Lá em Santa Fé era empreiteiro, tocava café a meia. Quando vim pra cá vim morar em propriedade nossa mesma. Com a lavoura do café de lá, com a colheita do café, compramos lá uma chácra. Depois vendemo a chacra e o café que coimos e compramo o sitio aqui(Nova Olímpia). Aqui era 8 alqueires. Compramos da companhia do Dr Moacir Loures Pacheco. Diretamente da firma... foi pago a prestação. Foi entrada de 30% e o restante em 4 pagamento. Em 4 anos. Tudo foi desse jeito. Foi comprado dessa maneira. Nós fomos o segundo que abrimos aqui. Fomos nós mesmo que abrimos o carreador, o pedaço de estrada para chegar a mudança. Os lote já tinha marcação. Tudo numerado. Já tinha os lotes cortados. Geralmente era lote pequeno, 5 alquere 7 alquere, tudo pequeno. O único grande era um de 60 alqueire e depois foi dividido em dois. Todos sítios tinha água. As casas era feita perto da água, igual todos os vizinhos. Ninguém fez casa na cabeçera. Porque fura poço lá ia dava uns 40 a 45m... (Carlos)
“A maioria das pessoa que compro terra aqui foi com dinheiro do café lá fora, na região de Astorga, lá em Londrina. Maringá. Compro ai. Compro muita terra. Quem veio do Estado de São Paulo também compro terra da colheta do café.” (José Maria)
O fluxo de habitantes era intenso. A formação do município de Nova
Olímpia ocorreu de forma rápida e impulsionada pela produção cafeeira, que
também foi fator decisivo para a permanência da população no campo. Pois a
cultura cafeeira associada às culturas de subsistência intercalar ao café
assegurava a sobrevivência de toda família.“Vi Nova Olímpia nasce. Tinha gente, tinha muita gente, igual formiga. Quando fizeram aquela rodovia ali onde é a praça, se chega ali estava formigando de gente.” (José Marcolino).
“Com o café tinha muita gente. Nova Olímpia mesmo era dia e noite batida de martelo, construindo. E o povo vinha de fora, compra casa aqui entrava e já ia abri o sitio. Foi um movimento de gente barbaridade em Nova Olímpia..,tinha muita gente.” (Carlos Emidio)
Tinha bastante gente. Era muita gente mesmo naquele tempo, a família veio tudo, dentro da fazenda (Fazenda Bela Vista)ali. Eu, meu pai, meus irmãos tudo. Muita gente mesmo... cada um pegava por porcentagem, quem podia tocar mais, pegava mais,
quem podia menos pegava menos. Eu mesmo tocava 4 mil pés de café.” (José Maria)
O processo de transformação do campo ocorrido a partir de 1970 foi
claramente sentido pelos entrevistados. A cultura do café entra em crise
resultante dos baixos preços alcançados pelo produto em função de
superprodução, e a erradicação foi impulsionada pelas grandes geadas. O
governo estimula a substituição dos cafezais por outras culturas e pastagens. Em
Nova Olímpia a condição do solo, muito degradado e a descapitalização do
agricultor abriu espaço para as pastagens de baixa exploração econômica e, mais
recentemente para a introdução da cana de açúcar.
... foi logo na geada. Veio geando, geando. A gente mexia com a brota, ela não saia. Ou saia muito ruim. E o café caiu o preço duma vez. Ai a gente começou a plantar mamona. A mamona era a única que salva a vida da gente. Porque o preço era bom. E o café, o café, depois da geada de 75 não saiu mais com preço bom. Teve uma geada em 63 e outra em 75. A de 75 matou um café meu de 7 anos. Foi na terra... a gente cuidou da brota, mas a brota veio fraca, a terra já tava fraca, porque já tinha sete ano de uso. (Carlos)
... eu não recebi incentivo do governo, mas ouvi fala, que tinha um incentivo. Que o governo pagava pra arranca o café. Por que o preço não tava dando mais compensação. Então o povo já tava largando e ele queria que o povo plantasse café, pagava pra arranca, pra plantar café novo de novo. Que era o incentivo do governo. (José Maria)
... eu tinha um sitio cheio de café. Ai veio a geada de 75 que deixou o café na vara... ai não quis mais mexe com café. Joguei semente pra plantar capim. Eles (vizinhos) não sabia mexe com outro coisa. A geada vinha e eles tentavam de novo e sempre colhia um pouquinho. (José Marcolino)
Depois do café... Plantamos algodão, amendoim, milho, mandioca, né, mamona, depois acabou e foi o pasto mesmo. (José Maria)
Interessante é que as geada de 63, de 75, e depois a de 77, foi geando, mas nós colhíamos café. A produção era grande. O preço do café foi mais significativo do que as geadas. Arrancamos tudo, não valia mais a pena. Não compensava. (Geraldo Magrinelli)
A decadência no cultivo do café baseado no uso intensivo de mão de obra,
as leis trabalhistas, a transformação de extensas áreas em criação de gado, com
utilização de pouca mão de obra, levaram a um desemprego rural de grandes
dimensões. Essa população deslocou-se para grandes centros urbanos, como
Curitiba e São Paulo. Muitos também foram tentar o seu espaço na nova fronteira
agrícola que se forma na região de Mato Grosso e Rondônia.
“A população diminuiu. Nós chegamos a ter 16 mil habitantes, hoje nós temos 5 . Quantos alunos nós tínhamos? Chegava a ter 3 períodos , com um intermediário. Não tinha espaço para tanto aluno. (...) Aqui para nós foi o fim do café. Com o fim do café, as famílias começaram a vir pra cidade, não tinham emprego e ai saíram para outro lugar, para cidades grandes. Mas foi o fim do café.” (Eduardo Magrinelli)
“Na época que tinha café, tinha a arruação, tinha a colheita, aparecia sempre um serviço. Agora não tem mais nada disso. A pessoa tem 100 alqueires de terra de pasto e tem lá 4, 5 peão. Acabou o serviço. Não tem mais serviço. (...) Não tem quase ninguém mais no sitio... Você sai ai nessas invernadas aquelas casas, aquelas colônias de casa, tudo tinha família. Não tem mais ninguém. Você só vê um empregado que mexe com gado.” (Jose Marcolino).
“Teve uma diferença medonha foi só acaba a lavoura de café e começa a lavoura branca. Ia plantando e não ia produzindo, foi largando e indo embora e ficou desse jeito ai. Pouca gente. pouca gente. Pouco sitio. É... formo tudo pasto agora. Naquele tempo era tudo lavoura. Era tudo lavoura de café, agora é tudo pasto”. “(Carlos)”.
“Não vê mais nada plantado. Só tem quem tem chacrinha, 10 vaquinha produzindo leite pra vende não que saber de lavoura. Naquele tempo era tudo sitio pequeno mas todo mundo produzia Todo mundo planta e plantava bastante. A terra era mais fértil, era mais, agora só com adubo se não for com adubo não dá mais nada. A terra foi muito judiada foi muito produzida... o soja, o algodão judia muito da terra. Tinha o esterco da terra, da mata, né. Tinha a raiz, a raiz da mata, tudo ai que ajudava depois que acabou aquilo, a chuva foi carregando ai ficou a terra, pura. Agora tem que investi o adubo. Se não for com adubo não colhe nada. Foi produzindo menos e não tinha jeito de sobrevive, e muita gente foi pra São Paulo, outras cidades, Mato Grosso. ... a única coisa que ta dando um futuro pouco é o açúcar, a cana de açúcar que tem os bóia-fria que trabalha, porque senão esse povo não tava mais aqui. Porque faze o que. Não se vê lavoura, não se vê nada. A produção da cana é que ta sustentando esse povo. Porque senão, não tinha mais ninguém aqui em Nova Olímpia, só os sitiante mesmo. Já tinha acabado. Nova Olímpia formou muito depressa, era dia e noite o martelo batendo. (Oswaldo)
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Todo o espaço geográfico do norte do Estado do Paraná, apesar de
algumas particularidades, foi palco de intensas transformações a partir das
primeiras décadas do século XX, com o processo de ocupação, que teve como
base a expansão da cultura cafeeira paulista.
A ocupação organizada por empresas colonizadoras foi decisiva para a
vinda de um número grande de pessoas que com a esperança de riqueza e
ascensão social, e diante das condições facilitadas de pagamento e loteamentos
de pequenas áreas, viam no trabalho familiar e no cultivo do café uma forma de
tirar o seu sustento e alcançar o sucesso desejado.
O Noroeste do Paraná teve suas peculiaridades no que diz respeito a sua
ocupação, sendo a última fronteira de terras virgens a ser ocupada para o plantio
do café, Infelizmente, a qualidade de seu solo, não ofereceu condições em termos
de fertilidade que pudesse manter a cultura cafeeira por um período mais
prolongado, com boas colheitas, além das condições climáticas, com fortes
geadas.
Também cabe destacar que no período em que todo o norte do Estado
passa por profundas mudanças no setor produtivo com o processo de
modernização agrícola, especificamente na década de 1970, a mesoregião
noroeste paranaense, se diferencia das demais áreas quanto ao modelo de uso
da terra. Enquanto as áreas de domínio da terra roxa vêem no cultivo do trigo,
soja e milho uma forma de substituição da cultura cafeeira, com a implementação
da mecanização da lavoura, a mesoregião noroeste tem no solo um empecilho,
deixando os proprietários rurais bastante desorientados, onde na tentativa de
buscar um produto que propiciasse grande rentabilidade como o café, vê na
pastagem a solução. E mais tarde o cultivo da cana de açúcar, que domina
grande área na região.
Pode-se perceber que o processo de modernização agrícola não foi
acompanhado por todos. Na realidade essa nova forma de uso da terra, onde o
capital é primordial para a introdução das novas tecnologias, não considerou o
pequeno proprietário, que descapitalizado após a erradicação dos cafezais se vê
às margens desse processo.
Em um local onde a cultura do café e a pequena propriedade eram à base
da estrutura produtiva, e num curto espaço de tempo, esses valores são
invertidos, é evidente a mudança na dinâmica populacional, pois o que tanto
atraía, passa agora a expulsar. Despojada de tudo o que tinha, um grande
contingente de pessoas abandona a vida no campo e se dirige para os centros
urbanos em busca de uma nova forma de vida. É o êxodo rural, que atinge níveis
altíssimos em todo o norte e noroeste do Estado.
As narrativas das histórias de vida daqueles que experimentaram os
sucessos e as dificuldades do processo de colonização do município de Nova
Olímpia, contribuíram para a compreensão dos processos de mudanças que
ocorreram na região noroeste do Estado, e por conseqüência no Município de
Nova Olímpia. Nos seus relatos os entrevistados puderam se sentir sujeitos da
história, tentando reconstruir os acontecimentos que vivenciaram, passando as
suas experiências. As reflexões acerca dessas histórias de vida nos conduziram
ao passado, conhecendo uma sociedade que tinha características bem definidas,
e que suas ações e decisões resultaram na formação da atual, a qual
vivenciamos.
NOTAS
MAGRINELLI. Eduardo. (entrevista concedida em 07 de julho de 2009). 2009.
MAGRINELLI. Geraldo (entrevista concedida em 08 de julho de 2009). 2009.
MARCOLINO. José. (entrevista concedida em 30 de junho de 2009). 2009.
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