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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
A PRÁTICA DO ATLETISMO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA 5ª SÉRIE
DO ENSINO FUNDAMENTAL: AMPLIANDO POSSIBILIDADES
Márcia Aparecida Moritz Rakoski1
Claudio Kravchychyn2
RESUMO O Atletismo é uma modalidade importante no cenário esportivo mundial. Considerado o esporte-base, pela variabilidade motora que o compõe, é um conteúdo da Educação Física Escolar que pode servir para a vida futura dos alunos. O presente estudo traz uma análise do atletismo no cenário da Educação Física e dos esportes no Brasil e no mundo, e uma aplicação da modalidade nas aulas com base na metodologia crítico-emancipatória. A implementação das aulas ocorreu de forma satisfatória e os alunos demonstraram empenho, envolvimento e aprendizado satisfatório ao final da unidade de ensino proposta. Assim, a experiência realizada pode servir como incentivo e apoio aos professores para a inclusão do atletismo em seus planejamentos. Palavras-chave: Educação Física Escolar. Esporte. Atletismo.
1 Introdução
Como docente da disciplina de Educação Física da rede pública do Paraná,
observo que grande número de professores apresenta dificuldades em trabalhar o
atletismo como conteúdo específico da Educação Física em suas aulas.
No ano de 2009, ao me classificar para participar do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, fiz a escolha pelo tema “Atletismo”, uma vez
1 Professora da rede pública estadual do Paraná, lotada na Escola Estadual Almirante
Barroso/Rondon-PR, e participante do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). 2 Docente do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá.
2
que este sempre se fez presente em minhas práticas e escolhi colocá-lo em
discussão juntamente com meus colegas, profissionais da área para reunir estudo
(teoria), reflexões e práticas profissionais.
Este estudo justifica-se pela busca do aprofundamento teórico-metodológico-
científico que realizei no decorrer dos meus estudos no Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE e também pelo interesse em contribuir para o
aperfeiçoamento teórico e prático das aulas de Educação Física.
A escolha pela metodologia crítico-emancipatória vem ao encontro das
orientações das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCE) de Educação Física (2008),
mostrando um trabalho fundamentado em uma teoria crítica, escolha feita a partir de
pesquisa e de meus diálogos com meu orientador.
O atletismo brasileiro tem se deparado com inúmeras dificuldades que
impedem o seu pleno desenvolvimento. Isso também ocorre no contexto escolar,
segundo pesquisa realizada no ano de 2007 pelo professor PDE Reynaldo Seifert
Netto. O referido professor constatou que a maioria dos docentes de Educação
Física da rede pública do Paraná apresenta dificuldade em trabalhar o atletismo
como conteúdo específico em suas aulas, ao verificar que quando os mesmos se
prontificam a desenvolver a prática desse esporte, deparam-se com alguns
obstáculos, tais como como a falta de material específico, de espaço adequado para
a sua realização, etc. Além disso, dá-se pouco importância a esse esporte em nosso
meio, uma vez que a mídia dá maior enfoque aos esportes coletivos.
Frente a estas dificuldades questiono:
Como o “movimento” e a “aula” tornam-se temas e conteúdos da prática
pedagógica?
De que forma podemos melhorar a metodologia utilizada nas nossas aulas
fazendo com os alunos possam ter prazer em uma aula teórica ou prática?
A partir da metodologia crítico-emancipatória que utilizarei com base para
meus estudos, como esta poderá ajudar a desenvolver o senso crítico de
nossos alunos e professores através do atletismo?
Como utilizar o atletismo na aula de Educação Física escolar para contribuir
na formação do(s) aluno(s)?
Nesse sentido, procurei estudar o esporte Atletismo como conteúdo
estruturante da Educação Física nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do
Paraná, potencializando reflexões e orientações didático-pedagógicas para sua
3
prática, tomando por base pesquisa bibliográfica específica a fim de elaborar
material teórico e prático para ser implementado junto aos alunos das 5ª séries da
Escola Estadual Almirante Barroso – Ensino Fundamental, visando assim possibilitar
o conhecimento desta modalidade pouco praticada em nosso município e
proporcionar-lhes vivências lúdicas e prazerosas com a prática do atletismo.
Desta forma, o presente estudo teve como finalidade pesquisar, refletir,
implementar e analisar o conteúdo específico Atletismo, sob uma perspectiva
pedagógica embasada na metodologia crítico-emancipatória.
2 Referencial teórico
2.1 História da Educação Física no mundo e no Brasil
Para que se possa refletir a respeito dos eixos teóricos metodológicos que
norteiam a prática pedagógica da Educação Física, há que se pensar sob o modo de
produção que determinada sociedade se organiza, compreender a trajetória e as ações
do homem em diferentes momentos históricos. É nesse contexto, o de totalidade, que a
Educação Física pode ser entendida como um conjunto das atividades humanas. A
partir do século XIX, enquanto o Brasil vivia um momento de expansão do capital, das
relações sociais capitalistas, suas determinações e contradições presentes na
sociedade em que poucos detêm o capital e a maioria da população vive na miséria,
esse movimento estende-se a educação escolarizada e consequentemente à
Educação Física. Nessa mesma época, o modelo europeu de entendimento da área e
os conceitos básicos sobre o corpo e sobre a sua utilização enquanto força de trabalho
influencia fortemente a Educação Física brasileira.
Para garantir sua existência, o novo modelo de sociedade necessita de homens
mais fortes, mais ágeis e mais empreendedores, então a burguesia aposta na
educação para esse fim, enquanto a Educação Física torna-se a própria expressão do
ideário de corpo da sociedade capitalista.
4
Para Palma et al. (2008) “o homem deixa de ser explicado pelas relações sociais
que mantêm (homem antropológico), para ser conceituado a partir dos pressupostos
biológicos” (biologização do corpo humano a abordagem positivista da ciência).
A razão de ser da Educação Física nesse período é o cuidado com o corpo, o
asseio, hábitos higiênicos (banho, dentes, prática de exercícios físicos), corpo saudável
é fonte de lucro.
É justamente com esse contexto que o Brasil no final do século XIX e início do
século XX, marcado pela transição da sociedade escravista para a sociedade
capitalista sai da condição de colônia e para não comprometer o processo de
desenvolvimento do país, torna-se necessário formar um indivíduo forte e saudável. A
ginástica é um importante instrumento para alcançar esses objetivos e sua
sistematização prática foi elaborada por médicos com preocupações higienistas e
conotações eugenistas, tendo como instrutores os militares.
Somente em 1939, foi criada a primeira escola civil para formar professores de
Educação Física. Após a Segunda Guerra Mundial, e com o fim da ditadura, muda o
cenário social do Brasil surgindo outras tendências da Educação Física.
No período pós-guerra, até a década de 70, com a participação do capital
externo na economia brasileira, a concepção de eficiência e tecnicismo procurou
moldar o ensino e direcionar a Educação Física para o esporte.
Fruto da ditadura militar e de um processo de industrialização, em 1961 ocorre a
implantação de legislação específica3 com tendência tecnicista, em que a Educação
Física ganha espaço como área de atividade permanecendo seu caráter instrumental e
utilitarista. A avaliação, dentro deste contexto, tinha como referência a aptidão física.
A partir dos anos 70, começaram a surgir críticas à pedagogia tecnicista, dando
lugar a princípios filosóficos o que caracteriza uma Educação Física humanista. Nesse
sentido, implementa-se o movimento Esporte para Todos (EPT), o que corresponde à
necessidade da atividade física de lazer para a camada da população não-dominante.
Outro movimento que se destaca é o da psicomotricidade, no qual a Educação
“do movimento” passou a ser entendida como “educação pelo movimento” (BRACHT,
1992). A motricidade tornou-se um meio educativo para desenvolver as estruturas
psicomotoras.
3 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n° 4.024/61.
5
Ao final dos anos 80, início dos anos 90, com o crescimento dos movimentos
sindicais, torna-se fundamental que a classe trabalhadora tenha acesso ao
conhecimento produzido historicamente, a abordagem sócio-cultural da Educação
Física se preocupa com o processo e a forma de produção cultural em relação à
manifestação motora e lúdica historicamente situada.
Nesse processo de formação do “homem crítico”, a Educação Física começa a
questionar o suporte teórico dominado pelas ciências biológicas, na perspectiva da
aptidão física e esporte gerando uma crise de identidade da área; gerando discussões
tais como o conhecimento que a Educação Física trata e como esse saber é
fundamental para que o indivíduo reflita, explique, aproprie-se de sua realidade e atue
sobre ela. Essas indagações levam autores a sistematizarem diferentes abordagens
pedagógicas para o ensino da Educação Física. Dentre elas aparecem as abordagens
desenvolvimentista, construtivista, aberta, crítico-superadora, crítico-emancipatória,
sistêmica e plural.
Segundo Lara et. al. (2007), para Go Tani, representante da abordagem
desenvolvimentista, a Educação Física tem como foco o movimento humano,
abrangendo aspectos do crescimento, desenvolvimento e aprendizagem.
A abordagem construtivista tem como idealizador o psicólogo suíço Jean Piaget
e seu representante na Educação Física brasileira é o professor João Batista Freire.
A metodologia de ensino aberto foi idealizada pelo alemão Reiner Hilderbrandt,
e desenvolvida no Brasil pelo grupo de trabalho pedagógico (GTP) da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSM),
por volta de 1991, e tem como referencial a teoria da sociologia do interacionismo
simbólico de Blumer e a teoria libertadora de Paulo Freire. O ensino aberto valoriza o
conhecimento historicamente produzido e o processo biográfico dos alunos.
Como proponente da abordagem crítico-emancipatória, Elenor Kunz utiliza o
referencial teórico da teoria sociológica da ação comunicativa, idealizada por Jurgen
Habermas, e a tendência educacional progressista crítica. Kunz acredita que os
conhecimentos a serem desenvolvidos nas aulas de Educação Física são os da
“cultura do movimento humano”, que abrangem os jogos, a dança, a ginástica, as lutas
e o esporte, e que a metodologia a ser trabalhada é no sentido de conscientização são
dos valores e significados dos movimentos humanos.
A abordagem sistêmica está pautada na teoria geral dos sistemas de Von
Bertallanffy, cuja ênfase é dada à inter-relação e interdependência entre os
6
componentes que formam um sistema. O professor Mauro Betti, representante dessa
abordagem prefere chamá-la de “abordagem sociológica sistêmica”. Segundo ele, não
se trata de uma metodologia de ensino e sim uma concepção que traz implicações
para as múltiplas dimensões sócio-políticas, sócio-psicológicas e didático pedagógicas
da Educação Física, tendo por objetivo levar a uma apropriação crítica da “cultura
corporal de movimento” onde os jogos, esportes e ginástica, possam ser desfrutadas,
produzidas e reproduzidas considerando o princípio da inclusão, da diversidade e da
alteridade, em que a tríade sentir-conhecer-relacionar-se aparece inseparável.
A Educação Física plural, teorizada por Jocimar Daólio não se trata de uma
abordagem e nem de uma nova metodologia, segundo seu idealizador. Mas o
mesmo considera que seus estudos, baseados na antropologia social, podem
contribuir para a atuação profissional. Defende a dança como conteúdo da
Educação Física juntamente com o esporte, a ginástica, a luta e o jogo, por
considerar que estes conteúdos reúnem o conjunto de conhecimentos voltados à
dimensão corporal humana no decorrer de sua história evolutiva.
Tendo em vista o objetivo do presente estudo se pautar na concepção
pedagógica crítico-emancipatória, é necessário elucidar as características dessa
concepção de ensino, tais como conteúdo, método e possibilidades de práticas
pedagógicas, que está apoiada em pressupostos teóricos das ciências humanas e
sociais, formando alicerces para um agir racional-comunicativo. “A emancipação é
entendida como o processo que media o uso da razão crítica e todo o seu agir social,
cultural e esportivo, desenvolvidos pela educação”. (VENDITTI JÚNIOR, 2005, p.3).
Para Kunz (2006), em sua obra intitulada “Transformação Didático-Pedagógica
do Esporte”, o esporte visa atender o rendimento cobrado pelas sociedades industriais,
sendo padronizado, normativo ao invés de partir da análise dos desejos, interesses e
necessidades que formam a instituição escolar.
Segundo Venditti Júnior (2005, p.3), na concepção pedagógica crítico-
emancipatória
[...] em vez de ensinar os esportes na Educação física pelo simples desenvolvimento de habilidades e técnicas do esporte, deverão ser incluídos conteúdos de caráter teórico-prático que tornam o fenômeno esportivo transparente, permitindo aos alunos a melhor organização da realidade do esporte, dos
7
movimentos e dos jogos de acordo com as suas possibilidades e necessidades; a interação solidária e social em princípios de co e autodeterminação; e se expressar como ser corporal no diálogo com o mundo.
Segundo Kunz (2006), o homem conhece o mundo através do se-movimentar. O
que estabelece a relação homem-mundo no mundo vivido e enquanto sistema, tem
história, contexto, vida, classe social e inerente vontade de “se-movimentar”.
Assim, o conteúdo para o ensino dos esportes na Educação Física não pode ser
apenas prático, deve ser também problematizado. Além das análises críticas do
esporte, deve ser oferecida a oportunidade de tematizar o esporte de diferentes formas
e perspectivas.
2.2 História dos Esportes
Sabe-se que o esporte moderno surgiu no século XVIII, a partir da
transformação de jogos populares, que eram realizados com outros significados, tais
como celebrações públicas, festas de colheita, comemorações e rituais de
passagens. A partir desses jogos populares, e com o advento da industrialização e
da urbanização, frutos do novo regime capitalista que se expandiu ao longo dos
séculos XIX e início do XX, a burguesia e as classes médias emergentes
apropriaram-se de vários jogos populares ou criaram outras modalidades. Esse foi o
momento em que muitas federações esportivas nacionais foram criadas. Logo o
esporte tornou-se hegemônico na cultura de movimento em todo o mundo. Durante
o século XX, o esporte serviu como demonstração de poder político de determinados
países. Atualmente, constitui-se em um dos principais fenômenos econômicos do
mundo contemporâneo, sendo responsável por grande mobilização de pessoal,
dinheiro e alvo importante dos interesses midiáticos (OLIVEIRA, Amauri Aparecido
Bassoli et al.).
Segundo Bracht (2005), o esporte pode ser compreendido a partir de um
esquema dual, sendo tomado tanto como prática de alto rendimento (ou espetáculo)
quanto como atividade de lazer. Segundo o autor, se o esporte de rendimento ou
espetáculo relaciona-se com o esporte como lazer, por meio de seus ídolos e das
8
transmissões televisivas, não deveria influenciar apenas no sentido de apreciação
do espetáculo esportivo. O esporte como atividade de lazer é direito de todos os
cidadãos, e as aulas de Educação Física podem contribuir para a afirmação desse
direito à medida que possibilitem aos alunos entender seus códigos, praticar as
várias modalidades esportivas, enfim, serem ativos diante desse patrimônio cultural.
Alguns jogos se transformaram em esportes, com regras mais rígidas. Isso
não quer dizer que não possam ser praticados com variados significados e
intencionalidades, mesmo que para isso as regras tenham que ser adaptadas ou
modificadas. Nas aulas de Educação Física e mesmo fora das mesmas (em seus
bairros, grupos sociais e familiares), os alunos de 5ª à 8ª séries têm a oportunidade
de praticar vários tipos de jogos. Nesse momento da escolarização, pretende-se
partir desse imenso acervo cultural de jogos, valorizando-os inicialmente e, em
seguida, mostrar a organização da cultura esportiva.
2.3 História do Atletismo
Correr, saltar e lançar ou arremessar objetos à distância representam, ao
longo da existência humana, talvez as mais elementares e naturais atividades físicas
realizadas por todos os povos do mundo, em todas as sociedades, atendendo a
objetivos diversos relacionados a atividades produtivas e/ou defensivas
(SCHMOLINSKY, 1982).
A história do atletismo se inicia com a própria história da humanidade, quando
o homem primitivo praticava suas atividades naturais para sobrevivência.
A palavra atletismo deriva da raiz grega athlon, que significa combate
praticado na antiga Grécia muitos anos antes de Cristo, tinha como objetivo o
treinamento dos homens para a guerra, por isso athlon= combate; é a prática de
atividades esportivas, as quais os gregos consideravam de grande valor. (TEIXEIRA,
Hudson Ventura, 2003, pag. 50).
Em termos gerais, chama-se atletismo o conjunto de provas individuais ou
coletivas que se baseiam em quatro atividades: marcha, corrida, salto e arremesso
de objetos, bem como provas combinadas e sempre se revestem de caráter
9
competitivo. Os resultados são julgados segundo unidade de tempo, medida e
distância.
Na atualidade, tais movimentos foram sistematizados e incorporados ao
esporte formal, tendo no atletismo seu principal representante, embora estejam
presentes na maioria das modalidades esportivas, a exemplo do futebol,
basquetebol, voleibol e handebol, entre outras.
Como modalidade esportiva, a iniciação ao atletismo, tal como em outros
esportes, ocorre (ou deveria ocorrer) principalmente na escola, como atividade
curricular pertencente à disciplina de Educação Física. No entanto, sabemos que
essa modalidade está pouco presente nas aulas e, quando isto ocorre, busca-se
melhor rendimento técnico, em detrimento de um possível valor pedagógico-
educacional, o que a torna pouco atrativa para muitos professores e para os próprios
alunos.
Em países como o Quênia, atribui-se grande destaque sociocultural à prática
do atletismo, em especial às corridas de meio-fundo e fundo, o que motiva os alunos
em idade escolar a se envolverem com o universo do atletismo desde cedo. No
Brasil, há predileção por modalidades esportivas coletivas, que possibilitam maior
relação interpessoal, além de possuir caráter altamente lúdico, com destaque para
as modalidades que têm a bola como implemento principal.
Torna-se necessário, portanto, criar estratégias de ensino que possibilitem ao
atletismo fazer sentido para a vida do aluno, mobilizando seus desejos e
potencialidades, sem se restringir ao aspecto de rendimento técnico, embora o treino
ou o exercício continuado de determinadas habilidades também seja importante na
realização de algumas tarefas/atividades, visto que “servem, também, para corrigir
deficiências ou fragilidades no condicionamento físico e não apenas técnico” (KUNZ,
2006b, p.141).
No caso particular do atletismo, o significado central do “se-movimentar”4, nas
corridas, é exatamente a experiência de correr mais velozmente possível, e, nos
saltos, saltar mais alto ou longe possível – e não correr, saltar ou arremessar para
vencer outra pessoa. Além disso, deve-se aliar uma perspectiva lúdica ao ensino
dessas habilidades, e do atletismo em geral, dentro do ambiente escolar.
4 O se-movimentar é a expressão individual e/ou grupal no âmbito de uma cultura de movimento; é a relação
que o sujeito estabelece com essa cultura a partir de seu repertório (informações/conhecimentos, movimentos,
condutas, etc.), de sua história de vida, de suas vinculações socioculturais e de seus desejos.
10
As corridas, saltos e arremessos possuem significados/sentidos e
intencionalidades que não se restringem exclusivamente ao universo do atletismo,
visto que o desenvolvimento de seus fundamentos técnicos pode ser transferido a
várias modalidades esportivas, bem como à resolução de situações relacionadas
com atividades da vida diária (deslocar-se rapidamente para atravessar uma
rua/avenida, vencer obstáculos ao trafegar em calçadas).
O ensino do atletismo como elemento da cultura de movimento5 no meio
escolar esbarra, às vezes, também na impossibilidade alegada por muitos
professores em desenvolver seus conteúdos na ausência de espaço e materiais
específicos. Entretanto, essa dificuldade poderia ser atenuada mediante a
adaptação de espaços comuns à maioria das escolas (quadras, pátios), bem como
pela utilização de materiais alternativos para confecção dos implementos próprios do
atletismo. Tais adaptações devem envolver a colaboração participativa e criativa dos
alunos na elaboração de condições que favoreçam a vivência do atletismo na
escola, tornando-os também agentes desse processo educacional.
3. Estratégias de ação
Esta intervenção pedagógica buscou na metodologia crítico-emancipatória da
disciplina de Educação Física – pautada nos fundamentos teóricos metodológicos
para o ensino do atletismo – superar as dificuldades encontradas na implementação
deste conteúdo específico na Escola Estadual Almirante Barroso, na cidade de
Rondon, Estado do Paraná, para o Ensino Fundamental.
O presente estudo é baseado nos pressupostos teóricos de Kunz (2004), que
propõe uma discussão acerca da questão metodológica, enfatizando a crítico-
emancipatória. Tais pressupostos têm por objetivo a formação de sujeitos críticos e
autônomos para transformação (ou não) da realidade em que estão inseridos, por
meio de uma educação de caráter crítico, reflexivo e fundamentada no
desenvolvimento de três competências: a competência objetiva, que visa
5 Por cultura de movimento entende-se o conjunto de significados/sentidos, símbolos e códigos que se
produzem e re-produzem dinamicamente nos jogos, esportes, danças e atividades rítmicas, lutas, ginásticas etc.,
os quais influenciam, delimitam, dinamizam e/ou constrangem o Se-movimentar dos sujeitos, base de nosso
diálogo expressivo com o mundo e com os outros.
11
desenvolver a autonomia do aluno através da técnica; a competência social,
referente aos conhecimentos e esclarecimentos que os alunos devem adquirir para
entender o próprio contexto sócio-cultural; a competência comunicativa, que assume
um processo reflexivo responsável por desencadear o pensamento crítico, e
consolidada por meio da linguagem, a qual pode ser de caráter verbal, escrita e/ou
corporal.
Todavia Kunz (2004, p. 36), em relação à utilização da pedagogia crítico-
emancipatória nas aulas de Educação Física, ressalta que:
Ao introduzir a auto-reflexão, a pedagogia critico-emancipatória deverá oportunizar aos alunos perceberem a coerção auto-impostas de que padecem, conseguindo com isto, dissolver o “poder” ou a “objetividade” dessa coerção e assumindo um estado de maior liberdade e conhecimento de seus verdadeiros interesses, ou seja, esclarecimento e emancipação.
O estudo foi desenvolvido sob o modelo de pesquisa qualitativa, que segundo
Triviñus (2006), tem seus elementos baseados em considerar o ambiente natural
como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento-chave. Há a
preocupação com o processo e não apenas com o produto e a descrição dos
fenômenos. Portanto, os significados que o sujeito lhes concede são essenciais,
assim como os determinantes, as relações que estes mesmos significados contém,
assim como seu vir-a-ser.
A análise, feita de forma indutiva, busca o conhecimento da "coisa-em-si",
para transformá-la em "coisa-para-si", no sentido da superação dos entraves ao
avanço. Assim, nesta análise dos significados, a busca de seus determinantes, de
suas causas das relações situa o objeto estudado num contexto histórico e social
que determina, mas que também pode ser determinado pelos sujeitos que ali atuam.
Nesse contexto, a pesquisa foi desenvolvida em quatro etapas:
1. Estudo dos fundamentos teóricos e metodológicos (resgate histórico do
esporte com ênfase no atletismo);
2. Sistematização e organização do trabalho pedagógico na escola;
3. Avaliação do trabalho teórico-prático desenvolvido;
4. Grupo de Trabalho em Rede (GTR), no qual realizei a tutoria.
12
A partir das considerações ressaltadas até aqui, elaborei a Unidade Didática
com o intuito de orientar o desenvolvimento do conteúdo atletismo, com enfoque no
trabalho pedagógico com o aluno.
Além das intervenções pedagógicas com os alunos, o tema em pauta fez
parte de discussões online com professores da rede estadual, por meio do Grupo de
Trabalho em Rede (GTR), proposto pela Secretaria de Estado da Educação (SEED),
como parte integrante do Programa de Desenvolvimento Educacional- PDE.
Estas discussões somaram na qualidade da elaboração do material didático,
uma vez que os colegas professores opinaram, sugeriram, criticaram e apontaram
falhas textuais despercebidas por mim. Todos esses apontamentos foram de grande
valia, pois contribuíram para melhoria da qualidade do material didático.
As questões propostas ao grupo, principalmente nos fóruns, fomentaram
discussões que favoreceram a todos na prática esportiva e escolar do atletismo,
portanto, é importante ressaltar que o grupo apresentou valiosa troca de
experiências teóricas e práticas.
Todo trabalho didático foi realizado por meio de pesquisas voltadas para o
desenvolvimento pedagógico, visando buscar na metodologia crítico-emancipatória
métodos de ensino mais prazerosos para a prática do atletismo no contexto escolar.
A avaliação das atividades foi realizada de forma subjetiva, por meio de
questionamentos verbais e registros dos alunos, realizados de forma subjetiva.
Segundo Oliveira (2006, p. 43), “na avaliação subjetiva, o professor observa as
diversas reações da criança diante de uma situação problema, se ela é capaz de
buscar meios para resolver a questão e superar a dificuldade”.
Avaliar os alunos ao longo e ao final do processo teve como propósito
considerar o aprendizado e o envolvimento dos alunos nas atividades, e não seu
rendimento físico e/ou técnico. Além disso, o procedimento se constituiu em
instrumento essencial para o direcionamento do trabalho pedagógico, num exercício
constante de ação-reflexão-ação.
4. Relato de experiência
Ao idealizar o projeto, pensei em desenvolver o mesmo junto a alunos das
quintas séries do ensino fundamental, e imaginei “colher bons frutos” até a oitava
13
série. A turma escolhida foi a quinta série “Cecília Meireles” do período matutino,
devido ao pequeno número de alunos que necessitam de transporte escolar. Iniciei o
projeto com a distribuição de autorizações para a participação dos alunos, uma vez
que o mesmo seria realizado no período vespertino.
Primeiramente expliquei a metodologia que iria trabalhar o atletismo. As
provas escolhidas (salto em distância, corrida de velocidade 100 metros e
arremesso de peso). Obtive sucesso com relação a participação dos alunos, pois
somente quatro de 29 alunos não puderam participar, pois dois deles eram da zona
rural e outros dois não foram autorizados pelos a participar no período vespertino.
Nossas primeiras aulas foram a respeito da origem e história do atletismo em
texto elaborado por mim. Este conteúdo foi trabalhado durante quatro aulas e esta
contextualização histórica teve como finalidade situá-los no tempo e espaço do
atletismo para, só então, iniciarmos as aulas práticas.
Todo conteúdo teórico foi compilado em forma de cadernos e reproduzido
para que cada aluno possuísse seu próprio material. Utilizei como referência para as
aulas práticas e teóricas minha própria “Unidade Didática” a qual foi uma produção
didático-pedagógica exigida no Programa de Desenvolvimento Educacional.
O local escolhido para a primeira e para a segunda aula foi a “sala ambiente”
(um espaço coberto no pátio da escola com mesas e bancos), pois o clima estava
muito quente. Isso foi um cuidado tomado para que a leitura dos textos fosse
prazerosa. Iniciei fazendo perguntas sobre o atletismo: o que seria atletismo, os
locais de sua prática, se conheciam sua história, quais seriam as provas, etc.
Obtive várias respostas, alguns não sabiam exatamente o que era, mas a
maioria conhecia por meio da televisão ou praticava corridas e saltos em casa ou
nas ruas ou praticou nas primeiras séries do ensino fundamental como forma de
recreação. Alguns perguntaram se ciclismo ou natação (não exatamente nesses
termos) também eram considerados provas de atletismo e expliquei o que era cada
esporte e como era praticado. Outros falaram que brincavam ou competiam para ver
quem jogava pedrinhas mais longe, assim pude comparar com lançamentos e
arremessos.
Essa troca de experiências foi aguçando nos alunos a vontade de adquirir
outros conhecimentos, deixando-os ansiosos para começar as aulas práticas. Só
então iniciamos a leitura dos textos: o que é atletismo, história do atletismo, o
atletismo no Brasil e curiosidades. Após, indaguei e estimulei para que falassem
14
sobre o assunto estudado a fim de avaliar o que entenderam e assimilaram. O que
mais chamou a atenção dos alunos foram as curiosidades, principalmente as que
diziam respeito aos atletas brasileiros, dos quais muitos já tinham conhecimento.
Com o objetivo de refletir sobre a importância do atletismo no meio esportivo,
exibi o filme “Carruagens de Fogo”, o qual nenhum dos alunos havia assistido. Pedi
que anotassem os nomes dos corredores e observassem os valores da burguesia
daquela época, como a glória, a fama e também a luta contra o racismo, os valores
religiosos, o companheirismo na luta por um ideal, a desigualdade, a competitividade
e pontuassem em quais momentos do filme essas situações se evidenciavam. Essas
anotações foram feitas na apostila que continha o resumo do filme e páginas em
branco para as devidas observações. Durante a exibição do filme houve a
necessidade, por várias vezes, de pausar para que atentassem para as roupas
esportivas usadas naquela época, os calçados, a pista de atletismo e como eram os
treinamentos. Pedi que anotassem as perguntas para fazê-las ao final da exibição. A
maioria dos alunos não conseguiu identificar os valores da burguesia embutidos no
filme, outros sim. O que mais chamou a atenção dos alunos foi os uniformes, os
tênis que os atletas usavam e onde apoiavam os pés no momento da saída da
corrida de velocidade. Devido à faixa etária, o filme só foi interpretado
adequadamente após as discussões e colocações proferidas pelo professor e
colegas de turma. Pedi que sistematizassem na apostila os conhecimentos
adquiridos.
Para nossos alunos da Escola Estadual Almirante Barroso, um dos momentos
mais esperados foi à visita às pistas de atletismo de Maringá-PR. A organização
demandou tempo, e contou com o apoio de secretárias e equipe pedagógica para o
agendamento e envio de ofícios para duas entidades e de autorizações aos pais
para que permitissem a visita e para a Secretaria Municipal de Educação para que
nos auxiliasse com o transporte.
As visitas foram agendadas para o mesmo dia na Universidade Estadual de
Maringá (UEM) e no Estádio Regional Willie Davids. Primeiramente visitamos a pista
de atletismo do Estádio Willie Davids, fomos recepcionados pela professora Maria
da Conceição Silva e pela professora Sandra Regina Crul, que nos explicaram cada
setor da pista deixando os alunos à vontade para experienciar a corrida e o salto em
distância no setor próprio. As raias utilizadas pelos alunos foram a de número um e
dois, as demais estavam servindo para treino dos atletas; oportunidade ímpar para
15
que observassem e comparassem (as vestimentas, calçados, treinamento,
aparelhos utilizados, regularidade e detalhes da pista) com o filme assistido
anteriormente (Carruagens de Fogo). Cada setor foi visitado (arremesso de peso,
salto com vara, salto em distância, lançamento de dardo, de martelo) e os alunos
puderam observar alguns atletas correndo e outros saltando em altura, puderam
fazer perguntas para a professora Maria a respeito do setor de arremesso de peso
no qual ela pontuou que este era oficial, mas que o mesmo setor na pista da UEM
não possuía as medidas oficiais.
Os alunos ficaram maravilhados com tudo que viram: a manutenção da grama
dos setores no interior da pista, o piso emborrachado da pista de corrida e por um
fato inusitado para eles: a filmagem feita por um canal de televisão dos atletas do
salto em distância, na qual acabaram por nos entrevistar e filmar a fim de saber o
motivo da visitação. Expliquei que se tratava de um programa de implementação do
governo Estadual a fim de melhorar a qualidade da educação paranaense.
Conforme programação, nosso próximo roteiro foi a pista da UEM. Quem nos
recebeu foi o Senhor Edgar Caetano, funcionário antigo daquela Universidade. Não
havia treinamento ou aula naquele horário, e visitamos novamente cada setor da
pista e os alunos puderam, com mais espaço e com maior intensidade, experienciar
as diversas provas, simulando uma competição. Os educandos se divertiram,
fizeram perguntas a respeito da pista e de cada setor visitado e compararam as
duas pistas concluindo que a do Estádio Willie Davids é mais moderna e bem
equipada. Dirigimo-nos ao almoxarifado para conhecer os artefatos utilizados em
cada prova de atletismo, e o “seu” Edgar, com muita simpatia e competência
mostrou-nos o peso, o disco, o dardo, o martelo utilizado nas provas masculinas e
femininas e o taco para as corridas de saída baixa. Fizemos o registro fotográfico
das visitas.
Após o almoço no Restaurante Universitário, conversamos a respeito das
experiências vividas naquela manhã e retornamos para Rondon.
Para as aulas na escola, as modalidades do atletismo escolhidas para a
quinta série foram: corridas de velocidade, arremesso de peso e salto em altura. A
seguir, descreverei o desenvolvimento de cada modalidade.
Iniciei o conteúdo “corrida de velocidade” com um breve comentário a respeito
do filme assistido “Carruagens de Fogo” relembrando as cenas em que os atletas
utilizavam as saídas baixas, e também as visitas às pistas da cidade de Maringá,
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suas raias, os tacos de saída, o modo com que os atletas corriam durante o
treinamento. Incentivei os alunos para que relatassem o que sabiam, suas
experiências em relação à corrida de velocidade, se praticavam a corrida fora da
escola, como corriam, se gostavam. Por intermédio de suas respostas outras
perguntas foram surgindo. Foi assim que introduzi os conteúdos teóricos nos textos
da minha unidade didática.
Estudamos, posteriormente, os assuntos: corrida, o conceito de velocidade,
fases da técnica de corrida (partida, percurso, chegada) e a saída baixa, o desenho
da pista de atletismo e suas marcações. Forneci aos alunos o desenho de uma pista
de atletismo, para que incorporassem ao seu material, para que pudessem visualizar
os setores de corrida (tema das primeiras aulas), arremessos e saltos (a serem
tratados posteriormente).
As aulas práticas sobre corridas de velocidade foram iniciadas com algumas
atividades relacionadas às provas, por meio de brincadeiras: lenço atrás, corrida
livre, preto e branco, passar a corda, ruas e avenidas, boneco de pano, até
experimentar a corrida de velocidade propriamente dita. O espaço utilizado para
essas brincadeiras foi a quadra esportiva e o pátio da escola. Os alunos participaram
sempre com entusiasmo das brincadeiras.
Ao final de cada aula, conversávamos sobre o que os alunos haviam
descoberto e o que eu estava buscando com essas brincadeiras, a relação com
elementos como largadas, corrida propriamente dita e chegadas com as
brincadeiras. A relação foi sempre bem sucedida.
Após os estudos e brincadeiras relacionadas, as aulas foram desenvolvidas
em frente à escola, onde funcionários da prefeitura municipal de Rondon já haviam
previamente marcado as raias com a numeração de um a seis, pois mediante a
largura da rua não havia mais espaço para a marcação das oito raias.
Ali, os alunos puderam vivenciar a saída e a corrida de 100 metros rasos.
Realizamos várias largadas, os alunos adoraram correr. Expliquei que nosso
objetivo seria largar e correr até a linha de chegada e não verificar quem chegou em
primeiro lugar. Durante as brincadeiras na quadra pude explicar como era a
movimentação de braços, pernas e tronco, a respiração durante a corrida de
velocidade e assim eles puderam pôr em prática o que tinham aprendido.
Registramos as vivências por meio de fotos.
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Para o arremesso de peso, iniciei a primeira aula relembrando a nossa visita
ao setor de arremesso das pistas de atletismo em Maringá e perguntei aos alunos
“se” e “como” eles já tinham arremessado algo como: pedras e outros objetos, obtive
respostas positivas, deixei que eles falassem o que sabiam a respeito do arremesso
de peso e como ele deveria ser lançado, alguns deram sugestões, outros já haviam
pesquisado na internet e fizeram suas colocações.
Nas aulas teóricas foram utilizados os textos arremesso de peso e arremesso
de peso estilo o’Briem. Durante a leitura, fizemos várias interrupções para explicar
alguns termos desconhecidos pelos alunos, demonstrei como seria o estilo o’Briem
que, hoje em dia, é o mais utilizado. Os alunos simularam os movimentos.
Para as aulas práticas utilizamos inicialmente a quadra esportiva onde
confeccionamos o peso com meia e areia para brincar de “acertando na mosca”,
“alvo móvel” e “torre de Babel”, entre outras. Nas demais aulas, quando verifiquei
que todos haviam aprendido a manusear seus pesos e os movimentos do corpo
utilizados para a realização do arremesso, nos dirigimos ao campo gramado da
escola, onde previamente foi improvisado (com cordas) um setor de arremesso, só
então utilizamos o peso de ferro para arremessar. Ao sinal, um aluno se
encaminhava ao setor e realizava o arremesso, os demais ficavam observando a
uma distância segura.
Para a realização dos estudos e práticas do salto em distância, foram
necessárias seis aulas, divididas em três tardes. Como a metodologia propõe, iniciei
o conteúdo indagando qual o conhecimento que os alunos possuíam a respeito
desta prova de atletismo, perguntando quem já saltou, como e onde haviam saltado
e por meio de suas respostas elaborei outras perguntas como: no salto, qual é sua
perna mais forte? Na queda, como você apóia as mãos? E assim, fomos trocando
experiências. Expliquei a necessidade de estudarmos algumas técnicas apropriadas
para saltar em distância e, para isso, utilizamos os textos salto em distância, saltar,
suas técnicas e estilos, salto grupado e suas fases. Após a leitura e explicação os
alunos sistematizaram em sua apostila o que haviam aprendido.
As aulas práticas tiveram início com atividades do tipo: saltar arcos, saltar
pneus, saltar cordas, correr e saltar livremente pelo pátio, ponte do rio que cai,
saltadores do futuro, e outras mais. Durante as atividades, a preocupação era que
entendessem o “porquê” de estarem praticando aquelas atividades. Após estarem
adaptados aos saltos, nos dirigimos à caixa de areia e deixei que saltassem cada
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um ao seu modo, sem nenhuma explicação técnica, depois juntamente com os
alunos, pontuamos o que lembravam dos textos lidos sobre o movimento dos
braços, tronco, pernas, corrida de aproximação e colocamos uma marca na frente da
caixa de areia para que os alunos a respeitassem antes de saltar. Assim,
gradativamente, introduzi o estilo grupado para a realização do salto. Alguns alunos
conseguiram saltar corretamente utilizando este estilo, outros não, mas como se
tratava de alunos de quinta série do ensino fundamental, o objetivo foi a valorização
das conquistas corporais. Não houve marcação de distância, pois o objetivo não era
saber quem saltava mais longe, e sim, que todos passassem por essa experiência.
Os alunos se revezavam com um rodinho para nivelar a areia da caixa de salto e
não ficar buraco para o próximo aluno saltar.
Ao final de cada fase da unidade, promovi a oportunidade de cada aluno
realizar uma autoavaliação, com o objetivo de verificar o interesse, o nível de
participação (quanto e como participou) e o aprendizado dos alunos.
Para consolidar os conhecimentos e vivências da unidade de ensino,
construímos (eu e os alunos) um mural de fotografias tiradas durante o projeto,
reportagens, frases, figuras a respeito do atletismo que haviam sido pesquisadas por
eles próprios. Para rever os conteúdos trabalhados e confeccionar o mural, os
cartazes ou varal, foram necessárias duas aulas e o local escolhido foi o pátio da
escola que possui mesas e bancos. Relembramos o que foi estudado durante as
trinta aulas práticas e teóricas, visitas, reportagens e frases a respeito do atletismo,
conforme cada conteúdo (arremesso de peso, salto em distância, corrida de
velocidade, a pista de atletismo). Os alunos se agruparam para organizar o trabalho.
Esta atividade proporcionou troca de conhecimentos entre os alunos, sobre o
tema estudado. Durante a realização do trabalho, observei as equipes e fiz
questionamentos a respeito dos textos, das frases, figuras as quais os alunos
estavam manuseando.
Por fim, pedi que registrassem suas impressões sobre os conhecimentos
obtidos e experiências obtidas durante as aulas de atletismo, e se apoiavam ou não
a continuidade. Todas as respostas apontaram para satisfação com o que
aprenderam e vivenciaram e para a motivação para uma continuidade da prática do
atletismo.
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5. Considerações finais
Ao final da experiência docente vivenciada com o conteúdo atletismo, passo a
realizar minha reflexão final.
Ao escolher o tema atletismo, considerei importante pesquisar o seu
desenvolvimento e sua história, e não somente trabalhar as modalidades escolhidas,
pois o atletismo está ligado à história da Educação Física e dos esportes. Como
estratégia metodológica, busquei na metodologia crítico-emancipatória a base
teórica para a minha prática. Ao trabalhar o filme “Carruagens de Fogo”, mostrei aos
alunos as diferenças entre o atletismo do início do século XIX, comparando aos dias
atuais, como o avanço proporcionado pela tecnologia na confecção de materiais e
roupas esportivas procurando melhorar o rendimento físico, bem como a difusão de
valores éticos, morais, a luta por um ideal, o companheirismo e as questões raciais.
Os alunos se interessaram pelo histórico da modalidade e isso foi importante na
contextualização do tema.
Durante a realização da pesquisa sobre a importância do atletismo como
conteúdo específico da Educação Física, o objetivo foi fazer com que os alunos
refletissem sobre a importância do atletismo no contexto escolar, uma vez que é
considerado a base de todos os esportes, teve sua origem desde o princípio da
humanidade e perdura até os dias de hoje. Partindo dessa premissa, foram
propostas atividades e jogos pré-desportivos, ressaltando a alegria de brincar, ao
mesmo tempo em que se corre, salta e arremessa, (procurando aproximar ao
máximo dos movimentos técnicos do atletismo), visando desta maneira enfatizar o
gosto pelo atletismo, entre os alunos, assim como, contribuir para com a prática
pedagógica, dos professores de Educação Física. Os alunos participaram com
prazer e motivação das práticas, correspondendo às expectativas do planejamento.
Por meio da implementação do projeto pude constatar que mesmo tendo
dificuldade com materiais adaptados e espaços físicos inadequados, os alunos
puderam vivenciar a prática do atletismo com muita disposição e vontade de
aprender. A confecção do material mostrou que podemos superar as dificuldades
encontradas na escola. Com a visita a pista da UEM e do Estádio Willie Davids, os
alunos puderam vivenciar o que é uma pista oficial e ter contato com os materiais
oficiais, o que os motivou ainda mais a dar continuidade ao projeto. Portanto, é
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possivel afirmar que ao final das aulas práticas e teóricas os objetivos do projeto
foram atingidos. Os alunos se envolveram satisfatoriamente na confecção dos
materiais e se interessaram pela forma institucionalizada do atletismo, observada e
vivenciada na visita aos locais de prática.
A ausência de instalações e equipamentos adequados para a prática do
atletismo em nossas escolas é uma das razões alegadas pelo professor para excluir
o atletismo de seus planejamentos. No entanto, por meio da confecção de material e
instalações alternativos, construídos pelos professores e alunos, podemos resolver
parcialmente estes problemas, e assim possibilitar sua prática.
Os resultados do estudo indicam que novas pesquisas ligadas ao atletismo na
Educação Física escolar devem ser incentivadas, pois a implementação e a
receptividade dos alunos evidenciaram o valor educacional da modalidade.
Espero que este trabalho possa contribuir para o encorajamento dos
professores ao “resgate” do atletismo na escola, incluindo a modalidade entre os
conteúdos essenciais a serem trabalhados nas aulas de Educação Física do Ensino
Fundamenta, visto que este traz consigo não só o valor da prática – inestimável para
a sua vida futura – , mas também o conhecimento sobre a modalidade, que faz parte
da cultura corporal e da nossa história há milênios.
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Referências
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OLIVEIRA, Maria Cecília Mariano de – Atletismo Escolar – uma proposta de ensino na educação infantil, Rio de Janeiro, Sprint, 2006. PALMA et al. Educação física e a organização curricular: educação infantil e ensino fundamental. Londrina: EDUEL, 2008. PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental - Educação Física (2008). Disponível em: http://www8.pr.gov.vr/portals/portal/diretrizes/dir_ef_educfis.pdf. Acesso em: 09 jan. de 2010. SCHMOLINSKY, Gerard. Atletismo. Lisboa: Estampa, 1982. VENDITTI JÚNIOR et al. Sistematização epistemológica da Educação Física brasileira: concepções Pedagógicas Crítico-Superadora e Crítico-Emancipatória. Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 83 - Abril de 2005. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd83/efb.htm. Acesso em 10/01/2010. TEIXEIRA, Hudson Ventura. Educação Física e Desportos. São Paulo, Ed. Saraiva, 2003. TRIVIÑUS, A. N. S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais – A pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 2006.
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