Demografia e Consumo

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8/8/2019 Demografia e Consumo

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Demografia e Consumo

Luiz Goes ( lgoes@gsmd.com.br  ), sócio-sênior e diretor da GS&MD ± Gouvêa de Souza

Os dados vão aparecendo aos poucos, mas o Censo 2010 realizado pelo IBGE já começa amostrar as grandes transformações pelas quais passou o país desde a edição anterior,realizada no ano 2000.

Muitos números ainda vão ser mostrados, mas alguns deles já permitem antever mudançasdemográficas que impactarão fortemente o mapa de consumo no país. As grandes cidadesapresentam taxas de crescimento bem inferiores àquelas que experimentaram em décadaspassadas. Por outro lado, as cidades médias tomam impulso de crescimento forte. Esse fatoimpacta, por exemplo, o formato de lojas e de ambientes de venda de serviços, já que ascidades médias demandarão superfícies menores, aliando-se ainda ao fato de que oconsumidor, esteja na metrópole, esteja na cidade média, busca mais conveniência e facilidadeno contato com a loja.

Regionalmente o mapa também começa a ser alterado. Em número de habitantes, a regiãoSudeste cresceu 10,97% nos últimos dez anos, enquanto a região Nordeste cresceu 11,18%; ea Norte, 22,98%.

Outro número bastante significativo diz respeito ao já preconizado envelhecimento dapopulação brasileira de uma forma geral. Talvez os espaços antes destinados a abrigar crianças com atividades dentro de hipermercados, lojas de departamentos e shopping centerstenham que dar lugar a outros dedicados a pessoas mais velhas e que demandarãoprodutos eserviços voltados ao bem-estar. Esse é um processo que a Europa já vem experimentando háalguns anos, por exemplo. Onde antes existiam escolas, existem hoje centros para a melhor idade.

 Além disso, as pessoas frequentarão locais de compra por muito mais tempo ao longo de suasvidas, o que exigirá maior dedicação das marcas de varejo para a fidelização de clientes. Paraque se tenha ideia dessa velocidade, em 2008 a expectativa de vida ao nascer do brasileiro erade 72,86 anos. Em 2009 subiu para 73,17. No ano 2000, era de apenas 70,46 anos. Aindatemos que galgar alguns degraus até atingir a taxa do Japão, que é de 82,7 anos, ou então daFrança, de 81,2, mas muito rapidamente estaremos perto desses patamares.

Por outro lado, as mudanças demográficas ocorrem em uma velocidade incompatível com asmodificações que ainda temos que fazer em termos culturais e de infraestrutura. No que tangeà qualidade da educação, recente pesquisa divulgada pela Unesco indica que o Brasil ocupa o53º lugar dentre 65 países avaliados. Isso mostra a dificuldade que teremos para equacionar crescimento econômico, mudanças populacionais e ocupação de vagas de trabalho. No quesito

infraestrutura, todos sabemos da grave situação da circulação em nossas cidades e estradas,impactando a distribuição de produtos; ou então os gargalos envolvendo portos e aeroportos;ou ainda pontos ligados à baixa conexão à Internet por banda larga; e assim por diante.

Todos esses fatores em princípio interessam mais aos demógrafos e aos planejadores públicosque deverão desenhar as necessidades das cidades e dos deslocamentos de bens e pessoasentre elas, mas não podem ser deixadas de lado por aqueles que se preocupam com a formacomo o consumo acontece, principalmente no meio urbano.

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Precisamos estar atentos a essas mudanças. Hoje é quase um chavão falar que o mundomuda com rapidez impressionante. Sim, é lógico que é verdade, mas o que não nos damosconta é que muitas dessas mudanças podem ser antevistas com alguma antecedência sebuscarmos as referências corretas. Dados não faltam. O que carecemos é de informaçõesqualificadas que nos permitam otimizar os recursos disponíveis e evitar desperdícios. Daqui emdiante teremos cada vez menos espaço e tempo para arriscar. As decisões precisam

ultrapassar a leitura esquálida de números e partir para a robustez de informaçõesconsistentes.

Cada número, seja qual for, aponta uma verdade. Algumas delas significam muito, outrasquase nada para os nossos negócios. Temos é que aprimorar nossa capacidade de perceber arelevância e saber t irar o melhor proveito disso.

Por diversas vezes insistimos neste espaço que o brasileiro de forma geral, mas principalmenteas empresas, não raciocinam com informações, mas sim com sentimentos ou percepçõespouco abrangentes. É preciso mudar a maneira como pensamos e profissionalizar a forma deorganizar e analisar dados, com o intuito de gerar ações mais eficientes. Saber buscar oselementos essenciais não é uma arte e não requer conhecimentos específicos, mas tãosomente sensibilidade e determinação.