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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE TRABALHO, DE ADMINISTRAÇÃO E SERVIÇO PÚBLICOEVENTO: Audiência Pública N°: 0467/08 DATA: 22/04/2008INÍCIO: 14h53min TÉRMINO: 16h53min DURAÇÃO: 02h00minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h00min PÁGINAS: 39 QUARTOS: 24
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃODAGOBERTO LIMA GODOY – Representante da Confederação Nacional da Indústria – CNI.JOILSON CARDOSO – Representante da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB.PAULA DE FARIA POLCHEIRA LEAL – Representante do Ministério do Trabalho e Emprego.FLÁVIO ROBERTO SABBADINI – Representante da CNC.RICARDO PATAH – Presidente da UGT.RODOLFO TAVARES – Representante da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária.CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA – Representante da CUT.NARCISO FIGUEIRÔA JÚNIOR – Representante da CNT.HERBERT PASSOS – Representante da Força Sindical.JOSÉ MARIA RIEMMA – Representante da Confederação Nacional das Instituições Financeiras – CNIF.
SUMÁRIO: Debate sobre a Convenção 158, da Organização Internacional do Trabalho – OIT.
OBSERVAÇÕESHouve exibição de imagens.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0467/08 Data: 22/04/2008
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Senhoras e senhores,
declaro aberta a presente reunião de audiência pública, atendendo a requerimento
de minha autoria, com o objetivo de discutir a Convenção nº 158, da Organização
Internacional do Trabalho.
Convido para fazer parte da Mesa a representação do Ministério do Trabalho
e Emprego, a Sra. Paula Pocheira; Sr. Dagoberto Lima Godoy, representante da
Confederação Nacional da Indústria; Sr. Joilson Cardoso, representando a Central
dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil — CTB; Sr. Flávio Roberto Sabbadini,
representante da Confederação Nacional do Comércio; Sr. Ricardo Patah,
Presidente da União Geral dos Trabalhadores — UGT.
Como a mesa não comporta todos nessa ordem, gostaríamos de convidar
para ocupar as cadeiras à frente o Sr. Rodolfo Tavares, representante da
Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária — CNA, Sr. Narciso Figuerôa
Júnior, representante da Confederação Nacional do Transporte; Sr. José Maria
Reimma, representante da Confederação Nacional das Indústrias Financeiras; Sr.
Herbert Passos, representante da Força Sindical; Sr. Antônio Fernandes dos Santos
Neto, Presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil — CGTB, que ainda
não se encontra entre nós; e o Sr. Carlos Henrique de Oliveira, representando a
Central Única dos Trabalhadores — CUT.
Concederemos a palavra aos representantes da Mesa. Faremos o
revezamento após a exposição daqueles que estão nesta posição da mesa.
Gostaríamos de sugerir o tempo inicial de exposição, em função da
expressiva presença, de até 10 minutos para cada expositor.
O objeto desta audiência, com foi explicitado inicialmente, é debatermos a
Convenção nº 158. Como todos sabemos, ela se encontra em tramitação nesta
Casa, neste momento na Comissão de Relações Exteriores.
Em função de buscarmos dar agilidade ao processo de discussão nesta Casa
e na sociedade, sugeriu-se que os debates fossem feitos simultaneamente na
Comissão de Relações Exteriores e na Comissão de Trabalho, tanto da Convenção
nº 158 quanto da Convenção nº 151, que também tramita na Comissão de Relações
Exteriores e posteriormente virá para tramitação nesta Casa.
Passo imediatamente a palavra ao Sr. Dagoberto Godoy.
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0467/08 Data: 22/04/2008
O SR. DAGOBERTO LIMA GODOY - Ilustre Deputado Daniel Almeida, que
preside esta sessão e é autor do requerimento que enseja esta oportunidade de
estarmos aqui, demais Deputados e Deputadas presentes, representantes
empresariais e de trabalhadores, minhas senhoras, meus senhores, companheiros
aqui da Mesa, realmente devo registrar nossa apreciação pelo fato de o Deputado
Daniel Almeida ter feito essa proposição, tendo em vista que, embora o tema ainda
esteja tramitando em outra área do Legislativo, ou seja, na área de relações
exteriores, certamente é da maior importância para as relações de trabalho no Brasil
e mais ainda para o próprio desenvolvimento nacional. Assim, vou tentar ser bem
preciso ao expor as razões pelas quais a indústria brasileira, representada pela CNI,
está convicta de que a ratificação da Convenção nº 158, da OIT, não interessa ao
Brasil.
Em primeiro lugar, é preciso perceber que a convenção é obsoleta. Ela foi
aprovada em 1982 pela OIT, antes que acontecesse a queda do Muro de Berlim,
que acelerou e deu margem a esse processo avassalador, que é a globalização da
economia. Mesmo assim, já nasceu defasada à época — tanto que, dos 180 países
filiados à OIT, apenas 34 países ratificaram a convenção, em sua maioria nações
pouco desenvolvidas, com pouca expressão em termos econômicos, ou seja, em
que as relações do trabalho não têm sequer de longe a importância que têm no
Brasil.
Mesmo países mais envolvidos foram pouquíssimos os que a subscreveram:
apenas a Espanha, Finlândia, França, Portugal e Suécia. E mesmo esses, que são
tradicionalmente protecionistas, precisaram criar novas formas de contrato para
contornar a rigidez da Convenção nº 158, especialmente a França e a Espanha, que
têm que ser citados como expoentes da visão protecionista nas relações do
trabalho.
A França, já em 2007, implantou várias medidas nesse sentido, como
contratos de prazo determinado de 18 meses, renováveis, para trabalhadores com
mais de 57 anos, e, para os demais empregados, aumento do tempo do contrato
com prazo determinado, que foi mudado para até 6 meses.
Mais importante que isso, em janeiro deste ano, empregadores e
trabalhadores franceses, representados pelas mais expressivas entidades, tanto do
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lado do empregador como do trabalhador — do lado dos trabalhadores ficou de fora
só a CGT —, firmaram acordo em torno de uma série de medidas, com vistas ao que
chamaram de flexibilité à la française, buscando um equilíbrio aceitável entre uma
maior flexibilidade do mercado de trabalho e uma segurança das carreiras
profissionais, dos assalariados, sujeitos, dada a circunstância, a mudar de emprego
com maior freqüência. E o Governo francês trabalha neste momento um projeto de
lei na mesma direção do acordo. Todos esses atores estão inspirados na
experiência bem-sucedida da aplicação do modelo da chamada “flexiguridade”, há
mais tempo, na Dinamarca.
O segundo argumento é de que a legislação brasileira é melhor do que pretende a
Convenção nº 158. Os empregados desligados das empresas no Brasil têm um
conjunto de medidas compensatórias garantido por lei e pela própria Constituição
Federal:
a) aviso prévio de 30 dias, em alguns casos mais, para que possam procurar
outro emprego;
b) reserva dos depósitos feitos pela empresa no Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço, que pode ser sacado em casos de demissão;
c) indenização igual a 40% dos depósitos acumulados no Fundo de Garantia
do Tempo de Serviço;
d) seguro-desemprego, por até 5 meses.
A própria demissão por justa causa já está regulada no art. 482 da CLT. Sem
dúvida alguma, o sistema brasileiro é muito mais simples e menos conflitivo do que
seria com a adoção das disposições da Convenção 158.
Terceiro, o mercado de trabalho seria prejudicado. Pensa-se em aspectos
positivos para os trabalhadores brasileiros, mas aconteceria justamente o contrário.
A imposição de uma série de requisitos quanto a prazo, forma e procedimento
das demissões e a possibilidade da reintegração no emprego, se a justificativa não
for validada pela Justiça, fariam com que as empresas ficassem temerosas de
empregar, pois não saberiam quanto demoraria nem quanto custaria uma demissão.
As admissões passariam por processos extremamente rígidos, visando
justamente diminuir os riscos. As empresas procurariam admitir só empregados
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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço PúblicoNúmero: 0467/08 Data: 22/04/2008
ideais, com altíssima capacitação profissional, atualizadíssima, saúde perfeita e
folha funcional sem mácula.
As empresas seriam induzidas à automação e à robotização.
A terceirização, que é salutar para o mercado de trabalho nacional, tenderia a
buscar contratações em outros países mais flexíveis.
Um menor número de empregos seria criado, e as vagas que surgissem
demorariam mais para ser preenchidas.
O desemprego, especialmente o dos jovens, tenderia a crescer ainda mais,
ele que hoje já supera os 20%.
Vale lembrar que somente em 2007 foram realizadas no Brasil
aproximadamente 13 milhões de demissões e 14 milhões de admissões, com um
saldo favorável de 1 milhão e 600 mil empregos, numa rotatividade altamente
salutar.
Pesquisas do Prof. José Pastore, da USP, mostram que “os países que
adotam critérios complexos para desligar empregados têm taxas mais altas de
desemprego do que os que adotam critérios mais simples”.
Quarto, aumentariam os problemas da Seguridade Social.
Claro, com menos gente empregada, a Previdência teria o seu déficit
aumentado. Os desempregados demorariam mais a encontrar nova colocação, com
o que cresceriam as despesas do Governo com o seguro-desemprego.
O Governo teria ainda menos recursos para investir em infra-estrutura,
educação, saúde, segurança, setores que deixariam de criar mais empregos.
Quinto, aumentaria a informalidade.
Uma das causas fundamentais da informalidade no mercado de trabalho —
ao lado, claro, dos altos encargos previdenciários e trabalhistas e da burocracia — é
sem dúvida o temor do passivo trabalhista, decorrente da rigidez das normas e da
insegurança jurídica. A ratificação dessa convenção viria agravar esse quadro,
fazendo aumentar a multidão de trabalhadores sem carteira assinada.
Sexto, haveria também um enorme prejuízo à competitividade da economia
brasileira. A Constituição Federal de 1988 teve o grande acerto de consagrar a livre
iniciativa econômica como o melhor método de criação da riqueza, indispensável à
sustentação das políticas de promoção do desenvolvimento social. Sem geração de
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riquezas, não há condições de sair do idealismo e chegar a uma realidade de
desenvolvimento social sustentável.
Com o aprofundamento da globalização da economia e a abertura do
mercado brasileiro, as empresas brasileiras passaram a ser mais e mais exigidas em
sua competitividade, pois não há lugar, no mercado global, para atores econômicos
que não primem pela excelência de seus produtos e serviços e pela máxima
agilidade em responder às velozes mudanças tecnológicas, às flutuações da oferta e
da procura e às imprevisíveis crises internacionais, como hoje, mais uma vez,
estamos vivendo.
Na verdade, de acordo com uma lógica indesmentível, não há demissão
imotivada. Nenhuma empresa demite um trabalhador sem motivo. Portanto, o que a
Convenção pretende é não somente instituir procedimentos que sejam empregados
na discussão dos motivos dessa demissão, como impor instâncias externas à
empresa que façam juízo de valor das suas decisões, para fixar indenizações e, o
que é pior, anular as demissões impugnadas.
Ora, as equipes de trabalho têm que estar atualizadas profissionalmente e
sintonizadas com as estratégias e práticas da empresa, sem o que se perde
produtividade, criatividade e a própria motivação dos empregados. Nem empresa,
nem trabalhadores poderão realizar-se em ambiente de trabalho sem expertise
profissional, tanto na administração quanto na produção.
A demanda por flexibilidade de gestão é universal, dela dependendo o
sucesso e a própria sobrevivência empresarial. Ambientes institucionais que
amarram os braços do administrador emperram a economia, inibem novos
investimentos e dificultam a geração e a manutenção de empregos. Não só se
perdem investimentos estrangeiros, como se corre o risco de as empresas
brasileiras redirecionarem suas expansões para fora. É o fenômeno conhecido como
relocalização offshore, que, aliás, já se vai tornando bastante comum no Brasil.
Pela mesma razão, aumenta também a busca de suprimentos fora do País,
originando uma espécie de exportação de emprego.
Vejam bem, quando se fala nesse risco, não se está dizendo da competição
de outros países que têm salários mais baixos, piores condições para o trabalhador.
Uma pesquisa da consultoria internacional A.T. Kearney, com dados mundiais
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relativos a 2100, chegou a esta conclusão: “O que mais chama a atenção é a
constatação de como a vantagem que é determinada pelas despesas com salários
diminui de forma generalizada, enquanto a valorização do capital humano e o
ambiente empresarial aumentam de forma significativa”. Ou seja, mais do que tudo,
é fundamental que haja condições propícias para a plena gestão empresarial voltada
para a excelência, para a alta competitividade.
Finalmente, a tendência mundial não seria considerada. Talvez aqui o
aspecto, quem sabe, mais carregado de poder de convencimento, tendo em vista
que o enfoque protecionista na regulação das relações do trabalho é uma herança
européia, sabendo-se que as raízes da própria CLT foram fincadas na Carta del
Lavoro, do regime fascista de Benito Mussolini, na primeira metade do século
passado. Desde então, o mundo mudou, e a globalização da economia, com a sua
regra da competição implacável, impôs aos próprios países europeus a necessidade
de rever tal enfoque.
Assim, a tendência atual mais prestigiada é aquela marcada pela experiência
dinamarquesa que passou a ser conhecida como “flexiseguridade”, que eu já referi,
ou seja, um balanço equilibrado entre a indispensável liberdade de gestão para as
empresas e a necessária proteção ao trabalhador como uma decorrência de seus
direitos sociais.
A “flexiseguridade”, como vem sendo buscada, apóia-se num tripé, conhecido
como triângulo de ouro.
Primeira perna do tripé: flexibilização das regras dos contratos de trabalho,
inclusive as relativas ao seu término. Poucas pessoas sabem: na Dinamarca é mais
livre a contratação e a demissão de trabalhadores do que nos Estados Unidos da
América do Norte, tido como o país mais liberal do mundo.
Segunda perna do tripé: um sistema de seguridade bem estruturado, com
seguro-desemprego e continuidade dos direitos a assistência à saúde e
aposentadoria, no período entre 2 empregos. Ou seja, o desempregado não fica
apenas pendurado no seguro-desemprego, ele continua sendo tratado como
cidadão.
Terceira perna do tripé: políticas ativas de emprego, com foco na recuperação
da empregabilidade. O novo sistema tem o mérito de repartir entre a empresa e a
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sociedade os ônus da proteção ao trabalhador, deixando com a primeira, com a
empresa, a responsabilidade durante a vigência do contrato de trabalho e chamando
a sociedade para dar suporte ao desempregado como uma prestação de cidadania.
Em suma, equaciona-se o problema de uma forma mais racional e justa,
buscando-se a segurança do trabalhador no mercado de trabalho. Mesmo
desempregado, ele continua com segurança. Não se exige da empresa algo que ela
não pode dar, ou seja, a segurança no emprego, uma vez que a incerteza,
característica da situação de empregado, equipara-se à incerteza típica da atividade
empresarial no mercado altamente competitivo.
Por todas essas razões, temos a mais absoluta convicção de que essa
convenção, que não pegou quase no mundo inteiro — onde pegou está sendo
revisada —, não serve para o Brasil, não serve para as empresas brasileiras e não
serve, ainda mais, para os trabalhadores brasileiros e para a sociedade como um
todo.
Muito obrigado. (Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos ao Dr.
Dagoberto a exposição.
Concedo a palavra ao Sr. Joilson Cardoso, da CTB, pelo prazo de até 10
minutos.
O SR. JOILSON CARDOSO - Saúdo o Deputado Daniel Almeida pela
iniciativa.
As centrais sindicais — hoje, no Brasil, são 6 centrais legalizadas —
reconhecem a importância desse tema, que está sendo apresentado para a
sociedade brasileira, no nosso entender, de uma forma muito exagerada e muito
contundente. Tenta-se polarizar a questão: Convenção 158 versus questão da
estabilidade no emprego, como se a Convenção fosse decretar que, a partir da sua
promulgação, nenhum trabalhador poderia ser demitido, jamais.
Seria importante, neste debate, tentarmos desmistificar esse tipo de
pensamento.
Também não queremos levar o debate para o plano de que a Convenção 158
da OIT tenha sido inspirada na Carta del Lavoro e muito menos para o de que a 158
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só se justificaria em um Estado não capitalista. Esse é um tema que não pode ser
levado nesses termos, no nosso entender.
O que é a Convenção 158? Ela foi promulgada pela Organização
Internacional do Trabalho em 1982. Na justificativa, aparece como necessária para
enfrentar os graves problemas relacionados ao trabalho. Basicamente, o princípio da
Convenção está resumido no art. 4º — são 22 artigos. No Artigo 4 está resumido o
seu sentido:
“Não se dará término à relação de trabalho
de um trabalhador a menos que exista para isso uma
causa justificada relacionada com sua capacidade ou seu
comportamento ou baseada nas necessidades de
funcionamento da empresa, estabelecimento ou serviço”.
O artigo posterior esclarece que não poderão ser consideradas causas que
justifiquem a demissão:
- a filiação a sindicato ou a participação em atividades sindicais fora das
horas de trabalho ou, com o consentimento do empregador, durante as
horas de trabalho;
- ser candidato a representante dos trabalhadores ou atuar ou ter atuado
nessa qualidade;
- apresentar uma queixa ou participar de um procedimento estabelecido
contra um empregador por supostas violações de leis ou regulamentos, ou
recorrer perante as autoridades administrativas competentes;
- raça, estado civil, gravidez, entre outras.
Esse é o espírito da Convenção 158. Ele nos remete a que, no mundo do
capital e do trabalho, possa haver uma equação segundo a qual os trabalhadores
tenham, sendo eles os produtores, um mínimo de garantias. No Brasil, a 158 foi
promulgada, pelo Congresso Nacional, em 1992, e, em 1996, ela foi anulada,
exatamente no apagar das luzes de 1996.
Mesmo não tendo por si só esse caráter de grandes transformações, poderá
contribuir para a diminuição desse quadro terrível de mais de 12 milhões de
trabalhadores demitidos em 2007. No Brasil, seria o caso de refrear a enorme
rotatividade do emprego no mercado de trabalho. Quando a rotatividade decresce,
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cresce a possibilidade de mobilização e de organização. Talvez por isso a
Convenção 158 esteja sendo abordada nos termos em que está sendo considerada
pela grande mídia e nos debates a que estamos assistindo.
Nós fomos surpreendidos por um artigo recentemente publicado na Folha de
S.Paulo em que o Sr. Benjamin Steinbruch, Diretor da CSN — todos sabemos quem
é —, diz que, no caso, a proposta enviada ao Congresso Nacional no dia 14 de
fevereiro pelo Presidente Lula investe violentamente contra a possibilidade de o
Parlamento aprovar o pedido de ratificação da Convenção 158 da OIT. O autor do
artigo reconhece que foram criados 6 milhões de empregos com carteira assinada e
diz que a aprovação da referida convenção provocará grandes retrocessos. Recorre
aos ensinamentos de um de seus consultores que mais defendem os interesses
patronais, segundo quem as conseqüências práticas de se adotar a Convenção
seriam a criação de burocracias, o prolongamento do prazo de demissões, o
aumento de custos, maior relutância das empresas em abrir vagas, o crescimento do
desemprego a longo prazo e o aumento dos gastos do Governo.
Esse tipo de idéia de que a Convenção promoveria esses aspectos que o Sr.
Benjamin invoca em seu artigo publicado na Folha de S.Paulo nos coloca numa
posição de desmistificar esse ponto de vista quanto à matéria da Convenção 158,
que é exatamente o que o movimento sindical mundial tem debatido, ou seja, a
questão da “flexiseguridade”. As centrais sindicais brasileiras, juntamente com 92
países, participaram de congresso realizado há 2 meses em Portugal. Esse ponto da
“flexiseguridade” foi debatido nos termos com os quais os defensores da
“flexiseguridade” visam exatamente reduzir os direitos dos trabalhadores em vez de
equacionar a questão do capital e do trabalho.
Portanto, nós das centrais sindicais, em especial da CTB, temos convicção de
que a mensagem que foi enviada ao Congresso Nacional e que será debatida junto
à sociedade brasileira para que seja compreendida a importância de a matéria ser
aprovada no Congresso e sancionada pelo Presidente da República é um elemento
fundamental.
A proposta não se baseia na Carta del Lavoro, nem no ambiente que se vivia
na época do Muro de Berlin. Com a proposta busca-se permitir que os trabalhadores
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e as trabalhadoras do nosso País tenham uma relação civilizada no mundo do
trabalho.
Essa é a visão da CTB. Essa é a nossa convicção.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos a
participação ao Sr. Joilson.
Concedo a palavra à Sra. Paula Polcheira, representante do Ministério do
Trabalho.
A SRA. PAULA DE FARIA POLCHEIRA LEAL - Boa tarde a todos.
É entendimento do Ministério e, certamente, do Sr. Ministro que a ratificação
da Convenção 158 da OIT é de grande importância, ela traz avanços para os
trabalhadores. Foi discutida no âmbito do Fórum Nacional do Trabalho. Foram
envolvidas mais de 15 mil pessoas. Com o debate, desde 2003, constatou-se a
importância da ratificação da Convenção, conforme nos disse o colega Joilson. É
importante que haja segurança relativamente à demissão imotivada, arbitrária. Isso
já consta de nossa Constituição Federal, no art. 7º, inciso I. Ou seja, desde 1988
isso é previsto.
A idéia não é impedir que ocorra a demissão do empregado, mas dar
segurança a ambas as partes, uma vez que a empresa estará certa do procedimento
que tomou. Hoje, a própria dispensa por justa causa não é realizada com segurança
pela empresa e, muitas vezes, ela é revertida no âmbito da Justiça. Por esse lado,
temos uma segurança também para o trabalhador no que tange ao exercício da sua
atividade sindical, uma vez que essa ocupação não está protegida. A representação
sindical, por outro lado, está protegida pela legislação pátria, assim como os casos
de doença e de licença-maternidade.
Nesse sentido, o Ministério do Trabalho entende como um grande avanço a
ratificação da convenção. Ela traz um diálogo para o procedimento da demissão e
também evita a arbitrariedade, que muitas vezes é denunciada ao Ministério em
relação a dispensas que não têm justificativa alguma, coisa que geralmente acaba
sendo revertida no âmbito da Justiça. Tudo isso traz um grande prejuízo para o
Governo, para a Justiça e para os entes que precisam rever seus procedimentos
empresariais e retomar vínculos de empregos desgastados, uma vez que foram
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levados à Justiça. O prejuízo termina sendo maior do que o teríamos com o diálogo
conseguido com a convenção.
Então, o posicionamento do Ministério do Trabalho não é no sentido de que
seja atrasada ou obsoleta a convenção, uma vez que ela evita a dispensa arbitrária.
Ela não vai evitar a dispensa do mau empregado. O empregador terá todo o espaço
para justificar os seus motivos, tanto relativos à capacidade do empregado como
quando a empresa fica impossibilitada de manter aquele empregado por motivos
próprios, empresariais, como os que foram trazidos pelo colega da CNI.
Este é o posicionamento do Ministério e estou aberta à resolução de dúvidas
no final.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos à Dra. Paula
Pocheira e passamos imediatamente a palavra ao Sr. Flávio Roberto Sabbadini,
representante da CNC, que dispõe de até 10 minutos.
O SR. FLÁVIO ROBERTO SABBADINI - Saúdo, inicialmente, o Deputado
Daniel Almeida pela iniciativa.
A Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo, tem o
prazer de trabalhar em cima dessa matéria a fim de esclarecer que a decisão que
possa a vir ser tomada pelo Congresso Nacional ou pela sociedade brasileira aqui
representada seja a mais tranqüila possível.
(Segue-se exibição de imagens.)
Gostaria de passar essa matéria, se me permitem, para, em primeiro lugar,
constar em ata que, durante o Fórum Nacional do Trabalho, em que tivemos 400
horas de trabalho, em momento algum foi discutida matéria relativa à Convenção
158, muito menos a sua pacificidade.
A Recomendação 119, adotada pela OIT em 1963, foi transformada na
Convenção 158 já em 1982, pelo voto tripartite do Brasil, com voto dos
trabalhadores a favor e do Governo e dos empregadores, contra. A data da
retificação do Brasil foi 5 janeiro de 1995 e a denúncia em 20 de novembro de 1996.
Temos de entender que o prazo para revisão da ratificação da Convenção 158 é de
10 anos. Isso quer dizer que, em sendo adotada a Convenção 158 no Brasil, todas
as crianças e jovens de 6 a 15 anos, 11 meses e 29 dias estariam sendo atingidas
por ela.
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Aqui estão os 34 países, em 3 blocos, para facilitar a visão: Austrália,
Espanha, Finlândia, França, Portugal e Suécia, países ditos desenvolvidos; os
demais países e 2 países em separado para que possamos examiná-los. Do Alasca
à Patagônia argentina, apenas 2 países nas Américas, a ilha de Santa Lúcia e a
Venezuela, ratificaram a convenção. São 34 países que ratificaram, 18,78%, e 147
que não ratificaram, 81%.
Vamos analisar agora, no âmbito internacional e nacional, o uso desta
convenção.
Espanha: após a adesão, chegou a ter uma taxa anual de desemprego de
24%, em 1994, e continua tendo uma política de restrição imigratória muito grande
exatamente por causa do desemprego interno.
Suécia: para burlar as restrições impeditivas da legislação nova, ela criou
novas formas para poder trabalhar.
Portugal: taxa de desemprego de até 8,5% já em outubro de 2007, que é a
terceira taxa mais elevada de toda a Comunidade Européia.
França: subsídios para que as empresas não mudem para o Leste Europeu.
Além disso, política de restrição à imigração e o governo também busca a
compensação e a mudança na sua estrutura de horas de trabalho, que hoje é de 35
horas, retornando para o patamar superior, porque não houve solução na França em
relação ao desemprego.
Marrocos: 83 milhões de habitantes e taxa de desemprego de 22,9%, a maior
na economia.
Venezuela: o único país da América do Sul a ratificar a convenção. Não há
pleno emprego na Venezuela; ao contrário, uma grande população informal.
Santa Lúcia, uma das ilhas do Caribe: 164 mil habitantes, 21% da população
economicamente ativa está desempregada.
Aqui temos os indicadores de 4 países: Brasil, França, Portugal e Espanha.
Estamos procurando fazer aqui um exame, de 2002 a 2007, nesses países.
Aqui dá para ver o Brasil e os outros 3 países que estamos comparando, e
verificamos que a nossa taxa de desemprego em 2007 foi de 7,4%; a da França,
8,3%; a de Portugal.,7,7%, e a da Espanha, 8,3%. Se olharmos também a
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performance desses países, veremos que o Brasil tem uma taxa decrescente
bastante acelerada.
Análise comparativa dos indicadores de 2002 a 2007 nesses 4 países. Isso é
importante para que possamos ter uma decisão coerente.
No Brasil, o emprego cresceu 14,4%, a população cresceu 9,19% e a taxa de
desemprego parou em 7,4% em 2007. Na França, o emprego cresceu 2,67%, a
população 3,2% e a taxa de desemprego 8,3% — então, vejam bem aí com a
adoção da 158 da OIT. Em Portugal, o emprego cresceu 0,93%, a população 2,57%
e o desemprego 7,7%. Na Espanha, o emprego cresceu 15,36%, a população 8,61%
e o desemprego 8,3%.
Pela taxa de desemprego, o Brasil tem a menor taxa desses países todos, e a
própria Espanha ainda tem emprego e população maiores. Temos que fazer uma
referência, uma proporção Brasil-Espanha. Se pegarmos o crescimento da
população brasileira e aplicarmos na Espanha, a Espanha é deficitária; tem que
estar hoje com uma taxa de emprego em torno de 16,39%.
Movimentação no Brasil, por desligamento: 59% foram os demitidos de forma
injusta ou sem justa causa no ano de 2007. Conseqüentemente, dos 12 milhões que
saíram, que foram desligados das empresas, 59% foram demitidos sem justa causa
e 41% por outras formas.
Aqui temos 3 anos de comparação no Brasil: em 2007, os admitidos foram 14
milhões e 341; desligados, 12 milhões e 700. Não podemos esquecer que 7 milhões
e 300 foram os desligados de forma injusta. Quer dizer, então empregamos o dobro
do volume de demissões injustas. Além disso, houve um positivo, um saldo de 1
milhão e 617 mil de novas vagas no mercado. Realmente, admitimos integralmente
o volume de demitidos injustamente e de outras formas no ano de 2007.
Trabalhadores demitidos: investimos 9 bilhões e 700 milhões. Algo em torno
de 13 bilhões foram pagos pelo FAT para esses demitidos.
Como está o Brasil hoje? Se não ratificarmos a Convenção 158, a
manutenção do modelo brasileiro como referência mundial é o que temos hoje aqui:
referência em benefícios trabalhistas; Fundo de Garantia por Tempo de Serviço;
multa de 40% sobre os depósitos; aviso prévio de 30 dias; 13º salário; férias
remuneradas com um terço de acréscimo; seguro desemprego; vales alimentação,
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refeição e transporte; salário família. E agora temos outros itens: estabilidade de
dirigentes sindicais; CIPA; gestante; trabalhadores acidentados; dentre outros
direitos.
Danos ocasionados pela aprovação da 158: fim do FGTS — o instituto foi
criado pela Lei nº 5.107, de 1966, exatamente para extinguir a estabilidade existente
à época; então, foi a troca da estabilidade pela criação desse instituto; fim da
indenização com acessório de 40% do FGTS; reexame dos contratos pré-
determinados; fim dos programas governamentais Primeiro Emprego e
aprendizagem dos 16 aos 24 anos; aumento da informalidade; prazo de revisão: 10
anos após; responsabilidade com as crianças e jovens de 16 aos 24 anos
incompletos — como gerar vagas? É uma explicação para esses jovens; tratamento
não-diferenciado às micro e pequenas empresas, que são os maiores empregadores
— 65% dos empregos gerados no Brasil hoje advêm das micro e pequenas
empresas; nascimento do filtro social para a criação de novas vagas pela
impossibilidade de demissão na busca da avaliação não-superficial dos candidatos
— obviamente, a mão-de-obra não-especializada, que é a maioria, passará por esse
filtro social; aumento das dificuldades frente aos países concorrentes globais —
China, Índia, Rússia, Estados Unidos e Argentina; dificuldades com a criação de
estabilidade do emprego doméstico, dentre outros.
Sugerimos prudência, meu caro coordenador.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos ao Sr. Flávio
Sabbadini pela objetividade e passamos imediatamente a palavra ao Sr. Ricardo
Patah, Presidente da UGT.
O SR. RICARDO PATAH - Boa tarde, companheiros e companheiras.
Deputado Daniel Almeida, parabenizo V.Exa. por esta atividade tão
fundamental.
Farei algumas reflexões. A primeira diz respeito ao que disse meu
companheiro da área patronal, que não deixa de ser companheiro. Respeito-o muito
por ser um dos grandes dirigentes da área patronal do Brasil.
Ele falou da França e outros países, mas esquece que, antes da ratificação, o
desemprego era muito maior, viu, meu companheiro? Não sei se vocês se lembram
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— somos mais ou menos da mesma idade, mas nos idos de 1970, 1975, o que tinha
de gente desempregada naqueles países era pior do que muitos países que nem
têm emprego hoje. Então, esse argumento é um pouco atemporal.
Acho relevante fazer algumas reflexões. Como está o Brasil hoje? O Brasil
hoje, segundo índices do IBGE, tem apresentado crescimento de emprego e da
massa salarial e tem dado perspectivas de um crescimento que se inicia de forma
sustentável. Tivemos um índice de 5,2%, que depois melhorou e passou para 5,4%,
este ano deve chegar perto de 5%, e assim por diante. Estamos em uma situação
em que há grandes possibilidades de emprego e de crescimento, que vai trazer
justiça social e outras características.
O Governo Fernando Henrique, naquela oportunidade — pois foi efêmera a
vida da 158 — tínhamos um outro cenário econômico. O Governo Fernando
Henrique foi muito seduzido pelos argumentos empresariais de fazer algumas
mudanças que na época se achava importantes, e hoje podemos perceber que
foram erros absurdos.
O banco de horas foi terrível. Vamos criar o banco de horas, vamos dar
emprego! O que aconteceu é o que acontece até hoje. Fui almoçar com um
jornalista, cujo nome não posso falar, e ele falou: até no meu jornal tem esse tal de
banco de horas; tenho tantos meses, e ninguém me dá. Um jornalista! Imaginem o
que acontece na base, com o nosso velho e amigo peão.
Depois foi o tal de domingo. Comerciário — a maior categoria do Brasil,
cordeirinhos —, vamos incluir domingos e feriados como se fossem dias normais.
Isso vai gerar emprego! Mas gerou sacrifício. Graças a Deus, no que tange a essa
questão, fizemos algumas mudanças.
Então, toda vez que vem uma sugestão da área empresarial nesse sentido é
porque se valoriza o emprego e o trabalho como custo. Nunca se pensa neles como
investimento. Esquece-se do grande equilíbrio entre capital e trabalho. O trabalho
tem o mesmo peso que o capital — nada a mais, nada a menos — só que,
infelizmente, não é visto dessa forma.
Feitas estas pequenas ponderações, informo que fizemos alguns estudos, os
quais trouxe. Pedi a Dona Sônia para fazer a gentileza de distribuir para todos os
presentes dois estudos importantíssimos.
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Um, de uma pessoa conhecida como uma das mais capazes na área de
análise econômica, Márcio Pochmann, tem como título Anacronismo no processo
seletivo e apagão da qualificação. No corpo dessa entrevista que concedeu ao jornal
Valor, ele deixa claro que a demissão é como uma troca de camisa.
Como o Sabbadini disse, e concordo com ele, hoje o grande gerador de
emprego é a micro e pequena empresa. Não há dúvida. Mas não existe uma política.
A pessoa chega com uma roupa diferente do que aquela que o encarregado ou
gerente quer, que às vezes manda mais do que o rei, e escuta: vá para casa, vá
embora, eu mando embora. As dispensas ocorrem por motivos absurdos, e aqui
está o custo disso.
Além disso, trago uma grande reportagem do jornal O Globo, publicada no
último domingo, dia 20, que diz: “Ameaça de rombo no FAT”. O dinheiro do FAT que
vai para as empresas — porque o trabalhador quer que a empresa cresça e tenha
dinheiro para poder investir, crescer e fazer o Brasil ser democrático — está
sumindo. Por quê? Nunca houve tanta dispensa como agora! O dinheiro está
acabando.
Mas por que está ocorrendo isso se estamos quase no pleno emprego, se
estamos com crescimento econômico?
Vá a qualquer lugar. Sou de São Paulo. Nas lojas de shopping em São Paulo
há sempre placas “Procura-se emprego”. Todo mundo está procurando. Nos jornais,
só se vê procura. E o que acontece que há tanta demissão?
Sou Presidente do Sindicato dos Comerciários de São Paulo. No primeiro
trimestre do ano passado, tivemos por volta de 12 mil homologações. Este ano está
muito melhor do que o ano passado. Só na área de automóveis — todo mundo está
sabendo —, tem havido 30% a mais por mês de vendas de automóveis. Está
aquecido o comércio. No entanto, tivemos mais de 18 mil homologações, quer dizer,
muito mais do que no ano passado. Se não tivermos alguma regra ou algumas
características que dêem segurança...
O empresário e nós, trabalhadores, queremos a segurança jurídica. Quando
uma empresa faz um acordo na Justiça, quer que esteja tudo claro lá para não ser
acionada de novo. Por que o trabalhador também não pode ter segurança para
ajudar, inclusive, a empresa a crescer mais?
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Não podemos ter medo de fazer com que essa relação capital e trabalho seja
equilibrada, para que possamos incluir os excluídos e diminuir o trabalho precário e
a informalidade, que está grassando pelo nosso País.
São essas questões que nos fazem querer que a 158 traga à luz equilíbrio,
inclusão e possibilidade efetiva de democracia no nosso País para que não mais
tenhamos esses problemas de dispensa por qualquer motivo, como até
discriminação racial, meus companheiros, minhas companheiras. Trinta e cinco por
cento dos habitantes da cidade de São Paulo são afrodescendentes, mas em alguns
shopping centers não há nem 1%, nem 2% de trabalhadores afrodescendentes! Ou
seja, enquanto essas questões estiverem acima do emprego e do cidadão,
continuaremos discutindo aqui esses problemas trazidos por empresários que eu
respeito.
Não falo com ironia. Eu os respeito, mas são argumentos totalmente fora do
contexto.
Queremos crescer juntos. Torcemos para que as empresas tenham capital e
condições de ter lucros ou resultados parecidos com aqueles que são planejados
por elas, mas não podemos deixar de dar oportunidade para que milhões de
pessoas... São mais de 8 milhões de pessoas desempregadas. Mesmo com 5% de
aumento, o crescimento demográfico e a tecnologia fazem com que precisemos de
mais empregos, e essa questão vai fazer com que pelo menos as relações estejam
bem estruturadas.
Dessa forma, Deputado e senhoras e senhores, a UGT defende que a 158
seja ratificada e bem discutida no Congresso Nacional, que é quem vai fazer isso.
A mensagem já foi dada pelo Presidente. Os trabalhadores e as centrais
sindicais já expuseram vários argumentos que serão ampliados. Queremos,
inclusive, que os empresários estejam conosco nessa atividade.
Tivemos, recentemente, a questão do PJ. Todo mundo está lembrado, já
queria transformar todo mundo em PJ. O PJ é famoso em algumas empresas, nos
jornais, nas televisões por conta do não pagamento dos custos previdenciários.
Além disso, e finalizando, nós, trabalhadores, somos favoráveis à
desoneração da folha. Achamos que se deve desonerar a folha, e tem um exemplo
clássico. A Volkswagen, grande empresa no Brasil, em 1977, tinha 44 mil
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funcionários e produzia “x” automóveis. Hoje, tem menos de um terço de
funcionários e produz 3 vezes mais. Qual a contribuição da Volkswagen para a
Previdência? Então, isso é injusto com o microempresa e com o País.
Então, é dessa forma que achamos, Sr. Deputado, que devemos trabalhar
para que um Brasil efetivo, da inclusão e da democracia.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos ao Sr.
Ricardo Patah.
Sugiro a inversão: que aqueles que já fizeram a inversão possam inverter com
aqueles que nós gostaríamos de convidar para compor a Mesa e fazer suas
exposições: Sr. Rodolfo Tavares, Sr. Narciso Figuerôa, Sr. José Maria Reimma, Sr.
Herbert Passos e Sr. Carlos Henrique de Oliveira. Pedimos à Dra. Paula, que é a
representante do Ministério do Trabalho, que continue, até mesmo porque a Mesa
precisa ter mais presenças femininas.
Passamos a palavra ao Sr. Rodolfo Tavares, representante da Confederação
Nacional da Agricultura e Pecuária — CNA. V.Sa. tem o tempo de até 10 minutos.
O SR. RODOLFO TAVARES - Deputado Daniel Almeida, demais membros
da Mesa, os colegas das confederações patronais e das centrais sindicais
presentes, Sras. e Srs. Deputados, senhoras e senhores, gostaria, em primeiro
lugar, Sr. Presidente, se me permitir, fazer uma homenagem aqui ao Zé Miranda,
meu colega de trabalho na Ferragens Santos S.A., empresa comprada do meu avô
em 1966, e nós, irmãos, com 9 anos de casa, discutíamos se deveríamos deixá-lo
continuar trabalhando, porque, com 10 anos, ele adquiria estabilidade. Naquela
época havia estabilidade no País.
Deputado, os meus colegas já se estenderam sobre vários assuntos. Todos
que estão aqui têm larga experiência na política sindical e sabem o quanto nós
invejamos nas nossas entidades quem trata de produção, quem trata de economia,
de contabilidade. Nós tratamos de gente, de homens e mulheres, trabalhadores e
empresários do País. Portanto, é uma função muito mais complexa e muito mais
difícil de ser abordada.
Eu apenas gostaria de reiterar aos companheiros o que já foi dito aqui sobre
alguns artigos da Convenção nº 158 e lembrar que, no âmbito da OIT, essas
convenções são elaboradas segundo a ótica de centenas de países, pelo menos
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uma centena e 84 países, com as mais diferentes situações econômicas sociais e
políticas.
Lembro o art. 4º, que veda a dispensa sem justa causa e vou direto ao art. 5º
para mostrar o quanto a legislação de alguns países, de alguma maneira, pode
atender aquilo que a convenção dispõe mas sem engessar ainda mais as relações
de trabalho e capital no nosso País. Quem dera que os americanos, por exemplo,
adotassem o voto eletrônico. É um avanço do Brasil, e aqui, nessa matéria, também
existe um grande avanço do Brasil, e eu me limito ao art. 5º que diz e dispõe:
“Art. 5º Não constitui entre outros motivos válidos
para o término da relação de trabalho:
a - afiliação a um sindicato ou a participação em
atividades sindicais fora da jornada de trabalho ou com o
consentimento do empregador durante a jornada de
trabalho.”
Pois bem. No nosso País, o dirigente sindical tem estabilidade desde a sua
indicação para participar de uma chapa em disputa sindical até 1 ano após o término
do seu mandato sindical.
“b - o fato de solicitar, exercer ou ter exercido
mandado de representação dos trabalhadores.”
Como já disse, tem estabilidade.
“c - a apresentação de queixa ou participação em
procedimento estabelecido contra empregador por
supostas violações de leis ou regulamentos ou recursos
às autoridades administrativas competentes.”
Quem é empresário, quem é trabalhador sabe o que se passa numa ação
trabalhista quando, no seu curso, o empregador toma a medida da demissão.
“d - a ração, a cor ou sexo, estado civil, as
responsabilidades familiares, a gravidez, a religião, a
opinião política, ascendência nacional ou origem social.”
Nós não temos no Brasil e na Constituição a vedação a qualquer forma de
discriminação sob todos esses aspectos.
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“e - a ausência ao trabalho durante a licença à
maternidade.”
Graças a Deus temos esse direito no País, e até se cogita ampliá-lo, o que
não vou neste momento abordar porque não é o assunto nosso, mas seria muito
justo.
“f - a ausência temporária ao trabalho por motivo de
doença ou lesão não deverá constituir motivo válido do
término de relação do trabalho.”
Pelo contrário. O trabalhador em gozo do auxílio-doença ou do afastamento
por incapacidade temporária tem toda a estabilidade no seu trabalho.
E, por último, no art. 6º:
“Art. 6º A definição do que constitui a ausência
temporária ao trabalho, a condição em que será exigido
atestado médico e as possíveis limitações, aplicação do
parágrafo primeiro do presente artigo serão determinadas
em conformidade com os métodos de aplicação
mencionados no art. 1º da Convenção”, que eu não vou
ler porque, mais ou menos, repete tudo isso.
Eu gostaria de lembrar, então, que nós temos um conjunto e um acervo
jurídico no nosso País invejável no campo da seguridade social a ponto de já se
discutir alguns aspectos da Previdência quando, segundo a opinião de alguns, há
alguma benevolência na amplitude desses benefícios. Foi realizado recentemente o
Fórum Nacional da Previdência Social, onde se discutiu uma série de aspectos
nesse sentido e, além do mais, dezenas de trabalhos.
Eu trouxe aqui a PNAD, eu trouxe os últimos dados do nosso CODEFAT, da
Previdência Social e vou me ater a um documento que foi distribuído agora nessa
última reunião do CODEFAT, Sr. Deputado Daniel Almeida, que fala exatamente do
seguro desemprego, e vou ler ipsis litteris o que está aqui nesse trabalho:
“Existem amplas evidências empíricas
internacionais que a existência do seguro desemprego
pode estar contribuindo para o agravamento do problema
do desemprego em decorrência de dois aspectos básicos.
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O primeiro refere-se ao fato de que, ao proteger o
trabalhador da perda de renda, o benefício detona uma
reação em cadeia sobre o comportamento do
desempregado em direção ao piorar as estatísticas de
desemprego. Em segundo lugar, trata-se de um programa
custoso e seu financiamento impondo uma carga
adicional de tributos ao sistema produtivo
independentemente de quem vai financiar: trabalhadores,
empregadores ou Estado.”
É do Zeetano Chahad.
O próprio Ministério do Trabalho faz uma observação nesse trabalho
distribuído, Deputado, e diz o seguinte:
“Apesar da literatura que apresenta argumentos
em torno de possíveis fraudes de trabalhadores que
preferem ser demitidos para receber o benefício do
seguro desemprego ser vasta, ressaltamos que não há
até o momento nenhuma evidência empírica que
apresente dados comprobatórios acerca dessa tese”.
Verifica-se, com o Índice de Rotatividade Média Anual, que essa rotatividade
é mais intensa quando o País alcança índices de crescimento da economia mais
expressivos. É assim que, em 2007, a rotatividade foi de 3,64%, e, em 2000, de
3,38%.
Então, senhores, gostaria de chamar a atenção para isso. Vimos o singelo
encaminhamento a este Parlamento, tão importante para a vida nacional, decisivo
para a vida de trabalhadores e empresários, sem o acompanhamento de um estudo
mais alentado da realidade de toda essa miríade.
Eu citaria aqui algumas. A Previdência Social fechou o ano passado com um
déficit — não vamos chamar “déficit”; o pessoal que entende de Previdência tem
horror a essa palavra —, com uma deficiência de 46,2 bilhões de reais. Só do
segurado especial da Previdência, foram 35 bilhões de reais sem contribuição. O
custo do seguro-desemprego foi de 12 bilhões e 200 milhões de reais, também em
ascendência. Com o seguro-desemprego dos pescadores — o seguro-desemprego
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não atende só desempregado; atende a trabalhador, entre aspas, “libertado” do
trabalho escravo; atende a uma série de circunstâncias, inclusive o pescador
artesanal, que também não contribuiu —, só o ano passado, foram 450 milhões de
reais. A LOAS e a RMV, que é a Renda Mensal Vitalícia da Previdência, foram 14, 3
bilhões de reais.
Então, senhores, eu creio que essa possibilidade de extinção do Fundo de
Garantia, uma fonte de recursos tão importante para o saneamento básico, para a
construção de casas populares, de tão grande déficit neste País, é preciso ser
examinada de uma maneira mais ampla.
Não é possível apenas pegar uma convenção da OIT. Volto a insistir: eu
tenho todo o respeito à OIT, embora jamais tenha ido a Genebra, nas suas reuniões,
em razão de problemas circunstanciais aqui no nosso Brasil do relacionamento com
a OIT, que vai melhorando muito. Vamos restabelecer entendimentos e conversas.
Mas é preciso termos consciência de que não é admissível se adotar uma
convenção internacional sem examinar o conjunto de normas, de políticas que
envolvem a chamada seguridade social.
Eu posso lhes afiançar que conheço muito bem o que é o drama de um pai de
família desempregado. Nós sabemos que, mesmo com toda a igualdade com as
mulheres, mesmo com o politicamente correto, sentar à cabeceira da mesa de jantar
de uma família como pai desempregado é a pior sensação que um homem, que um
cidadão possa ter. Eu não perco isso de vista. Mas volto a insistir na singeleza como
se encaminha a questão para o Parlamento.
Tenho certeza de que aqui, nesta Casa, esse assunto vai ser esgotado para
se examinar todos os aspectos que já foram aqui mais bem enfocados pelos meus
companheiros. Não é possível que se desconheçam todos esses mecanismos, todas
essas formas de mitigar esse momento tão trágico, tão dramático de homens e
mulheres que por qualquer motivo se desempregam.
É preciso examinar o problema da inacessibilidade do patrimônio do Fundo de
Garantia do Trabalhador, que, com o decorrer da relação de trabalho, começa a lhe
fazer falta; a ensejar a comparação do quanto valem 10 anos de Fundo de Garantia
e uma casa para o filho que está casando. É preciso que essas possibilidades
possam ser mais bem vistas, para que esse incentivo ao acesso a esse patrimônio,
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constituído pelo trabalhador na sua vida laboral, possa ter melhor aplicação que
também essa da construção de casa popular e de saneamento básico.
Então, senhores, eu peço encarecidamente: nós não podemos criar no nosso
País categorias de trabalhadores excepcionais.
Pergunto: o que fazer com 6 milhões e 700 mil empregadas domésticas?
Alguém aqui deixaria uma babá em quem se perdeu a confiança tomando conta do
seu filho, durante 1 ou 2 anos, enquanto a Justiça do Trabalho decide se pode ser
demitida? Vão fazer o quê com o trabalhador rural? De 17 milhões e 200 mil, apenas
1,5 milhão têm carteira assinada, num setor da economia que por natureza é
sazonal e de trabalho de curta duração. Esse está fora? O que se vai fazer com os
não-remunerados, os trabalhadores autônomos, aqueles que não têm vínculo
empregatício? São trabalhadores brasileiros de segunda categoria?
Então, senhores...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Só para alertá-lo sobre o
tempo.
O SR. RODOLFO TAVARES - Volto a insistir, senhores: nós temos
conhecimento da profundidade, da sensibilidade de um assunto dessa natureza.
Ninguém desconhece isso. Mas peço aos senhores, às centrais sindicais, às nossas
confederações: vamos aprofundar esses estudos ao máximo para que realmente
tenhamos em nosso País a equação perfeita, o máximo possível para a economia, o
limite do que seja o melhor para o trabalhador.
É preciso lembrar apenas um detalhe: não há almoço de graça. Alguém paga,
e muitas vezes quem vai pagar é o consumidor quando vai comprar roupa e
alimento nos supermercados e nos grandes magazines.
Obrigado, e perdão, Deputado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos ao Sr.
Rodolfo Tavares.
Com a palavra, pelo tempo de até 10 minutos, o Sr. Carlos Henrique de
Oliveira, representando a Central Única dos Trabalhadores.
O SR. CARLOS HENRIQUE DE OLIVEIRA - Boa-tarde, Deputado Daniel
Almeida, proponente deste oportuno debate e também Presidente desta audiência
pública. Cumprimento também os meus companheiros de centrais sindicais, os
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Deputados presentes, em particular o companheiro Vicentinho, ex-Presidente da
Central Única dos Trabalhadores; o Deputado Eudes Xavier e convidados das
confederações patronais.
Nesta Casa de leis é possível que se faça uma série de debates, e alguns
talvez não tenham a audiência que o tema exige. Outros debates dão conteúdo ao
que podemos chamar de um grande debate de um projeto nacional de uma nação
que se sustenta em valores nos quais a população, com absoluta certeza, acaba
tendo amparo e, mais do que isso, confiança para inclusive produzir, para que o
nosso País cada vez mais tenha condições de dividir as suas riquezas, diminuindo
as desigualdades sociais.
Este talvez seja um desses debates. É uma oportunidade em que temos a
obrigação de fazê-lo, sem qualquer tentativa de colocar uma ideologia tanto para
aqueles que defendem como também para aqueles que são contrários à Convenção
nº 151.
Ouvi com muita atenção aquilo que aqueles que se posicionaram contra a
convenção nas suas exposições, e tentaram repartir com os Deputados, com este
Plenário. Diria que algumas observações são necessárias — isso inicialmente, de
plano.
Aliar a adoção da Convenção nº 151 única e exclusivamente a uma taxa de
desemprego é um método muito simplista, o que não podemos aceitar. Todos aqui,
acredito, têm inteligência mediana, capaz de saber que o desemprego é fruto de
uma série de conseqüências. Um dos pilares do desemprego é exatamente a
ausência do crescimento econômico. Se fosse verdade que a adoção, ou melhor
dizendo, a não-adoção da Convenção nº 151 garantiria altas taxas de pleno
emprego, o Brasil seria o paraíso do emprego. Aqui, essa convenção, depois de
aprovada, sequer entrou em efetivo para qualquer avaliação.
Por isso, temos de ter um cuidado em relação àquilo que o companheiro que
me antecedeu tentou traduzir como fim do FGTS. É verdade que, se a Convenção nº
158 estabelecer a estabilidade no emprego, de fato não tem sentido o FGTS. Mas
vejam que a Convenção nº 158 não propõe a estabilidade do emprego; ela cria
condições para que algo, que pretendo desenvolver na seqüência deste
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pronunciamento, seja objeto de mais atenção por parte daqueles que tentam
construir esta Nação. Senão vejamos.
Este País é campeão na concentração de renda. Isso não se deu ao acaso. A
concentração de renda se dá inclusive pela negativa em repartir a riqueza nacional
com a esmagadora maioria da população brasileira: a classe trabalhadora.
Quando este País atravessou, nos anos 90, sérias dificuldades econômicas,
quem pagou pelos erros dos sucessivos governos foi exatamente o povo
trabalhador, com desemprego altíssimo e com redução da sua renda salarial. Hoje,
vivemos outra situação. Existem indicadores econômicos e de mercado de trabalho
que apontam para uma estabilidade e para um crescimento. Portanto, é o momento
de se repartir a riqueza nacional e começar a desmontar a grande concentração
existente no País.
Vi com bastante atenção os slides e as lâminas apresentadas pelo Sr. Flávio
Roberto. Diria que alguns deles são bastante reveladores.
Muito rapidamente foi exposto aqui que no Brasil se contratou em 2007, ou
melhor referenciando, contrataram-se 14,3 milhões de trabalhadores e demitiram-se
12,7 milhões. É necessário que se veja esses números com alguma tranqüilidade
para entender que algo está errado. Não se demite 12,7 milhões de trabalhadores e
contrata-se exatamente isso e algo mais. O mais curioso que foi exposto aqui é que
60% dos demitidos são sem justa causa.
Um dado necessário que se apresente aqui é que a taxa de rotatividade anual nos
últimos 10 anos têm-se mantido acima dos 40%. Mas por que isso? Por que a alta
rotatividade? Por que o alto número de demissões de trabalhadores sem justa
causa? O que não foi dito pelos representantes das confederações patronais, aquilo
que foi omitido, é que essa rotatividade é um mecanismo, aliás um eficiente
mecanismo, de contenção, ou melhor, de redução da massa salarial dos
trabalhadores e, conseqüentemente, de agravamento da concentração de renda.
Isso é plenamente verificado se nós fizermos uma simples comparação da
média salarial dos admitidos com a média salarial dos demitidos. Se nós fizermos
isso, como fez o DIEESE em estudo que ao final gostaria de solicitar que fosse
distribuído a todos os presentes, veremos que em 2005 a média salarial diminuiu
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11,42%; em 2006, a média salarial diminuiu 11,06%; em 2007, a média salarial
diminuiu 9,15%.
Portanto, o que justifica a adoção da Convenção nº 158 da OIT é a
necessidade, a imperiosa necessidade de barrarmos esse mecanismo que vem
excluindo cada vez mais os trabalhadores da participação na riqueza nacional. Se
isso não bastasse, também é necessário que se chame a atenção para o que tem
significado ao Estado brasileiro essa alta rotatividade da mão-de-obra. Para 2008, é
esperado um desembolso por parte do FAT da ordem de 13,2 bilhões de reais com o
pagamento de indenizações por demissões sem justa causa.
Por fim, aqui se deu a entender, embora esse não tenha sido o objeto do
debate, que o caminho, em vez de regulamentar e de consolidar, é outro. O caminho
é a desregulamentação.
Nesse sentido e com o objetivo única e exclusivamente de tentar localizar no
tempo qual é o pensamento que deve prevalecer na construção deste País, gostaria,
se me for permitido nos minutos que ainda me restam, de ler um trecho de artigo
publicado no dia de ontem pelo Professor Emérito da Faculdade Getúlio Vargas e
Ministro tantas vezes, de vários Governos, Sr. Luiz Carlos Bresser Pereira, que
entendo é o espírito de todo o artigo. O Sr. Bresser Pereira diz:
“Nos últimos dias, a intervenção para salvar um
banco de investimento e a ameaça de fome causada pela
elevação dos preços dos alimentos marcam
definitivamente o fim da utopia neoliberal de uma
sociedade regulada principalmente pelo mercado.”
São palavras de alguém com quem a Central Única dos Trabalhadores teve
no passado e ainda tem profundas divergências. Mas temos de entender que neste
momento há uma convergência de leitura da conjuntura nacional e internacional. O
mercado falhou na tentativa de dar equilíbrio às economias mundiais, em particular
dos países periféricos, e nesse sentido mostra, aponta nitidamente que o caminho é
outro. O caminho é o da regulamentação, da proteção, em particular para esta Casa
de Leis. O caminho é responder a uma pergunta feita desde que Cabral chegou.
Como resolver o problema da fome, da miséria, do desemprego, das
desigualdades regionais? Não é desregulamentando; não é, de forma nenhuma,
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tentando adotar o modelo chinês, de semi-escravidão. Esse não é o modelo que o
Brasil tem que perseguir, não é o nosso paradigma.
Concluo dizendo que este debate é oportuno e precisa ser visto à luz da
construção de uma Nação diferente desta de excluídos que nós construímos nos
últimos séculos.
A Central Única dos Trabalhadores entende que é oportuno o debate e, mais
do que isso, é oportuno que esta Casa de Leis novamente ratifique a Convenção nº
158 da OIT.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos ao Sr.
Carlos Henrique, representante da CUT.
Convido para fazer sua exposição em até 10 minutos o Sr. Narciso Figueirôa,
ao tempo em que informo a presença do Presidente desta Comissão, Deputado
Pedro Fernandes, a quem convido para a reassumir a direção dos trabalhos.
O SR. DEPUTADO PEDRO FERNANDES - V.Exa. está autorizado a
continuar presidindo os trabalhos, o que tão bem fez até agora. Agradeço-lhe por
isso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos ao Sr.
Presidente, que informou anteriormente sobre a dificuldade de chegar a tempo para
o início da reunião de audiência pública, em função de problema de deslocamento.
Tem a palavra o Sr. Narciso Figueirôa Júnior.
O SR. NARCISO FIGUEIRÔA JÚNIOR - Sr. Presidente, Deputado Daniel
Almeida, senhora representante do Ministério do Trabalho e Emprego, senhores
dirigentes de centrais sindicais e de confederações, o assunto já foi por demais
debatido até o momento, e consideramos profícua essa discussão.
No que toca à representação patronal, já foram apresentados por meus
colegas antecessores diversas razões, diversos fundamentos e dados objetivos no
sentido da posição que a CNT também reitera, de que a Convenção nº 158 não deva
ser ratificada. Para tanto, faríamos algumas complementações, apenas dos
argumentos já apresentados, e alguns dogmas que têm sido levantados a respeito
do assunto que gostaríamos de enfatizar com algumas considerações.
Já foi dito aqui — e temos acompanhado a defesa da ratificação da
Convenção nº 158 — que ela não trata de estabilidade para os empregados.
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Discordamos dessa afirmação, porque a leitura na Convenção nº 158, dos
seus artigos, da sua essência, dos princípios nela contidos nos faz concluir que na
prática haverá, sim, uma estabilidade para os empregados da iniciativa privada. A
própria Convenção nº 158, em seu art. 4º, estabelece a restrição para a dispensa, a
menos que exista para isso uma causa justificada relacionada com a capacidade ou
o comportamento, ou baseada nas necessidades de funcionamento da empresa e
estabelecimento do serviço; em seu art. 5º, estabelece as hipóteses em que não se
pode considerar justificada a dispensa; no seu art. 7º, também reitera a necessidade
de uma motivação na dispensa; em seu art. 13 e em seu art. 14 inverte o ônus da
prova em relação à comprovação da motivação da dispensa, de maneira que na
prática, embora isso não tenha sido apontado com essa ênfase, estaríamos criando
não só um óbice para a dispensa sem justa causa, mas também uma estabilidade
para os empregados.
Outro aspecto que gostaríamos também de rechaçar neste momento é a
afirmação de que o Brasil possibilita ao empregador a demissão arbitrária. Como
todos sabem, o art. 7º da Constituição Federal, ao trazer a garantia de dispensa
arbitrária sem justa causa mediante lei complementar que deverá estabelecer a
indenização compensatória, bem como a previsão no Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias, que criou a multa dos 40% — e aqui reiteramos, aliás,
que não são 40%, são 50%, porque o setor patronal está arcando com 10% ainda...
A Lei Complementar nº 110, de 2001, um grande acordo nacional, não cuidou de
criar um tempo determinado para multa de 10% de acréscimo.
De maneira que a própria legislação impede a licença arbitrária. Nós temos
aqui a Lei nº 9.029, de 1995 — e aqui eu acrescento aos argumentos já
mencionados pelo meu colega da Confederação Nacional do Comércio e da
Confederação Nacional da Indústria, não vou repetir todos os benefícios que já
estão previstos na legislação —, que proíbe a exigência de atestado de gravidez,
esterilização e outras práticas discriminatórias para efeitos admissionais ou a
permanência da relação jurídica de trabalho, estabelece que fica proibida a adoção
de qualquer prática discriminatória e limitativa para efeito de acesso à relação de
emprego ou sua manutenção por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil,
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situação familiar, e estabelece indenização. Portanto, não é verdade a informação,
ou a defesa, de que a legislação posta possibilita demissão arbitrária.
Outro aspecto: tem sido divulgado que a Convenção nº 158 vai reduzir os
índices de desemprego. Também discordamos dessa alegação, porque índice de
desemprego não se resolve com leis, não se resolve com convenções internacionais
de trabalho. Há outros aspectos que devem ser considerados.
No que toca ao transporte, temos que reiterar aqui a necessidade de
investimentos na infra-estrutura do País, porque esse desenvolvimento — muito bem
demonstrado pelo meu amigo Ricardo Patah, grande líder sindical trabalhista — não
é, a nosso ver, um desenvolvimento sustentável. Nós temos números que apontam
para crescimento. Mas será que esse crescimento é um crescimento sustentado?
Será que o Brasil está realmente preparado para adotar essas medidas que estão
sendo apontadas aqui?
O impacto no desemprego. Poderíamos até mencionar aqui que entendemos
que, num curto prazo, a adoção da Convenção nº 158 aumentará os custos e a
burocracia, irá inibir a geração de emprego; num médio prazo, pode agravar ainda
mais a situação, porque as despesas com seguro-desemprego crescem muito e
exigem recursos do Governo.
Tanto pelo desestímulo do setor privado como pelo enfraquecimento dos
investimentos públicos, a economia como um todo irá reduzir sua capacidade de
criar novos postos de trabalho, e os países que adotaram critérios complexos para
desligar empregados — isso já foi comentado aqui e muito bem exposto pela
Confederação Nacional da Indústria — possuem taxas mais altas de desemprego do
que os que adotam critérios mais simples.
Outro aspecto também que gostaria de enfatizar, complementando a fala dos
meus colegas que compõem a Mesa, é que não há dúvida de que a adoção da
Convenção nº 158, tal como está sendo citado, aumentará ainda mais o número de
ações trabalhistas, e esses números são divulgados em qualquer órgão confiável. O
Brasil possui em torno de 2 milhões de ações trabalhistas por ano, contra 115 mil na
Inglaterra, 75 mil nos Estados Unidos e 2.500 no Japão.
Outro aspecto que poderíamos também enfatizar é o de que a defesa da
adoção da Convenção nº 158, sem a revisão da multa rescisória, vai ser
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praticamente inviável. Será que interessa para os trabalhadores? Interessaria para
os trabalhadores, em nome da adoção da Convenção nº 158, abrir mão da multa dos
40%, do seguro-desemprego e de benefícios previdenciários que independem de
carência?
Já terminando minha participação, gostaria de lembrar que a Convenção nº
158 traz várias diretrizes muito claras, que o ordenamento jurídico já adotou. A
questão dos contratos a termo e, evidentemente, as possibilidades de adoção de
benefícios, a criação de tribunal para a discussão do motivo da dispensa, todo esse
arcabouço jurídico existente já possibilita aos trabalhadores garantia em relação à
dispensa arbitrária.
A questão da rotatividade da mão-de-obra é sintomática em determinadas
regiões, mas não pode ser considerada premissa maior. O que gera empregos no
País é o desenvolvimento econômico, o desenvolvimento econômico sustentado.
Entendemos que Convenção nº 158 não representa avanço no Direito do
Trabalho. Já foi dito aqui que poucas nações a ratificaram, pois contraria a realidade
econômica de alguns países.
Estudo divulgado pela própria CNI diz que 88% do PIB mundial não ratificou a
Convenção nº 158, por uma série de razões, sobretudo pela inadequação ao
ambiente globalizado, em que a competitividade econômica é imprescindível para o
desenvolvimento sustentável.
Entendemos, salvo melhor juízo, que o Brasil não deve seguir os passos da
Etiópia e do Gabão, e sim propiciar relações trabalhistas menos conflituosas e mais
cooperativas.
São as considerações que pretendia fazer. Parabenizo esta Comissão,
aguardando que o assunto seja mais debatido e discutido e que todos os setores da
sociedade possam opinar sobre o tema e avaliar as conveniências que entendemos
não existem para a ratificação da Convenção nº 158.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos ao Sr.
Figueirôa, da CNT, a exposição.
Convidamos o Sr. Herbert Passos, representante da Força Sindical.
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O SR. HERBERT PASSOS - Sr. Presidente, Deputado Daniel Almeida, a
quem agradecemos a oportunidade, Sras. e Srs. Deputados, senhoras e senhores,
companheiros.
Vou começar dizendo o óbvio. A Força Sindical, é lógico, tem posição
favorável à ratificação da Convenção nº 158, porque entende que hoje o Brasil
cresceu, mas não distribuiu a renda, nem a riqueza. Somos um País com alta
concentração de renda e riqueza. E quando nós falamos de Convenção nº 158,
também estamos falando sobre distribuição de renda.
O companheiro da CUT, que me antecedeu, falou muito sobre o assunto.
Essa rotatividade tem por objetivo único rebaixar a renda e evitar essa distribuição.
Daí que somos favoráveis a essa situação, lembrando que o Brasil não só cresceu.
Não estamos mais na Idade Média, não temos mais um poder feudal, em que o
serviçal devia mais do que obrigações aos grandes senhores. Portanto, quando
vemos a situação de hoje, é lógico que quem decide uma demissão é que tem que
comprovar o motivo da demissão. O trabalhador está sendo demitido, então tem de
saber os justos motivos pelos quais será demitido.
Isto a Convenção nº 158 deixa bem claro: a pessoa poderá ser demitida por
uma restruturação produtiva. Isso não é proibido. Esse é um justo motivo. O
trabalhador poderá ser demitido por dificuldade econômica. São todas opções não
só do lucro, mas do interesse da empresa. O que não é considerado justo motivo,
isso sim, são as condições de arbitrariedade, de preconceito. Isso é proibido. E
mais: ela leva ao diálogo, ela obriga o diálogo. É importante que a entidade, que o
patrão propriamente dito — vamos lá, o poder econômico — explicite o motivo da
demissão. Senão, ela é uma demissão imotivada. O que custa isso? O que isso gera
de direitos? A relação capital/trabalho tem que ser eivada de direitos, não pode ser
acompanhada por falta de conhecimento. Então deve haver o aviso antecipado? Se
vai haver um problema econômico, lógico, tem que ser negociada a demissão. E não
só isso. Muitas vezes falamos da própria condição da comparação de números. Na
comparação de números aqui, deve ser levado em conta que a formalização desses
países dos quais foram apresentados números é muito maior que a nossa. Portanto,
os números deles teoricamente seriam mais confiáveis, porque nós temos uma
baixa formalização aqui.
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Outra coisa: a Força Sindical também defende a ratificação da Convenção nº
158, porque ela virá trazer uma coisa de que precisamos muito, e há muito tempo, e
discutimos muito entre as centrais, que é a Convenção nº 87. Sem a Convenção nº
87, que vai trazer a liberdade sindical, de as pessoas poderem optar pela sua
entidade realmente representativa; acabar com o sindicalismo, que não aceitamos,
as centrais sindicais não aceitam; trazer um sindicalismo mais puro, só vai ser
possível com a Convenção nº 158, que não vai permitir a dispensa arbitrária.
Mas não é só isso, não. Fora essa questão política e econômica, que tem a
ver com a Convenção nº 158, também nos preocupa a forma como ela virá a ser
ratificada. Com a Convenção nº 158, o Inciso I do art. 7º da Constituição já começa a
ter valor. Isso nos remete ao art. 10 das Disposições Transitórias, que fala sobre a
multiplicação por 4; a multa de 10% do Fundo de Garantia; a questão da gestante e
do cipeiro. Lógico que entendemos que, se todos fossem estáveis, não precisaria a
estabilidade da gestante ou do cipeiro; teoricamente haveria estabilidade para todos.
Então nos importa a discussão não somente da ratificação da Convenção nº
158, porque a posição da Força Sindical é pela manutenção da multa hoje de 40%
em caso de despedida imotivada e até o que entendemos que será ou não.
Quanto às outras ilações sobre um Estado que seria mais puro, como foi dito
sobre a Dinamarca, ora, sabemos que entre um período de emprego e outro, se o
Estado vai financiar não somente a condição social, mas a própria remuneração,
seriam necessários novos impostos. E os próprios empresários hoje se levantam
contra a questão de mais impostos. Então, não é uma coisa bem assim, até porque
do couro sai a correia.
Hoje defendemos realmente a Convenção nº 158, porque o País cresceu e
precisa distribuir renda. Essa é a nossa posição.
Lembro mais uma coisa: o próprio Inciso I do art. 7º também diz que o
legislador deverá definir uma indenização pecuniária. Então essas questões são
bem simples.
Finalizando, porque os que me antecederam já levantaram todas as
situações, a Força Sindical apóia a iniciativa do Presidente da República, que propôs
a ratificação da Convenção nº 158.
Muito obrigado.
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O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos ao Sr.
Herbert Passos.
Passamos ao último expositor, o Sr. José Maria Riemma, representante da
Confederação Nacional das Instituições Financeiras — CNIF.
O SR. JOSÉ MARIA RIEMMA - Sr. Deputado Daniel Almeida, obrigado pela
oportunidade de debater com a sociedade este tema trabalhista de altíssima
relevância.
Os que já fizeram uso da palavra já transpassaram todos os aspectos
necessários para este debate. A mim cabe — estou-me reservando — destacar
alguns entraves que obstam a ratificação da Convenção nº 158, especialmente
entraves sociais. Se ratificada a Convenção nº 158, ela vai gerar menos postos de
trabalho, dificultar o ingresso dos jovens no mercado de trabalho, aumentar a
informalidade. Que empresário vai querer investir sabendo que conta para a
demissão com o conteúdo da Convenção nº 158, que lhe é desfavorável? Vai
afugentar o investimento de capital interno e externo por essas mesmas razões, vai
engessar as atividades empresariais, com entraves de relações trabalhistas. É a
volta da estabilidade, de uma forma velada. Na prática é exatamente isso o que vai
acontecer. A dificuldade do desligamento imotivado vai garantir o emprego
principalmente para os não qualificados.
Sob aspectos judiciais e principalmente entraves jurídicos, vai aumentar,
como disse o colega da CNT, o número de processos trabalhistas. A Justiça do
Trabalho já recebe anualmente mais de 2 milhões de novas ações. E, cabendo à
Justiça do Trabalho resolver, se ratificada a Convenção nº 158, se essa despedida é
sem justa causa ou por justa causa, vai aumentar o número de processos
trabalhistas, não há dúvida.
Outro entrave judicial e jurídico é que a Convenção nº 158 não é compatível
com o sistema constitucional vigente, porque a Constituição já disciplina a dispensa
imotivada e sem justa causa em seu art. 7º, Inciso I.
Outro aspecto jurídico a destacar é que o próprio Supremo Tribunal Federal já
se pronunciou no sentido de que a Convenção nº 158 não é auto-aplicável ao nosso
regime, uma vez que, para tratar de dispensa imotivada ou sem justa causa, há
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necessidade de uma lei complementar, hierarquia que não tem a Convenção nº 158
se ratificada.
Portanto, senhoras e senhores, a CNIF, tendo em vista esses entraves
sociais, de relações do trabalho e jurídicos, entende que a Convenção nº 158 não
tem espaço para obter sua ratificação.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos ao Sr. José
Maria.
Passaremos ao debate, com razoável atraso, porque já começou a Ordem do
Dia. Concedo a palavra ao Deputado Eudes Xavier, que tem o tempo de até 5
minutos para fazer suas considerações ou indagações aos expositores.
O SR. DEPUTADO EUDES XAVIER - Muito obrigado ao Deputado Daniel
Almeida e ao nosso Presidente Pedro Fernandes.
Gostaria de começar com uma pergunta a todos os que estão neste plenário.
Nós temos milhões de jovens nas universidades. Alguns aqui devem ter netos,
filhos. Será que teríamos a coragem de dizer a esses filhos e netos que estão nos
bancos da universidade: “Esperem, vocês estão estudando para ser trabalhadores
terceirizados, para trabalhar 1 ano, 3 meses, 1 mês”? Será que todos nós que
estamos aqui temos essa coragem de enfrentar nossos filhos, nossas filhas, nossos
netos, e dizer que vão trabalhar 3 meses por ano?
Por isso este debate é tão importante, porque ele é um debate de conflito
mesmo, numa sociedade capitalista em que os interesses do capital são diferentes
dos interesses de quem sobrevive de sua força de trabalho. E acho que é o melhor
momento. Ainda bem que não estamos na década de 90, em que a moda era
demitir, demitir, e concentrar, concentrar, com o banco de horas. Em uma seção que
tinha 10 trabalhadores, ficou apenas 1, e a máquina fez tudo. Já era a mais-valia
absoluta e relativa.
Ainda bem que estamos debatendo neste momento com crescimento
econômico. Até hoje nesta Casa não vi uma delegação de empresário reclamar do
nosso Governo, do Governo Lula. Principalmente os bancos nunca reclamaram. Por
isso este é um momento bom, porque parece que tem uma forma tão gulosa de
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ganhar dinheiro, e só ganhar, e só ganhar, e na hora em que se precisa de um
mínimo de regulamentação, não é possível.
Se você tem mais de 12 milhões de trabalhadores como força bruta, que pode
demitir hoje e contratar mais, alguma coisa está errada. Se formos olhar pela
competitividade, a empresa brasileira não perdeu nenhum setor competitivo,
principalmente aqueles que ganharam facilmente — empresas de energia elétrica. É
só pegar o ramo da energia elétrica, como hoje é visto, contra a população: o
aumento da tarifa, o serviço danificado, a terceirização do trabalho, de qualquer
forma.
Há outra questão que acho importante nesta Casa, nesta Comissão, de que
tenho a honra de participar, porque ela é de conflito, apresenta-se claramente. É só
ver o número de dirigentes sindicais com ações na Justiça para serem reintegrados,
porque a lei lhes permite a delegação de representação das categorias de
trabalhadores, sem contar com os cipeiros, sem contar com outras pessoas que têm
representação sindical. Alguma coisa está errada. Existe alguma truculência aí, seja
do chefe imediato, seja do dono. E não é por reestruturação produtiva, não. Às
vezes, na planta da fábrica, não é preciso fazer aquela reengenharia toda. Tomaria
só ganhar a cabeça do trabalhador, como os métodos que fizeram na década de 90
— alguns deram resultados, outros não — com o trabalhador.
Tenho certeza de que não queremos ver um Brasil de novo com o Estado
mínimo para quem produz. Nesse sentido, as empresas que produzem, que tratam
bem seus funcionários, que não os vêem só como uma força de trabalho qualquer,
mas os tratam como cidadãos, essas empresas não terão medo de enfrentar a
Convenção nº 158. Não terão medo nenhum, porque já têm na prática uma relação
diferente da que têm as que tratam os trabalhadores com indiferença.
Penso que o número — que não tenho agora — do DIEESE, ou do próprio
Ministério do Trabalho, de ações que as superintendências da Delegacia do
Trabalho — que agora não é mais delegacia — têm só para reintegrar dirigentes
sindicais, por si só, já justifica a Convenção nº 158, pela realidade. Não é pela teoria,
é pela prática de vida de trabalhadores.
Acho que até os altos cargos executivos ganham com a Convenção nº 158,
porque tem muito executivo que dá prejuízo grande à empresa, e o patrão às vezes
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não tem a mesma coragem de demitir um peão que está dentro da fábrica por A
mais B. A Convenção nº 158 protege todas as escalas de trabalhador, até os
assessores das grandes corporações empresariais.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Obrigado, Deputado Eudes
Xavier.
Concedo a palavra ao Sr. Deputado Pedro Fernandes, Presidente da nossa
Comissão.
O SR. DEPUTADO PEDRO FERNANDES - Sr. Presidente, inicialmente
gostaria de me desculpar pelo atraso. Tive problemas de vôo, mas tenho certeza de
que a audiência alcançou seus objetivos. Quero parabenizá-lo, Deputado Daniel
Almeida, pela oportunidade do seu requerimento.
Na realidade, a Comissão do Trabalho está antecipando essa discussão,
porque a Convenção nº 158 ainda está na Comissão de Relações Exteriores.
Estamos aguardando sua vinda para a Comissão, e aí ela será objeto até de uma
sugestão. Talvez se faça até um seminário de caráter internacional para discutir as
Comissões. Comprometo-me a ouvir todos os depoimentos que foram aqui
prestados e os que estão gravados. Preciso dessa informação, ouvir, e não me
atreveria a nenhuma pergunta, porque cheguei atrasado.
Mas quero agradecer a presença de todos os que estiveram aqui debatendo
esse assunto, que ainda vamos debater muito aqui na Comissão, como a
terceirização, discussão que vamos levar em frente, e a jornada de trabalho que
também está na pauta do dia nesta Comissão. Então, são 3 assuntos que
debateremos e, com certeza, a Comissão tomará o rumo mais adequado possível.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Agradecemos ao Deputado
Pedro Fernandes.
Indago se algum dos convidados gostaria de fazer alguma manifestação a
respeito das intervenções feitas pelos Srs. Deputados. (Pausa.) Ninguém.
Se alguém quiser usar de 1 minuto para alguma ponderação a respeito do
debate. (Pausa.)
Passo a palavra ao Sr. Rodolfo Tavares, por 1 minuto.
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O SR. RODOLFO TAVARES - Deputado, mais uma vez eu queria agradecer,
em nome da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, o privilégio de estar
nesta Casa discutindo os assuntos do nosso País.
Eu só gostaria de lembrar, mais uma vez, aos nossos companheiros políticos
sindicais, qualidade que nos honra muito, que observem apenas que vivemos num
país com 922 artigos na CLT, 15 mil artigos em normas, portarias e resoluções do
Ministério do Trabalho, mais mil artigos na Previdência Social, mais 35 artigos na
Constituição Federal e mais 300 artigos em convenções internacionais da OIT
ratificadas pelo Brasil. Falar de ausência de regulação e do Estado no Brasil,
realmente me perdoem, meus companheiros, mas creio que não seja o que estamos
discutindo. Eu sei que qualquer comparação é chula para esse caso, mas na roça,
quando se tange um boi, sempre se deixa uma porta aberta no curral, sob pena de
ele estourar o curral todo. É preciso ter cuidado quando se engessa de maneira
irrecorrível o investimento, a geração de emprego. Não é o Governo que gera
emprego — com todo o respeito ao Governo de S.Exa. o Sr. Presidente Luiz Inácio
Lula da Silva —, quem gera é o trabalhador e o empresário brasileiros. Quem gera
emprego neste País somos nós. É preciso ter cuidado para não matar a galinha dos
ovos de ouro.
Era isso, Deputado. Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Daniel Almeida) - Gostaríamos de agradecer
a presença de Paula Polcheira, Dagoberto Godoy, Flávio Sabbadini, Rodolfo
Tavares, Narciso Figueirôa, José Maria, Joilson Cardoso, Ricardo Patah, Herbert
Passos, Carlos Henrique, e de todos os Deputados.
Não falei na condição de autor da proposição porque estava ocupando a
Presidência por designação, mas queria considerar que o debate foi amplamente
produtivo, esclarecedor, até mesmo para explicitar a dimensão do conflito e das
diferenças entre as opiniões de trabalhadores e de segmentos patronais e também o
posicionamento do Governo por intermédio do Ministério do Trabalho. E esse
assunto continuará sendo debatido na Casa.
Como o Presidente anunciou e eu já tinha dito anteriormente, estamos
antecipando para que simultaneamente se faça o debate na Comissão de Trabalho
e na Comissão de Relações Exteriores, onde o projeto se encontra neste momento.
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A possibilidade de um seminário talvez seja conveniente não só no ambiente físico
do Congresso Nacional, mas no conjunto da sociedade e nos Estados. Talvez esta
Comissão tenha a necessidade de estimular esse debate em outros ambientes, para
maior compreensão do tema.
Há algumas opiniões, e eu tenho uma opinião clara. Falo agora não na
condição de Presidente desta audiência pública, mas na de autor do requerimento, e
a minha opinião é a favor da aprovação da Convenção nº 158. Essa é uma
convicção que tenho. E outra convicção é a de que esse não é um tema fácil. Se
fosse fácil, nós não teríamos percorrido esse caminho tão tortuoso que já
percorremos. Mas não é razoável admitirmos certas formulações que tentam
apresentar a Organização Internacional do Trabalho como uma instituição insensata.
Essa é uma norma produzida pela Organização Internacional do Trabalho que
delibera num fórum tripartite: empregados, empregadores e governos. Portanto, não
se produz uma deliberação sem um amplo, intenso e longo debate. Sempre é feito
assim, buscando criar mecanismos e normas que possam ser referência nas
relações internacionais.
Também não podemos achar que devemos estar adiantados ou atrasados
nesse processo. As convenções da OIT às vezes demoram para ser ratificadas por
uma ou outra nação. E algumas até nunca são ratificadas por muitas das nações
que são membros daquela organização. Mas é bom não ficarmos também presos ao
fato de estarmos na frente ou atrasados. É preciso ver o momento histórico que
estamos vivendo nessa circunstância. Cada momento histórico pode facilitar ou
dificultar certos passos. Carregamos a vergonha de termos sido os últimos a abolir a
escravidão. Não sei se devemos ficar sempre na condição de últimos a fazer certos
movimentos.
É bom lembrar que estamos num Governo no Brasil que não se coloca a favor
nem contra nenhum segmento da sociedade. O Brasil está crescendo,
desenvolvendo-se, gerando emprego, dando retorno aos segmentos empresariais e
a todos os membros que compõem a Nação e a sociedade brasileira. Então, o
Governo não seria insensato de encaminhar para o Congresso Nacional uma
posição que estivesse nitidamente identificada com um ou outro segmento, porque
tem agido e demonstrado buscar um ambiente de harmonia nas relações com todos
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os segmentos. O Ministério do Trabalho informa que esta matéria chega à Casa
depois de um amplo debate no Fórum Nacional do Trabalho. Portanto, teve o
cuidado de consultar um fórum tripartite na estrutura do Governo brasileiro.
Essas são ponderações que deveríamos levar em conta nesse debate, para
não nos apaixonarmos por uma ou por outra posição, que dificulta a compreensão
por parte da sociedade do conteúdo exato. Essa matéria é mesmo estabilidade no
emprego? Ela traduz-se em estabilidade no emprego? Há contraposição entre a
aprovação dessa matéria e outros direitos que os trabalhadores já conquistaram no
Brasil? É bom debatermos e explicitarmos com clareza, e aqui foi possível fazer
isso, mesmo com a diferença entre a posição dos trabalhadores e a dos
empregadores.
Portanto, o debate foi esclarecedor. Somente com mais diálogo e mais debate
e, principalmente, com a participação da sociedade e da mídia, nós teremos
condições de compreender o teor exato dessa matéria e deliberar com absoluta
tranqüilidade, sem a sensação de que estaríamos agredindo o direito de um ou de
outro setor da nossa sociedade e da nossa vida econômica, política e social.
Agradeço a presença e a participação de todos.
Vou encerrar esta audiência pública, antes convocando reunião ordinária
deliberativa para amanhã, 23 de abril, às 10h, neste plenário. (Palmas.)
Está encerrada a reunião.
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