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Departamento de Artes e Design
DESIGN DE ESPAÇOS DE ENSINO-APRENDIZADO INCLUSIVOS:
CENÁRIOS E PERSPECTIVAS
Aluna: Luiza Erthal Antunes
Orientadora: Jackeline Lima Fabiarz
Introdução
Esse trabalho busca reconsiderar aquilo que a sociedade e a cultura propõem como exemplos
de sucesso escolar, fazendo com que a inclusão de alunos com necessidades de aprendizados
especiais também pertença a esse ideal de modelo de sucesso. Considerando o papel do designer
como configurador de sistemas e objetos através do uso da percepção do contexto e dos
indivíduos ao seu redor, acreditamos que o seu conhecimento e expertise para a configuração
de tarefas de ordem inclusiva em ambientes educacionais possa ser uma ferramenta eficiente
para a promoção da mudança do atual estado de práticas e objetos utilizados nos métodos de
ensino contemporâneos. Nesse sentido justificamos pesquisas que tenham como objetivo a
construção de uma cultura escolar que tenha como foco o pertencimento de indivíduos em seus
respectivos contextos, seja através da proposta de novas formas de interação entre os agentes e
pacientes educacionais (e no questionamento de seus status quo dentro de sala de aula), seja
através da readaptação dos métodos, objetos, espaços e sistemas já existentes nos ambientes
escolares. Considerando, por tanto, o designer como produtor e provocador de mudanças na
sociedade, podemos justificar a sua contribuição no desenvolvimento de ações, tendo como
objetivo a promoção de interações sociais em ambientes educacionais voltados para a inclusão
do indivíduo, com o intuito de que esse possa realizar seus objetivos, desejos e necessidades de
forma mais abrangente e efetiva em nossa sociedade ainda excludente e despreparada para tal
feito.
Objetivos
O objetivo desse trabalho é pesquisar e entender a atual situação dos cenários de
aprendizagem que tenham como foco o ensino com práticas de educação inclusiva em suas
propostas sejam eles em esferas nacionais ou globais. Ao refletirmos sobre o modo como as
instituições de ensino, as políticas de educação e as principais metodologias de aprendizado
inclusivos são pensadas, divulgadas e aplicadas nos ambientes educacionais, que englobam
espaços físicos, objetos de aprendizado e propostas de treinamento para profissionais da área,
nos torna possível entender a atual conjectura da educação inclusiva na nossa sociedade. Uma
vez mapeada as principais características pertencentes a esse modo de ensino, facilita-se o
trabalho de traçar e desenvolver oportunidades de projetos e alternativas de solução para o
aprimoramento do campo estudado, promovendo assim a mudança do cenário e a maior
realização pessoal de indivíduos diretamente ligados à questão estudada por essa pesquisa,
gerando benefícios para a sociedade e ampliando o conhecimento da sociedade em relação à
importância da educação inclusiva para a sociedade.
Metodologia
As primeiras etapas de pesquisa envolveram levantar dados sobre o que era considerado, por
especialistas nacionais e internacionais, uma educação inclusiva de qualidade, que atendesse as
demandas reais da sociedade e do mundo onde vivemos. Para isso, foram coletados dados em
instituições não governamentais e em comentários de especialistas em educação inclusiva tanto
no Brasil como no mundo. O passo seguinte foi constituído de pesquisas sobre as atuais políticas
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de ensino e aprendizagem nos cenários mundial e nacional. O próximo passo foi levantar dados
sobre os espaços educacionais inclusivos, também em níveis nacionais e internacionais. Em
seguida foram analisados os materiais utilizados por professores e alunos nesses espaços. Por
fim, houve a análise e categorização dos dados coletados ao longo dos meses, tendo sempre em
foco a sustentação de projetos de design focados na inclusão de indivíduos.
Cenário mundial
Ao pesquisar sobre o cenário mundial da educação inclusiva, é possível perceber que o tema
tem um grande destaque em organizações tais como a UNIFEF e a Education Equity Now, que
buscam conscientizar sobre o tema e traçar metas e guias que ajudem a implementação da
educação inclusiva. É possível constatar também que o grande foco dessas instituições se
encontra na ênfase de um sistema de educação que faça com que todas as crianças estejam na
escola nos períodos escolares referentes às suas idades, e que a educação dada a elas seja
inclusiva visando à matrícula de todos os indivíduos de forma a considerar e celebrar a diferença,
ressaltando o crescimento econômico e aumento da qualidade de vida da comunidade. Há
também o destaque de índices como crescimento econômico, diminuição do desemprego e
aumento da mão de obra capacitada como benefícios gerados pela educação inclusiva, o que
demonstra uma visão de interesses voltada, de certa forma, para a sociedade produtiva, e não
apenas para o indivíduo em si.
A principal ferramenta citada nos sites e vídeos dessa pesquisa é o Universal Design for
Learning, uma série de ações e opções de ensino para alcançar uma educação inclusiva de
qualidade:
As ações são divididas em três módulos sendo o primeiro providenciar múltiplos meios e
configurações de representação de conteúdo: não apenas textos, mas formatos digitais e sonoros,
Figura 1: Universal Design for Learning Guidelines.
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evolvendo gráficos, mapas, imagens, músicas etc. que façam link com o contexto cultural do
aluno. O segundo meio se trata de permitir com que o aluno use múltiplos meios para se
expressar e exemplificar o que aprendeu, não somente envolvendo produção escrita ou provas,
mas também através do uso da arte, da performance, produção de filmes etc. O terceiro meio
trata de múltiplas formas de motivar os alunos a aprender, fazendo uso de trabalhos
colaborativos, trabalhos em grupo, jogos, buscando conectar o que foi aprendido em sala da
aula com experiências reais do mundo. Esses três módulos de ensino buscam criar
proativamente o material de estudos, fazendo com que se leve em consideração as necessidades
especiais de cada aluno em sua própria diversidade, reconhecendo a inutilidade e a ineficiência
de se utilizar apenas uma abordagem de aprendizado que privilegia apenas um tipo e aluno ideal
e padronizado. O objetivo é repensar e recriar novos significados sobre aquilo que temos como
garantido no considerado “ponto de vista correto” sobre o mundo e as pessoas e experiências
que nos rodeiam, gerando novos significados e descobertas para todos os envolvidos, tanto
educadores quanto alunos.
O projeto de educação inclusiva, segundo esses órgãos, também busca conscientizar não só
sobre a qualidade e a diversidade da educação recebida pelos indivíduos, mas também no
reforço de políticas públicas que facilitem a permanência de crianças nas escolas, seja com
programas de ajuda econômica que aumentem a qualidade e a saúde da vida dos estudantes em
idade escolar ou com a conscientização sobre trabalho infantil em lugares mais pobres. Vale
lembrar também que a educação inclusiva também está relacionada ao ensino de adultos e o
combate do analfabetismo, que continua sendo um problema a ser combatido em muitos países.
Analisando a abordagem de órgãos voltados para a educação mundial, é possível perceber
também que a educação inclusiva encontra-se atrelada a resolução de questões mais gerais, tais
como conflitos étnicos e em uma política educacional que busque ajudar crianças cujos países
de encontram ou se encontravam até recentemente em situação de guerra.
Figura 2 e 3: Cenas do vídeo campanha da UNICEF e da Education Equity Now!
Outro grande ponto que evidencia a importância e o aumento da atenção com a
implementação da educação inclusiva no cenário mundial está na criação do Tratado de
Salamanca no ano de 1994: organizado pela UNESCO no período de 7 a 10 de junho de 1994,
delegados de 88 governos e 25 organizações se reuniram para reafirmar e proclamar pontos que
ressaltavam a importância da educação inclusiva para crianças, jovens e adultos, reafirmando e
propondo ações em níveis globais, nacionais e locais que busquem como objetivo melhorar a
inclusão de indivíduos que necessitem da educação inclusiva para ter seu direito à escola
garantido com qualidade.
É possível perceber, por tanto, que a educação inclusiva possui uma grande importância no
cenário mundial, e que o tema é reconhecido como de extrema importância por muitos países e
organizações internacionais, que buscam sempre conscientizar e programar ações que
trabalhem com o objetivo de reforçar esses ideais. A educação inclusiva, de forma geral, é vista
como um indicador de uma sociedade mais justa e plural, estando dentro dos princípios do 26º
artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
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Cenário internacional
A pesquisa relacionada ao cenário internacional teve como uma de suas bases os exemplos
da escola Kent School District, localizada na cidade de Kent, no estado de Washington, EUA.
A escola busca incluir seus alunos que necessitam de cuidados especiais nas mesmas salas que
alunos que não precisam desses cuidados, dividindo-os em pequenos grupos, fazendo também
com que professores e colaboradores de conteúdo trabalhem juntos na produção de conteúdo
para seus alunos. O maior objetivo dos educadores da escola em não separar os alunos especiais
dos regulares está em fazer com que o aluno com necessidades de estudo especiais não percam
nenhum tipo de experiência escolar tais como fazer amigos e interagir com outras pessoas,
vivenciando a sala de aula e seus elementos humanos e de interação de forma plena e regular,
uma vez que é da mentalidade da escola que todos podem aprender e ensinar com todos, como
foi o caso de colegas de classe ajudando no aprendizado de crianças com mais dificuldades. O
comentário de uma professora do vídeo da escola fala que, no passado, o mais comum era focar
nas dificuldades dos alunos especiais, e não buscar inspiração nas formas de ensinar em cima
das suas habilidades naturais de aprendizado, o que acabava por gerar resultados não positivos.
Vale lembrar que a integração entre os alunos especiais não é feita com um professor só em sala
de aula: assim como na experiência brasileira, há a presença de um profissional exclusivo para
dar atenção aos alunos com necessidades especiais, e mesmo que os professores regulares se
beneficiem na experiência de ter um aluno especial em sala, aparentemente não há uma
preparação didática desse para lidar com esses alunos, evidenciando ainda uma falta de preparo
específico para tal.
Figura 4 e 5: Alunos com necessidades especiais trabalhando juntos ou com o auxilio de
professores na escola de Kent School District.
Porém a mais valiosa fonte de informação sobre o estado da educação inclusiva em países
desenvolvidos como os EUA se encontra nas palestras de cunho educacional feitas nas
conferências TED (Technology, Entertainment and Design). Uma das palestrantes, a professora
Jan Wilson, conta como percebeu as falhas do sistema de educação inclusiva do estado onde
mora que, mesmo previsto por lei em escolas públicas desde 1975, ainda é deficiente para lidar
com novos cenários trazidos pela experiência de se ter alunos com necessidades especiais em
suas salas. Ela conta a história de sua filha Zoe, uma menina de nove anos de idade que foi
diagnosticada com autismo aos cinco anos de idade. Até então, a menina nunca havia percebido
a sua dificuldade de aprendizado, até que foi matriculada em uma escola regular do sistema de
ensino americano perto de onde morava. Os problemas de acomodação para a aluna iam desde
falta de dinheiro para acomodações especiais (segundo o diretor da escola) e falta de preparo
dos professores responsáveis pelo seu aprendizado. A menina começou a ter surtos de violência
e dificuldades de aprendizado, o que a isolou dos seus tutores e colegas. A única solução foi
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coloca-la em uma escola para aprendizados especial não inclusiva (que são raras no distrito
onde morava), onde havia profissionais treinados para lidar com sua situação, o que a fez ser
uma criança mais realizada e saudável. Apesar da menina ter se ajustado na escola, a mãe fala
da sua preferência em matricular a filha em uma escola que seguisse os princípios do Universal
Design for Learning Guidelines. Ela cita como exemplo da mentalidade educacional americana,
um artigo de uma revista de educação de 2012 questionando o porquê de se gastar mais com
estruturas para uma porcentagem de alunos especiais que representam apenas 12% do total de
alunos do país: o espaço seria considerado, por tanto, apenas de alunos ditos regulares, onde os
que precisavam de cuidados especiais seriam aliens e forasteiros, não pertencentes àquele
ambiente. Isso evidencia uma concepção errônea, onde os alunos não são vistos com a
pluralidade que possuem, o que possui reflexo direto com a maneira como estes irão enxergar
o mundo. A falta de uma educação inclusiva e o mito de um aluno padrão que seja neutro e
alheio a todas as diversidades que o mundo possui acaba se refletindo na configuração de salas
de aula do país, que possuem características bem acentuadas de dificuldade de alunos de gênero,
situação sócia, etnia e cultura específicos, o que se repete de forma regular no contexto da
educação americana. Em resumo, a educação americana serve de microcosmos para aquilo que
já ocorre naturalmente em grande escala na sociedade: o que é belo, capaz, padrão é visto como
norma, e qualquer desvio dessas qualidades não é celebrado como diferente, mas sim
desvalorizado, ostracizado e/ou patologizado da comunidade.
Por fim, ela termina a palestra falando nas características e benefícios que o Universal
Design for Learning Guidelines pode trazer para a polução em geral, uma vez que busca fazer
uso das barreiras de aprendizado como inspiração para a produção de conteúdo, experiências e
objetos educativos de forma a tornar o aprendizado de todos mais abrangente e inclusivo.
A outra palestra estudada foi a da doutora Ilene Schwartz, que tem como foco de suas
pesquisas a análise de comportamento e primeira infância de crianças que necessitem de
aprendizados especiais, assim como crianças que possuem autismo e deficiências similares. Ela
começa a palestra definindo o significado de inclusão, que para ela se trata de pertencimento à
uma sociedade, amigos, escola ou comunidade, não apenas se tratando de estar presente em
algum lugar, mas sim estar ativamente participante e aceito em um ambiente. E, segundo a
doutora, a única maneira de alcançar esses objetivos é através da educação, e que ela precisa
ser intencional, planejada, fazendo com que todos tenham mais sucesso. É preciso lembrar que
o ato de ensinar não só faz com que o aluno tenha mais segurança e confiança em si mesmo,
mas também faz com que o professor também passe a ter os mesmo sentimentos de realização
que seus alunos.
Outro ponto importante da palestra é sobre o fato de alunos com deficiência e alunos ditos
regulares não interagirem naturalmente, sendo papel do professor ensiná-los a respeitar e
valorizar o próximo. Uma vez que essa inclusão não vem naturalmente, é ainda mais importante
que o educador esteja ciente dos caminhos e possibilidades educacionais que podem ser
tomados para ajudar na compreensão de algum conteúdo específico. Em resumo, a doutora não
acredita em mau aluno, e sim em professor incapaz de transmitir conteúdo de forma a fazer com
que todos entendam o que está sendo ensinado. O problema estaria relacionado, por tanto, com
uma falta de domínio ou de controle do professor em relação às formas as quais o conteúdo
pode ser ensinado.
Ela conta um caso de estudo seu onde observou um total de 35 crianças recebendo educação
inclusiva, indo desde a pré-escola até o ensino médio, todas com grandes dificuldades de
aprendizado. Conversando com professores, pais, colegas e os próprios alunos, todos
concordaram que as crianças estudadas haviam ganhado um status de pertencimento aquela
sociedade, e que o aprendizado das habilidades envolvidas com o mundo real, fora de sala de
aula, munido do relacionamento com outros alunos fez com que suas habilidades pudessem ser
utilizadas de forma mais produtiva. Ela termina a palestra dizendo que inclusão é a celebração
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da diversidade colocada em ação, e que a prática do professor é a chave para se colocar a
educação inclusiva em execução.
Cenário nacional
No ano de 2008, foi estabelecida pelo ministério da educação do Brasil a Política de
educação especial na perspectiva da educação inclusiva, que a reconhece como instrumento
fundamental para a construção de uma sociedade baseada no direito humano de conjugação de
igualdades e diferenças como quesitos indissociáveis para a construção de valores mais justos
para a sociedade e seus indivíduos.
Segundo a professora Maria Tereza Egler Mantoan, doutora em Educação pela Universidade
Estadual de Campinas, e uma das educadoras envolvidas na elaboração do documento, esse
seria considerado como um dos grandes marcos para se entender o conceito de “escola para
todos”, e que apesar ainda ser entendido e executado com dificuldade em muitas escolas
nacionais, ainda apresenta progressos de modo geral uma vez que o MEC, através do
documento, garante o direito de acesso de pessoas com deficiências de aprendizado às classes
comuns do ensino regular. Porém, segundo a doutora, não basta apenas a inclusão física de
alunos em ambientes regulares, mas sim mudar o modo como educadores trabalham com todos
os elementos da escola, não apenas através do ensino diferenciado, mas ensinando a todos e
realizando todos os seus alunos. Mantoan comenta ainda que ela não presencia nas escolas um
posicionamento correto em relação ao ensino inclusivo devido a ignorância deliberada aos
documentos normativos e de ordem de aplicação de ações sobre a área: o que existe na maioria
das vezes é um currículo e uma avaliação adaptada as suas necessidades, contrariando a política
nacional de um currículo único para todos os alunos brasileiros, sendo por tanto uma adaptação
do aluno às normas da escola, e não uma adaptação do professor e do modo como se ensina às
necessidades diversificadas e heterogêneas de seus alunos. Outro ponto importante do
documento é ressaltar que o atendimento educacional especializado apenas elimina barreiras
para a plena participação dos alunos com necessidades específicas, sendo uma complementação,
e não substituição, à escolarização de alunos com necessidades especiais: cabe também a
instituição de ensino fornecer métodos e treinamento do professor regular com especialistas
para melhor acomodação do aluno do espaço de ensino e aprendizado: o professor regular não
precisa ser um especialista no assunto, mas deve possuir noções básicas e apoio da instituição
de ensino no aprimoramento das suas habilidades em lidar com alunos que necessitem de
educação especial, nunca perdendo o foco na inclusão desses indivíduos com a comunidade de
alunos ditos regulares a sua volta.
O documento da política educacional também faz um diagnóstico da educação especial no
Brasil, que são exemplificados nos seguintes gráficos feitos pelo censo escola de 2006:
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Figura 7: Distribuição de matrículas de alunos com necessidades especiais nas esferas
públicas e privadas segundo o Censo escolar de 2006.
Esses dados evidenciam que há um grande aumento de matrículas de indivíduos com
necessidades especiais tanto na rede privada quanto na pública, ambos não praticantes da
educação inclusiva, sendo a rede pública mais procurada com tal objetivo. A distribuição dos
alunos no ano de 2006 por nível de ensino ficou com 16% na educação infantil, 66,5% no ensino
fundamental, 2% no ensino médio, 8,3% na educação de jovens e adultos, 6,7% na educação
profissional básica e 0,28% no ensino profissional técnico, o que demonstra ainda um grande
déficit na inclusão de indivíduos no mercado de trabalho e na sociedade de forma plena e
funcional. Apenas em 2008 o atendimento na classe comum ultrapassou o atendimento na classe
especial, segundo o censo escolar de 2009.
Quanto às escolas adeptas da educação inclusiva, os exemplos pesquisados são o da rede de
ensino público municipal da cidade de Erechim, no Rio Grande do Sul e de Maracanaú, Ceará,
ambas premiadas pelo MEC por suas ações de inclusão de alunos com necessidades especiais.
Figura 6 Censo escolar de 2006.
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Ambas as escolas trocaram experiências de ensino e aprendizado no passado através de eventos
educacionais. Também ambas as escolas fazem uso de experiências culturais locais, que acabam
por se diferenciar devido ao grande espaço geográfico separando as duas redes. Essa
experiência complementar foi fundamental para a implementação de novas ideias em ambas as
cidades através do intercâmbio de ideais e métodos promovidos por esses eventos educacionais,
fato citado por todos os profissionais de educação entrevistados em data do evento, mostrando
que muitas vezes o diálogo e a experiência entre os educadores é uma fonte rica e viável de
novas formas de se aplicar a educação inclusiva no cenário extremamente plural do Brasil.
Figura 8: Ambiente escolar de Erechim RS.
Figura 9: Programa de educação de jovens e adultos, Maracanaú, CE.
Experiência Escola da Ponte e Projeto Ancora
A escola da ponte localizada em um distrito pobre da cidade do Porto, em Portugal, e o
projeto Ancora em Cotia, São Paulo, são exemplos inovadores de novos métodos de ensino
baseados em propostas de ensino relevantes para a sociedade complexa e plural na qual vivemos.
Ambas não fazem uso da configuração de sala de aula usual na maior parte do mundo, não
havendo divisão de séries, quadro negro, carteiras enfileiradas ou provas. A divisão é feita por
núcleos, que organizam não só o conteúdo a ser estudado, mas também o cardápio do lanche, a
limpeza do espaço escolar, etc.: as obrigações são encaradas como responsabilidades, e não
fardos.
A organização da escola da Ponte, que vai até o ensino fundamental, é autônoma, com a
criação de dispositivos de aprendizado aproveitados e reconhecidos em diversas partes do
mundo. O professor José Pacheco, um de seus idealizadores, conta que o foco é a relação entre
as pessoas, partindo de seus desejos, sonhos, dificuldades, problemas e necessidades especiais
particulares ou coletivas e locais, fazendo com que as crianças nunca permaneçam passivas
diante do conteúdo ensinado, que requer que tanto alunos quando professores façam a sua parte
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com responsabilidade e proatividade para o aprendizado e a resolução de questões do dia a dia
da escola.
O papel do professor na escola é providenciar mecanismos de pesquisa e selecionar as
informações trazidas pelos alunos envolvidos, valorizando e criticando construtivamente aquilo
que o aluno trás para dentro de sala de aula. O próximo passo é transformar a informação
recebida em conhecimento, e em seguida em ação em transformação social. Já o papel do aluno
é o de gerir o espaço, os recursos e o tempo para realizar as tarefas em sala de aula, sempre
tendo em vista a necessidade e as dificuldades dos outros.
Essa horizontalidade hierárquica dada pela escola é fundamental para fazer com que a figura
do outro seja reconhecida e entendida por todos, o que abre um enorme espaço para a inclusão
social: pode-se dizer que, de certa forma, a escola da ponte é a máxima no quesito educação
inclusiva, uma vez que a forma como o conteúdo é passado, as dificuldades de aprendizado e o
gerenciamento desses por parte dos alunos e professores em conjunto faz com que todos se
sintam pertencentes àquele espaço e entendam que o objetivo é fazer com que todos se sintam
confortáveis com o que vai ser estudado, o que perpassa tanto o modo como isso vai ocorrer
em sala, até o número de horas que cada conteúdo vai ser estudado por cada um.
Já na experiência brasileira no projeto ancora, constituído principalmente de crianças mal
aproveitadas e de contextos sócio culturais violentos o professor José Pacheco, que também é
um dos colaboradores, diz que tem a preferência em fazer um sistema parecido com o da ponte,
mas baseado na experiência e na expertise de muitos educadores e pesquisadores brasileiros na
área de educação, uma vez que esses traduziram para experiência brasileira o que se tem como
referência de pedagogia no mundo. O objetivo é aproveitar o máximo de pessoas possíveis com
aquilo que elas são naturalmente e sua formação sendo, por tanto, fundamental manter a
essência brasileira para manutenção da pluralidade inafetada, pura e autêntica. É preciso
trabalhar naquilo que cada um tem por essencial dentro de si em ordem de se construir uma
experiência educacional coerente com o que todos desejamos em nossa sociedade, e ensinar o
educador a pensar dessa forma tem sido um dos grandes objetivos que o professor José Pacheco
propõe em suas colaborações, tanto no passado na escola da ponte como no presente no projeto
ancora.
Ferramentas e objetos de ensino
Foi pesquisado em grande parte ao longo desse ano objetos de ensino que ajudem no
aprendizado de crianças com graus diversos de autismo. Esses objetos tem por objetivo fazer
com que crianças autistas se relacionem com outros indivíduos, sejam eles pais, professores ou
outras crianças com graus de autismo ou não. Vale lembrar que o que mais importa não é o
Figura 10 e 11: Sala de aula na escola da Ponte e no projeto Ancora, respectivamente.
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brinquedo em si, mas a forma como a brincadeira é estruturada e pensada. Brinquedos de
crianças ditas regulares também podem ser utilizados de forma a provocar a interação e o
crescimento pessoal de crianças com autismo.
Uma dessas experiências está, por exemplo, no uso do brinquedo Lego de forma terapêutica.
Estudos feitos pelo Doutor em educação Daniel Le Goff, com o objetivo de fazer com eu
crianças autistas interajam entre si, mostrou grandes resultados. A dinâmica consiste em dividir
as crianças em grupos de três indivíduos que alternam seus papeis de tempos em tempos: o
engenheiro do projeto, o construtor e o fornecedor de peças. Essas três crianças devem trabalhar
juntas em prol do objetivo de construção, se mantendo dentro dos seus papéis, necessitando do
diálogo para a execução bem feita da tarefa.
Em sua maioria, os objetos projetados para crianças autistas buscam fazer com que a criança
interaja de modo positivo com outras pessoas, necessitando do dialogo e a confraternização
para o domínio da tarefa proposta pelos brinquedos. O Gobug, por exemplo, é um brinquedo
feito para fazer com que até três crianças interajam juntas para a movimentação por controle
remoto do brinquedo.
Figura 13: Movimentação do brinquedo Gobug.
Figura 12: Crianças autistas em terapia com Legos
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Brinquedos que busquem o contato físico prazeroso e o contato dos olhos também possuem
grande relevância para a superação de dificuldades de relacionamento de crianças autistas, uma
vez que permitem a interação focada no próximo, o que costuma ser uma dificuldade para quem
possui esse distúrbio. O brinquedo Joyco, por exemplo, proporciona essa experiência
multissensorial, ajudando no relacionamento na superação de dificuldades.
Outro quesito importante no aprendizado de crianças autistas está no reconhecimento de
emoções, uma das principais dificuldades que se refletem no comportamento e no
relacionamento desses indivíduos com os ditos regulares. Ensinar sentimentos tais como raiva,
tristeza, felicidade, surpresa e os principais sons e posturas corporais associadas a essas
emoções são uma forma viável de ajudar o indivíduo autista a melhor incluído na sociedade
onde vive. O brinquedo Build-a-Robot auxilia justamente nesses pontos.
Figura 14, 15 e 16:Joyco gerando interação fisica e emocional entre os envolvidos.
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Brinquedos voltados para o público dito regular que emule a experiência autista também
possuiem um grande valor para nossa sociedade, uma vez que nos ensinam a entender a
experiência muitas vezes frustrante de se tentar compreender as normas adotadas pelas
sociedade quando se possui algum grau de autismo. Passar por essa experiência, mesmo que de
forma emulada, nos ajuda a ter alteridade em nossas relações, uma das bases fundamentais para
uma educação e uma sociedade inclusiva. Esse é o objetivo do brinquedo Playing with Impulses,
ou na tradução, brincando com impulsos, onde o objetivo é gerar padrões gráficos com uma
limitação de peças.
Figura 17: Build-a-Robot e suas partes que demonstram emoções diversas.
Figura 18: Brinquedo Playing with Impulseses.
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Conclusões
Os dados achados apontam para uma grande oportunidade de intervenção através das práticas
do design, uma vez que foi comprovado que já existe em nossa sociedade a percepção de que a
educação inclusiva é uma questão de grande importância para a melhoria do ensino em nosso
país e no mundo. Contudo, podemos comprovar que apesar da conscientização sobre o tema
pesquisado, ainda existem grandes obstáculos na aplicação de ações inclusivas em nossa
sociedade. Há um grande despreparo de profissionais da educação em relação ao que realmente
se trata de ação inclusiva e como essas devem ser aplicadas em seus ambientes de trabalho,
assim como faltam materiais didáticos de divulgação de metodologias eficientes na área de
inclusão, sejam eles para preparo do professor ou do aluno, de ordem física ou digital. Em
resumo, existe a vontade de mudança, assim como existem métodos de educação inclusivas
eficientes ao redor do mundo. O que falta é um meio efetivo de divulgação e aplicação de tais
ideias, além de maior diálogo entre profissionais da área para que possam trocar experiências e
crescer juntos.
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