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O Modernismo em Portugal
O modernismo em Portugal desenvolveu-se aproximadamente no início do século XX até ao
final do Estado Novo, na década 1970. O início do Modernismo Português ocorreu num
momento em que o panorama mundial estava muito conturbado. Além da Revolução Russa
de 1917, no ano de 1914 eclodiu a Primeira Guerra Mundial. Em Portugal este período foi
difícil, porque, com a guerra, estavam em jogo as colónias africanas que eram cobiçadas
pelas grandes potências desde o final do século XIX. Além disto, em 1911, foi eleito o
primeiro presidente da República. O marco inicial do Modernismo em Portugal foi a
publicação da revista Orpheu, em 1915, influenciada pelas grandes correntes estéticas
europeias, como o Futurismo, o Expressionismo, etc., reunindo Fernando Pessoa, Mário de
Sá Carneiro e Almada Negreiros, entre outros.
São características de estilo deste movimento: o rompimento com o passado, o caráter
anárquico, o sentido demolidor e irreverente, o nacionalismo com múltiplas facetas, o
nacionalismo crítico, que retoma o nacionalismo em uma postura crítica, irónica e questiona a
situação social e cultural do país, e o nacionalismo ufanista (conservador), ligado
principalmente às posturas da extrema-direita.
Aquele período apresentava-se dividido em três partes:
Orfismo - escritores responsáveis pela revista Orpheu, e por trazer Portugal de volta às
discussões culturais na Europa;
Presencismo - integrada por aqueles que ficaram de fora do orfeísmo, que fundaram a revista
Presença e que buscavam, sem romper com as ideias da geração anterior, aprofundar em
Portugal a discussão sobre teoria da literatura e sobre novas formas de expressão que
continuavam surgindo pelo mundo;
Neo-Realismo - movimento que combateu o fascismo, e que defendeu uma literatura como
crítica/denúncia social, combativa, reformadora, a serviço da sociedade – extremamente
próxima do realismo no Brasil, daí advindo a nomenclatura “neo-realismo”, um novo
realismo para “alertar” as pessoas e tirá-las da passividade.
Características:
atitude irreverente em relação aos padrões estabelecidos;
reação contra o passado, o clássico e o estático;
temática mais particular, individual e não tanto universal e genérica;
preferência pelo dinamismo e velocidade vitais;
busca do imprevisível e insólito
abstenção do sentimentalismo fácil e falso;
comunicação direta das ideias: linguagem cotidiana.
esforço de originalidade e autenticidade;
interesse pela vida interior (estados de alma, espírito..)
aparente hermetismo, expressão indireta pela sugestão e associação verbal em vez de
absoluta clareza.
valorização do prosaico e bom humor;
liberdade forma: verso livre, ritmo livre, sem rima, sem estrofação preestabelecida.
Três grandes gerações de autores:
1ª geração - o Orfismo : Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros e outros;
Principal característica do grupo: comportamento iconoclasta.
2ª geração - o Presencismo: José Régio, João Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca e
outros;
Principal característica do grupo: etilismo, ''arte-pela-arte''
3ª geração - o Neo-Realismo: Alves Redol, Ferreira de Castro, Jorge de Sena e outros.
Principal característica do grupo: Literatura engajada
Contexto histórico
Em inícios do século XX, em Portugal, a produção literária e plástica era ainda
profundamente marcada pelo classicismo racionalista e naturalista, em manifestações apáticas
e decadentes, que evidenciavam forte resistência à inovação. Ao monótono e decadente
rotativismo político correspondia uma não menos monótona e decadente produção
intelectual. Os interesses materiais dos burgueses sobrepunham-se aos interesses culturais,
condicionando a liberdade de expressão. A partir de certo momento, grupos de intelectuais
portugueses organizaram-se em círculos de contestação da velha ordem e iniciam-se no
recurso a estratégias provocatórias e na resposta, por vezes desabrida, às formas políticas e
culturais conservadoras e reacionárias à modernidade. É o modernismo, enquanto movimento
estético e literário de ruptura com o marasmo intelectual, que irrompe em Portugal em
uníssono com a arte e a literatura mais avançadas da Europa, sem prejuízo, todavia, da
originalidade nacional. Foram lançadas revistas, organizadas exposições e conferências, sob
iniciativa privada, num esforço de autonomia relativamente aos apoios estatais, através das
quais as novas opções culturais eram demonstradas e divulgadas. No entanto, o baixo nível de
alfabetização da população portuguesa e o conservadorismo dos meios urbanos, onde as
novidades intelectuais têm maior presença, não proporcionaram abundância de público
interessado nos novos eventos culturais.
Pintura
O movimento ficou conhecido em Portugal a partir de duas exposições: a primeira, em 1915,
ocorreu no Porto, tendo sido chamada de Humoristas e Modernistas; as segundas, em 1916,
em Lisboa e no Porto, de Amadeu de Souza-Cardoso. O país, que entrara no século agarrado
a uma pintura naturalista e romântica em que artistas como José Malhoa eram a referência,
reagiu violentamente ao movimento. A nova estética internacional, desconhecida no país,
estava a ser mostrada por artistas que tinham estado em Paris.
Escultura
A escultura atingiu desenvolvimento importante nos inícios do século. Só durante o Estado
Novo se desenvolveu uma escultura de feição nacionalista, pouco aberta à modernidade.
Principais escultores da primeira metade do século: Francisco Franco de Sousa, Canto da
Maia, Leopoldo de Almeida, Lagoa Henriques, Gustavo Bastos, Alvaro de Brée e Barata
Feyo.
Arquitetura
A arquitetura não registou grandes desenvolvimentos neste período. As dificuldades políticas
vividas durante a I República, a que se juntavam as dificuldades económicas e financeiras,
não propiciaram os empreendimentos arquitetônicos, normalmente dispendiosos. Por
conseguinte, o pouco que se construiu permaneceu fechado à inovação e revela a persistência
dos esquemas arquitetônicos clássicos. Só no final dos anos 20 e sobretudo durante o Estado
Novo é que se notam algumas preocupações em conjugar formas do modernismo europeu
com o nacionalismo salazarista.
Literatura
O modernismo na literatura foi praticado por duas gerações de intelectuais ligados a duas
publicações literárias: um primeiro modernismo surgido em 1915, em torno da revista
Orpheu; um segundo modernismo organizado em 1927, em torno da revista Presença.
Revista Orpheu (Orphismo)
Os únicos dois números de Orpheu - Revista Trimestral de Literatura, lançados em Março e
Junho de 1915, marcaram a introdução do modernismo em Portugal. Tratava-se de uma
revista onde Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa, entre outros
intelectuais de menor vulto, subordinados às novas formas e aos novos temas, publicaram os
seus primeiros poemas de intervenção na contestação da velha ordem literária; o primeiro
número provocou o escândalo e a troça dos críticos, conforme era desejo dos autores; o
segundo número, que já incluiu também pinturas futuristas de Santa-Rita Pintor, suscitou as
mesmas reações.
Revista Presença (Presencismo)
A revista Presença - Folha de Arte e Crítica, foi fundada em 1927, em Coimbra, por
Branquinho da Fonseca, João Gaspar Simões e José Régio. Não obstante ter passado tempos
difíceis, não só financeira como intelectualmente, foi publicada até 1940 demonstrando
grande longevidade. O movimento que surgiu em torno desta publicação inseriu-se
intelectualmente na linha de pensamento e intervenção iniciada com o movimento Orpheu,
que acabou por integrar.
Neo-Realismo
Jovens estudantes de Coimbra adoptam o combativismo da Geração de 70, cujo socialismo
utópico denunciam e iniciam-se no combate à opressão, inspirados pelo socialismo marxista.
É nesta conjuntura que surgem em Portugal os primeiros cultores do neo-realismo ou
realismo social, claramente em ruptura com o individualismo e intelectualismo psicológico
do movimento Presença. Ferreira de Castro, nos seus romances Emigrantes e A Selva,
introduz a análise de problemas de natureza social, trata as populações que emigram, que se
empregam e desempregam.
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