DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

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DOS CRIMES PRATICADOS PORPARTICULAR CONTRA A

ADMINISTRAÇÃO EM GERAL

Usurpação de função pública

Art. 328 do CP: “Usurpar o exercício de função pública:

Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa”.

Sujeito ativo: particular

OBS: o funcionário público pode ser sujeito ativo se estiver

usurpando uma função que não é a sua.

Objeto material: função pública

OBS: o particular pode prender alguém em flagrante delito e não

seria usurpação,

Para a caracterização do delito é necessário que a pessoa pratique

um ato, não configurando a usurpação apenas quando se apresenta ilegalmente como

funcionário público.

Apresentar-se ilegalmente como funcionário público é

contravenção, prevista no art.45 do Decreto-lei 3688/41.

Consumação : com o ato praticado como se fosse

funcionário público.Crime formal.

Mas se houver dano, torna-se usurpação qualificada.

Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

Somente na usurpação simples o crime é de menor potencial

ofensivo, seguindo o procedimento sumaríssimo do

Juizado Especial.

Competência: Justiça Estadual

Obs: se o ato praticado for em detrimento de interesse da União, a competência passará a ser da

Justiça Federal.

Resistência

Art. 329 do CP: “Opor-se à execução de ato legal, mediante

violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a

quem lhe esteja prestando auxílio:

Pena - detenção, de dois meses a dois anos.

Crime de menor potencial ofensivo.

Este delito se assemelha ao crime de desobediência e alguns doutrinadores chamam a

resistência de desobediência belicosa.

Características:- Ato legal;- Funcionário competente;- Conduta positiva do sujeito ativo;- Emprego de violência contra a

pessoa ou ameaça.

Objeto material: tanto o funcionário público quanto o

particular que lhe presta auxílio.

OBS: se a violência for usada pelo preso para fugir, o crime passa a ser aquele previsto no art. 352 do CP (evasão mediante violência)

Excesso: Se o funcionário público excede os

limites do ato legal, o particular agirá em legítima defesa.

Da mesma forma, o particular que se opõe de forma violenta ao ato legal,

gera a possibilidade de legítima defesa do funcionário público.

Vários funcionários

Se dois funcionários públicos estiverem praticando o ato e o

particular se opõe mediante violência, trata-se de crime único.

Consumação: com o emprego da violência ou ameaça

Crime formal, pois não é necessário para a sua

configuração que o ato seja efetivamente impedido.

Portanto, se o crime é formal, se após a sua configuração o ato

legal não se concretizar, o crime se torna qualificado.

§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa:

Pena - reclusão, de um a três anos.

Concurso material obrigatório com o delito resultante da

violência.

§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.

ECA

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê uma forma

especial de resistência, praticada contra o Conselheiro tutelar ou o membro do Ministério Público.

Art. 236 da Lei 8.069/90:

“Impedir ou embaraçar a ação de autoridade judiciária, membro do

Conselho Tutelar ou representante do Ministério Público no exercício de

função prevista nesta Lei:Pena - detenção de seis meses a dois

anos”.

Desobediência

Art. 330 do CP: “Desobedecer a ordem legal de funcionário

público:Pena - detenção, de quinze dias a

seis meses, e multa”.

Trata-se da resistência passiva, ou “atitude ghândica”

Não há emprego de violência ou ameaça.

Características:- Ato legal;- Funcionário competente;- Conduta positiva ou negativa do

sujeito ativo;- Ausência de violência contra a

pessoa ou ameaça.

Ordem Judicial

Se o ato legal consistir em decisão judicial o crime passa a ser

aquele previsto no art. 359 do CP.

Prefeito

Se o sujeito ativo for o prefeito, o delito passa a ser o previsto no art. 1º, inciso XIV do Decreto-lei

201/67.

autoincriminação

Se a ordem do funcionário público acarretar autoincriminação, não

se configura o delito de desobediência por ausência de

dolo.

Idoso

No Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03) há previsão expressa

de delito de desobediência.

Art. 100 da Lei 10741/03:  “Constitui crime punível com reclusão

de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa: (...)

IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a

execução de ordem judicial expedida na ação civil a que alude esta Lei;”.

Art. 101 da Lei 10741/03:

“Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial

expedida nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:

        Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa”.

Acão Civil Pública

Art. 10 da Lei 7347/85: “Constitui crime, punido com pena de

reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10 (dez) a

1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro

Nacional - ORTN,

a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos

indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados

pelo Ministério Público.

Desacato

Art. 331 do CP: “Desacatar funcionário público no exercício

da função ou em razão dela:Pena - detenção, de seis meses a

dois anos, ou multa”.

OBS: É pressuposto deste delito que a ofensa tenha sido proferida

na presença do funcionário público.

Desacatar – consiste em usar qualquer meio (palavras, gestos,

ameaça, vias de fato, lesão corporal) para ofender um

funcionário público em razão de sua função.

Imunidade do advogado

O art. 7º, §2º, da Lei 8906/94 prevê que não constitui injúria,

difamação ou desacato puníveis a manifestação no exercício da

atividade.

No entanto, o Plenário do STF ao julgar a ADIn 1127, declarou a

inconstitucionalidade da expressão “ou desacato” contida

naquela norma.Assim, o advogado pode ser

sujeito ativo deste delito.

Vários funcionários desacatados num mesmo contexto fático:

crime único.

Elemento subjetivo: dolo, que deve abranger o conhecimento da qualidade de funcionário público,

bem como o fato de o mesmo estar no exercício da função

pública.

Embriaguez

Há jurisprudência afirmando que o ébrio não tem a intenção de

humilhar o funcionário público e com isso não existiria o dolo.

Tráfico de Influência

Art. 332 do CP: “Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa

de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Tipo misto alternativo: solicitar, exigir, cobrar e obter;

Objeto material: vantagem ou promessa de vantagem

OBS: o particular que entrega a vantagem ao intermediário é

apenas vítima do delito.

“a pretexto de influir” – o particular na verdade não influi

realmente no ato funcional.Se o funcionário estivesse realmente envolvido, o crime seria de corrupção passiva.

Se o particular insinuar que a vantagem é também para o

funcionário público, há previsão de aumento de pena.

Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o

agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao

funcionário.

Faz-se necessário ressaltar que se o funcionário público for da justiça (MP, juiz e etc..) o crime passa a

ser exploração de prestígio, previsto no art. 357 do CP.

Há, ainda, previsão acerca do tráfico de influência envolvendo funcionário púbico estrangeiro,

no art. 337-C do CP.

Corrupção ativa

Art. 333 do CP: “Oferecer ou prometer vantagem indevida a

funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou

retardar ato de ofício:Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12

(doze) anos, e multa.

Exceção pluralística pois o CP adotou a teoria monista

(temperada) para o concurso de pessoas.

Não há corrupção ativa subsequente, ou seja,

posteriormente à execução ou omissão do ato.

Configura-se a corrupção ativa, independente da corrupção

passiva.

Incompatibilidade com os crimes de concussão e corrupção

passiva na modalidade solicitar.

Testemunha, perito e etc...

Quando o particular oferece a vantagem para a testemunha, perito, contador, tradutor ou

intérprete, estará praticando o delito previsto no art. 343 do CP.

Aumento de pena

A pena é maior se em razão da vantagem o funcionário público

efetivamente deixar de praticar o ato.

Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em

razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo

dever funcional.

Contrabando ou descaminhoArt. 334 do CP: “Importar ou exportar

mercadoria proibida ou iludir, no todo ou em parte, o pagamento de

direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo

consumo de mercadoria:Pena - reclusão, de um a quatro anos.

Lei Penal em Branco – é preciso saber quais as mercadorias proibidas (contrabando) e os

impostos devidos (descaminho).

Droga

Se a mercadoria proibida for droga, responderá o sujeito ativo pelo

art. 33, da Lei 11.343/06.(Princípio da Especialidade)

Arma de Fogo

Se a mercadoria proibida for arma de fogo, o sujeito ativo

responderá pelo Estatuto do Desarmamento

(art. 18 da Lei 10.826/03).

Princípio da insignificânciaNo crime de descaminho, em razão

de sua natureza tributária é possível o reconhecimento do

princípio da insignificância.

O valor seria de até dez mil reais, conforme determinação do STF, em razão do disposto no art. 20 da Lei 10.522/02, com redação

dada pela Lei 11.033/04.

Não há insignificância no contrabando posto que a

mercadoria é proibida.

Configuração do descaminho

É necessário o esgotamento da via administrativa, no qual se discute

a existência, valor ou exigibilidade do crédito tributário.

súmula vinculante 24 do STF:

“Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto

no art. 1º, incisos I a IV, da Lei 8137/1990, antes do lançamento

definitivo do tributo”.

Competência

Justiça Federal, pois ofende interesse da União.

Acerca do tema, tem-se a súmula 151 do STJ: “A competência para

o processo e julgamento por crime de contrabando ou

descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens”.

Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência

Art. 335 do CP: “Impedir, perturbar ou fraudar concorrência pública

ou venda em hasta pública, promovida pela administração

federal, estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal;

afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio

de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem:

Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, além da pena

correspondente à violência.

Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se abstém de concorrer ou licitar, em razão da

vantagem oferecida.

Revogado tacitamente pelo art. 93 e 95 da Lei de Licitações

(Lei 8666/93).

Inutilização de edital ou de sinal

Art. 336 do CP: “Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal

empregado,

por determinação legal ou por ordem de funcionário público,

para identificar ou cerrar qualquer objeto:

Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.

Conspurcar = sujar

Objeto material: edital, selo ou sinal

Consumação: quando rasga, inutiliza ou conspurca

Subtração ou inutilização de livro ou documento

Art. 337 do CP: “Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente,

livro oficial, processo ou documento confiado à custódia

de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço

público:

Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui

crime mais grave.

- Art. 337 -Crime expressamente subsidiário (praticado pelo

particular)- Art. 305 (fé pública- prova de

relação jurídica)- Art. 314 (funcionário público)- Art. 356 (justiça - advogado)

Sonegação de contribuição previdenciária

Competência: Justiça FederalObjeto Material: contribuição

previdenciáriaConflito aparente de normas:

Lei 8137/90

Tipo misto alternativo ou de ação múltipla: a prática de mais de um

dos verbos núcleo do tipo caracteriza um único delito.

Crime de forma vinculada: para se caracterizar este delito é

necessário praticar uma das formas previstas no artigo.

- Crime omissivo próprio (não admite tentativa)

- Sujeito passivo: Receita FederalLei da Super Receita (Lei

11.457/2007 determinou o retorno da arrecadação e fiscalização à

União, não ficando mais a cargo do INSS)

A lei 11.941/09 modificou a Lei de Custeio da Seguridade Social (Lei 8.212/91) para se adequar ao que foi determinado pela Lei da Super

Receita.

Dificuldade financeira: inexigibilidade de conduta

diversa.

Art. 337-A do CP: “Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:

I - omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de

informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado,

empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este

equiparado que lhe prestem serviços;

II - deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da

contabilidade da empresa as quantias descontadas dos

segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de

serviços;

III - omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos,

remunerações pagas ou creditadas e demais fatos

geradores de contribuições sociais previdenciárias:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

Extinção da Punibilidade§ 1o É extinta a punibilidade se o

agente, espontaneamente, declara e confessa as

contribuições, importâncias ou valores e presta as informações

devidas à previdência social,

na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da

ação fiscal;

Perdão Judicial

§ 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente

a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes,

desde que:I - (VETADO)

II - o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela

previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas

execuções fiscais.

O limite para o ajuizamento da execução fiscal é de R$10.000,00

(Lei 10.522/02 , art. 20, co a redação dada pela Lei

11.033/04).

Mas nestes casos, ao invés de aplicar-se o perdão judicial, a jurisprudência dos tribunais superiores têm admitido o princípio da insignificância.

Redução da Pena§ 3o Se o empregador não é pessoa

jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$

1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou

aplicar apenas a de multa.

§ 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado

nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social.

A Portaria MPS/MF 350, de 30/12/09, em seu art. 8º, inciso

VII prevê o valor de R$3.016,25.

Aplica-se à sonegação previdenciária, o disposto na

súmula vinculante 24 do STF, ou seja, a necessidade de

esgotamento da via administrativa para

caracterização do delito.

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