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INTRODUÇÃO
Nesse dossiê foram sistematizadas as as informações
históricas, a partir de fontes bibliográficas e orais, e arquitetônicas da Igreja de
São José de Gorutuba. Este trabalho faz parte do esforço do Departamento
Municipal de Cultura de estabelecer uma política de proteção do patrimônio
cultural e da memória local, que vem promovendo pesquisas e ações para tal fim.
Uma dessas ações é, precisamente, a formação e organização do Conselho
Municipal de Patrimônio Cultural e o tombamento de diversos bens culturais do
município. A Igreja de São José de Gorutuba faz parte desse conjunto dos
primeiros bens que serão tombados no município. Assim, o dossiê é peça
fundamental nesse processo de tombamento, uma vez que é ele quem subsidia
o Conselho Municipal de Patrimônio Cultural nas suas discussões e na decisão
pelo tombamento do bem.
HISTÓRICO DA IGREJA DE SÃO JOSÉ DO GORUTUBA
A data precisa em que foi construída a Igreja do São José do
Gorutuba não se sabe. Calcula-se que em fins do século XVIII e início do século
XIX. O monumento é uma preciosidade, o testemunho de uma época , de um
lugar do qual não se tem quase nenhum registro que permita a reconstituição da
memória local.
A data de fundação de São José do Gorutuba é desconhecida.
Sabe-se que foi elevado a arraial/distrito/paróquia por um decreto imperial de
14/07/1832 e que fazia parte do município de Grão Mogol. Em 07/01/1875, pela
Lei 2107, foi dividido em três distritos (Santo Antônio do Riacho, Serra Branca e
São José do Gorutuba)1.
Em 1938, por Decreto-Lei 148, Porteirinha tornou-se Município
emancipado e desmembrou-se de Grão Mogol, incorporando São José do
Gorutuba.
O distrito, já decadente, com a construção da Barragem do
“Bico da Pedra”, na década de 70, foi transferido para o Povoado de Bom Jesus.
“ Mais de 100 anos passaram
E o fato consumou
A represa do Rio Gorutuba
A região inundou...”2
São José do Gorutuba havia sido um povoado importante
habitado por latifundiários possuidores de muitos escravos. Um dos filhos mais
1 Documento textual. Secretaria de Cultura de Porterinha. s/a. – s/d
2 Estrofe do poema sem título do Gorutubano Adriano Mendes da Conceição, 12/07/01.
ilustres, o Vigário José Vitório de Souza, teve sua história narrada por Simeão
Ribeiro, no livro “O Padre e a Bala de Ouro”3.
“Sinhá então mandou
Seus jagunços para o estradão
Quando o padre ia passando
Com seu livro na mão/
Recebeu um tiro certeiro
Cortou seu coração
Morreu sem saber de nada
Daquela cruel traição. “4
"Por toda a vasta região que tinha o Arraial de São José do Gorutuba como seu
centro natural de convergência, no vaivém dos transeuntes, compradores de bois
e de graãos e camboieiros, notícias inquietantes eram ouvidas nos pousos de
viandantes, sobre as tocaias para abater o padre Vitório"5.
Do povoado de Gorutuba restam apenas algumas ruínas, um velho cemitério
abandonado, a antiga escola (hoje sede de uma fazenda), também em estado
de abandono, e alguns sinais de antigas residências ocultados pelo mato, que
está se assenhorando do local.
A Igreja, que guarda lembranças de um tempo de glória, insiste em resistir como
guardiã da cultura e tradição local. Apesar do seu abandono e da total falta de
conservação, ela guarda sua estrutura original (o piso assoalhado, onde outrora
foram enterrados seus moradores mais ilustres, paredes com amplas portas e
janelas, corredores laterais, coro, púlpito, altar e os sinais dos antigos afrescos
3 O Padre José Vitório foi transferido da Província de São João Del Rey para São José do Gorutuba em 1847, a mando do Arcebispo da Bahia, para substituir o Padre Carlos Prates. Proprietário de terras e escravos foi assassinado por uma mulher com quem havia realizado alguns negócios.
4 Folclore norte mineiro. Moda de viola de autor desconhecido. Música colhida por Nestor Mendes de Porteinha. (Texto digitado. Secretaria da Cultura de Porteirinha).
5 PIRES, Simeão. Na ladeira do Gravatá. In: Gorutuba: o padre e a bala de ouro. Montes Claros: snt.
desbotados pelo tempo). As antigas imagens já não se encontram mais no local.
Segundo dizem, estão em poder de particulares e do Bispo Diocesano de
Janaúba, que as levou para que não se perdessem definitivamente. Nas paredes
encontramos resgistros de antigas missões que visitaram o local.
DESCRIÇÃO E ANÁLISE ARQUITETÔNICA DA IGREJA DE SÃO JOSÉ DO GORUTUBA
Edificação religiosa, provavelmente, da segunda metade do
século XVIII, com significativo valor arquitetônico. De linhas simples, desenvolve-
se em um corpo central anterior, com dois corpos laterais contíguos, e um corpo
central posterior, também com dois corpos laterais.
O sistema construtivo mostra estrutura autônoma de madeira
e vedação em adobe. As coberturas são em telhas curvas de cerâmica, sendo
que os corpos centrais apresentam telhado em duas águas e os corpos laterais
em telhado de uma água.
O corpo central anterior, mais elevado, enquadrado por
cunhais de madeira, mostra fachada principal que se ordena em porta única
central, de verga reta, vedada por folha de madeira com almofadas e por duas
janelas de coro emolduradas em madeira com guarda-corpos, também em
madeira, onde se mostram dois sinos (de tamanhos diferentes). A fachada lateral
esquerda apresenta três vãos em alinhamento – uma porta (que dá acesso 'a
escada para o coro) e duas janelas - com a porta da fachada principal,
emolduradas e vedadas por folhas de abrir de madeira, tipo calha. A fachada
lateral direita apresenta dois vãos – janelas – emoldurados e vedados em
madeira.
O corpo central posterior, possui em cada uma das fachadas
laterais três vãos – uma porta e duas janelas -, enquadrados por cunhais de
madeira e alinhados com a porta da fachada principal, emoldurados e vedados
por folha de abrir de madeira, tipo calha.
Encontra-se em bom estado de conservação.
DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO DE TOMBAMENTO
O perímetro de tombamento constitui-se à partir de retas
paralelas ao pano das fachadas localizadas a 10 metros das mesmas.
JUSTIFICATIVA DA DEFINIÇÃO DO PERÍMETRO DE TOMBAMENTO
A delimitação do perímetro de tombamento buscou garantir
uma área mínima necessária para a preservação da Igreja sem, contudo,
prejudicar o proprietário da fazenda onde ela se encontra, já que Igreja encontra-
se muito próxima à casa-sede. Caso você estendida a área de tombamento a
casa e outras instalações da fazenda seriam incluída no tombamento, o que não
se justifica uma vez que essas edificações são recentes e não apresentam
nenhum elemento de valor para que sejam preservadas.
DELIMITAÇÃO DO PERÍMETRO DE ENTORNO
O perímetro de entorno do bem tombado constitui-se à partir de
retas paralelas ao pano das fachadas localizadas a 100 metros das mesmas.
JUSTIFICATIVA DA DEFINIÇÃO DO PERÍMETRO DE ENTORNO
O perímetro de entorno definido buscou incluir dentro de seus
limites o antigo cemitério e algumas ruínas de alicerces, possivelmente da época
que ali se situava o povoado de São José do Gorutuba.
DOCUMENTAÇÃO CARTOGRÁFICA
10 m.
10 m.
100 m.
100 m.
100 m.
100 m. 10 m.
10 m.
IGREJA DE
SÃO JOSÉ
DO
GUTUBA
Delimitação dos perímetros de tombamento e do perímetro de entorno.
Perímetro de Tombamento
Perímetro de Entorno
DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA
Fachada principal da Igreja de São José de Gorutuba
Fachada principal e lateral direita da Igreja de São José de Gorutuba
Fachada da lateral esquerda da Igreja de São José de Gorutuba
Vista da fachada lateral esquerda enfocando o telhado.
FICHA TÉCNICA
ELABORAÇÃO DO DOSSIÊ
Marcus Vinícius Carvalho Coelho
Teólogo / Consultor para Projetos Culturais, Ambientais e Educacionais.
Maria Rosemary de Oliveira
Historiadora
FOTOGRAFIAS
Vilson Alves Conceição
Fotógrafo.
PARECER PARA TOMBAMENTO
Edificação imponente, de uma beleza singela mas graciosa, é hoje a
mais antiga que o município de Porteirinha possui. Remonta aos tempos em que
Porteirinha era apenas uma fazenda. Apesar de seu abandono conserva suas
características originais. É um dos remanescentes da arquitetura colonial na
região. É também a única testemunha de que naquele local existiu São José de
Gorutuba, que no século XVIII foi o principal distrito de Grão-Mogol, importante
entroncamento comercial entre essa cidade e a Bahia. O seu tombamento é
imprescindível, pelo risco de que a integridade e a autenticidade dessa
importante edificação sejam afetadas, já que ela encontra-se praticamente
abandonada. Com esse tombamento, Porteirinha estará protegendo um de seus
maiores bens culturais, de grande valor arquitetônico, histórico e religioso
REFERÊNCIAS DE PESQUISA
CONCEIÇÃO, Adriano Mendes da. Poema sem título. Documentos textuais. Secretaria da Cultura de Porteirinha. s/d. OLIVEIRA, Maria Rosemary de. Informações sobre a Igreja de São José do Gorutuba. ______. Porteirinha: um convite ao turismo. OLIVEIRA, Palmyra Santos de. Obra sem título. Porteirinha, s/d. Pelos Caminhos do Norte: Porteirinha, Serra Geral de Minas. Jornal do Norte. Montes Claros: 20.01.2000. Caderno Norte de Minas. PIRES, Simeão. Na ladeira do Gravatá. In: Gorutuba: o padre e a bala de ouro. Montes Claros: snt.
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