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SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOS ANO XCIX | N.º 4785 | 7 DE MAIO DE 2020 | 0,75 € visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt A Igreja falou, está dito: as celebrações de Fátima, este ano, chegam aos portugueses como chega a eucaristia dominical, através dos meios telemá- ticos. E isto não é não haver celebrações ou não haver celebrações participadas pelos fiéis; é haver celebrações, participadas pelos fiéis, de um modo que respeita a saú- de, a inteligência, a fé e a comunhão eclesial. E, de Fá- tima, nesta crónica, está tudo dito; o que se segue pode parecer ainda Fátima, mas é realmente outra coisa. A comunhão eclesial. Nenhum filho manifesta maior amor pela mãe do que aquele que procura a união entre todos os irmãos; e nenhum a pode desgostar mais do que aquele que se compraz em criar a divisão entre os outros filhos todos. Seria, pois, inaceitável que houvesse católicos, inclusive com responsabilidades eclesiais de cogoverno do povo de Deus, que quisessem ver em Fáti- ma mais um motivo para dizer a Maria mal dos irmãos. A fé. O cristão olha o mundo com os olhos amadure- cidos da eternidade. Este é um distintivo absolutamente basilar da nossa identidade. Estamos no tempo com as mãos e os pés de quem se une a Cristo e está para incen- diar (Lc 12, 49). Estamos no tempo com o coração que se deixa moldar pelo Espírito de Deus e não pode ficar cala- do, porque vale mais obedecer a Deus do que aos homens (At 5, 29). Mas estamos no tempo com os olhos que ante- veem o mundo novo renascido do amor do Pai. Sabemos que a história caminha para a Ressurreição de Jesus de Nazaré; e que há de lá chegar; e que todos os relativos hão de lá ganhar o seu sentido final. Quem sabe que o Espírito de Deus está a agir na História não se infantiliza a chorar por rebuçados, mas centra-se no essencial. Não sejamos imitadores de crianças (1Cor 3, 11). A inteligência. As coisas verdadeiramente importan- tes não são apenas coisas; são também símbolos, com- portam significações de outras coisas mais importantes ainda, mesmo sagradas. As celebrações do 25 de Abril ou do 1º de Maio não criaram celeuma por causa de uns me- tros de distância entre pessoas ou cubicagem dos espa- ços. Criaram celeuma porque feriram a simbologia por detrás de três sucessivos Estados de Emergência. Não o “estado”, mas a simbologia do “Estado”. E, com isso, desvalorizaram também a sua própria essência, que vai muito para além dos atos em si. Foram reduzidas a re- buçados. Talvez com todo o direito e legitimidade, mas sem criatividade simbólica. E a vida de um povo é muito mais do que direito. A saúde. É um bem primeiro, tão primeiro, que até há um sacramento que lhe diz diretamente respeito. ||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES Fátima e entornos A crise provocada pela Covid-19 não é só sanitária e económica, mas também social, com o surgimento de situações de pobreza extrema. E, como sempre acontece nestas situações, a Igreja está lá, na resposta: pelos seus serviços próprios; pelas suas associações de fiéis, como as Conferências Vicentinas; pelos seus serviços especializados (estudantes, idosos, mulheres, etc.); pelos fiéis isolados, fraternalmente. > centrais COM A LEITURA DO LIVRO DE ESTER DEUS RESPONDE AO SOFRIMENTO DO POVO E INVERTE A SITUAÇÃO João Paulo Fernandes encerra o ciclo das respostas de Deus ao sofrimento do Povo nas “Histórias exemplares” dos Livros Históricos. > Página 3 VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES DAR UMA RESPOSTA DE SENTIDO A TUDO O QUE SOMOS E REALIZAMOS Celebração ocorreu num tempo diferente, mas que no remete ainda mais para a proximidade e para a profundidade do queremos fazer pelos outros e com os outros. > Página 2 A FRAGILIDADE HUMANIZA A VIDA Igreja em Portugal celebra Semana da Vida: materiais disponíveis no site da Comissão Episcopal Laicado e Família. > 10 a 17 de maio de 2020 TEMPO DE EMERGÊNCIA SOCIAL Respostas da Igreja e em Igreja

TEMPO DE Respostas da Igreja e em Igreja

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Page 1: TEMPO DE Respostas da Igreja e em Igreja

SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOSANO XCIX | N.º 4785 | 7 DE MAIO DE 2020 | 0,75 €

visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt

A Igreja falou, está dito: as celebrações de Fátima, este ano, chegam aos portugueses como chega a eucaristia dominical, através dos meios telemá-

ticos. E isto não é não haver celebrações ou não haver celebrações participadas pelos fiéis; é haver celebrações, participadas pelos fiéis, de um modo que respeita a saú-de, a inteligência, a fé e a comunhão eclesial. E, de Fá-tima, nesta crónica, está tudo dito; o que se segue pode parecer ainda Fátima, mas é realmente outra coisa.

A comunhão eclesial. Nenhum filho manifesta maior amor pela mãe do que aquele que procura a união entre todos os irmãos; e nenhum a pode desgostar mais do que aquele que se compraz em criar a divisão entre os outros filhos todos. Seria, pois, inaceitável que houvesse católicos, inclusive com responsabilidades eclesiais de cogoverno do povo de Deus, que quisessem ver em Fáti-

ma mais um motivo para dizer a Maria mal dos irmãos.A fé. O cristão olha o mundo com os olhos amadure-

cidos da eternidade. Este é um distintivo absolutamente basilar da nossa identidade. Estamos no tempo com as mãos e os pés de quem se une a Cristo e está para incen-diar (Lc 12, 49). Estamos no tempo com o coração que se deixa moldar pelo Espírito de Deus e não pode ficar cala-do, porque vale mais obedecer a Deus do que aos homens (At 5, 29). Mas estamos no tempo com os olhos que ante-veem o mundo novo renascido do amor do Pai. Sabemos que a história caminha para a Ressurreição de Jesus de Nazaré; e que há de lá chegar; e que todos os relativos hão de lá ganhar o seu sentido final. Quem sabe que o Espírito de Deus está a agir na História não se infantiliza a chorar por rebuçados, mas centra-se no essencial. Não sejamos imitadores de crianças (1Cor 3, 11).

A inteligência. As coisas verdadeiramente importan-tes não são apenas coisas; são também símbolos, com-portam significações de outras coisas mais importantes ainda, mesmo sagradas. As celebrações do 25 de Abril ou do 1º de Maio não criaram celeuma por causa de uns me-tros de distância entre pessoas ou cubicagem dos espa-ços. Criaram celeuma porque feriram a simbologia por detrás de três sucessivos Estados de Emergência. Não o “estado”, mas a simbologia do “Estado”. E, com isso, desvalorizaram também a sua própria essência, que vai muito para além dos atos em si. Foram reduzidas a re-buçados. Talvez com todo o direito e legitimidade, mas sem criatividade simbólica. E a vida de um povo é muito mais do que direito.

A saúde. É um bem primeiro, tão primeiro, que até há um sacramento que lhe diz diretamente respeito.

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| ENFOQUE CARLOS NEVES

Fátima e entornos

A crise provocada pela Covid-19 não é só sanitária e económica, mas também social, com o surgimento de situações de pobreza extrema. E, como sempre acontece nestas situações, a Igreja está lá, na resposta: pelos seus serviços próprios; pelas suas associações de fiéis, como as Conferências Vicentinas; pelos seus serviços especializados (estudantes, idosos, mulheres, etc.); pelos fiéis isolados, fraternalmente. > centrais

COM A LEITURA DO LIVRO DE ESTERDEUS RESPONDE AO SOFRIMENTO DO POVO E INVERTE A SITUAÇÃOJoão Paulo Fernandes encerra o ciclo das respostas de Deus ao sofrimento do Povo nas “Histórias exemplares” dos Livros Históricos. > Página 3

VIGÍLIA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕESDAR UMA RESPOSTA DE SENTIDO A TUDO O QUE SOMOS E REALIZAMOSCelebração ocorreu num tempo diferente, mas que no remete ainda mais para a proximidade e para a profundidade do queremos fazer pelos outros e com os outros. > Página 2

A FRAGILIDADE HUMANIZA A VIDA

Igreja em Portugal celebra Semana da Vida: materiais disponíveis no

site da Comissão Episcopal Laicado e Família.

> 10 a 17 de maio de 2020

TEMPO DE EMERGÊNCIA SOCIAL

Respostas da Igreja e em Igreja

Page 2: TEMPO DE Respostas da Igreja e em Igreja

CORREIO DE COIMBRA

2Diocese

No dia 1 de maio, D. Virgí-lio Antunes presidiu ao terço na Casa Episcopal,

com transmissão do mesmo pelo facebook da Diocese, dando assim um início ‘diocesano’ ao mês de Maria e relevando local-mente o convite do Papa Fran-cisco para retomarmos a oração do terço em toda a Igreja e nas famílias, particularmente neste ano de privação da celebração comunitária da fé.

O Bispo de Coimbra sublinhou a importância do mês de maio na espiritualidade mariana, evo-cou a mensagem de Fátima, com o seu apelo à conversão dos pe-cadores, à paz no mundo e à sal-vação das almas, e colocou como intenção muito especial do terço

o pedido a Deus, por Maria, pelo fim da pandemia da Covid-19.

Estando a decorrer a Sema-na de Oração pelas Vocações, D.

Virgílio lembrou tembém esta intenção, e em especial as voca-ções sacerdotais para a Diocese de Coimbra.

Seminário Maior de CoimbraArrancaram as obras de conservação e requalificação

Fazendo votos de que todos estejamos a “viver este tempo difícil com esperança”, o senhor Reitor anunciou o início das obras de conservação e requalificação no edifício central do Seminário Maior no dia 29 de abril. Quanto aos últimos donativos para estas obras, foram: ofertório das missas de março - 1.213,75€; ofertório das missas de abril - 853,00€; anónimos - 110,00€; 300,00€; anóni-mo de Pombal - 100,00€; Maria José Henriques Oliveira - 20,00€; Maria Ramos Novo - 100,00€; padre diocesano - 1.500,00€; padre diocesano 1.000,00€; Instituto Secular - 750,00€. Entretanto, o Seminário, neste tempo de pandemia, e apesar dos prejuízos mensais que acumula, passou a destinar o último do-mingo do mês para uma causa social ou instituição que cuide dos mais frágeis e necessitados. Assim, através do ofertório na missa do último domingo de março, entregou 1.906,00€ ao grupo de voluntários “Mateus 25”, que trabalha no acompanhamento e reinserção da comunidade prisional. Quem quiser continuar a ajudar o Seminário para a concretiza-ção das suas obras, entretanto iniciadas, pode fazer o seu dona-tivo para Caixa Geral Depósitos - PT 50 0035 0255 0005 9801 132 31.

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Na vigília de oração pe-las vocações, que teve lugar na igreja do Semi-

nário Maior de Coimbra, no dia 30 de abril, pelas 21h30, sem a participação de fiéis, D. Virgílio Antunes dirigiu algumas pa-lavras às comunidades cristãs que estão a viver neste tempo de confinamento, “um tempo dife-rente entre todos os outros mas que continua a ser um tempo de muita intensidade de vida, de intensidade de fé, de expres-sões daquilo que temos no nosso coração, de procura de sentido para tudo aquilo que nós somos e daquilo que nós realizamos, de relações diferentes, mais dis-tantes fisicamente mas quem sabe, senão são elas mesmas, mais próximas do ponto de vista dos sentimentos, da atitude, da preocupação, daquilo que quere-mos fazer pelos outros e com os

outros. Tudo isto, como sabemos nos fala. Fala à nossa inteligên-cia, fala ao nosso coração e fala à nossa fé. E o Senhor, nosso Deus, na sua imensa bondade, em todos os tempos da história e em todos os momentos e situa-ções, não deixa de vir ao nosso encontro com a palavra VEM e com a palavra SEGUE-ME! Este é o desafio à vocação”, realçou o Bispo de Coimbra, na celebração que foi transmitida pela empre-sa Coimbra Canal através das páginas do Facebook e do Youtu-be do Seminário.

Na segunda parte da sua in-tervenção, D. Virgílio dirigiu-se essencialmente aos jovens (se-minaristas, pré-seminaristas, aqueles que procuram conhecer Deus e a sua vocação e aqueles que andam um pouco perdidos quanto ao seu rumo) reconhe-cendo o coração grande deles em

querer servir o seu próximo que é a comunidade humana. Ao comentar a mensagem do Papa para a Semana de Oração pelas Vocações e o excerto do evange-lho de S. Mateus (Mt 14.22-33), D. Virgílio explica que “aquela cami-nhada junto ao mar da Galileia acaba por ser o retrato daquilo que é a nossa vida, daquilo que é mais belo, mais simpático, mas também daquilo que é mais difí-cil, mais doloroso e penoso. Não só neste tempo extraordinário que estamos a viver, mas sem-pre. Ele convida-nos a pôr o nosso olhar no olhar de Nosso Senhor Jesus Cristo que está sempre pre-sente!” O Papa apresente 4 pala-vras que fazem parte do nosso percurso de vida - Gratidão, Cora-gem, Tribulação e Louvor.

Por fim, na vigília, houve lugar para alguns testemunhos que foram previamente gravados.

VIGÍLIA DIOCESANA DE ORAÇÃO PELAS VOCAÇÕES

Em todos os tempos da história, o Senhor não deixa de vir ao nosso encontro

PROPRIEDADESeminário Maior de CoimbraContr. n.º 500792291 | Registo n.º 101917Depósito Legal n.º 2015/83

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ATRAVÉS DO FACEBOOK DA DIOCESE DE COIMBRA

D. Virgílio Antunes abriu Mês de Maria a partir da Casa Episcopal

7 DE MAIO DE 2020

CELEBRAR O DOMINGO COM O NOSSO BISPOTodos os domingos, o facebook da Diocese de

Coimbra transmite a celebração da Eucaristia por D. Virgílio Antunes, na Casa Episcopal.

www.facebook.com/Diocese.de.Coimbra/ - 9h

Page 3: TEMPO DE Respostas da Igreja e em Igreja

CORREIO DE COIMBRA

33Opinião

Prudência e responsabili-dade marcam o pronun-ciamento da Conferência

Episcopal Portuguesa, em 2 de maio, sobre o regresso à norma-lidade da vida religiosa em tem-po de pandemia, e quando ain-da não há vacinas para o novo coronavírus nem imunidade de grupo ao mesmo.

Naquela que é a dimensão mais importante da vida comu-nitária da fé, a Eucaristia, o Co-municado da CEP fala em “reto-mada gradual das celebrações”, que se deverá iniciar, “em prin-cípio”, a 30 maio, em conformi-dade com a Resolução do Conse-lho de Ministros n.º 33-C/2020. Até lá, devemos continuar a acompanhar as celebrações da Eucaristia através dos diferentes meios a distância.

Os outros sacramentos conti-nuarão sujeitos ao máximo cui-

dado de distanciamento físico e de não aglomeração de fiéis, e aqueles que requerem unção, tirando alguns batismos e un-ções dos enfermos em situações excecionais, são adiados para o próximo ano pastoral.

Quanto a catequese, ações de formação, procissões, festas, concentrações religiosas, acam-pamentos “e outras atividades similares” só haverá regresso à normalidade, previsivelmente, a partir de setembro, sempre res-peitando as necessárias normas de segurança que impeçam a transmissão do coronavírus.

As igrejas - que nunca estive-ram fechadas, nem por determi-nação do governo, nem dos bis-pos - continuam a poder “estar abertas durante o dia para visi-tas individuais, desde que se ob-servem os requisitos determina-dos pelas autoridades de saúde”.

PRUDÊNCIA E RESPONSABILIDADE

CEP pronuncia-se sobre a retomada da vida religiosa

Os púlpitos das nossas igrejas tornaram-se ob-soletos com o advento

da amplificação sonora e sobre-tudo depois do Concílio Vaticano II, quando toda a ação litúrgica se centrou no altar da celebra-ção. Foram substituídos pelo ambão, normalmente colocado à direita do altar, no lado outro-ra destinado ao Evangelho. Será difícil às novas gerações perce-cionar a função e utilidade que estava destinada a estas peças, sempre tratadas com muito es-mero e muitas vezes expressão artística de alto merecimento. No pós-concílio, alguns púlpitos chegaram mesmo a ser retira-dos das igrejas, esquecendo que a sua presença de séculos é par-te da história dos monumentos e das comunidades.

As origens dos púlpitos podem procurar-se na civilização ro-mana, de que somos herdeiros. Estavam presentes nos edifícios públicos e no foro como um lo-cal elevado, onde se situavam os oradores. Nas primitivas basíli-cas cristãs havia já uma tribuna semelhante ao ambão dos dias de hoje. Na segunda metade do século XIII, a atividade oratória de franciscanos e dominicanos levou à criação do púlpito como uma tribuna elevada, no cen-tro da nave e por vezes com um dossel ou quebra-voz, para me-lhoria das condições acústicas, geralmente posicionado do lado

do Evangelho. A partir do século XVI o púlpito ganha grande pro-tagonismo no espaço interior das igrejas. Ali se fazia lembrar o louvor a Deus e o proveito es-piritual das almas para a salva-ção eterna, em sermões inspi-rados, por vezes exuberantes e teatrais para que a mensagem chegasse a todos, pois grande parte da população era iletrada.

Em Santa Cruz de Coimbra o púlpito situou-se junto à desa-parecida grade que separava o espaço conventual do espaço dos fiéis. Ele é bem a expressão da sapiente cultura dos cónegos crúzios e da arte refinada de Nicolau Chanterene. O escultor francês Nicolau Chanterene fez uma passagem quase episódica por Coimbra. No mosteiro de Santa Cruz deixou o melhor da sua obra, na fachada, no claus-tro e no púlpito, executado em 1521, data descoberta pelo Pe. Nunes Pereira quando fazia de-senhos de pormenores, publica-dos neste jornal em 1985.

Apresenta-se com parapeito de quatro faces poligonais sobre base em forma de cone inverti-do. É revestido de finíssima de-coração renascentista de can-delabros, pequenos medalhões e outros motivos clássicos, tudo em delicado relevo à flor da pe-dra, mas os baldaquinos das figuras angulares são ainda de tradição gótica.

Nas quatro faces abrem-se

elaborados nichos onde se sen-tam os quatro doutores da Igre-ja do Ocidente. São eles, come-çando do lado da entrada, Santo Ambrósio de Milão, mitrado, S. Jerónimo, com chapéu de car-deal e leão aos pés, S. Gregório Magno, com a tiara papal, todos ostentando um livro simbólico da sua sabedoria e dos seus es-critos, e, por fim, Santo Agosti-nho segurando um templo nas mãos, como fundador da Or-dem seguida em Santa Cruz.

Nos ângulos dispõem-se dez figurinhas plenas de grande significado. Na linha inferior representam-se os quatro profe-tas maiores, Isaías, Joel, Ezequiel e Jeremias, tendo ao centro o rei David segurando a harpa. Nos pequenos nichos superiores aos profetas erguem-se cinco do-nairosas donzelas: as sibilas do mundo clássico que se cria, des-de o concílio de Niceia em 325, te-rem prenunciado o nascimento, a paixão e morte e a ressurreição de Jesus. Foi tema dos humanis-tas renascentistas, no esforço de conciliar a sabedoria da An-tiguidade com a doutrina cristã, tendo o seu exemplo máximo nas pinturas de Miguel Ângelo no teto da capela Sistina e, igual-mente, a sua expressão neste púlpito. Identificamo-las como: Cumana ou Ciméria, Herófila ou Samiana, Pérsica ou Caldeia (a do centro, com a cruz), Délfica, e Helespôntica ou Troiana.

O cone invertido de sustenta-ção do púlpito gera-se a partir da representação de um mons-tro alado fantástico, a hidra de Lerna, com suas sete cabeças de serpente que renasciam sempre que se lhe cortavam, mas mor-ta por Hércules no seu segundo trabalho. Um pouco mais acima, cinco harpias, monstros imun-dos, raptoras de almas, com rosto de mulher, corpo de abutre e orelhas de urso. Esta zona agi-tada é o mundo do pecado, por demais simbolizado nas sete ca-beças da hidra. A transição para

a parte superior é feita por frisos de elementos clássicos, onde cinco querubins transmitem paz e tranquilidade.

Nicolau Chanterene era, sem dúvida, homem culto e artista de génio, mas não poderia ter executado esta obra, de tão den-so conteúdo iconográfico e teo-lógico, onde o bem se sobrepõe ao mal, sem ter a aconselhá-lo os doutos cónegos crúzios. Infe-lizmente o tempo tem deixado as suas marcas bem notórias nesta obra prima da arte portu-guesa e mesmo europeia.

ARTE DIOCESANA

O Púlpito de Santa Cruz de CoimbraNelson Correia Borges

O Livro de Ester é substan-cialmente uma parábo-la exemplar, ensinando

que o nosso socorro está em Deus em qualquer aflição em que nos vejamos! Nesta hora de singular sofrimento provocado pelo Covid-19, é em Deus que ha-vemos de colocar a nossa con-fiança, pois a Sua vitória é que o seu povo viva! A vitória de Jesus na Cruz é a vitória do amor de Deus, como diz o Papa Francis-co, “sobre a raiz do mal, uma vitória que não “salta” por cima do sofrimento e da morte, mas atravessa-os abrindo uma estra-da no abismo, transformando o mal em bem: marca exclusiva do poder de Deus”.

Antes de avançar, eis uma nota importante: a parte mais

antiga do Livro de Ester foi escri-ta em hebraico, e a outra parte, mais recente, em grego. As nos-sas Bíblias, de alguma forma, fazem essa diferença. Nós segui-mos a chamada Bíblia dos Ca-puchinhos (em que o grego vem em itálico e a numeração é feita por uma letra de A a F). Também de notar que na parte primitiva não aparece a referência explí-cita a Deus, esta surge na parte em grego, através das orações e outros complementos, manifes-tando a providência divina.

Temos diante de nós uma mu-lher hebreia, órfã, que foi adota-da pelo seu primo, Mardoqueu. Será escolhida para rainha do rei persa Assuero que tinha como seu primeiro-ministro, Amã. Este, sentindo-se ofendi-

do por seu tio Mardoqueu, pede ao rei que publique um decre-to para exterminar os Hebreus. Exortada pelo seu primo a inter-vir, inicia três dias de jejum e de oração, sendo porta-voz de todos aqueles que elevavam a sua pre-ce, na certeza do apoio divino.

Olhemos as orações de Mardo-queu e da sua filha adotiva.

Na oração, é de salientar que antes de fazer propriamen-te o pedido, Mardoqueu revela os motivos em que se apoia: a criação e as grandes manifes-tações de Deus para com o seu povo no passado, a referência aos Patriarcas e ao Êxodo. As promessas feitas aos Patriarcas parecem estar agora em causa! Tal como interveio, através de Moisés, para salvar o seu povo, eis agora também o tempo para tornar a intervir, pois como diz Mardoqueu a Deus, é “o teu povo”, a “tua herança”, a “tua parte” que estão em perigo. Con-verte o nosso luto em alegria!

“Então, Mardoqueu orou ao

A PALAVRA EM PALAVRAS

A vitória de Deus e do seu povoJoão Paulo Fernandes

(continua na página 7)

7 DE MAIO DE 2020

MÊS DE MARIA NAS PARÓQUIASEm tempo de pandemia, para além das transmissões do terço, muitas paróquias estão a fazer outras propostas diferenciadas de espiritualidade mariana.Procure mais informação no facebook da sua Unidade Pastoral

Page 4: TEMPO DE Respostas da Igreja e em Igreja

CORREIO DE COIMBRA

4 Grande Plano

Na Cáritas, como em muitas outras instituições, fomos extre-mamente diligentes no recurso a todos os meios tecnológicos que mitigassem o isolamento dos idosos nas Estruturas Residen-ciais, tradicionalmente conhe-cidas por Lar. E criámos formas novas de presença e diversão, por exemplo em festas partilha-das on line entre Centros; e de-mos azo a toda a criatividade. Onde foi possível, desdobrámos grupos, para minimizar riscos; onde foi possível, alargámos os espaços de passeio em espaços arborizados e ajardinados para os mais autónomos. O recurso à videochamada permitiu até ver o cão, o gato, que saudades! Não, os nossos idosos não tiveram falta de presença, não tiveram falta de atenção, não tiveram falta de cuidado.

Mas, apesar disso, e mesmo

que não o expressem, têm falta de carícias, de beijos e de abraços dos filhos e netos. E isso é-lhes absolutamente necessário, des-de logo para a saúde, porque saú-de não é só tensão arterial e dia-betes certinhos, mas bem-estar com a vida! Devemos, claro, evi-tar todo o contato físico para sal-vaguardar a sobrevivência, mas dentro do limite do razoável. A desatenção a essa razoabilidade denúncia falta de humanidade. E a razoabilidade, pelo menos ao fim de algum tempo, exige “to-que”: físico, sentido, na pele. Di--lo a psicologia, a antropologia, a filosofia, a teologia, a vida!

Vale a pena recordar Harlow (1905-1981) e a sua experiência com macacos rhesus bebés sepa-rados das mães e colocados a vi-ver com dois bonecos artificiais: uma “mãe de arame” - a única provida de leite – e uma mãe

felpuda. Os macacos bebés ape-nas se aproximavam da mãe de arame para mamar e logo iam aninhar-se ou brincar junto da “mãe felpuda”. Evidentemente, sem o leite da mãe de arame, morreriam; mas, na verdade, para eles, a vida era uma outra coisa. E, sem essa “outra coisa”, provou-o ainda Harlow, morre-riam também. De facto, Harlow extremou as suas experiências mantendo macacos desde bebés à idade adulta completamente isolados, que acabaram em es-tado catatónico e alguns deles morreram por simplesmente se recusarem a comer e beber, entre outros distúrbios com-portamentais. Estatísticas de orfanatos sem afago humano, mesmo com razoáveis condi-ções de alimentação e dormida, mostram índices altíssimos de morte. O ser humano precisa de

se relacionar – de ser tocado, de ser acariciado, de ser mimado, de ser considerado – para ser pessoa. Ter sido criado homem e mulher é muito mais do que ter sido criado casal ou para aca-salar. É ter sido criado relação, sociedade, afeto, toque, carícia. O próprio Deus, como Oseias no--Lo apresenta, é um Deus que traz a pessoa ao colo, a acaricia, a mima, por quem o seu coração dá voltas dentro de si…

Ser indivíduo e pessoa são coisas diferentes. Não existe a pessoa sem a individualidade, mas também não existe sem a alteridade, sem a relação, sem o projetar-se num tu que dá senti-do à vida. A questão final, para a comunidade, é sempre a de saber se privilegia o indivíduo ou a pessoa; se privilegiamos o indivíduo, fazemos estatística; se privilegiamos a pessoa, abri-

mos caminhos de relação, de acolhimento, de crescimento na diferença, de abertura ao mais. O tablet tem o seu lugar, mas não chega. É preciso o olhar físico, a carícia, o toque da mão. Basta confirmá-lo junto dos familiares daqueles que morreram da co-vid-19, e que apenas se puderam despedir por tablet.

Que fazer? É evidente que há riscos na abertura dos Lares. Mas há igualmente o espetro da infe-licidade na sua não abertura! Por isso, e sem reduzir em nada o uso e reforço dos contributos tec-nológicos - em que a Cáritas de Coimbra, aliás, tem sido pioneira nos estudos, na criação e no uso junto dos idosos - importa procu-rar meios de contato “físico” dos idosos institucionalizados com os seus familiares, certamente sujeitos a cuidados e limites mui-to definidos. Para isso, os poderes públicos não podem omitir-se do seu papel, escudando-se numa simples e eterna proibição de vi-sitas - que a longo prazo se torna inumana - sem corresponsabili-zar-se nos normativos e nos cus-tos dos passos a dar.

Três textos para pensar outras “vítimas” da pandemia. Dois, são a partir da Cáritas Diocesana: o primeiro debruça-se sobre a situação dos idosos institucionalizados - o apoio dado e as perguntas que ficam; o segundo é uma entrevista com Cristina Melo, Técnica de Serviço Social no Centro Comunitário de Inserção, na Baixa de Coimbra, e nele falamos sobre o apoio a famílias com necessidades alimentares extremas. O terceiro texto é um apelo direto que nos chega através das Conferências Vicentinas do concelho de Coimbra.

O APOIO AOS IDOSOS NO CONTEXTO DA PANDEMIA

A desatenção à razoabilidade do isolamento social denúncia falta de humanidade

MINORAR OS EFEITOS SOCIAIS DA PANDEMIA

Porque as pessoas estão primeiro

7 DE MAIO DE 2020

IUJP ADERIU AO SAPO VOUCHERMais uma “janela” no

Instituto Universitário Justiça e Paz neste tempo muito difícil.

Manter o serviço aos estudantes do Ensino Superior

Page 5: TEMPO DE Respostas da Igreja e em Igreja

CORREIO DE COIMBRA

5Entrevista

CORREIO DE COIMBRA Sabemos que o Centro Comunitário de Inserção – um serviço da Cáritas na Baixa de Coimbra - tem estado a dar uma resposta a situações de pobreza agravada pela situação de confinamento devida à pandemia Covid-19. Pode falar-nos dessa ajuda?

CRISTINA MELOA partir de meados de março co-meçámos a receber um número muito elevado de novos pedidos de ajuda, sobretudo alimentar, mas também para pagamen-to de algumas contas – rendas, água, luz, essencialmente ren-das. A parte dos pagamentos, encaminhámos para o Fundo de Ajuda Social da Câmara de Coim-bra, com resposta positiva, e fi-zemos os respetivos apoios. Na questão alimentar, como o ano passado fizemos menos campa-nhas de recolha de alimentos, ficámos rapidamente sem bens nenhuns e estávamos a repor-tar tudo para o Centro de Apoio Social da Cáritas (CAS), que, to-davia, tem de responder a toda a cidade e diocese. Assim, a par-tir de meados de abril lançámos duas campanhas: uma, o “SO-MOS FAMÍLIA”, em que famílias que o pudessem fazer (“famílias

mecenas”) iam “adotar” outras famílias necessitadas para lhes dar um cabaz mensal de ali-mentos e bens essenciais; e a “MÁSCARA SOLIDÁRIA”. A másca-ra solidária, contudo, seria um complemento à própria campa-nha “Somos Família”. De facto, já tínhamos começado a fazer máscaras para a nossa própria proteção. O que resolvemos foi fazer mais máscaras e disponi-bilizá-las para quem quisesse ajudar nos cabazes alimentares aplicando integralmente esse dinheiro em produtos “frescos”: carne, peixe, iogurtes…, para complementar os cabazes doa-dos pelas famílias, que trazem poucos frescos. As pessoas ade-riram muito bem às máscaras: já fabricámos cerca de 1400, in-clusive com o voluntariado de pessoas que já foram apoiadas por nós, aqui, noutras circuns-tâncias então difíceis para elas e que agora quiseram elas ajudar!

Pode caraterizar-nos as famílias apoiadas pela campanha ‘Somos Família’?A campanha ‘Somos Família’ ini-ciou com 20 famílias, totalizando 57 pessoas. Neste momento já te-mos 38 famílias, com 104 pessoas, das quais 50 crianças. Uma cara-terística importante, desde logo,

é que cerca de 50% dos membros destas famílias são crianças! São famílias que, na sua quase tota-lidade, nunca tinham recorrido a nós. Muitas, de origem brasi-leira, e que antes da pandemia estavam a trabalhar e tinham as vidas organizadas, embora sem contrato e, consequentemente, sem documentação que lhes per-mita agora, na falta de trabalho, aceder aos apoios da Segurança Social; outras, que entraram em layout, com os rendimentos re-duzidos para 66%; e muitas fa-mílias com crianças, como disse, o que faz com que mesmo aque-las que agora poderiam regressar ao trabalho, não possam, porque têm as crianças em casa. Daqui que possamos dizer que muitas destas situações vão perdurar para além deste tempo de con-finamento. Temos muitas famí-lias monoparentais - a mãe com um filho ou dois - e casais com filhos. Destas 38 famílias, estão ‘adotadas’”, neste momento, 31 famílias, abrangendo 89 pessoas.

E como é que alguém interessado pode fazer chegar a sua ajuda?O mais simples é contactar-nos diretamente, ou pelo telefo-ne (239855840) ou pelo email ([email protected]).

Quando a pessoa/família mani-festa esse interesse em apadri-nhar outra, nós perguntamos--lhe que tipologia de família quer apoiar: número de elementos?, com crianças?, sem crianças? Da nossa parte, tentamos sen-sibilizar para que sejam priori-zadas as famílias com crianças. Por razões de privacidade, não divulgamos as famílias concre-tas, apenas um apelido identifi-cativo, embora já haja um caso de um apoio direto família a fa-

mília, porque a família ajudada manifestou total abertura para ser conhecida. Então, combina-mos com a família ‘mecenas’ uma hora para receção do ca-baz alimentar, e com a família apoiada uma hora para o seu le-vantamento. É um processo que está a decorrer. Lá em baixo, po-derá ver os últimos cabazes que nos foram entregues já com os nomes indicados das famílias a que se destinam, e que serão en-tregues hoje. Quanto aos produ-tos, um pouco de tudo. Por exem-plo, havendo bebés, até posso dizer “se por acaso puder dar fraldas, o número é…”. Mas isto é sempre dependente da família que ajuda: as fraldas, por exem-plo, são caras, e nós também não sabemos as disponibilidades de quem se dispõe a ajudar.

Se alguém quiser apoiar em dinheiro?Aqui, ao nível do Centro Comuni-tário de Inserção, na Baixa, ten-tamos evitar lidar com dinheiro. Temos pedido alimentos às fa-mílias, aos fornecedores, à so-ciedade, e isso permite-nos com-plementar os cabazes trazidos pelas famílias. Temos até duas arcas prontas para congelados. Até agora, as máscaras solidárias permitiram-nos complementar os mesmos cabazes com “fres-cos”. Entretanto, a Direção da Cá-ritas está a estudar um processo global de gestão de dinheiro e das máscaras solidárias. Por isso, as ajudas em dinheiro devem ser direcionadas para a Cáritas.

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Falar da Sociedade de São Vicente de Paulo é, antes de mais, recordar uma

Instituição com quase duzen-tos anos e relembrar um ideal que se afirmou e se concretizou na ajuda a milhões de pessoas espalhadas por centena e meia de países.

Vivemos presentemente um momento particularmente difí-cil para a Humanidade, em que a nossa resiliência, esperança e altruísmo estão a ser postos à prova. Mas cremos que dele sai-remos todos mais fortalecidos, mais unidos e mais humanos também.

No concelho de Coimbra os Vicentinos fazem parte da Rede de Emergência Alimentar e de-senvolvem a sua ação no âm-bito da proteção e do apoio aos grupos mais vulneráveis, es-tando presentes em Ceira, São Martinho do Bispo, Celas, Nossa Senhora de Lurdes, Santa Clara, Santa Cruz, Santo António dos Olivais, São Bartolomeu, Tovim, Sé Nova, Sé Velha e São José, aqui através do Centro de Aco-lhimento João Paulo II.

Diariamente, são inúmeros os pedidos de ajuda que che-gam às Conferências da cidade de Coimbra. A situação pandé-

mica COVID-19 que se vive no país e no mundo veio agravar com inusitada intensidade es-tas dificuldades. Neste breve período, mais de uma cente-na de pessoas, das quais trin-ta e cinco são crianças, já vieram solicitar apoio alimen-tar aos Vicentinos. São pedidos de auxílio de famílias em situa-ção de extrema carência econó-mica e social, sem possibilidade de colmatar as suas necessida-des básicas.

É uma preocupação constan-te dos Vicentinos este desam-paro das famílias e o das suas crianças, jovens e idosos. São

pessoas que não têm recursos para comprarem alimentos, pagarem a renda da casa ou os remédios e que sabem que os seus frágeis empregos, negócios e habitação poderão estar em risco iminente.

Os Vicentinos, em articulação com outras entidades locais, es-tão a assegurar uma resposta direta a todos os que recorrem à sua ajuda, não só através da en-trega de cabazes com alimen-tos mas também fornecendo--lhes apoio social, económico, jurídico e, até, o transporte em ambulâncias de doentes em si-tuação de carência.

A Obra dos Vicentinos de Coimbra, instituição de ação e de reflexão, cien-

te das suas responsabilidades e da sua vocação, não desis-te de continuar a reforçar a

sua atuação face aos crescentes pedidos de apoio. Este esforço suplementar representa um enorme desafio para as Con-ferências, não só em termos humanos mas também eco-nómicos, pelo que instamos a população de Coimbra a pres-tar-nos o seu apoio, quer atra-vés de donativos de bens ali-mentares, que iremos buscar, quer monetários, estes atra-vés de Transferência Bancá-ria para o IBAN (Montepio): PT50 0036 0058 9910 0199 62729, e que, desde já, agradecemos reconhecidamente. Para quais-quer outras informações ou esclarecimento poderá consul-tar-nos pelo email [email protected].

A Obra dos Vicentinos de Coimbra

OBRA DOS VICENTINOS DE COIMBRA

Apoio a situações de pobrezaagravadas pela Covid-19

ENTREVISTA COM CRISTINA MELO, RESPONSÁVEL DO CENTRO COMUNITÁRIO DE INSERÇÃO

Muitas das situações de falta de recursos vão perdurar para além do tempo de confinamento

“A partir de meados de março começámos a receber um número muito elevado de novos pedidos de ajuda, sobretudo alimentar e para pagamento de algumas contas – rendas, água, luz, essencialmente rendas.

7 DE MAIO DE 2020

“JANELA” SOLIDÁRIA DO INSTITUTO JUSTIÇA E PAZServiço de refeições TAKE AWAY com receitas a favor da ajuda a estudantes com dificuldades alimentares.Encomendas em 968 478 123 ou facebook.com/rest.justicaepaz

Page 6: TEMPO DE Respostas da Igreja e em Igreja

CORREIO DE COIMBRA

6 Liturgia

Estamos neste singular mês de maio, como têm sido singulares os últimos

meses, se olharmos para a glo-balidade da terra, todo este ano tem levado a marca deste ‘pe-queníssimo’ bichinho, que não se vê... mas que apesar de tudo tem feito que toda a humanida-de se volte para ele... É surpreen-dente, em pleno século XXI, quando muitas pessoas se julga-vam donas de tudo (a nível polí-tico, económico, científico...).

Nós, como cristãos, precisa-mos de estar muitos atentos e sermos responsáveis no nosso modo de viver... contribuirmos aos diferentes níveis para en-contrar uma solução para resol-ver esta pandemia e ter todos os cuidados para não facilitarmos na sua proliferação. No entanto, não se pode esquecer que para isso é necessário estar centra-dos n’Aquele que veio ao nosso encontro, por nós se ofereceu... para nós ressuscitou!...

Ele é a porta, pela qual en-tram e saem as suas ovelhas... e quando estão com Ele sempre encontram pastagens suculen-tas. Isto mesmo nos disse Je-sus, no Evangelho do passado

Domingo, dia do Bom Pastor. Dizia-nos ainda que as suas ovelhas sabem distinguir a SUA voz da voz dos estranhos... Será que eu sei distinguir a sua voz das outras vozes?... Se somos das suas ovelhas não podemos deixar-nos levar como os outros; a lucidez que d’Ele recebemos, pelo Espírito que Ele e o Pai nos dão, tem de fazer de cada um de nós instrumentos seus que, pela marca do amor, gera confiança, esperança, empenho... Precisa-mos de nos comprometer nos diferentes sectores, animados pela força que o Ressuscitado co-munica àqueles que n’Ele acre-ditam. Como os Apóstolos, não podemos deixar de anunciar que Ele está VIVO e vela por nós e nos dá TUDO para sermos seus cola-boradores na construção de uma nova HUMANIDADE...

De um modo muito especial, nesta situação em que estamos envolvidos, é preciso acolher o desafio que Paulo nos faz: “Exor-to-vos, irmãos, pela misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus. Seja este o vosso verdadeiro culto, o espiritual. Não vos acomodeis a este mundo. Pelo

contrário, deixai-vos transfor-mar, adquirindo uma nova men-talidade, para poderdes discernir qual é a vontade de Deus: o que é bom, o que lhe é agradável, o que é perfeito.” (Rom 12, 1-2)

O que preciso de aprender e de mudar, com esta pandemia, para ser mais fiel e colaborar de um modo mais eficaz com a acção do Espírito Santo e ser seu instrumento nesta situa-ção muito concreta? A todos os níveis da sociedade… Deus quer precisar da tua e da minha co-laboração para hoje se manifes-tar na sua acção salvadora em favor de todos os seres huma-nos!... Cada um precisa de dar o seu melhor na situação concre-ta onde se encontra... Ninguém está dispensado!...

Como nos convida o Papa Fran-cisco e o nosso Bispo, voltemos o nosso ‘olhar’ para Maria: apren-damos com ela a escuta e a do-cilidade humilde e coloquemos toda esta realidade sob a sua in-terceção materna... Que a oração do Rosário nos leve a fortalecer a intimidade com Maria, para sa-bermos imitá-la no seguimento de seu Filho e fazermos sempre o que Ele nos disser (cfr Jo 2, 5).

Estamos a entrar na recta final, deste tempo santo e sempre maravilhoso da

Páscoa. De hoje a oito dias celebrare-

mos a Solenidade da Ascenção e passados oito dias, a hora reno-vadora do Pentecostes!

Assim, chegaremos ao fim des-te “planalto pascal” onde temos sido convidados a reconhecer o Ressuscitado, como verdadeiro Deus e Senhor, quer ao lado de Tomé quer à mesa de Emaús...

Depois, escutámo-Lo quando nos disse ser o Bom Pastor e se apresentou como “a Porta” que protege, defende e guarda a inti-midade, nessa “Casa” que é o cora-ção do Pai, onde Jesus nos prepa-ra um “lugar”, para que ninguém seja estrangeiro na Casa do Pai...

Hoje, o Domingo que estamos a celebrar, prepara-nos para a vinda do Espírito!

O convite é directo e revesti-do quer de maravilha quer de determinação!

Logo na 1ª leitura, Filipe anun-cia Jesus, o Messias de Deus!

Perante este anúncio, a alegria que preenche a cidade é grande e expressiva, ao ponto dos Após-tolos, ao tomarem conhecimen-to disso, terem enviado Pedro

e João para que os que haviam recebido a Palavra de Deus, rece-bessem agora o Espírito Santo!

Como é importante receber o Espírito Santo!É o acolher do Amor

maior!... esse amor que não se reduz a uma declaração român-tica ou a toda a uma efusão de emoções, revela-Se no “guardar” os Mandamentos de Jesus!

O Amor é Dom e escolha! O Mandamento é Deus!... é

o próprio Jesus, filho de Deus e Deus com o Pai!

O amor é o pulsar do coração de Deus em nós e sempre que en-tendamos assim o Amor, então ele muda a nossa vida porque jamais nos sentiremos sozinhos ou abandonados à nossa sorte...

Deus nunca nos abandona e Jesus relembra isso mesmo, quando hoje nos refere:

- “Não vos deixarei órfãos!...”

Jesus recorda-nos a identi-dade de filhos! Recorda-nos que quem está

no Pai, não morre de solidão, não fica abandonado ou esquecido!

Como a Igreja é a nossa Casa de Família!

Por isso a liturgia de hoje nos convida a escutar São Pedro, na-quela 2ª leitura tirada da sua pri-meira carta:

- Venerai Cristo, nos vossos corações!

- Usai de brandura e respei-to, mesmo perante as calúnias, afrontas e perseguições...

- Lembrai-vos sempre que mais vale padecer por fazer o bem, se for essa a vontade do Deus, do que padecer por fazer o mal!

Obrigado, Pedro, por me aju-dares a contemplar o Mistério de Deus revelado na vida e no Amor de Cristo Jesus!

Bom e Santo Domingo para to-dos vós.

ESPIRITUALIDADE

Agir com a lucidez que Ele nos dá Fernando Pascoal

NEM SÓ DE PÃO | COMENTÁRIO À LITURGIA DOMINICAL

Acolher o Amor maior!Carlos Augusto N. Lopes

LEITURA DOS ATOS DOS APÓSTOLOS At 8, 5-8. 14-17Naqueles dias, Filipe desceu a uma cidade da Samaria e começou a pregar o Messias àquela gente. As multidões aderiam unani-memente às palavras de Filipe, ao ouvi-las e ao ver os milagres que fazia. De muitos possessos saíam espíritos impuros, soltando enormes gritos, e numerosos paralíticos e coxos foram curados. E houve muita alegria naquela cidade. Quando os Apóstolos que estavam em Jerusalém ouviram dizer que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhes Pedro e João. Quando chegaram lá, rezaram pelos samaritanos, para que recebessem o Espírito Santo, que ainda não tinha descido sobre eles: só estavam batiza-dos em nome do Senhor Jesus. Então impunham-lhes as mãos e eles recebiam o Espírito Santo.

SALMO RESPONSORIAL Salmo 65Refrão: A terra inteira aclame o Senhor.

LEITURA DA PRIMEIRA EPÍSTOLA DE SÃO PEDRO 1 Pedro 3, 15-18Caríssimos: Venerai Cristo Senhor em vossos corações, prontos sempre a responder, a quem quer que seja, sobre a razão da vossa esperança. Mas seja com brandura e respeito, conservando uma boa consciência, para que, naquilo mesmo em que fordes calu-niados, sejam confundidos os que dizem mal do vosso bom pro-cedimento em Cristo. Mais vale padecer por fazer o bem, se for essa a vontade de Deus, do que por fazer o mal. Na verdade, Cristo morreu uma só vez pelos nossos pecados – o Justo pelos injustos – para nos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito.

ALELUIA Jo 14, 23Se alguém Me ama, guardará a minha palavra.Meu Pai o amará e faremos nele a nossa morada.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO JOÃO Jo 14, 15-21Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Se Me amar-des, guardareis os meus mandamentos. E Eu pedirei ao Pai, que vos dará ou-tro Paráclito, para estar sempre convosco: Ele é o Espírito da verda-de, que o mundo não pode receber, porque não O vê nem O co-nhece, mas que vós conheceis, porque habita convosco e está em vós. Não vos dei-xarei órfãos: voltarei para junto de vós. Daqui a pouco o mundo já não Me verá, mas vós ver--Me-eis, porque Eu vivo e vós vivereis. Nesse dia reconhe-cereis que Eu estou no Pai e que vós estais em Mim e Eu em vós. Se alguém aceita os meus manda-mentos e os cum-pre, esse realmente Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai e Eu amá-lo-ei e mani-festar-Me-ei a ele».

DOMINGO VI DA PÁSCOA17 de maio de 2020

“O Amor maior, que não se reduz a uma declaração romântica ou a toda a uma efusão de emoções, revela‑Se no “guardar” os Mandamentos de Jesus!

7 DE MAIO DE 2020

“A voz do inimigo distrai-nos do presente e quer que nos concentremos nos receios do futuro ou nas tristezas do passado - o inimigo não quer o presente -: faz ressurgir as amarguras, as recordações das injustiças

sofridas, daqueles que nos magoaram..., muitas recordações negativas.”...(Papa Francisco, Regina Caeli, 3 de maio)

Page 7: TEMPO DE Respostas da Igreja e em Igreja

CORREIO DE COIMBRA

7Opinião

1Portugal é a sétima melhor de-mocracia do mundo, de acor-do com o ranking do Instituto

V Dem – apenas antecedido pela Dinamarca, Estónia, Suécia, Suí-ça, Noruega e Bélgica –, enquanto também muito honrosamente, foi classificado pelos Repórteres Sem Fronteiras no décimo lugar (entre 180 países) quanto à liberdade de imprensa. São posições que, rei-tera-se, e identificando-nos com o seu significado profundo, mui-to nos devem orgulhar. Contudo, lembrando as nossas fragilidades que, num e noutro campo, conhe-cemos melhor que ninguém, tam-bém por tanto se vê o quanto mal vai a humanidade…

2Depois de terem acabado os governadores civis, e na ausência da regiona-

lização que o fim daquelas figu-ras (também) indiciaria, o vazio político-administrativo existente foi provisoriamente resolvido com a nomeação de cinco secre-tários de Estado que, exercendo cumulativamente nova ativida-de a nível regional no combate à pandemia da covid19 – de acordo com a divisão geográfica das NUT 2, Norte, Centro, Lisboa e Vale do Tejo, Alentejo e Algarve – objeti-vam uma coordenação horizon-tal de todas as entidades e servi-ços desconcentrados. Enfim, um atamancamento que resulta da falta de empenho político ditado pela defesa de interesses parti-dários por parte das forças que asseguram a governação do país.

3Foi noticiado que algu-mas empresas cotadas em bolsa, nomeadamen-

te a EDP, mantêm a intenção de pagar dividendos aos seus acio-nistas relativos a 2019, medida gestionária de muito duvidosa aceitação face à presente crise da economia mundial (a maior nos últimos noventa anos), tam-bém, e sobretudo, absolutamen-te inadmissível de um ponto de vista ético quando atentamos, no nosso país, nas severíssimas perdas dos trabalhadores e dos pequenos empresários em geral. Será que ganância e a desvairada primazia do lucro vão continuar a caracterizar – onde param as responsabilidades sociais do em-presariado? – o capitalismo ‘por-tuguês’? Depois, um dia destes, também entre nós, queixem-se do que o Finantial Times chama-va, com oportunidade inteira, de raiva política dos que, trabalhan-do embora, não acedem, sequer, ao mínimo que garanta a digni-dade da pessoa humana.

4Um dia destes, Francis-co Sena Santos, em mais uma das suas belíssimas

crónicas “Ao Redor do Mundo”, que passam na Antena 1, deixa-va-nos a interrogação do porquê das livrarias, nestes tempos de confinamento, não terem esta-do abertas (à semelhança do que aconteceu em Berlim) enquanto local para nelas alimentarmos o espírito. E que bem me sabe ou-vir, a cada manhã, aquelas cultas

e informadas palavras que, por norma, nos expõem tão escorrei-tas ideias. Quase compensando a lamentável decisão da empresa pública Rádio e Televisão de Por-tugal, quando acabou com o “Fio da Meada”, um conjunto de olha-res que, enlevando-me uns, de outros discordando em absoluto, tanto valorizavam, num país que quase não lê livros ou jornais, o jornalismo de opinião.

5Querendo ainda acreditar no alcance das medidas que EU prepara para com-

bater a enorme crise financeira que se abate sobre a generalida-de dos seus membros, confesso ter as maiores dúvidas quanto à efetiva bondade das políticas com que determinados países do Velho Continente intentam so-lucionar um problema que, afe-tando sobretudo as economias dos Estados mais fragilizados (Itália, Espanha, Grécia e Portu-gal, mas também a França), é, em boa verdade, de todos, desig-nadamente da Alemanha e da Holanda. Alguns progressos fo-ram alcançados, pelo menos de forma aparente, quando atenta-mos nas habituais e rígidas pos-turas de conhecidos governos do Norte. Contudo, afastados os mutualizadores Eurobonds, es-tamos ainda para saber, quanto ao Fundo de Recuperação Eco-nómica, a sua real dimensão, como se financia, sobretudo se os apoios terão maioritaria-mente a forma de empréstimos – mesmo a longo prazo, sempre ampliadores da dívida pública – ou, como os mais pretendem, de subsídios a fundo perdido. Por aí passará, em muito, diria mes-mo definitivamente, o futuro da União Europeia.

6No aprovisionamento de medicamentos, a epide-mia do novo coronaví-

rus trouxe à superfície, de uma forma totalmente iniludível, a tão imensa quanto deplorável dependência da Europa e dos Estados Unidos da América em relação à Ásia, região do mun-do para onde, sempre na procu-ra de maiores ganhos (depois, e cada vez mais, iniquamente distribuídos), outrossim a in-dústria farmacêutica ocidental deslocalizou a maior parte das suas atividades. E, para ficar-mos ainda mais preocupados, sabe-se que 80% dos princípios ativos que utilizamos na nos-sa saúde – mas como foi isto possível? – são produzidos… na China.

7Os políticos, seja em que latitudes for, não param de nos surpreender. Ago-

ra foi em Israel onde, de acordo com uma nova ‘supergeringon-ça’, aquele país, que tanta di-ficuldade tem tido para eleger um primeiro-ministro, acaba de ganhar…dois! De facto, auto-justificando-se com a presente emergência sanitária, Benja-min Netanyahu, atual chefe da administração judaica, do par-tido conservador Likud, envol-vido em problemas com a jus-tiça por crimes de corrupção, e o líder da aliança Azul e Branco, centrista, Benny Gantz, assina-ram um acordo para formar um governo de coligação, bicéfalo, na prática com dois executivos simétricos, que será por eles ro-tativamente presidido. Mas ga-rantindo a ambos, simultanea-mente, pois claro, as mesmas prerrogativas e honrarias.

8Primeiro foi o afasta-mento, em plena pan-demia, do ministro da

Saúde brasileira, por divergên-cias entre Jair Bolsonaro e Luiz Mandetta, que não pactuava com a forma irresponsável como o presidente lida com a “gripinha” que, tendo a taxa de contágio mais elevada do mun-do, já infetou uma imensidão de cidadãos e provocou milha-res de mortes. Depois, a intem-pestiva saída do titular da pasta da Justiça, Sergio Moro, na se-quência da atrabiliária demis-são do diretor-geral da Polícia Federal, alegadamente relacio-nada com o desejo de acesso a informações confidenciais em investigações que incluem ami-gos e familiares do presidente, interferência que poderá levar, após os escândalos Lula da Sil-va e Dilma Rousseff, a novo im-peachment – de destituição em destituição, má sina a daquele povo –, agora do atual morador do Palácio do Planalto.

9A sugestão de Donald Trump para a medici-na injetar desinfetantes

ou bombardear com luz ultra-violeta os doentes contamina-dos com a covid19 – como for-ma, imagine-se, de combater a doença – deveria ter sido a última insanidade possível ao atual presidente norte-ameri-cano. Não obstante, apesar das reações políticas internas nega-tivas na (ainda) maior potência mundial, e das sondagens mais recentes apontarem para uma vitória de Joe Biden, a inquietu-de generalizada faz temer que aquele desvario possa não ter sido o derradeiro…

Aqui e AlémCabral de Oliveira

Senhor, recordando-lhe todas as maravilhas que Ele tinha realiza-do, e disse: «Senhor, Senhor, rei todo poderoso, em cujo poder es-tão todas as coisas e a cuja vonta-de ninguém pode resistir, se qui-seres salvar Israel. Fizeste o céu e a terra e todas as maravilhas que se acham debaixo dos céus. És o Senhor universal e ninguém, Se-nhor, te pode resistir. (...) E ago-ra, Senhor, Tu que és o meu Deus e meu rei, Deus de Abraão, defende o teu povo, pois os nossos inimi-gos querem arruinar-nos e des-truir a tua antiga herança. Não desprezes o teu povo, que resga-taste da terra do Egipto. Ouve a minha oração e sê propício para com a tua herança e transfor-ma em alegria a nossa dor, a fim de vivermos para celebrar o teu nome, Senhor. E não feches

a boca daqueles que te louvam!» Todo o Israel clamava também ao Senhor com grandes brados, porque tinha a morte diante dos olhos.” (Est C,1-4.8-11)

A oração de Ester apresenta também um esquema semelhan-te à de Mardoqueu. A oração co-meça por invocar Deus como Se-nhor, como rei e como único. É de evidenciar a antítese entre o “só” e único Deus, manifestando a sua unicidade e omnipotência, e o “só” referida a Ester, expressando a sua impotência e a dramaticidade da situação. Relembrando os feitos de Deus, no passado, exprime a sua convicção da sua intervenção, no presente; pedindo, de modo particular, que Deus lhe conceda “palavras harmoniosas” para con-vencer o rei a mudar de decisão, e assim, salvar o seu povo.

“Também a rainha Ester, pos-suída de uma angústia mortal,

recorreu ao Senhor. Depôs as suas vestes luxuosas e vestiu roupas de aflição e pesar. Em lugar das essências preciosas, cobriu a ca-beça de cinza e pó e humilhou--se. O seu corpo, que antes sentia prazer em adornar, cobriu-o com os cabelos desgrenhados. E diri-giu esta prece ao Senhor, Deus de Israel: «Meu Deus, meu único rei, assiste-me no meu desamparo, pois não tenho outro socorro se-não a ti, porque vou pôr a minha vida em risco. No seio da família, ouvi desde criança, Senhor, que escolheste Israel entre todos os po-vos, e os nossos pais entre todos os seus antepassados, para fazer deles a tua herança perpétua, e que cumpriste todas as promes-sas. E agora, porque pecámos na tua presença, entregaste-nos nas mãos dos nossos inimigos, por termos adorado os seus deuses. Tu és justo, Senhor. Mas eles não se contentam com impor-nos dura servidão. E, colocando as mãos so-bre os seus ídolos, juraram abolir o que Tu decretaste, aniquilar a tua herança, fechar a boca daque-les que te louvam, extinguir a gló-ria do teu templo e do teu altar, a fim de proclamar, pela boca dos gentios, o poder dos seus ídolos e

de exaltar para sempre um rei de carne. Ó Senhor, não entregues o ceptro aos que não são nada, para que não se riam da nossa ruína! Faz cair sobre eles os seus planos e derruba aquele que primeiro nos atacou. Lembra-te de nós, Senhor. Manifesta-te no dia da nossa tri-bulação e dá-me coragem, Senhor, rei dos deuses, dominador de todos os poderes! Coloca nos meus lá-bios, quando estiver na presença do leão, palavras apropriadas e muda o seu coração em ódio con-tra aquele que nos é hostil, a fim de que pereça com todos os seus par-tidários. Livra-nos com a tua mão e assiste-me no meu abandono, a mim, que não tenho senão a ti, Se-nhor. Tu conheces tudo! Sabes que detesto a glória dos ímpios e tenho horror ao leito dos incircuncisos e estrangeiros. Sabes que só por ne-cessidade estou onde estou, e que detesto as insígnias da dignida-de que levo sobre a minha cabeça nos dias em que devo aparecer em público. Sim, eu as abomino como um pano manchado e não as levo nos dias do meu recolhimento. A tua serva não comeu à mesa de Haman nem honrou com a sua presença os banquetes do rei, nem bebeu o vinho das libações. Jamais

se alegrou a tua serva desde o dia da sua elevação até hoje, a não ser em ti, Senhor, Deus de Abraão. Ó Deus, poderoso sobre todas as coi-sas, ouve a voz dos desamparados e livra-nos das mãos dos perver-sos, e a mim livra-me desta minha angústia.» (Est C,12-30)

Depois da oração, ela apresen-ta-se diante do rei, arriscando a sua vida, pois procurava o rei sem ser convocada. O rei recebe-a com clemência e Ester, durante um banquete, lhe faz o pedido, como embaixatriz a favor da justiça e da salvação do seu povo que ti-nha sido vendido para ser exter-minado. Amã será enforcado na mesma forca que tinha prepara-do para Mardoqueu (cf. Est 7). A sorte lançada aos judeus virou-se contra ele. É anulado o decreto de morte através de outro, formula-do em termos de sinal contrário, as vítimas eram agora os persas. Temos assim o fundamento de uma festa que os judeus cele-bram até hoje, a festa de “Purim”, palavra que significa “sortes”. Eis como o povo, com a ajuda de Deus, lutando, se livra do exter-mínio total; a ameaça de morte é transformada em celebração da vida e da esperança.

LIVRO DE ESTER

A vitória de Deus e do seu povo

(continuado da página 3)

7 DE MAIO DE 2020

...“A voz de Deus fala ao presente: «Agora podes fazer o bem, agora podes exercer a criatividade do amor, agora podes renunciar aos arrependimentos e remorsos que mantêm o teu coração prisioneiro». Anima-nos, faz-nos ir em frente, mas fala no presente: agora.”(Papa Francisco, Regina Caeli, 3 de maio)

Page 8: TEMPO DE Respostas da Igreja e em Igreja

CORREIO DE COIMBRA

ÚltimaDESDE ROMA

O Vaticano anunciou no final de abril que o Papa Francisco criou a Fun-

dação João Paulo I, atendendo a uma proposta que lhe fora feita de “dar vida a uma instituição destinada a aprofundar a figura, os pensamentos e os ensinamen-tos do seu venerável predecessor, o Papa João Paulo I - Albino Lu-ciani - e promover o estudo e a divulgação dos seus escritos”.

A fundação tem cinco objetivos fundamentais: proteger e preser-var a herança cultural e religiosa deixada pelo papa João Paulo I; promover iniciativas como con-ferências, reuniões, seminários, sessões de estudo; estabelecer prémios e bolsas de estudos; cuidar da atividade editorial, publicando os resultados dos próprios estudos e pesquisas e trabalhos de terceiros; propor--se como ponto de referência, na Itá-lia e no exterior, para aqueles que operam na mesma área e com os mes-mos fins.

Preside a esta Fundação o Cardeal Pietro Parolin, Secretá-rio de Estado do Vaticano.

Eleito Papa a 26 de agosto de 1978, João Paulo I morre 33 dias depois (28 de setembro), menos de um mês depois de ter sido entronizado (3 de setembro). O seu curto papado, contudo, mar-cou indelevelmente o ministério petrino pela simplicidade e pela bondade, embora o “Papa do Sor-riso” e antigo Patriarca de Vene-za fosse um homem de clareza exigente na doutrina, na mo-ral e no direito, o que lhe valeu também dissabores pastorais ao longo da sua vida.

João Paulo I - o homem com o lema de uma só palavra que

sempre o acompa-nhou: “Humildade”

- foi proclamado Venerável na sessão ordiná-ria da Congre-gação para a Causa dos Santos, no dia 7 de no-vembro de 2017.

“É doloroso recordar que, neste mesmo momen-to em diversos pontos

da terra, sofrem perseguição muitos cristãos; são os mem-bros ensanguentados do Corpo de Cristo que é a Igreja; irmãs e irmãos nossos, a quem expri-mimos fraterna solidariedade, com votos e esperança de que a tribulação deles termine quanto antes”. A constatação é do Papa Francisco, na Audiência Geral de 29 de abril, quando falava sobre a última das bem-aventuranças, que proclama a alegria escato-lógica das pessoas perseguidas por causa de Cristo. “A história - continuou o Papa - ensina que o

mundo, com as suas «estruturas de pecado», torna a mentalida-de humana fechada e hostil às sugestões do Espírito de Deus”. Mas, para além da constata-ção, o Papa Francisco adiantou também a explicação para este fenómeno doloroso e gravemen-te lesivo dos direitos humanos fundamentais, dizendo: “Na ver-dade, um mundo egoísta e indi-ferente sente-se incomodado à vista duma pessoa cuja vida é a prova de que se pode ser feliz na renúncia e na doação aos outros. Então o mundo ou aceita a pro-posta e se abre ao bem, ou rejeita a luz e endurece o coração, che-gando à violência e perseguição”.

FELICIDADE NA RENÚNCIA

Cristãos incomodam mundo egoísta e indiferente

NOVA FUNDAÇÃO VATICANA

Proteger, preservar e divulgar a herança cultural e religiosa de João Paulo I

De um Comunicado da CNBB (Conferência Nacio-nal dos Bispos do Brasil),

no dia 30 de abril: “É com perple-xidade e indignação que assisti-mos a manifestações violentas contra as medidas de prevenção ao coronavírus; que ouvimos de-clarações enviesadas de desprezo pela vida, por parte de agentes públicos sobre a morte de mi-lhares de brasileiros e brasileiras contaminados pela Covid-19; que vimos acontecer eventos aten-tatórios à ordem constitucional, com a participação de autorida-des públicas, onde se defendeu o encerramento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal

Federal, a volta do AI-5 e o retor-no aos sombrios tempos da dita-dura; que todo o Brasil soube de denúncias acerca da politização da justiça, ferindo sua necessária autonomia de investigação”. Em contraponto, a CNBB defende no mesmo Comunicado: “É tempo das palavras e atitudes serenas de paz, de fé e de esperança, de respeito às leis e à democracia”.

Dois dias depois (2 de maio), o Cardeal Hummes, uma velha voz de contestação ao antigo regime militar brasileiro, atual Arcebis-po de S. Paulo, Presidente da RE-PAM (Rede Eclesial Pan-Amazóni-ca) e Relator Geral do Sínodo dos Bispos para a região Pan-Amazó-

nica, veio a público manifestar a sua preocupação com a situação dos povos amazónicos: “A REPAM está muito preocupada e exige maior atenção da parte dos go-vernos em relação à essa grande região Pan-amazónica, por causa dessa enfermidade do novo Co-ronavírus que se alastra sempre mais por toda a região, que está muito menos preparada para enfrentar essa pandemia porque sempre foi muito desassistida da parte dos próprios governos, muito abandonada e, até mes-mo, constantemente destruída e reprimida na luta por seus direi-tos, por sua vida.

O índice de mortalidade nessa região é cada vez maior, sobre-tudo nas grandes cidades, mas também nas cidades médias. O colapso do sistema de saúde já está a dar-se em muitas delas e noutras vai acontecer muito rapidamente”.

IGREJA SOLIDÁRIA COM O POVO E OS POBRES

Bispos brasileiros perplexos e indignados

Este ano gostaríamos de par-tilhar convosco, como sem-pre costumamos fazer, uma

reflexão sobre a proteção dos lo-cais de culto.

Como sabemos, os locais de cul-to ocupam um lugar importante no cristianismo e no islamismo, e também noutras religiões. Para cristãos e muçulmanos, igrejas e mesquitas são espaços reservados para a oração, tanto pessoal como comunitária. São construídos e mobiliados de maneira a favorecer o silêncio, a reflexão, a meditação. São espaços de aprofundamento pessoal, favorecendo pelo silêncio a experiência de Deus. O local de culto de uma religião é, portanto, “uma casa de oração” (Isaías, 56, 7).

Os locais de culto são igualmente espaços de hospitalidade espiritual, onde os fiéis de outras religiões par-ticipam também de algumas ceri-mónias especiais, como casamen-tos, funerais, festas da comunida-de, etc. Enquanto participam dos eventos em silêncio e com o devido respeito às observâncias religiosas dos crentes dessa religião em par-ticular, também eles saboreiam a hospitalidade que lhes é dada. Tal prática é um testemunho privile-giado do que une os crentes, sem di-minuir ou negar o que os distingue.

Desse ponto de vista, vale a pena lembrar o que o Papa Francisco disse ao visitar a Mesquita Heydar Aliyev, em Baku (Azerbaijão), no do-mingo, 2 de outubro de 2016: “En-contrarmo-nos em espírito de fra-terna amizade neste local de oração é um sinal muito poderoso, que mostra a harmonia que as religiões podem construir juntas, baseada nas relações pessoais e na boa von-tade dos seus responsáveis”.

No contexto de ataques recentes a igrejas, mesquitas e sinagogas per-petrados por pessoas iníquas que parecem olhar os locais de culto como um alvo privilegiado para a sua violência cega e sem sentido, vale a pena observar o que o documento sobre “A fraternidade humana em prol da paz mundial e da convivên-cia comum”, assinado pelo Papa Francisco e pelo Grande Imame de Al-Azhar, Dr. Ahmad Al-Tayyeb, em Abu Dhabi, em 4 de fevereiro de 2019, disse: “A proteção dos locais de cul-to – templos, igrejas e mesquitas – é um dever garantido pelas religiões, pelos valores humanos, pelas leis e pelas convenções internacionais. Qualquer tentativa de atacar locais de culto ou de os ameaçar através de atentados, explosões ou demolições é um desvio dos ensinamentos das religiões, bem como uma clara vio-lação do direito internacional”.

Da Mensagem dirigida aos Muçulmanos pelo Conselho

Pontifício para o Diálogo Inter‑religioso, por ocasião do

Ramadão 2020, Tradução: Correio de Coimbra

Proteção dos locais de culto

O diretor da Sala de Im-prensa Vaticana, Matteo Bruni, emitiu um comu-

nicado no dia 29 de abril, o qual diz que “o Santo Padre estabele-ceu que, para este ano de 2020, a coleta do Óbolo de São Pedro, que tradicionalmente se realiza por ocasião da Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, em 29 de junho, será transferida em todo o mun-do para o XXVII domingo do tem-po comum, 4 de outubro, dia de-dicado a São Francisco de Assis”. O óbolo de São Pedro é o donativo das Igrejas de todo o mundo para a Igreja Universal, tanto para as despesas correntes do Vaticano como para a caridade universal da Igreja através do Santo Padre.

ÓBOLO DE SÃO PEDRO

Ofertório é a 4 de outubro

Todos os anos o Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso envia uma

Mensagem aos crentes muçul-manos por ocasião do Ramadão. A Mensagem deste ano, depois de uma saudação cordial, de-bruça-se particularmente sobre a Proteção dos Locais de Culto, exortando a uma ação comum de cristãos e muçulmanos a este nível. [ver colunas ao lado]. En-tretanto, como a Mensagem já tinha sido preparada antes da situação pandémica, o Cardeal Ayuso Guixot anexou uma pe-quena nota, para dizer: “Nesta

circunstância [Covid-19], en-quanto Presidente do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter--religioso, expresso a minha es-perança de que os cristãos e os muçulmanos, unidos em espíri-to de fraternidade, continuem a dar o seu testemunho de solida-riedade para com toda a huma-nidade, tão seriamente afetada, e preservem na sua oração a Deus Todo-Poderoso e Misericor-dioso, para que Ele possa esten-der a sua proteção sobre todos os seres humanos e para que estes tempos de dificuldade possam ser rapidamente superados”.

NO MÊS DO RAMADÃO

Mensagem de Guixot apela à proteção dos locais de culto

7 DE MAIO DE 2020

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