Drug Induced State of the Art

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Poster about the neuroscience of creativity.

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Contudo, a informação continua a fluir, desta vez longe do foco de aten-ção, no universo inconsciente, onde a análise é executada por circuitossubcorticais que, ao contrário do córtex, não estão sujeitos à limitação docampo de manuseamento conceptual ao domínio do possível ou atémesmo do aceitável para o indivíduo.Associações que, anteriormente, seriam impensáveis para o sujeito, sur-gem agora como uma nova parcela da equação, igualmente envolvida noprocessamento e avaliação. Esta liberdade de acção permite encontrar eregistar novas operações sobre o real, a tal ponto que, quando o indivíduoevoca novamente o problema, a solução surge-lhe instantaneamente,como que por magia.

Este trabalho pretende analisar as bases neurofisiológicas do mecanis- mo criativo (associação útil e original de conceitos), verdadeiromotor da evolução e do aperfeiçoamento humanos, enquanto pro- cura explicitar a estreita relação deste campo com a utilizaçãode substâncias alteradoras do estado de consciência, tão presen- tes nos meios artísticos e culturais onde “criar” é a palavrade ordem. O que está por detrás do impulso criativo? Poderá este ser regulado? Em que medida é que certas substânciaspoderão interferir com esta capacidade?

Drug Induc ed State Of The Art

A Influência de substâncias alteradoras do Estado deConsciência no processo Criativo

Neurofisiologia da Criatividade

O mecanismo por detrás do impulso criativo é complexo. Acima de tudo,é necessária uma base teórica considerável, um conhecimento extrema-mente aprofundado dos conceitos que irão ser trabalhados. Com o au-mento da compreensão de um conceito, este torna-se mais maleável epassível de ser aplicado a outros contextos e ligado a outras realida-d e s .Num vulgar processo de resolução de problemas, a associação conceptual,que ocorre no córtex pré-frontal (responsável pelo pensamento, raciocínioe função executiva), permite obter uma solução "analítica" para um de-terminado problema.

Os termos são ligados de forma metódica, como peças de um puzzle, che-gando a um resultado coerente. Ora, este resultado, por muito lógico oubizarro que possa parecer, encontra-se, mesmo antes da sua concepção,altamente condicionado por episódios pessoais, dogmas e teoremas sobreo funcionamento do "mundo exterior", que todos os indivíduos adquiremno decorrer do seu desenvolvimento enquanto “estratégias” para melhorcompreender e assimilar a realidade em todas as suas vertentes. Leis danatureza, convenções sociais, normas culturais, restrições espácio-tem-porais, …, são várias as limitações colocadas ao "livre manuseamento"dos conceitos. Assim, quando se esgotam as opções "permitidas pelas re-gras", a análise consciente do problema sofre, pura e simplesmente, um bloqueio.

CriatividadeEstruturas mais activas Estruturas mais inibidasCórtex pré-frontalCórtex parietalEstruturas subcorticaisSistema límbico( + DOPAMINA)

Córtex temporalCórtex cingulado

( - DOPAMINA)

A criatividade, a doença mental e a medicação psiquiátrica

A associação entre a doença mental / neurológica e a criatividade en-contra-se extensamente documenta na literatura e na história da civili-zação ocidental.De facto, a imersão no mundo imaginário, aliado a um afastamento darealidade, faz parte da sintomatologia de várias perturbações do foropsiquiátrico, como a esquizofrenia, a demência, o autismo, a doença bi-polar e a depressão, o que terá uma repercussão posi tiva no potencialcriativo do indivíduo, pois a pressão do mundo exterior sobre o mesmoserá menor, bem como a restrição à imaginação.Também a medicação administrada nestas situações pode interferir coma criatividade. Os antipsicóticos (como o haloperidol), administrados na esquizofreniae no síndrome de Tourette, dadas as suas características de antagonistasdopaminérgicos , reduzem os sintomas positivos (alucinações), mas au-mentam os negativos (empobrecimento), inibindo a criatividade dado odéfice induzido de dopamina nas vias subcorticais. Também a ritalina, administrada em c asos de ADHD, reduz a impulsivi-dade e desorganização do pensamento características, tão particularesde pensadores como Einstein, Churchill e Salvador Dali.Por outro lado, os agonistas dopaminérgicos, como os antiparkinsónicos(ropinirol), reforçam o efeito deste neurotransmissor, com aumento dascapacidades artísticas e precisão visual dos pacientes em tratamento.

Fig. 1: Via da criatividade proposta por Chakravarty: de notar que a associação conceptualocorre no córtex pré-frontal ventromedial (VMPFL), enquanto que a projevcção do conceitoocorre na porção dorsolateral (DLPFL). Os conceitos são”armazenados” no lobo temporal ant.

Substâncias que modulam o processo criativoNOOTRÓPICOSTambém referidos como “estimuladores cognitivos” (cognitive enhancers) são fármacos que aumentam fun-ções mentais como cognição, memória, inteligência, motivação, atenção e concentração (e.g.Piracetam).Me-lhora o metabolismo do cérebro, aumentando o uso de glicose e o fluxo de sangue e oxigênio. Fortalecereceptores de neurotransmissores envolvidos na memória e neuroprotecção. Estimula o corpo caloso, au-mentando a comunicação entre ambos os hemisférios. Envolvido na fala e pensamento criativo. Estimula olocus coeruleus. Envolvido no processamento de informações, atenção, excitação cortical/comportamental,aprendizagem e memória.

PSICOTRÓPICOSAs drogas psicoactivas são divididas em três grupos de acordo com os seus efeitos. Estimulantes: substânciasque despertam uma pessoa, estimulam a mente, e podem causar euforia, mas não afectam a percepção.Exemplos : café, chá, tabaco, cocaína, anfetaminas. Depressores: sedativos, hipnóticos e narcóticos. Substân-cias calmantes, indutoras de sono, redutoras de ansiedade, anestésicas, que às vezes induzem alterações per-ceptivas. Exemplos: opióides, barbitúricos, benzodiazepinas e álcool. Alucinógenos (psicodislépticos):psicadélicos, dissociativos e delirantes. Esta categoria inclui todas as substâncias que produzem alteraçõesdistintas na percepção, sensação de espaço e tempo, e estados emocionais. Exemplos: a psilocibina, o LSD, aSalvia divinorum, os canabinóides e o óxido nitroso.

Alucinogénos. Podem afectar o sistema dopaminérgico e antagonizam os receptores de serotonina no cérebro, causando uma excitação geral. Evidências sugerem que os alucinógenos como o LSDdeslocam os potenciais de acção em direcção ao hemisfério direito do cérebro. Não induzem criatividade,mas apenas desbloqueiam-na, mudando a concentração para o hemisfério direito. O hemisfério direito émais utilizado que o esquerdo em artistas.A ligação de alucinogénos canabinóides (cannabis, haxixe, marijuana) aos receptores CB-1 e -2 favorece a formação de anandamida, que se liga ao tálamo (estimulação das vias subcorticais e distorção sensorial), sistema límbico (exacerbação das emoções) e hipocampo (memória).

Alcoól. Em vários estudos observaram-se efeitos mínimos do álcool na criatividade. No entanto, indivíduosque pensaram estar a receber álcool deram bastante melhor avaliação à sua performance criativa do que ossujeitos que creram estar no grupo de tratamento sem álcool. Mecanismo de acção: Inibição dos receptoresNMDA - [cortex, hippocampus and nucleus accumbens] – responsáveis pela memória (LTP), pensamento eprocura de prazer. Estimulação dos recptores GABA A - [hippocampus] - ansiolítico, anticonvulsivante, amné-sico, sedativo, hipnótico e euforizante.

Opióides. Os opióides ligam-se a receptores opióides específicos no sistema nervoso. Há três classes princi-pais de receptores opióides,os μ, k, δ (mu, kappa e delta). Além de euforia e de efeitos de recompensa dosopióides, devido à estimulação de uma via dopaminérgica termina no núcleo accumbens, os efeitos ao níveldo SNC de drogas opióides incluem náuseas e vómitos(medula), diminuição da percepção da dor (medula es-pinhal, tálamo, e região cinzenta periaquedutal) e sedação (sistema activador reticular).

ConclusãoA partir destess dados verficamos que ainda falta conhecimento para compreender com clareza os substratosda criatividade. Apesar dessa limitação, que tem vindo a ser ultrapassada, já se pode verificar cientificamenteo que ja tinha sido relatado por diversos autores acerca do efeito de substâncias na potenciação da criativi-dade. Ainda assim permanece incerto o contributo para a criatividade de alguns estimuladores cognitivos, noentanto em relação ao alcoól, já estamos bastante elucidados, parecendo não haver contributo relevante.Pelo contrário, os alucinogénios aparecem como sendo das substâncias que mais favorecem a criatividade,apesar de este contributo ser bastante determinado pelo conhecimento e destreza prévios da pessoa.

Uma investigação futura mais exaustiva sobre os efeitos destes fármacos no processo criativo é fundamental. Só assim poderá haver uma reflexão em que se pese as vantagens, sobre o processo criativo contra

os perigos que o consumo da maioria destas drogas representa. Sendo igualmente de ressalvar que em estudos feitos nenhum comprovou um aumento absoluto da criatividade, mas antes uma desinibição dos processos cognitivos ditos cria-tivos.

Bibliografia Recomendada: O Poder do Cérebro – O Consciente e o Inconsciente, Reader’s Digest, 2004; Cognition enhancers between treating and doping the mind, Lanni C. et al., 2008;; Frontotemporal and dopami-nergic control of idea generation and creative drive, Alice W. Flaherty ,2008; The neural circuitry of visual artistic production and appreciation: A proposition, Ambar Chakravarty, 2012;

Gonçalo Cunha Coutinho, nº 12876; José Ant ónio Cunha Coutinho, nº 12866;Rodrigo Costa Lobo, nº 12700

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