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EDUCAÇÃO DIGITAL BRASILEIRA: POSSIBILIDADES E DESAFIOS
Debora Valletta
Resumo
As tecnologias digitais (TD) facilitaram o acesso a informações e conhecimentos. Com
rapidez e interação com os diversos tipos de mídias, um maior número de pessoas busca
explorar, experimentar, participar, colaborar e compartilhar conteúdos por meio dos
dispositivos móveis conectados à Internet. Isso se deve ao fato de que, os dispositivos móveis
têm possibilidades de conexão via wifi (rede sem fio) e/ou 3G/4G (sistemas de comunicação
disponível em smartphones, tablets ou modens do tipo USB) possibilitando o uso de
plataformas adaptativas e outros recursos didáticos tecnológicos. O presente texto tem como
objetivo articular alguns elementos que foram tratados e estudados na disciplina Educação
Brasileira de um curso de pós-graduação, em uma universidade particular do sul do Brasil.
Adotou-se a metodologia de pesquisa exploratória e documental como forma de se
familiarizar com o fenômeno investigado – os programas de educação digital no Brasil a
partir das políticas educacionais.
Palavras-chave: Tecnologias Educacionais, Políticas Educacionais, Programas de Educação
Digital.
INTRODUÇÃO
Discutir tecnologias educacionais e programas de educação digital, no Brasil, passa
necessariamente pela reflexão sobre as políticas educacionais em diferentes esferas sociais.
Além disso, há uma nítida interdependência entre a esfera privada e a pública, à medida que
os programas de educação tecnológica utilizam os mesmos recursos tecnológicos a favor do
processo de ensino e da aprendizagem.
Akkari (2011) em sua obra Internacionalização das Políticas Educacionais aborda as
principais mudanças na educação devido ao início do processo de globalização. Partindo
desse pressuposto, algumas questões que merecem destaque para o atual contexto da
sociedade contemporânea, daí a necessidade de se realizar uma breve revisão histórica das
principais transformações acerca das políticas educacionais no Brasil.
A obra retrata a internacionalização do Estado como, Estado avaliador e regulador. No
contexto histórico é importante ressaltar que a partir do século XIX o Estado e a formação dos
Estados nacionais passam a ser o Estado educador.
O Estado assume o papel de educador, embora a Igreja tenha um papel no cenário
educacional. Gradativamente, com a implantação da República, o Estado e as escolas laicas,
assumem o papel de Estado educador. Atualmente, além de ser um Estado educador também é
2
um Estado regulador e avaliador, acredita-se que é nessa questão que há uma marca
significativa para a História da Educação. Diante desta mudança, ao consenso mundial a favor
da descentralização, está a Educação Básica.
Brock e Schwartzman (2005) referenciam que o currículo também deve ser
diferenciado por séries, e de que todos os termos políticos entre educação e escola têm que
estar vinculados a globalização econômica. Os autores ainda afirmam que, também há “vários
problemas sérios de relevância e conteúdo que afetam sobretudo o ensino médio” (BROCK;
SCHWARTZMAN, 2005, p. 13). Percebe-se a ideia de regulação por meio do poder
econômico, político e social.
O currículo não é ingênuo e há uma formatação, pois trabalha com as reformas do
ensino contemporâneo. Ao se espelhar em experiências e fazer “dar certo” como as escolas de
sucesso no exterior, o currículo pode ser remetido à questão citada por Anísio Teixeira na
década de 50, do século XX, como transplante de modelos educacionais. Seleciona-se o que é
bom e implementa, não se importando na adaptação do contexto de mundo (econômico,
social, política e cultural).
Nos dias atuais, é possível tratar o currículo como ressonâncias dessas políticas
educacionais em determinado contexto. No caso do Brasil, que “copiou” o ensino do modelo
francês, que por sua vez foi criado na Inglaterra, pode-se dizer que o modelo francês já era
outra ressonância em alguns aspectos.
Akkari (2011) relata que a adaptação econômica denominada de Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC) acelera os processos de descentralização e privatização de
todos os setores, é uma forma de privatizar e delegar a outras Organizações não
Governamentais (ONGs). O Estado financia e quem faz a aplicação são os setores privados.
Padrões educacionais como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB),
são formas de classificação que vão se modelando de acordo com algumas inovações, como a
reabilitação do antigo Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP). Nesse sentido,
ocorre o que Brock e Schwartzman (2005) denominam de “Mackdonaldização”, uma
padronização em todas as escolas que estão vinculadas ao programa, sendo uma formatação
na qual todos os indivíduos passam pelo mesmo processo, não interessando o contexto de
cada instituição. Para Akkari (2011) trabalha-se com dois elementos/visões que trazem as
diferenças instanciais e os rankings: visão humanística e instrumental.
Cita-se a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) que têm uma visão mais
humanística e, todas aquelas ligadas à economia de visão instrumental como o Banco
3
Mundial, Fundo Monetário Internacional (FMI), Organização Mundial do Comércio (OMC) e
Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A própria questão
do campo é notada em todos esses, que tem uma visão instrumental de solução de problemas e
atendimento.
É a área instrumental que de alguma forma estabelece os rankings (Akkari, 2011), na
qual o indivíduo se instaura no aprender fazendo, que hoje é a política do Programa Nacional
de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) refletindo na descentralização da
gestão. O aprender fazendo já fazia parte do século XIX, época em que surgiu a Escola Nova
– movimento de renovação do ensino, tais como o pragmatismo americano de Dewey que
influenciou a elite brasileira com este movimento (SOUZA; MARTINELI, 2009).
Leopoldi (2002) discute os aspectos da obra do filósofo Rousseau, que também aborda
a questão do aprender fazendo, o observar a natureza e aprender com a natureza que é mesmo
princípio (aprender olhando, fazendo, manipulando etc.).
Criada desde em meados do século XX, a UNESCO tomou a função da Educação e
Cultura. Desde então, faz reuniões que emitem um relatório a cada dez anos. Entre as
publicações disponíveis está o relatório denominado “Um Tesouro a Descobrir”foi elaborado
e organizado por Jacques Delors, no qual além de retratar a educação para o século XXI
também aborda os quatro pilares do saber, os quais se configuram em: aprender a conhecer,
aprender a ser, aprender a conviver e aprender a fazer. Delors (2010) descreve o resultado da
reunião na qual todos os países firmaram um acordo em prol da Educação, bem como destaca
o que se deve avançar e, em qual perspectiva.
Nesse sentido, houve uma mudança do aprender a fazer para o aprender a aprender.
Nesse documento divulgam-se os parâmetros para a sociedade global – via de rega: no qual
temos que chegar. Delors (2010) de forma implícita nos remete ao Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes (PISA). Segundo informações apresentadas pelo Portal do INEP
(2011) o PISA “é uma iniciativa internacional de avaliação comparada, aplicada a estudantes
na faixa dos 15 anos, idade em que se pressupõe o término da escolaridade básica obrigatória
na maioria dos países”. Os países que não estão próximos das metas estabelecidas, no que diz
respeito às competências de leitura, escrita e matemática, devem criar planos de ação para
buscar os resultados.
Uma exigência válida para todos os países, mediante a adaptação a modalidades e
conteúdos diferentes: o reforço da educação básica; daí, a ênfase atribuída ao ensino
primário e a suas aprendizagens básicas clássicas – ler, escrever, contar –, assim
como a possibilidade de se exprimirem uma linguagem suscetível de facilitar o
diálogo e a compreensão (UNESCO, 2010, p.31).
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Sob outra perspectiva, a propaganda (banner) do Programa Federal Brasileiro lançada
em 2009 informa aos cidadãos a nova medida da Educação, deixando clara a sua posição
quanto à valorização dos índices– melhorar a qualidade de ensino no Brasil. Além disso,
ressalta a importância de relacionar os parâmetros desses rankings, que na realidade
funcionam – preservada as proporções - como os testes psicológicos de Quoeficiente
Intelectual (QI) do início do século XX.
Figura 1 – Estimativa do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
Fonte: MEC (BRASIL, 2009)
Nesse sentindo, Souza Junior (2012) apresenta o resumo da obra do autor, Carlos
Monarcha, “Brasil arcaico: escola moderna”, na qual relata a transição urbana de uma
educação arcaica a uma educação cientificamente estruturada - tudo pode ser testado como as
Ciências Exatas.
PLATAFORMA DIGITAL: MEIO PARA DIAGNOSTICAR O NÍVEL DE
COMPETÊNCIAS DOS ALUNOS
Em 2013, a empresa brasileira, a Geekie Games, recebeu certificação do INEP para
aplicar as avaliações de acordo com a Teoria de Resposta ao Item (TRI), que é a mesma
metodologia utilizada no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). De acordo com o site
da ONG Todos pela Educação, a plataforma digital possibilita aos alunos estudos
preparatórios para o ENEM por meio de ferramentas de diagnóstico e estudo personalizado -
para auxiliar os estudantes com conteúdos e exercícios com foco no desenvolvimento de
competências que foram diagnosticadas como abaixo do nível básico/básico, além de fornecer
aos professores acesso aos resultados dos alunos. Isso porque a ferramenta possui uma
5
estrutura que permite “mapear” as habilidades que não foram desenvolvidas e, propor de
forma “automática” e “personalizada” um plano de estudos para o estudante.
Segundo Coll e colaboradores (2010), ambientes virtuais de ensino e aprendizagem
que se adaptam ao usuário são vistos como oportunidades para auxiliar no desenvolvimento
de atividades que promovam a personalização, possibilitando ao aluno e professor autonomia
para as necessidades do processo de construção do conhecimento. Nesse sentido, a UNESCO
(2010) recomenda: Diversificação e aprimoramento do ensino a distância, pelo recurso às
novas tecnologias; Crescente utilização dessas tecnologias no âmbito da educação de adultos,
em particular, para a formação contínua de professores; Privilegiar, em todos os casos, a
relação entre professor e aluno; as tecnologias de última geração.
Assim, parcerias com empresas privadas geram um novo mercado a partir da
Educação (AKKARI, 2011). Isso provoca mudanças no contexto social, pois há maior
concorrência para o ingresso às universidades públicas.
Será que o acesso às ferramentas tecnológicas como, uma plataforma adaptativa
digital (software), artefatos móveis (hardware) entre outros tipos de tecnologias de
informação e comunicação (TICs), auxiliaria/facilitaria o processo do ensino e aprendizagem?
Quais as possibilidades e limitações? Essas plataformas realmente estão focadas em
competências e habilidades ou ainda continuamos no conteúdo? E quanto às implicações no
uso dessas TICs? Qual/Quem seria a equipe de apoiadores para trabalhar, analisar, avaliar e
socializar os resultados obtidos?
DA TELEVISÃO AOS PROGRAMAS DIGITAIS DO GOVERNO FEDERAL
A televisão é um artefato que exerceu e ainda exerce muita influência nas vidas de
grande parte da população brasileira. Segundo dados do IBGE (2010), a população brasileira
tem mais televisores do que rádio, se comparados ao Censo de 2000.
O antigo Ministério da Educação e Cultura (MEC) criou em 1996 a TV Escola, que é
um canal de televisão que auxilia na formação continuada de professores da rede pública.
Com a chegada da Internet e seus serviços os recursos audiovisuais (conteúdos) podem
também ser acessados pela Internet e baixando aplicativos para smartphones e tablets para ter
o acesso a TV Escola.
Não é por acaso que Gómez (2014, p. 136) é enfático quando afirma que “os
telespectadores clássicos foram adquirindo novas maneiras de estar e de interagir com a
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televisão”, ou seja, de “assistir à televisão”, e vão aprendendo outras com as “novas
televisões”. Isso deve-se ao fato de que após o advento da Internet e seus serviços mudaram-
se os hábitos e comportamentos da sociedade.
Por outro lado, é importante destacar as estratégias do Plano Nacional de Educação
(PNE) no que concerne à implantação de tecnologias educacionais ao longo dos próximos
anos. Tensões e possíveis desafios que possam emergir a respeito da educação digital1 no
contexto brasileiro. Isso também se deve ao fato da mudança ou não da gestão dos candidatos
eleitos de 2014 em decorrência das estratégias informadas no site do PNE. A partir da leitura
do PNE foram selecionadas algumas estratégias e, que são apontadas para as metas 5, 7, 9, 14
e 15. São elas:
5.3) selecionar, certificar e divulgar tecnologias educacionais para a alfabetização de
crianças, assegurada a diversidade de métodos e propostas pedagógicas, bem como o
acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em que forem aplicadas,
devendo ser disponibilizadas, preferencialmente, como recursos educacionais
abertos [...]
5.4) fomentar o desenvolvimento de tecnologias educacionais e de práticas
pedagógicas inovadoras que assegurem a alfabetização e favoreçam a melhoria do
fluxo escolar e a aprendizagem dos (as) alunos (as), consideradas as diversas
abordagens metodológicas e sua efetividade [...]
5.6) promover e estimular a formação inicial e continuada de professores (as) para a
alfabetização de crianças, com o conhecimento de novas tecnologias educacionais e
práticas pedagógicas inovadoras, estimulando a articulação entre programas de pós-
graduação stricto sensu e ações de formação continuada de professores (as) para a
alfabetização [...]
7.12) incentivar o desenvolvimento, selecionar, certificar e divulgar tecnologias
educacionais para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio e
incentivar práticas pedagógicas inovadoras que assegurem a melhoria do fluxo
escolar e a aprendizagem, assegurada a diversidade de métodos e propostas
pedagógicas, com preferência para softwares livres e recursos educacionais abertos,
bem como o acompanhamento dos resultados nos sistemas de ensino em que forem
aplicadas [...]
7.15) universalizar, até o quinto ano de vigência deste PNE, o acesso à rede mundial
de computadores em banda larga de alta velocidade e triplicar, até o final da década,
a relação computador/aluno (a) nas escolas da rede pública de educação básica,
promovendo a utilização pedagógica das tecnologias da informação e da
comunicação.
9.11) implementar programas de capacitação tecnológica da população jovem e
adulta, direcionados para os segmentos com baixos níveis de escolarização formal e
para os (as) alunos (as) com deficiência, articulando os sistemas de ensino, a Rede
Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, as universidades, as
cooperativas e as associações, por meio de ações de extensão desenvolvidas em
centros vocacionais tecnológicos, com tecnologias assistivas que favoreçam a
efetiva inclusão social e produtiva dessa população [...]9.12) considerar, nas
políticas públicas de jovens e adultos, as necessidades dos idosos, com vistas à
promoção de políticas de erradicação do analfabetismo, ao acesso a tecnologias
educacionais e atividades recreativas, culturais e esportivas, à implementação de
programas de valorização e compartilhamento dos conhecimentos e experiência dos
idosos e à inclusão dos temas do envelhecimento e da velhice nas escolas [...]
1 Neste texto entende-se como educação digital o uso com sentido e significado dos recursos e tecnologias
educacionais disponíveis para o professor e aluno.
7
14.4) expandir a oferta de cursos de pós-graduação stricto sensu, utilizando
inclusive metodologias, recursos e tecnologias de educação a distância.
15.6) promover a reforma curricular dos cursos de licenciatura e estimular a
renovação pedagógica, de forma a assegurar o foco no aprendizado do (a) aluno (a),
dividindo a carga horária em formação geral, formação na área do saber e didática
específica e incorporando as modernas tecnologias de informação e comunicação,
em articulação com a base nacional comum dos currículos da educação básica, de
que tratam as estratégias 2.1, 2.2, 3.2 e 3.3 deste PNE (BRASIL, 2014).
Ao elencar as principais estratégias explícitas no documento do PNE, destacam-se
ações já realizadas e/ou em andamento que estão representadas em Programas do governo
Federal: Proinfo, Prouca e Tablet Educacional.
Conforme descrição no Portal do MEC, o Programa de Tecnologia Educacional
(Proinfo) é um programa educacional que tem como objetivo promover o uso pedagógico da
informática na rede pública de educação básica. O programa leva às escolas computadores,
recursos digitais e conteúdos educacionais. Em contrapartida, estados, Distrito Federal e
municípios devem garantir a estrutura adequada para receber os laboratórios e capacitar os
educadores para uso das máquinas e tecnologias; o Programa Um Computador por Aluno
(Prouca) é “um programa pelo qual estados, municípios e o Distrito Federal podem adquirir
computadores portáteis novos para uso das suas redes públicas de educação básica” e, por fim
o Tablet Educacional que tem como propósito “garantir as condições de acesso às novas
tecnologias de informação e comunicação nos contextos social, acadêmico e escolar aos
professores e estudantes das escolas públicas do país,” por meio do ProInfo Integrado2.
PROUCA E OS NETBOOKS
A história dos netbooks iniciou em 2005, no Fórum Econômico Mundial de Davos,
na Suíça, quando o pesquisador norte americano Nicholas Negropont apresentou o projeto
One Laptop per Child (OLPC).
O desafio era criar/produzir um computador que não custasse mais de $100 (cem
dólares) e, assim, garantir o direito de todas as crianças terem um computador, em especial
àquelas que estão em condições desfavoráveis na sociedade. De acordo com a OLPC sua
missão OLPC é
2 O ProInfo Integrado é um programa de formação voltada para o uso didático-pedagógico das Tecnologias da
Informação e Comunicação (TIC) no cotidiano escolar, articulado à distribuição dos equipamentos tecnológicos
nas escolas e à oferta de conteúdos e recursos multimídia e digitais oferecidos pelo Portal do Professor, pela TV
Escola e DVD Escola, pelo Domínio Público e pelo Banco Internacional de Objetos Educacionais (FNDE,
2007).
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oferecer oportunidades educacionais para as crianças mais pobres do mundo, dando
a cada uma dela um laptop robusto, de baixo custo, com baixo consumo de energia,
conectado à Internet, bem como ferramentas projetadas para a colaboração e a
aprendizagem.
Inicialmente, a utilização seria para fins educacionais, logo vários governos e
pesquisadores apoiaram esse desafio e, auxiliaram a desenvolver o primeiro protótipo – XO3.
Por meio dos recursos facilitadores da web, canais de comunicação, as notícias sobre o
novo “recurso didático” espalharam-se pelo mundo e foram contextualizados para o Brasil.
Surgiu o projeto denominado de PROUCA – Programa Um Computador por Aluno.
A partir das discussões acadêmicas, um grupo de pesquisadores da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) junto com uma equipe do governo passou-se a
difundir que os netbooks com acesso à Internet poderiam ser uma ferramenta com
possibilidades para: inclusão digital; melhorar a qualidade da educação no Brasil; inserção da
indústria brasileira no processo.
Após a fase de experimentação, o governo Federal adquiriu, por meio do pregão
107/2008, 150 mil netbooks para distribuir e, assim contemplar 300 escolas públicas
espalhadas pelo Brasil.
NETBOOKS: LIMITES E POSSIBILIDADES
A tecnologia pode ser uma aliada e potencializar o processo de ensino aprendizagem
dos educandos. No entanto, se faz necessário também, estar atento à construção significativa
de novos saberes para incluir os educandos com necessidades especiais4, a fim de atender suas
perspectivas envolvendo-os no fascinante mundo digital.
Os netbooks têm duas características interessantes que proporcionam rumos e geram
mudanças/possibilidades à nova sociedade: a mobilidade e o acesso à Internet. Isto porque o
ciberespaço permite observar novos horizontes, conhecimento, comunicação e, além de
outros fatores como, por exemplo, a questão da autogestão5.
Enfatizando no que se diz respeito ao espaço virtual e sua estrutura de organização,
Castells (2000, p. 498) ressalta ainda que “uma estrutura que permite desconstrução e
reconstrução contínua, suplantação do espaço e invalidação do tempo, e também, uma
3 O modelo XO foi um protótipo de $100 desenvolvido para o projeto OLPC.
4 Neste trabalho, entende-se necessidades especiais como: necessidades comuns utilizadas por qualquer outro
tipo de usuário da Internet, isto é, não se aplica, única e exclusivamente, às pessoas com deficiência. Por
exemplo: baixa visão. 5 As pessoas com deficiência (independente da deficiência) podem realizar atividades comuns por meio da
Internet.
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reorganização rápida e drástica das relações de poder”. A possibilidade de se conectar à
Internet e interagir a qualquer hora do dia com pessoas de diferentes culturas talvez possa
provocar mudanças culturais na sociedade.
É importante destacar que o processo de construção do conhecimento não começa a
partir das leis (Decretos), mas com a legitimidade de atitudes da sociedade, que por meio de
diversas manifestações6 reivindicam direitos humanos e impulsionam a mudanças
7,
adequação e implementação da legislação.
No caso dos netbooks se faz necessário algumas medidas, em caráter de urgência,
visto que ainda não foram totalmente desenvolvidos para fins educacionais. Com base na
experiência profissional de implementação de tecnologias educacionais em algumas escolas
públicas do estado de São Paulo (Cajuru, Sud Menucci, entre outras) e formação acadêmica, a
autora desta pesquisa, faz inferência, sobre o uso destes netbooks nas escolas e, percebe-se
que alguns alunos com dificuldades de aprendizagem, com transtornos do desenvolvimento
entre outras situações tem dificuldade em utilizar o equipamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os estudos desta pesquisa - que versou sobre os programas de educação digital no
Brasil a partir das políticas educacionais - trazem indícios de que é necessário tornar acessível
as tecnologias educacionais a todos os estudantes e professores da Educação Básica. Acredita-
se que para se tornar realidade, o PNE, é fundamental a formação continuada dos docentes
que estão envolvidos direta ou indiretamente em projetos educativos digitais para dar sentido
ao uso das tecnologias educacionais na escola ou fora dela.
Atualmente, o Brasil tem o projeto Tablet Educacional e a OLPC desenvolve o
programa OLPC Tablet. Todavia, cabe indagar como serão administradas as verbas
concernentes às políticas públicas para a inserção de tecnologias educacionais advindos de
novos artefatos? Qual o plano de governo para a implementação de novas metodologias de
ensino e recursos didáticos tecnológicos referente/no que concerne ao desenvolvimento
profissional dos professores? A tecnologia é um recurso didático que favorece o processo de
construção do conhecimento a tal ponto de propiciar o aumento do nível de proficiência nas
avaliações em larga escala como, a Prova Brasil e o PISA (melhorar o rankeamento)?
6 Por meio de abaixo-assinado, articulação pelas redes sociais, entre outras.
7 Como por exemplo, as articulações do poder das mídias. O movimento das redes sociais ao longo das últimas
décadas.
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É imprescindível estar mais atentos às questões associadas à inserção da equidade na
Educação. Pois, na inserção dentro de um sistema, a percepção para processos de inclusão
exige um amadurecimento do educador e da gestão dos recursos. Afinal, a Educação é direito
de todos e dever do Estado e da família.
Nesse sentido, a autora deste trabalho acredita que algumas adaptações/mudanças são
necessárias e urgentes para o melhor desempenho e aproveitamento do equipamento, além é
claro, da integração das TICs ao contexto social e digital das crianças e jovens brasileiros. Por
exemplo:
Tornar a tela acessível ao toque;
Software em português para o leitor de tela;
Software para ampliar a tela (lupa);
Teclas para auxiliar pessoas com deficiência auditiva;
Disponibilizar conteúdo digital adequado para professores e estudantes;
Estimular e priorizar as Universidades em programas de pós-graduação em
“Acessibilidade web”;
Propor parceria com as indústrias brasileiras na área de ergonomia;
Identificador de luminosidade;
Teclado opcional (dispositivo alternativo);
Conexão integral com Internet de qualidade, tanto nos espaços urbanos quanto
rurais;
Servidor para armazenar as atividades desenvolvidas;
Instalação de softwares específicos para auxiliar o professor e potencializar a
construção de novos saberes dos alunos;
Instalação de cortinas/persianas nas salas para melhor visualização da tela.
Cumpre mencionar que essas sugestões de mudança foram descritas a partir do
modelo que foi adotado, pelo próprio PROUCA.
É primordial propor/sugerir mudanças significativas durante os processos de
implementação dos projetos que envolvem a educação digital. Propiciar situações de
aprendizagem ao aluno de forma personalizada, com ferramentas eficientes para acessar,
permanecer e concluir de forma efetiva a educação básica. O fazer abre outros caminhos com
oportunidades para se apropriar do conhecimento com autonomia, criatividade, criticidade, na
aquisição de novos saberes, pois, são recursos indispensáveis para se exercer o direito à
cidadania digital.
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Esta ação é um dos meios para contribuir nos efeitos da prática de exclusão, rumo à
democratização de conhecimentos por meio das tecnologias educacionais.
Os estudos deste trabalho mostraram que, as tecnologias são importantes ferramentas
para o uso educacional e, devem ser inseridas no planejamento como política pública de
inclusão. Não se pode deixar de reconhecer que o ideal é manter um espaço de colaboração
para registrar/discutir as ideias, para compartilhar a prática de docentes e os que auxiliam nos
laboratórios de informática, em diferentes contextos culturais, econômicos e sociais. Até
quando se deve tolerar que os meios e os recursos didáticos para auxiliar no desenvolvimento
de competências e habilidades dos estudantes, que geram “resultados” significativos ou não,
em relação à integração dos alunos e professores na esfera educativa digital, continue a
patinar?
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