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1 DESAFIOS E POSSIBILIDADES PARA A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO ASSIS, Aline Tatiane Silva de 1 OLIVEIRA, Cibeli Pacheco Melo 2 MARTINS, Eliana Bolorino Canteiro 3 RESUMO O presente artigo traz os resultados da pesquisa intitulada: Serviço Social na Educação: desafios e possibilidades para a atuação profissional do Assistente Social, realizada no município de Franca (SP). A referida pesquisa aproximou-se dos profissionais da educação para a compreensão de suas perspectivas acerca da atuação profissional do Assistente Social nesta Política Social, e do Projeto de Lei 3688/ 2000, que dispõe sobre a inserção de Assistentes Sociais e Psicólogos na Política de Educação. Utilizou-se, para tanto, de abordagem quantitativa na elaboração do perfil profissional dos sujeitos da pesquisa e qualitativa, com o grupo focal para a obtenção de dados que subsidiaram a interpretação acerca da temática proposta e alcance dos objetivos da pesquisa. Dessa forma, foi possível compreender os desafios a respeito da Política Educacional e a percepção que os profissionais da educação possuem sobre o Serviço Social, enquanto profissionais atuantes na política de educação. Constatou-se que a percepção relativamente ao trabalho desenvolvido pelo Assistente Social é superficial, sendo necessário aprofundamento do debate com esses profissionais, que se demostraram acessíveis a isso. Outrossim, foi considerado também a importância desse profissional neste campo sócio-ocupacional, tendo em vista a complexidade das relações estabelecidas na contemporaneidade que tem seus rebatimentos direto na política de educação. Palavras-chave: Política de Educação. Serviço Social. Projeto de Lei. 1 Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp- Franca). [email protected] . 2 Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp- Franca). [email protected] . 3 Doutora em Serviço Social pela PUC- SP. Docente do Departamento de Serviço Social- Unesp Franca e Coordenadora do GEPESSE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Serviço Social na Educação. [email protected] .

DESAFIOS E POSSIBILIDADES PARA A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO ... · O presente artigo traz os resultados da pesquisa intitulada: Serviço Social na Educação: desafios e possibilidades

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DESAFIOS E POSSIBILIDADES PARA A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO

ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO

ASSIS, Aline Tatiane Silva de1

OLIVEIRA, Cibeli Pacheco Melo2

MARTINS, Eliana Bolorino Canteiro3

RESUMO

O presente artigo traz os resultados da pesquisa intitulada: Serviço Social na Educação:

desafios e possibilidades para a atuação profissional do Assistente Social, realizada no

município de Franca (SP). A referida pesquisa aproximou-se dos profissionais da educação

para a compreensão de suas perspectivas acerca da atuação profissional do Assistente Social

nesta Política Social, e do Projeto de Lei 3688/ 2000, que dispõe sobre a inserção de

Assistentes Sociais e Psicólogos na Política de Educação. Utilizou-se, para tanto, de

abordagem quantitativa na elaboração do perfil profissional dos sujeitos da pesquisa e

qualitativa, com o grupo focal para a obtenção de dados que subsidiaram a interpretação

acerca da temática proposta e alcance dos objetivos da pesquisa. Dessa forma, foi possível

compreender os desafios a respeito da Política Educacional e a percepção que os profissionais

da educação possuem sobre o Serviço Social, enquanto profissionais atuantes na política de

educação. Constatou-se que a percepção relativamente ao trabalho desenvolvido pelo

Assistente Social é superficial, sendo necessário aprofundamento do debate com esses

profissionais, que se demostraram acessíveis a isso. Outrossim, foi considerado também a

importância desse profissional neste campo sócio-ocupacional, tendo em vista a complexidade

das relações estabelecidas na contemporaneidade que tem seus rebatimentos direto na política

de educação.

Palavras-chave: Política de Educação. Serviço Social. Projeto de Lei.

1Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp- Franca). [email protected]. 2 Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp- Franca). [email protected]. 3 Doutora em Serviço Social pela PUC- SP. Docente do Departamento de Serviço Social- Unesp Franca e Coordenadora do GEPESSE – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Serviço Social na Educação. [email protected].

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INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta os resultados da pesquisa intitulada “Serviço Social na

Educação: desafios e possibilidades para a atuação profissional do Assistente Social”, em que

se pôde analisar a política de educação sob uma perspectiva crítica, aproximando-se da

complexa realidade que os profissionais das escolas públicas brasileiras enfrentam

cotidianamente pela efetivação da política. Dessa forma, foi possível compreender os anseios

dos educadores com relação ao cenário contemporâneo, expectativas e desafios presentes

neste campo contraditório da política social, com vistas à ampliação do debate sobre a atuação

de Assistentes Sociais na Educação.

O objetivo principal foi analisar a percepção dos educadores de uma escola da rede

pública, de ensino fundamental e médio, do município de Franca (SP), acerca da inserção do

Assistente Social no âmbito da política de Educação, tendo como referência o Projeto de Lei

3688/ 2000, que visa à implantação de Assistentes Sociais e Psicólogos nas Escolas Públicas

brasileiras. De que modo compreendem o Serviço Social enquanto profissão inserida na

divisão sócio-técnica do trabalho e especificamente a inserção do Assistente Social na Política

de Educação foi o questionamento que originou a referida pesquisa. Ademais, foi possível

verificar o nível de aproximação à temática e quais desafios enfrentam os educadores para a

efetivação da educação como direito social.

A pesquisa foi realizada em duas etapas; a primeira consistiu na aplicação de um

questionário semi-estruturado com perguntas relacionadas ao perfil dos sujeitos e ao nível de

conhecimento sobre o Projeto de Lei 3688/ 2000 e sobre o trabalho que o Assistente Social

desenvolve na educação. Na segunda etapa, realizou-se grupo focal com alguns professores

selecionados aleatoriamente.

O grupo focal consiste em discussão com um grupo que possui indivíduos com

características em comum, com o objetivo de obter informações em profundidade, revelando

as percepções dos participantes acerca do tema abordado, em que: “Os participantes de um grupo focal são incentivados a conversar entre si, trocando suas experiências, relatando suas necessidades, observações, preferências etc.” (BARBOSA, 2008, p. 3).

Considerando-se o espaço exíguo para o presente artigo, limita-se aqui à exposição

parcial dos resultados finais da pesquisa, para compartilhar o conhecimento em relação à

apreensão da realidade adquirida ao longo deste percurso.

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1- O Serviço Social na Educação: fundamentos sócio-históricos

O Assistente Social atua no campo da Educação desde os primórdios da profissão no

Brasil, na década de 1930 e era denominado Serviço Social Escolar. Porém, ao longo do

processo de desenvolvimento da sociedade brasileira, o modo como esse profissional se insere

na divisão sócio-técnica do trabalho alterou-se e provocou profundas transformações na

perspectiva e ação profissional, o que tem influenciado as discussões e posicionamento da

categoria profissional na luta pela efetivação dos direitos sociais e na busca por uma

sociedade mais justa e igualitária.

Atualmente tramitam-se projetos de Lei que se referem à inserção de Assistentes

Sociais na Política de Educação, como o Projeto 3688/ 2000, o qual versa sobre a inserção de

Assistentes Sociais e Psicólogos nas escolas públicas brasileiras. Ressaltando que o conjunto

CFESS/ CRESS tem estado atento ao desmonte da política de educação e à precarização do

ensino; nesse sentido tem mobilizado a categoria profissional pela aprovação desses projetos e

efetivação da inserção de Assistentes Sociais nesta Política, pois se compreende que: [...] a inserção dos assistentes sociais na Política de Educação assim como de outros/as profissionais poderá fortalecer a democratização desse espaço. Assim também, como o envolvimento da categoria profissional nesse debate, na perspectiva do nosso projeto ético político profissional, demonstra o interesse coletivo dos/as assistentes sociais em articular com outros sujeitos coletivos na luta contra a barbárie no capitalismo e, portanto, contribuir para a construção de uma política pública de educação emancipadora, necessária para a materialização de uma outra sociabilidade fundada na liberdade, justiça social, equidade, autonomia e na plena expansão dos indivíduos sociais (BRAGA, 2012, p. 257).

Considerando o que preconiza o Código de Ética Profissional, é fundamental

compreender que a concepção de Educação que deve permear a atuação profissional do

Assistente Social na educação deve ser pautada em uma concepção humana de educação, na

perspectiva crítica, emancipatória.

2- O projeto de lei 3688/2000

O Projeto de Lei 3688/ 2000, de autoria do Deputado José Carlos Elias, foi

apresentado à Câmara dos Deputados no dia 31 de outubro de 2000, tendo como teor a

proposta de introdução de assistentes sociais no quadro de profissionais de educação em cada

escola. Traz como função do assistente social na educação o acompanhamento dos alunos na

escola e em sua comunidade. Por fim, apresenta o prazo de cinco anos para implementação da

referida legislação. O referido deputado justifica a necessidade da inserção dos assistentes

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sociais na educação para contribuir com a diminuição das taxas de evasão escolar, repetência

e fracasso escolar que estava diretamente relacionado às precárias condições socioeconômicas

e culturais da família das crianças com dificuldade de aprendizagem.

Todavia, há que se considerar que, ao longo dos anos, as discussões que permeiam a

atuação dos Assistentes Sociais na Educação conduzem a uma percepção ampliada com

relação à exposta na justificação. Perspectiva a qual compreende a totalidade que envolve as

complexas relações educacionais e sociais na contemporaneidade. Assim: [...] poderemos não ser apenas identificados/as como “executores/as terminais” das políticas públicas ou “solucionadores/as” das expressões da questão social, como em experiências de assistentes sociais na educação, particularmente nas escolas, com responsabilidade atribuída para “soluções” da evasão escolar, inúmeras expressões da violência, discriminações etc, muito embora estes fenômenos sejam objeto da atuação profissional cotidiana e que exigem a análise crítica das raízes que os conformam (CFESS/2012).

Ao longo do processo de tramitação, o Projeto já passou por inúmeras alterações

como: apensações4 dos projetos de lei 1031/ 2003, 837/ 2003, 1497/ 2003, 2513/ 2003, 2855/

2003, 3154/ 2004, 3613/ 2004, 4738/ 2004; 1674/ 2003, e pelo substitutivo5: “Dispõe sobre a

realização de serviços de Psicologia e de Assistência Social nas escolas públicas de educação

básica6.”

Dessa forma, passa a dispor sobre a inserção de Assistentes Sociais e Psicólogos nas

escolas públicas brasileiras. A última movimentação sofrida pelo referido Projeto, ocorreu no

dia 07 de Julho de 2015, em que foi discutido pela Comissão de Constituição, Justiça e

Cidadania, com parecer favorável ao Projeto, e atualmente está sujeita à apreciação do

Plenário, para então ser votada pela Câmara dos Deputados.

3 - Serviço Social na educação: a perspectiva dos educadores

A referida pesquisa possibilitou a análise da percepção dos professores sobre o Serviço

Social como profissão e suas atribuições no âmbito da política de educação, bem como o

conhecimento sobre a legislação que propõe a inserção do Assistente Social na educação. Na

primeira etapa da pesquisa, exibiu-se o perfil dos sujeitos da pesquisa, que foi delineado com

4A apensação é um instrumento que permite a tramitação conjunta de proposições que tratam de assuntos iguais ou semelhantes. Quando uma proposta apresentada é semelhante a outra que já está tramitando, a Mesa da Câmara determina que a mais recente seja apensada à mais antiga. 5Espécie de emenda que altera a proposta em seu conjunto, substancial ou formalmente. Recebe esse nome porque substitui o projeto. O substitutivo é apresentado pelo relator e tem preferência na votação, mas pode ser rejeitado em favor do projeto original. 6Para maiores informações verificar documento na íntegra no seguinte endereço eletrônico: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=319599&filename=SBT+1+CEC+%3D%3E+PL+3688/2000

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informações coletadas através do questionário, conforme já esclarecido, porém considerando

o espaço para o presente trabalho, apresenta-se apenas parcialmente o resultado da segunda

etapa da pesquisa, em que se expõem as discussões realizadas no grupo focal. Nessa etapa,

foram elaboradas questões norteadoras para a discussão, nas quais se destacam pontos como:

A função da educação formal;

Os “problemas sociais” presentes no cotidiano escolar;

Os desafios postos atualmente aos profissionais que atuam na escola;

Compreensão acerca do trabalho desenvolvido pelo Assistente Social;

Apoio dos profissionais para a aprovação do Projeto de Lei n. 3688/2000, que

regulamenta a inserção de Assistentes Sociais e Psicólogos nas escolas

públicas brasileiras.

Com base na discussão acerca dos eixos apresentados, foram feitas considerações

fundamentais que possibilitaram um aprofundamento nas reflexões sobre o tema proposto,

explicitando-se abaixo as contribuições dos sujeitos pesquisados mais relevantes para o

objetivo do estudo.

Durante a discussão, quando se abordou a questão da função da educação formal na

atualidade, percebeu-se que hoje a educação está pautada em uma formação de preparo para o

mercado de trabalho, conforme registram os depoimentos: Formar a criança para ser cidadão. (Prof. Português). Formar um cidadão apto a trabalhar. (Prof. Geografia).

Porém, pode-se constatar também a incorporação de novas concepções na busca pela

compreensão da totalidade que envolve as práticas educacionais, tendo em vista a

complexidade presente nas relações sociais, como segue: E que ele (o educando) consiga adequar os conteúdos para o contexto social, acho que essa é a maior função hoje, a gente educa para que até mesmo conteúdos específicos, mas que se enquadre no contexto de vida dele, não pode ser muito longe porque senão ele não vai conseguir colocar isso pra vida deles (Prof. Português).

Outra questão presente na discussão diz respeito aos “problemas sociais” (que para

uma compreensão crítica diz respeito às expressões da questão social7) presentes no cotidiano

escolar, em que se puderam perceber os principais pontos de estrangulamento que perpassam

a escola com ênfase em dois pontos fundamentais, quais sejam: a forma como a política está

organizada e também como vem ocorrendo a inserção das famílias no contexto de

precarização da educação escolarizada pública.

7“Questão Social é apreendida como um conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum: a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade”. (IAMAMOTO, p.27, 1998).

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No que diz respeito à organização da política educacional, foi amplamente debatida no

grupo focal a “progressão continuada”, identificada pelos sujeitos da pesquisa de maneira

negativa à formação e altamente prejudicial aos processos educacionais. É... progressão continuada é uma das questões que afetam muito o trabalho do professor, eu acredito que todo mundo sabe que o que piorou a educação foi esta questão da progressão continuada, por que antes nós ficávamos retidos qualquer ano, agora não, existem as séries né, sexto ano, nono ano e terceiro ano do ensino médio. Então o aluno de sétimo ano, de oitavo ano, ele sabe que ele pode tirar nota vermelha em todos os bimestres que ele vai chegar lá no final do ano, ele vai ser aprovado. Isso enfraquece o nosso trabalho, como você vai fazer o menino pensar que ele precisa estudar? (Prof. Português).

Os mesmos deram ênfase também ao fato de que isso cria uma certeza (nos alunos) de

que, ainda se não estudarem, serão aprovados, desse modo não compreendem a importância

da dedicação aos estudos: [...] ele passou de ano, mas não passou com um bom aprendizado, ele tem que ter consciência que ele passa com defasagem, não é isto, eles passam de ano achando que “eu enganei o professor” (Prof. Português).

Analisando essa proposta educacional, podem-se perceber os fundamentos sócio-

históricos que a justificam, considerando esse um dos principais problemas enfrentados pela

educação até a década de 1990, foram os altos índices de evasão escolar, cuja principal causa

é a retenção escolar que incidia principalmente sobre alunos provenientes de regiões mais

pobres ou periféricas; a proposta da “progressão continuada” foi implantada com intuito de

minimizar essa situação. Portanto, essa é uma situação que merece maior aprofundamento

sopesando a insatisfação manifestada pelos professores.

Os sujeitos foram enfáticos em afirmar que a família tem papel fundamental para um

trabalho efetivo, contudo a relação da escola com a família e comunidade tem sido complexa: O principal problema é a questão familiar (Prof. Matemática). Em todos os sentidos. (Prof. Geografia).

Pode-se perceber que, apesar de compreenderem que existe uma estrutura mais ampla

determinando as relações dentro do ambiente escolar, têm uma tendência a culpabilizar a

família pelo fracasso escolar dos educandos.

Afirmam que é necessário ‘mais cobrança dos pais’ em todos os sentidos, não somente

com relação à escola:

O pai cobrar a criança, nos cobrar (a escola), cobrar o sistema. Porque do jeito que é a cobrança, de forma negativa é só em relação à escola. (Prof. Geografia).

Afirmam ainda que a “desestrutura familiar” ocasiona o agravamento de outras

questões, refletindo de maneira direta no desempenho do aluno. Acabam gerando assim todos os outros, geralmente a partir mesmo da “desestrutura familiar”. ((Prof. Matemática). Ele acaba trazendo isso pra dentro da escola e isso ajuda com que ele não

desenvolva a aprendizagem normalmente, não tem o acompanhamento e pra

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formação de um cidadão, a gente precisa de um acompanhamento familiar também, da comunidade em geral, não é só o professor. (Prof. Português).

Porém, é necessário compreender que atualmente esse conceito de “família

desestruturada” caiu em desuso, isso devido ao reconhecimento, por parte da comunidade

acadêmica e estudiosos da área, de que as famílias possuem suas peculiaridades, portanto não

podem ser consideradas “desestruturadas” devido às suas relações e ao modo como estão

inseridas socialmente.

O modelo de família nuclear formada por um casal heterossexual, unido pelo

matrimônio e educando seus filhos biológicos se torna cada vez menos pertinente para

explicar a complexidade contemporânea. Atualmente, há um consenso entre pesquisadores de

que já não mais existe um padrão de evolução familiar capaz de abarcar a totalidade do

fenômeno das relações familiares.

As relações familiares, na contemporaneidade, assumem uma diversidade de arranjos,

de acordo com o contexto de inserção dessas famílias na sociedade. Porém, é fundamental a

compreensão da peculiaridade de cada família, como pressuposto fundamental para uma

relação família/escola pautada no respeito à diversidade e alcance de objetivos comuns aos

atores sociais envolvidos nesse processo.

De acordo com os sujeitos da pesquisa, um grande desafio para a educação é a

superação do que eles denominam por “problemas sociais” que foram discutidos.

Para eles, é fundamental que inicialmente sejam amplamente analisados a participação

da família na escola e o modo como a política está organizada, acreditam que a “trama

familiar” e o sistema educacional são os responsáveis pela complexidade presente no campo

educacional, apontando como desafio a superação desses dois pontos fundamentais: Superar essa trama familiar e o sistema. O planejamento do governo com relação à educação. (Prof. Geografia). É...progressão continuada, é uma das questões que afetam muito o trabalho do professor. (Prof. Português). A consequência é esta, a gente não preparou o aluno para ser um cidadão, conviver em sociedade, porque ele simplesmente só frequentou a escola, ele não foi preparado, então esta é a consequência, só que ele (o educando) não percebe. (Prof. Português).

No decorrer da discussão, levantou-se a questão do trabalho desenvolvido pelo

Assistente Social, constatando-se que os educadores não têm uma compreensão clara acerca

do assunto. Quando questionados sobre o trabalho desenvolvido pelos Assistentes Sociais,

percebe-se uma superficialidade na compreensão, confundindo as atribuições desse

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profissional até mesmo com o trabalho desenvolvido atualmente pelo Professor Mediador

Comunitário, que tem como principal função ser mediador de conflitos8. O Assistente Social ele ajuda a mediar, posso estar enganada mas eu acho que ele ajuda a mediar esses problemas tanto internos quanto externos, principalmente em relação à estrutura familiar. (Prof. Português). Eu acho que se é social já está relacionado à sociedade né. Eu acho que é de repente procurar, não sei, posso estar enganado, procurar entender o que há de errado e desenvolver formas de ajudar, não sei, de “assistencializar”. (Prof. Geografia).

Entretanto, há de se considerar que, apesar dessa compreensão por parte dos

profissionais, observou-se grande empenho por parte dos mesmos em conhecer este trabalho e

apoiar o Projeto de Lei que assegura o Assistente Social na Política de Educação: A gente acaba não tendo muito contato porque dentro do sistema educacional do estado não tem né. O que a gente sente muita falta. (Prof. Matemática).

Quando instigados a respeito do apoio dos educadores para a aprovação do Projeto de

Lei 3688/ 2000, foram unânimes em aceitá-lo, dizendo que se sentem como se isolados na

batalha por uma educação pública de qualidade, democrática e participativa, Com certeza. Porque a gente já esta numa situação complicada. (Prof. Português).

Estamos numa “sinuca de bico”. (Prof. Geografia). O posicionamento dos educadores nos conduz à reflexão sobre a inserção de

profissionais de Serviço Social e Psicologia na Política de Educação. O Assistente Social,

pela natureza de sua intervenção, pelos conhecimentos teórico-metodológicos, técnico-

operativos e ético-políticos que adquirem na formação profissional, é capacitado para lidar

com as expressões da questão social presentes no âmbito das instituições educacionais, além

de fazer as mediações e análises conjunturais necessárias na implementação e gestão de

Políticas Sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após uma ampla análise e interpretação da pesquisa, foi possível verificar que é

fundamental a inserção de Assistentes Sociais e Psicólogos nos espaços sócio-ocupacionais da

política de educação para o enfrentamento das expressões da questão social presentes nesta

política social, considerando, inclusive, a complexidade estrutural que permeia esse espaço.

8A Mediação Escolar é um meio de diálogo e de reencontro interpessoal, de resolução dos conflitos, em que um terceiro, neutro e imparcial, auxilia os indivíduos a comunicar, a negociar e a alcançar compromissos mutuamente satisfatórios. Disponível em: <https://mediacaojovem.wordpress.com/2012/02/26/hello-world/>. Acesso em 14 de jul de 2016.

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Fundamental também é a ampliação da discussão sobre a temática, para que os

profissionais (principalmente professores e gestores) dessa área conheçam o trabalho

desenvolvido pelos Assistentes Sociais e assim possam compreender a importância da

aprovação do Projeto de Lei, para que seja possível contar com a efetiva contribuição desse

profissional no cotidiano complexo de materialização dessa política social.

Ademais, conforme exposto pelos educadores, estes sentem-se “de mãos atadas” para

o enfrentamento das dificuldades postas a toda a comunidade escolar diante das condições

sociais, culturais e econômicas do novo perfil de alunos presente nas escolas.

O trabalho buscou compreender, da maneira mais ampla possível, as relações que se

dão no âmbito da política de educação, porém, por se tratar de algo complexo e contraditório,

torna-se impossível compreendê-lo em sua totalidade e, visto que seu objetivo foi a

aproximação aos profissionais para essa compreensão, entende-se que estes foram alcançados,

na medida em que se conseguiu essa aproximação e a ampliação do debate para além das

reflexões efetivadas de forma endógena pelos assistentes sociais sem a participação dos

educadores – atores fundamentais no cenário da educação formal.

Muitas outras questões permeiam esse campo. A inserção de Assistentes Sociais e

Psicólogos na Política de Educação certamente não pretende atender a todas as demandas e

questões pertinentes a ela, porém é de fundamental importância para o enfrentamento dessas

demandas sociais e possíveis soluções em busca da efetivação da educação como direito

social e ampliação desse direito, com vistas a conquistar uma formação crítica capaz de

desvelar os reais interesses da sociabilidade burguesa e lutar contra todas as formas de

opressão.

REFERÊNCIAS

BARBOSA, Eduardo F. Instrumentos de coleta de dados em pesquisas educacionais. Disponível:<http://www.inf.ufsc.br/~verav/Ensino_2013_2/Instrumento_Coleta_Dados_Pesquisas_Educacionais.pdf> Acesso em 10 fev 2015.

BRASÍLIA, DF. Projeto de Lei n° 3688, de 02 de Novembro de 2000. Dispõe sobre a

introdução de assistentes sociais e psicólogos no quadro de profissionais de educação em cada

escola. Diário da Câmara dos Deputados: Poder Legislativo, 02 de Novembro 2000.

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Disponível:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=20

050>. Acesso em 05 jul. 2013.

CONSELHO FEDERAL DE SERVIÇO SOCIAL. GT de Educação. Subsídios para a

atuação de Assistentes Sociais na Política de Educação. Disponível em: <

http://www.cfess.org.br/arquivos/BROCHURACFESS_SUBSIDIOS-AS-EDUCACAO.pdf>.

Acessado em: 02 set. 2013.

IAMAMOTO, Marilda Villela. O Serviço Social na Contemporaneidade: trabalho e

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São Paulo: Cortez. 2008. 495 p.

MOTTA, Vânia Cardoso da. A questão da função social da educação no novo milênio. v. 33, n. 2, maio/ ago. 2007.

VIÉGAS, Lygia de Sousa. SOUZA, Marilene Proença Rebello de Souza. A progressão continuada no estado de São Paulo: considerações a partir da perspectiva de educadores. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPEE),v. 10, n. 2, p. 247-262, jul/dez. 2006.