Em comunidade página extra abril 2013

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Boletim informativo MensalAno XI - Nº 129 - Abril | 2013Página ExtraDiocese de OsascoDistribuição interna e gratuita

Queridas irmãs:

Escrevo estas linhas a cada uma de vocês que estão nos quatro Mosteiros de Buenos Aires. O povo argentino

deverá enfrentar, nas próximas semanas, uma situação cujo resultado pode ferir gravemente a família.

Trata-se do projeto de lei sobre o matrimônio de pessoas do mesmo sexo. Aqui está em jogo a identidade

e a sobrevivência da família: papai, mamãe e filhos. Está em jogo a vida de tantas crianças que serão

discriminadas e de antemão privadas da maturação humana que Deus quis que se tivesse com um pai e uma

mãe. Está em jogo um repulsa frontal à lei de Deus, gravada em nossos corações.

Recordo uma frase de Santa Teresinha quando fala de sua enfermidade na infância. Disse que a inveja do

demônio quis cobrar de sua família a entrada no Carmelo de sua irmã maior. Aqui também está a inveja

do demônio, pela qual entrou o pecado no mundo, que maldosamente pretende destruir a imagem de Deus:

homem e mulher que recebem o mandato de crescer, multiplicar-se e dominar a terra. Não sejamos ingênuos:

não se trata de uma simples luta política; é a pretensão de destruir o plano de Deus. Não se trata de um mero

projeto legislativo (isto é só um instrumento), ação de um “movimento” do pai da mentira (Jo 8,44) que

pretende confundir e enganar os filhos de Deus.

Jesus nos disse que, para nos defendermos deste acusador mentiroso, nos enviará o Espírito da Verdade. Hoje

a Pátria, diante desta situação, necessita da assistência especial do Espírito Santo que ponha a luz da Verdade

em meio às trevas do erro; necessita deste Advogado que nos defenda do encantamento de tantos sofismas com

que se busca justificar este projeto de lei, e que confunde e engana inclusive a pessoas de boa vontade.

Por isso recorro a vocês e peço-lhes oração e sacrifício, as duas armas invencíveis que confessava ter Santa

Teresinha. Clamem ao Senhor para que envie o seu Espírito aos Senadores que hão de dar seu voto. Que não

o façam movidos pelo erro ou por situações de conjuntura, mas segundo o que a lei natural e a lei de Deus

ensina. Peçam por eles, por suas famílias, que o Senhor os visite, os fortaleça e console. Peçam para que eles

façam um grande bem à Pátria.

O projeto de lei será analisado no Senado depois de 13 de julho. Olhemos para São José, a Maria e ao Menino

e peçamos com fervor que eles defendam a família argentina neste momento. Recordemos que Deus mesmo

disse a seu povo em um momento de muita angústia: “Esta guerra não é vossa, mas de Deus”. Que eles nos

socorram, defendam e nos acompanhem nesta guerra de Deus.

Obrigado pelo que vocês farão nesta luta pela Pátria. E, por favor, peço-lhes também que rezem por mim. Que

Jesus as abençoe e a Virgem Santa cuide de vocês.

Afetuosamente, Cardeal Jorge Mario Bergoglio s.j., arcebispo de Buenos Aires

Colaboração de Cesar Vergara

Nota de Em Comunidade: infelizmente o projeto acabou aprovado pelas

autoridades argentinas, mas devemos sempre lutar e testemunhar a nossa fé.

Carta do então Cardeal Bergoglio, hoje papa Francisco, para as Irmãs Carmelitas de Buenos Aires em 22de Junho de 2010

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Um Reconhecimento ao Cardeal Ratzinger, Papa Bento XVI

Em entrevista recente à Folha de São Paulo frei Clodovis Boff diz que Bento 16 defendeu o “projeto essencial” da Teologia de Libertação, mas o critica por superdimensionar a força do secularismo no mundo.

Bento 16 foi o grande inimigo da Teologia da Libertação?Clodovis Boff – Isso é uma caricatura. Nos dois documentos que publicou Ratzinger defendeu o projeto essencial da Teologia da Libertação: compromisso com os pobres como consequência da fé. Ao mesmo tempo, critica a influência marxista. Aliás, é uma das coisas que eu também critico. No documento de 1986, ele aponta a primazia da libertação espiritual, perene, sobre a libertação social, que é histórica. As correntes hegemônicas da Teologia da Libertação preferiram não entender essa distinção. Isso fez com que, muitas vezes, a teologia degenerasse em ideologia.

E os processos inquisitoriais contra alguns teólogos?Ele exprimia a essência da igreja, que não pode entrar em negociações quando se trata do núcleo da fé. A igreja não é como a socie-dade civil, onde as pessoas podem falar o que bem entendem. Nós estamos vinculados a uma fé. Se alguém professa algo diferente dessa fé, está se auto excluindo da igreja. Na prática, a igreja não expulsa ninguém. Só declara que alguém se excluiu do corpo dos fiéis porque começou a professar uma fé diferente.

Quando o Sr. se tornou crítico à Teologia da Libertação?Desde o início, sempre fui claro sobre a importância de colocar Cristo como o fundamento de toda a teologia. No discurso hegemô-nico da Teologia da Libertação, no entanto, eu notava que essa fé em Cristo só aparecia em segundo plano. Mas eu reagia de forma condescendente: “Com o tempo, isso vai se acertar”. Não se acertou.

Bento 16 sepultou os avanços do Concílio Vaticano 2º?Quem afirma isso acredita que o Concílio Vaticano 2º criou uma nova Igreja e rompeu com 2.000 anos de cristianismo. É um equívoco. O papa João 23 foi bem claro ao afirmar que o objetivo era, preservando a substância da fé, representá-la sob roupagens mais oportunas para o homem contemporâneo. Bento 16 garantiu a fidelidade ao concílio. Ao mesmo tempo, combateu tentativas de secularizar a igreja, porque uma igreja secularizada é irrelevante para a história e para os homens. Torna-se mais uma partido, uma ONG.

Esses grupos não foram exceção. Bento 16 sofreu dura oposição em todo o pontificado.A maioria das críticas internas a ele partiu de setores da igreja que se deixaram colonizar pelo espírito da modernidade hegemônica e que não admitem mais a centralidade de Deus na vida. Erigem a opinião pessoal como critério último de verdade e gostariam de decidir os artigos da fé na base do plebiscito. Tais críticas só expressam a penetração do secularismo moderno nos espaços institu-cionais da igreja.

Que outras críticas o Sr. faria a Bento 16?Ele preferiria resolver problemas teológicos a se debruçar sobre questões administrativas na Cúria. E isso gerou diversos constran-gimentos no seu pontificado. Ele também não tem o carisma de um João Paulo 2º. De certa forma, era o esperado em um intelectual como ele.

Não está na hora de a igreja ficar mais próxima da realidade dos fiéis?Bento 16 não resolveu um problema que se arrasta desde o Concílio Vaticano 2º: a necessidade de se criarem canais para a cúpula escutar e dialogar com as bases. Os padres, nas paróquias muitas vezes ficam prensados entre a letra fria que vem da cúpula e o coti-diano sofrido dos fiéis, que pode envolver dramas como aborto ou divórcio. Note que não sugiro mudanças no ensinamento da igre-ja. Mas acho que seria mais fácil para as pessoas viverem a doutrina católica se houvesse processos que facilitassem esse diálogo.

Como vê o futuro da igreja?A modernidade não tem mais nada a dizer ao homem pós-moderno. Quais as ideologias que movem o mundo? Marxismo? Socialis-mo? Liberalismo? Neoliberalismo? Todas perderam credibilidade. Quem tem algo a dizer? As religiões e, sobretudo no Ocidente, a Igreja Católica.

Extraído da Folha de S. Paulo, Março de 2013

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