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17Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 24 de Setembro de 2014Canal de Moçambique | Quarta-Feira, 24 de Setembro de 201416

Centrais Centrais

“Não é segredo para ninguém que a FRELIMO cometeu muitos crimes em vários locais dentro de Moçambique em nome da libertação, crimes estes que continua a praticar até

aos dias de hoje, e que contam com vários apoios vindos do exterior!” – Zeca Caliate

“Deixei bem claro no meu livro “Odisseia de Guerrilheiro”: os líderes da FRELIMO pensam que eles que são incorruptíveis; quando cometem atrocidades, procuram sempre alguém para ser

responsabilizado. No caso de Zeca Caliate, deixaram cair a sua máscara, pois cometeram vários crimes hediondos em Vila Pery [Chimoio] ou Vila Gouveia [Catandica, distrito de Báruè], que são

terras que eu nunca conheci no passado ou no presente. Foi o exército da FRELIMO que lá andou e deixou um rasto de banho de sangue de inocentes, que não quer assumir.”

conhecido por Omar Juma, como sendo o chefe da Segu-rança nessa província. Omar Juma é um maconde como tantos outros responsáveis do sector da Segurança da FRE-LIMO, nomeadamente Lagos Lidimo, Salésio Nalyambipano, para apenas citar alguns no-mes. Trata-se apenas de uma coincidência, ou a área da Se-gurança foi propositadamente preenchida por macondes? E em caso afirmativo, porquê?

Caliate – A história ensina--nos que o agressor nunca se lan-çou numa aventura sem aliados. Quando os irmãos do sul do rio Save planearam dominar o Norte de Moçambique, tiveram que en-contrar um aliado, e este teria que ser de uma tribo minoritária – lo-calizada no chamado Planalto dos Macondes e nas portas de Tanga-nica –, que também se interessa e ambiciona as riquezas do nosso país. Por isso, Eduardo Mondlane, o primeiro presidente da FRE-LIMO, e o seu grupo de sulistas, em especial os da sua terra natal [Gaza],encontraram uma facilida-de em penetrar no interior de Mo-çambique através do Norte, para o domínio total do Centro, onde se localizava a maioria. Por esta razão, os macondes foram coloca-dos como chefes do sector da Se-gurança da Organização, e desde sempre foram eles que serviram como pontas-de-lança dos sulistas.

Canal de Moçambique – Um dos episódios mais marcantes da guerra da Independência foi o massacre de Wiriamu. Mas no seu livro menciona que, logo a seguir, houve um outro massacre em Lucamba, que não mereceu – e continua a não merecer – a mesma atenção da comunidade internacional e de individualidades que têm tido uma postura de solidariedade para com o povo moçambicano. Em sua opinião, qual a razão desta dualidade de critérios?

Caliate – Esta é uma verdade: a FRELIMO e os seus cúmplices souberam aproveitar a fraqueza e os erros cometidos por aquilo a que chamaram “tropas colonia-listas”, para manipular a opinião pública internacional e, ao mesmo tempo, procurar esconder todo o mal por ela praticado. Não é segre-do para ninguém que a FRELIMO cometeu muitos crimes em vários

locais dentro de Moçambique em nome da libertação, crimes estes que continua a praticar até aos dias de hoje, e que contam com vários apoios vindos do exterior!

Canal de Moçambique – En-tre o golpe de 25 de Abril de 1974 e a assinatura dos Acordos de Lusaka, em Setembro des-se ano, ocorre o que o senhor descreve como “massacre de Vila Pery”. A FRELIMO, em comunicado emitido pela sua delegação em Argel, acusa-o de ter sido o autor desse massacre.

Caliate – Quanto a este as-sunto, deixei bem claro no meu

livro “Odisseia de Guerrilheiro”: os líderes da FRELIMO pensam que eles que são incorruptíveis; quando cometem atrocidades, procuram sempre alguém para ser responsabilizado. No caso de Zeca Caliate, deixaram cair a sua máscara, pois cometeram vários crimes hediondos em Vila Pery [Chimoio] ou Vila Gouveia [Ca-tandica, distrito de Báruè], que são terras que eu nunca conheci no passado ou no presente. Foi o exército da FRELIMO que lá an-dou e deixou um rasto de banho de sangue de inocentes, que não quer assumir. Foi sempre assim por onde essa Organização pas-sou! (Canal de Moçambique)

Zeca Caliate, antigo guerrilheiro da Frelimo

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REGISTO: 001/GABINFO-DEC/2006

IMPRESSÃO: SGRAPHICS, Lda, Matola

Numa entrevista em exclusi-vo ao “Canal de Moçambique”, Zeca Caliate, antigo guerrilheiro da FRELIMO, fala-nos do livro de memórias que está prestes a ser lançado na Europa. Vem com o título “Zeca Caliate – Odis-seia de Guerrilheiro”. No livro, o autor narra episódios da luta armada de libertação nacional e das razões que o levaram a abandonar as fileiras do exérci-to libertador, quando operava na

província de Niassa. O “Canal de Moçambique” entrevistou o autor.

Canal de Moçambique – Da leitura do livro, ressalta a deter-minação de um jovem de 15 anos em juntar-se a uma frente de li-bertação nacional que se propu-nha a conquista da Independên-cia. Para além desse ideal, que outros factores o influenciaram?

Caliate – Sim, as alterações da

situação política no país vizinho, que naquele tempo era conhecido por Niassalândia, hoje Malawi, e a notícia sobre a formação da Fren-te de Libertação de Moçambique (FRELIMO) caíram como uma avalanche, tendo surpreendido toda a gente, em especial os jovens da minha geração naquela época, em algumas províncias, nomea-damente em Manica, Tete, Zam-bézia e Niassa. Após esta notícia da Independência do país vizinho,

as escolas foram simplesmente abandonadas, e os estudantes se-guiram rumo ao Malawi à procu-ra da FRELIMO, que tinha a sua sede em Dar-es-Salaam, no então Tanganica. Como eu, muitos ou-tros jovens não sabiam diferenciar uma independência pacífica de outra violenta, por via das armas. Tudo o que nós queríamos era a Independência de Moçambique.

Canal de Moçambique – O seu livro narra uma série de episódios ocorridos no seio da FRELIMO, que vão ao encon-tro daquilo que Mariano Matsi-nhe admitiu publicamente: “Na FRELIMO era norma matar”. Um caso a salientar é o de Fili-pe Magaia, chefe do Departa-mento de Defesa e Segurança. O que motivou exactamente a eliminação de Magaia? Cons-ta que a decisão de se afastar Magaia contou com a anuência do próprio presidente da FRE-LIMO, Eduardo Mondlane.

Caliate – O meu livro relata toda a história verídica e esclarecedora, para aqueles que têm dúvidas so-bre vários acontecimentos no seio da FRELIMO. Esta obra não tem comparação com algumas afirma-ções do Sr. Mariano Matsinhe na entrevista que concedeu ao jornal “Savana”. Os fuzilamentos e as-sassinatos no seio da FRELIMO foram iniciados com o Samora Machel, no seio da Organização, e com o consentimento do próprio Eduardo Mondlane, presidente da FRELIMO, aplaudido pelos seus cúmplices e seguidores, que pla-nearam assassinar Filipe Magaia, chefe do Departamento de Defesa e de Segurança. Essa prática não

existia antes do seu assassinato!

Canal de Moçambique – Re-fere no seu livro o caso de sol-dados do exército colonial que desertaram para a FRELIMO. Por exemplo, Pedro Câmara, oriundo da Zambézia, Boa-ventura, de Manica e Sofala, e Daniel, de Tete, todos eles per-tencentes à unidade GEP [Gru-pos Especiais Pára-quedistas]. Segundo o senhor afirma, Pe-dro Câmara foi posteriormente fuzilado em Cabo Delgado. No entanto, Sérgio Vieira, autor do livro “Participei, por isso testemunho”, alega que Pedro Câmara era um agente infil-trado do colonialismo, que já havia operado na Guiné-Bissau, e que era sua intenção assassi-nar dirigentes da FRELIMO. O que se passou exactamente para a FRELIMO ter deci-dido fuzilar Pedro Câmara?

Caliate – O furriel Pedro Câ-mara, natural da Zambézia, o so-corrista Boaventura, natural de Manica e Sofala, e o soldado Da-niel, natural de Tete, pertenciam aos GEP. Tudo está esclarecido no meu livro, fui testemunha desse episódio, pois isso reforçou a mi-nha revolta contra os dirigentes da FRELIMO, porque não foram apresentadas provas se sim, ou não, o Pedro Câmara era um agen-te infiltrado. Eu sabia que na FRE-LIMO havia uma política de cle-mência para alguns, como é o caso do Cara Alegre Tembe, que bene-ficiou dessa política por ser do Sul.

Canal de Moçambique – Du-rante a guerra em Tete, o senhor aponta Tomé Eduardo, mais

Em livro de memórias

Antigo guerrilheiro da FRELIMO denuncia onda de execuções sumárias durante a luta armada

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