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ISSN 2317-661X Vol. 11 – Num. 03 – Novembro 2016
www.revistascire.com.br
ENSINO DE GEOGRAFIA E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA VIA
PROMISSORA NA CONSTRUÇÃO DA CONSCIENTIZAÇÃO E
CONSERVAÇÃO AMBIENTAL¹
Claudia Regina ALBERTON²; Ronildo Alcântara PEREIRA³
1Extraído da monografia de conclusão de curso da autora.
2Graduada em Geografia pela UVA/UNAVIDA. claudiamanoel@hotmail.com 3Orinetador. Geógrafo. Professor de Geografia da UVA/UNAVIDA. ron_alcan@gmail.com
RESUMO: Diante das transformações que o mundo tem experimentado nas últimas décadas, cujos reflexos
recaem diretamente nas questões políticas, econômicas, sociais e ambientais, é imperiosa a contribuição da
escola no sentido de mitigar estes impactos derivados de tais mudanças, sobretudo aqueles que atingem o meio
ambiente. Por tais razões, este trabalho teve como proposta unir o conteúdo programático de Geografia com a
prática em Educação Ambiental, como forma de demonstrar à comunidade da escola municipal Frei Dagoberto
Stucker que, com pequenas ações e o engajamento da comunidade, é possível trilhar o caminho da conservação
ambiental em qualquer escala. As atividades de Geografia em sala de aula, articuladas com a prática, através da
execução de uma oficina para fabricação artesanal de sabão, a partir do reaproveitamento de óleo comestível
usado pela comunidade, culminou com o fabrico de sabão em tablete, que foi posteriormente distribuído entre os
participantes. Os resultados mostraram uma surpreendente mobilização de todos os segmentos da escola e
permitiram mostrar benefícios, não somente da retirada desse tipo de resíduo do meio ambiente, mas também a
possibilidade da aquisição de um produto de limpeza, de maneira fácil e a baixo custo.
Palavras-chave: Ensino. Educação Ambiental. Reaproveitamento de óleos vegetais.
ABSTRACT: In the face of the transformations that the world has experienced in the last decades, whose effects
fall directly in the political, economical, social and environmental, is imperious the contribution of the school
towards mitigate these impacts derived from such changing, especially those that affect the environment. For
such reasons, this work aimed to unite the Geography programmatic content with practice in Environmental
Education as a way to demonstrate with the community of the school Frei Dagoberto Stucker that with small
actions and community engagement is possible to tread the path for environmental conservation, at any scale.
The Geography activities in the classroom, articulated with practice through the execution of a workshop for
making handmade soap from the reuse of cooking oil used by the community, culminating in the manufacture of
tablet soap which was later distributed to the participants. The results showed a surprising mobilization of all
segments of the school and permitted to show benefits, not only the removal of such residue from the
environment, but also the possibility of acquiring a cleaning product easily and at low cost.
Keywords: Teaching. Environmental Education. Reuse of vegetal oils.
INTRODUÇÃO
A Educação Ambiental é o caminho mais próspero para resgatar a importância da
cidadania, sobretudo em uma sociedade que almeje o desenvolvimento de forma sustentável.
Esta alternativa propicia ao indivíduo o despertar transformador presente no ser humano e o
faz refletir sobre as questões relativas ao modelo de produção vigente. Aliás, esta mudança de
mentalidade forçosamente levará a sociedade a produzir de forma cônscia, conservando de
modo racional os ecossistemas.
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Uma das saídas apontadas e que dá suporte a estas ações é, indubitavelmente, a prática
da reciclagem, a qual pode ser um fator a catalisar novos conceitos no atual modelo de
produção. Além disso, há em disponibilidade, uma enorme quantidade de resíduos sólidos e
óleos vegetais que, se reaproveitados, geram renda e colaboram para a preservação do meio
ambiente, mormente a água e os solos (VIRGÍNIO et al., 2009).
Nesta perspectiva, a ciência geográfica, que têm como propósito estudar as ações da
sociedade sobre o ambiente, destinada em identificar a dinâmica do comportamento social,
através de estudos que contribuam para a construção de uma sociedade mais justa e
ambientalmente equilibrada.
Frente a tais questões, urge destacar o papel da escola, pois é nela que acontecem os
debates e reflexões sobre as diversas temáticas e os professores e alunos, diretamente
envolvidos neste diálogo, podem proporcionar o amadurecimento do conhecimento,
formando, na sociedade, indivíduos com consciência crítica.
Segundo Brandão (2004, p. 38), este é o caminho mais consistente, que deve ter
coparticipação nos diversos níveis de governo, pois não somente a política educacional
municipal deve, guardadas as devidas proporções e especificidades, estar em linhas gerais, em
consonância com as políticas estaduais e federais de educação, congregando todo o sistema
educacional nessa empreitada.
Para Camargo (2003, p. 14), um dos mais importantes avanços do século XX foi o
despertar da consciência ambiental e a necessidade de encontrar o equilíbrio entre as ações
humanas e a preservação dos recursos naturais.
Para tanto, o saber ambiental é uma vertente da educação, a qual tem papel importante
no estímulo ao conhecimento ambiental, propiciando a convicção dos indivíduos de que a
consciência ecológica se faz necessária.
A grande preocupação em buscar meios para amenizar os avanços dos problemas
ambientais causados pelas investidas do sistema capitalista, que se desenvolve a qualquer
preço, levou as autoridades de diversos países a debater sobre tal problemática, tendo em vista
que os países menos estruturados seriam os mais atingidos.
Isso porque, segundo Coutinho (2009, p. 23), os mecanismos estabelecidos pelo
capital, em sua relação com meio ambiente, pressupõem riscos ambientais crescentes,
inerentes a um modo de produção que necessita destruir a natureza para transformá-la em
mercadoria.
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Como contraponto a tal conjuntura, a partir dos anos 1960, os movimentos em defesa
da natureza passaram a se fortalecer e o sinal de alerta sobre as ameaças que a Terra estava
vivendo se consolidou. As manifestações e discussões naquela época apontaram para a
insuficiência na estabilidade do desenvolvimento no modelo econômico baseado na ideia de
consumo acelerado. Assim, foram introduzidos os temas ambientais adicionados aos
programas de governo das nações, aos partidos políticos e nas comissões internacionais.
Segundo Mendonça (2004, p. 34), estava criada a base para o nascimento dos
movimentos ecológicos que também lutariam pela paz a partir do final dos anos 1950, tendo
seu apogeu nas duas décadas seguintes.
O primeiro (de muitos) grande encontro promovido pela Conferência das Nações
Unidas realizado em Estocolmo, no ano de 1972, teve as primeiras metas de compromisso
ambiental traçadas. Para Mendonça (2004, p. 46), aquele evento significou, por um lado, a
primeira tentativa mundial de equacionamento dos problemas ambientais, por outro,
significou também a comprovação da elevada degradação em que a biosfera já se encontrava.
A Conferência de Estocolmo foi o sinal de alerta em nível mundial sobre os problemas
ambientais, ocasionado pelos países industrializados que ignoravam o alerta da escassez dos
recursos naturais e a extinção das espécies (MILARÉ, 2001, p. 40).
A criação do PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - foi uma
alternativa concreta para combater, com políticas voltadas a conservação e proteção do meio
ambiente, outras ações, para as quais apenas as conferências não eram suficientes.
Para Lago (2007, p. 48), a criação do PNUMA foi determinante para que houvesse um
ritmo mínimo de progresso nos debates sobre meio ambiente no âmbito das Nações Unidas
nos anos seguintes, que resultou, por exemplo, no relatório Brundtland.
Prosseguindo com a política conservacionista, em 1983, a ONU uniu esforços e criou
a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, chefiada pela norueguesa Gro
Harlem Brundtland. Essa comissão realizou diversa análises sobre os problemas ambientais e
o desenvolvimento econômico. As pesquisas geraram o relatório nomeado Nosso Futuro
Comum, editado no ano 1987, cujo objetivo persegue o desenvolvimento sustentável.
Para Van Bellen (2005, p. 24), o termo desenvolvimento sustentável pode ser visto
como palavra-chave dessa época, e existem para ele numerosas definições. Apesar dessa
diversidade de significados, uma destas, cunhada por Vieira (2009), é a mais comumente
aceita:
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O crescimento econômico é indispensável, desde que cumpra as condições de melhor proteção
ao meio ambiente, ao mesmo tempo em que o equilíbrio entre e a proteção ambiental e a
satisfação das necessidades da sociedade é condição necessária para o desenvolvimento
sustentável (VIEIRA, 2009, p. 113).
Segundo Gallo (2007, p. 37), como estratégia para se atingir o desenvolvimento
sustentável, faz-se necessária a consideração das questões econômicas e ecológicas nos
processos de tomada de decisões, visto que, nas atividades do mundo real, economia e
ecologia estão integradas.
Menezes (2007, p. 202) aponta que sustentabilidade envolve decisões nos campos
econômico, político, social, cultural e ideológico. Assim, as escolhas sobre o que e como
passam pelas lutas e relações de poder inerentes à sociedade moderna, cheia de contradições.
De acordo com o mesmo autor, seja como for, este é um novo desafio, em busca de um novo
paradigma para a vida neste planeta, o qual elege a educação ambiental como meio mais
seguro para lograr êxito.
Segundo Goleman (2009, p. 38), esse despertar para novas possibilidades pode fazer
todos, coletivamente, abrirem os olhos, causando uma mudança em nossos pressupostos e
percepções mais básicos, mudança que impulsionará outras no comércio, na indústria, nas
ações e nos comportamentos de cada um de nós.
Na visão de Keinert (2007, p. 214), o Desenvolvimento Sustentável virou centro de
debates em todo o mundo. As grandes organizações estão procurando se desenvolver de
forma sustentável, pois a degradação que provocam no meio ambiente deve ser amenizada.
Para que tal processo seja eficaz, diversas organizações estão inserindo em sua estrutura
organizacional o sistema de gestão ambiental para envolver os seus empregados neste modelo
e o fazem através da Educação Ambiental.
Ao longo do tempo, o Brasil pouco demonstrou preocupação referente à Educação
Ambiental. Isso só veio a ocorrer nos anos 1980. A partir daí, consolidou-se a ideia de
conservação da natureza, já cristalizada em nível mundial, a essa altura. O país ganhou novas
leis ambientais avançadas, mas também vivenciou uma dura realidade social, com reflexos no
sistema educacional (ALVARO, 1998, p. 40).
A educação ambiental foi citada pela primeira vez na legislação brasileira com a Lei
6938 de 1981 que instituiu a Política Nacional de Meio Ambiente no país.
Outro avanço veio no final dos anos de 1990, com a Política Nacional de Educação
Ambiental, cuja orientação foi a de não ser aplicada, como disciplina, em uma única matéria,
mas deveria ser repassada de forma interdisciplinar nos currículos, integrando-as com enfoque
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holístico. Esta abordagem permite a síntese e a visão geral do meio com uma concepção mais
clara.
Para Moreira (2009, p. 33), esta interdisciplinaridade pressupõe a interação entre duas
ou mais disciplinas, que pode ir da simples comunicação de ideias até a integração de
conceitos fundamentais, da teoria do conhecimento, da metodologia e dos dados de pesquisa.
Sendo assim, a escola é o caminho indicado para o desenvolvimento de trabalhos
voltados para o meio ambiente, mas para pô-los em prática, ainda se enfrentam muitas
dificuldades, pois não há estratégias para esse desenvolvimento. A despeito de haver leis em
vigor, estas, porém, não são observadas nem há punição para os que as descumprem, o que
leva muitas escolas a negligenciarem tal diretriz.
Outro aspecto a ser considerado é o fato de serem poucos os professores cientes dos
problemas ambientais, sem falar que são muitas as dificuldades encontradas nas escolas
públicas, que enfrentam uma dura realidade, devido à falta de material didático, refeições, à
estrutura física deficitária, pouca valorização do professor, segurança entre outros, refletindo-
se na realidade educacional vivida pelos alunos (SAUVÉ, 2000).
No caso presente, a instituição em apreço e Escola Frei Dagoberto Stucker, que tem
como meta a inserção da Educação Ambiental no seu cotidiano curricular, integrando todos os
segmentos da escola, professores, alunos, funcionários e comunidade. A preocupação com o
aproveitamento do lixo produzido no âmbito da escolar implantou no cotidiano da instituição
medidas que visaram à socialização ecológica dos alunos através da reciclagem.
A escola está inserida no programa COOPERJOVEM (Cooperativismo nas Escolas).
Esta iniciativa baseia-se em valores de ajuda mútua e responsabilidade, democracia,
igualdade, equidade e solidariedade (FREITAS, 2003, p. 7).
O estágio supervisionado realizado pela primeira autora deste estudo procurou
trabalhar a questão socioambiental a partir de diversas ações com uma turma de sexta série,
no âmbito da citada escola, de forma a facilitar o objetivo principal, o qual constou de uma
oficina de aproveitamento de óleo vegetal para a produção de sabão.
Através de ações coordenadas e do engajamento de todos os segmentos da escola,
priorizou-se a defesa do meio ambiente, promovendo o equilíbrio justo entre ações antrópicas
e natureza. Buscou-se, assim, interagir o mais coerente possível com o espaço produzido, por
meio da prática da sustentabilidade no cotidiano. Segundo Goleman (2009, p. 42), “a
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inteligência ecológica nos permite compreender sistemas em toda a sua complexidade, bem
como a interação entre o mundo natural e o mundo construído pelo homem.”
Diante do contexto abordado, este estudo buscou alternativas para a aplicação da
Educação Ambiental na gestão da Escola Municipal Frei Dagoberto Stucker em Campina
Grande – PB e, através da reciclagem, promoveu uma oficina para aproveitamento dos
resíduos coletados na própria escola e na comunidade, como forma de pôr em prática os
conteúdos abordados em sala de aula.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a elaboração deste estudo, foram utilizadas fontes diversas, pertinente ao tema
Educação Ambiental e sua prática no cotidiano escolar, através de um estágio supervisionado
na escola em questão. Buscou-se compreender a relação entre o equilíbrio da sociedade com o
meio ambiente à luz das suposições da sustentabilidade.
O levantamento dos dados de campo foi obtido através de entrevistas informais e
aplicação de questionários qualitativos que nortearam as diretrizes sobre meio ambiente na
percepção dos alunos que residem no entorno e fora realizado no período de agosto a
novembro de 2011.
A investigação na citada Escola Municipal teve a intenção de auferir como a Educação
Ambiental era abordada na gestão escolar e como os alunos do sexto ano assimilam este tema.
Como atividade prática, trabalhou-se uma oficina de reciclagem com óleo vegetal saturado,
como insumo para a fabricação do sabão artesanal.
A última fase da pesquisa constituiu-se da interpretação dos dados obtidos na etapa
anterior no propósito de chegar a uma percepção da contribuição da Educação Ambiental na
comunidade da escola púbica em análise.
Espaço da pesquisa
A cidade de Campina Grande está localizada a apenas 120 km de João Pessoa, capital
do Estado da Paraíba. Ela é privilegiada do ponto de vista climático, pois dispõe de um clima
de montanha, agradável, além de conservar, ainda, aspectos de cidade interiorana, mas com a
força de uma metrópole, nos setores, econômico, de saúde e, principalmente, na formação e
captação de mão de obra qualificada, exportando profissionais e produtos para vários lugares.
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A cidade dispõe de uma diversidade cultural de raízes nordestina e cultiva a história de
tradições típicas na dança no canto respeitando as diferenças de outras culturas.
O município possui uma área territorial de 594 Km² (Figura 1), com uma população de
385.276 segundo o censo de 2010. Geograficamente, situa-se numa área de transição entre o
Agreste e o Cariri, assentada sobre o planalto da Borborema.
O espaço da pesquisa foi o Bairro do Alto Branco, na zona Norte, um dos pontos mais
altos da cidade. Ali, são encontrados vários pontos de comércio, principalmente a (EMPASA)
- Empresa Paraibana de Abastecimento.
Figura 1. Localização do Bairro Alto Branco em Campina Grande com destaque
para a Escola Municipal Frei Dagoberto Stucker.
Fonte: adaptada de fontes diversas
Caracterização da escola campo de estágio
A Escola Frei Dagoberto Stucker pertence à rede Municipal de Campina Grande. Está
localizada à Rua Newton Estilac Leal, s/n, bairro do Alto Branco. A sua inauguração
aconteceu no dia 31 de janeiro de 1987. A denominação deste Grupo Escolar deve-se ao
Projeto de Lei nº 18/90, em homenagem póstuma a Frei Dagoberto Stucker, pelo amor ao
trabalho e a sua missão religiosa.
A escola atende aos alunos da Educação Infantil, Ensino Fundamental 1,
correspondente ao 1º e 2 º ciclo que seriam o 1º ano ao 5º ano (alfa a 4ª série), e Ensino
Fundamental 2, que formam o 3º e o 4º ciclo que são 6º ano a 9º ano (5ª a 8ª série), e
Educação Especial.
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A Escola Frei Dagoberto Stucker possui uma área externa com espaço agradável, ideal
para os alunos desenvolverem atividades pedagógicas, praticando esporte, brincadeiras e bate-
papo nos intervalos.
A Escola conta com professores graduados com habilitações adequadas ao exercício
da prática docente no nível em que atuam, atendendo a determinação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDB), nº 9394/96, e são concursados pela rede Municipal de
Campina Grande – PB. Todos os docentes prestam um bom serviço à Instituição e estão
abertos a novos projetos, realizando as atividades com comprometimento e dedicação.
Identificação e Caracterização da turma observada
Para a pesquisa, tomou-se como referência a turma do 6º ano, matutino, onde estão
matriculados 23 alunos para o ano letivo de 2011 (Figura 2). Destes, 19 frequentam a sala de
aula, mas há uma evasão de quatro alunos. São adolescentes entre 12 a 16 anos de idade, dos
quais, na sua grande maioria, residem nas proximidades da escola.
Figura 2. Turma do 6º ano alunos preenchendo questionário
Fonte: ALBERTON (2011).
No primeiro contato, eles foram receptíveis aos novos desafios, já que iriam fazer
parte deste estudo. Em todas as atividades desenvolvidas em sala de aula, o grupo demonstrou
interesse.
Observaram-se algumas dificuldades em assimilar e compreender os conteúdos de
Geografia, dificuldades estas que foram identificadas através das respostas obtidas com a
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aplicação dos questionários e das entrevistas, onde ficou clara a necessidade de inovar,
aperfeiçoar e desenvolver novos métodos nos conteúdos, de modo a favorecer o entendimento
do estudo em pauta.
RESULADOS E DISCUSSÃO
A inserção da educação ambiental participativa
O caráter amplo em que se insere a educação ambiental sugere que ela não deve ser
implantada como disciplina específica, o que quer dizer que o tema deve perpassar todos os
componentes curriculares em cada nível de ensino, integrando-os com enfoque holístico,
permitindo a síntese e a visão geral do meio circundante.
Para Travassos (2001, p. 10), a Educação Ambiental tem que ser desenvolvida como
uma prática, para todas as pessoas envolvidas com a escola, as quais precisam estar
preparadas para lidar com tão importante tema. Essa abordagem reforça a visão de conjunto, a
interdependência das disciplinas curriculares tradicionais, forçando a síntese como importante
ferramenta de compreensão da realidade, buscando a formação de cidadãos aptos a entender
as exigências do meio ambiente circundante, defendendo com ética a equidade ambiental mais
ampla.
Para envolver toda a instituição escolar na dinâmica meio ambiente e sustentabilidade,
foi encaminhado um comunicado à direção e aos professores para que eles tomassem
conhecimento da finalidade da importância da participação no evento.
Dessa forma, para elaborar a oficina de reciclagem, foi necessário o envolvimento de
toda a instituição escolar, que armazenou em recipientes adequados o óleo saturado, trazido
pelos alunos, professores e o espaço da cozinha da escola, componentes importantes para a
fabricação do sabão ecológico.
Para isso, foi feito pelos próprios alunos um panfleto informativo abordando a
importância de reciclar e de que forma todos poderiam contribuir. O panfleto foi afixado em
cada sala de aula, onde os alunos o visualizassem e não se esquecessem do compromisso
planejado.
Escola e Meio. Ambiente: uma reflexão sobre o cotidiano
Outros aspectos buscados junto aos alunos foram a satisfação em estudar geografia, a
leitura de mapas, além da percepção dos problemas ambientais, como preparação ao
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entendimento, à importância da reciclagem e seus benefícios. Para tanto, aplicou-se um
questionário semiestruturado junto à turma. Após o término do preenchimento do
questionário, foi feito um sorteio de uma latinha reciclada, utilizada como porta objetos, para
motivá-los e deixar o ambiente descontraído.
Uma vez criadas as condições para o engajamento da turma, foi proposta a elaboração
de uma representação do modo como eles observam os problemas ambientais no bairro onde
moram e os desafios que todos os moradores enfrentam, ante as dificuldades que, acreditem,
não são caso isolado, mas são comuns em outros bairros da cidade. Um desenho à mão
(Figura 3) retratou a relação aluno/meio ambiente completa com um texto explicativo que
mostra a interpretação do aluno acerca dos problemas localizados no bairro onde mora.
Figura 3. Desenho e redação sobre Meio Ambiente feito por um aluno do 6° ano.
Fonte: ALBERTON (2011)
Ações sustentáveis através de uma oficina ecológica
A grande preocupação de hoje, diz respeito a que medidas podem ser tomadas para
amenizar os impactos ambientais, pois o passado nos deixou grandes problemas devido ao
impulso frenético da ação do homem sobre a natureza. Segundo Menezes (2007, p. 202),
ações e práticas sustentáveis envolvem decisões nos campos econômicos, políticos, sociais,
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cultural e ideológico e podem, em muito, ajudar a natureza. Assim, as escolhas sobre o que e
como passam pelas lutas e relações de poder inerentes à sociedade moderna, cheia de
contradições.
Nesse contexto, a sugestão como a oficina de reciclagem na fabricação do sabão
ecológico, proposta por este estudo, é uma alternativa sustentável, que ameniza os impactos
ao meio ambiente, pois é uma providência que contribui para reaproveitar o óleo vegetal
usado para cozinhar e que se trata de um grande poluidor.
Conforme Lira (2007):
A reciclagem de resíduos, independente do seu tipo vem apresentando várias vantagens em
relação à utilização de recursos naturais virgens, como redução do volume de extração de
matérias primas, economia de energia, menores emissões de poluentes, melhoria da saúde da
população e, principalmente, a preservação dos recursos naturais, prolongando sua vida útil.
(LIRA, 2007, p. 185)
São ações simples e objetivas, como a que consta nesta proposta, que conseguem
conscientizar as pessoas, através de uma abordagem direta, mas que produza atitudes capazes
de refletir e de reeducar. Isto pode ser observado na comunidade da escola, que a fez refletir
sobre os problemas ambientais de seu entorno.
Uma vez trabalhados os conceitos e a conscientização dos alunos, partiu-se para o
objetivo maior que foi a realização da fabricação artesanal do sabão, com o óleo reaproveitado
e coletado pela turma reunida (Figura 4), partiu-se para a ação.
Figura 4. Participação dos alunos na oficina.
Fonte: ALBERTON (2011).
Os alunos representando as séries da Instituição Escolar ficaram observando todo o processo
de fabricação do sabão ecológico tendo no óleo saturado sua principal matéria-prima (Figura
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Figura 5. Óleo vegetal saturado
Fonte: Alberton (2011).
Vale ressaltar que este óleo quando chega ao meio ambiente causa sérios problemas
ambientais, alguns deles, como a impermeabilização do solo, o que dificulta a absorção de
água, tornando-se um dos fatores que causa as enchentes e poluindo os lençóis freáticos.
Quando é despejado diretamente nos rios e represas, fica na superfície, impedindo a entrada
de luz e ameaçando a vida de espécies aquáticas.
Estes alunos poderão ser vetores na difusão do descarte adequado deste resíduo, pois
as pessoas que os utilizam, a exemplo de donos de restaurantes, cozinheiros, pasteleiros e
donas de casa, estão (sem saber) contribuindo para poluir, causando um enorme dano não
somente ao meio ambiente, mas até mesmo à infraestrutura urbana, obstruindo a tubulação de
esgotamento das cidades.
Segundo Alberici e Pontes (2004):
O acúmulo de óleos e gorduras nos encanamentos pode causar entupimentos, refluxo de esgoto
e até rompimentos nas redes de coleta. Para retirar o produto e desentupir os encanamentos são
empregados produtos químicos altamente tóxicos, o que acaba criando uma cadeia perniciosa. (ALBERICI e PONTES, 2004, p. 79)
A fabricação do sabão ecológico é de fácil preparo, com ingredientes simples, apenas
a soda cáustica requer mais cuidado na hora de manuseá-la. De acordo com Cruz e Galhardo
Filho (2004, p. 88), sabões são sais orgânicos obtidos a partir da reação (denominada
saponificação) entre óleos e gorduras com uma base forte de soda cáustica ou potassa cáustica
apresentada na (Figura 6).
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Figura 6. A mistura dos ingredientes para fabrico do sabão.
Fonte: ALBERTON (2011).
Esta é uma das muitas alternativas para o óleo vegetal saturado. Neste caso, a
utilização para a fabricação do sabão ecológico em tablete (Figura 7), pois entre muitos
benefícios, ele é considerado um produto biodegradável. Na visão de Ferreira (2001, p. 106),
porque pode ser decomposto por microrganismos usuais no meio ambiente. E ecológico
porque a ação evita que o óleo chegue ao meio ambiente, poluindo-o. Com ações deste porte,
pode-se despertar a consciência de que a conservação do meio ambiente é responsabilidade
social e o sabão ecológico é uma alternativa de baixo custo que traz um grande benefício
cultural e social, despertando a conscientização de uma comunidade.
Figura 7. As barras de Sabão Ecológico, fabricados e cortados em tabletes.
Fonte: Alberton (2011).
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O sabão ecológico faz muita espuma e é utilizado nos mais diversos tipos de limpeza,
na cozinha, ele é ideal para manter o brilho dos utensílios de alumínio e tirar gordura de vidro
e plástico. Na lavagem de roupas, ele desencarde principalmente pano de louça, jeans tapetes
e roupas brancas. O produto foi utilizado na cozinha da própria escola para higienização dos
utensílios domésticos e nas demais limpezas em geral.
O sabão ecológico, aos poucos, vem conquistando novos consumidores e com isso
estará passando por uma nova receita para melhorar seu desempenho como produto, já que ele
faz parte do cotidiano de alguns usuários que sugerem mudanças em alguns aspectos,
principalmente no cheiro.
Os alunos, professores e funcionários que participaram da oficina ecológica levaram
para casa uma amostra do produto para testar e comprovaram a sua eficiência quanto à
qualidade aqui defendida.
Outra providência foi a divulgação da oficina ecológica apresentada na amostra
pedagógica da escola municipal Frei Dagoberto Stucker, realizada em novembro de 2011 e
aberta aos visitantes que puderam conferir os trabalhos realizados pelos alunos e professores
de todas as séries nos mais variados temas, todos que ali visitaram o evento puderam ver o
sabão ecológico e tirar as dúvidas com os alunos que participaram da oficina. E assim, a partir
de ações simples, como no caso presente, a comunidade pode se engajar na educação
ambiental e projetar o futuro com mais preservação.
CONCLUSÕES
O trabalho mostrou a dinâmica nas atividades do conteúdo da Geografia, articulado
com outros saberes, no sentido de apresentar ao público jovem e à comunidade, a importância
que o tema alcança em um tempo de reflexão e comprometimento, baseado na Educação
Ambiental.
O trabalho de campo evidenciou outro aspecto importante no processo educacional,
que foi a participação interdisciplinar dos profissionais da educação. Deles dependeu o
envolvimento da comunidade e possibilitou os resultados alcançados.
A mobilização posta em prática por ocasião da realização desta pesquisa mostrou
resultados significativos de duas maneiras: primeiro, através abordagem da assimilação no
aprendizado do conteúdo de Geografia e, em segundo, por meio da participação de toda a
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escola e da comunidade. Tudo isso convergiu à construção da oficina ecológica na produção
do sabão artesanalmente, na difusão de uso e sua divulgação.
A comunidade da escola frei Dagoberto conheceu na prática o significado de reciclar,
preservar e economizar. Acredita-se, dessa forma, que este trabalho possa ter contribuído para
as reflexões sobre a prática da Educação Ambiental, introduzindo na escola medidas que
visam amenizar os impactos ambientais causados pelo homem.
Em suma, a missão de preservar parece não estar relacionada apenas aos megaeventos,
mas às pequenas ações do cotidiano da sociedade, por meio da Educação Ambiental, na
observância da legislação vigente, seja em escala local ou global. Neste processo, o
profissional geógrafo tem papel destacado no entendimento da interface sociedade/produção
do espaço. Fica o desafio para aqueles que buscam introduzir a Educação Ambiental como
processo modificador nas unidades de ensino e que este trabalho possa contribuir em seus
diversos aspectos.
REFERÊNCIAS
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