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ESCOLA SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DE VITÓRIA – EMESCAM
MESTRADO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E DESENVOLVIMENTO LOCAL
GABRIELA PEREIRA DA SILVA
O LIVRO DIDÁTICO COMO DISPOSITIVO PARA O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA POLÍTICA PÚBLICA
VITÓRIA 2016
GABRIELA PEREIRA DA SILVA
O LIVRO DIDÁTICO COMO DISPOSITIVO PARA O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA POLÍTICA PÚBLICA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local da Emescam, como requisito final para obtenção do Grau de Mestre em Políticas Públicas. Orientadora: Profª Drª Silvia Moreira Trugilho Co-orientadora: Profª Drª Dulcinea Sarmento Rosemberg
VITÓRIA
2016
Dados internacionais de Catalogação -na- Publicação (CIP) EMESCAM – Biblioteca Central
Silva, Gabriela Pereira da.
S586l O livro didático como dispositivo para o desenvolvimento da competência em informação no contexto da política pública. / Gabriela Pereira da Silva. - 2016. 226f.
Orientador (a): Prof.ª Dr.ª Silvia Moreira Trugilho Co-orientador (a): Prof.ª Dr.ª Dulcinea Sarmento Rosemberg Dissertação (mestrado) em Políticas Públicas e
Desenvolvimento Local – Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, EMESCAM, 2016.
1. Políticas públicas. 2. Livro didático. 3. Biblioteca escolar. 4. Competência em informação. Trugilho, Silvia Moreira. II. Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, EMESCAM. III. Título.
CDU: 371.671
O LIVRO DIDÁTICO COMO DISPOSITIVO PARA O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO NO CONTEXTO DA POLÍTICA PÚBLICA
Gabriela Pereira da Silva
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local da Escola de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória –
EMESCAM, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de mestre em Políticas Públicas.
Aprovada pela Banca Examinadora abaixo assinada:
____________________________________________________
Silvia Moreira Trugilho, Drª. (Orientadora) - Emescam
____________________________________________________
Dulcinea Sarmento Rosemberg, Drª (Coorientadora)
Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
____________________________________________________
Angela Maria Caulyt Santos da Silva, Drª (Membro avaliador interno) Emescam
____________________________________________________
Hiran Pinel, Dr. (Membro avaliador externo) Universidade Federal do Espírito Santo (UFES)
VITÓRIA 29 de agosto de 2016
Mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de uma grande realização.
(Martin Luther King Jr.)
DEDICATÓRIA
A Deus, unidade de divino Amor
À minha querida avó, Maria da Conceição, pelo auxílio à minha criação e educação, que ainda me dedica amor e apoio.
À Minha irmã Andreia, à minha tia Ana Cláudia, e meus primos Márcio e Rebeca.
À minha querida orientadora, Drª Silvia Moreira Trugilho, por todo o apoio desde o início
ao fim, pela dedicação, orientação e contribuições do âmbito do Serviço Social que enriqueceram este trabalho.
À Drª Dulcinea Sarmento Rosemberg, por ter aceitado coorientar este trabalho na metade do caminho, por todas as contribuições teóricas e técnicas e pelo auxílio na construção da
ponte entre a biblioteca escolar e políticas públicas.
À Drª. Angela Maria Caulyt Santos da Silva pela participação da minha banca de defesa e pelas contribuições do âmbito educacional e cultural ao meu trabalho, e pelo apoio à
minha pesquisa no decorrer das disciplinas do mestrado.
Ao Dr. Hiran Pinel, por ter participado da minha banca de defesa, e gentilmente apontar contribuições do campo da educação e da psicologia, que considero como
imprescindíveis e tão ricas ao meu trabalho.
Aos demais docentes da Emescam, Dr. Valmin Ramos Silva, Dr. César Albenes, Drª. Maria Diana Cerqueira Sales, por todo o conhecimento transmitido ao decorrer do
mestrado.
Aos alunos e servidores do Instituto Federal do Espírito Santo, pelo apoio à minha pesquisa.
Aos meus amigos e colegas de mestrado, Érica, Izabel, Marcélia e Linccon, por dividirem as alegrias e angústias nestes dois anos e cinco meses de estudos.
À minha grande amiga, Manuella, pelo apoio e incentivo, mesmo à distância.
A todos que de forma direta ou indireta, contribuíram para a realização deste trabalho.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ABEBD - Associação Brasileira de Escolas de Biblioteconomia e Documentação
ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
Ala - American Library Association
CD – Compact Disk
CDD – Classificação Decimal de Dewey
Cefor – Centro de Formação e Educação à Distância do Ifes
Cep - Comitê de Ética em Pesquisa
CFB – Conselho Federal de Biblioteconomia
CNS - Conselho Nacional de Saúde
CoInfo - Competência em Informação
CRB – Conselho Regional de Biblioteconomia
DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis
DVD – Digital Video Disk
EBTT – Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
Emescam - Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória
Enem – Exame Nacional do Ensino Médio
Fae - Fundação de Assistência ao Estudante
FNDE - Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
Ifes - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo
Ifla – International Federation of Library Associations and Institutions
Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
INL - Instituto Nacional do Livro Didático
ISP – Information Search Process
Mec - Ministério da Educação
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
PCN - Parâmetros Curriculares Nacionais
PLIDEF - Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental
PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
PNE – Plano Nacional de Educação
PNLA - Programa Nacional do Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos
PNLD - Programa Nacional do Livro Didático
PNLEM - Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio
PREMEM – Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio
PT – Partido dos Trabalhadores
Puc (PR) - Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Reuni - Reestruturação e Expansão das Universidades Federais
Saeb - Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
Tale - Termo de Assentimento Livre e Esclarecido
TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
Usaid – United States Agency for International Development
UI – Unidade de Informação
USP – Universidade de São Paulo
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – O PROCESSO DE BUSCA DE INFORMAÇÃO (ISP)………………………..39
TABELA 2 – DEMONSTRATIVO DO NÚMERO DE PARTICIPANTES…......................….54
TABELA 3 – DEMONSTRATIVO DA DISTRIBUIÇÃO QUANTO AO GÊNERO DOS
PARTICIPANTES………………………………………………………………………………...54
TABELA 4 – DEMONSTRATIVO DE CARACTERÍSTICAS DOS BIBLIOTECÁRIOS……55
TABELA 5 – DEMONSTRATIVO DE CARACTERÍSTICAS DOS AUXILIARES DE
BIBLIOTECA………………………………………………………………………………………55
TABELA 6 – DEMONSTRATIVO DE CARACTERÍSTICAS DOS ESTAGIÁRIOS………..56
TABELA 7 – DEMONSTRATIVO DE CARACTERÍSTICAS DOS ALUNOS………………..56
TABELA 8 – DISTRIBUIÇÃO DE ESCOLARIDADE POR GÊNERO DOS ALUNOS……..57
TABELA 9 – DISTRIBUIÇÃO DE CURSO TÉCNICO POR GÊNERO DOS ALUNOS……58
TABELA 10 – DISTRIBUIÇÃO DE ESCOLARIDADE POR FAIXA ETÁRIA DOS
ALUNOS…………………………………………………………………………………………...58
LISTA DE QUADROS
QUADRO 1 – ETAPAS DO PROGRAMA DE COMPETÊNCIA EM
INFORMAÇÃO…………………………………………………………………………………..188
RESUMO
A pesquisa realizada tem como tema o livro didático como dispositivo para o
desenvolvimento da Competência em Informação (Coinfo) a partir do trabalho do
bibliotecário escolar. O estudo pretendido, então, justifica-se pela importância reconhecida
do livro didático como elemento articulador entre a política pública para a educação e sua
relação com a construção de intervenções didáticas no processo de ensino-
aprendizagem. Delineou-se como objetivo geral: Descrever analiticamente as
contribuições das políticas públicas para o livro didático e suas interlocuções com a
biblioteca escolar para a formação da competência informacional de adolescentes
escolares do ensino médio de uma escola da rede federal de ensino. Como objetivos
específicos, três foram apontados, tais como: a) Destacar políticas públicas existentes
para o livro e a leitura utilizadas na educação formal regular de ensino médio no âmbito
federal; b) Verificar se a biblioteca do campo de estudo promove práticas de incentivo à
leitura e que atividades desenvolvidas na biblioteca escolar favorecem a formação social
e intelectual de adolescentes escolares; e c) Analisar os sentidos de livro, leitura e
biblioteca apresentados por adolescentes escolares, alunos da instituição de ensino onde
a pesquisa foi realizada. A metodologia adotada foi a pesquisa descritiva e de estudo de
caso, tendo como instrumento de coleta de dados, a realização de entrevistas com 24
participantes, constituído por alunos, bibliotecários, auxiliares de biblioteca e estagiários
da biblioteca do Instituto Federal do Espírito Santo, campus Venda Nova do Imigrante. Os
resultados apontam que os investimentos para as políticas públicas para a educação
contemplam apenas às dirigidas ao livro, especificamente ao livro didático, e não há uma
política de promoção da leitura e formação de leitores no âmbito da biblioteca escolar.
Quanto às práticas de leitura promovidas pela unidade de informação do campus
estudado, são insuficientes e focalizadas e quanto aos sentidos do livro didático, leitura e
biblioteca, o livro didático é visto como um instrumento de pesquisa que satisfaz as
necessidades informacionais dos alunos, porém, os mesmos não são competentes em
informação. Conclui-se que é necessária uma intervenção, por parte da biblioteca escolar,
em propor um programa de competência em informação, que integre a sala de aula com a
biblioteca.
Palavras-chave: Políticas públicas. Livro didático. Biblioteca escolar. Competência em
Informação
ABSTRACT
The research theme is the textbook as a device for the development of Information
Literacy (Coinfo) from the school library work. The intended study is justified by the
perceived importance of the textbook as an articulator element of public policy for
education and its relation to the construction of educational interventions in the teaching-
learning process. It outlined as general objective: analytically describe the contributions of
public policies for the textbook and its dialogues with the school library for the formation of
information literacy of adolescent high school a school of federal schools. The specific
objectives, three were singled out, such as: a) Highlight existing public policies for books
and reading used in regular formal education of high school at the federal level; b) Check
that the field of study library promotes reading incentive practices and activities in the
school library favor the social and intellectual formation of adolescent; and c) Analyze the
book of meanings, reading and library presented by schoolchildren, students of the
educational institution where the research was conducted. The methodology was
descriptive and case study, with a data collection instrument, conducting interviews with 24
participants consisting of students, librarians, library assistants and library trainees of the
Federal Institute of the Espírito Santo, campus Venda Nova do Imigrante. The results
shows that investments for public policies for education include only those addressed to
the book, specifically the textbook, and there is no reading promotion and training policy
players within the school library. As for the reading practices promoted by the campus
information unit studied, they are insufficient and focused and as to the senses of the
textbook, reading and library, the textbook is seen as a research instrument that meets the
information needs of students, however, they are not competent in information. It is
concluded that an intervention is necessary, by the school library, to propose a Information
Literacy program that integrates the classroom to the library.
Keywords: Public policy. Textbook. School library. Information Literacy
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 13 1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA ......................................... 17
2 REVISÃO DE LITERATURA .......................................................................................... 23
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL ....................................... 23 2.2 BIBLIOTECA ESCOLAR E LIVRO DIDÁTICO COMO AGENTES DEMOCRÁTICOS
DE ACESSO À INFORMAÇÃO ...................................................................................... 24 2.3 A BIBLIOTECA ESCOLAR COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E
DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO .................................... 26
3 QUADRO TEÓRICO: APRENDIZAGEM CONSTRUTIVISTA NA PERSPECTIVA DO MODELO DE BUSCA DE INFORMAÇÃO – ISP, DE CAROL KUHLTHAU ..................... 36
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ....................................................................... 43
4.1 AMBIENTE DO ESTUDO ......................................................................................... 43 4.1.1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes) ........................................................................................................................... 43 4.1.2 A biblioteca do Ifes, campus Venda Nova do Imigrante ............................... 44
4.2 TIPOLOGIA .............................................................................................................. 45 4.2.1 Quanto à abordagem ....................................................................................... 45 4.2.2 Quanto aos objetivos ...................................................................................... 46 4.2.3 Quanto às técnicas .......................................................................................... 47
4.3 PARTICIPANTES ...................................................................................................... 47 4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ............................................................... 49
4.4.1 Estratégias de aplicação do instrumento de coleta de dados ..................... 49 4.5 PLANO DE PRODUÇÃO DE DADOS ....................................................................... 50 4.6 RISCOS E BENEFÍCIOS .......................................................................................... 51 4.7 ASPECTOS ÉTICOS ................................................................................................ 52 4.8 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA ................................... 53
5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O LIVRO DIDÁTICO E SUAS INTERLOCUÇÕES COM A BIBLIOTECA ESCOLAR PARA A FORMAÇÃO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO .................................................................................................................. 60
5.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DIRIGIDAS AO LIVRO DIDÁTICO E À LEITURA ................ 60 5.2.1 Políticas públicas dirigidas à educação: legislações ................................... 60 5.2.2 Políticas públicas brasileiras dirigidas ao livro didático ............................. 65 5.2.3 Políticas públicas para o livro didático: um desafio à biblioteca escolar .. 70 5.2.4 O livro didático na prática educativa e suas implicações para a biblioteca escolar ....................................................................................................................... 73
5.3 POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS DIRIGIDAS À LEITURA .............................. 83 5.3.1 Ações do ministério da educação na biblioteca escolar, livro e leitura ...... 83
5.4 PRÁTICAS DE INCENTIVO À LEITURA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR ............. 86 5.4.1 A biblioteca do Ifes e as práticas de incentivo à leitura ............................... 87
5.5 SENTIDO DE LIVRO DIDÁTICO, LEITURA E BIBLIOTECA APRESENTADOS POR
ADOLESCENTES ESCOLARES ................................................................................. 100 5.5.1 Estágio de Iniciação ...................................................................................... 101
5.5.2 Estágio de Seleção ........................................................................................ 112 5.5.3 Estágio de Exploração .................................................................................. 118 5.5.4 Estágio de Formulação ................................................................................. 127 5.5.5 Estágio de Coleta de Informação ................................................................. 135 5.5.6 Estágio de Apresentação e Avaliação do Trabalho .................................... 149
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS: UMA PROPOSTA DE PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO UTILIZANDO-SE COMO DISPOSITIVO O LIVRO DIDÁTICO ....................................................................................................................... 163
6.1 VIABILIZAÇÃO DO PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE COMPETÊNCIA EM
INFORMAÇÃO ............................................................................................................. 188 6.2 PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO . 191
6.2.1 Caracterização do local ................................................................................. 191 6.2.2 Público-alvo ................................................................................................... 191 6.2.3 Período de execução ..................................................................................... 192 6.2.4 Quantidade de pessoas favorecidas ............................................................ 192 6.2.5 Objetivo geral do programa .......................................................................... 192 6.2.6 Objetivos específicos do programa ............................................................. 192 6.2.7 Caracterização do Programa ........................................................................ 192
6.3 ETAPAS DE EXECUÇÃO ....................................................................................... 193 6.3.1 Iniciação ......................................................................................................... 193 6.3.2 Seleção ........................................................................................................... 195 6.3.3 Exploração de informações .......................................................................... 197 6.3.4 Formulação .................................................................................................... 201 6.3.5 Coleta de Informações .................................................................................. 201 6.3.6 Apresentação e Avaliação do trabalho ........................................................ 205
6.4 À GUISA DAS PALAVRAS FINAIS .......................................................................... 209
7 REFERÊNCIAS ............................................................................................................ 212
APÊNDICES .................................................................................................................... 227
APÊNDICE “A” - FORMULÁRIO DE ENTREVISTA – ALUNOS DE ENSINO MÉDIO . 228 APÊNDICE “B” – FORMULÁRIO DE ENTREVISTA – AUXILIARES DE BIBLIOTECA E
ESTAGIÁRIOS ............................................................................................................. 230 APÊNDICE “C” – FORMULÁRIO DE ENTREVISTA – BIBLIOTECÁRIOS E EX-BIBLIOTECÁRIOS....................................................................................................... 232 APÊNDICE “D” - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA
PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA (PAIS DE ALUNOS) ................................................ 235 APÊNDICE “E” - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA
PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA (FUNCIONÁRIOS, ESTAGIÁRIOS E EX-PROFISSIONAIS) ........................................................................................................ 236 APÊNDICE “F” – TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ................ 237 APÊNDICE “G” – CARTA DE ANUÊNCIA PARA REALIZAÇÃO DA PESQUISA ....... 239
APÊNDICE "H" - QUADRO PARA ORGANIZAÇÃO DOS DADOS..................................240
ANEXOS......................................................................................................296 ANEXO 1: PARECER DE APROVAÇÃO DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA EMESCAM....................................................................................................................297
13
1 INTRODUÇÃO
A pesquisa realizada tem como tema o livro didático como dispositivo para o
desenvolvimento da Competência em Informação (CoInfo1), a partir do trabalho do
bibliotecário escolar.
O estudo realizado, então, justifica-se pela importância reconhecida do livro didático
como elemento articulador entre a política pública para a educação e relacioná-lo com
a construção de intervenções didáticas no processo de ensino-aprendizagem e,
fundamentalmente, porque dada a função educativa da biblioteca escolar o mesmo
pode vir a ser utilizado por bibliotecários como dispositivos do desenvolvimento da
CoInfo.
Nessa perspectiva, esta proposta assume um caráter de ineditismo, uma vez que
investigações dessa natureza não foram localizados, até o momento da redação desta
dissertação, uma vez que ainda não se tem um conhecimento de um programa de
competência em informação, incluso no currículo escolar formal, fator que contribui
para os alunos de ensino médio não desenvolvam adequadamente suas capacidades e
possibilidades de obtenção de conhecimento através da pesquisa escolar.
Neste contexto, atribui-se como relevante demonstrar as características do livro
didático como dispositivo de desenvolvimento de competência em informação e sua
eficiência como guia na busca por informação no processo de pesquisa escolar,
realizada na biblioteca campo deste estudo.
Em termos teórico-epistemológicos, o estudo se insere em uma abordagem sócio-
histórico-cultural da leitura, baseada na compreensão de sua característica conceitual,
que é o estímulo à distribuição dos conteúdos através das políticas públicas para a
educação e o livro que, em tese, fortaleceria a prática de entendimento construtivista da
realidade social do educando e o incentivo do uso de textos de apoio para o auxílio
1 Esta sigla é utilizada por Regina Belluzzo (2009) para remeter-se ao tema Competência em
Informação.
14
desta construção educacional, disponibilizados pela biblioteca escolar.
Neste contexto, propusemos que o aluno questionasse seu modo de aprendizado
através da análise do próprio recurso didático disponibilizado para a busca
informacional em uma biblioteca escolar, cujos objetivos deveriam estar alinhados com
as metas educacionais da escola onde o estudo foi realizado. Contribuiu para a
necessidade de investigação e produção de conhecimento que causasse impacto
social e a transformação de grupos, baseados na ótica construtivista de conceber o
conhecimento humano, segundo sua gênese em desenvolver novas formas de
aprendizagem e, por conseguinte, de causar transformações sociais.
Em sua forma mais ampla, a inovação em novas formas de ensinar e aprender, como
propõe esta dissertação, mostra como os alunos aprendem determinados conteúdos,
demonstrando se a escola em seu formato tradicional hoje consegue ou não alcançar
seus objetivos educacionais anteriormente delimitados, de que forma estes
conhecimentos contribuem para a formação de sujeitos autônomos e capacitados
informacionalmente e, qual o papel das políticas públicas para o livro didático para o
diálogo entre a assimilação dos conteúdos ministrados em sala de aula e a visão de
mundo trazida pelos estudantes. Destaca-se em sua relevância por envolver as
concepções entre leitura e formação de leitores, de forma a esclarecer o caráter da
política pública para o livro didático em seu aspecto social e enquanto suporte
pedagógico.
A relevância científica do presente estudo reside no fato de o mesmo poder incentivar a
produção de conhecimentos a respeito da formação e organização das bibliotecas
escolares no contexto local em relação à utilização das mesmas, como espaço de
informação e aprendizagem de crianças e jovens, a partir da gestão das escolas.
Em termos sociais, os resultados obtidos poderão oferecer informações úteis para
subsidiar os gestores de escolas no desenvolvimento de práticas escolares que
facilitem e fortaleçam projetos pedagógicos voltados a uma maior intervenção da
biblioteca nos processos educacionais, em caráter de interdisciplinaridade, através de
maior utilização dos acervos nas práticas pedagógicas em sala de aula, que,
consequentemente, contribua para que os professores consigam mediar o processo de
15
aprendizagem com seus alunos e que estes possam assumir a condição de sujeitos
ativos e protagonistas de cidadania.
E, ainda, no que se refere às contribuições esperadas, o conhecimento sobre as
políticas públicas voltadas ao livro didático e posteriormente, seu reflexo nas práticas
pedagógico-educacionais no âmbito das bibliotecas escolares auxiliarão na efetivação
de estratégias que visem a melhor utilização da biblioteca escolar como espaço de
valorização da leitura, informação e mediação do processo de ensino-aprendizagem de
crianças e jovens.
Diante do exposto, o problema de pesquisa, elemento norteador do presente estudo,
revela-se na seguinte interrogação: Em face das políticas públicas dirigidas ao livro
didático, como ocorre a interlocução do mesmo com a biblioteca escolar para a
formação da competência em informação de adolescentes escolares do ensino médio
de uma escola da rede federal de ensino?
Para a busca da compreensão deste problema, delineou-se como objetivo geral:
descrever analiticamente as contribuições das políticas públicas para o livro didático e
suas interlocuções com a biblioteca escolar para a formação da competência
informacional de adolescentes escolares do ensino médio de uma escola da rede
federal de ensino. Como objetivos específicos, três foram apontados, tais como: a)
Destacar políticas públicas existentes para o livro e a leitura utilizadas na educação
formal regular de ensino médio no âmbito federal; b) Verificar se a biblioteca do campo
de estudo promove práticas de incentivo à leitura e que atividades desenvolvidas na
biblioteca escolar favorecem a formação social e intelectual de adolescentes escolares;
e c) Analisar os sentidos de livro, leitura e biblioteca apresentados por adolescentes
escolares, alunos da instituição de ensino onde a pesquisa foi realizada.
É, portanto, a partir dessas considerações iniciais e introdutórias que o trabalho segue
organizado. Assim, a presente dissertação possui a seguinte estrutura e conteúdo:
O Item inicial deste trabalho, denominado INTRODUÇÃO apresenta ao leitor o tema, os
objetivos, a justificativa e a contextualização do problema de pesquisa, possibilitando
um conhecimento inicial do que se propõe o trabalho.
16
Na sequência, o capítulo intitulado REVISÃO DE LITERATURA contém estudos já
realizados sobre o tema abordado neste trabalho, apresentando conceitos de políticas
públicas, biblioteca escolar e livro didático. O capítulo dedica-se, ainda a abordar
conceitos relacionados ao tema Competência em Informação.
O terceiro capítulo, denominado APRENDIZAGEM CONSTRUTIVISTA NA
PERSPECTIVA DO MODELO DE BUSCA DE INFORMAÇÃO – ISP, DE CAROL
KUHLTHAU, busca contextualizar o método construtivista de pesquisa escolar
orientada, na perspectiva dos estudos de Carol Kuhlthau, como modelo de
acompanhamento ao estudante realizado por professor e bibliotecário para a
elaboração do trabalho escolar.
No quarto capítulo: PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS encontram-se
detalhadamente descritas as escolhas da pesquisadora quanto ao procedimento
metodológico adotado neste trabalho, com os instrumentos e técnicas utilizados para a
realização da pesquisa que deu base à elaboração desta dissertação.
O quinto capítulo, intitulado POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O LIVRO DIDÁTICO E
SUAS INTERLOCUÇÕES COM A BIBLIOTECA ESCOLAR PARA A FORMAÇÃO DA
COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO, apresenta e analisa os dados obtidos na pesquisa
realizada, destacando o papel e a forma de utilização do livro didático pelos alunos
participantes da pesquisa e a visão dos profissionais da biblioteca escolar.
Por fim, o sexto capítulo, denominado CONSIDERAÇÕES FINAIS: UMA PROPOSTA
DE PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO
UTILIZANDO-SE COMO DISPOSITIVO O LIVRO DIDÁTICO propõe um programa de
desenvolvimento de competência em informação que buscará agregar a potencialidade
de aprendizagem do livro didático com a utilização de diversas fontes de informação
para o aluno, ofertadas pela biblioteca escolar campo da pesquisa, sendo dedicado às
últimas considerações sobre o trabalho realizado e suas implicações na perspectiva
pessoal da autora, assim como a consideração das contribuições científicas
possibilitadas pelo estudo e seus desdobramentos.
17
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA
O acesso à educação e à informação está assegurado pela Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948. Recorrer a este documento é importante, pois o mesmo
aponta para um ideal de sociedade mais civilizada, desenvolvida, ética e sustentável.
Para Coutinho (2013), inúmeros procedimentos para a garantia da aplicabilidade das
políticas públicas são mediados por normas ou leis, que são elaboradas para defendê-
las ou questioná-las, garantindo ao cidadão o acesso aos direitos básicos amparados
pela Constituição Federal, por conter normas que preveem objetivos a serem
alcançados através das políticas públicas, como a erradicação do analfabetismo, da
pobreza e da redução das desigualdades sociais.
Nesta mesma direção de reconhecimento de direitos humanos, a Constituição Federal
de 1988 (BRASIL, 2010a, p. 121), em seu capítulo III, trata diretamente da educação,
da cultura e do desporto. Sobre a educação, o artigo 205 estabelece a educação como
direito de cidadania de todos os brasileiros e, ao mesmo tempo, institui a mesma como
dever do Estado e da família, a ser promovida com a colaboração da sociedade, de
forma que oportunize “[...] o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Considerando a cidadania
como direito social, o papel da escola deve permitir o encontro de diversidade cultural e
simetria de conhecimentos, proporcionados pelo currículo escolar e assimilação da
visão de mundo de crianças e adolescentes.
A educação, de responsabilidade do Estado, referida no artigo constitucional citado,
refere-se à educação escolar formal, oferecida através da política pública de educação
e disponibilizada pela rede de ensino. Nesta rede de ensino, estão as escolas com
suas bibliotecas escolares e acadêmicas, ou salas de leitura.
No âmbito das responsabilidades do Poder Público para a educação de todos e para
todos, destaque pode ser dado ao texto constitucional que estabelece nos artigos 205 e
206 “igualdade de condições para o acesso e permanência na escola e a liberdade de
aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber” (BRASIL, 2010,
p. 121).
18
Considerando tal compromisso para com a educação, a biblioteca escolar se converte
em um instrumento fundamental para incentivar no aluno o desenvolvimento de suas
potencialidades básicas (leitura e escrita), para intervir na sociedade com práticas de
cidadania e democracia, além de proporcionar melhor qualidade de vida, pois quanto
mais alto o nível de instrução, melhores são as oportunidades de empregos, que por
sua vez, exigem melhores níveis educacionais.
A partir de estudos de Côrte (2011), pode-se constatar que historicamente, o
conhecimento era privilégio de uma elite, ou grupos restritos de pessoas. Mesmo com o
surgimento das escolas no século XX, a educação limitava-se a atender a uma parte da
população. De acordo com informações da autora, o professor era o grande
responsável pela formação educacional e cultural dos alunos, e as escolas nem
sempre possuíam bibliotecas, e muitos conheceram sua primeira biblioteca quando
ingressaram na universidade, e esta realidade ainda faz parte do processo educacional
de várias regiões do país.
Para amenizar a ausência das bibliotecas nas escolas, Copes (2007) informa que a
partir de 1983, a Fundação de Assistência ao Estudante (FAE), ex-FENAME criada em
1976, vinculada ao Governo Federal, coordenou um programa de aquisição e
distribuição de livros didáticos dirigidos às escolas públicas carentes de todo o Brasil. A
autora destaca que com um intuito maior em se democratizar o acesso à leitura, o
artigo 215 da Constituição Federal de 1988 preceituou que o Estado deveria garantir a
todos o pleno exercício dos direitos culturais e o acesso às fontes de cultura nacional.
A Lei Constitucional, conforme o parágrafo 3º do artigo 216, estabelece incentivos à
produção de conhecimentos e à difusão das manifestações dos bens e valores
culturais. Desde então, os Ministérios da Educação e da Cultura vêm desenvolvendo
ações para o enfrentamento dos problemas da dificuldade de acesso ao livro para
crianças e jovens, logo, o livro didático é um desdobramento de uma política pública
para a educação que procurou amenizar as dificuldades de acesso ao conhecimento e
saber.
19
Estudos como os de Freire (2011), Bagno (2002) e Silva (2011), comprovam que a
criança e o adolescente que são incentivados a ler, desenvolvem várias habilidades,
entre elas: aumento da concentração e o exercício da imaginação; desenvolvimento de
pensamento crítico; ampliação do repertório de palavras e o desenvolvimento da
escrita, dentre outros. Entretanto, a formação de leitores é um dos obstáculos que
separa o Brasil de uma nação ledora. Neste aspecto, a família e a escola são
instituições que podem auxiliar o desenvolvimento cognitivo deste público através da
leitura em espaços como bibliotecas, salas de leitura e outros ambientes propícios para
o acesso à informação e conhecimento.
A biblioteca, enquanto suporte da escolarização, subsidia através de projetos de
desenvolvimento da competência em informação, um processo de mediação
pedagógica que ultrapassa as fronteiras da sala de aula e sua prática forma
habilidades para melhor compreensão do texto escrito, comunicação, expressão e
socialização, características essas que são necessárias para o progresso do aluno nas
séries iniciais do ensino fundamental, ensino médio e superior.
A minha experiência profissional em bibliotecas escolares propiciou perceber que
ocorreu crescentes transformações nas práticas e nas dimensões discursivas da
leitura. O surgimento de diferentes tipos de mídias, das redes sociais e a ampliação do
mercado editorial para o público infanto-juvenil, ocasionou demandas por parte dos
alunos para que sejam disponibilizadas publicações no formato digital (e-books)2 em
suportes eletrônicos (e-readers)3.
Assim, a inserção das referidas publicações no acervo fizeram com que aumentasse a
quantidade de empréstimos desses materiais, mas diminuísse a frequência à biblioteca
para a consulta dos demais (livros impressos, periódicos, multimeios, dentre outros).
Entretanto, o livro didático ainda é utilizado como principal fonte de informação e
consolidação do conhecimento, como efeito da ampliação do mercado editorial para
sua confecção ao mesmo que esses livros se tornaram mais atrativos.
2 A denominação e-book é um anglicismo para livro digital ou livro eletrônico, caracterizado como
qualquer conteúdo de informação, semelhante a um livro em sua estrutura física, porém, é disponibilizado em formato digital. 3 O e-reader é o suporte onde o livro digital é armazenado para leitura, assemelhando-se a um livro, em
sua estrutura física.
20
A escolha do tema, portanto, se relaciona intimamente à vivência na atuação
profissional em biblioteca escolar no campo do ensino profissional técnico e
tecnológico. Trata-se de um interesse decorrente da compreensão da importância de
incentivar a formação da competência em informação, em consonância com a aposta
em uma biblioteca escolar que deve se envolver com a prestação de serviços e ações
pedagógicas interativas com a sala de aula.
Neste contexto, propõe pensar-se a biblioteca escolar como mediadora de
conhecimento e saber, como um espaço dinamizador de atividades diversificadas que
despertem no aluno a curiosidade para a exploração das suas potencialidades. A
biblioteca escolar pode ser o suporte da sala de aula, aproximando professores,
pedagogos e alunos de uma realidade que certamente colaborará para a formação
cidadã e profissional em uma sociedade com relevante abundância informacional,
caracterizada por mudanças sociais e tecnológicas.
A minha vivência como bibliotecária propiciou perceber que a maioria dos professores
de um campus do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito
Santo (Ifes), situado em Venda Nova do Imigrante, interior do estado4 do Espírito
Santo, trabalha apenas com os livros didáticos, reforçando a desconexão entre a sala
de aula e a biblioteca escolar.
Talvez, por causa dessa postura docente, mesmo que os alunos considerem a
biblioteca como um ambiente extremamente importante para o estudo e a pesquisa,
eles acabam frequentando a mesma somente para uso dos livros didáticos como
principais ou únicas fontes de informação. Entretanto, apesar da oferta de textos
literários através de e-books ter aumentado a frequência à biblioteca escolar, um dos
elementos para o desenvolvimento da competência em informação pressupõe tanto a
busca, a recuperação, a disseminação e finalmente, a leitura e fixação de conteúdos
oriundos de textos de ficção, ou literários, quanto os textos de não-ficção, os chamados
textos informativos, que também poderiam subsidiar, com qualidade, as pesquisas
escolares desenvolvidas.
4 Este município localiza-se na microrregião sudoeste serrana do Estado do Espírito Santo. (IBGE, 2010)
21
Os bibliotecários que atuam em escolas preocupam-se, na maioria das vezes, em
ofertar como serviço, atividades que envolvam o despertar de crianças e jovens o gosto
pela literatura. Contudo, a importância de não privilegiar apenas os livros de ficção ou
os fragmentos literários apresentados pelo livro didático em prol de práticas de leitura
informativa de qualidade, podem servir muito mais que uma fonte de informação para a
pesquisa escolar, tendo como função elevar o nível de competência em informação em
aspectos como o cognitivo, o social e cultural.
Deste modo, a biblioteca escolar representa um segmento educacional amparado pela
Política Pública de Educação que, juntamente como o livro didático, é caracterizada
como suporte das atividades educacionais. A diferença apontada é a Biblioteca Escolar
ser um organismo vivo e em crescimento, pois, conforme a quinta lei de Ranghanatan5,
proporciona atividades de incentivo à cultura, pesquisa, cultura e lazer (CAMPELLO,
2005a), e associado ao material utilizado com os alunos em suas atividades
curriculares em seus primeiros anos de vida escolar, torna-se um dispositivo apontador
de caminhos para instigar a pesquisa escolar e que a mesmo tempo, inicia o
desenvolvimento da Competência em Informação, de modo a permitir que o estudante
possa ter autonomia em buscar as informações que precisa em seus estudos
avançados (graduação e pós-graduação), de forma autônoma e crítica. Para Perucchi e
Sousa (2011, p. 21):
[…] apesar dos projetos educacionais incluírem várias competências no sentido de melhorar o processo de ensino-aprendizagem, de acordo com a literatura pesquisada, ainda não se discutiu amplamente sobre a implementação de um projeto educacional voltado para a competência em informação.
Sob esta ótica, a literatura pesquisada aponta que não há projetos educacionais
voltados para o desenvolvimento de programas de competência em informação em
consonância com o currículo da educação básica, sendo necessário que a biblioteca e
o bibliotecário possam ser envolvidos em um projeto pedagógico com base em
competência em informação para que diversas situações de aprendizagem possam ser
discutidas.
5 Shiyali Ramamrita Ranghanatham foi um matemático, bibliotecário e principal referência da
biblioteconomia na Índia. Foi inventor das Cinco Leis de Ranghanatam, que são aplicadas em bibliotecas e centros documentais em todo o mundo. A quinta lei, “A biblioteca é um organismo em crescimento” refere-se especificamente à possibilidade de inclusão de novos assuntos e novos conhecimentos para fortalecer possibilidades de pesquisa ao usuário, mesmo que a biblioteca seja ampla em sua estrutura física. FIGUEIREDO (1992).
22
No âmbito da orientação à pesquisa escolar, o livro didático foi adotado como objeto de
estudo por se relacionar como uma fonte de informação primária que remete
diretamente aos objetivos escolares adotados pelo sistema educacional brasileiro, onde
a biblioteca escolar está inserida, na política pública de educação.
23
2 REVISÃO DE LITERATURA
Nesta seção, apresentamos a revisão de literatura serão abordados conceitos de
políticas públicas, biblioteca escolar e livro didático, aprofundando conceitos sobre o
tema Competência em Informação.
2.1 POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO EDUCACIONAL
O conceito puro de política apresenta-se em uma perspectiva democrática que acolha
debates sobre direitos sociais e deve apontar um caminho para novas articulações
entre o Estado e sociedade civil, grupos e indivíduos (NOGUEIRA, 2004). De acordo
com González-Suarez (2008, p. 147), “[…] política pública é conceito que abrange as
disposições oficiais emitidas pelo Estado, incluindo a Constituição, tratados, legislação,
regulamentações, bem como a definição do modo de agir para alcançar aquilo que foi
proposto”.
Na definição de Matias-Pereira (2008, p. 107), política pública é entendida como “[…]
um elenco de ações e procedimentos que visam à resolução pacífica de conflitos em
torno da alocação de bens e recursos públicos”. Deste modo, políticas públicas são
“[…] programas de ação governamental visando a coordenar os meios à disposição do
Estado e as atividades privadas, para a realização de objetivos relevantes e
politicamente determinadas” (BUCCI, 2002, p. 241).
No contexto educacional, Rosa e Oddone (2006) ressaltam o surgimento de outras
políticas para o setor da cultura e educação, na forma de leis mais específicas, como é
o caso da Lei do Direito Autoral – Lei 9.610/98 – e a denominada Política Nacional do
Livro – Lei 10.753/2003 –, sendo está voltada para as questões do livro; por meio dela
instituiu-se “[...] o instrumento legal que autoriza o Poder Executivo criar e executar
projetos de acesso ao livro e incentivo à leitura” (BRASIL, 2005, p. 1).
As políticas públicas também se manifestaram por meio de programas governamentais,
como Pró-leitura, Programa Nacional de Incentivo à Leitura (Proler), Fome do Livro e
24
Vivaleitura, assim como programas mais específicos voltados para o livro didático e a
biblioteca escolar – Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) e o Programa
Nacional de Livro Didático (PNLD).
Assim, contextualizando especificamente o PNLD, o livro didático é de extrema
importância para efetivar o processo de aprendizagem dos alunos, mas este processo
deverá ser contextualizado com esforços de professores, bibliotecários, equipe
pedagógica, gestão escolar e estudantes, para que este material seja utilizado com o
objetivo de transmitir informações e ser complementado com conhecimentos
sistematizados que possibilitem o desenvolvimento de competências no âmbito da
busca da informação contextualizada e desenvolvimento cognitivo dos estudantes.
2.2 BIBLIOTECA ESCOLAR E LIVRO DIDÁTICO COMO AGENTES DEMOCRÁTICOS DE ACESSO À INFORMAÇÃO
Tomando o pressuposto da educação como dever do Estado, o mesmo passa a ser
tratado na Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, denominada Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (LDBEN), com o intuito de estabelecer políticas para a
efetiva organização da educação no Brasil. Neste contexto, a educação é um direito
social amparado legalmente na LDBEN e em outros documentos (leis, decretos,
portarias, dentre outros) que abrigam todo o contexto do Ministério da Educação no
Brasil, regulamentando a educação nos âmbitos federal, estadual e municipal de
ensino.
Neste contexto, de acordo com Campello (2005b, p. 17), os Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN) reconhecem que “[…] a biblioteca é fundamental para o
desenvolvimento de um programa de leitura eficiente, que forme leitores competentes e
não leitores que leiam apenas esporadicamente”. Os PCN também consideram a
biblioteca escolar como um lugar de aprendizagem permanente e reconhecem a
importância de desenvolver nos usuários atitudes de cidadania, tendo por base uma
perspectiva construtivista e crítica.
Com base em tais documentos, entende-se que a escola precisa seguir algumas
orientações básicas para que a mesma proporcione um processo educativo que atenda
25
os critérios de formação essencial de crianças e jovens. Com este intuito, também é
necessário pensar em bibliotecas escolares e seus acervos como partes integrantes do
processo ensino-aprendizagem, o que implica necessariamente em demonstrar como
as políticas públicas para o livro didático agem em prol da biblioteca escolar,
caracterizada como recurso pedagógico da educação formal.
Mais do que a função de organização e disseminação do conhecimento, a biblioteca
escolar configura-se como um espaço de reflexão e desenvolvimento do pensamento
crítico, além de oferecer suporte ao projeto político-pedagógico da escola. De acordo
com o Manifesto da International Federation of Library Associations and Institutions -
IFLA/UNESCO (2000, p. 11, tradução nossa), para que ocorra o desenvolvimento da
competência em informação, é necessário que a mesma atinja os seguintes objetivos:
a) apoiar e promover os objetivos educacionais definidos na missão e de acordo
com o currículo da escola;
b) apoiar os alunos na aprendizagem e na prática de habilidades para avaliação e
utilização da informação, independentemente da natureza e do suporte,
incluindo a sensibilidade para o uso adequado das formas de comunicação com
a sua comunidade;
c) defender a ideia de que a liberdade intelectual e o acesso à informação são
essenciais à construção de uma cidadania plena e responsável e ao exercício da
democracia;
d) desenvolver e manter nas crianças o hábito e o prazer da leitura, da
aprendizagem e da utilização das bibliotecas ao longo da vida;
e) oferecer oportunidades de utilização, produção e uso da informação voltadas
para a aquisição do conhecimento, à compreensão, ao desenvolvimento da
imaginação e ao lazer;
f) organizar atividades que incentivem a consciência e a sensibilização para as
questões de ordem cultural e social;
g) promover a leitura, disponibilizar os recursos e serviços da biblioteca escolar à
comunidade escolar e fora dela;
h) prover acesso aos recursos locais, regionais, nacionais e globais e às
oportunidades que exponham os alunos às ideias, experiências e opiniões
diversificadas;
26
i) trabalhar em conjunto com alunos, professores, administradores e pais de modo
a cumprir a missão e objetivos da escola.
Neste conjunto de diretrizes, o recomendado pela IFLA/UNESCO é que a biblioteca
participe de forma ativa para a construção da cidadania, promovendo o acesso à
informação de forma ética, desenvolvendo o senso crítico em indivíduos, para que
estes possam cobrar do poder público a implantação, fiscalização, fortalecimento e
manutenção de políticas públicas, especialmente voltadas ao âmbito educacional.
Nos propomos a refletir sobre o desenvolvimento de políticas públicas para que as
bibliotecas escolares sejam espaços de construção democrática, sendo que o acesso à
informação também é assegurada como um direito, como ressalta Chauí (1989, p.146 -
147):
[…] um indivíduo participa da vida social em proporção ao volume e à qualidade das informações que possui, mas, especialmente em função de sua possibilidade de acesso às fontes de informação, de suas possibilidades de aproveitá-las e, sobretudo, de sua possibilidade de nelas intervir como produtor de saber.
Uma vez que a democracia considera o respeito pelas liberdades individuais e à
diversidade, será ela o fio condutor na construção das políticas públicas por diferentes
agentes políticos, direcionadas a todos.
2.3 A BIBLIOTECA ESCOLAR COMO ESPAÇO DE APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO
A biblioteca escolar é um espaço de aprendizagem, inserida no projeto político
pedagógico da escola, pode subsidiar fontes informacionais diversas que
complementem os conteúdos ministrados pelo livro didático, com o objetivo de ampliar
as possibilidades de leitura. Nesta prática, o bibliotecário atua como mediador,
fomentando ações para que os livros sejam retirados das estantes, oferecendo-os aos
seus usuários.
Desde a infância, quando se iniciam as primeiras inserções no ambiente escolar, a
biblioteca pode auxiliar a criança que ainda não sabe manusear informação, a utilizar
fontes informacionais diversificadas, como índices ou sumários de livros, cadernos de
27
jornais e revistas, recursos audiovisuais como CDs e DVDs, atlas, mapas,
enciclopédias e acesso à internet, dentre outras fontes de informação, aprendendo a
manuseá-las para, gradualmente, instruir-se e selecionar informação, de modo a
avançar em séries e níveis superiores.
Para proporcionar ao aluno a oportunidade de formatar seu pensamento crítico e que
tenha anseios em adquirir novos conhecimentos durante toda a sua vida acadêmica, a
biblioteca escolar, em parceria com os professores, pode relacionar os conteúdos
ministrados em sala de aula com os recursos informacionais de ensino e pesquisa
disponibilizados neste ambiente, para que o aluno tenha domínio das técnicas de como
recuperar a informação que necessita com precisão. Como já citado anteriormente, a
competência em informação resulta da interlocução entre as atividades curriculares
ministradas em sala de aula e as atividades informacionais ofertadas pela biblioteca
escolar.
Pietri (2007) ressalta que se é necessário conhecer os alunos para que sejam
escolhidos os textos a serem lidos em sala de aula, uma primeira relação a ser
discutida é aquela que se estabelece entre o professor e o livro didático. Esse material
apresenta ao professor uma coletânea de textos preestabelecida, elaborada por
autores que não conhecem os alunos a quem os textos escolhidos se destinam. Nesse
contexto, que usos podem ser feitos dos textos disponibilizados, para minimizar os
problemas decorrentes de seu modo de produção? Como realizar práticas de leitura
interessantes com base nos recursos oferecidos pelo livro didático?
Em relação ao papel desempenhado pelo professor em sala de aula, o livro didático é
um material com importância significativa para realização do seu trabalho, pelo fato de
disponibilizar o material escrito, mesmo que sejam apenas fragmentos de textos
literários, e apresenta atividades com base nesse material de modo a organizar o
tempo escolar.
Para Pietri (2007), se essa organização é facilitadora, é também o que retira do
professor a autoridade sobre seu próprio trabalho: a autoria sobre as ações realizadas
em sala de aula pertence principalmente ao autor do livro didático. Questionar o papel
desempenhado pelo professor em seu trabalho significa questionar a responsabilidade
28
que este assume nas decisões em relação às práticas pedagógicas realizadas em sala
de aula.
Conforme a análise do autor em relação à prática da leitura, essa responsabilidade diz
respeito aos modos como o professor promove a mediação entre leitor e texto. A
biblioteca escolar e o bibliotecário inserem-se na parte do ensino e da mediação da
leitura, quando o ambiente e o profissional, respectivamente, apresenta ao aluno muito
mais do que o fragmento do texto inserido no livro didático.
O bibliotecário elabora estratégias de facilitação da prática de leitura, quando incentiva
o aluno a associar o que foi ensinado em sala de aula com as práticas do cotidiano,
como consultar jornais, revistas, dentre outros materiais, construindo sua capacidade
em resolver problemas que lhe são apresentados, o que significa que a continuidade
da leitura pode ajudar a elaborar hipóteses que ajudam na compreensão daquilo que
não é conhecido, constituindo-se assim a competência informacional, que formará a
habilidade do aluno na solução de problemas e na formação de seu pensamento crítico
e analítico.
A autora ressalta ainda que a competência em informação combina com o ensino no
qual o professor não é o transmissor de conhecimentos, atuando como voz ativa e sim,
o orientador que capta os interesses dos alunos, estimula seus questionamentos e os
guia na busca de soluções para os problemas decorrentes dos processos de
aprendizagem, de modo a selecionar e examinar um assunto sob diferentes ângulos e
perspectivas.
Sobretudo, para Campello (2005b), a competência em informação exige o abandono da
predominância de aulas expositivas, em que o professor é o único informante da
classe, e o livro didático, a única fonte de informação, de modo que o aluno torne-se
protagonista na produção de seu próprio conhecimento, ou seja, o papel do professor
poderá passar de exposição ao desenvolvimento e aplicação de estratégias
educacionais. Para Garcia (2006), o desenvolvimento da competência em informação é
um processo envolvido em questões culturais, portanto, dependente de governos,
instituições e sociedade em geral, sendo para Lau (2007) o primeiro passo no processo
de alcance das metas educacionais.
29
De acordo com o documento Information Literacy Competency Standards for Higher
Education (2000) da American Library Association (ALA), Information Literacy, cuja
expressão em português significa “habilidade inerente ao desenvolvimento do
letramento e uso frequente da informação disponibilizada em ambientes que tenham
informação como seu produto final, como Bibliotecas, Arquivos, Centros de
Documentação, dentre outros.” A “Competência Informacional”, em tradução livre, é
uma expressão que surgiu nos Estados Unidos na década de 1970 e foi usada
originalmente para designar habilidades para a utilização de tecnologias informacionais,
tais como computadores e redes eletrônicas.
O termo designava de forma ampla, “[…] o conjunto de habilidades necessárias para
localizar, interpretar, analisar, sintetizar avaliar e comunicar informação, esteja ela em
fontes impressas ou eletrônicas” (CAMPELLO, 2005a). Ao mesmo tempo em que o
termo Information Literacy significa a formação de um conjunto de habilidades que as
pessoas devem possuir para reconhecer suas necessidades informacionais e terem a
capacidade de localizar, avaliar e utilizar eficazmente a informação de que precisa,
instiga as diversas possibilidades de escolha que, em meio à abundante informação
disponível, provocam dúvidas sobre a autenticidade, validade e confiabilidade destas
informações.
O documento afirma que information literacy é a base para a aprendizagem ao longo
da vida, é comum a todas as disciplinas, a todos os ambientes educacionais e a todos
os níveis de ensino. No Brasil, o modelo das competências surge com a reforma
educacional implementada com a Lei 9394/96 e, a seguir, com os dispositivos de
regulamentação no que se refere à educação profissional, Decreto-lei 2208/97 e as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional, consubstanciadas no
Parecer nº 16/99, e na Resolução nº 04/99, e nos Currículos Nacionais para a
Educação Profissional (DELUIZ, 2001).
Atualmente, o termo “Competência em informação” é um conceito que foi definido por
Belluzzo (2014 apud FABRES; SONCIN, 2015) como opção mais adequada para
traduzir a expressão information literacy. Além disso, a Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), na publicação de Horton Júnior
30
(2013, tradução nossa) definiu como sendo essa terminologia a mais indicada para
representar a tradução do termo para o português do Brasil, logo, essa expressão está
inserida oficialmente na representação linguística dos diferentes países envolvidos com
a temática. Por conseguinte, o termo “Competência em Informação” foi adotado ao
longo do texto.
Belluzzo (1989, 2009) possui extensa produção na área da competência em
informação, onde aborda além dos aspectos conceituais do tema e questões relativas à
formação continuada de professores e bibliotecários. Em seus estudos, trata das
necessidades a serem desenvolvidas, em professores e bibliotecários, competências
para trabalharem com a informação, visto que são tanto usuários de informação como
geradores e disseminadores de conhecimento.
Dudziak (2001) fez um apanhado histórico internacional do surgimento da expressão
Information Literacy. Em sua dissertação, defendida em 2001, a autora apresenta os
precursores e a evolução do tema, as diversas abordagens conceituais e procura
sugerir um conceito de Competência Informacional.
A partir das ideias veiculadas por Campello (2005a, 2005b) em seus trabalhos, é
possível afirmar que a biblioteca escolar possa atuar como mediadora de conhecimento
e saber precisa ser um espaço dinamizador, ofertando fontes informacionais
diversificadas que permitam ao aluno o despertar de sua curiosidade para explorar este
ambiente que é o suporte da sala de aula, aproximando-o de uma realidade que fará
parte do seu dia a dia, como profissional e cidadão em uma sociedade com relevante
abundância informacional.
De acordo com Campello (2009), para ser competente em informação o usuário deve
ser capaz de reconhecer quando precisa de informação e possuir habilidade para
localizar, avaliar e usar efetivamente a informação. Em última análise, pessoas que têm
competência em informação são aquelas que aprenderam a aprender. Essas pessoas
sabem como aprender porque sabem como a informação está organizada, como
encontrar informação e como usar informação, de tal forma que outros possam
aprender com elas.
31
Esta mediação entre a biblioteca e a sala de aula possibilita ao aluno o contato com a
linguagem e seus desdobramentos, os gêneros textuais. Este contato desempenha um
processo de mudança qualitativa em sua aprendizagem, de modo que provoque
reações de troca entre a experiência cotidiana e o conhecimento sistemático, de modo
a estabelecer conexões entre a decodificação do que já conhece e o que ainda não
conhece.
Neste contexto, a atuação do Bibliotecário é fundamental, devido a sua experiência e
porque também detém conhecimentos que permitem a esses profissionais contribuírem
no processo de aprendizagem, tornando-se responsáveis pela educação de usuários
na biblioteca escolar, ambiente educacional que torna-se alternativa à sala de aula,
sobretudo quando esta valoriza a pesquisa como elemento educativo, de forma a tornar
a biblioteca escolar, o livro e a leitura partes integrantes da plena cidadania que todo
brasileiro tem o direito de exercer.
A escola moderna não pode ser considerada como uma instituição de ensino formal
preocupada apenas em transmitir conhecimentos, mas, que ao mesmo tempo
proporcione ao aluno oportunidade de formatar seu pensamento crítico e que tenha
anseios em adquirir novos conhecimentos durante toda a sua vida acadêmica.
Para Campello (2005a), a biblioteca escolar está presente neste processo,
intermediando o trabalho do professor, no qual bibliotecários em conjunto com os
professores, planejarão situações de aprendizagem que desafiem e motivem os alunos,
acompanhando seus progressos, orientando-os e guiando-os no desenvolvimento de
competências informacionais cada vez mais sofisticadas.
Desde que começaram a empreender ações no sentido de ajudar os alunos a usar os
recursos da biblioteca para elaborar seus trabalhos escolares, os bibliotecários se
envolveram na prática de pesquisa escolar e, consequentemente, se preocuparam em
desenvolver instrumentos que os auxiliassem a levar os estudantes a percorrer os
diversos estágios do processo, aprendendo a pesquisar de maneira sistematizada.
Nesse sentido, Campello (2009) informa que vários modelos foram elaborados e
tiveram significativa influência nas ações de letramento informacional.
32
Nas palavras de Lourenço Filho6, proferidas na Conferência da série “A educação e a
biblioteca”, em 1944, a função educativa da Biblioteca Escolar é desempenhar uma
função na educação, além de ser um “depósito de livros”.
Ensino e biblioteca não se excluem, completam-se. Uma escola sem biblioteca é instrumento imperfeito. A biblioteca sem ensino, ou seja, sem a tentativa de estimular, coordenar e organizar a leitura, será, por seu lado, instrumento vago e incerto. Começa a compreensão destas ideias, felizmente, a vigorar entre nós. Certas bibliotecas escolares se modernizam, e passam a funcionar de forma menos ineficiente. Outras ensaiam orientar os leitores, sugerir-lhes trabalhos, proporcionar-lhes melhores recursos de organização (LOURENÇO FILHO, 1944, p. 4, grifo nosso).
O trecho grifado indica que a existência da biblioteca escolar com seu acervo, não
consegue, sozinha, proporcionar estratégias eficientes de leitura e desenvolvimento de
habilidades informacionais. Sem estímulos, com ausência de bibliotecários, perde
totalmente sua importância como missão educacional, que é ser um instrumento de
apoio, relacionada aos objetivos da escola.
A pesquisa escolar é um dos aspectos que integra a ação educativa da biblioteca
escolar. Para Campello (2013), embora esteja intrinsecamente ligada à leitura, há uma
tendência em tratar essa prática em dois enfoques diferentes: de um lado a leitura
poética, recreativa, de lazer, de outro a leitura informativa, para obtenção de
informações destinadas a trabalhos escolares, característica do processo de pesquisa.
A literatura biblioteconômica registra a percepção do bibliotecário de que o movimento
de renovação do ensino, que utiliza métodos ativos de aprendizagem e considera o
aluno como responsável pela construção de seu conhecimento, gera oportunidade para
a biblioteca ocupar posição de destaque no processo pedagógico, passando a
funcionar não mais como depósito de livros, mas como laboratório de aprendizagem.
Alguns autores propuseram a orientação da pesquisa como a função que a biblioteca
escolar deveria enfatizar, priorizando recursos que atendessem a essa função, em
detrimento da coleção literária ou recreativa (CAMPELLO, 2013). Os novos métodos de
aprendizagem exigiam que o aluno avançasse além do livro didático e dos
apontamentos feitos em sala de aula.
6 Manoel Bergström Lourenço Filho foi um dos mais eminentes educadores brasileiros do início do século
XX, participou efetivamente da constituição do campo educacional, bem como do movimento de
instituição da Psicologia como campo científico no país. Também conhecido por sua participação no movimento dos pioneiros da Escola Nova. Suas principais obras foram: Testes ABC (1939), Psicologia educacional (1955) e A psicologia a serviço da educação (1943). (MONARCHA, 1997)
33
Na pesquisa escolar, o aspecto principal da prática é referente ao uso das fontes de
informação. Teoricamente, a estratégia abordada é que o aluno seja participante ativo
de sua aprendizagem; constitui, portanto, estratégia centrada no aluno, que é
encorajado a utilizar uma variedade de fontes de informação para realizar a tarefa
proposta pelo professor.
Atuando juntos, professor e bibliotecário exercem a função de facilitadores no processo
que permite ao aluno familiarizar-se com o universo informacional complexo e
diversificado. Funciona como estratégia de aprendizagem flexível que acomoda o ritmo
de cada aluno e lhe dá oportunidade de aprender habilidades de analisar, interpretar,
sintetizar e organizar informações, além de exercitar capacidades de ler, escrever, falar
e ouvir (CAMPELLO, 2009).
Na década de 1970, especialmente após a promulgação da Lei nº. 5.692 (BRASIL,
1971), os bibliotecários apressavam-se a demonstrar a contribuição da biblioteca para
“proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas
potencialidades, como elemento de autorrealização, qualificação para o trabalho e
preparo para o exercício consciente da cidadania” (CAMPELLO, 2013, p. 21), sendo
pontos que constituíam o objetivo geral do ensino de 1º e 2º graus, de acordo com a
referida lei.
As escolas que utilizavam métodos inovadores de ensino/aprendizagem tinham na
biblioteca o seu laboratório, onde o bibliotecário teria a função de orientar professores e
alunos no uso da biblioteca e das fontes de informação. Para Campello (2013), o
desenvolvimento de habilidades de estudo, pesquisa e consulta era visto como algo
que poderia ocorrer na biblioteca e que possibilitaria ao aluno exercitar sua
autoaprendizagem, levado por sua curiosidade e motivação a buscar por si mesmo o
“mundo maravilhoso da cultura”.
De acordo com Campello (2009, p. 20), o foco na função educativa da biblioteca
também aborda as deficiências da pesquisa escolar, “[…] estratégia didática que
ocorre, ou deveria ocorrer, em grande parte na biblioteca, evidenciada em diversos
estudos da área de biblioteconomia, que enfatizavam o papel pouco relevante que a
34
biblioteca escolar desempenhava no processo”.
A partir do momento em que o professor solicita um trabalho aos estudantes,
geralmente há um envolvimento do bibliotecário neste processo, da seguinte maneira:
o bibliotecário consulta o acervo, separa o material existente sobre o tema pesquisado,
geralmente os livros didáticos que o compõe, e repassa para os alunos quando estes
vão à biblioteca realizar a pesquisa.
Quando a informação não era encontrada no livro didático, o bibliotecário direcionava o
aluno ao encontro de outras fontes de informação, tais como os periódicos, os
multimeios7, a internet, dentre outros. Quando o aluno é competente em informação,
mesmo quando a biblioteca não pode ajudá-lo a encontrar a informação que precisa, o
mesmo vai ao encontro de outras fontes, e não se frustra, não se decepciona com a
biblioteca, pois sabe onde pode localizar o que precisa, mesmo que não seja no
formato físico. A biblioteca escolar constitui-se então como uma das diversas
alternativas de estudo e pesquisa.
Para Campello (2009), há baixo grau de envolvimento do bibliotecário na pesquisa
escolar. Essa prática só ocorre quando o bibliotecário orienta os alunos na utilização de
fontes de informação, mostrando possibilidades de acesso e explicando detalhes sobre
seu uso, ensinando-lhes a utilizar enciclopédias, por exemplo. Para a autora, essa é
uma das formas de intervenção do bibliotecário na pesquisa escolar, observadas em
bibliotecas brasileiras.
No processo de pesquisa, quando o aluno fixa novos conhecimentos através da
aprendizagem, os une através da conexão de novas experiências com os
conhecimentos anteriores, portanto, a conexão de saberes é fundamental para a
construção de novos significados, de modo a permitir que a aprendizagem
construtivista efetiva esteja relacionada ao envolvimento do aluno ao buscar suas
próprias fontes de pesquisa, tendo sua biblioteca como elemento para a educação de
usuários, pois sentem-se mais estimulados do que quando o professor impõe o tema,
7 Multimeios são materiais multimídia, acessados por aparelhos reprodutores de conteúdos, músicas,
vídeos, hiperlinks ou imagens digitais, tais como Compact Disk (CD), Digital Video Disk (DVD) ou Blue Ray.
35
possibilitando que o conhecimento do aluno adquirido fora da escola seja um elemento
potencializador para tornar mais enriquecido e significativo a aprendizagem de
conteúdos apresentados pelos currículos formais.
36
3 QUADRO TEÓRICO: APRENDIZAGEM CONSTRUTIVISTA NA PERSPECTIVA DO MODELO DE BUSCA DE INFORMAÇÃO – ISP, DE CAROL KUHLTHAU
Dentre as possibilidades de atuação do bibliotecário escolar, uma atividade que pode
ser desenvolvida pelo profissional denomina-se “pesquisa escolar orientada” (grifo
nosso), termo atribuído pela pesquisadora norte-americana Carol Kuhlthau8 (2004). Em
seus trabalhos, a autora recomenda que o professor e o bibliotecário acompanhem o
estudante em todas as fases da pesquisa escolar, desde a escolha do tema à
apresentação do trabalho, considerando os sentimentos dos alunos.
Neste contexto, em sua pesquisa de doutorado, Bernadete Campello (2009), investigou
28 bibliotecas escolares da educação básica em vários estados brasileiros. O estudo
apontou que a orientação à pesquisa vem sendo negligenciada pelos profissionais
bibliotecários, que preocupam-se quase que exclusivamente com práticas de incentivo
à leitura e atividades que possam atrair o estudante para a biblioteca.
Para Campello (2005b), a biblioteca escolar é um espaço propício para promover
experiências criativas do uso de informação, de modo a aproximar o aluno da função
educativa do bibliotecário escolar, que de acordo com Fialho (2013, p. 57) é “um
profissional preparado para auxiliar os estudantes a localizar, selecionar, usar e avaliar
a informação”, dentro da perspectiva do desenvolvimento da competência em
informação, de modo a proporcionar aprendizagem efetiva.
O modelo da aprendizagem através no processo construtivista desenvolvido por
Kuhlthau é baseado no conceito de estado anômalo do conhecimento de Belkin9
(AOYAMA, 2011), pois o considera como um processo dinâmico, interagindo com
aspectos da experiência vivida. De acordo com Costa, Silva e Ramalho (2009), o
modelo é reforçado pela teoria do construtivismo, onde a informação é buscada para
resolver um problema oriundo de um estado de conhecimento anômalo.
8 Professora e pesquisadora da School of Communication, Information and Library Studies, Rutgers,
State University of New Jersey, USA. 9 O conceito de estado anômalo de Belkin (1980) considera o foco nas pessoas em situações-problema
tidas como incompletas ou limitadas. Os usuários são vistos como tendo um estado de conhecimento anômalo cognitivo, sendo incapazes de especificar o que é necessário para resolver a lacuna de conhecimento, enfrentando dúvidas, incertezas e incoerências.
37
O construtivismo, nas palavras de Becker (2012), pressupõe um conhecimento em
constante crescimento, o que se infere que não há nada finalizado, baseado na
interação entre o homem e o meio social. Constitui-se, portanto, na interpretação do
mundo sob o ponto da vista da construção de múltiplas possibilidades de compreensão
do objeto estudado. O construtivismo não é, portanto, uma metodologia de ensino ou
forma de aprendizagem, e sim uma teoria que permite a construção do conhecimento
sob múltiplas facetas, em disciplinas afins ou completamente diferentes, considerando
o próprio desenvolvimento humano. Para Piaget (1973, p. 409):
[…] mas o caráter próprio da vida é ultrapassar-se continuamente e, se procurarmos o segredo da organização racional na organização vital, inclusive em suas superações, o método consiste então em procurar compreender o conhecimento em sua própria construção, o que nada tem de absurdo, pois o conhecimento é essencialmente construção.
A aprendizagem no âmbito construtivista abarca alguns aspectos sócio históricos e
culturais do conhecimento humano, como por exemplo: um professor ensina noções
básicas de operações aritméticas, como a adição, subtração, multiplicação e divisão,
sem com que a criança tenha aprendido a noção do que seja um número ou como
representá-lo em seu contexto linguístico, como soletrá-lo, escrevê-lo e saber para quê
serve e observar a evolução da matemática ao longo de sua formação no contexto
histórico, com operações e cálculos mais complexos.
Logo, é necessário que a criança tenha sua visão de mundo sobre o que seja um
número, como a contagem nos dedos das mãos ou a representação numérica de
quantas maçãs, bananas ou laranjas havia em determinado lugar, geralmente
incentivada pelo núcleo familiar. Se a criança não possui contato anterior com conceitos
que envolvem sua própria cultura ou estrutura linguística, é papel do professor auxiliar
o aluno a construir os instrumentos cognitivos necessários para sua aprendizagem
(BECKER, 2012). De acordo com Piaget (1973), a partir da intervenção do professor, o
indivíduo assimila estruturas previamente construídas, considerando o contexto teórico
da alfabetização, o que para Freire interpreta como um “domínio ou memorização
mecânica de técnicas de leitura e escrita, desvinculadas de um universo existencial”
(FREIRE, 1979, p. 72).
Para Becker (2012, p. 192), a escola só “transmite conhecimento se o sujeito da
38
aprendizagem (re)construir-para-si ou (re)inventar-para-si o conhecimento que faz parte
de um currículo”, logo, um aluno que é desafiado e expor o seu conhecimento, sua
visão de mundo, confrontado com os ideais de um currículo educacional e sai da escola
com o pensamento mudado, será um cidadão crítico e protagonista de ações que
procurem solucionar problematizações impostas pela sociedade.
Considerando assim a aprendizagem como extensão do processo de desenvolvimento
humano, Kulhthau (2010) conceitua que o próprio processo dessa construção é
dinâmico e orientado por sentimentos, interagindo com as ações do indivíduo, muitas
vezes intrínsecas à sua realidade, constituindo-se como agente ativo do seu próprio
conhecimento. Kuhlthau assimila a biblioteca escolar como um ambiente construtivista
de aprendizagem, permitindo que o usuário crie sentido com a informação obtida, de
maneira contextualizada. Alves e Mendes (2000) consideram a “informação
contextualizada” como informação significativa, pois só é válida se “estiver vinculada às
experiências do sujeito e se este possui alguns conhecimentos a priori em relação a
essa”. Os autores incentivam que o indivíduo identifique problemas, avalie e apresente
soluções utilizando informação.
O processo construtivista desenvolvido por Kuhlthau (1991) é discorrido por Pereira
(2010). O autor afirma que o conceito para entender a dimensão emocional no
processo de busca por informação é o sentimento de incerteza (grifo nosso), onde a
informação surge para suprir um problema oriundo de um estado de conhecimento
anômalo, e nessa perspectiva, a pesquisadora desenvolve um modelo de criação de
significado na busca por informação.
O professor e o bibliotecário, mais do que ninguém, conhecem o aluno. Sabem que
este aluno possui sentimentos de dúvida, confusão, otimismo, confiança, dentre outros,
quando está no processo de desenvolvimento da aprendizagem na sala de aula, ou
quando precisa realizar uma pesquisa escolar na biblioteca. Por esta razão, o modelo
desenvolvido por Kuhlthau (1991), denominado de Processo de Busca de Informação
(ISP, na sigla em língua inglesa).
Este modelo desponta como importante ferramenta baseada em experiências
cotidianas, para utilização do bibliotecário na assistência ao aluno na pesquisa escolar
39
orientada, de modo a iniciar o processo de desenvolvimento de competência em
informação, transformando um dado em significado, podendo ser compartilhado através
de produtos de estudo, tais como relatórios, artigos, dentre outros, como em
apresentações de seminários, onde os usuários compartilham experiências.
Os estágios de busca por informações descritas por Kuhlthau (1991) são os seguintes:
Tabela 1 – O processo de busca de informação (ISP)
Estágios do processo de busca por informação
Sentimentos Ideias Ações Tarefas
Iniciação Incerteza/Dúvida Geral/Vaga Procurando informação
complementar
Reconhecer
Seleção
Otimismo/
Ansiedade
Avaliativa
Procurando informação genérica
Identificar/
Investigar
Exploração
Confusão/
Timidez/Dúvida
Estar mais informado possível
Procurando informação
contextualizada
Reunir/Agrupar
Formulação
Precisão
Precisas
Claras
Focalizadas
Procurando informação relevante
Formular
Coleta
Aumento da confiança
Aumento de interesse
Assimilando conhecimentos
anteriores
Completar
Apresentação
Alívio
Satisfação ou Frustração
Mais clara
Apresentando informação resumida e
esquematizada
Sintetizar
Resumir
Fonte: KUHLTHAU(1991), traduzida e adaptada
O processo de busca por informação no modelo de Kuhlthau pressupõe um processo
40
de produção de sentido. A busca por informação no livro didático também pressupõe
conhecimentos e experiências anteriores para que o usuário não sinta estranhamento,
mas que faça sentido em uma estrutura de referência pessoal, para que este usuário
amplie seu processo de entendimento sobre algo já conhecido.
Como mostra a Tabela 1, o modelo ISP incorpora três aspectos: o afetivo
(sentimentos), o cognitivo (ideias) e o físico (ações ou estratégias), comuns a cada
estágio. É também incluída a tarefa considerada mais apropriada para levar o processo
para o estágio subsequente. São descritos, em seguida os seis estágios do ISP:
A iniciação é a etapa onde o aluno ou usuário percebe que não tem conhecimento ou
entendimento sobre determinado assunto. Neste estágio, os sentimentos de incerteza,
dúvida ou angústia são comuns. A tarefa descrita na tabela 1 é reconhecer a
necessidade de informação. A ideia pressupõe a estudar o problema, compreender o
que é necessário fazer para solucioná-lo e relacioná-lo às experiências e
conhecimentos anteriores. As ações voltam-se à elaboração de sub-assuntos, ou
tópicos de pesquisa e identificar em quais fontes pode-se buscar a informação para
solucionar o problema.
Durante a etapa de seleção, a tarefa é selecionar o assunto ou tema geral a ser
investigado. O sentimento de otimismo é comum nesta etapa, pois o usuário é
motivado a prosseguir com a busca. As ideias concentram-se em avaliar os tópicos
elaborados e dividi-los, caso o trabalho seja em grupo, considerando o interesse
pessoal por subtema, os requisitos do trabalho exigidos pelo professor, a informação
disponível e a disponibilidade de tempo. Uma ação comum em trabalhos em grupo é
verificar o que os outros componentes estão fazendo, se conseguiram encontrar as
informações relativas ao seu tópico. Quando o processo de seleção se atrasa, surge o
sentimento de ansiedade, pois o tempo disponível começa a se esgotar. Kuhlthau
(1991).
A etapa de exploração é marcada por sentimentos de confusão, dúvidas e incertezas,
que aumentam muito durante esta etapa. O usuário pouco acostumado com pesquisa
escolar vai à biblioteca e geralmente passa longe do balcão de atendimento,
geralmente porque frequenta a biblioteca poucas vezes durante toda a sua vida escolar
41
ou aquele usuário também que muito frequenta o espaço, pode ser tomado por
sentimentos de timidez ou vergonha em solicitar auxílio dos funcionários da biblioteca.
Este usuário vai direto às estantes, e se as mesmas forem devidamente sinalizadas, o
usuário poderá até encontrar o que procura, levando um tempo maior para que isto
aconteça. Se as estantes não tiverem sinalização e se não houver nenhum funcionário
da biblioteca observando o usuário, este não solicitará ajuda e sairá da biblioteca
frustrado ou decepcionado por não conseguir encontrar a informação que necessitava,
podendo ocasionar o abandono da biblioteca, por parte do usuário.
Porém, os usuários que tem a biblioteca como primeiro lugar de pesquisa tem como
tarefa a procura de assuntos genéricos para ampliar sua compreensão, portanto, as
ideias concentram-se em estar o mais informado possível para determinar um foco de
pesquisa, mas, geralmente “o usuário não consegue expressar com precisão a sua
necessidade” Kuhlthau (1991, p. 12), podendo dificultar ao bibliotecário ou outro
funcionário da biblioteca localizar no sistema de gestão de acervos se aquela
informação está disponível.
As ações abrangem a localização de informações sobre assuntos mais genéricos e a
leitura para se informar e o vínculo com experiências anteriores, geralmente refletindo
opiniões e ideias resultantes de experiências de vida. Muitas vezes, é necessário
pesquisar em várias fontes até encontrar a ideal, que vá ao encontro do que seja
pertinente ao usuário.
A formulação é a etapa considerada por Kuhlthau (1991, p. 13), como um “ponto
decisivo da ISP, quando os sentimentos de incerteza diminuem e a confiança aumenta”.
O objetivo da tarefa é determinar um foco a partir das informações encontradas. As
ideias envolvem a identificação e seleção de conceitos para formar uma perspectiva
mais focalizada no assunto, de modo a se comparar com a hipótese que tenha levado
o usuário à biblioteca para buscar informação. O foco, muitas vezes, é formado
gradativamente quando os conceitos ficam mais esclarecidos, e nesta etapa, os
sentimentos mudam, passando para aumento de confiança e clareza.
A tarefa da etapa de coleta é reunir informações mais relacionadas com o foco do
assunto. Para Kuhlthau (1991, p. 13), as ideias concentram-se em: “definição, extensão
42
e apoio ao foco. As ações envolvem seleção de informação relevante, na perspectiva
enfocada pelo assunto e anotações detalhadas sobre o que diz respeito
especificamente ao foco”, uma vez que após definido o foco, a informação genérica
não é mais importante. Nesta etapa, os sentimentos são de aumento de confiança e de
maior interesse no tema do trabalho.
Na apresentação, etapa final do processo, ocorre geralmente os sentimentos de alívio,
satisfação, felicidade ou ainda, frustração. As ideias concentram-se em finalizar a
busca e resumir o assunto de maneira personalizada. As ações envolvem uma análise
ou reflexão rápida se houve realmente aprendizagem e como transmitir essa
mensagem na apresentação ou no trabalho escrito. Nesta etapa, são comuns usar
técnicas de organização do trabalho, tais como apresentação de slides,
esquematizações, ajustar o trabalho de acordo com normas técnicas, dentre outros,
com o objetivo de preparar o usuário para usar a informação.
Considerando todas as etapas anteriormente descritas, a educação de usuários é cada
vez mais essencial, em relação ao avanço tecnológico, portanto, o modelo ISP de
Khulthau pode ser incorporado a programas de educação de usuários e
desenvolvimento de competências informacionais, para permitir que as pessoas
tenham consciência dos seus próprios métodos e estratégias de pesquisa e
compreendam os sentimentos que afetam sua maneira de usar informação e produção
de sentido. O livro didático, na dimensão social da política pública de educação, seria
inserido como um guia, para que professores e alunos pudessem, através deste
dispositivo, terem acesso às fontes de informação que geraram os fragmentos
utilizados pelo material.
43
4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Alguns autores descrevem a função da metodologia no trabalho de investigação
científica, associando-a como espaço destinado a esclarecer a forma como será
realizada a pesquisa. Para Furasté (2012, p. 137), a metodologia científica vem a ser a
“[...] definição, explicação minuciosa, detalhada, rigorosa e exata dos procedimentos
técnicos, das modalidades de atividades, dos métodos que serão utilizados [na
pesquisa]”.
Minayo (2007, p. 44) define metodologia científica “[...] como a apresentação adequada
e justificada dos métodos, técnicas e dos instrumentos operativos que devem ser
utilizados para as buscas relativas às indagações da investigação”.
Partindo dos conceitos mencionados, apresentam-se nesta seção os procedimentos
metodológicos adotados neste estudo.
4.1 AMBIENTE DO ESTUDO
4.1.1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo (Ifes)
Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia quando originados em 1909,
foram denominados Escolas de Aprendizes e Artífices (ALMEIDA, 2010, p. 14),
passaram por diversas mudanças e transformaram-se em Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia em 29 de dezembro de 2008 através da Lei nº. 11.892,
ao mesmo tempo em que ocorria a Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais (REUNI), lançado pelo Governo Federal no mesmo ano (BRASIL, 2011).
Atualmente, existem 38 Institutos Federais em todo o território nacional, que ofertam
ensino médio integrado ao técnico, ensino técnico, cursos superiores de tecnologias e
licenciaturas. Em sua estrutura, os Institutos Federais possuem biblioteca escolar,
caracterizada como um setor de suporte para as atividades de ensino, pesquisa e
extensão.
Através da análise de Santos, Boccato e Hoffman (2013, p. 7), “enxerga-se um novo
44
conceito tipológico de bibliotecas, que deverá ser estudado à luz de uma
interdisciplinaridade, assim como um novo perfil de bibliotecário, que deverá atuar em
diferentes setores de sua biblioteca”. As autoras visualizam os profissionais da
informação dos institutos federais como “bibliotecários técnicos especializados”
(grifo nosso), pelo fato do bibliotecário estar inserido na estrutura acadêmico
organizacional dos Institutos Federais, que ofertam cursos técnicos profissionalizantes
de nível médio e superior. Delineamos o contexto das bibliotecas pertencentes à
estrutura administrativa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Espírito Santo (IFES). A partir da delimitação das bibliotecas, uma Unidade de
Informação (UI), localizada em um município da Região Serrana do Espírito Santo, foi
escolhida como Estudo de Caso.
4.1.2 A biblioteca do Ifes, campus Venda Nova do Imigrante
Conforme dados extraídos da Política de Seleção e Desenvolvimento de Coleções das
Bibliotecas do Ifes, as bibliotecas têm como missão “[…] facilitar o acesso e a difusão
dos recursos informacionais e colaborar nos processos de produção do conhecimento,
a fim de contribuir para o desenvolvimento das atividades de ensino, pesquisa e
extensão” de forma a manter a administração do Ifes (IFES, 2012, p. 3). O documento
cita também os valores de suas bibliotecas, tais como: a) Qualidade e excelência no
acesso e difusão dos recursos informacionais; b) Competência e comprometimento dos
bibliotecários e demais servidores administrativos lotados na biblioteca; c) Cooperação
para divulgação de informação científica, tecnológica e artística e d) Ética nas ações e
nos relacionamentos.
A biblioteca escolar investigada pertence ao Ifes, campus Venda Nova do Imigrante.
Este setor é responsável pelo suporte das atividades troncais da instituição, tais como o
Ensino, Pesquisa e Extensão. Segundo o artigo 3º de seu Regulamento de
funcionamento (IFES, 2013, p. 3), portaria n. 016, de 22 de fevereiro de 2013, a
biblioteca tem como missão “[…] promover o acesso à informação de forma eficiente e
atualizada e de buscar novas alternativas de gestão da informação que possam
contribuir para o desenvolvimento do ensino, da pesquisa e da extensão”.
45
A biblioteca está situada em prédio anexo à unidade educacional e iniciou suas
atividades no ano de 2012. Sua infraestrutura, dividida em 428,4 m², compõe-se de
uma sala para estudo coletivo, cabines individuais e 8 (oito) computadores para acesso
à internet. Possui 2 (duas) salas para os profissionais, para o processamento técnico
do acervo e para a coordenação do setor, além de uma área construída para o Serviço
de Circulação de Materiais.
Em termos de funcionamento e atendimento ao público, a biblioteca está disponível
para consulta ao público em geral, dentro de seu horário de funcionamento, das 7h às
21h, de segunda a sexta-feira, exceto aos sábados, domingos e feriados. Atende aos
cursos técnicos em Administração, Agroindústria e o curso superior em Ciência e
Tecnologia de Alimentos.
Atualmente, o acervo da biblioteca possui aproximadamente três mil títulos, composto
por: publicações impressas (livros), publicações periódicas (revistas técnico-científicas,
não-científicas e jornais); obras de referência; multimeios (CDs, DVDs); mapas; e-
readers e publicações em Braille.
Os serviços oferecidos estão relacionados a: empréstimo de livros, publicações
periódicas, material audiovisual, e-readers, publicações em Braille; reserva e
renovação de itens em empréstimo; acesso à internet; auxílio à normalização de
trabalhos acadêmicos; elaboração de fichas catalográficas; promoção de atividades
culturais e de incentivo à leitura; elaboração de Boletim Informativo e auxílio à pesquisa
bibliográfica.
4.2 TIPOLOGIA
4.2.1 Quanto à abordagem
Foi adotada a pesquisa qualitativa, uma vez que o objeto de investigação comporta
elementos subjetivos, não mensuráveis quantitativamente, relacionados a uma
experiência e um processo vivido por sujeitos sociais, no caso, a vivência no processo
46
educacional. Assim, a utilização da metodologia de abordagem qualitativa, desponta
pelo interesse voltado à compreensão das subjetividades intrínsecas aos processos
educativos e de formação de competência em informação, considerando o aspecto
social e cognitivo de adolescentes escolares, no contexto singular de uma biblioteca
escolar pertencente a uma unidade de educacional formal regular de nível médio,
adiante descrita.
Tomamos como referência os autores Kauark, Manhães e Souza (2010, p. 26) para
justificar a opção pela abordagem qualitativa, que a consideram como:
[...] uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa qualitativa. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave. É descritiva. Os pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem.
Portanto, esta pesquisa foi caracterizada como qualitativa e buscou visualizar o
contexto social onde está inserido o objeto de investigação, de modo que seja possível
compreender de forma mais humana o fenômeno em estudo. Possibilitou também
enriquecer constatações obtidas a partir da análise de dados coletados no contexto real
em que ocorrem e identificar categorias específicas com uma visão geral do todo.
4.2.2 Quanto aos objetivos
Neste aspecto, foi realizada uma pesquisa descritiva, tendo em vista a possibilidade
suscitada pelo método na descrição de características da população, ou no
estabelecimento de relações entre variáveis inerentes ao objeto da investigação.
Para Cervo e Bervian (2002) pesquisa descritiva é bastante utilizada em estudos
realizados na área de Ciências Humanas e Sociais para abordar problemas que
necessitam e merecem ser estudados, no intuito de conhecer e descrever as diversas
situações e relações que ocorrem na vida social, tanto do indivíduo tomado
isoladamente, como de grupos e comunidades mais complexas.
47
O método descritivo utilizado nessas áreas se dirige à observação, registro, análise e
correlação de fatos ou fenômenos sociais e humanos, sem manipulá-los, segundo
referem Cervo e Bervian (2002). Conforme descreve Vergara (2005), sua preocupação
não é com a explicação, mas com a apresentação dos fatos e fenômenos sob estudo,
de modo a descrevê-los em suas características intrínsecas.
Assim, considerando que a presente pesquisa tem por base o interesse em descrever,
sem a intenção de explicar o objeto tomado para estudo, consideramos que a mesma
se caracteriza como uma pesquisa descritiva. E, ainda, fundamenta-nos a escolha
deste método a afirmação de Gil (2009) de que pesquisas descritivas, associadas às
exploratórias, são aquelas que os pesquisadores sociais mais habitualmente realizam
quando se interessam por descrever atuações práticas, como é o caso deste estudo.
4.2.3 Quanto às técnicas
Para Cervo e Bervian (2002), a pesquisa descritiva pode também se apresentar na
modalidade de estudo de caso, quando a mesma se dirige ao estudo de determinado
indivíduo, família, grupo social, comunidade, representativo de seu universo para
destacar aspectos variados de sua vida. Como nosso interesse se concentra na
pesquisa de uma situação singular representada por uma única biblioteca escolar,
consideramos que o Estudo de Caso se mostra inerente ao presente estudo.
Considerando o descrito acima, cabe aqui afirmar que o presente estudo se constituiu,
então, em uma pesquisa qualitativa, do tipo Estudo de Caso, conforme seus objetivos e
delineamento.
4.3 PARTICIPANTES
Conforme explica Oliveira (2010), para retratar a complexidade de uma situação
particular, o Estudo de Caso utiliza uma variedade de fontes para a coleta de dados
que é realizada em vários momentos da pesquisa, com diferentes tipos de sujeito.
Foram participantes da pesquisa os alunos do Instituto que são usuários da biblioteca,
os auxiliares e os bibliotecários, incluindo também ex-bibliotecários e ex-auxiliares de
48
biblioteca. Justifica-se a participação de profissionais bibliotecários e também ex-
profissionais bibliotecários devido à relevância da participação destes nos projetos de
incentivo à leitura e promoção cultural, inclusive, no processo de implantação da
biblioteca e dos projetos de incentivo à leitura “Boletim Informes” e “Gostar de Ler, Ler
para Gostar”, anteriormente citados. Em relação aos auxiliares e ex-auxiliares da
biblioteca, justifica-se a participação destes por serem profissionais que atuam
diretamente com os usuários no Serviço de Circulação de Materiais, que é um setor
que demanda contato com o público em geral, muitas vezes permitindo a identificação
de necessidades do usuário, tendo em vista que na unidade de informação não há
Setor de Referência.
4.3.1 Participantes
Por se tratar de pesquisa qualitativa, o número total de participantes não foi
previamente definido, uma vez que adotamos a amostra por saturação. Os autores
Ramos, Junqueira e Puplaksis (2008, p. 195) explicam que:
[…] Em alguns métodos de pesquisa qualitativa, a amostra se dá por saturação [...]. O fechamento do grupo de participantes será definido quando as informações coletadas com certo número de participantes passarem a repetir conteúdos e não proporcionarem acréscimos significativos ou quando o pesquisador já tiver atingido seus objetivos com as informações coletadas.
Entretanto, partiu-se de um número prévio de participantes constituído por 2 (dois)
bibliotecários,1 (uma) ex-bibliotecária, 1 (uma) auxiliar de biblioteca e 1 (um) ex-auxiliar
de biblioteca e 2 (duas) estagiárias, que também são alunas da instituição. Somou-se a
princípio, o total de 7 (sete) participantes da pesquisa, que representa a totalidade dos
profissionais e estagiários relacionados à biblioteca.
Em relação aos alunos, de um total de 284 alunos matriculados no 2º, 3º e 4º anos do
ensino médio, buscou-se inserir como participantes da pesquisa, inicialmente, 15
alunos, sendo cinco de cada ano, escolhidos aleatoriamente. A partir desse número,
atingiu-se a saturação da amostra, constituindo-se por 17 (dezessete) alunos ao total.
Em relação aos critérios de inclusão e exclusão de participantes da pesquisa foram
adotados os seguintes:
49
Como critérios de inclusão dos participantes, consideramos: alunos cursando o 2º, 3º
e 4º anos do ensino médio, com idades entre 16 a 19 anos. Justifica-se a escolha por
estas séries e faixa etária por se tratarem de alunos que participaram da pesquisa
utilizando conteúdos do livro didático do 1º ano do ensino médio. Os critérios de
inclusão para os profissionais serão bibliotecários que atuam ou atuaram na biblioteca
campo deste estudo.
Como critérios de exclusão, temos: ex-alunos e alunos cursando o 1º ano do ensino
médio, com idades entre 13 a 15 anos. Alunos com esta faixa etária e cursando a
primeira série do ensino médio ainda não tiveram todos os conteúdos do livro didático,
repassados para a respectiva série. Não há critérios de exclusão em relação aos
profissionais, pois todos estarão incluídos na pesquisa.
4.4 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS
Gil (2009) afirma que para coleta de dados em estudos de caso as informações podem
ser obtidas através de análise de documentos, entrevistas, depoimentos pessoais e
observações. No caso deste estudo, a coleta de dados foi realizada a partir de
entrevista individual de técnica semiestruturada com roteiro específico para os alunos e
funcionários da biblioteca campo de estudo, que aceitaram participar da pesquisa.
A entrevista, conforme descreve Ferrão (2008), é o encontro de duas pessoas, com o
objetivo de obter informações a respeito de determinado assunto, mediante uma
conversa natural ou programada de forma profissional. Lakatos e Marconi (2010)
ressaltam que na entrevista semiestruturada, o entrevistador tem liberdade em
direcionar seus questionamentos, dependendo do contexto, de forma mais adequada
possível.
4.4.1 Estratégias de aplicação do instrumento de coleta de dados
Para a realização da entrevista com os participantes da pesquisa, foi utilizado um
roteiro de questões previamente elaboradas (Apêndices “A” e “B” e “C”), com
perguntas abertas, nas quais a entrevista foi baseada, possibilitando a inclusão de
50
questões que surgiram durante a conversa entre o pesquisador e o entrevistado
(segundo a técnica semiestruturada).
O processo de entrevista foi desenvolvido em uma sala reservada da biblioteca que
permitiu assegurar um ambiente de privacidade, no processo de entrevista. Também foi
agendada para acontecer dentro da disponibilidade dos participantes da pesquisa de
modo a não interferir em seus compromissos profissionais e acadêmicos.
Para o registro mais fiel possível dos dados obtidos da pesquisa, foi utilizado de
gravação por meio de gravador eletrônico, obtido com recursos da própria
pesquisadora. As informações obtidas e registradas pela gravação foram transcritas,
gerando assim o documento base para a análise de dados. O material gravado foi
destruído imediatamente após a análise de dados, para proteger os participantes
evitando a identificação dos mesmos por pessoas alheias à pesquisa.
O material transcrito, que serviu para a análise dos dados ficará sob guarda da
pesquisadora por prazo de cinco anos, sendo destruído após esse período. Para
realizar a coleta de dados, foi solicitado autorização à instituição onde a pesquisa foi
realizada, de modo que o procedimento de coleta de informações dos participantes da
pesquisa esteja em pleno acordo com os preceitos éticos da pesquisa com seres
humanos.
4.5 PLANO DE PRODUÇÃO DE DADOS
Por tratar-se de pesquisa de abordagem qualitativa, para o tratamento dos dados foi
constituída uma análise interpretativa das informações obtidas nas entrevistas com
base no método de Análise de Conteúdo. Nessa etapa, foram expostos os resultados
do estudo de caso, correlacionando-os com os objetivos e as teorias de referência
adotadas neste estudo.
Para Bardin (1979) análise de conteúdo constitui-se como um conjunto de técnicas de
análise de comunicação visando à descrição do conteúdo das mensagens, sendo uma
técnica sistematizada que permite ao pesquisador fazer inferências sobre qualquer um
dos elementos da comunicação, que visa descrever o conteúdo da mensagem contida
51
no texto tomado para análise, apresentando o significado desta mensagem. Trata-se
de uma técnica de tratamento de dados em que se busca o sentido contido no texto
sob análise.
Inicialmente, ordenamos as observações registradas nas entrevistas e na análise
documental em ordem sequencial de tempo. Após, realizamos leitura exaustiva desse
material aproximando os dados colhidos com o referencial teórico adotado.
Para o tratamento dos dados obtidos, foi adotada a análise qualitativa descrita por Gil
(2009), que vem a ser um método de análise de conteúdo mais atual do que o descrito
por Bardin. Segundo o autor, a análise qualitativa dos dados contempla três passos: a)
Redução, b) Categorização e c) Interpretação dos dados.
A redução consistiu na abstração dos dados provenientes da coleta, pelos
instrumentos utilizados, pois consiste em processo de seleção, simplificação,
abstração, e transformação dos dados originais da coleta.
A categorização consistiu na organização dos dados obtidos, permitindo a construção
das categorias de análise descritoras do objeto de estudo, é um procedimento de
agrupar dados considerando a parte comum existente entre eles.
E, finalmente, a interpretação procurou descrever as categorias de análise e a
apresentação das mesmas de modo a interpretá-las utilizando-se a inferência e a
associação ao referencial teórico do estudo.
Na análise qualitativa as categorias não foram definidas à priori, pois emergem da fala,
do discurso, do conteúdo das respostas/texto e implicam numa constante ida e volta
ao material de análise e à teoria. As categorias foram sendo criadas, à medida que
surgiram nas respostas/texto, e depois foram interpretadas à luz de teorias
explicativas, conforme descreve Gil (2009).
4.6 RISCOS E BENEFÍCIOS
Apesar de a metodologia elaborada ter oferecido riscos mínimos, em alguns momentos
52
das entrevistas houve alguns sentimentos de introversão ou timidez nas respostas, mas
que foi minimizado, garantindo ao participante sigilo, confidencialidade, anonimato e a
não interferência pessoal e política na pesquisa.
Em relação aos benefícios, estima-se que a pesquisa contribuiu para melhor
aplicabilidade das políticas públicas para o livro didático na rotina das atividades de
incentivo à leitura da Biblioteca campo deste estudo, além de:
- Produção de material bibliográfico para registro das contribuições das políticas
públicas no âmbito da biblioteca escolar;
- Vivência no processo de iniciação científica como mestranda do Programa de Pós-
Graduação Stricto Sensu em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local;
- Identificação de sentimentos de adolescentes escolares no processo de formação da
competência em informação tendo o livro didático como principal dispositivo,
propiciando futuramente, após a divulgação dos resultados da pesquisa, a melhoria dos
serviços e produtos oferecidos pela biblioteca escolar aos seus alunos e à comunidade.
O projeto de pesquisa foi apresentado ao Campus da estrutura do Instituto Federal do
Espírito Santo e os participantes desta são constituídos por alunos, bibliotecários e
outros funcionários. Os mesmos foram contatados para a participação no estudo.
4.7 ASPECTOS ÉTICOS
Esta dissertação encontra-se em consonância com os aspectos éticos inerentes à
pesquisa com seres humanos, estabelecidos na resolução 466/12 do Conselho
Nacional de Saúde (CNS) e suas complementares. As informações coletadas foram
mantidas em caráter confidencial, assegurando o sigilo, a proteção e a identidade dos
participantes da pesquisa.
Os dados somente foram coletados após a provação da pesquisa pelo CEP (Comitê
de Ética e Pesquisa) da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia –
Emescam. A coleta de dados só será realizada após a aprovação da pesquisa pelo
53
CEP e a devida concordância dos participantes da pesquisa que, estando devidamente
esclarecidos da sua participação na pesquisa, aceitarem participar livre e
voluntariamente da mesma, pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para os
Pais dos Alunos (Apêndice “D”), Termo de Consentimento para Funcionários,
Estagiários e Ex-profissionais que atuaram na Biblioteca (Apêndice “E”) e o Termo de
Assentimento (Apêndice “F”), no caso de adolescentes. A pesquisa somente se
realizarou mediante a concordância explícita da instituição coparticipante, expressa
por meio da Carta de Anuência (Apêndice “G”).
Os pais dos alunos foram contatados para uma reunião através da Coordenadoria de
Biblioteca e Núcleo de Gestão Pedagógica do campus da pesquisa, onde a referida
pesquisa foi apresentada, assim como seus objetivos, justificativa, metodologia de
coleta de dados e resultados alcançados.
A coleta de dados com alunos menores de 18 anos somente se realizou mediante
concordância e assinatura dos pais e/ou responsáveis do Termo de Consentimento
Livre e Esclarecido (TCLE), assim como os alunos que concordarem participar da
pesquisa, deverão assinar o Termo de Assentimento Livre e Esclarecido (TALE). As
respostas obtidas foram transcritas sem que os participantes fossem identificados
(Apêndice “H”), e os arquivos de áudio foram apagados após a transcrição.
4.8 CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES DA PESQUISA
Apresentamos e discutimos brevemente os dados obtidos nas entrevistas com alunos
de ensino médio, auxiliares de biblioteca, bibliotecários e estagiários. Para efeito de
interpretação e análise dos dados obtidos nas entrevistas realizadas, as categorias de
entrevistados foram agrupadas e codificadas da seguinte forma e com as variações:
A= Aluno (A1 à A17); E= Estagiário (E1, E2 e E3); B= Bibliotecário (B1 e B2) e AUX:
Auxiliar de Biblioteca (AUX 1 e AUX 2).
De início, faz-se aqui uma apresentação das características dos participantes da
pesquisa, no sentido de apresentar uma breve descrição dos mesmos, sem o
interesse de explicar ou analisar os elementos que compõem as características dos
participantes da pesquisa, mas apenas demonstrar como estes se constituem. Essas
54
características estão apresentadas nos quadros descritivos a seguir, trazendo
características em relação ao sexo, faixa etária, escolaridade, dentre outros.
Tabela 2 – Demonstrativo do número de participantes
Tipo de Participante Nº de Participantes
Alunos
Auxiliar de Biblioteca
Bibliotecário
Estagiário
TOTAL
17
02
02
03
24
Fonte: Própria autora (2016)
Tabela 3 – Demonstrativo da distribuição quanto ao gênero dos participantes
Tipo de Participante
Nª Feminino Nº Masculino
Alunos
Auxiliar de Biblioteca
Bibliotecários
Estagiários
TOTAL
10
01
01
03
15
07
01
01
00
09
Fonte: Própria autora (2016)
A Tabela 3 monstra que a maioria dos entrevistados pertence ao gênero feminino,
sendo predominante entre os alunos e estagiários. Esse dado, apesar de demonstrar
que a quantidade de entrevistados do gênero feminino foi maior que o gênero
masculino, não permite inferir se o gênero feminino é predominante no espaço escolar,
uma vez que a amostra entrevistada representa aproximadamente 4% do total de
55
alunos matriculados.
Tabela 4 – Demonstrativo de características dos bibliotecários
Identificação
Gênero Escolaridade Tempo de formação
Tempo de atuação
na profissão
Tempo de atuação na
Biblioteca do Ifes
B1 M Especialização
4 anos 4 anos 2 anos e 8 meses
B2 F Mestrado 11 anos 9 anos 1 ano
Fonte: Própria autora (2016)
Apesar dos dados mostrarem que a bibliotecária B2 possui mais tempo de formação e
atuação na profissão, a mesma não teve muita experiência de trabalho no campus, o
que influenciou nas respostas do formulário de entrevista. O bibliotecário B1, apesar do
pouco tempo de formação e experiência profissional, trabalhou mais tempo no referido
campus.
Tabela 5 – Demonstrativo de características dos auxiliares de biblioteca
Identificação Gênero Escolaridade Tempo de atuação na profissão
Tempo de atuação na Biblioteca do Ifes
AUX 1 F Especialização 1 ano e 6 meses
1 ano e 6 meses
AUX 2 M Especialização 5 anos 2 anos e 10 meses
Fonte: Própria autora (2016)
O auxiliar de biblioteca AUX 2, apesar de ter cinco anos de atuação na profissão, quase
a metade deste período foi no campus, e a auxiliar de biblioteca AUX 1 iniciou sua
experiência profissional nesta biblioteca.
56
Tabela 6 – Demonstrativo de características dos estagiários
Identificação Gênero Escolaridade Idade Tempo de atuação na
Biblioteca do Ifes
E1 F Ensino Médio
Incompleto
18 9 meses
E2 F Ensino Superior Incompleto
19 12 meses
E3 F Ensino Superior Incompleto
18 12 meses
____________________________________________________________________
Fonte: Própria autora (2016)
Percebe-se a predominância do gênero feminino entre o grupo de estagiários que
atuaram na biblioteca do campus, sendo que a experiência de trabalho delas foi em
média, de onze meses. A escolaridade da maioria delas era no ensino superior
incompleto.
Tabela 7 – Demonstrativo de características dos alunos
Identificação Gênero Idade Escolaridade Curso Técnico
A1 M 16 anos 2º ano Administração
A2 M 17 anos 3º ano Agroindústria
A3 F 17 anos 4º ano Administração
A4 M 18 anos 4º ano Administração
A5 M 17 anos 3º ano Agroindústria
A6 F 17 anos 3º ano Agroindústria
A7 M 15 anos 2º ano Agroindústria
A8 F 16 anos 2º ano Administração
57
A9 F 16 anos 2º ano Agroindústria
A10 F 18 anos 3º ano Administração
A11 F 18 anos 4º ano Administração
A12 M 18 anos 4º ano Administração
A13 F 17 anos 3º ano Agroindústria
A14 F 19 anos 4º ano Administração
A15 F 16 anos 2º ano Administração
A16 M 18 anos 3º ano Agroindústria
A17 F 16 anos 2º ano Administração
Fonte: Própria autora (2016)
Entre os alunos, a maioria dos entrevistados era do gênero feminino, o curso e a série
predominante foram de Administração, e o 4º ano do ensino médio, respectivamente. A
idade média dos entrevistados era de 17 anos.
Tabela 8 – Distribuição de escolaridade por gênero dos alunos
Sexo
Escolaridade Total
2º ano 3º ano 4º ano
Feminino 4 3 3 10
Masculino 2 3 2 7
Total 6 6 5 17
Fonte: Própria autora (2016)
Entre os alunos entrevistados das três séries do ensino médio, há predominância do
58
gênero feminino, tanto na distribuição por série, quanto o total de alunos.
Tabela 9 – Distribuição de curso técnico por gênero dos alunos
Gênero
Curso Técnico Total
Administração Agroindústria
Feminino 7 3 10
Masculino 3 4 7
Total 10 7 17
Fonte: Própria autora (2016)
Percebe-se que a maioria dos alunos do gênero feminino cursa Administração,
enquanto os alunos do gênero masculino cursam Agroindústria, evidenciando o
interesse feminino por áreas de gestão e o interesse masculino por áreas mais
específicas, voltadas ao eixo econômico da região.
Tabela 10 – Distribuição de escolaridade por faixa etária dos alunos
Faixa Etária
Escolaridade Total
2º ano 3º ano 4º ano
15 anos 1 0 0 1
16 anos 5 0 0 5
59
17 anos 0 4 1 5
18 anos 0 2 3 5
19 anos 0 0 1 1
Total 6 6 5 17
Fonte: Própria autora (2016)
Em relação aos dados da tabela 10, nota-se um equilíbrio na distribuição dos
entrevistados por série e por idade, porém, houve maior participação na pesquisa dos
alunos do 2º e 3º anos em relação ao 4º ano do ensino médio. Em relação à idade, há
predominância entre os alunos de 16, 17 e 18 anos, sendo a idade padrão
correspondente a cada série cursada.
Para análise dos dados do capítulo 5, foi utilizado o método de análise de conteúdo
segundo Bardin/Gil já descrito no capítulo de metodologia deste estudo, para compor
as categorias de análise que passam agora a ser apresentadas. Três categorias foram
formadas a partir do material analisado, assim nomeadas: 1. Políticas Públicas dirigidas
ao Livro Didático e à Leitura; 2. Práticas de incentivo à leitura de uma biblioteca escolar
e 3. Sentidos de livro didático, leitura e biblioteca apresentados por adolescentes
escolares.
A análise de dados das respostas obtidas foram divididas em 3 (três) categorias de
análise, conforme detalhamento abaixo:
60
5 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O LIVRO DIDÁTICO E SUAS INTERLOCUÇÕES COM A BIBLIOTECA ESCOLAR PARA A FORMAÇÃO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO
5.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DIRIGIDAS AO LIVRO DIDÁTICO E À LEITURA O primeiro objetivo específico deste estudo foi destacar políticas públicas existentes
para o livro didático e a leitura no contexto da educação formal regular no âmbito
federal, portanto, para o alcance deste objetivo, o texto foi delineado em: Políticas
públicas para a educação, políticas públicas para o livro didático e políticas públicas à
leitura.
5.2.1 Políticas públicas dirigidas à educação: legislações
5.2.1.1 Constituição Federal
A educação é direito social fundamental garantido no artigo 6º da Constituição
Brasileira (BRASIL, 2010a) e pressupõe o desenvolvimento integral do ser humano, ou
seja, a formação de sua capacidade física, intelectual e moral. Consiste em um
processo de transmissão de conhecimentos de um agente ao educando e vice-versa,
configurando-se como uma interação entre professor e aluno, visando à formação de
habilidades, do caráter e da personalidade social do indivíduo.
O artigo 205 da referida Constituição cita também, a garantia do ensino gratuito, para
que haja o desenvolvimento do individuo, o preparo deste para o exercício da cidadania
e a sua qualificação para o trabalho.
No âmbito da aplicação da política pública de educação na biblioteca escolar, essa
noção está fortemente ligada ao seu papel na promoção da leitura e no processo de
aprendizagem que visam “[…] a formação de cidadãos ativos e participativos na
construção de uma sociedade mais justa e igualitária” (CAMPELLO, 2013, p. 33). A
autora ressalta que democratizar o acesso à informação, capacitar as pessoas para o
uso crítico da informação, proporcionar condições que permitam a reflexão, a crítica e a
61
construção de ideias por meio da leitura são ações recomendadas para o bibliotecário
e, no bojo dessas ações, a biblioteca escolar é vista como espaço privilegiado para seu
desenvolvimento.
Através de dados obtidos pelo Censo Escolar realizado no ano de 2010, pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), aponta no
quesito “Infraestrutura” o número de escolas que possuem biblioteca (BRASIL, 2010, p.
33 apud CASTRO FILHO; COPPOLA JUNIOR, 2012, p. 31), sendo divididos em dois
grupos:
[...] 1) Escolas dos anos iniciais (1º ao 5º ano), totalizando 42.029 escolas (30,4%); 2) Escolas dos anos finais (6º ao 9º ano, totalizando 36.417 escolas (58,7%). Esse levantamento estatístico é composto por escolas de ensino fundamental, públicas (federal, estadual e municipal) e privadas, no entanto poderá haver divergências no total de “escolas atendidas”, pelo conceito
incorreto de biblioteca escolar, aplicado pela administração escolar.
Todavia, apesar de a biblioteca escolar ser privilegiada ao desenvolvimento de práticas
de aprendizagem que contribuem para a apropriação da cultura informacional por
crianças e jovens, a mesma carrega um rol de problemas que ressaltam a atual
situação no contexto educacional brasileiro, pois de acordo com Oliveira (2013, p. 74):
[…] Na análise da apresentação dos Princípios Fundamentais e da Ordem Social da atual edição, não há menção sobre acervos, espaços, mediação e o material “livro” é mencionado no atendimento ao educando, onde o Dever do Estado em garantir a educação de qualidade é efetivado com programas suplementares, e um dos suplementos é o livro didático, o livro utilizado em sala de aula. (OLIVEIRA, 2013, p. 74)
Na análise do autor, a biblioteca em sua infraestrutura não aparece na Constituição, o
que deu margem para que a LDBEN tornasse essa discussão mais específica, ainda
que considerada muito genérica, a respeito de sua atuação no âmbito educacional.
5.2.1.2 A biblioteca escolar no contexto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN)
Conforme levantamentos de Oliveira (2013, p. 71), “[…] a biblioteca escolar foi figurada
na atual versão da LDBEN, em 1996”, conforme o trecho destacado:
62
[…] através do projeto de lei 3044/2008, da autoria do Deputado Federal Sandes Júnior (Partido Progressista – GO), que irá efetivar-se como Lei da Câmara quatro anos depois, sob a relatoria do Senador Cássio Cunha Lima, tornando-se Lei da Câmara PLC 28/2012. (OLIVEIRA, 2013, p. 71)
Segundo o Manifesto da IFLA/UNESCO (2000, p. 1) a missão da biblioteca escolar é
“[...] promover serviços de apoio à aprendizagem e livros aos membros da comunidade
escolar, oferecendo-lhes a possibilidade de se tornarem pensadores críticos e efetivos
usuários da informação, em todos os formatos e meios”. A missão da biblioteca escolar
na perspectiva da IFLA/UNESCO é que esta seja um organismo que preste suporte ao
aluno para que consolide o processo de sua aprendizagem, conhecendo várias fontes
de informação e aprenda a localizá-las, de modo a satisfazer suas necessidades
informacionais e as utilize para a resolução de seus problemas.
5.2.1.3 Lei nº. 12.244/2010: universalização das bibliotecas escolares
Diante das limitações da biblioteca escolar, representadas pelos dados do Censo de
2010, uma perspectiva começou a se delinear em 24 de maio do mesmo ano, quando
entrou em vigor a Lei nº. 12.244, que dispõe sobre a universalização das bibliotecas
nas instituições de ensino no País. O prazo máximo para efetivação da lei será de dez
anos, cabendo às instituições “desenvolver esforços progressivos” para o seu
cumprimento (BRASIL, 2010b). A partir da aprovação da referida lei, houve um
fortalecimento de esforços por parte dos bibliotecários em exigir do poder público, a
implantação de bibliotecas escolares com atuação de bibliotecários para aplicação da
lei 12.244/2010, cuja lei dispõe sobre a universalização das bibliotecas nas instituições
de ensino do país:
[…] Artigo 1. As instituições de ensino públicas e privadas de todos os sistemas de ensino do País contarão com bibliotecas, nos termos desta Lei (BRASIL, lei nº. 12.244/2010)
De acordo com Viana e Pieruccini (2015, p. 5), como a biblioteca “é tratada como uma
coleção de recursos informacionais, tem concepção limitada e residual acerca do papel
que pode e deve exercer no quadro educacional contemporâneo e que pouco tem
contribuído para evidenciar o papel essencial da biblioteca escolar no contexto
nacional”. Ainda de acordo com as autoras, “a atual condição da biblioteca escolar foi
63
moldada ao longo da implantação de distintas políticas no campo da educação,
resultantes do quadro histórico amplo”. Ressaltam ainda que “no contexto educacional
brasileiro, consagrado a uma prática de ensino transmissivista, as ações do poder
público em torno do livro e da leitura foram circunscritas à distribuição de materiais
impressos” (VIANA e PIERUCCINI, 2015, p. 5).
Na primeira publicação do projeto, a definição de biblioteca escolar era:
Art. 2 Entenda-se como Bibliotecas Escolares a coleção de livros, materiais videográficos e documentos congêneres para estudo, consulta e leitura recreativa, considerando como acervo mínimo, quatro livros por aluno matriculado (BRASIL, Projeto de Lei 3549/2000, art. 2º apud OLIVEIRA, 2013, p. 72)
Oliveira (2013) destaca ainda que um dos motivadores do projeto de lei foi o resultado
obtido do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), no ano de 1997
indicaram que escolas que possuíam biblioteca escolar, os alunos nelas matriculados
possuíram melhor rendimento escolar. Entretanto, segundo dados de Balmant (2013),
obtidos no Jornal “O Estado de São Paulo”, no ano de 2013, aproximadamente 73%
das escolas brasileiras não possuem bibliotecas, com base no Censo Escolar 2011,
sendo que os Estados mais carentes são os das regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Embora os dados não sejam tão recentes, demonstram que as principais dificuldades
para o cumprimento da lei pautam-se na falta de bibliotecários no mercado para
assumir estes espaços. De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica de 2011
(INEP, 2011), existiam naquele ano 194.932 estabelecimentos de ensino de Educação
Básica pelo Brasil, sendo 157.381 na rede pública e 37.551 na rede privada. Já os
bibliotecários somam 34 mil inscritos no sistema do Conselho Federal e Conselhos
Regionais de Biblioteconomia (CFB/CRBs), sendo que destes apenas 18 mil estão
ativos (PAULA, 2015).
De acordo com Rancière (2011, p. 12), “[…] a situação precária da biblioteca escolar
acentuou-se por sua inserção numa escola fundada sob o princípio de uma
desigualdade social a ser minimizada, ocupada com a adaptação de todos os padrões
vigentes e com a manutenção das elites. Para Rancière, as iniciativas governamentais
para as bibliotecas escolares conservam-se a mesma ênfase distributiva, sendo
64
exemplos oficiais o Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) e o Programa
Nacional do Livro Didático (PNLD), pois de acordo com o MEC, relacionam-se ao livro,
leitura e biblioteca (MEC, 2011, p. 5). O segundo programa, foco deste trabalho, é
detalhado no item 5.2.2.
5.2.1.4 Plano Nacional de Educação
De acordo com Oliveira (2013), o Plano Nacional de Educação – PNE, é um
documento que traz diretrizes para o cumprimento de metas educacionais a curto,
médio e longo prazo, com abrangência nacional, nas três esferas da federação. O atual
PNE vigente corresponde ao período 2011 – 2020, conforme o trecho destacado:
[…] oriundo do Projeto de Lei 8035/2010, é de autoria do Deputado Ângelo Vanhoni do Partido dos Trabalhadores (PT) do Paraná. Ele é composto de 10 diretrizes e 20 metas. Ele possui força de lei, e utiliza indicadores do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB, para o estabelecimento de metas através dos números do índice. (OLIVEIRA, 2013, p. 73)
No atual PNE, dentre as suas metas de ação, destacam-se as seguintes estratégias em
referência às bibliotecas escolares:
6.3) institucionalizar e manter, em regime de colaboração, programa nacional de ampliação e reestruturação das escolas públicas, por meio da instalação de quadras poliesportivas, laboratórios, inclusive de informática, espaços para atividades culturais, bibliotecas, auditórios, cozinhas, refeitórios, banheiros e outros equipamentos, bem como da produção de material didático e da formação de recursos humanos para a educação em tempo integral; 6.4) fomentar a articulação da escola com os diferentes espaços educativos, culturais e esportivos e com equipamentos públicos, como centros comunitários, bibliotecas, praças, parques, museus, teatros, cinemas e planetários; 7.20) prover equipamentos e recursos tecnológicos digitais para a utilização pedagógica no ambiente escolar a todas as escolas públicas da educação básica, criando, inclusive, mecanismos para implementação das condições necessárias para a universalização das bibliotecas nas instituições educacionais, com acesso a redes digitais de computadores, inclusive a internet; 7.33) promover, com especial ênfase, em consonância com as diretrizes do Plano Nacional do Livro e da Leitura, a formação de leitores e leitoras e a capacitação de professores e professoras, bibliotecários e bibliotecárias e agentes da comunidade para atuar como mediadores e mediadoras da leitura, de acordo com a especificidade das diferentes etapas do desenvolvimento e da aprendizagem (BRASIL, 2014, s.p.).
Assim como demonstrado no PNE, as bibliotecas escolares estão inseridas nas
65
políticas públicas, as quais entendidas por Rasche (2009, p. 14) como “[…] um
conjunto de diretrizes e orientações registradas em leis e outros instrumentos de
governo, voltadas à coletividade”. Ainda, em relação às políticas públicas, Costa e
Dagnino (2008) concebem que as mesmas requerem o conhecimento das
organizações e das relações sociais que se estabelecem entre os distintos sujeitos
sociais que representam os diferentes interesses sociopolíticos presentes no interior de
uma instituição e em grupos externos.
5.2.2 Políticas públicas brasileiras dirigidas ao livro didático
Os textos didáticos representam ligações entre a comunicação e a representação da
imagem. A prática de leitura em livros didáticos repassa representações textuais de
símbolos, contextualizados em diferentes condições de entendimento de formas de
discurso, que de acordo com Barbosa (2009, p. 81), “[…] está vinculado à formação
das pessoas envolvidas nas práticas de leitura”.
Ainda, conforme a análise da autora, nas diferentes maneiras como os livros são
apresentados, incluindo as cartilhas ou “livros de leitura” (grifo nosso), acabam por se
constituir símbolos ou armazenadores de imagens bastante valorizados pelos alunos,
porém que pouco ou nada alfabetizavam, levando os professores a buscar outros
recursos para a alfabetização sem a predominância desse tipo de material didático.
De acordo com Silva (1996, p. 11) “[…] o livro didático detém uma tradição tão forte na
educação brasileira que seu acolhimento independe da vontade e da decisão dos
professores”. Essa afirmação é sustentada pela organização escolar, pelo saudosismo
dos pais dos alunos, que também estudaram utilizando as cartilhas com distribuição
gratuita; o marketing das editoras; e a própria dinâmica de orientação do trabalho
docente, que mantém o aluno ocupado, aprendendo através de tentativas e erros.
A alfabetização, ou letramento ou compreensão do texto, pressupõe, conforme Pietri
(2007, p. 7), três tipos de conhecimento necessários para sua efetivação: “[…]
conhecer o sistema linguístico e seu funcionamento, o conhecimento textual e o
conhecimento de mundo”. Ou seja, o ato de ler supõe resolver problemas que vão de
encontro ao leitor, superando obstáculos, ou seja, aprendendo através de tentativas e
66
erros, tornando-o proficiente.
Na História, a alfabetização era uma prática incomum até a invenção da imprensa, no
ano de 1455, por Johannes Gutemberg. Nesse contexto, Copes (2007, p. 40) afirma
que “[…] alguns poucos senhores abastados economicamente emprestavam seus
livros, de vez em quando, a um número limitado de pessoas da própria classe social ou
familiar”. Somente a partir do ano 1150, de acordo com Paiva (2010) os escribas,
profissionais que transcreviam a oralidade para o suporte papel, teriam começado a se
apoderar do “negócio do livro” (grifo do autor), promovendo seu saber. Aos poucos,
os livros vão deixando de ser propriedade exclusiva de instituições eclesiásticas e
surgem novos tipos de livros: livros para estudantes, livros de devoção privada e textos
literários, incluindo romances e representações folclóricas.
Para o cidadão médio, porém, o livro ainda estava fora de alcance, pois os índices de
analfabetismo eram altos, as universidades eram escassas, havia concentração de
saber e, somando a esses fatores, havia dúvidas em relação à função formadora do
livro fora da religião. Conforme Manguel (2004), a leitura era pública, pois havia o
hábito de muitas pessoas juntarem-se a grupos que tinham acesso à leitura para ouvi-
los, tornando-se prática comum na Idade Média. A leiturabilidade, ou seja, o uso da
imagem narrativa foi um dos artifícios usados para ampliar o acesso ao livro, que eram
produzidos como miniaturas, livros de horas e livros informativos, voltados
especificamente aos grupos de pessoas iletradas ou pouco letradas, que via nas
imagens dos livros, sua própria visão de mundo.
Neste sentido, as cartilhas distribuídas às crianças em fase de alfabetização e os livros
didáticos destinados ao público em fase escolar, são tomados em mais de 50% por
ilustrações, que pouco contribuem para a interpretação do texto inserido no material.
Pietri (2007, p. 41) explica que a tomada do livro didático por ilustrações representa a
imagem do próprio aluno com quem trabalha o autor: “[…] alguém não afeito à leitura e
que não pode receber grande quantidade de texto para ler, sob pena de abandonar o
livro”.
Atualmente, os livros didáticos representam a principal fonte primária de informação
utilizada em muitas escolas da rede pública, e também particular de ensino, tornando-
67
se um dispositivo mediador de ensino-aprendizagem, entre o aluno e professor. Lopes
(2007, p. 208) considera o livro didático como uma “versão didatizada do conhecimento
para fins escolares e com propósito de formação de valores”. Desta forma, o professor
deve ter competência para superar as limitações próprias dos livros didáticos, que
apenas como dispositivo de apoio educacional, não contextualizam saberes e
problemáticas locais. Para Nuñes et al (2009, p. 3) “[…] é tarefa dos professores
complementar, adaptar, dar maior sentido aos bons livros recomendados pelo MEC”.
Neste contexto, passamos a abordar na sequência um resgate histórico dos programas
governamentais de incentivo à leitura, com o objetivo de discutir a trajetória tomada
pela prática da leitura, em um país com aproximadamente 191 milhões de habitantes
(IBGE, 2011), e entre essa população, conforme dados da Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (Pnad), realizada no ano de 2013 e publicada pela revista
Época (2014), existem aproximadamente 13 milhões de analfabetos entre pessoas
acima de 15 anos de idade, correspondendo a 8,5% da população.
O aspecto pedagógico do livro didático envolve ligações com o sistema educacional
adotado pelo Estado brasileiro e contribui efetivamente para a manutenção sistemática
de ensino/aprendizagem em sala de aula. De modo geral, o livro didático, segundo
análise de Freitag (1989), estabelece atividades que farão com que os alunos tenham
erros e acertos, de modo que a leitura deste material conduza à compreensão dos
textos, e deles sejam retirados significados que estimulem a reflexão, principalmente de
valores sociais, que relaciona o tema lido ou estudado com temas afins, permitindo a
interação entre a escola e o contexto social.
A escolha dos textos de livros didáticos para leitura relaciona-se tanto à imagem do
leitor quanto em relação às suas competências de obter informação, através de
aspectos que envolvem o reconhecimento de motivos que levaram o autor do livro
didático a conceber determinado texto, estabelecendo objetivos para que a leitura se
faça de maneira satisfatória, ou seja, o aluno formata sua identidade a partir de
sentimentos de pertencimento ao mundo social e cultural. Para Pietri (2007), a função
da escola é formar leitores proficientes, ou seja, aqueles que são capazes de
estabelecerem objetivos ao buscar e recuperar informação através da leitura, sendo
que para cumprir este objetivo, é preciso fazer com que a escola proporcione leituras
68
de textos que referencie as condições no qual foram produzidos e quem se envolveu
em sua produção.
É necessário que o aluno saiba em que período histórico foram elaborados estes
textos, qual local, por quem, para quem e com que objetivos esses textos foram
produzidos. Assim, o aluno será competente em informação, pois se for capaz de
reconhecer no livro didático esses dados, é possível que o mesmo aluno saiba
responder a questões originadas de determinada notícia publicada em um periódico
especializado ou em outras obras.
Para auxiliar a desenvolver a proficiência de leitura de modo que este aluno se torne
competente em informação, é necessária a mediação entre a biblioteca e a escola, com
o objetivo de relacionar os textos fragmentados pelo livro didático com as obras que
deram origem aos fragmentos, localizadas em uma biblioteca escolar que oferte boas
fontes de informação, em relação à formação da imagem do aluno-leitor, dos objetivos
de ensino e dos recursos materiais e econômicos disponíveis. Nesse sentido, para
Pietri (2007), o professor poderá, em parceria com o bibliotecário, desenvolver o
mesmo trabalho histórico do editor, de formação de objetos e de estratégias de leitura e
aquisição de competências.
A biblioteca inserida no atual contexto escolar passa a ser entendida, na análise de
Queiroz (2014) como um espaço dinâmico, e o profissional bibliotecário transforma-se
em um mediador que fomentará ações em prol da leitura. Portanto, o livro didático pode
constituir-se como “porta de entrada” (grifo nosso) para o aprofundamento do
processo de aprendizagem, de modo que os alunos possam trazer do seu cotidiano a
leitura no seu uso real, e o bibliotecário pode apresentar-lhes textos variados e em
suportes diversificados.
Cabe ressaltar que a partir da Lei do Livro, vigente desde 2003, tem-se discutido
políticas públicas do governo para o livro, leitura e biblioteca, entretanto, as políticas
públicas para este segmento precisam ser mais objetivas, fazendo com que se reverta
os quadros atuais de baixa frequência às bibliotecas e de leituras fragmentadas de
cópias de livros.
69
A chamada “crise da leitura”, conforme análise de Copes (2007) vem estendendo-se
desde os finais da década de 1960, intensificando-se até a década de 1970, período
em que a leitura passou a ser vista como uma questão sociocultural, moral e também
política. Nesse intervalo de tempo, programas e projetos de incentivo à leitura foram
desenvolvidos com o intuito de formar leitores, embora estas ações tenham como
objetivo principal promover e incentivar a prática da leitura no cidadão brasileiro,
verifica-se que a história da leitura e do livro no Brasil tem maior impacto com a
implantação das Políticas Públicas para o Livro Didático.
A ampla distribuição de livros didáticos, utilizados no Ensino Fundamental e Médio, é
garantida pela política governamental que se efetiva no Brasil através do Programa
Nacional do Livro Didático, estando a sua trajetória histórica marcada por três
momentos específicos, que passam a ser destacados na sequência, segundo
informações de Souza (1999).
O primeiro momento data do século XIX, quando foi criada a Comissão de Instrução
Pública, responsável por elaborar projetos de lei que visassem a “melhor organização
pedagógica para a educação primária”. Apesar do pouco tempo de existência, se
propunha a ser um instrumento de promoção da nacionalidade brasileira.
O segundo momento, se situa no século XX, marcado pela criação de três comissões,
a Comissão Nacional do Livro Infantil (1936), a Comissão Nacional do Ensino Primário
(1938), e a Comissão Nacional do Livro Didático (1938), criadas na gestão do então
Ministro Gustavo Capanema, em meio à implantação do período do Estado Novo (1937
– 1945).
E, por fim, o terceiro momento refere-se à criação do Programa Nacional do Livro
Didático, já no final do período militar, especificamente em 1985. Dentre os momentos
aqui apresentados interessa-nos destacar o terceiro, por se constituir objeto de reflexão
e análise neste texto.
70
5.2.3 Políticas públicas para o livro didático: um desafio à biblioteca escolar
Se na primeira metade do século passado os conteúdos escolares assim como as
metodologias de ensino vinham com o professor, nas décadas seguintes, com a
democratização do ensino e com as realidades que ela produziu os conteúdos
escolares, assim como os princípios metodológicos passaram a serem veiculados pelos
livros didáticos, assumindo um papel importante na práxis educativa, tanto como
instrumento de trabalho do professor, quanto como único objeto cultural ao qual a
criança tinha acesso no final do século XIX e início do século XX.
Subsidiado pelo Governo Federal desde meados de 1930 – haja vista a criação do
Instituto Nacional do Livro Didático (INL), em 1929 – e intimamente ligado a diversas
políticas públicas até a atualidade, historicamente, o que se constata na opinião de
Silva e Fritzen (2012, p. 271) é a adoção do livro didático com o intuito de amenizar
“[…] as desigualdades criadas por um sistema econômico e social injusto, com
enormes discrepâncias socioeconômicas entre ricos e pobres”.
Atualmente, relacionados às políticas públicas para o livro didático, o Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação (FNDE) mantém regularmente três programas: são o
Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) baseado no decreto nº 91.542, de
19/08/1985, que surgiu a partir da extinção do Programa do Livro Didático para o
Ensino Fundamental (PLIDEF), cuja existência datava desde o ano de 1976; o
Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio (PNLEM), e o Programa Nacional do
Livro Didático para a Alfabetização de Jovens e Adultos (PNLA).
Para Rosa e Oddone (2006), política pública representa a vontade de diferentes
setores da sociedade em avançar em determinada direção, representando articulações
coerentes de medidas para transformar uma situação social, sendo entendida como
uma forma de enfrentamento às desigualdades sociais geradas pelo capitalismo,
decorrentes das relações de exploração da força de trabalho e acumulação do capital.
Vale aqui destacar que, em se tratando da reprodução das relações sociais, é
importante destacar a questão social, sendo esta decorrente das condições de vida e
71
produção de riqueza, (também mediada pela cultura, sendo esta transmitida por meio
de processos orais e escritos)
“[…] A distribuição do conhecimento entre os grupos sociais é um dos desafios para
garantir a democracia e maior inclusão social e competitividade global” (NEVES,
RAIZER, FACHINETTO, 2007, p. 127). Na atual sociedade do conhecimento, a busca
por informação tornou-se condição para inserção do sujeito no papel de protagonista no
processo de democratização do acesso à educação pública de qualidade, no qual o
conhecimento adquirido seja fonte de saber, não de exclusão social.
Conforme análise de Gonzalez (2012) a educação precisa ser compreendida como
parte de um contexto histórico e social, como um instrumento para entendimento,
reflexão e crítica dos valores herdados e dos novos que estão sendo propostos, não é,
portanto, um processo fechado, acabado e definitivo. Contudo, no Brasil, assim como
nas sociedades em geral, é praticamente impossível ensaiar algum conceito de
educação ou de cidadania, sem remeter às desigualdades sociais imbricadas nestes
temas.
Em uma sociedade atualmente caracterizada por abundância informacional, é
extremamente necessário preparar o estudante com habilidades de selecionar, avaliar
e utilizar a informação de maneira crítica, de forma que “o usuário da biblioteca escolar
tenha consciência da informação selecionada de maneira rigorosa e completa pode
melhorar as oportunidades pessoais e profissionais e a capacidade de tomar decisões
inteligentes” (CUEVAS; SIMEÃO, 2011, p. 97).
A aquisição da competência em informação pelo aluno o faz modificar sua percepção
do mundo em que vive e formata sua consciência crítica, potencializando-o a
transformar a realidade social e econômica no qual está inserido. Desenvolvendo sua
autonomia, transforma-se em um cidadão, pois se torna um indivíduo capaz de
melhorar sua condição social, através da participação ativa em seu desenvolvimento
educacional.
Ao pensar sobre o ensino da leitura na escola e nas práticas de recuperação da
informação em bibliotecas escolares, significa pensar na distribuição social do material
72
escrito, ou seja, considerar que os materiais escritos circulam na sociedade de modo
desigual, da mesma maneira como acontece com o acesso social a determinados
produtos, e que apenas uma minoria das pessoas têm acesso à informação escrita e
cultural de forma plena. Assim, a escolha do texto exige que o professor conheça a
realidade social do aluno que frequenta a escola e está ali, na sala de aula,
considerando os conhecimentos prévios que o aluno traz para o interior da escola.
Os diversos níveis de letramento encontrados na sociedade brasileira faz referência às
desigualdades socioeconômicas que esta apresenta, pois o aluno com alto nível de
letramento se adaptará com mais facilidade com o texto na escola, considerando que
discentes com melhores níveis de letramento já chegam à escola sabendo manusear o
material escrito com que desenvolverão suas atividades em sala de aula (PIETRI,
2007). Em relação aos alunos vindos de comunidades cujas práticas sociais baseiam-
se na oralidade ou possuem poucas práticas de leitura, é necessário construir o contato
desses alunos com os materiais escritos e de suas organizações internas, como
índices, sumários, editoriais, dentre outros.
O aluno que não desenvolveu práticas de competência em informação ou a
desenvolveu de maneira insatisfatória, possui dificuldades de relacionar os textos
trazidos pelo livro didático e lidos em sala de aula com suas expectativas, pois os
textos carregam um sentido de entendimento antecipado, podendo trazer dificuldades
de interpretação ou até mesmo de sentimentos de obrigatoriedade na prática de leitura
do material. O estranhamento do conteúdo repassado pelo livro didático se reflete na
pesquisa escolar, quando realizadas na biblioteca da escola, pois o entendimento do
conteúdo a ser pesquisado passa a ideia de uma meta a ser alcançada, e não algo
novo a ser descoberto.
Deste modo, a aquisição de conhecimentos através de um dispositivo de suporte
educacional como o livro didático, nas palavras de Barbosa (2009), reflete a veiculação
de valores históricos e sociais através de estratégias de leitura, fazendo com que o
aluno seja reconhecido ou não como membro da comunidade escolar, assim como em
sua família, podendo ou não incentivar o aluno a prosseguir com os seus estudos; ou
seja, o texto veiculado pelo livro didático contém determinações sociais que constroem
a historicidade do leitor. Neste caso, o professor e o bibliotecário são pessoas que,
73
melhor do que ninguém, conhecem de perto os componentes do terreno em que atuam
(SILVA, 1996), pois constituem-se como um elo no processo de suporte da
escolarização, tanto na prática de letramento quanto na redução das desigualdades
sociais, no que tange à formação da competência em informação dos alunos e as
práticas que os envolvem.
Deste modo, fortalecer políticas públicas de acesso à informação, tais como elaborar
materiais didáticos flexíveis, considerando a historicidade do leitor e o fortalecimento
das bibliotecas escolares, e fortalecer as bibliotecas públicas e escolares com leis que
possibilitem a gestão do setor por um bibliotecário, para que haja promoção de práticas
interdisciplinaridades dentro e fora da sala de aula, e essas ações poderão mudar a
perspectiva de vida do usuário que está inserido em contextos onde as desigualdades
remetem aos segmentos populacionais menos favorecidos socialmente.
5.2.4 O livro didático na prática educativa e suas implicações para a biblioteca
escolar
É direito do estudante que estuda no ensino fundamental e médio frequentar a escola
pública de qualidade e ter acesso ao livro didático, de forma que possa assim
acompanhar os conteúdos ministrados nas disciplinas de sua formação curricular. Com
as características atuais da sociedade brasileira, onde a comunicação e os
desdobramentos tecnológicos são de fácil acesso, para Silva e Carvalho (2004, p. 3)
“[…] o livro didático ainda se constitui como o principal recurso de direcionamento de
professores e alunos em sua prática pedagógica e atividades escolares”.
Os professores utilizam o livro didático como manual de orientação para suas aulas e
os alunos são orientados para a realização de suas tarefas (exercícios, pesquisas,
estudos), tornando-se o roteiro principal, ou exclusivo, do processo de ensino--
aprendizagem, na escola ou em casa.
Para Souza (1999), o livro didático possui características que o define como ferramenta
de auxílio a professores e alunos no processo de ensino-aprendizagem; mercadoria de
alto valor econômico para autores e, principalmente, editores; veiculador de ideologias;
74
fonte documental; fonte de recursos para quem o produz e o comercializa; e objeto
cultural de representações sociais.
O autor ressalta que o livro didático é extremamente importante, notadamente como
aspecto fundamental nas políticas educacionais oficiais, pois fica evidente através
da implantação, pelo Ministério da Educação (MEC), da prática de compra dos livros
didáticos nas escolas públicas, subordinada à análise prévia realizada por especialistas
e materializada através do “Guia do Livro Didático” (grifo nosso), constituindo-se
em um documento, elaborado a partir da implementação do PNLD, em que
são disponibilizados espaços para a disposição da síntese de obras (livros didáticos)
analisadas, por especialistas em cada área específica do Ensino Fundamental, e sua
respectiva classificação, consoante a seguinte classificação: “recomendado com
distinção”, “recomendado” e “recomendado com ressalvas” (grifo nosso).
A história do livro didático, assim como a própria história da legislação educacional
e da formação profissional para o exercício da docência no Brasil, passa por
uma sucessão de Decretos, Leis e Medidas governamentais desde 1930 até os anos
atuais, onde o Governo Federal, por intermédio do MEC, propõe o desenvolvimento de
ações que, nas quais propaga, visam a melhoria da qualidade do livro didático para
serem utilizados nas escolas públicas de todo país.
Por conseguinte, de acordo com Barbosa (2009, p. 32), “[…] o livro didático em seu
aspecto cultural, é um instrumento ideológico e representa um veículo de permanência
e/ou transformação social”. Para ela, se o aluno tem contato apenas com esse material
e o professor utiliza-se apenas deste artefato para elaborar suas aulas, é muito difícil
fazer com que se produza cultura na biblioteca, pois a cultura pressupõe relacionar os
processos de letramento, ou decodificação de signos com as experiências pessoais do
aluno e com outras interpretações sobre o assunto. Deste modo, a biblioteca escolar
aponta as representações culturais e o aluno devidamente incentivado e
contextualizado consegue produzir cultura sob as mais diversas óticas.
Para Mata e Silva (2008, p. 29):
[...] a biblioteca escolar, por definição, encontra-se instalada em escolas dos vários níveis de formação. Ela deve ser inserida em local iluminado, arejado,
75
compatível com o número de alunos da escola, composta de produtos e serviços para que tenha um mínimo de adequação ao ambiente em que se encontra e também para proporcionar conforto e estabilidade, visando atrair os seus usuários.
Da mesma maneira que o professor constitui-se como referência em sala de aula, o
bibliotecário também é na biblioteca escolar. Ambos podem contribuir para alcançar os
objetivos educacionais traçados pela instituição de ensino através de atividades de
mediação entre biblioteca e sala de aula, conforme declaração do Manifesto da
IFLA/UNESCO (2000, p. 2) para a Biblioteca Escolar:
[…] está comprovado que quando os bibliotecários e os professores trabalham em conjunto, os alunos atingem níveis mais elevados de literacia, de leitura, de aprendizagem; de resolução de problemas e competências no domínio das tecnologias de informação e comunicação.
Ainda de acordo com o Manifesto da IFLA/UNESCO (2000, p. 4), esse profissional é
apresentado como:
[...] membro profissionalmente qualificado, responsável pelo planejamento e gestão da biblioteca escolar. Deve ser apoiado por equipe adequada, trabalhar em conjunto com todos os membros da comunidade escolar e deve estar em sintonia com bibliotecas públicas e outros.
É importante destacar a atuação social do bibliotecário como mediador neste processo
de construção do conhecimento: ao mesmo tempo em que auxilia o usuário a construir
sua autonomia cidadã, instiga-o para a busca ao conhecimento capacidade de
aprender continuamente, percebendo suas necessidades e sabendo como acessar e
avaliar a informação, ou seja, como diz Le Coadic (2004, p.112): “[…] aprender a se
informar e aprender a informar” e ainda onde e como se informar. Considerando que a
noção de cidadania prescinde da aquisição do conhecimento, presente há muito tempo
no discurso e na prática da classe bibliotecária.
Silva e Carvalho (2004), comentando o caráter da prática pedagógica, em sala de aula,
afirmam que essa prática não se realiza como uma concretização de regras ou
receitas de ação e que a transformação das condições objetivas de ensino traria maior
contribuição do que a difusão de ideias ou de receitas pedagógicas novas.
Considerando este aspecto, Silva e Carvalho (2004) citam os meios de ensino, dentre
76
os quais está o livro didático, como um apoio e um obstáculo às transformações, pois,
ao torná-los mais diversificados e menos pesados, alargando as opções de escolha, a
escola estaria favorecendo uma pedagogia mais centrada na expressão e nas
atividades de comunicação dos alunos.
Por outro lado, ao eliminar por completo estes meios de ensino, estaria criando um
aspecto de insegurança, por retroceder à aspiração de uma parcela dos professores
que, tendo como principal objetivo libertarem-se dos meios oficiais de ensino, onde
possuíam uma relativa liberdade no desenvolvimento de planos de aula mais flexíveis e
pautados na vivência escolar do aluno. É neste sentido que Vasconcellos (2002)
afirma que a utilização do livro didático deve passar por uma crítica que
envolva escola e alunos, para que possam ser adotados livros que contemplem
questões de gênero, etnia, classe social, multiculturalismo, culturas locais, dentre
outras, empenhadas em desmistificar supostas verdades absolutas,
que coincidentemente procuram legitimar os valores e ideais de culturas hegemônicas,
pois, conforme Faria (1994), o livro didático, muitas vezes, atua como difusor de
preconceitos, através das ideologias que carregam seus discursos.
O livro didático como fonte de informação detém forte tradição na educação brasileira,
ocupando lugar na sua respectiva trajetória histórica, até a consolidação de sua ampla
utilização no cenário educacional brasileiro. Neste aspecto, Silva (2009, p. 53) traz o
seu ponto de vista de maneira enfática:
[…] o vigor do livro didático advém da anemia cognitiva do professor. Enquanto este perde peso e importância no processo de ensino, aquele ganha proeminência e atinge a esfera da imprescindibilidade. De meio (que deveria ser), o livro didático passa a ser visto e usado com um fim mesmo.
No que concerne à finalidade do livro didático no processo de aprendizagem, Queiroz
(2014) lembra que a escola tratou a leitura como uma capacidade a ser utilizada
sempre da mesma maneira, inscrevendo o princípio da homogeneidade. Os alunos, por
sua vez, trazem do seu cotidiano a leitura no seu uso real em situações que permitem
uma gama de “usos leitores” e variáveis linguísticas adequadas a cada tipo de texto.
O livro didático apresenta sua limitação a esse respeito. A biblioteca, por outro lado,
conta com uma gama de textos à disposição dos alunos. No espaço da biblioteca, além
77
da sala de aula, é possível apresentar-lhes textos variados a partir do seu acervo e em
diferentes suportes.
Entretanto, assim como ocorre em muitas bibliotecas escolares, Queiroz (2014) afirma
que a chegada do livro didático à escola acarreta transtornos para biblioteca. Esta
condição pode ser notada quando vem à baila nas listas de discussões ou mesmo no
dia-a-dia do bibliotecário que lida diretamente com esta realidade.
Os livros didáticos recém-chegados irão para a biblioteca. Afinal, “[…] lugar de livros é
na biblioteca” (QUEIROZ, 2014, p. 7). O que contribui para esse efeito de sentido é a
longa história das bibliotecas tidas como lugar de livros. E as decisões institucionais
são tomadas: os livros didáticos ficarão na biblioteca porque não há outro espaço
disponível. E não havendo opinião contrária, concretiza-se o ato.
Durante o ano letivo, a realidade para muitas bibliotecas é serem lembradas apenas
durante o horário de aula, já que o ensino ocorre em salas. Eventualmente, os
professores utilizam-se do espaço para pesquisas online. Os setores de apoio, onde se
insere a biblioteca, conforme análise de Almeida Júnior (2006, p. 48) “[...] são
ferramentas, instrumentos que não possuem uma estratégia pedagógica diferenciada e
estão ali a serviço do professor, pouco significando quando realiza ações específicas”.
Assim, durante muito tempo a função educativa do bibliotecário restringia-se ao
atendimento e auxílio ao leitor de maneira informal, sem maior envolvimento em
pesquisas escolares, sem o planejamento, elaboração de programas e intervenções
que pudessem auxiliar os usuários/estudantes a melhor utilizarem as fontes de
informação disponíveis, possibilitando a efetivar a aprendizagem.
Atualmente, o bibliotecário precisa iniciar o processo de ação colaborativa envolvendo
a proposta e o desenvolvimento de programas de competência em informação com a
equipe multidisciplinar, relacionando-os a projetos pedagógicos das escolas nos quais
não privilegiem apenas pesquisas escolares, mas prepare o estudante para usar a
biblioteca como laboratório e fazer com que este aluno perceba que utilizar-se somente
do livro didático como recurso para pesquisas escolares não é o suficiente para
adaptar-se à cultura digital, globalização e à sociedade cada vez mais inserida em
78
processos de busca pelo conhecimento. Em suma, as ações colaborativas pressupõe
também a biblioteca estar envolvida com práticas pedagógicas das salas de aula.
Nesse contexto, quando questionado aos profissionais bibliotecários “Qual sua opinião
em relação ao livro didático?”, são apresentadas as seguintes respostas:
“Eu acho que o livro didático é uma ferramenta extremamente importante para o processo de ensino-aprendizagem do aluno, então, se não fosse assim, acho que as instituições públicas, principalmente o MEC, não investiriam tanto recurso financeiro no desenvolvimento deste material. Então ele tem sua importância para este processo de ensino e aprendizagem que deve ser reconhecido pelos profissionais que trabalham em uma instituição escolar. Vejo, por exemplo, o caso dos professores, que às vezes preferem adotar um outro material e deixam o livro didático de fora, então acredito que talvez deveriam fazer maior utilização dos livros didáticos. Claro que eles podem complementar com aqueles materiais que julgam mais completos ou mais importantes. Mas acho que a gente não pode tirar a importância do livro didático deste processo de ensino-aprendizagem”. (B1)
“O livro didático é um auxílio para o professor em sala de aula. Essa é a minha concepção. Para mim, apesar de não pesquisar essa área de formação e desenvolvimento de coleção, mas o livro didático não é um item imprescindível em um acervo. É apoio para o professor”. (B2)
Esta etapa de análise de dados demonstra qual a visão dos profissionais que atuam na
biblioteca do campo deste estudo quanto à importância do livro didático no contexto
escolar. Os dois bibliotecários entrevistados, B1 e B2, possuem visões quanto à
relevância deste material, uma vez que a bibliotecária B2, quando passou a atuar em
seu novo ambiente de trabalho, constatou que a biblioteca deste campus estava sendo
utilizada para armazenagem de livros didáticos, porém, a profissional possui a ideia de
que este material não foi concebido para fazer parte de um acervo, apesar de admitir
que os inserissem na coleção da biblioteca para ter um valor quantitativo, como
exemplificado na fala da profissional B2.
Percebeu-se que o livro didático tinha um lugar de pertencimento precário na biblioteca
escolar, pois, de acordo com Paiva e Berenblum (2009, p. 17), “[…] as escolas e a
79
maioria dos professores, não desenvolveram uma análise compreensiva acerca das
finalidades sociais das bibliotecas no interior das escolas, remetendo-se a enfoques
unicamente didáticos, simplistas e alienadores”, uma vez que antes da chegada da
referida profissional à escola, a biblioteca escolar era administrada por um auxiliar de
biblioteca, que foi incumbido de responsabilizar-se pela distribuição dos livros didáticos
aos alunos. Percebe-se na fala da profissional, que a gestão escolar não percebe a
diferenciação entre livro didático, livro técnico e livro de literatura.
O bibliotecário B1 já possui uma concepção diferente, para o mesmo, o uso do livro
didático é para ser complementado com recursos da biblioteca, apesar de reconhecer
que o professor não faz muito uso deste material didático em suas aulas. Ao levar em
consideração os Parâmetros Curriculares Nacionais, para Abreu (2005, p. 30), “[…] a
biblioteca deverá ser um espaço de diversidade textual, pois prevê a utilização dos
textos que circulam socialmente em seus suportes originais”, considerando a missão da
biblioteca escolar, que é fornecer materiais que complementem o que é ensinado em
sala de aula com o livro didático, como afirma no trecho destacado de sua entrevista.
Para Abreu (2005), a pedagogia de aprendizagem abordada pelos PCN considera a
aprendizagem como uma construção social do aluno e o uso da informação é
ressaltado para ampliar conhecimentos, logo, quando a mesma pergunta foi feita para o
auxiliar de biblioteca 2, sua resposta indica:
“Eu acredito que o livro didático na biblioteca ajuda muito, a gente via que era muito usado em todas as disciplinas” (AUX 2)
A percepção trazida por esta fala revela que o livro didático era utilizado em todas as
disciplinas, entretanto, pelo fato da biblioteca escolar do campus de realização da
pesquisa ser muito recente em termo de infraestrutura, a coleção da biblioteca foi
formada apenas um ano após sua implantação, o que não foi construído em
consonância com o projeto pedagógico, neste contexto, quando os bibliotecários foram
questionados como viam a distribuição dos livros didáticos na biblioteca, as respostas
obtidas foram completamente opostas quanto à finalidade destes materiais, como pode
ser observado abaixo, quando questionados: “Como você vê ou via a distribuição dos
livros didáticos no Ifes? Utilizavam-se do ambiente da biblioteca para este fim?”:
80
“A distribuição do livro didático é realizado por um outro setor. A biblioteca tem um papel importantíssimo na questão do livro didático, ela trabalha em parceria com o setor de distribuição no sentido de armazenar na biblioteca pelo menos três exemplares que eram utilizados durante o período de validade. Então, a biblioteca armazena três exemplares para garantir que o aluno, em caso de esquecer o material em casa, ele tenha disponível ali pelo menos um exemplar, para auxiliá-lo durante o período de aulas [s.n] Vejo por exemplo o caso dos professores, que às vezes muitos professores preferem adotar um outro material e deixam o livro didático de fora, então acredito que os professores talvez deveriam fazer maior utilização dos livros didáticos. Claro que eles podem complementar com aqueles materiais que julgam mais completo ou mais importante que o livro didático. Mas acho que a gente não pode tirar a importância do livro didático deste processo de ensino-aprendizagem. (B1)
“Na verdade, quando eu entrei lá, eu pedi à gerência de ensino que retirasse esses materiais de lá, porque eu não vejo como função da biblioteca ficar emprestando e enfim...ficar responsável por esses materiais, pelo empréstimo, pelo controle. Na minha concepção, isso é uma atribuição da coordenadoria de ensino e não da biblioteca. Então, no tempo em que eu estive lá, solicitei que esses materiais fossem retirados de lá, e assim foi por um tempo. Se eu não estiver equivocada, foi isso que aconteceu. Tanto é que o auxiliar de biblioteca não fazia mais esses empréstimos. Porque até então, quando esses livros estavam lá, e estavam lá porque não tinha uma equipe de trabalho e o auxiliar de biblioteca não tinha outras atribuições, então foi a maneira de dar atividades de trabalho a ele. Então, ele controlava o empréstimo, e somente isso.” (B2)
Para Santos e Carneiro (2006, p. 206), o livro didático assume três funções: “[…] de
informação, de estruturação e organização da aprendizagem e de guia do aluno no
processo de apreensão do mundo exterior”, de acordo com a análise dos autores, a
última função vai depender se o livro didático permite a interação da experiência de
vida do aluno e atividades que o instigue a desenvolver seu próprio conhecimento.
Ainda que o livro didático possua qualidades positivas, quando questionado aos
bibliotecários “Para você, há alguma falha no Programa Nacional do Livro Didático?
Qual?”, as opiniões foram as seguintes:
“Eu acho que a principal deficiência é com respeito à distribuição do livro didático. O ano letivo se inicia, e muitas vezes se inicia sem que o aluno tenha recebido o seu material para estudo. Então a forma como o livro didático é distribuído é uma deficiência
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que precisa ser corrigida pelo FNDE ou MEC, quem gerencia o Programa Nacional do Livro Didático.” (B1)
“Olha, eu não tenho nenhuma vergonha de dizer, mas eu tou (sic) por fora dessa questão da política e tem muito tempo que eu não me envolvo com isso. Tem dois anos e meio que estou aqui na Unirio e não pesquiso essa questão do livro didático e estou completamente por fora dessa questão da política. Prefiro não responder essa pergunta, para não falar sobre algo que não tenho conhecimento, nem domínio.” (B2)
As falas dos profissionais demonstram que ao mesmo tempo há uma certa
preocupação com a qualidade do ensino para os alunos, refletida na fala do
bibliotecário B1 e um distanciamento da política pública para o livro didático, por não
ser o campo de estudo da bibliotecária B2.
Quando as dificuldades de integração entre o livro didático e os serviços oferecidos
pela biblioteca, as falas do bibliotecário B1, auxiliares de biblioteca e estagiários,
ressaltam que mesmo que o livro seja usado com muita frequência pelos alunos, não
impede a integração com os demais recursos de pesquisa da biblioteca escolar campo
da pesquisa, quando questionados: “Você acredita que há dificuldades em integrar o
livro didático com os produtos e serviços oferecidos pela biblioteca? Quais?”:
“Eu acredito que não, porque na verdade já é feita essa integração. Os livros didáticos que são distribuídos pelo FNDE, a biblioteca não gerencia a distribuição deles, mas a biblioteca trabalha em parceria com o setor que gerencia a distribuição no sentido de manter alguns exemplares na biblioteca. Nesse sentido, já existe a interação entre a biblioteca e o livro didático, no sentido de disponibilizar conteúdo que os alunos normalmente utilizam.” (B1)
“Eu acho que não tem dificuldades de integrar, mas percebo que há um déficit de material que possa complementar o livro didático, que nem história, geografia, eu acho que nessas disciplinas não há materiais além do livro didático.” (AUX 1)
“Acho que são dois lados: Da mesma forma em que o livro didático facilita a busca do conteúdo que tá mais voltado pra linguagem dele, às vezes não é um livro tão técnico. Por outro lado, o aluno pode ficar amarrado pelo comodismo em já ter tanto
82
contato com aquele livro. Mas, a partir do momento que ele não encontra o assunto que procura no livro didático, ele parte para outras fontes. Pela facilidade, o primeiro contato é com o livro didático.” (AUX 2)
“Eu acredito que não há dificuldades, porque aqui há a internet, tem os kobos10 mesmo, e os livros didáticos e literários continuam a ter um fluxo normal, eles convivem bem. Na maioria dos casos, eles vêm procurar uma informação primeiro no livro didático e depois vão pra internet pra complementar ou quando não acham o assunto.” (E1)
“Eu não acho que haja. O único problema que eu acho, não é nem questão da biblioteca, é a atualização dos livros, porque livro didático tem um prazo de validade, ai depois fica obsoleto. Por conta das leis que regem a estruturação da instituição, não pode descartar simplesmente esses livros, assim. Então esses livros ficam ocupando o acervo.” (E2)
“Na minha época como estagiária, o acervo era muito pequeno. Não tinha esses DVDs de documentários, não tinha o laboratório de alimentos, então não tinha como praticar o que eles aprendiam. Ou faziam em casa ou viam na internet como fazer. Era uma coisa mais precária. Quando a gente precisava de livros didáticos em época de prova, acabava muito rápido no acervo, então só ficava o de consulta local que já estava sendo usado. Foi uma época mais complicada porque o acervo não ajudava tanto. Eu acho que foi por isso que a internet virou um point de pesquisa e os alunos se acostumaram. O livro didático era a segunda opção quando não se achava o assunto na internet. A internet te dá todas as respostas, mas o livro didático te dá um filtro. Se você pegasse um tópico no meio da matéria do livro didático, você tinha que ler a matéria toda para entender o contexto e chegar nesse tópico. A internet não, você só aprende aquilo, aquele trecho.” (E3)
De um modo geral, observa-se que o panorama das políticas públicas dirigidas ao livro
didático concentra-se na forma como os materiais são distribuídos na escola,
ressaltando preocupações dos profissionais da biblioteca campo da pesquisa quanto à
manutenção de uma quantidade mínima de exemplares na biblioteca, de modo a
auxiliar os alunos quando estes necessitam realizar pesquisas escolares no setor.
Ao mesmo tempo, percebe-se um sentimento de incômodo em parte dos profissionais
10
Kobo Glo é uma marca de leitor (aparelho) de livro digital, comercializada pela Livraria Cultura e disponibilizado na biblioteca do Ifes campus Venda Nova para empréstimo entre os usuários.
83
entrevistados, uma vez que as falas apontam para a deficiência do acervo, em relação
à atualização e quantidade adquirida, fator que contribui para que os alunos privilegiem
estudos e pesquisas utilizando tanto o livro didático quanto a internet, o que trouxe o
costume de buscar referências apenas nestes recursos informacionais, pois a internet
permite a busca rápida por um conteúdo, ao mesmo tempo em que o livro didático
estabelece um filtro de pesquisa, trazendo informações de maneira fidedigna. Percebe-
se nas falas que apesar das deficiências do acervo, a biblioteca tem o livro didático
como suporte informacional para uso dos usuários.
5.3 POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS DIRIGIDAS À LEITURA
5.3.1 Ações do ministério da educação na biblioteca escolar, livro e leitura
Ao longo de várias décadas, o foco do Ministério da Educação foi a segmentação dos
livros didáticos nas escolas públicas brasileiras. De acordo com Paiva e Berenblum
(2009), as primeiras ações voltadas para a biblioteca escolar, referente ao incentivo à
leitura e formação de leitores teve início na década de 1990, obedecendo a critérios
restritos quanto ao atendimento às escolas com determinado número de matrículas. A
partir do ano de 1997, essa realidade começou a mudar com a implantação do PNBE11.
Entretanto, de acordo com Paiva e Berenblum (2009, p. 12):
[…] ao optar por uma ação dessa natureza, deixou-se, como consequência, de investir no acervo coletivo, debilitando a biblioteca como espaço próprio de organização e disponibilização de materiais diversificados – de obras de referência a periódicos; de livros de literatura a obras de não-ficção; de mapas a novas tecnologias – lugar em que se promove a sociabilidade, mas principalmente a democratização do conhecimento.
A biblioteca escolar, conforme análise de Caldeira (2005) pressupõe a organização de
um conjunto de materiais selecionados cuidadosamente para atender à proposta
pedagógica da instituição de ensino, constituindo-se como um espaço ideal para reunir
o conhecimento oriundo fora do ambiente escolar e atender às necessidades de
aprendizagem e à expansão do conhecimento letrado produzido pela sociedade.
11
Instituído através da Portaria Ministerial nº 584, que substituiu programas anteriores de incentivo à leitura e de distribuição de acervos às bibliotecas escolares implementados pelo MEC desde 1983. De 1983 a 1999 os programas e projetos nessa área atenderam às bibliotecas das escolas por faixa de matrícula. Paiva e Berenblum (2009)
84
De acordo com o estudo de Paiva e Berenblum (2009, p. 21), ainda não há uma política
institucionalizada de promoção de leitura e formação de leitores, e a pesquisa realizada
pela autora demonstra também que “[…] a ausência dessa política gera poucos
esclarecimentos aos professores de como utilizar os acervos do PNBE em suas
práticas pedagógicas, o não-diferenciando as especificidades do livro didático,
paradidático, obra de referência e livro de literatura”. A autora destaca ainda que:
Nesse aspecto, cabe destacar que, embora a literatura para as faixas etárias correspondentes ao Ensino Fundamental dirija-se a crianças, adolescentes e jovens – categorias que definem gostos, interesses, escolhas, sonhos, modos de perceber a realidade e com ela interagir, mediados por construções simbólicas e próprias da imaginação – na prática escolar essas marcas se apagam. Resta, apenas, a categoria aluno, que mantém suposta homogeneidade entre os sujeitos, sem respeitar a riqueza das experiências que vivenciam e ressignificam, mediadas pelos textos literários. (BERENBLUM, 2006, p. 21)
Nesse sentido, as práticas de promoção da leitura acabam focalizadas dentro do
ambiente escolar. O papel da biblioteca no processo de formação do leitor não deverá
centrar-se somente na promoção da leitura institucionalizada, mas, para Carvalho
(2005, p. 22), “[…] a biblioteca escolar deve ser pensada como um espaço de criação e
de compartilhamento de experiências, um espaço de produção cultural em que crianças
e jovens sejam criadoras e não consumidoras de cultura”.
De acordo com informações de Silva (2009), em 30 de outubro de 2003 era criada a
Política Nacional do Livro; em 2005, o Brasil adotou o nome Vivaleitura para designar o
Ano Ibero-Americano da Leitura e em finalmente, em 2006, os ministérios da Educação
e Cultura lançaram o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), cujo principal
objetivo: “[...] é melhorar a realidade de leitura do País, com o envolvimento de toda a
sociedade brasileira, para que seja possível promover inclusão social e cultural e uma
organização social mais justa” (BRASIL, 2006, p.1). Assim, o Vivaleitura se
transformava em um programa mais amplo cuja proposta fomentaria a leitura em
âmbito nacional. Em 10 agosto de 2006, a Portaria Interministerial N° 1.442
estabeleceu:
Art. 1º – Fica instituído o Plano Nacional de Livro e da Leitura (PNLL), de duração trienal, tendo por finalidade básica assegurar a democratização do acesso ao livro, o fomento e a valorização da leitura e o fortalecimento da cadeia produtiva do livro como fator relevante para o incremento da produção intelectual e o desenvolvimento da economia nacional (BRASIL, 2006, p.1).
85
Ainda de acordo com Silva (2009, p. 89):
As linhas de ação do PNLL estão divididas em quatro eixos: democratização do acesso, fomento à leitura e formação, valorização da leitura e comunicação e apoio à economia do livro. O âmbito do Plano prevê desde a implantação de novas bibliotecas municipais e escolares, além da continuidade do programa de distribuição de livros para as escolas; dos programas de formação de mediadores de leitura até o financiamento para gráficas e editoras.
Entretanto, embora a biblioteca escolar procure proporcionar experiências de cultura
para que os alunos a consumam, sozinha, a mesma não consegue atrair os alunos
para que produzam cultura, ou seja, protagonizem atividades que tenham cultura como
foco, como por exemplo: feiras, exposições, seminários, workshops, desenvolvimento
de blogs ou sites na internet. Essas atividades precisam ter o professor e o bibliotecário
como elementos de suporte, o primeiro como o responsável por dar orientações e o
segundo de como retirar significados das fontes informacionais que utilizam para
desenvolver as respectivas atividades. (CARVALHO, 2005).
Para a autora acima mencionada, ainda, os esforços da escola e dos programas
governamentais de incentivo à leitura, não conseguiram transformar ainda as crianças
e jovens que leem em leitores com formação crítica. A autora baseia sua opinião em
um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), sobre a questão da
formação de leitores no ambiente escolar, que abarca o tratamento dado à infância,
etapa considerada como mera consumidora do mundo criado pelos adultos e as
possibilidades de acesso ao livro e a leitura, o que implica na existência de escolas
com boas bibliotecas, bons livros e acesso às fontes de informação diversificadas. Para
Carvalho (2005), a escola deve repensar o lugar da criança como sujeito da cultura,
pois o processo educativo no ambiente escolar significa muito mais do que o
desenvolvimento de habilidades de decifrar o código linguístico e garantir o acesso ao
livro e a informação.
Carvalho (2005) ressalta que um número significativo de pesquisas tem revelado o
equívoco das políticas e atividades de promoção da leitura, baseando-se na premissa
de que “o importante é ler, não importa o quê”, ou seja, estimular a todo o custo a
criança a ler, criar forçosamente o hábito de ler através de técnicas de leitura
didatizada, através de fragmentos de livros didáticos, jogos, curiosidades, dentre
outros. Entretanto, se a criança não tiver referências culturais, dificilmente a leitura
86
significará um ato de criação, mas somente de reprodução de cultura.
Nesse contexto, de acordo com Silva (2009), a política para a leitura e formação de
leitores é praticamente inexistente, e o Ministério da Educação persiste com os
mesmos procedimentos de enviar mais livros para as bibliotecas escolares, sem
considerar a realidade de determinada escola, sem equipamentos e profissionais
adequados, ampliar a variedade do acervo e sem formação de bibliotecários e
professores para incentivar outros setores escolares explorarem a biblioteca. As
atividades de incentivo à leitura e formação de leitores ainda são muito focalizadas,
atribuídas aos professores e bibliotecários.
Para Campello (2013), embora a prática educativa esteja apoiada no princípio da
cidadania e do papel transformador da leitura, implica-se na transformação da
biblioteca como um espaço promotor de leitura, ao mesmo tempo formando leitores e
orientando a pesquisa escolar. Mas, a ação do fazer bibliotecário não se restringe
apenas na leitura e sua promoção, amplia-se para o aperfeiçoamento das
argumentações e melhor fixação da aprendizagem.
Contudo, converter políticas focalizadas de leitura em Política de Estado talvez seja
uma das principais lutas de bibliotecários, pesquisadores, professores e da sociedade
preocupada com essa temática, pois todos os anos surgem projetos de incentivo à
leitura no Brasil, porém, dificilmente têm continuidade. Os projetos duram apenas por
um período, depois são esquecidos ou transformados em outras estratégias sem ao
menos reaproveitar o que já foi aplicado. E essa prática não é rotina apenas da escola,
mas principalmente das secretarias municipais de educação, gestores públicos e das
secretarias subordinadas aos ministérios da educação e cultura.
5.4 PRÁTICAS DE INCENTIVO À LEITURA DE UMA BIBLIOTECA ESCOLAR O segundo objetivo específico foi verificar se a biblioteca campo da pesquisa realiza
práticas de incentivo à leitura. Para o alcance deste objetivo, delineou-se o contexto da
biblioteca campo da pesquisa e suas atividades anteriormente mencionadas.
87
5.4.1 A biblioteca do Ifes e as práticas de incentivo à leitura
Os projetos de incentivo à leitura, existentes na biblioteca do campus da pesquisa, são
denominados: “Boletim Informes”, voltado para elaboração de boletins informativos
bimestrais em caráter cultural e científico, em conjunto com alunos voluntários das
turmas de 2º, 3º e 4º anos do ensino médio e professores da disciplina de língua
portuguesa, uma vez que a referida disciplina possui mais aproximação com a
biblioteca, por suas nuances literárias.
Há também o projeto “Gostar de Ler, Ler para Gostar”, cujo intuito é incentivar as
práticas de leitura durante todo o ano letivo, voltado especificamente para alunos do 1º
ano do ensino médio, geralmente aqueles que não tem o hábito de frequentar a
biblioteca escolar. As atividades envolvem eventos semestrais voltados à leitura de
livros de autores específicos da literatura brasileira e estrangeira, exibição de filmes e
discussão sobre a literatura em geral e seus desdobramentos. O projeto abrange
também os alunos das séries subsequentes.
Os referidos projetos são voltados para incentivo à leitura, cumprindo o escrito no inciso
III do capítulo II do Regulamento da Biblioteca do Instituto Federal campo da pesquisa,
que é “[…] estimular a prática de leitura de todos os usuários” (IFES, 2013, p. 3).
Portanto, o estímulo à leitura, conforme ressalta o Manifesto da IFLA/UNESCO sobre
Bibliotecas Escolares, é fundamental estimular a imaginação e criatividade das crianças
e dos jovens (IFLA, 2000).
De acordo com Orelo e Vitorino (2012) isso ocorre por meio da leitura, que promove o
desenvolvimento das competências do indivíduo, em especial, as ligadas à dimensão
estética da competência informacional, aquela ligada ao processo cognitivo,
imaginativo, criativo e aspectos de solidariedade e sensibilidade humana.
O ambiente da biblioteca favorece o convívio com livros, periódicos e materiais
audiovisuais, proporcionando o embasamento necessário e a complementação dos
conhecimentos através da pesquisa escolar às práticas de ensino, pesquisa e
extensão, permitindo a integração e o convívio escolar entre os usuários, que também
são participantes da pesquisa em questão.
88
Entretanto, a internet passou a ser a principal ferramenta de pesquisa adotada pelos
alunos que não possuem tanto poder aquisitivo, utilizam a internet para pesquisa e
entretenimento, conforme as falas dos bibliotecários B1 e B2, quando questionados:
“Como a biblioteca desenvolvia atividades de incentivo à leitura?”
“Desenvolvemos o projeto “Gostar de ler, ler para gostar”, que consistia em incentivar o gosto pela leitura através de atividades culturais como o teatro, música, dramatizações, saraus, etc., e também o Boletim Informativo Informes, se trata de uma publicação bimestral que trazia notícias e curiosidades de questões como atualidades, ciência, notícias dos eventos do campus e outras coisas.” (B1)
“Lá, o poder aquisitivo das pessoas é bem elevado, e a maioria desses alunos acaba tendo uma boa estrutura em casa, com acesso à internet para fazer pesquisa porque pouquíssimos usavam livro impresso. E os que permaneciam na biblioteca eram os alunos que não tinham computador, não tinham internet em casa, e o foco deles era sempre a internet. E a gente tentava de alguma maneira, despertar o interesse em pesquisar no material impresso, no acervo. A gente não tinha sucesso, então era tudo computador, era tudo internet. Enfim, depois começamos a fazer projetos de vinculação cultural da biblioteca, para tentar essa aproximação. De certa forma, observei uma melhora em relação aos livros de literatura, pois o contato e a aproximação era completamente diferente, pelo menos no meu tempo. Eles queriam, eles sugeriam, eles procuravam.” (B2)
Considerando o recomendado pelos PCN de Língua Portuguesa apud Campello
(2005a), a biblioteca deveria ser um espaço com inúmeras opções de diversidade
textual. A fala da bibliotecária B2 remete ao tempo em que a biblioteca não contava
com textos literários em seu suporte original para consulta, pois não havia, e o tempo
necessário para aquisição levou quase um ano para acontecer. Neste intervalo de
tempo, o livro didático satisfazia a necessidade informacional por certo período,
entretanto, os alunos tinham sentimento de tédio, pois tinham tempo livre para procurar
a biblioteca, mas não havia acervo literário para ocupar este tempo ocioso, fazendo
com que a internet fizesse esse papel de entretenimento. Para Abreu (2005), os jovens
precisam ter contato direto com as fontes de informação que fazem parte do mundo
literário, e compreender os usos da escrita em diferentes aspectos. Quando
questionados “Que tipo de parceria para incentivo à leitura foi feita pela biblioteca?”,
obteve-se as seguintes respostas:
89
“Uma das parcerias que fazemos é com os professores de Língua Portuguesa quando realizamos a Semana da Biblioteca, todo o mês de novembro de cada ano. Começamos esse projeto em 2012, e incentivamos o aluno a participar mesmo, seja no teatro, nos saraus, nas apresentações culturais. Geralmente quem se envolve mais são os professores de português, de artes e filosofia.” (B1)
“A demanda que eu me lembro era em relação aos livros de literatura. Tinha uma professora de Artes que a gente tinha uma parceria bacana com ela e quando nós conseguimos ter livros de Artes e Literatura. essa demanda por esses materiais era diferenciada em relação aos outros por conta dessa parceria que a gente buscava, em fazer esse trabalho em conjunto entre a aula dela e a biblioteca, quanto ao incentivo à leitura usando os materiais do acervo.” (B2)
A bibliotecária B2 buscava parcerias diretamente com a docente da disciplina de Artes
para realizar atividades interdisciplinares, de modo que os alunos participassem e
frequentasse a biblioteca. Para o bibliotecário B1, o contexto foi diferente, o profissional
desenvolveu e aplicou projetos culturais e de incentivo à leitura, fazendo com que a
biblioteca fosse vista pelos demais professores, ainda que o acervo literário fosse
escasso ou inexistente. Porém, quando questionados: “Que atividades foram
desenvolvidas na biblioteca escolar foram consideradas como importantes para a
formação social e intelectual dos alunos?”, as respostas obtidas foram:
“Além da Semana da Biblioteca e dos projetos, fazemos algumas oficinas, mas nada muito além disso.” (B1)
“Olha, a biblioteca estava focada em desenvolver acervo, atividades mais administrativas. Não me lembro muita coisa, foi mais a questão da parceria com a professora de artes, não havia muito o que fazer.” (B2)
As respostas demonstram que as atividades de incentivo à leitura foram desenvolvidas
de fato quando o bibliotecário B1 ingressou no campus. Para a bibliotecária B2, as
necessidades do setor eram prioritárias no desenvolvimento do acervo, para que em
algum momento, essas atividades pudessem ser feitas.
Para a estagiária E1, o livro didático não preenchia esta necessidade de fontes
90
literárias para consulta, quando foi perguntado para a mesma: “Para você, a busca de
informação realizada pelos alunos no acervo da biblioteca é fácil? Eles relatam alguma
dificuldade nesse sentido?”:
“Os alunos vinham aqui atrás de livros de literatura e não tinha e questionavam o que eles fariam no tempo livre deles, iam ficar lendo livro didático? Era uma coisa meio chata porque eles queriam livros de literatura e não tinha”. (E3)
Os livros didáticos apresentam somente fragmentos de textos que, sem o suporte
original para contextualizar esse fragmento, não tem sentido para o aluno leitor,
entretanto, de acordo com Pietri (2007), por limitações de tempo, a leitura do texto
literário em sua forma completa precisa ser feita fora da sala de aula, o que acaba
levando às estratégias de facilitação.
A leitura de um fragmento de um romance pode incentivar e contribuir para a leitura do
romance como um todo, porém, sem que o professor realize parcerias com a biblioteca
para que a mesma faça a aquisição de romances e outras formas literárias, os usuários
não desenvolvem suas estratégias de leitura e tampouco conseguem resolver os
problemas propostos pelo livro didático em consonância com um texto mais
abrangente, preferindo assim recorrer à internet para sanar os problemas propostos
pelo material didático.
Um contraponto em relação à internet, para Abreu (2005, p. 29) é que a mesma “[…]
reúne no mesmo espaço, recursos informacionais na forma de texto, imagem, sons e
recursos multimídia, permitindo a leitura hipertextual e interativa”, o que também acaba
fragmentando o processo de leitura. É necessário que a biblioteca, para cativar o
usuário da internet e do livro didático, disponibilize materiais informacionais que
representem essa variedade de informações produzidas pela sociedade, em
consonância com o projeto pedagógico da escola.
Apenas com o início do trabalho de mediação cultural da bibliotecária B2, os alunos
começaram a ter um interesse maior na pesquisa escolar, mas, Carvalho (2005)
ressalta que a sociedade atual é caracterizada pela abundância e também pelo
excesso de informações, e é exigido de quem estuda e pesquisa, habilidades para
91
delimitar se determinada informação encontrada é suficiente ou relevante.
A internet representa esta sociedade informacional e deve ser reconhecida como meio
de estudo e entretenimento. Para tanto, Carvalho (2005) diz que é necessário para os
bibliotecários planejarem ações pedagógicas adequadas, assumindo seu papel de
mediadores de informações confiáveis com fontes primárias impressas também. Ainda
que a internet fosse disponibilizada na biblioteca, algumas falas demonstram que
apenas estes recursos não se tornariam suficientes para uma biblioteca atrativa.
Em relação às sugestões de melhoria ao serviço de incentivo à leitura e pesquisa
escolar ofertada pela biblioteca, percebe-se nas falas de alguns alunos, queixas em
relação à ausência do professor no se refere ao incentivo para uso da biblioteca
escolar. Quando questionados “Qual sua sugestão de melhoria para as atividades de
incentivo à leitura e pesquisa escolar da Biblioteca do Ifes?”:
“O que falta talvez, se tivesse um blog ou uma estante com os livros, DVDs e revistas mais lidas. Falta cativar o aluno. Acho interessante que o professor e a biblioteca dialoguem, os alunos não fariam o trabalho por fazer, fariam por gosto.” (A1) “Olha, não sei, mas acho que tem que ser feito um trabalho em conjunto entre a biblioteca, o professor e o aluno. Ajudaria bastante pelo fato do professor estimular o aluno e se aprofundar no conhecimento de conteúdo. Acredito que seja isso.” (A2) “Por ser nova ainda, acredito que aumentar o acervo com mais variedades é sempre bom e acredito que o aluno precisa (sic) de uma fonte maior de consulta. Pode melhorar ainda mais disponibilizando melhores fontes de consulta”. (A3)
“Eu acho que os alunos que chegam aqui no primeiro ano, chegam sem saber de como proceder nesse tipo de situação, e sem conhecer a estrutura de um modelo acadêmico. Seria importante oferecer um trabalho de adaptação do aluno aos trabalhos acadêmicos e selecionar as fontes, porque a gente vê tantas situações de alunos que pegam, copiam da internet, colam no trabalho sem se preocupar com nada, é muito ruim. É importante explicar o porquê de a gente estar fazendo (sic) o trabalho, de dar prioridade ao livro, ao autor que conhece o assunto em vez da internet. A internet oferece muitas coisas, mas nem todas elas são confiáveis. E o livro oferece uma gama muito grande de informações de coisas que não estão na internet. O professor pode fazer uma parceria com a biblioteca pra oferecer
92
esse serviço, não só de mandar o aluno para cá, mas de acompanhar todo esse processo”. (A4)
“Falta um pouco da ação do professor em trazer os alunos para a biblioteca.” (A5)
“O professor precisa dessa união maior com a biblioteca.” (A6) “Creio que a biblioteca já faz muito bem essa parte da orientação, deixando bem claro nas prateleiras onde é que está tal livro de tal matéria de determinado curso, creio também que fica mais a critério dos professores auxiliar e influenciar o aluno a ir buscar na biblioteca aquele material, porque a internet acaba fazendo esse papel. A internet é muito mais prática, mas tem informações não muito confiáveis. E o livro didático não, ele passa por uma pré-seleção antes de ser publicado. A partir do momento que o aluno passa a buscar informação no livro, a gente tem uma confiança e uma variedade muito maior de informações”. (A7)
“Eu acho que o serviço prestado pela biblioteca é muito bom sim, quando a gente pergunta se alguém daqui pode nos ajudar. Mas, uma sugestão que eu acho, é que o professor dessem sugestões bibliográficas para que a gente pudesse procurar, até mesmo para termos um foco, para não perdermos tempo olhando um monte de livros, poderíamos ir direto ao material, teria uma direção. A gente perde muito tempo procurando o livro certo. Alguns professores faziam isso, mas pararam, hoje nenhum faz mais”. (A8)
“Eu acho que vocês já ajudam bastante, no balcão, assim, qualquer coisa já auxilia onde é que está o livro, no caso dos computadores, elas (as estagiárias) te ajudam. Junto com os materiais oferecidos, o professor poderia tá aqui na biblioteca, junto, falando o que está certo, o que está errado, o que poderia fazer ou não.” (A9) “Olha, em relação à escola de onde eu vim, não chega nem perto dessa biblioteca, aqui a estrutura é muito, muito boa. Acho que o professor tinha que vir aqui com os alunos, incentivar mesmo. Muitas vezes eles falam: vão lá na biblioteca, mas nunca falam: vamos à biblioteca, nós. Eles não fazem isso. Eles mandam, mas a gente não vem muito. Talvez se eles vissem junto com a gente, a gente ia usar mais os livros didáticos.” (A10) “Quanto à biblioteca, não tenho nada a reclamar, porque o que é para ser feito, está sendo feito, que é orientar o aluno, a gente chega aqui pedindo ajuda e somos bem orientados e temos quem nos ajude. Quanto ao professor, seria de usar o material didático oferecido pela biblioteca da escola, de maneira que o aluno tivesse uma sincronia entre o material didático e a matéria vista em sala, pois o aluno estaria em sintonia entre a sala de aula e os recursos da escola. Quando o professor não segue o livro
93
didático, o aluno quando chega em casa, ele não estuda, porque acha que o que o professor passou é o suficiente, e na verdade não é. É mais difícil para quem quer conectar o que aprendeu com outras fontes, se tiver o livro didático para dar um norte, é bem melhor”. (A11)
Os alunos A7 e A11 relatam a necessidade de integração e sincronia do livro didático
com os serviços oferecidos pela biblioteca, de modo que o livro fosse o protagonista do
processo de aprendizagem e a biblioteca, o suporte para complemento de informações.
Percebe-se nas falas a confiança na autoridade do livro didático. Como ressalva Pietri
(2007), os modos de apresentação dos textos do livro didático não levam à formação
de um leitor e pesquisador proficiente.
Saber manusear o livro didático não significa que estes alunos saibam manusear
outros suportes, e quem domina outras práticas de leitura em outras fontes de
informação se apropria com facilidade das práticas realizadas no livro didático, porém,
quem domina apenas as práticas de leitura ofertadas pelo livro didático não
necessariamente se apropria de práticas somente com base neste dispositivo. Baseada
na fala da aluna A13 no trecho de seu relato infere-se que as práticas de incentivo à
leitura confundem-se muito com práticas de pesquisa escolar, uma vez que as políticas
públicas para a formação de leitores são focalizadas e centradas em eventos de
promoção à leitura, o que deveria fazer parte da rotina do bibliotecário, e não como
algo esporádico cuja efetividade acontece quando o professor participa do processo.
“Deveria ser feita alguma coisa que entre no dia a dia do aluno, coisas mais frequentes, tipo, incentivar o aluno vir mais na biblioteca, essas coisas.” (A12)
“Todos os projetos realizados aqui são ótimos, mas é tipo assim, falta a biblioteca chegar com o professor e falar que chegou algum livro novo, chamar o professor e trazer a turma junto para ver esse livro novo. Porque parece que para os professores, a biblioteca nem existe, acho que seria importante”. (A13)
Entretanto, apenas as falas dos alunos A1, A3, A12 e A13 trouxeram sugestões de
construção de práticas de incentivo à leitura, pois o constatado é que a biblioteca do
campus não proporcionou muitos projetos de incentivo à leitura que fizesse uma
interligação com a sala de aula, priorizando apenas a formação e desenvolvimento do
acervo, fazendo com que os alunos enxerguem a biblioteca apenas como um local de
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estudo e pesquisa, e não um lugar de entretenimento, cultura e lazer. Quanto às falas
dos alunos A8 e A13, percebe-se a ausência da promoção de uso do acervo para os
professores, remetendo ao esquecimento da biblioteca pelos docentes. Outros alunos,
referem-se à própria infraestrutura da biblioteca, especificamente o seu acervo e
treinamentos para a pesquisa escolar:
“Eu acho que a biblioteca tem esse serviço de orientação aos alunos, se qualquer um precisar de ajuda, sempre tem alguém aqui pra ajudar, só que muitas vezes a pessoa não sabe que tem esse serviço, por exemplo, quando eu estava no meu primeiro e segundo anos, eu pedi ajuda quanto à formatação do trabalho, porque às vezes foge, não achei na internet como era para fazer, tudo certinho. Então hoje eu pergunto, eu não fico mais com dúvidas, mas nem todos tem a consciência de que podem fazer isso, chegar aqui e tirar dúvidas. Aqui é um lugar de aprendizagem, e de tirar dúvidas também, a maioria dos alunos daqui veem como uma estrutura apenas, vem e vão embora. Eu acho que a visão da biblioteca tem que mudar, porque aqui é um lugar de aprendizagem, aqui você tá lendo, tá pesquisando, é uma questão de informação e divulgação de que aqui o aluno pode usar. Acaba tendo uma falha do professor, talvez nem o professor saiba, pois às vezes acontece isso. Alguns professores não sabem que esse serviço existe. É principalmente fazer com que os alunos saibam e façam uso dessa ferramenta”. (A14)
Percebe-se que na fala da aluna A14 uma cobrança, de que a própria biblioteca não
divulga o serviço de pesquisa escolar orientada, e a mesma alega que os alunos
enxergam a biblioteca apenas como uma estrutura física e os professores
desconhecem a potencialidade da biblioteca em auxiliar a pesquisa escolar pela falta
de divulgação dos serviços.
“Se tivesse essa parceria entre o professor e biblioteca, a gente teria muito mais ferramentas para pesquisar, eu acho que os trabalhos iam ser feitos de uma maneira muito mais exigente. A gente poderia vir aqui e pesquisar na hora da aula e tudo mais, acho que ajudaria bastante.” (A15) “Eu acho que falta essa questão de aprender como usar as fontes de informação, para que a gente adentre nas fontes virtuais, como a internet, aprender a usar outras mídias também, outros livros, que, sem dúvida, traz um conteúdo mais aprofundado. E o trabalho em parceria entre os professores, a biblioteca e os bibliotecários, porque isso falta bastante, fica desconexo”. (A16)
“Eu acho que a biblioteca tem todos os recursos necessários para
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uma boa pesquisa, mas o que falta são as opções, por exemplo, eu venho aqui fazer uma pesquisa, já aconteceu, ou o material tá emprestado ou o exemplar de consulta local está com alguém, ai fico sem ter como usar. Não que seja culpa da biblioteca, mas o que precisa melhorar, com o passar do tempo, é ter maior variedade de livros para os alunos. A professora que passou esse trabalho é uma professora muito rígida, ela é muito certa no que ela quer. Por ela ser assim, ela acaba não cobrando um pouco a mais do aluno, mas acaba ajudando ele. Então se eu tivesse uma dúvida que não conseguisse resolver com nada eu ia recorrer à ela. Então, não que o método dela esteja errado, mas eu acho que se tivesse uma parceria entre o professor e a biblioteca, sem que o aluno tivesse que demonstrar dificuldade, ia facilitar muito o aprendizado. Pro aluno, só pelo fato de ele tá lendo um texto, e ele sentir que estar com dificuldades, já mexe com tudo o que você leu e acaba se perdendo no texto, e se você tiver uma introdução do que aquele texto está te falando, você pode achar complicado uma palavra ou outra, mas você já vai saber do que ele está tratando, já vai ter um foco do texto. Eu acho que o mesmo vale pro trabalho. Se o professor esperar o aluno manifestar alguma dificuldade, eu acho que complica o aprendizado, se ele tivesse uma base, já podia agilizar mais, do que ficar lendo e sentir dificuldades só para depois tirar dúvidas e depois ler de novo. Com o contexto que o professor explicou, eu acho complicado deixar o aluno buscar sozinho”. (A17)
As falas dos alunos A3, A4, A16, A17 remetem escassez de materiais bibliográficos e
também de variedades que incentivassem os alunos a utilizarem melhor este recurso.
Percebe-se nas falas dos alunos A4 e A16, segundo a percepção deles, que há uma
ausência de programas de treinamento quanto à estrutura de trabalho acadêmico e de
como otimizar o uso de fontes de informações virtuais ou digitais ou ainda, livros com
conteúdo mais aprofundado.
As falas apresentadas, em sua maioria, cobram uma ação mais ativa do professor, no
entanto, sem especificar quais atitudes contribuiriam para o incentivo da frequência
desses alunos ao espaço da biblioteca. Percebeu-se na fala da aluna A10, que os
professores incentivam os alunos a virem à biblioteca, mas o próprio professor não vem
junto, destacando um interlocutor que está alheio ao processo de pesquisa escolar.
As falas refletem uma insatisfação recorrente da maioria dos alunos entrevistados, de
que há uma falta de vínculo entre o professor e a biblioteca, e que o setor não promove
muito o interesse por literatura e por fontes de informação que talvez proporcionasse
96
este incentivo. Nas manifestações dos alunos entrevistados, percebe-se que a
biblioteca deve proporcionar não apenas o acesso às fontes de informação de maneira
didática, mas, também incentivar de maneira lúdica e em parceria com o professor, o
acesso aos materiais literários ou fontes de informação que remeta a esse universo, de
maneira que leve o estudante a experimentar a curiosidade, o encanto e o processo de
construção do seu conhecimento a partir de sua própria identidade.
Em relação às sugestões de melhoria das atividades de incentivo à leitura e serviço de
pesquisa escolar ofertada pela biblioteca, segundo a visão das estagiárias, há uma
preocupação com a melhoria do serviço prestado pelo setor, emitindo opiniões e
sugestões a este respeito. Quando são questionadas assim: “Você tem alguma
sugestão de como a Biblioteca pode melhorar a questão do incentivo à leitura e a
pesquisa escolar ofertada aos alunos?”, elas evidenciam que há necessidade de
investimento em programas de treinamento e capacitação de usuários, quando se
referem ao acesso ao catálogo e entendimento do sistema de organização do acervo.
“Eu tinha sugerido aquela questão do Pergamum12, de dar um treinamento pro (sic) aluno, pra que ele possa pesquisar em casa e depois que vi o nome da sua palestra, das fontes confiáveis na internet, achei muito interessante. Se de repente deixasse exposto pros alunos, já era algo que facilitaria ainda mais, como procurar e pesquisar algum conteúdo”. (E1) “Eu acho que falta aos alunos entenderem mais a organização da biblioteca, como se dá o processo de organização, porque às vezes o aluno não conhece o sistema de organização, de referência, então para ele não faz muito sentido a sequência de assuntos da biblioteca, mas também como fazer para passar essa informação para esse aluno, não sei como seria feito. Mas, eu acho que se o aluno entendesse melhor a organização do acervo, para ele ficaria mais fácil, mais claro. E também se o professor fizesse um trabalho em conjunto com o bibliotecário, explicando para os alunos de que os livros não estão ali de forma aleatória, é um código que existe que regulamenta a organização não só desta biblioteca, mas de todas as bibliotecas. É uma coisa que falta em todas as bibliotecas. Essa questão é pior quando a biblioteca é grande, e o aluno fica completamente perdido (sic), igual a um cego no tiroteio”. (E2) “Falta essa coisa, dos professores trazerem os alunos para a
12
Software de automação de acervos, desenvolvido pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e utilizado em todas as bibliotecas do Ifes.
97
biblioteca. Por exemplo, o acervo tem muito livro de literatura, mas tem os professores de português que não gostam de literatura estrangeira, mas tem muito livro nacional bom. Quem vai fazer vestibular vai precisar estudar literatura, redação. Fernando Sabino e Machado de Assis sempre caem nos vestibulares, então acho importante que os professores de português venham à biblioteca com os alunos. Tem que dar um impulso na literatura nacional também, eu acho que falta esse incentivo. Eu acho que o professor e o bibliotecário tem que fazer esse tipo de trabalho em prol dos livros nacionais de literatura. Eu vejo também que o aluno vem para biblioteca somente para estudar, em época de prova aqui fica lotado, não tem nem lugar para sentar. Os alunos não enxergam a biblioteca como um local de lazer e cultura. Eu vejo tanto aqui quanto na biblioteca municipal que os alunos estudam e pegam livros, mas não vejo ninguém discutindo sobre literatura, poderia ter um clube do livro, para incentivar os alunos a participarem mais do ambiente da biblioteca. Eu acho que aproximaria mais as pessoas”. (E3)
Apenas a estagiária E3 trouxe a questão do incentivo à leitura e principalmente, o
incentivo do professor quanto ao desenvolvimento do aspecto literário nos alunos. Para
as estagiárias E1 e E2, os alunos geralmente procuram materiais por assunto no
catálogo da biblioteca e costumam apresentar dificuldades em localizá-los. E,
naturalmente, acreditam que o catálogo armazena todos os termos de busca e a
dificuldade em encontrar o material por não conhecer o sistema de classificação da
biblioteca, o que pode levar o usuário a acreditar que este material não existe no
acervo (KUHLTHAU, 2010).
Na internet, a mesma lógica de pesquisa é aplicada nos buscadores (Google, Yahoo),
logo, a fala das estagiárias E2 e E3 remete à necessidade da biblioteca elaborar uma
política de indexação para definir adequadamente os instrumentos de busca e
recuperação da informação, que possam remeter à aprendizagem de cabeçalhos de
assunto e de como a biblioteca é organizada. Na fala de ambas, não há menção aos
aspectos literários que poderiam ser desenvolvidos pela biblioteca escolar campo da
pesquisa.
O usuário que utiliza apenas o livro didático pode se deparar, segundo Pietri (2007),
com a necessidade de busca por um termo ou assunto que remete a um conceito ainda
não dominado por este usuário, pode ter o sentimento de frustração quando não
consegue utilizar satisfatoriamente o catálogo do acervo por limitações de
98
conhecimentos linguísticos ou textuais. Para os auxiliares de biblioteca, o professor tem
o papel de esclarecer para o aluno os aspectos técnicos, linguísticos e literários,
quando a mesma pergunta realizada às estagiárias foi dirigida aos auxiliares de
biblioteca:
“O que eu acho que tem que ser feito e trazer o professor e o aluno para a biblioteca, porque a nossa ação é tão voltada para o aluno, mas se o professor não incentivar o aluno a frequentar a biblioteca para o uso do livro, a nossa ação fica fraca, então se o professor manda ele estudar um conteúdo que tem na internet, qual o sentido de ele vir aqui? Alguns alunos já tem esse hábito, de estudar, de procurar o livro, mas não é a realidade geral da pesquisa, a não ser que a gente pegue cada um dos alunos e fique orientando. A gente tem alunos do curso superior que são ex-alunos dos cursos técnicos e até hoje eles pedem pra gente auxiliar eles a procurar conteúdo no sumário do livro. Eles vem de uma rotina onde não foram acostumados a procurar em livros, e agora que a exigência é maior, eles pedem nosso apoio, mas o professor não faz esse trabalho de vir aqui na biblioteca e incentivar o aluno. Falta fazer ações para atrair o professor para a biblioteca e que faça esse tipo de trabalho com o aluno, de orientar mesmo a pesquisa escolar”. (AUX 1)
“Existe esse incentivo por grande parte dos professores, mas falta criar algum projeto para ampliar esse incentivo, não só por parte dos alunos, mas também dos professores. Os professores precisam usar não somente os livros técnicos, mas também a parte de literatura, um incentivo por parte de todos, não só os professores, mas também os técnicos administrativos que não frequentam a biblioteca. É um público que precisa se envolver também. Se a biblioteca não for usada, não existe motivo para ela existir”. (AUX 2)
As impressões de ambos (AUX 1 e AUX 2) refletem também a insatisfação dos alunos,
de que os professores não participam do processo de incentivo à leitura, tampouco da
pesquisa escolar do aluno. Para Souza (2009), a tarefa de desenvolver parcerias na
biblioteca escolar dependerá de quanto a escola consegue envolver parcerias na rotina
escolar como um todo.
De acordo com Paro (2007), a educação deve ser entendida como atualização histórica
para que o homem continue sua humanização ou civilização histórico-social em uma
dimensão individual e social. O autor conclui que a principal falha da escola é a
99
omissão em educar para a democracia, e este aponta quatro pontos essenciais para a
superação desta omissão. Interessa-nos especificamente o terceiro ponto, que é “[…] a
importância de se levar em conta a concretude da escola e a ação de seus atores na
formulação de políticas educacionais” (PARO, 2007, p. 20).
O terceiro ponto remete à necessidade de se conhecer a organização escolar e suas
práticas, a fim de conhecer no que elas contribuem para o alcance dos objetivos
educacionais. Este ponto colocado por Paro (2007) leva à conclusão, segundo Rigoleto
e Di Giorgi (2009) de que só se pode pensar em uma escola democrática se houver
envolvimento de parceiros no desenvolvimento do trabalho da biblioteca escolar, e se
esta se abre a esta colaboração, dentro de uma perspectiva democrática, superando o
modelo clássico de transmissão de conhecimentos e focando na busca de
“aprendizagens significativas” (grifo nosso), cujo conceito significa a construção de
novos conhecimentos baseados em conhecimentos anteriores de maneira relevante
(AUSUBEL, 1968). A partir dessa premissa, o desenvolvimento de práticas de leitura no
arcabouço do desenvolvimento de competências informacionais que podem ser úteis
no contexto da aprendizagem efetiva durante toda a vida escolar do aluno.
Neste contexto, as aprendizagens significativas devem ser produzidas pelos alunos,
mediadas pelos profissionais da educação, especialmente por professores e
bibliotecários, cuja parceria deve frutificar, de modo a auxiliar a escola a alcançar a
qualidade educacional recomendada pela LDBEN e pelos PCN. Piaget (1973) entende
a aprendizagem significativa como a construção de estruturas de assimilação, o que
acontece com o tempo e conforme sua capacidade de aprendizagem. Para Becker
(2012), a função da escola caracteriza-se em relação à produção e transmissão de
conhecimentos, ou seja, cabe à instituição, junto com suas bibliotecas escolares
disponibilizarem o conhecimento produzido pela humanidade e fazer com que este
chegue ao aluno, e cabe ao mesmo apropria-se deste conhecimento. Infere-se então
que o aluno, quando aprende, é capaz de construir estruturas de assimilação, captando
apenas conteúdos significativos, relacionados com suas estruturas sociais,
educacionais e culturais, portanto, nem todo o conhecimento disponibilizado pela
unidade educacional e de informação será significativa ao aluno, o que trouxe as
seguintes reflexões:
100
- A biblioteca deverá estar alinhada aos objetivos educacionais, de modo que selecione
conhecimentos (acervos) relevantes ao currículo vigente;
- A biblioteca deverá traçar estratégias para que o aluno aproprie-se deste
conhecimento sem que o professor esteja presente, uma vez que nem sempre o
docente conseguirá transmitir seus conhecimentos, o que na realidade é a própria
visão de mundo do profissional.
Em suma, o objetivo foi verificar se a biblioteca campo da pesquisa realiza práticas de
incentivo à leitura, entretanto, apesar da unidade de informação promover algumas
práticas e eventos culturais em períodos pré-determinados do calendário escolar para
este fim, a biblioteca não está envolvida diretamente no planejamento didático-
pedagógico do campus, de modo que o setor depende da parceria realizada com
alguns professores para conseguir realizar as atividades culturais que tangem à sua
responsabilidade. Essas parcerias não abrangem todas as disciplinas, pois são focadas
diretamente em conteúdos das ciências humanas, como Língua Portuguesa, Artes,
Filosofia, dentre outros, o que acaba restringindo a atuação dos demais professores e
servidores nas atividades realizadas pela biblioteca.
5.5 SENTIDO DE LIVRO DIDÁTICO, LEITURA E BIBLIOTECA APRESENTADOS POR ADOLESCENTES ESCOLARES
O terceiro objetivo específico deste trabalho foi analisar os sentidos de livro didático,
leitura e biblioteca apresentados por adolescentes escolares, alunos da instituição de
ensino onde a pesquisa foi realizada. Ressalta-se que o modelo ISP foi, a princípio,
desenvolvido nos Estados Unidos e aplicado no contexto cultural deste país,
observando-se o comportamento dos alunos em relação às suas estratégias de leitura
e pesquisa escolar. No contexto brasileiro, especificamente em relação aos alunos do
campus do Ifes, onde a pesquisa foi realizada, a cultura organizacional desta instituição
ainda é pautada nas antigas escolas polivalentes, uma vez que o americanismo tinha
uma relação estreita com este modelo escolar. (PEDROSA e BITTENCOURT JUNIOR,
2012).
Ainda, de acordo com os autores:
101
[…] houve um fortalecimento da relação Brasil – Estados Unidos, em relação à educação, onde a busca de um modelo de modernidade e a necessidade de responder às pressões ocorridas no auge da guerra fria foram fundamentais para os convênios de cooperação internacional entre a USAID – United States Agency for International Development e o MEC – Ministério da Educação e Cultura. Um destes convênios criou o PREMEM – Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio, na intenção de reestruturar e expandir o ensino secundário e profissional no Brasil. (PEDROSA e BITTENCOURT JUNIOR, 2012, p. 1)
Portanto, infere-se que a estrutura organizacional dos atuais Institutos Federais de
Educação, Ciência e Tecnologia ainda é influenciada pelas antigas escolas
polivalentes, nos quais transmitem essa cultura e filosofia aos alunos que nelas
estudam, o que influenciou na escolha pela aplicação do método ISP, também de uma
cultura estaduniense.
As respostas dos alunos quanto às suas percepções sobre esses temas foram
agrupadas nos seis estágios do modelo ISP de Kuhlthau, já descritos anteriormente no
capítulo do Quadro Teórico. A proposta da entrevista consistiu em fazê-los lembrar de
um trabalho escolar feito na biblioteca e que utilizassem o livro didático para chegar nos
resultados descritos nas etapas seguintes.
5.5.1 Estágio de Iniciação
Quando questionados sobre os sentimentos que tiveram quando o professor propôs o
trabalho ou atividade de pesquisa utilizando o livro didático, ao contrário do que diz
Kuhlthau (2010, p. 28) “[…] a primeira e mais comum reação dos estudantes quando
precisam realizar um trabalho escolar é um sentimento de apreensão e ansiedade”,
contudo, os alunos A1, A2, A3 e A6 tiveram sentimentos de otimismo, pois um conteúdo
de pesquisa baseado no livro didático, para Díaz (2011), deve ser vinculado à realidade
do estudante, para que este se sinta familiarizado com os conteúdos repassados.
Quando o conteúdo de pesquisa é orientado pelo professor, essa prática gera
otimismo, e não apreensão, uma vez que o professor pode estimular a capacidade
investigativa do aluno, para que desenvolva sua autonomia de aprendizagem. Portanto,
por considerarem uma forma didatizada de buscar conhecimento, e instrumentalizada
pelas orientações do professor, o uso do livro didático gerou sentimentos positivos nos
alunos citados, conforme revelaram os alunos, quando questionados: “Qual foi seu
102
sentimento quando o professor passou o trabalho?”, cuja finalidade era o uso do livro
didático:
“Me senti otimista. Porque já estou acostumado com a estrutura do livro didático” (A1) “Senti segurança, tanto para apresentar ao professor, quanto aos colegas. Então, senti interesse pelo assunto”. (A2) “Gostei, fiquei otimista porque é um assunto fácil para a gente procurar. É um trabalho de fácil acesso, de conteúdo bem didático”. (A3) “Eu gosto dessa matéria e gostei do tema, me senti confiante e otimista”. (A6) “Fiquei normal...confiante” (A8) “Ah, tipo, não sei. Depois que pesquisei mais, conhecer os autores, porque geralmente assim, quando o professor passa o trabalho, a gente aprende mais, né? A gente tem que ler, pra explicar na hora. Fiquei tranquila” (A10) “Fiquei curiosa, como era meu primeiro ano na escola, fiquei curiosa em ler os materiais didáticos da minha série, para saber se iam suprir minhas dúvidas. Me surpreendi também, porque foi um trabalho em que meu grupo só utilizou o livro, assim, um pouquinho da internet, mas a maior parte do trabalho foi tirado do livro, porque estava bem completo”. (A11) “Ah, de curiosidade, porque é um assunto que me desperta interesse, gosto bastante de História”. (A15) “Fiquei muito confortável e feliz, porque é um tema que eu gosto de abordar e, eu já tenho um conhecimento acerca dele.” (A16)
Em contraponto, algumas respostas obtidas quanto ao sentimento dos alunos em
relação à iniciação da pesquisa com o livro didático revelaram que houve sentimentos
de confusão, o que se torna comum, de acordo com a análise de Kuhlthau (2010),
conforme os seguintes relatos:
“Ah, no início eu não sabia muito onde recorrer, fiquei meio assustado, mas depois ela foi dando umas orientações e ai disse que a gente podia encontrar no livro, e fiquei mais tranquilo. Eu não era acostumado com esse tipo de trabalho. A escola não tinha isso, e a gente fez a prática no laboratório, e depois pediu o
103
relatório. Eu nunca tinha feito um relatório antes, então por isso o susto, pela falta de hábito mesmo desse tipo de trabalho.” (A4) “Olha, dúvidas sempre tem, mas foi um tema que ele (o professor), passou para estudar e apresentar.” (A5) “A princípio, de estranhamento. Por ser um nome meio inusitado, que não era do nosso dia a dia, ele chegou, sem passar a matéria, passou os assuntos nos slides. Era para a gente procurar. O resultado foi excelente, porque recorrendo aos livros didáticos, conseguimos extrair todas as informações necessárias para realizar o trabalho. Eram nomes diferentes, eram nomes que não estavam na atual e antiga matéria que estudávamos, foi a primeira vez que vi esse assunto.” (A7) “Eu não sabia ao certo o que era, e depois ele (o professor) foi explicando, me dando orientações a serem seguidas. Fiquei meio confusa, perdida. Eu já tinha ouvido falar, mas sabia o que era. Então, eu acho que a proposta dele foi isso, pesquisar para saber, para mostrar os outros alunos o que significava esse determinado grupo animal.” (A9)
“Na verdade gostei desse trabalho porque foi um relatório. Na verdade, não havia entendido a matéria na sala de aula, então quando eu fiz o relatório utilizando o livro didático e pesquisando na internet, acabei entendendo bem melhor a matéria, eu consegui compreender melhor o conteúdo. Quando comecei o trabalho, me senti confusa, mas ai, mas conforme fui pesquisando, foi esclarecendo as coisas.” (A14) “A princípio, senti um pouco de estranhamento, porque o nome já é muito difícil assim, na verdade me senti confusa em relação ao que se tratava. Mas depois, conforme fui pesquisando, eu fui sentindo um certo interesse, porque é uma matéria muito assim...ampla, muito interessante. Se você for ver do que ela se trata, óbvio que não são todas as pessoas que se interessam por biologia, mas ela estuda peixes que são menos conhecidos, então, tipo, é um certo tipo de curiosidade, entendeu? Por exemplo, os tubarões, das arraias, e outros peixes, então achei bem interessante. Pra ser sincera, é porque o tema é difícil, nunca tinha estudado isso e nem ouvido falar. Se ao menos eu tivesse ouvido falar, me sentiria mais familiarizada com o tema. Mas, como foi uma coisa totalmente nova, e aparentemente um título bem complicado, eu achei que ia ser a coisa mais estranha de estudar do mundo, mas não é.” (A17)
Os sentimentos de confusão, susto e estranhamento, também indicados por Kuhlthau
(2010) foram comuns aos cinco alunos, A4, A7, A9, A14 e A17, contudo, foram vencidos
104
e superados por todos eles, dando espaço ao sentimento de motivação, assim como
ressaltado na fala da aluna A13:
“Fiquei nervosa, mas, ao mesmo tempo, tive motivação, porque ele (o professor) era muito exigente. Quando ele propôs, achei excelente ele ter passado esse tema, pois nunca havia passado antes, mas gostei da experiência no final de tudo” (A13)
De acordo com Kuhlthau (2010), um fator importante no planejamento do trabalho de
pesquisa é a motivação dos estudantes, baseada por assuntos que possuem
significado e interesse para eles. A motivação centra-se no fato de os estudantes
relacionarem o trabalho ou pesquisa escolar a uma necessidade de informação, como
a fala da aluna A17 ou algo a ser feito para cumprir a exigência do professor, como a
fala da aluna A13, anteriormente apresentada.
O sentimento de frustração, de acordo com Kuhlthau (2010), não é comum surgir
durante a etapa de iniciação, no entanto, a fala do aluno A12 demonstrou que o
sentimento surgiu antes mesmo de iniciar a pesquisa no livro didático, conforme o seu
relato:
“Me senti frustrado, porque queria pesquisar sobre outro tema, mas o professor não deixou fazer a troca.” (A12)
O aluno A12 sentiu-se frustrado, talvez porque de algum modo, houve interferência do
professor pela decisão de atribuir a este aluno outro tema de pesquisa, e para Kuhlthau
(2010, p. 35) “[…] quanto menos interferência, melhor. Os trabalhos mais bem-
sucedidos e significativos são aqueles em que os estudantes escolhem um assunto
que desperte seu interesse”. Nesse aspecto, percebeu-se que o professor utiliza o livro
didático como um roteiro a se seguido criteriosamente, tornando-se um padrão
curricular internalizado nas práticas de ensino.
Na visão da aluna A13, ao analisar a importância atribuída ao livro didático, nota-se que
este dispositivo passou a constituir-se como um recurso facilitador da aprendizagem e
um instrumento de apoio à prática pedagógica para a representação do papel do
professor, no caso, simbolizado pela apresentação do seminário pela referida aluna,
cuja pesquisa escolar foi marcada pelos sentimentos de motivação e nervosismo.
105
Uma vez que o aluno A16 tem um conhecimento prévio do assunto através da vivência,
para o mesmo, houve uma facilidade maior em abordá-lo, pois o importante para ele foi
“[…] expandir seu conhecimento sobre o assunto” (KUHLTHAU, 2010, p. 29). Para que
os estudantes construam o conhecimento de forma significativa, devem relacionar as
teorias científicas dos livros didáticos que lhes dão sustentação com a vivência do
cotidiano. (KATO e KIOURANIS, 2013)
Lopes (1992) aponta que o professor toma o livro didático como modelo de aula, de
modo que o material oferta o plano de estudos, o que normalmente é elaborado pelo
profissional. Logo, as atividades propostas se enquadram em unidades temáticas
tipificadas, representando o cotidiano na sala de aula. Na pesquisa escolar, o livro
didático constitui-se como um instrumento de apoio ao processo de aprendizagem, de
maneira esquematizada e pronta, portanto, os estudantes demonstraram otimismo
devido sua afinidade com a disciplina, com o assunto ou com a estrutura do livro
didático, este último creditado ao constante manuseio neste espaço educacional, o que
gera ações de independência quanto à pesquisa na sala de aula.
Este fato é observado através da declaração do bibliotecário B1, quando no momento
da entrevista, a pesquisadora faz a seguinte pergunta: “Como você orienta o processo
de busca de informação do aluno que precisou realizar um trabalho escolar?”:
“Um grupo de alunos precisava de um material que falasse de um assunto relacionado à área de biologia. Eles precisavam de um material para fazer um trabalho que fazia parte de uma prova. Eles não chegaram no balcão de atendimento solicitando este material. Como muitos usuários de bibliotecas, eles foram direto ao acervo para tentar encontrar o material que atendia a necessidade informacional deles. Identificamos este grupo de usuários no acervo, meio que perdidos, em busca da informação, então fui até eles, perguntei se precisavam de ajuda, então eles disseram o que estavam procurando, então perguntando algumas questões relacionadas ao assunto, para tentar encontrar aquele material que atendia a necessidade informacional deles. A partir desta análise com eles, a gente conseguiu identificar os materiais, alguns títulos que tinham o conteúdo necessário para atender a necessidade deles. A gente pegou e separou esses materiais e disponibilizamos para que eles pudessem desenvolver a pesquisa. A maioria desses livros indicados eram didáticos. Além dos livros didáticos, tinham outros materiais também, mais
106
específicos. Então, esses livros didáticos tinham um conteúdo bem completo acerca do assunto pesquisado, acho que era histologia, alguma coisa assim. Foram utilizados em sua grande maioria os livros didáticos até mesmo porque era um conteúdo do núcleo básico que o professor tinha passado como pesquisa.” (B1)
De acordo com Kato e Kiouranis (2013) a participação do professor na escolha do seu
livro didático vem sido constantemente ampliada, pois o FNDE, em parceria com
professores de ensino superior, elaboram o Guia do Livro Didático, que serve de
subsídio para o professor da Educação Básica. Os alunos, portanto, enxergam a
temática de pesquisa como um conteúdo básico ou tranquilo devido ao conteúdo do
livro didático ser esquematizado ou facilitado pelo docente, tendo a função de guia no
processo de busca pelo conhecimento, uma vez que o professor tem um papel
fundamental no direcionamento da informação a ser buscada.
Como função de guia, o aluno acredita que é capaz de recuperar a informação
utilizando-se das informações contidas nos tópicos do livro didático, relacionando-as
com o sistema de classificação adotada pela biblioteca para assuntos genéricos, ou
seja, infere-se pela fala do bibliotecário B1, que o livro didático é utilizado pelos alunos
como fonte de busca para novos conhecimentos, sem considerar diferentes leituras e
entendimentos conforme o que pode ser transmitido pelo bibliotecário para auxiliá-los
no processo de busca da informação.
Em relação aos tipos de informações mais procuradas na biblioteca escolar campo
deste estudo, de acordo com Campello (2009, p. 10), vai de encontro “[…] à
extraordinária oferta dos mais diversificados produtos de informação vai exigir de quem
precisa, ou pretende acessá-los, novas competências”. Nos PCN, essas competências
se referem à utilização de “[…] diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos
para adquirir e construir conhecimentos” (BRASIL, 1997, s.p).
Logo, o estudante precisa desenvolver a capacidade de aprender de forma contínua,
conhecer suas necessidades de informação e como obtê-la para atender aos seus
objetivos. Deste modo, a demanda pelo livro didático na biblioteca responde a uma
necessidade de estabelecimento de uma rotina em seus estudos, com o objetivo de
107
fixar conteúdos. Quando questionados aos bibliotecários, auxiliares de biblioteca e
estagiários “Que tipo de informação os usuários mais procuram na biblioteca?” As
respostas apontam:
“Livros de assuntos mais específicos, como da área de biologia, física, química, história e literatura. Na parte técnica, são livros de conservação de alimentos, análise sensorial e matemática financeira”. (B1)
“Eles usavam muito a parte de História, o professor R. solicitavam que eles pesquisassem em livros didáticos aqui na biblioteca. Parte de física também, buscavam bastante os livros para realização de atividades, exercícios. Eu acho que a biblioteca era bastante usada, os professores tentavam inserir os alunos no espaço da biblioteca, existia essa política. Literatura também, era muito buscada pelos alunos”. (AUX 2) “Pelo menos para o Enem, saiu bastante livros didáticos de matemática, biologia, física e química. E também os livros literários”. (E1) “Aqui buscam especificamente na área de alimentos. Os usuários mais frequentes eram da área de agroindústria, então os livros didáticos de biologia, física e química eram mais buscados”. (E2) “Os livros didáticos de física, com certeza. São muito usados, principalmente as matérias técnicas da agroindústria. Química, física e matemática são as três áreas que saiam muito livros didáticos também. Os alunos solicitavam também como logar no computador, eles nunca sabiam como fazer login, essas coisas da informática, para eles era muito difícil fazer. E encontrar livros, porque antigamente não tinha a sinalização, então eles ficavam muito perdidos, eu ficava perdida também. E se tinha livro de literatura. Como eram muito poucos os livros de literatura, eles sempre perguntavam. Eram coisas muito escassas”. (E3)
De acordo com as falas dos participantes da pesquisa, as informações solicitadas
mudavam de acordo com o calendário de atividades escolares, mas, havia preferência
pelos livros didáticos de disciplinas de núcleo básico, como matemática, biologia, física
e química, pois essas disciplinas eram pré-requisito para disciplinas mais aprofundadas
ou técnicas ou ainda como base para estudos do Exame Nacional do Ensino Médio
(ENEM). Entretanto, notava-se uma carência muito grande em livros de literatura
108
reproduzidos na íntegra.
O livro didático é um importante mecanismo de fixação de conceitos e metodologias
educacionais (Kato e Kiouranis, 2013), entretanto, para Vasconcelos e Souto (2003, p.
101), “[…] os livros didáticos, sem dúvida, precisam conter ferramentas que instiguem a
discussão sobre o conteúdo teórico a fim de permitir sua conversão em conhecimento e
diante dele, tomar suas próprias decisões”. Para os autores anteriormente
mencionados, o referido material é valorizado enquanto política pública, mas não
valorizado no contexto escolar, pois os professores estabelecem usos alternativos ao
livro didático, através de suas experiências profissionais.
Entretanto, para o bibliotecário B1, a independência dos alunos em querer encontrar o
assunto pode gerar sentimentos de desespero ou angústia, pois por não saberem
manusear adequadamente as ferramentas de pesquisa da biblioteca ou por
sentimentos intrínsecos ao aluno, como timidez, introversão, dentre outros, ou ainda,
considerando as características próprias dos adolescentes como impaciência e
imediaticidade por desejarem uma fonte de informação pronta, são elementos que
confluem para que os alunos não busquem orientação com o bibliotecário, auxiliar de
biblioteca ou estagiário, com isso, o tempo disponível para pesquisa esgota-se
rapidamente, podendo ocasionar o insucesso na pesquisa ou a frustração e o
sentimento de não querer mais voltar à biblioteca para pesquisar outros assuntos. As
falas sobre os sentimentos percebidos nos alunos surge quando é perguntado: “Qual
era o sentimento do aluno quando o mesmo precisava realizar alguma pesquisa
escolar na biblioteca?”:
“O sentimento era de desespero! (risos). Assim, eles chegam autodependentes, ou independentes, na verdade. Eles chegam e já querem ir direto ao acervo, acham que com o roteiro do livro didático vão encontrar aquilo que eles precisam em qualquer material, desde que tenha alguma coisa relacionada. Ai você começa a ver o desespero, porque não encontram o material necessário para atender a necessidade deles. Então, quando você vai ao encontro deles, se prontifica a ajudar, e você disponibiliza o material para eles, ai você já vê a satisfação em ter o material ali disponível, que vai atender a necessidade de informação deles. Eu acho que tem a questão do tempo reduzido, a pressão do professor e a inexperiência em pesquisar um conteúdo razoavelmente complexo. Tem de tudo um pouco ai.
109
Mas acredito que era principalmente a questão do tempo, a pressão existente em relação ao tempo escasso para a realização do trabalho. E você não encontrar um conteúdo que venha a responder a essas necessidades informacionais. A pressão do professor em passar um trabalho de natureza mais complexa para eles, e eles não conseguem encontrar um material que responda as questões e também fica uma questão de frustração para o aluno em simplesmente entrar na biblioteca e ir direto ao acervo e não localizar o material que possa atender sua necessidade. Então, se o bibliotecário não estiver preparado, o aluno sairá do ambiente da biblioteca frustrado não só com a questão de não encontrar o material, mas ter que desenvolver um trabalho às pressas, com toda uma pressão em cima, e esse aluno também vai sair frustrado com a biblioteca, porque a biblioteca não tem os materiais necessários para atender a sua necessidade informacional. Isso é realmente muito ruim para a biblioteca também. Para o aluno é ruim, porque ele sai sem esse material, e para a biblioteca, porque tem o material disponível, mas por uma falha, acho que da equipe que trabalha na biblioteca, este aluno saiu sem que a sua necessidade informacional fosse preenchida. Se essas falhas não forem detectadas ou resolvidas, pode ser que o aluno fique frustrado com o ambiente informacional e até deixe de frequentar a biblioteca. Vai alegar que “a biblioteca nunca tem aquilo que ele precisa”. (B1)
“Das áreas técnicas, os alunos procuram assuntos voltados para as áreas de tecnologia de alimentos, na área de introdução à administração, gestão de pessoas e de recursos humanos e livros literários, eles perguntam geralmente como indicação, um romance, suspense, às vezes eles chegam e pedem auxílio nesse aspecto também.” (AUX 1)
“Porque ele se sente mais à vontade indo até o livro didático, até o acervo, por mais que ele não saiba onde o livro esteja com o assunto que ele procura, do que chegar até o servidor e perguntar. Isso é em um primeiro momento, depois, como acontece em qualquer outro local, as pessoas começam a se familiarizar, ai o aluno perde essa timidez. Lógico que é com uma grande maioria, vai continuar com os mais tímidos, mais introvertidos”. (AUX 2)
“Pelo que vejo, eles vem muito otimistas para a biblioteca, eles acreditam que vão conseguir mesmo fazer as atividades. Alguns alunos tinham dúvidas, de não ter certeza de que encontrarão o assunto, e também por não terem tanto domínio da internet, então eles se perguntam o que vão fazer e como vão fazer. Mas, a maioria vem acreditando que no livro didático vai ter o assunto.” (E1)
110
“Os alunos da nossa geração querem tudo rápido, então você fazer um trabalho em cima de um livro é todo um processo. E essa geração está acostumada a buscar na internet, jogar tudo no site de pesquisa e tudo vir rápido. E quando vai usar um livro em que você tem que procurar e fazer pesquisa do autor e ler vários livros, isso é um processo mais demorado e essa galera é mais impaciente. Então, o que eu percebo nesse pessoal é impaciência, principalmente no ensino médio, pois os assuntos não são aprofundados e até mesmo na internet você acha um conteúdo mais superficial, então eles acham que a busca no livro didático é desnecessária, a princípio. Essa é a visão que eu tenho dos alunos de ensino médio”.(E2) “Como eram diversos alunos, alguns chegavam muito perdidos, não sabiam o que fazer, geralmente eram do primeiro ano, primeiro semestre, eles chegavam súper perdidos e a gente tentava orientar mais ou menos tanto nos livros didáticos quando na internet e alguns chegavam aqui e diziam: „ah, que saco fazer esse trabalho‟, mas sempre que precisavam, pediam minha ajuda. Era legal, a gente se sentia um pouco útil para ajudar eles”.(E3)
Kuhlthau (2010) diz que os usuários de bibliotecas buscam informações porque
possuem interesse em saber mais sobre algo interessante ou problemático, e que esta
motivação surge devido às experiências anteriores. Na fala da estagiária E2, a
experiência anterior pode ser interpretada pela curiosidade em saber se o livro didático
supriria as dúvidas que a mesma poderia ter em relação ao conteúdo de pesquisa. O
sentimento de curiosidade nesta etapa é importante, e os estudantes estão cada vez
mais conscientes das próprias necessidades informacionais e buscam formas de
responderem aos seus questionamentos. Em outra situação, a auxiliar de biblioteca
AUX 1 procurava incentivar um aluno a buscar um conteúdo além do livro didático para
que este aluno saísse da sua “zona de conforto”, e posteriormente não deixasse o
ambiente da biblioteca com o sentimento de frustração, conforme seu relato, quando
questionada: “Como você orienta o processo de busca por informação do aluno que
precisou realizar um trabalho escolar?”:
“Na verdade, ajudei ele (sic) além do livro didático, incentivando a pegar algum livro aplicado com um conteúdo extra para aprimorar o que o aluno estava procurando no livro didático. Ele aceitou buscar mais porque ele não achou amplo o conhecimento em relação ao que ele precisava para fazer o trabalho. O livro didático dava uma base, mas o aluno não queria ficar conformado”. (AUX
111
1)
O auxiliar de biblioteca AUX 2 esgotava as possibilidades de pesquisa recorrendo ao
livro didático e à internet, conforme trecho destacado de sua entrevista:
“Normalmente, quando o aluno não encontrava o assunto, a gente procurava auxiliar procurando no livro didático também, através do sumário. E quando esgotava todas as tentativas, a gente indicava a procura na internet, que seria uma fonte auxiliar que o aluno usaria na biblioteca.” (AUX 2)
Para Frison et al (2009), o livro didático auxilia o estudante no desenvolvimento da sua
compreensão e interpretação do tema e para o professor, para conduzir do
desenvolvimento do tema e orientação da pesquisa escolar.
Embora os estudantes salientem que o livro didático contribuiu para a aprendizagem
dos conteúdos escolares, constata-se que o material é um dispositivo importante para a
padronização dos conceitos e metodologias educacionais (LAJOLO, 1996), entretanto,
os conteúdos são fragmentados para tornar acessível o entendimento do conteúdo pelo
aluno. Ainda que haja a estratégia da fragmentação, muitos alunos solicitam auxílio da
biblioteca quando precisam encontrar o assunto, conforme relato do auxiliar de
biblioteca 2.
Nas manifestações expressas pelos estudantes envolvidos nesta pesquisa, até o
momento, nota-se a importância atribuída por eles ao livro didático por ser um
referencial teórico, uma fonte de pesquisa que permite o aprofundamento de conteúdos
através de uma pesquisa mais elaborada, realizada na biblioteca escolar. Deste modo,
o professor deve buscar no livro didático, contribuições que possibilite a construção do
conhecimento científico pelo aluno e busque também a mediação do bibliotecário
escolar para fornecer recursos informacionais que melhor subsidie as atividades de
pesquisa, desenvolvidas pelos alunos. Para Peruzzi et al (2000), a apropriação do
conhecimento científico implica na escolha de uma metodologia coerente com a
concepção de ensino, “[…] que desenvolva as várias competências cognitivas como a
compreensão, a memorização, análise, síntese, formulação de hipóteses e o
planejamento” (FRISON et al., 2009, p. 57).
112
Portanto, o livro didático não poderá privilegiar uma única competência (BRASIL, 1997).
Conforme análise de Gama (2010), no contexto das políticas públicas, os PCN são
voltados, sobretudo, para a estruturação e reestruturação dos currículos escolares de
todo o Brasil, tendo como principal objetivo padronizar o ensino no país. Nesse
contexto, a biblioteca deve ser ativa e participativa na formação de crianças e jovens.
Para Gama (2010, p. 17), as políticas para a biblioteca, funcionam como norteadores
das atividades, “[…] envolvendo não só os bibliotecários, mas também professores, e
responsáveis pela direção da escola, abordando além da política de formação da
coleção e o regulamento da biblioteca, também o incentivo a leitura, pesquisa escolar e
competência informacional”. De acordo com Nuñez et al (2009), mesmo que o
professor tenha em mãos um livro didático de boa aceitação e utilizado pela grande
parte dos professores, é imprescindível a parceria com a biblioteca escolar para
pesquisar outras fontes bibliográficas para avaliar a veracidade científica dos
conteúdos e adequar a metodologia de oferta desses materiais para as turmas.
Outro aspecto a ser considerado, de acordo com Santos (2007) é que o processo de
escolha do livro didático pelo professor é influenciado por fatores internos da
aprendizagem, como por exemplo, as diferenças linguísticas e regionais,
diferentemente do modelo de padronização social difundido pelos textos do Ministério
da Educação quando este se refere aos espaços escolares, e entre eles, as bibliotecas.
Entende-se nesse contexto, que as desigualdades de acesso à informação interferem
no processo de seleção dos livros didáticos pelos professores e que esta seleção
interfere, de algum modo, no processo de desenvolvimento da competência
informacional nas bibliotecas escolares, devido ao despreparo de alunos, professores e
bibliotecários quanto às mudanças nas tecnologias de informação, sendo as
características mais representativas e de comunicação nas relações sociais, culturais e
econômicas da sociedade atual (SANTOS e SANTOS, 2014).
5.5.2 Estágio de Seleção
De acordo com Kuhlthau (2010), a seleção é o segundo estágio de pesquisa e a
principal tarefa incumbida aos estudantes é refletir sobre o tema e escolher um assunto
113
para pesquisar. No entanto, observa-se nas falas que apenas três alunos refletiram
sobre o que pesquisariam, e o professor já determinava como seria a pesquisa no livro
didático, como estratégia de facilitação para a pesquisa do conteúdo na biblioteca.
Quando questionados: “Houve alguma reflexão ou exploração inicial para realização da
pesquisa?”, as respostas obtidas foram:
“Houve exploração direta do livro didático com a análise dos subtópicos. Foi mais fácil. Ele (o professor) orientou a pesquisa no livro didático, orientou também o uso de outras fontes, mas não indicou quais eram, ficou a critério dos alunos”. (A1) “A gente reuniu o grupo, cada um ficou com uma parte para pesquisar e um ajudou o outro. Resumindo, nos reunimos para decidir a estrutura do trabalho.” (A2) “A gente foi direto para o livro didático dividir os temas, foi bem objetivo.” (A3) “Eu não sabia ao certo filtrar as informações. Tinha muita coisa. A gente começou a ver o que era importante ou não. Lembrei de como foi a aula, o que ela tinha falado, para a gente escolher o que era importante ou não. Ela (a professora) até mandou um modelo pra gente, de como fazer, um modelo acadêmico, com introdução, desenvolvimento, conclusão...” (A4) “Sim, procurei saber através da internet.” (A5)
“Reflexão assim, sobre o tema, sobre o que a gente já havia aprendido, lembrança de alguma reportagem que assisti”. (A6)
“Reli várias vezes o assunto do livro didático, e até mesmo de outros livros, e depois disso, fui extraindo as informações que achei necessárias para conseguir realizar o trabalho”. (A7) “Conversei com meus colegas, com o professor, inclusive. Pesquisamos em muitos livros para ver qual seria o certo, quais tinham os temas mais adequados, mais detalhados. A gente sabia que o livro didático traz as separações, no caso, as características gerais, o sistema circulatório, o digestório, reprodutor, então a gente já sabe dessa estruturação que tem no livro e deixou a livre critério em quais estruturas apresentar.” (A8)
“Me sentei com meu grupo e começamos a pesquisar primeiramente no livro didático mesmo para ter uma ideia do assunto e depois fomos para a internet”. (A9) “Primeiro me juntei com meu grupo, a gente debateu o que cada
114
um ia fazer, ai a gente procurou a professora também, ai fomos fazer o trabalho.” (A10)
“Era um trabalho em grupo, não era um trabalho individual, inicialmente a gente veio aqui na biblioteca, a gente se reuniu em um grupo, e conversamos sobre o que cada um tinha de conhecimento sobre o conteúdo. Lembro que uma das minhas colegas sabia bastante, e a gente se surpreendeu porque quando abrimos o livro didático, o conteúdo era praticamente tudo o que ela tinha falado.” (A11)
“Dividi o tema entre todos os componentes do grupo. Essa é a vantagem de fazer trabalho em grupo, dá para dividir o tema, não perde tanto tempo, ai cada um pesquisa (sic) sua parte e entrega para quem vai montar o trabalho.” (A12) “Assisti videoaulas, peguei outros livros, mas o livro didático que o professor recomendou para estudar para o seminário, eu não gostei dele. Era um livro ótimo, mas não consegui aprender com ele. Então peguei um outro que me explicou detalhadamente. Então, fiz uma junção das videoaulas com os livros que peguei pra estudar.” (A13) “Primeiro eu ia pesquisar só na internet, né? Ai falei assim: não, agora que vou fazer o relatório, eu vou ler sobre o tema. Li o livro do Chiavenato que tem na biblioteca, ai com a leitura do livro, foram surgindo outras dúvidas, coisas que eu não lembrava de ter estudado na sala. Ai fui pesquisar na internet sobre esses temas, ai sim consegui entender bem mais”. (A14)
“Não, a professora apresentou o tema e falou que qualquer dúvida era para procurar ela.” (A15) “Como eu já tinha um conhecimento prévio sobre o tema, eu já sabia quais pontos principais a serem abordados, e com base no livro didático, foi possível ter um norte. A partir de então, outras pesquisas foram feitas.” (A16)
“Eu pesquisei em livros da biblioteca e algumas coisas na internet, mas, a minha pesquisa mesmo foi baseada nos livros didáticos. O outro era do segundo ano, mas que a escola não usa mais, mas que meu amigo tem, tirou foto e me mandou”. (A17)
Para Kuhlthau (2010), há várias maneiras de os estudantes selecionarem os assuntos,
no caso do aluno A1, baseou-se nos tópicos estabelecidos no livro didático, de modo a
fazer com que este estudante pensasse em possíveis assuntos a serem incluídos no
fim do trabalho. O ato de lembrar reportagens vistas na televisão ou relacionar o
115
assunto do livro didático com outras fontes, no caso do aluno A6 é “[…] baseado nas
experiências anteriores vivenciadas pelo aluno” (KUHLTHAU, 2010, p. 60).
No estágio de seleção, Kuhlthau (2010) diz que, geralmente, os estudantes sentem
certa confusão e incerteza sobre o que escolher. Nesta fase, é importante que o aluno
tenha tempo, calma e clareza para a seleção do assunto. A falta de tempo pode
influenciar o estudante a escolher qualquer tema sem a reflexão necessária e fazer
com que tenha dificuldade em fases posteriores da pesquisa. A maioria dos alunos
entrevistados preferiu se reunir em grupos e entrar em um consenso sobre o tema a
pesquisar.
Pela manifestação expressa pelo aluno A4, demonstrou-se preocupação em relacionar
o conteúdo passado pelo professor e que esteja de acordo a realidade vivenciada pelo
estudante. Lajolo (1996, p. 5) salienta que “[…] é a partir do conhecimento que já tem
do mundo em que vivem que os educandos poderão construir os conhecimentos nos
quais os livros didáticos e as escolas devem iniciá-los”. Porém, apesar do
conhecimento do aluno A4 ter sido avaliado através de um relatório, o livro didático foi a
base para a construção do conhecimento utilizado por este aluno, este propiciou
diferentes leituras e entendimentos da complexidade da tarefa através do auxílio obtido
na biblioteca escolar do seu campus.
Para Kuhlthau (2010), os estudantes precisam analisar possíveis assuntos, avaliar
resultados e selecionar assuntos que garantam bons resultados. Como o livro didático
é dividido por unidades temáticas e por tópicos, é muito mais fácil atribuir subtemas,
considerando que o estágio da seleção deve considerar o prazo estipulado pelo
professor para realização do trabalho. Os professores uniformizam o tempo de
pesquisa para séries inteiras, e trabalhando com o mesmo livro didático, a equipe da
biblioteca consegue auxiliar o máximo de alunos possíveis porque os mesmos
procuram a biblioteca ao mesmo tempo, conforme relato das estagiárias, quando foi
perguntado: “O professor solicitou que separassem ou selecionassem algum material
de pesquisa para orientar os alunos?”:
“Não acontecia ano passado, mas os alunos de terceiro ano estão vindo mais à biblioteca pesquisar nos livros didáticos. O professor fala, ah, vamos trabalhar com esse livro, e turmas inteiras usam o
116
mesmo livro”. (E1)
De acordo com o relato da estagiária E2, os alunos faziam as pesquisas escolares
sozinhos, sem o suporte ou auxílio do professor, conforme o trecho:
“Os professores traziam os alunos para a biblioteca e os alunos procuravam os livros didáticos”. (E2)
A estagiária E3 ressalta que os professores solicitavam que a biblioteca separassem os
livros didáticos para a pesquisa escolar:
“O bibliotecário separava os livros didáticos que o professor pedia, filmes também eles pegavam muito, documentários, né? A gente separava esses outros materiais, mas os livros didáticos eram os mais usados mesmo. Como aqui na biblioteca tinha, eles pegavam aqui porque era mais fácil. Às vezes nem tinha livros, ficavam só o de consulta local, e eles usavam para cinco, seis grupos de estudos. Química, física e matemática são as três áreas que saiam muito livros didáticos também” (E3)
Pietri (2007) ressalta que o estabelecimento de um cronograma de trabalho muito mais
realista, a estrutura do livro didático somado a tática de aprendizagem adotada pelos
professores ajuda a economizar este tempo, para que o aluno possa recorrer ao
professor somente em caso de necessidade. Kuhlthau (2010) diz que uma prática
muito comum do professor é que o aluno o comunique do assunto escolhido e dê a
aprovação, de modo que se sinta motivado em continuar a pesquisa, já que a equipe
da biblioteca estará à disposição dos alunos caso necessitem de ajuda ou maiores
esclarecimentos.
Porém, a falta de clareza sobre a estrutura e a linguagem do livro didático adotado pelo
professor para a aluna A13 foi um fator motivador para a tomada de decisão em trocar
o material por outro, com estrutura mais facilitada. Neste caso específico, a biblioteca
foi consultada quando a aluna relatou a dificuldade em continuar sua pesquisa e
solicitou indicação de outro material que abrangesse o mesmo tema. Portanto, a
biblioteca e o bibliotecário precisam estar envolvidos na etapa de seleção do assunto,
pois a avaliação preliminar do material disponível na biblioteca é de competência do
bibliotecário. (KUHLTHAU, 2010).
117
Quando questionada se “Você já sentiu alguma dificuldade em auxiliar algum aluno no
processo de pesquisa que utilizou o livro didático?”, a AUX 1 que também auxiliava o
aluno a pesquisar algum assunto, evidenciando o sentimento de contrariedade quando
o referido aluno optava pelo livro didático, ainda que houvesse outras fontes de
informação disponíveis, conforme sua fala:
“Muitas vezes, quando o aluno vem procurar algum assunto, vou dar o exemplo de História, quando eles vêm procurar alguma coisa de história, eles não querem nenhum outro livro além do livro didático, a gente diz: „ah, vamos procurar algum outro material‟, mas o aluno diz que o professor usa determinado livro, e eles querem utilizar normalmente o livro que o professor tá utilizando. Por mais que a gente tenha edições atuais em que o aluno possa encontrar o material também, vou até considerar que nosso acervo não é rico em material de história, o que mais a gente tem ali é livro didático de edições atuais, o aluno quer ver o que o professor está utilizando de anos anteriores. A dificuldade que eu vejo é essa, ele insiste em usar o livro didático que o professor usa, mesmo que não seja atual”. (AUX 1)
Nesta etapa de seleção, para Kuhlthau (2010), os estudantes ainda devem ser
estimulados a escolherem o assunto de acordo com suas preferências pessoais ou
algo que sustente seu interesse ao decorrer da pesquisa, o que confirme o exposto
pelo aluno A16. Identifica-se na fala deste aluno, que o livro didático foi importante para
a sua pesquisa por seu aspecto político e cultural, pois reproduz valores da sociedade
em relação à sua visão de mundo em relação à interpretação dos fatos e traz alguma
influência no desenvolvimento de pesquisas a partir de um conteúdo teórico, a fim de
permitir sua conversão em conhecimento a partir da vivência do referido aluno.
Em relação às falas dos alunos A9, A14 e A17, que relataram utilizar também a internet
como fonte de pesquisa, de acordo com Frison et al (2009), embora a internet seja
considerada como um importante instrumento de pesquisa, o livro didático ainda é
considerado a única fonte primária de trabalho em sala de aula. Para a autora, a
internet é mais um recurso pedagógico e pode ser usada em conjunto com o livro
didático.
Nesse sentido, Santos e Carneiro (2006) destacam que o livro didático tem como
118
função ser guia do aluno no processo de apreensão do mundo exterior, desde que este
material permita ao aluno a interação de suas experiências e de atividades que o
instigue a desenvolver seu próprio conhecimento, como a internet, que foi utilizada para
este fim, o que direcionou o processo de busca de informação pelos bibliotecários B1 e
B2, quando questionados: “Em relação ao aluno que busca determinada informação
sobre um assunto específico que se localize em um livro didático, você procura mostrar
ao mesmo outras fontes de pesquisa? Quais?”:
“Aquele conteúdo informacional que não foi encontrado no livro didático, a gente tentava ir em outros materiais de assuntos mais específicos, ou sempre eu indicava para eles o meio digital, no caso da internet. Porém, se fossem pesquisar no conteúdo digital, eu recomendava que utilizassem fontes seguras, para garantir a autenticidade daquele conteúdo. Além disso...a gente tá falando desse grupo específico de biologia, mas teve um outro grupo de foi de história, que eu recomendei o trabalho com os periódicos. Então tentava indicar os periódicos porque havia assinaturas de periódicos específicos dessa área, então muitos desses conteúdos estavam ali nos periódicos de história. Mas, a maioria das vezes, era indicado o livro no meio digital ou páginas na internet, mas sempre com a preocupação de indicar fontes seguras para atender a essa necessidade”. (B1)
“Como eram pouquíssimas solicitações, a gente ia para o acervo, para tentar desmitificar que tudo de bom, tudo de melhor, estava na internet. Não estou criticando a internet, não é esse o foco, mas era para os alunos conhecerem este outro lado da biblioteca. A gente tentava ir sempre para o acervo, e caso não houvesse, ai sim eu direcionava para a pesquisa na internet”. (B2)
Os relatos dos bibliotecários B1 e B2 enfatizam que a internet é uma importante
ferramenta de busca, ainda que o acervo fosse o primeiro recurso utilizado, mas a
internet era utilizada quando o assunto não era encontrado no livro didático.
5.5.3 Estágio de Exploração
Kuhlthau (2010, p. 96) afirma que “[…] a busca por informações na perspectiva da
pesquisa baseada em processo difere, de forma significativa, do modo como os
estudantes comumente usam as fontes de informação”. Nesta perspectiva, o uso da
internet na etapa da exploração de informações foi amplamente difundida pelos alunos
119
entrevistados, uma vez que os estudantes procuram aprender o assunto enquanto
estão pesquisando e reunindo informações, relacionando os seus pensamentos com a
construção de ideias mais específicas à medida que o trabalho avança.
A internet, ao oferecer uma infinidade de websites, propicia que o que esteja escrito no
livro didático possa ser comparado, reunindo o máximo de conteúdo sobre o mesmo
assunto, de modo que o aluno tenha diferentes propósitos: aprofundar a pesquisa ou
escolher a fonte de informação mais precisa possível para que o aluno termine o
trabalho com mais rapidez, conforme se pode vislumbrar quando questionados: “Quais
foram as suas ações para desenvolver o trabalho além da consulta ao livro didático?”:
“Pesquisei na internet, mas fiquei em dúvida se o conteúdo era verdadeiro ou não. Depois fiz resumos, baseados em outras partes do capítulo do livro didático usado para fazer o trabalho do seminário”. (A1) “Era um trabalho com apresentação de slides, consultamos o livro didático, depois fomos pesquisar imagens na internet para dar um suporte no trabalho”. (A3) “Primeiro eu vi na internet como tinha sido realizado uma aula do mesmo tipo, para relembrar o que a gente tinha feito. Ai depois a gente se reuniu em grupo e começou a desenvolver a partir do que ela passou em sala na aula teórica, e depois comecei a fazer no livro. Quando a gente tinha algum tipo de dúvida, procuramos a professora.” (A4) “Pesquisei na internet. Como o tema era meio livre, e queria acabar logo, era mais fácil”. (A6)
A internet também foi considerada pelos alunos entrevistados, na etapa de exploração,
como um sistema de informação que complementa as informações trazidas pelo livro
didático, considerada mais rápida e moderna. A diferença em relação ao livro didático é
que o referido material é desenvolvido por unidades temáticas especialmente
escolhidas em função das necessidades didáticas e dos níveis de formação dos
estudantes, que vai ao encontro ao acervo da biblioteca escolar, desenvolvido através
de uma seleção de obras publicadas por pessoas ou organizações de autoridade
120
renomada.
Ao contrário de um acervo bibliográfico e do próprio livro didático, a internet é
organizada sem responsabilidade no tipo de publicação na qual é armazenada, sendo
considerados pertinentes aqueles conteúdos que se relacionam com a pesquisa. A
intensa volatilidade de informações buscadas na rede pode gerar pressa em finalizar o
trabalho ou dúvidas entre os alunos em recorrer ao professor para saná-las. Kuhlthau
(2010) ressalta que o bibliotecário pode ser considerado uma fonte ou meio de acesso
à informação, entretanto, os alunos e professores precisam ter conhecimento da
missão e objetivos da biblioteca na escola para ampliar suas possibilidades de
pesquisa.
Tavares e Cunha (2011) ressaltam que os tópicos do livro didático são transmitidos de
forma mnemônica, citados para reforçar o que já foi abordado, fazendo alusão ao
contexto exposto no livro com a realidade do aluno. Os resultados extraídos das falas
de A7, A8, A9, A10, A11 e A17 reforçam que os tópicos são parâmetros de avaliação
muito utilizados para a exploração de dados, visando melhor entendimento,
relacionando com instrumentos de pesquisa que os estudantes têm mais domínio e
convivência, como a própria internet, conforme ressaltado nos seguintes trechos:
“Os tópicos de fácil entendimento passaram batidos, aquilo foi fácil de entender. Os mais difíceis, como os que geram estranhamento, como as palavras difíceis de entender, fui recorrendo às enciclopédias.” (A7) “Nós organizamos uma lista de tópicos e escolhemos o subtema e desenvolvemos o trabalho em cima dele.” (A8) “Nós colocamos em tópicos, porém, assim, não ficou dividido pra cada um. “Ah, você vai falar sobre isso”, todo o grupo se envolveu com o trabalho, só depois, na hora de apresentar, cada um recebeu sua fala.” (A9) “A professora, na aula dela mesma passou os tópicos que ela queria que desse ênfase na hora do trabalho, e através deles, a gente se baseou para pesquisar.” (A10)
121
“A gente também pesquisou na internet e verificamos a compatibilidade entre os dois conteúdos, a do livro didático e da internet, e o que mais aparecia, tipo, os resultados mais notáveis, e esses resultados a gente pôs no trabalho. Fizemos tópicos, esquemas e tal.” (A11) “A internet, eu fiz um resumo e como usei dois livros, eu fiz um resumo de cada um, depois vi qual estava mais completo e depois fiz mais um resumo de coisas que eu beliscava na internet.” (A17)
Kuhlthau (2010, p. 101) ressalta que “[…] a enciclopédia é uma excelente fonte de
busca”, e os alunos devem listar termos de busca, que representem seus assuntos de
pesquisa, com o objetivo de preparar-se melhor para conduzir um processo de busca
mais amplo.
Outros alunos entrevistados afirmaram que não havia necessidade de investigar
diferentes fontes de informação para complementar a pesquisa, pois o livro didático
“era bem didático” (A5) e “completo em informações” (A8). Entretanto, as falas dos
alunos contradizem o relato do bibliotecário B1, quanto ao incentivo de outras fontes de
informação, quando questionado: “Você incentivava o aluno a ter práticas de leitura de
outros materiais como dicionários, enciclopédias, jornais e revistas para ajudar a
relacionar o tema pesquisado no livro didático ou ampliar seu significado?”:
“Talvez a gente pecasse no sentido de que quando o usuário chegava com o tema específico, poderíamos auxiliar também pesquisando nos jornais, na questão de atualidades, mas a gente disponibilizava, além do livro didático, os periódicos, que também trazem informações atualizadas sobre determinado tema ou vários temas. Nós procuramos estimular o uso dos periódicos. Então acredito que os usuários estavam antenados em relação a determinados assuntos, porque eles mesmos procuravam, porque trabalhamos com a divulgação das revistas, dos exemplares que chegavam. Então, acho que despertavam a curiosidade deles em relação a determinados temas. Por si só, o aluno já chegava no jornal e na revista, pegava esses materiais emprestados e relacionavam esses assuntos com assuntos passados em sala de aula.” (B1)
Kulhthau diz que nesta etapa da exploração de informações, os estudantes são
122
direcionados a delimitar o assunto, com o objetivo de identificar subtópicos e se
prepararem para escolher o foco. Para o auxiliar de biblioteca AUX 2, uma vez que os
alunos solicitam o auxílio e encontram o que procuram, não há demanda por outras
fontes de informação, quando questionado: “Quais foram suas ações ao constatar que
o aluno pesquisava algum assunto no livro didático?”, e a mesma pergunta foi realizada
ao AUX 2, apresenta uma resposta oposta à AUX 1:
“Quando o aluno chegava e me pedia algum assunto, eu geralmente usava a pesquisa do Pergamum, para me direcionar ao material. Normalmente, quando o aluno já estava em pesquisa e encontrando o material dele, não acontecia a busca por outros materiais. Quando acontecia, a gente direcionava para outros materiais que tivessem o assunto solicitado.” (AUX 2)
“Eles têm dificuldades sim, inclusive, a dificuldade é tanta que a gente tem que ir pro acervo junto com eles para ir no sumário dos livros, procurando até encontrar o assunto. Eu falo que o livro está em determinado lugar do acervo, mas eles pedem ajuda para localizar o assunto dentro do livro. A gente vai lá, olha o sumário, até encontrar o assunto que eles procuram. Eles chegam ao livro, mas ao conteúdo em si, não. Eles pedem ajuda pra gente no sentido de encontrar o conteúdo. Isso não é só o ensino médio, os alunos do superior pedem ajuda pra encontrar conteúdo”. (AUX 1)
Enfim, contraditoriamente, para AUX 1, na fase de exploração, os alunos possuem
dificuldades em localizar o assunto, ainda que tenham em mãos o material de
pesquisa.
Tílio (2008) informa que os tópicos das unidades temáticas do livro didático são
estruturados e relacionados com o intuito de formar uma configuração tópica, ou seja,
uma contextualização geral com algum grau de conexão com temas transversais,
sendo utilizadas para contextualizar e seguir recomendações dos PCN para o trabalho
com temas transversais, o que para Campello (2012, p. 17), “[…] as escolas deveriam
ser encorajadas para trabalhar os temas transversais junto com as suas bibliotecas”,
implicando a reflexão da biblioteca escolar ser um espaço destinado à exploração de
informações e espaço de aprendizagem com temas contextualizados, comuns em
algumas disciplinas da Base Nacional Comum.
Percebe-se na fala dos dois auxiliares de biblioteca que em nenhum momento os
123
bibliotecários foram contatados ou consultados sobre a possibilidade de auxiliar os
alunos que possuíam dificuldades de encontrar informação ou que pudessem
contextualizar, acompanhado de seus professores, os possíveis temas a serem
abordados.
De maneira corriqueira, os professores são as principais referências para os alunos, e
em casos excepcionais, a vivência próxima dos alunos com os participantes da
pesquisa, como os auxiliares de biblioteca, no caso do aluno A16 ou a influência de
outras fontes de informação, como o livro de romance histórico do aluno A12, podem
ampliar horizontes, para que o aluno não explore informações baseadas somente no
livro didático. Quando os alunos foram questionados se “Buscaram outros instrumentos
para fazer o trabalho solicitado?”, alguns responderam:
“Consultei a internet, assisti um filme (sic) sobre Stálin e li um livro chamado “Queda de Gigantes”, do Ken Follent”. (A12) “Eu conversei bastante com o monitor da disciplina, lógico que junto com o professor também. Li artigos de revistas científicas que falavam sobre o tema, porque o tema do trabalho engloba muitas coisas, tipo, espelho côncavo. Foi mais esses materiais que usei além do livro didático”. (A13) “Na verdade ele sempre cita esse autor, porque na área de administração ele é muito conhecido, não que ele tenha citado para esse tema, mas ele sempre recomenda para estudar. Então acabei pegando esse livro por isso, porque muitos professores de administração citam o Chiavenato como referência, fui logo nele. Depois pesquisei na internet”. (A14) “Eu procurei outros meios, outros livros além do livro didático, na internet, pessoas que eu já conhecia, principalmente no movimento estudantil e alguns amigos que eu tenho que foram torturados na época da Ditadura, então, foi uma explanação, porque se eu ficasse só com o livro didático, a pesquisa seria muito pequena, e o livro didático não abrange todo o conteúdo, e quando abrange, por vezes é de forma falha”. (A16)
Para Kuhlthau (2010), o professor e o bibliotecário trabalham (ou devem trabalhar)
como parceiros. Sendo assim, o primeiro realiza a estruturação das atividades de
pesquisa, orienta os alunos e o segundo auxilia na realização da busca exploratória,
124
levando os estudantes a identificar a variedade de materiais disponíveis para definir o
foco de pesquisa, entretanto, para a bibliotecária B2, nem sempre existiu essa
variedade de fontes de informação na biblioteca do campus da pesquisa, e o livro
didático era usado como acervo porque era a única opção existente e compatível com
a idade escolar dos alunos entrevistados na época da formação do acervo, no ano de
2012.
Quando questionada sobre “Quais foram suas ações ao constatar que o aluno
pesquisava algum assunto no livro didático?”, constatou-se na resposta obtida pela
bibliotecária B2, que as outras fontes de informação, como os artigos, exigiam um nível
acadêmico muito superior para serem compreendidos e usados como referência para
pesquisa, conforme seu relato:
“Os livros didáticos estavam no acervo, mas a gente não fazia nenhuma ação por conta desse material. Os alunos não faziam pesquisa porque o material era o livro didático, mas era o que tinha no acervo. Não havia opções, escolhas. Ou era o que tinha no acervo ou era a internet. E esses alunos do ensino médio integrado e concomitante não usam portal de periódicos da Capes, por exemplo, porque o nível de artigos que estão naquelas bases não são para alunos que estão no ensino médio, é para nível acadêmico. Não que eles não possam fazer uso, mas você não pode fazer uma pesquisa com um aluno que tem quatorze anos, quinze anos, que tá no primeiro ano mostrando para ele um artigo científico sem ele saber o que é aquilo.” (B2)
Em relação à confiabilidade da internet em relação ao livro didático, quando os alunos
foram questionados se “A informação inicial encontrada sobre seu tema de pesquisa no
livro didático foi relacionada com outras fontes de informação?”, a maioria das
respostas apresentadas se referia ao uso da internet como fonte de informação
complementar à pesquisa solicitada no livro didático, ainda que os alunos tivessem
dúvidas quanto ao seu uso, como apontam os relatos:
“Na internet e também com documentos históricos que encontrei, no caso, fotografias, relatos de pessoas, cartas escritas na época. Achei na internet mesmo, me aprofundei para achar. Não consultei somente o site, fui procurando esses documentos.” (A2) “A gente comparou com coisas de internet, mas tivemos dúvidas na interpretação do conteúdo.” (A3)
125
“Ela, a professora, dizia que na internet não tinha informações confiáveis, por exemplo, no Wikipédia, ela dizia “não confie nesse site”. A gente procurou não se basear em sites da internet porque a gente não sabe a credibilidade”. (A4)
“Eu usei um outro livro e fontes da internet, que no caso, usei para pesquisar imagens e algumas informações mais detalhadas.” (A8)
“O professor, o livro didático e a internet, mas ficamos mais no livro do que a internet.” (A9)
Os elementos mais pesquisados na rede eram imagens ilustrativas, como as
fotografias. A internet foi um recurso utilizado também para comparar dados, entretanto,
foi considerada como uma fonte pouco confiável pelos alunos. Para Kuhlthau (2010, p.
99) “[…] consideram-se pertinentes aqueles cujo conteúdo está realmente relacionado
ao assunto da pesquisa”.
Os relatos de duas estagiárias entrevistadas também vão ao encontro às informações
ditas pelos alunos, quando indagadas sobre “Quais as ações feitas ao constatar que o
aluno pesquisava algum assunto no livro didático?”. Quando não era possível ter
acesso ao livro didático, a internet era uma das fontes de informação mais consultada
na biblioteca, conforme as falas:
“Quando o aluno está procurando algum assunto que não acha no livro didático, falo pra ele a dar uma olhada na internet, e às vezes, acaba achando porque é mais fácil, mas às vezes não é muito confiável, mas fora isso, o livro continua sendo o material mais usado. Em segunda opção, vem a internet”. (E1) “Quando esse aluno me solicitou ajuda, foi buscar primeiro na internet, depois usava a base de dados para localizar algum outro livro quando o livro didático não era suficiente. Então usava o sistema para saber se tinha algum livro que pudesse ajudar em alguma coisa”. (E2)
Apenas uma estagiária recomendou o uso de outros livros que não fossem didáticos,
mas que tivessem uma linguagem mais acessível para auxiliar os alunos em
dificuldades, na etapa de exploração de informações, conforme seu relato:
“Ás vezes quando eles chegavam meio perdidos aqui,
126
perguntavam se eu havia passado pela mesma experiência que eles e pediam para recomendar algum outro livro que o professor não estivesse usando, então eu pegava o livro didático que era usado em sala de aula e algum outro que era bom, mas o professor não usava. Por eu ser mais velha que a maioria do pessoal, eles me pediam opinião, me perguntavam se tinha algum livro mais fácil, porque eles achavam que o professor usava um livro muito difícil em sala de aula. Então uma comunicação assim ajudava eles bastante.” (E3)
A aluna A13 preferiu ter como fonte confiável o próprio professor, que a auxiliou a
selecionar o livro mais pertinente à sua pesquisa, conforme sua explicação:
“Até levei para o professor ver. Tem livro que fala de uma coisa, ai outro livro fala da mesma coisa, só que de uma forma diferente. Dá para entender, às vezes penso que depende da sua maneira de ver. Mas tem outros livros que tem informações muito diferentes. Depende muito do professor escolher em qual livro você tem que pesquisar. Então, levei para ele e ele me direcionou. Só que o livro que ele escolheu era muito complexo, o que me fez optar por outro, que deu para entender melhor.” (A13)
A leitura dos materiais fez com que a aluna tivesse base comparativa para selecionar o
conteúdo mais ininteligível e que atendesse suas necessidades de informação.
Kuhlthau (2010) ressalta a leitura informativa como a primeira estratégia adotada para
explorar o material, possibilitando encontrar conteúdos que se relacionam e conteúdos
controversos ao assunto pesquisado.
Os alunos A12, A16 e A17 exploraram outras fontes de informações como livros
literários e periódicos, o que gerou um processo de reflexão e desenvolvimento de
ideias mais claras e focalizadas sobre o assunto, conforme se referem:
“Esses que falei, da internet, do filme e do livro, e o livro emprestei aqui na biblioteca”. (A12) “Pesquisei na Revista de História da Biblioteca Nacional, que fala especificamente sobre o golpe militar”. (A16) “Teve umas pesquisas que fiz sobre esses animais que me interessou bastante, por exemplo, não me lembro em qual Estado, mas na costa brasileira foi descoberto um novo tipo de animal que
127
ninguém sabia que existia, então assim, descobriram esse animal e se não me engano, só tem cerca de 30 exemplares, é uma coisa muito restrita, então acabei usando esses tipos de pesquisas para acrescentar no meu trabalho, acho que foi a National Geographic”. (A17)
Kuhlthau (2010) ressalta que ideias são ampliadas através da leitura do que outros
escreveram sobre o assunto. Assim, para Peruzzi et al (2010), a apropriação do
conhecimento implica na escolha de uma abordagem metodológica que seja coerente
com o processo de ensino. No caso dos alunos, estes selecionaram fontes de
informação coerentes com a proposta didática passada pelo professor, que era a
pesquisa no livro didático, mas, ao mesmo tempo, estes alunos trouxeram sua visão de
mundo e suas experiências do cotidiano para explorar dados da pesquisa escolar.
5.5.4 Estágio de Formulação
Kuhlthau (2010) define a etapa de formulação do problema de informação buscada
como um processo de direcionamento, de atribuição de um foco de pesquisa ou um
ponto de vista em seus estudos ou pesquisas escolares de acordo com a ótica do
usuário de bibliotecas.
Neste contraponto, Frison et al (2009) ressalta que os conhecimentos escolares
proporcionados pelo livro didático devem possibilitar a tomada de consciência sobre
suas ações e mudança de atitudes, passando a ter entendimento claro da tarefa
incumbida. Após a definição do foco, os estudantes geralmente conseguem continuar a
tarefa de coleta de informações de forma mais independente, etapa relacionada às
respostas dos alunos, quando arguidos: “Você definiu um foco específico para a
pesquisa do seu trabalho ou manteve o tema geral passado pelo professor?”:
“Mantive o tema. Porque o tópico já estava estabelecido.” (A1) “Já sabia alguma coisa e o que a gente conseguiu reunir de novo gerou mais conhecimento. Baseei a busca nos documentos considerando os tópicos que o professor passou, tipo, as armas usadas, os acordos feitos, tipo o Tratado de Versalhes, enfim, imagens que remetessem ao que aconteceu durante e após a Guerra”. (A2)
128
“Tinha um conhecimento bem vago, bem superficial, do ensino fundamental. Detalhamos todas as partes da célula, mas não focamos em nada específico”.(A3)
“A gente pesquisou o que foi passado em sala, então o que a gente sabia foi o que a professora tinha passado em sala. A gente procurou manter o tema geral, porque nesse caso, ela queria explorar as leis do átomo, então a gente procurou se manter fiel a essa lei que ela passou mesmo.”” (A4)
“Eu tive foco por exemplo, em um reino, um filo da biologia, eu fui colocando pelos sistemas digestório (sic) e respiratório do animal. Mantive o foco nessas subclasses. Não conhecia, mas baseado no livro, peguei essas classificações, que facilitou no decorrer da pesquisa.” (A7)
“Normalmente, por causa da característica do professor, não era aconselhado a gente ir além do nosso tema, para não invadir o tema de outros grupos. Não foi feito uma avaliação pra passar o trabalho, então mesmo que o grupo não soubesse nada ou não tivesse um conhecimento prévio sobre o tema, mesmo assim ia ser dado, ia ser construído através do livro didático.” (A11) “O professor recomendou que se mantivesse o foco no meu tema para não atrapalhar o seminário dos outros colegas.” (A12) “Peguei o que ele passou e aprimorei, tipo, a questão do livro, de ter trocado. Questão de colocar curiosidades nos slides, essas coisas. A questão de ser só teoria, procurei colocar mais na prática, tanto que levei os resultados das experiências de laboratório”. (A13)
“Era um assunto que a gente já tinha estudado, era só para esclarecer caso alguém tivesse alguma dúvida. “O foco no caso, foi coisas que não tinha estudado, tive que lembrar da matéria estudada antes.” (A14) “O professor foi esclarecendo ao decorrer do trabalho. Quando a professora passou no quadro, ficou pouco claro, e aos poucos foi esclarecendo”. (A15)
O sentimento do aluno A15 quanto ao objetivo do trabalho era de confiança, pois
percebe-se que tinha domínio do assunto por já tê-lo estudado em algum momento
anterior, portanto, a formulação deste aluno era específico na busca por possíveis
dúvidas que surgissem ao realizar a pesquisa. Kuhlthau (2010) registra que à medida
que escolhem um foco, os alunos conseguem prosseguir com a pesquisa escolar,
129
conforme os relatos apresentados a seguir:
“Eu mantive a minha perspectiva, que é a visão das coisas a partir dos movimentos sociais. Como eu sou do movimento estudantil e tenho afinidade com outros movimentos sociais, eu tomei esse como base como foco, não abrindo mão do tema geral”. (A16)
“Eu tive um foco, porque como é um seminário, nós dividimos partes para cada aluno, ai no meu caso, eu fiquei com o sistema digestório, sistema sensorial sobre a introdução dos peixes cartilaginosos. Foram essas coisas de que fiquei encarregada”. (A17)
Para Maia (2015), cabe ao professor utilizar uma linguagem mais coloquial para o
esclarecimento de conceitos, aproximando o aluno do texto. Para Kuhlthau, o
esclarecimento do assunto a ser pesquisado faz mudar também o sentimento em
relação à pesquisa, criando perspectivas de aumento da confiança e da habilidade em
completar a tarefa.
Kuhlthau (2010) diz que os estudantes precisam ter entendimento claro da tarefa que
executarão. Caso não esclareçam esta dúvida, algumas informações adicionais
deverão ser buscadas até que estejam capacitadas para defini-lo. Apesar de terem
passado por todas as etapas de pesquisa até então, os sentimentos dos estudantes
A15 e A17 eram de dúvida e confusão, pois a busca exploratória não foi
suficientemente clara para que ambos sentissem segurança em avançar na pesquisa.
Kuhlthau (2010) ressalta que os referidos sentimentos podem surgir em qualquer etapa
da pesquisa, correspondendo a alguma falha nas etapas anteriores.
Quanto à definição do foco, que se constitui em uma tarefa importante nesta etapa,
apenas quatro alunos responderam satisfatoriamente que conseguiram definir um foco
de pesquisa utilizando o livro didático, entretanto, o professor orientou que a definição
do foco não ultrapassasse o que seria abordado pelos demais alunos.
As respostas dos alunos correspondem ao que Kuhlthau (2010) analisa sobre a
definição do foco, que uma vez definido, os estudantes não deverão dar atenção àquilo
que não pertence ao assunto, delineando a coleta de informações direcionadas ao
foco, o que vai ao encontro à fala do bibliotecário B1 quando é questionado: “Ao
130
constatar que o aluno pesquisava um tema que era muito específico no livro didático,
você o orientou para que este definisse um foco de pesquisa?”:
“Eles já vieram com o foco pronto, formulado, não houve essa necessidade de orientar qual seria o foco da pesquisa. Um assunto pode estar presente em outras áreas, a gente tentava especificar somente naquilo dali, em qual área era, mas sem expandir muito.” (B1)
Para os auxiliares de biblioteca AUX 1 e AUX 2 e às estagiárias, as percepções foram
diferentes, quando questionadas: “o objetivo do trabalho ficou claro para o aluno desde
o início?”:
“Normalmente ele chega com o título do assunto. Às vezes ele nem sabe em que área do conhecimento está, só tem o assunto do conteúdo que eles precisam, não conhecem ainda. Outros não, já sabem direitinho o que querem, já sabem associar. Os que não sabem procurar, chegam querendo saber alguma coisa básica ou a teoria de algum assunto, eles pedem direto sobre o assunto, mas como se fosse a representação do professor, mas que não sabem de nada, chegam aqui crus, em busca daquele único tema ou palavra-chave”. (AUX 1) “Depende de cada aluno, de cada caso. Dependendo da situação, ele ficava perdido em encontrar o material. Na cabeça dele, tinha clareza em procurar o material. Me lembro de casos de quando o assunto era muito específico, a dificuldade de encontrar no livro era maior, em alguns casos, os alunos pediam ajuda”. (AUX 2) “Acho que isso é muito relativo, porque tem alunos que chegam aqui e sabem exatamente o que tem que fazer, e outros, já por conta do professor, ou porque faltou aula e algum colega explicou, chega aqui meio perdido, mas depende muito. Eu tento sempre ir perguntando o que eles estão estudando porque às vezes eles faltam às aulas e chagam muito perdidos, só chegam com o nome e preciso pesquisar sobre tal matéria, mas não sabem mais nada sobre. Então a gente mostra o livro didático como uma forma de achar o foco, fazendo uma filtragem das informações até encontrar o que ele estava precisando”. (E1) “Eu percebia que os alunos que queriam uma informação para ontem, chegavam muito perdidos, principalmente os alunos da agroindústria. Como as matérias são muito parecidas, eles chegam aqui pedindo livro de uma matéria, mas, na verdade, é
131
para outra. Eles perguntavam, mas como já tinha experiência, identificava que aquele livro didático era para outra matéria, não o que ele estava buscando”.(E3)
Esses dados demonstram, a partir da perspectiva de Campello (2005b) que as
estratégias mais utilizadas pelos alunos, baseados na estratégia de aprendizagem do
professor, seriam listar tópicos importantes, e realizar levantamento com informações
fragmentadas, baseadas na própria estrutura do livro didático, e após o processo de
coleta, cada membro das equipes de trabalho contextualizaria as informações
encontradas, fato que era notado também pelos profissionais da biblioteca, quando
questionados: “Qual foi a sua primeira ação quando o aluno solicitava auxílio à
pesquisa quando a fonte de informação era o livro didático?”:
“Na verdade, a gente procura passar o máximo de conteúdo sobre aquele tema que o aluno tá pesquisando. Tem alguns casos em que o aluno vem com os tópicos e outro livro apresenta um tópico mais esclarecido. Eu faço assim, passo pro aluno os tópicos que ele está procurando, mas procuro complementar com tópicos mais detalhados”.(AUX 1) “Geralmente eles já vinham com os tópicos, só ajudava a aprofundar a pesquisa baseada no que eles traziam”. (AUX 2)
“Geralmente é só um tópico mesmo, eles mesmo chegam com essa base, de querer pesquisar sobre tal coisa, ai só oriento mesmo de como chegar até o livro ou outra fonte”. (E1)
“Eu gosto de trabalhar com tópicos, então sempre eu auxiliava nisso, porque ficava mais fácil a organização do assunto, então organiza o trabalho também como um todo”. (E2)
“A gente sempre pegava o tema geral, a gente poderia olhar os livros em que era mais fácil de encontrar e depois olhava os tópicos. Tem livros didáticos aqui na biblioteca que são muito fáceis, são menos técnicos, então era mais fácil chegar pro aluno e falar que era para ele ler e contextualizar com o tema dele e absorver mais o assunto, era basicamente isso”. (E3)
Ao definirem o foco de pesquisa, os alunos devem considerar as especificidades do
trabalho solicitado pelo professor e confrontar esses conteúdos com os temas pessoais
de interesse (KUHLTHAU, 2010), o que ocorreu com os alunos, pois, apesar de
cumprirem com a exigência do professor, aplicaram no contexto do trabalho seu
132
interesse pessoal pelo tema. Para Kuhlthau (2010), durante a fase da definição do foco,
os estudantes extraem ideias de leituras anteriores, e começam a desenvolver a visão
pessoal sobre o assunto, conforme os seguintes dizeres:
Os alunos evidenciaram a necessidade de pesquisar mais sobre o assunto antes de
definirem o foco de pesquisa, pois para Santos (2007, p. 21), “[…] nenhum material
didático, independente de sua proposta pedagógica, ultrapassa as barreiras e o
„engessamento‟ (grifo do autor), do suporte em que é produzido”, por conseguinte,
apenas com o conhecimento proporcionado pelo livro didático, o aluno não terá
autonomia para desenvolver seu senso crítico quanto à possibilidade de escolha de
outras fontes de informação que podem complementar sua pesquisa escolar.
A definição do foco é baseada no que já sabem ou desejam saber, e o livro didático
pode ser o norte de pesquisa, uma vez que sua estrutura permite a seleção de
assuntos sem uma contextualização profunda, apenas a “[…] contextualização
considerada importante para o trabalho com os alunos” (SANTOS, 2007, p. 90)
Após a definição do foco, para alguns estudantes, o livro didático permaneceu como a
principal fonte de pesquisa, pois como é observado por Kuhlthau (2010, p. 139), “[…]
os estudantes devem estar dispostos a abandonar algumas possibilidades de
pesquisa”, o que não ocorreu com estes alunos, pois, devido à influência da autoridade
do professor, o mesmo foco era mantido quando o trabalho era em grupo. Ao ser
perguntado se “No momento que o aluno definiu seu o foco da sua pesquisa, o livro
didático permaneceu como fonte principal de pesquisa ou ele passou a utilizar outros
materiais?”, apreendeu-se que os estudantes permaneceram com o uso do livro
didático, embora complementassem as informações pesquisadas, conforme a
afirmação de B1:
“O livro didático permaneceu sim como fonte principal, porém, eles utilizaram outras fontes, como o meio digital, a internet e os materiais que atendem ao núcleo técnico.”(B1)
A maioria das falas dos demais profissionais remetem à opinião expressa pelo
bibliotecário B1: “Permaneceu muitas vezes” (AUX 1); “Muitas vezes sim” (AUX 2);
“Ficava mais claro o assunto quando ele vinha através de tópicos” (E1).
133
Entretanto, para duas estagiárias, E2 e E3, que dependendo do assunto, os alunos
discerniam melhor as fontes de informação que poderiam utilizar, direcionando e
moldando as escolhas que fazem ao longo do processo de coleta de informações.
“Depende do assunto, mas geralmente o aluno tem que consultar mais de um livro didático, porque cada livro didático tem uma abordagem diferente. Eles tratam do assunto de modo mais superficial, mas sempre aprofundam em um ponto ou outro, só que cada livro aprofunda em um ponto diferente e depende da visão de cada autor”. (E2) “Eu percebi que o aluno deixou o livro para pesquisar na internet, quando era uma coisa mais específica. Um livro que fala por exemplo, de doenças, dengue, ele vai pesquisar no livro as causas, os sintomas, mas se ele quer imagens do mosquito e dos criadouros, ele já vai para a internet porque é mais específico”. (E3)
Alguns alunos, quando questionados se “Após a definição do foco, o livro didático
permaneceu como fonte principal de informação?”, responderam positivamente,
embora complementassem com outras fontes informacionais:
“Analisei o texto e o esquema de organização dele, depois formulei o resumo da minha explicação, utilizando tanto o livro didático quanto a internet.” (A1) “O livro didático continuou como fonte principal, os documentos eram complemento da pesquisa dos tópicos”. (A2) “Eu passei a utilizar outros materiais pra somente confirmar, e eventualmente ver com outras palavras o tema que estava sendo abordado. Porque o livro didático foi bastante claro quanto a classificação ao decorrer da matéria.” (A7) “Sim, com certeza, eu só troquei de livro didático, peguei um outro com o mesmo assunto, mas de forma mais fácil, entendeu?” (A13)
Entende-se pelas respostas apresentadas pelos alunos, principalmente os alunos A11 e
A12 que o foco da pesquisa no livro didático é mantido devido à influência da
autoridade do professor como o sujeito responsável pelo direcionamento do
conhecimento obtido pelos alunos. Neste sentido, o foco da pesquisa delineado pelo
134
livro didático está relacionado aos conhecimentos e prática pedagógica docente.
“Permaneceu como fonte principal, mesmo porque era a fonte citada pelo professor, e ele até dividia, colocava a página de tal a tal do grupo um, por exemplo, então a gente manteve o foco nesse material, pra não sair dele. A gente tinha o pensamento de que o professor havia lido, e concordava com as informações do livro didático. Então, a gente não saiu desse foco, apesar disso, lembro que a gente fez algumas pesquisas na internet de algumas coisas que não tinham no livro, por exemplo, se um nome era citado no livro, mas não tinha um contexto, a gente pesquisou esse nome para saber de onde vinha e porque estava sendo usado. A gente colocou o significado daquilo ou algo do tipo, para ficar mais esclarecido”. (A11) “Foi o livro que o professor passou, não podia usar outro” (A12)
Segundo Souza (1999, p. 28) “[…] a maneira através da qual o conhecimento está
organizado no livro didático revela a expectativa de ter o professor enquanto seu
principal reagente, condutor ou controlador”, entretanto, Kuhlthau (2010) recomenda
que os estudantes discutam com o professor e o bibliotecário.
Com o primeiro, para se certificarem que o foco está de acordo com os objetivos do
trabalho, e com o segundo, para terem a certeza de que o assunto possui conteúdos
relevantes na coleção da biblioteca ou é aprofundado na internet ou em outras fontes
de informação. Kuhlthau (2010) ressalta que o trabalho em conjunto entre o professor e
o bibliotecário pode auxiliar os estudantes a aprender modos de definir o foco,
recomendando estratégias que foram bem-sucedidas em outras pesquisas,
incentivando os alunos a se tornarem competentes na definição deste foco.
O livro didático na cultura escolar, na análise de Santos (2007, p. 62) “[…] é um bem
material porque é algo concreto para trabalhar e também é simbólico, porque faz com
que o aluno perceba que está aprendendo”. Esta cultura deve ser usada pela biblioteca
escolar, buscando com os alunos as suas estratégias de aprendizagem com o uso
deste material, para que a biblioteca escolar possa utilizar esta ferramenta para inserir
o aluno na prática da pesquisa. Os alunos utilizaram o livro didático como fonte
principal de informação para realçar estratégias de facilitação da aprendizagem do
conteúdo, comparando fontes ou fazendo resumos.
135
Kuhlthau (2010) diz que muitos estudantes utilizam estratégias próprias para focalizar a
pesquisa, de forma a organizar o pensamento. Logo, a estratégia de fazer resumos ou
utilizar fontes para dar suporte ao conteúdo do livro didático é amplamente utilizada
para facilitar a aprendizagem dos conteúdos. Santos (2007) defende que a pesquisa
escolar devem possibilitar as investigações nas vivências escolares reais, no cotidiano
escolar, transformando-se em um aspecto da cultura escolar.
5.5.5 Estágio de Coleta de Informação
Como tarefa atribuída ao quinto estágio do processo de pesquisa, a coleta de
informações constitui-se à reunião de fontes que se relacionam ao foco, devendo
iniciar-se apenas quando o aluno consegue defini-lo claramente. Kuhlthau (2010, p.
154) ressalta que os estudantes devem “[...] aprender estratégias de usar fontes de
informação variadas para reunir material sobre o foco”, ou seja, usar estratégias
cognitivas para refinar e adaptá-lo, de acordo com informações que coletam.
A autora diz ainda que no estágio de coleta de informações, as escolhas relacionadas
ao foco de pesquisa requer o uso da habilidade de pensamento abstrato, considerada
uma das competências de aprendizagem mais complexas que os estudantes podem
adquirir, e muitos deles só conseguem formar esta competência aproximadamente aos
doze anos de idade, ou anos mais tarde (Kuhlthau, 2010). Observa-se nas respostas
atribuídas aos alunos que a estratégia da coleta baseou-se em índices e sumários dos
livros didáticos, quando questionados: “Como o livro didático auxiliou você a localizar a
informação que precisava?”:
“Ele é dividido em tópicos, sumários e também apresenta ilustrações e mapas para facilitar a localização do conteúdo”. (A1) “As legendas das imagens remetiam a links da internet onde eu encontrei as imagens com informações mais completas em relação aquele assunto, aquele momento retratado naquela foto”. (A2)
“Eu acho que estava bem organizado. Olhando no sumário, você vai direto na informação. Foi fácil de localizar e auxiliou” (A3)
136
“Auxiliou sim, a gente olhou no índice do livro e ai encontramos com facilidade, no título que indicava, no caso os modelos atômicos”. (A4) “A estrutura dele era fácil de achar o assunto”. (A5) “O livro didático tem o tema, falando no geral, os subtítulos, muito bem explicado, objetivo, tudo o que estava precisando mesmo. Abrangeu todo o tema” (A6) “Ele foi de suma importância, pois o livro apresentava dados, tabelas, fazendo sempre uma comparação entre um sistema e outro de animais diferentes daquele grupo”. (A7)
“Auxiliou por causa do índice. Tem alguns livros que eram confusos, tem muito tema e a gente não consegue achar um. Mas no caso desse, tava bem estruturado, tava o tema geral, e depois especificava os tópicos”. (A8)
“Ajudou bastante, na organização né? Porque o trabalho é uma meta, digamos assim, queria terminar logo. Começou com a introdução, depois já foi dividindo os temas, então pra gente foi melhor seguir mesmo o esquema do livro”. (A9) “Sim ajudou, tipo, as coisas que a internet dava eram muito desorganizadas, então usei o livro para me ajudar a ter uma base pra organizar, porque trazia coisas mais resumidas”. (A10)
“Auxiliou demais, primeiro peguei aquele monte de livro de física e procurei sobre o tema, e o que melhor representou a questão da escrita, das imagens, e outras coisas, me direcionou na escolha”. (A13) “Ele auxiliou trançando quais pontos principais a serem pesquisados, né? (A15) “Ajudou, mas a pesquisa em si é muito rasa”. (A16)
Os índices e sumários dos livros didáticos são de grande auxílio à busca de
informação, pois aprendendo a manuseá-los, entretanto, Kuhlthau (2010, p. 164) diz
que “[...] muitos estudantes não sabem como localizar informações sobre um foco
utilizando índices de livros, não se tornaram competentes no que diz respeito àquela
habilidade e precisam de mais prática.“, no entanto, o observado nas respostas dos
alunos A1, A3, A4 e A8 por exemplo, é que a maioria sabe utilizar os índices e
137
sumários, orientam-se por esquemas, pela organização, dentre outros aspectos.
Inclusive, citam que esta ferramenta auxiliou-os a encontrar as informações mais
rapidamente.
Os relatos dos alunos em relação às estratégias de busca pelas informações
apresentadas pelo livro didático são direcionados à organização do material em tópicos
e subtítulos, constituindo-se como estratégias cognitivas, definidas por Williams (1997,
p. 34, tradução nossa) como “[...] processos mentais diretamente relacionados com o
processo de informação para aprender, isto é, para obtenção, armazenamento,
recuperação e uso da informação”. Em outras palavras, estas estratégias ressaltam as
habilidades em refletir como aprender, ou seja, a construir seu próprio conhecimento.
Para esse autor, o professor em sala de aula que faz uso do livro didático como recurso
de aprendizagem, deve desenvolver exercícios que incentivem o desenvolvimento de
estratégias cognitivas, criando a oportunidade de inserir o aluno em uma perspectiva
crítica, desenvolvendo a capacidade de raciocínio e resolução de problemas.
Kuhlthau (2010) ressalta que a busca de informações de maneira eficaz exige que o
estudante tenha compreensão de como elas são organizadas. Geralmente, os tópicos
apresentados pelos livros didáticos, são utilizados como palavras-chave, constituindo-
se como termos de busca no assunto geral, conduzindo posteriormente às informações
sobre o foco de pesquisa, conforme as afirmações dos alunos abaixo apresentadas:
À medida que os estudantes vão delineando os pontos-chave da pesquisa, aprendem
também a utilizar os suportes não-textuais, como as imagens, e relacioná-las com
fontes de informações mais atualizadas, como os periódicos, ou mais hipertextuais,
como a internet.
Para os auxiliares de biblioteca e os estagiários, essas estratégias de busca de
informação a partir do livro didático não eram consideradas suficientes para encontrar
informação e buscavam outras fontes, quando questionados se “O livro didático
auxiliou o aluno a localizar a informação que precisava?”:
“Dá uma base, mas não é suficiente. Só indico outra fonte se não encontrar a informação no livro didático, ai oriento a busca em periódicos ou na internet.” (AUX 1)
138
“Eles utilizavam todas as fontes disponíveis na biblioteca, não só o livro didático. Em alguns casos específicos, História, por exemplo, havia uma grande variedade de livros didáticos de história, então se o aluno não encontrava o assunto em um livro específico de história, ele partia pra outro. Existiam livros de várias editoras.” (AUX 2)
“Quando o aluno não acha o assunto, a gente sempre recomenda a internet, mas é difícil saber se a informação é realmente confiável, ou se é certo a informação que ele encontra.” (E1)
“Muitas vezes o professor de história trazia os alunos para a biblioteca para usar os livros didáticos para preparar seminários. A gente disponibilizava as revistas como a NatGeo, Istoé, Veja, que trata de política, então a gente pegava os livros didáticos e as revistas, ai ficava mais fácil de interagir esses materiais.” (E3)
Entretanto, de acordo com a afirmação do bibliotecário B1, quando questionado se “Em
algum momento da pesquisa, o aluno buscou o serviço de pesquisa orientada?”, o
profissional informa que em nenhuma pesquisa envolvendo o uso dos livros didáticos,
os alunos procuraram o serviço de pesquisa orientada, pois os próprios não possuem
vínculos com a biblioteca para fazer solicitações desta natureza ou porque não tiveram
os devidos treinamentos para aprenderem a utilizar as fontes de informação da
biblioteca, optando por seguir as estratégias de acesso à informação do livro didático,
como os índices, sumários, esquemas, dentre outros, conforme demonstra seu relato:
“Não tivemos solicitações nesse sentido. Exceto quando o aluno cria vínculos com a biblioteca, no caso quando você já atendeu alguma vez este aluno com uma necessidade informacional. São situações que aconteceram com alunos que foram diretamente ao acervo, procuraram e não encontraram, aí pediram ajuda à equipe da biblioteca, e acabou criando esse vínculo com o atendimento, passando a perguntar pelos assuntos que precisa. Quando a gente trabalha com essa questão da educação do usuário, no sentido de mostrar que ali tem um a equipe qualificada, que pode auxiliar no processo de busca e recuperação da informação, ele não vai mais direto ao acervo, ele passa pelo atendimento e pergunta se há algum material que trate de determinado assunto. Tivemos algumas experiências de alunos que no primeiro contato com a biblioteca eles foram diretamente ao acervo, não encontraram o material, e quando um servidor foi até ali, conseguiu disponibilizar para esses alunos o material, e na próxima vez que esses alunos voltaram na biblioteca, não foram mais diretamente ao acervo, eles foram ao setor de atendimento e perguntaram se existia ou não o material que atendesse as
139
necessidades específicas deles. Acho também que a equipe da biblioteca tem que promover esses treinamentos, de busca orientada. Isso é geralmente feito no início do ano letivo, passado para os alunos todos os produtos e serviços oferecidos pela biblioteca, entre eles, o serviço de busca orientada”. (B1)
Ao confrontar a informação trazida pelo bibliotecário B1, seis alunos entrevistados,
desconhecem o conceito de pesquisa escolar. Ressalta que muitos estudantes, de
acordo com Kuhlthau (2010, p. 169) “[...] não compreendem como o bibliotecário pode
ajudá-los no processo de pesquisa”. A autora destaca que os alunos precisam de
orientação sobre como explicar sua necessidade de informação, podendo adquirir
posteriormente um grau de independência no uso de bibliotecas e fontes de
informação. Outros alunos, quando questionados se “Em algum momento do seu
trabalho, você utilizou o serviço de pesquisa orientada, oferecido pela Biblioteca?”.
Afirmam que conhecem e utilizam o serviço, conforme os relatos a seguir:
“Sim, conheço o serviço de acesso à internet, a questão de ajudar na busca no acervo, o catálogo e os multimeios, que são os CDs e DVDs né? Logo que entrei aqui a biblioteca fez tipo um boas-vindas pros alunos falando disso. Mas para esse trabalho não precisei, mas outros que já fiz, pude contar com esse serviço”. (A12) “Na hora de consultar o catálogo da biblioteca, a estagiária veio e me ajudou”. (A13) “Eu pedi ajuda na hora da formatação do meu relatório, foi até para você” (risos) (A14) “Só em relação às pesquisas na internet, que tem que ter cautela, mas fora isso, foi tranquilo. A “S”. me ajudou em relação a alguns sites, a escolher melhor o mais confiável”. (A16) “Um dos livros que usei é da biblioteca daqui. Para chegar até o livro, eu pedi ajuda da “M”, a estagiária. (A17)
Os alunos citados já possuem vivências mais significativas na pesquisa escolar na
biblioteca, reconhecendo que precisam de informação e solicitando auxílio para acesso
às fontes de informação ou de como recuperá-las. Entendem que precisam
140
compreender o universo informacional e precisam ter experiência em utilizar os
recursos disponíveis. As respostas demonstram que o livro didático foi capaz de
incentivar a pesquisa escolar em fontes mais aprofundadas.
Considerando aspectos relativos à visão do universo informacional disponível na
biblioteca, Kuhlthau (2010) informa a necessidade de aprender a utilizar instrumentos
de acesso para encontrar informações, como em obras de referência. Para Kuhlthau
(2010, p. 159) “[…] é necessário estimular os alunos e torná-los conscientes quanto à
existência da variedade de materiais e desenvolver hábitos de pesquisa para explorar
as diferentes fontes do acervo”, o que foi feito por alguns alunos quanto ao uso do
dicionário, quando questionado a eles se “além do livro didático, você utilizou alguma
obra de referência para fazer a pesquisa?”, as respostas obtidas foram as seguintes:
“A gente usou dicionários, sem esse material a gente não ia conseguir fazer o trabalho, mas a gente não tinha um conhecimento tão amplo e ajudou a esclarecer”. (A4) “Utilizei outros livros que me remeteram às palavras diferentes. Usei também dicionário online”. (A7) “Utilizei o dicionário para buscar o significado de algum termo que não tenha entendido” (A11)
As obras de referência, como os dicionários, citados pelos alunos A4, A7 e A11 podem
conter uma riqueza de informações sobre o foco de pesquisa. Kuhlthau (2010) diz que
a busca em fontes variadas de informação exige tempo, interesse e estímulo
investigativo para que o aluno sinta motivação de levar a pesquisa até o fim. Em
relação ao uso de termos de pesquisa no livro didático, os alunos recorreram também
na fase de coletas, à internet.
O hipertextual está muito presente na pesquisa escolar. Os livros didáticos atuais, nas
palavras de Barros-Gomes e Silva (2000), estão adotando a mesma organização que
uma página da internet, articulando na mesma página impressa do livro didático com
diferentes conteúdos, materiais e interesses. Para os referidos autores, “[...] o visual
das fotos é complementado pelo verbal ou vice-versa, que se dispõe em plaquinhas ou
141
quadros ancorados em diferentes pontos, que funcionam como organizadores textuais”
(BARROS-GOMES; SILVA, 2000, p. 8). Esses recursos são utilizados para
contextualizar objetivos de conhecimento, pressupondo geralmente os gêneros de
reportagem, quadrinhos e curiosidades, além da apresentação didática comum, o que
desperta bastante interesse no momento da coleta de informações. Outros alunos
responderam que não utilizaram obras de referência, recorreram direto à internet,
conforme as exemplificações a seguir:
“Somente fontes da internet. Ajudou na parte de imagens, vídeos” (A9) “Só a internet. Ajudou muito, é porque um vai confirmando o outro, tipo, se uma informação não estava no livro didático, estava na internet, era um complemento”. (A13) “Eu usei o computador e a internet, fiz o trabalho aqui na biblioteca. Eu até peguei outros livros de administração, mas não me lembro quais são. A base mesmo foi nesse livro didático do Chiavenato”. (A14)
A representação de textos e imagens trazida pelo livro didático caracteriza um novo
gênero, o de tarefa escolar, fazendo com que os alunos sintam-se mais familiarizados
com a internet do que com um acervo da biblioteca escolar. Entretanto, as fontes
hipertextuais não foram utilizadas por todos os alunos. O aluno A16 ressaltou em sua
pesquisa, o uso do periódico:
“Como já mencionei, utilizei a revista de história da biblioteca nacional, que traz de uma forma mais ampla e de outras perspectivas o mesmo fato que a partir da revista e do livro didático, eu consegui fazer um consenso de informações, para que o foco pudesse ser mantido”. (A16)
Kuhlthau (2010, p. 165), explica que os alunos “[...] seguem suas conjeturas e as
testam para verificar sua exatidão”, nesse sentido, a exatidão da escolha do material,
no caso da revista, pelo aluno A16 reforça que à medida que os alunos vão ficando
mais experientes, buscam um conteúdo de acordo com suas ideologias e refletem mais
a respeito da utilidade do material para a interlocução de informações, fazendo
comparações entre um conteúdo e outro.
142
Em relação às dificuldades no estágio da coleta, notou-se nas falas dos alunos, que
eram relacionadas à escassez de acervo, e a localização da obra ou assunto ao
consultar a obra, conforme se refere a pergunta: “Qual foi sua maior dificuldade no
processo de coleta de informações?”:
“Na época não tinha bibliotecário né? A gente sentiu dificuldades porque tinha pouco acervo, era os livros que a gente usava na sala mesmo. Não tinha tanta variedade de materiais para comparar assunto. Mas o livro didático usado era o mesmo do nosso dia a dia, já sabia manusear.” (A3)
“Como estava no primeiro ano, não sabia como funcionava a biblioteca, e a gente precisou levar livro para casa. A gente consultou sim, mas tive dificuldade em achar o livro no acervo. Não lembro quem consultei, mas acho que foi uma menina, uma estagiária, “F”., o nome dela. Ela levou a gente lá, onde se encontrava os livros, e explicou que tinha vários autores e que podia encontrar o que estava procurando lá, ela ajudou a procurar também. Deu a dica que qual livro a “R.” costumava usar, já que a “F”. tinha estudado com ela. O segundo momento foi quando ela fez o nosso registro na Biblioteca e a gente pôde levar os livros para casa.” (A4)
“Só na hora mesmo de procurar o livro, ai pedi ajuda pro estagiário e ele trouxe.” (A10) “Pedi ajuda só da estagiária, que estava ali no momento. Também perguntei se tinha livro novo, qual livro os alunos mais pegavam, quais o bibliotecário recomenda, essas coisas, me ajudou muito.” (A13) “Eu senti dificuldades assim, quando eu pego o livro e vejo que o tema é bem amplo, e tinha várias partes que não havia colocado no trabalho, então não sabia se tinha que colocar ou não no trabalho. Ai você tem que ler e pesquisar para saber se vale a pena colocar ou não. Mas não pedi ajuda, tinha que entregar esse relatório logo.” (A14) “Dificuldade sim, falei com o “M”. (Bibliotecário), ele me ajudou a localizar o livro e me deu uma orientação sobre qual melhor caminho pra seguir com aquele livro. Era um livro de Maquiavel. Eu gostei, melhorou o trabalho, foi melhor do que eu pensava.” (A15)
143
“Não, porque....olha...para eu achar biologia, não. Mas, para eu achar o meu tema, tive que folhear os livros ou localizar através do sumário, porque não dá para saber o que tem no livro só pela capa. Na verdade, senti dificuldades em localizar o livro que se adequasse ao meu tema. Mas para achar o assunto biologia, segundo ano e tal, aqui é bem organizado. Pedi ajuda da “M.”, (ex-estagiária), ela foi dividindo comigo os livros pra achar, ela me ajudou basicamente folheando todos os livros até achar um que correspondesse ao que eu pesquisava.” (A17)
Kuhlthau (2010) diz que as dificuldades em encontrar o assunto ou o tema na biblioteca
escolar estão relacionadas à finalidade do catálogo como instrumento exclusivo usado
para localizar material do acervo da biblioteca. Para a autora, somente o uso do
catálogo torna a pesquisa muito limitada em relação aos resultados encontrados. Nota-
se que os estudantes não possuem dificuldades em localizar a obra, entretanto,
possuem dificuldades quanto ao seu manuseio.
Apesar de o livro didático possuir sumários e índices, se não são familiarizados com o
sistema de organização da biblioteca, ficarão com sentimentos de confusão e dúvida
quanto precisarem utilizar o catálogo. Kuhlthau (2010) afirma que uma estratégia que
pode ser usada, é aquela em que o estudante pode utilizar o número de chamada que
encontrou no catálogo para encontrar outros livros que abrangem o mesmo assunto.
No entanto, é necessário que o bibliotecário esteja atento para possíveis dificuldades
quanto ao processo de busca por informação.
O papel do bibliotecário é fundamental neste processo, porém, os bibliotecários que
não possuem familiaridade com os estudantes que não solicitam ajuda ou auxílio,
podem passar despercebidos e favorecerem a construção de uma imagem negativa da
biblioteca, pois o setor não conseguiu auxiliar os alunos em sua necessidade
informacional.
A pesquisa escolar deve contribuir para a produção e enriquecimento do conhecimento.
“[...] a pesquisa escolar como estratégia de aprendizagem baseada no questionamento,
deve possibilitar ao aluno desenvolver habilidades de escolha de temas e de fontes de
informação e de utilização de recursos que ajudem a clarear suas ideias” (KUHLTHAU,
144
1991 apud ABREU, 2005, p. 26).
Entretanto, outros estudantes demonstraram mais independência no momento da
coleta de informações, considerando a facilidade, a sinalização do acervo e a oferta de
auxílio à pesquisa escolar, de acordo com as seguintes afirmativas:
“Não, aqui na biblioteca é muito bem informado, se perguntar no balcão, a moça leva a gente até o acervo, nas estantes têm descrito o assunto, a organização, é isso.” (A6) “É bem clara a classificação nas prateleiras, até mesmo a sinalização na parte da biologia, como biologia molecular, biologia animal.” (A7) “Não foi necessário ajuda, foi fácil achar.” (A12)
Esses alunos (A6, A7 e A12) demonstram ser mais independentes no momento da
busca e recuperação da informação, relacionando suas habilidades de uso do livro
didático com o despertar da necessidade de ampliar suas fontes informacionais, o que
vai ao encontro ao pensamento de Campello (2009) “[…] o letramento informacional
pode embasar estratégias didáticas que ajudem as pessoas a aprender com a
informação” (CAMPELLO, 2009, p. 9).
Portanto, a biblioteca escolar vem constituindo-se como um organismo imprescindível
no desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais competente, representando a
formação de leitores e pesquisadores, que são capazes de “[…] além de decifrar o
código linguístico, saber interpretar o que leem, encontrando significados no texto e
desenvolvendo práticas de intextualidade” (CAMPELLO, 2005b, p. 17)
Em relação aos sentimentos expressos durante a realização da pesquisa, grande parte
dos entrevistados sentia otimismo. Para alguns alunos, os sentimentos eram mistos,
conforme podem ser verificados nos relatos, quando questionados sobre “O que você
mais difícil durante a realização do seu trabalho? Porque você teve esse sentimento?”:
“O mais difícil foi o assunto abordado, porque eu não conhecia.” (A5)
145
“Olha, olhando assim, não tive muita dificuldade. Esse trabalho valia 15 pontos e consegui alcançar os 15 pontos. Creio que foi difícil somente a parte de estranhamento inicial, de somente ler o nome e não saber do que se tratava. A partir do momento que fui estudando sobre o tema, foi aprofundando minha visão.” (A7) “Acho que dar início ao trabalho. Porque a gente fica meio perdido, não sabia muito bem por onde começar. Mas como você tinha um aparato ali, na biblioteca, a internet, por exemplo, você joga o tema ali, aparece inúmeros resultados e você tem que achar um site certo pra iniciar o trabalho. No livro didático não, você já tem o assunto ali, é mais confiável.” (A8) “No caso não foi tão difícil fazer o trabalho, foi difícil o tema mesmo, mas, quando peguei o livro didático, logo procurei e achei, ficou claro a leitura, foi de fácil compreensão.” (A9) “Eu não sabia quase nada do tema, nada muito específico, a primeira coisa foi o susto, assim, de ter que discutir previamente o tema, porque a gente não estava com o livro. Enquanto as pessoas da minha equipe buscavam os livros na biblioteca, outras já estavam discutindo os seus temas, e parecia que uma pessoa sabia bastante e eu não sabia nada. E minha dificuldade foi essa, de ver que outra pessoa já sabia e eu não, tipo, tinha perdido tempo. Mas logo esse incômodo passou, pois ao ler o livro, já deu pra pegar bastante coisa.” (A11)
Os sentimentos alunos A8, A9 e A11 eram de confusão, estranhamento, susto,
incômodo e incerteza, pois não seguiram as etapas anteriores à coleta de dados, como
a iniciação, exploração e formulação. A maioria destes alunos seguiu diretamente para
a fase de coleta de dados após a seleção do assunto, pois o livro didático proporciona
uma base de pesquisa muito simples, que não precisa de aprofundamento nas
pesquisas em livros mais específicos, mesmo que o aluno não tenha conhecimento
sobre o tema. O aluno A11, ao contrário dos demais, reconheceu que não conhecia o
assunto, mas não tinha o livro didático para dar a base, e a impressão para este aluno
foi de que o processo de busca de informação na biblioteca escolar caracterizava-se
como perda de tempo.
Conforme Kuhlthau (2004), normalmente os estudantes são inclinados a irem
146
diretamente para a fase de coleta de informações (coleção) assim que selecionam o
tópico de pesquisa (seleção). Todavia, o mais importante a se fazer nesse momento,
segundo Kuhlthau (2004), é ler e refletir sobre o tópico, listar fatos importantes e ideias
interessantes, com o objetivo de estabelecer um foco para a pesquisa, conforme foi
feito por dois alunos:
“Foi difícil formular a minha explicação com início, meio e fim, para que todos entendessem bem o que estava explicando e também formular a estrutura da explicação de maneira lógica”. (A1) “A dificuldade foi formular o conteúdo, porque na hora acaba tendo muita coisa, né? Ai pra colocar no trabalho e tal, pra não passar além do que a professora deu, e também para não faltar o que ela pediu”. (A10)
A delimitação do conteúdo foi um resultado significativo, pois para Kuhlthau (2004), na
ânsia de irem direto para a fase de coleta de informações, os estudantes acabam por
ignorar este momento. Apenas dois alunos, dos dezessete alunos entrevistados,
afirmaram que sentiram dificuldades na definição do foco. Foi possível perceber que o
foco da pesquisa no livro didático já foi atribuído pelo professor e os dois alunos que
procuraram ir mais além, evidenciaram o sentimento de nervosismo em relação ao
tempo reduzido para a entrega do trabalho como elemento de dificuldade para
ampliação do assunto.
Outros alunos procuraram compactar o conteúdo pesquisado, com o objetivo de
responder aos sentimentos de ansiedade e confusão quanto ao conteúdo extenso,
conforme revelam suas falas:
“Acredito que era assim: a gente precisava fazer um trabalho rápido, de vinte minutos, a dificuldade foi compactar, às vezes era difícil de interpretar o assunto.” (A3)
“O mais difícil foi na hora de resumir o trabalho porque era um tema muito extenso. O livro didático dava muita informação e a gente fica sem saber se aquela informação é tão importante quanto a gente acha que é. Se é isso mesmo que o professor quer. São dúvidas normais de todos os trabalhos, se está completo.” (A6)
147
A estratégia de compactação ou de resumir partes de um conteúdo responde duas
dificuldades enfrentadas pelos estudantes: o tempo reduzido para elaboração da
pesquisa e a definição de um foco específico em relação à extensão do conteúdo. A
abreviação do conteúdo vai ao encontro do sentimento de ansiedade em finalizar com
brevidade o trabalho passado pelo professor, uma vez que o aluno não organizou seu
tempo para fazer uma pesquisa mais completa.
O livro didático, mesmo que tenha partes muito resumidas, ainda é considerado pelos
alunos como conteúdo extenso, pois sentem que o professor não proporcionou a
devida orientação do assunto que seria necessário ao desenvolvimento do trabalho. Foi
possível constatar que os estudantes elaboram estratégias diferenciadas para lidar com
a diversidade de abordagens sobre um mesmo assunto.
A seleção e o uso do livro didático se constituem em ações de grande impacto na
atividade de pesquisa dos estudantes. Nas entrevistas, os principais aspectos
ressaltados foram: o acesso às fontes de pesquisa do livro didático; a credibilidade das
mesmas; a ordenação das ideias; o acesso às diferentes abordagens e pontos de vista
sobre o assunto e a atividade de escrita da pesquisa, gerando sentimentos de
confusão, dúvida, decepção com o conteúdo e ao mesmo tempo, a motivação para
elaborar uma pesquisa com o máximo de informações confiáveis, conforme revelado
nas falas a seguir:
“O que achei mais difícil foi filtrar as informações corretas. O difícil não foi encontrar, o que eu precisava de informação. Por eu não tá acostumado, habituado a fazer esse tipo de trabalho acadêmico, a minha escola antiga não proporcionava isso, tive dificuldade em me adequar ao modelo de trabalho acadêmico”. (A4) “Foi de achar informações confiáveis, porque quando você pesquisa na internet, aparecem vários sites, mas nem em todos você pode confiar e fazer referência desse site. Então tive dúvidas quanto a esses sites, se eram confiáveis, de repente de você ler aquela informação e ficar gravado na sua cabeça e você acreditar que seja verdade”. (A14)
148
“O mais difícil foi ler um livro didático abordando de forma falha o conteúdo, omitindo informações e elevando outras em detrimento de fatos, como o movimento estudantil, o movimento social como um todo, que teve um papel fundamental na queda do golpe militar e do regime militar. O livro didático não aparece tanto com o seu papel de protagonismo, e vangloria outros feitos pela ditadura”. (A16) “Olha, pra ser sincera, como eu disse anteriormente, se tratando de biologia, eu tenho um certo interesse a mais. Mas no meu trabalho, o que eu mais achei complicado foi em relação a ciclos. Por exemplo, no sistema digestório, ele tem todo um ciclo, então acho um pouco complicado interpretar e compreender, porque não adianta nada eu gravar o ciclo e não entender como ele funciona. Então eu acho difícil essa parte, de compreender desde o início até o final. Mas depois que compreendi, foi tranquilo. Eu compreendi mais por imagens dos livros, mas só não usei essas imagens porque não tinha como transferir pro computador, ai tive que pesquisar novas. Mas, para compreender o tema, usei as imagens dos livros, que ai eu li a matéria, ficava mais familiarizada e consegui identificar nas imagens o que cada parte correspondia no ciclo”. (A17)
Notou-se também que estes alunos foram muito críticos quanto à credibilidade das
fontes de informação, principalmente com a internet, que evidenciou-se como uma
fonte importante para a primeira sondagem, mas nunca como fonte única na busca de
conhecimento. Outro fator evidente foi a preocupação com a qualidade da informação
apresentada na rede, reconhecendo-se a necessidade de filtrar as informações e
recorrendo-se aos livros didáticos e vice-versa, em uma tentativa de validar estas
informações. E posteriormente à coleta de dados, surgia os sentimentos de
tranquilidade, por encontrar o assunto, e de decepção, por constatar que o assunto
abordado no livro didático não correspondia à forma de pensar e a vivência.
O tempo reduzido para a entrega do trabalho evidenciou os sentimentos de ansiedade
e nervosismo, pelos fatores de organização dos trabalhos e de responsabilidade de
elaborar o trabalho, se tratando de trabalhos em equipe. A cobrança do professor foi
evidenciada nas falas, percebida como falta de apoio do docente para dar continuidade
à pesquisa de forma mais tranquila. Os alunos relataram:
“Foi a questão do trabalho em equipe, nem todo mundo fez sua parte e tive que correr pesquisando o resto do assunto pra dar
149
tempo de apresentar”. (A12) “O mais difícil foi lidar com o nervoso, com o nervosismo. Lidar com o tempo curto, por ser muitos trabalhos ao mesmo tempo, e esse especifico eu tinha que dar o melhor nele. Esse sentimento foi porque o professor é muito exigente, tinha que controlar o tempo e o nervoso, e a questão da responsabilidade. Mesmo eu gostando de ter responsabilidades quanto a trabalhos, não gostei da responsabilidade de ensinar. Então, se você ensina mal, os alunos vão mal na prova depois, ia me sentir muito culpada”. (A13) “Não foi nada tão difícil, mas a questão foi me organizar quanto ao prazo de entrega e o melhor caminho para que o trabalho saísse melhor”. (A15)
A atividade de pesquisa ficou evidenciada como um aspecto crítico, considerado pelos
alunos como de difícil execução e paradoxalmente, notou-se um interesse muito grande
dos alunos em elaborarem um trabalho escolar da melhor forma possível, explorando
ao máximo o objeto de pesquisa. Para Bourdieu (1989), o que conta verdadeiramente
na prática da pesquisa é a construção do objeto, que inclui todo o percurso percorrido e
a possibilidade de crescimento proporcionada ao estudante.
5.5.6 Estágio de Apresentação e Avaliação do Trabalho
Kuhlthau (2010) descreve o sexto e último estágio de pesquisa como a
complementação de informações da etapa de coleta, apresentação do trabalho e
avaliação do conteúdo aprendido. Nenhum dos alunos entrevistados fez uma revisão
final sobre as informações coletadas na biblioteca, optando por finalizar o trabalho o
mais rápido possível, entregar ao professor e apresentá-lo, no caso dos seminários,
conforme referem alguns alunos, quando questionados: “Como foi feita a redação e a
apresentação do trabalho? Baseou-se na estrutura do assunto pesquisado no livro
didático para desenvolvê-lo?”:
“A apresentação foi em slides e usei todos os tópicos do livro didático para me basear na estrutura dos slides.” (A1)
150
“A apresentação foi nos slides do powerpoint13 e seguimos a sequência dos dados do livro e dos tópicos.” (A2)
“Foi uma apresentação de slides e apresentamos na sala e a gente se baseou nos tópicos que estavam no livro para montar. A gente organizou tipo: Definição, Função, tudo com base no livro didático. A gente apresentou um vídeo sobre as organelas, citoplasma e o próprio slide.” (A3) “Como foi uma apresentação em slides, a gente “topiculou”, todo o tema de acordo com o que o livro seguia, como o sistema digestório, sistema nervoso. Isso facilitou muito a nossa apresentação, porque seguimos essa estrutura.” (A7) “Eu me baseei sim na estrutura do livro e a apresentação foi feita através de slides. Não teve trabalho escrito pra entregar pro professor, mas tive que fazer um, o resumo pra me ajudar a apresentar.” (A8) “A gente usou o livro didático e fomos classificando as informações de acordo com a importância, e a partir disso a gente fez os tópicos, aprofundamos no que precisava através de pesquisa na internet e depois montamos os slides para o seminário.” (A11) “Foi só slides mesmo, tinha acabado de entrar aqui, ai como não sabia muito essa questão de norma, o professor passou uma coisa bem básica.” (A12)
A maioria das afirmações dos alunos demonstrou de modo geral que eles se basearam
na estrutura do livro didático para elaborar suas apresentações, em grande parte, em
seminários, utilizando o recurso do powerpoint. Como o livro didático é apresentado em
uma estrutura de tópicos e esquemas, baseado nessa estrutura, o pensamento dos
alunos em se apoiarem nesses tópicos corresponde ao defendido por Kuhlthau (2010,
p. 198), de que “[…] o esquema fornece uma estrutura para a redação do trabalho da
pesquisa”, e fornece base para elaborar a apresentação. Nota-se na fala dos alunos
que estes não seguiram com muito rigor metodológico, as normas acadêmicas de
apresentação de trabalhos acadêmicos, se limitando à estrutura do livro didático.
13
Software destinado à apresentação multimídia de slides, fotos e conteúdos digitais
151
Kuhlthau (2010) destaca que quando o estudante desenvolve um senso de pesquisa
mais crítico, estes são capazes de abranger suas próprias ideias conectando-as às
informações que pesquisaram, desenvolvendo um trabalho mais enriquecido e
significativo. Ao ampliar seu ponto de vista a partir do assunto pesquisado no livro
didático dará condições para que estes alunos apresentem seu foco de pesquisa de
maneira mais clara. Os alunos A4 e A14 desenvolveram a estrutura de apresentação do
trabalho sem seguir o livro didático, baseando-se na orientação do professor. Observa-
se que esses alunos possuíam certa autonomia no desenvolvimento de seus trabalhos
e que se esforçaram para adequar a pesquisa dentro das normas acadêmicas,
conforme os relatos:
“Só usamos o livro para coletar os dados mesmo. A gente fez a introdução, desenvolvimento, conclusão. A gente formatou o trabalho com ajuda da professora K., que nos ajudou a colocar na ABNT. O trabalho a gente não apresentou, só entregou, era um relatório. A gente utilizou imagens, tiramos algumas fotos no dia da aula prática, a gente colocou no relatório e usamos tabelas para comparar as cores.” (A4) “Eu não me baseei no livro didático não, porque o livro estava dividido em uma forma que não achei legal para pôr no trabalho, ele tinha todas as informações sobre os cálculos, mas acabei desenvolvendo o trabalho de acordo com os tópicos que o professor tinha passado em sala de aula, e o livro não tinha isso. Por exemplo, qual a função, ai fiz a introdução, e fui seguindo.” (A14)
Dos dezessete alunos entrevistados, quando questionados: “você utilizou alguma
norma para apresentação de trabalhos acadêmicos?”, apenas oito declararam que
utilizaram as normas técnicas, e a mais citada foi a da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT). A referida norma foi utilizada para as apresentações de trabalhos,
tanto escrito, quando a apresentação em powerpoint. Detectou-se nas declarações dos
alunos que não houve uma cobrança do professor quanto ao uso das normas de
apresentação de trabalhos acadêmicos, uma vez que não há parcerias com a biblioteca
escolar, para que um trabalho em conjunto fosse feito. As falas revelam:
“O professor era bem rigoroso quanto aos slides, tamanho de letra, citação, referência.” (A3)
152
“Utilizei ABNT, foi na formatação, na citação, fonte, na estrutura mesmo.” (A4) “Somente a ABNT para a formatação do slide em si, tamanho de letra e outras coisas.” (A7) “ABNT, na parte da apresentação do slide, na estruturação do texto que estava no slide, citações, texto justificado, fonte.” (A8) “Como não era relatório, a gente não usou ABNT, a gente só usou as orientações dadas pelo professor. Inicialmente, ele cobrou o básico, já que a gente não sabia as normas. Explicou um pouco sobre a capa, a formatação, mas algo assim bem básico.” (A11) “Usei norma acadêmica nos slides. Por exemplo, na imagem, tem que colocar na imagem de onde foi tirada, a questão da fonte pequena, e a formatação em geral.” (A13) “Eu tive que usar as normas da ABNT para relatório, eu até te pedi ajuda, lembra?” (risos). (A14)
“Nós fizemos o trabalho baseado no que os professores cobram nos slides, trabalhar mais com imagens e com menos textos, slides que não tenham aquele texto gigante que você só vai ler e não vai interagir, usamos mais dicas que os professores dão.” (A17)
Kuhlthau (2010) refere que os estudantes precisam aprender como utilizar as fontes de
informação e como citá-las, para evitar plágio, e que os alunos precisam entender que
precisam ter familiaridade com o manual de normalização, permitindo que o estudante
faça adaptações para qualquer forma exigida em pesquisas escolares futuras.
Entretanto, informações contidas nas entrevistas realizadas com o bibliotecário B1, do
auxiliar de biblioteca AUX 2 e da estagiária E2, demonstram que neste aspecto, os
referidos profissionais não orientaram com muita frequência os alunos quanto à
necessidade do trabalho escolar ser estruturado quanto às normas acadêmicas, pois
os relatos indicam que não houve tanta demanda de alunos que solicitassem este tipo
de auxílio ou que o próprio professor não orientava quanto este aspecto, talvez por
153
desconhecerem que esse serviço está disponível para os usuários. Quanto aos outros
funcionários e estagiários, quando questionados: “Você orientou o aluno quanto à
redação e apresentação do trabalho?”, os mesmos relataram:
“Eu geralmente oriento” (AUX 1)
“Já tive que ajudar os alunos que fazem algum trabalho a lerem relatórios, ou já me pediram para ler o trabalho deles para saber se estavam bons”. (E1) “Principalmente os alunos do turno noturno, eles me pediam ajuda para fazer a capa, a formatação do trabalho. O bibliotecário M. me ensinou mais ou menos as regras da ABNT, ele pegou e deu um curso para os estagiários de como usar, e o que eu aprendi, eu passava para os alunos. Quando era relatório de práticas de laboratório, eles tinham que entregar tudo bonitinho, formatadinho, eles me perguntavam se eu já tinha feito e me pediam ajuda para fazer.” (E3)
Quanto questionados sobre “Qual foi seu sentimento quando você terminou o
trabalho?”, a maioria dos estudantes entrevistados demonstrou o sentimento de alívio e
satisfação ao concluírem a pesquisa escolar. Alguns descreveram os sentimentos da
seguinte forma:
“Aliviado, um pouco inseguro, por achar que poderia ser melhor, mas ciente de que o grupo foi bem. Acho que o trabalho só não foi melhor porque o tempo pra pesquisar foi muito curto”. (A1) “Foi uma sensação de dever cumprido, alívio. É que a gente sabe que aquilo é bem corrido, tem outros trabalhos, e você tira um peso das suas costas. É um trabalho a menos”. (A2) “De alívio. Porque foi um trabalho assim, muito longo. Levei muito tempo para terminar. No início foi muito difícil porque a gente não sabia como desenvolver e também o prazo, quinze dias. A gente não tinha só esse trabalho, tinha as outras matérias também. Mas no final deu certo”. (A4)
Alguns alunos só demonstram o sentimento de alívio quando receberam a nota do
trabalho:
154
“Me senti bem, aliviada, porque tinha conseguido fazer ele, apresentar bem e ter ganhado uma boa nota. Esse trabalho foi tipo uma mensagem falando que eu tinha capacidade de continuar aqui. Quando a gente sai do ensino fundamental e vai para o ensino médio, é um choque, porque nunca tinha feito um seminário, deu um pouco de medo, mas depois desse conseguimos fazer outros, e a partir dai foi bem tranquilo”. (A11) “De alívio (risos). Não foi um dos melhores seminários que apresentei, mas foi uma sensação de alívio porque o professor entendeu e gostou da apresentação do trabalho”. (A13)
Outros estudantes tiveram sentimentos de realização, porque conseguiram fazer o
trabalho com êxito, enfatizaram que aprenderam sobre o assunto, apresentaram os
resultados com sucesso e foram bem-sucedidos em uma tarefa tida como complexa
por eles próprios. Essa questão é também tratada por Kuhlthau (2010). Eis abaixo
algumas falas que evidenciam o sentimento de realização pelo êxito no trabalho:
“Os relatórios ajudam muito a fixar a matéria que você não aprendeu, porque às vezes na sala de aula você presta atenção em outras coisas, mas quando você lê em outro lugar, você associa ao que você ouviu. Tipo, na sala de aula às vezes o professor falta, pula uma aula e depois volta ao assunto, então na sala você não consegue associar. Então, quando você tem que fazer um relatório e ler tudo, você tem várias informações e tem que organizar elas, e você entende que um tópico faz parte do outro, está relacionado a isso ou aquilo. Então, fazer relatório me ajuda muito”. (A14) “Foi muito bom, porque eu fiquei um tempão fazendo ele, tipo, uma semana e meia fazendo trabalho direto, todos os dias. Me senti aliviada e satisfeita porque dei duro nesse trabalho”. (A15)
O aluno A16 teve um sentimento de insatisfação devido ao livro didático repassar um
conteúdo que não correspondia ao que ele pensava, ou seja, transmitia uma ideologia
que não correspondia às suas reais ideias em relação à temática abordada na
disciplina de História. Neste ponto, Pietri (2007) ressalta que as passagens do livro
didático que façam menção às questões históricas exigem uma leitura mais elaborada,
por exigir conhecimento dos fatos históricos ou certa vivência precisa ser adquirida.
155
Logo, uma pesquisa mais aprofundada precisa ser feita, o que foi o caso do aluno A16,
que além de ter vivência no movimento estudantil, foi incentivado a buscar outras
fontes de informação para complementar o escrito pelo livro didático. A aluna A17, teve
um sentimento misto de alívio e de tristeza gerada pela insatisfação de não poder dar
continuidade ao estudo do tema. Kuhlthau (2010) salienta que a insatisfação é gerada
também devido à falta de tempo de seguir uma nova pista que tenha surgido ao
decorrer da pesquisa, conforme suas falas:
“De alívio, por ter passado pros demais colegas de turma a minha ótica, a minha perspectiva do fato, não tomando o livro didático como verdade absoluta (sic)”. (A16) “Eu tive dois sentimentos. A princípio, foi de alívio, porque tive que enviar o trabalho para uma integrante do grupo para ela juntar as partes, então tive um prazo para montar minha parte e enviar para ela, então foi uma sensação de alívio. Mas eu confesso que depois fiquei um pouco triste porque achei o assunto tão interessante, que me deu vontade de estudar mais, fiquei triste porque não ia estudar mais aquele assunto em sala de aula. Eu já tinha lido, então eu ia estudar mais só para fixar mesmo. Eu queria ter mais conhecimento sobre o assunto”. (A17)
O aluno A12 foi o único entrevistado a elencar o sentimento de frustração após a
finalização da pesquisa, devido ao seu interesse por outro tema ter sido desconstruído
pelo professor, o que não corresponde ao que diz Kuhlthau (2010, p. 199) que “a
frustração se dá pelo aluno não encontrar a informação que estava procurando”, mas a
frustração ocorreu no momento da escolha do tema em sala de aula, antes do aluno
chegar à biblioteca escolar para desenvolver o trabalho, conforme seu relato:
“Como falei, apesar de ter tirado uma boa nota, senti frustração e ansiedade porque queria ter pegado outro tema, da queda do Muro de Berlin, mas o professor não deixou trocar o tema.” (A12)
Em relação aos funcionários da biblioteca, quando questionados “Qual foi o sentimento
do aluno quando terminou o trabalho? O que você percebeu?”, os relatos continham as
seguintes percepções quanto aos sentimentos demonstrados pelos alunos ao
finalizarem a pesquisa escolar:
156
“Percebi os sentimentos de alívio e satisfação, ficavam felizes” (B1)
“Quando ele encontra o material, ele fica satisfeito porque o material já está em mãos, ai a gente enxerga a satisfação de que ele realmente encontrou esse material que ele procurava. Quando ele não encontra, ele sai daqui frustrado e vai atrás do professor, para que o professor indique outros materiais. Por mais que a gente diga: „pesquisa na internet, ou em artigos científicos‟, o aluno vai atrás do professor.” (AUX 1) “É um sentimento de satisfação, também de alívio quando terminam o trabalho, então eles ficam bem satisfeitos e confiantes de que o trabalho está bom. Na maioria dos casos, eles falam, ah terminei, e estou confiante”. (E1) “Eles ficavam muito entusiasmados e felizes, porque eu passei por isso e pude ajudar o aluno. Eu até brinco dizendo que fomos cobaias do Ifes, e tem que ter alguém para ajudar a gente. Então quando tem alguém para orientar, dizendo „se você fizer isso, o professor pode dizer que está errado‟. É uma ajuda pequena, mas que faz grande diferença. Sentia um entusiasmo muito grande, principalmente quando o aluno chegava aqui e falava que conseguia terminar o trabalho ou tinha tirado a nota máxima. Depois, ficavam muito aliviados.” (E3)
As declarações dos profissionais acima apresentadas relataram que a maioria dos
sentimentos percebidos nos alunos era de alívio, satisfação ou entusiasmo. Porém,
quando o aluno saía frustrado da biblioteca e recorria ao professor, evidencia-se o
quanto o livro didático está arraigado nos direcionamentos e abordagens da prática
docente no processo de ensino-aprendizagem dentro e fora da sala de aula. (KATO e
KIOURANIS, 2013)
A “Avaliação” (grifo nosso), para Fialho (2013), ocorre no momento de reflexão após a
finalização do processo de pesquisa escolar. Para a autora, há indagações se este
processo é parte separada ou integrante do sexto estágio. Porém, Kuhlthau (2004)
apresenta alguns aspectos da avaliação do processo de pesquisa, incorporados ao
sexto estágio de Apresentação.
Quanto a esta proposta, alguns estudantes descreveram que não tiveram nenhuma
opinião ou reflexão sobre o trabalho realizado com o livro didático, pois como descreve
157
Pietri (2007, p. 78), a “[...] pesquisa em um fragmento do livro didático, se feita de modo
a suscitar objetivos, elaborar e verificar hipóteses e apontar estratégias de leitura para
a obra como um todo, mostra-se um instrumento muito importante para a formação do
leitor”.
Entretanto, quando questionados se “Ao finalizar seu trabalho, você chegou a formar
sua própria opinião ou reflexão sobre o tema/assunto pesquisado?”, evidencia-se na
fala de alguns alunos que os trabalhos foram feitos por fazer, para cumprir com o
cronograma curricular ou do vestibular, e que o desenvolvimento do trabalho com os
fragmentos do livro didático, por si só não gerou interesse em um aprofundamento mais
amplo da obra que deu origem ao fragmento ou simplesmente em uma reflexão sobre o
trecho, conforme relatos dos alunos a seguir:
“Não parei para pensar sobre ele porque foi feito para cumprir com o cronograma do professor”. (A1) “Não! Só aprendi né, o tema em si, mas não tive nenhuma opinião formada”. (A9) “Sim. É meu último ano né? Era um conteúdo que estava na minha lista do vestibular para estudar, ai adiantou, consegui ler bastante coisa”. (A10)
“Não tive nenhuma opinião, porque era um conteúdo histórico. Eu posso até ter algum sentimento quanto às pessoas, o que aconteceu com elas, mas não desenvolvi nenhum pensamento crítico”. (A11)
Outros alunos chegaram a uma conclusão sobre o trabalho pesquisado, embora
tenham tido dificuldades em relacionar os textos do livro didático com um conhecimento
proveniente de textos publicados, cujo objetivo não é o ensino, ou seja, a compreensão
gerada por esses alunos vieram de textos que não eram didáticos e foram adaptados,
com o intuito de repassar para o restante da turma que não tivesse familiaridade com o
tema, mas pudesse compreendê-lo a partir dos fragmentos apresentados pelo livro
didático (PIETRI, 2007). Os alunos destacam que houve uma aprendizagem, ou pelo
menos, reflexões sobre o tema da pesquisa e seus relatos revelam:
158
“Eu consegui compreender o assunto que tinha que explicar para os outros, e, formei uma opinião.” (A3) “Eu pude ver na prática como que funcionava e refletir como a ciência tem um aspecto empírico também. A gente vê muito a ciência na sala de aula, mas não no dia a dia. E esse trabalho foi muito importante para a gente ver que o que a gente estuda na sala é de fato verdade e aplicar essas situações no dia a dia.” (A4) “Não cheguei a uma conclusão, mas fiquei refletindo sobre o assunto. Me impressionou o que gerou a crise de 29.” (A5) “Geralmente é assim: você lê, lê e lê sobre o tema, mas só depois que você apresenta, que aquilo ali de fato você aprende e você pode falar: eu sei sobre isso, depois aquilo não sai mais da sua cabeça. Foi um trabalho muito interessante.” (A7) “Minha própria opinião assim, ah, eu gostei bastante, o livro didático tem muito a oferecer.” (A8) “Foi um trabalho que eu me lembro até hoje, não esqueço dele. Então hoje, se eu pegar pra fazer de novo, eu faço tranquilamente.” (A13) “Inclusive, proporcionou várias reflexões para usar em outras coisas, porque como administração te faz pensar nas formas de produção, como o fordismo, por exemplo, então ajudou.” (A14) “Ainda não tive uma opinião, mas eu sinto que eu vou, depois que eu estudar mais, que eu ler de novo para fixar mais o conteúdo e de que estiver segura do que eu sei é aquilo, eu vou tirar uma boa conclusão.” (A17)
O aluno A16 afirmou que a temática abordada pelo livro didático em sua pesquisa foi
descontextualizada em relação às condições da produção do conhecimento histórico,
no caso, do movimento estudantil na época da Ditadura Militar, ou seja, o recorte
histórico do autor do livro didático suprimiu características próprias de uma época
contextualizada de formas diferentes em outras fontes de informação, o que o levou a
159
optar por um periódico que satisfizesse suas necessidades de informação. Nota-se, na
sua fala que, com o objetivo de facilitar a pesquisa, as passagens de trechos que são
suprimidos exigem a ativação de um conhecimento prévio para complementar a
informação buscada (PIETRI, 2007).
“Eu já tinha uma opinião formada pela militância no movimento estudantil, pelo convívio com várias pessoas que estavam no fato. A minha opinião nesse trabalho foi que de fato, temos livros didáticos falhos, isso já se reflete em livros de outras disciplinas, que apresentaram resultados de questões erradas, mas quando foi na minha área, que é história, que é de humanas, foi quando percebi que é um sistema falho e que não dá para ser tomado como verdade.” (A16)
Em relação à aprendizagem que os alunos afirmam ter tido com suas pesquisas, foram
“[…] baseadas nas perspectivas focalizadas no assunto ou no problema” (KUHLTHAU,
2010, p. 23). A autora afirma ainda que a aprendizagem é um conjunto de
procedimentos que retoma à etapa inicial de pesquisa, a iniciação.
Os alunos precisam compreender o que é esperado deles, ou quais são as exigências
do trabalho. Alguns alunos definiram o conceito de aprendizagem com a explanação
dos resultados da pesquisa na apresentação dos seminários, na fixação do próprio
conteúdo ou a utilização dessa aprendizagem no exame vestibular, como nas falas
abaixo, quando questionados: “Você teve alguma aprendizagem com o seu trabalho? O
quê?”:
“É porque pelo fato da gente apresentar nosso trabalho, a gente adquire mais conhecimento. A gente se dedica mais pelo fato de que tem que apresentar, tem que tirar nota boa e acabamos aprendendo mais”. (A2) “Tive sim, de absorção de conhecimentos sobre o tema, vai me servir para o vestibular também”. (A6)
“Com certeza! Tudo, praticamente. Sobre a reprodução, que dentro da classe dos artrópodes tem outros animais que eu não conhecia e que em cada subgrupo tem seus próprios animais. Foi muito interessante esse tema”. (A9)
160
“A trabalhar em grupo. Quanto ao conteúdo, nem tanto, porque não foi mais trabalhado, foi passado para aquele momento e acabou, não foi o foco da matéria, por isso a gente não discutiu muito. Foi um conteúdo que aprendi com base na minha pesquisa e não com a explicação do professor porque ele explicou, contextualizou tudo depois com a junção dos subtítulos. E também quanto a trabalhar a pesquisa escolar, porque quando a gente vem do fundamental, é aquele trabalho de cartolina, aquela pesquisa bem basiquinha. Às vezes o aluno vem de uma escola sem muita estrutura, sem computador, não sabe pesquisar na internet. Ai você vem pra cá e muda tudo, a lidar com a pesquisa”. (A11)
“Ah, foi mais para agregar conhecimento mesmo, pode ser que sim, pode ser que não me ajude no vestibular, talvez caia alguma questão sobre o que estudei, provavelmente vai cair alguma coisa, tomara que caia, porque vou saber responder de cara”. (A15)
“Eu tive uma aprendizagem muito grande em relação à matéria mesmo. De ter conseguido associar as coisas, consegui fazer isso com o relatório, foi um conhecimento a mais”. (A14)
Entretanto, outros alunos buscaram informações porque “[…] desejam saber mais
sobre algo interessante ou problemático” (KUHLTHAU, 2010, p. 29), e nestes casos, a
motivação surgiu dos próprios alunos. Infere-se a partir da fala dos alunos que eles
estavam conscientes quanto às próprias necessidades de informação e com o livro
didático, e deste modo, buscaram formas de responder seus questionamentos.
Um dos principais objetivos do trabalho de pesquisa segundo Kuhlthau (2010) é
preencher as lacunas de informação nas quais se deparam em seu cotidiano. Assim,
como sugerem Kato e Kiouranis (2013), os estudantes têm a possibilidade de construir
o conhecimento de forma cada vez mais significativa, relacionando os conceitos do
cotidiano com os saberes provenientes da Ciência.
A relação do aluno com o livro didático é atribuída pelos autores à função pedagógica
ao qual se destina: a aprendizagem dos conteúdos e um manual de dinamização dos
estudos. Portanto, os alunos indicaram o livro didático como importante e como um
recurso facilitador de atividades diárias, desde a resolução de exercícios, até a
pesquisa escolar, e também a representação gráfica do livro, tido como um auxílio para
161
a compreensão dos conteúdos, conforme os seguintes relatos:
“Consegui relacionar os processos que levaram à independência da América Espanhola com a vivenciada com o Brasil.” (A1) “Eu pude ver os diferentes elementos podem provocar reações diferentes, cores diferentes, por exemplo, o fogo, as combinações e reações conseguem provocar diferentes aspectos na forma de como a gente vê, e as aplicações também.” (A4) “Olha, mais do que com esse trabalho, me confirmou o seguinte pensamento: a gente não pode se restringir somente a uma fonte, como por exemplo, somente o livro didático, pois mesmo todos apresentando as mesmas informações, não estou falando que as informações do livro e da internet esteja incompletas, ou completas. Mas sim um completa o outro. Mas isso faz com que na hora da apresentação tenhamos um repertório diferente de palavras para apresentar.” (A7)
“Foi um dos poucos trabalhos que eu usei a biblioteca e consegui relacionar questões de vestibular com o tema do meu trabalho e o conteúdo na nossa apresentação de slides.” (A10) “Sim, foi aquela questão, a gente acha que física é uma bobeira. No nosso assunto, espelhos, a gente viu na prática como a luz incide nele, ai pensei que o quanto é importante estudar essa matéria.” (A13) “Com certeza, porque vários pormenores da Ditadura só são aprendidos com a pesquisa, uma pesquisa mais aprofundada. Então na vida, você aprende superficialmente, e com um trabalho desse, dá para aprofundar mais o conteúdo.” (A16)
Observa-se nesta etapa de análise de dados que as características do livro didático
como os exercícios, diagramas, esquemas, textos de apoio e outros elementos, são
significativos para a aprendizagem destes alunos, pois consideram a linguagem do livro
de fácil entendimento e as representações gráficas são tidas como facilitadoras das
explicações ministradas pelos professores.
162
A partir da análise dos resultados obtidos, constatou-se que a maioria dos alunos
entrevistados não é competente em informação, pois o livro didático por si só não é
capaz de tornar um leitor em formação em um leitor e pesquisador proficiente, por não
apresentar características de intextualidade, pelo material em suas características
essenciais não contemplar as obras que deram origem aos fragmentos do texto em sua
íntegra, o que dificulta a atuação da biblioteca na resolução das necessidades
informacionais dos alunos, pois o livro didático repassa uma impressão de um material
completo ou complexo para o público estudantil, o que causa distanciamento do
ambiente da biblioteca escolar, que, sem práticas intervencionistas de bibliotecários,
auxiliares de biblioteca ou estagiários, permanece como um setor destinado apenas
para estudos, sem que desperte consciência crítica em seus usuários.
Entretanto, percebe-se que o próprio fragmento ofertado no livro didático pode
contribuir para a resolução de problemas que são apresentados ao usuário, o que
significa que a busca e o uso de fontes de informação que complementem o descrito
pelo material didático pode incentivar a continuidade da pesquisa escolar, auxiliando o
aluno a elaborar questionamentos que respondam o que ainda não é conhecido.
Reconhecidamente, o livro didático constitui-se como um material informacional de
extrema importância para as práticas de ensino-aprendizagem, porém, a biblioteca
precisa estar envolvida neste processo. Propomos no capítulo de considerações finais,
um programa de Competência em Informação, que visa aproximar o usuário da
biblioteca com as rotinas estabelecidas pelo livro didático em sala de aula.
163
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS: UMA PROPOSTA DE PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO UTILIZANDO-SE COMO DISPOSITIVO O LIVRO DIDÁTICO
Para a elaboração de uma proposta de Programa de Formação de Competência em
Informação a partir da utilização do livro didático, tornou-se necessário em primeiro
plano, a apresentação de um diálogo analítico interpretativo, constituído como um pano
de fundo articulador da mesma, o que passamos a apresentar na sequência, para, em
segundo plano, evidenciar a referida proposta, disposta no item 6.1 deste trabalho.
Após a apresentação dos resultados obtidos, retoma-se o problema-questão que
norteou esta pesquisa, qual seja: Em face das políticas públicas dirigidas ao livro
didático, como ocorre a interlocução do mesmo com a biblioteca escolar para a
formação da competência em informação de adolescentes escolares do ensino médio
de uma escola da rede federal de ensino? Nessa perspectiva, especificamente,
procurou-se saber perguntando aos bibliotecários: “Para você, qual o papel da
biblioteca escolar na formação social e intelectual de competência em informação dos
alunos? Acredita que o livro didático pode se tornar um dispositivo que inicie ou
incentive os alunos no desenvolvimento dessa competência?”: B1 se pronunciou
dizendo:
“A escola, com participação da biblioteca, é o ambiente onde o aluno tem a oportunidade de desenvolver práticas de pesquisas. Eu acho que a biblioteca tem que propiciar isso, ensinar o aluno a ser um pesquisador. Não é ser um pesquisador somente no laboratório, mas é saber onde encontrar aqueles materiais que vão satisfazer a sua necessidade informacional, seja no livro didático, seja no livro técnico, seja no conteúdo disponível na internet”. (B1)
Com relação ao assunto Abreu (2005) salienta que a construção da prática da pesquisa
escolar ocorre por etapas, onde a escola e a biblioteca só conseguirão resultados
positivos para efetivar esta estratégia de aprendizagem se investir em programas de
desenvolvimento competências em informação fazendo com que a pesquisa escolar
tenha significado para o aluno, a escola como um todo o forme com perfil de
pesquisador, de modo que tenha também características criativas e que seja
independente na busca por conhecimento.
164
Parafraseando Abreu (2005), pode-se dizer que há necessidade do reconhecimento de
uma certa complexidade no processo de pesquisa escolar porque exige do aluno
competências (conhecimento, habilidade e atitudes), o que vai ao encontro a Belluzzo
(1989, p. 37), quando conceitua a educação de usuários de bibliotecas: “[...] é o
processo pelo qual o usuário interioriza comportamentos adequados com relação ao
uso da biblioteca e desenvolve habilidades de interação permanente com os sistemas
de informação”. Interiorizar comportamentos significa assimilar conteúdos factuais e
conceituais (conhecimentos), conteúdos procedimentais (habilidades) e conteúdos
atitudinais (valores).
Somente a partir desse trinômio – conhecimentos, habilidades e valores – é possível
realizar a educação de usuários em sua verdadeira acepção. Um desses
conhecimentos está relacionado à familiaridade com a biblioteca, com o sistema de
organização física e intelectual das informações disponíveis tanto na biblioteca como
na internet. Essa familiaridade que resulta em domínio de uso de diversas fontes de
informação possibilita ao aluno comparar para fins de escolha e uso visando a
complementar e/ou explorar o conteúdo do livro didático.
Para Souza (2012, p. 14), o livro didático tem a função instrumental de pôr em prática
os métodos de aprendizagem, caracterizadas por atividades ou exercícios de fixação
que “[...] visam a facilitar a memorização do conhecimento, favorecer a aquisição de
competências disciplinares ou transversais, a apropriação de habilidades, de métodos
de análise ou de resolução de problemas”, entretanto, sem a biblioteca escolar, o livro
didático por si só não tornará o aluno competente em informação. Quando
questionados “O que é necessário para a biblioteca auxiliar o desenvolvimento da
competência em informação?”, um dos bibliotecários deu a seguinte resposta:
“A biblioteca deve auxiliar a este aluno a navegar na internet, buscar informações confiáveis e buscar, preferencialmente, em fontes primárias. O livro didático é a primeira fonte primária que este aluno tem contato, mas a realidade das bibliotecas escolares e das próprias escolas não propicia o contato deste aluno com outras fontes de informação, então este aluno fica condicionado a procurar a informação no suporte onde ele tem mais contato, a mesma coisa acontece com a internet hoje. O aluno deveria
165
também saber utilizar informações armazenadas em multimídia, como os CDs, os DVDs e os periódicos. Eu acho que a biblioteca tem que desenvolver no aluno esse gosto pela pesquisa, também a sua independência, propiciar ao aluno onde recuperar a informação necessária para as suas atividades. O bibliotecário precisa conhecer o seu ambiente de trabalho, ele precisa conhecer a sua biblioteca. O bibliotecário deverá ter o conhecimento do seu acervo, de quais materiais constituem seu acervo. Eu acho que o bibliotecário não precisa ler todos os materiais disponíveis ou assistir todos os vídeos disponíveis para conhecer o seu acervo. Eu acho que ele precisa tomar conhecimento sobre os temas disponíveis no acervo, e assim ele vai conseguir disponibilizar o material que atenda as necessidades do aluno. Os bibliotecários precisam enxergar isso, devem começar a auxiliar os alunos na pesquisa escolar, de modo a desenvolver no aluno a competência informacional, para que este aluno seja independente”. (B1)
Perguntou-se também aos profissionais se “desenvolveu algum programa de
competência em informação?” Para a bibliotecária B2, esta entende um programa de
competência em informação como um processo de desenvolvimento de programas de
treinamentos de usuários que não foi possível executá-lo porque a biblioteca
preocupou-se de início, com questões administrativas ou burocráticas, de como obter
acervo, referindo-se ao período em que passou a atuar neste campus:
“Como foi uma biblioteca em implantação, as atividades não giravam em torno dessas questões. Infelizmente não. A biblioteca foi privilegiada em atividades administrativas, o que a gente precisava comprar para ter uma biblioteca, como a gente ia formar o acervo. Ah, nós temos uma Política de Desenvolvimento de Coleções, a bibliografia dos cursos, o que tinha de bibliografia básica, de bibliografia complementar, o que tinha de sugestões, o que os professores pensam, como fazer parcerias? Essa questão de busca e recuperação da informação pelos alunos não era o foco, porque estávamos no início, mas essa questão tinha que ser pensada desde o início também. Mas não foi pensado”. (B2)
Por não terem orientação, os alunos desconsideravam a importância do livro didático
como fonte de pesquisa e ficavam à mercê do que poderiam encontrar no livro didático
e na internet. No caso do bibliotecário B1, como o tempo de permanência dele nesta
biblioteca foi bem maior do que o da bibliotecária B2, este pôde acompanhar de perto a
aquisição de títulos em suportes diversos, criando atitudes positivas em relação ao uso
166
da biblioteca escolar, como o incentivo do uso de periódicos, CDs, DVDs e recursos
multimídia, que pudessem complementar os assuntos trazidos pelo livro didático.
Os relatos dos bibliotecários B1 e B2 enfatizam essa prática do seguinte modo, quando
é perguntado a ambos: “Você acredita que o livro didático altera a forma de como os
alunos buscam informação na biblioteca? Como?”:
“Eu acho que não chega a alterar a forma, mas eles vão direto ao acervo, são poucos aqueles que vêm ao balcão de atendimento e perguntam se tem este ou aquele material. E isso já é um processo automático deles. Principalmente com o livro didático, por serem livros trabalhados com o sistema de classificação e essa classificação é voltada para um assunto mais genérico, fica até mais fácil localizar o livro didático, então assim, o livro didático altera, por um lado, o processo de busca e recuperação da informação porque os alunos se acham independentes. Se o aluno viesse ao balcão de atendimento, perguntasse se havia determinado material na biblioteca, eu acho que a pessoa que estivesse no atendimento saberia dizer rapidamente se havia ou não o material disponível ou se está emprestado. Talvez essa ação diminuiria o tempo de busca e recuperação da informação. Trabalhar com este aluno para que ele vá diretamente ao atendente para economizar o tempo de pesquisa é um desafio.” (B1)
“Eu acredito que qualquer material pode, seja ele o livro didático ou não, seja ele periódico, um jogo, um CD, um filme. Os jovens, essa garotada, são muito independentes. Então, eles não se sentem dependentes da gente pra muita coisa, ainda mais por não ter esse vínculo da biblioteca com o professor, esse vínculo de fazer um trabalho em conjunto. Na época, nós estávamos iniciando tudo, estávamos buscando parcerias, como no caso da professora de Artes, do setor de psicologia, que a J. ficava, a professora de Ciências Sociais, a A. Eram mais essas parcerias, mas não consigo me lembrar de nada nesse sentido”. (B2)
Para o bibliotecário B1, a sensação de independência dar-se por causa da estrutura do
livro didático, um material constituído por fragmentos de textos, esquemas, diagramas
e tópicos. Orientando-se por sumários e relacionando esses sumários com a
sinalização de assuntos mais genéricos da biblioteca, estes alunos acreditam que são
independentes e vão direto ao acervo, sem consultar ao sistema de gestão de acervos
ou sem consultar o funcionário da biblioteca. Consequentemente, demorarão mais a
167
encontrar o assunto de sua pesquisa ou poderão sair da biblioteca bastante frustrados,
por não conseguirem encontrar o assunto ou ainda, deixarão de frequentar o espaço, e
a opinião da bibliotecária B2 vai ao encontro do que pensa o bibliotecário B1.
A fala da bibliotecária B2 novamente reflete a ausência do professor na biblioteca,
referente à pesquisa escolar. Uma vez que o professor não esteja presente e os alunos
não veem o bibliotecário como um parceiro do professor no que se refere ao auxílio da
pesquisa escolar, o usuário da biblioteca acredita que deverá ter mais autonomia na
busca por fontes de informação, ainda que possam sentir dificuldades em recuperá-la,
o que vai ao encontro do que pensa o auxiliar de biblioteca AUX 2, quando a mesma
pergunta, feita aos bibliotecários, é dirigida à profissional auxiliar de biblioteca:
“O aluno vai procurar em todas as fontes disponíveis, porque o acervo não é composto somente por livro didático. Se ele procurou no livro didático e não achou, ele vai partir para outro livro. Se ele procura no acervo todo e não encontra, eu acho que ele sai decepcionado, porque ele vem para a biblioteca focado em encontrar aquilo que ele procura. Se ele vem focado no livro, ele vai encontrar no livro, e se ele vier focado na internet, ele nem vai procurar no livro. Essa é minha percepção. Se ele procurou em todas as fontes e não encontrou, ele vai sair frustrado, porque ele vem focado”. (AUX. 2)
A fala do auxiliar de biblioteca AUX 2 considera que o aluno vem focado na fonte de
informação específica, e não no assunto ou no tema. Entretanto, caso o aluno não seja
competente em informação, o mesmo procurará a informação apenas no acervo, sendo
este constituído pelo livro didático ou não. Uma vez que o aluno é competente em
informação, saberá filtrar as informações pesquisadas na internet e pode não sentir a
necessidade de complemento pelo livro didático ou técnico.
Para Campello (2009) a noção de aprendizagem independente aparece com frequência
no discurso do letramento informacional, integrando documentos institucionais, como é
o caso do Information Power (AASL/AECT, 1998), que relaciona a capacidade de
aprender com independência à habilidade de usar informação. Este conceito está
presente também no documento do Middle States Association of Colleges and Schools
(EUA) e outros semelhantes, que estabelecem diretrizes para o letramento
informacional como objetivo educacional a ser atingido por meio da competência no
168
uso da informação.
O documento diz que as instituições deveriam estimular o uso competente de seus
recursos de aprendizagem, de modo que auxiliem o estudante a desenvolver a
competência em informação, para que se tornem estudantes independentes.
A percepção de independência dos alunos que utilizam o livro didático como fonte de
informação é identificada na fala do bibliotecário B1 quando a seguinte pergunta é feita:
“Então você acredita que os alunos sabem identificar as informações que necessitam
de forma independente, mesmo utilizando o livro didático?”:
“Acredito que sejam independentes sim, porque hoje, com o trabalho que é feito com os alunos, desde quando eles ingressam na escola e posteriormente, no dia a dia, trabalhando com a questão da educação do usuário, e também a identificação do acervo, a gente consegue mostrar para o aluno onde ele pode encontrar determinado material. Eles podem ser sim independentes, eles podem encontrar o material, mas, se eles passassem pelo atendimento, as chances de encontrar o material que atenda as necessidades deles serão bem maiores, do que se eles forem direto ao acervo. Eles também podem encontrar, indo direto ao acervo, mas o tempo que eles vão gastar indo direto ao acervo é um tempo bem maior do que o tempo que eles gastariam se fossem direto ao atendente. Eu acho que aquele aluno que vai à biblioteca e pesquisa os materiais que são necessários para atender esta necessidade de informação e com o tempo desenvolvem a competência informacional, eles são independentes, mas não são independentes no sentido de dizerem: “não quero a sua ajuda”, vão no acervo, não encontram o material e saem dali frustrados e nunca mais voltam à biblioteca. Eles são independentes no sentido de que podem ir direto ao acervo, sabem onde está o material necessário e se não tiver este material, aí sim, eles virão ao balcão de atendimento, perguntam se existe outro material que atenda a esta necessidade e pedem auxílio de alguém que possa ajudar”. (B1)
Para Pietri (2007), embora o livro didático tenha um papel importante na pesquisa
escolar, o material é tão superficial quanto a internet, que tem como características
aproximadas a busca do assunto por palavras-chave, de forma a obter um resumo que
é usado pelos alunos para elaborarem seus trabalhos escolares. De acordo com
Carvalho (2005), essa prática é a acentuação de um comportamento considerado muito
antigo por professores e bibliotecários, que é a cópia de trechos e textos pesquisados,
169
o que ressalta a sensação de independência dos alunos conforme a fala da
bibliotecária B2, quando a mesma pergunta feita ao bibliotecário B1 é dirigida a ela:
“Eles são independentes em chegar na biblioteca, mas não sabem procurar uma ajuda específica, mas isso não quer dizer que eles não estejam capacitados. Eu não sou contra e nem a favor da internet, tudo tem seu lado positivo e seu lado negativo. A internet também é uma importante fonte de consulta e os alunos precisam saber utilizá-la, como a questão dos livros didáticos também, se não saber utilizá-los, em vez de edificar a aprendizagem do aluno, ele pode distorcer de um livro também. Os dois têm conteúdo. A questão é como isso é utilizado. E o contexto também, isso é muito importante, como isso é contextualizado”. (B2)
Para Vianna (2005, p. 37), a internet é “[...] um espaço cibernético onde as informações
não são selecionadas, como ocorre nas bibliotecas. Disponibilizam sites de qualidade e
sites que não contribuem em nada para o aluno”. Portanto, uma página de internet
pode ter autorias diversas e o aluno descaracterizar este conteúdo, enquanto o livro
didático possui uma autoria clara e bem delineada, mas com informações muito
genéricas ou muito rasas, que de uma forma ou outra, incentivam o aluno a pesquisar
em outras fontes. Para a bibliotecária B2, se o usuário não tem domínio sobre o uso e a
credibilidade de fontes de informação, qualquer fonte pesquisada na internet servirá de
base à pesquisa, complementando a autoria institucionalizada do livro didático.
Aquele aluno que é competente em informação, mesmo que não encontre no livro
didático o assunto que procura, será suficientemente capaz de interagir com outras
fontes informacionais e além de encontrar a informação, será capaz de resumir,
sintetizar, relacionar dados, parafrasear e apresentar esta informação sob seu ponto de
vista (KUHLTHAU, 2010). Para o bibliotecário B1, esta é a forma que o mesmo acredita
que o livro didático altera o processo de busca por informação.
Para o bibliotecário B1, a fonte primária é onde o aluno deveria buscar informação, por
ser mais confiável, mas, não exclui a importância do papel da internet neste processo
de complementação de informações, justamente por serem fontes que o aluno tem
mais contato. O papel da biblioteca deverá ser aliar o uso dessas fontes mais
manuseadas dentro e fora da sala de aula com um programa de competência em
170
informação, que transforme este usuário em um pesquisador competente.
Entretanto, para Abreu (2005), a pesquisa escolar deve ser construída baseada no
questionamento, possibilitando que o aluno desenvolva habilidades de escolha de
fontes informacionais que tragam ideias mais claras, como esquemas, tabelas e
gráficos, recursos muito utilizados nos livros didáticos como estratégias de
aprendizagem. O aluno deve ter familiaridade com a biblioteca, com os meios
disponíveis para recuperar informação e precisa ter capacidade de interpretar esta
informação, utilizando mais de uma fonte de informação, que o ajude a fazer
esquemas, resumir e apresentar os dados obtidos da pesquisa escolar.
Considerando que os alunos entrevistados, apesar de serem independentes, não são
competentes em informação, a autora deste trabalho considerou relevante a
possibilidade de elaborar um programa de competência em informação que preencha a
lacuna de dificuldades enfrentadas pelos alunos quanto ao desenvolvimento de
pesquisas escolares de qualidade, o preparo necessário quando estes alunos
ingressarem no ensino superior e estudos posteriores. Os fatores que comprovam que
não são competentes, a partir da análise das entrevistas, consideram os seguintes
indicadores, baseados nas discussões dos seguintes autores, como a AMERICAN
LIBRARY ASSOCIATION (s.d); RADER (1997); SMITH (s.d.); TIEFEL (1995) e outros,
que consideram que uma pessoa alfabetizada em informação é capaz de:
1. Reconhecer quando existe um problema ou questão e definir tal problema: A
maioria dos alunos entrevistados reconhece que precisam resolver um
problema, baseado em sua necessidade informacional.
2. Determinar as questões sugeridas pelo problema: Os alunos entrevistados
costumam trazer questões muito genéricas, não especificando o que realmente
necessitam.
3. Identificar a informação necessária à solução do problema e/ou resposta às
questões: Muitas estratégias de definição do foco da pesquisa são definidas
pelos professores. O aluno não é protagonista neste processo
4. Encontrar a informação: Os alunos claramente possuem dificuldades em
encontrar informação, porém, a maioria não solicita auxílio à biblioteca,
171
preferindo encontrar o material que necessitam sozinhos.
5. Analisar e avaliar criticamente a informação: Muitos dos alunos entrevistados
fizeram o trabalho/pesquisa escolar para cumprir o cronograma curricular, e
poucos afirmaram que tiveram aprendizagem efetiva com o uso da informação
obtida.
6. Organizar a informação: Os alunos entrevistados afirmaram que organizam a
informação baseada em um roteiro preestabelecido pelo professor, não se
preocupando muito em seguir normas de organização de trabalhos acadêmicos.
7. Sintetizar a informação dentro da solução/resposta: Neste ponto, os alunos
são capazes de fazer esta síntese.
8. Integrar os novos conhecimentos a seu universo de conhecimentos
estabelecendo relações; ou seja construir o conhecimento: Poucos alunos
demonstraram que o conhecimento obtido possa ser aproveitado em outros
aspectos da vida escolar/acadêmica. Afirmam que este conhecimento obtido
será utilizado em curto prazo para focar em exames vestibulares. Outros
ressaltam que o conhecimento exigido foi usado para cumprir com o cronograma
escolar estabelecido pelo professor.
Portanto, os alunos apenas sabem identificar a necessidade informacional e sintetizar a
informação, utilizando-a para cumprir cronogramas curriculares e em algum momento
para facilitar o exame vestibular. Poucos alunos ressaltam que aprenderam
efetivamente e desenvolveram criticidade no momento da pesquisa escolar. Dentro do
cenário atual, a alfabetização informacional tem sido impulsionada pela necessidade de
formar cidadãos capazes de serem aprendizes independentes, ao longo de suas vidas.
Mais do que isso, é necessário aprender a pensar e não somente acumular conteúdos.
Isso se traduz na aquisição do chamado pensamento crítico.
Em resumo, uma pessoa alfabetizada informacionalmente aprendeu a aprender, uma
vez que sabe:
. Como o conhecimento é organizado;
. Como encontrar a informação;
172
. Como usar a informação para aprender;
. Como construir conhecimento;
Trazendo esta afirmação para a realidade do livro didático, este dispositivo transforma-
se em um material de referência para aprofundamento de pesquisas em materiais mais
técnicos. Entretanto, a dificuldade em construir a competência informacional se dá pelo
fato do aluno acreditar que a informação correta ou a mais plausível, é proveniente da
fonte passada pelo professor, seja ela didática ou não. Ao contrário deste tipo de aluno,
os usuários competentes têm um diferencial, que é saber pesquisar em diferentes
fontes de informação e ainda reconhecer que precisa de ajuda, conforme ressalta o
bibliotecário B1, quando questionado: “Você acredita que o aluno que utiliza os
recursos da biblioteca e desenvolve a competência em informação tem um diferencial
em relação ao aluno que não frequenta a biblioteca? Como você percebe isso?”:
“Os alunos independentes não se frustram, porque eles sabem onde encontrar o material. Se não tiver no livro, seja didático ou em um livro mais técnico, ele vai buscar no periódico. Se não tiver no periódico, ele vai buscar em um recurso multimídia. Se não tiver ali, ele vai pesquisar em outras fontes ou na internet. Então, ele não se frustra por não encontrar a informação no livro, mas ele vai atrás de outras fontes que satisfaçam sua necessidade. Esse aluno é diferente daquele que não tem competência informacional, porque ele acha que o conteúdo que ele precisa está apenas no livro, em um livro específico, de um autor específico. Se não tem o livro deste autor, então não tem o conteúdo que ele precisa, ele fica sem fazer o trabalho. A biblioteca precisa trabalhar essa questão, o trabalho foi passado em cima de um livro específico ou de um autor, mas não significa que o aluno tenha que usar somente este autor ou este livro, pois o mais importante é o conteúdo, que pode ser encontrado em outros autores e em outros livros também, ou em outras fontes de informação. Eu acho que existe essa frustração por parte do aluno que não tem a competência informacional desenvolvida, que é diferente do aluno que tem a competência desenvolvida, pois buscará alternativa ou outras fontes para obter a informação que ele quer”. (B1)
Foi questionado também aos bibliotecários envolvidos até o ano de 2013 com a
formação da biblioteca escolar campo da pesquisa, possíveis direcionamentos ou
sugestões do que poderia ser implantado como um programa de competência em
informação. Na visão dos bibliotecários, suas falas apontam possibilidades dessa
173
construção, quando questionados: “Em sua opinião, que tipo de programa de
competência em informação poderia ser adotado na Biblioteca?”:
“Eu acho que a biblioteca deve trazer os alunos para ter este contato mais próximo com o acervo. Se for possível, tirar os alunos da sala de aula por alguns minutos e apresentar o acervo para eles. O que é feito no início do semestre letivo é apresentar a biblioteca para o aluno, mas deveria ser feito uma apresentação do acervo para o aluno. Acho que é um primeiro passo: mostrar o que tem disponível no acervo, o que significa, cada número da organização, aquela ordem de apresentação da etiqueta, onde está o material que é referente a cada curso. Então eu acho que precisa ser feito primeiramente uma apresentação do acervo. Ai depois apresentar a ferramenta que gerencia o acervo da biblioteca para o aluno que, caso queira, ele possa fazer a pesquisa na base, do material e se este material está disponível na sua biblioteca ou em outra biblioteca. Se está disponível em outra biblioteca, como fazer para que o usuário tenha acesso ao material. Mas o primeiro passo é apresentar o acervo, para iniciar o treinamento em competência informacional, para que o usuário se torne independente e saiba recuperar a informação que ele precisa”. (B1) “Acho que vários caminhos podem ser válidos, não tenho um em específico, todos os problemas da competência informacional estariam resolvidos se houvesse um único caminho, não sei o que a literatura aponta, porque eu não pesquiso essa área, nem tenho domínio sobre, mas é difícil você dizer um único caminho. Eu vejo como importante a parceria entre o professor e o bibliotecário, porque se isso não caminhar junto, a biblioteca não tem sentido em existir”. (B2)
A opinião do bibliotecário B1 é reducionista, pois a competência em informação não se
resume apenas na localização física da informação, e a opinião da bibliotecária B2
demonstra claramente que não conhece a literatura sobre assunto, no que tange às
ações para o desenvolvimento de um programa de CoInfo. No entanto, essa ação
envolve um trabalho conjunto entre professores e bibliotecários.
É necessário, tanto a construção em conjunto de um programa que envolva a
conscientização e participação dos professores, quanto a necessidade de treinamento
de usuários quanto aos produtos, serviços e recursos de pesquisa escolar orientada
oferecida pela biblioteca, além de provocar no usuário a consciência de que a formação
do pensamento crítico e analítico poderá auxiliá-lo em formações futuras, no âmbito
174
mercadológico e/ou acadêmico.
Para Kuhlthau (2010), o professor pode planejar seu trabalho de pesquisa escolar em
conjunto com o bibliotecário. O primeiro pode não ter domínio ou ter familiaridade com
as fontes de informação relacionadas ao assunto da pesquisa, mas deverá ter
consciência da complexidade da tarefa proposta, pois como especialista da área,
poderá determinar o assunto e seu recorte, e o bibliotecário torna-se um importante
aliado do processo de pesquisa, por ter conhecimento das fontes que podem contribuir
para o desenvolvimento do trabalho e de como as informações estão organizadas,
classificadas e como podem ser acessadas.
O livro didático, como dispositivo relacionado ao aspecto estrutural e pedagógico para
um programa de competência em informação, é, de acordo com Kato e Kiouranis
(2013) “[...] um recurso material que os alunos têm acesso na escola e em casa, por
isso é considerado um material de apoio significativo. Por meio do livro, os alunos
podem criar autonomia de estudos e rever conteúdos, de modo a dosar as atividades
de estudos diários. Neste viés, será o dispositivo principal no qual será baseado o
desenvolvimento do referido programa.
Em relação aos programas ou projetos de competência em informação durante o
tempo de atuação dos bibliotecários no campus da pesquisa, foi questionado aos
profissionais B1 e B2 se desenvolveram programas específicos de competência em
informação, e diante da negativa, ressaltaram que não foi o foco de ambos na
implantação da biblioteca na instituição, quando foi perguntado a ambos: “Você
desenvolveu algum programa de competência em informação?”:
“Não desenvolvi nenhum programa, não foi nada específico. Na época, oferecemos treinamentos, isso foi em 2013, no início do semestre letivo. A gente ofereceu treinamentos no sistema que gerencia o acervo da biblioteca. Foi ensinado a como fazer a busca e recuperação da informação no sistema da biblioteca e também foi trabalhado o sistema de classificação usado pela biblioteca, como o acervo estava identificado, como estava organizado, no sentido de ajudar o aluno a encontrar o material que necessita. Mas, não foi nada voltado à competência informacional ou que remetesse a esse tema específico. Eu tive a oportunidade de fazer uma palestra com esse tema para um
175
grupo de alunos, mas essa palestra foi realizada no campus onde eu atuo hoje. Ali sim eu tive a oportunidade de falar sobre este tema, sua importância, o que é a competência informacional e a importância da biblioteca no desenvolvimento da competência informacional do aluno. Eu não tenho como saber se essa palestra surtiu resultados, mas creio que tenha tido efeitos sim”. (B1)
A necessidade de desenvolvimento de um programa de competência em informação é
para uma formação contínua de usuários, devendo constituir-se como uma política de
educação de usuários de forma permanente e atualizada. Para a bibliotecária B2, esta
reconhece claramente que este programa não foi desenvolvido durante seu período de
atuação nesta biblioteca:
“Houve treinamentos de usuários, mas creio que são coisas completamente diferentes, porque treinar aluno, levar os alunos para a biblioteca, falar do sistema Pergamum, nos vestimos de personagens para fazer uma coisa lúdica, nós fizemos”. (B2)
Portanto, não se pode confundir competência com independência, pois o termo
pressupõe, de acordo com Perrenoud (2000, p. 91) “[...] a faculdade de mobilizar um
conjunto de recursos cognitivos (saberes, capacidades, informações etc.) para
solucionar uma série de problemas”, e a competência informacional possui como um de
seus objetivos “[...] formar indivíduos que saibam determinar a natureza e a extensão
de sua necessidade de informação como suporte a um processo inteligente de decisão”
(DUDZIAK, 2003, p. 28).
As falas dos alunos nas entrevistas realizadas dá entendimento da necessidade de
parcerias para incentivo à leitura e também do uso do livro didático com o serviço de
orientação à pesquisa escolar ofertada pela biblioteca, pois reconhecem a necessidade
de maior integração entre a biblioteca e sala de aula. Quando questionados sobre
“Qual sua opinião em relação ao livro didático? Você tem alguma sugestão de melhoria
para das atividades de incentivo à leitura e pesquisa escolar da biblioteca?”, as
respostas foram as seguintes:
“Depende do objetivo do professor. Quanto mais dinâmico for a aula, menos maçante seria a aula. Seria interessante”. (A1) “Ah, pelo fato de incentivar a leitura, buscar conhecimento,
176
entendeu? O conhecimento que ele passa em sala de aula é muito superficial e buscar conhecimento no livro te ajuda a formar uma opinião em relação aquele assunto. Seria melhor”. (A2) “Acredito que seria muito mais fácil se usássemos livros como base, porque hoje temos várias fontes, muita coisa que não pode ser confiável, o livro didático é uma fonte segura e fácil e que está aqui, disponível para usar a qualquer momento, e que se for bem utilizada pelo professor, pode ajudar muito”. (A3)
Para Campello (2005a), a biblioteca pode, através do seu serviço de pesquisa
orientada, aproximar o usuário de uma realidade que ele viverá em seu cotidiano, como
profissional e cidadão. Para Kuhlthau (2010), quando a biblioteca é envolvida na
proposta de pesquisa, os alunos têm maior probabilidade de pensar o trabalho em
relação ao que é disponibilizado pelo acervo, passando a refletir sobre a variedade de
fontes de informações disponíveis para a pesquisa direcionadas pelo livro didático
através dos tópicos já apresentados por este material, evitando o sentimento de
frustração em selecionar assuntos muito específicos ou muito genéricos.
O leitor em formação não será um leitor proficiente, nas palavras de Pietri (2007)
através de estratégias de facilitação de leitura, como a proporcionada pelos textos
didáticos. Um leitor é proficiente quando se depara com situações-problema e utiliza-se
do próprio texto para a sua compreensão e interpretação, trazendo hipóteses para a
solução do problema à medida que vai descobrindo o que ainda não é conhecido.
Muitas vezes, o aluno tenta pesquisar na internet para relacionar suas experiências
pessoais àquilo o que não é conhecido, porém, o texto didático passa por supressões
de passagens com o objetivo de facilitar a leitura, conforme análise de Pietri (2007, p.
39), deste modo: “[...] os textos didáticos exigem a ativação de um conhecimento prévio
específico, em favor do trabalho com conhecimentos prévios organizados por
esquemas”, que acaba evitando o trabalho com vários textos, que poderiam despertar o
interesse para a busca de outras fontes de informação. A biblioteca escolar poderá
utilizar-se destas estratégias de busca por informação para melhor prestar auxílio aos
seus usuários. Estas estratégias de facilitação de leitura poderiam trazer algum auxílio
na pesquisa escolar, conforme declaram alguns alunos:
177
“Seria muito mais efetivo, porque não é tão presente assim o aluno vir para a biblioteca estudar. A gente vê que muitas vezes ele só vem aqui mexer no computador e larga o livro didático de lado. Eu não sou adepto a essa nova forma de estudar. O livro tem muito a contribuir e ele tem mais credibilidade que a internet. Então, na internet podem publicar o que quiserem, e a gente não filtra as informações. No livro didático não, ele passa por todo um critério, toda uma metodologia de escrita, acho mais confiável.” (A4) “Pelo menos eu aprendo lendo e fazendo meus resumos. Então acho assim que com a orientação do professor, saberíamos qual é a parte principal, qual a parte é mais cobrada do Enem, por exemplo, qual a parte é mais importante de saber, qual detalhe é mais importante.” (A6) “Muito melhor, muito mais rico, porque quando o professor auxilia o aluno falando ou mostrando o assunto que ele tem que buscar, além de já facilitar a pesquisa na biblioteca, ela permite o aluno ter uma acessibilidade maior. No meu caso, nós tivemos que procurar nos livros, os livros ideais, nós tivemos que...eh...só nos livros, teve coisas que pesquisamos na internet, de site em site até achar um coerente, comparar um livro com outro, para ver qual livro tá melhor. Então eu acho que se o professor tivesse falado logo do início que tal livro é o mais adequado, seria meio caminho, eu não teria perdido tanto tempo. Teria sido muito mais fácil para montar o trabalho.” (A17)
O livro didático apresenta por fim, esquemas contextualizados que informaram a origem
do texto, sem prejudicar o trabalho de compreensão, mas não incentiva o ato de
interpretação pelo aluno. Por outro lado, a internet não apresenta esta organização, o
que faz com que o aluno A4 acredite que a informação não seja válida.
Pietri (2007) ressalta que na representação eletrônica, os textos são disponibilizados
sem que as suas fontes sejam verificadas, o que impossibilita a construção de uma
ideia de contexto, de unidade, colocando em risco o processo de identificação de obras
como são conhecidas na ordem impressa, baseadas na singularidade e originalidade.
O aluno que se apropria dos esquemas de representação do livro didático para a
formação de sua própria opinião pode se deparar com alguma dificuldade imposta pelo
178
texto, porém, o professor não possui o hábito de ter a biblioteca escolar como parceira
para auxiliar a estabelecer objetivos para a leitura de determinado texto, e que este
aluno veja a biblioteca escolar como um lugar que seja uma referência que o auxilie na
construção de um processo de aprendizagem ativa.
Para Pietri (2007), caso as atividades propostas pelo professor sejam baseadas no livro
didático e se limitem apenas a este material, os leitores em formação não terão acesso
às práticas de distinguir, classificar e realizar leituras críticas de um texto em seu
contexto real, características desenvolvidas por leitores proficientes na sociedade da
informação e do conhecimento. A fala do aluno A7 demonstra a ausência do professor
na biblioteca:
“Nossa, seria muito mais proveitoso. Porque muitas vezes alguns professores passam o trabalho e não tem o trabalho de vir na biblioteca. E só depois que a gente já fez o trabalho, tirou uma nota razoável, boa ou ruim, é que andando pelas prateleiras da biblioteca, a gente acha um livro muito interessante sobre o tema, a gente acaba percebendo que se eu tivesse me empenhado naquilo ali, teria tido um conhecimento individual muito mais proveitoso do que somente ter pesquisado no livro didático ou na internet”. (A7)
O aluno que não tem contato com a biblioteca escolar pode até ser independente na
busca por informação utilizando-se da estrutura de apresentação do livro didático,
relacionando essa estrutura com a estrutura de organização da biblioteca, porém, sem
o trabalho interdisciplinar entre o professor e a biblioteca, o aluno pode não capaz de
“[...] diferenciar um romance de um conto, pois nos fragmentos apresentados, não é
possível reconhecer as características de cada gênero” (PIETRI, 2007, p. 47), portanto,
somente com a parceria entre o professor e a biblioteca escolar, o aluno pode ter
referências sobre a origem do fragmento reproduzido pelo livro didático, conhecendo os
gêneros de leitura, sejam apresentados através de poemas, textos jornalísticos,
anuários, estatísticas, dentre outros, para assim reconhecer suas diferenças e
diferentes aplicações na vida escolar que esses gêneros exigem.
As opiniões de outros alunos entrevistados ressaltam a necessidade deste trabalho
interdisciplinar, conforme os trechos destacados:
179
“Acho que seria melhor, porque não ficaria ao léu, no caso, não é que ela, a professora, nos deixou ao léu, mas ela passou o tema e ficou a nosso critério escolher em qual livro estudar e tudo mais. Se ela aliasse a esse programa que é oferecido pela biblioteca, acho que daria uma direção melhor ao aluno.” (A8) “Eu acho que seria melhor, ia melhorar em todos os aspectos. Porque às vezes o professor não busca isso né? Ele só dá o tema, pronto, acabou. E com esse auxílio, você vai ter uma compreensão maior do trabalho. Acaba até ajudando na apresentação do trabalho.” (A9) “Olha, a gente é acostumado com a internet né? As coisas são mais rápidas. Acho que o professor pegaria mais no nosso pé pra usar mais os livros. Eles sempre falam pra gente usar mais os livros, mas a gente nunca usa mesmo, por causa da pressa, às vezes por causa da falta de tempo, mas eles sempre incentivam a gente a usar os livros daqui da biblioteca, eles só não vem com a gente escolher.” (A10)
“Eu acho que seria melhor, muito melhor se o professor seguisse o livro didático para dar uma base aos alunos, porque no primeiro ano foi feito um trabalho assim, de ter uma base no livro didático e depois a gente foi ficando bem solto, mais com slides e tal. E isso às vezes atrapalha bastante o aluno, porque tem casos de alunos que faltam, e só tem o slide pra acompanhar, e ai ele pensa: onde é que vou estudar? Se é na internet, ou na biblioteca em outro lugar. Se o professor seguisse o material didático, talvez o aluno poderia recuperar sua matéria. Alguns professores faziam isso, traziam os alunos para a biblioteca para debaterem, para estudar. Eu acho bastante interessante, é um momento para o aluno estar ali, estudando por conta própria, e o professor tá ali, tirando dúvidas. É bom mesclar também, às vezes, o professor não tem tempo de trazer os alunos, nem todos os alunos são bem-comportados, seria bom utilizar os melhores momentos, tipo a confecção de trabalhos em grupos, seria uma situação bastante favorável.” (A11) “Seria melhor, embora alguns alunos não contribuam para isso. Apesar do professor de física disponibilizar o laboratório para aulas práticas, se ele viesse para cá, para a biblioteca, mostrasse os livros e relacionasse a teoria com a prática, acho que seria melhor.” (A13)
Para Pietri (2007), a mediação do professor é fundamental para a formação de um
leitor proficiente, pois é preciso que os objetivos de leitura e da pesquisa escolar sejam
180
definidos pelo professor, o que acarreta na necessidade de escolhas adequadas de
textos a serem lidos em sala de aula e em outros espaços escolares, incluindo nesse
contexto, a biblioteca. Em consonância com os objetivos do professor, a biblioteca
escolar poderá auxiliar no trabalho interdisciplinar, respondendo a questões sobre e
quando um texto foi publicado, buscar as referências sobre sua publicação, seja na
introdução, nas referências bibliográficas ou em outras obras, pois apenas a leitura de
textos que apontem suas referências e condições de produção podem produzir
aprendizagem e sentidos que o texto pretende passar, de forma satisfatória. Os relatos
dos alunos a seguir, reforçam essa necessidade:
“Eu acho que seria melhor, porque muitas vezes ficamos em sala de aula só ouvindo, ouvindo, ouvindo, chega uma hora que você não está mais prestando atenção, então quando o professor te manda ler uma bibliografia, você acaba fazendo essas associações da matéria.” (A14) “Ia ser bem mais completo, porque a gente teria muito mais acesso à informação do que só o livro didático, do que a gente vir aqui (na biblioteca) procurar. Se o professor trouxesse a turma, ia ser bem mais aceito pelos alunos. Não é só seguir aquilo que o professor está pedindo, mas sempre é bom procurar outras fontes.” (A15)
A ação da biblioteca deve inserir-se tanto no planejamento quanto na prática docente,
no que tange à sua atuação no apoio no planejamento escolar. Para Durban Roca
(2012, p. 91), a atuação está presente em duas vias: “[…] de nível metodológico,
assessorando o uso de recursos facilitadores da aprendizagem, e a outra, no nível de
conteúdo curricular”. Ou seja, os planos de aula devem ser relacionados com projetos
interdisciplinares, vinculados ao desenvolvimento de competências básicas, inserindo-
se neste contexto, competências de leitura e de formação de pesquisadores, através
de desenvolvimento de estratégias de pesquisa escolar.
De acordo com Pietri (2007), se a escola tem como um de seus objetivos levar o aluno
a se tornar um leitor e pesquisador proficiente, deve possibilitar, junto com a biblioteca
escolar, que este aluno seja inserido nas práticas de leitura valorizadas pela sociedade,
com projetos de leitura e programas vinculados às competências básicas, pois apenas
a leitura dos textos didáticos sem uma conexão com as fontes informacionais em sua
íntegra, pode não incentivar o acesso aos textos mais complexos.
181
Uma vez que o professor realiza a mediação entre o aluno e o texto, este tem a
oportunidade de conhecer seu aluno, pois pode potencializar ou desenvolver
competências que este leitor ou pesquisador possui, trabalhando em parceria com o
bibliotecário escolar.
Para Durban Roca (2012, p. 96), é importante que o coordenador ou responsável pela
biblioteca também “[...] deverá trabalhar fisicamente fora dela, conectando as
necessidades surgidas em sala de aula com possibilidade de utilização de recursos e
serviços da biblioteca”, ou seja, uma vez que o professor esteja em sala de aula
utilizando o livro didático, o bibliotecário deverá fazer este acompanhamento
educacional, proporcionando o acesso às fontes de informação que subsidiem
pesquisas escolares de qualidade e formem usuários competentes em informação.
Os demais funcionários devem ser treinados para atender essa demanda, quando
surgir. Somente assim, a biblioteca escolar poderá exercer sua função de apoio
pedagógico que faça jus à sua existência na escola. Para a estagiária E1, quando
questionada se “é necessário um trabalho interdisciplinar entre o professor e a
biblioteca? Por que?”, seu relato informa que alguns professores já realizam parcerias
neste sentido, de aproximar o aluno do ambiente da biblioteca, conforme o trecho
destacado da sua entrevista:
“Eu acho que sim, esse ano os professores têm focado mais os livros literários, mas como são muitos alunos, temos feito downloads nos Kobo, e disponibilizado aos alunos, então nesse ponto, tem ajudado muito. Então está tendo uma união entre o professor e a biblioteca e tem dado certo. Então se acontecer dessa união se focar também nas pesquisas, só tem a ganhar, e acho que dá certo sim. E é o que ocorre na verdade, porque os professores mandam os alunos pesquisarem na biblioteca e já vem atrás do livro e a gente procura dar uma orientação de como pesquisar.” (E1)
Para a estagiária E1, os professores são parceiros da biblioteca no momento em que
indicam a leitura de livros literários, mas, percebe-se nesta fala, que falta incentivo do
docente em acompanhar o desenvolvimento de pesquisas escolares.
182
Para Kuhlthau (2010), no estágio de exploração de informações na biblioteca as ações
deveriam ser pautadas em relaxar, ler e refletir, entretanto, não costumam ocorrer
porque não há uma flexibilização de tempo aos alunos. Espera-se que os alunos
venham à biblioteca por conta própria para iniciar ou continuar suas pesquisas, mas
não é o que ocorre, conforme a fala da estagiária E2:
“Eu acho que mudaria a visão do aluno da biblioteca, justamente pelo que falei antes. O aluno do ensino médio hoje tem esse sentimento de impaciência, e como o processo de pesquisa é mais lento e tudo mais, a biblioteca não é o meio principal, assim, não é a primeira coisa que o aluno utiliza. Ele vem aqui assim, para buscar um livro didático de exercícios, que o professor pediu, ele não vem por conta própria. A procura dos alunos são meio que incentivadas pelo professor, e o aluno não vem tipo, sozinho. Não vejo aquela curiosidade do aluno nessa questão, a não ser literatura, que ele vem por livre e espontânea vontade. O resto, ele vem mais por obrigação mesmo. Um aluno ou outro, da agroindústria, que buscam um pouco mais, mas esse comportamento eu vejo mais nos alunos mais velhos, que não só estudam, já estão montando um negócio, ele tem um interesse financeiro em cima daquele conhecimento, então ele busca mais”. (E2)
Os estudantes têm a impressão que apenas uma visita à biblioteca basta para
satisfazer suas necessidades de informação, porém, a pesquisa escolar demanda
tempo, esforço, leitura, organização e apresentação do trabalho. Pelo tempo para a
preparação do trabalho ser escasso, motivado também por múltiplos trabalhos ou
tarefas, o estudante sente impaciência em continuar a pesquisa com todo o rigor
metodológico. Para a estagiária E3, o rigor do professor em não deixar o aluno utilizar a
internet no momento da pesquisa escolar fazia com que o aluno utilizasse fontes de
informação primárias, de modo a enriquecer seu trabalho, conforme seu relato:
“Eu vou pegar o exemplo de história, o professor trazia os alunos para a biblioteca e fazia a gente usar o livro didático e os outros livros de suporte. O bibliotecário M. já deixava tudo agendado e os materiais separados para determinados grupos desse professor. Então era legal. O professor não deixava usar a internet, era só o livro didático, se quisessem usar a internet, era só em casa. Então os seminários eram muito ricos, se o aluno não achasse alguma coisa interessante em um livro didático, ia pra outro técnico. Eu achava uma boa combinação e outros
183
professores poderiam fazer”. (E3)
Na fala da estagiária E3, o referido professor da disciplina de História sugeria que ao
invés dos estudantes recorrerem direto à internet, pudessem utilizar os livros didáticos
e outros materiais mais técnicos, já previamente separados pelo bibliotecário “M” na
busca exploratória por informação, que aumentasse a compreensão do assunto
pesquisado e a internet era utilizada como complemento ao tema estudado no livro
didático.
Quando foi feita a mesma pergunta realizada à estagiária E1 sobre o trabalho
interdisciplinar entre o professor e a biblioteca, o relato da Auxiliar de Biblioteca AUX 1
vai ao encontro do pensamento de Durban Roca (2012), quando a autora diz que
surgiram novas modalidades de produção de textos e novas maneiras de transmitir o
que é escrito, havendo uma tolerância de formas diferentes de apropriação dos
discursos, ou seja, novas práticas de leitura:
“Eu acho que o aluno iria valorizar (sic) muito mais o sentido da biblioteca, porque muitos utilizam a biblioteca por causa dos computadores, tanto é que se não tiver internet, eles ficam aqui perdidos, eles não sentem a necessidade do livro em primeiro lugar. Eu percebo que o professor dá aula, manda o aluno pra biblioteca, mas não vem junto com o aluno para trabalhar o livro didático ou qualquer outro. Não vou generalizar, porque tem professores que vem para a biblioteca trabalhar exclusivamente com o livro, mas tem professores que combinam livro e computador e quando tu vai ver (sic), o livro tá fechado, o aluno usa somente o computador. Então não teve aquele estímulo real do uso do livro. Se o professor realmente aliasse o uso da biblioteca com sua didática de ensino, o aluno daria mais valor, usaria mais o livro do que a internet. E também daria valor ao bibliotecário, ao profissional que conhece o acervo”. (AUX 1)
No entanto, a realidade das bibliotecas escolares brasileiras é sempre resolver as
dúvidas dos alunos sem a contextualização da pesquisa pelo professor, que é alheio
aos estímulos que poderia ser proporcionados aos alunos, o que gera uma resistência,
por parte dos professores, em incentivar o uso da biblioteca escolar como espaço de
pesquisa, conforme a afirmação do auxiliar de biblioteca 2:
“Eu acredito que os professores iriam adotar (sic) a ideia, e isso
184
facilitaria a aproximação do aluno com a biblioteca. Eu acho que lá já existia essa prática, não muito sistematizada com o bibliotecário, era só por conta do professor em levar os alunos pra biblioteca, e às vezes, os alunos ficavam muito soltos. Acho que só tem que ampliar para todos os professores. Talvez, os professores por não terem tanto contato com a biblioteca na época que eles eram alunos, criou-se essa resistência, não tem aquela proximidade com a biblioteca. Às vezes, o professor já tem um acervo na casa dele, por achar mais prático, então, por não ter um envolvimento com a biblioteca, ele acaba não incentivando. O professor não usa tanto o livro didático pela falta de confiança na autoridade de quem escreve o livro, e como o livro didático que ele não escolheu para trabalhar tá na biblioteca, a falta de confiança se transfere para a biblioteca. O professor escolhe o livro, mas na hora que chega, muitas vezes não é o livro que ele escolheu. Ai cria-se essa resistência contra o livro e a biblioteca.” (AUX 2)
O uso constante da internet à frente da utilização de fontes primárias é caracterizada
hoje pela democratização da cultura ao centralizar em um só sujeito “as tarefas
produtoras, como escrever, editar e publicar. Desse modo, os conceitos de autor, editor
e distribuidor, que coincidem com a industrialização do livro didático, correm o risco de
ser modificado”. (Chartier, 2000, p. 38, tradução livre).
Para Kuhlthau (2010), à medida que as tecnologias de informação expandem o acesso
à mesma, evidencia o risco de maior possibilidade de acesso por aqueles que são
competentes digitalmente e menor acesso por aqueles que não são. Logo, a fala da
AUX 1 remete à necessidade de preparação dos estudantes pelo professor para o
acesso à internet para aprimorar a pesquisa escolar, auxiliando no desenvolvimento de
habilidades para a aprendizagem constante, incluindo nestas habilidades, o domínio do
processo de pesquisa, no qual o livro didático poderá ser uma ferramenta importante no
que se refere ao direcionamento para a coleta de informações focalizadas sobre o
assunto pesquisado.
Kuhlthau (2010) afirma que quando um professor solicita um trabalho de pesquisa aos
estudantes, as reações variam entre a ansiedade, medo e pressão. Logo, o professor e
o bibliotecário e demais profissionais da biblioteca deverão estar atentos a esses
sentimentos para restabelecerem a confiança nos alunos e informá-los que podem
contar com os profissionais para gerenciar suas incertezas no momento em que a
185
pesquisa escolar é proposta.
Pela vivência da autora deste trabalho, os professores possuem acervos pessoais,
contendo títulos que muitas vezes não constam no catálogo do acervo da biblioteca,
pois o professor alega que o conteúdo do livro didático é falho e prefere não utilizá-lo
para as aulas. No entanto, este professor não considera que o aluno ou grupos de
alunos poderiam ter a biblioteca como referência para desenvolver satisfatoriamente
suas pesquisas escolares.
A biblioteca, para Durban Roca (2012) pode ter seu uso contextualizado a partir de uma
disciplina, de uma área do currículo ou de projetos interdisciplinares, e a pesquisa
escolar orientada em consonância com a biblioteca ajuda, de acordo com palavras da
autora (p. 101) “[…] a superar o formato predefinido do livro didático das situações
preestabelecidas e situa os estudantes dentro do processo de aprendizagem no qual, a
partir de uma variedade de fontes, devem construir sua compreensão”.
Deste modo, o aluno assume seu protagonismo na tomada de decisões para realizar
observações ou elaborar hipóteses que vão ao encontro à realidade vivida por este
aluno, ainda que o trabalho do professor paute-se no uso do livro didático para
estruturar, guiar e orientar a aprendizagem do aluno que vá ao encontro às
competências estabelecidas pelas diretrizes educacionais brasileiras.
A biblioteca como função de apoio pedagógico deverá ser fortalecida, e para isso,
implica na orientação dos professores de como utilizar a biblioteca e seu acervo em
diversas situações de aprendizagem, pondo em prática uma forma de apoio às
atividades e projetos de trabalho desenvolvidos em sala de aula, assumindo uma
postura de interdisciplinaridade, conduzindo intervenções em prol de uma educação
mais construtivista, contribuindo para o desenvolvimento de competências básicas
(García Guerrero, 2006). Quando questionados se “Seria possível uma parceria entre o
professor e a biblioteca cuja prática seja o fortalecimento do livro didático?”, as falas
dos bibliotecários não possuem consenso:
“Como eu disse, por mais que os professores não utilizem o livro didático por acharem que o conteúdo do livro didático é, entre aspas, fraco, não é aquilo que eles planejaram para as aulas,
186
mas, mesmo assim, eles fazem uso do livro didático com complementos, na verdade, com materiais indicados para aquisição pela biblioteca. Então, há essa interação entre o professor, o livro didático e a biblioteca. A biblioteca disponibiliza outros materiais que o professor julgar necessário e que está na ementa dos cursos, visando atender a necessidade dos alunos. A biblioteca tem que trabalhar no sentido de fornecer os materiais que são necessários às necessidades informacionais do aluno, nesse sentido, a biblioteca deve adquirir somente materiais informacionais que atendam a essa necessidade. Tem os livros didáticos distribuídos pelo FNDE e os livros didáticos presentes nas ementas dos cursos. Então, quando a gente fala do livro didático, tem que se separar aquele que é distribuído e aquele que é adquirido pela biblioteca para compor o seu acervo. O livro didático no sentido geral é indicado pelo professor, já consta na ementa do curso. A gente tenta disponibilizar os dois. Inclusive, esses materiais didáticos que são indicados e que estão na ementa do curso, a gente tenta trabalhar no sentido de adquirir maior quantidade de exemplares para atender a necessidade de todos os alunos que vão precisar daquele material”. (B1)
“O professor não nos procurava para direcionar que estava trabalhando com determinado assunto em determinada turma e que ia passar determinado trabalho. Algumas vezes, quando alguns professores utilizavam o espaço da biblioteca para dar suas aulas, alguns poucos avisavam com antecedência, tanto que nós instituímos um critério para isso, porque eles queriam chegar na hora da aula, independente se a biblioteca estivesse ou não com pessoas e davam sua aula. Para mim, isso é aula sem planejamento, porque aula não é só juntar todo mundo e vamos ter uma aula. E ai? Só vai mudar o espaço. Ao invés da aula ser na sala, será na biblioteca, mas com que finalidade? Só por que o professor não quer dar aula lá? Isso tem que ter um debate, tem que ter um material, as pessoas precisam estar envolvidas ali, porque senão qual a finalidade?” (B2)
As opiniões dos bibliotecários B1 e B2 são antagônicas, no que tange às possíveis
parcerias entre o trabalho docente que utiliza o livro didático e sua interação com a
biblioteca e seus recursos. Entende-se, na fala do bibliotecário B1, que o enfoque no
desenvolvimento da competência em informação exige que o livro didático apresente
atividades nos quais os alunos se deparem com situações-problema e possam utilizar
os recursos do acervo para resolverem esses problemas e construam sua
aprendizagem utilizando informação relevante. Para a bibliotecária B2, a biblioteca não
é reconhecida na função de apoio pedagógico da escola, pois a figura do responsável
pela biblioteca escolar, nas palavras de Durban Roca (2012, p. 96), é vista como “[…]
187
um elemento externo ao sistema, e seu perfil não seria adequado e nem reconhecido
para exercer uma função de apoio pedagógico”.
Uma análise mais aprofundada das respostas obtidas dos alunos e demais
profissionais da biblioteca do campo de pesquisa nas entrevistas realizadas, permite
observar que, apesar dos alunos serem independentes quanto à facilidade de
pesquisa, eles não são competentes em informação, pois não foram inseridos na
prática da pesquisa escolar no ensino fundamental, e ao ingressarem no ensino médio,
verificou-se que possuem deficiências quanto à seleção de fontes de informação
adequadas, extrema dependência da internet, dificuldades quanto à definição do foco e
estruturação do trabalho em si e sentimentos de introversão quanto à necessidade de
pedir ajuda ao bibliotecário ou ao profissional envolvido nas atividades da biblioteca
escolar.
O livro didático pode se mostrar uma ferramenta eficiente no processo de ensino-
aprendizagem, porém, produz falsa sensação de independência nos alunos e neste
contexto, a biblioteca escolar pode constituir-se como parceira para aprofundar,
complementar e desenvolver práticas de aprendizagem que possam indicar a
necessidade de utilização de outros instrumentos de pesquisa para o desenvolvimento
do conhecimento repassado em sala de aula.
Embora os estudantes salientem a importância do livro didático como um dispositivo de
auxílio nas aulas, percebe-se nas falas dos alunos entrevistados que alguns
professores o seguem rigorosamente, deixando de oportunizar aos alunos a
possibilidade de utilizar a biblioteca escolar como ferramenta para superar as limitações
características do livro didático, através da promoção de atividades culturais, de
entretenimento, pesquisas escolares e acadêmicas de qualidade.
Nesse sentido, o que torna o livro didático eficiente ou ineficiente depende da maneira
como o professor conduz o processo de ensino-aprendizagem dentro e fora do espaço
escolar e cabe à biblioteca escolar desenvolver práticas de competência que superem
essas dificuldades.
Alguns autores, como Lajolo (1996), Garcia e Bizzo (2010) afirmam que a função do
188
livro didático é dar suporte ao processo de ensino-aprendizagem, sendo recomendado
que o professor possa dar novos direcionamentos e abordagens neste processo,
assim, os alunos apropriam-se dos conhecimentos repassados pelo professor e serão
alunos críticos, capazes de formarem reflexões sobre o meio em que vivem. Para que
os estudantes construam o conhecimento de maneira mais significativa, deverão ser
capazes de relacionar o conhecimento cotidiano com o saber científico, reproduzido
como insumo informacional em diversos suportes.
Portanto, elencamos uma proposta de desenvolvimento de um programa de
competência em informação que vai ao encontro de uma proposta curricular flexível,
em consonância com a utilização do livro didático.
6.1 VIABILIZAÇÃO DO PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO
Para melhor compreensão da proposta, as etapas do programa de competência em
informação serão divididas nos eixos: Objetivos, Ações, Estratégias e Avaliação,
conforme apresentadas no quadro 1, abaixo:
Quadro 1: Etapas do Programa de Competência em Informação
ETAPAS DO PROGRAMA DE COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO
OBJETIVOS AÇÕES ESTRATÉGIAS AVALIAÇÃO
Fase 1: Elaboração do Programa
Elaborar estratégias para familiarizar o corpo docente quanto a necessidade de um programa de CoInfo
Realizar reunião com equipe pedagógica,
biblioteca e professores
1. Propor atividades de integração entre o
programa de competência em CoInfo com currículo
escolar 2. Realizar uma oficina
introdutória para familiarizar o docente na
rotina da biblioteca 3. apresentar as fontes de informação impressas e digitais para auxiliar os professores a elaborar
planos de disciplina que contemplem a inserção do
aluno no ambiente da biblioteca
4. Apresentar ao professor o sistema de classificação
da biblioteca 5. Conhecer o sistema de
gestão de acervos adotado pela biblioteca
1. Discussão entre as equipes nas reuniões
2. Avaliação das atividades da oficina através de formulário
específico.
189
Fase 2: Execução do Programa
Etapa: Iniciação à Pesquisa
OBJETIVOS AÇÕES ESTRATÉGIAS AVALIAÇÃO
Provocar reflexão para a escolha do
assunto da pesquisa
Será apresentado a estrutura do livro
didático,características de organização (índices,
sumários), relacionando sua localização e
organização com as grandes áreas do
conhecimento da biblioteca.
1. Convite à pesquisa; 2. Discussão sobre as escolhas do assunto
1. Informar o que já sabem sobre o assunto 2. Descrever o que gostariam de descobrir sobre os temas 3. Fazer perguntas 4. Oferecer sugestões sobre os temas trazidos pelos colegas de outras equipes
Etapa: Seleção do Assunto
OBJETIVOS AÇÕES ESTRATÉGIAS AVALIAÇÃO
Selecionar o assunto
1. Utilizar ferramentas de busca (catálogo da biblioteca, obras de
referência, o próprio livro didático, internet, dentre
outros) 2. Analisar se a fonte de
informação é útil
1. Tomada de decisão para a escolha do assunto 2.Visão geral sobre o assunto 3. Reunião com o bibliotecário
1. Verificar se o aluno demonstrou interesse pelo assunto
2. Verificar se o aluno pesquisou os títulos disponíveis no catálogo 3. Listar os termos utilizados na
pesquisa 4. Recomendar aprimorar a busca
Etapa 3: Exploração de Informações
OBJETIVOS AÇÕES ESTRATÉGIAS AVALIAÇÃO
Explorar informações sobre o assunto escolhido
Motivar os alunos a definir um foco de pesquisa
- Estudo da estrutura hierárquica do assunto - Definição do assunto - Busca exploratória - Reflexão sobre a leitura
1. Consultar o catálogo da biblioteca e listar os livros encontrados sobre o assunto; 2. Localizar os livros nas estantes 3. Relacionar os livros encontrados com o assunto selecionado 4. Pesquisar o assunto na internet, verificando a atualização, pertinência e atualização 5. Visitar sites de periódicos eletrônicos
Etapa 4: Formulação do assunto
OBJETIVOS AÇÕES ESTRATÉGIAS AVALIAÇÃO
Definir o foco Decidir por um aspecto do assunto que possa ser bem-sucedido na coleta de informações
Elencar possíveis possibilidades de foco
Comparar seus focos e decidir qual o mais promissor para a continuação da pesquisa
Etapa 5: Coleta de Informações
OBJETIVOS AÇÕES ESTRATÉGIAS AVALIAÇÃO
Reunir informações que se relacionem ao foco definido
1. Relacionar ideias e fatos relacionados ao foco; 2. Utilizar diversas fontes de informação; 3. Entender a finalidade das fontes de informação; 4. Compreender a maneira que cada material auxiliará o usuário
1. Reflexão sobre o universo informacional; 2. Compreensão da hierarquia da classificação bibliográfica. 3. Uso do catálogo da biblioteca; 4. Pesquisa nas estantes
Agendamento de sessões de acompanhamento com o bibliotecário
Etapa 6: Apresentação e Avaliação do Trabalho
190
OBJETIVOS AÇÕES ESTRATÉGIAS AVALIAÇÃO
1. Identificar a necessidade de informações complementares 2. Avaliar o trabalho realizado
1. Auxiliar os alunos na elaboração da parte escrita e de apresentação do trabalho desenvolvido 2. Identificar dificuldades e orientar o que pode ser feito de modo diferente para melhorar os próximos trabalhos
1. Elaboração do esquema; 2. Estruturação de citações e elaboração de paráfrases e resumos; 3. Elaboração de referências bibliográficas
1. Reuniões para avaliação da atividade e sentimentos dos alunos; 2. Exposição de trabalhos
Fonte: Própria autora (2016)
Para o início do desenvolvimento do projeto, primeiramente será realizada uma reunião
com a equipe pedagógica do campus onde foi realizada a pesquisa, no qual a equipe
da biblioteca traçará algumas estratégias em conjunto para familiarização do corpo
docente quanto à proposta de integração de elementos do programa de competência
em informação ao currículo escolar, em consonância com as unidades temáticas
abordadas pelos livros didáticos do triênio 2018 – 2020.
Para essa familiarização a proposta é realizar uma oficina introdutória para inserir o
professor na prática de pesquisa no âmbito da biblioteca escolar, para que futuramente,
o professor incentive a pesquisa escolar em parceria com o bibliotecário. O objetivo da
oficina, no primeiro momento, será apresentar as fontes de informação impressas e
digitais para auxiliar os professores a elaborar planos de disciplina que contemplem a
inserção do aluno no ambiente da biblioteca. Parte da programação da oficina e da
elaboração do plano de disciplina será realizada na Plataforma Moodle14, em parceria
com o Cefor (Centro de Formação e Educação à Distância do Ifes) e a parte prática
será realizada na biblioteca.
No segundo momento, será apresentado ao professor o sistema de classificação
adotado na biblioteca, denominado Classificação Decimal de Dewey15 (CDD) e o
sistema nominal de ordenação por autor, denominado Tabela de Cutter16, com o
objetivo de esclarecer como a biblioteca é organizada.
14
O Moodle é uma plataforma de aprendizagem a distância baseada em software livre. É um acrônimo de Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment (ambiente modular de aprendizagem dinâmica orientada a objetos). Sabbatini (2007) 15
O sistema de classificação decimal de Dewey (CDD) é uma ferramenta organizacional de conhecimento geral que é continuamente revisada para acompanhar o conhecimento humano organizado em bibliotecas do mundo inteiro. O sistema foi concebido por Melvil Dewey em 1873. OCLC (2016) 16
Cutter é uma tabela criada por Charles Ammi Cutter para notação de autor, usada por bibliotecários para ordenar por ordem alfabética, a classificação da obra nas estantes (N.A).
191
No terceiro momento, o professor conhecerá o sistema de gestão de acervos adotado
pela biblioteca, cujo objetivo será inseri-lo na prática da pesquisa escolar aplicada, no
qual aprenderá a recuperar a informação através da pesquisa por título, autor, assunto
ou termo livre, além de reconhecer o número de chamada de maneira automática
fornecida pelo sistema e relacioná-lo à estante e prateleira onde o material bibliográfico
está armazenado.
O cronograma de execução da oficina terá os seguintes indicadores:
Local do primeiro momento: Plataforma Moodle (Virtual)
Local do segundo momento: Biblioteca do campus da pesquisa
Público-alvo: 12 Professores do (EBTT) - Ensino Básico, Técnico e Tecnológico
Período de execução: 2º semestre de 2017
6.2 PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO
Após o desenvolvimento da oficina introdutória, o programa de competência em
informação será aplicado, baseado no modelo ISP de Kuhlthau (2010), já amplamente
explorado e discutido no decorrer deste trabalho. As tarefas serão executadas em
consonância com os módulos curriculares dos livros didáticos do próximo triênio, entre
os anos de 2018 – 2020. Esta proposta não foi testada e, portanto, não apresenta ainda
os resultados de aplicação, constituindo-se como um projeto-piloto. O programa será
desenvolvido seguindo os seguintes indicadores:
6.2.1 Caracterização do local
Será aplicado na biblioteca do campus da pesquisa do Ifes
6.2.2 Público-alvo
Alunos de 1º ao 4º anos do Ensino Médio, dos cursos técnicos em Administração e
Agroindústria.
192
6.2.3 Período de execução
Entre 2018 e 2020, período de duração do próximo triênio do Programa Nacional do
Livro Didático.
6.2.4 Quantidade de pessoas favorecidas
Aproximadamente 250 alunos e 12 professores EBTT
6.2.5 Objetivo geral do programa
Desenvolver competências informacionais referentes ao uso do livro didático em
consonância com os recursos informacionais da biblioteca escolar.
6.2.6 Objetivos específicos do programa
- Apresentar aos alunos as tipologias informacionais e as diversas fontes de informação
(impressas e digitais);
- Relacionar o conteúdo do livro didático com as fontes informacionais disponíveis;
- Incentivar o desenvolvimento de habilidades para o trabalho de reconhecimento de
necessidades informacionais;
- Incentivar o pensamento crítico e analítico
- Avaliar o programa de competência em informação e seus participantes.
6.2.7 Caracterização do Programa
O programa de competência em informação será incorporado ao calendário escolar e
no projeto político-pedagógico do ensino médio. Assumirá um caráter interdisciplinar.
Portanto, quando se pensa na competência em informação no que se refere ao
processo de pesquisa escolar, esta é uma “[…] das principais atividades realizadas no
processo de ensino e aprendizagem desde as séries iniciais” (BELLUZZO, 2008, p. 12).
As ações do programa terão as seguintes etapas de execução:
193
6.3 ETAPAS DE EXECUÇÃO
As etapas de execução do programa foram desenvolvidas em módulos, baseados no
Modelo ISP de Kuhlthau (1991, 2010) para serem aplicadas em um trabalho de
pesquisa escolar para qualquer disciplina, porém, podem ser adaptadas conforme a
estrutura curricular desenvolvida pelo professor.
6.3.1 Iniciação
Nesta etapa, será apresentado a estrutura do livro didático, como os módulos e
características de organização (índices, sumários), relacionando sua localização e
organização com as grandes áreas do conhecimento da biblioteca, além do sistema de
classificação adotado pelo setor.
Para o desenvolvimento de habilidades previstas no módulo 1, serão propostas as
seguintes atividades:
Atividade 1: Convite à pesquisa
Tem como intuito iniciar o trabalho de pesquisa de maneira estimulante para os alunos,
preparando-os para a seleção de assuntos que correspondam aos seus interesses,
tendo o livro didático como um guia para esta ação. O professor precisa avisar a turma
envolvida com pelo menos 15 dias de antecedência.
Duração: Aproximadamente 20 minutos
Condução: Professor e bibliotecário
Materiais: Instruções para o trabalho de pesquisa (Adaptável, dependendo da
disciplina) e livros didáticos.
Preparação:
Preparar as instruções e distribuí-las aos alunos, possibilitando aos estudantes a
194
escolha do assunto, procurando concentrar a geração de possíveis assuntos que
possam ser investigados. Solicitar aos alunos que consultem o livro didático para se
contextualizar quanto ao tema proposto. É recomendável explicar que os assuntos
passíveis de pesquisa são os de textos dos livros didáticos discutidos em sala de aula e
que possam trazer amplas possibilidades de estudo. Por exemplo: Doenças
Sexualmente Transmissíveis (DST).
Cabe ao bibliotecário contextualizar a turma de alunos quanto à organização da
biblioteca escolar, mostrando como o acervo é organizado e classificado.
Execução:
O professor deverá distribuir as instruções nas quais descrevem a tarefa a ser
executada. O bibliotecário deverá separar uma quantidade mínima de livros didáticos
disponíveis na biblioteca ou o professor solicitar que cada aluno traga seu exemplar. O
professor deverá ler as instruções do trabalho em voz alta e estabelecer um prazo de
entrega confortável (recomenda-se 30 dias). Esclareça aos alunos que as dúvidas que
vierem a surgir em relação às questões técnicas do trabalho (por exemplo: formatação,
quantidade de páginas, citações, bibliografia, dentre outros), podem ser sanadas com o
bibliotecário responsável pela condução da atividade. Cabe ao professor enfatizar aos
alunos que reflitam sobre os possíveis assuntos para a pesquisa. Como sugestão, o
professor e o bibliotecário podem elaborar o seguinte roteiro:
- Pensar no que já foi estudado na disciplina
- Folhear o livro didático, buscando tópicos interessantes ou anotações que tenham
feito sobre o assunto.
- Pensar em questões que não seja possível responder sem uma pesquisa básica.
Atividade 2: Discussão sobre as escolhas do assunto
Objetivo: Provocar discussões entre os alunos sobre as possíveis escolhas de assunto,
permitindo que os alunos compartilhem ideias sobre a pesquisa desenvolvida.
Duração: 60 minutos
Condução: Professor e bibliotecário
195
Pré-requisito: Os alunos devem ter participado na Atividade 1: Convite à pesquisa
Material: Quadro branco, pincel, apagador, livros didáticos e obras de referência
Execução:
O professor deve questionar aos estudantes se possuem dúvidas sobre o trabalho. O
objetivo é descobrir se os alunos já possuem algum nível de compreensão sobre o
tema de pesquisa. Neste ponto, os alunos devem ter conhecimento para:
- Selecionar o assunto
- Elaborar o escopo do trabalho
- Saber como o trabalho será apresentado
Avaliação:
Em seguida, o professor e o bibliotecário deverão dividir a turma em equipes, contendo
no máximo, 4 (quatro) alunos, orientando-os a dizer:
- O que já sabem sobre o assunto
- Descrever o que gostariam de descobrir sobre os temas
- Fazer perguntas
- Oferecer sugestões sobre os temas trazidos pelos colegas de outras equipes
6.3.2 Seleção
A principal tarefa atribuída ao aluno neste estágio é selecionar o assunto que vai
pesquisar. A decisão deverá ser tomada de forma definitiva, pois o aluno tiver
dificuldades nesta etapa, não conseguirá evoluir nas demais etapas.
As ações para esta etapa constituem-se em:
1. Utilizar ferramentas de busca (catálogo da biblioteca, obras de referência, o próprio
livro didático, internet, dentre outros);
2. Analisar se a fonte de informação é útil.
196
Para o desenvolvimento de habilidades previstas no módulo 2, serão propostas as
seguintes atividades:
Atividade 1: Tomada de decisão para a escolha do assunto
Propomos uma sugestão de roteiro para auxiliar os alunos quanto à escolha do
assunto:
- O assunto lhe interessa?
- O assunto atende às exigências da tarefa ou trabalho solicitado pelo professor?
- Você consegue reunir e organizar as informações dentro do prazo estipulado pelo
professor?
- As informações encontradas na biblioteca, no livro didático ou em outras fontes são
suficientes?
Atividade 2: Visão geral sobre o assunto
Duração: Aproximadamente 50 minutos
Condução: Professor e bibliotecário
Materiais: Obras de referência (dicionários e enciclopédias), livros, livros didáticos,
computadores com acesso à internet, catálogo da biblioteca e periódicos.
Execução:
O bibliotecário deverá explicar aos alunos quais são as finalidades das obras de
referência, e auxiliá-los quanto à sua utilização, se sentirem dificuldades. O profissional
deve lembrar aos alunos que as informações das enciclopédias e dicionários impressos
podem ser encontradas de duas formas: consultando diretamente o verbete ou indo até
o índice, de forma alfabética. Os alunos poderão consultar seus livros didáticos ou
enciclopédias online, disponíveis na internet, para ampliar as possibilidades de
assunto.
Atividade 3: Reunião com o bibliotecário
197
Duração: Entre 5 e 10 minutos com cada aluno ou equipe
Condução: Bibliotecário
Material: Agenda
Instruções: O bibliotecário deverá divulgar para os alunos a disponibilidade de agendar
momentos individuais ou em equipe. O profissional deverá solicitar aos alunos para
descreverem de maneira geral o assunto escolhido e verificar se há material existente
e/ou suficiente para melhor condução da pesquisa. Caso o aluno ainda tenha dúvidas,
recomende a repetição dos exercícios anteriores.
Avaliação:
Elaboramos um guia de acompanhamento que deverá ser distribuído aos alunos, de
modo a auxiliar na seleção do assunto.
Questões para ajudar na seleção do assunto:
1. Há possibilidade de o assunto continuar lhe interessando após algum tempo?
2. Quantos títulos de assunto estão disponíveis no catálogo?
3. Liste os termos que você utilizou para a busca do assunto e utilize termos
diferentes e mais amplos na próxima busca.
4. Se você encontrou um assunto muito amplo, solicite ajuda do professor ou do
bibliotecário para aprimorar a busca.
6.3.3 Exploração de informações
Nesta etapa, os estudantes devem ser direcionados a explorar informações sobre o
assunto escolhido, de modo que se sintam motivados a definirem um foco de pesquisa.
Para o desenvolvimento de habilidades previstas no módulo 3, serão propostas as
seguintes atividades:
Atividade 1: Estudo da estrutura hierárquica do assunto
198
A finalidade desta atividade é fazer o aluno pensar sobre seu assunto de um modo
geral, até compreender o que o levou a chegar em um assunto mais específico. Deste
modo, os alunos terão oportunidade de encontrar outros termos que possam
enriquecer a pesquisa.
Duração: 50 minutos
Material: Cópias de sumários de livros selecionados, livros didáticos ou outros materiais
que possibilitem a visualização estrutural de um mesmo assunto.
Condução: Professor e bibliotecário.
Execução:
O professor e o bibliotecário distribuirão cópias dos sumários dos materiais
selecionados para cada aluno. Solicite aos alunos que observem como o conteúdo do
livro (comum ou didático) é estruturado. O professor deve ressaltar que os capítulos
são assuntos mais amplos e os subtópicos remetem a assuntos mais específicos. O
bibliotecário deverá encorajar os estudantes a tirar dúvidas com ele em relação aos
assuntos ou as fontes de informação.
Atividade 2: Definição do assunto
O objetivo desta atividade incentivará o uso de dicionários pelos alunos, de modo que
obtenham conceitos, definições e visões mais esclarecidas sobre os assuntos de
pesquisa. Os alunos aprenderão a procurar informações fidedignas.
Duração: 30 minutos
Material: Dicionários em versão completa
Condução: Professor e bibliotecário.
Execução:
O professor deverá explicar a importância de obter informações fidedignas. O
bibliotecário deverá explicar que informação fidedigna é aquela aceita por especialistas
199
de áreas específicas do conhecimento e explicar também que um dicionário em versão
completa oferta maior possibilidade de recuperação de informações específicas do que
um dicionário abreviado.
Elaboramos um roteiro para auxiliar os alunos nesta atividade:
5. Quais as diferenças entre a definição trazida pelo dicionário e o que você
conhece sobre o assunto?
6. Definições não-conhecidas
7. Anotar a definição dos termos não compreendidos
8. Sinônimos
Acompanhamento:
Os alunos devem ser estimulados a continuar usando dicionários em versão completa
para auxiliar a encontrar qualquer verbete relacionado à pesquisa, caso possuam
dúvidas.
Atividade 3: Busca exploratória
O objetivo desta atividade é inserir os alunos na diversidade informacional existente na
biblioteca escolar. Eles serão encorajados a ler e refletir durante o processo de
pesquisa.
Duração: 30 minutos
Material: Coleção da biblioteca, internet e roteiro de busca exploratória
Condução: Professor e bibliotecário.
Execução
O professor e o bibliotecário deverão explicar o objetivo da busca exploratória, que é
aprofundar um pouco mais o tema escolhido para a pesquisa e definir um foco. A busca
exploratória ressaltará a importância de se pesquisar em todo o universo informacional
disponível além da internet. É interessante recomendar o uso de várias fontes, como as
bibliotecas virtuais, revistas, jornais, folhetos, anuários, dentre outros. O professor deve
200
estimular os alunos a se questionarem: qual fonte é mais adequada para esclarecer
sobre o assunto pesquisado?
Atividade 4: Reflexão sobre a leitura
O objetivo desta atividade é estimular os alunos a registrar as informações mais
interessantes que obtiveram da atividade de busca exploratória. Os alunos devem ler e
refletir sobre possíveis ideias sobre seus assuntos.
Duração: 20 minutos
Material: Material reunido pelos alunos e roteiro de reflexão sobre a leitura
Condução: Professor e bibliotecário.
Elaboramos um roteiro de reflexão, porém, as leituras podem ser monitoradas para que
os alunos não pulem esta etapa:
9. Quais os fatos novos foram aprendidos?
10. Quais pessoas estão envolvidas com o assunto?
11. O assunto pesquisado nas fontes escolhidas possuem divergências com o livro
didático adotado pelo professor?
12. Os autores possuem pontos de vista opostos?
Avaliação:
13. Consultar o catálogo da biblioteca e listar os livros encontrados sobre o assunto;
14. Localizar os livros nas estantes e encontrar as páginas que tenham informações
sobre o assunto;
15. Listar livros encontrados no catálogo que sejam relacionados com o assunto;
16. Usar a lista de termos de busca e tentar localizar as informações sobre o
assunto na internet, verificando a atualização, relevância, confiabilidade e
pertinência dessa fonte;
17. Visitar sites de periódicos eletrônicos e tentar localizar através dos índices
dessas fontes, artigos sobre o assunto. Verificar os itens da questão anterior;
201
6.3.4 Formulação
Nesta etapa, os estudantes decidem por um aspecto do assunto que possui
alternativas promissoras de ser bem-sucedido, o chamado “Foco”, podendo
permanecer ou não o mesmo, conforme a evolução da pesquisa.
Para o desenvolvimento de habilidades previstas no módulo 4, será proposta a
seguinte atividade:
Elencar possíveis possibilidades de foco:
Duração: Pode ser solicitado como trabalho para ser feito em casa
Condução: Professor
Execução:
O professor deverá solicitar aos alunos que elenquem três possíveis focos de pesquisa
e respondam aos questionamentos do roteiro abaixo:
1. O que sabem sobre aquele possível foco?
2. Que ideias ou fatos novos aprenderam sobre esse possível foco?
3. Qual material ou fonte de informação é mais completo para pesquisar
sobre o foco?
4. Onde pode encontrar informações complementares sobre o possível foco?
Avaliação:
O professor pode recomendar que cada aluno compare seus focos e decidir qual o
mais promissor para a continuação da pesquisa.
6.3.5 Coleta de Informações
No quinto estágio do processo de pesquisa, os alunos deverão ser capazes de reunir
informações que se relacionem ao foco definido, relacionando ideias e fatos
202
relacionados ao foco. Ao decorrer deste estágio, os alunos refletem, cuja estratégia é
utilizar diversas fontes de informação, entender a finalidade delas e de que maneira
cada tipo de material pode auxiliar para o desenvolvimento do trabalho escrito.
Para o desenvolvimento de habilidades previstas no módulo 5, serão propostas as
seguintes atividades:
Atividade 1: Reflexão sobre o universo informacional
Duração: 50 minutos.
Material: Livro didático (guia)
Condução: Professor e bibliotecário
Execução:
O bibliotecário deverá explicar que na etapa de coleta de informações, os alunos
precisam pensar nas mais variadas tipologias informacionais que podem se aplicar
àquele assunto. À medida que o bibliotecário, com o auxílio do professor vão
descrevendo cada tipo de material, os alunos deverão refletir que tipo de informação se
relaciona diretamente com o assunto inserido no livro didático e que poderá ser útil
para a pesquisa.
A atividade solicitada é descrever como o material pode auxiliar sobre o foco da
pesquisa:
- Obras de referência: Dicionários, enciclopédias, anuários, estatísticas, dentre outros.
São apresentados de modo impresso, formando uma coleção à parte na biblioteca, ou
de modo virtual.
- Livros de não-ficção
- Biografias
- Livros de ficção
- Periódicos: Revistas e jornais
- Arquivos de recortes: Também chamado de Hemeroteca
- Bases de Dados
203
- Acervo Multimídia: CDs, DVDs, arquivos digitais, dentre outros
Atividade 2: Compreensão da hierarquia da classificação bibliográfica
Duração: 50 minutos.
Material: Lista de categorias principais de classificação utilizadas na biblioteca
Condução: Bibliotecário
Execução:
O bibliotecário descreverá brevemente como a biblioteca é organizada e o esquema
básico do sistema de classificação. Deverá explicar que em muitas bibliotecas, o
material é organizado de forma hierárquica, em assuntos gerais e posteriormente,
subdivididos em categorias específicas. Após a explicação, distribuir as listas de
classificação utilizadas pela biblioteca.
O bibliotecário deverá esclarecer também que quando os alunos forem buscar
informações sobre o assunto, deverão buscar primeiramente nas classes gerais, depois
nas subdivisões dessas classes.
Acompanhamento:
Caso os estudantes planejem visitar outras bibliotecas, reforce que a organização
utilizada nestes espaços pode ser diferente, aconselhando-os a solicitar ajuda ao
bibliotecário ou funcionário responsável, caso sintam dificuldades em localizar algum
tipo de material. Estimular os estudantes a continuar a usar o sistema de classificação
enquanto coletam informações.
Atividade 3: Uso do catálogo da biblioteca
A finalidade desta atividade é inserir os alunos na prática do uso do catálogo da
biblioteca para localizar o material sobre o foco. Aprenderão a usar termos de busca e
decidem quais materiais serão mais pertinentes para continuar o desenvolvimento do
trabalho.
204
Duração: 30 minutos. Reforçar a necessidade de continuar a atividade fora do horário
de aula.
Material: Catálogo da biblioteca
Condução: Bibliotecário
Execução:
O bibliotecário deverá apresentar aos estudantes as ferramentas básicas de pesquisa
do catálogo, como título, autor, assunto, termo livre. Após esta etapa, apresentar os
conceitos de recuperação avançada de informações utilizando os operadores
booleanos OR e AND e executar buscas utilizando estas ferramentas.
Orientar os alunos a ler cada registro cuidadosamente e verificar se o material
consultado possui relação com o foco e deverão observar também se esse material faz
parte da coleção comum de livros, coleção de periódicos, de materiais multimídia ou se
são materiais de referência ou consulta local.
O bibliotecário deverá explicar que o catálogo pode apresentar a existência de
materiais complementares, como links para trabalhos acadêmicos, artigos, imagens,
índices, dentre outros. Essas informações podem auxiliar os alunos a avaliarem a
pertinência do material para o desenvolvimento da pesquisa.
É importante também alertar os alunos quanto a atualização do material, principalmente
quanto às datas de copyright e de reimpressões.
Acompanhamento:
O bibliotecário deverá acompanhar se os alunos estão conseguindo recuperar as
informações, se precisam de ajuda e sugerir termos de busca mais amplos ou
específicos, dependendo do assunto pesquisado.
Atividade 4: Pesquisa nas estantes
Duração: 20 minutos
Material: Coleção da biblioteca
Condução: Bibliotecário
205
Execução:
O bibliotecário deverá orientar que os alunos anotem o número de chamada dos livros
que localizaram durante a atividade 3. Explicar que o número de chamada indica a
classe do assunto e sua localização na estante. Após esta etapa, direcionar os alunos à
busca nas estantes e incentivá-los a consultar os sumários e índices. Esclarecer as
diferenças entre índice e sumário, mas é importante reforçar a necessidade de consulta
em ambos.
Recomendar que os alunos escolham os materiais que se relacionam aos focos,
considerando se o livro é útil, não adequado ou não disponível.
Avaliação:
O bibliotecário poderá agendar sessões de acompanhamento com cada aluno ou
equipe, estimulando os alunos a solicitarem auxílio em caso de dificuldades.
6.3.6 Apresentação e Avaliação do trabalho
A finalidade deste módulo é identificar se os alunos precisam de informações
complementares e auxiliá-los na elaboração da parte escrita e de apresentação do
trabalho desenvolvido conforme a determinação do professor, observando as normas
gerais de estruturação. O final do processo de pesquisa, a tarefa será avaliar o que foi
feito, de modo a identificar dificuldades e orientar o que pode ser feito de modo
diferente para que nos próximos trabalhos, o processo de pesquisa seja feito de
maneira melhor.
Para o desenvolvimento de habilidades previstas no módulo 6, serão propostas as
seguintes atividades:
Atividade 1: Elaboração do esquema
Duração: 30 minutos, ou pode ser feito em casa
206
Material: Anotações dos estudantes sobre as informações coletadas, livro didático,
papel e lápis ou computadores, Norma Técnica nº. 6024/2003 – Numeração
Progressiva das seções de documento escrito ou Guia de Normalização de Trabalhos
Acadêmicos disponibilizado pela biblioteca.
Condução: Professor e Bibliotecário
Execução:
O esquema é uma estrutura para a redação do trabalho. Orientar os alunos a listar os
tópicos principais na ordem de apresentação e acrescentar os subtópicos, podendo ser
ou não baseadas no livro didático. Apresentar aos alunos as normas gerais de
numeração progressiva estabelecidas pela norma técnica 6024/2003 e incentive os
alunos a consultá-la em caso de dificuldades. Reforçar a inclusão de detalhes que
ampliem as informações coletadas. Indique também que os alunos podem utilizar
informações que remetem às ilustrações, quadros, tabelas, dentre outros.
Acompanhamento:
Agendar com cada aluno ou equipes para verificar se os esquemas construídos
correspondem ao assunto dos trabalhos e sugerir melhorias quanto à forma de
apresentação, caso necessário. Alguns alunos podem precisar de orientação individual
quanto à elaboração do esquema.
Atividade 2: Estruturação de citações e elaboração de paráfrases e resumos
Nesta atividade, os estudantes são conduzidos a planejar a apresentação do trabalho
utilizando corretamente as citações de acordo com a norma nº. 10.520 e estruturar o
trabalho resumidamente.
Duração: 50 minutos, ou pode ser feito em casa
Material: Anotações dos estudantes sobre as informações coletadas, livro didático,
papel e lápis ou computadores, Norma Técnica nº. 10520/2002 – Citações em
documentos ou Guia de Normalização de Trabalhos Acadêmicos disponibilizado pela
207
biblioteca.
Condução: Professor e Bibliotecário
Execução:
O professor deverá explicar aos alunos que as informações que anotaram precisam ser
citadas e resumidas na redação do trabalho. Ressaltar a importância da paráfrase, que
é a explicação do texto no ponto de vista do aluno, relacionando às ideias centrais
utilizadas pelos autores dos textos em que o trabalho é baseado. A maior parte das
informações do texto deverá ser parafraseada e resumida, para que o trabalho não se
torne muito extenso.
Cabe ao bibliotecário apresentar a norma técnica nº. 10520/2002 e explicar como se
estrutura alguns tipos de citação, como a direta, indireta e indireta livre. Opcionalmente,
o bibliotecário poderá apresentar algumas normas de estruturação de resumos,
seguindo a norma nº. 6028/2003 – Apresentação de Resumo.
Acompanhamento:
O bibliotecário deverá informar que estará disponível para auxiliar os estudantes que
apresentam dificuldades nesta etapa e poderá verificar as anotações dos alunos, com o
intuito de melhor orientá-los.
Atividade 3: Elaboração de referências bibliográficas
Nesta atividade, os alunos listam os materiais que utilizaram para a elaboração do
trabalho e elaborarão a bibliografia, seguindo corretamente a norma técnica de
referências.
Duração: 50 minutos, ou pode ser feito em casa
Material: Anotações dos estudantes sobre as informações coletadas, Norma Técnica nº.
6023/2002 – Elaboração de Referências ou Guia de Normalização de Trabalhos
Acadêmicos disponibilizado pela biblioteca.
Condução: Professor e Bibliotecário
208
Execução:
O professor lembrará aos estudantes que eles precisarão listar na bibliografia os
materiais consultados. O bibliotecário deverá explicar que há várias formas de elaborar
referências, mas deverão seguir o que está descrito na norma técnica nº. 6023/2002 ou
utilizar as instruções contidas no manual de normalização da biblioteca. Informe que os
alunos não precisam decorar a forma das referências, mas precisam consulta-las para
verificar a forma correta de fazê-las. É importante elencar exemplos de referências
mais comuns, como as de livros, periódicos, sites de internet, documentos eletrônicos,
dentre outros.
Ensinar os alunos a organizarem as referências em ordem alfabética ou numérica, de
acordo com o sistema de citação recomendado pelo manual da biblioteca.
Acompanhamento:
O bibliotecário deverá verificar o rascunho da bibliografia antes da elaboração da
versão final pelos estudantes, alertando-os sobre os erros que possam ser cometidos
nesta etapa.
Etapa de Avaliação
Após a etapa de Apresentação, a tarefa final dos estudantes é avaliar o que fizeram,
revendo seu desempenho para identificar dificuldades ou indicar outras formas de
avaliação da aprendizagem ou necessidade de melhor orientação da parte do professor
e bibliotecário. Kuhlthau (2010) ressalta que “a avaliação deve ocorrer imediatamente
após o término do trabalho, pois o processo ainda estaria vivo na mente do estudante
quando refletir sobre seu desempenho”. A avaliação deve incentivar a exposição dos
sentimentos dos estudantes durante todo o processo de pesquisa.
Algumas atividades podem ser desenvolvidas para avaliar este momento, tais como a
exposição dos trabalhos e reuniões de avaliação dos trabalhos.
Atividade 1: Exposição dos trabalhos
209
Dependendo da finalidade do trabalho desenvolvido pelo professor, seria interessante a
organização de exposições na biblioteca, reforçando o esforço e mérito adquirido pelos
alunos quanto ao desenvolvimento do trabalho, e oportunizando à comunidade escolar
conhecer o que está sendo desenvolvido pela turma e pela biblioteca, incentivando
futuras parcerias de professores de outras disciplinas com a biblioteca escolar.
Atividade 2: Reuniões de Avaliação
A finalidade das reuniões é relembrar aos alunos as etapas de pesquisa e fazer
avaliações do processo desenvolvido, elencando sentimentos, dúvidas e sugestões
futuras.
Duração: 50 minutos, ou pode ser feito em casa
Material: Formulários de avaliação
Condução: Professor e Bibliotecário
Execução:
Esta etapa pode ser realizada de duas maneiras: Através de formulário eletrônico ou
reuniões programadas, planejadas pelo professor com a distribuição de formulários
impressos. O bibliotecário deverá incentivar aos alunos ou equipes a descrever o
processo de pesquisa, seus sentimentos, dúvidas, sugestões e técnicas para melhorar
o processo de pesquisa.
6.4 À GUISA DAS PALAVRAS FINAIS
Considerando a trajetória acadêmica e profissional da autora deste trabalho, a proposta
de desenvolvimento de um programa de competência em informação aqui elencada
visa ao fortalecimento de estratégias de atuação de professores e bibliotecários no
ambiente escolar, pois a partir do desenvolvimento de uma ação em conjunto, é
possível criar referências positivas para os alunos, no que concerne à formação social,
intelectual e cultural, permitindo aos estudantes terem acesso às informações de
qualidade, elaboradas sob a perspectiva da evolução do conhecimento humano.
A biblioteca escolar, na perspectiva das políticas públicas, é contemplada apenas no
210
aspecto estrutural, como serviço de distribuição de água, energia elétrica, dentre
outros, e o livro didático, nesse contexto, é inserido como um dispositivo que responde,
de maneira compensatória, apenas a necessidade de cumprir minimamente o currículo
educacional, o que dificulta a formação de estudantes competentes
informacionalmente, pela ausência de políticas públicas de formação de leitores e pelas
bibliotecas escolares não manterem programas de competência em informação. Pelos
critérios anteriormente apresentados, a biblioteca não se resume em um espaço e
estrutura física como prevista nas diretrizes do PNE e LDBEN, assim como a coleção,
já delineada pela lei 12.244/2010. Na ótica legislativa, é um debate ainda muito recente
que necessita de avaliações e ajustes no atual cenário educacional.
Entende-se que a biblioteca escolar constitui-se como um setor de fundamental
importância para a formação social do sujeito que utiliza seus serviços, porém, é
importante que a mesma delimite sua missão, objetivos e estratégias de atuação que
foquem a interdisciplinaridade entre o dispositivo de aprendizagem, tal como o livro
didático utilizado em sala de aula e recursos informacionais próprios de uma unidade
de informação, mediada pelo profissional bibliotecário, que também atua como
educador.
Neste trabalho, o livro didático é a principal fonte de informação analisada, e tida como
importantíssima para a formação escolar de crianças e adolescentes. Contudo, é
necessário o aprofundamento de estudos sobre programas ou projetos sobre a
competência em informação no currículo da educação básica, de modo que seja
possível ir além dos conteúdos proporcionados pelos livros didáticos, oportunizando à
biblioteca escolar a geração de oportunidade de dinamização da leitura, da pesquisa,
cultura e lazer, evidenciadas e discutidas pelas políticas públicas brasileiras.
A partir dos dados analisados das entrevistas de bibliotecários e auxiliares de
biblioteca, conclui-se que o livro didático possui certa resistência quanto à possibilidade
de mediação de atividades escolares utilizando-se deste material, talvez por
desconhecerem o potencial informativo que este dispositivo poderá trazer para a
unidade informacional e por não haver um programa de competência em informação
que dinamize e oportunize melhores possibilidades da biblioteca ser reconhecida como
um espaço de informação, leitura, pesquisa e lazer. Os bibliotecários desconhecem a
211
literatura existente sobre a competência em informação, sendo que até o período de
existência da biblioteca do campus do estudo, não foi desenvolvido nenhum programa
que vislumbrasse esta possibilidade.
Entretanto, para os alunos, o livro didático é amplamente reconhecido e difundido como
principal fonte de pesquisa e como referência quando se trata de estratégia de estudos
e fixação de conteúdos. Porém, nota-se através dos trechos destacados das
entrevistas realizadas com eles que o professor mantém certo distanciamento da
biblioteca escolar, talvez por também desconhecer seu potencial informativo, o que faz
com que o livro didático seja visto como principal fonte de informação a ser utilizado
pelos alunos como instrumento de aprendizagem, sem considerar que a biblioteca
escolar seja vista como parceira no alcance dos objetivos educacionais.
Deste modo, consideramos fundamental a necessidade de traçar estratégias para
maior difusão e estudos posteriores sobre programas de competência em informação
que integrem usuários reais e potenciais e currículos escolares, de modo que os
objetivos educacionais sejam alcançados e que a biblioteca escolar seja transformada
em um potencial colaborativo para que a educação seja de qualidade e que seja
universalizada em todas as escolas.
212
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228
APÊNDICE “A” - FORMULÁRIO DE ENTREVISTA – ALUNOS DE ENSINO MÉDIO
Esta entrevista tem a finalidade de obter dados sobre pesquisa escolar dos estudantes do ensino médio do Ifes – Campus Venda Nova do Imigrante, utilizando o livro didático como fonte de informação. Os dados coletados serão integrados à pesquisa intitulada: “O livro didático como dispositivo de desenvolvimento da competência em informação: estudo em um campus de um instituto federal de ensino”. Bloco A: Dados do Entrevistado 1a – Qual sua idade? 2a - Qual a série que você está cursando e turno que estuda? 3a – Qual curso técnico você faz? Bloco B: Leitura e pesquisa escolar 4a - Qual sua sugestão de melhoria para das atividades de incentivo à leitura e pesquisa escolar na Biblioteca do Ifes? Bloco C: Dados de Pesquisa Escolar Relembre um trabalho proposto por algum professor de qualquer disciplina e que você tenha utilizado o livro didático como fonte de informação principal, para responder as questões a seguir: C1 – Iniciação 5a - Qual foi seu sentimento quando o professor propôs o trabalho escolar? E por que você teve esse sentimento? C2 – Seleção 6a - Houve alguma reflexão ou exploração inicial para realização da pesquisa? C3 – Exploração 7a - Quais foram as suas ações para desenvolver o trabalho além da consulta ao livro didático?
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8a - Você buscou outros instrumentos para fazer o trabalho solicitado? 9a - A informação inicial encontrada sobre seu tema de pesquisa no livro didático foi relacionada com outras fontes de informação? C4 – Formulação 10a - Você definiu um foco específico para a pesquisa do seu trabalho ou manteve o tema geral passado pelo professor? 11a - Após a definição do foco, o livro didático permaneceu como fonte principal de informação? C5 – Coleta 12a - Como o livro didático auxiliou você a localizar a informação que precisava? 13a - Em algum momento do seu trabalho, você utilizou o serviço de pesquisa orientada, oferecido pela Biblioteca? 14a - Além do livro didático, você utilizou alguma obra de referência para fazer a pesquisa? 15a - Qual foi sua maior dificuldade no processo de coleta de informações? 16a - O que você mais difícil durante a realização do seu trabalho? Porque você teve esse sentimento? C6 – Apresentação e Avaliação 17a - Como foi feita a redação e a apresentação do trabalho? Baseou-se na estrutura do assunto pesquisado no livro didático para desenvolvê-lo? 18a - Você utilizou alguma norma para apresentação de trabalhos acadêmicos? 19a - Qual foi seu sentimento quando você terminou o trabalho? 20a - Ao finalizar seu trabalho, você chegou a formar sua própria opinião ou reflexão sobre o tema/assunto pesquisado? 21a - Você teve alguma aprendizagem com o seu trabalho? O quê? Bloco D: Livro Didático e Biblioteca do Ifes
22a - Qual sua opinião em relação ao livro didático? Você tem alguma sugestão de melhoria para das atividades de incentivo à leitura e pesquisa escolar da Biblioteca?
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APÊNDICE “B” – FORMULÁRIO DE ENTREVISTA – AUXILIARES DE BIBLIOTECA
E ESTAGIÁRIOS
Esta entrevista tem a finalidade de obter dados sobre pesquisa escolar dos estudantes do ensino médio do Ifes – Campus Venda Nova do Imigrante, utilizando o livro didático como fonte de informação. Os dados coletados serão integrados à pesquisa intitulada: “O livro didático como dispositivo de desenvolvimento da competência em informação: estudo em um campus de um instituto federal de ensino”. Bloco A: Perfil dos Entrevistados 1b – Qual sua escolaridade? 2b – Há quanto tempo você trabalha na Biblioteca do Ifes – Campus Venda Nova do Imigrante? Bloco B: Livro didático e leitura 3b - Você acredita que há dificuldades em integrar o livro didático com os produtos e serviços oferecidos pela biblioteca? Quais? 4b - Qual sua sugestão de melhoria para das atividades de incentivo à leitura e pesquisa escolar na Biblioteca do Ifes? Bloco C: Livro didático e pesquisa escolar Relembre algum trabalho escolar na biblioteca em que você tenha visto o aluno utilizando o livro didático como fonte de pesquisa, para responder as questões a seguir. C1 – Iniciação 5b - Como você orienta o processo de busca por informação do aluno que precisou realizar um trabalho escolar? 6b - Você já sentiu alguma dificuldade em auxiliar algum aluno no processo de pesquisa que utilizou o livro didático? 7b - Que tipo de informação os usuários mais procuram na biblioteca? 8b - Qual era o sentimento do aluno quando o mesmo precisava realizar alguma pesquisa escolar na biblioteca? C2 – Seleção
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9b - O professor solicitou que separassem ou selecionassem algum material de pesquisa para orientar os alunos? 10b - Você já sentiu alguma dificuldade em auxiliar algum aluno no processo de pesquisa que utilizou o livro didático? 11b - Você incentivava o aluno a ter práticas de leitura ou pesquisa de outros materiais como dicionários, enciclopédias, jornais e revistas para ajudar a relacionar o tema pesquisado no livro didático ou ampliar seu significado? C3 – Exploração 12b - Quais as ações feitas ao constatar que o aluno pesquisava algum assunto no livro didático? C4 - Formulação 13b - O objetivo do trabalho ficou claro para o aluno desde o início? 14b - Qual foi a sua primeira ação quando o aluno solicitava auxílio à pesquisa quando a fonte de informação era o livro didático? 15b - No momento que o aluno definiu seu o foco da sua pesquisa, o livro didático permaneceu como fonte principal de pesquisa ou ele passou a utilizar outros materiais? C5 – Coleta 16b - O livro didático auxiliou o aluno a localizar a informação que precisava? C6 – Apresentação 17b - Você orientou o aluno quanto à redação e apresentação do trabalho? 18b - Qual foi o sentimento do aluno quando terminou o trabalho? O que você percebeu? Bloco D – Ações da Biblioteca para melhorar a pesquisa escolar 19b - Você acredita que o livro didático altera a forma de como os alunos buscam informação na biblioteca? Como?
20b - Qual sua opinião em relação ao livro didático? Você tem alguma sugestão de melhoria para das atividades de incentivo à leitura e pesquisa escolar da Biblioteca?
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APÊNDICE “C” – FORMULÁRIO DE ENTREVISTA – BIBLIOTECÁRIOS E EX-
BIBLIOTECÁRIOS Esta entrevista tem a finalidade de obter dados sobre pesquisa escolar dos estudantes do ensino médio do Ifes – Campus Venda Nova do Imigrante, utilizando o livro didático como fonte de informação. Os dados coletados serão integrados à pesquisa intitulada: “O livro didático como dispositivo de desenvolvimento da competência em informação: estudo em um campus de um instituto federal de ensino”.
Bloco A: Perfil dos Entrevistados 1c – Qual seu tempo de formação em Biblioteconomia? 2c – Qual seu tempo de atuação na profissão, considerando experiências anteriores? 3c –Qual seu grau de instrução atualmente? 4c – Há quanto tempo você trabalha ou trabalhou na Biblioteca do Ifes – Campus Venda Nova do Imigrante? Bloco B: Políticas públicas dirigidas ao livro didático e biblioteca escolar 5c – Qual sua opinião em relação ao livro didático? 6c – Como você vê ou via a distribuição dos livros didáticos no Ifes? Utilizavam-se do ambiente da Biblioteca para este fim? 7c – Para você, há alguma falha no Programa Nacional do Livro Didático? Qual? 8c – Você acredita que há dificuldades em integrar o livro didático com os produtos e serviços oferecidos pela biblioteca? Quais? Bloco C – Práticas de incentivo à leitura 9c - Como a biblioteca desenvolvia atividades de incentivo à leitura? 10c - Que tipo de parceria para incentivo à leitura foi feita pela biblioteca? 11c - Que atividades foram desenvolvidas na biblioteca escolar foram consideradas como importantes para a formação social e intelectual dos alunos?
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Bloco D – Orientação à pesquisa escolar Relembre algum trabalho escolar na biblioteca em que você tenha visto o aluno utilizando o livro didático como fonte de pesquisa, para responder as questões a seguir. C1 - Iniciação 12c – Como você orienta o processo de busca de informação do aluno que precisou realizar um trabalho escolar? 13c - Que tipo de informação os usuários mais procuram na biblioteca? 14c – Qual era o sentimento do aluno quando o mesmo precisava realizar alguma pesquisa escolar na biblioteca? C2 - Seleção 15c - Em relação ao aluno que busca determinada informação sobre um assunto específico que se localize em um livro didático, você procura mostrar ao mesmo outras fontes de pesquisa? Quais? C3 - Exploração 16c - Você incentivava o aluno a ter práticas de leitura de outros materiais como dicionários, enciclopédias, jornais e revistas para ajudar a relacionar o tema pesquisado no livro didático ou ampliar seu significado? C4 - Formulação 17c - Ao constatar que o aluno pesquisava um tema que era muito específico no livro didático, você o orientou para que este definisse um foco de pesquisa? 18c - No momento que o aluno definiu seu o foco da sua pesquisa, o livro didático permaneceu como fonte principal de pesquisa ou ele passou a utilizar outros materiais? C5 – Coleta 19c - Em algum momento da pesquisa, o aluno buscou o serviço de pesquisa orientada? C6 – Apresentação e Avaliação Qual foi o sentimento do aluno quando terminou o trabalho? O que você percebeu?
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Bloco E – Formação da Competência em Informação 21c - Você acredita que o livro didático altera a forma de como os alunos buscam informação na biblioteca? Como? 22c - Os alunos sabem identificar as informações que necessitam de forma independente, mesmo utilizando o livro didático? 23c - Para você, qual o papel da biblioteca escolar na formação social e intelectual de competência em informação dos alunos? Acredita que o livro didático se torna um dispositivo que inicie ou incentive os alunos no desenvolvimento dessa competência? 24c – O que é necessário para a biblioteca auxiliar o desenvolvimento da competência em informação? 25c - Você desenvolveu algum programa de competência em informação? 26c - Você acredita que o aluno que utiliza os recursos da biblioteca e desenvolve a competência em informação tem um diferencial em relação ao aluno que não frequenta a biblioteca? 27c - Em sua opinião, que tipo de programa de competência em informação poderia ser adotado na Biblioteca? 28c – Seria possível uma parceria entre o professor e a biblioteca cuja prática seja o fortalecimento do livro didático?
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APÊNDICE “D” - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA (PAIS DE ALUNOS)
Título Provisório do Projeto: “O livro didático como dispositivo de desenvolvimento da competência em
informação: estudo em um campus de um instituto federal de ensino”
Pesquisador Responsável: Gabriela Pereira da Silva
Justificativa: A relevância científica do presente estudo reside no fato de o mesmo poder contribuir para a produção
de conhecimentos a respeito da formação e organização das bibliotecas escolares no contexto local em relação à utilização desta como espaço de informação e aprendizagem de crianças e jovens, a partir da gestão das escolas e de suas políticas públicas, sobretudo, as voltadas para o fomento educacional. Em termos sociais, os resultados a serem obtidos poderão oferecer informações úteis para subsidiar os gestores de escolas no desenvolvimento de práticas escolares que facilitem e fortaleçam projetos pedagógicos voltados a uma maior intervenção da biblioteca nos processos educacionais, por meio de maior utilização dos acervos nas práticas pedagógicas em sala de aula, que, consequentemente, contribua para que os professores consigam mediar o processo de aprendizagem com seus alunos e que estes possam assumir a condição de sujeitos ativos e protagonistas de sua aprendizagem. Objetivo do projeto: Descrever as contribuições das políticas públicas para o livro didático e suas interlocuções
com a biblioteca escolar para a formação da competência informacional de adolescentes escolares do ensino médio de uma escola da rede federal de ensino. Benefícios: Estima-se que a pesquisa contribuirá para melhor aplicabilidade das políticas públicas para o livro
didático na rotina das atividades de incentivo à leitura da Biblioteca campo deste estudo, além de possibilitar a produção de material bibliográfico com o registro das contribuições das referidas políticas públicas. Identificando os sentimentos dos adolescentes no processo de formação da leitura, a pesquisa poderá propiciar também a melhoria dos produtos e serviços ofertados pela Biblioteca. Síntese dos procedimentos: Para o desenvolvimento desta pesquisa será utilizada a técnica de entrevista, e os
procedimentos para a coleta de dados serão gravações de áudio dos alunos das turmas de 2º, 3º e 4º anos, do Ensino Médio, utilizando-se para esse procedimento uma sala reservada da Biblioteca, pertecente à estrutura de um campus do Ifes, para conhecer seus sentidos e percepções sobre Livro, Leitura e Biblioteca, por parte dos discentes.
Esclarecimentos: a) Em qualquer momento do andamento do projeto de pesquisa, os participantes da pesquisa terão direito a quaisquer esclarecimentos em relação ao mesmo; b) Serão mantidos em sigilo, o caráter confidencial das informações obtidas. A identificação dos participantes não será exposta nas conclusões ou publicações do trabalho; c) Você pode entrar em contato com a pesquisadora Gabriela Pereira da Silva, pelos telefones (27) 99611-8416 (celular), (27) 3070 – 1794 (residência) ou (28) 3546-8636 (trabalho), ou ainda pelo e-mail: symonpsg@hotmail.com, e também com a Profª. Dra. Silvia Moreira Trugilho, pelo telefone (27) 99909-2672 e e-mail: silviatrugilho@gmail.com d) Quaisquer recursos ou reclamações poderão ser encaminhados à Coordenação do Mestrado em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local da Emescam pelo telefone (27) 3334-3543 e) Caso você tenha dificuldades em entrar em contato com o (a) pesquisador(a) responsável, comunique o fato ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Emescam, pelo Telefone:3334-3586 ou E-mail: comite.etica@emescam.br Consentimento: Eu, (Nome completo do responsável) ,____________________________________________________________ confirmo que o(a) menor (nome do(a) menor)_________________________________________________ recebeu todos os esclarecimentos necessários, e concorda em participar desta pesquisa. Desta forma, assino este termo, juntamente com o pesquisador, em duas vias de igual teor, ficando uma via sob meu poder e outra em poder do pesquisador. Vitória – ES, ____de________________________de 2015. Assinatura do Responsável Assinatura do Pesquisador
(Gabriela Pereira da Silva) _________________________________________ _________________________ RG: ___________________, RG: 2036921-2 (SSP/AM) Órgão emissor:______________
(Para menores de 18 anos, a autorização é assinada pelo Pai/Mãe ou responsável)
236
APÊNDICE “E” - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO PARA PARTICIPAÇÃO EM PESQUISA (FUNCIONÁRIOS, ESTAGIÁRIOS E EX-
PROFISSIONAIS) Título do Projeto: “O livro didático como dispositivo de desenvolvimento da competência em informação: estudo em um campus de um instituto federal de ensino”
Pesquisador Responsável: Gabriela Pereira da Silva
Justificativa: A relevância científica do presente estudo reside no fato de o mesmo poder contribuir para a produção de conhecimentos a respeito da formação e organização das bibliotecas escolares no contexto local em relação à utilização desta, como espaço de informação e aprendizagem de crianças e jovens, a partir da gestão das escolas e de suas políticas públicas, sobretudo, as voltadas para o fomento educacional. Em termos sociais, os resultados a serem obtidos poderão oferecer informações úteis para subsidiar os gestores de escolas no desenvolvimento de práticas escolares que facilitem e fortaleçam projetos pedagógicos voltados a uma maior intervenção da biblioteca nos processos educacionais, por meio de maior utilização dos acervos nas práticas pedagógicas em sala de aula, que, consequentemente, contribua para que os professores consigam mediar o processo de aprendizagem com seus alunos e que estes possam assumir a condição de sujeitos ativos e protagonistas de sua aprendizagem. Objetivo do projeto: Descrever as contribuições das políticas públicas para o livro didático e suas interlocuções com a biblioteca escolar para a formação da competência informacional de adolescentes escolares do ensino médio de uma escola da rede federal de ensino. Benefícios: Estima-se que a pesquisa contribuirá para melhor aplicabilidade das políticas públicas para o livro didático na rotina das atividades de incentivo à leitura da Biblioteca campo deste estudo, além de possibilitar a produção de material bibliográfico com o registro das contribuições das referidas políticas públicas. Identificando os sentimentos dos adolescentes no processo de formação da leitura, a pesquisa poderá propiciar também a melhoria dos produtos e serviços ofertados pela Biblioteca. Síntese dos procedimentos: Para o desenvolvimento desta pesquisa será utilizada a técnica de entrevista, e o procedimentos para a coleta de dados serão gravações de áudio da fala de funcionários e estagiários da Coordenadoria de Biblioteca, bem como ex-profissionais que atuaram neste setor, utilizando-se para esse procedimento uma sala reservada da Biblioteca, pertecente à estrutura de um campus do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), para conhecer seus sentidos e percepções sobre o Livro Didático, Leitura e Competência Informacional. Esclarecimentos: a) Em qualquer momento do andamento do projeto de pesquisa, os participantes da pesquisa terão direito a quaisquer esclarecimentos em relação ao mesmo; b) Serão mantidos em sigilo, o caráter confidencial das informações obtidas. A identificação dos participantes não será exposta nas conclusões ou publicações do trabalho; c) Você pode entrar em contato com a pesquisadora Gabriela Pereira da Silva, pelos telefones (27) 99611-8416 (celular),
(27) 3070 – 1794 (residência) ou (28) 3546-8636 (trabalho), ou ainda pelo e-mail: symonpsg@hotmail.com, e
também com a Profª. Dra. Silvia Moreira Trugilho, pelo telefone (27) 99909-2672 e e-mail:
silviatrugilho@gmail.com
d) Quaisquer recursos ou reclamações poderão ser encaminhados à Coordenação do Mestrado em Políticas Públicas e Desenvolvimento Local da Emescam pelo telefone (27) 3334-3543 e) Caso você tenha dificuldades em entrar em contato com o (a) pesquisador(a) responsável, comunique o fato ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Emescam, pelo Telefone:3334-3586 ou E-mail:
comite.etica@emescam.br
Consentimento: Eu,____________________________________________________________, em pleno uso e gozo de minhas faculdades mentais, declaro que aceito participar da pesquisa acima referida sem nenhum ônus financeiro, pessoal ou moral. Considero plenamente satisfatórias as informações prestadas, bem como as respostas às dúvidas por mim suscitadas e responsabilizando-me pela veracidade das informações por mim fornecidas. Desta forma,assino este termo, juntamente com o pesquisador, em duas vias de igual teor, ficando uma via sob meu poder, e outra em poder do pesquisador. Vitória – ES, ____de________________________de 2015. Assinatura: Assinatura do Pesquisador (Gabriela Pereira da Silva _______________________ RG: ___________________, órgão emissor:_________________________ RG: 2036921-2 (SSP/AM)
237
APÊNDICE “F” – TERMO DE ASSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Você está sendo convidado(a) para participar da pesquisa intitulada “O livro didático
como dispositivo de desenvolvimento da competência em informação: estudo em
um campus de um instituto federal de ensino”, sob a responsabilidade de Gabriela
Pereira da Silva, aluna do Mestrado da EMESCAM e sua orientadora, Profª Drª. Silvia
Moreira Trugilho.
Nesta pesquisa nós estudamos as contribuições das políticas públicas para o livro
didático e suas relações com a biblioteca escolar para a informação e a formação de
adolescentes escolares do ensino médio de uma escola da rede federal de ensino.
A coleta de dados deste estudo será realizada a partir de entrevista individual de
técnica semiestruturada com roteiro específico para os alunos na faixa etária entre 16 a
19 anos. Sua participação consiste em aceitar participar da entrevista, como pessoa
entrevistada.
Os riscos de sua participação são mínimos e estão relacionados a desconfortos na
entrevista por possíveis constrangimentos nas respostas. Mas isso será minimizado
garantindo a você sigilo, confidencialidade, anonimato.
Em nenhum momento, você será identificado. Você não terá nenhum gasto e ganho
financeiro por participar na pesquisa. Os resultados da pesquisa serão publicados e
ainda assim a sua identidade será preservada.
Mesmo seu responsável legal tendo consentido em sua participação na pesquisa, você
não é obrigado a participar da mesma se não desejar. Você é livre para deixar de
participar da pesquisa a qualquer momento sem nenhum prejuízo ou coação. Uma via
original deste Termo de Esclarecimento ficará com você. Qualquer dúvida a respeito da
pesquisa, você poderá entrar em contato com: Comitê de Ética em Pesquisa da
EMESCAM (CEP), situado no prédio central da instituição, na Av. Nossa Senhora da
Penha, nº. 2190, Vitória - ES, telefone para contato (27) 3334-3586, e e-mail
comite.etica@emescam.br, cujo horário de funcionamento é de 07h as 17h de segunda
à sexta-feira. Na publicação dos resultados desta pesquisa, sua identidade será
mantida no mais rigoroso sigilo. Serão omitidas todas as informações que permitam
identificá-lo(a).
238
Eu______________________________________________________ portador (a) do
documento de identidade nº _________________________aceito participar e autorizo
o uso das informações coletadas através de entrevista, para fins exclusivos do
desenvolvimento do estudo acima referido. Afirmo ter recebido e compreendido todas
as informações sobre a pesquisa.
Vitória, ____ de _______________ de 2015.
_________________________
Assinatura do Declarante
ASSINATURAS DOS PESQUISADORES:
______________________________ _____________________________
Nome: Prof.ª. Dra. Silva Moreira Trugilho Nome: Gabriela Pereira da Silva
Tel.: (27) 99909-2672 Tel.: (27) 99611-8416
E-mail: silviatrugilho@gmail.com E-mail: gabriela.silva@ifes.edu.br
Obs: Favor rubricar todas as páginas.
OBJETIVO 1 VARIÁVEL PERGUNTA RESPOSTA SUJEITO APÊNDICE Destacar políticas públicas
existentes para o livro
(didático) e a leitura
a) Políticas públicas dirigidas à educação
b) Políticas públicas dirigidas ao livro didático
5c - Qual sua opinião em relação ao livro didático?
5 - Eu acho que o livro didático é uma ferramenta extremamente importante para o processo de ensino-aprendizagem do aluno, então, se não fosse assim, acho que as instituições públicas, principalmente o MEC, não investiriam tanto recurso financeiro no desenvolvimento deste material para o aluno. Então ele tem sua importância para este processo de ensino e aprendizagem do aluno que deve ser reconhecido pelos profissionais que trabalham em uma instituição escolar. (B1) 5 - O livro didático é um auxílio para o professor em sala de aula. Essa é a minha concepção. Para mim, o livro didático, apesar de não pesquisar essa área de formação e desenvolvimento de coleção, mas o livro didático não é um item imprescindível em um acervo. É apoio para o professor. (B2)
Bibliotecários Apêndice C
6c - Como você vê ou via a distribuição dos livros didáticos no Ifes? Utilizavam-se do ambiente da Biblioteca para este fim?
6- A distribuição do livro didático é realizado por um outro setor. A biblioteca tem um papel importantíssimo na questão do livro didático, ela trabalha em parceria com o setor de distribuição no sentido de armazenar na biblioteca pelo menos três exemplares que eram utilizados durante o período de validade. Então, a biblioteca armazena três exemplares para garantir que o aluno, em caso de esquecer o material em casa, ele tenha disponível ali pelo menos um exemplar, para auxiliá-lo durante o período de aulas. (B1) 6 - Na verdade, quando eu entrei lá, eu pedi à gerencia de ensino que retirasse esses materiais de lá, porque eu não vejo como função da biblioteca ficar emprestando e enfim...ficar responsável por esses materiais, pelo empréstimo, pelo controle. Na minha concepção, isso é uma atribuição da coordenadoria de ensino e não da biblioteca. Então, no tempo em que eu estive lá, solicitei que esses materiais fossem retirados de lá, e assim foi por um tempo. Se eu não estiver equivocada, foi isso que aconteceu. Tanto é que o auxiliar de biblioteca não fazia mais esses empréstimos. Porque até então, quando esses livros estavam lá, e estavam lá porque não tinha uma equipe de trabalho e o auxiliar de biblioteca não tinha outras atribuições, então foi a maneira de dar atividades de trabalho a ele. Então, ele controlava o empréstimo, e somente isso. (B2)
Bibliotecários Apêndice C
7c - Para você, há alguma falha no Programa Nacional do Livro Didático? Qual?
8 - Eu acho que a principal deficiência é com respeito à distribuição do livro didático. O ano letivo se inicia, e muitas vezes se inicia sem que o aluno tenha recebido o seu material para estudo. Então a forma como o livro didático é distribuído é uma deficiência que precisa ser corrigida pelo FNDE ou MEC, quem gerencia o Programa Nacional do Livro Didático. (B1) 8 - Olha, eu não tenho nenhuma vergonha de dizer, mas eu tou por fora dessa questão da política e tem muito tempo que eu não me envolvo com isso. Tem dois anos e meio que estou aqui na Unirio e não pesquiso essa questão do livro didático e estou completamente por fora dessa questão da política. Prefiro não responder essa pergunta, para não falar sobre algo que não tenho conhecimento, nem domínio. (B2)
Bibliotecários Apêndice C
8c, 3b - Você acredita que há dificuldades em integrar o livro didático com os produtos e serviços oferecidos pela biblioteca? Quais?
9 - Eu acredito que não, porque na verdade já é feita essa integração. Os livros didáticos que são distribuídos pelo FNDE, a biblioteca não gerencia a distribuição deles, mas a biblioteca trabalha em parceria com o setor que gerencia a distribuição no sentido de manter alguns exemplares na biblioteca. Nesse sentido, já existe a interação entre a biblioteca e o livro didático, no sentido de disponibilizar conteúdo que os alunos normalmente utilizam. (B1) 9 - Eu acho que não tem dificuldades de integrar, mas percebo que há um déficit de material que possa complementar o livro didático, que nem história, geografia, eu acho que nessas disciplinas não há materiais além do livro didático. (AUX 1)
9 - Acho que são dois lados: Da mesma forma em que o livro didático facilita a busca do conteúdo que tá mais voltado pra linguagem dele, às vezes não é um livro tão técnico. Por outro lado, o aluno pode ficar amarrado pelo comodismo em já ter tanto contato com aquele livro. Mas, a partir do momento que ele não encontra o assunto que procura no livro didático, ele parte para outras fontes. Pela facilidade, o primeiro contato é com o livro didático. (AUX 2)
9 - Eu acredito que não há dificuldades, porque aqui há a internet, tem os kobos mesmo, e os livros didáticos e literários continuam a ter um fluxo normal, eles convivem bem. Na maioria dos casos, eles vêm procurar uma informação primeiro no livro didático e depois vão pra internet pra complementar ou quando não acham o assunto. (E1)
9 - Eu não acho que haja. O único problema que eu acho, não é nem questão da biblioteca, é a atualização dos livros, porque livro didático tem um prazo de validade, ai depois fica obsoleto. Por conta das leis que regem a estruturação da instituição, não pode descartar simplesmente esses livros, assim. Então esses livros ficam ocupando o acervo. (E2) 9 - Na minha época como estagiária, o acervo era muito pequeno. Não tinha esses DVDs de documentários, não tinha o laboratório de alimentos, então não tinha como praticar o que eles aprendiam. Ou faziam em casa ou viam na internet como fazer. Era uma coisa mais precária. Quando a gente precisava de livros didáticos em época de prova, acabava muito rápido no acervo, então só ficava o de consulta local que já estava sendo usado. Foi uma época mais complicada porque o acervo não ajudava tanto. Eu acho que foi por isso que a internet virou um point de pesquisa e os alunos se acostumaram. O livro didático era a segunda opção quando não se achava o assunto na internet. A internet te dá todas as respostas, mas o livro didático te dá um filtro. Se você pegasse um tópico no meio da matéria do
Bibliotecários
Auxiliares de Biblioteca
Estagiárias
Apêndices B e C
c) Políticas públicas dirigidas à leitura
OBJETIVO 2 VARIÁVEL PERGUNTA RESPOSTA SUJEITO APÊNDICE Verificar se a biblioteca do campo de estudo promove práticas de incentivo à leitura. Constatar se as atividades desenvolvidas na biblioteca escolar favorecem a formação social e intelectual de adolescentes escolares
a) Biblioteca escolar b) Práticas de incentivo à leitura a) Atividades desenvolvidas pela biblioteca escolar b) Formação Social e intelectual de adolescente
9c - Como a biblioteca desenvolvia atividades de incentivo à leitura?
“Desenvolvemos o projeto “Gostar de ler, ler para gostar”, que consistia em incentivar o gosto pela leitura através de atividades culturais como o teatro, música, dramatizações, saraus, etc., e também o Boletim Informativo Informes, se trata de uma publicação bimestral que trazia noticias e curiosidades de questões como atualidades, ciência, notícias dos eventos do campus e outras coisas.” (B1) Lá, o poder aquisitivo das pessoas é bem elevado, e a maioria desses alunos acaba tendo uma boa estrutura em casa, com acesso à internet para fazer pesquisa porque pouquíssimos usavam livro impresso. E os que permaneciam na biblioteca eram os alunos que não tinham computador, não tinham internet em casa, e o foco deles era sempre a internet. E a gente tentava de alguma maneira, despertar o interesse em pesquisar no material impresso, no acervo. A gente não tinha sucesso, então era tudo computador, era tudo internet. Enfim, depois começamos a fazer projetos de vinculação cultural da biblioteca, para tentar essa aproximação. De certa forma, observei uma melhora em relação aos livros de literatura, pois o contato e a aproximação era completamente diferentes, pelo menos no meu tempo. Eles queriam, eles sugeriam, eles procuravam. (B2)
Bibliotecários Apêndice C
s escolares
10c - Que tipo de parceria para incentivo à leitura foi feita pela biblioteca?
“Uma das parcerias que fazemos é com os professores de Língua Portuguesa quando realizamos a Semana da Biblioteca, todo o mês de novembro de cada ano. Começamos esse projeto em 2012, e incentivamos o aluno a participar mesmo, seja no teatro, nos saraus, nas apresentações culturais. Geralmente quem se envolve mais são os professores de português, de artes e filosofia.” (B1) “A demanda que eu me lembro era em relação aos livros de literatura. Tinha uma professora de Artes que a gente tinha uma parceria bacana com ela e quando nós conseguimos ter livros de Artes e Literatura. essa demanda por esses materiais era diferenciada em relação aos outros por conta dessa parceria que a gente buscava, em fazer esse trabalho em conjunto entre a aula dela e a biblioteca, no que tange ao incentivo à leitura usando os materiais do acervo.” (B2)
Bibliotecários Apêndice C
11c - Que atividades foram desenvolvidas na biblioteca escolar foram consideradas como importantes para a formação social e intelectual dos alunos?
“Além da Semana da Biblioteca e dos projetos, fazemos algumas oficinas, mas nada muito além disso.” (B1) “Olha, a biblioteca estava focada em desenvolver acervo, atividades mais administrativas, não me lembro muita coisa, foi mais a questão da parceria com a professora de artes, não havia muito o que fazer.” (B2)
Bibliotecários Apêndice C
4a, 4b - Qual sua sugestão de melhoria para das atividades de incentivo à leitura e pesquisa escolar na Biblioteca do Ifes?
“O que falta talvez, se tivesse um blog ou uma estante com os livros, dvd‟s e revistas mais lidas. Falta cativar o aluno. Acho interessante que o professor e a biblioteca dialoguem, os alunos não fariam o trabalho por fazer, fariam por gosto.” (A1)
“Olha, não sei, mas acho que tem que ser feito um trabalho em conjunto entre a biblioteca, o professor e o aluno. Ajudaria bastante pelo fato do professor estimular o aluno e se aprofundar no conhecimento de conteúdo. Acredito que seja isso. (A2)
“Por ser nova ainda, acredito que aumentar o acervo com mais variedades é sempre bom e acredito que o aluno precisa de uma fonte maior de consulta. Pode
Alunos
Estagiários
Auxiliares de Biblioteca
Apêndice A
Apêndice B
melhorar ainda mais disponibilizando melhores fontes de consulta”. (A3)
“Seria importante oferecer um trabalho de adaptação do aluno aos trabalhos acadêmicos e selecionar as fontes, porque a gente vê tanta situações de alunos que pegam, copiam da internet, colam no trabalho sem se preocupar com nada, é muito ruim. É importante explicar o porque de a gente estar fazendo o trabalho, de dar prioridade ao livro, ao autor que conhece o assunto em vez da internet. A internet oferece muitas coisas, mas nem todas elas são confiáveis. E o livro oferece uma gama muito grande de informações de coisas que não estão na internet. O professor pode fazer uma parceria com a biblioteca pra oferecer esse serviço, não só de mandar o aluno para cá, mas de acompanhar todo esse processo.” (A4)
“Falta um pouco da ação do professor em trazer os alunos para a biblioteca.” (A5)
“Até agora não tenho nenhuma reclamação, tudo aqui atende às minhas necessidades. Mas o professor precisa dessa união maior com a biblioteca.” (A6)
“Creio que a biblioteca já faz muito bem essa parte da orientação, deixando bem claro nas prateleiras onde é que está tal livro de tal matéria de determinado curso, creio também que fica mais a critério dos professores auxiliar e influenciar o aluno a ir buscar na biblioteca aquele material, porque a internet acaba fazendo esse papel. A internet é muito mais prática, mas tem informações não muito confiáveis. E o livro não, ele passa por uma pré-seleção antes de ser publicado. A partir do momento que o aluno passa a buscar informação no livro, a gente tem uma confiança e uma variedade muito maior de informações.” (A7)
“Eu acho que o serviço prestado pela biblioteca é muito bom sim, quando a gente pergunta se alguém daqui pode nos ajudar, mas uma sugestão que eu acho, é que o professor desse sugestões bibliográficas para que a gente pudesse procurar, até mesmo para termos um foco, para não perdermos tempo olhando um monte de livros, poderíamos ir direto no material, teria uma direção. A gente perde muito tempo procurando o livro certo. Alguns professores faziam isso, mas pararam,
hoje nenhum faz mais.” (A8)
“Eu acho que vocês já ajudam bastante, no balcão, assim, qualquer coisa já auxilia onde é que está o livro, no caso dos computadores, elas te ajudam. Junto com os materiais oferecidos, o professor poderia tá aqui na biblioteca, junto, falando o que está certo, o que está errado, o que poderia fazer ou não.” (A9)
“Olha, em relação à escola de onde eu vim, não chega nem perto dessa biblioteca, aqui a estrutura é muito, muito boa. Acho que o professor tinha que vir aqui com os alunos, incentivar mesmo. Muitas vezes eles falam: vão lá na biblioteca, mas nunca falam: vamos à biblioteca, nós. Eles não fazem isso. Eles mandam, mas a gente não vem muito. Talvez se eles vissem junto com a gente, a gente ia usar mais os livros didáticos.” (A10)
“Quanto à biblioteca, não tenho nada a reclamar, porque o que é para ser feito, está sendo feito, que é orientar o aluno, a gente chega aqui pedindo ajuda e somos bem orientados e temos quem nos ajude. Quanto ao professor, seria de usar o material didático oferecido pela biblioteca da escola, de maneira que o aluno tivesse uma sincronia entre o material didático e a matéria vista em sala, pois o aluno estaria em sintonia entre a sala de aula e os recursos da escola. Quando o professor não segue o livro didático, o aluno quando chega em casa, ele não estuda, porque acha que o que o professor passou é o suficiente, e na verdade não é. É mais difícil para quem quer conectar o que aprendeu com outras fontes, se tiver o livro didático para dar um norte, é bem melhor.” (A11)
“Deveria ser feita alguma coisa que entre no dia-a-dia do aluno, coisas mais frequentes, tipo, incentivar o aluno vir mais na biblioteca, essas coisas.” (A12)
“Todos os projetos realizados aqui são ótimos, mas é tipo assim, falta a biblioteca chegar com o professor e falar que chegou algum livro novo, chamar o professor e trazer a turma junto para ver esse livro novo. Porque parece que para os professores, a biblioteca nem existe, acho que seria importante.” (A13)
“Eu acho que a biblioteca tem esse serviço de orientação aos alunos, se qualquer um precisar de ajuda, sempre tem alguém aqui pra ajudar, só que
muitas vezes a pessoa não sabe que tem esse serviço, por exemplo, quando eu estava no meu primeiro e segundo anos, eu pedi ajuda quanto à formatação do trabalho, porque às vezes foge, não achei na internet como era para fazer, tudo certinho. Então hoje eu pergunto, eu não fico mais com dúvidas, mas nem todos tem a consciência de que podem fazer isso, chegar aqui e tirar dúvidas. Aqui é um lugar de aprendizagem, e de tirar dúvidas também, a maioria dos alunos daqui veem como uma estrutura apenas, vem e vão embora. Eu acho que a visão da biblioteca tem que mudar , porque aqui é um lugar de aprendizagem, aqui você tá lendo, tá pesquisando, é uma questão de informação e divulgação de que aqui o aluno pode usar. Acaba tendo uma falha do professor, talvez nem o professor saiba, pois às vezes acontece isso. Alguns professores não sabem que esse serviço existe. É principalmente fazer com que os alunos saibam e façam uso dessa ferramenta.” (A14)
“Se tivesse essa parceria com o professor, a gente teria muito mais ferramentas para pesquisar, eu acho que os trabalhos iam ser feitos de uma maneira muito mais exigente. A gente poderia vir aqui e pesquisar na hora da aula e tudo mais, acho que ajudaria bastante.” (A15)
“Eu acho que falta essa questão de aprender como usar as fontes de informação, para que a gente adentre nas fontes virtuais, como a internet, aprender a usar outras mídias também, outros livros, que sem dúvida, traz um conteúdo mais aprofundado. E o trabalho em parceria entre os professores, a biblioteca e os bibliotecários, porque isso falta bastante, fica desconexo.” (A16)
Eu acho que a biblioteca tem todos os recursos necessários para uma boa pesquisa, mas o que falta são as opções, por exemplo, eu venho aqui fazer uma pesquisa, já aconteceu, ou o material tá emprestado ou o exemplar de consulta local está com alguém, ai fico sem ter como usar. Não que seja culpa da biblioteca, mas o que precisa melhorar, com o passar do tempo, é ter maior variedade de livros para os alunos. A professora que passou esse trabalho é uma professora muito rígida, ela é muito certa no que ela quer. Por ela ser assim, ela acaba não cobrando um pouco a mais do aluno, mas acaba ajudando ele. Então se eu tivesse uma dúvida que não conseguisse resolver com nada eu ia recorrer à ela. Então, não que o método dela esteja errado, mas eu acho que se tivesse uma parceria entre
o professor e a biblioteca, sem que o aluno tivesse que demonstrar dificuldade, ia facilitar muito o aprendizado. Pro aluno,só pelo fato de ele tá lendo um texto, e ele sentir que estar com dificuldades, já mexe com tudo o que você leu e acaba se perdendo no texto, e se você tiver uma introdução do que aquele texto está te falando, você pode achar complicado uma palavra ou outra, mas você já vai saber do que ele está tratando, já vai ter um foco do texto. Eu acho que o mesmo vale pro trabalho. Se o professor esperar o aluno manifestar alguma dificuldade, eu acho que complica o aprendizado, se ele tivesse uma base, já podia agilizar mais, do que ficar lendo e sentir dificuldades só para depois tirar dúvidas e depois ler de novo. Com o contexto que o professor explicou, eu acho complicado deixar o aluno buscar sozinho.” (A17) “Eu tinha sugerido aquela questão do Pergamum, de dar um treinamento pro aluno, pra que ele possa pesquisar em casa e depois que vi o nome da sua palestra, das fontes confiáveis na internet, achei muito interessante. Se de repente deixasse exposto pros alunos, já era algo que facilitaria ainda mais, como procurar e pesquisar algum conteúdo”. (E1)
“Eu acho que falta aos alunos entenderem mais a organização da biblioteca, como se dá o processo de organização, porque às vezes o aluno não conhece o sistema de organização, de referência, então para ele não faz muito sentido a sequência de assuntos da biblioteca, mas também como fazer para passar essa informação para esse aluno, não sei como seria feito. Mas, eu acho que se o aluno entendesse melhor a organização do acervo, para ele ficaria mais fácil, mais claro. E também se o professor fizesse um trabalho em conjunto com o bibliotecário, explicando para os alunos de que os livros não estão ali de forma aleatória, é um código que existe que regulamenta a organização não só da biblioteca, mas de todas as bibliotecas. É uma coisa que falta em todas as bibliotecas. Essa questão é pior quando a biblioteca é grande, e o aluno fica completamente perdido, igual a um cego no tiroteio”. (E2)
“Falta essa coisa, dos professores trazerem os alunos para a biblioteca. Por exemplo, o acervo tem muito livro de literatura, mas tem os professores de português que não gostam de literatura estrangeira, mas tem muito livro nacional bom. Quem vai fazer vestibular vai precisar
estudar literatura, redação. Fernando Sabino e Machado de Assis sempre caem nos vestibulares, então acho importante que os professores de português venham à biblioteca com os alunos. Tem que dar um impulso na literatura nacional também, eu acho que falta esse incentivo. Eu acho que o professor e o bibliotecário tem que fazer esse tipo de trabalho em prol dos livros nacionais de literatura. Eu vejo também que o aluno vem para biblioteca somente para estudar, em época de prova aqui fica lotado, não tem nem lugar para sentar. Os alunos não enxergam a biblioteca como um local de lazer e cultura. Eu vejo tanto aqui quanto na biblioteca municipal que os alunos estudam e pegam livros, mas não vejo ninguém discutindo sobre literatura, poderia ter um clube do livro, para incentivar os alunos a participarem mais do ambiente da biblioteca. Eu acho que aproximaria mais as pessoas”. (E3) “O que eu acho que tem que ser feito e trazer o professor e o aluno para a biblioteca, porque a nossa ação é tão voltada para o aluno, mas se o professor não incentivar o aluno a frequentar a biblioteca para o uso do livro, a nossa ação fica fraca, então se o professor manda ele estudar um conteúdo que tem na internet, qual o sentido de ele vir aqui? Alguns alunos já tem esse hábito, de estudar, de procurar o livro, mas não é a realidade geral da pesquisa, a não ser que a gente pegue cada um dos alunos e fique orientando. A gente tem alunos do curso superior que são ex-alunos dos cursos técnicos e até hoje eles pedem pra gente auxiliar eles a procurar conteúdo no sumário do livro. Eles vem de uma rotina onde não foram acostumados a procurar em livros, e agora que a exigência é maior, eles pedem nosso apoio, mas o professor não faz esse trabalho de vir aqui na biblioteca e incentivar o aluno. Falta fazer ações para atrair o professor para a biblioteca e que faça esse tipo de trabalho com o aluno, de orientar mesmo a pesquisa escolar”. (AUX 1)
“Existe esse incentivo por grande parte dos professores, mas falta criar algum projeto para ampliar esse incentivo, não só por parte dos alunos, mas também dos professores. Os professores precisam usar não somente os livros técnicos, mas também a parte de literatura, um incentivo por parte de todos, não só os professores, mas também os técnicos administrativos que não frequentam a biblioteca. É um público que precisa se envolver também. Se a biblioteca não for usada, não existe
motivo para ela existir”. (AUX 2)
OBJETIVO 3 VARIÁVEL PERGUNTA RESPOSTA SUJEITO APÊNDICE Etapa de Iniciação
Analisar os
sentidos de
livro
(didático),
leitura e
biblioteca
apresentados
por
adolescentes
escolares,
alunos da
instituição de
ensino onde
será
realizada a
pesquisa.
Sentido de livro (didático)
5a - Qual foi seu sentimento quando o professor propôs o trabalho escolar? E por que você teve esse sentimento?
“Me senti otimista. Porque já estou acostumado com a estrutura do livro didático.” (A1)
“Então, quando o professor passou o tema, achei legal. Senti segurança, tanto para apresentar ao professor, quanto aos colegas. Então, senti interesse pelo assunto. Desde o momento que o assunto foi passado, me interesse em ler mais, para me aprofundar.” (A2)
“Gostei, fiquei otimista porque é um assunto fácil para a gente procurar. É um trabalho de fácil acesso, de conteúdo bem didático. É um instrumento que pode vir a ajudar a gente, não foi obrigatório, ajudou muito.” (A3)
“Ah, no início eu não sabia muito onde recorrer, fiquei meio assustado, mas depois ela foi dando umas orientações e ai disse que a gente podia encontrar no livro, e fiquei mais tranquilo. Porque eu não era acostumado com esse tipo de trabalho. A escola não tinha isso, e a gente fez a prática no laboratório, e depois pediu o relatório. Eu nunca tinha feito um relatório antes, então por isso o susto, pela falta de hábito mesmo desse tipo de trabalho.” (A4)
“Olha, dúvidas sempre tem, mas foi um tema que ele passou para estudar e apresentar. Não conhecia nada. Então a gente teve que pesquisar sobre o assunto e apresentar” (A5)
“Eu gosto dessa matéria e gostei do tema, me senti confiante e otimista, porque já conhecia o tema e eu gosto dessa área biológica.” (A6)
“À princípio, de estranhamento. Por ser um nome meio inusitado, que não era do nosso dia-a-dia, ele chegou, sem passar a matéria, passou os assuntos nos slides. Era para a gente procurar. O resultado foi excelente, porque recorrendo aos livros didáticos, conseguimos extrair todas as informações necessárias para realizar o trabalho.” (A7)
“Fiquei normal...confiante, porque sabia que teria aparatos que me ajudariam a desenvolver o trabalho,
Alunos Apêndice A
fiquei tranquila.” (A8)
“Eu não sabia ao certo o que era, e depois ele foi explicando, me dando orientações a serem seguidas. Fiquei meio confusa, perdida. Porque eu já tinha ouvido falar, mas sabia o que era. Então, eu acho que a proposta dele foi isso, pesquisar para saber, para mostrar os outros alunos o que significava esse determinado grupo animal.” (A9)
“Ah, tipo, tranquila. Depois que pesquisei mais, conhecer os autores, porque geralmente assim, quando o professor passa o trabalho, a gente aprende mais, né? A gente tem que ler, pra explicar na hora.” (A10)
“Fiquei curiosa, como era meu primeiro ano na escola, fiquei curiosa em ler os materiais didáticos da minha série, para saber se iam suprir minhas dúvidas. Me surpreendi também, porque foi um trabalho em que meu grupo só utilizou o livro, assim, um pouquinho da internet, mas a maior parte do trabalho foi tirado do livro, porque estava bem completo. Porque tinha acabado de entrar na instituição e antes eu tinha outro material didático. Na época que entrei, era um outro material, e a curiosidade foi por isso, de conhecer um novo livro.” (A11)
“Me senti frustrado, porque queria pesquisar sobre outro tema, mas o professor não deixou fazer a troca.” (A12)
“Fiquei nervosa, mas ao mesmo tempo tive motivação, porque ele era muito exigente. Quando ele propôs, achei excelente ele ter passado esse tema, pois nunca havia passado antes, mas gostei da experiência no final de tudo, Pelo fato de ter que aprender sozinha, entender aquela matéria pelo livro e depois explicar para o pessoal da sala.” (A13)
“Na verdade gostei desse trabalho porque foi um relatório. Na verdade, não havia entendido a matéria na sala de aula, então quando eu fiz o relatório utilizando o livro didático e pesquisando na internet, acabei entendendo bem melhor a matéria, eu consegui compreender melhor o conteúdo. Quando comecei o trabalho, me senti confusa, mas ai, mas conforme fui pesquisando, foi esclarecendo as coisas.” (A14)
“Ah, de curiosidade, porque é um assunto que me
desperta interesse, gosto bastante de História. Sabia que tudo ia estar no livro didático, ia ter ajuda do professor para entender o assunto e tudo mais.” (A15)
“Fiquei muito confortável e feliz, porque é um tema que eu gosto de abordar e, eu já tenho um conhecimento acerca dele, porque já sou naturalizado com o tema.” (A16)
“À princípio, senti um pouco de estranhamento, porque o nome já é muito difícil assim, na verdade me senti confusa em relação ao que se tratava. Mas depois, conforme fui pesquisando, eu fui sentindo um certo interesse, porque é uma matéria muito assim...ampla, muito interessante. Se você for ver do que ela se trata, óbvio que não são todas as pessoas que se interessam por biologia, mas ela estuda peixes que são menos conhecidos, então, tipo, é um certo tipo de curiosidade, entendeu? Por exemplo, os tubarões, das arraias, e outros peixes, então achei bem interessante. Pra ser sincera, é porque o tema é difícil, nunca tinha estudado isso e nem ouvido falar. Se ao menos eu tivesse ouvido falar, me sentiria mais familiarizada com o tema. Mas, como foi uma coisa totalmente nova, e aparentemente um título bem complicado, eu achei que ia ser a coisa mais estranha de estudar do mundo, mas não é.” (A17)
Sentido de livro (didático)
5b - Como você orienta o processo de busca por informação do aluno que precisou realizar um trabalho escolar?
“Na verdade, ajudei ele além do livro didático, incentivando a pegar algum livro aplicado com um conteúdo extra para aprimorar o que o aluno estava procurando no livro didático. Ele aceitou buscar mais porque ele não achou amplo o conhecimento em relação ao que ele precisava para fazer o trabalho. O livro didático dava uma base, mas o aluno não queria ficar conformado”. (AUX 1)
“Normalmente, quando o aluno não encontrava o assunto, a gente procurava auxiliar procurando no livro didático também, através do sumário. E quando esgotava todas as tentativas, a gente indicava a procura na internet, que seria uma fonte auxiliar que o aluno usaria na biblioteca.” (AUX 2)
Auxiliares de Biblioteca
Apêndice B
6b - Você já sentiu alguma dificuldade em auxiliar algum aluno
“Muitas vezes quando o aluno vem procurar algum assunto, vou dar o exemplo de história, quando eles vem procurar alguma coisa de história, eles não querem nenhum outro livro além do livro didático, a gente diz: „ah, vamos procurar algum outro material‟, mas o aluno
Auxiliares de Biblioteca
Apêndice B
no processo de pesquisa que utilizou o livro didático?
diz que o professor usa determinado livro, e eles querem utilizar normalmente o livro que o professor tá utilizando. Por mais que que a gente tenha edições atuais em que o aluno possa encontrar o material também, vou até considerar que nosso acervo não é rico em material de história, o que mais a gente tem ali é livro didático de edições atuais, o aluno quer ver o que o professor está utilizando de anos anteriores. A dificuldade que eu vejo é essa, ele insiste em usar o livro didático que o professor usa, mesmo que não seja atual”. (AUX 1)
12c - Como você orienta o processo de busca de informação do aluno que precisou realizar um trabalho escolar?
“Um grupo de alunos precisava de um material que falasse de um assunto relacionado à área de biologia. Eles precisavam de um material para fazer um trabalho que fazia parte de uma prova. Eles não chegaram no balcão de atendimento solicitando este material. Como muitos usuários de bibliotecas, eles foram direto ao acervo para tentar encontrar o material que atendia a necessidade informacional deles. Identificamos este grupo de usuários no acervo, meio que perdidos, em busca da informação, então fui até eles, perguntei se precisavam de ajuda, então eles disseram o que estavam procurando, então perguntando algumas questões relacionadas ao assunto, para tentar encontrar aquele material que atendia a necessidade informacional deles. A partir desta análise com eles, a gente conseguiu identificar os materiais, alguns títulos que tinham o conteúdo necessário para atender a necessidade deles. A gente pegou e separou esses materiais e disponibilizamos para que eles pudessem desenvolver a pesquisa. A maioria desses livros indicados eram didáticos. Além dos livros didáticos, tinham outros materiais também, mais específicos. Então, esses livros didáticos tinham um conteúdo bem completo acerca do assunto pesquisado, acho que era histologia, alguma coisa assim. Foram utilizados em sua grande maioria os livros didáticos até mesmo porque era um conteúdo do núcleo básico que o professor tinha passado como pesquisa.” (B1)
Bibliotecário Apêndice C
13c, 7b - Que tipo de informação os usuários mais procuram na biblioteca?
“Livros de assuntos mais específicos, como da área de biologia, física, química, história e literatura. Na parte técnica, são livros de conservação de alimentos, análise sensorial e matemática financeira”. (B1)
“Eles usavam muito a parte de História, o professor R. solicitavam que eles pesquisassem em livros didáticos aqui na biblioteca. Parte de física também, buscavam bastante os livros para realização de atividades,
Bibliotecário
Auxiliares de Biblioteca
Estagiárias
Apêndices B e C
exercícios. Eu acho que em Venda Nova, a biblioteca era bastante usada, os professores tentavam inserir os alunos no espaço da biblioteca, existia essa política. Literatura também, era muito buscada pelos alunos”. (AUX 2)
“Pelo menos para o Enem, saiu bastante livros didáticos de matemática, biologia, física e química. E também os livros literários”. (E1)
“Aqui buscam especificamente na área de alimentos. Os usuários mais frequentes eram da área de agroindústria, então os livros didáticos de biologia, física e química eram mais buscados”. (E2)
“Os livros didáticos de física, com certeza. Eram muito usados, principalmente as matérias técnicas da agroindústria. Química, física e matemática são as três áreas que saiam muito livros didáticos também. Os alunos solicitavam também como logar no computador, eles nunca sabiam como fazer login, essas coisas da informática, para eles era muito difícil fazer. E encontrar livros, porque antigamente não tinha a sinalização, então eles ficavam muito perdidos, eu ficava perdida também. E se tinha livro de literatura. Como eram muito poucos os livros de literatura, eles sempre perguntavam. Eram coisas muito escassas”. (E3)
14c, 8b - Qual era o sentimento do aluno quando o mesmo precisava realizar alguma pesquisa escolar na biblioteca?
“O sentimento era de desespero! (risos) Assim, eles chegam autodependentes, ou independentes, na verdade. Eles chegam e já querem ir direto ao acervo, acham que com o roteiro do livro didático vão encontrar aquilo que eles precisam em qualquer material, desde que tenha alguma coisa relacionada. Ai você começa a ver o desespero, porque não encontram o material necessário para atender a necessidade deles. Então, quando você vai ao encontro deles, se prontifica a ajudar, e você disponibiliza o material para eles, ai você já vê a satisfação em ter o material ali disponível, que vai atender a necessidade de informação deles. Eu acho que tem a questão do tempo reduzido, a pressão do professor e a inexperiência em pesquisar um conteúdo razoavelmente complexo. Tem de tudo um pouco ai. Mas acredito que era principalmente a questão do tempo, a pressão existente em relação ao tempo escasso para a realização do trabalho. E você não encontrar um conteúdo que venha a responder a essas necessidades informacionais. A pressão do professor
Bibliotecário
Auxiliares de Biblioteca
Estagiárias
Apêndices B e C
em passar um trabalho de natureza mais complexa para eles, e eles não conseguem encontrar um material que responda as questões e também fica uma questão de frustração para o aluno em simplesmente entrar na biblioteca e ir direto ao acervo e não localizar o material que possa atender sua necessidade. Então, se o bibliotecário não estiver preparado, o aluno sairá do ambiente da biblioteca frustrado não só com a questão de não encontrar o material, mas ter que desenvolver um trabalho às pressas, com toda uma pressão em cima, e esse aluno também vai sair frustrado com a biblioteca, porque a biblioteca não tem os materiais necessários para atender a sua necessidade informacional. Isso é realmente muito ruim para a biblioteca também. Para o aluno é ruim, porque ele sai sem esse material, e para a biblioteca, porque tem o material disponível, mas por uma falha, acho que da equipe que trabalha na biblioteca, este aluno saiu sem que a sua necessidade informacional fosse preenchida. Se essas falhas não forem detectadas ou resolvidas, pode ser que o aluno fique frustrado com o ambiente informacional e até deixe de frequentar a biblioteca. Vai alegar que a biblioteca nunca tem aquilo que ele precisa”. (B1)
“Das áreas técnicas, os alunos procuram assuntos voltados para as áreas de tecnologia de alimentos, na área de introdução à administração, gestão de pessoas e de recursos humanos e livros literários, eles perguntam geralmente como indicação, um romance, suspense, às vezes eles chegam e pedem auxílio nesse aspecto também.” (AUX 1)
“Porque ele se sente mais à vontade indo até o livro didático, até o acervo, por mais que ele não saiba onde o livro esteja com o assunto que ele procura, do que chegar até o servidor e perguntar. Isso é em um primeiro momento, depois, como acontece em qualquer outro local, as pessoas começam a se familiarizar, ai o aluno perde essa timidez. Lógico que é com uma grande maioria, vai continuar com os mais tímidos, mais introvertidos”. (AUX 2)
“Pelo o que vejo, eles vem muito otimistas para a biblioteca, eles acreditam que vão conseguir mesmo fazer as atividades. Alguns alunos tinham dúvidas, de não ter certeza de que irão encontrar o assunto, e também por não terem tanto domínio da internet, então eles se perguntam o que vão fazer e como vão fazer.
Mas, a maioria vem acreditando que no livro didático vai ter o assunto.” (E1)
“Os alunos da nossa geração querem tudo rápido, então você fazer um trabalho em cima de um livro é todo um processo. E essa geração está acostumada a buscar na internet, jogar tudo no site de pesquisa e tudo vir rápido. E quando vai usar um livro em que você tem que procurar e fazer pesquisa do autor e ler vários livros, isso é um processo mais demorado e essa galera é mais impaciente. Então, o que eu percebo nesse pessoal é impaciência, principalmente no ensino médio, pois os assuntos não são aprofundados e até mesmo na internet você acha um conteúdo mais superficial, então eles acham que a busca no livro didático é desnecessária, à princípio. Essa é a visão que eu tenho dos alunos de ensino médio”.(E2)
“Como eram diversos alunos, alguns chegavam muito perdidos, não sabiam o que fazer, geralmente eram do primeiro ano, primeiro semestre, eles chegavam súper perdidos e a gente tentava orientar mais ou menos tanto nos livros didáticos quando na internet e alguns chegavam aqui e diziam: „ah, que saco fazer esse trabalho‟, mas sempre que precisavam, pediam minha ajuda. Era legal, a gente se sentia um pouco útil para ajudar eles”.(E3)
Etapa de Seleção
Sentido de livro (didático)
6a - Houve
alguma
reflexão ou
exploração
inicial para
realização da
pesquisa?
“Houve exploração direta do livro didático com a análise dos subtópicos. Foi mais fácil. Ele (o professor) orientou a pesquisa no livro didático, orientou também o uso de outras fontes, mas não indicou quais eram, ficou a critério dos alunos”. (A1)
“A gente reuniu o grupo, cada um ficou com uma parte para pesquisar e um ajudou o outro. Resumindo, nos reunimos para decidir a estrutura do trabalho.” (A2)
“A gente foi direto para o livro didático dividir os temas, foi bem objetivo.” (A3)
“Eu não sabia ao certo filtrar as informações. Tinha muita coisa. A gente começou a ver o que era importante ou não. Lembrei de como foi a aula, o que ela tinha falado, para a gente escolher o que era importante ou não. Ela (a professora) até mandou um
Alunos Apêndice A
modelo pra gente, de como fazer, um modelo acadêmico, com introdução, desenvolvimento, conclusão...” (A4)
“Sim, procurei saber através da internet.” (A5)
“Reflexão assim, sobre o tema, sobre o que a gente já havia aprendido, lembrança de alguma reportagem que assisti”. (A6)
“Reli várias vezes o assunto do livro didático, e até mesmo de outros livros, e depois disso, fui extraindo as informações que achei necessárias para conseguir realizar o trabalho”. (A7)
“Conversei com meus colegas, com o professor, inclusive. Pesquisamos em muitos livros para ver qual seria o certo, quais tinham os temas mais adequados, mais detalhados. A gente sabia que o livro didático traz as separações, no caso, as características gerais, o sistema circulatório, o digestório, reprodutor, então a gente já sabe dessa estruturação que tem no livro e deixou a livre critério quais estruturas apresentar.” (A8)
“Me sentei com meu grupo e começamos a pesquisar primeiramente no livro didático mesmo para ter uma ideia do assunto e depois fomos para a internet”. (A9)
“Primeiro me juntei com meu grupo, a gente debateu o que cada um ia fazer, ai a gente procurou a professora também, ai fomos fazer o trabalho.” (A10)
“Era um trabalho em grupo, não era um trabalho individual, inicialmente a gente veio aqui na biblioteca, a gente se reuniu em um grupo, e conversamos sobre o que cada um tinha de conhecimento sobre o conteúdo. Lembro que uma das minhas colegas sabia bastante, e a gente se surpreendeu porque quando abrimos o livro didático, o conteúdo era praticamente tudo o que ela tinha falado.” (A11)
“Dividi o tema entre todos os componentes do grupo. Essa é a vantagem de fazer trabalho em grupo, dá para dividir o tema, não perde tanto tempo, ai cada um pesquisa sua parte e entrega para quem vai montar o trabalho.” (A12)
“Assisti videoaulas, peguei outros livros, mas o livro
didático que o professor recomendou para estudar para o seminário, eu não gostei dele. Era um livro ótimo, mas não consegui aprender com ele. Então peguei um outro que me explicou detalhadamente. Então, fiz uma junção das videoaulas com os livros que peguei pra estudar.” (A13)
“Primeiro eu ia pesquisar só na internet, né? Ai falei assim: não, agora que vou fazer o relatório, eu vou ler sobre o tema. Li o livro do Chiavenato que tem na biblioteca, ai com a leitura do livro, foram surgindo outras dúvidas, coisas que eu não lembrava de ter estudado na sala. Ai fui pesquisar na internet sobre esses temas, ai sim consegui entender bem mais”. (A14)
“Não, a professora apresentou o tema e falou que qualquer dúvida era para procurar ela.” (A15)
“Como eu já tinha um conhecimento prévio sobre o tema, eu já sabia quais pontos principais a serem abordados, e com base no livro didático, foi possível ter um norte. A partir de então, outras pesquisas foram feitas.” (A16)
“Eu pesquisei em livros da biblioteca e algumas coisas na internet, mas, a minha pesquisa mesmo foi baseada nos livros didáticos. O outro era do segundo ano, mas que a escola não usa mais, mas que meu amigo tem, tirou foto e me mandou”. (A17)
Sentido de livro (didático)
9b - O professor solicitou que separassem ou selecionassem algum material de pesquisa para orientar os alunos?
“Não acontecia ano passado, mas os alunos de terceiro ano estão vindo mais à biblioteca pesquisar nos livros didáticos. O professor fala, ah, vamos trabalhar com esse livro, e turmas inteiras usam o mesmo livro”. (E1)
“Os professores traziam os alunos para a biblioteca e os alunos procuravam os livros didáticos”. (E2)
“O bibliotecário separava os livros didáticos que o professor pedia, filmes também eles pegavam muito, documentários, né? A gente separava esses outros materiais, mas os livros didáticos eram os mais usados mesmo. Como aqui na biblioteca tinha, eles pegavam aqui porque era mais fácil. Às vezes nem tinha livros, ficavam só o de consulta local, e eles usavam para cinco, seis grupos de estudos. Química, física e matemática são as três áreas que saiam muito livros
Estagiárias Apêndice B
didáticos também” (E3)
Sentido de livro (didático)
10b - Você já sentiu alguma dificuldade em auxiliar algum aluno no processo de pesquisa que utilizou o livro didático?
“Muitas vezes quando o aluno vem procurar algum assunto, vou dar o exemplo de história, quando eles vem procurar alguma coisa de história, eles não querem nenhum outro livro além do livro didático, a gente diz: „ah, vamos procurar algum outro material‟, mas o aluno diz que o professor usa determinado livro, e eles querem utilizar normalmente o livro que o professor tá utilizando. Por mais que que a gente tenha edições atuais em que o aluno possa encontrar o material também, vou até considerar que nosso acervo não é rico em material de história, o que mais a gente tem ali é livro didático de edições atuais, o aluno quer ver o que o professor está utilizando de anos anteriores. A dificuldade que eu vejo é essa, ele insiste em usar o livro didático que o professor usa, mesmo que não seja atual”. (AUX 1)
Auxiliar de Biblioteca
Apêndice B
Sentido de livro (didático)
15c - Em relação ao aluno que busca determinada informação sobre um assunto específico que se localize em um livro didático, você procura mostrar ao mesmo outras fontes de pesquisa? Quais?
“Aquele conteúdo informacional que não foi encontrado no livro didático, a gente tentava ir em outros materiais de assuntos mais específicos, ou sempre eu indicava para eles o meio digital, no caso da internet. Porém, se fossem pesquisar no conteúdo digital, eu recomendava que utilizassem fontes seguras, para garantir a autenticidade daquele conteúdo. Além disso...a gente tá falando desse grupo específico de biologia, mas teve um outro grupo de foi de história, que eu recomendei o trabalho com os periódicos. Então tentava indicar os periódicos porque havia assinaturas de periódicos específicos dessa área, então muitos desses conteúdos estavam ali nos periódicos de história. Mas, a maioria das vezes, era indicado o livro no meio digital ou páginas na internet, mas sempre com a preocupação de indicar fontes seguras para atender a essa necessidade”. (B1)
“Como eram pouquíssimas solicitações, a gente ia para o acervo, para tentar desmitificar que tudo de bom, tudo de melhor, estava na internet. Não estou criticando a internet, não é esse o foco, mas era para os alunos conhecerem este outro lado da biblioteca. A gente tentava ir sempre para o acervo, e caso não houvesse, ai sim eu direcionava para a pesquisa na internet”. (B2)
Bibliotecários Apêndice C
Estágio de Exploração Sentido de 7a - Quais “Pesquisei na internet, mas fiquei em dúvida se o Alunos Apêndice A
livro (didático)
foram as suas ações para desenvolver o trabalho além da consulta ao livro didático?
conteúdo era verdadeiro ou não. Depois fiz resumos, baseados em outras partes do capítulo do livro didático usado para fazer o trabalho do seminário”. (A1)
“Era um trabalho com apresentação de slides, consultamos o livro didático, depois fomos pesquisar imagens na internet para dar um suporte no trabalho”. (A3)
“Primeiro eu vi na internet como tinha sido realizado uma aula do mesmo tipo, para relembrar o que a gente tinha feito. Ai depois a gente se reuniu em grupo e começou a desenvolver a partir do que ela passou em sala na aula teórica, e depois comecei a fazer no livro. Quando a gente tinha algum tipo de dúvida, procuramos a professora.” (A4)
“Pesquisei na internet. Como o tema era meio livre, e queria acabar logo, era mais fácil”. (A6)
“Os tópicos de fácil entendimento passaram batidos, aquilo foi fácil de entender. Os mais difíceis, como os que geram estranhamento, como as palavras difíceis de entender, fui recorrendo às enciclopédias.” (A7)
“Nós organizamos uma lista de tópicos e escolhemos o subtema e desenvolvemos o trabalho em cima dele.” (A8)
“Nós colocamos em tópicos, porém, assim, não ficou dividido pra cada um. “Ah, você vai falar sobre isso”, todo o grupo se envolveu com o trabalho, só depois, na hora de apresentar, cada um recebeu sua fala.” (A9)
“A professora, na aula dela mesma passou os tópicos que ela queria que desse ênfase na hora do trabalho, e através deles, a gente se baseou para pesquisar.” (A10)
“A gente também pesquisou na internet e verificamos a compatibilidade entre os dois conteúdos, a do livro didático e da internet, e o que mais aparecia, tipo, os resultados mais notáveis, e esses resultados a gente pôs no trabalho. Fizemos tópicos, esquemas e tal.” (A11)
“A internet, eu fiz um resumo e como usei dois livros, eu fiz um resumo de cada um, depois vi qual estava mais completo e depois fiz mais um resumo de coisas que eu
beliscava na internet. “(A17)
Sentido de livro (didático)
16c, 11b - Você incentivava o aluno a ter práticas de leitura ou pesquisa de outros materiais como dicionários, enciclopédias, jornais e revistas para ajudar a relacionar o tema pesquisado no livro didático ou ampliar seu significado?
“Talvez a gente pecava no sentido de que quando o usuário chegava com o tema específico, poderíamos auxiliar também pesquisando nos jornais, na questão de atualidades, mas a gente disponibilizava, além do livro didático, os periódicos, que também trazem informações atualizadas sobre determinado tema ou vários temas. Nós procuramos estimular o uso dos periódicos. Então acredito que os usuários estavam antenados em relação a determinados assuntos, porque eles mesmos procuravam, porque trabalhamos com a divulgação das revistas, dos exemplares que chegavam. Então, acho que despertavam a curiosidade deles em relação a determinados temas. Por si só, o aluno já chegava no jornal e na revista, pegava esses materiais emprestados e relacionavam esses assuntos com assuntos passados em sala de aula.” (B1)
“Os livros didáticos estavam no acervo, mas a gente não fazia nenhuma ação por conta desse material. Os alunos não faziam pesquisa porque o material era o livro didático, mas era o que tinha no acervo. Não havia opções, escolhas. Ou era o que tinha no acervo ou era a internet. E esses alunos do ensino médio integrado e concomitante não usam portal de periódicos da Capes, por exemplo, porque o nível de artigos que estão naquelas bases não são para alunos que estão no ensino médio, é para nível acadêmico. Não que eles não possam fazer uso, mas você não pode fazer uma pesquisa com um aluno que tem quatorze anos, quinze anos, que tá no primeiro ano mostrando para ele um artigo científico sem ele saber o que é aquilo.” (B2)
“Quando o aluno chegava e me pedia algum assunto, eu geralmente usava a pesquisa do Pergamum, para me direcionar ao material. Normalmente, quando o aluno já estava em pesquisa e encontrando o material dele, não acontecia a busca por outros materiais. Quando acontecia, a gente direcionava para outros materiais que tivessem o assunto solicitado.” (AUX 2)
“Eles têm dificuldades sim, inclusive, a dificuldade é tanta que a gente tem que ir pro acervo junto com eles para ir no sumário dos livros, procurando até encontrar o assunto. Eu falo que o livro está em determinado lugar do acervo, mas eles pedem ajuda para localizar o assunto dentro do livro. A gente vai lá, olha o sumário,
Bibliotecários
Auxiliares de Biblioteca
Apêndices B e C
até encontrar o assunto que eles procuram. Eles chegam ao livro, mas ao conteúdo em si, não. Eles pedem ajuda pra gente no sentido de encontrar o conteúdo. Isso não é só o ensino médio, os alunos do superior pedem ajuda pra encontrar conteúdo”. (AUX 1)
Sentido de livro (didático)
8a - Você buscou outros instrumentos para fazer o trabalho solicitado?
“Consultei a internet, assisti um filme sobre Stálin e li um livro chamado “Queda de Gigantes”, do Ken Follent”. (A12)
“Eu conversei bastante com o monitor da disciplina, lógico que junto com o professor também. Li artigos de revistas científicas que falavam sobre o tema, porque o tema do trabalho engloba muitas coisas, tipo, espelho côncavo. Foi mais esses materiais que usei além do livro didático”. (A13)
“Na verdade ele sempre cita esse autor, porque na área de administração ele é muito conhecido, não que ele tenha citado para esse tema, mas ele sempre recomenda para estudar. Então acabei pegando esse livro por isso, porque muitos professores de administração citam o Chiavenato como referência, fui logo nele. Depois pesquisei na internet”. (A14)
“Eu procurei outros meios, outros livros além do livro didático, na internet, pessoas que eu já conhecia, principalmente no movimento estudantil e alguns amigos que eu tenho que foram torturados na época da Ditadura, então, foi uma explanação, porque se eu ficasse só com o livro didático, a pesquisa seria muito pequena, e o livro didático não abrange todo o conteúdo, e quando abrange, por vezes é de forma falha”. (A16)
Alunos Apêndice A
Sentido de livro (didático)
9a - A informação inicial encontrada sobre seu tema de pesquisa no livro didático foi relacionada com outras fontes de informação?
“Na internet e também com documentos históricos que encontrei, no caso, fotografias, relatos de pessoas, cartas escritas na época. Achei na internet mesmo, me aprofundei para achar. Não consultei somente o site, fui procurando esses documentos.” (A2)
“A gente comparou com coisas de internet, mas tivemos dúvidas na interpretação do conteúdo.” (A3)
“Ela, a professora, dizia que na internet não tinha informações confiáveis, por exemplo, no Wikipédia, ela dizia “não confie nesse site”. A gente procurou não se basear em sites da internet porque a gente não sabe a
Alunos Apêndice A
credibilidade”. (A4)
“Eu usei um outro livro e fontes da internet, que no caso, usei para pesquisar imagens e algumas informações mais detalhadas.” (A8)
“O professor, o livro didático e a internet, mas ficamos mais no livro do que a internet.” (A9)
“Esses que falei, da internet, do filme e do livro, o livro emprestei aqui na biblioteca”. (A12)
“Até levei para o professor ver. Tem livro que fala de uma coisa, ai outro livro fala da mesma coisa, só que de uma forma diferente. Dá para entender, às vezes penso que depende da sua maneira de ver. Mas tem outros livros que tem informações muito diferentes. Depende muito do professor escolher em qual livro você tem que pesquisar. Então, levei para ele e ele me direcionou. Só que o livro que ele escolheu era muito complexo, o que me fez optar por outro, que deu para entender melhor.” (A13)
“Pesquisei na Revista de História da Biblioteca Nacional, que fala especificamente sobre o golpe militar”. (A16)
“Teve umas pesquisas que fiz sobre esses animais que me interessou bastante, por exemplo, não me lembro em qual Estado, mas na costa brasileira foi descoberto um novo tipo de animal que ninguém sabia que existia, então assim, descobriram esse animal e se não me engano, só tem cerca de 30 exemplares, é uma coisa muito restrita, então acabei usando esses tipos de pesquisas para acrescentar no meu trabalho, acho que foi a National Geographic”. (A17)
Sentido de livro (didático)
12b - Quais as ações feitas ao constatar que o aluno pesquisava algum assunto no livro didático?
“Quando o aluno está procurando algum assunto que não acha no livro didático, falo pra ele a dar uma olhada na internet, e às vezes, acaba achando porque é mais fácil, mas às vezes não é muito confiável, mas fora isso, o livro continua sendo o material mais usado. Em segunda opção, vem a internet”. (E1)
“Quando esse aluno me solicitou ajuda, foi buscar primeiro na internet, depois usava a base de dados para localizar algum outro livro quando o livro didático não era suficiente. Então usava o sistema para saber se
Estagiários Apêndice B
tinha algum livro que pudesse ajudar em alguma coisa”. (E2)
“Ás vezes quando eles chegavam meio perdidos aqui, perguntavam se eu havia passado pela mesma experiência que eles e pediam para recomendar algum outro livro que o professor não estivesse usando, então eu pegava o livro didático que era usado em sala de aula e algum outro que era bom, mas o professor não usava. Por eu ser mais velha que a maioria do pessoal, eles me pediam opinião, me perguntavam se tinha algum livro mais fácil, porque eles achavam que o professor usava um livro muito difícil em sala de aula. Então uma comunicação assim ajudava eles bastante.” (E3)
Estágio de Formulação
Sentido de livro (didático)
10a - Você definiu um foco específico para a pesquisa do seu trabalho ou manteve o tema geral passado pelo professor?
“Mantive o tema. Porque o tópico já estava estabelecido.” (A1)
“Já sabia alguma coisa e o que a gente conseguiu reunir de novo gerou mais conhecimento. Baseei a busca nos documentos considerando os tópicos que o professor passou, tipo, as armas usadas, os acordos feitos, tipo o Tratado de Versalhes, enfim, imagens que remetessem ao que aconteceu durante e após a Guerra”. (A2)
“Tinha um conhecimento bem vago, bem superficial, do ensino fundamental. “Detalhamos todas as partes da célula, mas não focamos em nada específico”.(A3)
“A gente pesquisou o que foi passado em sala, então o que a gente sabia foi o que a professora tinha passado em sala. A gente procurou manter o tema geral, porque nesse caso, ela queria explorar as leis do átomo, então a gente procurou se manter fiel a essa lei que ela passou mesmo.”” (A4)
“Eu tive foco por exemplo, em um reino, um filo da biologia, eu fui colocando pelos sistemas digestório e respiratório do animal. Mantive o foco nessas subclasses. Não conhecia, mas baseado no livro, peguei essas classificações, que facilitou no decorrer da pesquisa.” (A7)
“Normalmente, por causa da característica do professor, não era aconselhado a gente ir além do nosso tema,
Alunos Apêndice A
para não invadir o tema de outros grupos. Não foi feito uma avaliação pra passar o trabalho, então mesmo que o grupo não soubesse nada ou não tivesse um conhecimento prévio sobre o tema, mesmo assim ia ser dado, ia ser construído através do livro didático.” (A11)
“O professor recomendou que se mantivesse o foco no meu tema para não atrapalhar o seminário dos outros colegas.” (A12)
“Peguei o que ele passou e aprimorei, tipo, a questão do livro, de ter trocado. Questão de colocar curiosidades nos slides, essas coisas. A questão de ser só teoria, procurei colocar mais na prática, tanto que levei os resultados das experiências de laboratório”. (A13)
“Era um assunto que a gente já tinha estudado, era só para esclarecer caso alguém tivesse alguma dúvida. “O foco no caso, foi coisas que não tinha estudado, tive que lembrar da matéria estudada antes.” (A14)
“O professor foi esclarecendo ao decorrer do trabalho. Quando a professora passou no quadro, ficou pouco claro, e aos poucos foi esclarecendo”. (A15)
“Eu mantive a minha perspectiva, que é a visão das coisas a partir dos movimentos sociais. Como eu sou do movimento estudantil e tenho afinidade com outros movimentos sociais, eu tomei esse como base como foco, não abrindo mão do tema geral”. (A16)
“Eu tive um foco, porque como é um seminário, nós dividimos partes para cada aluno, ai no meu caso, eu fiquei com o sistema digestório, sistema sensorial sobre a introdução dos peixes cartilaginosos. Foram essas coisas de que fiquei encarregada”. (A17)
Sentido de livro (didático)
17c - Ao constatar que o aluno pesquisava um tema que era muito específico no livro didático, você o orientou para que este
“Eles já vieram com o foco pronto, formulado, não houve essa necessidade de orientar qual seria o foco da pesquisa. Um assunto pode estar presente em outras áreas, a gente tentava especificar somente naquilo dali, em qual área era, mas sem expandir muito.” (B1)
Bibliotecário Apêndice C
definisse um foco de pesquisa?
Sentido de livro (didático)
13b - O
objetivo do
trabalho ficou
claro para o
aluno desde o
início?
“Normalmente ele chega com o título do assunto. Às vezes ele nem sabe em que área do conhecimento está, só tem o assunto do conteúdo que eles precisam, não conhecem ainda. Outros não, já sabem direitinho o que querem, já sabem associar. Os que não sabem procurar, chegam querendo saber alguma coisa básica ou a teoria de algum assunto, eles pedem direto sobre o assunto, mas como se fosse a representação do professor, mas que não sabem de nada, chegam aqui crus, em busca daquele único tema ou palavra-chave”. (AUX 1)
“Depende de cada aluno, de cada caso. Dependendo da situação, ele ficava perdido em encontrar o material. Na cabeça dele, tinha clareza em procurar o material. Me lembro de casos de quando o assunto era muito específico, a dificuldade de encontrar no livro era maior, em alguns casos, os alunos pediam ajuda”. (AUX 2)
“Acho que isso é muito relativo, porque tem alunos que chegam aqui e sabem exatamente o que tem que fazer, e outros, já por conta do professor, ou porque faltou aula e algum colega explicou, chega aqui meio perdido, mas depende muito. Eu tento sempre ir perguntando o que eles estão estudando porque às vezes eles faltam às aulas e chagam muito perdidos, só chegam com o nome e preciso pesquisar sobre tal matéria, mas não sabem mais nada sobre. Então a gente mostra o livro didático como uma forma de achar o foco, fazendo uma filtragem das informações até encontrar o que ele estava precisando”. (E1)
“Eu percebia que os alunos que queriam uma informação para ontem, chegavam muito perdidos, principalmente os alunos da agroindústria. Como as matérias são muito parecidas, eles chegam aqui pedindo livro de uma matéria, mas na verdade é para outra. Eles perguntavam, mas como já tinha experiência, identificava que aquele livro didático era para outra matéria, não o que ele estava buscando”.(E3)
Auxiliares de Biblioteca
Estagiários
Apêndice B
Sentido de livro (didático)
14b - Qual foi
a sua primeira
ação quando
o aluno
“Na verdade, a gente procura passar o máximo de conteúdo sobre aquele tema que o aluno tá pesquisando. Tem alguns casos em que o aluno vem com os tópicos e outro livro apresenta um tópico mais
Auxiliares de Biblioteca
Estagiários
Apêndice B
solicitava
auxílio à
pesquisa
quando a
fonte de
informação
era o livro
didático?
esclarecido. Eu faço assim, passo pro aluno os tópicos que ele está procurando, mas procuro complementar com tópicos mais detalhados”.(AUX 1)
“Geralmente eles já vinham com os tópicos, só ajudava a aprofundar a pesquisa baseada no que eles traziam”. (AUX 2)
“Geralmente é só um tópico mesmo, eles mesmo chegam com essa base, de querer pesquisar sobre tal coisa, ai só oriento mesmo de como chegar até o livro ou outra fonte”. (E1)
“Eu gosto de trabalhar com tópicos, então sempre eu auxiliava nisso, porque ficava mais fácil a organização do assunto, então organiza o trabalho também como um todo”. (E2)
“A gente sempre pegava o tema geral, a gente poderia olhar os livros em que era mais fácil de encontrar e depois olhava os tópicos. Tem livros didáticos aqui na biblioteca que são muito fáceis, são menos técnicos, então era mais fácil chegar pro aluno e falar que era para ele ler e contextualizar com o tema dele e absorver mais o assunto, era basicamente isso”. (E3)
Sentido de livro (didático)
18c, 15b - No momento que o aluno definiu seu o foco da sua pesquisa, o livro didático permaneceu como fonte principal de pesquisa ou ele passou a utilizar outros materiais?
“O livro didático permaneceu sim como fonte principal, porém, eles utilizaram outras fontes, como o meio digital, a internet e os materiais que atendem ao núcleo técnico.”(B1) “Permaneceu muitas vezes” (AUX 1)
“Muitas vezes sim” (AUX 2)
“Ficava mais claro o assunto quando ele vinha através de tópicos.” (E1)
“Depende do assunto, mas geralmente o aluno tem que consultar mais de um livro didático, porque cada livro didático tem uma abordagem diferente. Eles tratam do assunto de modo mais superficial, mas sempre aprofundam em um ponto ou outro, só que cada livro aprofunda em um ponto diferente e depende da visão de cada autor”. (E2)
“Eu percebi que o aluno deixou o livro para pesquisar na internet, quando era uma coisa mais específica. Um livro que fala por exemplo, de doenças, dengue, ele vai pesquisar no livro as causas, os sintomas, mas se ele
Bibliotecários
Auxiliares de Biblioteca
Estagiários
Apêndices B e C
quer imagens do mosquito e dos criadouros, ele já vai para a internet porque é mais específico”. (E3)
Sentido de livro (didático)
11a - Após a definição do foco, o livro didático permaneceu como fonte principal de informação?
“Analisei o texto e o esquema de organização dele, depois formulei o resumo da minha explicação, utilizando tanto o livro didático quanto a internet.” (A1)
“O livro didático continuou como fonte principal, os documentos eram complemento da pesquisa dos tópicos”. (A2)
“Eu passei a utilizar outros materiais pra somente confirmar, e eventualmente ver com outras palavras o tema que estava sendo abordado. Porque o livro didático foi bastante claro quanto a classificação ao decorrer da matéria.” (A7)
“Permaneceu como fonte principal, mesmo porque era a fonte citada pelo professor, e ele até dividia, colocava a página de tal a tal do grupo um, por exemplo, então a gente manteve o foco nesse material, pra não sair dele. A gente tinha o pensamento de que o professor havia lido, e concordava com as informações do livro didático. Então, a gente não saiu desse foco, apesar disso, lembro que a gente fez algumas pesquisas na internet de algumas coisas que não tinham no livro, por exemplo, se um nome era citado no livro, mas não tinha um contexto, a gente pesquisou esse nome para saber de onde vinha e porque estava sendo usado. A gente colocou o significado daquilo ou algo do tipo, para ficar mais esclarecido”. (A11)
“Foi o livro que o professor passou, não podia usar outro” (A12)
“Sim, com certeza, eu só troquei de livro didático, peguei um outro com o mesmo assunto, mas de forma mais fácil, entendeu?” (A13)
Alunos Apêndice A
Estágio de Coleta Sentido de
livro (didático)
12a - Como o livro didático auxiliou você a localizar a informação que precisava?
“Ele é dividido em tópicos, sumários e também apresenta ilustrações e mapas para facilitar a localização do conteúdo”. (A1)
“As legendas das imagens remetiam a links da internet onde eu encontrei as imagens com informações mais completas em relação aquele assunto, aquele momento
Alunos Apêndice A
retratado naquela foto”. (A2)
“Eu acho que estava bem organizado. Olhando no sumário, você vai direto na informação. Foi fácil de localizar e auxiliou” (A3)
“Auxiliou sim, a gente olhou no índice do livro e ai encontramos com facilidade, no título que indicava, no caso os modelos atômicos”. (A4)
“A estrutura dele era fácil de achar o assunto”. (A5)
“O livro didático tem o tema, falando no geral, os subtítulos, muito bem explicado, objetivo, tudo o que estava precisando mesmo. Abrangeu todo o tema” (A6)
“Ele foi de suma importância, pois o livro apresentava dados, tabelas, fazendo sempre uma comparação entre um sistema e outro de animais diferentes daquele grupo”. (A7)
“Auxiliou por causa do índice. Tem alguns livros que eram confusos, tem muito tema e a gente não consegue achar um. Mas no caso desse, tava bem estruturado, tava o tema geral, e depois especificava os tópicos”. (A8)
“Ajudou bastante, na organização né? Porque o trabalho é uma meta, digamos assim, queria terminar logo. Começou com a introdução, depois já foi dividindo os temas, então pra gente foi melhor seguir mesmo o esquema do livro”. (A9)
“Sim ajudou, tipo, as coisas que a internet dava eram muito desorganizadas, então usei o livro para me ajudar a ter uma base pra organizar, porque trazia coisas mais resumidas”. (A10)
“Auxiliou demais, primeiro peguei aquele monte de livro de física e procurei sobre o tema, e o que melhor representou a questão da escrita, das imagens, e outras coisas, me direcionou na escolha”. (A13)
“Ele auxiliou trançando quais pontos principais a serem pesquisados, né? (A15)
“Ajudou, mas a pesquisa em si é muito rasa”. (A16)
Sentido de livro (didático)
16b - O livro didático auxiliou o aluno a localizar a informação que precisava?
“Dá uma base, mas não é suficiente. Só indico outra fonte se não encontrar a informação no livro didático, ai oriento a busca em periódicos ou na internet.” (AUX 1)
“Eles utilizavam todas as fontes disponíveis na biblioteca, não só o livro didático. Em alguns casos específicos, História, por exemplo, havia uma grande variedade de livros didáticos de história, então se o aluno não encontrava o assunto em um livro específico de história, ele partia pra outro. Existiam livros de várias editoras.” (AUX 2)
“Quando o aluno não acha o assunto, a gente sempre recomenda a internet, mas é difícil saber se a informação é realmente confiável, ou se é certo a informação que ele encontra.” (E1)
“Muitas vezes o professor de história trazia os alunos para a biblioteca para usar os livros didáticos para preparar seminários. A gente disponibilizava as revistas como a NatGeo, Istoé, Veja, que trata de política, então a gente pegava os livros didáticos e as revistas, ai ficava mais fácil de interagir esses materiais.” (E3)
Auxiliares de
Biblioteca
Estagiárias
Apêndice B
19c - Em algum momento da pesquisa, o aluno buscou o serviço de pesquisa orientada?
“Não tivemos solicitações nesse sentido. Exceto quando o aluno cria vínculos com a biblioteca, no caso quando você já atendeu alguma vez este aluno com uma necessidade informacional. São situações que aconteceram com alunos que foram diretamente ao acervo, procuraram e não encontraram, aí pediram ajuda à equipe da biblioteca, e acabou criando esse vínculo com o atendimento, passando a perguntar pelos assuntos que precisa. Quando a gente trabalha com essa questão da educação do usuário, no sentido de mostrar que ali tem uma equipe qualificada, que pode auxiliar no processo de busca e recuperação da informação, ele não vai mais direto ao acervo, ele passa pelo atendimento e pergunta se há algum material que trate de determinado assunto. Tivemos algumas experiências de alunos que no primeiro contato com a biblioteca eles foram diretamente ao acervo, não encontraram o material, e quando um servidor foi até ali, conseguiu disponibilizar para esses alunos o material, e na próxima vez que esses alunos voltaram na biblioteca, não foram mais diretamente ao acervo, eles foram ao setor de atendimento e perguntaram se existia ou não o material que atendesse as necessidades específicas deles. Acho também que a equipe da biblioteca tem que
Bibliotecário Apêndice C
promover esses treinamentos, de busca orientada. Isso é geralmente feito no início do ano letivo, passado para os alunos todos os produtos e serviços oferecidos pela biblioteca, entre eles, o serviço de busca orientada”. (B1)
13a - Em algum momento do seu trabalho, você utilizou o serviço de pesquisa orientada, oferecido pela Biblioteca?
“Sim, conheço o serviço de acesso à internet, a questão de ajudar na busca no acervo, o catálogo e os multimeios, que são os CDs e DVDs né? Logo que entrei aqui a biblioteca fez tipo um boas-vindas pros alunos falando disso. Mas para esse trabalho não precisei, mas outros que já fiz, pude contar com esse serviço”. (A12)
“Na hora de consultar o catálogo da biblioteca, a estagiária veio e me ajudou”. (A13)
“Eu pedi ajuda na hora da formatação do meu relatório, foi até para você” (risos) (A14)
“Só em relação às pesquisas na internet, que tem que ter cautela, mas fora isso, foi tranquilo. A “S”. me ajudou em relação a alguns sites, a escolher melhor o mais confiável”. (A16)
“Um dos livros que usei é da biblioteca daqui. Para chegar até o livro, eu pedi ajuda da “M”, a estagiária. (A17)
Alunos Apêndice A
14a - Além do livro didático, você utilizou alguma obra de referência para fazer a pesquisa?
“A gente usou dicionários, sem esse material a gente não ia conseguir fazer o trabalho, mas a gente não tinha um conhecimento tão amplo e ajudou a esclarecer”. (A4)
“Utilizei outros livros que me remeteram às palavras diferentes. Usei também dicionário online”. (A7)
“Somente fontes da internet. Ajudou na parte de imagens, vídeos” (A9)
“Utilizei o dicionário para buscar o significado de algum termo que não tenha entendido” (A11)
“Só a internet. Ajudou muito, é porque um vai confirmando o outro, tipo, se uma informação não estava no livro didático, estava na internet, era um complemento”. (A13)
“Eu usei o computador e a internet, fiz o trabalho aqui na
Alunos Apêndice A
biblioteca. Eu até peguei outros livros de administração, mas não me lembro quais são. A base mesmo foi nesse livro didático do Chiavenato”. (A14)
“Como já mencionei, utilizei a revista de história da biblioteca nacional, que traz de uma forma mais ampla e de outras perspectivas o mesmo fato que a partir da revista e do livro didático, eu consegui fazer um consenso de informações, para que o foco pudesse ser mantido”. (A16)
15a - Qual foi
sua maior
dificuldade no
processo de
coleta de
informações?
“Na época não tinha bibliotecário né? A gente sentiu dificuldades porque tinha pouco acervo, era os livros que a gente usava na sala mesmo. Não tinha tanta variedade de materiais para comparar assunto. Mas o livro didático usado era o mesmo do nosso dia-a-dia, já sabia manusear.” (A3)
“Como estava no primeiro ano, não sabia como funcionava a biblioteca, e a gente precisou levar livro para casa. A gente consultou sim, mas tive dificuldade em achar o livro no acervo. Não lembro quem consultei, mas acho que foi uma menina, uma estagiária, F., o nome dela. Ela levou a gente lá, onde se encontrava os livros, e explicou que tinha vários autores e que podia encontrar o que estava procurando lá, ela ajudou a procurar também. Deu a dica que qual livro a Raquel costumava usar, já que a Francieli tinha estudado com ela. O segundo momento foi quando ela fez o nosso registro na Biblioteca e a gente pôde levar os livros para casa.” (A4)
“Não, aqui na biblioteca é muito bem informado, se perguntar no balcão, a moça leva a gente até o acervo, nas estantes têm descrito o assunto, a organização, é isso.” (A6)
“É bem clara a classificação nas prateleiras, até mesmo a sinalização na parte da biologia, como biologia molecular, biologia animal.” (A7)
“Só na hora mesmo de procurar o livro, ai pedi ajuda pro estagiário e ele trouxe.” (A10)
“Não foi necessário ajuda, foi fácil achar.” (A12)
“Pedi ajuda só da estagiária, que estava ali no momento. Também perguntei se tinha livro novo, qual livro os
Alunos Apêndice A
alunos mais pegavam, quais o bibliotecário recomenda, essas coisas, me ajudou muito.” (A13)
“Eu senti dificuldades assim, quando eu pego o livro e vejo que o tema é bem amplo, e tinha várias partes que não havia colocado no trabalho, então não sabia se tinha que colocar ou não no trabalho. Ai você tem que ler e pesquisar para saber se vale a pena colocar ou não. Mas não pedi ajuda, tinha que entregar esse relatório logo.” (A14)
“Dificuldade sim, falei com o M. (Bibliotecário), ele me ajudou a localizar o livro e me deu uma orientação sobre qual melhor caminho pra seguir com aquele livro. Era um livro de Maquiavel. Eu gostei, melhorou o trabalho, foi melhor do que eu pensava.” (A15)
“Não, porque....olha...para eu achar biologia, não. Mas, para eu achar o meu tema, tive que folhear os livros ou localizar através do sumário, porque não dá para saber o que tem no livro só pela capa. Na verdade, senti dificuldades em localizar o livro que se adequasse ao meu tema. Mas para achar o assunto biologia, segundo ano e tal, aqui é bem organizado. Pedi ajuda da M., (ex-estagiária), ela foi dividindo comigo os livros pra achar, ela me ajudou basicamente folheando todos os livros até achar um que correspondesse ao que eu pesquisava.” (A17)
16a - O que você mais difícil durante a realização do seu trabalho? Porque você teve esse sentimento?
“Foi difícil formular a minha explicação com início, meio e fim, para que todos entendessem bem o que estava explicando e também formular a estrutura da explicação de maneira lógica”. (A1)
“Acredito que era assim: a gente precisava fazer um trabalho rápido, de vinte minutos, a dificuldade foi compactar, às vezes era difícil de interpretar o assunto.” (A3)
“O que achei mais difícil foi filtrar as informações corretas. O difícil não foi encontrar, o que eu precisava de informação. Por eu não tá acostumado, habituado a fazer esse tipo de trabalho acadêmico, a minha escola antiga não proporcionava isso, tive dificuldade em me adequar ao modelo de trabalho acadêmico”. (A4)
“O mais difícil foi o assunto abordado, porque eu não
Alunos Apêndice A
conhecia.” (A5)
“O mais difícil foi na hora de resumir o trabalho porque era um tema muito extenso. O livro didático dava muita informação e a gente fica sem saber se aquela informação é tão importante quanto a gente acha que é. Se é isso mesmo que o professor quer. São dúvidas normais de todos os trabalhos, se está completo.” (A6)
“Olha, olhando assim, não tive muita dificuldade. Esse trabalho valia 15 pontos e consegui alcançar os 15 pontos. Creio que foi difícil somente a parte de estranhamento inicial, de somente ler o nome e não saber do que se tratava. A partir do momento que fui estudando sobre o tema, foi aprofundando minha visão.” (A7)
“Acho que dar início ao trabalho. Porque a gente fica meio perdido, não sabia muito bem por onde começar. Mas como você tinha um aparato ali, na biblioteca, a internet, por exemplo, você joga o tema ali, aparece inúmeros resultados e você tem que achar um site certo pra iniciar o trabalho. No livro didático não, você já tem o assunto ali, é mais confiável.” (A8)
“No caso não foi tão difícil fazer o trabalho, foi difícil o tema mesmo, mas, quando peguei o livro didático, logo procurei e achei, ficou claro a leitura, foi de fácil compreensão.” (A9)
“A dificuldade foi formular o conteúdo, porque na hora acaba tendo muita coisa, né? Ai pra colocar no trabalho e tal, pra não passar além do que a professora deu, e também para não faltar o que ela pediu”. (A10)
“Eu não sabia quase nada do tema, nada muito específico, a primeira coisa foi o susto, assim, de ter que discutir previamente o tema, porque a gente não estava com o livro. Enquanto as pessoas da minha equipe buscavam os livros na biblioteca, outras já estavam discutindo os seus temas, e parecia que uma pessoa sabia bastante e eu não sabia nada. E minha dificuldade foi essa, de ver que outra pessoa já sabia e eu não, tipo, tinha perdido tempo. Mas logo esse incômodo passou, pois ao ler o livro, já deu pra pegar bastante coisa.” (A11)
“Foi a questão do trabalho em equipe, nem todo mundo
fez sua parte e tive que correr pesquisando o resto do assunto pra dar tempo de apresentar”. (A12)
“O mais difícil foi lidar com o nervoso, com o nervosismo. Lidar com o tempo curto, por ser muitos trabalhos ao mesmo tempo, e esse especifico eu tinha que dar o melhor nele. Esse sentimento foi porque o professor é muito exigente, tinha que controlar o tempo e o nervoso, e a questão da responsabilidade. Mesmo eu gostando de ter responsabilidades quanto a trabalhos, não gostei da responsabilidade de ensinar. Então, se você ensina mal, os alunos vão mal na prova depois, ia me sentir muito culpada”. (A13)
“Foi de achar informações confiáveis, porque quando você pesquisa na internet, aparecem vários sites, mas nem em todos você pode confiar e fazer referência desse site. Então tive dúvidas quanto a esses sites, se eram confiáveis, de repente de você ler aquela informação e ficar gravado na sua cabeça e você acreditar que seja verdade”. (A14)
“Não foi nada tão difícil, mas a questão foi me organizar quanto ao prazo de entrega e o melhor caminho para que o trabalho saísse melhor”. (A15)
“O mais difícil foi ler um livro didático abordando de forma falha o conteúdo, omitindo informações e elevando outras em detrimento de fatos, como o movimento estudantil, o movimento social como um todo, que teve um papel fundamental na queda do golpe militar e do regime militar. O livro didático não aparece tanto com o seu papel de protagonismo, e vangloria outros feitos pela ditadura”. (A16)
“Olha, pra ser sincera, como eu disse anteriormente, se tratando de biologia, eu tenho um certo interesse a mais. Mas no meu trabalho, o que eu mais achei complicado foi em relação a ciclos. Por exemplo, no sistema digestório, ele tem todo um ciclo, então acho um pouco complicado interpretar e compreender, porque não adianta nada eu gravar o ciclo e não entender como ele funciona. Então eu acho difícil essa parte, de compreender desde o início até o final. Mas depois que compreendi, foi tranquilo. Eu compreendi mais por imagens dos livros, mas só não usei essas imagens porque não tinha como transferir pro computador, ai tive que pesquisar novas. Mas, para compreender o tema,
usei as imagens dos livros, que ai eu li a matéria, ficava mais familiarizada e consegui identificar nas imagens o que cada parte correspondia no ciclo”. (A17)
Estágio de Apresentação e Avaliação
Sentido de livro (didático)
17a - Como foi feita a redação e a apresentação do trabalho? Baseou-se na estrutura do assunto pesquisado no livro didático para desenvolvê-lo?
“A apresentação foi em slides e usei todos os tópicos do livro didático para me basear na estrutura dos slides.” (A1)
“A apresentação foi nos slides do powerpoint e seguimos a sequência dos dados do livro e dos tópicos.” (A2)
“Foi uma apresentação de slides e apresentamos na sala e a gente se baseou nos tópicos que estavam no livro para montar. A gente organizou tipo: Definição, Função, tudo com base no livro didático. A gente apresentou um vídeo sobre as organelas, citoplasma e o próprio slide.” (A3)
“Só usamos o livro para coletar os dados mesmo. A gente fez a introdução, desenvolvimento, conclusão. A gente formatou o trabalho com ajuda da professora K., que nos ajudou a colocar na ABNT. O trabalho a gente não apresentou, só entregou, era um relatório. A gente utilizou imagens, tiramos algumas fotos no dia da aula prática, a gente colocou no relatório e usamos tabelas para comparar as cores.” (A4)
“Como foi uma apresentação em slides, a gente “topiculou”, todo o tema de acordo com o que o livro seguia, como o sistema digestório, sistema nervoso. Isso facilitou muito a nossa apresentação, porque seguimos essa estrutura.” (A7)
“Eu me baseei sim na estrutura do livro e a apresentação foi feita através de slides. Não teve trabalho escrito pra entregar pro professor, mas tive que fazer um, o resumo pra me ajudar a apresentar.” (A8)
“A gente usou o livro didático e fomos classificando as informações de acordo com a importância, e a partir disso a gente fez os tópicos, aprofundamos no que precisava através de pesquisa na internet e depois montamos os slides para o seminário.” (A11)
“Foi só slides mesmo, tinha acabado de entrar aqui, ai
Alunos Apêndice A
como não sabia muito essa questão de norma, o professor passou uma coisa bem básica.” (A12)
“Eu não me baseei no livro didático não, porque o livro estava dividido em uma forma que não achei legal para pôr no trabalho, ele tinha todas as informações sobre os cálculos, mas acabei desenvolvendo o trabalho de acordo com os tópicos que o professor tinha passado em sala de aula, e o livro não tinha isso. Por exemplo, qual a função, ai fiz a introdução, e fui seguindo.” (A14)
18a - Você utilizou alguma norma para apresentação de trabalhos acadêmicos?
“O professor era bem rigoroso quanto aos slides, tamanho de letra, citação, referência.” (A3)
“Utilizei ABNT, foi na formatação, na citação, fonte, na estrutura mesmo.” (A4)
“Somente a ABNT para a formatação do slide em si, tamanho de letra e outras coisas.” (A7)
“ABNT, na parte da apresentação do slide, na estruturação do texto que estava no slide, citações, texto justificado, fonte.” (A8)
“Como não era relatório, a gente não usou ABNT, a gente só usou as orientações dadas pelo professor. Inicialmente, ele cobrou o básico, já que a gente não sabia as normas. Explicou um pouco sobre a capa, a formatação, mas algo assim bem básico.” (A11)
“Usei norma acadêmica nos slides. Por exemplo, na imagem, tem que colocar na imagem de onde foi tirada, a questão da fonte pequena, e a formatação em geral.” (A13)
“Eu tive que usar as normas da ABNT para relatório, eu até te pedi ajuda, lembra?” (risos). (A14)
“Nós fizemos o trabalho baseado no que os professores cobram nos slides, trabalhar mais com imagens e com menos textos, slides que não tenham aquele texto gigante que você só vai ler e não vai interagir , usamos mais dicas que os professores dão.” (A17)
Alunos Apêndice A
17b - Você
orientou o
aluno quanto
“Eu geralmente oriento” (AUX 1)
“Já tive que ajudar os alunos que fazem algum trabalho a lerem relatórios, ou já me pediram para ler o trabalho
Auxiliares de
Biblioteca
Apêndice B
à redação e
apresentação
do trabalho?
deles para saber se estavam bons”. (E1)
“Principalmente os alunos do turno noturno, eles me pediam ajuda para fazer a capa, a formatação do trabalho. O bibliotecário M. me ensinou mais ou menos as regras da ABNT, ele pegou e deu um curso para os estagiários de como usar, e o que eu aprendi, eu passava para os alunos. Quando era relatório de práticas de laboratório, eles tinham que entregar tudo bonitinho, formatadinho, eles me perguntavam se eu já tinha feito e me pediam ajuda para fazer.” (E3)
Estagiários
19a - Qual foi
seu
sentimento
quando você
terminou o
trabalho?
“Aliviado, um pouco inseguro, por achar que poderia ser melhor, mas ciente de que o grupo foi bem. Acho que o trabalho só não foi melhor porque o tempo pra pesquisar foi muito curto”. (A1)
“Foi uma sensação de dever cumprido, alívio. É que a gente sabe que aquilo é bem corrido, tem outros trabalhos, e você tira um peso das suas costas. É um trabalho a menos”. (A2)
“De alívio. Porque foi um trabalho assim, muito longo. Levei muito tempo para terminar. No início foi muito difícil porque a gente não sabia como desenvolver e também o prazo, quinze dias. A gente não tinha só esse trabalho, tinha as outras matérias também. Mas no final deu certo”. (A4)
“Me senti bem, aliviada, porque tinha conseguido fazer ele, apresentar bem e ter ganhado uma boa nota. Esse trabalho foi tipo uma mensagem falando que eu tinha capacidade de continuar aqui. Quando a gente sai do ensino fundamental e vai para o ensino médio, é um choque, porque nunca tinha feito um seminário, deu um pouco de medo, mas depois desse conseguimos fazer outros, e a partir dai foi bem tranquilo”. (A11)
“Como falei, apesar de ter tirado uma boa nota, senti frustração e ansiedade porque queria ter pegado outro tema, da queda do Muro de Berlin, mas o professor não deixou trocar o tema.” (A12)
“De alívio (risos). Não foi um dos melhores seminários que apresentei, mas foi uma sensação de alívio porque o professor entendeu e gostou da apresentação do trabalho”. (A13)
Alunos Apêndice A
“Fiquei aliviada, porque tinha que fazer esse trabalho e entregar logo, e fiquei feliz, porque aprendi muito mais lendo aqui na biblioteca do que dentro de sala. Os relatórios ajudam muito a fixar a matéria que você não aprendeu, porque às vezes na sala de aula você presta atenção em outras coisas, mas quando você lê em outro lugar, você associa ao que você ouviu. Tipo, na sala de aula às vezes o professor falta, pula uma aula e depois volta ao assunto, então na sala você não consegue associar. Então, quando você tem que fazer um relatório e ler tudo, você tem várias informações e tem que organizar elas, e você entende que um tópico faz parte do outro, está relacionado a isso ou aquilo. Então, fazer relatório me ajuda muito”. (A14)
“Foi muito bom, porque eu fiquei um tempão fazendo ele, tipo, uma semana e meia fazendo trabalho direto, todos os dias. Me senti aliviada e satisfeita porque dei duro nesse trabalho”. (A15)
“De alívio, por ter passado pros demais colegas de turma a minha ótica, a minha perspectiva do fato, não tomando o livro didático como verdade absoluta”. (A16)
“Eu tive dois sentimentos. À princípio, foi de alívio, porque tive que enviar o trabalho para uma integrante do grupo para ela juntar as partes, então tive um prazo para montar minha parte e enviar para ela, então foi uma sensação de alívio. Mas eu confesso que depois fiquei um pouco triste porque achei o assunto tão interessante, que me deu vontade de estudar mais, fiquei triste porque não ia estudar mais aquele assunto em sala de aula. Eu já tinha lido, então eu ia estudar mais só para fixar mesmo. Eu queria ter mais conhecimento sobre o assunto”. (A17)
20c, 18b -
Qual foi o
sentimento do
aluno quando
terminou o
trabalho? O
que você
percebeu?
“Percebi os sentimentos de alívio e satisfação, ficavam felizes” (B1)
“Quando ele encontra o material, ele fica satisfeito porque o material já está em mãos, ai a gente enxerga a satisfação de que ele realmente encontrou esse material que ele procurava. Quando ele não encontra, ele sai daqui frustrado e vai atrás do professor, para que o professor indique outros materiais. Por mais que a gente diga: „pesquisa na internet, ou em artigos científicos‟, o aluno vai atrás do professor.” (AUX 1)
Bibliotecário
Auxiliar de
Biblioteca
Estagiários
Apêndices B e C
“É um sentimento de satisfação, também de alívio quando terminam o trabalho, então eles ficam bem satisfeitos e confiantes de que o trabalho está bom. Na maioria dos casos, eles falam, ah terminei, e estou confiante”. (E1)
“Eles ficavam muito entusiasmados e felizes, porque eu passei por isso e pude ajudar o aluno. Eu até brinco dizendo que fomos cobaias do Ifes, e tem que ter alguém para ajudar a gente. Então quando tem alguém para orientar, dizendo „se você fizer isso, o professor pode dizer que está errado‟. É uma ajuda pequena, mas que faz grande diferença. Sentia um entusiasmo muito grande, principalmente quando o aluno chegava aqui e falava que conseguia terminar o trabalho ou tinha tirado a nota máxima. Depois, ficavam muito aliviados.” (E3)
20a - Ao finalizar seu trabalho, você chegou a formar sua própria opinião ou reflexão sobre o tema/assunto pesquisado?
“Não parei para pensar sobre ele porque foi feito para cumprir com o cronograma do professor”. (A1)
“Eu consegui compreender o assunto que tinha que explicar para os outros, e, formei uma opinião.” (A3)
“Eu pude ver na prática como que funcionava e refletir como a ciência tem um aspecto empírico também. A gente vê muito a ciência na sala de aula, mas não no dia-a-dia. E esse trabalho foi muito importante para a gente ver que o que a gente estuda na sala é de fato verdade e aplicar essas situações no dia-a-dia.” (A4)
“Não cheguei a uma conclusão, mas fiquei refletindo sobre o assunto. Me impressionou o que gerou a crise de 29.” (A5)
“Geralmente é assim: você lê, lê e lê sobre o tema, mas só depois que você apresenta, que aquilo ali de fato você aprende e você pode falar: eu sei sobre isso, depois aquilo não sai mais da sua cabeça. Foi um trabalho muito interessante.” (A7)
“Minha própria opinião assim, ah, eu gostei bastante, o livro didático tem muito a oferecer.” (A8)
“Não! Só aprendi né, o tema em si, mas não tive nenhuma opinião formada”. (A9)
“Sim. É meu último ano né? Era um conteúdo que estava na minha lista do vestibular para estudar, ai
Alunos Apêndice A
adiantou, consegui ler bastante coisa”. (A10)
“Não tive nenhuma opinião, porque era um conteúdo histórico. Eu posso até ter algum sentimento quanto às pessoas, o que aconteceu com elas, mas não desenvolvi nenhum pensamento crítico”. (A11)
“Foi um trabalho que eu me lembro até hoje, não esqueço dele. Então hoje, se eu pegar pra fazer de novo, eu faço tranquilamente.” (A13)
“Inclusive, proporcionou várias reflexões para usar em outras coisas, porque como administração te faz pensar nas formas de produção, como o fordismo, por exemplo, então ajudou.” (A14)
“Eu já tinha uma opinião formada pela militância no movimento estudantil, pelo convívio com várias pessoas que estavam no fato. A minha opinião nesse trabalho foi que de fato, temos livros didáticos falhos, isso já se reflete em livros de outras disciplinas, que apresentaram resultados de questões erradas, mas quando foi na minha área, que é história, que é de humanas, foi quando percebi que é um sistema falho e que não dá para ser tomado como verdade.” (A16)
“Ainda não tive uma opinião, mas eu sinto que eu vou, depois que eu estudar mais, que eu ler de novo para fixar mais o conteúdo e de que estiver segura do que eu sei é aquilo, eu vou tirar uma boa conclusão.” (A17)
21a - Você teve alguma aprendizagem com o seu trabalho? O quê?
“Consegui relacionar os processos que levaram à independência da América Espanhola com a vivenciada com o Brasil.” (A1)
“É porque pelo fato da gente apresentar nosso trabalho, a gente adquire mais conhecimento. A gente se dedica mais pelo fato de que tem que apresentar, tem que tirar nota boa e acabamos aprendendo mais”. (A2)
“Eu pude ver os diferentes elementos podem provocar reações diferentes, cores diferentes, por exemplo, o fogo, as combinações e reações conseguem provocar diferentes aspectos na forma de como a gente vê, e as aplicações também.” (A4)
“Tive sim, de absorção de conhecimentos sobre o tema,
vai me servir para o vestibular também”. (A6)
“Olha, mais do que com esse trabalho, me confirmou o seguinte pensamento: a gente não pode se restringir somente a uma fonte, como por exemplo, somente o livro didático, pois mesmo todos apresentando as mesmas informações, não estou falando que as informações do livro e da internet esteja incompletas, ou completas. Mas sim um completa o outro. Mas isso faz com que na hora da apresentação tenhamos um repertório diferente de palavras para apresentar.” (A7)
“Com certeza! Tudo, praticamente. Sobre a reprodução, que dentro da classe dos artrópodes tem outros animais que eu não conhecia e que em cada subgrupo tem seus próprios animais. Foi muito interessante esse tema”. (A9)
“Foi um dos poucos trabalhos que eu usei a biblioteca e consegui relacionar questões de vestibular com o tema do meu trabalho e o conteúdo na nossa apresentação de slides.” (A10)
“A trabalhar em grupo. Quanto ao conteúdo, nem tanto, porque não foi mais trabalhado, foi passado para aquele momento e acabou, não foi o foco da matéria, por isso a gente não discutiu muito. Foi um conteúdo que aprendi com base na minha pesquisa e não com a explicação do professor porque ele explicou, contextualizou tudo depois com a junção dos subtítulos. E também quanto a trabalhar a pesquisa escolar, porque quando a gente vem do fundamental, é aquele trabalho de cartolina, aquela pesquisa bem basiquinha. Às vezes o aluno vem de uma escola sem muita estrutura, sem computador, não sabe pesquisar na internet. Ai você vem pra cá e muda tudo, a lidar com a pesquisa”. (A11)
“Sim, foi aquela questão, a gente acha que física é uma bobeira. No nosso assunto, espelhos, a gente viu na prática como a luz incide nele, ai pensei que o quanto é importante estudar essa matéria.” (A13)
“Eu tive uma aprendizagem muito grande em relação à matéria mesmo. De ter conseguido associar as coisas, consegui fazer isso com o relatório, foi um conhecimento a mais”. (A14)
“Ah, foi mais para agregar conhecimento mesmo, pode
ser que sim, pode ser que não me ajude no vestibular, talvez caia alguma questão sobre o que estudei, provavelmente vai cair alguma coisa, tomara que caia, porque vou saber responder de cara”. (A15)
“Com certeza, porque vários pormenores da Ditadura só são aprendidos com a pesquisa, uma pesquisa mais aprofundada. Então na vida, você aprende superficialmente, e com um trabalho desse, dá para aprofundar mais o conteúdo.” (A16)
Considerações Finais CAPÍTULO 6 - FORMAÇÃO DA COMPETÊNCIA EM INFORMAÇÃO
VARIÁVEL PERGUNTA RESPOSTA SUJEITO APÊNDICE
Objetivo do
capítulo:
Propor um
programa de
Coinfo
a) Livro
didático
b)
Integração
entre
professor e
biblioteca
c) Pesquisa
escolar
d) Proposta
de Coinfo
21c, 19b - Você acredita que o livro didático altera a forma de como os alunos buscam informação na biblioteca? Como?
“Eu acho que não chega a alterar a forma, mas eles vão direto ao acervo, são poucos aqueles que vêm ao balcão de atendimento e perguntam se tem este ou aquele material. E isso já é um processo automático deles. Principalmente com o livro didático, por serem livros trabalhados com o sistema de classificação e essa classificação é voltada para um assunto mais genérico, fica até mais fácil localizar o livro didático, então assim, o livro didático altera, por um lado, o processo de busca e recuperação da informação porque os alunos se acham independentes. Se o aluno viesse ao balcão de atendimento, perguntasse se havia determinado material na biblioteca, eu acho que a pessoa que estivesse no atendimento saberia dizer rapidamente se havia ou não o material disponível ou se está emprestado. Talvez essa ação diminuiria o tempo de busca e recuperação da informação. Trabalhar com este aluno para que ele vá diretamente ao atendente para economizar o tempo de pesquisa é um desafio.” (B1)
“Eu acredito que qualquer material pode, seja ele o livro didático ou não, seja ele periódico, um jogo, um CD, um filme. Os jovens, essa garotada, são muito independentes. Então, eles não se sentem dependentes da gente pra muita coisa, ainda mais por não ter esse vínculo da biblioteca com o professor, esse vínculo de fazer um trabalho em conjunto. Na época, nós estávamos iniciando tudo, estávamos buscando parcerias, como no caso da professora de Artes, do setor de psicologia, que a J. ficava, a professora de Ciências Sociais, a A. Eram mais essas parcerias, mas
Bibliotecários
Auxiliares de Biblioteca
Apêndices B e C
não consigo me lembrar de nada nesse sentido”. (B2)
“O aluno vai procurar em todas as fontes disponíveis, porque o acervo não é composto somente por livro didático. Se ele procurou no livro didático e não achou, ele vai partir para outro livro. Se ele procura no acervo todo e não encontra, eu acho que ele sai decepcionado, porque ele vem para a biblioteca focado em encontrar aquilo que ele procura. Se ele vem focado no livro, ele vai encontrar no livro, e se ele vier focado na internet, ele nem vai procurar no livro. Essa é minha percepção. Se ele procurou em todas as fontes e não encontrou, ele vai sair frustrado, porque ele vem focado”. (AUX. 2)
22c - Os
alunos sabem
identificar as
informações
que
necessitam
de forma
independente,
mesmo
utilizando o
livro didático?
“Sim, acredito que sim, porque hoje, com o trabalho que é feito com os alunos, desde quando eles ingressam na escola e posteriormente, no dia-a-dia, trabalhando com a questão da educação do usuário, e também a identificação do acervo, a gente consegue mostrar para o aluno onde ele pode encontrar determinado material. Eles podem ser sim independentes, eles podem encontrar o material, mas, se eles passassem pelo atendimento, as chances de encontrar o material que atenda as necessidades deles serão bem maiores, do que se eles forem direto ao acervo. Eles também podem encontrar, indo direto ao acervo, mas o tempo que eles vão gastar indo direto ao acervo é um tempo bem maior do que o tempo que eles gastariam se fossem direto ao atendente.” (B1) “Eles são independentes em chegar na biblioteca, mas não sabem procurar uma ajuda específica, mas isso não quer dizer que eles não estejam capacitados. Eu não sou contra e nem a favor da internet, tudo tem seu lado positivo e seu lado negativo. A internet também é uma importante fonte de consulta e os alunos precisam saber utilizá-la, como a questão dos livros didáticos também, se não saber utilizá-los, ao invés de edificar a aprendizagem do aluno, ele pode distorcer de um livro também. Os dois tem conteúdo. A questão é como isso é utilizado. E o contexto também, isso é muito importante, como isso é contextualizado. (B2)
Bibliotecários Apêndice C
22a, 20b -
Qual sua
opinião em
relação ao
livro didático?
“Depende do objetivo do professor. Quanto mais dinâmico for a aula, menos maçante seria a aula. Seria interessante”. (A1)
“Ah, pelo fato de incentivar a leitura, buscar conhecimento, entendeu? O conhecimento que ele
Alunos (A1 à A17)
Auxiliares de
Biblioteca
Apêndices A e B
Você tem
alguma
sugestão de
melhoria para
das atividades
de incentivo à
leitura e
pesquisa
escolar da
Biblioteca?
passa em sala de aula é muito superficial e buscar conhecimento no livro te ajuda a formar uma opinião em relação aquele assunto. Seria melhor.” (A2) “Acredito que seria muito mais fácil se usássemos livros como base, porque hoje temos várias fontes, muita coisa que não pode ser confiável, o livro didático é uma fonte segura e fácil e que está aqui, disponível para usar a qualquer momento, e que se for bem utilizada pelo professor, pode ajudar muito.” (A3) “Seria muito mais efetivo, porque não é tão presente assim o aluno vir para a biblioteca estudar. A gente vê que muitas vezes ele só vem aqui mexer no computador e larga o livro didático de lado. Eu não sou adepto a essa nova forma de estudar. O livro tem muito a contribuir e ele tem mais credibilidade que a internet. Então, na internet podem publicar o que quiserem, e a gente não filtra as informações. No livro didático não, ele passa por todo um critério, toda uma metodologia de escrita, acho mais confiável.” (A4) “Bom, a gente teria uma facilidade enorme em pesquisa em relação à internet.” (A5) “Acho que assim, aprenderiam mais. Pelo menos eu aprendo lendo e fazendo meus resumos. Então acho assim que com a orientação do professor, saberíamos qual é a parte principal, qual a parte é mais cobrada do Enem, por exemplo, qual a parte é mais importante de saber, qual detalhe é mais importante.” (A6) “Muitas vezes os professores, alguns professores, passam o trabalho e não tem o trabalho de vir na biblioteca. E só depois que a gente já fez o trabalho, tirou uma nota razoável, boa ou ruim, é que andando pelas prateleiras da biblioteca, a gente acha um livro muito interessante sobre o tema, a gente acaba percebendo que se eu tivesse me empenhado naquilo ali, teria tido um conhecimento individual muito mais proveitoso do que somente ter pesquisado no livro didático ou na internet.” (A7) Acho que seria melhor, porque não ficaria ao léu, no caso, não é que ela nos deixou ao léu, mas ela passou o tema e ficou a nosso critério escolher em qual livro estudar e tudo mais. Se ela aliasse a esse programa que é oferecido pela biblioteca, acho que daria uma direção melhor ao aluno.” (A8)
Estagiários (E1, E2 e E3)
“Eu acho que seria melhor, ia melhorar em todos os aspectos. Porque às vezes o professor não busca isso né? Ele só dá o tema, pronto, acabou. E com esse auxílio, você vai ter uma compreensão maior do trabalho. Acaba até ajudando na apresentação do trabalho.” (A9) “Olha, a gente é acostumado com a internet né? As coisas são mais rápidas. Acho que o professor pegaria mais no nosso pé pra usar mais os livros. Eles sempre falam pra gente usar mais os livros, mas a gente nunca usa mesmo, por causa da pressa, às vezes por causa da falta de tempo, mas eles sempre incentivam a gente a usar os livros daqui da biblioteca, eles só não vem com a gente escolher.” (A10) “Eu acho que seria melhor, muito melhor se o professor seguisse o livro didático para dar uma base aos alunos, porque no primeiro ano foi feito um trabalho assim, de ter uma base no livro didático e depois a gente foi ficando bem solto, mais com slides e tal. E isso às vezes atrapalha bastante o aluno, porque tem casos de alunos que faltam, e só tem o slide pra acompanhar, e ai ele pensa: onde é que vou estudar? Se é na internet, ou em outro lugar. Se o professor seguisse o material didático, talvez o aluno poderia recuperar sua matéria.” (A11) “As aulas seriam melhores, dependendo da finalidade delas” (A12) “Seria melhor, embora alguns alunos não contribuam para isso. Apesar do professor de física disponibilizar o laboratório para aulas práticas, se ele viesse para cá, mostrasse os livros didáticos e relacionasse a teoria com a prática, acho que seria melhor.” (A13) “Eu acho que seria melhor, porque muitas vezes ficamos em sala de aula só ouvindo, ouvindo, ouvindo, chega uma hora que você não está mais prestando atenção, então quando o professor te manda ler uma bibliografia, você acaba fazendo essas associações da matéria.” (A14) “Ia ser bem mais completo, porque a gente teria muito mais acesso à informação do que só o livro didático, do que a gente vir aqui (na biblioteca) procurar. Se o professor trouxesse a turma, ia ser bem mais aceito pelos alunos. O livro didático tem falhas, e não é isso,
mas não é só seguir aquilo que o professor está pedindo, mas sempre é bom procurar outras fontes.” (A15) “Eu estava confortável no inicio, pelo tema, mas quando eu comecei a pesquisar no próprio livro didático, eu fiquei, é, triste, do jeito que aquilo é passado, porque sei que eu aceito aquilo de um jeito porque eu tenho um conhecimento, eu sei de fato o que aconteceu, mas e outros, que não têm um conhecimento prévio? Aceitam aquilo como verdade absoluta. Se tivesse essa parceria com a biblioteca, ia ser bem mais completo, teria várias formas, vários meios de pesquisa, vários meios de informação e orientação sobre como realizar um trabalho, pesquisas e ficaria, sem dúvida, bem mais completo o conteúdo.” (A16) “Muito melhor, muito mais rico, porque quando o professor auxilia o aluno falando ou mostrando o assunto que ele tem que buscar, além de já facilitar a pesquisa, ela permite o aluno ter uma acessibilidade maior. No meu caso, nós tivemos que procurar nos livros, os livros ideais, nós tivemos que...é...só nos livros, teve coisas que pesquisamos na internet, de site em site até achar um coerente, comparar um livro com outro, para ver qual livro tá melhor. Então eu acho que se o professor tivesse falado logo do início que tal livro é o mais adequado, seria meio caminho, eu não teria perdido tanto tempo. Teria sido muito mais fácil para montar o trabalho.” (A17) “Eu acho que sim, esse ano os professores têm focado mais os livros literários, mas como são muitos alunos, temos feito downloads nos kobo, e disponibilizado aos alunos, então nesse ponto, tem ajudado muito. Então está tendo uma união entre o professor e a biblioteca e tem dado certo. Então se acontecer dessa união se focar também nas pesquisas, só tem a ganhar, e acho que dá certo sim. E é o que ocorre na verdade, porque os professores mandam os alunos pesquisarem na biblioteca e já vem atrás do livro e a gente procura dar uma orientação de como pesquisar.” (E1)
“Eu acho que mudaria a visão do aluno da biblioteca, justamente pelo o que falei antes. O aluno do ensino médio hoje tem esse sentimento de impaciência, e como o processo de pesquisa é mais lento e tudo mais, a biblioteca não é o meio principal, assim, não é a primeira coisa que o aluno utiliza. Ele vem aqui assim, para buscar um livro didático de exercícios, que o professor
pediu, ele não vem por conta própria. A procura dos alunos são meio que incentivadas pelo professor, e o aluno não vem tipo, sozinho. Não vejo aquela curiosidade do aluno nessa questão, a não ser literatura, que ele vem por livre e espontânea vontade. O resto, ele vem mais por obrigação mesmo. Um aluno ou outro, da agroindústria, que buscam um pouco mais, mas esse comportamento eu vejo mais nos alunos mais velhos, que não só estudam, já estão montando um negócio, ele tem um interesse financeiro em cima daquele conhecimento, então ele busca mais”. (E2)
“Eu vou pegar o exemplo de história, o professor trazia os alunos para a biblioteca e fazia a gente usar o livro didático e os outros livros de suporte. O bibliotecário M. já deixava tudo agendado e os materiais separados para determinados grupos desse professor. Então era legal. O professor não deixava usar a internet, era só o livro didático, se quisessem usar a internet, era só em casa. Então os seminários eram muito ricos, se o aluno não achasse alguma coisa interessante em um livro didático, ia pra outro técnico. Eu achava uma boa combinação e outros professores poderiam fazer”. (E3)
“Eu acho que o aluno iria valorizar muito mais o sentido da biblioteca, porque muitos utilizam a biblioteca por causa dos computadores, tanto é que se não tiver internet, eles ficam aqui perdidos, eles não sentem a necessidade do livro em primeiro lugar. Eu percebo que o professor dá aula, manda o aluno pra biblioteca, mas não vem junto com o aluno para trabalhar o livro didático ou qualquer outro. Não vou generalizar, porque tem professores que vem para a biblioteca trabalhar exclusivamente com o livro, mas tem professores que combinam livro e computador e quando tu vai ver (sic), o livro tá fechado, o aluno usa somente o computador. Então não teve aquele estímulo real do uso do livro. Se o professor realmente aliasse o uso da biblioteca com sua didática de ensino, o aluno daria mais valor, usaria mais o livro do que a internet. E também daria valor ao bibliotecário, ao profissional que conhece o acervo”. (AUX 1)
“Eu acredito que os professores iriam adotar a ideia, e isso facilitaria a aproximação do aluno com a biblioteca. Eu acho que lá já existia essa prática, não muito sistematizada com o bibliotecário, era só por conta do professor em levar os alunos pra biblioteca, e às vezes, os alunos ficavam muito soltos. Acho que só tem que
ampliar para todos os professores. Talvez, os professores por não terem tanto contato com a biblioteca na época que eles eram alunos, criou-se essa resistência, não tem aquela proximidade com a biblioteca. Às vezes, o professor já tem um acervo na casa dele, por achar mais prático, então, por não ter um envolvimento com a biblioteca, ele acaba não incentivando. O professor não usa tanto o livro didático pela falta de confiança na autoridade de quem escreve o livro, e como o livro didático que ele não escolheu para trabalhar tá na biblioteca, a falta de confiança se transfere para a biblioteca. O professor escolhe o livro, mas na hora que chega, muitas vezes não é o livro que ele escolheu. Ai cria-se essa resistência contra o livro e a biblioteca.” (AUX 2)
23c - Para você, qual o papel da biblioteca escolar na formação social e intelectual de competência em informação dos alunos? Acredita que o livro didático se torna um dispositivo que inicie ou incentive os alunos no desenvolvimento dessa competência?
“Eu acredito que a biblioteca escolar é fundamental neste processo de desenvolvimento da competência informacional. A escola, com participação da biblioteca, é o ambiente onde o aluno tem a oportunidade de desenvolver práticas de pesquisas. Eu acho que a biblioteca tem que propiciar isso, ensinar o aluno a ser um pesquisador. Não é ser um pesquisador somente no laboratório, mas é saber onde encontrar aqueles materiais que vão satisfazer a sua necessidade informacional, seja no livro didático, seja no livro técnico, seja no conteúdo disponível na internet. A biblioteca deve auxiliar a este aluno a navegar na internet, buscar informações confiáveis e buscar, preferencialmente, em fontes primárias. O livro didático é a primeira fonte primária que este aluno tem contato, mas a realidade das bibliotecas escolares e das próprias escolas não propicia o contato deste aluno com outras fontes de informação, então este aluno fica condicionado a procurar a informação no suporte onde ele tem mais contato, a mesma coisa acontece com a internet hoje. O aluno deveria também saber utilizar informações armazenadas em multimídia, como os cds, os dvds e os periódicos. Eu acho que a biblioteca tem que desenvolver no aluno esse gosto pela pesquisa, também a sua independência, propiciar ao aluno onde recuperar a informação necessária para as suas atividades. Os bibliotecários precisam enxergar isso, devem começar a auxiliar os alunos na pesquisa escolar, de modo a desenvolver no aluno a competência informacional, para que este aluno seja independente.” (B1)
Bibliotecário Apêndice C
24c – O que é
necessário
para a
“A biblioteca deve auxiliar a este aluno a navegar na internet, buscar informações confiáveis e buscar, preferencialmente, em fontes primárias. O livro didático é a primeira fonte primária que este aluno tem contato,
Bibliotecário Apêndice C
biblioteca
auxiliar o
desenvolvime
nto da
competência
em
informação?
mas a realidade das bibliotecas escolares e das próprias escolas não propicia o contato deste aluno com outras fontes de informação, então este aluno fica condicionado a procurar a informação no suporte onde ele tem mais contato, a mesma coisa acontece com a internet hoje. O aluno deveria também saber utilizar informações armazenadas em multimídia, como os cds, os dvds e os periódicos. Eu acho que a biblioteca tem que desenvolver no aluno esse gosto pela pesquisa, também a sua independência, propiciar ao aluno onde recuperar a informação necessária para as suas atividades. O bibliotecário precisa conhecer o seu ambiente de trabalho, ele precisa conhecer a sua biblioteca. O bibliotecário deverá ter o conhecimento do seu acervo, de quais materiais constituem seu acervo. Eu acho que o bibliotecário não precisa ler todos os materiais disponíveis ou assistir todos os vídeos disponíveis para conhecer o seu acervo. Eu acho que ele precisa tomar conhecimento sobre os temas disponíveis no acervo, e assim ele vai conseguir disponibilizar o material que atenda as necessidades do aluno. Os bibliotecários precisam enxergar isso, devem começar a auxiliar os alunos na pesquisa escolar, de modo a desenvolver no aluno a competência informacional, para que este aluno seja independente”. (B1)
25c - Você
desenvolveu
algum
programa de
competência
em
informação?
"“Não desenvolvi nenhum programa, não foi nada específico. Na época, oferecemos treinamentos, isso foi em 2013, no início do semestre letivo. A gente ofereceu treinamentos no sistema que gerencia o acervo da biblioteca. Foi ensinado a como fazer a busca e recuperação da informação no sistema da biblioteca e também foi trabalhado o sistema de classificação usado pela biblioteca, como o acervo estava identificado, como estava organizado, no sentido de ajudar o aluno a encontrar o material que necessita. Mas, não foi nada voltado à competência informacional ou que remetesse a esse tema específico. Eu tive a oportunidade de fazer uma palestra com esse tema para um grupo de alunos, mas essa palestra foi realizada no campus onde eu atuo hoje. Ali sim eu tive a oportunidade de falar sobre este tema, sua importância, o que é a competência informacional e a importância da biblioteca no desenvolvimento da competência informacional do aluno. Eu não tenho como saber se essa palestra surtiu resultados, mas creio que tenha tido efeitos sim”. (B1)
“Houve treinamentos de usuários, mas creio que são
Bibliotecário Apêndice C
coisas completamente diferentes, porque treinar aluno, levar os alunos para a biblioteca, falar do sistema Pergamum, nos vestimos de personagens para fazer uma coisa lúdica, nós fizemos”. [...] como foi uma biblioteca em implantação, as atividades não giravam em torno dessas questões. Infelizmente não. A biblioteca foi privilegiada em atividades administrativas, o que a gente precisava comprar para ter uma biblioteca, como a gente ia formar o acervo. Ah, nós temos uma Política de Desenvolvimento de Coleções, a bibliografia dos cursos, o que tinha de bibliografia básica, de bibliografia complementar, o que tinha de sugestões, o que os professores pensam, como fazer parcerias? Essa questão de busca e recuperação da informação pelos alunos não era o foco, porque estávamos no início, mas essa questão tinha que ser pensada desde o início também. Mas não foi pensado”. (B2)
26c - Você
acredita que o
aluno que
utiliza os
recursos da
biblioteca e
desenvolve a
competência
em
informação
tem um
diferencial em
relação ao
aluno que não
frequenta a
biblioteca?
“Os alunos independentes não se frustram, porque eles sabem onde encontrar o material. Se não tiver no livro, seja didático ou em um livro mais técnico, ele vai buscar no periódico. Se não tiver no periódico, ele vai buscar em um recurso multimídia. Se não tiver ali, ele vai pesquisar em outras fontes ou na internet. Então, ele não se frustra por não encontrar a informação no livro, mas ele vai atrás de outras fontes que satisfaçam sua necessidade. Esse aluno é diferente daquele que não tem competência informacional, porque ele acha que o conteúdo que ele precisa está apenas no livro, em um livro específico, de um autor específico. Se não tem o livro deste autor, então não tem o conteúdo que ele precisa, ele fica sem fazer o trabalho. A biblioteca precisa trabalhar essa questão, o trabalho foi passado em cima de um livro específico ou de um autor, mas não significa que o aluno tenha que usar somente este autor ou este livro, pois o mais importante é o conteúdo, que pode ser encontrado em outros autores e em outros livros também, ou em outras fontes de informação. Eu acho que existe essa frustração por parte do aluno que não tem a competência informacional desenvolvida, que é diferente do aluno que tem a competência desenvolvida, pois irá buscar alternativa ou outras fontes para obter a informação que ele quer”. (B1)
Bibliotecário Apêndice C
27c - Em sua
opinião, que
tipo de
programa de
“Eu acho que a biblioteca deve trazer os alunos para ter este contato mais próximo com o acervo. Se for possível, tirar os alunos da sala de aula por alguns minutos e apresentar o acervo para eles. O que é feito no início do semestre letivo é apresentar a biblioteca
Bibliotecário Apêndice C
competência
em
informação
poderia ser
adotado na
Biblioteca?
para o aluno, mas deveria ser feito uma apresentação do acervo para o aluno. Acho que é um primeiro passo: mostrar o que tem disponível no acervo, o que significa, cada número da organização, aquela ordem de apresentação da etiqueta, onde está o material que é referente a cada curso. Então eu acho que precisa ser feito primeiramente uma apresentação do acervo. Ai depois apresentar a ferramenta que gerencia o acervo da biblioteca para o aluno que, caso queira, ele possa fazer a pesquisa na base, do material e se este material está disponível na sua biblioteca ou em outra biblioteca. Se está disponível em outra biblioteca, como fazer para que o usuário tenha acesso ao material. Mas o primeiro passo é apresentar o acervo, para iniciar o treinamento em competência informacional, para que o usuário se torne independente e saiba recuperar a informação que ele precisa”. (B1)
“Acho que vários caminhos podem ser válidos, não tenho um em específico, todos os problemas da competência informacional estariam resolvidos se houvesse um único caminho, não sei o que a literatura aponta, porque eu não pesquiso essa área, nem tenho domínio sobre, mas é difícil você dizer um único caminho. Eu vejo como importante a parceria entre o professor e o bibliotecário, porque se isso não caminhar junto, a biblioteca não tem sentido em existir”. (B2)
28c – Seria
possível uma
parceria entre
o professor e
a biblioteca
cuja prática
seja o
fortalecimento
do livro
didático?
“Como eu disse, por mais que os professores não utilizem o livro didático por acharem que o conteúdo do livro didático é, entre aspas, fraco, não é aquilo que eles planejaram para as aulas, mas mesmo assim, eles fazem uso do livro didático com complementos, na verdade, com materiais indicados para aquisição pela biblioteca. Então, há essa interação entre o professor, o livro didático e a biblioteca. A biblioteca disponibiliza outros materiais que o professor julgar necessário e que está na ementa dos cursos, visando atender a necessidade dos alunos. A biblioteca tem que trabalhar no sentido de fornecer os materiais que são necessários às necessidades informacionais do aluno, nesse sentido, a biblioteca deve adquirir somente materiais informacionais que atendam a essa necessidade. Tem os livros didáticos distribuídos pelo FNDE e os livros didáticos presentes nas ementas dos cursos. Então, quando a gente fala do livro didático, tem que se separar aquele que é distribuído e aquele que é adquirido pela biblioteca para compor o seu acervo. O livro didático no sentido geral é indicado pelo professor, já consta na
Bibliotecário Apêndice C
ementa do curso. A gente tenta disponibilizar os dois. Inclusive, esses materiais didáticos que são indicados e que estão na ementa do curso, a gente tenta trabalhar no sentido de adquirir maior quantidade de exemplares para atender a necessidade de todos os alunos que vão precisar daquele material”. (B1)
“O professor não nos procurava para direcionar que estava trabalhando com determinado assunto em determinada turma e que ia passar determinado trabalho. Algumas vezes, quando alguns professores utilizavam o espaço da biblioteca para dar suas aulas, alguns poucos avisavam com antecedência, tanto que nós instituímos um critério para isso, porque eles queriam chegar na hora da aula, independente se a biblioteca estivesse ou não com pessoas e davam sua aula. Para mim, isso é aula sem planejamento, porque aula não é só juntar todo mundo e vamos ter uma aula. E ai? Só vai mudar o espaço. Ao invés da aula ser na sala, será na biblioteca, mas com que finalidade? Só por que o professor não quer dar aula lá? Isso tem que ter um debate, tem que ter um material, as pessoas precisam estar envolvidas ali, porque senão qual a finalidade?” (B2)
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