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Estratégias de “sobrevivência”/desenvolvimento nos concelhos do Pinhal Interior
Sul
Fernando Ribeiro Martins
e-Geo / Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional Faculdade de Ciências Sociais e Humanas - Universidade Nova de Lisboa
Av. Berna 26-C, 1069-061 Lisboa Telefone: +351.1.7908300
fermar@fcsh.unl.pt
Resumo
Nas últimas três décadas, os concelhos do interior do País sofreram
transformações tão significativas, e de todos os pontos de vista, que, hoje, se nos
afiguram de todo irreconhecíveis, comparativamente à época do início do período
democrático. Entre os responsáveis por essas alterações contam-se muitos factores,
nomeadamente, a vinda dos “retornados”, o dinheiro da emigração e as transferências
da actual União Europeia e do Orçamento Geral do Estado, mas também a capacidade
de realizar e estimular a economia que o poder local e os agentes económicos nem
sempre puderam ou souberam aproveitar.
Os cinco concelhos do denominado Pinhal Interior Sul (Mação, Oleiros,
Proença-a-Nova, Sertã e Vila de Rei), com suficientes afinidades entre si que, por si só,
justificaram a sua agregação na mesma unidade territorial, apresentam, naturalmente,
especificidades e oportunidades pelas quais se procuram afirmar e valorizar. Nesta
apresentação procuram-se compreender algumas das principais linhas orientadoras de
política autárquica das últimas décadas nestes concelhos e as repercussões daí
resultantes.
2
1. O território
Pinhal Interior Sul (PIS) é a designação de uma NUT1 de nível III, localizada no
centro do País, composta apenas por cinco concelhos: Mação, Oleiros, Proença-a-Nova,
Sertã e Vila de Rei. Até certo ponto, os acidentes físicos que a rodeiam justificaram a
sua individualização; pelo Norte e pelo Ocidente, o rio Zêzere e as albufeiras de três
barragens (Bouçã, Cabril e Castelo de Bode2) definem-lhe um limite bem vincado, não
só pela importância do curso de água mas, sobretudo, pelo acidentado do relevo que até
à poucos anos só pontualmente era possível transpor3. A Sul, o Tejo, importante rio que
separa as serras de xisto das Beiras (a Norte), da peneplanície do Alentejo (a Sul), só lhe
serve pontualmente de limite porque o concelho do Sardoal e a freguesia de Belver,
anexa ao concelho do Gavião, já não lhe pertencem. Pelo Leste, a albufeira da barragem
da Pracana, no Ocreza, e, mais para montante, a ribeira do Alvito, a Serra do Muradal e
a Serra da Padragueira definem-lhe os últimos contornos (fig. 1).
Fig. 1 – Localização dos concelhos do Pinhal Interior Sul
A individualização do PIS parece fazer todo o sentido na medida em que este
território se diferencia substancialmente do das regiões envolventes. Em primeiro lugar,
e como referiu J. GASPAR (1993:100), pelas “...assimetrias demográficas...” que
1 NUT é a sigla de Numenclatura de Unidade Territorial para fins estatísticos. 2 As albufeiras de, Bouçã, Cabril e Castelo de Bode entraram ao serviço, respectivamente, em 1955, 1954 e 1951. 3 A situação mais caricata verificava-se entre os concelhos vizinhos de Vila e Rei e Ferreira do Zêzere, cujas sedes de concelho distam hoje 16Km mas, até 2002, distanciavam, efectivamente, mais de 40Km.
3
fazem dele um dos menos povoados da Região Centro4: Em 2001, a densidade
demográfica não iam além de 23,5 hab./ km2, enquanto o Pinhal Interior Norte
apresentava 53 e a Serra da Estrela 57,5 hab./ km2. Em segundo lugar, pelo “...diferente
dinamismo da ocupação humana...” que mais a Norte e desde muito cedo originou um
nível de industrialização considerável (têxteis, papel, madeiras, cerâmica e, mais
recentemente, vestuário, mobiliário, metalomecânica, etc., entre a Lousã e Gouveia),
enquanto no PIS a indústria nunca se implantou verdadeiramente, à excepção de
algumas (poucas) indústrias de transformação de produtos alimentares e da
transformação de madeira, sem dúvida a mais importante e a maior geradora de riqueza
da região. Em terceiro lugar, pelas próprias diferenças físicas que decerto têm a sua
quota-parte naquelas assimetrias: no PIS, os solos pobres de xisto e de outras rochas
metamórficas diferenciam-se dos das áreas mais a Norte, onde as rochas
predominantemente graníticas originam solos mais desenvolvidos de depósitos
argilosos e arenosos, a que acresce um clima mais húmido, bastante mais favorável à
prática agrícola.
Por outro lado, trata-se de uma região com características particulares: não
integra nenhum grande centro urbano, mesmo à escala regional, ainda que as influências
de alguns centros de maior dimensão, localizados em seu redor, se façam sentir em
maior ou menor intensidade - com destaque, pela sua proximidade, para as cidades de
Castelo Branco, de Tomar e de Abrantes. A primeira assume particular importância, o
que é compreensível, não só por ser sede administrativa regional (capital de distrito)
mas também por nos últimos anos ter sofrido uma grande transformação, em parte
devido ao desenvolvimento do seu parque industrial.
No PIS são as sedes de concelhos que imprimem a dinâmica ao seu espaço
concelhio, embora, como é natural, algumas tenham maior importância que outras;
destaque para a Sertã, que, para além da importância histórica, sobressai pela
concentração de algumas funções e serviços sub-regionais de que são alguns exemplos,
a sede da Zona Florestal do Pinhal Sul, a Escola Tecnológica e Profissional, e o Centro
de Formação Profissional Agrário.
Em termos gerais, toda a área se caracteriza pela existência de um elevado
número de pequenos núcleos na órbita de centros de média dimensão (à escala local): as
sedes de concelho dominam pelas suas funções, principalmente a de emprego,
4 Apenas a NUT da “Beira Interior Sul”, constituída pelos concelhos de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Penamacor e
Vila Velha de Ródão, apresenta densidade inferior: 20,8 hab/km2 em 2001.
4
absorvendo grande parte dos trabalhadores por conta de outrem disponíveis na região;
particular importância assumem as autarquias enquanto empregadores.
Pode afirmar-se que os cinco concelhos que compõem o PIS constituem uma
unidade relativamente homogénea com algumas características distintivas das dos
concelhos circundantes, embora todos eles apresentem traços comuns, sendo um dos
mais importantes, sem dúvida, o forte declínio demográfico associado ao elevado saldo
migratório, baixos índices de natalidade, elevadas taxas de mortalidade e ao acentuado
envelhecimento da população. Outro denominador comum é o coberto florestal de
pinheiro bravo (Pinus pinaster), integrado no que há alguns anos foi considerada a
maior mancha florestal contínua de pinheiro bravo da Europa, hoje profundamente
fraccionada e com poucas possibilidades de exploração no curto / médio prazo devido
ao flagelo dos incêndios das duas últimas décadas.
2. Uma população em queda
Em 2001, residiam nos concelhos do actual Pinhal Interior Sul quase quarenta e
cinco mil habitantes (44 897), numero que se tem vindo a reduzir desde 1950, ano em
que se atingiu o valor mais elevado: 92 908 indivíduos residentes5. Durante as duas
últimas décadas, a situação não mostrou sinais de se inverter, apesar da chegada de
quase três milhares de portugueses das ex-colónias no período que se seguiu à
descolonização e, de então para cá, mais de 2 800 ex-emigrantes, maioritariamente
oriundos de países europeus, aqui se terem fixado. Os dados dos últimos censos indicam
que em apenas dez anos a região perdeu 12% dos seus residentes, ou seja, seis mil
pessoas (Fig. 2).
A partir de 1950, todos os concelhos do actual PIS (com excepção de Oleiros
durante esta década) iniciaram um ciclo de decréscimo da população, que embora de
forma irregular e com tendência decrescente, não mais parou até aos nossos dias
(Quadro 1).
5 Valor resultante do somatório dos cinco concelhos que actualmente compõem o PIS.
5
Fig. 2 - Evolução da população residente nos concelhos do PIS (1950-2001)
Proença-a-Nova
Oleiros
SertãNº
Fonte: INE
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
1950 1960 1970 1981 1991 2001
Vila de Rei
Mação
Durante a década de 80, entre os concelhos do Continente com maiores perdas
de população6, contam-se o de Oleiros (-23,7%), na terceira posição, e Vila de Rei (-
20,8%) na oitava, enquanto as quebras foram menos acentuadas nos de Mação (-
17,8%), Sertã (-15,4%) e Proença-a-Nova (-7,2%).
Quadro 1 - Taxas de variação da população residente nos concelhos do PIS (1960-
2001).
% 1960-70 1970-81 1981-91 1991-2001 1960-91 1981-2001
Mação -21,7 -18,0 -17,8 -16,1 -47,2 -31,0 Oleiros -15,7 -22,3 -23,7 -14,0 -50,1 -34,4 Proença-a-Nova -21,3 -13,4 -7,2 -13,3 -36,8 -19,6 Sertã -14,8 -9,8 -15,4 -8,1 -35,0 -22,2 Vila de Rei -18,0 -25,0 -20,8 -9,0 -51,3 -27,9
Total do PIS -18,0 -15,8 -16,1 -11,8 -42,1 -26,0 Fonte: INE, X, XI, XII, XIII e XIV Recenseamento Geral da População, 1960, 1970, 1981, 1991 e 2001.
Na última década (1991-2001), a situação melhorou ligeiramente, registando-se
menores perdas da população residente, com excepção do concelho de Proença-a-Nova
onde a situação se agravou (de -7,2% para -13,3%)7; no entanto, as taxas de perda da
população continuaram elevadas, sendo superiores a 13% em três dos cinco concelhos.
6 Nesta década, os maiores decréscimos de população nos concelhos do continente registaram-se, em: Vimioso (-
25,6%), Monchique (-23,9%), Oleiros (-23,7%), Pampilhosa da Serra (-22,6%), Ribeira de Pena e Vinhais (ambos com -21,2%), Vila Nova de Foz Côa (-21,0%) e Vila de Rei (-20,8%).
7 Note-se que foi neste período que se acentuaram os problemas na maior unidade industrial do concelho (Sotima), que levaram ao seu encerramento, após várias paragens na laboração, deixando no desemprego mais de 270 trabalhadores.
6
Se considerarmos as duas últimas décadas em conjunto (1981-2001) verifica-se
que, em termos percentuais, o concelho de Proença-a-Nova foi o que perdeu menos
habitantes (-19,6%), seguido dos da Sertã (-22,2%) e Vila de Rei (-27,9%), enquanto os
concelhos de Mação (-31,0%) e Oleiros (-34,4%) registaram as perdas mais
significativas.
Comparando a evolução da população dos concelhos do PIS com a dos restantes
concelhos do continente, apercebemo-nos da gravidade da situação demográfica no PIS.
A pequena NUT em análise conta dois concelhos entre os quinze que registaram as
perdas mais acentuadas de população residente do continente, entre 1960 e 1991, ou
seja, que, em apenas trinta anos, perderam mais de metade da sua população residente.
Entre eles, o concelho de Vila de Rei (-51,3%) ocupa a nona posição, e Oleiros (-
50,1%) a décima quarta. Mação (-47,2%) ocupa uma posição próxima, a décima sétima,
enquanto os concelhos de Proença-a-Nova e Sertã registaram decréscimos menos
importantes (-36,8% e -35,0%, respectivamente). Vila de Rei foi, aliás, o concelho do
continente que registou a taxa de variação negativa mais acentuada (-25%) na década de
70, período em que a maioria dos concelhos do continente assinalou valores positivos.
A análise da situação por freguesias revela igualmente um panorama
preocupante, com a generalidade das 43 freguesias em queda demográfica. Entre 1981 e
1991 apenas escaparam a esta tendência as freguesias de Peral (+4,3%) e Proença-a-
Nova (+3,8%), ambas do concelho de Proença-a-Nova e, na década seguinte, a
freguesia sede do concelho de Oleiros (+3,3%), e duas do concelho da Sertã, Cabeçudo
(+7,4%) e Sertã (+4,5%).
As sedes de freguesia concentram uma percentagem significativa da população,
sobretudo quando o número de lugares que as constituem é muito reduzido; é o caso de
Ortiga com mais de 75% da população a residir na sede de freguesia e de S. João do
Peso (Vila de Rei), Madeirã, Orvalho e Vilar Barroco (Oleiros), onde essa proporção é
superior a 50%. Qualquer destas freguesias tem no máximo cinco lugares, incluindo a
respectiva sede.
3. Principais debilidades estruturais
3.1. A população
Um dos pilares principais em que assenta o conceito de desenvolvimento de um
qualquer território é a população que nele reside, uma vez que é (ou deve ser) com ela
7
que ele ocorre e, em última análise, a ela se destina. Assim sendo, não há
desenvolvimento, no verdadeiro sentido do termo, sem a participação activa da
população, seja por via da sua ligação aos processos produtivos, (investimento,
conhecimentos, inovação, trabalho, etc.), seja por via da participação e afirmação de
cada cidadão na sociedade em que se insere. E é precisamente nestes aspectos que
residem alguns dos maiores obstáculos estruturais ao desenvolvimento do PIS.
Em primeiro lugar, pela incapacidade dos poderes públicos em manter a
população residente que, década após década, e desde o recenseamento de 1950, tem
vindo sempre a diminuir: dos 92 908 residentes apurados naquele ano restam hoje
(2001) só cerca de metade. Só nos últimos vinte anos (1981-2001), o PIS perdeu mais
de 15 700 habitantes, dos quais cerca de 6 000 só na última década, à média de 600
pessoas por ano. E, apesar da tendência de decréscimo ter sido inferior às décadas
anteriores (-11% no período 1991-2001, contra -16% em 1981-91 e -18% em 1970-81),
nada indica que esta tendência negativa se vá inverter até ao próximo recenseamento.
Se até aos anos 80 do século XX a perda de população dos concelhos do actual
PIS, esteve principalmente relacionada com a debilidade do sector agrícola (que então
era dominante em termos de ocupação8 da população) e a perspectiva de melhores
condições de vida e de trabalho noutros locais, a situação nas últimas duas décadas é
completamente diferente. Por um lado, a agricultura tornou-se decadente, deixando de
ocupar a maioria dos membros do agregado familiar; por outro, surgiram alternativas
em termos de emprego que antes não existiam, quer na indústria quer nos serviços,
nomeadamente nos serviços não relacionados com a actividade económica. E, se ainda
se ouve dizer que a população migra por falta de emprego, isso deve-se, em muitos
casos, não à falta de trabalho mas à falta do emprego que normalmente as pessoas
pretendem. Talvez por isso, continue a ser difícil encontrar disponível um pedreiro, um
pintor, um carpinteiro ou um canalizador, por exemplo.
Actualmente, continua-se a migrar para outras áreas do país e do estrangeiro,
mas a ritmos muito inferiores. Uns, saem para prosseguir os seus estudos de onde
raramente voltam; outros saem a pensar no futuro dos filhos ou porque as condições
económicas que lhes oferecem noutros locais são mais vantajosas. Mas uma parte
significativa do decréscimo da população no PIS deve-se à não reposição das gerações,
8 Note-se que o emprego neste sector era reduzido e sobretudo sazonal.
8
ou seja, por o número de jovens se ter reduzido drasticamente, por diminuir a natalidade
e o número de mulheres em idade fértil.
Outra desvantagem do PIS é o progressivo envelhecimento da população
residente, o que para além dos encargos sociais, representa uma menor vitalidade desta
NUT, associada a uma menor participação da população nas actividades produtivas.
Note-se que, das 39 394 pessoas residentes em 2001, com 15 ou mais anos de idade,
apenas 16 740 (42,5%) tinham uma actividade económica sendo que, destas, quase um
milhar se encontrava desempregada. A população sem actividade económica, atingia as
22 654 pessoas, das quais 71,3% era constituída por reformados, aposentados ou
incapacitados para o trabalho, 16,8% por domésticos e 11,9% por estudantes. Todos os
concelhos do PIS apresentavam uma situação semelhante, tal como se pode observar no
quadro 2.
Quadro 2. População residente nos concelhos do PIS, com 15 ou mais anos, segundo a
condição perante a actividade económica ou o principal meio de vida (2001)
População c/ activ. económica População sem actividade económica
Total
Empreg.
Desem- pregada
Total
Estudante
Doméstica
Reformada,aposentada
e na reserva
Incapacidade permanente p/ trabalho
Outras
situações
Mação 3 055 2 899 156 4 513 398 542 3 219 206 148 Oleiros 2 463 2 377 86 3 596 402 525 2 431 127 111 P.-a-Nova 3 460 3 233 227 4 973 757 820 2 952 278 166 Sertã 6 640 6 166 474 7 728 1 009 1 638 4 345 375 361 Vila Rei 1 122 1 069 53 1 844 132 286 1 260 92 74
PIS 16 740 15 744 996 22 654 2 698 3 811 14207 1 078 860
% 100,0 94,1 5,9 100,0 11,9 16,8 62,7 4,8 3,8 Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População .
No entanto, e como refere M. ROSA (1996:210), “...o processo de
envelhecimento demográfico (...) não tem de ser necessariamente penoso para a
sociedade. (...) [A este respeito] há quem argumente, por exemplo, que ele produz uma
desaceleração do ritmo de inovação e uma redução da flexibilidade e da mobilidade da
mão-de-obra, (...), que diminui a propensão para o consumo (aumentando a poupança),
(...). Contudo, há quem também a respeito do envelhecimento demográfico, considere
que a inovação não é contrária à experiência e que a adaptação dos trabalhadores
idosos às novas tecnologias pode ser alcançada através de reciclagens profissionais,
que (....) não implica necessariamente uma diminuição automática do consumo, mas
sim uma modificação da sua estrutura...”.
9
Sendo ambas as perspectivas naturalmente discutíveis, mais importante do que
os número de idosos ou o seu peso na sociedade é preciso compreender a evolução e as
transformações na estrutura etária, nomeadamente a função que os mais velhos podem
ter na sociedade dos nossos dias. A este propósito Michel LORIAUX (um dos
demógrafos que mais se tem preocupado com este tema), parafraseado por M. ROSA
(Id.), refere que “...é necessário reformar as nossas mentalidades (tornando-as
compatíveis com as estruturas demográficas), reinventar completamente a velhice e
remodelar as nossas instituições, de modo que as idades avançadas passem a ter um
valor quer económico, quer social”.
Neste sentido, não nos podemos esquecer que muitos reformados continuam a
ter uma importância considerável na economia e na sociedade locais, nomeadamente
pela sua participação na actividade agrícola, cuja produção, apesar de raramente entrar
nos circuitos comerciais, alimenta um número indeterminado de pessoas, não só as que
vivem nas aldeias mas também muitos familiares que residem em centros urbanos.
Outro entrave ao desenvolvimento é o baixo grau escolar da população em geral
e a falta de qualificações profissionais da população activa. De acordo com os dados
disponíveis pelo último recenseamento do INE (quadro 3), 85% da população não
chegou ao ensino secundário e os que frequentaram o ensino médio ou superior
representam apenas 5,1%. Mas, ainda mais revelador é o facto de 22% da população
residente não possuir qualquer grau escolar e 43% não ter ultrapassado o 1º ciclo do
ensino básico.
Quadro 3. Nível de ensino da população residente nos concelhos do PIS, em 2001.
Nenhum 1º Ciclo 2º Ciclo 3º Ciclo Secundário Médio Superior Total
Mação 1 715 3 746 1 003 612 884 40 442 8 442
Oleiros 1 669 3 121 591 544 482 20 250 6 677
P.-a-Nova 2 210 3 787 1 056 851 1 063 39 604 9 610
Sertã 3 685 7 092 1 878 1 470 1 805 45 745 16 720
Vila Rei 715 1 591 369 274 307 8 90 3 354
PIS Nº 9 994 19 337 4 897 3 751 4 541 152 2 131 44 803 % 22,3 43,2 10,9 8,4 10,1 0,3 4,8 100,0
Fonte: INE, XIV Recenseamento Geral da População, 2001.
Em 2001 a taxa de analfabetismo no PIS atingia os 19,8%, bastante menos do
que em 1991 (24,5%), continuando, apesar de tudo, a ser a mais alta entre as NUT da
Região Centro. O concelho de Oleiros apresentava a percentagem mais elevada (24%)
10
entre os concelhos do PIS e a segunda mais alta nos concelhos da Região Centro, só
ultrapassada pelo município de Idanha-a-Nova (32%).
Com uma população com tão baixo grau escolar não admira que seja difícil
modernizar a estrutura produtiva do PIS, apesar dos esforços desenvolvidos nas últimas
décadas, através da realização de cursos de formação profissional, de alfabetização de
adultos ou de melhoria do seu grau escolar. Por isso, os maiores desafios que se
continuam a colocar ao PIS são ao nível da educação, da formação profissional, da
reciclagem e da difusão da inovação.
3.2. A debilidade do sector industrial
A estrutura produtiva do PIS tem evoluído consideravelmente nas últimas
décadas, quer ao nível da criação de novas empresas quer de um maior ordenamento do
território, nomeadamente, em consequência da criação de espaços próprios para a
instalação de empresas, vulgarmente designados por “parques industriais” mas
destinados também a armazéns, actividades comerciais e mesmo serviços de apoio às
empresas. Actualmente estão já em funcionamento onze parques industriais e outros
estão já idealizados. Várias unidades industriais de dimensão considerável surgiram na
última década, entre as quais se destacam duas indústrias de madeira de grande
dimensão, instaladas fora dos parques industriais: a Pinhoser no concelho da Sertã e a
AJI (fábrica de paletes) junto à vila de Mação, que têm sido apontadas como bons
exemplos de aproveitamento dos recursos naturais e de criação de postos de trabalho.
A dinâmica empresarial dos cinco concelhos do PIS pode aferir-se através do
número de sociedades constituídas no período 1994 e 2004 (quadro 4) que ascende a
mais de seis centenas, das quais duzentas e cinquenta, localizadas no concelho da Sertã,
o mais populoso e o mais desenvolvido em termos de estrutura produtiva. Pela leitura
do quadro verifica-se que o número de sociedades constituídas no PIS registou uma
tendência crescente até 2001 (coincidindo com o período de expansão dos parques
industriais) mas, de então para cá, regrediu significativamente. Excepção apenas para o
concelho de Proença-a-Nova onde a tendência tem sido crescente desde 1996.
Só no ano 2004, dissolveram-se 39 sociedades, menos uma do que nos sete anos
que medeiam entre 1992 e 1998. Destas, 13 ocorreram no concelho de Mação e outras
tantas no da Sertã, sete em Proença-a-Nova, cinco em Vila de Rei e apenas uma em
Oleiros. Em síntese, apesar da estrutura empresarial do PIS ter crescido na última
década, continua a revelar debilidades consideráveis.
11
Quadro 4. Sociedades constituídas no PIS, entre 1994 e 2003.
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Total
Mação Oleiros P.-a-Nova Sertã Vila de Rei
5 9 6
13 6
14 6
11 20 7
13 9 8
16 8
22 6
17 25 7
11 7
17 35 10
10 5
16 43 8
12 5
22 44 10
34 23 25 52 16
13 12 26 47 4
16 8
27 23 16
150 90
175 318 92
Total PIS 39 58 54 77 80 82 93 150 102 90 825
Fonte: INE, Anuário Estatístico, 1994-2003.
A primeira debilidade diz respeito ao tipo de sociedades que se tem constituído.
Como se pode observar no quadro 5, as sociedades surgidas no âmbito da industria
transformadora representam apenas 11% do total, valor significativamente baixo
quando comparado com as sociedades criadas na categoria “comércio por grosso ou a
retalho e reparação de automóveis, motociclos,...” (24,9%), ou mesmo da construção
civil e obras públicas (19,9%).
Quadro 5. Proporção de sociedades constituídas nos concelhos do PIS, segundo o
tipo de actividade, entre 1997 e 2004.
Descrição da CAE-Rev.2 Mação Oleiros P.-a-Nova Sertã Vila de Rei
PIS
Agricultura produção animal, caça e silvicultura
4,8 5,7 5,4 3,4 0,0 3,9
Indústrias Transformadoras 12,1 8,6 18,9 7,4 9,3 11,0 Construção civil e obras públicas 21,8 17,1 20,3 19,7 20,0 19,9 Comércio grosso/retalho, reparação de automóveis, motociclos e bens uso pessoal e doméstico
22,6 25,7 19,6 27,8 26,78 24,9
Alojamento e restauração 10,5 5,7 6,7 6,8 6,7 7,3 Outras actividades* 28,2 37,2 29,1 34,9 37,3 33,0
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
(*) Não se apresentam dados sobre outras categorias porque muitos valores encontram-se sob segredo estatístico. Fonte: INE, Anuário Estatístico, 1997-2004.
Em termos absolutos, das 712 sociedades surgidas naquele período, apenas 78
foram no ramo da indústria transformadora, enquanto no do comércio e afins, brotaram
177 e 142 na construção e obras públicas.
12
A análise por concelho revela que excluindo a categoria “outras actividades”9, o
ramo do “comércio por grosso e a retalho, reparação de automóveis, motociclos e bens
de uso pessoal e doméstico” foi dominante em todos os concelhos do PIS, mas com
maior expressão relativa nos de Vila de Rei, Oleiros e Sertã, correspondendo,
respectivamente, a cerca de 37,3%, 37,2% e 34,9% das sociedades aí surgidas entre os
anos de 1997 e 2004.
As 78 sociedades constituídas no âmbito da indústria transformadora surgiram
principalmente nos concelhos de Proença-a-Nova (28 sociedades), Sertã (28), e Mação
(15), enquanto nos de Vila de Rei (7) e Oleiros (6) o número foi bastante menor,
revelando a menor importância que aquele sector tem nestes concelhos,
comparativamente aos restantes.
Por outro lado, a debilidade revela-se também na fraca terciarização do sector
industrial, faltando indústrias baseadas no uso de tecnologias de ponta ou de alto valor
acrescentado. No sector das indústrias da madeira, por exemplo, predominam as
unidades de serração e produção de paletes de madeira para a indústria, enquanto as
unidades de produtos finais de maior qualidade, como o mobiliário são raras, e as que
existem não dispõem, por exemplo, do apoio imprescindível de empresas de design
industrial, vitais para a sua sobrevivência e afirmação no mercado concorrencial.
Outra debilidade do sector industrial do PIS é a reduzida dimensão da
generalidade das empresas o que, apesar das vantagens face a situações pontuais de
crise que exijam despedimentos, por exemplo, tem fortes implicações na sobrevivência
das empresas e na sua capacidade de afirmação num mercado concorrencial e cada vez
mais global, nomeadamente, na implementação de estratégias de internacionalização.
Como se pode observar no quadro 6, das 1 111 empresas existentes no ano 2000,
mais de 70% (786) tinha menos de cinco trabalhadores ao serviço e apenas cerca de
12% (131) tinha vinte ou mais empregados. Em relação às 182 empresas da indústria
transformadora que laboraram naquele ano, 68% (123 empresas) tinha menos de 10
trabalhadores e 43% (78) menos de cinco. Apenas sete unidades industriais tinham mais
de 50 operários ao serviço, entre as quais se contavam duas de grande dimensão: a
Sotima, Sociedade de Transformação de Madeira, S.A, em Proença-a-Nova, que
produzia contraplacados de madeira, empregando mais de 270 trabalhadores e a Steiff
9 Onde se integram as categorias “transportes, armazenagem e comunicações”, “actividades financeiras”, “actividades
imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas”, “administração pública, defesa e segurança social obrigatória”, “educação”, “saúde e acção social”, entre outras.
13
Brinquedos, de produção de peluches, na vila de Oleiros, com cerca de 140.
Actualmente, apenas esta última unidade ainda labora após o encerramento da Sotima
— a maior fábrica que laborou no PIS — que já havia encerrado temporariamente por
duas vezes, devido a dificuldades financeiras.
Quadro 6 - Número de empresas no PIS, segundo a sua dimensão (2000). Nº de trabalhadores
Descrição da CAE-Rev.2 1-4 5-9 10-19 20-49 50-99 100-199 ≥200 Total
Agricultura produção animal, caça e silvicultura
84 11 3 98
Indústrias extractivas 1 1 2 Indústrias Transformadoras 78 45 24 28 5 1 1 182 Construção civil e obras públicas 170 63 19 4 256 Comércio grosso/retalho, reparação de automóveis, motociclos e bens uso pessoal e doméstico
238 36 18 5 1 298
Alojamento e restauração 88 9 1 98 Transportes, armazenagem e comunicações
52 1 4 2 1 60
Actividades financeiras 4 1 5 Actividades imobiliárias, alugueres e serviços prestados às empresas
30 5 1 1 37
Adm. Pública, defesa e segurança social obrigatória
1 2 3 1 7
Educação 4 3 3 10 Saúde e acção social 20 10 4 2 2 1 39 Outras actividades de serviços colectivos sociais e pessoais
16 3 19
N 786 188 77 47 10 2 1 1 111 Total % 70,8 16,9 6,9 4,2 0,9 0,2 0,1 100,0
Fonte: Ministério da Segurança Social e do Trabalho, DETEFP.
Predominando as indústrias de muito pequena e pequena dimensões, não admira
que o volume de vendas das empresas do PIS seja relativamente baixo, como se pode
observar no quadro 7.
No mesmo ano, no conjunto da indústria transformadora, mais de metade (55%)
das empresas registaram um volume anual de vendas inferior a 250 mil €uros (50 mil
contos), sendo que, destas, mais de 4/5 não chegaram aos 150 mil €uros. Apenas 41
empresas, de um total de 182 (23%), tiveram vendas superiores a 500 mil €uros (100
mil contos) naquele ano, entre as quais, duas da categoria das “indústrias da madeira e
suas obras”, que venderam o equivalente a mais cinco milhões de €uros (um milhão de
contos), cada uma.
14
Quadro 7. Número de empresas da indústria transformadora, segundo o tipo de
actividade e o volume de vendas em 2000. Volume de vendas (milhares de euros)
Descrição da CAE-Rev.2 Ignorado
<50 50-150 150-250
250-500
500 a1000
1000 a 2400
2400 a 5000
≥5 000 Total
Indústrias alimentares, bebidas e tabaco 3 3 11 6 5 3 5 2 38 Indústria têxtil 4 3 1 2 10 Ind. da madeira e da cortiça e suas obras 4 9 10 4 6 6 3 6 2 50 Ind. papel e cartão e seus artigos; edição e impressão
2 4 3 1 1 11
Fab. prod. químicos e fibras sintéticas/artific.
1 1 1 3
Fabric. artigos borracha e matérias plásticas
1 1
Fab. outros prod. minerias não metálicos 2 4 3 2 2 13 Ind. metalúrgicas de base e prod. metálicos
6 7 15 2 5 1 1 1 38
Fab. máquinas e equipamentos, n.e. 1 1 1 1 4 Fab. de material de transporte 1 1 2 4 Ind. transformadoras não especificadas 2 2 2 2 8
Nº 18 33 48 19 23 15 14 10 2 182 Total % 9,9 18,1 26,4 10,5 12,6 8,2 7,7 5,5 1,1 100,0
Fonte: Departamento de Estatística do Ministério da Segurança Social e do Trabalho .
Apesar de entre as indústrias com volume de vendas mais elevado se
encontrarem as “indústrias da madeira e suas obras”, a maior parte delas apresenta um
volume de vendas relativamente baixo, o que revela uma grande diferenciação do sector
que inclui desde algumas serrações tradicionais às modernas fábricas de madeira para
exportação: 38% das empresas tiveram vendas anuais inferiores a 150 mil €uros nesse
ano, enquanto duas superaram os cinco milhões de €uros. Com volumes de vendas
também elevados (acima de 2,5 milhões de €uros), contam-se, para além de oito
indústrias deste tipo, duas “indústrias alimentares e de bebidas”, uma indústria de
“papel, cartão e seus artigos, edição e impressão” e outra do grupo das “metalúrgicas de
base e de produtos metálicos”, o que quer dizer que, entre as indústrias com maiores
volumes de vendas, se encontram empresas com actividades diversas. De acordo com
dados do INE, referentes não apenas à indústria transformadora, dezanove empresas do
PIS exportavam os seus produtos para países da Comunidade Europeia e dez para países
extra-comunitários, atingindo no ano 2000, um volume de vendas, respectivamente, de
21,2 e 0,7 milhões de €uros.
O sector da indústria transformadora apresenta-se também pouco diversificado
faltando, nomeadamente, indústrias de transformação dos produtos locais, com
15
particular destaque para a transformação final de produtos florestais. É certo que o
número de “indústrias da madeira” é elevado, mas limitam-se, quase exclusivamente, a
unidades de serração para produção de tábuas em bruto destinadas à exportação ou à
produção de paletes de madeira para a indústria. Como nos fez notar um industrial de
Oleiros, é curioso, que havendo naquele concelho um potencial de produção florestal
tão grande, não seja possível aí adquirir uma aduela para porta ou janela, ou mesmo
uma simples tábua de pinho afagada, sucedendo o mesmo nos concelhos de Mação e
Vila de Rei, com excepção de uma ou outra pequena carpintaria que labora, quase só
com madeiras importadas. As únicas unidades de produção de mobiliário localizam-se
no concelho da Sertã e, mesmo estas, dão preferência à madeiras de outras
proveniências.
Outro exemplo no concelho de Proença-a-Nova, onde a fruticultura está bem
implantada através de extensos pomares de cerejeiras, não existe qualquer unidade de
transformação do produto, como produção de compota ou de fruta em calda, por
exemplo, deixando à mercê dos intermediários a venda de um produto de excelente
qualidade e com possibilidades de ser incrementado. Em situação de certo modo
equivalente encontra-se o aproveitamento do fruto do medronheiro (Arbutus unedo),
ericácea espontânea que floresce maioritariamente nos matos e pinhais das vertentes
íngremes do concelho de Oleiros e parte norte do de Proença-a-Nova, sem que lhe
dediquem quaisquer cuidados ou tratamentos. A feitura de aguardente de medronho —
cuja procura excede em muito a capacidade de produção — continua por incrementar,
cabendo actualmente a produtores familiares uma parte significativa da produção obtida
em pequenos alambiques caseiros, para além da de uma pequena destilaria na freguesia
de Madeirã (Oleiros). Faltará, neste caso, estimular o incremento da produção do
medronho e certificar o produto final, o que lhe dará maior projecção no mercado.
Por outro lado, também não nos podemos esquecer da fraca formação escolar e
profissional da maioria do pessoal ao serviço nas empresas e da população activa em
geral, o que constitui uma limitação, principalmente ao desenvolvimento das empresas
que requerem maior qualificação da mão de obra.
Os últimos dados a que tivemos acesso (2000) indicam que embora seja
reduzido o número de indivíduos com o ensino básico (antiga 4ª classe), quase 46%
frequentou, no máximo, seis anos de escola e apenas catorze em cada 100 indivíduos
frequentou o ensino secundário ou tirou um curso de bacharelato ou superior (quadro 8),
o que constitui uma grande desvantagem para o desenvolvimento de uma qualquer área
16
Quadro 8. Habilitações escolares do pessoal ao serviço nos estabelecimentos do PIS, em
2000. Ignorada Ensino
básico 1º Ciclo 2º Ciclo 3º Ciclo Ensino
Secund. Bacharelato Licenciat. Total
Nº 173 145 2 995 1 517 1 058 749 59 162 6 858
% 2,5 2,1 43,7 22,1 15,4 10,9 0,9 2,4 100,0
Fonte: Ministério da Segurança Social e do Trabalho.
Embora tenhamos enunciado apenas os problemas principais com que se debate
a estrutura produtiva da “região”, e o sector industrial em particular, muitos outros
problemas lhe estão associados, tais como a dificuldade em acarinhar algumas
iniciativas, a peia burocrática na constituição de empresas, o receio dos empresários em
correr riscos e o fraco espírito empreendedor dos detentores de capital, nomeadamente
dos emigrantes.
Com o aumento do número de empresas instaladas nos parques industriais, e a
necessidade de ampliação de alguns deles, poder-se-ia pensar, à primeira vista, que o
sector industrial no PIS se desenvolveu consideravelmente. É certo, como vimos, que se
têm criado novas empresas, algumas de certa dimensão, mas a venda de lotes nos
parques industriais, tem-se destinado, em grande parte, à instalação de armazéns de
revenda (materiais de construção, por exemplo), pequenas oficinas de reparação
automóvel, empresas de montagens de estruturas metálicas, de construção civil ou
mesmo de prestação de serviços. Em síntese, a maioria dos parques industriais não são
propriamente locais de implantação de indústrias, no verdadeiro sentido do termo, nem
têm proporcionado o necessário aumento de postos de trabalho, que garantam a fixação
da população existente nem a atracção de novos residentes, embora constituam pólos de
crescimento e desenvolvimento nos concelhos em que se inserem.
4. A valorização do PIS
Durante as últimas décadas, o PIS e o meio rural em geral, têm vindo a ser cada
vez mais procurados por cidadãos nacionais, residentes em meios urbanos. O frenético
ritmo citadino onde o tempo livre é escasso, as deslocações diárias casa-trabalho-casa
difíceis, os ambientes de trabalho artificiais, entre outros, geram, naturalmente, desgaste
físico, problemas psicológicos, má qualidade de vida... Aqui, encontram o ambiente ideal
17
para retemperar forças, repousar o espírito, ou, simplesmente, para uma aproximação à
natureza com tudo o que lhe está associado (sossego, saúde, beleza natural, recreio, etc.).
Por isso, um número crescente de famílias tem comprado casas antigas
desabitadas e, os que podem, mandam construir a seu gosto, às vezes em locais ermos
com os quais não tinham qualquer ligação. Para tal, muito tem ajudado o desafogo
económico de algumas classes sociais, a que outros factores se juntam, nomeadamente, a
melhoria das vias de comunicação (principalmente das vias estruturantes de acesso aos
grandes centros urbanos, que encurtam os tempos de deslocação), a generalização de
infra-estruturas básicas (como água canalizada, esgotos, recolha de lixo, etc.), e a
diversificação de estruturas de apoio à cultura e ao lazer, a par da afirmação crescente das
autarquias às várias novas necessidades que vão surgindo.
A aposta na exploração das potencialidades nos concelhos do PIS é
relativamente recente, tendo decorrido a fase de maior expansão durante os anos 90.
Mas, antes de apostarem nessa valorização, as autarquias tiveram, necessariamente, de
resolver primeiro alguns problemas urgentes, como a melhoria das vias rodoviárias e as
infra-estruturas de saneamento básico, o apoio social (Lares de Idosos e Centros de Dia)
e a melhoria dos equipamentos escolares e de saúde, por exemplo, de que tanto
careciam. Uma vez resolvidos os problemas principais, iniciou-se um ciclo novo e
alguns resultados positivos são já visíveis (auditórios, bibliotecas, piscinas municipais,
etc.).
Sem quaisquer pretensões de querer valorizar uns aspectos em detrimento de
outros nem tão pouco de pretender ser exaustivo na análise, indicam-se algumas das
mais valias dos concelhos do PIS, umas já em aproveitamento, outras ainda como
potencial a aproveitar.
Como se depreende da terminologia atribuída à NUT que aqui estudamos
(Pinhal Interior Sul), a principal valia dos concelhos que a integram é a sua aptidão
florestal. Porém, os grandes incêndios que, nas últimas décadas, têm fustigado as áreas
arborizadas transformaram-na numa floresta onde rareiam as árvores de maior porte,
apesar da sua capacidade de regeneração. Surgem assim, manchas intermitentes de
pinhal intercaladas por matos e outras espécies como o eucalipto (de crescimento muito
mais rápido), que se tem difundido significativamente pelas acções de repovoamento
florestal, após os incêndios. Por outro lado, e na sequência dos fogos que lavram com
grande frequência na época estival, tem-se assistido a mudanças profundas nas espécies
dominantes que constituem o estrato arbustivo, com claro benefício para a esteva
18
(Cistus ladanifer), mais resistente ao fogo, que se tem desenvolvido consideravelmente,
em detrimento de outras espécies mais vulneráveis, como a carqueja (Chamaespartium
tridentatum), o rosmaninho (Lavandula luisieri), ou as variedades de urze (Erica spp.).
O ex-libris por excelência do PIS é a sua centralidade geográfica, assinalada
desde 1802 pelo picoto da Milriça (593 metros) que indica o centro geodésico de
Portugal continental. Tal facto levou a autarquia de Vila de Rei a construir aqui o
Museu de Geodesia, único a nível nacional, que inclui algumas peças valiosas vindas do
Instituto Português de Cartografia e Cadastro (IPCC). O objectivo é a sua integração na
rede europeia de autarquias com centros geodésicos nacionais, que decerto ajudará à
divulgação turística do local. Se do cimo desta elevação se vislumbra “...uma paisagem
soberba que se estende por muitos quilómetros de extensão, desde os píncaros da
Estrela e da Lousã até às planícies alto-alentejanas e às lezírias do Ribatejo...”10, para
além dela muitos outros locais permitem vistas panorâmicas de rara beleza, e porventura
ainda mais grandiosas, uns pela sua altitude, outros pela diversidade da paisagem. Entre
os principais contam-se: no concelho da Sertã, o Cabeça da Rainha (1 084 metros) — o
ponto de maior altitude de toda a NUT — e o Monte da Senhora da Confiança (478 m.),
junto à barragem do Cabril; no de Mação, o Bando dos Santos (643 m.); no de Proença-
a-Nova, o Cabeço das Corgas (904 m.), Santo António (607 m.) e a crista quartezítica
da Serra das Talhadas; no concelho de Oleiros, Besteiras (1 080 m.) e Lontreira (1 038
m.), ambos na Serra do Cabeço Rainho, além de vários pontos culminantes nas
freguesias limítrofes à albufeira do Cabril: Cabril (641 m.), Abitureira (671 m.), Mouro
(659 m.) e Sobral (492 m.).
Para além da beleza natural da paisagem, o PIS destaca-se também pela
excelente qualidade ambiental, devido não só à presença da extensa mancha verde mas,
principalmente, pela inexistência de indústrias muito poluidoras. Por estas razões, se
tem apelidado o concelho de Mação como “o concelho dos três às” (“bons ares, boas
águas e bons azeites”11) mas que, do ponto de vista das condições ambientais, em geral,
nenhum outro concelho desta NUT se lhe diferencia.
O Verão é, por excelência, a época do ano em que as aldeias se enchem de gente
nova, nomeadamente com a chegada dos emigrantes que aqui vêm passar parte das suas
férias. Em tempos idos, mas ainda recentes, para os mais novos e também para os que
10 In Jornal Expresso, Dossier Serra da Estrela, 21 de Dezembro de 2002, p.78. 11 Destacando também um dos seus produtos agrícolas de excelente qualidade, apesar de nas últimas décadas o olival
ter entrado em forte decadência.
19
gostam de praia, os concelhos da área de estudo pouco tinham para lhes oferecer, além
de um ou outro aproveitamento nas albufeiras envolventes. Aos que ficavam, ouvia-se
dizer, com frequência: “...aqui não há nada para passar o tempo...”. Para contrariar esta
limitação, as várias autarquias implementaram projectos alternativos às praias do litoral,
que constituem hoje uma verdadeira opção ao tradicional turismo balnear e têm enorme
aceitação. Nas várias linhas de águas que atravessam os cinco concelhos do PIS,
contam-se já mais de duas dezenas e meia de praias fluviais, algumas delas equipadas
com infra-estruturas de apoio de grande qualidade. Entre elas, destacam-se três praias
vigiadas no concelho de Proença-a-Nova (Aldeia Ruiva, Fróia e Malhadal),
consideradas “as três estrelas do concelho”, além de outras duas já em funcionamento
(Sobral Fernando e Cova do Alvito) que, espera-se, possam vir a ser igualadas às
primeiras. A sua importância e qualidade podem medir-se pela comparação dos
resultados em concursos com outras congéneres: em 1997, no Prémio Nacional do
Ambiente — Área de Autarquias, a praia de Aldeia Ruiva ficou classificada em 2º lugar
(ex aequo com a autarquia de Cascais), e a da praia da Fróia foi considerada um dos
“dez melhores projectos no Prémio Internacional do Ambiente, promovido pela
Associação de Agências de Viagens da Alemanha” (FARIA, D. et al; 2001:65).
Para além da natação, também se pode praticar pesca, canoagem e outros
desportos de aventura; e para os que queiram evitar muitas emoções, resta o parque de
campismo de Aldeia Ruiva, onde estão instalados alguns bungalows, bar, restaurante,
sala de convívio e campo de jogos.
Nos restantes concelhos do PIS também não faltam praias fluviais aproveitando
quer as águas límpidas das ribeiras quer tirando partido das várias albufeiras existentes.
Em Oleiros encontramo-las próximo da vila (no Açude Pinto), na freguesia de Vilar
Barroco (em Póvoa da Ribeira e junto à sede de freguesia, ambas na ribeira da
Zimbreira), em Cambas, além de outras localizadas nas margens da albufeira do Cabril
(Álvaro, Sobral e Madeirã). No concelho da Sertã, além da piscina municipal, existem
praias fluviais junto à sede de concelho e nas freguesias de Ermida, Marmeleiro e
Várzea dos Cavaleiros; em Palhais, aproveitam-se as excelentes condições naturais da
albufeira do Castelo do Bode. No concelho de Vila de Rei existem várias praias junto às
águas da mesma albufeira (Alcamim, Fernandaires e Zaboeira), a do Penedo Furado na
ribeira de Codes, do Pego das Cancelas na ribeira da Isna (freguesia de S. João do Peso)
e a do Bostelim, na ribeira com o mesmo nome; mais para Sul, no concelho de Mação,
20
uma no Carvoeiro e outra junto à barragem da Ortiga, no Tejo, tendo a vila uma
excelente piscina municipal.
De entre os exemplos referidos, destaca-se o Clube Náutico do Trísio (Palhais-
Sertã), devido às excelentes condições de situação e à sua muito diversificada oferta,
tanto para a prática de desportos náuticos (vak board, ski aquático, vela, winsurf,
canoagem, natação, mergulho, jet ski...), de actividades em terra (ginásio, trampolim,
voleibol, ping-pong, ténis, basquetebol,...) ou de jornadas em grupo (bicicleta todo-o-
terreno (BTT), escalada, caminhada, snow board, body board, surf e para siling).
Mas se vários concelhos do PIS têm excelentes condições para vivificar a
natureza, existem muitos outros motivos de interesse onde as autarquias deveriam
apostar e que tardam em ser aproveitados.
O concelho de Mação destaca-se quanto ao património arqueológico; aí onde
abundam vestígios da pré e da proto-história, nomeadamente, muralhas de “castelos”12,
dólmenes (antas) nas freguesias de Cardigos, Envendos, Mação e Ortiga (a maior parte
já destruídos); muitos destes achados foram reunidos no museu Dr. João Calado
Rodrigues, em Mação. Fora do Museu, estão ainda por criar as condições para que os
principais locais históricos possam ser visitados condignamente. Entre eles, dois sítios
de visita obrigatória: um, a estação arqueológica de Vale do Junco (Ortiga), onde se
encontraram fósseis e relíquias arqueológicas datadas de 1000 anos a.C. e um espólio
que indica a presença de uma indústria de produção de utensílios agrícolas; o outro, o
famoso castro proto-histórico de S. Miguel, na serra da Ladeira (freguesia de Amêndoa
- Mação13) que, pensa-se, datará de cerca do ano 350 a.C. e que poderá ter sido habitado
até ao século VII da nossa era, a julgar pelo cinturão visigótico aí encontrado.
Infelizmente, continua hoje totalmente ao abandono tal qual se lhe referiu M. A.
PEREIRA, em 1970, p.240: “...o estado actual das ruínas é deplorável, invadidas pelo
mato e pelos pinheiros, desmanteladas pelos temporais de Inverno, soterradas muitas
das casas pelo entulho saído das escavações, o qual nunca foi removido...”
Vestígios de antigos castros foram também encontrados noutros concelhos,
nomeadamente, em Cabeço Mosqueiro e em Cabeça Murada (Orvalho - Oleiros), e no
12 Designação aplicada a antigos povoados com características castrejas, de que são exemplos o Castelo Velho do
Caratão (Mação), do Vale do Grou, de Vilar da Lapa ou de Zimbreira, (Envendos), de Palheirinhos (Amêndoa), do Santo (Cardigos), da Pracana Cimeira (Carvoeiro), entre outros.
13 Localizado no limite administrativo dos concelhos de Mação e Vila de Rei, este achado arqueológico tem sido motivo de acesa discussão entre as duas autarquias que reivindicam a sua posse territorial.
21
castro do Cerro da Seada (Vila de Rei), cujas escavações recentes apontam para a Idade
do Bronze.
De épocas mais recentes, destaque para o que resta do Castelo da Sertã,
construído nos inícios da Idade Média, uma estação arqueológica em Longra
(Marmeleiro), com vestígios da época romana, e para inúmeras pontes romanas
dispersas pelos cinco concelhos: três no concelho de Mação (sobre as ribeiras de Isna,
Coadouro e Pracana), três no da Sertã (uma em Marmeleiro, a “Ponte dos três
concelhos” que já mereceu uma referência numa publicação do I.P.P.A.R. e está
classificada como imóvel de interesse público, outra em Pedrógão Pequeno, e uma
terceira na freguesia da Sertã), duas no concelho de Proença-a-Nova (uma no Malhadal
e outra em S. Pedro de Esteval, ligando esta povoação ao concelho de Mação), duas em
Álvaro - Oleiros (na ribeira de Alvelos e na ribeira da Gaspalha) e uma em Fundada,
concelho de Vila de Rei.
No concelho de Vila de Rei, um dos achados mais importantes são as
“conheiras”, antigas explorações mineiras a céu aberto, “... com dimensões que podem
atingir os 200-500 m de extensão superficial por 10-20 m de profundidade de
escavação (...). Segundo se pensa, serviram para a extracção de ouro, por lavagem da
matriz arenosa dos conglomerados. Mas, não se sabe se foram iniciadas durante a
ocupação romana da Península, retomadas em épocas medievais, ou apenas
trabalhadas neste período da História... (BARBOSA, B. et al.; 1998:G34). Localizam-
se a cerca de 6 Km a Sul de Vila de Rei14, ao longo das ribeiras de Codes e de
Fradogoso e próximo das povoações de Milreu e Lousa, estendendo-se por uma área de
cerca de 5x2Km. Segundo os investigadores (Id., p.35) é de supor que estas “conheiras”
sejam “...comparáveis às «moraceiras» do vale de Duerna...” em Astorga (Léon -
Espanha), pelo que são necessários estudos mais aprofundados e especializados com
vista à sua datação e melhor caracterização. Infelizmente, e como os mesmos
investigadores referem “...a formação de socalcos e a surriba dos terrenos, para o
cultivo de eucaliptos, a par da procura dos blocos para a construção civil e fabrico de
britas, têm vindo a destruir algumas destas antigas cortas mineiras. Elas deviam, em
nosso entender, constituir um património arqueológico-mineiro, a exemplo das suas
prováveis congéneres situadas em Espanha e serem devidamente estudadas, quer sobre
o ponto de vista arqueológico quer mineiro, enquanto for tempo”.
14 Embora estas sejam as mais extensas, também se encontram conheiras no concelho da Sertã, próximo da albufeira
do Zêrere, em Almegue, Sambado e Várzea de Pedro Mouro.
22
No concelho de Proença-a-Nova destacam-se as estruturas militares da Serra das
Talhadas, perto da ponte do Alvito e da ponte da Fróia, que fazem parte de um conjunto
de defesa mais vasto em território nacional, que se prolonga pelo concelho de Vila
Velha de Ródão. Sendo esta crista quartzítica um obstáculo natural aos exércitos
invasores, as estruturas aí instaladas (fortes e baterias15), “...tinham como objectivo
impedir ou retardar esse avanço e foram construídas nos sítios onde a serra era de
mais fácil transposição, devido à existência de passagens naturais servidas por vias de
comunicação principais...” (HENRIQUES, F. et al; 2002:49). Estudadas há já algumas
décadas, e em completo estado de abandono, são consideradas de “...manifesto interesse
patrimonial e constituem importantes documentos materiais da história militar da Beira
Baixa. [Por isso, os especialistas julgam] (...) pertinente atribuir a estas construções o
estatuto de património arqueológico e a sua integração nos inventários do património
municipal...” (Id. :53). Por aqui passaram os soldados de Loison, aquando da primeira
invasão francesa (Novembro de 1907), e em localidades próximas travaram-se duras
batalhas entre as tropas luso-britânicas e os invasores. Por isso, esses testemunhos da
História poderão, de futuro, tornar-se um dos pontos de “visita obrigatória” a constar
nos roteiros da “região”.
Como as autarquias estão empenhadas em dar a conhecer e valorizar as
características das suas terras, por isso estão patrocinando também vários eventos de
mérito como feiras/mostra anuais: a “Feira de Enchidos, Queijo e Mel”, em Vila de Rei,
que já vai na sua XVIIa edição, a “Feira Mostra de Artesanato, Gastronomia e
Actividades Económicas do concelho de Mação”, na XVa edição e a “Feira do Pinhal”,
em Oleiros, na VIIIª edição. Elas são, sem dúvida, o rosto da capacidade e da iniciativa
da “região” e um dos seus principais meios de afirmação local e regional, onde os
comerciantes têm uma oportunidade extra de exporem e venderem os seus produtos. E
há também as feiras e as festas anuais (religiosas ou não) que são sobretudo momentos
de encontro e de reencontro das gentes locais com os que vêm de fora, nomeadamente
os emigrantes em férias.
A par destas iniciativas, continuam a realizar-se, periodicamente, vários outros
eventos culturais e desportivos que merecem destaque nos roteiros de animação cultural
dos vários concelhos. É o caso do passeio turístico todo-o-terreno “Trilhos do Pinhal”,
15 Fortes são “...construções de planta rectangular ou trapezoidal constituídas por um muro e/ou aterro, envolvido por
um fosso escavado no solo...” (Id.49). A bateria é definida como sendo “...uma plataforma, geralmente coberta, onde é disposto um certo número de bocas de fogo de artilharia. Pode ser abobadada (casamata), tipo barbeta ou ter qualquer outra estrutura...”. in A. Pires NUNES (1991), citado em HENRIQUES, F. et al (2002:49).
23
no concelho de Proença-a-Nova, já na sua XIIIª edição, dos “Encontros de Parapente”
na Serra do Bando, dos Campeonatos Nacionais de Autocross e de Kartcross na Pista da
Boavista, no concelho de Mação, ou das Provas de Motonáutica nas várias albufeiras. E
estes acontecimentos, por si mesmos, para além de serem um atractivo aliciante,
contribuem com benefícios directos para o comércio e restauração locais, sendo
excelentes meios de divulgação das potencialidades da “região”, que até agora pouco ou
nada têm sido postas em destaque.
Contudo, as estruturas de apoio aos visitantes sempre foram escassas e de
reduzida capacidade de alojamento, limitando-se a duas ou três pensões e um ou outro
estabelecimento autorizado, cuja capacidade máxima foi diminuindo ao longo da década
de 90, de mais de centena e meia de indivíduos em 1991, para cerca de uma centena no
ano 2000 (Quadro 9). Nos primeiros anos deste novo século a situação melhorou
significativamente, mais que duplicando a capacidade de alojamento disponível, pois
entraram em funcionamento três unidades hoteleiras, das quais duas localizadas no
concelho da Sertã e uma em Vila de Rei; são elas: o Hotel Varandas do Zêzere, junto à
barragem do Cabril (Pedrógão Pequeno - Sertã), a Estalagem do Vale da Ursa junto às
águas da albufeira de Castelo do Bode (Cernache do Bonjardim-Sertã) e a albergaria D.
Dinis, em Vila de Rei, com uma capacidade de alojamento, respectivamente, de 51, 17 e
17 quartos.
Quadro 9. Número de estabelecimentos hoteleiros, quartos e capacidade de alojamento
no PIS, entre 1991 e 2003.
1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003
Nº de estabelecimentos 4 4 4 4 3 4 4
Nº de quartos disponíveis 87 62 62 61 49 100
Capacidade de alojamento 166 126 117 119 93 120 212
Fonte: INE, Anuários Estatísticos, 1992-2003
Em Oleiros e Proença-a-Nova não existia nenhuma unidade de alojamento
equivalente o que obrigava os visitantes a pernoitar em pequenas pensões ou a ter de se
deslocar para os concelhos vizinhos. Para colmatar esta lacuna surgiu em Proença-a-
Nova, a “Estalagem das Amoras”, classificada com quatro estrelas com uma suite, 32
quartos duplos, campos de ténis, piscina, etc., num investimento superior a 2,5 milhões
de euros; paralelamente, o turismo de habitação e turismo rural começam a dar os
primeiros passos estando já em funcionamento várias unidades, tanto no concelho de
24
Mação (Ortiga), como nos da Sertã (Marmeleiro, Nesperal) e Vila de Rei (Vale das
Casas e Água Formosa).
Nos últimos anos, vários equipamentos têm sido colocados à disposição dos
visitantes e da população residente, nomeadamente, piscinas municipais, em Mação,
Proença-a-Nova16 e Sertã, Escola de Equitação na Quinta do Cerejal, em Sobreira
Formosa, campo de tiro das Naves, em S. Pedro do Esteval, Auditório Municipal /
Cinema e nova biblioteca de Proença-a-Nova17. Entre as apostas inovadoras mais
recentes e de inegável sucesso destaca-se o Centro de Pára-quedismo Skydive-Portugal,
localizado no Aeródromo das Moitas (Proença-a-Nova). Inaugurado apenas em Junho
de 2001, é uma das poucas escolas de formação de pára-quedistas do país. Surgiu da
iniciativa de uma empresa alemã, atraída pelas excelentes condições físicas (boa pista
de aviação, utilizada apenas para combate a fogos florestais, fraco desnível do terreno,
beleza de paisagem,...) e climáticas (correntes térmicas constantes, boa visibilidade, ...)
daquela área. “...Com mil metros de extensão e um edifício de apoio, a pista das Moitas
está equipada com uma zona de saltos, uma faixa lateral à pista com cem metros de
profundidade e um hangar para albergar pelo menos dois aviões...” (FARIA, D. ,
GRILO, E.; 2001:75). Gerou a criação de alguns postos de trabalho e dinamizou o
comércio local constituindo, desde o início, um ponto de encontro quase obrigatório aos
fins de semana ou nas férias, não apenas para os amantes deste desporto mas para todos
quantos gostam de ver no céu os coloridos pára-quedas e as acrobacias dos pára-
quedistas. Para os mais corajosos existe também a possibilidade de efectuar um salto
inesquecível com o instrutor (“salto tandem”) ou inscrever-se no curso de pára-
quedismo18...
Junto à pista de aviação construiu-se já Centro de Ciência Viva (ainda não
inaugurado). Subordinado ao tema geral “Floresta e Ambiente”, será composto por
quatro módulos integrados: “a floresta como fonte de vida”, “a floresta como fonte de
riqueza”, “a floresta como fonte de bem-estar” e “a floresta como fonte de
conhecimento”. “...Para dar continuidade aos módulos que integram o Centro, está
prevista no parque exterior, e para que os visitantes possam experimentar eles mesmo
como fazer mel, rebuçados, bolos, lápis, papel, entre outros produtos da floresta, a
16 A piscina aquecida de Proença-a-Nova está equipada com jacuzi, sauna e banhos turcos e unidade de recuperação
física. 17 Um dos concelhos que mais tem evoluído. 18 Após um período de encerramento com a saída do empresário alemão parece retomar novamente a sua actividade, nomeadamente nas variantes Salto tandem (para o público em geral), Curso de Abertura Automática e Curso de Queda Livre, além de Cursos de formação especializada para pára-quedistas.
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instalação de uma fábrica de cartão, uma fábrica de papel, uma estação de tratamento
de águas residuais, (...) tudo em versão mini, para além de uma torre de vigia, um
circuito paddy-paper, um viveiro e estufa, estacionamento, parque de merendas e área
de lazer, com anfiteatro ao ar livre...”19.
Em síntese, o progresso registado nas últimas décadas tem tornado o PIS uma
área cada vez mais atractiva, tanto para as pessoas que aqui residem, como para os que,
vivendo noutras áreas, reconhecem o que se tem feito e as suas mais valias. O sucesso
da valorização desta NUT passará, decerto, pela diversificação e complementaridade
das ofertas nos vários municípios mas, sobretudo, pela aposta na especificidade e na
qualidade, valorizando naturalmente os recursos endógenos e o ambiente que já são uma
das suas imagens de marca. Actualmente, estão já criadas as condições mínimas
necessárias para que os concelhos do PIS sejam atractivos, não apenas para os que o
visitam, como para os que aqui vivem e para os que desejem regressar à sua terra. Falta,
porém, entre outras coisas, diversificar, inovar e criar mais emprego, sem as quais, a
população residente continuará a diminuir e a envelhecer...
5. As estratégias autárquicas
As estratégias de “sobrevivência”/desenvolvimento dos concelhos do PIS,
expressão que dá título a esta comunicação, apesar de diversificadas parecem cada vez
mais basear-se numa premissa fundamental, ainda que não admitida abertamente: a do
interesse da consolidação da respectiva sede de concelho e de uma ou outra sede de
freguesia, em detrimento claro da generalidade dos restantes lugares. Vários factores
têm contribuído para que esta situação, umas da responsabilidade das autarquias, outras
de políticas de âmbito mais geral, de vários ministérios, nomeadamente dos Ministérios
da Educação e da Saúde.
Durante os trinta anos de período democrático, mas sobretudo nas décadas de 80
e 90 do século findo, as autarquias fizeram avultados investimentos na generalidade dos
lugares que administrativamente lhe pertencem, alguns deles questionáveis do ponto de
vista da aplicação de recursos escassos em lugares de reduzida dimensão e acentuada
queda demográfica. Tudo parecia indicar que a estratégia das autarquias assentava numa
base de desenvolvimento extensivo a todo o seu território, independentemente da
19 In Suplemento Gazeta do Interior, 13 Julho 2000.
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dimensão dos lugares, da sua população residente e das suas potencialidades, por forma
a criar condições mínimas de dignidade a todos os munícipes. Muito se investiu em
domínios como a pavimentação e melhoria de estradas, em redes de saneamento básico,
de abastecimento domiciliário de água, de apoio a pequenas colectividades culturais,
etc..
Todos esses esforços meritórios no sentido de melhorar a qualidade de vida dos
munícipes desses lugares, grande parte deles em acentuado declínio demográfico desde
a chegada dos “retornados” parecem fazer cada vez menos sentido, em virtude das
mudanças que têm vindo a ocorrer desde, pelo menos, a segunda metade da década de
90.
Em primeiro lugar devido a imposições legais, nomeadamente restrições
impostas pelos Planos Directores Municipais, em muitos casos injustas e difíceis de
explicar. Conhecemos várias situações de interdição de novas construções fora dos
apertados perímetros definidos, dificilmente explicáveis a não ser “porque o plano
assim o define”. Por esta e outras razões, muitos têm optado por se fixar na sede de
freguesia ou sede de concelho mais próxima, em detrimento dos seus locais de origem,
onde se criaram infra-estruturas dispendiosas que cada vez menos pessoas utilizam.
O segundo grande contributo decorre da criação dos parques industriais
(indústrias, armazéns e afins) na década de 90, quase todos localizados nas sedes de
concelho. O exemplo mais paradigmático é o do concelho de Vila de Rei com dois
parques industriais na vila e um terceiro nas suas imediações, a Sul, enquanto nas suas
duas freguesias rurais, a Norte, não houve qualquer investimento desta natureza.
Algumas indústrias dispersas têm mesmo vindo a ser convidadas a transferirem-se para
os parques industriais onde as condições parecem ser mais aliciantes, e com elas os
empregados, cada vez mais sujeitos a deslocações diárias ou a transferirem-se para
próximo dos seus locais de emprego.
Outro grande contributo para o fortalecimento das sedes de concelho adveio do
encerramento de inúmeras escolas do Primeiro Ciclo e da criação das denominadas
Escolas Básicas Integradas, à semelhança do que tem ocorrido um pouco por todo o
País e decerto irá continuar20, concentrando os alunos de várias freguesias numa só
escola.
20 Informações recentes dão conta da previsão de encerramento de mais 900 escolas em Portugal, no próximo ano lectivo 2007-2008.
27
Cada vez mais, emigrantes regressados com filhos em idade escolar, jovens em
início de vida familiar, entre outros, tendem a transferir-se para as sedes de concelho,
por forma a facilitar a vida escolar dos seus filhos, sujeitos diariamente a deslocações
consideráveis e às vezes morosas. Não constroem nos pequenos lugares, as casas que aí
entretanto herdam vão encerrando por morte dos seus ocupantes, as propriedades
abandonadas,..., num ciclo que parece interminável e agudizante.
Para os mais velhos, dependentes e carenciados de serviços de saúde, estar na
sede de concelho representa quase sempre estar mais próximo do médico, do
hospital/centro de saúde e da farmácia, tanto mais que o acesso a estes serviços fora das
sedes de concelho tem piorado significativamente; onde há dez ou quinze anos o clínico
geral se deslocava duas ou três vezes por semana para dar consulta, actualmente vai
apenas uma vez, de quinze em quinze dias ou já deixou de ir. Quando vai tem uma
longa fila de doentes, que aí chegou várias horas antes, na esperança de poder ser
atendido desta vez... E quem diz o médico diz o carteiro. Efectivamente, até a
distribuição de correio, diária em quase todos os lugares há cinco anos, chega a alguns
deles apenas duas ou três vezes por semana. E tudo isto apesar da significativa melhoria
da rede rodoviária...
6. Nota final
A principal riqueza do PIS era a floresta, mas os incêndios das últimas décadas
destruíram-na quase por completo. Agora, pouco mais resta do que esperar que de ora
em diante o fogo não torne a destruir o que a natureza leva décadas a repor. Mérito
neste aspecto para o Município de Mação que, apesar das calamidades que os incêndios
lhe têm causado, tem feito avultados investimentos na protecção da floresta,
recentemente reconhecidos com a atribuição do Prémio El Batefuegos De Oro 2006 em
Madrid.
A falta de emprego é o problema principal do PIS. Os solos são
predominantemente pobres e por isso mais aptos para a produção florestal. A agricultura
não é um sector viável, com excepção de algumas áreas de aptidão frutícola. A indústria
transformadora, apesar do progresso registado na última década é claramente
insuficiente. As indústrias da madeira têm cada vez menos condições para laborar e a
sua matéria-prima tem de vir de outras regiões. A especialização industrial e o emprego
escasso.
28
Os serviços têm importância crescente sobretudo pela proliferação de Centros de
Dia /Apoio à Terceira Idade, espalhados por inúmeros lugares, e com procura muitas
vezes superior à oferta. Esta parece ser a grande aposta da autarquia de Vila de Rei que,
em parceria com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa tem vindo a construir junto à
sede de concelho, Lares de Terceira Idade para receber idosos de fora do concelho,
numa tentativa de contrariar a queda populacional, criar emprego e fomentar a
economia local.
A Sertã, com maior tradição e importância do tecido empresarial parece apostar
cada vez mais no desenvolvimento dos seus parques industriais e no fortalecimento de
serviços ligados com a actividade de vários ministérios, nomeadamente com os das
áreas da agricultura, da educação e da saúde. Proença-a-Nova parece apostar no turismo
(ex: Centro de Pára-quedismo) e na área cultural (Centro Ciência Viva) tal como
Oleiros (Centro Cultural do Pinhal).
Quaisquer que sejam as apostas dos vários municípios do PIS, o sucesso de cada
um deles, decerto dependerá mais da especificidade e da complementaridade do que da
rivalidade que entre si criarem. Assim o sejam capazes...
7. Bibliografia
BARBOSA, B.; MARTINS, A. A., REIS, R. P. (1998) - “As «conheiras» de Vila de
Rei (Portugal Central)” in Comunicações. Actas do V Congresso Nacional de
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região de Ródão-Proença). Vila Velha de Ródão: Assoc. de Estudos do Alto Tejo
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29
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Similada do original de 1930, patrocinada pela Câmara Municipal da Sertã, 200p.
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Caracterização sócio-económica. Principais estrangulamentos produtivos e de
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MARTINS, F. R. (1997) - A evolução de uso do Solo no concelho de Mação: O
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— (1992 - 2006) - Anuário Estatístico. Lisboa: INE.
Imprensa
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Jornal Público, 8 Out. 2001
Suplemento Gazeta do Interior, 13 Julho 2000.
Voz da minha terra (Mensário).
O concelho de Proença-a-Nova (Quinzenário).
A comarca da Sertã (Semanário).
Gazeta do Interior (Semanário).
Expresso do Pinhal (Semanário).
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