View
215
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
7/24/2019 Flvia-Biroli
1/25
http://www.compolitica.org 1
assim, que assim seja:mdia, esteretipos e exerccio de poder
Flvia Biroli1
Resumo: O paper discute as relaes entre esteretipos e mdia noticiosa, procurandoavanar na compreenso da dinmica de produo e difuso dos esteretipos e, em especial,no modo como a mdia dela participa. Os esteretipos so compreendidos como parte dadinmica social de definio dos papeis, baseados em valores que remetem a contextosespecficos das relaes de poder. No possvel entend-los como originriosda mdia oudas formas de sociabilidade reorganizadas pelo advento dos meios tcnicos de difusomassiva. Mas sua presena no discurso miditico pode colaborar para seu impacto e
permanncia. Difundidos para um grande nmero de pessoas, transformam-se em referncias
compartilhadas que fazem parte, simultaneamente, da experincia individual esocial.
Palavras-Chave: esteretipos. mdia. poder.
Introduo
comum que a relao entre meios de comunicao e esteretipos seja mencionada em
anlises nas quais no uma preocupao central2. possvel que o entendimento de comoos esteretipos se definem e circulam aparea, nesses casos, como pouco mais do que um
desdobramento da compreenso que se tem do funcionamento dos meios de comunicao.
Assim, se esses ltimos so vistos como responsveis por um ambiente comunicativo rico,
1Professora do Instituto de Cincia Poltica da UnB e pesquisadora do CNPq. E-mail: fbiroli@terra.com.br2 Paper apresentado no GT Comunicao e democracia do IV Encontro da Associao Brasileira dePesquisadores em Comunicao e Poltica (Compoltica), na UERJ, de 13 a 15 de abril de 2011. A discussoapresentada neste artigo parte do projeto Gnero e poltica na mdia brasileira, coordenado pela autora efinanciado pelo CNPq (edital 57/2008, bolsas de PQ e IC). Agradeo a Luis Felipe Miguel pelos comentrioscrticos feitos a uma verso anterior do texto.
7/24/2019 Flvia-Biroli
2/25
http://www.compolitica.org 2
em que informaes e vises de mundo diversas e conflitantes passam a fazer parte da
vivncia dos indivduos, eles trabalhariam, em linhas gerais, contra a manuteno dos
esteretipos. Mas se os meios de comunicao so vistos como instrumentos de uma ordem
social desigual, reproduzindo informaes e vises homogneas que confirmam as
perspectivas dominantes, eles podero ser vistos como propagadores privilegiados dos
esteretipos. Nesse caso, eles trabalhariam a favorde esteretipos que justificam ou so uma
espcie de caldo de cultura da prpria dominao.
A primeira dessas vises pode ser associada, historicamente, correspondncia entre
conhecimento e razo. As informaes, e melhor dizendo, a multiplicao das informaes
disponveis seria a base para a superao dos preconceitos associados aos esteretipos.
Haveria uma correlao positiva entre a quantidade e a variedade das informaes
disponveis e a possibilidade de superao das vises distorcidas ou estereotpicas da vida
social. Com os avanos tcnicos que permitem a difuso massiva de informaes, os meios
de comunicao poderiam contribuir para que isso se d.
No campo dos estudos de mdia, as anlises de Joshua Meyrowitz (1985) sobre o impacto dos
meios de comunicao para a sociabilidade contempornea podem ser consideradas
representativas desse entendimento. Para ele, a difuso massiva permitida pelos avanos
tcnicos ampliaria, potencialmente, o acesso a imagens e valores diferentes daqueles que
organizam o ambiente presencial dos indivduos. E isso se daria, at certo ponto,
independentemente de quais so os contedos veiculados. A comunicao mediatizada, mais
do que a inter-pessoal, colocaria os indivduos em contato com opinies e experincias
diferentes das suas (Mutz e Martin, 2001), permitindo o compartilhamento de referncias
alternativas para a compreenso de seu papel social.
Na segunda das vises s quais nos referimos, a que destaca o papel dos meios de
comunicao de massa como propagadores dos esteretipos, o que ganha salincia a relao
entre a mdia e o exerccio da dominao, ou entre a comunicao mediatizada e a
reproduo da hegemonia. Os esteretipos aparecem como uma dimenso da imposio pelos
grupos e estratos de grupos dominantes de sua viso de mundo. E a mdia aparece como um
instrumento central de sua propagao. Nesse caso, a relao entre conhecimento e superao
dos preconceitos fica comprometida pelo fato de que o controle das informaes e mesmo a
7/24/2019 Flvia-Biroli
3/25
http://www.compolitica.org 3
produoda verdade (do que assim apresentado e poder ser assim percebido) esto no
centro da dinmica de dominao. Um de seus aspectos a propagao de representaes
unilaterais e homogneas da realidade, apresentadas como sendo a prpria realidade ou o que
importa dela.
O fato de que a mdia coloca em circulao um grande nmero de informaes , pelo menos,
insuficiente. Nesse caso, torna-se importante avaliar a partir de que perspectivas essas
informaes so consideradas relevantes e ganham significado. Os esteretipos no so,
necessariamente, uma pea-chave nas anlises da mdia assim orientadas. Mas a viso
estereotipada da realidade social, e especialmente de grupos e indivduos desigualmente
posicionados em uma dada ordem social, participaria da naturalizao dos arranjos e
hierarquias existentes e da conteno da crtica a eles.
So dois argumentos, casados: a mdia difunde os esteretipos; a mdia, dada sua centralidade
na construo do ambiente social contemporneo, colabora para a naturalizao dos
esteretipos ao confirmar cotidianamente determinadas vises de mundo, em detrimento de
outras. Parte ampla da crtica feminista mdia comercial se encaixa nessa viso, ao analisar
a naturalizao do pertencimento da mulher esfera privada e dos arranjos familiares que o
justificam e reforam3, assim como o destaque dado ao corpo e aparncia fsica das
mulheres4. Mas possvel, tambm, associar a essa vertente anlises voltadas para problemas
de outra ordem, como o impacto da socializao dos jornalistas dentro e fora das redaes
para a percepo que tm do que notcia e de quais perspectivas sociais so vlidas ou
merecem destaque na cobertura noticiosa5.
importante ressaltar que a mdia igualmente importante para as duas vises aqui indicadas
destacando seu papel na superao dos esteretipos e em sua reproduo e naturalizao.
Mas isso no significa que as anlises avancem, necessariamente, na reflexo sobre a
3 Um exemplo interessante a anlise da mdia estadunidense nos anos 1950, especialmente das revistasproduzidas para o pblico feminino, feita por Betty Friedan em The feminine mystique (1997 [1963]).4Em textos menos centralizados na mdia, como o de Naomi Wolf (2002 [1991]) ou preocupados, de fato, como impacto da mdia para as relaes de gnero e a participao das mulheres na poltica, como em Miguel eBiroli (2011) ou em Kahn (1996).5O pertencimento dos jornalistas a uma classe mdia branca levaria identificao com alguns grupos sociais e
problemas (em anlises distintas, como as de Schudson (1997, p. 8), Ettema e Glasser (1998) ou Miguel e Biroli(2010)), assim como o ambiente profissional os levaria a perceber a poltica a partir da posio privilegiadadaqueles que se tornam suas fontes (Cook, 1998).
7/24/2019 Flvia-Biroli
4/25
http://www.compolitica.org 4
dinmica social de produo e reproduo dos esteretipos ou mesmo sobre de que modo
essa dinmica est relacionada ao funcionamento dos meios de comunicao.
Opaperprocura justamente contribuir para que essa reflexo avance. Foi produzido a partir
de questes e reflexes relacionadas a pesquisa emprica sobre a presena de mulheres no
noticirio poltico, tendo como um de seus eixos a anlise dos esteretipos na mdia. H,
aqui, um esforo para discutir a relao entre mdia e esteretipos sem tratar,
especificamente, de gnero. A idia que a anlise colabore para estudos que tratem de
outros grupos sociais ou outras questes relativas definio da agenda e dos
enquadramentos na mdia. Como se ver, porm, os exemplos e referncias presentes no
texto remetem a anlises dos esteretipos de gnero. O dilogo com a pesquisa sobre
esteretipos de gnero marca a reflexo, ainda que se tenha ampliado o foco.
Pelos caminhos indicados, chegamos a um argumento central, que orienta a discusso neste
paper: necessrio abandonar a dualidade entre mdia/superao dos esteretipos e
mdia/propagao dos esteretipos, para que seja possvel chegar a uma forma mais complexa
e matizada de compreenso da relao entre mdia, esteretipos e exerccio de poder.
Consideramos que esse passo foi apenas iniciado aqui.
A anlise a seguir se organiza em duas sees, alm desta introduo e de uma breve
concluso. A primeira discute o conceito de esteretipo, propondo que seja compreendido
como artefato moral e ideolgico. A segunda apresenta uma anlise terica das relaes entre
mdia e esteretipos, procurando, ento, indicar algumas das continuidades e diferenas entre
o conceito de esteretipo e um conceito que vem sendo importante no campo das anlises da
mdia e da poltica, o de enquadramento. Procura, sobretudo, localizar o funcionamento da
mdia na dinmica social de produo e reproduo dos esteretipos.
1. Esteretipos, codificao e poder
possvel compreender os esteretipos como dispositivos cognitivos que facilitam o acesso a
novas situaes e informaes. Isso significa que equivalem a categorias que definem
padres de aproximao e de julgamento que orientam a leitura do novo a partir de
referncias prvias. Nesse sentido, reduzem a complexidade das interaes concretas e
7/24/2019 Flvia-Biroli
5/25
http://www.compolitica.org 5
contribuem para ampliar o grau de previsibilidade nas novas interaes: fundados em
simplificaes, os esteretipos diminuem as variaes e matizes presentes nas trajetrias e
comportamentos individuais, que se definem e se explicitam em interaes e contextos
sociais especficos.
Para esta discusso, importante estabelecer a diferena entre o entendimento dos
esteretipos como esquemas simplificadores e sua definio como representaes falsasda
realidade. A leitura dos esteretipos como equvocos pressupe que exista uma distino
clara entre imagens simplificadas (e, nesse caso, falseadas) da realidade e a maneira como
essa realidade vivenciada pelos indivduos e grupos sociais. Mas justamente porque os
esteretipos esto na base das representaes que so internalizadas pelos prprios
indivduos, orientando suas aes, que no existe uma fronteira clara entre o falseamento e a
realidade. Os esteretipos no so representaes que deturpam modos de ser (carter,
personalidade, disposies individuais) que existiriam de maneira prvia ou independente dos
processos sociais de definio de papeis e disposio dos valoreseles so parte da dinmica
social na qual se definem carter, personalidade e disposies individuais.
A vivncia das relaes sociais fornece os recursos para a construo das identidades e os
esteretipos fazem parte da dinmica complexa de codificao dos papeis e comportamentos.
Considerando que mesmo a atividade mentalindividuals existe como orientao social
de carter apreciativo (Bakhtin, 1995 [1930], p. 114), isto , tem as interaes sociais como
sua matria, a oposio entre as representaes sociais (includos aqui os esteretipos) e as
identidades concretas de indivduos e grupos no se sustenta.
Para Tessa Perkins (1979, p. 140, apudSeiter, 1986, p. 66), argumentar que os esteretipos
so falsos equivale a argumentar que definies socialmente aceitas dos sujeitos no tm
efeito sobre eles, isto , no tm impacto no modo como, concretamente, percebem a si
mesmos e interagem com outros indivduos. Para ela, mais adequado entender os
esteretipos como uma combinao de validade e distoro (Perkins, 1979, p. 154, apud
Seiter, 1986, p. 66). Em outras palavras, no existe necessariamente uma oposio entre as
distores que os esteretipos envolvem e o modo como as experincias dos indivduos se
organizam concreta e efetivamente. Se h tenses, essas devem ser entendidas como parte das
continuidades entre os esteretipos e as interaes sociais concretas, nas quais as distores
7/24/2019 Flvia-Biroli
6/25
http://www.compolitica.org 6
tomam a forma de interpelaes para que os indivduos ajam de uma determinada forma ou
enquadrem o prprio comportamento e os comportamentos dos outros nos esquemas
fornecidos pelos padres estereotpicos.
Esteretipos e realidade alimentam-se um do outro, confirmando papis, comportamentos e
valores socialmente produzidos. Para utilizar os esteretipos de gnero como exemplo, a
construo de uma imagem da mulher naturalmente associada a determinados espaos,
como a casa, e a atividades especficas, como o cuidado com os filhos e outros familiares,
no pode ser analisada, produtivamente, a partir da dualidade entre falsidade e verdade. Em
vez de analis-la como falsa ou verdadeira, seria mais adequado compreend-la como uma
interpelao concretapara que mulheres, a cada gerao, orientem seu comportamento de
acordo com esses padres, com as habilidades a envolvidas. Nesse sentido, pode-se
considerar que, internalizadas, as imagens estereotpicas produzem padres reais de
comportamento que confirmam, potencialmente, os esteretipos. Estes passam, assim, a
coincidir com aspectos constatados e verificveis da realidade. Nesse mesmo exemplo, o
conflito de tantas mulheres com os papeis que so chamadas a desempenhar aparece como
um desvio, em vez de ser a confirmao de que a realidade mais complexa.
Os esteretipos permitem, duplamente, a tipificao do outro e a localizao de si numa
escala comum de valores. Alm de ser viciada, a relao entre esteretipos e realidade est
ligada, assim, a vrias formas de exerccio de poder, com graus variados de
institucionalizao, que impem nus e desvantagens materiais e simblicos aos desviantes.
A reproduo dos esteretipos est associada confirmao e naturalizao de padres
valorativos.
Por isso preciso distinguir entre o carter facilitador e simplificador dos esteretipos e as
formas de rotulao e de diferenciao entre padres normais e desviantes. Fatores como
simplicidade, reconhecimento imediato e referncia implcita a consensos presumidos sobre
os atributos de indivduos e grupos (Perkins, 1979, p. 141, apud Seiter, 1986, p. 66), que
constituem os esteretipos, tm seu sentido definido em relaes de poder concretas. Os
rtulos so, ao mesmo tempo, atalhos cognitivos e efeitos dessas relaes de poder. No se
trata, assim, de reduzir os esteretipos a quaisquer categorias facilitadoras. Eles
correspondem a rtulos socialmente definidos a partir das possibilidades que tm os
7/24/2019 Flvia-Biroli
7/25
http://www.compolitica.org 7
diferentes grupos de fazer circular, e mesmo de institucionalizar, discursos que confirmam
padres morais de julgamento. Podem existir, assim, conexes importantes entre a facilitao
no acesso realidade e nas interaes sociais, a rotulao e a confirmao de (ou reao a)
hierarquias e formas de opresso.
Isso nos leva a compreender os esteretipos como artefatos morais e ideolgicos. Neles, o
carter moral dos valores e julgamentos est atrelado aos dispositivos ideolgicos de
legitimao de papeis e posies em uma dada ordem social. As interaes so moralmente
codificadas e cada encontro face-a-face ou mediado mobiliza valores e julgamentos
prvios s circunstncias em que se d (Newman, 1975, p. 209). Os esteretipos
correspondem definio do outro e do contexto em que as relaes se travam em termos de
expectativas sociais padronizadas que, por sua vez, pressupem valores. O prprio conceito
de papel social pode ser entendido como um conceito moral, no sentido de que envolve
atributos, direitos e deveres determinados; a noo de desvio , igualmente, uma idia moral
(Newman, 1975, p. 209-10).
Mas se, de um lado, possvel sustentar sem maiores ressalvas o carter moral dos
esteretipos, ressaltando sua relao com valores socialmente compartilhados e seu papel na
distino entre padres legtimos e desviantes, entre comportamentos e traos apreciados e
desvalorizados, preciso ter mais cuidado ao defini-los como artefatos ideolgicos.
Uma primeira alternativa, nesse ponto, seria afirmar que so ideolgicos porqueequivalem a
formas de codificao da realidade que colaboram para legitimar a ordem social vigente, ou
alguns dos seus aspectos. O problema que essa afirmao poderia levar ao entendimento de
que os esteretipos so mobilizados apenas por quem est em posio social vantajosa, contra
ou em desfavor daqueles que so mais vulnerveis socialmente. Parece-nos, diferentemente,
que podem ser mobilizados tambm como uma espcie de contra-face do exerccio
continuado do poder. Ainda que a eles no corresponda, necessariamente, uma crtica
consistente s bases da dominao, sua existncia nos leva a reconhecer que os significados
atribudos s relaes e papeis variam e no reproduzem, necessariamente, a posio de poder
objetiva dos grupos. Para tomar dois exemplos conhecidos, o macho ignorante e incapaz de
fazer valer a autoridade que propagandeia e o americano sem sofisticao e conhecimento
esto nas piadas e mesmo nos programas humorsticos televisivos. O poltico ladro to
7/24/2019 Flvia-Biroli
8/25
http://www.compolitica.org 8
comum quanto so raras ou restritas as crticas s bases da concentrao do poder nos
regimes democrticos, mas no deixa de ser, igualmente, um ndice de que a subverso das
hierarquias faz parte da dinmica de produo e reproduo social dos esteretipos.
Os esteretipos remetem s relaes de poder, mas em diferentes sentidos: confirmando-as ou
demonstrando que as perspectivas daqueles em posio de desvantagem podem no coincidir
com as dos poderosos ainda que estes detenham os meios para divulgar ampla e
positivamente seus valores e marcar negativamente ou coibir a propagao de outros valores.
Feita essa ressalva, que central para a discusso sobre mdia e esteretipos e ser retomada
em breve, necessrio levar em conta que os esteretipos podem funcionar como recursos
para a confirmao das hierarquias ou podem, diferentemente, funcionar como uma forma de
reelabor-las, como nos rumores, piadas, canes, provrbios e eufemismos que fazem parte
da cultura dos dominados e de suas formas de resistncia cotidiana, analisados por James C.
Scott (1990). Poderiam, nessa segunda forma, ser parte das evidncias de que o libreto da
elite para as hierarquias de nobreza e respeito no , na realidade, cantado palavra por palavra
pelos que a esto sujeitos a elas (Scott, 1985, p. 41).
A crtica feita por Scott s noes de falsa conscincia e de hegemonia orienta o olhar para as
fissuras existentes nas relaes de dominao, com a observao das prticas e dos discursos
elaborados pelos dominados. As pesquisas do autor chamam a ateno para as tenses e
contradies entre os discursos elaborados pelos dominantes, que so publicamente dispostos
como o entendimento legtimo das relaes de poder, e aqueles que so produzidos pelos
subordinados em espaos sociais restritos e relativamente independentes, nos quais esto
protegidos do olhar daqueles que lhes so hierarquicamente superiores. Apesar da distncia
entre os problemas tratados pelo autor (baseados, inicialmente, no estudo das formas de
resistncia cotidiana entre camponeses na Malsia) e aqueles aqui discutidos, h pelo menos
trs aspectos que nos parecem cruciais. Em primeiro lugar, o consentimento dos
subordinados (que, no nosso caso, remete relativa aceitao dos esteretipos por aqueles
que tm suas identidades restritas ou desvalorizadas por eles) pode ser uma encenao
pblica que oculta, estrategicamente, seu desdm ou sua descrena na legitimidade do poder,
evitando o nus de assumi-la publicamente. H mais, em segundo lugar, do que o que est
contido nos registros pblicos. Em outras palavras, a tenso entre os registros pblicos e os
7/24/2019 Flvia-Biroli
9/25
http://www.compolitica.org 9
registros ocultos, no sentido a eles atribudo por Scott, colocaria em questo a prpria noo
de hegemonia, ao expor os lugares em que os discursos subversivos, dissidentes e no-
hegemnicos so produzidos (Scott, 1990, p. 25). No nosso caso, isso remete a algo bvio,
mas nem sempre mobilizado nas anlises, o fato de que a mdia de grande circulao no
contm todos os discursos socialmente relevantes em um dado momento.
Por fim, em terceiro lugar, so os grupos dominantes que definem a fronteira entre os
discursospara Scott, entre os registros pblicos e os ocultos, para esta discusso, entre os
que so amplamente difundidos e deixam de ser percebidos como elaboraes parciais e
aqueles que permanecem como manifestaes localizadas e marginais em relao aos
discursos que ganham legitimidade pblica. O grau de liberdade discursiva uma varivel
relevante. Mas sua existncia, bem como a ausncia de censura ou restries circulao dos
discursos, no significa que os diferentes registros e, no caso, esteretipos alinhados ou no
alinhados s concepes hegemnicas do poder circularo em p de igualdade, tero o
mesmo impacto potencial ou funcionaro, igualmente, como incitaes construo das
identidades a partir de padres morais definidos.
Voltando ao exemplo dos esteretipos de gnero, e tomando especificamente a valorizao da
maternidade associada vinculao (e potencial restrio) da mulher ao espao domstico, o
reconhecimento de que o esteretipo da mulher maternal incita a comportamentos a ele
alinhados no explica ou totaliza a vivncia das mulheres. Pode ser, pelo contrrio, uma
projeo desejvel a partir das prprias relaes de dominao, tomando padres morais
como experincias reais. A idia de que h efetivamente incorporao ideolgica pode no
corresponder a uma constatao emprica a partir da experincia dos sujeitos, mas a discursos
que so produto das relaes de dominao e que demonstrariam evidncias do
consentimento, da cumplicidade e do entusiasmo dos subalternos (Scott, 1990, p. 86). O fato
de que os recursos para fazer circular esses discursos e para posicion-los e atribuir-lhes peso
social no estejam igualmente disponveis a ricos e pobres, homens e mulheres, negros e
brancos devem ser considerados ao se discutir os esteretipos como artefatos morais e
ideolgicos.
Afastando a noo de falsa conscincia e, portanto, deixando de lado as definies de
ideologia mais prximas da idia de iluso e manipulao, possvel aproximar os conceitos
7/24/2019 Flvia-Biroli
10/25
http://www.compolitica.org 10
de esteretipo e ideologia sem recorrer oposio entre veracidade e falsidade. possvel
aproxim-los, tambm, evitando o risco de compreender a hegemonia como eliso da
resistncia. A partir de algumas das abordagens correntes de ideologia, os esteretipos podem
ser entendidos como artefatos ideolgicos no sentido de que so expresses de uma verso
da realidade social que suficientemente real e reconhecida para que no seja simplesmente
rejeitada (Eagleton, 1997 [1991], p. 27). Sua realidade estaria em seus efeitos reais, mesmo
quando em sua base esto mentiras e vises parciais que so transmutadas em fatos de
validade universal6.
O discurso ideolgico constitudo por elementos empricos e normativos, mas os primeiros
so sempre definidos pelos requisitos dos ltimos (Eagleton, 1997 [1991], p. 33). E essa
normatividade que estabelece o elo entre a codificao da realidade pelos discursos e as
relaes de poder. Tomadas essas definies, a melhor forma de lidar com os discursos ou
enunciados ideolgicos no parece ser questionar sua veracidade ou falsidade, propondo-se a
distinguir entre elas, mas compreender que esses discursos, com seus componentes empricos
e normativos, so parte dos esforos para a legitimao de certos interesses em uma luta de
poder (Eagleton, 1997 [1991], p. 28). Os esteretipos podem ser compreendidos como parte
dessa mesma dinmica, atendendo lgica mencionada, na qual distoro e validade
caminham juntas, desde que se leve em considerao que h conflitos, contradies e
dissonncias na sua produo e circulao. E que a relao entre os grupos sociais e os
esteretipos difundidos varivel, dependendo de sua localizao social e de sua posio nas
relaes de poder.
possvel aproximar os dois conceitos tambm quando se trata de observar como se d o
trnsito entre o especfico e o universal. A compreenso da ideologia como a matria da
qual cada um de ns feito, o elemento que constitui nossa prpria identidade e algo que
no colocado em questo porque se apresenta como bvio e sabido por todos remete,
novamente, ao problema da construo social das identidades. O discurso ideolgico
6A compreenso da ideologia como interpelao, presente em Louis Althusser (2003 [1971]), permitiria avanarem uma das compreenses possveis desse paralelo entre o conceito de ideologia e o de esteretipo. Para oautor, a existncia da ideologia e a interpelao dos indivduos enquanto sujeitos so uma nica e mesma
coisa (p. 97). Nisso consiste a tenso entre a constituio das identidades (a constituio dos indivduos como
sujeitos) e a sujeio (a ocupao de posies previamente estabelecidas nas relaes de poder), resumida naconhecida formulao de que os sujeitos se constituem pela sua sujeio (p. 104).
7/24/2019 Flvia-Biroli
11/25
http://www.compolitica.org 11
apresenta-se como verdade universal que no precisa ser submetida anlise racional
(Eagleton, 1997 [1991], p. 28). E os esteretipos se alimentam da ausncia de anlise racional
dos valores que os estruturam. Seriam o reflexo das identidades, o desdobramento de
comportamentos, gostos e tendncias fundados na natureza, na biologia, na identidade
inevitvel. Apresentadas como caracterizaes fundadas empiricamente, derivadas da
constatao da natureza especfica dos indivduos e dos grupos sociais estereotipados, no
aparecem como julgamentos, mas como imagens de carter descritivo.
Os esteretipos produzem, ao mesmo tempo e de maneira conflitiva, a identificao por
outros, a distino e a identidade (como internalizao de formas de identificao e de
distino). Confirmam e reproduzem vantagens, desvantagens e vulnerabilidades, expressas
em posies de poder relativas. Ainda que esteretipos, preconceitos e formas de
discriminao no possam ser tomados como um nico fenmeno7, h um continuumentre
uns e outros na produo social das identidades tipificadas dos grupos e indivduos. Nesse
sentido, os esteretipos podem promover a discriminao, influenciando sistematicamente
as percepes, interpretaes e julgamentos, mas podem tambm derivar de e ser reforados
por formas de discriminao, justificando disparidades entre os grupos sociais (Dovidio,
Hewstone, Glick e Esses, 2010, p. 7). Nesse sentido, podem ser vir disposio, nos
discursos, das posies hierrquicas como distines padronizadas que confirmam as
disposies naturais dos diferentes grupos. Mas o fato de os esteretipos serem efeitos de
relaes de poder que eles, ento, confirmam retrospectivamente, no exclui resistncias e
tenses. Do mesmo modo, a internalizao dos esteretipos no exclui resistncias e formas
variadas de mal-estar decorrentes do modo como funcionam socialmente8.
7Podem ser entendidos como trs formas de atitude social enviesada contra um grupo e os indivd uos quedele fazem parte. Os esteretipos corresponderiam a associaes e atribuies de caractersticas especficas a
um grupo; os preconceitos corresponderiam a uma atitude que reflete uma avaliao abrangente de um
grupo; e a discriminao corresponderia a comportamento enviesado relativo a, e no tratamento de, um grupo
ou seus membros (Dovidio, Hewstone, Glick e Esses, 2010, p. 5).8 possvel, no entanto, que, como sugere Cass Sunstein (2010 [2009], p. 52) ao falar dos rumores, sejanecessrio explicar os efeitos dos esteretipos em diferentes indivduos e grupos considerando o ambiente emque a ateno seletiva e as preferncias se constituem, as referncias e pr-disposies dos indivduos, mastambm as presses do conformismo. Isso significa dar uma importncia ainda maior ao compartilhamentodas imagens estereotpicas, j que o peso da maioria pode ser uma das variveis que age favoravelmente a sua
reproduo.
7/24/2019 Flvia-Biroli
12/25
http://www.compolitica.org 12
O questionamento do papel da mdia na difuso e reforo dos esteretipos , em si mesmo,
um exemplo dessas tenses e formas de mal-estar. Os conflitos em torno da ressignificao
dos papeis, da redistribuio de recursos e do reconhecimento de grupos e prticas sociais
passam, frequentemente, pelo questionamento dos esteretipos ativos em uma sociedade. Isso
, por si s, um ndice de que h circuitos variados de comunicao, que no se restringem
grande mdia e aos discursos hegemnicos. O reconhecimento do peso dos meios de
comunicao nos fluxos comunicativos nas sociedades contemporneas refora, porm, a
necessidade de entender se e como a dinmica de reproduo dos esteretipos envolve a
mdia. E torna necessrio analisar como se d a interao entre os diferentes circuitos de
comunicao e, simultaneamente, entre eles e os grupos que tm posies (de classe,
ocupao, sexo, raa, idade) socialmente diferenciadas.
Esteretipos e mdia
Os esteretipos podem assim, ser entendidos como atalhos cognitivos que facilitam o
processamento das informaes, desde que se leve em conta que isso se d em contextos
sociais especficos e em relao a formas definidas do exerccio do poder e das reaes que
suscitam. Correspondem ao perfil de nossas expectativas normativas em relao conduta e
ao carter (Goffman, 2008 [1963], p. 61), remetendo a valores morais e discursos
ideolgicos socialmente produzidos e mobilizados.
No possvel entender os esteretipos, portanto, como originriosda mdia ou das formas
de sociabilidade reorganizadas pelo advento dos meios tcnicos de difuso massiva9.
Anlises como as de Joshua Meyrowitz (1985), citado antes neste paper, afirmam justamente
o contrrio. O advento da mdia eletrnica teria produzido transformaes nos padres de
interao e nos comportamentos que potencializaram o questionamento das referncias
tradicionais, alterando os prprios papeis sociais.
Mas a presena dos esteretipos no discurso miditico pode colaborar para seu impacto e
9 Joshua Meyrowitz (1985) afirma justamente o contrrio. Para ele, o advento da mdia eletrnica produziutransformaes nos padres de interao e nos comportamentos que potencializaram o questionamento dasreferncias tradicionais, alterando os prprios papeis sociais.
7/24/2019 Flvia-Biroli
13/25
http://www.compolitica.org 13
permanncia. Difundidos para um grande nmero de pessoas, transformam-se em referncias
compartilhadas que fazem parte, simultaneamente, da experincia individual e social.
Permitem, por exemplo, que um determinado comportamento ou bordo seja referncia
comum a indivduos que nunca tiveram contato direto e esto posicionados socialmente (por
classe, ocupao, sexo, raa, idade) de maneiras diversas. Definem eventos e indivduos
distantes a partir de imagens j conhecidas do pblico, moralmente codificadas, e apresentam
novas situaes em narrativas que mobilizam sentidos e informaes que lhe so familiares.
Nas sociedades contemporneas, os meios de comunicao tm um papel central na difuso
de representaes do mundo social. A relao com o mundo mediada por imagens
produzidas e difundidas em escala industrial, fazendo com que nossas referncias sejam
definidas a partir de uma fuso entre o mundo com o qual temos contato diretamente e o
mundo que conhecemos pelas telas da TV ou pelas pginas de revistas e jornais. Dessa
perspectiva, preciso pensar na complementaridade entre diferentes modalidades de relao
com o mundo, mas tambm na dependncia cognitiva dos indivduos em relao aos meios
de comunicao nas sociedades midiatizadas. Mais do que medir o que a mdia nos oferece
pela realidade direta que nos estaria mo, orientamo-nos por um conjunto de informaes
cuja relevncia e pertinncia no podemos, muitas vezes, medir sem recorrer prpria mdia.
Isso vale, especialmente, para os eventos, esferas e indivduos com os quais s temos contato
atravs da mdia.
Mas a distncia fsicae o conhecimento limitadodos objetos e atores estereotipados no
condio sine qua nonpara que os esteretipos se reproduzam. No lidamos com imagens
estereotipadas porque no tivemos acesso natureza real das coisas e dos indivduos 10. H
um continuumentre o desempenho cotidiano dos papeis atribudos aos grupos e os padres
sociais que definem os valores e expectativas que esto na base da avaliao desse
desempenho. Em outras palavras, as relaes e circunstncias que nos so mais prximas e
10Essa compreenso muito comum na literatura infantil contempornea progressista. Um exemplo bastantecaracterstico pode ser encontrado na histria de Cludia Fries (2000 [1999]) sobre o momento em que osmoradores de um prdio, uma galinha, uma raposa e um coelho, ganham um novo vizinho. A excitao com anovidade acaba quando descobrem que quem vai ocupar o apartamento vago um porco. Da em diante,qualquer fato confirma o que j sabem, porcos so sujos. At que percebem que haviam lido mal as informaesdisponveis e descobrem que aquele porco tem nome, casa limpa, bom gosto e hbitos que eles aprovam. Nessecaso, o esteretipo superado pelo acesso verdade sobre os fatos, mas tambm pela assimilao do outro
aos padres normativos de referncia.
7/24/2019 Flvia-Biroli
14/25
http://www.compolitica.org 14
que se ligam mais fortemente s nossas identidades individuais tambm so investidas de
sentidos definidos por expectativas padronizadas. As relaes de gnero so, novamente, o
exemplo ao qual recorremos. Nelas, os esteretipos organizam as expectativas quanto ao
papel de mulheres e homens nas relaes familiares, afetivas, profissionais, polticas,
atravessando as esferas em que as atividades relacionadas a esses papeis se realizam: esse
um dos sentidos da afirmao de que a conexo entre os aspectos domstico e no-domstico
da vida profunda (Okin, 1989, p. 126). Fundados em definies do papel adequado da
mulher na esfera domstica, os esteretipos de gnero permeiam outros espaos e interaes,
impondo limites a sua atuao. As formas de definir e restringir o papel da mulher na
esfera domstica organizam suas possibilidades de atuao em outras esferas, como a
profissional e a poltica.
A caracterizao de indivduos em situaes prximas e ntimas se d, assim, a partir de
expectativas sociais padronizadasa especificidade de uma relao conjugal no impede, por
exemplo, que o comportamento daquela esposa seja avaliado relativamente ao esteretipo
socialmente predominante da boa me (no exemplo dado por Goffman, 2008 [1963], p.
63).
Em outra direo, mas com efeitos complementares aos da primeira, objetos e atores que nos
so distantes so julgados a partir de experincias cotidianas que confirmam os esteretipos.
A especificidade da atuao de homens e mulheres na poltica, por exemplo, no impede que
sejam avaliados a partir de categorizaes que os reduzem ao que seria tpico do seu sexo.
comum que a avaliao da competncia das mulheres para a poltica seja fundada nas
expectativas e padres convencionais que organizam os papeis na esfera domstica (como
expem Bystrom, Banwart, Kaid e Robertson, 2004; Iyengar, Valentino, Ansolabehere e
Simon, 1997; Kahn, 1996; Miguel e Biroli (2011). Assim, a avaliao das habilidades de
mulheres e homens para a poltica parece ser parte dessa dinmica complexa em que os
esteretipos so confirmados ou contestados a partir de referncias pertencentes a diferentes
camadas da experincia.
Nos dois casos o da avaliao do que nos familiar a partir de expectativas sociais
padronizadas e o da avaliao de espaos e atores com os quais no temos contato direto a
partir das formas assumidas pelas interaes sociais na vida cotidiana e na esfera domstica
7/24/2019 Flvia-Biroli
15/25
http://www.compolitica.org 15
a reproduo dos esteretipos corresponde naturalizao de caractersticas e competncias.
Pode corresponder, ainda, naturalizao do pertencimento distinto dos indivduos aos
diferentes campos sociais. Os meios de comunicao participam desse processo de
naturalizao dos pertencimentos e das excluses.
A centralidade dos meios de comunicao nas sociedades contemporneas est relacionada
ao fato de que nossa experincia hoje, em grande parte, mediada por aparatos tcnicos que
difundem contedos de forma massiva. O acesso a informaes sobre eventos que no
presenciamos e o compartilhamento de referncias entre indivduos que se desconhecem
mas que tm acesso aos mesmos contedos miditicosesto no centro da experincia social
contempornea. Nas abordagens diversas do funcionamento da mdia, so discutidos ou ao
menos pressupostos seus impactos sobre a sociabilidade contempornea, as percepes e as
preferncias dos indivduos.
freqente, entre estudiosos e jornalistas, a meno afirmao feita por Walter Lippmann
(1985[1922]) de que h uma correspondncia entre nosso comportamento e as imagens que
esto nas nossas mentes so formadas pelas imagens, mais do que entre o nosso
comportamento e a realidade exterior. E essas, por sua vez, esto relacionadas s informaes
disponveis na mdia (de entretenimento e noticiosa). Esse um caminho para a presuno de
que existe uma correlao direta entre o que os meios de comunicao produzem e veiculam
e como pensaro as pessoas que esto expostas a eles. Em outras palavras, para uma relao
de causalidade entre os contedos difundidos pela mdia e as formas assumidas pela opinio
pblica.
De l para c, essa tese convive com vrias outras, que a confrontam ou se acomodam a ela
em diferentes graus. A reao crtica chamada teoria hipodrmica est baseada no fato de
que o pblico no responde aos contedos miditicos de forma direta e pr-determinada,
como se poderia esperar. As relaes entre os meios de comunicao e seu pblico no
podem ser isoladas de uma srie de influncias e variveis que compem o horizonte
cognitivo e poltico dos indivduos. As imagens presentes nas nossas mentes, para voltar
formulao de Lippmann, so formadas por um conjunto complexo de referncias
disponveis, entre as quais esto aquelas fornecidas pelos discursos miditicos. preciso
considerar pelo menos dois fatores: o primeiro que as informaes e imagens
7/24/2019 Flvia-Biroli
16/25
http://www.compolitica.org 16
disponibilizadas pela mdia ganham sentido relacionadas a um conjunto de outras
informaes e imagens acumuladas ao longo da trajetria dos indivduos, isto , so
decodificadas emseu ambienteprximo, em processos cognitivos que so marcados por sua
posio social. Isso nos obriga a lembrar que se o contedo miditico , em larga medida,
produzido de forma concentrada e homognea, a recepo sempre localizada e socialmente
posicionada (Thompson, 2002 [1990]).
O segundo fator, na considerao da complexidade da relao entre a mdia e o pblico, que
o discurso miditico, ainda que tenha um alto grau de homogeneidade, no ordenado de
modo coerente. H posies e imagens conflitantes sendo difundidas pelos meios de
comunicao simultaneamentee esses meios de comunicao no so um bloco indistinto.
Alm disso, o efeito do que difundido depende dos segmentos do pblico que a ele esto
expostos, em suas variaes scio-econmica, de gnero, de raa, de faixa-etria, no nvel
educacional, nas crenas e afiliaes religiosas, local de habitao, padres das relaes
familiares, entre outros aspectos.
Isso no significa deixar de lado a assimetria entre a produo/difuso e a recepo dos
contedos de mdia. No significa, tambm, diminuir a importncia da concentrao da
propriedade dos meios de comunicao e das rotinas profissionais do jornalismo na
padronizao dos contedos miditicos e, em especial, dos noticirios. O ponto que disso
no decorre um conjunto de imagens e informaes que convergem em um nico
entendimento ou viso de mundo, nem disso se pode presumir um impacto-padro dos
contedos veiculados sobre os diferentes segmentos do pblico11.
A crtica ao entendimento de que as opinies refletem os discursos veiculados pelos meios
de comunicao convive, nesta argumentao, com a constatao da centralidade desses
11Mesmo considerando que os valores capitalistas e a incitao ao consumo esto na base do modo de produoe circulao dos contedos miditicos ou, em outro ngulo mas ainda com o mesmo entendimento, que osmeios de comunicao so um elo da dinmica de consumo nas sociedades contemporneas -, a compreensodos meios de comunicao como instrumentos dos interesses econmicos hegemnicos pode deixar de lado acomplexidade das disputas simblicas e os matizes e conflitos entre as posies relativas a tpicos e interessesvariados. Um exemplo a relao da mdia brasileira de grande circulao com tpicos como o papel do Estadona economia (em que h um alto grau de convergncia nos noticirios) e com tpicos como as orientaesreligiosas para o comportamento sexual e o controle reprodutivo (em que h variaes e matizes que devem serconsiderados). A no ser que se presuma que um desses tpicos mais relevante do que o outro, no
justificvel definir o comportamento e os discursos dos meios de comunicao apenas a partir de um deles.
7/24/2019 Flvia-Biroli
17/25
http://www.compolitica.org 17
meios na definio do ambiente social e poltico contemporneo. A dependncia cognitiva
dos indivduos em relao aos meios informativos um aspecto dessa centralidade. As
relaes que estabelecemos com algumas esferas da vida em sociedade consistem, quase
inteiramente e sistematicamente , em contatos mediados por esses aparatos de
comunicao. A relao com o campo poltico institucional, com sua dinmica e seus atores,
um exemplo. Para a maior parte das pessoas, a poltica, isto , um modo restrito de
compreenso da poltica que a reduz, grosso modo, ao Estado, aquilo que visvel
midiaticamente.
A teoria do agenda setting, em suas diferentes verses, procurou dar conta justamente do fato
de que os meios de comunicao podem no ser capazes de definir como os indivduos
pensam, determinando suas opinies e preferncias. Mas definem, em grande medida, os
temas sobre os quais eles pensam. Nesse sentido, fica difcil estabelecer fronteiras entre o que
socialmente relevante para os cidados em um dado momento e o que a agendada mdia
torna saliente. A hiptese, nesse caso, que existe uma correlao significativa entre relevo
nos meios de comunicao e relevnciapara o pblico.
Maxwell McCombs (2009 [2004]) define dois tipos de agendamento: temtico e de atributos.
Partindo de suas observaes, fundadas em pesquisas empricas de vrios autores sobre o
impacto dos discursos miditicos sobre o pblico, podemos trabalhar com o entendimento de
que: (1) a agenda da mdia tem impacto na definio da agenda do pblico; (2) isso implica
no compartilhamento de temas, mas tambm de formas de caracterizao e valorizao
desses temas; (3) a agenda temtica inseparvel dos enquadramentos que organizam o
acesso aos temas, isto , das molduras que tornam os temas visveis em uma narrativa que
lhes d sentido.
De maneira semelhante definio dada aos esteretipos na seo anterior deste paper, os
enquadramentos podem ser definidos como esquemas simplificadores e como atalhos
cognitivos. Essa definio envolve o fato de que organizam o mundo para os jornalistas e
para o pblico ao permitirem que um evento novo ganhe sentido em narrativas
relativamente estveis, j cristalizadas. Os fatos ganham salincia em uma causalidade e
7/24/2019 Flvia-Biroli
18/25
http://www.compolitica.org 18
segundo definies e valoraes cristalizadas12. De maneira semelhante aos esteretipos, eles
pressupem valores e no apenas referncias comuns. Parece-nos que os esteretipos so,
assim, pea-chave para que os enquadramentos tenham eficcia. As imagens tipificadas dos
grupos sociais permitem mobilizar, mais do que referncias comuns, julgamentos que,
compartilhados, do sentido aos acontecimentos.
A atribuio de statusaos atores e a estereotipia, entendida como construo da imagem que
envolve a salincia de atributos, so dois aspectos presentes na agenda (McCombs, op. cit., p.
135). Isso possvel quando o agendamento entendido em seu sentido mais amplo:
salincia de temas, que se tornam visveis em caracterizaes e enquadramentos definidos. A
seleo das temticas presentes no noticirio envolve, assim, o recurso a narrativas por meio
das quais essas temticas fazem sentido. razovel, por tudo que foi dito anteriormente sobre
esteretipos e enquadramentos, que essas narrativas atendam a padres simplificadores e que
estes, por sua vez, envolvam rotulaes e distines. Isso est menos relacionado a formas de
manipulao ou distoro estrategicamente impetradas do que aos discursos e esteretipos
disponveise que ganham peso e legitimidade em uma configurao especfica das relaes
de poder, em um dado contexto.
Isso ocorre em duas etapas da produo do discurso miditico: a da seleo dos temas
relevantes, que envolve a seleo de quem est capacitado e disponvel para falar sobre eles,
e a dos enquadramentos, isto , da apresentao desses temas e personagens em narrativas
especficas. Os esteretipos podem ser fatores de seleo e organizao dos sentidos nas duas
etapas (que foram separadas, aqui, apenas para facilitar a argumentao). Na primeira, a
seleo de temas e personagens pode atender s expectativas-padro sobre o que
socialmente relevantee quem habilitado a emitir opinies sobre aquilo que ganha destaque.
Pode-se supor, nesse sentido, que no existe uma fronteira clara entre statuse esteretipos,
mesmo quando se pensa em cargos e posies institucionais que conferem statusqueles que
as ocupam: eles potencializam uma visibilidade competente, mas no a garantem. Se o
12Entendo que a aproximao entre esteretipos e enquadramentos permite desenvolver essa discusso paraalm dos seus limites neste texto. Os argumentos aqui presentes foram se definindo, preliminarmente, a partir daleitura da obra Goffman. Ainda que de maneira indireta, esta discusso tributria das reflexes do autor emEstigma (2008[1963]) Frame analysis (2006[1975]) e A representao do eu na vida cotidiana(2009[1959]).Para um conjunto variado de anlises que recorre a esse conceito, assim como discusses sobre seus limites e
potenciais, sugiro a leitura de Callaghan e Schnell (eds., 2005).
7/24/2019 Flvia-Biroli
19/25
http://www.compolitica.org 19
acesso s janelas de visibilidade (Gomes, 2008) restritas no noticirio poltico depende de
posies institucionais, esse acesso, por outro lado, no garante aos diferentes atores (a
mulheres e homens, por exemplo) uma presena equnime no discurso miditico, tanto do
ponto de vista quantitativo quanto do qualitativo. Um exemplo disso a relao entre
mulheres e temticas consideradas femininas, especialmente aquelas relacionadas esfera
domstica e famlia, no noticirio poltico. Como demonstram pesquisas anteriores, o
jornalismo concede mais espao s mulheres quando elas se encontram prximas de sua
esfera tradicional, a dos assuntos privados e do cuidado com os outros, mas a vinculao a
tais temticas as afasta do ncleo do noticirio poltico (Miguel e Biroli, 2011).
Na segunda etapa, a dos enquadramentos, as narrativas que conferem sentido aos temas e
personagens podem ser constitudas por pressupostos e caracterizaes que confirmam os
esteretipos vigentes. A maior ateno a determinados atributos, o destaque a determinados
aspectos do comportamento dos atores, em detrimento de outros, a correlao entre o evento
abordado e outros eventos (em esferas variadas), assim como os ngulos em que as imagens
so produzidas, podem ser tributrios de padres que reproduzem no apenas imagens-
tpicas, mas posies que implicam vantagens e desvantagens para os indivduos e grupos
sociais que so assim caracterizados.
Um dos aspectos que diz respeito a esta discusso , assim, a correlao entre a definio dos
temas presentes nos noticirios, as narrativas em que esses temas se inserem e a seleo de
quem tem voz nos debates que ganham tempo e espao nos meios de comunicao. Ao ativar
determinadas compreenses da realidade, o jornalismo confirma e ao mesmo tempo promove
determinados atores sociais ao lugar de enunciadores privilegiados, isto , de indivduos que
tm competncia e recursos para dizer algo que merece a ateno do pblico. Estudos sobre o
noticirio de telejornais e revistas impressas brasileiras apontam para o fato de que tm voz
no noticirio poltico os ocupantes de cargos e posies de destaque no campo poltico em
sentido estrito (Gomes, 2008; Miguel e Biroli, 2010). Assim, mais do que colocar-se a favor
de uma ou outra posio no espectro poltico (candidatos, partidos, governos), o jornalismo
confirmaria as hierarquias correntes ao atribuir mais voz a quem j a detm, pela posio que
ocupa em sua esfera de atuao, e menos voz ou o silncio justamente a quem est em
posies marginais nos campos em que trava suas prprias disputas. Com isso, naturaliza,
7/24/2019 Flvia-Biroli
20/25
http://www.compolitica.org 20
grosso modo, a configurao atual da poltica e a marginalidade que implica para indivduos
e grupos sociais com perfis que, por vrias razes, no coincidem com os daqueles que
ocupam as posies mais centraisna poltica e na mdia.
A agenda da mdia noticiosa definida a partir de uma combinao de fatores. As rotinas
produtivas interagem com a atuao do governo (por meio das assessorias de imprensa e de
outras formas de comunicao governamental); com as fontes que tm, individualmente,
trnsito entre os jornalistas; com instituies e grupos que procuram tornar eventos e tpicos
noticiveis segundo seus interesses e perspectivas. No h, sempre, complementaridade. Pelo
contrrio, a agenda objeto de disputas. Mas essas disputas no assumem, necessariamente, a
forma da oposio entre imagens distorcidas e imagens reais ou entre esteretipos e
caracterizaes mais complexas de temas e atores. No caso das mulheres presentes no
noticirio poltico, as pesquisas realizadas indicam que preciso ter em mente que o fato de
que os esteretipos sejam uma via de acesso mais fcil ao noticirio porque no entram
em choque com as narrativas e expectativas convencionais , pode levar a estratgias para a
conquista da visibilidade que no os confrontam. Isso varia, entre outras coisas, de acordo
com o peso que a visibilidade tem para a carreira dos atores especficos em um dado
momento. O ponto, no entanto, que as mulheres polticas podem estar diante de duas
alternativas: a excluso do noticirio ou a incluso estereotipada.
O diagnstico da presena de esteretipos na mdia no faz dela uma vil na reproduo de
imagens que comprimem a construo das identidades e o acesso das mulheres s esferas
sociais tradicionalmente masculinas, como a poltica. possvel trabalhar com uma oposio
entre a maior homogeneidade das representaes sociais de gnero/maior permanncia dos
esteretipos e a maior heterogeneidade das representaes sociais de gnero/mais rudos e
maior potencial de transformao nos esteretipos. O que est em jogo no so, apenas, as
imagens sobre mulheres e homens, mas a estabilidade relativa dos papeis a eles associados e,
especificamente, da diviso sexual do trabalho nas esferas pblica e domstica.
Mas os meios de comunicao podem colaborar para a diluio das fronteiras tradicionais
entre o pblico e o privado e das fronteiras tradicionais entre os grupos, quando permitem
acesso a referncias que entram em choque com o ambiente presencial de referncia dos
7/24/2019 Flvia-Biroli
21/25
http://www.compolitica.org 21
indivduos. O contato com outros contextos e formas de organizao dos papeis pode expor
de maneira imprevista a configurao atual das relaes em que os indivduos esto inseridos.
Meyrowitz (1985), j citado, entende que a mdia eletrnica provocaria pelo menos trs tipos
de mudana nos padres de interao e nos comportamentos: desmistificao das hierarquias,
com nfase para a mstica das lideranas; reconfigurao das formas de diferenciao das
experincias e das fronteiras entre as faixas etrias para o acesso a informaes (o que tem
impacto sobre as hierarquias na esfera familiar); redefinio das identidades de grupos, entre
as quais o autor enfatiza as diferenas de gnero.
Consideraes finais
O compartilhamento massivo de referncias que os meios de comunicao possibilitam pode
contribuir para a reproduo dos esteretipos ou para sua reorganizao ou superao (em
direo a novos arranjos estereotpicos, isto , a novas expectativas-padro). Alm disso, os
matizes na presena dos esteretipos na mdia so ndices de conflitos e de mudanasassim
como dos limites dessas mudanasnas sociedades, nos contextos em que os noticirios so
produzidos.
No discurso miditico, os esteretipos so peas-chave em pelo menos dois mecanismos: a
apresentao do novo por meio de atalhos cognitivos (o que os coloca como pea de
sustentao dos enquadramentos) e a identificao dos grupos sociais a partir de valores e
expectativas-padro supostamente compartilhadas e que no aparecem como objeto de
discusso. Permitem, assim, atravessar a complexidade dos processos de formao das
identidades sem problematiz-lospressupem as identidades como dados objetivos, em que
o trnsito entre o individual e o universal apenas confirmaria os valores e julgamentos que
esto em sua base. Os esteretipos so, assim, artefatos morais e ideolgicos que atuam
simbolicamente e tm efeitos concretos, interpelando os indivduos ao mesmo tempo em que
atualizam julgamentos.
O fato de que exercem presso para que a individualidade seja vivenciada segundo
determinadas expectativas-padro no significa que a vivncia individual de fato
corresponder a elas, espelhando-as coerentemente. Mas porque so parte da dinmica de
7/24/2019 Flvia-Biroli
22/25
http://www.compolitica.org 22
reproduo, acomodao ou deslocamento das relaes de poder que os esteretipos
interpelam, constituindo as identidades, ao mesmo tempo em que constrangem. Em muitos
casos, h recompensas socialmente estabelecidas para quem responde positivamente ao
chamado, h custos quando esse chamado ignorado ou confrontado. As brechas e rudos
existem, mas as dificuldades para que as rupturas com os esteretipos vigentes aconteam se
devem a essa dinmicaisto , aos constrangimentos que se associam aos esteretipos. Est
em jogo, entre outras coisas, a capacidade que os indivduos em posies vantajosas (entre
outras coisas, de controle dos meios de comunicao ou de acesso a eles) tm para definir as
perspectivas vlidas nos discursos que, potencialmente, tm maior alcance e legitimidade.
Os esteretipos no so, como se argumentou neste artigo, uma simples falsificao, que se
oporia realidade das vivncias e da construo das identidades. possvel, inclusive,
sustentar que o aprendizado das identidades sexuais, por exemplo, se d sempre atravs de
oposies, caricaturas e esteretipos (Badinter, 2005[2003]). Mas mesmo que se considere
que so, nesse sentido, incontornveis, a compreenso de quais so esses esteretipos, de
como se d sua reproduo e de quais so seus efeitos fundamental. fundamental a
compreenso das razes pelas quais alguns deles ganham guarida nos discursos da mdia de
grande pblico, enquanto outros podem estar restritos a discursos menos srios ou a
circuitos de comunicao relativamente marginais. E elas remetem diretamente posio dos
diferentes indivduos e grupos nas relaes de poder e nos campos da produo intelectual e
da produo jornalstica. Em ltima instncia, o problema dos esteretipos na mdia remete
ao problema da pluralidade de enquadramentos e perspectivas que constituem o discurso
miditico. Trata-se, assim, de um dos problemas relacionados concentrao do acesso
produo dos discursos que a mdia faz circular.
Tendo isso em mente, pode-se, ao mesmo tempo, considerar o peso dos esteretipos e
tambm o fato de que, em meio a eles, cada pessoa responde do seu modo s possibilidades
restritas que as estruturas [de gnero] oferecem, formando seus prprios hbitos como
variaes dessas possibilidades, ou ativamente tentando resistir a elas ou reconfigur-las
(Young, 2005, p. 26, traduo da autora, colchetes adicionados para indicar que a formulao
pode superar o problema das identidades de gnero). Essas respostas no se limitam ao
mbito da experincia individual. Tm impacto poltico. No caso das mulheres polticas, por
7/24/2019 Flvia-Biroli
23/25
http://www.compolitica.org 23
exemplo, a maior conformidade aos esteretipos pode ser compreendida como parte das
estratgias daquelas que atuam na esfera poltica para a construo de imagens pblicas que
lhes sejam vantajosas inclusive na gesto da sua visibilidade na mdia. Esse pode ser um
atalho para que mais mulheres ganhem espao na poltica e na mdia, mas no confronta os
pressupostos e valores que definiram, historicamente, barreiras e desvantagens para as
mulheres. Ainda que se considere, como prope James C. Scott, que o discurso dominante
seja a nica arena de luta plausvel em qualquer circunstncia no-revolucionria (Scott,
1990, p. 103), possvel que isso signifique, no caso dos esteretipos, um reforo ao
potencial que tm de naturalizao das caractersticas que definiriam a identidade dos grupos,
com os papeis sociaise hierarquiasa elas associados.
Os meios de comunicao de massa consistem numa arena na qual esto em disputa, entre
outras coisas, a definio dos enquadramentos e esteretipos que constituem percepes
amplamente reproduzidas da realidade social. Esto em disputa, sobretudo, a validao de
valores e julgamentos que os organizam. E essa disputa se coloca em vrios nveis e graus,
da o fato que os discursos da mdia de grande circulao reproduzam aspectos relevantes das
relaes de poder, de vantagem e desvantagem, que organizam a sociedade em um dado
momento, mas no se restrinjam a uma verso linear e homognea dessas relaes.
Bibliografia:ALTHUSSER, Louis. 2003 [1971].Aparelhos ideolgicos do Estado.9.ed. Rio de Janeiro: Editora Graal.
BADINTER, Elizabeth. 2005 [2003]. Rumo equivocado: o feminismo e alguns destinos. Rio de Janeiro:Civilizao Brasileira.
BAKHTIN, Mikhail. 1995 [1929].Marxismo e filosofia da linguagem. So Paulo: Hucitec, 1995.
BIROLI, Flvia. 2010a. Gnero e poltica no noticirio das revistas semanais brasileiras. Cadernos Pagu, n
34, pp. 269-299.BIROLI, Flvia. 2010b. Gnero e famlia em uma sociedade justa: adeso e crtica imparcialidade no debate
contemporneo sobre justia.Revista de Sociologia e Poltica, vol. 18, n 36, pp. 51-65.
BYSTROM, Dianne G., Mary Christine BANWART, Lynda Lee KAID e Terry A. ROBERTSON. 2004.Gender and candidate communication. New York: Routledge.
CALLAGHAN, Karen e Frauke SCHNELL (Eds.). 2005. Framing american politics. Pittsburgh: University ofPittsburgh press.
DOVIDIO, John F., Miles HEWSTONE, Peter GLICK e Victoria M. ESSES. 2010. Prejudice, stereotypingand discrimination: theoretical and empirical overview. In: DOVIDIO, John F., Miles HEWSTONE, PeterGLICK e Victoria M. ESSES (Eds.).The Sage handbook of prejudice, stereotyping and discrimination.Londres: Sage.
7/24/2019 Flvia-Biroli
24/25
http://www.compolitica.org 24
EAGLETON, Terry. 1997 [1991].Ideologia. So Paulo: Editora da Unesp.
FRIEDAN, Betty. 1997 [1963]. The feminine mystique. New York / London: WW Norton.
FRIES, Cludia. 2000 [1999]. Um porco vem morar aqui!11.ed. So Paulo: Brinque Book.
GILLIGAN, Carol. 1982. In a different voice: psychological theory and womens development. Cambridge(MA): Harvard University Press.
GOFFMAN, Erving. 2006 [1975]. Frame analysis: los marcos de la experincia. Madri: CIS / Siglo XXI.
GOFFMAN, Erving. 2008 [1963]. Estigma: notas sobre a manipulao da identidade deteriorada. 4.ed. Rio deJaneiro: LTC.
GOFFMAN, Erving. 2009 [1963].A representao do eu na vida cotidiana. 16.ed. Rio de Janeiro: Ed. Vozes.
GOMES, Wilson. 2008. Mapeando a audioesfera poltica brasileira: os soundbites polticos no Jornal
Nacional. Paperapresentado ao Grupo de Trabalho Comunicao e Poltica do XVIIEncontro da Comps,So Paulo, PUC-SP.
IYENGAR, Shanto, Nicholas A. VALENTINO, Stephen ANSOLABEHERE e Adam F. SIMON. 1997.Running as a woman: gender stereotyping in political campaigns, em NORRIS, Pippa (ed.). Women, media,and politics. Oxford: Oxford University Press.
KAHN, Kim Fridkin. 1996. The political consequences of being a woman: how stereotypes influence theconduct and consequences of political campaigns. New York: Columbia University Press.
LINK, Bruce G. e Jo C. PHELAN. 2001. Conceptualizing stigma. Annual review of sociology. Vol. 27, pp.363-385.
LIPPMAN, Walter. 2008 [1922]. Opinio pblica. Petrpolis: Vozes.
McCOMBS, Maxwell. 2009[2004].A teoria da agenda: a mdia e a opinio pblica. Petrpolis: Vozes.MEYROWITZ, Joshua. 1985.No sense of place: the impact of electronic media on social behavior. New York,Oxford: Oxford University Press.
MIGUEL, Luis Felipe e Flvia BIROLI. 2010. Visibilidade na mdia e campo poltico no Brasil. Dados. Vol.53, n. 3; pp. 695-735.
MIGUEL, Luis Felipe e Flvia BIROLI. 2011.Caleidoscpio convexo: mulheres, poltica e mdia. So Paulo:Editora da Unesp.
MUTZ, Diana C. e Paul S. MARTIN. 2001. Facilitating communication across lines of political difference: therole of mass media. The American political science review. Vol. 95, n. 1, pp. 97-114.
NEWMAN, Graeme R. 1975. A theory of deviance removal. The british journal of sociology. Vol. 26, n. 2;pp. 203-217.
OKIN, Susan Moller. 1989.Justice, gender, and the family. Basic Books.
SCOTT, James C. 1985. Weapons of the week: everyday forms of peasant resistance. New Haven e Londres:Yale University Press.
SCOTT, James C. 1990.Domination and the arts of resistance: hidden transcripts.New Haven e Londres: YaleUniversity Press.
SEITER, Ellen. 1986. The terms of womens stereotypes. Feminist review, n. 22, pp. 58-81.
SUNSTEIN, Cass. 2010 [2009]. Rumores: como se difunden las falsedades, por qu nos las creemos y qu sepuede hacer contra ellas. Buenos Aires: Debate.
THOMPSON, John B. 2002 [1990]. Ideologia e cultura moderna: teoria social crtica na era dos meios de
comunicao de massa. Petrpolis: Vozes.
7/24/2019 Flvia-Biroli
25/25
WOLF, Naomi. 2002 [1991]. !"# %#&'() *+(", -./ +*&0#1 .2 %#&'() &3# '1#4 &0&+51( /.*#5, "#$ %&'()*+',#' -#'#../+0.
YOUNG, Iris Marion. 2005. On female body experience: Throwing like a girl and other essays . Oxford:Oxford University Press.
Recommended