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Formação do Sistema Internacional
DBBHO1335- 16SB
(4-0-4)
Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI
demetrio.toledo@ufabc.edu.br
UFABC - 2016.III
Aula 8
3ª-feira, 18 de outubro
Para falar com o professor:
• São Bernardo, sala 322, Bloco Delta, 3as-feiras e 5as-feiras,das 14-16h (é só chegar)
• Próxima quinta-feira, dia 20 de outubro, não haveráatendimento.
• Atendimentos fora desses horários, combinar por email com oprofessor: demetrio.toledo@ufabc.edu.br
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Módulo II: A grande divergência
Aula 8 (3ª-feira, 18 de outubro): A grande divergência: a primeira
revolução industrial e a hegemonia britânica
Texto obrigatório:
POMERANZ, K. (2001) “Introduction”, p. 3-27.
Textos complementares:
HOBSBAWN, E. (1996a) “A Revolução Industrial”, p. 43-69.
MADDISON, A. (2001) “The impact of Western Development on
the Rest of the World”, p. 49-123.4
• Mas antes de falarmos sobre a grande
divergência, a primeira revolução industrial e a
hegemonia britânica, vamos falar um pouco
mais sobre... soberania, anarquia e o sistema
interestatal.
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Um pouco mais sobre o assunto soberania, anarquia e o sistema interestatal
• Hedley Bull, em Sociedade Anárquica - Um estudo da
ordem na política mundial (2002 [1977]), vai
argumentar que a anarquia do sistema internacional
não é impedimento para a formação de uma
sociedade internacional baseada no respeito a um
conjunto de valores comuns (Bull 2002).
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Um pouco mais sobre o assunto soberania, anarquia e o sistema interestatal
• Soberania: “reúne numa única instância o monopólio daforça num determinado território e sobre uma determinadapopulação” (Bobbio, Matteucci e Pasquino 1995, Dicionáriode Política, verbetes Soberania e Relações Internacionais).
• Dicotomia soberania estatal – anarquia internacional: “Sóonde existe o fenômeno de uma pluralidade de Estadossoberanos é que se pode distinguir, em sentido estrito, umaesfera de relações internas, ou seja, subordinadas àsoberania, de uma esfera de Relações Internacionais, isto é,desenvolvidas entre entidades soberanas, não subordinadasa uma autoridade superior” (Bobbio, Matteucci e Pasquino1995, Dicionário de Política, verbetes Soberania e RelaçõesInternacionais).
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Um pouco mais sobre o assunto soberania, anarquia e o sistema interestatal
• “No caso do próprio Hobbes e dos seus sucessores, aanalogia com a sociedade nacional assumesimplesmente a forma da afirmativa de que os estados,ou os príncipes soberanos, como os indivíduos quevivem fora da jurisdição de um governo, encontram-se no estado natural, que é o estado de guerra. ParaHobbes, e outros pensadores dessa escola, não deveriaou poderia existir um contrato social dos estados quepusesse fim à anarquia internacional.” (Bull 2002, p.57).
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Um pouco mais sobre o assunto soberania, anarquia e o sistema interestatal
• Em Hobbes:
– estado de natureza = anarquia (todos os indivíduos
detêm direitos naturais, entre os quais o direito de
usar a força)
– sociedade = soberania (contrato social por meio do
qual os indivíduos cedem seus direitos naturais -
alguns ou todos, os jusnaturalistas divergem nesse
ponto -, inclusive o direito de usar a força, ao
soberano)
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I. Estados soberanos: relação interna hierárquica,relação externa anárquica
II. Relação externa anárquica: Estados iguais entre si
III. Estados iguais entre si: “entre direitos iguais,prevalece a força” (Marx, O Capital)
Relações internacionais entre Estados soberanos sãoresolvidas, no limite, com o recurso à força: a guerraentre Estados! Noção Hobbesiana, realista das Ris.
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Um pouco mais sobre o assunto soberania, anarquia e o sistema interestatal
Um pouco mais sobre o assunto soberania, anarquia e o sistema interestatal
• Escola realista: por envolver agentes – os Estados - com
iguais direitos, e por não haver um poder soberano
acima dos Estados, as relações internacionais são
equivalentes ao estado de natureza hobbesiano (versões
fortes da teoria realista em RI).
• Se há sociedade, há um poder soberano, logo não há
anarquia. Se há anarquia das relações internacionais, ou
seja, se não há um poder soberano, não há sociedade
internacional.11
Um pouco mais sobre o assunto soberania, anarquia e o sistema interestatal
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• Hedley Bull: sistema internacional ≠ sociedade internacional:
– Sistema internacional: “quando dois ou mais estados têm
suficiente contato entre si, com suficiente impacto recíproco
nas suas decisões, de tal forma que se conduzem, pelo menos
até certo ponto, como partes de um todo”;
– Sociedade internacional: “quando um grupo de estados,
conscientes de certos valores e interesses comuns, formam uma
sociedade, no sentido de se considerarem ligados, no seu
relacionamento, por um conjunto comum de regras, e
participam de instituições comuns” (Bull apud Gonçalves 2002).
Um pouco mais sobre o assunto soberania, anarquia e o sistema interestatal
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• “O argumento de que os estados não formam uma sociedade
porque estão mergulhados na condição de anarquia internacional
tem três pontos fracos. O primeiro é que o sistema internacional
moderno não se parece com o estado de natureza hobbesiano. (...)
A segunda debilidade do argumento a respeito da anarquia
internacional é que ele se baseia em uma falsa premissa sobre as
condições da ordem entre as entidades distintas do estado - os
indivíduos e grupos. (...) O terceiro ponto fraco da argumentação a
propósito da anarquia internacional é que ela não leva em conta os
limites da analogia com a situação interna dos estados, que afinal
são muito diferentes dos indivíduos.” (Bull 2002, p. 57-62).
Um pouco mais sobre o assunto soberania, anarquia e o sistema interestatal
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• “Assim, o argumento de que porque os indivíduos não podem
formar uma sociedade sem governo, os príncipes soberanos ou
estados também não podem, não se sustenta não apenas porque
mesmo na ausência de governo pode haver uma certa ordem entre
os indivíduos mas porque os estados são diferentes destes, e mais
capazes de formar uma sociedade anárquica. A analogia do meio
internacional com a ordem doméstica não passa de uma analogia,
e o fato de que os estados formam uma sociedade sem governo
reflete características da sua condição que são únicas.” (Bull 2002,
p. 57-62).
• Agora, de volta ao tema de nossa aula de
hoje... a grande divergência: a primeira
revolução industrial e a hegemonia britânica.
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A grande divergência: a primeira revolução industrial e a hegemonia britânica
• A Revolução Industrial marcou uma inflexão
profunda na vida das sociedades humanas.
• Efeitos demográficos e econômicos são evidentes,
ainda que se possa disputar (e de fato se disputa!)
quais os fatores mais e menos importantes
responsáveis pelas transformações associadas à
Revolução Industrial.
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A grande divergência: a primeira revolução industrial e a hegemonia britânica
• Menor denominador comum:
A Revolução Industrial foi um processo de mudança
estrutural da base material das sociedades tocadas por
ela, que passou de predominantemente agrária (e
rural) para predominantemente industrial (e urbana),
incorporando a mudança tecnológica e fontes
inanimadas de energia ao processo de crescimento
econômico.
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A grande divergência: a primeira revolução industrial e a hegemonia britânica
• Thomas Robert Malthus (1766-1834),economista político inglês clássico.
• Malthus relacionou o crescimentodemográfico à produção dos bens básicospara a sobrevivência humana (alimento,roupa, combustível e material de construção).
• Noções centrais: crescimento malthusiano,armadilha malthusiana, eras malthusianao epós-malthusiana.
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A grande divergência: a primeira revolução industrial e a hegemonia britânica
• A Revolução Industrial é um tema central do pensamento
social moderno e contemporâneo. Grande parte de nossas
noções de moderno e modernidade foram articuladas com
referência ao mundo criado pela Revolução Industrial.
• Nos mais de 200 anos que se passaram desde seus
primórdios, muitas, variadas e frequentemente divergentes
interpretações sobre a Revolução Industrial foram
apresentadas, debatidas, criticadas, abandonadas,
retomadas, reinterpretadas, modificadas.28
Revolução Industrial, Revoluções Industriais
– Joseph Schumpeter cunhou a noção de “revoluções
industriais sucessivas”.
– Carlota Pérez propôs o conceito de paradigma
tecnoprodutivo.
– Chris Freeman e Luc Soete usam a noção de ondas
sucessivas de progresso técnico.
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A grande divergência: a primeira revolução industrial e a hegemonia britânica
• Ondas sucessivas do progresso técnico (Freeman e Soete
2008, p. 47):
– 1ª RI (1780-1840): produção em fábricas de têxteis, energia
hidráulica, algodão, canais e estradas carroçáveis
– 2ª RI (1840-1890): máquina a vapor, ferrovias, telégrafo, carvão e
ferro
– 3ª RI (1890-1940): eletricidade, siderurgia, ferrovias, telefone, aço
– 4ª RI (1940-1990): fordismo, automóveis, materiais sintéticos,
auto-estradas, R&TV, aviões, petróleo e derivados
– 5ª RI (1990-?): microeletrônica, computadores, redes cibernéticas,
gás e petróleo
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A grande divergência: a primeira revolução industrial e a hegemonia britânica
• Por que a 1ª Revolução Industrial ocorreu naInglaterra e não na França, no Japão, na China ouna Índia?
• Em que essas regiões diferiam umas das outras?
• Quais foram os fatores que deram vantagem àInglaterra em relação a outras partes do mundoque compartilhavam características muitosemelhantes com a Inglaterra?
Pomeranz (2000), The great divergence
• “This book will also emphasize the exploitation of non-Europeans – and access to overseas resources moregenerally – but not as the sole motor of Europeandevelopment. Instead it acknowledges the vital role ofinternally driven European growth but emphasizes howsimilar those processes were to processes at workelsewhere, especially in East Asia, until almost 1800.Some differences that mattered did exist, but I willargue that they could only create the greattransformation of the nineteenth century in a contextalso shaped by Europe’s privileged access to overseasresources.” (Pomeranz 2000: 4)
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Pomeranz (2000), The great divergence
• “The book calls upon the fruits of overseas coercion tohelp explain the differences between Europeandevelopment and what we see in certain other parts ofEurasia (primarily China and Japan) – not the whole ofthat development or the differences between Europeand all other parts of the Old World.” (Pomeranz 2000:4)
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Pomeranz (2000), The great divergence
• “We cannot understand pre-1800 global conjunctures interms of a Europe-centered world system; we have,instead, a polycentric world with no dominant center.(...) Only after nineteenth-century industrialization waswell advanced does it make sense to see a single,hegemonic European ‘core’”. (Pomeranz 2000: 4-5)
• “Most of the existing literature, however, has remainedset in an either/or framework – with either a Europe-centered world system carrying out essential primitiveaccumulation overseas or endogenous European growthcalled upon to explain almost everything.” (Pomeranz2000: 5)
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Pomeranz (2000), The great divergence
• “I argue - in keeping with the finding of surprisingsimilarities as late as 1750 (...) – that Europe, too, couldhave wound up on an ‘east Asian’, labor-intensive path.That it did not was the result of important and sharpdiscontinuities, based on both fossil fuels and access toNew World resources, which, taken together, obviatedthe need to manage land intensively.” (Pomeranz 2000:13)
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Pomeranz (2000), The great divergence
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• “No matter how far back we may push for the origins ofcapitalism, industrial capitalism, in which the large-scale useof inanimate energy sources allowed an escape from thecommon constraints of the preindustrial world, emergesonly in the 1800s. There is little to suggest that westernEurope’s economy had decisive advantages before then,either in its capital stock or economic institutions, that madeindustrialization highly probable there and unlikelyelsewhere. (…) European industrialization was still quitelimited outside of Britain until at least 1860. Parts of thisbook call into doubt various contentions that Europe had aninternally generated economic edge before 1800” (Pomeranz2000: 16)./
Pomeranz (2000), The great divergence
• “Europe had not accumulated a crucial advantage inphysical capital prior to 1800 and was not freer ofMalthusian pressures (and thus more able to invest)than many other large economies. (...) It is unclearwether whatever differences existed in the degree oftechnological inventiveness were crucial to exiting aMalthusian world (...) but it is clear that the differencesin global context that helped ease European resourceconstraints (...) were significant.” (Pomeranz 2000: 16-17)
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Pomeranz (2000), The great divergence
• “In sum, core regions in China and Japan circa 1750seem to resemble the most advanced parts of westernEurope, combining sophisticated agriculture, commerce,and nonmechanized industry in similar, arguably evenmore fully realized ways.” (Pomeranz 2000: 17)
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Pomeranz (2000), The great divergence
• “Capital was not a particularly scarce factor ofproduction in the eighteenth century. Constraintsconnected to energy, and ultimately to quantities ofland (...) were a far more importante loomingimpediment to further growth. The essence ofdevelopment was that both labor and capital becamemore plentiful relative to land, but producing any ofMathu’s four necessities of life – food, fiber, fuel, andbuilding materials – still required land.” (Pomeranz2000: 19)
• “The shift from wood to coal [and] (…) the ecologicalrelief provided by Europe`s relations with the NewWorld.” (Pomeranz 2000: 20) 39
Pomeranz (2000), The great divergence
• “A crucial part of this complementarity, up through theearly industrial era, was the result of slavery. Slaveswere purchased from abroad by New World plantations,and their subsistence production was often limited.Thus, slave regions imported much more than, say,eastern Europe and southeast Asia, where theproducers of export crops were born locally, met mostof their basic needs, and had little cash with which tobuy anything else.” (Pomeranz 2000: 20)
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Pomeranz (2000), The great divergence
• “Thus, a combination of inventiveness, markets,coercion, and fortunate global conjunctures produced abreakthrough in the Atlantic world, while the muchearlier spread of what were quite likely better-functioning markets in east Asia had instead lead to naecological impasse.” (Pomeranz 2000: 23)
• “The significance of the Atlantic trade not in terms offinancial profits and capital accumulation, nor in termsof demand for manufactures (...) but in terms of howmuch they relieved the strain on Europe’s supply ofwhat was really scarce: land and energy.” (Pomeranz2000: 23)
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Pomeranz (2000), The great divergence
• “And because it helped ease these fundamental,physical constrainsts, Europe’s extraction deserves to becompared with England’s turn to coal as a crucial factorleading out of a world of Malthusian constraints (...)And, indeed, a preliminary attempt to measure theimportance of this ecological windfall suggests that untilwell into the nineteenth century, the fruits of theoverseas exploitation were probably roughly asimportant to at least Britain’s economic transformationas its epochal turn to fossil fuels.” (Pomeranz 2000: 23)
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Pomeranz (2000), The great divergence
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• “What Blaut refers to as ‘uniformitarianism’ – the ideathat at a certain point (in his analysis, 1492), manyinterconnected parts of Afro-Eurasia had roughly similarpotential for ‘dynamism’ in general, and thus for‘modernity’ – is a usefull point of departure, but has limitswe must discover empirically. It would be a remarkablecoincidence if it turned out to be applicable everywhere,and there is much evidence that it is not. My own guess,as made above, is that population density will turn out tobe extremely important, and thus it is more likely that, say,north India will turn out to belong with China, Japan, andwestern Europe than, say, central Asia or even theOttoman Empire” (Pomeranz 2000: 27)
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Explicação predominantemente
intraeuropeia
Explicação predominantemente
extraeuropeia
BlautAbu-Lughod
DusselPomeranz
Kennedy Arrighi
Hobsbawn
Para falar com o professor:
• São Bernardo, sala 322, Bloco Delta, 3as-feiras e 5as-feiras,das 14-16h (é só chegar)
• Próxima quinta-feira, dia 20 de outubro, não haveráatendimento.
• Atendimentos fora desses horários, combinar por email com oprofessor: demetrio.toledo@ufabc.edu.br
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