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Formação do Sistema Internacional BHO1335-15 (4-0-4) Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo BRI [email protected] UFABC - 2015.III Aula 8 2ª-feira, 26 de outubro

Formação do Sistema Internacional BHO1335-15 (4-0-4) · • ppt das aulas • Links para sites ... •A coleção História Geral da África, da Unesco, é um marco na compreensão

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Formação do Sistema Internacional

BHO1335-15 (4-0-4)

Professor Dr. Demétrio G. C. de Toledo – BRI

[email protected]

UFABC - 2015.III

Aula 8

2ª-feira, 26 de outubro

Módulo II: Aula 7

Blog da disciplina:

https://fsiufabc.wordpress.com/

No blog você encontrará todos os materiais do curso:

• Programa

• Textos obrigatórios e complementares

• ppt das aulas

• Links para sites, blogs, vídeos, podcasts, artigos e outros materiais de interesse

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Módulo II: Aula 7

Para falar com o professor:

• São Bernardo, sala 322, Bloco Delta, 2as-feiras e 4as-feiras, das 16-17h (é só chegar)

• Atendimentos fora desses horários, combinar por email com o professor: [email protected]

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O mundo

afroeurasiano

em 1800

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Módulo II: A grande divergência

Aula 8 (2ª-feira, 26 de outubro): O mundo afroeurasiano em 1800

Texto obrigatório:

WALLERSTEIN, I. (2010) “A África e a economia-mundo”, p. 27-46,

in: AJAYI. A. (2010).

Leituras complementares:

AJAYI. A. (2010) “A África no início do século XIX: problemas e

perspectivas”, p. 1-26, in: AJAYI. A. (2010).

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• Nas primeiras aulas do curso, vimos que, nos

séculos anteriores à formação do capitalismo

histórico e à ascensão europeia, o comércio

de longa distância ligava de modo mais ou

menos frouxo as dinâmicas econômicas,

políticas e culturais de todo o mundo

afroeurasiano

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• A África, e em especial o Magreb (norte da

África), estava no centro das rotas comerciais

terrestres e marítimas que ligavam a Ásia à

Europa do norte e do oeste

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O Velho Mundo em 1400: principais rotas comerciais (Wolf 2009: 54)

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Sistema-mundo africano e eurasiano, século XV

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Extensão do domínio islâmico, c. 1500

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Abu-Lughod, principais circuitos comerciais, 1250-1350

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• Como vimos, pode-se falar em dois momentos

das economias-mundo em formação: o período

mediterrânico e o período Atlântico

• A África participou intensa e ativamente dos dois

períodos

• O tráfico escravista africano foi parte

fundamental da economia-mundo europeia

colonial

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• No século XIX, o interesse europeu e americano

pela África deixaria de ser por pessoas

escravizadas e passaria a visar o controle de

territórios africanos e suas populações para

integrá-los à economia-mundo capitalista como

fornecedores de matérias-primas e consumidores

dos produtos das revoluções industriais

europeias

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• Na segunda metade do século XIX, a corrida

imperialista europeia dividiria seus esforços de

domínio entre a África e a Ásia

• Não devemos, no entanto, pensar na história da África

no século XIX exclusivamente pelos suas relações com

o mundo exterior; suas dinâmicas internas, ao menos

até 1850, foram os fatores definidores de sua forma

de inserção na economia-mundo 17

• A coleção História Geral da África, da Unesco, é

um marco na compreensão da história da África a

partir dos pontos de vista dos africanos

• Iniciada nos anos 1960, a coleção ofereceu a

primeira versão africana completa da história da

África, até então obra de homens brancos

europeus ou norte-americanos

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Coleção História Geral da África da UNESCO

• Volume I: Metodologia e pré-história da África (Editor J. Ki-Zerbo)

• Volume II: África antiga (Editor G. Mokhtar)

• Volume III: África do século VII ao XI (Editor M. El Fasi; Editor Assistente I.

Hrbek)

• Volume IV: África do século XII ao XVI (Editor D. T. Niane)

• Volume V: África do século XVI ao XVIII (Editor B. A. Ogot)

• Volume VI: África do século XIX à década de 1880 (Editor J. F. A. Ajayi)

• Volume VII: África sob dominação colonial, 1880-1935 (Editor A. A. Boahen)

• Volume VIII: África desde 1935 (Editor A. A. Mazrui; Editor Assistente C.

Wondji) 19

Ajayi (2010) África no início do século XIX: problemas e perspectivas

• “É importante estudar aqui em que medida as

mudanças do século XIX prolongariam as do

século XVIII, e em que medida novos fatores,

ligados à intensificação da atividade dos

europeus e à crescente integração da África ao

sistema econômico mundial, poderiam explicá-

las.” (Ajayi 2010: 2)

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• “Durante muito tempo, mitos e preconceitos

de toda espécie esconderam do mundo a real

história da África. As sociedades africanas

passavam por sociedades que não podiam ter

história.” (Prefácio, M. Amadou-Mahtar

M’Bow)

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Ajayi (2010) África no início do século XIX: problemas e perspectivas

• “A partir do momento em que se admitiu o fato de as

mudanças ocorridas na África não remontarem à época

colonial, despertou -se um considerável interesse no que

concerne ao século que precede à colonização. Os

historiadores consagraram vários trabalhos aos

acontecimentos revolucionários do século XIX, tais como

as reformas de Muhammad ‘Ali no Egito, a reunificação da

Etiópia sob os imperadores Tewodros e Menelik, o

Mfecane dos Estados sotho-nguni na África Central e

Austral, ou as jihad da África Ocidental.” (Ajayi 2010: 1) 22

Ajayi (2010) África no início do século XIX: problemas e perspectivas • Ajayi quer evitar “A tendência para explicar,

exageradamente ou exclusivamente, as

mudanças ocorridas na África durante o

‘século pré-colonial’ em função da

intensificação da atividade dos europeus (...)”

(Ajayi 2010: 2)

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Ajayi (2010) África no início do século XIX: problemas e perspectivas

• “Nenhuma sociedade ou economia poderia ter

escapado do traumatismo e do desalento geralmente

causados pelas consideráveis perdas demográficas

acarretadas pelo tráfico de escravos e as guerras

correlatas. O tráfico parece fornecer a melhor

explicação pelo fato de a África, entre todos os

continentes, ter tido as mais instáveis e frágeis

estruturas políticas e econômicas do século XIX.” (Ajayi

2010: 6) 24

Ajayi (2010) África no início do século XIX: problemas e perspectivas

• No século XIX, “há um elemento do qual temos

certeza: os europeus mostraram, então, pela África

um crescente interesse, cuja importância como fator

de mudança na história da África foi certamente

exagerada. (...) Convém não exagerar, nem a

potência dos europeus na África no início do século

XIX, nem o ritmo com o qual adquiriram “posses” ou

penetraram no interior do continente antes de

1850.” (Ajayi 2010: 7-8) 25

Ajayi (2010) África no início do século XIX: problemas e perspectivas

• “É preciso lembrar que os europeus e os americanos

chegavam à África pelo mar, concentrando–se assim

nas costas. Penetraram pouco no interior do

continente antes de 1850, enquanto os principais

acontecimentos do início do século XIX na África,

tais como o Renascimento Etíope, o Mfecane ou as

jihad da África Ocidental, surgiram todos, com

exceção da reforma de Muhammad ‘Ali, no interior

do continente.” (Ajayi 2010: 9) 26

Ajayi (2010) África no início do século XIX: problemas e perspectivas

• “Convém destacar o fato de, no início do século XIX,

a economia de todas as comunidades africanas

fundar -se na produção de alimentos por meio de

uma ou mais atividades: cultivo do solo, criação de

animais, pesca e caça. Todas as outras atividades –

comércio, política, religião, produção artesanal e

industrial, construção, exploração de minas – eram

secundárias em relação à agricultura, e sem esta,

não poderiam ter existido.” (Ajayi 2010: 12) 27

Ajayi (2010) África no início do século XIX: problemas e perspectivas

• “Não se deve traçar uma imagem deformada da

evolução da África no início do século XIX, fazendo

remontar a essa época a influência preponderante

que os europeus só terão mais tarde sobre os

processos de transformação. No início do século XIX,

as tradições herdadas do século XVIII e as mudanças

próprias à África tiveram muito mais importância do

que as mudanças vindas de fora. (Ajayi 2010: 26)

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Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo

• “A grande transformação das relações econômicas da

África com o resto do mundo não foi o produto da

partilha do continente no fim do século XIX. Ao contrário,

a partilha da África foi uma consequência da

transformação das relações econômicas desse continente

com o resto do mundo e, em particular, com a Europa:

processo que começou por volta de 1750, resultando na

grande empreitada europeia de colonização dos últimos

decênios do século XIX.” (Wallerstein 2010: 27) 29

Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo

• “Há tempos, vastas regiões da África encontravam -se

sulcadas por rotas comerciais que se prolongavam

frequentemente para além do continente, atravessando o

Oceano Índico, o Mediterrâneo e o Oceano Atlântico . Podemos

dizer que estas relações comerciais extracontinentais

correspondiam mais ou menos ao “comércio à longa distância”

praticado, há milênios, na Ásia e na Europa, e no quadro do qual

se trocava aquilo que convém chamar produtos de luxo, ou seja,

produtos que rendiam muito por um baixo volume.”

(Wallerstein 2010: 27) 30

Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo

• “Entretanto, por volta de 1730 -1750, por razões inerentes ao

seu funcionamento, a economia -mundo capitalista retomou

sua expansão econômica e geográfica. No curso dos cem anos

que se seguiram, ela absorveria, em sua rede de produção,

cinco grandes zonas geográficas que, até então, haviam

permanecido à margem de seu sistema: a Rússia, o Império

Otomano, a Índia, as zonas ‘longínquas” do continente

americano (o Canadá, a parte ocidental da América do Norte, a

ponta meridional da América do Sul), bem como a África (do

Norte, do Oeste e do Sul)” (Wallerstein 2010: 30-31) 31

Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo

• “A integração de um novo elemento na economia-

mundo passa basicamente por duas fases.

Primeiramente, pela fase fundamental: a

transformação de uma parte relativamente importante

dos processos de produção que deveriam doravante

fazer parte do conjunto integrado dos processos de

produção, segundo os quais opera a divisão do

trabalho na sociedade da economia-mundo.”

(Wallerstein 2010: 32) 32

Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo

• “Em segundo lugar, a transformação das estruturas

políticas, resultando na constituição de “Estados”

submissos às regras e aos mecanismos do sistema

interestatal; tais Estados eram fortes o suficiente

para facilitar uma circulação relativamente fluída

dos fatores de produção no interior da economia -

mundo, mas não tinham a potência necessária para

se oporem a ela, salvo por certos meios restritos e

por tempos limitados.” (Wallerstein 2010: 32) 33

Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo

• “Estamos convencidos de que tal processo de

integração se desenrolou a partir de 1750 (até

aproximadamente 1900), para a África do

Norte, a África do Oeste e a África do Sul, ao

passo que a África do Leste apenas começou

sua integração por volta de 1850, ou até

mesmo 1875.” (Wallerstein 2010: 32) 34

Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo

• “É preciso parar de superestimar o papel dos fatores

externos na criação dos Estados africanos. De fato, as

forças internas constituem o motor da evolução

política, ao passo que o processo lógico de

desenvolvimento explica a maior parte dos

fenômenos secundários.” (Wallerstein 2010: 40-41)

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Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo

• “A questão se situa em um outro nível: de fato, a

participação na economia--mundo implicava a existência

de estruturas políticas capazes de assegurar o

funcionamento da economia, em termos de comércio, de

produção, de mão de obra. Pressões exercidas do exterior

visavam impor tais estruturas. Quando as estruturas

vigentes bastavam para desempenhar o papel esperado,

de qualquer modo que fosse, pouca pressão era exercida

para impor a mudança.” (Wallerstein 2010: 41) 36

Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo

• “Contudo, a participação na economia-mundo

reforçava a importância econômica de certos

agentes internos capazes de criar estruturas

políticas adequadas; e foram eles que

pressionaram para obter as modificações de

estrutura. (...) Sabe -se que esse processo tendeu,

finalmente, em grande parte da África, à criação

dos Estados coloniais.” (Wallerstein 2010: 41) 37

Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo • “A Grã-Bretanha, graças à sua supremacia sobre o mundo

nesta época, encontrava -se em uma situação político-

militar que lhe permitia executar a abolição da

escravidão.

“Compreendemos, então, que os interesses de todos

os capitalistas da economia-mundo se encontravam

condizentes com aqueles, mais particulares, da subclasse

dos capitalistas britânicos, a fim de criar um clima político

favorável ao abolicionismo.” (Wallerstein 2010: 43) 38

Wallerstein (2010) A África e a economia -mundo

• “Portanto, pensamos que o processo de integração

da África (do Norte, do Oeste e do Sul) em um

sistema histórico particular, a economia -mundo

capitalista, remonta a 1750. Assim, a partilha do

continente constitui não o início, mas o resultado

desse processo.” (Wallerstein 2010: 45)]

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