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SALVADOR SÁBADO 7/4/20126 2 EDITORA-COORDENADORA: SIMONE RIBEIRO / DOISMAIS@GRUPOATARDE.COM.BR

SÁBSALVADOR7/4/2012

No dia em que é apanhadono chão, traz felicidade. Mashá quem diga também quefaz mal apanhar alfinete narua. E se alguém receber um,deve tocar a ponta em quemo deu, sob pena de inimizade

No Brasil católico, se o padre nãopronunciasse todas as palavras em latim, acriança ficaria meio pagã e veria fantasmas.Para que a sétima filha não fosse bruxa, erapreciso batizá-la na primeira sexta-feira doano, antes de o sol se pôr

O BATISMOCONTRA BRUXAS

E PAGÃOS

Segundo a tradição católica,deve-se respeitar um morto,nunca pronunciar seu nome debatismo, para não interromperseu repouso, mas apenas dizer:o defunto, o finado, o falecido

UM COSTUMEANTIGO SOBREO NOME

Para que o defunto não assombrasse acasa pela lembrança obstinada namemória dos parentes, o certo era beijara sola dos seus sapatos, que tinham deir com o defunto devidamente limpos,sem poeira, terra ou areia

E O QUE SERÁ DAALMA DAQUELE

CADÁVER?

Má ou boa sorte, o direito e o esquerdosempre tiveram suas preferências. O ladodireito era visto como o da varonilidade. Oesquerdo pertencia às mulheres. Se a mulhergrávida sentisse o movimento fetal à direita,nasceria menino. Menina, se à esquerda

TUDO TEM SEUDIREITO E SEU

ESQUERDO

Em embarcação que se possa tocar aágua com a mão, não se deve cantardepois de o sol desaparecer. Quemestiver no mar nadando, não deve dizer"Jesus, Maria e José", pois o mar seirrita porque não foi batizado e é pagão

OMAR, UMAENTIDADE CHEIADE MISTÉRIOS

Não dê lenço de presente, pois chamalágrimas. E a pessoa presenteada deve daroutro presente de imediato. Umarecém-casada deveria morder o lenço numaextremidade antes de usá-lo para não esfriaras relações com quem a presenteara

NO TEMPO EMQUE O LENÇOTINHA HISTÓRIA

...colocar duas agulhas em baciadágua. Se elas se juntarem,casamento à vista. Encha a bocade água e fique atrás da porta darua: o primeiro nome que ouvirserá o seu futuro noivo ou noiva

EM NOITE DE SÃOJOÃO, EXPERIMENTE...

Até a primeira década do século 20, osrapazes tinham de pedir permissãoaos pais para fazer a primeira barba.Na primeira menstruação, a moça nãopoderia atravessar lugar de águacorrente, nem provar fruta ácida

COMO SE DAVA AINICIAÇÃO NO COMEÇODO SÉCULO 20

Três fumantes não devemacender o cigarro nomesmo fósforo, pois umdeles poderá morrerdentro de um ano. Nuncajogue um palito inteirofora: quebre-o primeiro.Fósforo aceso e inútil namão atrai morte

A MÁ SORTE VEMCOM UM SIMPLESPALITO DE FÓSFORO

Quando o espelho quebrasem motivo, é anúncio damorte do dono da casa. Naprimeira semana de luto,deve ser imediatamentecoberto. Não se devecolocar menino de peitodiante dele, sob pena delhe retardar a fala

UM CONSELHO: NÃOFALE DIANTE DE UM

ESPELHO

Tem sete vidas, demora amorrer, resistente. Por isso,quem mata um gato temsete anos de atraso também,e de infelicidades. E, aocontrário do que dizem poraí, gato preto traz felicidade

PISOU NO RABO DEUM GATO? ESTE ANOVOCÊ NÃO CASA...

Meio-dia e meia-noite sãohoras misteriosas para opovo. São nessas horas queos anjos cantam hosanas aDeus. Mas, se uma pragafor rogada nessa hora,tudo se sucederá

E NO BALANÇO DASHORAS...

A FELICIDADENA PONTA

DO ALFINETE

Em alguns lugares, refere-se aZumbi como um negrinhoque aparece nos caminhos.Amigo da Caipora, gosta depedir fumo e bate ferozmenteem quem não o satisfaz

UM FEITICEIROCHAMADO ZUMBI

Superstições sobre o ovo estãoligadas ao espírito da fecundidade.Para bater ovos, é preciso ter mãoboa, felicidade. Marcar ovo comuma cruz ele não gora, e tira delegalinha e não galo

OVO, O MAISEXPRESSIVO SÍMBOLODA FERTILIDADE

A mulher grávida não deveria colocarobjeto sobre o seio, porque o filho otrará impresso na carne. Chave faria acriança ter lábio leporino. Grávida nãodeve olhar para escamas de peixes,porque não será feliz no resguardo

OS TABUS DAGRAVIDEZ E DOPARTO

Dizem que os meninos de poucosmeses e nos adultos de temperamentosanguíneo e colérico é de maior perigo,porque nestes estão mais patentes osporos. A figa era aconselhada contra oquebranto e ainda o é

MAU-OLHADO OUQUEBRANTO

Nas lendas dos sonos dos rios, há umasobre o São Francisco que diz: remeiroquando acorda de noite, se sente sede,não bebe água sem antes atirar umpedacinho de pau dentro do rio, paraver se o rio está correndo. Se estiverdormindo, não pode ser acordado

RIO DORMINDO,UMA ENTIDADE VIVA

Sal à porta de uma rival a obrigará adeixar o namorado. Derramar sal namesa é agouro, assim como salgar ochão é condená-lo à improdutividade.comer sal junto com uma pessoa farácom que você a conheça de verdade

CRENDICES,SUPERSTIÇÕES EUMA PITADA DE SAL

O menino que brinca com fogo mijana cama, ou, se o pequeno mijar nofogo, seca as urinas. Como tabu deconduta, cuspir no fogo faz mal,porque seca o cuspo

HORROR SAGRADOOU APENAS TABU?

Dizia-se que o feiticeiro que bebesseurina ficaria desarmado por muitotempo. Beber urina de vaca pelamanhã, em jejum, combate amalária. Lavar os pés com urina degado cura frieiras e certas feridas

AFASTADORA DEMALES, ELA, A URINA

Não empreste se já tiver sidousada, sob pena de carregar afelicidade para a outra casa.Vassoura deitada é desgraçafinanceira. A primeira vassouradade vassoura nova pertence àmulher velha, nunca à gente moça

VASSOURA, DE UMTABU INDISCUTÍVEL

FONTE: Dicionário do Folclore Brasileiro com textos de Regina de Sá Arte Lorena Morais Editoria de Arte A TARDE

RONALDO JACOBINA CALDO ENGROSSA COM A DISPUTAENTRE OS SÓCIOS DOS BOTECOS DO FRANÇA E DO ZÉ 5

DICIONÁRIO DO FOLCLORE BRASILEIRO /

LUÍS DA CÂMARA CASCUDO

Global / 776 páginas /R$ 98 /globaleditora.com.br

REGINA DE SÁEditora

O folclore brasileiro sempreesteve na boca do povo, masuma luz acendeu um dia parao pesquisador do tema, o et-nógrafo, historiador, advoga-do e professor Luís da CâmaraCascudo: era preciso colocarem ordem os usos, costumes,gestos, modismos, lendas, su-perstições, comidas, santos etudo mais que envolvesse oimaginário e o culto popular(veja alguns dos verbetes daobra en destaque) – isto lápelos idos de 1939.

Mas aí entrou uma outraparte da história: Cascudo iriacontar com a ajuda de amigos,estudiosos e colaboradores deNorte a Sul do Brasil para darforma a um bem-elaboradotrabalho de referência sobre ofolclore brasileiro, e o resul-tado foi o lançamento, em1954, da primeira edição doDicionário do Folclore Brasilei-ro. “Não era possível fixar oBrasil inteiro no plano folcló-rico, mas, nos limites do co-nhecimento provinciano, re-gistrar o essencial, o caracte-rístico”, escreveu o autor, nanota da primeira edição.

“Hoje, nenhum homem es-creveria uma obra desta so-zinho, mas a partir de umainstituição que tenha umaequipe multidiscplinar”, res-salta o professor Severino Vi-cente,presidentedaComissãoRio-grandense-do-norte deFolclore e um estudioso de Câ-mara Cascudo.

ResgateSobre o fato de muitos con-siderarem o folclore algo ul-trapassado, o professor Vicen-te dispara: "O que falta é co-nhecimento. O folclore nãotem idade, presente e futuro ese configura como uma ciênciaque atualiza o saber, o pensar,o sentir e o viver de um povono seu contexto social dife-renciado. Mas aquilo que émoderno passa, e o folcloreavança no tempo e no espa-ço“, considera.

Este ano, a Global Editoraacaba de publicar a 12ª ediçãodo Dicionário, conforme a úl-tima edição revista pelo autor,em 1979. Nesta publicação,além de a família de Cascudoter supervisionado todo o tra-balho de atualização da obra,vale ressaltar que foi alteradaapenasaortografia,conformedetermina o Vocabulário Or-tográfico da Língua Portugue-sa (Volp). "Assim me conta-ram, assim vos contei!", es-creveu Cascudo, na nota dasegunda edição, em 1959.

E nada, desde então e nasediçõesseguintes,contoucomqualquer verbete sobre o fol-clore que não tenha passadopelo crivo de Cascudo.

Para o antropólogo AlbertoAlbergaria, não se deve deixarcairnoesquecimentotambémestudiosos como a historiado-ra baiana Hildegardes Vianna,cujo trabalho trouxe impor-tante contribuição para a pre-servação da cultura folcloristada Bahia.“Ela era uma fonteviva que se preocupava empesquisar sobre os costumes,crenças, tradições e folclore daBahia”, opina o professor.

2ENTREVISTA Daliana Cascudo

“A GENTE SEMODIFICA, MASO FOLCLOREPERMANECE”

REGINA DE SÁEditora

SegundoDalianaCascudo,ne-ta do historiador e folcloristaLuís da Câmara Cascudo, co-ordenadora do Instituto Câ-mara Cascudo (www.cascu-do.org.br), a obra é um ver-dadeiro atestado da identida-de cultural de um povo.

Para a senhora, o que as pes-soas entendem como folclo-re, hoje em dia, é consideradoultrapassado, acabado?

O folclore não acaba nunca,é imortal. Meu avô costu-mava dizer que até mesmoas surpestições foram pararna Lua. Quando os astro-nautas pisaram em solo lu-nar, dizia, foi com o pé di-reito. A gente se modifica,mas as crenças não.

Em que sentido?Por exemplo, as pessoascarregam uma figa em for-ma de um adereço chique,um olho grego. É uma “pro-teção”, mas, em alguns ca-sos, disfarçada de adereço.No fundo, a gente precisaacreditar em alguma coisae pensar em se proteger.

Sobre a nova edição do Di-cionário, que curiosidades asenhora tem conhecimentosobreaúltimaedição,revista,inclusive, por seu avô?

Esta nova edição do Dicio-nário, que é a 12ª, foi to-talmente baseada na últi-ma publicação revista pelomeu avô, que é a de 1979,da Melhoramentos. Nela,ele ressalta muito bem suapreocupação com a citaçãodas fontes bibliográficas ede pesquisa em que se ba-seou para construir estaobra monumental. Segun-do suas próprias palavras,"não permiti a imaginaçãosuprir o documento". A im-portância disto é vital, prin-cipalmente por se tratar deuma ciência muito nova naépoca de lançamento daobra(1954,1ªedição),quenão era estudada com a se-riedade e o respeito quemerecia.Sua maior preocu-pação foi citar as obras e asinformações dos maioresestudiosos brasileiros dacultura popular, tais comoLeonardo Mota, Artur Ra-mos, Afonso Arinos, Afrâ-nio Peixoto, Alceu May-nard, dentre outros.

No livro, há um escrito da fol-clorista Laura Della Monicaquediz,arespeitodeumafalade Câmara Cascudo: "Um di-cionário é labor interminávele, fixando elementos da cul-tura popular, a tentação é pa-ra torná-lo enciclopédia".Houve muitas críticas a res-peito da inclusão de algunsnovos verbetes no trabalhode Cascudo, o que levou amanter o Dicionário tal e qualo autor deixou em vida. Porque tal decisão?

A 11ª edição, revista e atua-lizada, suscitaram diversascríticas por parte dos estu-diosos de Cascudo e da cul-tura popular. O motivo dascríticas foi o fato da inclusãode novos verbetes no Di-cionário, que não tinhamsido escritos pelo autor e

sim pela revisora, alteran-do o texto original. Apesarde saber que a Global Edi-tora não agiu de má-fé nes-ta situação, a família Cas-cudo preferiu acatar as su-gestõesadvindasdestascrí-ticas e solicitar à editora oretorno ao texto originalcascudiano, de forma a di-rimir dúvidas sobre a ori-gem do que consta na obra.A Global, em consonânciacom a família Cascudo,prontamente acatou nossasugestão e foi escolhida aúltima edição revista peloautor, a de 1979, com abase para a nova edição.

Quantos verbetes o Dicioná-rio registra?

O dicionário contém o es-pantoso número de 2.940verbetes, escritos e compi-lados por Câmara Cascudo,em uma época onde todacomunicação remota erarealizada por correspon-dência, sem as facilidadesque a internet proporcionahoje em dia.

Quais regiões do País contêmmaior número de registros doautor?

É impossível citar uma re-giãodoPaís. Istodeve-seaofato de um mesmo verbete,na maior parte das vezes,conter informações sobremanifestações folclóricas esuas variantes em diversosestados e regiões do País. Apreocupação maior do au-tor foi contemplar o Brasil,na sua totalidade, e realizaro que ele mesmo nos diz:"Assim, de mão ao peito,informo que encontrei nopovo do Brasil o materialdeste dicionário e todas ascoisas aqui registradas par-ticipam indissoluvelmenteda existência normal do ho-mem brasileiro". Feliz é opovo que tem uma obra co-mo o Dicionário do FolcloreBrasileiro, um verdadeiroatestado de sua identidadecultural.

Arquivo pessoal

O trabalho foifeito em umaépoca onde todacomunicaçãoremota erarealizada porcorrespondência,sem as facilidadesda internet

LIVRO Conheça algumas curiosidades doDicionário do Folclore Brasileiro,publicação do escritor Luís da CâmaraCascudo que chega em sua 12ª edição

Folclore está

VIVO

A Global, emconsonância coma família Cascudo,prontamenteacatou nossasugestão e foiescolhida a últimaedição revistapelo autor

SEG PERSONA / TER POP / QUA VISUAIS / QUI CENA SEX CINE / HOJE LETRAS DOM SHOP

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