Gato que amava a mancha laranja

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Um gato de encaracolados

bigodes negros

olhava uma branca folha

de papel, colorida com

uma mancha

laranja.

Sonhava com ela todos

os dias.

Assombrosas eram as noites com os seus sonhos cor de

laranja.

Magro de tantos sonhos, numa manhã escura, de fevereiro, ao acordar com o orvalho,

Penteou os bigodes encaracolados, lavou a cara e…saiu de casa, transportando consigo a sua folha amada.

Silenciosamente percorreu o cinzento e silencioso bairro.

telhados

percorreu

calçadas,

roçou-se

nos arbustos,

Soltou um rouco mio e aninhou-se no cansaço.

A folha branca com a mancha coloridade laranja soltou-se das húmidas patas e começou a crescer.

Cresceu… cresceu… cresceu…até atingir o tamanho do gato cansado.

Subiu para o seu dorso e acalentou o seu sonho.

O bairro acordou… em cada canto surgiu a azáfama.

Do meio da multidão surgiu uma

pequena cabeça ruiva… …que parou perto do gato aninhado.

No seu quarto quadrado, no peitoril da sua janela quadrada, colocou o gato doente e magro de sonhos.

O sol apareceu várias vezes iluminando o seu dorso, desaparecendo depois lentamente no horizonte e deixando um rasto de fogo

laranja.

À noite era a LUA curiosa

que o visitava.

Nem o SOLSOL

nem a LUALUA

se lembram quantas vezes apareceram e desapareceram…até que o milagre aconteceu… como que por magia…

o gato acordou para a vida.

Olhou para o estranho cenário: uma cama, uma janela quadrada e uns tantos objetos estranhos.

Quando o franzino menino se

apercebeu que o gato negrotinha regressado à vida, correu apressadamente na direção da porta retangular que dava acesso à cozinha.

Colocou numa tijela um líquido branco e apressou-se para o quarto onde se encontrava o gato faminto e desejoso de beber aquele elixir.

Começou com umas lambidelas amedrontadas, mas depressa perdeu medo, saciando a fome do seu fraco corpo.

Depois de comer lembrou-se da sua dona e da forma como foi deixado sozinho em casa.

Com tantos afazeres a sua dona esquecia-se que tinha um gato e raras eram as vezes que se lembrava de brincar com ele.

Então aconteceu o inevitável.Então aconteceu o inevitável.

Foi em fevereiro, durante as brincadeiras de Carnaval, que a menina partiu e deixou o seu amigo.

Lembram-se como tudo começou?

Sozinho em casa arranjou uma companhia cor de laranjalaranja, mas sem forma e sem vida: um desenho.Era o desenho de uma gatinha cor de laranjaaranja que a menina tinha feito na escola.

A menina que o abandonou era linda e tinha longos e encaracolados cabelos negros.

Chamava-se Carolina e era uma menina muito traquina.

Gostava de cantar,

desenhar…

dançar.

Na casa do menino

ruivo, enquanto o gato sonhava com a Carolina, algo de estranho estava a acontecer. Ouvia-se um incessante miar.

O gato, apreensivo, caminhou pela casa e viu uma gata escondida numa bota velha e rota.Era uma bela gata cor

de laranjalaranja.

Os olhares do gato pretopreto e da gata cor de laranja laranja cruzaram-se e tudo estagnou.

A primaveraprimavera começa a dar ares da sua graça.As andorinhas, vestidas de preto e branco, cruzavam o céu e procuravam o melhor beiral para os seus ninhos.

As plantas começavam a brotar de uma forma que até parecia que queriam beber o calor irradiado pelo SOLSOL.

Foi num belo dia de SOL SOL que se deu o

milagre do gato preto ser pai.

O facto de ter perdido a Carolina fez com que o gato de bigodes encaracolados encontrasse…

… o menino

ruivo … o seu amor

laranja

e imaginem só,

sete lindos filhotes muito traquinas!

O gato foi mais vezes pai e o menino ruivo nunca mais o abandonou, nem quando ia de férias.

FIMFIM