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História Local, Ensino e Pesquisa
Em Busca de Outras Memórias de Salgado Filho
Antonio Juscelino Batista1
RESUMO O presente artigo discute a relevância dos estudos de história local no âmbito das atividades de ensino de História nas escolas públicas paranaenses, com base na elaboração e aplicação de projeto de implementação pedagógica no Colégio estadual Padre Anchieta, na cidade de Salgado Filho. Optou-se por categorias e metodologias que favorecessem a pesquisa e o ensino da história local, objetivando contribuir para a dinamização do ensino de História nas escolas públicas. Deste modo, partiu-se de estudos sobre história oral, memória e fotografia para o desenvolvimento do presente projeto. O presente artigo pretende apresentar e discutir com maior ênfase o segundo momento do projeto, quando foram realizadas entrevistas com moradores da cidade, seguindo o arcabouço metodológico da história oral. Buscou-se conhecer outras memórias do cotidiano das pessoas, vislumbrando possíveis ambiguidades e contradições da memória local até então divulgada. Os resultados são indicativos de que a história local é uma rica e instigante metodologia a ser empregada por professores e alunos das escolas públicas, e um caminho para a coesão entre atividades de ensino e pesquisa nas escolas. A pesquisa de campo identificou uma vasta riqueza de memórias sobre a inserção dos moradores no espaço urbano, sua participação e suas memórias sobre a construção e a transformação da cidade. PALAVRAS CHAVE: História Local. Ensino de História. História Oral. Fotografia. Memória ________________________
1. Graduado em História, especialista em psicopedagogia, professor da rede pública paranaense, professor PDE turma 2008.
2. O presente trabalho contou, em todas as suas etapas, com a orientação da
professora Dra. Meri Frostcher, da Universidade do Oeste do Paraná - UNIOESTE.
3. Expressamos nossos agradecimentos às pessoas e instituições que
contribuíram para a realização desta pesquisa, proporcionando as condições necessárias e indispensáveis para os estudos bibliográficos, as pesquisas de campo e a implementação prática do projeto. Agradecemos especialmente: Governo do Estado do Paraná (SEED), Universidade do Oeste do Paraná (UNIOESTE), Professora Orientadora Dra. Meri Frostcher, Colegas Professores PDE Luiz Miolla e Celma Souza Burille, Colegas Professores de História do Colégio Estadual Padre Anchieta, da Cidade de Salgado Filho, Vanda Krause de Ramos e Agostinho Gonçalves, Direção, Equipe Pedagógica e demais professores e funcionários deste estabelecimento onde aplicamos nosso projeto de implementação pedagógica.
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ABSTRACT This article discusses the relevance of local history studies as part of the history teaching in public schools of Paraná, it is based on the development and implementation of project of training implementation in Colégio Estadual Padre Anchieta, in Salgado Filho. We chose categories and methodologies that promoted research and teaching of local history, aiming to contribute to the dynamism of history teaching in public schools. Thus, we came from studies on oral history, memory and photography for the development of this project. This article aims to present and discuss with more emphasis the second phase of the project, when some residents of the city were interviewed, following the methodological structure of oral history. We tried to know other memories of everyday life, seeing possible ambiguities and contradictions of the local memory previously disclosed. The results are indicative that local history is a rich and compelling methodology to be used by teachers and students in public schools, and a path to social cohesion activities between research and teaching in schools. The field research has identified a great wealth of memories about the inclusion of residents in urban areas, their participation and their memories about the construction and transformation of the city. KEY WORDS: Local History. History Teaching. Oral History. Photography. Memory. I - INTRODUÇÃO
O presente artigo origina-se de uma ampla proposta de formação
continuada de professores e de melhoria da qualidade da educação nas
escolas públicas no Estado do Paraná, através do Programa de
Desenvolvimento Educacional – PDE, realizado de modo articulado entre a
Secretaria de Estado da Educação – SEED e as universidades públicas
paranaenses, que neste caso específico conta com a participação da
Universidade do Oeste do Paraná – UNIOESTE.
A presente produção objetiva focar suas análises no ensino de História
nas escolas públicas do Paraná, tendo como base o estudo do caso do Colégio
Estadual Padre Anchieta, na cidade de Salgado Filho, onde o
professor/pesquisador atua e desenvolveu o presente projeto. Pretende-se
relatar todo o processo de aplicação do projeto de implementação pedagógica,
realizado em duas turmas de concluintes do Ensino Médio, analisando os
resultados alcançados no processo de ensino e pesquisa da História Local. O
ponto de partida é uma realidade vivenciada no ensino de História neste
colégio, onde se constatou a necessidade da aplicação de novas metodologias
3
e conteúdos para tornar o ensino desta disciplina mais atrativo aos alunos e ao
mesmo tempo proporcionar melhores condições de aprendizagem.
O presente trabalho está fundamentado nas Diretrizes Curriculares para
o Ensino de História no Paraná, que aponta como primordial, nas palavras de
Sergio Buarque de Holanda, a busca de significados e representações
elaborados pelos sujeitos em seu cotidiano de vida. A busca de outras
narrativas até então não encontradas nos livros de História: Para estudar o passado de um povo, de uma instituição, de uma classe, não basta aceitar ao pé da letra tudo quanto nos deixou a simples tradição escrita. É preciso fazer falar a multidão imensa dos figurantes mudos que enchem o panorama da História e são muitas vezes mais interessantes e mais importantes do que os outros, os que apenas escrevem a História. (DCE’S História – SEED/PR. 2009. p. 37) O texto pretende oferecer contribuições no sentido do aperfeiçoamento
qualitativo na relação pesquisa, ensino e aprendizagem de História nas escolas
públicas do Paraná.
Considerando que a implementação deste projeto foi partilhada com
outros professores de História do sistema público paranaense, através de
Grupo de Trabalho em Rede – GTR, em ambiente virtual, pretende-se
apresentar e discutir também a receptividade deste tipo de projeto de história
local junto aos demais historiadores.
Em seguida pretende-se discutir sobre a importância da realização do
projeto, em seu âmbito teórico e prático, com alunos e professores de História.
Buscamos demonstrar os resultados da realização desta pesquisa envolvendo
alunos e demais professores, que partiram de uma discussão teórica e em
seguida foram a campo coletar e produzir imagens fotográficas, proceder
leituras do urbano e produzir documentos através de testemunhos orais de
vivências urbanas.
Em referência à história local, a pesquisa foi desenvolvida no sentido de
conhecer e discutir outras memórias que moradores da cidade de Salgado
Filho possam expressar sobre a cidade e a sua inserção nela, divergentes ou
convergentes aos relatos até então publicados sobre a cidade de Salgado
Filho. Neste artigo objetiva-se demonstrar o caminho percorrido na presente
pesquisa, embasados em estudos e discussões oriundos da História Oral,
4
memória, fotografia e cidade, bem como em pressupostos relacionados ao
ensino e pesquisa de História nas escolas públicas da educação básica.
A História Local se apresenta como uma realidade muito próxima do
professor-pesquisador e dos alunos que fizeram parte deste projeto, em uma
conjuntura de construção do saber histórico, valorizado como tal, e também do
processo de construção deste saber. O Ensino de História partiu das cores e
sons do passado local ainda presentes em diversos tipos de documentos, em
evidências muito palpáveis, como descritas por Rafael Samuel: A História Local requer um tipo de conhecimento diferente daquele focalizado no alto nível de desenvolvimento nacional e dá ao pesquisador uma ideia muito mais imediata do passado. Ele a encontra dobrando a esquina e descendo a rua. Ele pode ouvir os seus ecos no mercado, ler o seu grafite nas paredes, seguir suas pegadas nos campos. As categorias abstratas de classe social, ao invés de serem pressupostas, têm de ser traduzidas em diferenças ocupacionais e trajetórias de vidas individuais; O impacto da mudança tem de ser medido por suas consequências para certos domicílios. (SAMUEL,1990. p. 220).
A pesquisa da História Local primou pelo uso dos diversos tipos de
documentos históricos a que o autor teve acesso ou pôde produzir no
transcorrer do projeto, dando ênfase, porém, a fotografias e depoimentos orais.
As fotografias foram tomadas como documentos históricos, passíveis de
toda crítica a que estão sujeitos tais documentos, e tidas como produções
culturais de um determinado indivíduo ou grupo: O registro visual documenta, por outro lado, a própria atitude do fotógrafo diante da realidade; seu estado de espírito e ideologia acabam transparecendo em suas imagens, particularmente naquelas que realiza para si mesmo enquanto forma de expressão pessoal. (KOSSOY, 1989, p.27)
As fotografias não foram tratadas como cópias da realidade ou
portadoras de verdades absolutas. As imagens fotográficas foram fornecidas
ou escolhidas pelos entrevistados, e serviram basicamente como uma espécie
de “gatilho para a memória”. Alguns homens e mulheres, moradores da cidade
de Salgado Filho, tiveram gravados seus depoimentos sobre seu cotidiano de
vida nesta cidade, tendo sobre a mesa fotografias oriundas de seus próprios
arquivos pessoais. Dessa maneira, estabeleceu-se um diálogo entre a História
Oral e a fotografia.
Apresenta-se aqui uma metodologia ainda pouco explorada na pesquisa
e ensino de história, a conjugação da fotografia com os recursos da História
5
Oral, em busca de representações acerca do cotidiano passado das pessoas
na cidade. Certamente o presente trabalho aponta este caminho metodológico
para outros pesquisadores que pretendam investigar o campo das memórias
em nível mais local e regional. O uso de fotografias aliado aos documentos
orais tem se mostrado como uma alternativa interessante para a pesquisa e o
ensino de História.
A perspectiva do autor foi no sentido de conhecer relatos polifônicos da
História Local, conhecendo algumas memórias produzidas por moradores tidos
como ‘menos ilustres’ que aqueles que normalmente foram entrevistados por
pesquisadores e órgãos de imprensa até então. Explica-se aí a utilização do
termo “outras histórias” neste artigo. Utilizamos este termo de acordo com a
proposta de Dea Fenelon e outros autores, exposta no livro “Muitas Memórias, Outras Histórias”:
Se vivemos em uma sociedade que exclui, domina, oprime e oculta os conflitos e as diferenças sob a ideologia e o valor das identidades e da unidade do homogêneo e do único, então o direito à memória se torna uma reivindicação para fazer surgir a diversidade, a diferença, o múltiplo, as muitas memórias e as outras histórias que queremos contribuir para construir”. (FENELON, 2004, p.16)
A História de Salgado Filho até então contada e recontada, utilizada
como referência nas atividades de ensino de História nas escolas locais,
divulgada em todos os órgãos de imprensa da região, apostilas e livros, dão
conta de uma versão “pasteurizada” da História Local. Nesta versão imposta
não aparecem conflitos nem contradições, apenas a narrativa do processo de
criação e desenvolvimento da cidade e do município, do trabalho dos
“pioneiros” para desbravar os sertões e transformar este espaço em um lugar
ideal para se viver e prosperar. As “outras histórias” que buscamos são o
reverso da história oficial, é o não dito, o silenciado. Os moradores,
camponeses, operários, pequenos comerciantes ou artesãos, relatam as suas
histórias, dando conta de todo um universo rico de vivências e representações
sobre seu próprio cotidiano no passado e da relação com os demais. Nestas
outras histórias já se vislumbra a presença de contradições sobre a posse da
terra, conflitos agrários, violências, perseguições políticas, expectativas
frustradas, dentre outras.
O objetivo foi realmente conhecer possíveis relatos destoantes da
história da cidade de Salgado Filho até então contada e recontada. Mais que os
6
fatos comumente tidos como relevantes da História Local, buscou-se conhecer
o significado que as pessoas atribuíram às suas vivências na constituição da
cidade, as suas memórias, levando em conta o papel ativo destes personagens
na produção e significação destas memórias. (...) Pois, não só a filosofia vai implícita nos fatos, mas a motivação para narrar consiste precisamente em expressar o significado da experiência através dos fatos: recordar e contar já é interpretar. A subjetividade, o trabalho através do qual as pessoas constroem e atribuem o significado à própria experiência e à própria identidade, constitui por si mesmo o argumento, o fim mesmo do discurso. (PORTELLI, 1996, P.59)
Articulam-se aqui também reflexões sobre memórias e identidades.
Memórias são entendidas neste artigo como fenômenos produzidos de modo
individual e coletivo, constituídos por recordações elaboradas sobre os
acontecimentos vivenciados das mais diversas maneiras. Trata-se de
vislumbrar o que os indivíduos pensaram ou como interpretaram tais
acontecimentos, ou como os recordam. Estar ciente que a sedimentação
destas memórias em sentimentos e valores mais profundos é o que leva os
indivíduos a se situar em relação a si mesmos, aos demais, ao ambiente social
em que estão inseridos, construindo deste modo as suas identidades.
Ao propor um estudo sobre a História local de Salgado Filho, esta
pesquisa aponta na direção do conhecimento e da discussão das memórias
elaboradas pelos moradores desta cidade em relação ao seu próprio cotidiano
de vida inserido no processo de constituição do espaço urbano. Em suma,
cruzar as trajetórias pessoais com aquilo que já se escreveu sobre a História
da cidade de Salgado Filho. Conforme Michael Pollak, é importante ressaltar
que as memórias assim produzidas passam a ser constituintes fundamentais
das identidades. Se podemos dizer que, em todos os níveis, a memória é um fenômeno construído social e individualmente, quando se trata da memória herdada, podemos também dizer que há uma ligação fenomenológica muito estreita entre a memória e o sentimento de identidade. Aqui o sentimento de identidade está sendo tomado no seu sentido mais superficial, mas que nos basta no momento, que é o sentido da imagem de si, para si e para os outros. Isto é, a imagem que uma pessoa adquire ao longo da vida referente a ela própria, a imagem que ela constrói e apresenta aos outros e a si própria, para acreditar na sua própria representação, mas também para ser percebida da maneira como quer ser percebida pelos outros. (POLLAK, 1992, p. 5)
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II – REFLEXÕES SOBRE A HISTÓRIA LOCAL A cidade de Salgado Filho é a sede do município paranaense com
mesmo nome, situado no extremo Sudoeste do Paraná, próximo à divisa com o
estado de Santa Catarina (10 km) e com a Argentina (40 km), com área
territorial de 183 km2. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística), no ano de 2007 o município contava com 4.666
habitantes, distribuídos entre a área urbana e a área rural.
Versões da História Local do município ou da cidade de Salgado Filho
estão registradas em jornais de circulação regional, publicações da Prefeitura
Municipal, como revistas, sites da internet, folhetos de divulgação da Festa do
Vinho e do Queijo e em um livreto publicado no ano de 1989, intitulado “Assim
é Salgado Filho”.
Analisando algumas destas publicações memorialísticas, pode-se
afirmar que a história escrita, divulgada e ensinada sobre a cidade e seu
entorno, e sobre os processos de apropriação da terra e urbanização, tem um
viés positivista, que parte de uma situação de defasagem e percorre um
caminho no sentido do desenvolvimento, do progresso, protagonizado por
“pioneiros” vindos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina,
predominantemente descendentes de italianos e de alemães. Praticamente
todas as publicações se referem a um processo de colonização e povoamento
de terras tidas como “desabitadas”, na segunda metade do século XX,
promovidos pela empresa Colonizadora Erechim, sem nenhum relato de
conflitos ou antagonismos. Habitado por gaúchos e catarinenses de origem italiana e alemã, caboclos e poloneses, este município experimentou um crescimento econômico e social pela ação corajosa de seus colonizadores que chegaram a partir de 1940 abrindo picadas, construindo pequenos ranchos de acampamento e derrubando as matas para cultivar a terra. Na sede do município floresceu uma pequena cidade que hoje conta com toda infra-estrutura necessária ao conforto da população, tais como (...). (BATISTA, 1989, p.5) Em poucas palavras o autor supracitado torna pública a narrativa
corrente e oficial sobre a história do município, sublinhando algumas
qualidades dos imigrantes e apontando a trajetória dos mesmos como
transformadores da realidade deficitária para uma realidade ideal. Deixa claro
que a “ação corajosa de seus colonizadores” fez brotar uma confortável cidade
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onde antes havia apenas florestas. O relato de Batista, entretanto, destoa da
maioria dos relatos sobre o povoamento de Salgado Filho ao considerar
“caboclos e poloneses” também como “pioneiros” e “desbravadores” destas
terras, visto que a maioria dos relatos aponta apenas os descendentes de
italianos e alemães como responsáveis por este processo.
Mesmo assim, com algumas poucas variações, a “saga dos pioneiros” é
contada e recontada nas diversas publicações consultadas, sempre
representada como um processo sem contradições, sem violências nem vozes
destoantes em qualquer fase do processo de ocupação e povoamento. O Hino
Municipal de Salgado Filho, criado no ano de 2002, também reforça memórias
hegemônicas construídas ao longo do processo de estabelecimento do
povoamento e do espaço urbano, cristalizando a idéia de uma “saga” do
colonizador sulista que teria vindo trazer o progresso. Joaquim Pedro Salgado Filho, vulto ilustre o nome te emprestou E hoje és pleno de luz e brilho, pois aqui o progresso chegou Imigrantes gaúchos, catarinenses, braços forte com alma e vigor Densas matas então desbravaram, nos doando esta terra de amor (...) És tão bela cidade Salgado Filho, povo heróico fazendo acontecer Com a educação para nossos filhos, com saúde para bem viver O desporte e a cultura dessa gente, com bravura conseguimos conquistar Igualdade e liberdade resplandece, com justiça por amor à este lugar (...) Neste solo o progresso se expande, e a semente germina sempre mais!
(Domínio Público) Com destacado ufanismo, o que é próprio dos hinos em geral, o Hino
Municipal de Salgado Filho celebra a ação dos desbravadores “gaúchos e
catarinenses” que chegam a este lugar inóspito, coberto de florestas e com seu
trabalho “heróico” o transformam no lugar dos sonhos, repetindo o mito da terra
prometida.
A expressão “igualdade e liberdade resplandece, com justiça por amor a
este lugar”, no Hino de Salgado Filho, mostra um processo idealizado de
povoamento e constituição da cidade. A primeira impressão é de um processo
totalmente pacífico, sem desigualdades, sem nenhuma injustiça e com todas as
liberdades garantidas.
Prosseguindo as pesquisas sobre a História Local da cidade de Salgado
Filho, observou-se que os relatos são quase uníssonos na maioria dos pontos
enfocados, como a origem da cidade pelo povoamento promovido pela
Colonizadora Erechim, o processo pacífico de ocupação das terras e a
9
ausência de conflitos e antagonismos nesta trajetória inicial da cidade. Os
fragmentos abaixo fazem parte de um “Histórico do Município”, publicado na
página oficial do IBGE na internet, repetindo afirmações já consolidadas nos
ambientes escolares, administrativos e na imprensa local e regional. As terras que não pertenciam a Colonizadora Erechim eram de propriedade do INCRA [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], destinadas a Colonização e Reforma Agrária. Conta-se que os posseiros que chegavam ao município escolhiam suas terras a dedo num acerto entre os próprios moradores. Somente mais tarde que o INCRA mediu essas terras e as titulou segundo o que cada posseiro havia ocupado. (FREITAS, 2009) O trecho acima narra a chegada dos imigrantes e a tomada de posse da
terra como uma situação plenamente resolvida. Uma parte das terras era da
Colonizadora Erechim e era vendida a baixos preços a quem podia comprar. A
outra parte pertencia ao INCRA e nestas terras os posseiros teriam escolhido
seus lotes a dedo, em comum acordo com os já moradores e em seguida o
INCRA titula estas terras gratuitamente aos seus ocupantes. É quase uma
narrativa poética de como teria acontecido a constituição do município e da
cidade de Salgado Filho.
Esta narrativa volta a destacar a presença diferenciada dos
descendentes de europeus como protagonistas de ações que culminaram com
a constituição de uma nova realidade cultural, social e econômica, inclusive
com a criação de eventos e festas de realização anual: Com as famílias de italianos e alemães, Salgado Filho acolheu muitas manifestações e usos tradicionais e populares que deram origem a eventos de cunho regional, interestadual, tais como: Bailes de Kerb, Rodeio Crioulo Interestadual, Festival Municipal da Canção e Festa do Vinho e Feira do Queijo. (FREITAS, 2009) Ainda sobre a importância do papel dos chamados pioneiros na História
Local de Salgado Filho, Helton Pfeiffer afirma que desde o início da colonização do município, os pioneiros desempenharam papel imprescindível na organização e posterior transformação do espaço (ultrapassando dificuldades de ordem natural e econômica) oportunizando mudanças físicas e socioeconômicas. (PFEIFER, 2002. p. 15). É oportuno que se questione sobre os motivos desta repetição de
memórias muito semelhantes por um razoável período de tempo. Algumas
razões certamente podem ser apontadas, como a falta de pesquisas em
história local, realizadas em maior profundidade e com rigor científico, que
ultrapassem estes limites estabelecidos por uma historiografia até então
10
embasada nas narrativas oficiais e nos relatos produzidos pela própria
empresa colonizadora. Jacques Le Goff, em História e Memória, aborda este
tipo de situação, apontando a apropriação do passado das populações por
parte do poder estabelecido, como forma de domínio do seu presente, ou seja,
um processo de construção de memórias centradas nos interesses do Estado e
das classes dominantes. Sobre o poder que reside nas memórias, Jacques Le
Goff define: [...] ela faz parte das grandes questões das sociedades desenvolvidas e das sociedades em vias de desenvolvimento, das classes dominantes e das classes dominadas, lutando todas pelo poder e pela vida, pela sobrevivência e pela promoção. (LE GOFF,1984. p. 46) É preciso salientar que a presente pesquisa pretente rever a perspectiva
das narrativas até então produzidas sobre a cidade de Salgado. O autor
trabalhou com a possibilidade de travar conhecimento com narrativas de
trajetórias individuais, familiares e comunitárias ricas em vivências e memórias
que podem acrescentar novas cores, abordagens e perspectivas aos relatos
históricos quase monocromáticos circulantes em meio a atual população de
Salgado Filho e nas raras publicações existentes sobre o tema.
É possível ancorar as discussões sobre as representações repetitivas e
quase uníssonas em relação a história da cidade com base no conceito de
Discurso Fundador, conforme Eni Orlandi: Essa é também uma das características do discurso fundador: a sua relação particular com a filiação. Cria tradição de sentidos projetando-se para frente e para trás, trazendo o novo para o efeito do permanente. Instala-se irrevogavelmente. É talvez esse efeito que o identifica como fundador: a eficácia em produzir o efeito do novo que se arraiga, no entanto na memória permanente (sem limite). Produz desse modo o efeito do familiar, do evidente, do que só pode ser assim (...). O fundador busca a notoriedade e a possibilidade de criar um lugar na história, um lugar particular. (ORLANDI, 2005, p. 14).
Fica bastante evidente nos relatos dos entrevistados e em fragmentos
de documentos da época do povoamento de Salgado Filho a ação da
Companhia de Terras e do poder político local no sentido de criar um “discurso
fundador”, quando se propõem a criar uma nova cidade, que traria progresso,
riquezas, conforto e prosperidade aos seus moradores. A companhia de terras
valia-se de uma situação desconfortável para os agricultores do Rio Grande do
Sul e de Santa Catarina, que viveram um processo de fragmentação das
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propriedades rurais em razão da herança, além da degradação do solo pelo
uso tradicional e prolongado.
Neste caso, o processo de convencimento feito pela Colonizadora
Erechim, para promover a migração e o povoamento, se baseava na
propaganda das terras de Salgado Filho, e que salientavam a suposta
elevadíssima fertilidade, o preço baixo das terras e a ausência de embates pela
sua posse. Na década de 1950, a Colonizadora Erechim intensificou a
propaganda direcionada àqueles colonos sulistas. O fragmento abaixo é de um
impresso, uma espécie de panfleto impresso em tipografia e fartamente
distribuído em determinadas regiões do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina: A “INDUSTRIAL COLONIZADORA ERECHIM LTDA.”, oferece para venda uma das maiores áreas de terras até agora colonizadas. Trata-se de 2.200 colônias de puro mato branco e parte de pinhal, terras das mais férteis, servidas com águas abundantes, localizadas na zona mais rica do Oeste Paranaense, na divisa com o Estado de Santa Catarina constituindo parte dos novos municípios de marrecas, Barracão e Santo Antonio.
De modo explícito e eficaz a colonizadora estabelecia o “mito fundador”
de Salgado Filho, que deveria ser um lugar de prosperidade e riqueza, uma
espécie de “terra prometida” para estes agricultores sulistas. Na sequência do
mesmo documento (propaganda), menciona que: Comprar terras desta Companhia, será adquirir riquezas com pouco, por que as terras que esta Companhia lança à venda, são, ainda das mais baratas e adquiri-las agora será um ótimo emprego de capital e certeza de um futuro promissor. Acham-se ligadas à estrada federal estratégica de Santo Antonio, Marrecas, Pato Branco, Clevelândia e Porto da União por ótima estrada construída pela própria Companhia que dispõe para isso de maquinário mais moderno. Trata-se de um discurso afirmativo direcionado aos agricultores que
possuíam poucas terras em seus locais de origem. Procura-se convencê-los de
que vendendo as terras eles conseguiriam o valor suficiente para adquirir áreas
muito maiores em Salgado Filho. É interessante sublinhar a expressão “futuro
promissor” e “adquirir riquezas”, como a síntese daquilo que se apregoava
sobre a fundação da cidade de Salgado Filho. A propaganda prossegue
assegurando a existência de “boas estradas” para cidades vizinhas e “sertão
adentro”, e o pleno andamento de obras como igrejas, escolas, moinhos e
“uma usina elétrica movida por força hidráulica”.
12
.Outra afirmação interessante deste documento diz respeito ao poder
político local, quando afirma que “As autoridades municipais do novo município
de Barracão, já escolheram o povoado SALGADO FILHO, para sede de um
dos Prósperos Distritos daquele município.”.
Considerando que o Oeste e Sudoeste do Paraná viveram nas décadas
de 50 e 60 intensos conflitos agrários, grilagens, venda de terras com
documentação irregular, justifica-se o modo como a Colonizadora Erechim
encerra a referida propaganda escrita afirmando que: A Companhia possue todos os documentos de DOMÍNIO – POSSE, e, por isso, está capacitada a escriturar no ATO DA VENDA. O comprador receberá no momento da compra, a terra devidamente ESCRITURA E REGISTRADA. O documento (propaganda) pode ser analisado sob diversos aspectos.
Há que se considerar que ele cumpriu a sua função, estabelecida pelos seus
autores, na época de sua distribuição, já que acorreu um grande número de
novos moradores para o então povoado de Salgado Filho. Os imigrantes
traziam um sonho, alimentado pela propaganda da colonizadora, de um futuro
próspero, de certo modo uma reprodução social do cotidiano do pequeno
agricultor, o dito colono, em um novo cenário.
A realidade encontrada por estes imigrantes, entretanto, não
correspondia totalmente ao discurso da empresa colonizadora. Em primeiro
lugar, omitiu-se na propaganda o fato destas terras possuírem relevo
totalmente acidentado, dificultando imensamente a atividade agrícola. Quanto à
madeira existente, a sua extração comercial era inviável inicialmente, devido à
ausência de estradas, ao relevo montanhoso, ausência de indústrias e baixo
preço final da madeira pronta. Na verdade a madeira era um empecilho para a
atividade agropastoril. Usava-se o necessário para a construção de casas,
cercas e galpões e o restante das árvores simplesmente eram queimadas nas
chamadas “roçadas”, em que a terra era limpa para o plantio.
Quanto à existência das ditas “boas estradas rasgadas sertão adentro”,
alguns entrevistados deste projeto falam textualmente da sua precariedade ou
inexistência. A este respeito, Alceno Schwingel, morador de Salgado Filho
desde o ano 1953, proprietário de serraria, agricultor, em entrevista a este
pesquisador diz “Entremo eu e o meu cunhado, eu fui fazendo pique [trilha]
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com a foice e ele veio de atrás com o cavalo com o arreio pra acampar e fazer
roça, e fazê a casa. (risos) né?!” 4
As terras da região Oeste e Sudoeste do Paraná realmente eram
recobertas por densa floresta, algumas regiões com Araucárias e Erva-Mate,
outras com vegetação variada. Alceno Schwingel, que chegou a ser sócio de
uma pequena serraria, fala das dificuldades para a extração da mencionada
“riqueza” da madeira apregoada pela colonizadora. É pra colocá uma serraria véia, pra nós sofre que nem cachorro. Pra colocá uma serraria ali, aí. E daí veio pra nóis sofrê que nem cachorro. Tinha duas junta de boi. Nóis tinha, ,nóis tinha que pegá uma tora no mato. Ia lá derrubá e...,trazê prá serrá, prá depois, ih!...a turma não tinha mais dinheiro pra pagá as coisa. A gente...sofremo; (risos) mas tâmo vivo. Derrubadas a serrote, a machado e serrote...,daí rolava em cima da carroça e trazia aí na serraria,né?! Alceno relata que sofreram “que nem cachorro” naqueles tempos,
porque além das dificuldades na lida com a serraria, além de enfrentar o
serviço bruto no mato cortando as toras de madeira e transportando com
carroça até a cidade, não recebiam o devido pagamento pelo serviço. Ressalte-
se que esta foi a primeira serraria na cidade, que atendeu a muitas demandas
dos moradores. Do ponto de vista da colonizadora e dos detentores do poder
político e econômico esta era uma realidade de progresso, prosperidade e
geração de riqueza. Em relação a isso, o relato de Alceno Schwingel é
contundente, sublinhando o sofrimento e a frustração.
Estes são alguns exemplos de “outras memórias”, são representações
elaboradas por indivíduos, a partir do presente, sobre o seu cotidiano de vida
na criação da Cidade de Salgado Filho. Nota-se aí o contraditório em relação
às memórias correntes.
Inicialmente o que causa estranhamento ao pesquisador são alguns
silêncios ou ausências nas narrativas correntes na História Local, como por
exemplo, a ausência de menção sobre a presença de moradores nesta área
antes da chegada dos ditos “colonizadores”.
A maioria dos relatos memorialísticos e historiográficos sobre a História
Local de Salgado Filho afirma que o município e a cidade foram fundados por
_____________________ 4. Entrevista concedida ao autor em 16 de agosto de 2009.
14
descendentes de italianos e alemães, oriundos dos estados de Santa Catarina
e Rio Grande do Sul, deixando em plano secundário os demais componentes
étnicos da população. Há um silêncio sobre a participação de outras
composições étnicas na formação da população inicial de Salgado Filho.
Do modo como a história local é contada, tem-se a impressão que a
“colonização” é o marco zero da História Local, que antes disso não havia
História. Desta forma, os “pioneiros” não trouxeram apenas a civilização, o
progresso, o desenvolvimento, a fundação da cidade, mas a fundação da
própria História. Este seria o “mito fundador” da cidade de Salgado Filho, a
saga de colonos “sulistas”, descendentes de europeus (italianos e alemães),
liderados pela companhia de terras, que teriam cumprido sua função de
civilizadores de uma terra rica, mas inóspita e desabitada. Segundo Olavo de
Carvalho: Um mito fundador constitui-se, em geral, da narrativa simbólica de fatos que efetivamente [ou supostamente] sucederam, fatos tão essenciais e significativos que acabam por transferir parte do seu padrão de significado para tudo o que venha a acontecer em seguida numa determinada área civilizacional. (CARVALHO, 2001). Quanto ao povoamento da região Sudoeste do Paraná, é correto afirmar
que os primeiros ocupantes eram populações indígenas. Desde épocas
longínquas no tempo até o presente houve e há a passagem e aldeamentos de
Kaingang e Guaranis na região, inclusive com aldeamentos atuais muito
próximos a Salgado Filho, nos municípios de Mangueirinha e Palmas.
No território do município de Salgado Filho, e inclusive na área urbana,
já foram encontrados inúmeros artefatos em pedra, ferramentas e utensílios,
que indicam a presença de grupos indígenas nestas terras. Salgado Filho é
uma pequena parcela das terras que nas décadas de 30 e 40 do século XX
formavam o chamado “vazio demográfico” do Oeste Paranaense. O
povoamento por eurodescendes avançava de Curitiba para o Norte e para os
campos gerais de Guarapuava e Palmas. Nestes tempos os Kaingang e os
Guaranis viviam no Sudoeste do Paraná.
A certeza da presença indígena na região Sudoeste do Paraná derruba,
uma vez mais, o “mito fundador” construído com base na chegada dos
“pioneiros sulistas”. Várias populações já habitaram estas terras antes dos
imigrantes sulistas, dentre as quais estão os indígenas e os luso-brasileiros,
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mestiços, negros e caboclos. Para melhor aprofundamento da questão
indígena na região indicam-se os trabalhos de Lúcio Tadeu Mota e Sarah
Gomes Tibes.
Há que se registrar ainda que no século XIX e início do XX estas terras
eram freqüentadas pelos descendentes dos espanhóis, os argentinos e
paraguaios que trabalhavam em toda a região na extração da erva mate.
Enfim, temos a presença dos ditos “caboclos” ou “brasileiros” que vieram
para estas terras de Salgado Filho muito antes da década de 1950. Estes, luso-
brasileiros, sem muitas posses, vinham migrando também do Rio Grande do
Sul e especialmente de Santa Catarina. Muito provavelmente uma parte destes
imigrantes era remanescente da Guerra do Contestado.
Grande parte dos nossos entrevistados concorda que havia gente
morando em Salgado Filho antes da chegada dos colonos. No entanto, estes
nativos são considerados como se fossem “os outros”, deixam transparecer
que esta era uma gente diferente, que não estava aqui para os mesmos fins e
não tinha os mesmos direitos dos pioneiros. Transcrevemos abaixo um
fragmento da entrevista com Ivanoi Centenaro, muito elucidativa sobre as
representações dos “pioneiros” sobre os que já estavam aqui: ANTONIO: Já que o Senhor falou em terra, seu Ivanoi... Quando a colonizadora veio, e vocês vieram não tinha posseiros nestas terras? Não tinha outros ocupantes? Pessoas que já moravam aqui? IVANOI: Tinha pessoas que já morava aqui, mas a... Não seriam posseiros. Seria ponto de parada, de estratégica assim... Que nem Salgado Filho, na época teria os Abreu, também nem muito posseiro porque eles se apossaram aqui da Peroba hoje pertence ao nosso município, que seria as terra da Cango. Teria um terreno que eles apossaram que seria a Peroba. Então eles usam esse ponto aqui mais como travessia pra Santa Catarina aqui né. Daí né, na questão, o primeiro município da região seria Clevelândia, né. Então eles ocupavam essa finalidade aqui pra se deslocar até Clevelândia. Ma não, não existia possero aqui. Existia safrista. Aquelas pessoas que derrubavam o mato, e daí plantavam e largava os porco. Chamavam safra, safrista. ANTONIO: E eles não eram dono? IVANOI: Não, não eram dono. Não eram dono porque eles sabiam que a divisa da Cango a coisa era muito bem traçada. ANTONIO: E quando veio a colonizadora e os moradores que compraram as terras, não teve conflito com estas pessoas? IVANOI: Não. Não teve conflito porque na época assim eles sabiam que era documentada e essa firma Erechim já veio com bastante segurança né, elas
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vieram com bastante pessoas que protegiam, e coisa né. Não tinha reação. Teve reação daqui da outra gleba pra frente daqui, que pertencia pra Santa Catarina, aqui existia muito possero. Até aconteceu morte por causa disso aí, mas não que eles queriam se adonar das terras, né. É mais era vingança, né. Sobre os terrenos não existiu muito conflito não.”.5
Note-se que o entrevistado se contradiz. Assegura que existiam
moradores, que não eram proprietários e que utilizavam as terras para a
produção. Percebe-se aí um esforço da negação do outro, uma disputa no
sentido de manter o “mito fundador” exclusivamente nas mãos dos
colonizadores trazidos pela companhia de terras.
Uma possível causa para a mudança de opiniões durante a mesma
entrevista, afirmando certas coisas e depois as negando, seria talvez a pressão
da memória coletiva que circula no município sobre a sua memória individual.
Primeiro fala uma coisa depois muda de idéia. Primeiro fala aquilo que a
sociedade fala, o que se convencionou a afirmar sobre a cidade e seu
povoamento. Depois fala por si mesmo, revelando representações muito
pessoais sobre o seu cotidiano de vida. Ivanoi Centenaro apressa-se em
afirmar que não houve conflitos com estes posseiros, porque “essa firma
Erechim já veio com bastante segurança né, eles vieram com bastante pessoas
que protegiam, e coisa né. Não tinha reação”.
Observa-se que ao mesmo tempo em que o entrevistado afirma que não
houve conflitos, ele diz que “eles vieram com bastante pessoas que protegiam,
e coisa, né. Não tinha reação”. Pode-se deduzir que a companhia de terras
tinha uma presença autoritária e truculenta, levando em conta a presença
destas “pessoas que protegiam”. Estes seriam então seguranças, pistoleiros ou
talvez jagunços.
A pesquisa realizada conseguiu captar algumas vozes discordantes,
geralmente oriundas de pessoas ligadas a associações de moradores,
sindicatos e outras entidades congêneres. Destaca-se aqui a iniciativa de um
grupo de moradores da Comunidade de Linha São Roque, no entorno da
cidade de salgado Filho, que criou uma associação destinada a discutir seu
cotidiano de vida, suas relações de trabalho, suas histórias de vida e propor
_____________________ 5. Entrevista concedida ao autor em 26 de novembro de 2008.
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mudanças a serem vivenciadas coletivamente. Denominada Associação São
Roque, publicou em livro a sua forma de organização, a visão de mundo de
seus membros, incluindo idosos, mulheres, jovens e crianças. Foi uma
experiência interessante de retomada e reelaboração de suas memórias com
vistas à reafirmação de suas identidades. Sessenta por cento dos jovens do município de Salgado Filho, que estudam à noite, vêm do interior, a maioria deles estuda com o objetivo de ter um emprego. Hoje, no meio urbano, o emprego sem qualificação da mão de obra já não existe mais, mesmo que ainda se trabalhe com esta idéia até na escola. É que a cultura torna muitas coisas como que automática em nossas vidas, vamos fazendo sem pensar muito. Quando pensamos, temos condições de ir mudando a realidade em movimento. (ASSOCIAÇÃO SÃO ROQUE, 2000, p.46). Nota-se neste fragmento do livro da Associação São Roque uma visão
diferenciada sobre a inserção do jovem no espaço urbano, em contradição com
a apregoada cidade perfeita, desenvolvida, e com oportunidades iguais para
todas as pessoas. O texto demonstra a clareza que estes membros da
associação têm do processo de exploração de mão de obra na cidade.
A maior parte das produções existentes sobre a História Local são
publicações oficiais da Prefeitura Municipal ou por ela patrocinadas, veiculando
de forma predominante as verdades próprias do poder econômico e político
local, dando destaque para o desenvolvimento econômico e as obras
realizadas pelo poder público e o nome das autoridades que as fizeram
construir. Um pequeno texto sobre a história de Salgado Filho disponível no
site oficial do município, relatando sobre um determinado projeto de
implantação de plantações de parreiras, ressalta que: O incentivo começou durante o governo de Sperandio Ângelo de Conto (1983-1989), e retomado com firmeza no governo Amarildo Smaniotto (1997-2000), o qual através da lei nº 012/97, concedeu aos produtores rurais do Município, incentivos e estímulos de videira e formação de parreiras com doação de mudas de videira e em comodato, palanques de concreto, política adotada também pela atual administração Irceu Picini/Sperandio Ângelo de Conto (2001-2004). (Site Oficial, 2008)
O relato dá grande destaque às autoridades que fizeram acontecer o
projeto de implantação de parreirais, silenciando sobre outros aspectos do
processo de implantação desta nova atividade econômica no município. Não
menciona, por exemplo, o modo como ocorreu o processo de discussão sobre
esta nova alternativa, quais as dificuldades enfrentadas, quem foram as
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famílias que aderiram ao projeto e qual a visão delas sobre todo o projeto.
Outro aspecto interessante neste texto é que ele sequer menciona os demais
prefeitos municipais que governaram o município na vigência deste projeto de
parreirais e qual teria sido a sua contribuição para o mesmo, porque estes
prefeitos eram de um grupo político antagônico ao grupo que estava no poder
por ocasião da elaboração do referido texto. Neste projeto para transformar
Salgado Filho em um grande produtor de uvas, a Prefeitura Municipal doava as
mudas de parreira, os palanques e a assistência técnica e o produtor entrava
com o arame necessário. Se a plantação não desse bons resultados, o
produtor teria que devolver os palanques e pagar o valor das mudas de
parreiras. Ainda sobre este projeto de parreirais, a Associação São Roque, em
seu livro, ressalta que: Nossa esperança começou a ficar menor quando pegamos as primeiras mudas eram muito fracas, com problemas nos enxertos e pouquíssimas raízes. (...) Começamos a discutir a qualidade das mudas e resolvemos devolver uma parte, então apesar de não gostar muito, o pessoal da administração aceitou as mudas de volta e nos deram mudas de melhor qualidade. As mudas se desenvolveram devagar, mas pelo menos se desenvolveram. Já no ano de 1998 a coisa ficou pior. À primeira vista as mudas pareciam ser um pouco melhor, mas só aparentemente. (...) Como não tivemos bons resultados resolvemos saber realmente o porquê das mudas estarem daquele jeito. Encaminhamos então amostras de nossas mudas para Curitiba, para exame, e quando o exame veio, comprovou aquilo que já suspeitávamos: as mudas estavam realmente com problema de contaminação de fusiorun oxysporun associado à podridão de raízes. (ASSOCIAÇÃO SÃO ROQUE, 2000, p. 100). Neste cenário constata-se a contradição entre as várias representações
que os indivíduos e grupos elaboram sobre os acontecimentos. Cada indivíduo
possui ou elabora a sua versão dos fatos, de acordo com o modo com que ele
os vivenciou ou e de acordo com os mais variados fatores que o influenciam. E
assim, conforme os indivíduos interagem nos mais diversos grupos que
freqüentam na sociedade, são influenciados e ao mesmo tempo influenciam na
sedimentação de memórias pessoais e coletivas. Por outro lado, ocorre a
formação da memória hegemônica, construída e disseminada geralmente pelos
detentores do poder econômico, político, social ou dos meios de comunicação.
A publicação do livro pela Associação São Roque é um raro caso em
que grupos minoritários conseguem a autonomia necessária para fazer frente a
grupos majoritários na conjuntura de poder local, expondo suas análises
publicamente, registrando as suas representações, a significação dada aos
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acontecimentos e contribuindo para elaboração de memórias próprias de suas
vivências.
Nas entrevistas que produzimos neste projeto estão presentes memórias
que variam entre a reprodução da saga transformadora e civilizadora dos
imigrantes gaúchos e catarinenses e relatos divergentes da história oficial e
corrente.
Um dos entrevistados, Ivanoi Centenaro, relata seu cotidiano de vida na
cidade de Salgado Filho, apoiando a sua inserção na vida urbana, através de
seu trabalho profissional como carpinteiro e operador de máquinas da
prefeitura municipal e também pela sua vida social e religiosa, a participação
em um clube social local e nas atividades sociais e religiosas da igreja católica
local. Ivanoi comenta sobre algumas dificuldades do passado, mas centra a
sua fala na repetição do discurso do colonizador sulista que traria o progresso,
a transformação da natureza para a construção da sociedade ideal. Ele mesmo
se insere neste processo, como colaborador do progresso. IVANOI: (...) Não construí, mas ajudei a desmanchar uma das primeiras pontes de Salgado Filho, né?! Então seria esta foto, pra mim, uma referência, né, assim, do meu trabalho, né? Além de desmanchar esta, foi construída outra de alvenaria. Então saiu da madeira pra alvenaria. Pra mim, seria já um passo, assim, de progresso.
Nesta e em outras falas, Ivanoi costura a sua relação com a cidade
basicamente através do trabalho, como funcionário público que foi, com
“carteira assinada”, como ele reforça.
Em outros momentos de suas falas, os entrevistados relembram as
dificuldades pelas quais passaram no início do povoamento e algumas
dificuldades do presente.
Nas entrevistas realizadas, os colaboradores foram convidados a
mostrar as fotografias mais interessantes, sob seu ponto de vista, que
ilustrassem a sua vida na cidade ou em seu entorno. Ivanoi Centenaro
escolheu a foto abaixo, de sua propriedade, em que aparecem ele e seus
companheiros de trabalho desmanchando uma determinada ponte na entrada
do vilarejo que viria ser a cidade de Salgado Filho.
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Imagem 01, cedida por Ivanoi Centenaro, década de 1950, autoria atribuída a Osvino Krause
Ao analisar esta imagem é possível observar a nítida intenção do autor
em enquadrar tanto a ponte que estava sendo demolida para dar lugar a uma
nova ponte, quanto os trabalhadores, que se apresentam com ferramentas e
trajes de trabalho. Pode-se afirmar que esta fotografia é uma produção cultural
do fotógrafo, que escolheu o ângulo de sua preferência, mostrando aquilo que
queria mostrar e deixando de mostrar o que supostamente preferia ocultar. É
também uma produção cultural dos personagens fotografados, onde cada um
se coloca do modo como quer aparecer para “a posteridade”. Observe-se que
dois deles fazem gestos com os braços, demonstrando força. Outro
simplesmente trabalha, outro cruza os braços, e assim por diante.
Observe-se que a imagem foi tomada a partir da cidade, tendo ao fundo
apenas mais duas construções. Se o fotógrafo tivesse se posicionado no lado
contrário apareceria a ponte e o que seria a cidade nesta época. Cabe aqui um
questionamento sobre a intencionalidade ou não de fotografar apenas a ponte,
o início da estrada e o vazio urbano que ao fundo aparece.
A propósito, a parte da estrada que aparece ao fundo da imagem, em
uma ladeira, era um dos principais acessos à cidade, e não se parece em nada
com as “boas estradas” anunciadas pela colonizadora.
Em outro momento da entrevista, Ivanoi passa a relatar as dificuldades e
as decepções em relação ao não desenvolvimento urbano apontando
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exatamente o tema da foto (transporte/comunicação) como razão para a
frustração do esperado desenvolvimento da cidade. IVANOI: (...) E naquela época a hoje, não teve como também muito a se desenvolver porque nós ficamo num lugar que não tinha acesso. Agora há pouco tempo que começou ter acesso, asfalto e coisa. Então nós teria uma rota fora de mão, né. Que chama-se assim uma rota que ficou fora de mão. Mas em si a cidade não, não cresceu muito no...do que a gente esperava, mas tudo que é da nossa necessidade aqui do nosso município nós temos, né. Então... A não ser agora que foi fechado o nosso hospital que no restante tudo que se precisaria, teria, né. (...) Por aí ela teve a evolução dela. Mas nós almejasse que fosse mais, né. (...) Aí fica bem mais difícil da turma adquiri uma casa, uma moradia digna e coisa...Então por isso que a cidade não cresce tanto, né. Quando o entrevistado fala que a cidade ficou uma “rota fora de
mão” ou um “um lugar que não tinha acesso”, está se referindo ao fato
de que a cidade de Salgado Filho permaneceu isolada das demais
cidades da região, sem um acesso por asfalto. Apenas nos anos 80 foi
construída uma rodovia pavimentada, dando acesso a Francisco Beltrão
e a outros municípios da região. Mesmo assim, Salgado Filho continuou
“fora de mão” porque ninguém passava pela cidade. Existia apenas um
acesso pavimentado, com vinte quilômetros de extensão. Apenas nos
anos 90 foi feito um segundo acesso pavimentado com asfalto, com dez
quilômetros de extensão, ligando a Barracão, Argentina e Santa
Catarina.
Ao se produzir um documento oral, o entrevistado parte sempre
do presente para formular seus relatos sobre as memórias que elabora
sobre seu passado. Percebe-se aqui que Ivanoi comenta sobre o
problema de acesso à cidade, hoje algo superado. No entanto, ele
amplia a sua análise do cotidiano da cidade ao falar do desemprego e do
fechamento do único hospital da cidade, ocorrido recentemente. Cabe
ressaltar que na produção de uma entrevista de História Oral o passado
e o presente dialogam, conjugam-se na elaboração das memórias e
identidades.
Percebe-se aqui, uma vez mais, a frustração das pessoas pela
promessa de progresso e riquezas que surgiriam no processo de
povoamento e colonização, segundo a companhia colonizadora. Hoje a
cidade não é mais fora de mão, pois as pontes e rodovias finalmente
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foram construídas, mas o progresso, os empregos e a prosperidade não
vieram.
A esposa do Senhor Ivanoi, Senhora Loni Centenaro, também
entrevistada nesta pesquisa, revela pontos interessantes sobre suas
vivências na cidade. Ela jamais teve uma ocupação profissional formal e
não esconde a sua frustração por isso. Ela apóia seu relato em uma
imagem fotográfica diversa de seu esposo. Enquanto ele apresentou
uma imagem relativa ao trabalho, em idade madura, ela escolheu uma
imagem de um acontecimento inesperado, extraordinário, uma nevasca
que se abateu sobre a cidade no ano de 1965, quando ela vivia seus
dias de plena juventude. Em seu relato, a partir da fotografia da nevasca,
Dona Loni externa suas memórias mais relacionadas ao lúdico, à
confraternização. LONI: Bom, eu escolheria aquela foto da... Daquela época da neve... Que foi feito de brincadeira, que foi inventado de fazê bonecos e de neve... E daí saiu aquela que foi tirada a foto, né. Daquele boneco de... Da neve na União da Serra, que aquela época se chamava a Linha Belvedera. E daí a juventude lá ajuntaram, na parte da manhã... Com uma coisa muito bonito de ver aquilo que nunca ninguém tinha visto. O amanhecer daquele dia, né... De acordar pela manhã e ver... Parecia que o mundo tinha acabado. Da gente não vê uma coisa verde, tudo branco.6
Imagem 02, cedida por Loni Centenaro, ano 1965, autoria não determinada. ______________________________ 6. Entrevista concedida ao autor em 26 de novembro de 2008.
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Através da análise da imagem, é apropriado considerar que os
personagens fotografados e o autor da imagem tinham a clara noção que
estavam produzindo um documento para a posteridade, tendo em vista o
caráter raro e extraordinário do acontecimento. O cenário foi cuidadosamente
preparado, um boneco de neve confeccionado, as pessoas muito bem vestidas
para a época, dando um caráter solene ao evento e o detalhe imprescindível, a
data gravada no próprio boneco. Note-se que o boneco de neve está com arma
de fogo no cinturão, revelando um comportamento bastante comum entre os
homens nos anos 50 e 60 nesta região.
Em referência ao cinturão colocado no boneco de neve, com um
revolver, verdadeiro ou imitação, traz à tona comportamentos e fatos
geralmente silenciados na História Local, ligados à violência. De modo geral, os
relatos circulantes não mencionam as disputas, brigas, assassinatos e
perseguições. Tem-se a impressão que a cidade tem um passado totalmente
pacifico, o que não corresponde à realidade.
Na medida em que se faz uma leitura mais profunda das fotografias e
dos documentos orais produzidos a partir delas, observa-se com maior nitidez
as ricas possibilidades de pesquisa se conjugando História Oral e Fotografia.
Assim como a memória é um campo de profundas disputas, a fotografia
também entra no rol de disputas e negociações, no estabelecimento de
narrativas e representações divergentes sobre a mesma imagem. Esta
fotografia do boneco de neve, de autoria não conhecida, segundo o relato de
Dona Loni, foi feita em um determinado local, a Linha Belvedera, onde ela
residia com sua família. Outros relatos, no entanto, dão conta de que esta
fotografia foi produzida na Comunidade de Flor da Serra, verificando-se uma
divergência em relação à produção desse documento histórico. Naquele dia a
nevasca atingiu todo o território do município de Salgado Filho e certamente
foram feitos vários bonecos de neve em diferentes lugares, mas nem todos
foram fotografados. Como existe um grande número de fotografias referentes a
este evento em circulação no meio social local, é possível notar que algumas
pessoas e grupos, como é o caso de Dona Loni, reivindicam as imagens
existentes como o “seu boneco de neve”.
Analisando esta outra imagem, cedida por Graciano Ribeiro Dias,
produzida nos anos 50, pode-se perceber a intensidade do uso de armas por
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Imagem 03, cedida por Graciano Ribeiro Dias, década de 1950, autoria não determinada.
uma parcela da população daquela época. O próprio Senhor Graciano,
conhecido por “Cassiano”, fez diversos relatos de brigas em bailes,
assassinatos, torturas e outros tipos de violências, que relutam em aparecer
nos relatos oficiais da História Local.
Nesta imagem, “Seu Cassiano”, o primeiro da direita, aparece armado,
servindo bebida a um de seus companheiros. Note-se que na foto, pelo menos,
faz-se questão de deixar as armas na parte da frente, bem à mostra. Talvez
esta combinação de arma e bebida alcoólica seria uma espécie de código de
masculinidade. Certamente é uma imagem reveladora do cotidiano de Salgado
Filho nas décadas de 50/60, que merece um estudo mais aprofundado.
Por outro, a continuação da narrativa da Senhora Loni revela algumas
de suas memórias sobre a cidade e a sua inserção nela. O seu relado mostra a
frustração de suas esperanças na “cidade prometida”, no lugar idealizado que
atenderia a todas as necessidades dos moradores, segundo a história oficial: LONI: Aqui na cidade foi difícil... pra gente mulher não foi fácil, (...) pra ir embora... Depois não tinha como sair... Mas pra mim não foi fácil porque pra mulher não tinha emprego aqui. Não tinha serviço. E a gente não tinha terra onde trabalhar. Então não foi fácil, a gente sempre cuidou a casa... costurava um pouco pra fora, ia ganha uns troquinho. Faze alguma coisa aqui, ali, tranquila, casada, fui levando como dava. A gente não pode ter mais... Com o que a gente ganhou a gente não teve como. A gente não conseguiu muita empresa... lugar pequeno,... não vai pra frente não. Então a idéia da gente era
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de ir embora pra um lugar que poderia ter emprego. Mas não foi fácil, não. Só que a vida da gente era pra ser aqui... Como os filhos foram embora e agora tão voltando de novo, decerto nosso lugar é aqui. (...) Se o lugar fosse pra frente, a gente poderia saber se ele vai pra frente... nunca ia ser uma cidade grande, mas a gente tinha esperança. (...) Que a gente esperô, esperô. Por falta de serviço, por falta de trabalho a gente não conseguiu. Trata-se de um depoimento dramático, dando conta de uma existência
alimentada pela esperança de uma melhor colocação profissional e social, a
espera da abundância material. A Senhora Loni fala devagar, com voz baixa e
firme, demonstrando uma forte carga emocional em suas palavras.
É possível perceber representações contraditórias no âmbito da mesma
família. Enquanto Ivanói se considera uma pessoa realizada profissionalmente,
apesar de suas expectativas não terem sido atendidas plenamente, Loni
expressava com clareza a sua frustração por ter ficado apenas em casa,
esperando, executando trabalhos não formais e pouco remunerados. Esta é a
riqueza da História Oral, discutida por Portelli, pois através dela cada indivíduo
constrói a sua representação sobre o mesmo processo ou acontecimento.
Dona Loni é filha de agricultores e vinha de uma realidade em que os
papéis sociais de gênero eram bem definidos, onde a mulher era responsável
pelos afazeres domésticos e também ajudava praticamente em todos os
serviços da lavoura. É possível que a frustração revelada em sua narrativa
resida no fato de eles não possuírem ou terem pouca terra para trabalhar em
Salgado Filho depois de casados. Então ela não se realiza, pois não consegue
reproduzir o papel social da mulher em sua comunidade de origem. Também
se frustra porque surge um novo papel social para a mulher na nova cidade
que se funda, o da mulher que trabalha fora de casa, que tem uma ocupação
formal remunerada. Ela, no entanto, jamais teve um emprego formal.
Em seu relato, Dona Loni externa elementos que caracterizam a cidade
sonhada e a cidade real, aquilo que se esperava ou ainda se espera da cidade
e aquilo que efetivamente se torna realidade na vida concreta de seus
habitantes.
Outra entrevista realizada foi com a Senhora Josephina Maria Titon
Krause, 74 anos e moradora de Salgado Filho desde o ano de 1953. ‘Dona
Pina’, como é conhecida, faz um longo depoimento sobre a sua vida na cidade,
ancorando suas memórias nas diversas atividades que desenvolveu na cidade.
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Sua narrativa está focada no “tempo em que foi” professora, catequista da
Igreja Católica, rezadeira, costureira e também nas grandes dificuldades que
enfrentou, especialmente quando esteve muito doente e também quando
faleceu uma filha com dois anos de idade e em outra ocasião o falecimento de
outro filho, com apenas 35 dias de vida: PINA: “tinha chovido. Dai eles foram e eu fiquei, imagina! Ver a menina daquele jeito, eu fiquei chorando. Meu irmão Mário falou pra mim me acalmar, a enfermeira vaio em trazer um chá, falou, falou, falou que agora ia ser melhor, que eles iam levar pra fora ia ser melhor, não era pra mim me preocupar. Ai eu disse, você acha que eu não vi o médico falar que a coisa não ta boa. Infelizmente é verdade, daí me bateu o desespero, um desespero, daí daquele dia lá eu fiquei ruim, fiquei ruim. Eles foram pra Curitiba e eles não vinham, daí quando fazia 8 dias, veio o homem que tinham ido pra lá e falou que ainda não tinham conseguido consultar, ver o que, que a menina tinha nas vista, mas daí até que vem de lá até aqui, dá 2 ou 3 dias. Daí o terceiro que veio de lá disse que tinham tirado a vista da menina, daí ela ficou boa, ai nós fomos lá, o médico falou, olha, nós vamos poder colocar uma vista nova nela. Quando foi de repente, 6 meses depois, começou dar um negócio na menina, começou inchar, inchar, inchar [a vista], ficou que nem um tumor e de vez em quando sangrava, saía aqueles pedaços de carne; daí levamos e ele [o médico], falou que não tinha o que fazer. Daí ficamos, daí ele durou de julho até setembro ela durou.7 Ao se recordar destes acontecimentos, Dona Pina emociona-se e chora.
Demonstra estar bastante apegada a estas lembranças de tempos bastante
sofridos para ela e sua família. Ela vê a cidade a partir da carência, da falta de
assistência médica e das dificuldades para procurar recursos médicos em
outros lugares. Centra seu relato em um cotidiano de sofrimento, pela doença e
perda de sua filha e também da perda de outro filho recém nascido. A presente
pesquisa mostra, com este depoimento, o cotidiano de pessoas cujas
memórias ainda não foram levadas em conta no registro da História Local.
Pessoas simples, trabalhadores, mulheres.
Outro morador entrevistado foi o Senhor Euzébio Aurélio Sponchiado, 78
anos de idade, morador de Salgado Filho desde o ano de 1953. O Senhor
Aurélio, como é conhecido na cidade, relata parte de suas memórias sobre a
cidade de Salgado Filho, contando detalhes de sua vida como comerciante
local e relembrando de seu cotidiano como jogador de futebol amador pelo
Clube Juventus, da mesma cidade. Insiste em contar detalhadamente sobre o
____________________ 7. Entrevista concedida ao autor em 14 de abril de 2009.
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episódio do falecimento de um de seus companheiros do time, por ter fraturado
uma perna durante um jogo. O Senhor Aurélio revela uma informação bastante
interessante sobre o povoamento da cidade e seu entorno, dando a conhecer
moradores que aqui estavam antes da chegada dos migrantes trazidos pela
colonizadora. Ele conta sobre os clientes de sua loja e inclui nesta categoria a
“caboclada”: EUSÉBIO: Sim, então a Erechim a gente fornecia um vale, Requesição a gente fornecia fim do mês, daí ele vinha e acertava. Agora tinha assim a caboclada que vinha aqui e comprava três metros, por exemplo, um pra faze uma camisa,. Chegava e te pagava. (...) Dinheirinho vivo, e depois sobrava dinheiro, não conheciam dinheiro. A gente se fosse dize assim nunca tirei um tustão de um coitado. Não! Eu quis trabaiá certo porque meu pai é. Quando saí e vim pra cá meu pai disse: - Olha filho, tu seja certo, o metro, o peso e a conta. (...) Então a gente negociava até que tinha um real, que hoje é um real, né. Naquele tempo era mil réis. Mai olha, balança não conheciam, milho... Viviam de milho. Era à mão, era espiga contada, depois nós viemo, nóis pesava o milho e com a balança, né! A firma Erechim tinha três tratorzinho que pra derruba uma árvore então tinha primeiro que destoca em roda, corta as raiz e depois chega com o tratorzinho pra podê derruba uma árvore e abri uma estrada. (...) Olha naquele tempo pertencia a Barracão. Era o município de Barracão. Então vinha botava um inspetor, subdelegado, mas quando que é que é no fim, pensa bem, esses aí era pra criar mais (confusão). Sabe o que que acontece, acontecia que era aquele coitado lá sem merecer, daí dava a favor que vinha dar uma queixa para você. E você dava razão pro outro. Sabia, depois talvez o pistolava só por causa que ficava com raiva, né. Eu levantava quando clareava o dia. Bom tempo que reunia porco duas, três hora da madrugada, pega balança nas costas, balança de vara e cordinha ou i com carroça porque pra trazê os porco, se era porco que engordava na roça, daí a gente trazia tocado, olha da oito, nove, dez quilômetros. E comprava também dos safristas, né. (...) ANTONIO: O Senhor lembra de algum safrista? Assim, o nome? EUSÉBIO: Mais olha, Arlindo Cordeiro, Geraldo Bilibiu, Eurico Gomes e o Gildo Vieira. Até esse Antonio Mostarda ali que pegava e engordava bastante. Ali o Costro, o Moisés Abreu”.
ANTONIO: E esses safristas eram donos ou posseiros? EUSÉBIO: Eles eram posseiros e vieram aqui, entraram ali. Cortavam aqui, ano que vem cortavam lá. Esses safristas ali, eles acostumaram a cortar este ano aqui outro ano lá.8
O depoimento do Senhor Aurélio Sponchiado oferece a possibilidade de
discutirmos a afirmação fartamente divulgada na História Local de Salgado
Filho, de que os migrantes gaúchos e catarinenses, a maioria deles descentes
_____________________ 8. Entrevista concedida ao autor em 14 de maio de 2009.
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de italianos e de alemães, chegaram a uma terra desabitada, como pioneiros
do povoamento, e que contaram com toda a infra-estrutura necessária ao
“desbravamento” destas terras. O Senhor Aurélio, ao referir-se à “caboclada” e
aos “safristas”, está assegurando que aqui residiam outras pessoas, as quais já
praticavam uma atividade econômica que era o sistema de “safras de porcos”.
Ao ressaltar que os “caboclos” tinham dinheiro e pagavam suas contas com
exatidão, demonstra um preconceito então existente.
Ao referir-se à “caboclada”, no singular, Seu Aurélio deixa bem clara a
distinção do “nós” e dos “outros”. Nesta sociedade “colonizadora” de Salgado
Filho dava-se muito valor às “pessoas de origem”, que seriam neste caso os
descendentes de italianos e de alemães. Os “outros”, vistos como de menor
importância no processo de ocupação, eram os caboclos ou simplesmente
“brasileiros”, tidos como não muito afeitas ao trabalho e possuidores de outros
defeitos. Por isso, Seu Aurélio ressalta que os caboclos faziam compras em
sua loja e pagavam à vista.
Cabe esclarecer o termo “safrista”, muito empregado ao referir-se aos
anos de início do povoamento de Salgado Filho. As safras de porcos
consistiam em fazer um roçado em meio à floresta, deixar secar por alguns
dias e atear fogo. Em seguida, plantava-se o milho nesta clareira. Quando o
milho estava maduro para ser colhido, soltava-se uma determinada quantidade
de porcos na roça e os animais permaneciam ali se alimentando até devorarem
toda a plantação. Algumas vezes eram transferidos para outras áreas
plantadas. Quando finalmente estavam prontos para o abate, eram tocados até
a cidade, em caminhadas que duravam muitas horas. Na cidade os porcos
eram vendidos para os comerciantes, que então faziam a venda e o transporte
dos animais para os frigoríficos de Ponta Grossa e Curitiba. Cabe ressaltar que
os referidos “safristas”, em sua maioria, eram “caboclos”, não eram donos das
terras que usavam e chegaram em Salgado Filho antes dos “colonizadores”.
Por outro lado, nas memórias de Seu Aurélio, verifica-se a pouca
estrutura que a colonizadora dispunha para auxiliar os compradores de terras e
transparece ainda a total ausência do poder público para assegurar os direitos
fundamentais destas pessoas que aqui residiam, realidade muito diferente do
divulgado nas propagandas da Colonizadora Erechim, e distribuídas no sul do
Brasil para atrair novos compradores para estas terras.
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III – IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA DO PROJETO Seguindo os pressupostos metodológicos estabelecidos pela
coordenação do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, vinculado
à Secretaria de Estado da Educação – SEED, no Estado do Paraná, o presente
projeto conta com dois grandes eixos de ação. O primeiro deles foi a pesquisa
científica e metodológica sobre a História Local, com base nos pressupostos
teóricos da História Oral, Fotografia e Memória. O segundo eixo de ação é a
implementação do projeto de intervenção pedagógica no Colégio Estadual
Padre Anchieta, na cidade de Salgado Filho.
A implementação pedagógica consistiu na realização de um trabalho
conjunto deste pesquisador com os demais professores de História da referida
escola, professores de áreas afins, funcionários, equipe pedagógica e alunos
de duas turmas de terceiras séries do Ensino Médio, totalizando cerca de
cinqüenta alunos.
Saliente-se que o projeto foi construído com base em estudos realizados
durante o primeiro ano do programa PDE, com intensas pesquisas
bibliográficas e encontros presenciais de estudos realizados no âmbito da
Universidade Unioeste, Campus de Marechal Cândido Rondon, contando com
a orientação da professora Dra. Meri Frostcher. Este foi um período muito
importante de embasamento teórico e suporte metodológico às ações que se
seguiriam. Em paralelo a estes estudos, este pesquisador realizou ampla
pesquisa documental, bibliográfica, iconográfica e através de fontes orais sobre
a História Local (de Salgado Filho) e da região Sudoeste do Paraná.
Em seguida, o projeto foi apresentado por este pesquisador aos
professores de História, professores de áreas afins, equipe pedagógica e
funcionários da escola, sendo discutido e avaliado durante vários encontros
presenciais por este grupo denominado de “grupo de apoio”.
O principal objetivo do projeto de implementação foi contribuir no
processo ensino/aprendizagem de História, através da realização de estudos
teóricos com os alunos, sobre História Oral, História Local, memória e
fotografia e através da realização de trabalhos de campo, entrevistas, produção
de fotografias, recolhimento de fotografias junto a moradores da cidade, e
análise de fotografias.
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Sob a coordenação da Professora Vanda Krause e do Professor
Agustinho Gonçalves, titulares da disciplina de História no Colégio Estadual
Padre Anchieta, foram realizadas várias discussões a respeito das memórias
correntes (oficiais) e possíveis memórias alternativas ou silenciadas na história
local, buscando sugestões de nomes de possíveis colaboradores a serem
entrevistados.
Na sequência do projeto, foram realizadas diversas entrevistas com
moradores de Salgado Filho, sendo a maioria delas com a presença e
participação ativas de alunos. Estas entrevistas tiveram enfoque nas possíveis
memórias sobre a transformação do espaço urbano e as vivências e
significados atribuídos pelos seus moradores, e possibilitaram que estas
discussões fossem levadas às salas de aula do Ensino Médio.
Foi neste momento da implementação que percebemos um salto
qualitativo na relação do aluno com a disciplina estudada, constatando-se que
em atividades práticas, de campo ou de laboratório, há um maior envolvimento
do aluno com a aprendizagem.
Outra atividade de campo proposta aos alunos foi a produção de uma
fotografia da cidade, que representasse a sua inserção neste espaço. A
atividade foi realizada duas vezes, uma no início do projeto e outra ao final.
Cada um dos cerca de cinqüenta alunos, com a assistência de professores e
demais membros da equipe de apoio, produziu uma fotografia da cidade,
mostrando o lugar da cidade onde ele se sentia melhor inserido. Cada aluno
redigiu também uma breve justificativa para a escolha daquele local para ser
fotografado. Ao final do projeto, após a realização dos estudos teóricos, os
alunos voltaram a campo para refazer a atividade da fotografia, com o mesmo
enunciado anterior, a produção de uma fotografia que melhor representasse a
sua inserção no urbano de Salgado Filho, anexando uma pequena justificativa.
As fotografias e justificativas de ambas as etapas foram transformadas em
material multimídia e abalizadas em sala de aula, percebendo-se que ocorreu
uma mudança significativa no foco das imagens entre uma e outra etapa. Na
primeira atividade os alunos produziram basicamente imagens panorâmicas da
cidade, vistas gerais, e fotos de pontos considerados turísticos na cidade, como
a igreja católica, o parque de exposições, a caixa de água em forma de
garrafão de vinho, o prédio em forma de pipa de vinho. Já na segunda etapa,
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após os estudos sobre fotografia, memória, história local e cidade, os alunos
produziram imagens de suas moradias, do seu bairro, da escola, da lavoura da
família, da igreja e dos locais de lazer que frequentam.
Saliente-se que na realização das atividades de produção de fotografias, os
alunos ficaram totalmente livres pra fotografar o que quisessem, sendo que não
houve direcionamento por parte dos professores e equipe de apoio.
A mudança de foco observada entre uma e outra etapa desta atividade de
produção de fotografias aponta para uma efetiva aprendizagem por parte dos
alunos a respeito dos conceitos apresentados, os quais passam a entender a
importância dos espaços da cidade que são qualificados pelo seu uso. Este foi
um trabalho que mobilizou e motivou os alunos nas aulas de História, levando-
os à reflexão sobre muitos aspectos da história local e de sua inserção nela (na
História) e na própria cidade. Foi um momento muito rico no processo
ensino/aprendizagem, vivenciado por alunos e professores.
A implementação do projeto foi concluída com uma atividade envolvendo a
comunidade local e regional, através da realização de uma exposição de
fotografias, coletadas pelos alunos, digitalizadas e ampliadas. O evento foi
inserido na programação da Festa do Vinho e Feira do Queijo de Salgado
Filho, nos dias dezessete a dezenove de julho de 2009. Esta exposição foi
abrigada em uma casa de madeira, rústica, semelhante às primeiras casas
construídas em Salgado Filho, antes da vinda da empresa colonizadora e dos
migrantes por ela trazidos.
Esta exposição fotográfica consistiu em um momento privilegiado de
encontro dos moradores de Salgado Filho e da região não apenas para
observar fotografias, mas principalmente para reavivar e reelaborar suas
memórias, em um processo de confronto, negociação e rememoração. Durante
os três dias da Festa do Vinho calcula-se que circularam pelo Parque de
Exposições cerca de quarenta mil pessoas e estima-se que três mil visitantes
estiveram na exposição fotográfica.
Esta atividade proporcionou momentos ímpares para o estudo da História
Local, onde tivemos a presença de alunos, professores e moradores de todas
as idades, interagindo ativamente diante dos painéis fotográficos, discutindo,
concordando ou discordando de datas, locais, eventos, personagens ali
expostos. Muitos dos visitantes, moradores de Salgado Filho ou da região,
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ofereceram fotografias para serem juntadas a esta exposição em outras
edições, se houver. Tem-se a impressão de que as pessoas, ao visitarem uma
exposição de fotografias que conta parte de sua história, fazem questão de
marcar a sua presença nesta história. O fato de oferecer outras fotografias para
serem juntadas a esta coleção demonstra isso. Do mesmo modo, várias
pessoas se mostraram interessadas em conceder entrevistas, chegaram
mesmo a oferecer-se para contar algo de suas vidas para fazer parte da
“História de Salgado Filho”.
Várias outras atividades foram realizadas durante a implementação do
projeto na escola, não sendo possível, entretanto, o seu relato mais detalhado
neste artigo devido à limitação de espaço.
Cabe ressaltar ainda que as os estudos e discussões sobre os temas em
pauta neste artigo, bem como os resultados da implementação na escola,
foram partilhados e analisados por um grupo de professores de História, cerca
de vinte profissionais, através de curso coordenado por este pesquisador em
ambiente virtual, através do portal e-escola.
Os participantes deste curso, em sua grande maioria, avaliaram-no como
altamente positivo para utilização no ensino de História como fator de melhoria
da qualidade da relação ensino/aprendizagem.
IV - CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa procurou vislumbrar diferentes caminhos para o
estudo da História Local, partindo de atividades de ensino e pesquisa no
âmbito escolar. Alunos do Ensino Médio, professores e membros da Equipe de
Apoio participaram ativamente de ações, planejamentos, discussões,
entrevistas, transcrições, produção e estudo de imagens. Criou-se um ótimo
ambiente de pesquisa e produção, levando os alunos e sentirem-se realmente
parte da História Local e produtores da mesma, capazes de estudá-la
criticamente e contribuir na construção de outras narrativas.
O estudo das memórias através da produção de documentos orais e
com a utilização das memórias visuais, apoiando-se em fotografias,
demonstrou ser uma possibilidade interessante para pesquisas com a História
Local, considerando-se a riqueza dos relatos colhidos ao longo deste trabalho.
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O envolvimento dos alunos neste projeto, desde os estudos e
discussões iniciais até a produção e análise de documentos orais e visuais
mostrou-se como uma alternativa viável para aproximar o ensino à pesquisa
em História no cotidiano da escola de Ensino Médio, possibilitando melhorias
na qualidade das relações ensino e aprendizagem.
O estudo da História Local através das memórias de seus moradores
aponta para a produção de outras narrativas do passado dos moradores, sob
novas perspectivas, levando em conta o cotidiano destes moradores e as suas
representações sobre a cidade e sobre a sua inserção nela. Neste sentido, o
presente trabalho indica a realização de novas pesquisas sobre a história Local
de Salgado Filho, com ênfase nas memórias de seus moradores.
V - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSOCIAÇÃO SÃO ROQUE. Organização, Conhecimento e Qualidade de Vida. Possibilidades da Agricultura Familiar. Salgado Filho, Assessoar,
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