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Oportunidades para o desenvolvimento municipal em Mato Grosso
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Rio Papagaio, Terra Indígena Utiariti. Foto: Thiago Foresti/OPAN
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OPERAÇÃO AMAZÔNIA NATIVAAv. Ipiranga, 97, Bairro Goiabeiras,
Cuiabá – MT, CEP 78032-035
Telefone: 55 (65) 3322-2980
comunicacao@amazonianati va.org.brTwitt er: @amazonianati va
facebook.com/amazonianati vawww.amazonianati va.org.br
Autoria: Adriana Werneck Regina
Revisão de texto:Daniela Jakubaszko
Revisão editorial:Andrea Jakubaszko
Artema Lima
Revisão fi nal:Andreia Fanzeres
Operação Amazônia Nati vaCoordenação executi va:
Ivar Luiz Vendruscolo Busatt oLola Campos Rebollar
Rochele Fiorini
Programa de Direitos, Políti ca Indigenista e Informação à Sociedade
Coordenação: Andrea JakubaszkoComunicação: Andreia Fanzeres
Diagramação:
www.irisdesign.com.br
Expediente
ICMS ecológico: oportunidades para o desenvolvimento municipal em Mato GrossoAdriana Werneck ReginaOPAN: Cuiabá - MT, 2014
ISBN: 978-85-67133-09-6
OperaçãO amazônia nativa – OpanPROGRAMA DE DIREITOS INDÍGENAS
Cuiabá-mt, 2014
ICMS EcológicoOportunidades para o desenvolvimento municipal em Mato Grosso
Adriana Werneck Regina
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4 Cachoeira Véu de Noiva, Parque Nacional de Chapada dos Guimarães.
Foto: Andreia Fanzeres/arquivo pessoal
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SUMÁRIO
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
I Aspectos Metodológicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
II Verso e reverso da legislação do ICMS-E de Mato Grosso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .31 II.1LeiComplementarN°73de2000 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 II.2DecretoN°.2.758de16.01.2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 II.3LeiComplementarN°157de20.01.2004 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 II.4PortariaN°30de29.02.2008 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 II.5InstruçãoNormativaN°001de05.05.2010 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 II.6Aleinaexecução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
III Retratos do ICMS Ecológico recebido pelos municípios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 III.1TerrasIndígenaseUnidadesdeConservaçãoemMatoGrosso . . . . . . . . . . . 41 III.2RecortesdopagamentodeICMSEcológicoaosmunicípios . . . . . . . . . . . . . 46
IV Gestão Pública Municipal de ICMS Ecológico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .51 IV.1AversãodoICMSEcológicoemChapadadosGuimarães . . . . . . . . . . . . . . . .51 IV.2AversãodoICMSEcológicoemBarradoBugres . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 IV.3AversãodoICMSEcológicoemComodoro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 IV.4AversãodoICMSEcológicoemBrasnorte . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 IV.5AversãodoICMSEcológicoemSapezal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
V Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97
Apêndice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
RPPN Cristalino, em Alta Floresta. Foto: Andreia Fanzeres/arquivo pessoal
LIST
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LISTA DE SIGLASAMM –AssociaçãoMato-GrossensedosMunicípiosAPP–ÁreadePreservaçãoPermanenteCDB–ConvençãosobreDiversidadeBiológicaCF –ConstituiçãoFederalCIMI –ConselhoIndigenistaMissionárioFPM –FundodeParticipaçãodosMunicípiosFUNAI –FundaçãoNacionaldoÍndioFUNDEB-FundodeManutençãoeDesenvolvimentodaEducaçãoBásica
edeValorizaçãodosProfissionaisdaEducaçãoIBGE–InstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatísticaICMBio –InstitutoChicoMendesdeConservaçãodaBiodiversidadeICMS –ImpostosobreCirculaçãodeMercadoriaeServiçosICV –InstitutoCentrodeVidaIDH –ÍndicedeDesenvolvimentoHumanoIDS-M –ÍndicedeDesenvolvimentoSocialdosMunicípiosISA –InstitutoSocioambientalISSQN–ImpostoSobreServiçodeQualquerNaturezaLDO–LeideDiretrizesOrçamentáriasLOA–LeiOrçamentáriaAnualMDL–MecanismodeDesenvolvimentoLimpoMPE –MinistérioPúblicodoEstadoMT –MatoGrossoONG –OrganizaçãoNão-GovernamentalONU–OrganizaçãodasNaçõesUnidasOPAN–OperaçãoAmazôniaNativaPIB –ProdutoInternoBrutoPPA –PlanoPlurianualRDS –ReservadeDesenvolvimentoSustentávelRL –ReservaLegalRPPN–ReservaParticulardoPatrimônioNaturalSAI–SuperintendênciadeAssuntosIndígenasdoEstadodeMatoGrossoSEFAZ –SecretariadeEstadodeFazendadeMatoGrossoSEMA–SecretariadeEstadodoMeioAmbientedeMatoGrossoSM –SalárioMínimoTCE-TribunaldeContasdoEstadoUC/TI –UnidadedeConservação/TerraIndígena
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8 Rio Araguaia
Foto: Marcelino Soyinka/OPAN
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EsteestudofoiencomendadopelaOperaçãoAmazôniaNativa(OPAN)parares-ponderaalgumasquestõesquepossamcontribuircomummelhorconhecimentosobrecomotemsidopensadaerealizadaaaplicaçãodoICMSEcológiconoestadodeMatoGrossodopontodevistalocal.
Queríamoscompreendermelhorcomotemsidoaplicadoesserecursonosseuscon-textosconcretosdeexecução,entenderasconcepçõesedificuldadesdosgestoresresponsá-veispelaefetivaçãodoICMSEcológicoparafortaleceropotencialdepolíticadeconserva-çãoambientalaliadaanovastecnologiaseespaçosdegestãopúblicaqueestaleideincen-tivofiscalpropicia,aosedesdobrareapoiarsuaexecuçãopelaviadaspolíticaspúblicas.
Diferentementedeoutrosestudossobreessetema,ondeérecorrenteapreenderoICMSEcológicocomoinstrumentoeconômico,temosaquiumaabordagemsociológicaqueabrebrechaspropositivasaoprivilegiaremsuametodologiaosfocospolíticosparaanáli-seinvestigandooquepensameoquedizem,comopraticam,comoentendemseulugareseupapelosprópriosatoresdiretosdestapolítica(gestoreselegisladoresmunicipais).Dessemodo,apareceaquioICMSEcológicocomoinstrumentodegestãoterritorialeambiental,pormeiodasondagemdoscaminhospossíveisdaexecuçãodesteinstrumentolegal,políticoeeconômico.Umadasprincipaiscontribuiçõesdesteestudoemrelaçãoaoutrosjárealizadosatéomomentotalvezsejaesseretratotãolocalpormeiodessametodologiadepesquisaeanálise.
Objetivamente,deumeixomaiscentral,essapesquisavisacaptarqualéoim-pactodesta‘políticapública’nofortalecimentodeáreasprotegidasecompararoqueéditonasentrevistascomoquemostramosdadosestatísticos,desvelandoquantovale,defato,acontribuiçãodesteimposto.Osmunicípiosqueperderamrepassestêmprova-velmenteliçõesaensinar.
Osmunicípiosretratadosforamescolhidosporcritériodeescala,selecionadosen-treosapontadoscomoosquemaiseosquemenosrecebemorepasseeosqueestãonumpatamar intermediário.CompõemaamostradestaanáliseosmunicípiosdeBarradoBu-gres,ChapadadoGuimarães,Comodoro,SapezaleBrasnorte,(eTesouro,porentrevistasàdistância).Opúblicoalvodasentrevistasforamosatoresdopoderpúblicolocal:prefeitos,ex-prefeitos,secretários(planejamento,administração,finanças,meioambiente...),técnicos,vereadores.Alémdesses,foramentrevistadasalgumasliderançasindígenas,inserindoenosdandoaconhecertambémopontodevistadessesatores,cidadãosquesedestacamdeformaproativanessecenário,umavezqueaprópriapopulaçãolocalnãofazusodesuaspossibili-dadesdeparticipação,postoquefrequentementedesconhecemosseusmecanismos.
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Alémdosdadosprimáriosdapesquisadecampo,aanálisesevaleaindadarevisãobibliográficado tema, da exposiçãodosmarcos legais e dosdados secundários relativosaosindicadoressocioeconômicossegundooIBGEedemaisfontesoficiaisdecadaumdosmunicípiosvisitados.
Nesseretrato,osmunicípiospodemseespelharunsnosoutros,encontrarsuasdifi-culdadescomuns,contrastarsuassoluções,compararseusdiscursos,refletirsuaspráticas.E,quemsabe,seperguntar:oquedefatopoderiasequererconstruiraqui,nestelugar,apartirdasaptidõesevocaçõesdaconfiguraçãolocaleseuspotenciaisparticulares?
ÉnecessárioquesedigaqueaencomendadesteestudoémotivadatambémpeloenvolvimentodaOperaçãoAmazôniaNativa(OPAN)comestatemáticaapartirdasaçõesdeapoioàelaboraçãoeexecuçãodepropostasaprovadasparaaplicaçãotransparentedosrecursosdoICMSEcológiconaproteçãodeterrasindígenas.FoipioneiroemMatoGrossooprojetopilotocelebradoemconvênionoanode2002entreosEnaweneNaweeomuni-cípiodeJuína,logoapósaregulamentação,em2001,daLC73/2000,queinstituioICMSEcológiconoestado.Esserepasseéaindahojeumarealidadeemalgunslugaressemque,contudo,houvesseavançosnaconcretizaçãodaaplicaçãodosrecursosdoICMSEcológicoassentadacomopolíticapúblicaestadual/municipal.
AindaqueopontodepartidaedechegadadaOPANsejamaspopulaçõesindígenas,acimadetudonossaexpectativanestecasoéaproteçãodabiodiversidadeedopatrimônionaturalnãonosentidoambientalistaestrito,masnosentidolato,pelaconvicçãodequeasmatrizesambientaisconstituemabasedesustentaçãodequalquersociedadehumana.Liçãovivenciadaemmaisdequatrodécadasdecontatoeconvivênciaintensacomosameríndios,quenãodivorciaramsuaspráticaseconômicasdaconservaçãodomeioquelhesdáesteio.
Nesse rumo,maisdoque interessados exclusivamente emdefinir oudeterminarmodosequantitativosderepassesoudeformasdeaplicaçãodoICMSEcológicoemterrasindígenas–pautadeconstruçãoquedeveráocorrerpassoapasso,casoacaso,sendoosindígenassujeitosnoprocesso–importaantesàOPANfavorecerecontribuircomdiálogoseprocessoslocaisdebem-estarsocialamplo,ouseja,comprocessosinclusivos,coletivos,democráticos.Omeioambienteentendidocomosuportedasaçõeshumanasdeveserabor-dadosocial,políticaeeconomicamentepelaperspectivadobemcomum.
Naspalavrasdaautora(p.6):“Oimpostooperanalógicadoprovedor-recebedor,naqualosbenefíciossãorepassadosàquelesmunicípiosquetêmunidadedeconservaçãoe/outerraindígena.Emsíntese,ICMSEcológicoé‘qualquercritérioouconjuntodecritérios,relacionadosàbuscadesoluçãoparaproblemasambientais’(SEMA:2008)”.
Deacordocomopercursodaanálisepropostoaqui,aautoranosconvidaadeslo-caroolharquevêomeioambientecomoproblemaparapercebê-locomoparteintrínsecadasolução,estandooproblemaemoutrolugar,assimcomotestemunhaoregistrosobreaexperiênciadoParaná,estadopioneironaexperiênciadoICMSEcológico.
Masoquenosinteressachamaratençãonessetrajetohistóricoaindaemcursoéquea‘soluçãoparaproblemasambientais’nãovirádefórmulasglobais,masdesoluçõeslocais.Sendoassim,esseincentivofiscalpodeinspirareconcretizarsoluçõesparaosproblemaslocaistendonasmatrizesambientaisumbemaliadoenãoumentrave.
***
Parecenomínimocuriosoqueparcelasignificativadapopulaçãobrasileira,apósumasemanainteiradetrabalho,enfrentamentodetrânsito,filas,fastfoods,noitesmaldor-midas,barulho,poluiçãovisual,atmosférica,ambiental,stress,ressacas,depressões...,possaeventualmentedeleitar-secomreportagens jornalísticasquemostram lugaresquenos re-
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11 metemao‘paraíso’.Águastermais,vastosparques, longevidade,alimentaçãotradicional,técnicasterapêuticas,holísticas,formasdesociabilidade,ruaslimpíssimas,enfim,ambientesepessoasembem-estar.
QuandopasseamosporBrasnorte,porexemplo,ouvimosmuitospássaros,ve-mosararas, encontramos fragmentosflorestais, circulação intensadebicicletas, ervasmedicinais,quintais,pessoaseducadas,gentisereceptivas,tantacoisa!Ficamosimagi-nando,comoseráseufuturo?
Seráque,conformeforcrescendo,haverárefúgiosverdesparaodescansodapo-pulaçãotrabalhadora,ouesteseráumluxoparapoucos?Seráqueosquintaisterãoqueseespremerpelaespeculaçãoimobiliáriaequeasmatasciliaresserãoinvadidasporcondomí-niosresidenciaisimpedindoosbanhos,aspescariaseolazerdasfamíliaslocais?Seráqueosistemadeabastecimentoeesgoto,acoletadelixo,odestinoderesíduossólidosterãosepreparadojuntocomapopulaçãoparaoinevitávelcrescimento?Seráquevaiterciclovia?Seráque,comaestradaasfaltada,aaquisiçãomassivadealimentosdefora,quesemprefoimajoritária,farámigrarmaisumavezospequenosagricultores?Seráumacópiadepadrõesultrapassadosdeurbanizaçãoqueprivatizaosespaçospúblicoseinstituiaruacomoespaçodeviolênciaouseráainvençãodeespaçosdesociabilidadeeconvívioemnúcleosurbanosprósperosesadios?
Essasperguntaspodemserfeitasparainúmerosediversosmunicípiosbrasileiros.MatoGrosso,noentanto,porseuprocessodeocupaçãointensadehistóricomaisrecente,temaindaaoportunidadedeplanejarofuturodesuascidades.Vivemosum momentointe-ressanteparatomardecisões,escolhercaminhos,zonearespaços,elaborarplanosdiretores,ampliaroenvolvimentodeatoressociaisparacriarparaísospossíveis.Soluçõeslocaisen-gendramsoluçõesglobais.
EsteestudovemapúbliconoanoemqueoBrasilsediouaCopadoMundoefoino‘paísdofutebol’que,novamente,aFIFAnoslembroudesuacampanhademaisumadécadacontraoracismo–Say no to racism.Nessepalco,oBrasilmantémdoistons:reconhecidoporsuacapacidadediplomáticademediarconflitos,referênciadepazentrepovose,ooutro,umapolíticainternaqueadotamedidasjurídico-burocráticasqueincitampráticasdeetnocí-dio,pistolagem,vandalismos,tantoemcontextosruraisquantourbanos.
Mashojeoprópriomercadoécapazdemostrarqueháespaçoparatodos.Hámui-taspossibilidadesparadiversificaçãodenegócios,defontesderenda,depráticaseconômi-cas.De acordo comCanclini (1996), nos constituímos contemporaneamente como ‘cida-dãos-consumidores’atravésdosestilosdevidaereferênciasqueabsorvemosemmeioaos‘conflitosmulticulturaisdaglobalização’,materialidadequenosalcançaeafeta,mesmoqueapelássemosàliberdadeindividualeescolhêssemosvivercomoeremita,isoladonumailha.
Diretamenteassociadasaosinúmerosestilosdevidaatualmentepraticados,asten-dênciasdemercadoapontamparaoconsumodetecnologias;adiversificaçãodemodelosdeserviçosdealimentação,desaúde,deeducação;consciênciaecológica;consumorefletido;práticasdeboicoteeconômico;crescimentogradualdomercadodeorgânicos,ecoturismo,turismorural,dentreoutrosemescalamassiva.
Assim,oscálculosnãodevemsertãoprimários–matemáticaéumaciênciaexata,economianão.Comosesabe,nojargãoeconômico,lucroaltoeolucropelolucrosãoindis-sociáveisdeumaltocusto(investimento).Arelaçãocusto-benefícionãoé,decisivamente,umaequaçãosimplesdoprimeirograu.Melhorararrecadaçãodependedadiversificaçãodefontes.
Tambémjáestáeconomicamentecomprovado,atravésdasexperiênciasdospaíseseuropeusrelativasàsconsequênciasdarevoluçãoindustrialnosolo,biodiversidadeeprin-
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cipalmentenos recursoshídricos,queprotegerativosambientaisémais lucrativodoquerecuperarpassivos,tendosido,inclusive,muitasdasindústriasosagentesdessasmudançasque têm como palavra de ordem “desenvolvimento em parceria com omeio ambiente”.Enfim,oICMSEcológicopoderepresentar,sembemaplicado,maisumaoportunidadedeinvestimentonaqualidadedevidadaspessoasnosespaçosurbanoseruraistendoasusten-tabilidadecomometadasaçõesqueapoia.
Osmunicípiostêmumpapeldeterminantenessetrajeto,precisamseantenarcom asatuaistendênciasedemandasdomercadoglobal,identificarperfiseestilosdevida,sintoni-zar-secomospainéisintergovernamentais,adequarefortalecerpolíticasnacionais,observarerespeitarconvençõesdasquaisseupaísésignatário,promoveragendascomasociedadecivilecaptarrecursosnessasfrentespormeiodoregistroesistematizaçãodeseuimportanteefundamentaltrabalho.
Opapeldolocaltemsidoagrandeênfasedosestudiososdaglobalizaçãoeconô-micaedamundializaçãodacultura.OslocaisprecisamsercriativosparasetornaremumLugar*,parasesituaremnomundo.Issoexigeumengajamentocoletivovoltadoaobemdolugar,àsaúdedamorada.Umacasareceptivaecheiademuitoverdeconstróicertamenteumambienteacolhedoratodos.
*AgrafiaemmaiúsculoaquifazmençãoaoLugarcomoconceitodedomíniodasciênciassociais–quandodefineumespaçomarcadoporseuscontextoshistóricos,dememória,constituindo-sepelasrelaçõesidentitárias–identidade do lugar .
Boaleitura!
Andrea Jakubaszko Coordenadora do Programa
de Direitos Indígenas da OPAN
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Aves do Pantanal vistas da Rodovia Transpantaneira, no município de Poconé.
Foto: Andreia Fanzeres/arquivo pessoal
Parque Nacional do Juruena. Foto: Thiago Foresti/Forestcom
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16 Praias no rio Araguaia.
Foto: Artema Lima/OPAN
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Aexpansãoagrícolaaliadaàintensificaçãodaindustrializaçãoedoconsumosãoexpressõesdomododeproduçãocapitalistaquehámaisdetrêsséculossebaseianaexplo-ração indiscriminadadebensnaturais.Cientistasdediferentespaísesdemonstramqueasaçõeshumanas,responsáveispelaconsolidaçãodestemodeloeconômico,socialecultural,desencadearamalteraçõesnaqualidadedoaratmosférico,doclimanasdiferentesregiõesgeográficas,bemcomoaseca,aelevaçãodoníveldaáguadosmares,oaquecimentodosoceanos,aintensificaçãodasinundaçõesentreoutrosfatoresque,emcomum,ameaçamacondiçãodevidaplanetária.AtualmenteestesestudosorientamasdiretrizesdoPainelInter-governamentaldeMudançasClimáticas(IPCC)asquaissubsidiamacordosinternacionaisdeliberadosnasconferênciasanuaisdaOrganizaçãodasNaçõesUnidas(ONU).
Similarmente,odesmatamentodesenfreadoeousointensivodeagrotóxicosde-sencadeiama contaminação irreversível do solo, ar e água; eles tambémdiminueme/ouextinguemespéciesdafaunaefloranosdiversosbiomasconhecidos,oquesignifica,inclu-sive,rompercomaperpetuaçãodasmúltiplassementeseplantasmedicinaisrelacionadasàsociodiversidade.Tambémdiminuemapescaeacaçaparapopulaçõesquetradicionalmenteas praticamconformeoutromodelo cultural socioeconômico. Isto se somaà reduçãodoespaçoterritorialocupadopelospovosindígenasecomunidadestradicionais(quilombolas,seringueiros,ribeirinhosetc.),oquepotencializaoconflitopelaterra,asameaçasaosdi-reitoshumanosconstituídos,associadoaocomprometimentodabiodiversidade,jáquenasáreashabitadaspelosmesmoséqueseencontramosremanescentesdasdiferentesespéciesdevida.
Diversasconferências,fóruns,convenções,envolvendoorganizaçõesgovernamen-taisenão-governamentais,emníveislocais,regionais,nacionaiseglobais,têmacontecidonestastrêsúltimasdécadasafimdebuscarmecanismosparaasustentabilidadeambiental,impressos,porexemplo,noProtocolodeKyotoenabuscadeMecanismodeDesenvol-vimentoLimpo(MDL).Comoconsequência,ospaísescriamleiseprogramasvoltadosàrecuperação,conservaçãoeproteçãodosecossistemaslocais.Têmsidovalorizadasaçõesnocampodaeducaçãoparaaformaçãodevaloresecológicos,bemcomooinvestimentoempesquisacientíficapormeiodecooperaçãotécnicainternacionalvoltadaàrecuperação
INTRODUÇÃO
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econservaçãoambiental.
Articularodesenvolvimentosocioeconômicoaoequilíbriodoecossistemaaparececomoumaideologiaemergente,emnívelglobal.Requeronecessárioordenamentoterrito-rialimpondorestriçõesaousodosolo,ondeacriaçãodeunidadesdeconservação(UCs)éummecanismoentreoutros.Emnívelnacional,destaca-seoartigo225doCapítuloVI,nomeado“DoMeioAmbiente”daConstituiçãoFederal(CF)de1988,queafirma:
Todostêmdireitoaomeioambienteecologicamenteequilibrado,bemdeusocomumdopovoeessencialàsadiaqualidadedevida,impondo-seaoPoderPúblicoeàcoletividadeodeverdedefendê-loepreservá-loparaaspresentesefuturasgerações.
Destaca-seaindaaPolíticaNacionaldoMeioAmbienteexpressanaLein°6.938de31deagostode1981,naqualsãopregadasaçõesdepreservação,recuperaçãoeproteção,e sãodefinidos alguns instrumentospara taisobjetivos comoozoneamentoambiental, aavaliaçãode impactosambientais,o licenciamentodeatividadespoluidoras,acriaçãodereservasextrativistaseespaçosterritoriaisaseremprotegidos.
No âmbito internacional, oBrasil é signatário daConvenção sobreDiversidadeBiológica(CDB),assinadaem1992,tornandoumdeveraelaboraçãodeumaPolíticaNa-cionaldeDiversidadeBiológica.OProjetodeConservaçãoeUtilizaçãoSustentáveldaDi-versidadeBiológica(Probio)descendentedoProgramaNacionaldaDiversidadeBiológica(Pronabio)teverelevânciaquandoatuounadefiniçãodeáreasprioritáriasparaconservaçãonosváriosbiomascomoCerrado,Caatinga,Pantanal,MataAtlânticaeAmazônia.
Entretanto,estainvestidadeveserconcebidademodoarticuladoaorespeitoeva-lorizaçãodadiversidadecultural,outratendênciapolíticanaONUe,nesteparticular,desta-ca-seaincipientepercepçãopolíticadesalvaguardarossaberesepráticassociaisdospovosindígenascomopatrimôniodahumanidade,considerando,inclusive,queelesserevelamnapráticadeummododevidasustentávelsocioambientalmente.Emnívelnacional,potencia-liza-seovalordademarcaçãodeterrasindígenas,umdeverestatalreiteradonaCF1988,expressoemreconhecimentododireitonaturaldospovosindígenaspelaterraquetradicio-nalmenteocupam,bemcomodeseremculturalmentediferenciados.
ÉnestecontextoqueemergeoICMSEcológicoenquantouminstrumentodapolí-ticapública,fomentadordeumagestãoambiental.Assumeopapeldeumincentivofiscalparaosmunicípiosdesenvolveremprogramasvoltadosàproteçãoerecuperaçãodossiste-mas ecológicos, subvertendo a conotação corrente das áreas protegidas como“obstáculoaodesenvolvimento”.Éinvertidaa lógica,àmedidaqueodesmatamentoindiscriminadoassumevalornegativo,concebidocomoempecilhoàmanutençãodaqualidadeambiental,ameaçandooclima,oaratmosférico,afertilizaçãodosolo,afarturadesementesnativasresponsáveispelasmúltiplaspossibilidadesdealimentoseinclusive,aofertadeáguanosdiversosbiomas.
Asterrasindígenaseunidadesdeconservaçãoconvertem-seemreferênciasàdis-tribuiçãodosrecursosfiscaisaosmunicípios,justificandoanominaçãoICMSEcológico.Oimpostooperanalógicadoprovedor-recebedor,naqualosbenefíciossãorepassadosàque-lesmunicípiosquetêmunidadesdeconservaçãoe/outerrasindígenas.Emsíntese,ICMSEcológicoé“qualquercritérioouconjuntodecritérios,relacionadosàbuscadesoluçãoparaproblemasambientais.Taiscritériossãoutilizadosparaadeterminaçãodo“quanto”cadamunicípiodeverárecebernarepartiçãodosrecursosfinanceirosarrecadadosatravésdoim-
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postosobrecirculaçãodemercadoriaseserviços-ICMS”(SEMA,2008).
OestadodoParanáfoipioneironaadoçãodecritériosecológicos.Aexperiênciamotivououtrosestadosaseguiremtallógica.Entreoscritériosecológicosjáadotadosdes-tacam-seapresençadeunidadedeconservação,deterraindígena,dacoletaseletivadelixo,dosaneamentoambientaledapreservaçãodopatrimôniohistóriconaáreamunicipal.
Talcriaçãodeu-secomaintençãodeconservarabiodiversidadee,emtermoseco-nômicos, fortalecer a sustentabilidade ambiental, desdobrando-se como incentivo para ageração de emprego e renda aliada às potencialidades ecológicas locais.Vale destacar aperspectivade comprometerosmunicípiosnaproteçãodasUCse terras indígenas (TIs)presentes emseus territórios, independentedo caráter federal, estadualoumunicipaldasmesmas.ConformeSantos;MelloeSouza(2013,p.58):
“[...] oParaná inicialmente adotouo conceitode compensaçãoparaosmunicípiosquetinhamrestriçõeslegaisparaexpandirsuasatividadeseco-nômicas,ecomotempoeaexperiênciafoievoluindo,ealeiEstadualdoICMSEcológiconoEstadodoParanápassoudeumconceitodecompen-saçãoparauminstrumentodecontribuiçãoparaaconservaçãoambiental”.(SANTOS;MELLO;SOUZA,2013,p.58).
EsteestudoapresentaodiagnósticodoICMSEcológicoemMatoGrossoe,nesteexercício,foireconhecidaapossibilidadedemúltiplastraduçõesdossignificadospresentesnorepertóriolegislativoestadualemtornodoICMSEcológicoenasaçõesimplementadasnosmunicípios.Éadmitidoqueossentidossãoconstruídoshistoricamente,demododinâ-mico,inscrevendo-senelesahistoricidade,asubjetividadeeaideologiadossujeitosqueserelacionamcomestapolíticapública,notadamentedas lideranças indígenas,dosgestorespúblicosmunicipais,procuradoresdoMinistérioPúblicoFederal,técnicosdaSEMA-MT,vereadores,indigenistas,ambientalistasentreoutros.
Salto Utiariti, Terra Indígena Tirecatinga. Foto: Thiago Foresti/OPAN
Salto de Utiariti - Rio PapagaioThiago Foresti/OPAN
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Parque Nacional do Pantanal. Foto: Andreia Fanzeres/arquivo pessoal
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I. ASPECTOS METODOLÓGICOS
Ametodologiadesteestudofundamenta-seexpressivamentenoarcabouçoteóricoemetodológicodasCiênciasSociaisrecorrendo,portanto,aosseusautores,ferramentaseinstrumentosdepesquisa.
As ideiasdiscutidasporStuartHall (2003) tiveram relevâncianestediagnósticoporque rompem com a percepção de que há um sentido original e central, fundador detodasaspráticassociaisemtornodoICMSEcológico.Éreconhecidaaquiaimportânciado universo semântico nos discursos enunciados pelos sujeitos que estão construindo asformasdeimplementaçãodapolíticapúblicadoICMSEcológiconoestadodeMatoGrosso.A reinterpretação,a recriaçãoea inovaçãodesignificadossãoconstruçõesdinâmicas.Osentidoépolítico,revelaintencionalidade,subjetividade,ideologia,alémdevaloresculturaiseéticos.DemodoarticuladofoiadotadoométododainterpretaçãodeGeertz(2008)afimdeconsiderarcomoossentidosesignificadosinscrevem-senaspráticassociais.
Destemodo, o posicionamento da pesquisadora foi conhecer como esta políticapúblicaécompreendidapelosgestoresmunicipaisedequemodoossignificadosesentidosatribuídos a ela se inscrevem na gestão pública efetivada no dia a dia. Este diagnósticorompecomaperspectivadedescobrirumamaneiradeimplementarapolíticapúblicaqueseconstituacomoumaverdadedefinida,fixaeestável.Aocontrário,ainvestigaçãoesteveorientada à percepção das nuances e da heterogeneidade que se inscrevem nas práticassociaisenossignificadosculturaisepolíticosquedãosentidoàsmesmasdeacordocomaamostraanalisada.
Circunscritaporestereferencialteórico,ainvestigaçãoseinicioucomumestudominuciosodetodososinstrumentoslegaisdesenvolvidosemtornodoICMSEcológiconoestadodeMatoGrosso.OcapítuloII“VersoereversodalegislaçãodoICMSEcológicoem Mato Grosso” apresenta uma interpretação semântica de cada legislação, instruçãonormativa,decretoeportariaemvigência,salvaguardandoadimensãodeumainterpretaçãoemcontraposiçãoàexistênciadeumaverdadeabsolutaeúnica.
Éimportanteesclarecerqueestainvestigaçãonãoestárestritaaumainterpretaçãopautadanadicotomiaequenãoanulaasambiguidades(MerleauPonty,1999),reduzindoos fenômenos. Sublinha-se,assim,uma importantenovidadedesteestudoaoreconhecerapolissemiaeaambiguidadeimpressasnospontosdevistaepráticassociais,superandoadimensãodicotômica.
Nos diversos estudos desenvolvidos em torno deste tema, é percebida umaabordagemquefocalizaosentidodoICMSEcológicocomo“compensatóriopelarestriçãoàexpansãodoagronegócio”oucomo“contribuiçãoparaaconservaçãoambiental”.Nestaoportunidadepode-semencionaroutradicotomia:aquelaquecomparaosinstrumentosdecomandodecontroleeoseconômicoscomoalternativascomplementaresouantagônicasnaconcepçãodepolíticaspúblicas.Enfatiza-sequeeste estudo rompecomestavertentedicotômica também, importando perceber a diversidade de sentidos e significados inter-relacionadosàsaçõessociais,culturaisepolíticas.
NoCapítuloII,aintençãofoiapreenderaspossibilidadespresentesnorepertóriolegislativo,conectando-osaodevirdeumagestãopúblicafortalecedoradeoutrosmodelosdedesenvolvimento,emqueosvaloresdabiodiversidadeeda“diferença”culturalserealizemnumamaneiradefazerpolítica.
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No Capítulo III, “Retratos do ICMS Ecológico recebidos pelos municípios”,presencia-se a dimensão quantitativa e qualitativa da metodologia desenvolvida,predominando o apoio em dados secundários. Por meio de uma pesquisa bibliográficalevantaram-seinformaçõessobreasterrasindígenaseunidadesdeconservaçãoexistentesno estado deMato Grosso, já que as áreas protegidas são a base do ICMS Ecológico.Aquiseapresentaoutranovidade:nainterpretaçãodosdadosforamconsideradasasterrasindígenaspercebidas,independentementedesuasituaçãojurídica.Mesmoqueesteestudonão tenhaaprofundadoo aspectodas terras indígenasnão reconhecidasoficialmente, eleamplia o universo de informações nesta questão. Em parte do “Apêndice” encontra-seumasistematizaçãodelas,identificandoasuasituaçãojurídica,eosmunicípiosondeestãosituadas,constituindo-secomoumareferênciaparaavaliarosquetêmterraindígenaequeaindanãorecebemICMSEcológico.
Os dados e relatórios oficiais da SEMA-MT, do TCE-MT, das prefeiturasmunicipais,daAMM,daFunai,doIBGEedeoutrosórgãospúblicosforamconsideradospara construir o cenário de quais municípios em Mato Grosso estão recebendo ICMSEcológicoequaloimpactodestapolíticapúblicanofortalecimentodasáreasprotegidas.Intencionando capturar a heterogeneidade de como esta política pública se realiza nosváriosmunicípios,foramelaboradasamostrasdemunicípiosquemaisrecebemequemenosrecebem,afimdeconsiderarumaavaliaçãoabrangentedoICMSEcológico,atentandoaoscontextossocioeconômicosparticularesdosmunicípios.Estecapítulo,enfim,possibilitaumdiagnóstico do ICMSEcológicono estadodeMatoGrosso, enfatizando a sua dimensãoquantitativa.
ÉnoCapítuloIV,“GestãoPúblicaMunicipaldoICMSEcológico”,queseconcentraoresultadodapesquisadecampodesenvolvida,predominandoosdadosprimários.
NestecapítuloestáodiagnósticodestapolíticapúblicaemChapadadosGuimarães,BarradoBugres,Brasnorte,ComodoroeSapezal.Épossívelperceberquecadamunicípiotemumaespecificidadenamaneirade fazeragestãopúblicado ICMSEcológico.Outraquestãoconsideradadizrespeitoaidentificarquaissãoosagentessociaisqueprotagonizamadestinaçãodesterecursoemestudo,oqueseconfiguracomomaisumaparticularidadedecadamunicípiovisitado.AquiselocalizamnovidadesnomododeabordaroestudodoICMSEcológico, ampliando o universo de considerações para a interpretação da gestãopúblicamunicipal,abaixodiscriminado.
Antesdeexporasinterpretaçõesanalíticasdasinformaçõeslevantadas, justifica-seaseleçãodessasunidadesadministrativasparaumzoommaisexpandidosobreoICMSEcológicoemMatoGrosso.ChapadadosGuimarãesatraiuaatençãoporserumdosrarosmunicípiosquepossuemumalegislaçãomunicipalespecíficaqueregulamentaodestinodesterecursoemfoco.BarradoBugresfazpartedoconjuntodemunicípiosquemenosrecebemICMSEcológico,postoquevinculadosomenteàpresençadeterraindígena,nocasoadopovoUmutina,somadoaofatodequeporanossuasliderançasvêmnegociandooacessoaesterecurso.Issopossibilita,contudo,conhecerumaperspectivadecomoaadministraçãopúblicalocalatuanestacircunstância.Emcontrapartida,ComodorofazpartedouniversodemunicípiosquemaisrecebemICMSEcológicoque,igualmente,têmapresençasomentedeterraindígena,porém,abrangendomaisdeumpovo,nocaso,NambiquaraeEnaweneNawe.Epermiteconheceroutraperspectivadeadministraçãopública,naqualseimprimeumaelevadaquantidadederecursosfinanceiros,comparando-seàrealidadedosquemenosrecebem. Ademais, Comodoro está inserido no bioma Amazônia, condição importanteparaserconsideradanainterpretaçãoanalíticadaheterogeneidadedeabordagemdoICMSEcológico.Brasnorte,porsuavez,selocalizanaqueleconjuntodosquerecebementre11%a30%dorepasse,possibilitandooacessoàoutraperspectivatantonadimensãoquantitativa,quantonoâmbitodasociodiversidade.Valeressaltaraindaofatodequeaterraindígenaéa
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únicabasedocálculoparaorecursoemquestão,abrangendováriospovos–Manoki,Myky,EnaweneNaweeRikbaktsa.Porfim,SapezalfoiescolhidopelaimportânciadesetratardobiomaCerrado,ondeaagriculturadeexportaçãoestáconsolidada.Porsuavez,tambémestálocalizadoentreosmunicípiosquemaisrecebem–entre31%a50%dorepasse.
Emtodososmunicípiosvisitadosprocurou-seentrevistaroprefeito,oex-prefeitoeossecretáriosdeplanejamento,administração,finançasemeioambiente,valorizando-oscomopúblicoalvopara levantar informaçõessobreaadministraçãopúblicados recursosdo ICMS Ecológico. Em cada município aconteceu de modo diferente a conquista deacessoàspessoasquefaziampartedestepúblicoalvo.Nãofoipossívelrealizaraentrevistacom os prefeitos de todos osmunicípios seja por resistência à resposta do questionárioenviado ou pela ausência domesmo na prefeitura, ou então pelo não comprometimentocom encontromarcado.Ainda assim, em todos osmunicípios visitados foi alcançado oresultadode informações levantadas sobreo temaem foco,otimizandoa entrevista comos secretários que se disponibilizaram a receber a pesquisadora. Investiu-se tambémna visita à câmara dos vereadores e, em todos osmunicípios, foi feita a entrevista comalgum vereador, o que enriqueceu o levantamento de informações em vários aspectos.Neste particular, foram acessados os documentos aprovados em sessões da Câmara queregulamentamespecificamenteodestinodosrecursosdeICMSEcológico,possibilitandoconhecerdistintosmecanismosadotadosparadestinarrecursosaofortalecimentodasáreasprotegidas.Paralelamente, foramobservadasasdiversasexperiênciasdediálogosentreopoderexecutivoeascomunidadesindígenasconfigurandoascondiçõesquedesencadearamacriaçãodestesreferidosdocumentosaprovadospelopoderlegislativo,capturandotambémassituaçõesdepovosindígenasquenãoforamcontempladosatéentão.Aelaboraçãodeumalegislaçãomunicipalconverte-senumindicadororientadordesteestudo.
Outravertentebastante investigada refere-seàdinâmicadasaudiênciaspúblicaspromovidasparaaparticipaçãopopularnagestãopública,notadamentetangenteaoPlanoPlurianual (PPA), àLei deDiretrizesOrçamentárias (LDO) e àLeiOrçamentáriaAnual(LOA). Em comum, dizem respeito a um planejamento administrativo do municípiofundamentadonaparticipaçãopopular,abrangendoaexecuçãodeprogramaseprojetos.Ademocratizaçãonosmecanismosdefazeragestãopúblicaestágarantidanoartigo29,incisoXIIdaCFde1988.Osmunicípiosestãoobrigadosaconsideraracooperaçãodasassociaçõesrepresentativas.Ocontrolesocial,portanto,foimuitovalorizadonestapesquisacomomaisumindicadordagestãopúblicadosrecursosdeICMSEcológico,indagando,portanto,quemtemmantidopoderdedecisãodadestinaçãodosrecursosemfoco,ecomoestadestinaçãotemsidodeliberada.
A pesquisa bibliográfica complementou as informações pertinentes às receitas edespesasmunicipais,bemcomoàquelasinformaçõeslevantadasnapesquisadecampo.Pormeiodelas,permitiu-severificarcomoatemáticaambientaléincorporadanagestãopública,tornando-semaisumindicadorparaavaliaraaplicaçãodosrecursosdeICMSEcológico,indagandoparaquêeparaquemsãodestinadosos recursos.Paralelamente, evidenciam-se quais são as prioridades consideradas pelos gestores públicos na hora de definir aaplicaçãodosrecursosdesuareceita.Ainvestigaçãosobreospontosdevistarelativos“afavordequê”e“contraoquê”favoreceuacompreensãodamaneiradeconceberoqueé“desenvolvimento”,“oqueéqualidadedevida”e“qualaimportânciadadaàáreaprotegida”,sendoestapercepçãodecisivaparaamaneiradeaplicaçãodosrecursos.Ademais,opontodevistadasliderançasindígenasfoiinvestigadoàmedidaqueelestêmsidosujeitosativosnaconfiguraçãodeummododegestãodoICMSEcológico,influenciandonasperspectivasdeimplementaçãodosrecursos.Nestaquestão,foicontempladaatensãodeforçaspolíticasem tornodo ICMSEcológico,desdobradaspordistintospontosdevista sobreomesmotema,envolvendoindígenas,vereadores,secretárioseprefeitos,constituindo-secomomaisumindicadorparaesteestudo.
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Olevantamentodeinformaçõesbaseou-setambémnasentrevistasrealizadascomas lideranças dos povos ligados às terras indígenas dosmunicípios visitados.Destaca-seaquioapoiodoCIMIemComodoro,quepromoveuodeslocamentoparaaTINambiquaraeamobilizaçãoderepresentantesparaarealizaçãodeumareunião.EmBarradoBugresaconteceu um encontro com o cacique e outros indígenas na TI Umutina.A equipe deBrasnortedaOPANtambémcontribuiuparaumaentrevistajuntoàliderançaManoki,eemSapezal,foramentrevistadasliderançasNambiquara.
Foi imperativa a pesquisa bibliográfica sobre a demografia, o Produto InternoBruto(PIB),aextensãodomunicípio,aextensãodaáreaprotegida,asprincipaisatividadeseconômicaseoÍndicedeDesenvolvimentoSocialdoMunicípio(IDS-M),conformetemsidoadotadopelaAssociaçãoMato-GrossensedosMunicípios(AMM).Essesdadostiveramafinalidadede apoiar a interpretaçãoanalíticadospontosdevista acessados, abordandoasperspectivasdoICMSEcológicoparacontribuirefetivamentecomareceitamunicipal,bemcomodeseconsolidarafavordabiodiversidadeequalidadedevida.Nestemomento,omodelodedesenvolvimentoemancipa-secomoumindicadorimportanteparaestudaroICMSEcológiconestesmunicípios.
A interpretação analítica foi norteada pelos princípios inscritos na legislação enormasafinsdapolíticapúblicae,sobretudo,noprincípiodeummodelodedesenvolvimentoarticuladoàconservaçãodabiodiversidadeeàqualidadedevidadapopulaçãoenvolvida.
Os resultados da pesquisa de campo estão sistematizados de acordo com osindicadoresacimacaracterizados(esublinhados)narealidadedecadamunicípio.Oprimeiroindicadorabordaadimensãodalegislaçãomunicipalrelacionadaaotema;osegundoenvolveadimensãodaparticipaçãosocialnagestãodepolíticaspúblicasnestetemaparticularmente;oterceiroproblematizaatemáticaambientalnagestãopúblicamunicipal;oquartodiscuteosdiferentespontosdevistadostomadoresdedecisãodiantedotema,revelandoaatensãodeforçaspolíticasemtornodoICMSEcológico;e,porúltimo,oquintofocalizaadimensãodomodelodedesenvolvimento,anunciandoasperspectivaspossíveisdeumaarticulaçãoentredesenvolvimentoeconômicoeaconservaçãodabiodiversidadeequalidadedevida,discutindoos impactos efetivos desta política pública em foco.Antes destas exposições,seráretratadoohistóricodoICMSrecebidoporcadamunicípio,desdeaimplantaçãodaLeiComplementarN°73/2000.
Aofinaldesteestudo,foramfeitasalgumasconsideraçõesquesintetizamimportantesdimensõesobservadasnestediagnósticodesenvolvidoque,certamente,poderãocontribuirparaodevirdeumplanodeação.
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Rio São Benedito, Terra Indígena Manoki. Foto: Andreia Fanzeres/OPAN
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Foto: Andreia Fanzeres/OPAN
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II. VERSO E REVERSO DA LEGISLAÇÃO DO ICMS-E DE MATO GROSSO
NaConstituiçãoFederalde1988háoCapítuloVIII,intitulado“DosÍndios”,cujosartigos231e232retratamoreconhecimentooficialdequeospovosindígenasvivemsoboutrastradiçõesculturais,cabendoaoEstadorespeitá-las.Aterraindígena(TI)éconsideradaumaáreaprotegidaeoartigo231acategorizacomodevendoserdemarcada,admitindoodireito originário dos povos que a ocupam sob práticas sociais orientadas por costumes,línguas, crenças e valores próprios. Paralelamente é defendida a proteção das condiçõesambientaisparaasustentabilidadedestasoutrasperspectivassociaiseculturaispraticadaspelasdiferentesetniasindígenas.
No Brasil, há em torno de 230 povos indígenas e, dentro deste conjunto, adiversidade linguísticaseexpressaperfazendocercade 180 línguas.SegundoocensodoInstitutoBrasileirodeGeografiaeEstatística(IBGE)de2010,apopulaçãoindígenaconstitui0,42%(817.963pessoas)dademografianacional.Emtermosdeextensãoterritorial,segundoinformações do Instituto Socioambiental (ISA)1, as 677 terras indígenas ocupam 13,2%(112.694.024ha)nototalde851.196.500hectares(ha)doterritóriobrasileiro.
Em relação às UCs, são regulamentadas diversas modalidades de unidades aseremcriadaseprotegidas.Háaquelasquepermitemapresençadecomunidadehumana,prescrevendo omanejo no usufruto dos bens locais, a fimde garantir a sustentabilidadesocialeambiental,destacandoareservadedesenvolvimentosustentável(RDS)eareservaextrativista (Resex).Tambémháunidadespara a conservação integral domeiobiótico eabiótico, atribuindo valor às existências nativas, vegetais e animais, impossibilitando ahabitaçãohumana.AsUCspodemserdedomíniopúblicoouprivado.Emcomum,têmoobjetivodepreservarecossistemasconsiderandoosatributoscênicos,ecológicos,hídricos,científicos,culturais,educativoserecreativos.
Contudo, as políticas nacionais relacionadas ao meio ambiente e à cultura,notadamente aquelas vinculadas à criação deUCs e ao reconhecimento jurídico deTIs,precedemoICMSEcológicoe,paralelamente,sãoabaseparaasuarealização.Destinam-seàconservaçãodadiversidadebiológica,doecossistemaaelainterligadoedascondiçõesnecessáriasàperpetuaçãodosrios,nascentesecórregos,bemcomoaorespeitoevalorizaçãodasociodiversidade.
OICMSEcológicotambémtemcomoamparolegalasprescriçõesconstitucionaisrelacionadasaoImpostosobreCirculaçãodeMercadoriasePrestaçãodeServiços(ICMS)detransporteinterestadualeintermunicipaledecomunicação.Aarrecadaçãoemcadaestadoresulta das transações comerciais e das prestações de serviços ocorridas nosmunicípiosdeseuterritório.Portanto,todososmunicípiostêmodireitoaorepassedesteimpostoporcontribuírem na arrecadação. Segundo aConstituição Federal de 1988, está determinadoque três quartos (75%) dos valores deverão ser distribuídos aos municípios commaiormovimentação de mercado, na proporção do valor adicionado nas operações vinculadas àcirculaçãodemercadoriaseprestaçõesdeserviços,denominadoValorAgregadoFiscal(VAF).OICMSEcológicoapareceucomoumapossibilidadeapartirdoincisoIVdoartigo158daCF,oqualtrata“DaRepartiçãodasReceitasTributárias”.OartigoregulamentacomodeveserfeitaadistribuiçãoaosmunicípiosdoICMSarrecadado.Éprescritoqueosdemaisvinteecincoporcento(25%)dovalortotalarrecadadodesteimpostosejamrepassadosaosmunicípiosdeacordo
1. Instituto Socioambiental/Povos Indígenas no Brasil. Disponível em: http://link-da-pagina-utilizada. Acesso em: 03/07/2012.
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comoquedispusera leiestadual. Issosignificaquecadaestado temautonomiaparadefinircomoseráfeitaadistribuiçãode25%dototalaqueosmunicípiostêmdireito,sendo“[...]trêsquartosnaproporçãodovaloradicionadonasoperaçõesreferentesàcirculaçãodemercadoriaseserviçosrealizadaemseuterritório,eumquartonoquedispuseraLeiEstadual”(SANTOS;MELLO;SOUZA,2013,p.58).Énecessário,portanto,desenvolverumaLeiComplementarpararegulamentaroscritériosparadefinirorepassedestes25%.
Conformedito,MatoGrossofoiosextoestadoaimplementaroICMSEcológico.AprimeiraleiinstituídadisciplinadoradoscritériosparaosmunicípiosparticiparemnoICMSfoiaLei Complementar (LC) n° 73/2000,easuaimplementaçãoaconteceuapartirdoanofiscalde2002.Porém,atualmente,éaLei Estadual n° 157 de 2004queregulamentaoscritériosambientaisparaorateiodoICMS,sendofundamentalressaltarqueapesardissoaLC n°73/2000 nãoestá,contudo,revogada.AseguirsãoapresentadasasleisenormasreguladorasdoICMSEcológiconoestadodeMatoGrosso.
II. 1. Lei Complementar N° 73 de 2000.
OICMSEcológicofoiinstituídoemMatoGrosso,em2000,pormeiodaLeiCom-plementarN°73,publicadaemDiárioOficialdaUnião(DOU),dia07dedezembro.Acon-teceunogovernodeDanteMartinsdeOliveiraeteveaautoriadodeputadoGilneyViana.ElaestabeleceuoscritériosdedistribuiçãodapartedereceitadoICMSpertencenteaosmu-nicípios,osquaisestãodiscriminadosnaTabela1juntoaosseusrespectivosvalorespercen-tuais,cujasomatóriatotaliza25%.Entreosseiscritérioscriados,adimensãodoEcológicosemanifestouemdoisdeles,umpelapresençadeUCseTIs;outropelacondiçãodaofertadesaneamentoambiental.
Critério Cota Igual
Receita Própria UC/TI Saneamento
Ambiental População Área do Município Total
Percentual 9 6 5 2 2 1 25
Tabela 1: Critérios de distribuição da parte de receita do ICMS pertencente aos municípios de acordo com a LC N° 73 de 2000.
Nocritériodosaneamentoambientalfoiconsideradaaqualidadedaprestaçãodeserviçopúblicodosgestoresmunicipais.Oart.7ºdestaleiobservouossistemasdecaptação,otratamentoeadistribuiçãodeágua,coleta,otratamentoeadisposiçãofinalderesíduossólidosedeesgotamentosanitário.AparticipaçãodoICMSEcológiconareceitamunicipaloscilariade acordo comas condiçõesdo saneamento ambiental existentesnomunicípio.Aindaqueoíndicefossede2%,reconhecia-seoidealdeserumincentivofiscalparamelho-riadosserviçospúblicosprestados,visandooaumentodaqualidadedevidadapopulaçãolocal.Antecipa-seque,em2004,foielaboradaoutraLeiComplementar-N°157,extinguin-doessecritérioambiental.
OcritérioUC/TIestábaseadonaextensãoterritorialdasáreasprotegidasden-trodomunicípio,sendocalculadopelarelaçãopercentualentreoíndicedeunidadesdeconservaçãodosmunicípioseasomadosíndicesdeunidadesdeconservaçãodetodososmunicípiosdoestado.
Em2001,oDecretoN°2.758,queregulamentouaLeiComplementarNo157,ex-plicitaqueasituaçãodeconservaçãodaUC/TIéreferênciaaocálculodacota,partedestecritério.Assim,osdanosambientaiseasinvasõesterritoriaisreduziriamexpressivamenteovalordoíndicefinal.Entretanto,observa-sequeatéhojeoquetemsidopraticadoésomente
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aadoçãodoaspectoquantitativo.Permanecedesconsideradoomodocomoaprefeiturain-corporaasáreasprotegidasemsuagestãopública.Nesteparticular,oincentivoàmelhorianosserviçospúblicosnestaquestãonãotemserealizadocomoumefeitodestalei.
OutroimportantefatorasersublinhadonaLeiComplementarN°73dizrespeitoaoquefoidenominadoFatordeCorreção(FC).Eleédeterminadopelotipodemanejodaunidadedeconservação.Separacadamunicípiosãocomputadasasáreasprotegidasfederais,estaduaisemunicipais,cadaumadelasteráumFC,cujovalordependedequalcategoriadeunidadedeconservaçãopertence.AsUCs,porsuavez,sãodefinidaseca-racterizadaspelalegislaçãodoSistemaEstadualdeUnidadesdeConservação(SEUC)epeloSistemaNacionaldeUnidadesdeConservação(SNUC)2.ATabela2apresentaquaissãoestascategoriaseovalordofatordecorreçãodecadaumadelasconformedefinidonaLeiComplementarN°73/2000.
Categoria de Unidade de Conservação Fator de Correção
Reserva Biológica 1,0
Estação Ecológica 1,0
Parques Federal, Estadual e Municipal 0,7
Monumento Natural 0,8
Refúgio da Vida Silvestre 0,8
Área de Proteção Ambiental 0,2
Florestas Federal, Estadual e Municipal 0,5
Reserva Extrativista 0,5
Área de Relevante Interesse Ecológico 0,3
Reserva da Fauna 0,4
Reserva de Desenvolvimento Sustentável 0,5
Reserva Particular do Patrimônio Natural 0,2
Estrada Parque 0,3
Terra Indígena 0,7
Área de Proteção Especial 3 0,5
Tabela 2: Categorias de unidade de conservação e seus fatores de correção.
Emrelaçãoàreservabiológicaeàestaçãoecológica,quevalem1,0,oFCdaterraindí-genaémenor,iguala0,7;sendomenoraindaodeumareservaextrativistaedeumareservadedesenvolvimentosustentável.Inclusive,essasduasúltimascategoriasestãoabaixodovalordeummonumentonaturaledeumrefúgiodavidasilvestreque,igualmente,valem0,8. 3
ApartirdoSEUCedoSNUCfoielaboradaatabela3,sistematizandoascatego-riasdeunidadedeconservaçãoquepermitemenãopermitemaocupaçãopermanentedacomunidade humana. Considerando as tabelas 2 e 3, percebe-se a tendência em atribuirmaisvaloràsáreasprotegidassempresençaefetivadecomunidadehumana,fortalecendoaquelaconcepçãodequeconservaréisolarasociedadedanatureza.Entretanto,éjustamen-teondeestãoospovosindígenaseascomunidadestradicionais(extrativistaseoutras)quesetestemunhaacapacidadedeumarelaçãosustentávelcomoambiente.EmRDS,ResexeTIspresenciam-semodosdevidaculturalmentediferenciados,comaplicaçãodesaberesetecnologiastradicionaisfavoráveisàperpetuaçãodabiodiversidade,cujaconservaçãotemagênciasobreaqualidadedoclima,daáguaedoardaregiãoondeestãosituadas.
2. O Decreto n° 1.795, de 04 de novembro de 1997 institui o Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC) e a Lei n° 9.985 o Sistema Nacional de Unidade de Conservação (SNUC).
3. As áreas de proteção especial estão definidas pela Lei Federal n° 6.766 de 18.12.79 para a proteção de mananciais ou do patrimônio paisagístico e arqueológico.
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UNIDADE DE CONSERVAÇÃO
PERMITEcomunidade humana
NÃO PERMITEcomunidade humana
PÚBLICA
Reserva Extrativista4 Reserva Biológica, Estação Ecológica5
Reserva de Desenvolvimento
Sustentável6Parque Federal, Estadual e Parque Natural Municipal
Floresta Nacional, Estadual, Municipal.
Monumento Natural Reserva de Fauna, Refúgio de Vida Silvestre7,
Estrada Parque
PRIVADA Área de Proteção Ambiental8 Reserva Particular do Patrimônio Natural
Tabela 3: Unidades de conservação que permitem e não permitem comunidade humana.
Esta linha de pensamento tem continuidade com a legislação nacional domeio ambiente quanto à sua prerrogativa de articular o desenvolvimento econômico e apreservaçãodomeioambiente.No inciso Idoart.4ºdaLeiN°6.938de31.08.1981estáprescritaa“compatibilizaçãododesenvolvimentoeconômico-socialcomapreservaçãodaqualidadedomeioambienteedoequilíbrioecológico”,saberesqueospovosindígenaseascomunidadestradicionaisvêmpraticandohámúltiplasgerações.Oqueestáemquestão,portanto,éaconsolidaçãodaquelemodelodedesenvolvimentoeconômicoprotagonistadaalteraçãoecológicadesenfreadaeindiscriminadaque,inclusive,põeemriscoasuaprópriabasedesustentação.Restaurar,recuperareprotegeroambienteenvolve,indispensavelmente,asdimensõeseconômicaseculturais.Novasmaneirasdegerarrendaetrabalhopoderiamserincentivadas,otimizandoabiodiversidadelocal.Porém,alógicaqueseimpôsfoiadevalorizarmaisasáreasprotegidascommaiorrestriçãodeusodesolo.
Parafinalizar,atabela4apresentaoFCdasterrasindígenas,sendoestebaseadopelo nível de reconhecimento jurídico oficial. Particularmente, estes valores não foramconcebidosnaLeiComplementarN°73/2000.Elesforamoutorgadosnoanoseguinte,noDecretoN°2.758de2001.
Nível de reconhecimento jurídico Fator de Correção Registrada 0,70Homologada 0,65Reservada 0,60Demarcada 0,55Em demarcação 0,45Declarada 0,40Identificada 0,30Em Identificação 0,00A identificar 0,00
Tabela 4: Fator de correção das terras indígenas.
4. É destinada à proteção dos meios de vida e à cultura de populações extrativistas tradicionais, assegurando a sustentabilidade social, cultural e ambiental.
5. É permitida a alteração do ecossistema para fim científico sob uma regulamentação específica, salvaguardando que isso pode ocorrer somente em até 3% da extensão territorial da unidade de conservação.
6. São áreas com presença de comunidade tradicional, destinadas à sustentabilidade cultural que historicamente tem mantido o bem-estar do ecossistema onde habitam, protegendo, portanto, a diversidade biológica.
7. A finalidade última é oferecer condições para a continuidade das espécies residentes ou migratórias de importância significativa.
8. Destaca-se a funcionalidade de zona de amortecimento para áreas de proteção integral.
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II. 2. Decreto N° 2.758 de 16.07.2001
ALeiComplementarn°73/2000foiregulamentadapeloDecretoEstadualn°2.758/2001eatribuiuàSecretariaEstadualdoMeioAmbiente(SEMA)aresponsabilidadedeatualizaralistadeUCseTIsnoestado,anualmente,comobaseparaidentificarquaissãoosmunicípioshabilitadosareceberemacotaparteligadaatalcritério.IssofoiregulamentadopeloDecretoN°2.758de2001,quecriouoCadastroEstadualdeUnidadesdeConservação(CEUC).AssimficaesclarecidoqueaSEMAéquemrealizaocálculodoíndicedeUC/TIrelativoacadamunicípio,devendopublicarnoDiárioOficialdoestadooresultadodeseuscálculos,informandoàSecretariadeEstadodaFazenda(Sefaz)que,porsuavez,repassaaosmunicípios.
AimportânciadaadoçãodecritériosqualitativosparadefiniracotaligadaàUC/TIéenfáticanestedecreto.Oartigo6ºafirma:“Poderáhavermudançasdosíndicespercentuaisvigentes,devidoaosmunicípios,emfunçãodepossíveisalteraçõesnoníveldequalidadedeconservaçãodasunidadesdeconservaçãoeterrasindígenasduranteorespectivoexercíciocivil”. Emvários artigos deste decreto está explicitado como foi concebida esta políticapública do ICMS Ecológico, cuja intencionalidade é salvaguardar a biodiversidade nosmunicípios,visandoàconsolidaçãodoSEUCeoaumentodaquantidadedeáreasprotegidasno estado. Contrapondo-se às ameaças de danos ambientais, são valorizados critériosqualitativosqueinfluenciemnovaloraserrecebidopelosmunicípios,afimdeincentivaraçõesdiretaseindiretasqueafetempositivamenteasituaçãodeconservaçãodasUCseTIs.Oobjetivoérealizar-secomojustiçafiscal,porém,cobrandodomunicípioaelaboraçãodeplanosdeaplicaçãodosrecursosrecebidosdoICMSEcológicovoltadoparaasfinalidadesacimaexpostas.QuantoaoscasosdeUCseTIsqueincidememmaisdeummunicípio,éabordadaemtermosde“dever”aformaçãodeconsórciointermunicipal,comprometendoaparticipaçãodaFundaçãoNacionaldoÍndio(Funai),daSecretariadeAssuntosIndígenasdoEstadodeMatoGrosso(SAI/MT)edacomunidadelocalnosplanosvoltadosàTI.Estáprescritoodesenvolvimentodeparceriascomuniversidade,organizaçãonãogovernamental(ONG) e outras instituições interessadas na biodiversidade, estabelecendo termos decompromissoparaaçõesemgestãoambiental.Oartigo14ºafirma:
OsConselhosMunicipaisdoMeioAmbientepoderãoprocederaoacompa-nhamentotécnicoefinanceirodosProjetosdesenvolvidospelosmunicípiosquerecebemrecursosdoICMSEcológico,emespecialapartirdosPlanosdeAplicaçãoapresentados,devendoseusrelatóriosserconsideradosquandodasavaliaçõesereavaliaçãodasunidadesdeconservaçãoquebeneficiamorespectivomunicípio(artigo14ºdoDecretoN°2.758de2001).
Expostoisto,esclarece-seque,atéentão,nesteperíodode12anos,nenhumtermodecompromissofoifirmado,tampoucoelaboradoumplanodeaplicaçãodosrecursosdoICMSEcológico. Igualmente, a atualização anual doCadastrodeUnidadesdeConservaçãodaSEMAnãoprescindedequalqueravaliaçãodasituaçãodeconservaçãodasáreasprotegidasdentrodoestado.Ocritérioquantitativoimpõe-secomoúnicofatorconsideradonocálculodoíndiceUC/TI.Alémdisso,nemtodososmunicípiostêmConselhoMunicipaldeMeioAmbientee,emgeral,seotêm,nãosãoatuantesouatémesmoativados.
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II. 3. Lei Complementar N° 157 de 20.01.2004
ALeiComplementarN°157de2004foipublicadanoDiárioOficialdia20.01.04comaautoriade liderançaspartidáriasduranteogovernodeBlairoMaggi.Entreoutrasprovidênciasdestaca-seoseuobjetivoderedefiniroscritériosdeparticipaçãodosmunicípiosnoprodutodearrecadaçãodoICMSdoMatoGrosso.Atabela5apresentaonovoconjuntodecritériosparacalcularesteíndicedeparticipação.
Critério Receita Tributária Própria População Extensão
TerritorialCoeficiente
Social UC/TI Total
Percentual 4 4 1 11 5 25
Tabela 5: Novo conjunto de critérios para a participação dos municípios no ICMS.
Asliderançaspartidáriasconquistaramaextinçãodocritériosaneamentoambiental–umretrocessoenquantopolíticapública,poiseleteriaefeitodiretonasaúdepública–alémdosobjetivos ligados àqualidade ambiental.Conforme testemunhadoporum técnicodaSEMA,ementrevistaconcedida,entreasliderançaspartidáriashouvetentativadeacabarcomoscincoporcento(5%)doíndiceUC/TI,revelandoaexistênciadeumaforçapolíticadesfavorávelaofortalecimentodoICMSEcológico.
Conformeapresentadonatabela5,foipriorizadoocritériodocoeficientesocial,sendoelebaseadono ÍndicedeDesenvolvimentoHumano (IDH).Observa-se tambémoaumentodopercentualdocritériopopulaçãode2%para4%.Adimensãoquantitativanoscritérioséreforçada.
Vale sublinhar que nesta lei complementar é reiterado o esquema da SecretariaEstadualdoMeioAmbiente repassaràSefazospercentuaiscorrespondentesàUC/TIdecadamunicípio.Especificamente,quemofazéaCoordenadoriadeUnidadedeConservação,ligadaàSuperintendênciadeBiodiversidade.ASefazrealizacincorepassesaosmunicípios,publicando-os,informandoovalordoICMSseparadamente.
Tem-se,contudo,queoprincípiodaproporcionalidaderegeaquantidadedobenefícioaserrecebido,sendodecisivosaquantidadedaextensãoterritorialdasáreasprotegidaseorespectivofatordeconservação.Sãoconsideradas“[...]asrelaçõesdotamanhoemhectares(ha) e o fator de conservação das categorias das áreas protegidas contidas nomunicípiocomaárea(ha)doprópriomunicípio”(SEMA,2008,p.7).Ovalortotalemmoeda(R$)dosrecursostransferidosaosmunicípiosvindosdoICMSformaumFundodeParticipaçãodosMunicípios.OvalordoICMSEcológicoestáembutidonele.CadamunicípiotemumFundodeParticipação.Ocálculodovalor (R$)do ICMSEcológicocontidoneleé feitopelamultiplicaçãoentreo índiceUC/TI (5%)domunicípioeovalor recebidodoFundodeParticipaçãodivididopeloíndicefinaldeparticipaçãonoICMS(população,coeficientesocial,áreadomunicípio,receitatributáriaprópriaeUC/TI).
Há diferenças de valores em moeda nacional de ICMS Ecológico entre osmunicípiosbastantesignificativas.Suascapacidadesorçamentáriasanuaissãodesiguais,bemcomosãodistintososcenáriosdadegradaçãoambientaledasdemandasdeumagestãoambientalqualificada.
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II. 4. Portaria N° 30 de 29 de fevereiro de 2008
APortariaN°30/2008édaSecretariadoEstadodeMeioAmbientedeMatoGrossoquandoLuísHenriqueDaldeganerasecretário.Ela“CriaoGrupodeTrabalhoparaanálise,atualização e gestão do ICMS Ecológico emMatoGrosso”. Este grupo seria compostopor representantes da SEMA-MT; Sefaz-MT;MPE-MT;AMM; Funai; SAI/MT; TCE eIbama.OobjetivoseriaodeanalisarosresultadosdoICMSEcológiconoMT,desenvolvermecanismosfavoráveisàpotencializaçãodestareferidapolíticapúblicaeproporummodelocolegiadodegestãopermanentedoICMSEcológico.
OGT criado pela Portaria N° 30/2008 está desativado, porém já teve algumasexperiênciasdereuniões.Nelas,inclusive,umtécnicodaSEMAinformouque,entretantasdiscussões realizadas, um consenso alcançado foi quanto à necessidade de divulgar estapolíticapúblicaparaasociedadeemgeral,expandindooacessoque,atéentão,épraticamenterestritoaosmeiosacadêmicoseentreosprofissionaisenvolvidosdiretaouindiretamentecomotema.Noâmbitodacomunicação,ositedaSEMApassouapublicarasinformações,masporpressõespolíticasfoiinterrompidaestadivulgaçãomaisprecisa.Noentanto,permaneceatéomomentoa transparênciadequantocadamunicípio recebeemMatoGrossodesde2002até2012.
Aindanoaspectodacomunicação,napesquisadecampoemmunicípiosverificou-sequealgunsvereadoresaindadesconhecemapolíticapúblicadoICMSEcológico,bemcomoalgunsgestoresexecutivosdosetorambiental,oquereiteraanecessidadededivulgar,de fato, tal política pública.Mas os prefeitos sabem: “Em todo começo demandato deprefeituras,agentetemumaenxurradadeprefeitosquevãoatéaSEMAparasaberquaissãoasunidadesdeconservaçãoqueele temnosmunicípios,atéasunidadesmunicipais”(técnicodaSEMAentrevistado).
II. 5. Instrução Normativa N° 001 de 05 de maio de 2010
AInstruçãoNormativaN°001de05.05.2010édaSecretariadoEstadodeMeioAmbiente,elaboradanoperíododagestãodeAlexanderTorresMaia.Ela temrelevânciana regulamentação do critério de qualidade, porém, está configurada em linhas gerais.Permaneceademandaemespecificarcritérioscomputáveisnocálculodoíndice.
Destaca-se a perspectiva do ICMS Ecológico constituir-se também como umincentivoàagroecologia.Emváriosartigospresencia-seofomentoàgeraçãodeempregoerendainspiradanavalorizaçãoeconservaçãodabiodiversidadeetambémdadiversidadecultural.Nestainstruçãonormativareafirma-seomecanismoutilizadopelosmunicípiosparadesenvolverplanosdeação,identificandonelequaisasatividadesserãodesenvolvidascomosrecursosrecebidosdeICMSEcológico.Aolongodesteinstrumentolegaléexplicitadocomohorizonteoestímuloaoecoturismoeàstecnologiasdebaixoimpacto,notadamentenoentornodasáreasprotegidascomoorientadoresdetaisplanos.Noparágrafo1ºdoartigo11,porexemplo,prescreve-se:“Asprefeiturasmunicipaisestimularão,noentornodasUnidadesdeConservação,atividadesrelativasaproduçãoquenãoutilizemagrotóxicoseseproponhamaproduçãoagroecológica,ecoturismo,eaçõesoutrascompatíveiscomaconservaçãodabiodiversidade”.Contudo,estadimensãodeve serconsideradanaafirmativadoartigo9ºemqueoíndiceUC/TIseorigina“[...]pelaimpossibilidadedousodosoloparaatividadesde produção de alto impacto, e outras atividades, incompatíveis com a necessidade daconservaçãodabiodiversidade[...]”.Noprópriorepertóriolegislativoépossívelidentificar
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umaconcepção refratária aodiscursodo ICMSEcológico comoum incentivofiscal queconsolideoagronegócio,istoé,queseconfigurecomoumacontraprestaçãopornãodesmatarabiodiversidadeafavordaatividadeeconômicavoltadaàexportação.
ÉenfáticooreforçodoscritériosqualitativosparaainclusãoemanutençãodasáreasprotegidasnoCadastroEstadualdeUnidadesdeConservação(CEUC).AapropriaçãosocialéumfatordiscriminadoparatantoeelaéidentificadaemaçõesquerevelamaincorporaçãodasUCs eTIs na gestão pública.O ecoturismo, a educação ambiental e a produção debaixo impacto são indicadas como expressões disso. Este instrumento legal é consoanteàquelaperspectivadearticulardesenvolvimentoeconômicoebiodiversidade.EmtermosdeProgramaEstadualdoICMSEcológico,oartigo20afirmaosseguintesobjetivos:incentivaro aumento e ampliação de áreas protegidas, melhorar a qualidade de sua conservação,construircorredoresdebiodiversidadee“gerarempregoe renda,diretaou indiretamenteatravésdasáreasprotegidas”.Portanto,éreincidenteestaperspectivadoICMSEcológiconãoseresumircomoumacompensaçãofiscaldosoloquenãofoidestinadoàproduçãodealtoimpacto.Aagroecologia,oecoturismo,aeducaçãoambientaleatividadesafinspodemdesdobrar-se como índices indicadores da existência de uma gestão ambiental públicaorientadaàconservaçãodabiodiversidade.NestainstruçãonormativaháaincorporaçãodecritériosqualitativosnocálculodoíndiceUC/TI.
Outroavançoaserdestacadoaquisetratadaincorporaçãodoterritórioquilombolareconhecidooficialmente,apreendendo-ocomoequivalenteàTI,porém,comFCnovalorde0,5(Art.28).
ÉmuitoimportantesublinharquenestanormativafoicriadaaCâmaraTécnicadoICMSEcológico,sendoelacompostapelaSEMA,Sefaz,TCEeduasONGs,cujoobjetivoédefinirasdiretrizesdoProgramaEstadualdoICMSEcológico.Valelembrar,ainda,quea implementaçãodaavaliaçãodo índiceUC/TIporcritériosqualitativosdeveria ter sidorealizadanoexercíciofiscalde2010,pelomenosnumgrupodeáreasprotegidas.
Em relação à Câmara, já foi elaborada umaminuta da Portaria para instalá-la,porém,oprocessoaindadependedosecretáriodaSEMA.Emnovembrode2013,técnicosdo TCE produziram um relatório intitulado: “Auditoria Operacional em Unidades deConservaçãoEstaduaisdoBiomaAmazôniaemMatoGrosso”,cujoobjetivoeraavaliaragovernançaambientaldasáreasprotegidas,especificamentenobiomaAmazônia.Entreosváriosimpassesevidenciados,tangentesàgestãoambientalemMatoGrosso,envolvendoaSEMAeosmunicípios,destaca-seaconstataçãodaausênciadeaplicaçãoqualitativadoFatordeConservação(FC)doICMSEcológico.
II. 6. A lei na execução
Éprecisoapresentarareproduçãodeumdiscursodisseminadoentreosgestoresgovernamentais,acadêmicosenão-governamentaisque,inclusive,énecessáriosersuperadoparanãoalimentaroriscodemonopolizarumaperspectivadoICMSEcológico,emdetrimentodeoutraspossibilidadesepercepções.HáumaargumentaçãorecorrentedequeomunicípiorecebedordosrecursosdoICMSEcológiconãotemobrigaçãodeaplicá-losnamanutençãodasUCseTIs.Umadasjustificativasassociadasatalafirmaçãoéadequeesteincentivofiscalacontecepelarenúnciadaoportunidadedeexpandiroagronegócio.Sublinha-se,desdeaqui,quenestediscursonãosãoconsideradasasoportunidadesdeatividadeseconômicasdeummodoabrangente,istoé,contemplandosistemasagroflorestais,agroecologiaeagriculturafamiliar, por exemplo.Esta argumentação favorece a consolidaçãodeumpontodevistaemquearelaçãoentreTI,UCeagronegócioénecessariamenteexcludente.Paralelamente,desfavoreceainvençãodediferentesatividadeseconômicasgeradorasdetrabalhoerenda,bemcomodeoutrastecnologiasquenãoarrisquemaqualidadedaágua,soloear,bemcomo
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amanutençãodabiodiversidade.ÉprecisofortalecerdiscursosepráticassociaisfavoráveisàsperspectivasdeumaarticulaçãoentreatividadeseconômicaseamanutençãodeUCeTI.
Éoportunoesclarecerqueomunicípiotemautonomiaparaadestinaçãodasdespesasmunicipaisapartirdesuareceita,constituídapeloICMSEcológico,entreoutrosimpostos,conforme outro discurso tambémmuito recorrente. Porém, num governo democrático, estáemquestãoobservarestaautonomiasobopontodevistadaparticipaçãosocial.OutrosfatorespodemservalorizadosnaabordagemdoICMSEcológico.Porexemplo,considerarseocontrolesocialestáocorrendo,tendocomoumindicadorapráticadalegislaçãoqueasseguraoorçamentoparticipativoecomooscidadãosseenvolvemnagestãopública.Adivulgaçãodessaspolíticaspúblicas torna-seoutro indicador.Énecessárioexpandiracompreensãode taispolíticasparaqueacomunicaçãopossaserabrangente.Nesteparticular,oICMSEcológiconãoserestringiriasomentecomoaplicaçãodosrecursosemaçõesdentrodaTIeUC.Sobrepõe-severificarcomooambienteéincorporadonagestãopúblicamunicipal,contemplandoaçõessocioambientaisnoentornodasáreasprotegidas,nosimóveisrurais,nosbairrosecentrosurbanos.Éaarticulaçãoentreasatividadeseconômicaseoambientequeestáemquestão,associadaàconservaçãodabiodiversidade.Oobjetivofinaléaqualidadedevida.
Também é recorrente o discurso de que não há lei que obrigue as prefeituras adestinarorecursoàsáreasprotegidas.Estacompreensãotambéméarriscadaporquenadapodesercompreendidocomofixo,estáveledefinido.Afinal,aLeidoICMSEcológiconãofoielaboradaporqueumaleiobrigouafazê-la.ÉprecisoconsiderarasdiversasperspectivasdecomooICMSEcológicoestáserealizandonoMatoGrosso.Pode-secriarlei,sim,queobrigueomunicípioadestinarosrecursosparaaçõesemáreasprotegidas,desdequesejaumadeliberaçãoentreosgestorespúblicoslocaisjuntoàparticipaçãosocial,sobopontode vista de conservar a biodiversidade.Valemencionar que osmunicípiosChapada dosGuimarãeseCurvelândiaelaboraramumaleimunicipalparatalfinalidade.
ALeiMunicipalN°1.013/2002deChapadadosGuimarães“estabeleceregrasparaaaplicaçãodosrecursosoriundosdoICMSEcológico–ÍndicedeUnidadedeConservação/TerrasIndígenas”.ElafoielaboradanagestãodePedroReindelFonsecaeobrigouopoderexecutivoaaplicarnomínimo35%dosrecursosorigináriosdoICMSEcológico.NessaleiforamdefinidasasáreasdeatuaçãoparaadestinaçãodocritérioUC/TI,sendoelas:criarparquesecológicosmunicipaisfavorecendoturismoecológico;recuperareprotegercursosd´águaenascentes; conservaçãodeestradasmunicipaisconstruindobaciasdecontençãopara evitar processos erosivos; manter serviço de fiscalização ambiental adquirindoequipamentosnecessários;executarplanosdeaçãoaperfeiçoandoosaneamentoambientalnomeiourbano,notadamentenosserviçosdecoletadelixo,limpezapública,jardinageme arborização das vias urbanas; construir praças e balneários; apoiar projetos ambientaispropostospelasociedadecivilorganizada,voltadosàeducaçãoambientaleàproteçãodasUCs.Observa-se,aqui,aamplitudedasaçõesquepodemserdesenvolvidascomorecursodoICMSEcológico.
ALeiN°316de29demaiode2012deCurvelândiatambémestabeleceregrasparaaaplicaçãodosrecursosdoICMSEcológico.FoielaboradanagestãodeMaurySouzadaSilva.Sãodefinidososcritériosqueopoderexecutivodeveobedecerparaaplicaçãodestesrecursosemfavordabiodiversidadeedo turismoecológico.Sãoeles:80%dos recursosparaoMonumentoNaturalCavernadoJabuti,contemplandoaçõesnaeducaçãoambientalno entorno desta área protegida e ecoturismo.Vinte por cento poderão ser destinados àcriaçãoeampliaçãodeparquesecológicos,manutençãodeserviçodefiscalizaçãoambientaleaquisiçãodeequipamentosnecessáriosparaa jardinagemurbana,construçãodepraçasebalneários,capacitaçãoderecursoshumanosparagestãoambientaleprojetosnaáreadaeducaçãoambientalpropostospelasociedadecivilorganizada.
Éimportanteaaberturaparaacriaçãodadiversidadedepossibilidadesorientadasemcomumàqualidadedevidasocioambiental.
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Vegetação próxima ao rio Juruena, no distrito de Fontanillas, município de Juína.
Foto: Andreia Fanzeres/OPAN
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III. RETRATOS DO ICMS ECOLÓGICO RECEBIDO PELOS MUNICÍPIOS
É improvável focar todos os ângulos possíveis de serem retratados neste tema.Reconhecendotallimitação,umdosobjetivosdestecapítuloéconstruirumquadrogeraldasterrasindígenaseunidadesdeconservaçãoexistentesnoestadodeMatoGrosso,formatandooatualcontextodasáreasprotegidasqueestãocircunscrevendoocritérioUC/TIdoICMSEcológico.Aseguir,serãoapreendidososefeitosdalegislaçãonoestado,identificandoquaissãoosmunicípiosqueestãorecebendoeosquenãoestãorecebendoobenefício,apartirdocritérioUC/TI.Serãodestacados,porcontraste,tantoosquemaisrecebemquantoosquemenosrecebemICMSEcológico.Porenquanto,adimensãoquantitativaseráexplicitada,jáquetemsidoaúnicareferênciadeterminantedosrepassesfeitospelaSefazàsprefeituras.OfatoéquenestecapítuloháinformaçõescorrespondentesàrealidadedecomoosrepassesdoICMSEcológicoacontecememMatoGrossodesde2002.Osquadrosapresentadossãorecortesbaseados nas informações do RelatórioAnual daMemória de Cálculo do ICMSEcológicoproduzidopelaSEMA,associadasadadoscoletadosdeoutrasfontescomooInstitutoBrasileirode Geografia e Estatística (IBGE), a Secretaria Estadual do Planejamento deMato Grosso(Seplan),aFundaçãoNacionaldoÍndio(Funai),oConselhoIndigenistaMissionário(CIMI),oInstitutoSocioambiental(ISA),entreoutroscreditadosaolongodorelato.
III. 1. Terras indígenas e unidades de conservação em Mato Grosso
ConformeinformaçõesdisponíveisemSEMA(2013),IBGE(2010),CIMI(2010)e ISA(2013) foiverificadaaexistênciadeáreasprotegidasem91dos 141municípiosdeMatoGrosso (IBGE,2010), ausentando-se em50.NoApêndiceAestão identificadososmunicípiossemáreaprotegida;aquelescomTIeUC;eosquepossuemsomenteTIouUC.
Gráfi co 1: Municípios com áreas protegidas em Mato Grosso
65%35%
Municípios comáreas protegidas
Municípios semáreas protegidas
Fonte: IBGE, 2010; SEMA, 2010 e 2013; CIMI 2010; ISA 2013
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Os biomasAmazônia, Cerrado e Pantanal presenciam-se no território deMatoGrosso,aliás,ésomentenasunidadesdeconservaçãoe,sobretudo,ondeestãosituadosospovoseascomunidadestradicionais,quesetestemunhaaconservaçãodabiodiversidadedosmesmos.Asáreasprotegidastêmrelevâncianocontextodeumaeconomiavoltadaparaaexportação,cujomodeloédealtoimpactoecomimpulsoparaexpandir-sedegradandoosremanescentesdabiodiversidade.
AimplementaçãodeumprogramadoICMSEcológicoéurgenteparaaconsolidaçãodasáreasprotegidas,bemcomoparaaampliaçãoecriaçãodenovas.Aspolíticaspúblicasvoltadas à demarcação e manutenção de UC/TI e terra de quilombolas expressam oreconhecimentooficialdaimportânciadeaçõesnocampoambiental.
NorelatóriodetécnicosdoTribunaldeContasdoEstado,elaboradoemnovembrode2013,entreosváriosimpassesdetectadosnoâmbitoambiental,destacou-seodesmatamento,ainvasãodepescadores,caçadoresemadeireirosnasáreasprotegidas,alémdapresençadospassivosambientaisdemuitaspropriedades.TaisachadosderivamdeumapesquisarestritaaosmunicípioslocalizadosnobiomaAmazônia(TCE,2013),representandoumaamostradarealidadedoestadodeMatoGrosso.Considerandoosgráficos1e2,percebe-sequeésignificativoopercentualdeunidadesmunicipaissemáreasprotegidas.
Gráfi co 2: Percentual de municípios com TI e/ou UC e sem área protegida
25%
21%18%
36%TI somente
UC somente
TI e UC
Sem Área Protegida
Fonte: IBGE, 2010; SEMA, 2010 e 2013; CIMI 2010; ISA 2013
Ainda é preciso destacar que, conforme exposto anteriormente, a instruçãonormativa regulamentoua incorporaçãodas terrasdequilombolasno índiceUC/TI,masé nula a experiência de computá-las para o repasse do ICMSEcológico, reconhecendo,portanto,aincompletudedasinformaçõesoferecidasacimanosgráficos1e2.
Segundo a SEMA, o repasse do ICMS Ecológico, em 2010, aconteceu em 88municípios e foi inexistente em 53.Considerando a ausência de áreas protegidas em 50municípios,evidencia-sequeorepassedeICMSEcológicovemocorrendoexpansivamenteemMatoGrosso,istoé,naqueleslocaiscompresençadeUCeTI.
CamposdeJúliosópassouareceberorecursoapartirde2011porque,atéentão,aTIUirapuru(21.680ha)nãoestavaconsiderada.Elacobre2,99%destemunicípioejáeradeclaradadesde2009.Em2011oseuíndiceresultounopagamentodeR$120.673,00,tendoaumentadopara143.090,80em2012.
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Conforme exposto no Capítulo I, na legislação do ICMS Ecológico cada áreaprotegida tem um fator de correção (FC). Retoma-se, portanto, que as terras indígenasidentificadas e a identificar têm o valor zero (0). Contudo, aquelas não reconhecidasoficialmentenãosãoconsideradasnocálculodocritérioUC/TI.IssoaconteceemCanabravado Norte, onde há a presença das TIs Krenrehe e Rio Preto. Também nomunicípio deMarilândiacomaTIEstaçãoParecis(3.620ha),aqualestáidentificada.OmunicípiodeTabaporãpermanecesemreceberorepassequandoemseuterritórioháapresençadaTIBatelão(117.050ha)queocupa12,22%destaunidadeadministrativa.Elajáfoideclarada,porém,outraportariasuspendeutalatodeclaratório.Hádiversoscasoscomoesse.
OestadodeMatoGrossoconsideraaexistênciade170áreasprotegidasdispersasnesteconjuntode91municípios,sendo95TIse101UCs.EntreasUCs,33sãomunicipais,45estaduaise23federais(SEMA,2013).EmrelaçãoàsTIs,há95atéentãopercebidas,entreasquais69têmreconhecimentojurídicoformale26nãotêm(CIMI,2010;ISA2013).
Segueabaixoomapaqueretrataasterrasindígenasreconhecidasoficialmenteeasunidadesdeconservaçãofederais,estaduais,municipaiseparticulares.Aseguir,ográfico3representaopercentualdecadaumadelasnoestado,apartirdedadosde2013.
Mapa 1: Áreas protegidas de Mato Grosso.
Fonte: SEMA, 2013; CIMI, 2010; ISA, 2013.
Ográfico3seguiuascoresdalegendadomapadasáreasprotegidasdeMTacimaexposto.Comparando-seasinformaçõescontidasnomapaenográfico, tem-sequeentreas UCs predominam as estaduais, que possuem maior extensão territorial. Em termospercentuais, é expressiva a aproximação da quantidade de áreas protegidas municipais,menoresemtamanho,revelandoaimportânciadacontribuiçãodosmunicípiosnaconservaçãodabiodiversidade.
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Gráfi co 3: Percentual de TI e UCs federais, municipais e estaduais
12%
23%
17%35%
13%
UC Federal UC Estadual UC MunicipalTI Reconhecida TI Não Reconhecida
Fonte: SEMA, 2013; CIMI, 2010; ISA, 2013.
HápoucaquantidadedeUCfederaleumaumentosignificativodeUCsmunicipais,posterior à implantação da legislação do ICMS Ecológico no estado. Este fenômenoocorreunosanoscircundantesàintroduçãodaLeiComplementarN°73/2000eDecretoN°2.758/2001;segundoestudosdeKatiaMoserdeOliveira(técnicadaSEMA-MT),tendosidocriadas23UCs,conformedemonstraográficocitadoabaixo.
Gráfi co 4: Impacto do ICMS Ecológico na criação de UC municipal
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2006
2007
2008
Nº
de U
Cs
Ano de criação
Dinâmica das UCs em Mato Grosso
Estadual Federal Municipal
Fonte: Elaborado por Káti a M.B. de Oliveira, 2013.
Tesouroéummunicípioqueem2002não recebeu recursode ICMSEcológicodevidoàinexistênciadeáreasprotegidas.Entretanto,incentivadoporestapolíticapública,oex-prefeito,naépoca,crioudiversasáreasdepreservaçãoambiental(APAs)comoaAPAMorroSantaLuzia(2.805ha);aAPARibeirãodaAldeia(4.881ha),APAMorroVerdeeRibeirãoDantas(75.000ha),APARiodasGarçaseFurnasdoRioBatovi(96.000ha)eaAPACachoeiradaFumaça(708ha).Acrescenta-seaindaacriaçãodoMonumentoNaturaldoConfusão(100ha)edoParqueNaturalMunicipalCelebra(50ha).Em2003,iniciouorecebimentodorepassepelocritérioUC/TI.
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Segueabaixoográfico5comosvaloresemreais(R$)doICMSEcológicopagoaomunicípiodesde2002até2012.
Gráfico 5: Recursos (R$) de ICMS Ecológico pago a Tesouro
0,0
268.412,7800
335.477,920
349.827,390
371.363,820
397.104,370
467.452,300
479.375,670
494.509,070
3.981,40
3.035,64
0,0 100000,0 200000,0 300000,0 400000,0 500000,0 600000,0
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Fonte: SEMA-MT, 2013
Observa-seumaumentoprogressivodacontribuiçãodo ICMSEcológicoparaareceitadaprefeituradeTesouroentre2003a2010.E,em2012,umdecréscimoexorbitanteporqueocritérioUC/TIbaseou-sesomentenoParqueCelebra(53,95ha),naAPACachoeiradaFumaça(708,79ha)enaRPPNdoRioSepotuba(99,48ha).Areduçãodorecursorecebidocorrespondeàreduçãodaáreaprotegidanomunicípio,tendosidorevogadasváriasAPAs,notadamenteasquepossuemmaiorextensãoterritorial,comooMorroSantaLuzia,aRibeirãodaAldeiaeaMorroVerde.OsgestorespúblicosjustificaramqueasAPAsatrapalhariamaproduçãodesojaepecuária,asquaisproduziriammaisreceitaparaomunicípio9.Entretanto,otécnicodaSEMArelatou,ementrevista,aocorrênciadeumarrependimentodaprefeituraquandoreceberamovalorcorrespondenteaoatual índiceUC/TIcombasenas trêsáreasprotegidasremanescentes.
Omunicípioérepletodebelezascênicas,háoportunidadesdequeabiodiversidadelocalgereempregoerenda,desdequeaadministraçãopúblicaorienteesforçosparaestafinalidade–rendasquesesomariamàquelesrecursosdocritérioUC/TI.Seráqueestaáreade178.786haquedeixoudeserprotegidaparaaproduçãodesojaepecuáriaproporcionariade fatouma rentabilidademaiorparaa receitamunicipaldoqueaarrecadaçãodiretadoICMS Ecológico? Será que o engajamento para a revogação das APAs considerou defato um cálculo preciso e comparativo das arrecadações originadas por cada umadestasfonteseconômicas?Porexemplo,quantovaleriaparaomunicípiodeTesouroumplanodeecoturismobemestruturadoemtermosdearrecadaçãodeimpostos?9. A informação sobre a existência do argumento que justificou a revogação das APAs foi retirada do artigo de Fanzeres, A., no jornal O Eco, publicado dia 18/09/2009, acessado no site http://www.oeco.org.br dia 08/11/2013.
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Diagrama 1: Sistematização da produção agrícola de Tesouro (ha/ano)
Fonte: IBGE, 2004; 2008; 2009; 2012.
ApartirdasinformaçõesdoIBGE,infere-seque,mesmocomaexclusãodasáreasprotegidasnoanode2009nomunicípiodeTesourocomalegaçãodequeelasatrapalhavamaproduçãoagrícola,nãohouvealteraçãonaextensãosignificativadaáreaplantadadesojaemilho.Aocontrário,oquesepercebeéumadiminuiçãodocultivodaagriculturafamiliar(arrozefeijão).
III. 2. Recortes do pagamento de ICMS Ecológico aos municípios
Ográfico6apresentaosmunicípioscommaioresvaloresdeICMSEcológicoem2010.
Gráfico 6: Municípios que recebem maiores valores em reais de ICMS Ecológico
2.702.077,602.373.300,36
2.290.591,722.042.285,47
1.977.308,431.975.696,48
1.867.069,111.758.982,631.740.391,991.701.450,301.678.204,08
1.613.184,611.422.813,67
1.073.367,22
0,00 1.000.000,00 2.000.000,00 3.000.000,00
Apiacás
Comodoro
Alto da Boa Vista
Tangará da Serra
Conquista D´Oeste
Feliz Natal
Campinápolis
Repasse deICMS Ecológico
Fonte: SEMA, 2010.
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Atéoanode2010,entreosmunicípiosquereceberammaioresvaloresanuaisemreais(R$)deICMSEcológicoestão:AltoBoaVista,Apiacás,Campinápolis,CampoNovodo Parecis, Comodoro, Conquista D’Oeste, Feliz Natal, Gaúcha do Norte, Juína, NovaNazaré,NovoSantoAntônio,PeixotodeAzevedo,RondolândiaeTangarádaSerra.
Nesteconjunto,dezmunicípios têmapresençade terra indígena;dois têm terraindígena eunidadede conservação (Juína eApiacás) eumdeles temapenasunidadedeconservação(NovoSantoAntônio).EntreosmunicípiosquemaisrecebemvaloresdeICMSEcológicoemreaiséenfáticaapresençadeTIs,envolvendonestecasoospovosParesi,Nambiquara, Xavante, Zoró, Kaiapó, EnaweneNawe, Rikbaktsa, entre outros povos doParqueIndígenadoXingu(PIX).
ValeobservarqueosmunicípiosquetêmrecebidoumacotaexpressivadestecritérioUC/TIcoincidemcomaquelesquetêmsofridopressõeseameaçasàsTIs.UmcasoemblemáticoéAltoBoaVista,ondesepresenciaaTIMarãiwatsédéque,desdeoperíododaimplementaçãodaLeiComplementarN°73/2000atéoprimeirosemestrede2013,esteveilegalmenteocupada.Nestecontextohouveumdesmatamentoemtornode85%destaáreaprotegida.
Expostoisto,segueográfico7apresentandoosmunicípiosquereceberammenoresvaloresem2010.
Gráfico 7: Municípios que recebem menores valores em reais de ICMS Ecológico
49.652,7636.385,87
32.430,1932.281,72
31.030,3327.594,30
21.167,6516.681,72
13.945,6210.212,65
5.238,891.505,91
0,00 10.000,00 20.000,00 30.000,00 40.000,00 50.000,00 60.000,00
Água BoaRibeirãozinho
Alta FlorestaBom Jesus do Araguaia
Nova XavantinaCampo Verde
Planalto da SerraNortelândiaCurvelândia
JaciaraSorriso
Sinop
Repasse de ICMSEcológico
Fonte: SEMA, 2010.
Entreosmunicípiosquemenosrecebemvaloresemreaisporanoestão:ÁguaBoa,Alta Floresta,Bom Jesus doAraguaia,CampoVerde,Curvelândia, Jaciara,Nortelândia,NovaCanãadoNorte,NovaXavantina,PlanaltodaSerra,Ribeirãozinho,SinopeSorriso.
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Considerando o princípio da proporcionalidade nesta dimensão quantitativa,elespossuempequenasáreasprotegidas relacionadasàextensão territorialdomunicípio,sinalizando uma região propícia a ser receptiva de uma política pública que fomenta aampliaçãoe/oucriaçãodenovasUCs.EmÁguaBoa,porexemplo,háváriasterrasindígenasaseremidentificadasquenãoestãosendocomputadasnocálculodo índiceUC/TIcomoAreões I,Areões II, Isoú’pa eNorutsurã, comprometendoopotencialde arrecadaçãodoICMSEcológico.Opossívelapoio localaoseureconhecimentooficial favoreceriadessaformasignificativamenteoaumentodareceitamunicipal.PoisatéentãosóseconsideramasTIsParabubureeAreões.
Conformeevidenciadonográfico7,SinopeSorrisorecebemosmenoresvaloresdeICMSEcológiconoestado,denunciandoafaltadeumagestãoambientalrentávelparaessesmunicípios.EmSinop, o repasse está baseado apenas em“ÁreasVerdesUrbanas”(parques) somando264hasobreumaextensão territorialde319.434ha.Em2011e2012essemunicípionãorecebeurepassedeICMSEcológico,apesardeseugrandepotencial.JáemSorriso,oíndiceUC/TIépautadoapenasnaAPASaltoMagessi,totalizando4.601,35ha,numasuperfícieterritorialde923.506,94ha,anunciandoumínfimopercentualdeáreaprotegida.Jáqueestesmunicípiostêmumaproporçãomínimadeáreasprotegidas,valeapenaverificarsedefatoissoacarretaumamelhorcondiçãosocioeconômicadapopulação.
A Associação Mato-Grossense dos Municípios (AMM) adota o Índice deDesenvolvimentoSocialMunicipal (IDS-M)paraavaliaradesigualdade socioeconômicaemMatoGrosso.EleestábaseadonoÍndicedeDesenvolvimentoHumano(IDH),porsuavez,pautadonarenda,saúdeeeducação.AAssembleiaLegislativa(AL)deMatoGrossoacrescentoutambémoindicadorecológiconovalorfinaldoIDS-M,sendoelemensuradopelosfocosdeincêndioflorestalequeimadas.Nestecálculoéatribuídoovalorde25%paracadaitemconsiderado,istoé,arenda,aeducação,asaúdeeoecológico.
AdotadoesteindicadorentrealgunsmunicípiosquerecebemmenoresvaloresdeICMSEcológico,verifica-sequeÁguaBoaéiguala0,571;AltaFlorestaa0,573,PlanaltodaSerraa0,577.Comparativamente,omesmoseráfeitocomalgunsmunicípiosqueestãono grupo daqueles que recebemmaiores valores. Rondolândia é igual a 0,526; Juína a0,523; Comodoro a 0,430; ConquistaD’Oeste a 0,486 eCampoNovo a 0,606.Não háumadiscrepânciaentreosmunicípiosemgeral,salvaguardandooscasosdeComodoroeConquistaD’Oeste.CampoNovodoParecisestáentreosquemaisrecebemeoseuIDS-Méomaiorde todos,excedendoodosmunicípioscomínfimaextensãodeáreaprotegida.Coloca-seemdúvidaodiscursorecorrentedequedesenvolvimentoeconômicoeexistênciadeUCeouTIsãoexcludentes.Seriaprecisoumestudomaisprofundoparacapturarquaissãoosfenômenosquedesencadeiamumdesenvolvimentoeconômico,bemcomoreavaliaroqueéconsideradocomo“desenvolvimento”,quandoadesigualdadeeconômicapermanece,bemcomoadesigualdadedeacessodapopulaçãoàeducaçãoesaúdecomqualidade.
ApartirdosdadosoferecidospelaAMM,baseadosemfontesdoano2010,elaborou-sea tabela6, informandoosvaloresemreaisdacontribuiçãoparaoPIBmunicipalpelaagropecuária,indústriaeserviços.
Município População Agropecuária (R$) Serviços (R$) Indústria (R$)
Água Boa 20.844 101.557.000,00 174.219.000,00 55.279.000,00
Ribeirãozinho 743 14.968.000,00 1.964.000,00 13.801.000,00
Campo Verde 9.432 541.372.000,00 434.228.000,00 67.028.000,00
Alta Floresta 15.142 145.781.000,00 324.223.000,00 57.441.000,00
Tabela 6: Setores que contribuem para o PIB municipal. Fonte: AMM, 2012.
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Constata-se que o setor de serviços apresentamaior contribuição em reais paraoPIB emÁguaBoa,Ribeirãozinho e emAltaFloresta.Os gestores poderiam termaioraberturaàspolíticaspúblicasemtornodoICMSEcológicoeestudarcomatençãoquaisaspossibilidadesdorecursobaseadonocritérioUC/TIcontribuemparaincrementarareceitamunicipal,deformaaseinspiraremnaspossibilidadesdasáreasprotegidasgeraremempregoerendaparaapopulação,aumentandodiretaouindiretamenteaarrecadaçãoporserviçosecomércio.ConformejáabordadonocapítuloI,oecoturismo,aeducaçãoambiental,feirasagroecológicas,entreoutras10,podemseralternativas.
SinopeSorrisolocalizam-senomédio-nortedoestado,ondeseconcentramgrandesmonoculturaseigualmenteapresentamumínfimopercentualdeáreaprotegida.Apartirdasinformaçõesoferecidaspelo IBGE (2010)epeloestudodaAMM(2012),verifica-sequepermaneceadesigualdadesocioeconômica.EmSinop,noanode2010,20%receberamdeumadoissaláriosmínimos(SM);44%dedoisacincoSMe6%de10a20SM,alémdeexistirem2,10%querecebemmaisde20SM.Sãodesiguaisacondiçãosocialeoacessoaodesenvolvimentoeconômico,apesardomodeloprodutivoadotado.Igualmente,emSorriso,41%recebemdedoisacincoSM;e19%deumadois;27%de10a20e2,13%recebemmaisde20SM.Aconcentraçãoderendaseexpressanestepercentualentornode2%commais de 20 saláriosmínimos, vivendo sob condições desiguais em relação àqueles combaixaemédiarenda.Contudo,apresençaouausênciadeUCeTInãotemrelaçãocausalcom o índice de desenvolvimento econômico, tampouco a lógica causal possibilita umavisãoampladasquestõesambientais,sociais,culturais,políticaseeconômicasqueafetamaqualidadedevidadeumapopulação.
NoestadodeMatoGrosso,contudo,apolíticapúblicado ICMSEcológicoestáemvigor,e,sobaperspectivaquantitativa,asuacapacidadedecontribuirparaasreceitasmunicipaisébastanteheterogêneaesignificativa.
Segundo a SEMA (2008), o ICMS Ecológico representou menos de 1% dearrecadação para 18municípios como emDiamantino, Rondonópolis, Planalto da Serra,AltaFloresta,ÁguaBoa,NovoSãoJoaquimeNovaXavantina.Entre 1 a 10%paraCáceres,BarradoBugres,SantoAntôniodoLeverger,CampoNovodoParecis,Brasnorte, Juara,PonteseLacerda,Poxoréu,Sapezal,VilaBeladeSantíssimaTrindade,BarradoGarças,Confresa,TangarádaSerra,Canarana,Cocalinho,GuarantãdoNorte,Poconé.Entre 10,1 a 20% para Paranatinga, Barão de Melgaço, Colniza,Aripuanã, São José do Xingu,GeneralCarneiro.Entre 20,1 a 30%paraFelizNatal,RibeirãoCascalheira,Luciara,Juína,NovaLacerda,Querência,CotriguaçueNovoMundo.Entre 30,1 a 40%:SantaTerezinha,Comodoro,PortoEstrela,PortoAlegredoNorte,Apiacás.Entre 40,1 a 50%:Peixoto deAzevedo, Campinápolis, Gaúcha doNorte, Rondolândia e Santa Cruz doXingu.Entre 50, 1 a 60%:ConquistaD’Oeste eNovoSantoAntônio.Entre 60,1 a 67%: AltoBoaVistaeNovaNazaré.
Ainda que os recursos do ICMS Ecológico possam não ser suficientes paraatendertodaademandadeumagestãoambientalmaisqualificada,aindaassimeleoferececontribuições relevantesparaoorçamentoanual, sobretudonosmunicípiosquepossuemmaiorespercentuaisdecoberturaterritorialporUCe/ouTI.Nesteparticular,elepodeserconcebido em termos de incrementos à gestão ambiental e não como o recurso que vaisatisfazeraslacunasdeumaadministraçãopública.10. Quando há grandes obras no município, eleva-se a arrecadação do setor de serviços. Num estudo mais aprofundado é necessário atentar para este fenômeno.
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48 Rio Cravari, Terra Indígena Irantxe.
Foto: Flavio Souza/OPAN
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IV. GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL DO ICMS ECOLÓGICO
Nestecapítulo será apresentadoo resultadodapesquisadecampo realizadanosmunicípiosdeChapadadosGuimarães,BarradoBugres,Brasnorte,ComodoroeSapezal.Conformejáexposto,emtodososmunicípiosvisitadosprocurou-seentrevistaroprefeito,o ex-prefeito eos secretáriosdeplanejamento, administração,finanças emeioambiente,valorizando-os como público alvo a fim de levantar informações sobre a administraçãopública dos recursos do ICMS Ecológico. Também houve contato com a câmara dosvereadoreseemtodososmunicípiosfoientrevistadoalgumvereador,oqueenriqueceuolevantamentodeinformaçõesemváriosaspectos.
ForamestudadosaLeiOrçamentáriaAnual(LOA)eaLeideDiretrizesOrçamentárias(LDO)detodososmunicípiosvisitados.Nestecapítulo,oresultadodapesquisaemcadamunicípio é apresentado separadamente. Em todos os municípios as informações estãosistematizadasdeacordocomosseguintesindicadorescriados:oprimeiroabordaadimensãoda legislaçãomunicipal relacionadaao tema;o segundoenvolveaparticipaçãosocialnagestãodepolíticaspúblicassobreestetemaemparticular;oterceiroproblematizaatemáticaambientalnagestãopúblicamunicipal;oquartodiscuteosdiferentespontosdevistadostomadoresdedecisãodiantedotema,revelandoa tensãodeforçaspolíticasemtornodoICMSEcológico;porúltimo,oquintofocalizaadimensãodomodelodedesenvolvimento,anunciandoasperspectivasreaisdeumaarticulaçãoentredesenvolvimentoeconômicoeaconservaçãodabiodiversidadeequalidadedevida,discutindoosimpactosefetivosdestapolítica pública em foco.Antes destas exposições, será retratado o histórico do ICMSrecebidoporcadamunicípio,desdeaimplantaçãodaLeiComplementarN°73/2000.
IV. 1. A versão do ICMS Ecológico em Chapada dos Guimarães
Em 2002, Chapada dos Guimarães iniciou o ano recebendo R$ 1.644.948,32.Osgestorespúblicosficaramanimadoscomesteincrementonareceitamunicipal.Em27demaiodomesmoano,foiassinadaaLeiN°1.013peloprefeitoPedroReindelFonseca,estabelecendo “[...] regras para a aplicaçãodos recursos oriundos do ICMSEcológico –ÍndicedeUnidadedeConservação/TerrasIndígenas”(PREFEITURAMUNICIPALDAC.DOSGUIMARÃES,2002).
Entretanto, no ano seguinte o recurso sofreu diminuição expressiva para R$232.036,11,alterandoapercepçãodosgestorespúblicossobreoICMSEcológico.TécnicosdaSEMA-MTafirmamqueissoaconteceuporum“errodedigitação”daextensãoterritorialdeumaunidadedeconservação,somentedetectadanoanoseguintequandoatualizaramocadastro.ParecequeestainstabilidadecaracterizaoperfildoICMSEcológicoemChapadadosGuimarães.Desdeoiníciodaimplantaçãodestapolíticapública,aextensãoterritorialdeáreasprotegidasoscila:entre2003a2007totalizava174.992,30 ha;depois,diminuiupara 151.651,64 ha.Aalteraçãoéidentificadanainstabilidadedasinformaçõessobreaextensãoterritorial de várias UCs, além da perda de umaAPA e uma RPPN. Em contrapartida,posterioraoanode2007foramcadastradasnovasUCscomoaAPAdasCabeceirasdoRioCuiabá,oParqueEstadualdeQuineraeaRPPNdoHotelMirante.Atabela7informaasáreasprotegidascontabilizadasnohistóricodoICMSEcológicorecebidoporChapada.
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Área Protegida Antes de 2007 Depois de 2007
APA da Chapada dos Guimarães 143.223,82 ha 122.907,81 ha
APA do Rio da Casca 20.538,00 ha 0
RPPN Reserva Ecológica da Mata Fria 9,95 ha 0
Estação Parque Cuiabá – Mirante 1.261,00 ha 1.652,81 ha
Estação Ecológica do Rio da Casca 3.534,90 ha 2.499,38 ha
P. Municipal Cabeceira do Coxipozinho 6,21 ha 9,13 ha
P.N. da Chapada dos Guimarães 6.418,42 ha 16.591,38 ha
APA das Cabeceiras do Rio Cuiabá 0 7.984,51 ha
RPPN Hotel Mirante 0 1,98 ha
Parque Estadual da Quinera 0 4,63 ha
TOTAL (ha) 174.992,30 151.651,64
Tabela 7: Cadastro de UCs da Chapada dos Guimarães pela SEMA-MT. Fonte: SEMA, 2008; 2013.
O gráfico 8 apresenta o histórico dos recursos de ICMS Ecológico recebidos,retratando, igualmente, um quadro de instabilidade sobretudo entre os anos de 2002 a2007.Somentedepoisde2007nota-seumaprogressãolinearquesuperaaquantidadeantesrecebida.Em2003foramarrecadadosR$232.036,11e,em2012,ovalorquaseduplicouparaR$422.504,90.Aindaqueapós2007tenhahavidoumaperdadeáreaprotegidaemtornode23.000ha,osrecursosaumentaram.
Gráfico 8: Valor do ICMS Ecológico recebido por Chapada dos Guimarães de 2002 a 2012
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500.000,000
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2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
Valor recebido de ICMS Ecológico
Fonte: SEMA-MT, 2012.
Porém,háoutrofatoremquestãorelacionadoaoprincípiodaproporcionalidade:ainformaçãosobreaprópriaextensãodomunicípioéinstável.SegundoaSEMA(2008),omunicípiosomava620.657ha,posteriormenteatualizadospara651.182,22ha.JáoIBGE(2010)afirmaumaáreade625.699,40ha.Essesdadosdemonstramaimportânciadecomosãocadastradasasunidadesdeconservaçãojáqueoprincípiodaproporcionalidadeédecisivoparaocálculodaquantidadederecursosrecebidos.Alémdainstabilidadeexplicitada,nãosepodedeixardeobservaratendênciaemprogrediraquantidadederecursosrecebidos,e,aindaassim,nãosereconheceumapráticadefortalecerasáreasprotegidas.Acriaçãodenovasáreascoexistiucomadestituiçãodeoutras.
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Ano ICMS Ecológico recebido (R$)
2002 1.644.948,320
2003 232.036,11
2004 259.953,02
2005 271.063,49
2006 249.377,03
2007 266.666,85
2008 313.911,59
2009 325.360,30
2010 360.888,48
2011 371.225,00
2012 422.504,90
Tabela 8: ICMS Ecológico recebido por Chapada dos Guimarães. Fonte: SEMA-MT, 2008; 2013.
A) Na dimensão da legislação municipal
Em Chapada dos Guimarães há uma Lei Municipal N° 1.013, aprovada pelacâmaramunicipalesancionadapeloprefeito,em2002,períododagestãodePedroReindelFonseca.EstaleiregulamentaasregrasparaadestinaçãodosrecursosdoICMSEcológico,comprometendoopoderexecutivoasegui-las,istoé,aprefeituraestásubmetidaaobedecê-las,contrapondo-seàarbitrariedadedopoderexecutivoemdecidirsobreaaplicaçãodosrecursos em questão. Portanto, testemunha-se a possibilidade de criar um mecanismolegislativoqueobrigaaprefeituraaseguirdeterminadosparâmetros,configurandoummododegestãolegalparaatomadadedecisão.Issocolocaemxequeaquelerecorrentediscurso:“OprefeitonãoéobrigadoadestinarosrecursosparaUCeTI”,namedidaemqueacâmaramunicipaldevetambémdecidirsobreisso.
No caso desta referida lei, 35% dos recursos originários do ICMS Ecológicodefinem-secomoaquantidademínimaaserdestinada,obrigatoriamente,àsseguintesáreasdeatuação:nacriaçãodeparqueecológicomunicipal,devevisaro turismoecológico, apesquisacientíficaearecuperação/preservaçãodasnascentesecursosd´água,bemcomodabiodiversidadedoCerrado,sobretudonasÁreasdePreservaçãoPermanentes(APPs)eproximidadesdoscentrosurbanos.Alémdisso,foicontempladaaimplantaçãoeconservaçãodeestradasmunicipais,sendoobrigatóriaaconstruçãodebaciasdecontençãocujafinalidadeé conter processos erosivos, um problema recorrente nomunicípio.O recurso do ICMSEcológicofoivislumbradoinclusiveparacontribuirnamanutençãodeserviçodefiscalizaçãoambientalenaaquisiçãodeequipamentosparaoseubomfuncionamento.
EmboraosaneamentoambientaltenhasidoextintocomoumcritérionaLeiEstadualdoICMSEcológico,aleimunicipalpoderecuperarestefococomoumrelevanteserviçopúblicoaserassumidopelaprefeitura.EstaleimunicipaldeChapadadosGuimarãesofez,prevendocomoumadasaçõesprioritáriasa“implantaçãoeexecuçãodeprojetosvoltadosparaoaperfeiçoamentodeserviçospúblicos,quecontribuamparaosaneamentodomeioambienteurbano,inclusivenosserviçosdecoletadelixo,limpezapública,jardinagemearborizaçãodasviasurbanas,etambémnaaquisiçãodosequipamentosapropriadosparataltrabalho”(PREFEITURAMUNICIPALDEC.GUIMARÃES,2002).Foicontempladaaindaaconstruçãodepraçasebalneários.E,porúltimo,chama-seatençãoparaapossibilidadedeparticipaçãoabertaàsociedadecivilorganizadano acesso a esses recursos para projetos na área da educação ambiental ou para pesquisascientíficas,desdequeorientadosàproteçãodeunidadedeconservação.
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B) Nuances da temática ambiental na gestão pública municipal
EmChapadadosGuimarãesnãoháumaSecretariadeMeioAmbienteespecífica,oqueexisteéumaSecretariadeTurismo,CulturaeAmbiente.Significaqueosassuntosligadosaos temas“turismo”,“cultura”e“ambiente”seriampartedagestãodeumúnicosecretário.ChapadadosGuimarãestemumfortepotencialturísticopelasbelezascênicasnaturaiseoParqueNacionaldaChapadadosGuimarãeséconhecidomundialmente,atraindoturistasdeváriaslocalidades.Nãoseconcebequesejaimperativoterumapastaespecíficapara cada setor, sobretudo, num contexto em que se clama pela interdisciplinaridade,interculturalidade,consórciosintermunicipais,açõesinterministeriaiseetc.Oquesetornaimportanteavaliaréacapacidadedeconceberplanoeexecuçãodeformaarticuladaentreossetores.Épositivo,portanto,mesclarturismo,culturaeambientenocontextoespecíficodaChapadadosGuimarães,hajavistaoseuvalorturísticoeculturalfundamentadonasbelezasnaturais.Nestapesquisa,importouconhecerasaçõesefetivamenterealizadasenãoaquelasprogramadaseidealizadas.Esobesteparâmetroconstatou-sequenãoaconteceumaefetivaaçãoarticuladaentreturismoeambiente,agravadopelofenômenodeumorçamentoescasso.Observamosqueo recursodo ICMSEcológiconão temsidoacessadopelasecretariadeturismo,tampoucodestinadoàsaçõesvoltadasàsUCs,conformeenfatizadoemalgumasentrevistas junto aos gestores municipais. Pareceu que essas entrevistas fomentaram ointeressedosgestoresemacessaresterecursopúblico.
NotamosaindaquefoirecorrenteapercepçãodequeapráticadagestãodoICMSEcológicoéatribuiçãocentralizadanopapeldoprefeito.Issorevelaaausênciadeiniciativadassecretariasquecompõemopoderexecutivolocal,oquecomprometeospotenciaisepossibilidadesdeaçãopolíticalegalmenteprevistas(LeiMunicipal1.013/2002).
Noplanoorçamentárioanual,atualmenteédestinadoumrecursoínfimoàsecretariadeturismo,oquesugereumagestãopúblicaquenãopriorizaaspotencialidadesturísticaseambientaisdolugar.Somadoaisto,outrasexpressõesnocampoambientaltêmsidopreteridas,pondoemevidênciaafaltadeumsaneamentoambientallocal.OpróprioMinistérioPúblicoEstadualemChapadadosGuimarãescobraodesenvolvimentodeumaaçãopararecuperarasnascentesetambémparaoescoamentodoslixosdomésticoseempresariaisurbanos.
Algumaspequenasaçõesforamdetectadas,comocercarumaregiãonobairroSãoSebastião,ondetemumanascente.Estaaçãofoiumaparceriadomunicípiocomoestado,ouseja,nemsequerfoicogitadaapossibilidadedeaplicaçãodorecursodoICMSEcológico.Aomesmo tempo, o lixo, as queimadas, a degradação emáreas de nascentes, a invasãoemáreaspúblicas foramcaracterizadaspelosentrevistadoscomoasmaioresameaçasnocontextoambiental.Constituem,emcomum,possíveisalvosparaumaaçãopúblicaapoiadapelosrecursosdoICMSEcológico.
OutroimportanteaspectoéquenãoestáativadooConselhoMunicipaldeAmbientedomunicípiodeChapadadosGuimarães.Segundoinformantes,em2012esteassuntofoiprovocado,tendosidoencaminhadoumprocessoparaaprefeitura.Porém,oassessorjurídiconãodeucontinuidade.FoiesclarecidoqueaintençãoeraaderenovaroConselhoMunicipaldeDesenvolvimentoeMeioAmbientejáexistente,masháanosdesativado.
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C) A dimensão do controle social na gestão de políticas públicas
ApesquisanaSecretariadeFinançasdeChapadadosGuimarãespermitiuaprofundaraspectos sobre a maneira de gerir os recursos do ICMS Ecológico, expondo algumaslimitaçõessobreaperspectivadocontrole socialdestapolíticapública,colocandoemrelevoaspectosimportantesdecomoestásendoaproveitadotalrecursorecebidopelaprefeituradomunicípio.
EmrelaçãoaoICMSEcológico,reiteradasvezesfoienunciado:“Orecursonãoéespecífico”;“Orecursovemnumbolãosó”;“Nãotemcontaespecífica”;“Nãoháumaaçãoespecíficadesenvolvida”e“Nãotemprestaçãodecontaespecífica”.
Conformejádito,aSEMA-MTcalculaoíndiceUC/TIquedefiniráaquantidadederecursosaserempagosaosmunicípioseesteórgãoestadualambientalrepassaàSecretariadeFazendadeMatoGrossooresultadodeseucálculo.Defato,nãoháumacontaespecíficadeICMSEcológicoparaatransferênciaderecursosfeitapelaSefazaosmunicípios.Contudo,orecursoéconcebidoecalculadoespecificamente,masépagoàsprefeiturasdemaneiramisturada aosdemais critériosque compõemo ICMSdestinado a elas.Mesmoassim, aprefeiturasabequaléaparcelareferenteaoICMSEcológico,podendoconceberumplanodegestãoaelaligado.
Ofatodereceber“misturado”nãojustificaanãoaplicaçãoderecursosnumaaçãosocioambiental.Deoutrolado,nãoháumapolíticapúblicadefinidaqueregulamentaaprestaçãodecontaespecíficadesterecursorecebidoeissodificultaoexercíciodeumcontrolesocialsobreaimplementaçãodestapolíticapública.Istoéumaspectolevantado,masnãorestringeaspossibilidadesdeexercitar talcontrolesocial,abaixomelhordiscutido.Paralelamente,foideclaradoqueoTribunaldeContasdoEstadodeMatoGrossocobraprestaçãodecontaespecíficadosrecursosfederaispagosaomunicípioligadosàsaúdeeàeducação,ejamaisseposicionoufiscalizandoadestinaçãodoICMSEcológico,desfavorecendoatransparênciadecomoestãosendogastostaisrecursos,afetandonegativamenteosdispositivoslegaiseoexercíciodocontrolesocialsobreapolíticapúblicaemestudo.
Foi afirmado que este recurso em pauta é usado para despesas com folha depagamento,oque jáprovocoua indignaçãodeumex-vereadorqueparticipoudaautoriadalegislaçãomunicipalacimaabordada.NoperíododaimplantaçãodaLeiMunicipalN°1.013/2002foicriadoumGrupodeTrabalhodeEducaçãoAmbiental(GTEA)contandocomaparticipaçãoderepresentantesdeórgãospúblicosmunicipaiseestaduais.Nãoseefetivou,contudo, a apresentaçãodenenhumapropostaparaousufrutodo ICMSEcológico.Estadesativaçãodogruposeconsolidouaolongodasgestõesseguintes.AdespesacomafolhadepagamentopredominacomoformadeutilizaçãodosrecursosdeICMSEcológicorecebidospelaChapadadosGuimarães.
Nacâmaradosvereadoresconstatou-sequeaprefeituraconvocaaudiênciapúblicaparaoLOA,masnãoháampladivulgaçãofomentandoaparticipaçãosocial.Odesinteressedoscidadãosfoiapontadocomooutrocomportamentosociallocal.Entretanto,estefenômenoéambíguoporquenavisita realizadaàcâmaradosvereadoresverificou-seapresençadevereadores e representantes de associações de bairro. Em comum, eles testemunharam
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a apresentação de projetos da sociedade civil voltados à área ambiental, mas que nãonecessariamenteseassociavamàcobrançadequeosmesmospudessemserapoiadoscomorecursodoICMSEcológico.FoiafirmadoqueháanosnãosepautaoICMSEcológiconasplenárias.Nãoháumaforçapolíticadasociedadecivilquecoloqueempautaagestãodestesrecursos particularmente, o que favorece a continuidade de sua destinação a finalidadesalheiasàsquestõessocioambientais,contrariandoapróprialei.Porém,éimportantelembrarqueaquestãoambientaléumademandaapresentadaporliderançasdasociedadecivil.Foiafirmadoque,háanos,nasplenárias,édiscutidaainadequaçãodosistemadecoletadelixodomésticoehospitalar,edesuadestinação,enfatizandoanecessidadedeumnovoaterrosanitário.Destacam-se, ainda, as demandas feitas para a proteção de cabeceiras de JoãoAlbernaz,FloradadaSerra,SãoSebastiãoedeoutrosbairros,bemcomodecapacitaçãoparaumabrigadacoletivacontraasqueimadas.MuitosdesseslugaressesituamdentrodeAPAs,umacategoriadeUC.OICMSEcológicoexisteparafortalecerunidadesdeconservaçãoprivadasepúblicas.
Lideranças entrevistadas afirmaram quemesmo com a pouca quantia de ICMSEcológicorecebidoépossíveldesenvolveraçõescomoconstruçãodebaciasdecontençãoecercaráreascommananciaisparaevitarqueimadas,alémdesinalizaçãodasUCs,etc.
D) Possibilidades de desenvolvimento valorizando a biodiversidade
EmChapadadosGuimarãesosetordeserviçoséoquemaiscontribuiparacomporoPIBtotaldestemunicípioque,em2009,totalizouR$161.840.000,00.Naconjunturadareceita tributáriaprópria, aarrecadaçãodo ImpostoSobreServiçodeQualquerNatureza(ISSQN)tendeaseroquemaiscontribuiparaareceitamunicipal.Observa-setambémquenãoháreceitavindadaagropecuáriaouindústria,ouseja,arentabilidadeconstatadanosetordeserviçosestádiretamenteapoiadapelofluxodoecoturismo.
Gráfi co 9: Retrato das ati vidades socioeconômicas de Chapada dos Guimarães
37%
13%
45% Agropecuária
Indústria
Serviços
Fonte: AMM, 2012.
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Nasuperfície territorialdeChapadadosGuimarães,asáreasprotegidasocupamumaáreasignificativaconformeatestadonográfico10.
Gráfico 10: Uso da terra em Chapada dos Guimarães
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100.000,000
200.000,000
300.000,000
400.000,000
500.000,000
Área Protegida Agronegócio AgriculturaFamiliar
Demaisocupações
Fonte: AMM, 2012.
AreceitamunicipaltemgiradoemtornodeR$30milhões.Asáreasprotegidasestãocontribuindoparacompô-la,gerandorecursosemtornodeR$300mil.TambémpoderiaserfontedegeraçãodeempregoerendapotencializandoareceitatributáriapormeiodoISSQN,investindoemserviçosecoturísticos.
IV. 2. A versão do ICMS Ecológico em Barra do Bugres
Barra do Bugres recebe ICMS Ecológico desde a implementação da LeiComplementarN°73/2000porconteremseuterritórioTI.InexisteUCnomunicípio.Segueatabela9informandocomotemsidoocadastrodeáreaprotegida,referênciaparaocálculodocritérioUC/TI.
Município (ha) Terra Indígena Terra Indígena (ha)
Extensão TI no município (ha)
2002 a 2007 2012
536.080,73Figueiras 9.859 4.188 0
Umutina 28.120 28.120 27.521,19
TOTAL 32.308 27.521,19
Tabela 9: Cadastro de Terra Indígena em Barra do Bugres. Fonte: SEMA 2008; 2013.
ConformeasinformaçõesdaSEMA(2013),naatualizaçãodocadastrodiminuiuaextensãoterritorialdaTIUmutinanomunicípio,bemcomonãoaparecemaisaTIFigueiras.Segueográfico11queretrataohistóricodosrecursosdeICMSEcológicorecebidosporBarradoBugres.
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Gráfico 11: ICMS Ecológico recebido por Barra do Bugres de 2002 a 2012
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50.000,00
100.000,00
150.000,00
200.000,00
250.000,00
300.000,00
Recurso de ICMSEcológico recebido
Fonte: SEMA-MT, 2008; 2013.
Apesar da oscilação de valores, é explicitada uma progressão da quantidade derecursosrecebidospelaprefeitura:em2002,umtotaldeR$83.762,14e,em2012,ovaloralcançouR$256.516,94.Observa-se tambémquenesteperíodo,de2002a2012,não foicriadanenhumaUCnomunicípio,tampoucosefezpresentealgumadiferençanaspolíticaspúblicasvoltadasaTI.
Segueatabela10,discriminandoosvaloresemreaisrecebidosporBarradoBugresnesteperíodode2002a2012.
Ano ICMS Ecológico recebido (R$)
2002 83.762,14
2003 105.245,34
2004 131.546,32
2005 137.175,13
2006 129.667,08
2007 138.661,36
2008 163.223,85
2009 176.238,88
2010 176.397,13
2011 223.207,07
2012 256.516,94
Tabela 10: ICMS Ecológico recebido por Barra do Bugres. Fonte: SEMA-MT 2008; 2013.
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A) Na dimensão da legislação municipal
O que está atualmente “regulamentando” a destinação dos recursos do ICMSEcológicoéumTermodeAjustamentodeConduta(TAC)originadodoMinistérioPúblicoEstadual,da1ºPromotoriadeJustiçaCíveldeBarradoBugres,emabrilde2010.NeleéprescritoqueacomunidadedopovoUmutinadeveelaborarumprojetoacadaano,assinadopelocaciquedopovo,contendoobjetivo,justificativaeviabilidadedecusto.Oprazofinalfixadoparaenviodoprojetoéatéodia31demarçodecadaano,afimdequepossaserincorporadoaoorçamentoanualmunicipal.Acondiçãodaaprovaçãoérespeitaralegislaçãoambientalexistente,enãoconceberqueaprefeituraassumaresponsabilidadescomcusteiopermanentemente,masenvolvê-lanaampliaçãodeumaaçãosocioambientaldopovo.FoidefinidaaquantidadedeatéR$100.000,00domontantedoICMSEcológicorecebidopelaprefeitura,bemcomoarealizaçãododepósitonacontadaAssociaçãoIndígenaUmutina.
EsteTACatribuiaresponsabilidadeàprefeituraenãoaoprefeitonaépocaemquefoiassinado,posicionandoaPrefeituraMunicipaldeBarradoBugrescomo“compromitente”,o que garantiria a continuidade deste acordo aos futuros gestores públicos, repassandotal compromisso. É em termos de ICMS Ecológico que se constituiu este documento,salvaguardandoaobrigaçãodacomunidadedopovoUmutinaprestarcontasdesterecursodesenvolvendoumrelatóriofinanceiro.
Antecipa-sequeesteTACnuncafoiincorporadopelosgestorespúblicosdaprefeitura.
B) Nuances da temática ambiental na gestão pública municipal
EmBarradoBugresnãoháumasecretariadomeioambienteespecífica,oqueexisteé aSecretariade Indústria,TurismoeAmbiente.Apesardesses setores estarem reunidosnumamesmapasta,nãoexisteumprogramacomaçõesambientaisouumaaçãoquedefatoarticuletodosestesassuntos.OsprópriosgestoresreconhecemestefatoedeterminaramafuturacriaçãodeumDepartamentodeAmbienteeFiscalizaçãoanexadoàprefeitura.
Umapossibilidadevisadaentreosgestoresentrevistadoséqueasmultasdepassivosambientaisfaçampartedareceitamunicipal,entretanto,atéentãoesterecursodestina-seàSEMA,umórgãopúblicoestadual.Houveaconsideraçãodasgrandesfazendasdecana-de-açúcaredepecuáriaseremirregulares,desrespeitadorasdesuasAPPseáreasdereservalegal,podendoculminaremgeraçãoderendamunicipalpormeiodemultas.Nomais,nãoenunciaramquaisquerplanosdeaçãosobreosproblemasambientaislocais.
AentrevistacomumpromotordoMinistérioPúblicodoEstado(MPE)emBarradoBugrescontribuiupara levantarasprincipaisameaçasambientaisnomunicípio.Entreelasforamapontadasapescapredatória,bemcomoodesmatamentodasAPPs,envolvendonesteúltimoospequenos,médiosegrandesprodutores.Éurgenteodesenvolvimentodeumprogramapara recuperar e restaurar as áreas degradadas, bemcomo superar a pescapredatóriaincidenteinclusivedentrodaTIUmutina.Opresidentedacâmaradosvereadoresrepetiuasmesmasquestõesacrescentandoadiminuiçãodosrecursoshídricosemdecorrênciadosmencionadospassivosambientaisedasmudançasclimáticas.
Nesta visita aoMPE constatou-se que a equipe responsável pela elaboração doreferidoTACnãoatuamaisnesta localidade,ospromotoressãonovosedesconheciamapolíticapúblicaemtornodoICMSEcológico.Aoportunidadededivulgá-ladesdobrou-secomoumacontribuiçãodestapesquisa.
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C) A dimensão do controle social na gestão de políticas públicas
Nohistóricodagestãopúblicadaprefeituramunicipal,éresponsabilidadedopoderexecutivodeterminaradestinaçãodosrecursosdoICMSEcológico.Aindaassim,puderamser reconhecidas expressões de participação social na gestão pública, notadamente dasliderançasdopovoUmutina.Masadisponibilidadedaprefeituramunicipalrealizaracordoscomasliderançasindígenasosciladeacordocomoprefeito.DependemaisdasubjetividadedogestorpúblicoquedeumaposiçãopolíticadiantedotemaICMSEcológico.
OengajamentodosUmutinaparaacessaresterecursoaconteceunagestãodoex-prefeitoWilsonFrancelinodeOliveira (2008-2012).Registra-sequeele tinhapropostoorepasse deR$ 5.000,00mensais, o que somariaR$ 60.000,00 anualmente, sublinhandoainda que não seria exigida a elaboração de umprojeto ou quaisquer planos de ação.Acomunidadenãoaceitou.Relembra-sequenoTACoacordofirmadofoiodecomprometeraprefeituraadestinaratéR$100.000,00porano,desdequeumprojetofosseelaboradosobacondiçãodasdiretrizesambientaisnalegislaçãonacional.EstehistóricofoirelatadopelasliderançasindígenasduranteasentrevistasobtidasemvisitadecampoaTIUmutina.
Devemereceratençãoamaneiracomoaprefeitura temconduzidoanegociaçãoeaplicaçãodosrecursosaonãoexigiraelaboraçãodeumplanodeação,tampoucoumadiretriz política associada ao orçamento da receita municipal. Também está ausente adiscussãosobreumaprestaçãodecontas.Tudoissodificultaapossibilidadedeumcontrolesocialpúblicosobreasdespesasdaprefeitura.
EstecontextoevidenciouquesomenteasliderançasdopovoUmutinaexercitaramumcontrolesobreapolíticapúblicadoICMSEcológico,enesteexercícioreivindicaramoacessoàgestãodepartedestesrecursosafavordaTIUmutina,comapoiodoMPE.OresultadodestareivindicaçãofoioTACacimadiscutido.Porém,napráticaefetiva,elenãoestásendorealizado.Adestinaçãodosrecursosemfocoaindatemsidorestritaàdecisãodopoderexecutivo.
O poder legislativo não é ativo na tomada de decisão, não sendo este assuntopautadonasplenárias,conformeafirmouopresidentedacâmaradosvereadores.Emboraas audiênciaspúblicas sejamdivulgadas, nãoháparticipaçãoda sociedade civil, nemnadiscussãodoLOA,nemnoutrastemáticas.
NainvestigaçãosobreasdespesasfeitascomoICMSEcológicoconstatou-sequenãoháumplanoorçamentárioqueisoleesterecursovinculando-oaalgumaação:“nãoestávinculadoaoplano”.Reapareceuaquelajustificativadequeassimaconteceporque“nãohárepasseespecíficodoICMSEcológico,vemnogeraldoICMS”.Nasecretariadefinançasogestorentrevistadoavaliouque“tinhaqueterumacontaespecíficadoICMSEcológico”comocondiçãoparaumaprestaçãodecontaparticularizada.Acrescentouaindaadificuldadedefazerplanejamentoquandoosvaloresoscilammuito.FicouevidenciadoqueaprefeituratemconhecimentodaquantidadederecursodeICMSEcológicorecebido.
EmBarradoBugres,estaquantiatemprogredidoalcançandoem2012ovalordeR$256.516,94.PormêsgirariaummontanteemtornodeR$21.316,00.Foireveladoqueadespesadestareceitaestá“diluídaemtudo,saúde,educaçãoefolhadepagamento”,oquedefinitivamentedificultaoexercíciodeumcontrolesocialsobreasdespesasfeitascomtaisrecursos.
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D) Possibilidades de desenvolvimento valorizando a biodiversidade
OsgestorespúblicosdeBarradoBugresargumentaramqueaparcelado ICMSEcológicoé insuficienteparaelaborarumplanodeaçãoambiental,nãoseconcretizandocomoumincentivoaofortalecimentodeáreaprotegida,“nãoéincentivo,épouco”,“setirarnãofazfalta”.Segueabaixoográfico12retratandoosimpostosquemaiscontribuemparacomporareceitamunicipal.
Gráfico 12: Retrato da receita municipal arrecadada de Barra do Bugres, 2012
0,00 5.000.000,00 10.000.000,00 15.000.000,00 20.000.000,00
Receita Tributária
Receita Patrimonial
Receita de Serviços
FPM
ICMS
ITR
IPVA
Fonte: Prefeitura Municipal de Barra do Bugres, 2012.
ÉevidenteaimportânciadacontribuiçãodoICMSque,inclusive,superaoFundodeParticipaçãodoMunicípio.OpercentualdoICMSEcológicodentrodovalor totaldoICMSrepassadoaomunicípioé 1,62, correspondenteaovalordeR$256.516,94.Ele foiconcebidocomoumincentivoaoapoiodasáreasprotegidas,especialmenteàconservaçãodabiodiversidade.Ocompromissodeincorporaragestãoambientalnaadministraçãopúblicanãoestá reduzidoao ICMSEcológico,absolutamente.Trata-seantesdeumamaneiradefazerpolítica.Osgestorespúblicosreconhecemqueseaumentasseaáreadepreservação,aumentariaproporcionalmenteoíndiceUC/TI.Igualmente,calculamqueseaumentassearendatributária,proporcionalmenteelevariaaarrecadaçãodoICMS.Ográfico13retrataaarrecadaçãodareceitatributáriaprópriade2012,evidenciandoqueoISSQNéoquemaiscontribuiparaesteíndicedareceitamunicipal.
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Gráfi co 13: Receita tributária própria de Barra do Bugres
0,00 500.000,00 1.000.000,00 1.500.000,00 2.000.000,00 2.500.000,00 3.000.000,00
IPTU
IRRF
ISSQN
ITBI
CIP
Fonte: Prefeitura Municipal de Barra do Bugres, 2012.
Apartir de estudosdaAMM(2009), observa-se a relaçãode continuidade comofatodosetor“serviços”contribuiremmaiorproporçãocomoPIBtotaldomunicípio11,conformegráfico14abaixo.
Gráfi co 14: Agropecuária, Indústria e Serviços no PIB de Barra do Bugres em 2009
28%
19%
44%Agropecuária
Indústria
Serviços
Fonte: AMM, 2012.
Ográfico15retrataaspectosdadespesadomunicípioem2012.Énotávelqueosrecursosda receitamunicipal têmsidodestinadospredominantementeà saúde, educaçãoeàsdespesasadministrativas.ConsiderandooFundodeManutençãoeDesenvolvimentodaEducaçãoBásicaedeValorizaçãodosProfissionaisdaEducação(Fundeb)comoumatransferência voltada à educação, é enfatizada a realidade de uma gestão pública queadministrasuareceitaparaaprópriasustentabilidade.Entreoutrossetores,ficasinalizadaaprioridadeparaourbanismo.Asaçõesparaosaneamentoambientalsãoínfimas.
11. O PIB total em 2009 foi R$ 417.087.000,00.
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Gráfico 15: Despesa da receita municipal de Barra do Bugres em 2012
0,00 5.000.000,00 10.000.000,00 15.000.000,00 20.000.000,00
Administrativa
Assistência Social
Saúde
Educação
Urbanismo
Saneamento Ambiental
Gestão Ambiental
Agricultura
Comércio e Serviços
Transporte
Desporto e Lazer
Fonte: Prefeitura Municipal de Barra do Bugres, 2012.
Éimportanteressaltarqueumagestãoambientalnãoprecisaimprimir-secomoumprograma isolado.Elepode inscrever-senas açõesvoltadasaourbanismo, à educação, àsaúdeeàassistênciasocialdemaneiraassociada.
Considerando o gráfico 15, destaca-se que nenhum gestor públicomencionou apossibilidadedesterecursoemfocoimprimir-senasdespesascomurbanismo,assistênciasocial,transporteoucomércioeserviços.Comumente,odestaquedadoéautilizaçãodesterecursocomdespesasnasaúdeeeducação,enaltecendoainsuficiênciadorecursofederaltransferido,particularmenteoFundeb,bemcomoasaltasdespesascomhospitais.
EntreosgestoresfoireincidenteaconcepçãodequeconvémàprefeituraelaborarumplanodegestãoambientalcomorecursodeICMSEcológico,admitindoparalelamentequeelanuncatevetaliniciativa.Retoma-seaavaliaçãodopresidentedacâmaradevereadoresdequeoambientenãoéumaáreaprioritárianagestãopúblicalocal,igualmentenãooéacultura.Antepõem-sea saúdeea educação.Nesta localidade, as lideranças indígenasdopovoUmutinadesejamco-participarcomagestãodosrecursosdoICMSEcológico.Éumaalternativaviávelaserincorporadanagestãopública.PoderiaamadurecerquaisseriamasdiretrizespolíticasparaasaçõesapoiadascomorecursodoICMSEcológicoemparceriacom atores/instituições da sociedade civil, visando ao bem-estar coletivo e à qualidadesocioambientaldomunicípio,bemcomogarantindoadevidaatençãoaosdispositivoslegaisvigentesqueregulamentamoICMSEcológicoemMatoGrosso.
Nocontextoespecíficodareceitamunicipal,poderiaotimizarosetor“serviços”,potencializandoasuacapacidadedearrecadação.Nestepontoparticular,considerarcomogerarempregoerendanasaçõessocioambientaisplanejadaseoutrosserviçosindiretos.
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IV. 3. A versão do ICMS Ecológico em Comodoro
ComodororeceberecursosdeICMSEcológicobaseadonapresençadeTIemseuterritório.InexisteUC.Segueatabela11,informandoasáreasprotegidascadastradaspelaSEMA-MT.
Município (ha) Terra Indígena Terra Indígena (ha) Extensão TI no município (ha)2002 a 2007 2012
2.174.336
Enawene Nawe 742.089 135.648 136.446,96Lagoa dos Brincos 1.845 1.845 1.776,38
Nambiquara 1.011.961 1.011.961 1.007.823,50Pirineus de Souza 28.212 28.212 28.399,81Vale do Guaporé 242.593 186.270 189.888,25
TOTAL 1.363.936 1.364.334,90
Tabela 11: Cadastro de TIs de Comodoro pela SEMA-MT. Fonte: SEMA-MT, 2008; 2013.
Cada vez mais fica evidenciada a oscilação do cadastro feito pela SEMA-MT,comojádito,decisivoparaafontedecálculodocritérioUC/TI,sobretudoenquantopolíticapública que privilegia a dimensão quantitativa. É sinalizada, ao longo do relatório, umainstabilidadede informaçõessobreaextensão territorialdemunicípioedecoberturaporterraindígenanele.Atabela11reiteraestedado.Ademais,observa-sequenesteperíodode2002a2012nãofoicriadanenhumaUC.Segueabaixoográfico16queretrataosrecursosdeICMSEcológicorecebidoporComodoronoperíodode2002a2012.
Gráfico 16: Recursos de ICMS Ecológico recebido por Comodoro de 2002 a 2012
0,00
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1.000.000,00
1.500.000,00
2.000.000,00
2.500.000,00
3.000.000,00
3.500.000,00
Recurso de ICMSEcológico recebidopor Comodoro
Fonte: SEMA-MT 2008; 2013.
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Apesardainstabilidade,énotávelaprogressãodaquantidaderecebidaderecursosdo ICMS Ecológico ao longo do período entre 2002 a 2012. Segue abaixo a tabela 12,discriminandoaquantidadederecursosrecebidosacadaano.
Ano ICMS Ecológico recebido (R$)
2002 1.104.812,32
2003 1.388.188,15
2004 1.735.067,85
2005 1.809.246,85
2006 1.819.964,89
2007 1.946.132,06
2008 2.290.882,19
2009 2.430.216,05
2010 2.373.723,64
2011 2.742.124,08
2012 3.134.593,87
Tabela 12: ICMS Ecológico recebido por Comodoro. Fonte: SEMA-MT, 2008; 2013.
OpercentualdeComodorocobertopelaTIEnaweneNaweéde6,3%.MasestamesmaTI estende-se por Juína (15,6%) eSapezal (15,99%).Não se reconhece nenhumainiciativaparaumconsórciointermunicipalorientadoàgestãoambientaldeáreaprotegida.OpercentualdecoberturadaTINambiquaraemComodoroéde46,61%,eaTILagoadosBrincos é de 0,08%.Em termos de unidade administrativa, é enfática a contribuição daTINambiquaraparaaconservaçãodabiodiversidadedobiomaAmazônialocalmenteemComodoro.
A) Na dimensão da legislação municipal
EmComodoro,éaprovadoumconvêniopelacâmaradosvereadoresque“AutorizaoPoderExecutivoacelebrarConvêniocomaAssociaçãoIndígenaEnaweneNawe”.NãosetratadeumaleiqueregulamentaregrasparadestinaçãoderecursosdeICMSEcológico.Trata-seantesdeumacordoquenecessitaserrenovadoanualmente,reatualizandoodiálogocomosprefeitoseosvereadores,submetidoregularmenteàaprovaçãoemsessõesdacâmaraesançõesdosprefeitos.Éemtermosde“convênio”entreprefeituraeAssociaçãoIndígenaEnaweneNawe, sob a condição de existir personalidade jurídica, que acontece o acessodestepovoarecursosdareceitamunicipal.
É necessário sublinhar que em nenhummomento nas cláusulas deste convênioháacaracterizaçãodequetaisrecursosreferem-seaocritérioUC/TIdoICMSEcológico.Aprefeitura“[...]abreCréditoAdicionalEspecialnovalordeR$46.980,00,edáoutrasprovidências”.Éumvaloranual.Entretanto,esteacordotornou-seexistentenocontextoemqueestepovoindígenapassouacobrardopoderexecutivoorepassedepartedosrecursosdeICMSEcológicorecebidopelasprefeituras,namedidaemqueconcebemterestedireito.Paralelamente,osgestorespúblicosdopoderexecutivonãoapreendemque tais recursosrepassadossãoespecificamentedoICMSEcológico.Assim,háumacontradiçãonadimensãodalegislaçãomunicipalemComodoro,tangenteaesterecurso,denunciandoquenãosetrataefetivamentedeumapolíticapúblicaespecíficadoICMSEcológico.
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O repasse destes recursos é incorporado noPPA, naLDOe naLOA. Impõe-sea caracterização de “Contribuição Financeira à Associação Indígena Enawene Nawe”.SãoaçõesdaAssociaçãoIndígenaEnaweneNawequetêmoapoiodestesrecursos.Nãoépercebidocomoumaaçãodaprefeituraenquantoexpressãodegestãoambientaloucultural,poisénomeadonoitem“Ação/Projeto”como“AssistênciaaosPovosIndígenas”.
Jáem2013,umanovafacetaapareceu.NaLeiOrçamentáriaAnual(LOA)de2013,estadespesadoconvênioentreaAssociaçãoIndígenaEnaweneNaweeaprefeiturareduzo valor ao órgão daSecretariaMunicipal deEducação eCultura para implantarPolíticadeEducaçãoEscolarIndígena,discriminandoadespesadeR$36.980,00commaterialdeconsumoedeR$10.000,00comserviçosdeterceiros,totalizandoovalorequivalenteàquelecréditodeR$46.980,00.
Ésinalizadaumaconfusãoquandoaatualprefeitareduzovalordeste“convênio”às referidasdespesascomaeducação,desdobrandodúvidasdecomoé feitaagestãodoFundeb. Percebe-se que a própria administração pública confunde e funde os recursosrecebidos:aoinvésdeconquistarumaclarezadecomoéadministradoorecursodoICMSEcológico,encontra-secomumarealidadedepráticasbastanteconfusas.Evidencia-sequenãoháumalegislaçãoqueregulamenteadestinaçãodestesrecursosemestudo.
Em relação à etnia Nambiquara, inexistem quaisquer acordos que autorizema celebração de “convênio” com este povo, ainda que suas lideranças também tenhamsolicitadopartedosrecursosrecebidosdoICMSEcológico,oquereiteraaperspectivadaausênciadeumapolíticapúblicaparaaconservaçãodasterrasindígenasdeummodogeral.
Érelevanteregistrarumaexplicaçãosobreinexistênciadeumaleimunicipal,dadaporumvereador:“Vocênãosabenoorçamentodoanoquevemcomovaiestaramargem.Naprefeitura temmuito isso,oscilammuitoosrepassesparafazerumacoisafixaeaprefeituradepoisnãoconseguecumprir.Émuitomaisdifícil.Émelhor fazeracoisaanoaanodentrodascondiçõesorçamentáriasporquevocêpodeaumentarovaloroudiminuir”.Observa-seumasobreposiçãodareferênciaquantitativa,semenunciardiretrizespolíticasparaagestãopúblicadosrecursos,sobretudosepensarmosquenocasodoICMSEcológicoosvaloresoscilammenos,favorecendoadefiniçãomaisclaradecritériosepercentuaispossíveispararepasses.
B) Nuances da temática ambiental na gestão pública municipal
EmComodoro,osassuntosambientaisfazempartedaSecretariadeAgriculturaeAmbiente.HátambémumConselhoMunicipaldeAmbiente,e,conformeafirmaogestordasecretariadefinanças,eleestáativo.
Paraoex-prefeitoeotitulardapastadefinançasdaatualgestão,oICMSEcológicocontribuiparaamanutençãodasterrasindígenas,sendovistocomoummecanismodemeracompensaçãopelapresençadeáreasprotegidasqueincidemnomunicípio.Interpretamque,semestapolíticapública,asáreasprotegidasacabariam.Aqui,éimperativoesclarecerqueaspolíticaspúblicasorientadasaorespeito,àcriação,conservaçãoerestauraçãodeáreasprotegidassãomúltiplas,enãoéoICMSEcológicoodispositivolegalqueregeaexistênciadeUCseTIs.
ValedestacarquehistoricamenteaexploraçãodemadeiradeuorigemaComodoro,donde decorreram por décadas atividades de extração ilegal, inclusive dentro de áreasprotegidas, como uma prática emblemática nestemunicípio.No entanto, o ex-prefeito egestorespúblicosdaatualgestãovalorizamasupressãodestailegalidade.
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Poroutro lado,emvisitaàcâmaradosvereadores,constatou-sequeosassuntosligados à gestão ambiental não são priorizados nas pautas das plenárias, mas foramobservadas algumasmanifestaçõesque sinalizama consideraçãode aspectos ambientais,aindaquefrágeis.Porexemplo,opaisagismoaparecevalorizadocomouminvestimentoquepoderiaserfeitonacidade,masafaltaderecursosdificultaumengajamentoaesteempenho.Recentemente,manifestou-seo interesse emcriarumaunidadedeconservação.Envolveumaregiãoondesefazacaptaçãodeáguaparaacidade.Porseráreaparticular,omunicípiocomprouumaparte,porémestáconcedidaaumaempresaprivada.Adiciona-seoutraárea,cujaposseédeumsitiante, tambémpreservada,ondeexistemnascentes.Almejamaindacriarumparquepararecreação,turismoecológicoeestudoscientíficos,oqueexigenegociarcomosproprietáriosenvolvidos.
Podemos perceber dessemodo a ambiguidade presente neste contexto, onde deumladoestáexpostaaconcepçãodaimportânciadeaçõesvoltadasaomeioambientee,deoutro,oICMSEcológicoévistocomocompensação“porperdadeáreasprodutivas”.Noentanto,estãoexplícitasasdemandasqueindicamoreconhecimentodaqualidadedevidaassociadaàqualidadeambientalreprimidasdospotenciaispresentesnomunicípio.
C) A dimensão do controle social na gestão de políticas públicas
QuandoforaminvestigadasasdespesascomorecursodoICMSEcológico,notou-seareincidênciadaqueleargumentodequeorecurso“nãovemseparado,vemnasomatóriadobolo”,sendoeleenunciadopelosdiversosentrevistadosnaprefeituraecâmaradosvereadoresdeComodoro.Noentanto,constatamosque,diferentementedosargumentosenunciados,osgestoresmunicipaissãocientesdovalordoICMSEcológicorecebido,namediadaemquesãodiretamenteinformadospelaSefazeatémesmopelaAMM.Conformejáapresentamos,este recurso temumabasedecálculoespecíficaqueresultaumadeterminadaquantidadeidentificável,mesmosendorepassado‘nasomatóriadobolo’.
Comodoro,particularmente,estáentreosmunicípiosquemaisrecebem,eográfico16mostraatendênciadeumaumentoprogressivodestacota,notadamentenoperíodode2008a2010.Deacordocomumdosentrevistados:“SobreoICMSEcológicodeComodoroeupossodizerumaproporção,masnuncapossodizerovalorexatoporqueeleéfechadoàsomatóriadomunicípio”.Aoscilaçãodareceitamunicipalincidenoconjuntodeoutrosimpostos.Noanode2013foitestemunhadaumabaixaarrecadaçãopornotafiscal.
AinsistênciaemesboçaradificuldadededelimitarafronteiradoICMSEcológicoparecia uma justificativa para a prática de uma gestão pública que apreende o ICMScomoum“bolão”eque,porsuavez,temsidodestinadoàsdespesasdesetoresdiversos,principalmentefolhadepagamento.Aliás,emtodososmunicípiosvisitados,foiimperativaarealidadedafolhadepagamentoabsorvermaisque50%dasreceitasmunicipais.PelaLeideResponsabilidadeFiscalnãosepodeencaminharumaprestaçãodecontasmunicipalcujadespesacomfolhadepagamentoexceda54%.
Ademais,foramreveladasoutrasdespesascusteadascomareceitadoICMScomoosaluguéisdosprédiosocupadosparaaofertadeserviçospúblicos,ascontasdetelefone,água,energia,combustíveleparaasempresasqueprestamassessorianoramodainformática,compradepatrimônioetc.Aomesmo tempoosmunicípios somamdívidas,conformeodepoimentodeumex-gestormunicipal.“Nãoseconseguedesenvolver,fazerinvestimentos,asfaltarruas.Tambémnãosobradinheiropara fazeramanutençãodasestradas.Omunicípio fazoqueéemergencial”.Ouseja,emtermosdeadministraçãopública,afaltaderecursosparainvestiremobras,manutençãodeestradasdemáquinasenopaisagismoéumaavaliaçãorecorrente.
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NestaperspectivadeapreenderoICMSEcológicocomopartedobolãodoICMSe de outros impostos que compõem a receita municipal, foi identificado que o recursoem estudo também custeia despesas com educação.Ainda que o Fundeb seja destinadoespecificamente para as despesas nesta área, justificou-se a sua insuficiência. Segundoinformaçõesdosentrevistados,observou-sequeafolhadepagamentodaeducaçãoéumadespesa significativa. “Aí entra o ICMS Ecológico, o ICMS normal, o IPTU, o ISS, oISSQN”.Temsido recorrenteoargumentodeque recursodoFundebé insuficienteparacobrirtodososgastosdaeducação.
Conformejáabordado,opercentualdeComodorocobertopelaTIEnaweneNaweéde6,3%epelaTINambiquaraemComodoroéde46,61%.LiderançasdopovoNambiquaraháanossolicitamagestãodepartedacotade ICMSEcológicorecebidaporComodoro.Aprefeituramunicipalnãoatendeaestademandaporcompreenderqueassuasdespesascontemplamasprestaçõesdeserviçospúblicosnasáreasdasaúdeeeducaçãoparaosnão-indígenaseparaosNambiquara.
InterpretaqueaquantiadedespesasparaaofertadessesserviçospúblicosdentrodaTINambiquaraultrapassaaquantiarecebidadeICMSEcológico.Alémdisso,aprefeiturasecomprometecomcustosparaasfestasdemenina-moçadaculturaNambiquara,apoiandoaalimentação:“Issoéumcustomuitoaltoeelescontamcomoapoiodaadministração”,informouosecretáriodefinanças.Asecretariadefinançasdeclarouquetalapoiopermanece,equeduasvezesporanoaprefeituracontribuiparaaalimentaçãonestafestatradicional.Emconsonânciaa esta linha de pensamento, umvereador detalhou outras despesas realizadas junto ao povoNambiquara,dizendoqueosindígenasjásãoatendidos“comlotaçãodeprofessores,compostosdesaúdedacidade,estradas,ponteetc.Omunicípioajudavaafazerinclusiveasemanadospovosindígenas,daqualopovoNambiquaraparticipa”.Essediscursoveiculadoatravésdosagentesdaadministraçãopúblicadenotaainstitucionalizaçãodestemododepensareagir.“Imaginaseparar,então,ovalorquesegastacomsaúdedoíndio,comescolaeassimpordiante.Euachoqueseriabemcomplexo”,questionouoex-gestor.
FicousinalizadaumaavaliaçãopositivasobreoICMSEcológicoseradministradopelaprefeituramunicipal,esobacondiçãodesermisturadono“bolãodoICMS”,destinadoàsdespesasparaomunicípiocomoumtodo.Àopiniãodestaadministraçãopública,pareceuserindesejávelqueoICMSEcológicofosseumrecursocomrubricaespecífica,porque,navisãodeles,seriarestritoàsaçõesecológicas,comocontrataçãodeambientalistaourepassedepartedacotaàgestãodosindígenas.Contudo,reconhecemacontribuiçãodorecursoparaomunicípiocomoumtodo,notadamenteparaincrementarareceitadestinadaàfolhadepagamento.
SomenteasliderançasdospovosEnaweneNaweeNambiquarasolicitaramagestãodepartedorecursodeICMSEcológico.OprefeitodagestãoanterioréquefezadiferençaemconcordarcomumpactoentreaAssociaçãoIndígenadopovoEnaweneNaweeaprefeituramunicipal,evidenciando,maisumavez,queopoderexecutivoéimperativonatomadadestadecisãodenegarouaceitaroatendimentodademandadospovosindígenas.Aaprovaçãodosvereadoresédecisivatambém.EmComodorofoiimportanteainfluênciadeumvereadorcujatrajetóriaprofissionalenvolveoindigenismo.EmComodoro,estefenômenocontribuiuparao eventodo referido“convênio”, entretanto,nãoé explicativodo todo,hajavista ainsatisfaçãodopovoNambiquaraemnãoacessarpartedorecurso,exercitandoautonomianagestãodomesmo.Nagestãoatual,opactocomopovoEnaweneNawefoirenovado,semresistênciadospoderesexecutivoelegislativo.
Aindaquesereconheçaaparticipaçãodopoderlegislativonatomadadedecisão,destaca-sequeamesmadependedeumaposiçãoanteriorporpartedopoderexecutivo.Éentreasliderançasindígenaseoprefeitoqueseiniciamasnegociaçõesemprimeiroplano.Aposiçãopolíticadoprefeitoédecisivaparaaposteriorinclusãodapautaeparticipaçãodosvereadores.Masaforçaqueimpulsionaasperspectivasdeatuaçãodospoderesestataiséapresençadasliderançasindígenasexprimindoosseusinteressessocietários.Ainiciativa,portanto,nãotempartidodosgestorespúblicos.
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OargumentoadotadopeloprefeitovisandoaoapoiodosvereadoresàdemandadopovoEnaweneNaweé“queomunicípiodeComodoronuncatinhatidonenhumadespesacomeles”.Adistânciada localizaçãodaTIEnaweneNaweassociada à falta de suporteadministrativoláofertadopelaadministraçãopúblicafoiajustificativaparaacelebraçãodo“convênio”.OvalorrepassadoaopovoEnaweneNawealcançamaisdeR$40milenãoéapreendidopelosgestorespúblicoscomopartedeumprogramadoICMSEcológico,massimcomoapoiofinanceirodadoaopovo.Elesentendemqueasdespesassãopara“aquestãodospeixes,eferramentasparaaroça”.Particularmente,emComodoro,afirmou-sequeestepovotevedificuldadedeprestarconta,documentandoasdespesasfeitas,masconseguiucomapoiodetécnicos.
Conforme exposto, o povo Nambiquara tem ciência do ICMS Ecológico, massoube da existência desta política pública depois demuito tempode sua implementaçãoemComodoro.Queminformousobreela foiaequipedoCIMI,enfatizandoafinalidadedepreservaroambiente.Ainexistênciadeumprojetosocietáriodefinidodesmobilizouasliderançasapressionarem tão logoaprefeitura.Estepovo também temciênciadequeopovoEnaweneNaweacessaumafraçãodesterecursocomointeressedefortalecerosseuscostumes.Porestepovonãovotar emComodoro, as liderançasNambiquaraquestionamoacessodeleaumrecursodareceitamunicipal,denunciandoofatodequeNambiquaravotaenãoacessadiretamentepartedesterecurso.Desdequandoasliderançasiniciaramasolicitaçãode35%doICMSEcológicorecebido,osprefeitosalegamque“nãoháleiqueobriga”,defendendo-se:“Fazemosdespesasparaoconsertodaestradaeofertadeônibusescolardentrodaterraindígena”.
Esta conjuntura alterou amotivação dosNambiquara pelo acesso ao recurso sob aperspectivadassuasassociações realizaremagestãodasaúde,educaçãoeestrada.Creditamcapacidadedegestãoàssuasassociações,diferentedosgestorespúblicosqueosdesqualificam.Paralelamente,asliderançasindígenasquestionamaprestaçãodecontadosgestorespúblicossobreasdespesascomsaúdeeeducação.Elas,inclusive,manifestaraminteressenumagestãoparticipativa,acompanhandoaprestaçãodecontadosrecursospúblicos.
Uma liderança testemunhou que o ex-prefeito “prometeu na campanha eleitoralcriarumaleiparadestinaroICMSEcológicoaos indígenas”.Naatualgestão,oprefeitoameaça:“Serepassarorecursoparaaassociação,aprefeituravaiabrirmãodetrabalharparaasaúde,educação,pagarsalárioaosprofessoreseestrada”.
As liderançasNambiquaraavaliaramquedesdea fundaçãodeComodoronuncaaconteceu um atendimento com qualidade nas áreas de saúde e educação: “A escolanambiquaramunicipalnãotemprédiopróprio,oatendimentoàsaúdeéprecário,atémesmonacidade”.Sobreasaúdeindignaram-se:“Jápagamoshospitalparticular,édifícilacessaroSUS,temmuitaburocracia”.Destaca-seaenunciaçãodeumlíder:“Temquetratardoscorposdagenteedasárvores também,senãocuidardasárvoreselas tambémmorrem”,revelandooutraconcepçãodesaúdenaqualseinscreveadimensãoambiental.
SãováriasasdemandasapresentadasparaapoiocomrecursosdoICMSEcológico.Entre elas destacam-se o fortalecimento das cerimônias tradicionais, fortalecimento daassociação indígena, construção de registros das expressões tradicionais, fiscalizaçãoterritorialepráticadamedicinatradicional.
Liderançasnambiquaraargumentaramqueasfestassagradas,damenina-moçaedapajelançainterconectampessoasdosváriosgruposcomoHalotesueoutros.Oscustoscomcombustívelealimentaçãosãoaltos,dadaaparticipaçãodosconvidadosdeoutrasaldeias,adicionandoaindaodeslocamentodeveículosparabuscarospajés.
Quantoàfiscalizaçãoterritorial,explicaram:“Nossaterraémuitogrande,paraacomunidadefiscalizarnecessitadecombustíveleoutrosmateriais.Nafiscalizaçãoacontecetambémacaçaepesca.Aomesmotempoquecaça,fiscaliza”.
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Noconjunto,configura-seumprogramadeICMSEcológicoaserassumidopelasváriasassociaçõesindígenasdopovoNambiquara.Alémdaperspectivadorecursopoderser aplicado no fortalecimento cultural e territorial de modo associado, acrescenta-se aargumentaçãodelesdequeasterrasindígenasdomunicípiobeneficiamacomunidadecomoum todo, namedida em que o ecossistema conservado nelas influencia positivamente aqualidadedoaredaáguadetodaaregião.
D) Possibilidades de desenvolvimento valorizando a biodiversidade
Oaumentodareceitamunicipalfoidiscutidocomoumaalternativaparafavorecerdespesas com aquelas demandas que o município encontra limitações para administrar.Oex-prefeitodestacouqueissopoderiaserviabilizadopeloImpostoPredialeTerritorialUrbano (IPTU) arrecadado, já que ele é totalmente destinado à receita municipal, masa estimativa da quantidade da sua contribuição é sempre refratária à realidade porque écostumesocialsonegaresteimposto.UmaalternativavislumbradafoielaborarumprojetodeleiqueautorizasseaprefeituramunicipalmultarosonegadornoSerasaouterceirizaroIPTUparaumbanco,garantindoaele30%dovalor.FoifeitaumapesquisanoTCE-MTparaacessarmaisinformaçõessobreareceitatributáriadomunicípioedosdemaisimpostosquecompõemareceitamunicipalcomoumtodo.Curiosamente,nãohaviaaidentificaçãodoqueeraICMS.Éfundamentalatransparênciadestainformação,afimdemostrarqualéaquantidadeespecíficadoimposto,aindamaisquandosetratadocontextodalegislaçãoestadual do ICMS Ecológico.A consulta aos dados oferecidos pela SEMA-MT (2012)superoutaldificuldade.Constatou-sequedefatoaarrecadaçãodeIPTUémuitobaixaemComodoro,observandoconjuntamentequeoISQNtemgrandeimportâncianacomposiçãodareceitatributáriamunicipal.Retratandotalconjuntura,segueográfico17.
Gráfico 17: Amostra da receita municipal de Comodoro em 2012
0,00 2.000.000,00 4.000.000,00 6.000.000,00 8.000.000,00 10.000.000,00 12.000.000,00
IPTU
ISQN
ITBI
CIP
ITR
FPM
ICMS
Fonte: TCE-MT, 2013; SEMA-MT, 2012.
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Observa-seaexpressividadedoICMSnacomposiçãodestareceita,bastantepróximadoFundodeParticipaçãodosMunicípios(FPM).AporcentagemdoICMSEcológicodentrodovalortotaldeICMSrepassadoaomunicípiofoi30,74em2012.Porsuavez,éevidenteeexpressivaacontribuiçãodoICMSEcológiconareceitamunicipaldeComodoro.
OsestudosdaAMM(2012)mostramqueosetor“Serviços”contribuiuemmaiorproporçãocomoPIB total domunicípio (R$232.122.000,00), oque tem relaçãocomaexpressividadedoISQN.
Gráfi co 18: Agropecuária, Indústria e Serviços no PIB de Comodoro em 2009
37%
9%
47%Agropecuária
Indústria
Serviços
Fonte: AMM, 2012.
Na secretaria de finanças foi caracterizada a existência de dois laticínios nomunicípio,ressentindoaausênciadefábricas,destacandoanecessidadededesenvolveraeconomia local.Ogestor público desta secretaria avalia que o agronegócio e a pecuáriapraticadanasuperfícieterritorialdomunicípionãocontribuemparaareceitatributárialocalporqueasrendasporelesgeradasacontecemforadomunicípio,quenãosediafrigorífico.
Pareceoportunodesenvolveragroindústriasassociadasàbiodiversidaderegional,pois emComodoro há 11 projetos de assentamento (PAs) e a agricultura familiar, tendosidovalorizadospelosgestoresnasecretariadefinançascomopassíveisdegerarserviçosetributosparaoaumentodareceitamunicipal.Aapicultura,apecuáriadeleite,asfrutaseasfeirasganharamvisibilidadeemseuenunciado.Contudo,vislumbrou-seaperspectivadefomentaraagriculturafamiliareaproduçãoleiteiranagestãopública,bemcomodepactuarparceriasentreprefeituraeosPAs.
EmComodoro,aagriculturafamiliaréresponsávelpelaproduçãodealimentoseadiversidadenaproduçãoéumarelevantecaracterística.
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Gráfico 19: Produção agrícola em Comodoro em 2012
1900ral 1927ral 1954ral 1982ral 2009ral 2036ral
ArrozFeijão
MandiocaCafé
AlgodãoSoja
Milho
Extensão Territorial (ha)
Fonte: IBGE, 2012.
O gráfico 19 retrata uma amostragem do cenário agrícola no município,possibilitandovisualizarumaconcentraçãodeterradestinadaaoagronegócioque,alémdeseconstituircomoummododeproduçãodealtoimpactoambiental,nãocontribuiparaodesenvolvimentosocialeeconômicolocal.Emcontrapartida,aagriculturafamiliarrealizaumadiversificaçãonaprodução,colaborandoparaaalimentaçãodapopulação.Fomentara gestão pública a investir na agricultura familiar significa incentivar um modelo dedesenvolvimentoeconômicodebaixoimpacto.Nesteparticular,pode-seapontaraplicaçõespossíveisdosrecursosdoICMSEcológicocomofomentoàagriculturafamiliar.
Banana, laranja, limão,manga,maracujá são frutas valorizadas localmente. Talfatodenunciaqueabiodiversidadeestásendodesconsideradaparaumaagroindústrialocalintercaladacomoagroextrativismo.Asterras indígenaseoconhecimentodequemnelashabitapodemcontribuirmuitonesteaspecto.
Em Comodoro, o ICMS Ecológico não é destinado a um programa de gestãoambientalpública.Mesmoassim,sobopontodevistadosgestorespúblicos,elealcançaoobjetivodeconservaraterraindígena.Naopiniãodoex-prefeito,“senãohouvesseoICMSEcológico,comcertezaestasáreasestariamocupadasoudesmatadas,nãoteriajustificativanenhumaparaevitarestedesmate”.Econtinua:“Sónaleinãosegaranteaflorestaempé.AvaliamemgeralqueoICMS,pormenorqueseja,temumafunção,éumargumentoparamanteraflorestaempé”.
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IV. 4. A versão do ICMS Ecológico em Brasnorte
OsrecursosrecebidosporBrasnortesebaseiamemTIs.InexisteUC.Segueabaixoatabela13,queidentificaaquelascadastradasparaocálculodocritérioUC/TIpelaSEMA-MT.
Município (ha) Terra IndígenaTerra Indígena
(ha)
Extensão TI no município (ha)
2002 a 2007 2012
1.595.933
Irantxe 45.555 45.555 45.465,63Manoki 252.000 -- 205.884,91
Erikbaktsa 79.935 79.935 80.959,32Menku 47.094 47.094 44.900,93
TOTAL 172.584 377.210,79
Tabela 13: TIs cadastradas pela SEMA-MT. Fonte: SEMA-MT, 2008; 2013.
AampliaçãodaTIIrantxepossibilitouumsignificativo incrementonosrecursosdoICMSEcológicoemBrasnorte.Segueográfico20retratandoohistóricodosrecursosrecebidosporestemunicípionoperíodode2002a2012.
Gráfico 20: Recurso de ICMS Ecológico recebido por Brasnorte entre 2002 a 2012
0,00
200.000,00
400.000,00
600.000,00
800.000,00
1.000.000,00
1.200.000,00
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
Recurso de ICMSEcológico recebidopor Brasnorte
Fonte: SEMA-MT, 2008; 2013.
O acréscimo de 205.884,91 ha ao cálculo do critério UC/TI, devido aoreconhecimentooficialdaTIManoki,demarcadaem2008,ocasionouproporcionalmenteumincrementosignificativonareceitamunicipaldeBrasnorte,conformeapontadonográfico20,notadamentenosanos2011e2012,quandoestaTIécadastradapelaSEMA-MT.Atabela14identificaosvaloresdecadaano,explicitandoumamargememreaisdeacréscimoemtornodeR$870milcomparandoosdadosde2002e2012.
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Ano ICMS Ecológico recebido (R$)
2002 190.217,35
2003 239.008,11
2004 298.733,01
2005 311.500,20
2006 313.745,58
2007 335.502,12
2008 394.929,59
2009 402.608,22
2010 400.004,20
2011 911.936,87
2012 1.056.287,23
Tabela 14: Incremento na arrecadação em Brasnorte. Fonte: SEMA-MT, 2008; 2013.
AsTIspresentesemBrasnortepossuematotalidadedesuaáreaunicamentenestemunicípio, tornando enfática a necessidade do compromisso do poder público local nosentidodedesenvolverumplanodegestãoambientalconsiderando-as.
A) Na dimensão da legislação municipal
EmBrasnorteinexisteumaleimunicipalqueregulamenteadestinaçãodosrecursosdoICMSEcológico.Éemtermosde“convênio”entreaprefeituraeasassociaçõesindígenasqueserealizaadestinaçãodepartedorecursodoICMSEcológico,posterioràaprovaçãodomesmopelosvereadores.Ospoderesexecutivoe legislativoparticipamda tomadadedecisãosobreosindígenasacessarempartedosrecursosdareceitamunicipal.Aconteceramexperiênciasde convênios assinados comospovosRikbaktsa eManoki, salvaguardandoexperiênciasderepasseparaopovoMykytambém.Oconvênioéresultadodeumacordomútuoentrea“concedente”(prefeitura)ea“convenente”(associaçãoindígena)comprazodeumano.Precisa,portanto,seranualmenterenovado,oquedependedereatualizarumacordoe, sobretudo,da exigênciade apresentaçãodeumplanode trabalhoporpartedaassociação.AdiretrizdesseplanoéapreservaçãonaturaldaTIe fortalecimentoculturaldopovoindígenadestaTI. Aprestaçãodecontadosrecursosrecebidoséumacondiçãobásicapararenovaroconvênio.Elaésubmetidaaosetorcontábildaprefeituraeprecisaseraprovada,oquepermiteafiscalizaçãodaprefeiturasobreaaplicaçãodessesrecursospúblicospelaassociação.Alémdasinformaçõesfinanceiras,écobradoumrelatóriodeatividades,ambosprevistospeloplanodetrabalhoapresentado.AsexperiênciastidascomasassociaçõesindígenasdemonstramqueovalorrecebidoporcadaumagiraemtornodeR$15milnototal.
OConvênio014de2011éexemplodeumacordoentrePrefeituradeBrasnorteeaAssociaçãodoPovoIndígenaRikbaktsa.Acláusulaprimeiraesclarecequesetratade“repassederecursosparaapoiofinanceiroaopovoRikbaktsanaconservaçãodeseuterritórioatravésdeumprogramacomaçõesvoltadasparaacapacitaçãoindígenaeaproteçãodopatrimônioculturalenaturaldaTerraIndígenaErikbaktsadoPovoRikbaktsa(ICMSEcológico)”.HáaexplicitaçãonoconvêniodequesetratadeumadestinaçãodepartedosrecursosdeICMSEcológicoe,tambémháacompreensãodequeelaéaplicadaespecificamenteemaçãoparaaconservaçãodeterraindígena.
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OTermodeConvênioN°014de2012éumacordo renovadoentre aprefeiturae aAssociação IndígenaWatoholi, do povoManoki. Na cláusula primeira está escrito:“ConstituiobjetodesteConvêniooapoiofinanceiroaopovoIndígenaIrantxe/ManokinaconservaçãodeseuterritórioatravésdeumprogramacomaçõesvoltadasparaacapacitaçãoindígenaeaproteçãodopatrimônioculturalenaturaldaTerraIndígenaIrantxe”.NestecasonãoháacaracterizaçãodequeesteapoiofinanceirosejaprovenientedoICMSEcológico.Aindaassim,osgestorespúblicosapreendemqueorepassedesterecursoédestinadoparaaconservaçãodeTI.
Os recursos são repassados para uma conta específica do convênio. Ficasalvaguardadoque,naexecuçãodoplanodeação,nãosepodegerarencargosdequalquernaturezaàprefeitura.OutraquestãobastantesignificativaéqueadespesaépartedadotaçãoorçamentáriadaSecretariaMunicipaldeEsporte,TurismoeMeioAmbientedeBrasnorte.Noconvênioháaindacláusulasquedetalhamsobreaprestaçãodecontas,aspenalidades,afiscalizaçãoeoutrassalvaguardas.
Observa-sequeoconvênioérealizadocomaassociaçãoindígena,sendonecessário,portanto,terpersonalidadejurídica.Outrofatoréqueparacadaassociaçãoindígenadeumpovoháumconvêniodistinto,específico,poissetratadeumacordoentreduaspartes,a“concedente”ea“convenente”.Estereferidodocumentolevaaassinaturadoprefeitoedopresidentedaassociaçãoindígena.
Brasnorte,contudo,diferedosmunicípiosanteriormenteestudados,umavezqueapresentaummecanismodeacessarosrecursosdoICMSEcológicoqueenvolveopoderexecutivoeolegislativonatomadadedecisão,definindotalvezummodeloaseraprimorado,referênciaimportanteparaaspossibilidadesdeumagestãoparticipativadesserecurso.
B) Nuances da temática ambiental na gestão pública municipal
EmBrasnorte,nãoháumasecretariaexclusivadomeioambiente.Esteassuntoépartedasecretariadeagriculturaedesenvolvimentoagrário,naqualinexisteumorçamentovinculadoaquaisqueraçõesambientais.Nestemunicípio,impõem-seospassivosambientaisnos imóveis rurais particulares, bem como a incidência de pressões e ameaças às TIs,destacandooextrativismoilegalmadeireiro.Taiseventosatestamumagestãopúblicaquenãoarticuladesenvolvimentoagrárioeconservaçãodabiodiversidade.
Recentementefoicontratadaumafuncionáriaparasupervisionaraçõesnomeioambiente.Elamesmaavaliouofatocomoumanovidadenahistóriadaprefeituramunicipal,sinalizandoumafaseembrionáriadagestãoambientalmunicipal.Masatéentãonãoháumprogramaelaborado.
Évislumbradaacriaçãodeumasecretariadeambientee turismoparaoanode2014,masestainiciativaécompreendidacomorespostaàexigênciadaSEMAedoConselhoEstadualdeMeioAmbiente(Consema),segundoosgestoresentrevistados.Taisórgãosestãocobrandoumplanodeaçãoambiental.
Entreasameaçasepressõesàbiodiversidadeconservada,osgestoresmunicipaisentrevistados destacaram as queimadas e o desmatamento irregular. O reflorestamentode nascentes e pequenos córregos existentes nomunicípio foi apontado comouma açãoprioritária,envolvendoasAPPsdosimóveisrurais.Osaneamentoambientalfoiavaliado
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negativamente em função da inexistência da coleta seletiva de lixo e da falta de umescoamentodosresíduossólidos.NocontextodasTIs,porém,nenhumapressãoouameaçafoiconsiderada,nemmesmovaloriza-seaimportânciadabiodiversidadeconservadanasTIsnomunicípio.Ocampodevisãorestringiu-seaouniversodasAPPsesaneamentoambiental.Informaramqueexisteumconselhomunicipaldeambiente,masqueestádesativado.EmBrasnortenãoháUC,somenteTI.Sublinha-seoenunciadoespontâneodointeresseemcriarumaUCmunicipalpública,cogitandoumaáreadeaproximadamente10ha,valorizando-aporconternascente.
Conformejádemonstramos,aspossibilidadesdeaplicaçãodosrecursosoriundosdo ICMSEcológico são abrangentes, contemplando tanto as demandas urbanas, rurais edemaisáreasprotegidasincidentesnosmunicípios.
C) A dimensão do controle social na gestão de políticas públicas
ComonãoháumaleimunicipalqueregulamenteadestinaçãodorecursodoICMSEcológico, os entrevistados indígenas alegamque é “preciso ir aogabinete e cobrar”.Oexercíciodocontrole social sobre estapolíticapúblicaespecífica temsido feito somentepelasliderançasindígenasdasetniasexistentesnomunicípio:Myky,Manoki,Rikbaktsaenãopelosmunícipesnãoindígenas.
NemmesmonacâmaradosvereadoresoICMSEcológicoédedomíniopúblico.Algunsvereadoresodesconhecem.Paraadensaroquadro,assuntosrelacionadosàecologianão são pautados nas plenárias, tampouco se constituem como alvos de ações na LOA,reiterando a fragilidade de uma gestão ambiental no município, conforme discutidoanteriormente.
Considerando a dimensão da legislação municipal em Brasnorte, evidencia-seumaambiguidadeporqueopoderlegislativoéquemaprovaoconvênioentreaprefeituraeassociaçãoindígena,e,aindaassim,assiste-seaumarepercussãolimitadadestapolíticapública. Efetivamente, o “convênio” envolvemais expressivamente o poder executivo eas lideranças indígenas. Ficou evidente que os vereadores não têmmuito controle destefenômeno,sóentramemcenaparaaprová-lonumasessãoanualsemquedaíderiveumapautaambientalmaisexpressivaepermanentenoâmbitolegislativo.
Registra-seaindaodepoimentodeumaliderançaManokisobreoposicionamentodosvereadoresnaaprovaçãodosconvênios,que“nuncativeramresistência”.Édiferentedosgestoresdopoderexecutivoqueacompanhamaprestaçãodeconta.Nestaoportunidade,adiciona-se o agravante de que nem sequer esta tarefa feita pelas associações indígenasé incorporadanaprestaçãodecontamunicipalenviadaaoTribunaldeContasdoEstado.Revela-seumafacetadoICMSEcológicoquecomprometeocontrolesocialdasdespesasfeitascomesterecurso.
Osgestorespúblicosdopoderexecutivoinformaramqueasdespesasdesterecursoreferem-seacompradebarcos,materialdepescaecombustível,masnãofoipronunciadaadiretrizpolíticasubjacenteataisdespesasque,sobopontodevistadasliderançasindígenas,destina-seàfiscalizaçãoterritorial.Ficousinalizadaacompreensãodequeosrecursossãoparaospovos indígenas, de acordocomas suasnecessidades, eo combustível temsidoaquelamaisdestacada.Sobrepôs-seafinalidadedosrecursosparaconsumodebens.Nestesentido,oICMSEcológiconãoserealizanapercepçãodosgestorescomofortalecimentodabiodiversidadenasterrasindígenas.
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Oquefoienfatizadopelopoderexecutivoéanecessidadedaprestaçãodecontacomocondiçãoàrenovação,exprimindo,porsuavez,umcontroledosgestoressobreumrecursopúblico.TemafinidadecomaargumentaçãodeumaliderançaManokideque“oprefeitonãoquestionanada,sóquestionaaprestaçãodeconta”.NocasodopovoManoki,emparticular,desde2009acontinuidadedorepasse,sobaelaboraçãodeumnovoprojeto,foitemporariamenteinterrompidapeladificuldadedaassociaçãoindígenainicialmenteemprestarcontas.Somenteem2013foiregularizadoesteproblema,oquepossibilitaoenviodeumnovoprojetoparaopróximoano.
A OperaçãoAmazônia Nativa (OPAN), por desenvolver um programa de açãoindigenistajuntoaospovosregionais,favoreceuaarticulaçãoentreasassociaçõesindígenaseaprefeituramunicipalparaoacessoapartedoICMSEcológicorecebido,constituindo-setambémcomosujeitoativonocontrolesocial.
Sobreosprimeirosacordos,segundoorelatodeumaliderançaManoki,osindígenastinhampropostoinicialmenteoacessoàquantiadeR$30mil,recusadopeloex-prefeito.Oresultadoda“negociação”foiareduçãodrásticaparaR$10a15mil.Nestadimensãodocontrolesocial,observou-seoutraambiguidade:representantesdaassociaçãoManokinãosabemquantoomunicípiorecebedeICMSEcológico,sendodependentesdainformaçãooferecidapelaequipedaOPAN.
EmBrasnortefoi reincidenteoargumentodequeorecursodoICMSEcológico“nãovemseparado,vemjuntonorepassedoICMS”,conformeasecretariadefinanças.Estaéoutraambiguidade,porqueosgestoresdopoderexecutivosabemsobreacotadocritérioUC/TIdeBrasnorte.Elesbuscama informaçãopormeiodaFunai.Nesta administraçãopúblicamunicipalapareceuacompreensãodequeaFunaiinformaparaaAMMeestaúltimaàsprefeituras.NemsequeraSEMAeaSefazforamconsideradasnanarrativadosgestoresentrevistadosdecomoaprefeituradeBrasnorteverificaaquantiadaparcelarecebida.
Ementrevista,testemunhou-seumainsatisfaçãodealgunsgestorespúblicoscomestapráticaargumentandoque“acabagastandomaisdoquearrecadadoICMSEcológico”,considerandoasdespesasqueaprefeituramunicipaltemcomtodosospovos.Nesteparticularforamdestacadasasconstruçõesdeescolasindígenasedepostosdesaúde,alémdafolhadepagamentodosprofessoresindígenas.EmvisitaaopostodoDistritoSanitáriodeSaúdeEspecial Indígena(DSEICuiabá) foiafirmadoqueomunicípionãoadministrao recursoparaasaúdeindígenahámaisdedoisanos.Nestaárea,omunicípiotemdespesaeventualquandooatendimentomédicoacontecenacidadeenãonaaldeia.
O argumento nos remete ao recurso federal da educaçãoque compõe a receitamunicipalparaestasdespesasenunciadaspelosgestores.Temsidorecorrente,portanto,estajustificativadequeosrecursosdoICMSEcológicocusteiamdespesasdasaúdeeeducação,porémasmesmaspossuemreceitaspróprias,pondoemrelevoas fragilidadesna relaçãoentrereceitaedespesamunicipal,bemcomonaprópriaadministraçãopública.
Enfim,nadimensãodocontrole social, éausenteaexperiênciade liderançasdeoutrosgrupossociaisdomunicípiodemandarumprogramaambientalnagestãopública.OspovosMyky,ManokieRikbaktsatêmconhecimentodestapolíticapúblicaestadual,eelesparticipamdagestãodepartedeste recursovisandoao fortalecimentode suasáreasprotegidas.
Conformeabordadoacima,atéentão,ospovosManokieRikbaktsaconquistaramoacessoregularaorecurso,diferentedopovoMyky,queexperimentouorepassesomenteduasvezes.OpovoManokitemaintençãoemmobilizarliderançasRikbaktsaeMykyparaatualizaremosacordoscomaprefeituramunicipal,revisandoovalor.
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D) Possibilidades de desenvolvimento valorizando a sociobiodiverside
SobopontodevistadopovoManoki,orecursodoICMSEcológicoéapreendidocomoapoioàfiscalizaçãodaterraindígenaetambémdosaspectosculturais,queigualmentea fortalecem.Conquistoucomopoder executivomunicipal agestão sobreumapequenaparte do índice recebidopelomunicípio, sendo ela em tornodeR$ 10mil.Esta quantiacontemplouasdespesasparaocombustívele,circunstancialmente,paraamanutençãodosveículosnecessáriosaodeslocamentodentrodaterraindígenavisandoàvigilânciaterritorial.Pretendemalteraroprojetoenviadoàprefeitura,idealizandoosrecursosdoICMSEcológicoparafortalecertambémaroçaecontinuarapoiandoasfestasculturais,poissãoaçõesporelescompreendidascomointrínsecasaomanejoeconservaçãoambiental.
ParaopovoMyky,orecursodoICMSEcológicoévisado,sobretudo,paravigilânciaterritorial.Issojustificouasdespesasfeitascomosdoisrepassesjátidos,oprimeirodeR$15mileosegundodeR$7mil.Eleseramparaafiscalizaçãoterritorialegestãoambientaldasuaáreaprotegida.Umdelespreviaaaberturadepicadas,asinalizaçãocomplacasetambémaaberturaderoçasnasregiõeslimítrofes.ApartedorecursodoICMSEcológicosolicitadaseriaparaasdespesascomgasolina,óleonáuticoemotordepopa,mas“porqueelesnãoaprovam?”,questionaaliderançaMyky.OutroprojetoenvolviaaparceriacomoIbamaparaumacapacitaçãocontraasqueimadas.Aindateveumvoltadoparaacriaçãodemudasdestinadasaoreflorestamentoderegiõesdesmatadas.
Desde a gestão anterior até a atual, os projetos daAssociaçãoMyky têm sidoreprovados, pondo em relevo a ambiguidade inscrita na dinâmica destes “convênios”assinados.Sobopontodevistadospovosindígenas,háaclarezadadiretrizpolíticavoltadaaofortalecimentosocioambiental.Entretanto,estesignificadonãoparececonfigurar-secomoumaexpressãopolíticacompreendidapelagestãopúblicadaprefeituramunicipal,afinal,segundoosdepoimentosdosentrevistadosdeformageral,aprestaçãodecontastorna-seoelementocentralvalorizadonorepasseenãosuasdiretrizes.Assim,éenfáticaafragilidadedeumapolíticadegestãoambiental.
EmBrasnorte,portanto,ospovosMyky,ManokieRikbaktsaqueremparticipardagestãodepartedesterecurso,umaoportunidadequepoderiasermelhorincorporadapelaadministraçãomunicipal.Entretanto,dopontodevistadosgestorespúblicos,elesprefeririamque tais recursospudessemser integralmente investidosnaprópriamáquinapúblicaparacustear,porexemplo,asdespesasdodepartamentodomeioambiente.Notamosassim,nesteaspecto,arecorrênciadaintençãodosgestoresmunicipaisemconverterosrecursosdoICMSEcológicoemfolhadepagamentoenãoemaçõesecológicaspropriamenteditadasnalei.
DissodecorreaconcepçãopermanentedoICMSEcológicocomocompensaçãopornãoproduzirnasáreasprotegidasesobestadimensãoorecursoéinsuficientediantedotamanhodaáreapreservada.Areferênciaparaavaliaraimportânciadorecursoéocálculodovalordaproduçãoquepoderiaserrealizadanaáreaprotegida,apreendidacomosinônimodeáreaimprodutiva,mesmoqueosprópriosgestoresreconheçamqueareceitanãosealteralocalmenteemfunçãodestemodelodeatividadeprodutiva.
SegundoosestudosdaAMM(2012),aagropecuáriaéaatividadeeconômicaquemaiscontribuiparaoPIBtotaldomunicípioque,em2009,alcançouR$399.422.000,00.
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Gráfi co 21: Agropecuária, Indústria e Serviços no PIB de Brasnorte em 2009
47%
5%
38% Agropecuária
Indústria
Serviços
Fonte: AMM, 2012.
Porém,comparativamente,émenorqueomunicípiodeBarradoBugres,tendosidoeledeR$417.087.000,00,em2009.Curiosamente,aextensãoterritorialdeBrasnorteéde1.595.933ha.Ototaldasáreasprotegidaséde377.210,79ha.Estetamanho,porsuavez,émenorqueaáreatotaldeBarradoBugres.Ainformaçãosinalizaa“insustentabilidade”deculparasáreasprotegidaspelocomprometimentodeumdesenvolvimentoeconômico.
Emtermosdeadministraçãopública,valenotartambém,conformejáassinalado,queaagropecuárianãoarrecadarecursosparaareceitamunicipal.
Gráfi co 22: Amostragem da receita municipal de Brasnorte em 2012
0,00 4.000.000,00 8.000.000,00 12.000.000,00
IPTU
IPTI
ISQN
Receita Patrimonial
FPM
ICMS
Fonte: TCE-MT, 2012.
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Diferentedosmunicípiosanteriormenteestudados,oISQNnãoéoimpostomaisarrecadadonareceitamunicipal,deixandoexplícitaarelevânciadoICMSedoFPMparaaadministraçãopública.OpercentualdoICMSEcológicodentrodoICMSrepassadoparaBrasnorteé8,73,correspondenteaovalordeR$1.056.287,23.Estaquantia,porsuavez,superaaarrecadadapeloIPTU,ISQN,ImpostosobreTransmissãodeBensImóveis(ITBI),aReceitaPatrimonialeoutros.
Aindaassim,apolíticapúblicadoICMSEcológicofoidesvalorizadaporalgunsgestores.FoifeitaumacomparaçãocomareceitamunicipaldeCampoNovodoParecis,jáqueestemunicípiopossuiumaextensão territorialmenorqueBrasnorteeumareceitamunicipal maior. Na interpretação deste fenômeno foi destacada a inserção no biomaCerrado,ondese legitimaaproduçãoem65%daárea,praticandoumdesmatamentoemáreamaisampla.Tambémseconsiderouaexistênciadesomenteumaterraindígena.
Expressou-seo idealdequefossemaioropercentualdeICMSEcológicocomocompensação por não produzir nas áreas protegidas, delimitando as possibilidades dealternativasparaageraçãoderenda,trabalhoearrecadaçãoafimdequalificaraadministraçãopúblicalocal.
Alegou-sequeéimportanteaconservaçãodabiodiversidade,equeissoserealizarianaAPPereservalegal(RL)semlimitarotamanhodaáreaparaaprodução,pois,segundotécnicosdaprefeitura, “para ter preservação, o índicedeveria sermaior”.Brasnorte estáinseridonobiomaAmazônia,desdobrandooutraperspectivadesfavorávelaoapoioàsTIs,porque,deacordocomoCódigoFlorestalBrasileiro,aáreapermitidaparaaproduçãoébastantemenor: 20%.Os demais 80%devem ser conservados. Sob este ponto de vista,fica potencializado o significado de área improdutiva. De modo ambíguo, asseguraramabiodiversidadeque se imprimirianaAPPeRL,“mesmonãohavendoUCeTI seriampreservados os 80%devido aoCódigoFlorestal, por força de lei”, conforme atestamosprópriosgestoresentrevistados.
Subjacenteaestaabordagemencontrou-secomaretomadadoProgramaPolonoroeste,dogovernodesenvolvimentista,nosanos70,ressentindoumacontradiçãoentreodesmatamentoquefoiincentivadoparaaagropecuáriaeaatualpolíticapúblicafavorávelàconservaçãodabiodiversidade.FicaretratadaarelaçãodeexclusãoentreáreaprotegidaedesenvolvimentoeconômiconestepontodevistaentreosgestorespúblicosdeBrasnorte.
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IV. 5. A versão do ICMS Ecológico em Sapezal
SapezalreceberecursosdeICMSEcológicobaseadoemTIs.InexisteUC.Segueatabela15identificandoasTIsconformeocadastrodaSEMA-MT.
Município (ha) Terra Indígena Terra Indígena (ha) Extensão TI no município (ha)
2002 a 2007 2012
1.359751
Enawene Nawe 742.089 215.728 215.455,02
Tirecatinga 130.575 130.575 130.024,24
Utiariti 412.304 134.526 135.598,64
TOTAL 480.829 481.077,90
Tabela 15: Cadastro das TIs em Sapezal pela SEMA-MT. Fonte: SEMA-MT, 2008; 2013.
Écurioso observar novamente a variação da extensão territorial deSapezal nosdadosdaSEMA-MTde2013,totalizando1.358.884,99ha,assimcomoainstabilidadedotamanhodaáreadaTIquecobreomunicípio.Nesteperíodo,vê-sequenaatualizaçãodocadastro,emborasejamasmesmasTIs,ototaldeáreaprotegidaaumentou248,90ha.Segueabaixoográfico23retratandoosrecursosrecebidosporSapezalentre2002a2012.NesteperíodonãohouveacriaçãodenenhumaUC,tampoucoumagestãoterritorialeambientalfortalecedoradasTIs.
Gráfico 23: Recurso de ICMS Ecológico recebido por Sapezal entre 2002 a 2012
0,00
500.000,00
1.000.000,00
1.500.000,00
2.000.000,00
2.500.000,00
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
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Recurso de ICMSEcológico recebidopor Sapezal
Fonte: SEMA-MT 2008; 2013.
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Énotávelaprogressãodaquantidadederecursosrecebidosemreais,notadamente,umacréscimoexpressivonosúltimosanosde2011e2012.Segueatabela16identificandoosvaloresrecebidosemreaisacadaano.
Ano ICMS Ecológico recebido (R$)
2002 619.035,34
2003 777.811,96
2004 972.170,29
2005 1.013.738,57
2006 1.025.952,47
2007 1.097.076,70
2008 1.291.419,84
2009 1.362.765,30
2010 1.257.982,81
2011 1.572.499,14
2012 2.072.811,57
Tabela 16: ICMS Ecológico recebido por Sapezal. Fonte: SEMA-MT 2008; 2013.
Entre asTIspresentesna superfície territorial deSapezal, somente aTIUtiaritiabarcaoutromunicípio,nocaso,CampoNovodoParecis.OpercentualdeCampoNovocobertoporestareferidaTIéde29,29%,edeSapezaléde9,95%.Jamaishouvequaisqueriniciativasdeumconsórciointermunicipalparaagestãodeáreasprotegidas.
A) Na dimensão da legislação municipal
Em Sapezal, anualmente, é aprovada uma lei municipal que autoriza o poderexecutivo a transferir recursos financeiros à Associação Indígena Moxi (Nambiquara)e também àAssociação Indígena Enawene Nawe. É elaborado um termo de convênioque envolve o prefeito e as lideranças indígenas.A prestação de conta é exigida para acontinuidadedestesrepassesanuais.Mastaisrecursosnãosãoreconhecidosoficialmentecomoprovenientesdo ICMSEcológico.NaLeiMunicipalN° 1.056de2013éafirmado:“Paracoberturadasdespesasdeque trataestaLei,serãoutilizadosrecursosprevistosnoOrçamentoGeraldoMunicípioparaoexercíciofinanceirode2013[...]”(LeiN°1.056/2013).AdotaçãoorçamentáriaédaSecretariadeAgriculturaeMeioAmbientedeSapezal,sendoqueomontanteaparececomo“TransferênciaaAssociaçõesIndígenas”,numitemdenominado“Contribuições”.ParaaAssociaçãoMoxi,ovaloroscilaentreR$5milaR$10mil.ParaopovoEnaweneNaweovalorédeR$50mil.NaLeiN°1.029/2013estáexplicitadoqueépara“[...]proteçãodabiodiversidadeecológicaesustentabilidadesocialnaáreaindígenadacomunidadeEnaweneNawe”.Asaçõesparaasdespesassãonominadascomosendoparaaproteçãoambiental,preservaçãoculturale segurançaalimentar.Estãodeclaradoscomoobjetivos específicos: a proteção da biodiversidade, vigilância e fiscalização territorial,sustentabilidadesocioeconômicaecultural,segurançaalimentar,desenvolvimentoderituaistradicionais.Entretanto,estácompreendidocomoumrecursoprevistonoorçamentogeraldomunicípio,tambémoriginadodaqueledapastadasecretariadeagriculturaemeioambiente.
NãoéreconhecidooficialmentepelosgestorespúblicoscomopartedorecursodeICMSEcológico.
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B) Nuances da temática ambiental na gestão pública municipal
O “meio ambiente” fazia parte da secretaria de agricultura, e recentemente foiincorporado na pasta da secretaria de desenvolvimento econômico.O orçamento para o“meioambiente”,especificamente,giraemtornodeR$300mil,alémdaqueledestinadoàfolhadepagamento.Aproveita-seaoportunidadeparainformarqueoorçamentodaspastasdesaúdeeeducaçãoé“quasetudoparafolhadepagamento”,deacordocomosentrevistados.
EmSapezal,iniciativasestãosendotomadasparaadescentralizaçãodasaçõesnocampo ambiental.A tendência é a autonomiamunicipal no licenciamento ambiental dasobrascombaixoemédioimpacto,superandoacentralidadedaSEMA-MTnosprocessos.Paraquehajaestadescentralização,necessita-sedaexistênciadeumconselhomunicipaldemeioambienteativo,edeumcódigoambientalporeledeliberado.
Foifundadoumconselhoem2013comaparticipaçãodeorganizaçõesdasociedadecivil,quecontemplaaAssociaçãoComercialdoSindicatoRural,oConselhoRegionaldeEngenharia (CREA), a Associação dos Engenheiros Agrônomos e universidades locais(UniversidadedeCuiabá-UniceUniversidadedoEstadodeMatoGrosso-Unemat).Jáfoielaboradoumcódigoambientalmunicipal,aindasubmetidoàaprovaçãodacâmaradosvereadores.Restaaindaconstruirumalegislaçãoparanormatizaroslicenciamentos.
Entreasameaçasambientaisdestacam-seoaterrosanitário,quenãoélicenciado;aausênciadeumplanoderesíduossólidosesaneamentoambiental(umaexigêncialegal);aausênciadeumarededeesgoto.Sublinha-seaquiaforçadaleifavorecendoaelaboraçãodeumagestãoambiental.“Asdemandasambientaisestãocrescendo,vindodogovernoestadualefederal”,dizumtécnicodaprefeitura.Acontaminaçãopelousointensodeagrotóxicosnãofoimencionada.Apartirdaprovocaçãodesteassuntofoiditoque“ocódigoambientalprevêrestriçãoparaapulverizaçãonoentornodacidade,denascenteemanancialetambémdasededafazenda”.NãohouvemençãoaoentornodasTIs.Declaraaindaque“aChina,aAlemanhaeosEstadosUnidoscontrolamatoxidade,ejáaconteceuderetornarumnaviocomtodaacargadasojaporqueexaminaramereprovaramaquantidadedetoxidade”.Aavaliação realizada foi adeque, “por forçadomercado,estádiminuindoa toxidadedosvenenoscomprados”,exemplificandoque“Maggitemcertificaçãonacional”.
Sobreosaspectospositivosambientaisnomunicípioforamdestacadosnasentrevistasrealizadas“riosbemprotegidos,poisprodutoresmantêmAPPeaRLpróximadorio”.Destaca-se uma explicação enunciada “as áreas próximas ao rio sãomais arenosas, a abertura delasnecessitaria demais investimento e teriamenor produtividade.Demandamais dinheiro parainvestir,seforparadeixar,quesejalá”.Portanto,oaspectopositivodosprodutoresteremAPPfoijustificado“maispeloaspectonatural,osolopertodorioémenosinteressanteparaaagricultura”,concluindoque“estefatorambientalajudounapreservação”.
Sapezalfoioúnicomunicípioquecitouasterrasindígenascomoaspectosambientaispositivos,contribuindonaconservaçãodabiodiversidade.
E,porúltimo,registra-seaintençãodaprefeituramunicipaldecriarduasunidadesdeconservação,referindo-seàsáreasverdesurbanasconservadasquetotalizam124ha.
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C) A dimensão do controle social na gestão de políticas públicas
OpresidentedacâmaradosvereadoresnãotemconhecimentodoICMSEcológico,tampoucofezmençãoaocódigoambientalmunicipal.
NestemunicípionãoháumapolíticaespecíficadoICMSEcológico,masesteassuntojáfoiabordadonasreuniõesdoreferidoconselhomunicipaldemeioambiente.Aintençãoexpostaéquepartedesterecursofossedestinadoparaumfundodoambiente,propiciandoum caráter específico para ele.De outro lado, afirmou-se que a PrefeituraMunicipal deSapezalháanos temumProgramade IncentivoàAgricultura Indígena,antesmesmodaimplementaçãodoICMSEcológico.EleéincorporadoàLOA,LDOeaoPlanoPlurianual(PPA).AsTIs dos povos Paresi eNambiquara são beneficiadas.O foco é a horticulturaeagriculturade subsistência.Oobjetivoégeraralimentoenão renda.Afirmou-sequeéutilizadopartedoICMSEcológicoparaesteinvestimento.
PelofatodeospovosParesieNambiquaraserematendidosporesteprogramaéqueofuncionáriodaprefeiturajustificouamaiorquantiaderepasserealizadaaopovoEnaweneNawe:“EnaweneNaweganhamaisporquenãoestáincluídonoProgramaIndígena,semgastocomeducaçãoesaúde.Alémdissonãotemcomoaprefeituraofereceratendimentomédico. Mas como a terra indígena está dentro do território de Sapezal, tem direito areceber”.Questionandosobrequaissãooscritériosparaaprovaçãoderepasse,aexplicaçãofoi“omunicípioaproveita,temquerepassarICMSerepassa,ocritérioéoquealeipermite,oassessorjurídicoquevaiavaliarseélegal”.Ficouevidenciadoqueopoderexecutivoéoquedecidemais,osvereadorespodematéquestionar,masnãoreprovarão,pois“sereprovar,têmquedarexplicaçãoparaosíndios”,completa.
EmentrevistacomliderançadeumaAssociaçãoNambiquara,foiesclarecidoqueaTITirecatingatemseisaldeias:NovoHorizonte,Caititu,Buriti,NovoEncantado,GuarantãeTrêsJacus.AsliderançasdecadaaldeiaéquevãonegociarcomoprefeitoparaacessardiretamentepartedorecursodeICMSEcológico.DesdeagestãodeCésarMaggiengajam-se.Noentantoéreincidenteaexplicaçãodeque“aleinãoobriga”.AvaliaramqueopovoEnaweneNaweconquistouoacessopelapressãoqueexercemepelamaneiradefazê-la.
D) Possibilidades de desenvolvimento articulado À biodiversidade
NomunicípiodeSapezalosetorquemaiscontribuiparacomporoPIBtotaldomunicípioéaagropecuária.
Gráfi co 24: Agropecuária, Indústria e Serviços no PIB de Sapezal em 2009
45%
4%4%
Agropecuária
Indústria
Serviços
Fonte: AMM, 2012.
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Diferentedosoutrosmunicípiosestudados,opercentualdosetorde“Serviços”émuitobaixo.IssotemrelaçãocomadiminutaarrecadaçãodeISQNapresentadanográfico25:
Gráfico 25: Amostra da receita municipal de Sapezal em 2012
0 5.000.000 10.000.000 15.000.000 20.000.000 25.000.000 30.000.000 35.000.000
IPTU
IPTI
ISQN
CIP
FPM
ICMS
Fonte: TCE-MT, 2012.
Aindaassim,ográficoevidenciaaimportânciadoICMSnacomposiçãodareceitamunicipaldeSapezal.OpercentualdeICMSEcológicodapartedoICMSrepassadoaestemunicípioé7,39,correspondendoaovalordeR$28.054.867,53,em2012.OvalorisoladodoICMSEcológicoexcedeaodoIPTUeoutrosimpostosarrecadados,inclusivedoISQN,predominantenoutrosmunicípiosestudados.
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84 Morro do Mandi, Terra Indígena Jarudore.
Foto: Andreia Fanzeres/arquivo pessoal
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86 Terra Indígena Jarudore
Foto: Andreia Fanzeres/arquivo pessoal
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V. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Éfundamental terodiscernimentodohistóricoedaamplitudedopapelpolíticode cada legislação. Há um repertório de instrumentos legais voltados às unidades deconservação,eoutropertinenteàsterrasindígenas.Porsuavez,háumconjuntodeórgãospúblicos responsáveis para a execução destas leis. No estado deMato Grosso, envolvenecessariamente o compromisso da SEMA-MT, do Consema, salvaguardando o dasinstânciasfederaisICMBio,IbamaeFunai.
A legislação do ICMS Ecológico está conectada a tais repertórios legislativosquandoocritérioUC/TIimpõe-se.Porém,éprecisotomarocuidadoemnãosuperestimaroseupapelpolítico,tampoucoaleituradequeesteimpostoéquegaranteapermanênciadasterrasindígenas.ApolíticapúblicaemtornodoICMSEcológicopodeapoiarasdemaispolíticaspúblicaspré-existentesrelativasàsUCseàsTIs.AclarezadestadistinçãodeveorientaraavaliaçãocríticadoimpactoefetivodoICMSEcológicoparaoapoioefomentodeaçõesque“fortaleçam”asáreasprotegidasenãoque“assegurem”asuaexistência,jáqueestenãoéoseuescopo.
Estaabordagemdeveserenfatizadaafimdecolocaremriscomaneirasdepensarque se enunciaram entre gestores públicos e técnicos da SEMA-MT. Igualmente, asperspectivasdaagênciado ICMSEcológicodevemseravaliadascomdiscernimento,àmedida que precisa ser considerada com criticidade a atuação dos órgãos públicosambientaismunicipais, estaduais e federais, bem como da Funai, SAI e outros afinsà política indigenista oficial. Portanto, não se espera que o ICMSEcológico assumagerênciaemresultadosozinho,masdemodoarticuladoaoutrosprogramasambientaise indigenistas, sobreohorizontedele serumapoio, fomentoe incentivooquedemandao compromisso efetivo dos órgãos executivos vinculados às regulamentações da políticanacionaldemeioambienteedaoficialindigenista.
Evidenciou-se, portanto, que a compreensão do ICMS Ecológico dependeu daconsideração de outros aspectos que têm relação intrínseca com esta política pública, eque,obviamente,estediagnósticotevelimitaçõesparaumestudomaisprofundodasaçõesefetivasdaSEMA-MT,daSAIetc.
Oestudotevemaiorpreocupaçãoemaprofundarasaçõesambientaisdesenvolvidaslocalmente, buscando diálogo com gestores públicos do poder executivo das Secretariasemqueoambienteestáinserido,etambémcomosvereadores,investigandoaemergênciadeprogramassocioambientaisnomunicípio.OdiagnósticoprocurouaçõesapoiadascomorecursodoICMSEcológicoquepossamconfigurar-secomofomentoaofortalecimentodabiodiversidadeequalidadedevidaequerevelama(in)existênciadeumagestãopúblicaambientalnosmunicípiosvisitados.
Ficou evidenciado que historicamente a pasta do “meio ambiente” não tem umorçamentopróprioeumprogramaparticularinstituídonaLOA,naLDOenoPPA.Poranos,consolidou-seaculturadeumagestãopúblicaalheiaàspreocupaçõesambientais.
Masesteestudosinalizouatendênciaparaaemergênciadeumapolíticaambientallocal,tendosidodetectadomovimentosparaacriaçãoe/oureativaçãodeconselhosmunicipaisdemeioambiente,etambémcriaçãodedepartamentosousecretariasespecíficasparaestapasta. Muitos gestores públicos revelaram que estão afetados pelas “pressões políticasambientais”,mobilizando-osparainstituiraçõesnestecamponosmunicípios.Entretanto,éummovimentoaindaincipiente,masqueseconstituicomoumaoportunidade.
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Chama-se atenção para a necessidade de ampliar a abordagem desta temática“ambiental”. Não necessariamente ela se realiza como uma pauta isolada e autônoma.Tambémpodeserconsideradademodotransversalàsaçõesnoscamposdasaúde,educação,agricultura,turismo,lazeretc.
Nosmunicípiosvisitadosobservou-sequenãoháumasecretariademeioambienteespecífica.EmChapadadosGuimarãeséumaSecretariadeTurismo,CulturaeAmbiente;emBarradoBugresé aSecretariade Indústria,TurismoeAmbiente; emComodoro,osassuntos ambientais fazem parte da Secretaria deAgricultura eAmbiente e em SapezalépartedaSecretariadeDesenvolvimentoEconômico.Tal fato sinaliza a importânciadeconstruiraçõesambientaisemparcerias,aproximando-seasdiversassecretariasquepodemestarenvolvidas,deacordocomocontextolocaldagestãopúblicadopoderexecutivo,bemcomoressaltandoqueaaplicaçãodosrecursosdoICMSEcológicopodemtambémvisarmuitasaçõesnamelhoriadaqualidadedevidadosmunicípiosenãoapenasnasTIseUCsaindaquesejamoriundosdapresençadestas.
Neste universo de “secretarias”, há, portanto, a oportunidade de expandirintervençõesnapastadeindústria,agriculturaeturismo,fomentandoatransversalidadedaquestãoambientaleaotimizaçãodasáreasprotegidasparageraçãodeempregoerenda.
Oexercíciodo“controlesocial”éumimportantefatorparaofortalecimentodosinstrumentoslegaisnavidacotidiana.OestudosinalizouquealegislaçãoemtornodoICMSEcológicotempoucarepercussãopública,destacandonestecasoodesconhecimentodealgunsvereadores e atémesmode gestores e funcionários públicos ligados aomeio ambiente. Istotambémreforçaanecessáriaeadequadadivulgaçãodestapolíticapúblicajuntoaosgestores.
Odiagnósticoapontou,paralelamente,queas lideranças indígenasemgeral têmciênciadequeexisteICMSEcológico,emboranemsemprecomaclarezadecomoelesejaregulamentadoeexecutado.Entreasliderançasdosváriospovosentrevistadas,evidenciou-seumarecorrência:apercepçãodequeorecursotemqueseraplicadonasterrasindígenas.Nosmunicípiosvisitados,destacou-sequeasliderançasindígenastêmsidoosúnicossujeitosqueparticipamdagestãopúblicanosentidodecobraraçãodopoderexecutivo.Issopodesercompreendidocomoum“controlesocial”,mascomressalvasporqueelestendememterciênciasomentedepartedesterecurso,correspondenteàquelaqueérepassadadaprefeituraparaasassociações.OutrarecorrênciaéofatodequeospovosnãotêmainformaçãodaquantiatotaldeICMSEcológicoqueaprefeituramunicipalrecebe.
Oestudosinalizoutambémqueosindígenasqueremparticipardagestãodorecursode ICMSEcológico,mas amaneira como isto está acontecendo precisa ser qualificada.Não se reconhece um fortalecimento do ICMS Ecológico quando os gestores públicosnão percebem que o repasse, necessariamente, é de parte deste recurso, e tampouco seorientam por diretrizes políticas ou programas socioambientais para aprovar os repassesfeitosàsassociaçõesindígenas.AssumiroureorientaraclarezadequemuitosinvestimentosemTIspodemserrealizadoscomosrecursosdoICMSEcológicofavorecenãoapenasatransparênciaeodiálogonoâmbitodocontrolesocial,maspropiciamaioresvantagensparaoprópriomunicípionaarrecadaçãodefontesorçamentáriasapartirdosregistrosdesuasdemandaseiniciativasnocampoambiental.
Entretanto,sublinha-seocaráterambíguodestasexperiênciasquandoosprojetosdos povos indígenas são voltados para fortalecer a biodiversidade e tradições culturais,visandoaofortalecimentodasterrasindígenas.Nemosvereadores,nemopoderexecutivofiscalizamasações.Somenteécontroladaaprestaçãodecontadorecursopúblicorepassado.Deoutro lado,as lideranças indígenasnãoexercemo“controlesocial”daoutrapartedorecurso.O diagnóstico sinalizou a oportunidade de qualificar este “controle social” e ascondiçõesdeumagestãoparticipativadoICMSEcológico.
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Não há uma força política da sociedade civil que coloque em pauta a gestãodestes recursos, o que favorece a continuidade de sua destinação alheia às questõessocioambientais.Porém,é importante salvaguardarqueaquestãoambientaléumapautaposta por lideranças da sociedade civil emChapada dosGuimarães.Tem sido discutidanasplenáriasainadequaçãodosistemadecoletadelixodomésticoehospitalar,edesuadestinação,enfatizandoanecessidadedeumnovoaterrosanitário.Emoutrosmunicípios,assuntos ligadosao saneamentoambiental tambémsepresenciamnas sessõesdacâmaradevereadores.Entretanto,estesassuntosnãosãovinculadosaoICMSEcológico,quandopoderiamser.Issotambémpodeserentendidocomoreflexodapoucaounulaparticipaçãodasociedadecivilnasplenáriaseaudiênciaspúblicasvoltadasaoorçamentoparticipativo.Entre os indígenas, aliás, foi recorrente também o desconhecimento da política públicaligadaàLOA,àLDOeaoPPA.
Oestudodestacaoindicativodequeasaudiênciaspúblicas,assessõesdacâmaradosvereadoressãoestratégicaspara fomentarumprogramasocioambientalvinculadoaoICMSEcológico.
Neste diagnóstico, evidenciou-se a íntima relação do ICMS Ecológico com aadministraçãopúblicaecomarealidadedareceitamunicipalcomoumtodo.FoirecorrenteentreosgestorespúblicosdopoderexecutivoafirmarqueagrandeporçãodoICMSEcológicoédestinadaàsdespesascomsaúdeeeducação,enaltecendoainsuficiênciadorecursofederaltransferido,particularmenteoFundeb.Interessanteonãodestaquecomaçõesnosetordeassistênciasocial(quetemumrepasseespecífico,bembaixo,aliás),transporteoucomércioeserviços.Outrasdespesasapontadasforamcomaluguéisdosprédiosocupadosparaaofertadeserviçospúblicos,ascontasdetelefone,água,energia,combustíveleparaasempresasqueprestamassessoriaàsprefeituras.EstaapreensãodoICMSEcológicocomo“geraçãodereceitas”foidetectadaemoutrosestudossobreotema,destacandoodeSantos;Mello;Souza(2013)eoutrofeitopeloICV.Entretanto,ressente-seaindaafaltadeumestudomaisaprofundadosobreesteaspecto.
Neste diagnóstico, emparticular, vários apontamentos apareceram, contribuindopara uma maior abrangência e aprofundamento desta dimensão da receita própria domunicípio,tecendorelaçõescomadinâmicadaadministraçãopúblicaecomospontosdevistadosgestorespúblicos.Ressalta-seaquiaimportânciadoeixoteórico-metodológicoqueconsideraossentidosesignificadosorientadoresdasações.Diversossãoosapontamentosfeitosaolongodesterelatório,destacandoalgunsdelesabaixo.
Parasalvaguardarabiodiversidadeháatendênciaematribuirmaisvaloràsáreasprotegidassempresençaefetivadecomunidadehumana,fortalecendoaquelaconcepçãodequeconservaréisolarasociedadedanatureza.HáexpressãodestadimensãonalegislaçãodoICMSEcológicoporquequantomaiorarestriçãodeusonosolo,maioréofatordecorreçãonocálculodoíndiceUC/TI.MasestapercepçãonãoéexplicativadecomoapolíticapúblicadoICMSEcológicofoiconcebida.Outrasperspectivascoexistemeprecisam,inclusive,termaisvisibilidadeparaaelaboraçãodeumprogramasocioambientale/ouparaaadministraçãopública.
Está em questão também a consolidação daquele modelo de desenvolvimentoeconômico protagonista da alteração ecológica desenfreada e indiscriminada. Restaurar,recuperareprotegeroambienteenvolve, imprescindivelmente,asdimensõeseconômicase culturais. Precisa ganhar relevo esta questão do modelo de desenvolvimento e, nestesentido,enfatizarasalternativaseconômicasarticuladasàconservaçãodabiodiversidade.Nesteparticular,ossabereseastecnologiastradicionaispoderiamigualmenteganharmaisdivulgação.Atenta-se,principalmente,naInstruçãoNormativaN°001de05demaiode2010quandoseexplicitaoestímuloaoecoturismoeàstecnologiasdebaixoimpacto,notadamentenoentornodasáreasprotegidas.Portanto,háaperspectivadoICMSEcológicoconstituir-
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setambémcomoumincentivoàagroecologia.Issopoderiasermaisdivulgadoereforçadonosdiscursosemtornodestapolíticapública,oquenãosereconhecenosestudossobreestetema.Aocupaçãonoentornodasterrasindígenasnãoéumproblemaemsimesmo,masomodelodeocupaçãoqueseinstaura.
Nesta oportunidade, há alguns estudos sobre o ICMSEcológico que reiteramodiscursodoICMSEcológicocomoumacontraprestaçãopornãodesmatarabiodiversidade.Estaabordagem tendeaodestaquedadimensãocompensatória,bemcomodestapolíticapúblicaconfigurar-secomouminstrumentoeconômicocomplementaràquelesdecomandoecontroledeoutrosrepertórioslegislativos.Issopodeserreconhecidoinclusivenostextosesitesespecializadosnestatemática.
Essediscursopodeserperigoso,poisrestringepossibilidades:ouéáreaprotegidaouéáreaparaaagropecuária.Aagroecologia,oecoturismo,aeducaçãoambientaleatividadesafinspodemdesdobrar-secomoindicadoresdeummodelodedesenvolvimentoeconômicoarticuladoàbiodiversidade.Porquenãosecalculaocustodeoportunidadedestasatividadeseconômicas? Enfatizar o modelo de desenvolvimento da agricultura familiar é um focopossívelparaqualificarumagestãosocioambientalmunicipal.Seriainteressantedesenvolvermaisestudosdascontribuiçõesdosserviçosaelarelacionadosparaareceitamunicipal.Emalgunsmunicípios,oecoturismoéoutraoportunidadeasermaisexplorada,investigandoassuaspotencialidadesdedesenvolvimentosocioeconômico.DessemodoéprecisosuperaraperspectivadeoporTIs/UCseagronegóciocomonecessariamenteexcludentesentresi.
Ao longodestediagnósticoobservou-sequenão é fatooPIBdeummunicípioter como maior contribuição receitas decorrentes da agropecuária, pondo em questão odiscursodacondiçãosine qua nondestaatividadeserareferênciaabsolutadascondiçõesdedesenvolvimentosocioeconômicodeumapopulação.Estaavaliaçãocríticatambémpodeser encontrada emoutros estudos sobreo ICMSEcológico.Estediagnóstico reitera estaperspectivaesinalizaqueseriaprecisoumestudomaisprofundoparacapturarquaissãoosaspectosquedesencadeiamumdesenvolvimentoeconômico,bemcomoreavaliaroqueéconsideradocomo“desenvolvimento”.Foramagrupadasalgumas informações levantadassobrecadamunicípioafimdedarmaiorvisibilidadeàdimensãosocioeconômicapresentenoICMSEcológico.
Município Extensão (ha) População Receita Municipal IDS-M Área protegida (ha)
B. Bugres 536.080,73 31.058 58.055.181,14 0,557 27.521,19
Brasnorte 1.595.933 15.280 35.444.180,59 0,582 377.210,79
Chapada G. 651.182,22 17.799 34.714.025,51 0,534 151.651,64
Comodoro 2.174.336 18.157 40.359.249,45 0,430 1.364.334,90
Sapezal 1.359751 18.080 57.554.211,35 0,657 481.077,90
Tabela 17: Fonte: IBGE, 2010; SEMA-MT, 2012; TCE-MT, 2012.
Observa-se que as receitasmunicipais deBarra doBugres e Sapezal, em 2012,têmvalorespróximos.Issonãotemrelaçãoproporcionaldiretacomaextensãoterritorialdeáreaprotegida.MaséconsiderávelqueSapezaltenhaumtamanhobemmaiorqueBarradoBugres,havendoumaconcentraçãodeterrasparaaagropecuária,oque,aocontráriododiscursorecorrente,nãocontribuiparaareceitamunicipal.OIDS-MdeSapezal(2009)é0,657eodeBarradoBugreséumpontoabaixo.EmBrasnorte,asuperfícieterritorialémaiorqueSapezal,ademais,aextensãodeáreaprotegidaemBrasnorteémenorqueaqueladeSapezal.Aindaassim,oIDS-MdeBrasnorteestáabaixododeSapezal.Équestionávelodiscurso,portanto,dequeáreaprotegidaatrapalhaodesenvolvimentoeconômico.
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Gráfi co 26: Retratos das receitas dos municípios visitados
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Extensão (ha)
População
Receita Municipal
IDS-M
Área Protegida
Fonte: AMM, 2012; SEMA-MT, 2012.
EmComodoro, notadamente, foi reconhecido que a agropecuária não contribuiparaareceitatributárialocal.Apareceuumaavaliaçãocríticadequeasrendasgeradasportaisatividadesvãoparaforadomunicípio,comprometendoareceitalocal.Valeriaapenainvestigarestapercepção, fundamentandoestaargumentaçãoa favordeoutromodelodedesenvolvimentofavorávelaoaumentodareceitaequalidadedevidalocal.AtémesmoemSapezalouviu-sedeumtécnicoqueaprefeituraprecisarompercomoincentivoefomentoàagriculturadegrandeescala,argumentandoqueelestêmautonomiaemuitosincentivos.Em seu discurso, apareceu a percepção de que os chacareiros locais poderiam sermaisbeneficiadospelaadministraçãopública.Entretanto,aespeculaçãonovalordaterraéumobstáculoparaaexpansãodestemodelosocioeconômico.
NoâmbitodapolíticapúblicadoICMSEcológicofoienfáticaa importânciadouniverso da receita municipal das prefeituras. Isso dá margem para outras perspectivasdiscursivas, explorando mais os estudos sobre a contribuição dos setores de indústria,agropecuária, agricultura familiar, agroextrativismo, agroindústria, serviços, comércio naarrecadaçãodeimpostosegeraçãodeempregoerendaàsfamílias.
Oestudoconstatouque,entreosmunicípios,hádesigualdadedevaloresdeICMSEcológico recebido, as capacidades orçamentárias anuais são desiguais, bem como sãodistintos os cenários da degradação ambiental e das demandas de uma gestão ambientalqualificada.Sobaperspectivaquantitativa,asuacapacidadedecontribuirparaasreceitasmunicipaisébastanteheterogênea.
ÉimportanteconsiderarasalteraçõesdaLeiComplementarN°157de20.01.2004.Nela foi priorizado o critério do coeficiente social, sendo ele baseado no Índice deDesenvolvimentoHumano(IDH), tambémaumentoudopercentualdocritériopopulaçãode2%para4%.Considerandooprincípiodaproporcionalidade,adesigualdadeacentua.
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Critério Receita Tributária Própria População Extensão
TerritorialCoeficiente
Social UC/TI Total
Percentual 4 4 1 11 5 25
Sublinha-se a importância dada ao critério de coeficiente social, o que significalegitimaroIDH,quenãocapturaasdesigualdadessociais.Ficaapontadaanecessidadedefavorecerainstituiçãodeoutroíndiceparamensuraraqualidadedevidadeummunicípio,fortalecendo mutuamente a proposta do ICMS Ecológico.Ao longo do relatório foramsistematizadasinformaçõesquecomparamaconcentraçãoderendaeoIDS-Mdealgunsmunicípios,reiterando-seanecessidadedequestionaroqueé“desenvolvimento”.
OutrodestaqueéofatodequenãoháumacontaespecíficadeICMSEcológicoparaatransferênciaderecursosfeitapelaSefazaosmunicípios.Aindaassim,deveserressaltadoqueorecursoéconcebidoecalculadoespecificamente,aprefeiturasabequaléacotaligadaaoICMSEcológico,podendoconceberumplanodegestãoaelaligado.Ofatodereceber“misturado”nãojustificaanãoaplicaçãoderecursosnumaaçãosocioambiental.Associadaaisso,chama-seatençãoparaaausênciadeumalegislaçãoqueregulamenteaprestaçãodecontaespecíficadeste recurso recebido.OTribunaldeContasdoEstadocobraprestaçãodecontaespecíficadosrecursosfederaispagosaomunicípioligadosàsaúdeeàeducação,e jamais se posicionou fiscalizando a destinação do ICMSEcológico, desfavorecendo atransparênciadecomoestãosendogastostaisrecursos,afetandonegativamenteoexercíciodocontrolesocialsobreapolíticapública.
OdiagnósticotambémobservouarecorrênciadaargumentaçãodequeomunicípiorecebedordosrecursosdoICMSEcológiconãotemobrigaçãoemaplicá-losnamanutençãodasUCseTIs.Numgovernodemocrático,estáemquestãoobservarestaautonomiasobopontodevistadaparticipaçãosocial.Apartirdasexperiênciasdetectadasnesteestudo,evidenciou-sequesepodecriarlei,sim,obrigandoomunicípioadestinarosrecursosparaaçõesemáreasprotegidas,desdequesejaumadeliberaçãoocorridaentreosgestorespúblicoslocaisjuntoàparticipaçãosocial,sobopontodevistadeconservarabiodiversidade.Nestepontoemparticular,osmunicípiosChapadadosGuimarãeseCurvelândiaelaboraramumaleimunicipalparatalfinalidade.
Ademais, detectaram-se outros mecanismos legais para destinação de parte doICMSEcológicorecebidopelomunicípio.EmBarradoBugreséumtermodeajustamentode conduta (TAC)originadodoMinistérioPúblicoEstadual; emComodoro,Brasnorte eSapezaléanualmenteaprovadaumaleimunicipalnacâmaradosvereadoresque“AutorizaoPoderExecutivoacelebrarConvêniocomaAssociaçãoIndígena”.Odiagnósticocontribuienfaticamente para explicitar a vigência destesmecanismos, detalhando-os e oferecendoumainterpretaçãoanalíticaquepõeemriscoestaabordagemrecorrentedeque“aleinãoobrigaretornarorecursoparaasTIs”.
Somadoaisso,éimperativodopoderexecutivodeterminaradestinaçãodosrecursosdoICMSEcológico.Estefenômenoosciladeacordocomoperfildoprefeitocondicionandoasuaaberturaparaumdiálogoedeliberaçãojuntoàsliderançasindígenasque,porsuavez,édecaráter subjetivoenãopropriamenteaexpressãodeumaposiçãopolíticadiantedotemaICMSEcológico.Aindaqueopoderlegislativosejarelevantenatomadadedecisão,destaca-seacentralidadedadeterminaçãodopoderexecutivo.
Atéentão,osdiálogospioneirosparaumacordoenvolvem lideranças indígenaseprefeito,masaforçaqueimpulsionaasperspectivasdeatuaçãodospoderesestataiséapresençadas lideranças indígenasexprimindoos seus interesses societários.A iniciativa,
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portanto,nãotempartidodosgestorespúblicos.Osvereadores,comumente,nãooferecemresistência.Enfatiza-seaquioutracontribuiçãodessediagnóstico,detalhandoasarticulaçõesemvigênciapara a incipiênciadeumagestãoparticipativa,possibilitandoconhecerumaimportantedimensãodaimplementaçãodestapolíticapúblicanoestadodeMatoGrosso.
Em diversos estudos sobre o ICMSEcológico emMatoGrosso, é recorrente aênfasenoaspectodequeatéhojeadimensãoquantitativadeterminaaquantiaderecursopagoaosmunicípios,desfavorecendorealizar-secomoumincentivofiscalparaumagestãosocioambiental mais qualificada (SANTOS, MELLO, SOUZA, 2013; TOCANTINS,GUITTE,2010;PIMENTEL,FURLAN,2011).Atendênciadaanáliseinterpretativademuitosestudosnestetemaéenveredarparaanecessidadedecriarcritériosqualitativos,tornandocalculávelasituaçãodeconservaçãodasáreasprotegidas.Credita-seaelesapotênciadeincentivarprogramassocioambientaisnagestãopúblicaàmedidaqueaaplicaçãodecritériosqualitativosdesencadeariaadiminuiçãodacotadeICMSEcológicorecebido,sobretudonosmunicípiosemqueosconflitossocioambientaisseimpõem(op.cit.).
Deacordocomestaabordagem,ficasinalizadaaimportânciadeexigirocumprimentoda InstruçãoNormativaN° 001 de 2010 da SEMA, notadamente quanto à instalação daCâmaraTécnica,afimdedeliberaroscritériosqualitativos.Resgata-sequeháumaportariajáelaborada,esperandoadecisãodosecretáriodaSEMA.Registra-setambémintençãodoTCE-MT criar uma comissão permanente para discutir assuntos ambientais, entre eles oICMSEcológico.Nestaoportunidade,acrescenta-sequeumatécnicadoTCE-MTafirmouquenãofiscalizaasdespesasdoICMSEcológicopagoosmunicípiosporque“nãoexiste”oICMSEcológico,“nuncanenhummunicípiorecebeuICMSEcológico”eque“OTCE-MTtrabalhaemcimadalei,enãoestáregulamentado,nãoéaplicável”.
Contudo,estediagnósticopromoveuoaprofundamentointerpretativodorepertóriolegislativo,eentretantasoutrascontribuições,eledámaiorvisibilidadeaomodocomoestásendoimplementadooICMSEcológiconoestadodeMatoGrosso.
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Foto: Andreia Fanzeres/arquivo pessoal
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Rio Cravari Foto: Andreia Fanzeres/OPAN
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Floresta amazônica na Terra Indígena Myky. Foto: Flavio Souza/OPAN
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APÊNDICE A: Lista de municípios com e sem áreas protegidas
A) Municípios com terra indígena somente:
AltoBoaVista,BarradoBugres,BomJesusdoAraguaia,Brasnorte,Campinápolis,CampoNovodoParecis,Camposde Júlio,CanaBravadoNorte,Canarana,Comodoro,Confresa,ConquistaD´Oeste,FelizNatal,GaúchadoNorte,GeneralCarneiro,GuarantãdoNorte,Juara,Luciara,Matupá,MirassolD´Oeste,Nortelândia,NovoSãoJoaquim,NovaMarilândia,NovaNazaré,PeixotodeAzevedo,PortoAlegredoNorte,Poxoréu,Querência,RibeirãoCascalheira,Rondolândia,SantaTerezinha,SãoFélixdoAraguaia,SãoJosédoRioClaro,SapezaleTapaborã.
B) Municípios com terra indígena e unidade de conservação
ÁguaBoa,AltoParaguai,Apiacá,Aripuanã,BarãodoMelgaço,BarradoGarças,Cáceres,Cocalinho,Colniza,Cotriguaçu,Diamantino, Juína,Marcelândia,Nobres,NovaLacerda,NovaXavantina,Paranatinga,PedraPreta,PlanaltodaSerra,PonteseLacerda,PortoEspiridião,Rondonópolis,SantoAntôniodoLeverger,SãoJosédoXingu,TangarádaSerraeVilaBeladeSantíssimaTrindade.
C) Municípios com unidade de conservação somente
AltaFloresta,AltoAraguaia,AltoTaquari,CampoVerde,ChapadadosGuimarães,Cláudia, Cuiabá, Curvelândia, Guiratinga, Jaciara, Lucas do Rio Verde, Nova Brasil,NossaSenhoradoLivramento,NovaBandeirantes,NovaCanãadoNorte,NovaMaringá,NovaMutum,NovoMundo,NovoSantoAntônio, Poconé,PonteBranca, PortoEstrela,Ribeirãozinho,RosárioD´Oeste,SantaCruzdoXingu,SantoAntôniodoLeste,Sorriso,SantaRitadoTrivelato,TesouroeVárzeaGrande.
D) Municípios sem o repasse de ICMS Ecológico
Acorizal,AltoGarças,Araguaiana,Araguainha,Araputanga,Arenápolis,CanabravadoNorte,Castanheira,Carlinda,Colíder,Denise,Figueirópolis,GlóriaD´Oeste,IpirangadoNorte, Indiavaí, Itanhangá, Itaúba, Itiguira, Jangada, Jauru, Juruena, Juscimeira,LambariD´Oeste,Mirassol D´Oeste, Nova Guarita, NovaMarilândia, NovaMonteVerde, NovaOlímpia, Nova SantaHelena, NovoHorizonte doNorte, Paranaíta, Pontal doAraguaia,PortodosGaúchos,PrimaveradoLeste,ReservadoCabaçal,RioBranco,SaltodoCéu,SantaCarmem,SantoAfonso,SãoJosédoPovo,SãoJosédoRioClaro,SãoJosédosQuatroMarcos,SãoPedrodeCipa,SerraNovaDoutrada,Tabaporã,Tapurah,TerraNovadoNorte,Torixoréu,UniãodoSul,ValedeSãoDomingos,VeraeVilaRica.
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Estação Ecológica Serra das Araras. Foto: Andreia Fanzeres/arquivo pessoal
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APÊNDICE B:Terras indígenas reconhecidas juridicamente em Mato Grosso
N° Terra Indígena Situação Jurídica Municípios 1 Apiaká do Pontal Identificada Apiacás2 Apiaká-Kaiabi Registrada Juara 3 Arara do Rio Branco Registrada Aripuanã, Colniza4 Areões Registrada Água Boa, Nova Nazaré 5 Aripuanã Registrada Aripuanã, Juína 6 Baia do Guató Declarada Barão do Melgaço, Poconé7 Bakairi Registrada Paranatinga 8 Batelão Declarada Tabaporã 9 Batovi Registrada Paranatinga, Gaúcha do Norte10 Cacique Fontoura Declarada Luciara, São Félix do Araguaia 11 Capoto Jarina Registrada P. de Azevedo, São José do Xingu12 Chão Preto Registrada Campinápolis
13 Enawenê Nawê Registrada C. N. Parecis, Comodoro, Juína, Sapezal
14 Erikbaktsa Registrada Brasnorte 15 Escondido Registrada Cotriguaçu 16 Estação Parecis Identificada Diamantino, Marilândia, Nortelândia17 Estivadinho Registrada Tangará da Serra 18 Figueiras Registrada Barra do Bugres 19 Irantxe Registrada Brasnorte 20 Japuíra Homologada Juara 21 Jarudore Registrada Poxoréu22 Juininha Registrada Pontes e Lacerda, Conquista Oeste23 Karajá de Aruanã II Registrada Cocalinho 24 Kawahiva do Rio Pardo Identificada Colniza 25 Lagoa dos Brincos Registrada Comodoro 26 Manoki Declarada Brasnorte27 Marãiwatséde Registrada Alto Boa Vista, São F.do Araguaia28 Marechal Rondon Registrada Paranatinga
29 Menkragnoti Homologada Matupá, P. de Azevedo, S. Félix do Xingu (PA), Altamira (PA),
30 Menku Registrada Brasnorte 31 Merure Registrada Barra do Garças, General Carneiro32 Nambiquara Registrada Comodoro, Pontes e Lacerda33 Panará Homologada Guarantã do Norte, Altamira (PA)34 Parabubure Registrada Água Boa, Campinápolis 35 Pareci Registrada Tangará da Serra
36 Parque do Xingu Registrada
Canarana, Paranatinga, São Félix do Araguaia, F.Natal,
G.do Norte, Marcelândia, N.Ubiratã, Querência, São José do Xingu
37 Parque Indígena do Aripuanã Registrada Aripuanã, Juína, Vilhena (RO)38 Paukalirajausu Identificada Pontes e Lacerda
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Foto: Forest Comunicação
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107 N° Terra Indígena Situação Jurídica Municípios 39 Pequizal Registrada Vila Bela da Santíssima Trindade40 Pequizal do Naruvôtu Declarada Canarana, Gaúcha do Norte 41 Perigara Registrada Barão de Melgaço 42 Pimentel Barbosa Registrada Canarana, Ribeirão Cascalheira 43 Pirineus de Souza Registrada Comodoro 44 Piripicura Portaria Restrição Aripuanã
45 Ponte de Pedra Declarada Campo N. Parecis, S. José do Rio Claro
46 Portal do Encantado Declarada Pontes e Lacerda, Porto Espiridião, Vila Bela da Santíssima Trindade
47 Rio Formoso Registrada Tangará da Serra
48 Roosevelt Registrada Aripuanã, Pimenta Bueno (RO), Espigão do Oeste (RO)
49 Sangradouro / Volta Grande Registrada General Carneiro, Novo São Joaquim, Poxoréu
50 Santana Registrada Nobres 51 São Domingos Registrada Luciara, São Félix do Araguaia52 São Marcos Registrada Barra do Garças
53 Sararé Registrada Mirassol D´Oeste, P. e Lacerda, Vila Bela da Santíssima Trindade
54 Serra Morena Registrada Juína
55 Sete de Setembro Registrada Aripuanã, Cacoal (RO), Espigão do Oeste (RO)
56 Tadarimana Registrada Pedra Preta, Rondonópolis57 Taihantesu Registrada Comodoro 58 Tapirapé / Karajá Registrada Luciara, Santa Terezinha59 Terena Gleba do Iriri Registrada Matupá
60 Tereza Cristina Declarada. Revisão Santo Antônio do Leverger
61 Tirecatinga Registrada Sapezal 62 Ubawawe Registrada Novo São Joaquim63 Uirapuru Declarada Campos de Júlio e Nova Lacerda64 Umutina Registrada Barra do Bugres
65 Urubu Branco Registrada Confresa, Santa Terezinha, Porto Alegre do Norte
66 Utiariti Registrada Campo Novo do Parecis, Sapezal 67 Vale do Guaporé Registrada Comodoro, Vila Bela 68 Wawi Registrada Querência69 Zoró Registrada Rondolândia, Aripuanã
Tabela 1: Terras Indígenas, situação jurídica e municípios onde estão situadas. Fonte: CIMI, 2011; ISA, 2013.
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Cachoeira das Andorinhas e Dardanelos, em Aripuanã no ano de 2007, antes da construção da Usina Hidrelétrica de Dardanelos.
Foto: Andreia Fanzeres/arquivo pessoal
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110 Flor do Cerrado na Terra Indígena Irantxe.
Foto: Laércio Miranda/OPAN
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Terra Indígena Jarudore Andreia Fanzeres/arquivo pessoal
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