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IMIGRANTES E SEGURANA SOCIALEM PORTUGAL
JOO PEIXOTO (COORD.)CAROLINA MARALO
NANCY C. TOLENTINO
(2) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
Biblioteca Nacional de Portugal - Catalogao na Publicao
Imigrantes e segurana social em Portugal/ coord. Joo Peixoto, Carolina Maralo, Nancy C. Tolentino. (Estudos OI; 49)ISBN 978-989-685-044-9I PEIXOTO, JooII MARALO, CarolinaIII TOLENTINO, Nancy CuradoCDU 364 314
PROMOTOROBSERVATRIO DA IMIGRAO
www.oi .ac id i .gov.pt
COORDENADOR OI ROBERTO CARNEIRO
AUTORESJOO PEIXOTO (COORD.)
CAROLINA MARALONANCY C. TOLENTINO
EDIOALTO-COMISSARIADO PARA A IMIGRAO E DILOGO INTERCULTURAL (ACIDI, I.P.)
RUA LVARO COUTINHO, 14, 1150-025 LISBOATELEFONE: (00351) 21 810 61 00 FAX: (00351) 21 810 61 17
E-MAIL: ac id i@acid i .gov.pt
EXECUO GRFICAPROS PROMOES E SERVIOS PUBLICITRIOS, LDA.
PRIMEIRA EDIO 750 EXEMPLARES
ISBN978-989-685-044-9
DEPSITO LEGAL337488/11
LISBOA, DEZEMBRO 2011
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (3)
NDICE GERAL
NOTA DE ABERTURA 13
NOTA DO COORDENADOR 15
PREMBULO 19
IMIGRANTES E SEGURANA SOCIAL EM PORTUGAL 23
AGRADECIMENTOS 25
INTRODUO 27
1. OBJETIVOS 27
2. METODOLOGIA 29
3. ESTRUTURA 33
CAP.1. O SISTEMA DE SEGURANA SOCIAL E A IMIGRAO 35
1. SISTEMA DE SEGURANA SOCIAL 35
1.1. BREVE HISTRIA DA SEGURANA SOCIAL EM PORTUGAL 36
1.2. O SISTEMA DE SEGURANA SOCIAL ATUAL 39
1.3. REGIMES DE SEGURANA SOCIAL 44
1.3.1. Vinculao e inscrio 44
1.3.2. Contribuio e quotizao 49
1.3.3. Prestao 50
1.4. OUTROS MECANISMOS DE PROTEO SOCIAL 57
2. SEGURANA SOCIAL E IMIGRANTES 58
2.1. SEGURANA SOCIAL E DIREITOS DOS ESTRANGEIROS EM PORTUGAL 58
2.1.1. Princpios gerais 58
2.1.2. Poltica de integrao e segurana social 60
2.2. PRINCIPAIS INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS DE SEGURANA SOCIAL 61
2.3. COORDENAO INTERNACIONAL DA SEGURANA SOCIAL PORTUGUESA 64
(4) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
2.3.1. Princpios e regras gerais 64
2.3.2. Proteo social nos Estados da Unio Europeia, Espao Econmico Europeu e Sua 67
2.3.3. Acordos bilaterais 71
2.4. IMIGRAO IRREGULAR E SEGURANA SOCIAL 75
CAP.2. OS CONTRIBUINTES ESTRANGEIROS 81
1. CONTRIBUINTES ESTRANGEIROS 81
1.1. TOTAL E NACIONALIDADE 81
1.2. SEXO E IDADE 90
1.3. DISTRITO E REGIO 100
1.4. RAMO DE ATIVIDADE 104
1.5. TIPO DE ENQUADRAMENTO 109
2. A REPRESENTAO DOS ESTRANGEIROS NO SISTEMA DE SEGURANA SOCIAL 117
2.1. TOTAL 118
2.2. NACIONALIDADE E SEXO 125
CAP.3. CONTRIBUIES E PRESTAES 135
1. CONTRIBUIES 135
1.1. REMUNERAES E OUTROS RENDIMENTOS 136
1.2. CONTRIBUIES 141
2. PRESTAES SOCIAIS 150
2.1. PRESTAES DE DESEMPREGO 153
2.2. SUBSDIO POR DOENA 164
2.3. PRESTAES DE MATERNIDADE 169
2.4. PRESTAES FAMILIARES 174
2.5. RENDIMENTO SOCIAL DE INSERO 178
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (5)
3. PENSES 182
3.1. PENSES DE INVALIDEZ 184
3.2. PENSES DE VELHICE 188
3.3. PENSES DE SOBREVIVNCIA 193
4. O SALDO FINANCEIRO DA IMIGRAO 197
CONCLUSO 205
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 219
(6) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Pessoas singulares com remuneraes declaradas / contribuies pagas de 2002 a 2010, por nacionalidades agregadas (total e estrangeiros) 82
Tabela 2. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por nacionalidades desagregadas (total e estrangeiros) 87
Tabela 3. Pessoas singulares com remuneraes declaradas / contribuies pagas de 2002 a 2010, por ano e nacionalidade (total e estrangeiros), segundo o sexo 91
Tabela 4. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por nacionalidades, segundo o sexo, 2002 e 2010 92
Tabela 5. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por ano e nacionalidade (total e estrangeiros), segundo a idade 96
Tabela 6. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por nacionalidades, segundo a idade, 2002 e 2010 98
Tabela 7. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2006, por ano e nacionalidade (total e estrangeiros), segundo as regies/ distritos de residncia (a) 102
Tabela 8. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por nacionalidades, segundo as regies/ distritos de residncia, 2002 e 2010 (a) 103
Tabela 9. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2006, por ano e nacionalidade (total e estrangeiros), segundo os ramos de atividade (a) (b) 107
Tabela 10. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas, por nacionalidade, segundo os ramos de atividade, 2002 e 2006 (a) (b) 108
Tabela 11. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por ano, nacionalidade (total e estrangeiros) e sexo, segundo o tipo de enquadramento 110
Tabela 12. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por nacionalidades, segundo o tipo de enquadramento, 2002 e 2010 - total (a) 111
Tabela 13. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por nacionalidades, segundo o tipo de enquadramento, 2002 e 2010 - homens (a) 112
Tabela 14. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por nacionalidades, segundo o tipo de enquadramento, 2002 e 2010 - mulheres (a) 113
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (7)
Tabela 15. Populao residente e ativa (estimativa) de nacionalidade estrangeira (INE/ SEF) e pessoas singulares de nacionalidade estrangeira com remuneraes declaradas/ contribuies pagas (Segurana Social), 2002 a 2010 119
Tabela 16. Populao ativa e empregada de nacionalidade estrangeira (INE, Estatsticas do Emprego) e pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas (Segurana Social), 2002 a 2010 (milhares de indivduos) 122
Tabela 17. Nmero de pessoas inscritas nos Quadros de Pessoal e trabalhadores por conta de outrem registados na Segurana Social, por nacionalidade (portuguesa/ estrangeira), 2002 a 2010 123
Tabela 18. Comparao entre a populao de nacionalidade estrangeira total e ativa (estimativa) e as pessoas singulares de nacionalidade estrangeira da Segurana Social, por nacionalidades selecionadas, segundo o sexo, 2002 127
Tabela 19. Comparao entre a populao de nacionalidade estrangeira total e ativa (estimativa) e as pessoas singulares de nacionalidade estrangeira da Segurana Social, por nacionalidades selecionadas, segundo o sexo, 2006 128
Tabela 20. Comparao entre a populao de nacionalidade estrangeira total e ativa (estimativa) e as pessoas singulares de nacionalidade estrangeira da Segurana Social, por nacionalidades selecionadas, segundo o sexo, 2009 129
Tabela 21. Montante das remuneraes (declaradas/ contribuies pagas) de 2002 a 2010 por nacionalidades agregadas (total e estrangeiros) (em milhares de ) 137
Tabela 22. Montante das remuneraes (declaradas/ contribuies pagas) de 2002 a 2010 da populao estrangeira, por nacionalidades (em milhares de ) (a) 139
Tabela 23. Montante das contribuies (declaradas/ pagas) de 2002 a 2010 por nacionalidades agregadas (total e estrangeiros) (em milhares de ) 141
Tabela 24. Montante das contribuies (declaradas/ pagas) de 2002 a 2010 da populao estrangeira, por nacionalidades (em milhares de ) (a) 143
Tabela 25. Rcio entre contribuies e pessoas singulares, de 2002 a 2010, por nacionalidades agregadas (total e estrangeiros) (euros por indivduo) 146
Tabela 26. Rcio entre contribuies e pessoas singulares, de 2002 a 2010, por nacionalidades desagregadas (total e estrangeiros) (euros por indivduo) 147
Tabela 27. Montante das contribuies (declaradas/ pagas) de 2002 a 2010 por ano, nacionalidade (total e estrangeiros) e sexo, segundo o tipo de enquadramento 149
(8) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
Tabela 28. Beneficirios com processamento de prestaes de desemprego, subsdio por doena e subsdio por maternidade, titulares com lanamento de prestaes familiares e agregados familiares com rendimento social de insero, por nacionalidade (total/ estrangeiros), 2002 a 2010 151
Tabela 29. Montantes processados com prestaes de desemprego, subsdio por doena, subsdio por maternidade, prestaes familiares e rendimento social de insero, por nacionalidade (total/ estrangeiros), 2002 a 2010 (em milhares de ) (a) 152
Tabela 30. Beneficirios estrangeiros com processamento de prestaes de desemprego por sexo e nacionalidade, 2002 a 2010 155
Tabela 31. Montantes processados de prestaes de desemprego a beneficirios estrangeiros, por sexo e nacionalidade, 2002 a 2010 (em milhares de ) (a) 158
Tabela 32. Valor mdio das remuneraes mensais dos beneficirios com processamento de prestaes de desemprego, por nacionalidade, 2002 a 2010 (em ) - homens e mulheres 159
Tabela 33. Valor mdio das remuneraes mensais dos beneficirios com processamento de prestaes de desemprego, por nacionalidade, 2002 a 2010 (em ) homens 162
Tabela 34. Valor mdio das remuneraes mensais dos beneficirios com processamento de prestaes de desemprego, por nacionalidade, 2002 a 2010 (em ) mulheres 163
Tabela 35. Beneficirios estrangeiros com processamento de subsdio por doena, por sexo e nacionalidade, 2002 a 2010 165
Tabela 36. Montantes processados com subsdio por doena a beneficirios estrangeiros, por sexo e nacionalidade, 2002 a 2010 (em milhares de ) (a) 168
Tabela 37. Beneficirios estrangeiros com processamento de prestaes de maternidade, por nacionalidade, 2002 a 2010 (a) 171
Tabela 38. Montantes processados com prestaes de maternidade a beneficirios estrangeiros, por nacionalidade, 2002 a 2010 (em milhares de ) (a) (b) 173
Tabela 39. Titulares estrangeiros com lanamento de prestaes familiares, por nacionalidade, 2002 a 2010 (a) 176
Tabela 40. Montantes processados com prestaes familiares a titulares estrangeiros, por nacionalidade, 2002 a 2010 (em milhares de ) (a) (b) 177
Tabela 41. Agregados familiares com titular estrangeiro com processamento de rendimento social de insero, por nacionalidade do titular, 2004 a 2010 180
Tabela 42. Montantes processados com rendimento social de insero a titulares estrangeiros, por nacionalidade, 2004 a 2010 (em milhares de ) (a) 181
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (9)
Tabela 43. Beneficirios com processamento de penses de invalidez, velhice e sobrevivncia, por nacionalidade (total/ estrangeiros), 2002 a 2010 183
Tabela 44. Montantes processados com penses de invalidez, velhice e sobrevivncia, por nacionalidade (total/ estrangeiros), 2002 a 2010 (em milhares de ) (a) (b) 183
Tabela 45. Beneficirios estrangeiros com processamento de penses de invalidez, por nacionalidade, 2002 a 2010 185
Tabela 46. Montantes processados de penses de invalidez a beneficirios estrangeiros, por sexo e nacionalidade, 2002 a 2010 (em milhares de ) (a) (b) 187
Tabela 47. Beneficirios estrangeiros com processamento de penses de velhice, por nacionalidade, 2002 a 2010 189
Tabela 48. Montantes processados de penses de velhice a beneficirios estrangeiros, por sexo e nacionalidade, 2002 a 2010 (em milhares de ) (a) (b) 192
Tabela 49. Beneficirios estrangeiros com processamento de penses de sobrevivncia, por nacionalidade, 2002 a 2010 194
Tabela 50. Montantes processados de penses de sobrevivncia a beneficirios estrangeiros, por sexo e nacionalidade, 2002 a 2010 (em milhares de ) (a) (b) 196
Tabela 51. Contas da Segurana Social relativas populao de nacionalidade estrangeira, 2001-2003 (milhares de euros) 198
Tabela 52. Saldo das contribuies, prestaes sociais e penses de 2002 a 2010, por nacionalidades agregadas (total e estrangeiros) (em milhares de ) (a) 199
(10) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
LISTA DE GRFICOS E FIGURAS
Figura 1. Composio do sistema de segurana social (Lei n. 4/2007, de 16 de Janeiro) 40
Grfico 1. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010 (total e percentagem para o total de contribuintes) 82
Grfico 2. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por nacionalidades agregadas 88
Grfico 3. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por principais nacionalidades 88
Grfico 4. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010 por principais nacionalidades (percentagem para o total de estrangeiros) 89
Grfico 5. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, total e por sexos 93
Grfico 6. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, por sexos (percentagem para o total de estrangeiros) 93
Grfico 7. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, total e por sexos (percentagem para o total de contribuintes) 94
Grfico 8. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, segundo os principais grupos de idade (%) 97
Grfico 9. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, segundo os principais grupos de idade (%) 97
Grfico 10. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2006, por regies de residncia (%) 100
Grfico 11. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2006, por regies de residncia (%) 101
Grfico 12. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2006, por ramos de atividade (%) 106
Grfico 13. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2006, por ramos de atividade (%) 106
Grfico 14. Pessoas singulares com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, segundo o tipo de enquadramento (%) 114
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (11)
Grfico 15. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, segundo o tipo de enquadramento (%) 114
Grfico 16. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, segundo o tipo de enquadramento (%) - homens 115
Grfico 17. Estrangeiros com remuneraes declaradas/ contribuies pagas de 2002 a 2010, segundo o tipo de enquadramento (%) - mulheres 115
Grfico 18. Populao residente e ativa (estimativa) de nacionalidade estrangeira e pessoas singulares estrangeiras com remuneraes declaradas/ contribuies pagas (Segurana Social), 2002 a 2010 120
Grfico 19. Nmero de pessoas inscritas nos Quadros de Pessoal e trabalhadores por conta de outrem registados na Segurana Social, 2002 a 2010 124
Grfico 20. Nmero de estrangeiros inscritos nos Quadros de Pessoal e trabalhadores por conta de outrem estrangeiros registados na Segurana Social, 2002 a 2010 124
Grfico 21. Montante das remuneraes (declaradas/ contribuies pagas) de 2002 a 2010 da populao estrangeira (em milhares de ) 137
Grfico 22. Montante das remuneraes (declaradas/ contribuies pagas) de 2002 a 2010 da populao estrangeira, por nacionalidades agregadas (%) 138
Grfico 23. Montante das contribuies (declaradas/ pagas) de 2002 a 2010 da populao estrangeira 142
Grfico 24. Montante das contribuies (declaradas/ pagas) de 2002 a 2010 da populao estrangeira, por nacionalidades agregadas (%) 142
Grfico 25. Beneficirios estrangeiros com processamento de prestaes de desemprego, 2002 a 2010 (total e %) 154
Grfico 26. Montantes processados com prestaes de desemprego a beneficirios estrangeiros, 2002 a 2010 (milhares de ) 157
Grfico 27. Beneficirios estrangeiros com processamento de subsdio por doena, 2002 a 2010 (total e %) 164
Grfico 28. Montantes processados com subsdio por doena a beneficirios estrangeiros, 2002 a 2010 (milhares de ) 167
Grfico 29. Beneficirios estrangeiros com processamento de subsdio por maternidade, 2002 a 2010 (total e %) 169
Grfico 30. Montantes processados com subsdio por maternidade a beneficirios estrangeiros, 2002 a 2010 (milhares de ) 170
(12) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
Grfico 31. Titulares estrangeiros com lanamento de prestaes familiares, 2002 a 2010 (total e %) 174
Grfico 32. Montantes processados com prestaes familiares a titulares estrangeiros, 2002 a 2010 (milhares de ) 175
Grfico 33. Agregados familiares com titular estrangeiro com rendimento social de insero, 2002 a 2010 (total e %) 179
Grfico 34. Montantes processados com rendimento social de insero a agregados familiares com titular estrangeiro, 2002 a 2010 (milhares de ) 179
Grfico 35. Beneficirios estrangeiros com processamento de penses de invalidez, 2002 a 2010 (total e %) 184
Grfico 36. Montantes processados com penses de invalidez a beneficirios estrangeiros, 2002 a 2010 (milhares de ) 186
Grfico 37. Beneficirios estrangeiros com processamento de penses de velhice, 2002 a 2010 (total e %) 188
Grfico 38. Montantes processados com penses de velhice a beneficirios estrangeiros, 2002 a 2010 (milhares de ) 191
Grfico 39. Beneficirios estrangeiros com processamento de penses de sobrevivncia, 2002 a 2010 (total e %) 193
Grfico 40. Montantes processados com penses de sobrevivncia a beneficirios estrangeiros, 2002 a 2010 (milhares de ) 195
Grfico 41. Montantes processados com prestaes sociais a beneficirios e titulares estrangeiros, 2002 a 2010 (milhares de ) 200
Grfico 42. Montantes processados com penses a beneficirios e titulares estrangeiros, 2002 a 2010 (milhares de ) 200
Grfico 43. Contribuies, prestaes sociais e penses da populao estrangeira, 2002 a 2010 (milhares de euros) 201
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (13)
NOTA DE ABERTURA
Neste ano de 2011, o presente estudo, acerca dos impactos da imigrao na Segurana Social, tem
uma pertinncia estratgica no quadro das polticas de integrao dos imigrantes no nosso pas.
H muito que a questo da sustentabilidade do sistema financeiro da segurana social vem sendo
analisada e discutida na sociedade portuguesa, pese embora, uma das causas por de trs do pro-
blema a baixssima taxa de natalidade da populao portuguesa. Ora a imigrao tem um papel
fundamental na mitigao de ambos os problemas, factos que ainda no tm tido o destaque e o
reconhecimento que merecem.
Os recentes resultados do Recenseamento Geral da Populao de 2011, evidenciam que a popu-
lao residente em Portugal teve um crescimento de cerca de 1,9%, face ao apuramento de 2001,
tendo a imigrao sido fundamental para o crescimento da populao, uma vez que o aumento de
perto de 200 mil pessoas explicada em 91% pelo saldo migratrio positivo.
Note-se que um pas que atinja taxas de natalidade inferiores ao nvel de substituio de geraes
e os pases europeus na sua esmagadora maioria esto abaixo desse limiar - ser um pas em
retrao do seu ativo mais valioso: as pessoas. Ser tambm um pas sem esperana no futuro e
com a particularidade de enfraquecer proporcionalmente a capacidade de interveno dos seus
sistemas de proteo social junto dos mais frgeis, concomitantemente pondo em risco a desejada
coeso social de um territrio.
O que a equipa coordenada por Joo Peixoto nos vem trazer neste livro um precioso contributo
para um olhar mais claro sobre a relao da imigrao com o sistema da segurana social em
Portugal.
Este estudo vem, mais uma vez, ajudar a desconstruir preconceitos e mitos acerca da imigrao,
dando continuidade ao importante papel que o Observatrio da Imigrao tem tido na divulgao
(14) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
de dados cientficos, devidamente avaliados e identificados, no quadro de uma investigao sria
no campo das cincias sociais.
Como demonstrado pelos autores, partindo da inevitvel anlise da relao custo/benefcio,
verifica-se em termos financeiros lquidos, um saldo positivo de 316 milhes em 2010, ou
seja, as contribuies dos estrangeiros so, hoje, superiores s prestaes diferidas, conferindo
um saldo muito positivo para a segurana social de Portugal.
Esta tendncia subsiste, conforme tambm se afere neste estudo, com o facto dos imigrantes
serem um grupo com fragilidade na sua integrao laboral e, genericamente, com um nvel de
rendimentos mais baixo, comparativamente aos nacionais.
Conhecer estes factos, relevante para o debate pblico e para a boa governao das polticas p-
blicas nesta rea. Conhecer estes factos, importante para que o nosso olhar sobre os imigrantes
tenha presente o papel destes, entre outros, para a sustentabilidade do sistema de proteo social
de todos os membros da nossa sociedade.
Uma palavra final de agradecimento equipa do Joo Peixoto, pela importante investigao que,
agora, editamos e ao meu antecessor no cargo de Alto-Comissrio para a Imigrao e Dilogo
Intercultural, Dr. Rui Marques, pela iniciativa de propor este tema to fulcral neste ciclo, agora de
austeridade, que o mundo e o pas enfrentam.
ROSRIO FARMHOUSEALTA COMISSRIA PARA A IMIGRAO E DILOGO INTERCULTURAL
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (15)
NOTA DO COORDENADOR
Os sistemas de segurana social, constituem uma das mais notrias conquistas do Estado Social
da segunda metade do sculo XX, e um pilar indiscutvel do contrato social, tal como o conhe-
cemos e definimos, em sede de direitos e deveres de cidadania perante a sociedade organizada,
que representada pelo Estado.
Nos termos do contrato social celebrado explcita ou implicitamente entre o cidado contri-
buinte e o Estado, este, garante quele a proteo (como contrapartida das suas contribuies
pecunirias) em matrias de doena, parentalidade (nascimento), invalidez, velhice, aposentao
e prestaes de sobrevivncia, acidentes de trabalho, doenas ocupacionais, subsdio por bito,
apoios na situao de desemprego, reforma antecipada e prestaes familiares.
Esta, tem vindo a ser a orientao genericamente traada na maioria dos pases europeus e de-
mocrticos. Acresce que um princpio estruturante de todos os sistemas de segurana social mo-
dernos, o da proporcionalidade entre contribuies e contrapartidas, sob a forma de benefcios
auferidos ao longo da vida e de apoios estatais para enfrentar as vicissitudes que aquela encerra.
O presente estudo, coordenado pelo Professor Joo Peixoto, e integrando na respetiva equipa
Carolina Maralo e Nancy C. Tolentino, uma pea oportuna e muito consistente que, por um la-
do, clarifica o posicionamento que os diferentes grupos estrangeiros tm no sistema de segurana
social portugus e, por outro, avalia as consequncias a curto, mdio e longo prazo, que o maior
ou menor comprometimento que eles manifestam com o sistema pode ter nas suas vidas futuras.
O estudo, aborda dimenses muito relevantes da problemtica geral da segurana social, desig-
nadamente no modo como esta se encontra preparada para atentar na e atender especificidade
da populao imigrante. Assim:
(1) O estudo, analisa a importncia da imigrao para o sistema de segurana social portugus
(16) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
ao longo da ltima dcada, exatamente num tempo em que, na Europa do Norte, se discu-
te o grau em que os imigrantes desgastam a segurana social e/ou so dependentes de
subsdios;
(2) Apresenta resultados objetivos e quantificados, que so bastante importantes para ns, em
especial no contexto de crise que estamos a viver, evidenciando que, no apenas os imigran-
tes em Portugal no esto a depauperar a nossa segurana social como, pelo contrrio, esto
a dar-lhe consistncia e a contribuir para a sua sustentabilidade;
(3) Apesar de haver um processo de ajustamento progressivo ao longo dos ltimos anos, evi-
dencia-se que o nmero de estrangeiros inscritos na segurana social, chegou a ser o dobro
dos valores de ativos e empregados registados nas Estatsticas do Emprego, no princpio da
dcada, e que o nmero de contribuintes estrangeiros inscritos na segurana social, excede
largamente os registados nos Quadros de Pessoal (o que no sucede com os contribuintes
portugueses);
(4) Procede-se, igualmente, de forma exaustiva ao estudo do grau de proteo dos diferentes
grupos estrangeiros em Portugal, das diferentes categorias contributivas, aferindo-se o grau
de cobertura social auferido por cada nacionalidade;
(5) No captulo da anlise da legislao, que enquadra a relao entre os imigrantes e a segu-
rana social, encontra-se informao sistematizada de grande utilidade, tanto mais que a sua
organizao inequivocamente bem desenvolvida, pormenorizada e consistente;
(6) Uma importante concluso do estudo, a de que a insero na economia informal no est
diretamente correlacionada com a segurana social (pelo menos para algumas nacionalida-
des mais recentes e mais qualificadas), tendo sido, alis, a contribuio para a segurana
social sido usada por alguns imigrantes como instrumento para regularizarem a sua situao
no pas.
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (17)
Aproveitamos para relevar duas grandes concluses, merecedoras de especial nfase e de reflexo
aprofundada, pelas suas vastas implicaes sociais e financeiras. So elas:
(1) A desagregao por nacionalidade, traz-nos alguns resultados alarmantes, nomeadamente
para as nacionalidades dos PALOP, sendo o caso mais grave o dos cabo-verdianos, em que
o nmero de inscritos na segurana social representa apenas um pouco mais de metade do
nmero estimado de ativos dessa nacionalidade. Em contrapartida, brasileiros e ucranianos
(ainda que invertidas as respetivas posies a partir de 2009), apresentam taxas de cober-
tura maiores, sempre com tendncia para apresentar maior nmero de contribuintes para
a segurana social que o nmero estimado de ativos. Estas tendncias so preocupantes
para alguns grupos estrangeiros com situaes de proteo muito diferenciadas, em caso de
doena ou na velhice;
(2) O estudo avana com uma estimativa do saldo financeiro da imigrao para a segurana
social em dois anos de referncia: 2002 e 2010. Assim, contabilizando as contribuies
financeiras dos imigrantes (de 433,4 milhes de euros, em 2002, e 580,2 milhes de euros,
em 2010) e deduzindo as despesas associadas s prestaes sociais que auferem (29,9
milhes de euros, em 2002, e 211,6 milhes, em 2010) acrescidas do aumento das penses
de estrangeiros (de 21,6 milhes, em 2002, para 52,6 milhes, em 2010) tendncia,
esta, a que no alheia o contexto de crise e aumento do desemprego, tambm sentido na
populao imigrante com o consequente acesso ao subsdio de desemprego verifica-se um
saldo francamente positivo de 382 e 316 milhes de euros, respetivamente, em 2002 e 2010;
2002 2010
Contribuies financeiras 433,4 milhes 580,2 milhes
Despesa: prestaes sociais 29,9 milhes 211,6 milhes
Despesa: penses 21,6 milhes 52,6 milhes
Saldo do sistema segurana social portugus com os estrangeiros 381,9 milhes 316 milhes
(18) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
Resta-nos apontar duas outras concluses importantes retiradas do estudo, em boa hora levado a
cabo pelos investigadores (passamos a citar):
A proteo social que os imigrantes tm vindo a receber em Portugal, no resulta de uma
estratgia inicial de imigrao virada para a maximizao dos apoios pblicos, argumento
defendido em alguns estados de bem-estar europeus mais avanados, mas de um impacto
mais gravoso da crise e necessidade de proteo (p. 202);
A manuteno de uma corrente sustentada e auto-renovada da imigrao, no futuro, per-
mitir, por sua vez, contrabalanar os efeitos da inrcia demogrfica e manter um refresca-
mento permanente do sistema. (...) A manuteno de um fluxo de imigrao continuado,
poder contribuir para um relativo alvio do sistema, embora a sustentabilidade financeira da
segurana social se situe muito para alm deste contributo (p. 203 - 204).
Em concluso, estamos em presena de um trabalho profundo, cuja leitura essencial plena
compreenso de um dossi difcil, sobre o qual a poltica pblica carece ainda de clarificao.
O Observatrio da Imigrao e o ACIDI, sentem-se muito gratos aos autores e investigadores
que, sob a sbia orientao de Joo Peixoto, levaram a bom porto to robusta investigao que
credora da nossa maior admirao.
ROBERTO CARNEIROCOORDENADOR DO OBSERVATRIO DA IMIGRAO
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (19)
PREMBULO
com enorme satisfao que me associo ao lanamento deste estudo sobre as contribuies dos
imigrantes para a Segurana Social e a relao entre a Imigrao e a Segurana Social. Quero
desde j saudar os autores pelo seu trabalho, que considero essencial para o conhecimento efetivo
do impacto do fenmeno migratrio em Portugal. Alis, permitam-se destacar que foi o XV Governo
Constitucional que, atravs da criao do Observatrio da Imigrao, introduziu a prtica de se
fazerem estudos deste teor.
E o interesse deste estudo, vai muito alm dos resultados numricos que se apuraram, na medida
em que se exploram as especificidades do sistema de Segurana Social portugus, a forma como
o Estado tem procurado, atravs dele, promover a integrao de imigrantes, mas tambm os
modelos internacionais de proteo social e a proteo jurdica comunitria que dada, neste
particular, aos migrantes.
meu entendimento, que o Estado Portugus e a Europa devem acolher bem os imigrantes e
devem inclusivamente, face evoluo demogrfica que se prev, fomentar a imigrao legal.
Naturalmente que compete, tambm, ao Estado e Unio Europeia dissuadir a contratao de
imigrantes ilegais. Mas este estudo recorda-nos que a condio de migrante indocumentado no
impeditiva, em Portugal, para a inscrio no sistema de Segurana Social e que pode mesmo ser
causa para agilizar o processo de legalizao.
Ou seja, num sistema equilibrado para a presso migratria existente, probe-se a contratao
de migrantes indocumentados e penalizam-se os empregadores que os contratem; mas d-se
oportunidade a esses trabalhadores de fazerem descontos e de poderem beneficiar desse mesmo
facto no processo que venham a iniciar de regularizao da sua situao.
(20) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
No posso deixar de salientar alguns dos resultados que se apuraram como indicadores claros de
que, neste momento, e desde h j muitos anos, Portugal ganha com a Imigrao. Para alm dos
ganhos sociais e culturais que a interculturalidade comporta, h ganhos financeiros e econmicos
reais, palpveis, que se tm vindo a consolidar ao longo dos anos.
Considero muito relevante que, em 2010, num cenrio de reduo progressiva das entradas de
imigrantes e de grave crise econmica, as contribuies dos imigrantes para a Segurana Social
tenham tido um saldo positivo de 316 milhes de euros.
Verifica-se uma ligeira diminuio do saldo positivo, resultado do natural aumento dos gastos da
Segurana Social com as prestaes sociais e as penses devidas a imigrantes. Mas, em simult-
neo, houve, tambm, e tem havido sempre, um aumento das contribuies dos imigrantes.
Por isso, este estudo tem, a meu ver, duas grandes potencialidades. Alerta-nos, em primeiro lugar,
para a necessidade de afastarmos a ideia de que a presena de imigrantes afeta negativamente
a economia. uma ideia errada: os imigrantes so, e tm sido desde h longos anos, um dos
sustentculos da nossa economia.
Em segundo lugar, mostra-nos, no aumento dos gastos com prestaes sociais e com penses,
um sinal positivo de boa integrao dos imigrantes no nosso pas. , alis, um sinal que pode
encorajar outros migrantes a seguirem o caminho dos que c esto e a fazerem parte do nosso
tecido produtivo e social nas prximas dcadas.
Na mesma medida em que a imigrao constitui, sem dvida, uma das necessidades prementes
da Europa, para fazer face s necessidades de populao ativa para o prximo sculo, os estudos
sobre os impactos econmicos e financeiros da imigrao constituem uma necessidade para os
que, como eu, acreditam genuinamente nas potencialidades da imigrao.
Assim, renovo a minha saudao aos autores deste estudo e quero encoraj-los a continuar a
demonstrar a excelente oportunidade que a imigrao constitui para Portugal. nesse sentido
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (21)
que o Governo, todos os dias, solidifica uma verdadeira poltica de imigrao, assente em pilares
coerentes, a saber, o da regulao das entradas e o da integrao dos imigrantes.
FELICIANO BARREIRAS DUARTESECRETRIO DE ESTADO ADJUNTO DO MINISTRO ADJUNTO E DOS ASSUNTOS PARL AMENTARES
(22) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (23)
IMIGRANTES E SEGURANA SOCIALEM PORTUGAL
(24) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (25)
AGRADECIMENTOS
Este estudo foi realizado no mbito da parceria entre o SOCIUS (Centro de Investigao em
Sociologia Econmica e das Organizaes), unidade de investigao do Instituto Superior de
Economia e Gesto da Universidade Tcnica de Lisboa, e o Observatrio da Imigrao do ACIDI
(Alto Comissariado para a Imigrao e o Dilogo Intercultural). Em nosso entender, este tipo de
parceria, que resulta da lgica de funcionamento em rede do Observatrio da Imigrao, em muito
tem contribudo para o conhecimento sobre o tema da imigrao em Portugal e, desejavelmente,
para uma melhor governao. A colaborao entre universidades e administrao pblica tem a
virtualidade de incentivar a produo de conhecimento e de dar relevo a investigaes aplicadas,
com possibilidade de melhoria das polticas pblicas. Por este motivo, este exemplo de parceria
bem poderia ser adaptado a outras reas.
Devido a constrangimentos de natureza variada, este projeto apresentou uma durao superior
esperada, tendo o seu incio ocorrido em 2008 e a concluso em 2011. A recolha de informao,
incluindo os dados estatsticos e a legislao relevante, sucedeu, assim, durante esse perodo, o
que colocou algumas dificuldades prticas de compatibilizao de sries estatsticas e de interpre-
tao da legislao, devido sucesso de instrumentos legais. A recolha de informao cessou
em Junho de 2011, sendo por isso os elementos referidos ao longo do estudo vlidos apenas at
essa data.
Devem ser efetuados vrios agradecimentos a quem colaborou, de diversas formas, com o projeto.
Em primeiro lugar, o agradecimento devido ao ACIDI e ao Observatrio da Imigrao. Neste m-
bito devem referir-se Rosrio Farmhouse, Roberto Carneiro e Catarina Reis Oliveira, pela confiana
na equipa do SOCIUS, pela tolerncia perante os repetidos atrasos e pelos comentrios ao estudo
durante a sua execuo; Paula Ferreira, do Gabinete de Estudos e Relaes Internacionais, pelo
apoio no tratamento dos dados relativos ao perodo 2007-2010; e Rute Carvalho, do Gabinete
de Apoio Jurdico do CNAI, pelas observaes acerca dos aspetos jurdicos da segurana social.
(26) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
O agradecimento extensvel a Rui Marques, anterior Alto Comissrio da Imigrao e Dilogo
Intercultural, que esteve na origem direta deste estudo, sendo dele a ideia do projeto e o convite
para a sua realizao.
Em segundo lugar, devemos agradecer a vrias entidades e colaboradores do Ministrio do
Trabalho e da Solidariedade Social (MTSS assim designado na altura do estudo). Deve referir-se
em particular o apoio do Instituto de Informtica do MTSS, em particular de Pedro Rodrigues e Ana
Cristina Veiga, pela cedncia da maior parte dos dados sobre os quais este estudo se baseou e
pela permanente disponibilidade para esclarecer dvidas. Deve ainda mencionar-se o Instituto de
Segurana Social, na pessoa de Lusa Guimares, e o Centro Nacional de Penses, em particular
Jos Barrias.
Em terceiro lugar, um agradecimento devido a Patrcia Baptista, pelo apoio na fase do desenho
inicial do projeto, e a Margarida Carvalho, pelo apoio no tratamento dos dados relativos ao perodo
2002-2006. Finalmente, deve agradecer-se ao SOCIUS, pelo apoio a esta parceria e pelo apoio
administrativo e financeiro.
Apesar de todas estas colaboraes, a responsabilidade pelos erros e omisses cabe apenas aos
autores.
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (27)
INTRODUO
1. OBJETIVOS
O estudo da relao entre os imigrantes e o sistema de segurana social em Portugal um objetivo
de longa data em Portugal, tanto por parte dos responsveis polticos como dos investigadores.
Alguns dos contributos nesse sentido tm vindo do Alto Comissariado para a Imigrao e Dilogo
Intercultural (ACIDI), que tem apoiado estudos neste domnio (Almeida, 2003; Silva, 2005; Almeida
e Silva, 2007). Esses trabalhos tm permitido avaliar o grau de proteo social disponvel para os
imigrantes em Portugal e o seu impacto financeiro. Uma das questes que permanece por explorar
a forma como os diferentes grupos de imigrantes se posicionam perante o sistema de segurana
social, manifestando um maior comprometimento ou, pelo contrrio, maior desinteresse. Essas
diferentes atitudes, embora de efeitos negligenciveis no curto prazo os imigrantes podero
mesmo ver os descontos para a segurana social como um fardo adicional para o seu nvel de
vida presente , podero ter impactos fortes no mdio e longo prazo, com algumas categorias a
beneficiar do sistema e outras excludas dos seus benefcios.
Para alm disso, tem sido frequentemente discutida a importncia da imigrao para o futuro dos
regimes de segurana social. A entrada regular de imigrantes tem sido vista como uma das formas
de garantir a sustentabilidade dos sistemas de segurana social na Europa, ameaada pelo atual
panorama de imploso e envelhecimento demogrfico e pelo fim do longo perodo de crescimento
econmico do ps-Guerra (Mendes, 2011). Mesmo sem capacidade para, s por si, resolverem
o problema de sustentabilidade do sistema, porque as contribuies de hoje se iro traduzir em
despesas no futuro (os imigrantes tambm envelhecem), tem sido admitido que, pelo menos at
ao presente, a imigrao tem favorecido a dinmica da segurana social.
Este trabalho procura, assim, contribuir para um maior conhecimento da relao entre os imigran-
tes e o sistema de segurana social em Portugal. Os objetivos do estudo so mltiplos: avaliar
(28) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
o grau de proteo social dos imigrantes, atravs da descrio dos mais recentes mecanismos
legais e do seu registo no sistema de segurana social; conhecer os diferentes posicionamentos de
alguns grupos de imigrantes, por nacionalidade, perante o sistema; aprofundar o caso de algumas
categorias contributivas do sistema de segurana social; avaliar a capacidade de proteo social,
em geral e durante perodos de crise econmica, como tem sucedido em Portugal nos ltimos
anos; e conhecer a contribuio financeira lquida dos imigrantes para a segurana social.
Mais em pormenor, este estudo pretende:
(a) Em primeiro lugar, avaliar o grau de proteo social existente entre os imigrantes em Portugal.
O conhecimento do panorama legislativo e a comparao do nmero de estrangeiros eco-
nomicamente ativos com o nmero de contribuintes estrangeiros do sistema de segurana
social permite ter uma ideia do grau de enquadramento dos trabalhadores - e suas famlias
- pelo sistema pblico de proteo.
(b) Em segundo lugar, conhecer os diferentes posicionamentos de alguns grupos nacionais face
ao sistema de segurana social. Enquanto os imigrantes de algumas nacionalidades podero
procurar o seu uso extensivo, outros podero ver-se dele excludos, devido a opo voluntria
(no diminuir os rendimentos brutos no curto prazo) ou obstculos de outra natureza.
(c) Em terceiro lugar, conhecer o caso de algumas das categorias contributivas do sistema de se-
gurana social, que tm sido objeto de escassa avaliao no passado. o caso, por exemplo,
do trabalho independente e do servio domstico, que podero ver, assim, melhor caracteri-
zado o seu universo.
(d) Em quarto lugar, avaliar o modo como o sistema de proteo social protege os imigrantes e
as suas famlias, tanto em situaes de prosperidade como de crise e recesso econmica,
como sucedeu nas primeiras dcadas do novo sculo e, sobretudo, a partir de 2008.
(e) Em quinto lugar, avaliar o impacto financeiro da imigrao no sistema de segurana social,
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (29)
atravs do conhecimento das contribuies e prestaes associadas aos imigrantes, de forma
a detetar a sua contribuio financeira lquida para o sistema.
Uma vez que se trata de um estudo com recursos limitados, algumas destas vertentes no foram
aprofundadas. Como se descrever na seco seguinte, os resultados basearam-se sobretudo
na explorao de um conjunto de dados estatsticos cedidos por instituies pertencentes ao
Ministrio do Trabalho e da Solidariedade Social. Apenas a realizao de uma pesquisa qualitativa
e quantitativa mais aprofundada poder explicar alguns problemas do sistema e as estratgias
utilizadas pelos imigrantes.
2. METODOLOGIA
Este trabalho consistiu fundamentalmente na explorao de um vasto conjunto de dados esta-
tsticos sobre populao estrangeira e segurana social cedido expressamente pelo Instituto de
Informtica e pelo Centro Nacional de Penses (CNP) do Ministrio do Trabalho e da Solidariedade
Social (MTSS) para este efeito. A anlise dos dados implicou algumas etapas, pelo que a metodo-
logia de investigao pode ser descrita a partir de algumas fases principais.
Na primeira fase, foi efectuado um levantamento sistemtico da legislao, bem como da investi-
gao existente nesta rea. A consulta da legislao incidiu sobre a referente ao regime da segu-
rana social, incluindo sub-grupos especficos, direitos e deveres da populao de nacionalidade
estrangeira e regimes de proteco social. A consulta bibliogrfica incidiu sobre alguns estudos
sobre temas relacionados, com relevo para os j citados Silva, 2005 (que descreve o panorama
da proteco social dos imigrantes, embora com base numa lei anterior actual lei de bases da
segurana social) e Almeida e Silva, 2007 (que estabelece os encargos financeiros para o Estado
da segurana social dos imigrantes entre 2001 e 2003).
Na segunda fase, a mais importante, foram estudados os dados disponveis sobre o registo dos
(30) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
imigrantes na segurana social. Para esse efeito, foi solicitado ao Instituto de Informtica do MTSS
um conjunto vasto de apuramentos, referentes ao perodo entre 2002 a 2010. Esses apuramentos
incidiram sobre a totalidade da populao e sobre os indivduos de nacionalidade estrangeira, por
nacionalidades (remuneraes, contribuies e prestaes imediatas prestaes de desempre-
go, subsdio por doena, prestaes de maternidade, prestaes familiares e rendimento social
de insero). Num momento posterior, dados equivalentes foram solicitados ao CNP (prestaes
diferidas penses de invalidez, velhice e sobrevivncia).
Na terceira, e ltima fase, de forma a compreender melhor algumas das questes levantadas
nas fases anteriores, foram efetuados contactos com responsveis por aquelas instituies ou
especialistas na rea que permitissem esclarecer questes pontuais.
Dada a sua importncia neste estudo, os dados cedidos pelo Instituto de Informtica e pelo CNP
carecem de alguns esclarecimentos particulares.
Antes de mais, estes dados referem-se ao universo dos indivduos que se relacionam com a segu-
rana social, no mbito de diferentes tipos de enquadramentos, bem como s suas contribuies
e prestaes que auferem. Dada a complexidade legal destes domnios, algumas categorias de
contribuintes e beneficirios no figuram, porm, nesta informao. Os dados fornecidos dizem,
sobretudo, respeito ao regime contributivo geral, no incluindo alguns regimes especiais, como
o caso dos funcionrios pblicos e dos bancrios, por exemplo. Uma vez que o atual estudo diz
respeito aos imigrantes estrangeiros em Portugal, representados em larga maioria no regime geral
e excludos de muitas das categorias especiais (por vezes por critrios legais, como na administra-
o pblica), este problema no parece relevante.
No caso dos dados oriundos do Instituto de Informtica, os universos e variveis disponibilizados
foram os seguintes:
Pessoas singulares economicamente ativas (isto , com remuneraes declaradas e/ou
contribuies pagas), por nacionalidade, sexo, idade, distrito/regio de residncia, ramo de
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (31)
atividade (s entre 2002 e 2006) e tipo de enquadramento (trabalhadores por conta de
outrem, trabalhadores independentes, trabalhadores do servio domstico e outros);
Montante de remuneraes declaradas e/ou contribuies pagas (pelas empresas e/ou pe-
los prprios), para o total de estrangeiros e segundo as mesmas variveis;
Nmero de beneficirios e montantes processados com algumas prestaes sociais, em
particular prestaes de desemprego, subsdio por doena, prestaes de maternidade,
prestaes familiares e rendimento social de insero.
Os dados referentes a pessoas singulares economicamente ativas, bem como s suas remune-
raes e contribuies, captam todos os indivduos que efetuaram contribuies num dado ano.
Estes nmeros apresentam um grau de fiabilidade elevado, uma vez que resultam de informaes
institucionais e individuais com necessidade de atualizao regular. No caso dos trabalhadores
por conta de outrem, a grande maioria dos contribuintes, os dados so cedidos diretamente pelas
empresas, sem interveno dos trabalhadores. J no caso dos trabalhadores independentes, e
no caso especial do servio domstico (uma categoria especial dos trabalhadores por conta de
outrem), os dados resultam da auto-declarao. Por vezes, pode haver sobreposio de registos,
sempre que alguns trabalhadores acumulem atividades de tipos diferentes (por exemplo, trabalho
por conta de outrem e independente).
Uma das vantagens deste tipo de informao, por comparao com outros dados habitualmente
disponveis sobre estrangeiros (em particular os do Instituto Nacional de Estatstica INE e
Servio de Estrangeiros e Fronteiras SEF) apenas considerar trabalhadores com residncia e/
ou trabalho efetivo em Portugal no momento a que respeitam os dados. Os imigrantes que tenham
abandonado Portugal ou aqui no exeram qualquer tipo de atividade no constam deste universo
(pessoas singulares economicamente ativas com remuneraes declaradas e/ou contribuies
pagas). Tal como veremos, os dados so ainda apurados independentemente do estatuto legal de
residncia no pas. Em contrapartida, uma das desvantagens desta informao poder considerar
imigrantes temporrios, cujos descontos entram no sistema, mas que no procuram uma residn-
cia prolongada no pas.
(32) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
1 Os dados relativos ao perodo 2002-2006 foram cedidos em 2008 e os relativos ao perodo 2007-2010 foram cedidos em 2011.
Alguns dos conceitos que constam destes dados devem ainda ser observados com precauo,
por no coincidirem com os provenientes de outras fontes. o caso, sobretudo, dos trabalhadores
por conta de outrem. No caso da informao divulgada neste estudo, os trabalhadores por conta
de outrem excluem algumas categorias profissionais que, noutros contextos, so classificados
desta forma, como sucede com o j mencionado servio domstico (uma categoria que cabe,
juridicamente, no seu mbito, mas que autonomizada para fins operacionais) ou alguns qua-
dros dirigentes (tratados pela segurana social como membros dos rgos estatutrios). Para
alm disto, podem incluir alguns empregadores, desde que figurem na lista de empregados com
remuneraes declaradas e descontos efetuados. No caso dos trabalhadores independentes, so
tambm excludas algumas categorias especiais, como sucede com o seguro social voluntrio. Por
outras palavras, entendem-se neste estudo os trabalhadores por conta de outrem e os independen-
tes num sentido relativamente diferente do habitual embora os nmeros que agreguem possam
ser considerados representativos do universo mais amplo a que dizem respeito.
Quanto aos dados por nacionalidades, em muita da informao cedida os nmeros sobre nacio-
nalidades vazias/desconhecidas so elevados. Pode ser assumido, porm, que a larga maioria
desses nmeros respeita a cidados portugueses, pelo que no prejudicam a anlise da populao
estrangeira a realizar neste estudo. Saliente-se ainda, a este respeito, que o estudo da imigrao
ser efetuado a partir dos elementos estatsticos sobre estrangeiros realidades que no so
idnticas mas que, em termos operacionais, so habitualmente confundidas.
Finalmente, deve ser notado que a cedncia de dados a este projeto por parte do Instituto de
Informtica foi feita em dois momentos: numa fase anterior ao incio efetivo do estudo foram
fornecidos dados para 2002-2006 e, numa fase mais avanada, para 2007-20101. Uma vez que
a actualizao das bases de dados possui sempre efeitos retroativos, em todas as sries que
sero divulgadas neste estudo (provenientes do Instituto de Informtica) existe descontinuidade
da informao entre 2006 e 2007. Por exemplo, devido actualizao das nacionalidades estran-
geiras (sobretudo a aquisio de nacionalidade portuguesa), os
mesmos indivduos podero ter sido classificados como estran-
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (33)
2 Todos estes dados foram cedidos em 2011.
geiros no perodo 2002-2006 e portugueses no perodo 2007-2011, uma vez que se considerou
a nacionalidade mais recente no momento de extrao dos dados. Acresce que a actualizao das
bases de dados praticamente diria, o que significa que o mesmo tipo de informao extrado
num curto intervalo de tempo pode apresentar resultados diferentes.
No caso da informao oriunda do CNP, os dados obtidos referiram-se ao nmero total de bene-
ficirios e montantes financeiros envolvidos em penses de invalidez, velhice e sobrevivncia. Os
dados disponibilizados foram mensais, referentes a Dezembro de cada ano entre 2002 e 20102.
Tambm neste caso os dados discriminam as principais nacionalidades estrangeiras, sendo os
termos imigrante e estrangeiro considerados equivalentes.
Refira-se, ainda, que a recolha de documentao, incluindo legislao relevante, terminou em
Junho de 2011, razo pela qual este estudo se refere ao enquadramento existente at essa data.
3. ESTRUTURA
Este livro est dividido em trs captulos. No primeiro captulo, tratado o enquadramento legis-
lativo relativo ao sistema de segurana social e, em particular, a sua considerao dos imigrantes
estrangeiros. Dada a complexidade jurdica do edifcio da segurana social, foram apenas reala-
dos os principais aspetos da relao do sistema com a populao de nacionalidade estrangeira.
No segundo captulo, so analisados os nmeros sobre os contribuintes estrangeiros, segundo
diversas variveis: total e nacionalidade, sexo e idade, distrito e regio, ramo de atividade e tipo de
enquadramento. avaliado, ainda, o nvel de insero dos imigrantes no sistema. Como se ver,
nem todos os imigrantes ativos residentes em Portugal contribuem para a segurana social, o que
restringe a sua proteo.
No terceiro captulo, so revistas as contribuies e prestaes
associadas imigrao. So tratadas as prestaes sociais
(34) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
(prestaes de desemprego, subsdio por doena, prestaes de maternidade, prestaes fami-
liares, rendimento social de insero) e penses (invalidez, velhice, sobrevivncia) recebidas por
estrangeiros, analisando o nmero de beneficirios e os montantes financeiros envolvidos. ava-
liado ainda o saldo financeiro da segurana social. Neste ponto destaca-se o importante contributo
lquido dos imigrantes para o financiamento do sistema.
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (35)
CAPTULO 1.O SISTEMA DE SEGURANA SOCIAL E A IMIGRAO
O estudo da relao entre o quadro legal da proteo social e os imigrantes em Portugal foi j
efetuado por Silva (2005). Porm, esse trabalho est em parte desatualizado, por se ter baseado
numa legislao anterior atual lei de bases da segurana social e por terem ocorrido modifica-
es a nvel do enquadramento internacional. Importava, assim, rever os mecanismos legislativos
em vigor e compreender a posio dos imigrantes face a eles. esse o objetivo deste captulo.
1. SISTEMA DE SEGURANA SOCIAL
A expresso segurana social, ligada ideia de um mnimo de garantia social, surge no ocidente
no contexto de duas crises histricas: a Grande Depresso de 1929 e a II Guerra Mundial de 1939
a 1945. Posteriormente, desliga-se do conceito de seguro social e passa a expressar o de assis-
tncia a cargo do Estado, fundindo as perspetivas de responsabilidade e solidariedade. J com
contedo prprio, consagrada como um princpio universal constante na Declarao de Filadlfia
(1944) da Organizao Internacional do Trabalho, que recomenda aos Estados a generalizao da
segurana social, e na Declarao Universal dos Direitos do Homem (1948) da Organizao das
Naes Unidas, nos seus artigos 22., 23. e 25..
Numa perspetiva institucional, podemos entender a segurana social como um sistema de garan-
tia coletiva, autnomo ou estatal, fundado na solidariedade organizada de uma comunidade, que
objetiva a preveno e reparao dos riscos sociais. Estes so considerados o ncleo das polticas
de segurana social, podendo ser de natureza fsica ou econmica. Os riscos fsicos, aqueles que
reduzem a capacidade de trabalho, podero ser profissionais (acidentes de trabalho e doenas
profissionais) ou no profissionais (doena, maternidade, invalidez, velhice e morte). Os riscos
econmicos so aqueles que constituem obstculo ao exerccio do trabalho (desemprego).
(36) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
3 A maior parte desta seco baseada em Direco-Geral da Segurana Social, http://www2.seg-social.pt.4 Lei n. 1884, de 16 de Maro.5 h t t p : / /www2 . s eg - s o c i a l . p t / l e f t .asp?01.01.02.
1.1. BREVE HISTRIA DA SEGURANA SOCIAL EM PORTUGAL3
Desde h muito que situaes de necessidade nos planos individual e familiar apelaram ao sen-
timento do dever moral de proteo por parte de ordens religiosas, monarcas, corporaes e
particulares em Portugal. Os valores da caridade crist levaram ao desenvolvimento de esforos
cujo primeiro registo se reporta ao sculo XV, com a fundao da Irmandade da Misericrdia. No
sculo XVIII funda-se a Casa Pia e, no mbito do associativismo operrio do sculo XIX, criam-se
as associaes de socorro mtuo. Neste mesmo sculo, dada a insuficincia da proteo social
na velhice, so criadas as primeiras Caixas de Aposentao.
Na segunda dcada do sculo XX assistiu-se primeira tentativa de instituio de um sistema de
seguros sociais obrigatrios, destinado a abranger a generalidade dos trabalhadores por conta de
outrem. Em 1935, na sequncia da publicao do Estatuto do Trabalho Nacional4, definiram-se as
bases gerais em que se devia apoiar a organizao da previdncia social. A reforma da previdncia
social inicia-se com a publicao da Lei n. 2115, de 15 de Junho de 1962. Esta traduziu-se,
essencialmente, no alargamento do campo de aplicao material a eventualidades no cobertas,
bem como na manuteno de um financiamento apoiado em contribuies dos trabalhadores e
dos empregadores, sem comparticipao financeira do Estado.
Na dcada de 70 assiste-se a uma transio do modelo de assistncia e de previdncia para um
modelo unificado de segurana social. Em 1974, o programa do I Governo Provisrio inclua a
substituio progressiva dos sistemas de previdncia e assistncia por um sistema integrado de
segurana social (Decreto-Lei n. 203/74, de 15/05)5. Tal vem a refletir-se no n. 2 do artigo 63.
da Constituio da Repblica Portuguesa de 1976, onde se diz que incumbe ao Estado organizar,
coordenar e subsidiar um sistema de segurana social unificado e descentralizado, de acordo e
com a participao das associaes sindicais e outras organizaes das classes trabalhadoras.
Esta mudana resultou num aumento da proteo social, com
medidas legislativas concretas no mbito da penso social, da
proteo no desemprego, das prestaes familiares, dos traba-
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (37)
lhadores independentes e dos trabalhadores do servio domstico. Em 1977 foi aprovado o di-
ploma que definiu a nova estrutura orgnica da segurana social, em obedincia a trs princpios
essenciais: integrao, descentralizao e participao.
Na dcada de 80 foi aprovada a primeira lei de bases da segurana social. A Lei n. 28/84, de 14
de Agosto, previa um sistema de segurana social que compreendia os regimes e as instituies
de segurana social, s quais competia gerir os regimes e exercer a ao social. Os objetivos con-
sistiam em, por um lado, garantir a proteo dos trabalhadores e das suas famlias nas situaes
de falta ou diminuio de capacidade para o trabalho, de desemprego e de morte, bem como
compensar os encargos familiares; e, por outro lado, proteger socialmente as pessoas que se
encontrassem em situao de falta ou diminuio de meios de subsistncia. A administrao do
sistema competia ao Estado.
A dcada de 90 caracteriza-se pelo crescimento da presso financeira e por um grande nmero
de iniciativas reformadoras ao nvel de cada um dos regimes. de notar a definio dos princpios
gerais a que deve obedecer a fixao das taxas contributivas do regime geral dos trabalhadores
por conta de outrem e a adequao dessas taxas a situaes especiais, decorrentes do mbito
material da proteo, da natureza dos fins das entidades empregadoras, da debilidade econmica
de certas atividades profissionais ou da necessidade de incentivar a incluso de certos grupos
de trabalhadores no mercado de emprego. Tambm de destacar o alargamento do campo de
aplicao do Regime Jurdico das Infraes Fiscais No Aduaneiras s infraes praticadas no
mbito dos regimes de segurana social pelos respetivos contribuintes, definindo e penalizando os
crimes contra a segurana social.
Desde 2000 foram dadas a conhecer trs novas leis de bases da segurana social. A primeira a
Lei n. 17/2000, de 8 de Agosto, aprovada por um governo do Partido Socialista, cujo sistema ni-
co de solidariedade e segurana social engloba: i) o subsistema de proteo social de cidadania,
que compreende o regime de solidariedade e a ao social; ii) o subsistema de proteo famlia;
iii) e o subsistema previdencial.
(38) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
6 Sobre este ponto ver tambm: Comisso Permanente da Concertao Social Acor-do sobre Reforma da Segurana Social (Outubro 2006); Resoluo sobre a Refor-ma da Segurana Social (Outubro 2006); discursos do Primeiro-Ministro e Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social em debates mensais no Parlamento (Setembro e Novembro 2007, respetivamente).7 Artigo 64.: Fator de sustentabilidade.8 Artigo 63.: Quadro legal das penses e Artigo 68. Indexante dos Apoios Sociais (IAS) e atualizao do valor das prestaes).9 Artigo 58.: Limites contributivos.10 Artigos 63. e 64. (vide supra) e Arti-go 101.: Regime transitrio de clculo das penses.11 Cdigo Contributivo e Combate Evaso Contributiva (Lei n. 110/2009, de 16 de Setembro, alterada pela Lei n. 119/2009, de 30 de Dezembro e pela Lei n. 55-A/2010, de 31 de Dezembro (OE para 2011) e Artigo 98.: Sistema de informao.
Em 2002, num governo liderado pelo Partido Social Democrata, aprovada a Lei n. 32/2002, de
20 de Dezembro, que se caracteriza por trs sistemas: i) o sistema pblico de segurana social,
que compreende os subsistemas previdencial, de solidariedade e proteo familiar; ii) o sistema
de ao social; e iii) o sistema complementar.
Cinco anos depois, d-se uma nova reforma. Em 2007, de novo no mbito de um governo do
Partido Socialista, aprovada a lei atualmente em vigor, a Lei n. 4/2007, de 16 de Janeiro, que
ser analisada na seco seguinte. Segundo esta lei, o sistema de segurana social constitudo
pelo i) sistema previdencial, ii) sistema de proteo social de cidadania e iii) sistema complementar.
Podemos considerar que a nova lei de bases da segurana social pe a tnica na sustentabilidade
do sistema pblico e d especial destaque dinmica demogrfica do pas e aos riscos que esta
acarreta. Comparando a lei atual com as leis de bases de 2000 e 2002, as principais medidas
introduzidas foram6:
Criao do fator de sustentabilidade, ajustando o sistema
evoluo da esperana de vida7;
Fixao de regras para a atualizao anual do valor das pen-
ses e nova frmula de clculo8;
Estabelecimento de um limite para as penses mais altas9;
Promoo do envelhecimento ativo10;
Aplicao de novos instrumentos para melhorar o combate
fraude e evaso nas contribuies11;
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (39)
12 Artigo 38., n. 2: mbito material do subsistema de Solidariedade.13 Artigo 48.: Prestaes e Artigo 49.: Montante das prestaes.14 Artigo 82., n. 2: Caracterizao do regime pblico de capitalizao e Artigo 84.: Natureza dos regimes de iniciativa individual.
Melhoria da proteo social nos novos riscos sociais: invalidez12, deficincia, monoparenta-
lidade e orfandade13;
Incentivo s poupanas voluntrias14.
Apesar do progresso efetuado, tem sido argumentado que novas reformas se devem fazer no
futuro para assegurar os objetivos da sustentabilidade e da equidade inter-geracional do sistema
(Mendes, 2011). Por esta razo, possvel que a curto prazo venham a ser de novo revistos os
mecanismos da segurana social portuguesa.
1.2. O SISTEMA DE SEGURANA SOCIAL ATUAL
A segurana social um bem a que todos tm direito, como determinam o artigo 63. da
Constituio da Repblica Portuguesa e o artigo 2. da atual lei de bases da segurana social (Lei
n. 4/2007, de 16 de Janeiro). Neste sentido, o Estado portugus responsvel pela coordenao
do sistema de segurana social, o qual protege todos os cidados.
De acordo com o artigo 4. da lei de bases, constituem objetivos prioritrios do sistema: a) garantir
a concretizao do direito segurana social; b) promover a melhoria sustentada das condies e
dos nveis de proteo social e o reforo da respetiva equidade; e c) promover a eficcia do sistema
e a eficincia da sua gesto.
O artigo 5. da lei de bases prev que constituem princpios gerais do sistema a universalidade,
igualdade, solidariedade, equidade social, diferenciao positiva, subsidiariedade, coeso inter-
geracional, primado da responsabilidade pblica, complementa-
ridade, unidade, descentralizao, participao, eficcia, tutela
dos direitos adquiridos e os direitos em formao, garantia judi-
ciria e informao.
(40) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
Segundo a lei (ver Figura 1), o sistema de segurana social abrange trs grupos: o sistema previ-
dencial, o sistema de proteo social de cidadania e o sistema complementar (artigo 23. da Lei
n. 4/2007, de 16 de Janeiro).
Figura 1. Composio do sistema de segurana social (Lei n. 4/2007, de 16 de Janeiro)
SISTEMA DE SEGURANA SOCIAL
1. Sistema Previdencial (regimes contributivos substitutivos de rendimentos)
2. Sistema de Proteco Social de Cidadania
3. Sistema Complementar
4. Instituies gestoras
Regimes obrigatrios
Regimes facultativos
Regime geral
Regimes especiais
Trabalhadores por conta de outrem (vinculados por contrato de trabalho) e trabalhadores vinculados por nomeao, eleio ou contrato de administrao
Trabalhadores independentes (contrato de prestao de servios)
Regimes satlites (bancrios, advogados) Regimes fechados (agrcolas, ferrovirios, funcionrios pblicos)
Subsistema de Solidariedade (regimes no contributivos e fracamente contributivos)
Subsistema de Proteco Familiar
Subsistema de Aco Social
Regime no contributivo Regime especial de segurana social de actividades agrcolas Regimes transitrios
Encargos familiares Encargos com deficincia Encargos com dependncia
Regime pblico de capitalizao
de iniciativa individual de iniciativa colectiva (regimes profissionais complementares)
Regimes complementares
Fonte: Adaptado de Conceio, 2008: 67
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (41)
15 Os trabalhadores do servio domstico esto abrangidos pelo regime geral dos tra-balhadores por conta de outrem, sendo os seus empregadores obrigados a promover a sua inscrio no sistema e a pagar as res-petivas contribuies.
O sistema previdencial (regimes contributivos substitutivos de rendimentos) o que se aplica ge-
neralidade dos trabalhadores por conta de outrem e aos trabalhadores independentes, bem como
a outras categorias profissionais especficas. Est assente no princpio de solidariedade de base
profissional e garante prestaes pecunirias substitutivas de rendimentos de trabalho perdido
em resultado de eventualidades legalmente definidas (artigo 50. da lei de bases). Segundo Silva
(2005:14), o subsistema previdencial o nico ramo no universal (contudo obrigatrio) do sis-
tema da segurana social portugus, sendo o acesso determinado pela inscrio e cumprimento
das obrigaes contributivas dos beneficirios, sejam trabalhadores por conta de outrem, sejam
trabalhadores independentes.
O sistema previdencial inclui o regime geral, regimes especiais e regimes facultativos. Os dois pri-
meiros so de natureza obrigatria. O regime geral diz respeito generalidade dos trabalhadores
por conta de outrem e trabalhadores independentes, para alm de algumas categorias especficas,
como os membros dos rgos estatutrios (indivduos vinculados por nomeao, contrato de ad-
ministrao ou contrato de gesto a pessoas coletivas). Os regimes especiais incluem categorias
profissionais especficas, como os funcionrios pblicos, bancrios, advogados e trabalhadores
agrcolas15. Os regimes de inscrio facultativa incluem o regime do seguro social voluntrio. Estes
regimes sero melhor descritos frente (ver 1.3 - Regimes de Segurana Social).
No que respeita ao financiamento, as prestaes includas neste sistema so financiadas por
quotizaes dos trabalhadores e por contribuies das entidades empregadoras (artigo 90. da
lei de bases).
O artigo 52. da lei de bases da segurana social prev que o sistema previdencial protege os
trabalhadores nas seguintes eventualidades: a) doena; b) maternidade, paternidade e adoo; c)
desemprego; d) acidentes de trabalho e doenas profissionais; e) invalidez; f) velhice; e g) morte.
Assim sendo, qualquer cidado que trabalhe em Portugal, in-
dependentemente da respetiva nacionalidade, protegido pelo
sistema previdencial do regime de segurana social portugus,
(42) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
desde que cumpra a obrigatoriedade da inscrio e contribuio para o sistema. As pessoas que
no trabalham podem aceder proteo social usando o sistema de proteo social de cidadania.
No caso dos cidados estrangeiros existe, porm, uma particularidade, que ser melhor explicada
no ponto 2 deste captulo. Assim, se todos os cidados estrangeiros podem cumprir a obrigato-
riedade da inscrio e a contribuio para o sistema, independentemente do seu estatuto legal
(mesmo os estrangeiros em situao irregular podem estar inscritos na Segurana Social), eles s
estaro efectivamente protegidos pelo sistema previdencial da Segurana Social se forem portado-
res de ttulo de residncia vlido.
O sistema de proteo social de cidadania tem como objetivos garantir os direitos bsicos dos
cidados e a igualdade de oportunidades, bem como promover o bem-estar e a coeso sociais
(artigo 26. da lei de bases). Ele abrange os seguintes subsistemas:
Subsistema de solidariedade (regimes no contributivos e fracamente contributivos): procura
assegurar os direitos essenciais de forma a prevenir e a erradicar situaes de pobreza e
de excluso, bem como a garantir prestaes em situaes de comprovada necessidade
pessoal ou familiar, no includas no sistema previdencial (artigo 36. da lei de bases);
Subsistema de proteo familiar: visa assegurar a compensao de encargos familiares
acrescidos quando ocorram as eventualidades legalmente previstas (artigo 44. da lei de
bases);
Subsistema de ao social: este tem como objetivo fundamental a preveno e reparao
de situaes de carncia e desigualdade socioeconmica, de dependncia, de disfuno,
de excluso ou vulnerabilidade sociais, bem como a integrao e promoo comunitrias
das pessoas e o desenvolvimento das respetivas capacidades. Procura ainda assegurar
especial proteo aos grupos mais vulnerveis, nomeadamente crianas, jovens, pessoas
com deficincia e idosos (artigo 29. da lei de bases).
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (43)
Os cidados estrangeiros esto abrangidos por estes subsistemas, embora em condies parti-
culares. No caso do susbsistema de solidariedade, esto equiparados aos nacionais no caso de
serem abrangidos por algum instrumento internacional de segurana social. Seno, esto sujeitos
a algumas condies, como a residncia em territrio nacional (regra extensvel a todos os bene-
ficirios) e perodos mnimos de residncia legal (artigos 37 e 40.. da lei de bases). No caso do
subsistema de proteo familiar, so exigveis as mesmas condies, em particular a residncia
em territrio nacional e perodos mnimos de residncia legal (artigo 47. da lei de bases). No caso
do subsistema de aco social, nenhuma condio colocada a este respeito.
A proteo garantida por este sistema financiada por transferncias do Oramento de Estado e
por consignao de receitas fiscais (artigo 90. da lei de bases).
O sistema complementar inclui um regime pblico de capitalizao e regimes complementares de
iniciativa coletiva e de iniciativa individual que o Estado considera importante estimular. O regime
pblico de capitalizao caracteriza-se por ser um regime de adeso voluntria individual, cuja
organizao e gesto da responsabilidade do Estado, que visa a atribuio de prestaes com-
plementares das concedidas pelo sistema previdencial, tendo em vista o reforo da proteo social
dos beneficirios. Prev a criao, para cada beneficirio aderente, de contas individuais geridas
em regime financeiro de capitalizao, que lhes garanta uma proteo social complementar, bem
como a possibilidade de contratualizao parcial da gesto com entidades do setor privado (artigo
81. da lei de bases). Os regimes complementares de iniciativa coletiva e de iniciativa individual
so de natureza facultativa.
Quanto s instituies gestoras do sistema de segurana social, a estrutura orgnica compreende
servios que fazem parte da administrao direta e da administrao indireta do Estado. Estes
ltimos so pessoas coletivas de direito pblico, denominadas Instituies da Segurana Social.
Nos termos da lei, constituem fontes de financiamento do sistema: a) as quotizaes dos tra-
balhadores; b) as contribuies das entidades empregadoras; c) as transferncias do Estado e
de outras entidades pblicas; d) as receitas fiscais legalmente previstas; e) os rendimentos de
(44) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
patrimnio prprio e os rendimentos de patrimnio do Estado consignados ao reforo do Fundo
de Estabilizao Financeira da Segurana Social; f) o produto de comparticipaes previstas na
lei ou em regulamentos; g) o produto de sanes pecunirias; h) as transferncias de organismos
estrangeiros; i) o produto de eventuais excedentes da execuo do Oramento do Estado de cada
ano; e j) outras legalmente previstas ou permitidas (artigo 92. da lei de bases).
As despesas de administrao e outras despesas comuns do sistema so financiadas atravs das
fontes correspondentes aos sistemas de proteo social de cidadania e previdencial, na proporo
dos respetivos encargos (artigo 90. da lei de bases).
1.3. REGIMES DE SEGURANA SOCIAL
Apesar das diferentes concees existentes sobre o tema, por regimes de segurana social po-
demos entender uma forma de organizao ou um conjunto de disposies cujo objetivo gerir
a proteo social de forma habitualmente redistributiva, afetando certos recursos e prestaes a
categorias sociais diferenciadas.
Adotando a perspetiva de Conceio (2008), neste ponto analisaremos cada um dos regimes
segundo as relaes de vinculao/inscrio, contribuio/quotizao e prestao.
1.3.1. Vinculao e inscrio
A lei destaca dois tipos de regimes contributivos no sistema previdencial (ver Figura 1):
(a) Regimes obrigatrios
Todas as pessoas que exercem atividade remunerada so enquadradas obrigatoriamente pela
Segurana Social, independentemente do estatuto de contratado (contrato de trabalho, de presta-
o de servios ou administrativo), nomeado (funcionrios pblicos ou titulares de cargos polticos),
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (45)
16 ACIDI, Imigrao em Portugal, Informa-o til, Segurana Social; Decreto-Lei n. 199/99, de 8 de Junho (diploma que define as taxas contributivas aplicveis no mbito do regime geral de segurana social dos trabalhadores por conta de outrem); http://www2.seg-social.pt/left.asp?03.03.01.
eleito (membros dos rgos estatutrios das pessoas coletivas ou titulares de cargos polticos) e
sem vnculo jurdico relevante (membros de igrejas, associaes e confisses religiosas ou traba-
lhadores no domicilio). Para alm do regime geral, aplicvel maior parte das situaes, prevem-
se condies especiais para algumas categorias profissionais, incluindo funcionrios pblicos,
trabalhadores do setor bancrio e advogados, que integram os designados regimes especiais.
So includos nos regimes obrigatrios os seguintes casos:
Trabalhadores por conta de outrem e equiparados
Esto aqui includos os trabalhadores por conta de outrem, portugueses ou no, a exercer ativida-
de remunerada em territrio nacional ou em territrio estrangeiro para o qual tenham sido desta-
cados, excluindo os profissionais destacados de outros Estados. As categorias com regras especfi-
cas so: trabalhadores das atividades agrcolas ou equiparadas e seus familiares; trabalhadores do
servio domstico; desportistas profissionais; membros das igrejas; bancrios; pessoal docente;
pr-reformados; trabalhadores no domiclio; funcionrios pblicos; e agentes administrativos.
Em todos estes casos, a entidade empregadora tem a responsabilidade de efetuar a inscrio dos
trabalhadores que iniciem atividade ao seu servio, no incio da produo de efeitos do contrato
de trabalho. Os empregadores so igualmente responsveis pelo pagamento das contribuies
Segurana Social relativas aos trabalhadores contratados ao seu servio, devendo efetuar a decla-
rao de remuneraes e o pagamento das contribuies16. O no cumprimento destas normas
implica a aplicao de sanes s entidades empregadores.
Para a inscrio no sistema necessrio: boletim de identificao e, no caso de trabalhadores
estrangeiros, boletim de identificao complementar, de modelos prprios; bilhete de identidade
(ou certido de nascimento ou passaporte); carto de identifica-
o da Segurana Social, no caso de j estar inscrito; carto de
identificao fiscal de pessoa singular; no caso de trabalhador
do servio domstico, bilhete de identidade e carto de identifi-
(46) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
17 Ver Instituto da Segurana Social, Guia Prtico Inscrio, Admisso e Cessao de Atividade de Trabalhador por Conta de Outrem (http://www2.seg-social.pt/pre-view_documentos.asp?r=22790&m=PDF) e ACIDI, Imigrao em Portugal, Informa-o til, Segurana Social.18 O Indexante dos Apoios Sociais (IAS) (Lei n. 53-B/2006, de 29 de Dezembro) o referencial determinante da fixao, clcu-lo e atualizao dos apoios e outras despe-sas, atualizado anualmente. Em 2008 este valor era de 407,41 Euros e, entre 2009 e 2011, estabilizou em 419,22 Euros.19 ACIDI, Imigrao em Portugal, Informa-o til, Segurana Social; Decreto Regu-lamentar n. 43/82, de 22 de Julho, altera-do pelo Decreto Regulamentar n. 71/94, de 21 de Dezembro (diploma que regu-lamenta o esquema de segurana social do pessoal de servio domstico); http://www2.seg-social.pt/left.asp?03.03.02.
cao fiscal de pessoa singular do empregador.
Deve notar-se que, no caso da inscrio de trabalhadores estrangeiros, a Segurana Social exige
ainda formalmente, para alm dos modelos prprios e do documento de identificao vlido (por
exemplo, passaporte), a apresentao de autorizao de residncia ou de outro qualquer ttulo de
permanncia em territrio nacional (por exemplo, um visto de estada temporria para exerccio de
atividade profissional)17. Na prtica, porm, um documento de identificao costuma ser condio
suficiente para a inscrio, o que permite o registo de imigrantes em situao irregular (ver ltima
seco deste captulo).
As contribuies relativas maioria dos trabalhadores por conta de outrem so calculadas pela
aplicao de uma taxa global, de 34,75%, sobre as retribuies pagas (o total das remuneraes
reais). Neste caso, 11% fica a cargo do beneficirio e 23,75% a cargo do empregador. As contri-
buies devidas pelos trabalhadores so descontadas nas respetivas retribuies e pagas pelo
empregador.
No caso especfico dos trabalhadores do servio domstico, as contribuies so calculadas pela
aplicao da taxa contributiva global de 26,7%. Em regra, esta
taxa contributiva calcula-se sobre uma retribuio convencional,
considerada base de incidncia de contribuies, no valor de
70% do Indexante dos Apoios Sociais (IAS)18. Neste caso, as
taxas contributivas so 17,4% a cargo do empregador e 9,3%
a cargo do trabalhador. Para os beneficirios terem acesso
proteo de desemprego, mediante o acordo com o empregador,
a taxa contributiva aplicada ser de 20,6% (empregador) e de
11% (trabalhador), num total de 31,6%19.
Trabalhadores independentes
Esto aqui includos os indivduos, portugueses ou no, que exer-
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (47)
20 Se o rendimento for igual ou inferior a este valor o enquadramento facultativo.21 ACIDI, Imigrao em Portugal, Informa-o til, Segurana Social; Decreto-Lei n. 328/93, de 25 de Setembro, republica-do pelo Decreto-Lei n. 240/96, de 14 de Dezembro e alterado pelos Decretos-Lei n. 397/99, de 13 de Outubro, n. 159/2001, de 18 de Maio e n. 119/2005, de 22 de Julho (regime de segurana social dos tra-balhadores independentes); http://www2.seg-social.pt/left.asp?03.03.02.
am atividade profissional por conta prpria em Portugal ou no estrangeiro, neste ltimo por pero-
do determinado, geradora de rendimentos anuais ilquidos que excedam seis vezes o Indexante de
Apoios Sociais (IAS)20. As categorias com regras especficas so: empresrios; profissionais livres;
agentes comerciais; membros de cooperativas de produo; membros de rgos estatutrios de pes-
soas coletivas cujo exerccio de atividade depende de nomeao oficial; trabalhadores intelectuais;
artistas; intrpretes; amas; entre outros.
Os trabalhadores que iniciem uma actividade por conta prpria esto obrigados a fazer a sua con-
tribuio ao regime e/ ou a sua inscrio na Segurana Social. Os trabalhadores independentes
podem optar pelo esquema de proteo do trabalhador, sistema de proteo obrigatrio mais restrito
ou por um esquema de proteo alargado, com acesso a mais benefcios. Sendo assim, o montante
das contribuies est relacionado com o esquema que o trabalhador escolha. A base de incidncia
de contribuies escolhida de entre 10 escales indexados ao Indexante dos Apoios Sociais (IAS),
com as taxas aplicveis de 25,4% no esquema obrigatrio e 32% no esquema alargado. Neste caso,
o pagamento das contribuies deve ser efetuado mensalmente pelos trabalhadores Segurana
Social21.
A inscrio feita pelos prprios e requer os seguintes documentos: boletim de identificao e, no
caso de trabalhadores estrangeiros, boletim de identificao complementar, de modelos prprios; bi-
lhete de identidade (ou certido de nascimento ou passaporte); carto de identificao da Segurana
Social, no caso de j estar inscrito; declarao de incio de atividade para efeitos fiscais; carto de
identificao fiscal de pessoa singular/ coletiva, no caso de empresrio em nome individual.
De novo, no caso dos trabalhadores estrangeiros, no exigida
a demonstrao de um ttulo de autorizao de residncia ou
permanncia.
Membros dos rgos estatutrios
A categoria dos membros dos rgos estatutrios das pessoas
(48) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
22 Isto , no pensionistas de invalidez ou velhice.23 Decreto-Lei n. 160/80, de 27 de Maio; http://www2.seg-social.pt/left.asp?02.11.01.
coletivas inclui os indivduos, portugueses ou no, que esto vinculados por nomeao, contrato
de administrao ou contrato de gesto a pessoas coletivas. Esto neste caso, por exemplo, admi-
nistradores, diretores e gerentes de sociedades e de cooperativas e gestores de empresas pblicas
que no estejam abrangidos pelo regime dos funcionrios pblicos.
(b) Regimes facultativos e de pagamento voluntrio
Os regimes facultativos e de pagamento voluntrio dizem respeito a cidados portugueses ou
de Estados do Espao Econmico Europeu maiores, ativos22 e aptos para o trabalho, desde que
no estejam abrangidos por regimes de proteo social obrigatrios nacionais ou estrangeiros.
Com regras especficas existem os seguintes casos: voluntrios sociais; bolseiros de investigao;
agentes de cooperao; trabalhadores martimos; entre outros. A inscrio da responsabilidade
dos prprios.
Para alm destes regimes, existem ainda regimes no contributivos e outros, destinados s pes-
soas em situao de carncia econmica ou social ou que no so abrangidas pela proteo dos
regimes contributivos obrigatrios do sistema previdencial da segurana social. So abrangidos in-
divduos com nacionalidade portuguesa, com nacionalidade de Estados-membros da Comunidade
Europeia residentes em Portugal, outros estrangeiros residentes, refugiados e aptridas.
As pessoas abrangidas pelos regimes no contributivos tm de comprovar que nem elas nem o
respetivo agregado familiar tm rendimentos superiores aos valores estabelecidos por lei para
aceder condio geral de atribuio das prestaes do regime em questo23.
Imigrantes e Segurana Social em Portugal (49)
1.3.2. Contribuio e quotizao
A contribuio pode ser considerada como um custo imposto entidade empregadora, que tem
o risco de utilizao da fora de trabalho. A quotizao pode ser entendida como uma imposio
de poupana ao trabalhador.
A obrigao de contribuir para a Segurana Social advm do facto de existir uma remunerao e
constitui-se no ms de incio da actividade laboral. A base de incidncia, ou seja, o valor passvel
de contribuio para a Segurana Social, depende do rendimento da atividade exercida. Ela pode
ser efetiva (remuneraes) ou convencional (fixada normativamente com referncia ao IAS). Em
alguns casos, os valores remuneratrios a considerar como base de incidncia so limitados por
valores mnimos e mximos.
Nos casos de base de incidncia efetiva (remuneraes), a generalidade dos trabalhadores por
conta de outrem paga uma taxa global de 34,75%, sendo 23,75% a cargo do empregador (contri-
buio) e 11% a cargo do beneficirio (quotizao).
Nos casos em que a base de incidncia convencional (fixada com referncia ao IAS), temos:
Os trabalhadores independentes, cuja contribuio depende do esquema de proteo esco-
lhido, uma vez que este regime prev um esquema de proteo obrigatrio (25,4%) e um
alargado (32%). A base de incidncia escolhida entre dez escales indexados ao IAS, desde
valores iguais a 1,5 x IAS a 12 x IAS;
Os trabalhadores enquadrados no seguro social voluntrio que, dependendo do caso, inse-
rem-se num dos seis escales de remuneraes existentes, desde valores iguais a 1 x IAS
a 4 x IAS;
Os trabalhadores de servio domstico, que pagam numa base de incidncia referente a 70%
do IAS, conforme a modalidade escolhida: horria (IAS x 70% x 12)/(52 x 40), diria (IAS x
70%)/30 ou mensal (IAS x 70%). Do total de 26,7%, contribuio 17,4% e quotizao 9,3%.
(50) Imigrantes e Segurana Social em Portugal
24 Para mais detalhes ver ACIDI, Imigrao em Portugal, Informao til, Segurana Social e http://www2.seg-social.pt.
No caso de o trabalho ser mensal, a tempo inteiro, na base de um acordo com o empregador,
portanto com direito a subsdio de desemprego, a taxa total ser de 31,6%, sendo 20,6%
contribuio e 11% quotizao sobre remunerao efetiva, entre 70% do IAS e 2,5 x IAS (at
um limite de 50 anos de idade);
Os trabalhadores agrcolas indiferenciados, cuja base corresponde ao produto dos dias de
trabalho pelo valor da remunerao diria (IAS/30). A taxa global de 29%, sendo a contri-
buio de 21% e a quotizao de 8%.
1.3.3. Prestao
Nos termos da lei, a proteo social dos trabalhadores e outros indivduos na doena, velhice,
invalidez, morte, viuvez e orfandade, bem como no desemprego e em todas as outras situaes
de falta ou diminuio de meios de subsistncia ou de incapacidade para o trabalho, realizada
pelo sistema de segurana social.
Considera-se prestao o pagamento de determinada quantia (prestao pecuniria) ou a realiza-
o de certos servios (prestao em espcie) que visem cobrir os riscos sociais (eventualidades).
(a) Sistema previdencial
No mbito do sistema prev
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