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Universidade Federal de Campina Grande
Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino 1
ANAIS ELETRÔNICOS ISSN 235709765
INTERCOMPREENSÃO DE LÍNGUAS ROMÂNICAS: UMA PROPOSTA COM DON QUIJOTE DE LA MANCHA, NA
PROMOÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Josimar Alves da Silva (UFCG)1 Josilene Pinheiro-Mariz (UFCG)2
RESUMO
A proposta da Intercompreensão de Línguas Românicas, (doravante IC), pode oferecer subsídios para uma formação plurilíngue, fazendo com que os alunos compreendam as línguas irmãs, além da sua língua própria materna. Nessa perspectiva, entendemos a IC como uma nova metodologia que ajudará na didática de LE; essa proposta pode também promover ou auxiliar no ensino da língua portuguesa. Isto porque quando colocada em contato com outras línguas românicas (logo, irmãs), há uma grande probabilidade de conduzir o aprendiz a ampliar horizontes linguísticos e socioculturais. Assim, o presente artigo objetiva analisar excertos do texto clássico Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes, dentro de uma proposta metodológica de um ensino plurilinguista e intercultural; possibilitar aos docentes em formação uma reflexão para a valorização de uma sequência didática através do gênero romance; apresentar uma proposta de atividade de trabalho em sala de aula com excertos do romance supracitado. Para tanto, nos fundamentamos para a IC em Andrade et al (2007) em que a diversidade pode ser apreendida e reconstruída e Alas-Martins (2011), pois o plurilinguismo pode ajudar na formação do sujeito-aprendiz, além de outros postulados que se dedicam ao estudo e ensino da IC para a sala de aula. Os dados analisados, através de pesquisa bibliográfica e analítica, apresentam como resultado a necessidade do professor preparar uma sequência didática, evidenciando o aluno para sua expansão cultural. PALAVRAS-CHAVE: Intercompreensão de Línguas Românicas. Gênero Romance. Sequência didática. 1 Estudante da Pós-Graduação em Linguagem e Ensino, cujo trabalho está vinculado ao programa com o projeto: Intercompreensão de Línguas Românicas através da literatura: possibilidades para a melhoria da aprendizagem da Língua Portuguesa. 2 Professora da graduação em Letras Língua Francesa e Língua Portuguesa e da Pós-Graduação em
Linguagem e Ensino.
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INTRODUÇÃO
A escola é um espaço de convivência entre professores, funcionários, alunos e
comunidade em geral. Os aprendizes adentram nesse espaço, não só almejando uma
formação para o mercado do trabalho, mas também para se tornarem seres capazes
para refletir e intervier na sociedade da qual participam. Para tanto, o docente é uma
figura essencial para alargar a visão dos estudantes sobre o mundo que os rodeiam,
mediando muitas vezes conflitos internos e externos do cotidiano. Assim, a presença
do texto literário nesse universo escolar é essencial para possibilitar a fruição estética,
bem como desenvolver a capacidade intelectiva e cognitiva elevando o aluno a ser um
cidadão proativo no dia a dia.
Segundo Antonio Cândido (1981, p.6), “a literatura tem algo íntimo com relação
à vida de cada um, e quando passa do jornal ao livro, nós verificamos meio espantados
que a sua durabilidade pode ser maior do que ela própria pensava”. Percebemos que o
leitor é essencial não só para validar a obra que leu, mas para circular as ideias, ser
protagonista do sonho e da razão, tornar-se ator interpretando as nuances da vida.
Desse modo, a sala de aula é um oásis não só para o processo de ensino e
aprendizagem, mas também para o exercício pleno da cidadania. Isto posto, quando
nos deparamos com alunos da Educação de Jovens e Adultos, (doravante EJA), muitos
deles foram deixados de lado por toda uma sociedade e trazem marcas indeléveis em
uma formação interrompida. Muitos retornam à sala de aula forçados pelo mercado
de trabalho, outros para satisfazer os netos que cobram que seus avós se atualizem
para poderem dialogar sobre as vicissitudes da vida. Mas se os alunos do Ensino
Fundamental regular já apresentam dificuldades na leitura, sobretudo de textos
literários, na EJA amplia-se mais ainda, haja vista que a ausência da sala de aula, torna
esses aprendizes mais avessos e desinteressados.
De acordo com Cosson (2012, p. 62), “(...) a leitura escolar precisa de
acompanhamento, porque tem uma direção, um objetivo a cumprir, e esse objetivo
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não deve ser perdido de vista. Não se pode confundir, contudo, acompanhamento com
policiamento”. Assim, é preciso muita reflexão, uma vez que muitos alunos criaram
aversão à literatura por não verem sentido das leituras com suas realidades, ou muitas
vezes por não terem recebidos orientações condizentes, ou ainda por não terem sidos
permitidos a apresentarem seus pontos de vistas sobre a leitura realizada.
Nesse sentido, nossa reflexão caminha no sentido de motivar discentes que
retornam para a escola- após cinco, dez, quinze, vinte e às vezes mais de trinta anos-
para a leitura literária. O que fazer para despertar nos estudantes da EJA o gosto pela
leitura, fazendo com que esse aprendiz mergulhe e se entusiasme não só para ir ao
Ensino Médio, mas também que ele encontre respostas para sua formação pessoal e
profissional. Qual a estratégia didática pode ser utilizada para desenvolver a
competência leitora do aluno da EJA com línguas diferentes?
Para responder as diversas indagações, acreditamos que a estratégia de leitura
pode ser através da Intercompreensão de Línguas Românicas, mediada pelo professor
de Língua Materna que possibilitará motivação, estímulo e descobertas para o aluno
em formação.
2. A PRESENÇA DA INTERCOMPREENSÃO DE LÍNGUAS ROMÂNICAS E A PERSPECTIVA
PLURILÍNGUE NA LEITURA
A Intercompreensão de Línguas Românicas, conhecida como (IC) incentiva a
compreensão e aprendizagem de línguas irmãs (Espanhol, Italiano, Francês, dentre
outras) e o mais interessante é que essa metodologia pode auxiliar na melhoria do
conhecimento da Língua Portuguesa.
A IC, possibilita uma interação entre pessoas de línguas diferentes. De acordo
com Filomena Capucho (2004, p.86), “o desenvolvimento da capacidade de co-
construir o sentido, no contexto do encontro entre línguas diferentes, e de fazer uso
pragmático dessa capacidade numa situação comunicativa concreta”.
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Assim, a IC oferece subsídios para uma formação plurilíngue, fazendo com que
os alunos compreendam as línguas irmãs, além da sua própria língua materna. Trata-
se, portanto, de uma nova metodologia que ajuda na didática de LE, bem como auxilia
no ensino da Língua Materna, pois quando colocada em contato com outras línguas
românicas, leva o aluno a desenvolver mais ainda seus horizontes linguísticos e
socioculturais. Para tanto, é essencial a presença do plurilinguismo, ou seja, que cada
falante possa desenvolver sua capacidade de compreensão entre línguas diversas de
forma linguística e cultural.
De acordo com Selma Alas-Martins (2011, p.62) “O plurilinguismo, se aplicado à
realidade brasileira, pode ajudar na formação do sujeito-aprendiz, pode contribuir
para a diversificação e a promoção das línguas estrangeiras favorecendo, de um lado, o
desenvolvimento cognitivo e intelectual dos aprendizes”. Assim, podemos apontar
diversos benefícios que a IC pode proporcionar para o aluno:
Ajuda na didática de LE;
Promove o ensino da Língua Portuguesa.
Nesse sentido, segundo Souza (2013, p.21), “no Quadro Europeu de Referência
para as Línguas (QECR), o plurilinguismo é caracterizado pela acentuada capacidade de
compreensão promovida por um individuo quando a sua experiência pessoal expande-
se no seu contexto cultural”. Assim, o aprendiz pode desenvolver-se a partir da sua
Língua Materna até as línguas irmãs.
Para Andrade et al (2009):
Pensar o conceito de IC do ponto de vista de práticas plurais de educação em línguas implica pensar em actividades que coloquem o sujeito e a sua formação no centro do processo, mobilizando a transferência de conhecimentos e experiências, bem como reflectir acerca das condições necessárias a uma migração do conceito para os contextos de prática (...). Mas o trabalho com a IC e as abordagens plurilíngues permite ainda redescobriras paisagens linguísticas, levando os sujeitos a olhar não só para as paisagens físicas, mas também para as paisagens sociais e humanas, identificando qualidades nessas mesmas paisagens e formas de lutar contra práticas homogeneizadoras e exclusivas. (ANDRADE et al 2009, p.289 e 292).
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Assim, aprendizes de Língua Materna, podem conhecer outras línguas
diferentes através do conhecimento plurilíngue e intercultural, pois a IC possibilita essa
formação plurilíngue, fazendo com que os alunos melhorem sua língua de origem,
além de compreender as línguas irmãs. Para Alas-Martins (2011):
O trabalho com a intercompreensão procura desenvolver a competência de recepção (escrita e oral) e dar oportunidade para que a interação se estabeleça de forma mais confortável e confiante, exigindo esforço de todos, quebrando o bloqueio do medo e vencendo o sentimento de incapacidade que normalmente ocorre, quando se trata de comunicar em uma língua estrangeira. (ALAS-MARTINS, 2011, p.62).
Desse modo, como estratégia de leitura em LE, estimulando o aluno para
descobrir novos caminhos, levamos para a sala de aula excerto do texto literário Don
Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes promovendo a IC em aula na aula de
Língua Portuguesa, na perspectiva plurilinguista e Intercultural com alunos da
Educação de Jovens e Adultos, do Ensino Básico, sendo uma turma da 8ª série, de uma
Escola Estadual de Ensino Fundamental, na cidade de Campina Grande-PB.
Portanto, a IC na sala de aula faz parte do projeto de pesquisa
Intercompreensão de Línguas Românicas através da literatura: possibilidades para a
melhoria da aprendizagem da Língua Portuguesa, que está em desenvolvimento no
Programa de Pós-Graduação em Linguagem e Ensino Universidade Federal de Campina
Grande (UFCG), na área de Ensino-Aprendizagem de Língua e Literatura, na linha de
pesquisa Ensino de Línguas Estrangeiras.
Assim, o corpus da investigação é constituído por atividades de leitura e
interpretação dos textos clássicos, realizados em sala de aula de língua portuguesa,
com o propósito de minorar problemas de aprendizagem de LE e aperfeiçoar a língua
materna a partir da proposta da IC. Desejamos, com nosso estudo, não só a
compreensão das obras lidas, mas também a sensibilização dos alunos para
descobertas de línguas até então colocadas como distantes, mas que são próximas,
devido à mesma família românica.
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3. A PROPOSTA COM A IC
Nossas observações, em mais de duas décadas em sala de aula, têm nos
mostrado as constantes dificuldades dos estudantes para compreenderem o que leem.
Além disso, criou-se no âmbito escolar que os livros necessitam ter muitas figuras para
não cansar o processo de aquisição do conhecimento. Notadamente é um engodo,
haja vista que a leitura de um compêndio seja de literatura ou não deve ser auferida
pelo prazer, por estimular o leitor a redescobrir o seu cotidiano.
Sabe-se também que muitos aprendizes não foram estimulados em seus lares e
até mesmo dentro da escola para a leitura literária, promovendo, inclusive, um forte
distanciamento para a leitura de qualquer uma obra literária. No entanto, cabe ao
professor de Língua Materna e Estrangeira possibilitar um reencontro do ser com a
obra, ou seja, apresentar estratégias que despertem não só a curiosidade, mas
também que estimule o aluno, motivando-o para a vida.
Na EJA, os problemas encontrados pelos aprendizes no que concerne à
compreensão escrita ou leitura não são diferentes do que se vê no Ensino
Fundamental regular. As dificuldades de aprendizagem são as mesmas, ou seja, na
leitura literária ouvimos as mesmas reclamações que ler não é fácil, que o tempo deles
é reduzido, pois a maioria vem para escola após o trabalho, que os textos têm que ser
mais didáticos, para que possam interpretar de forma mais segura.
De acordo com Rildo Cosson (2012, p.64), “A interpretação parte do
entretecimento dos enunciados, que constituem as inferências, para chegar à
construção do sentido do texto, dentro de um diálogo que envolve, autor, leitor e
comunidade”. Assim, as inferências dos alunos é um dialogo constante entre a obra e o
autor, bem como com a sociedade da qual ele faz parte, possibilitando sentidos para
dentro e fora da vida escolar.
Nessa perspectiva, realizamos nossa sequência didática, pensando em
minimizar as dificuldades da aprendizagem de uma Língua Estrangeira, melhorando a
Língua Materna, a partir da proposta da IC, dentro de uma abordagem plurilíngue
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Intercultural. Assim, levamos para a sala de aula, um excerto de Don Quijote de la
Mancha, de Miguel de Cervantes, para uma turma concluinte da EJA, do 8º ano, do
Ensino Fundamental, da Rede Estadual de Ensino de Campina Grande/PB.
Fonte: http://www.librostube.org/don-quijote-de-la-mancha-en-audio-y-video/
Inicialmente apresentamos o conceito da IC e, lembramos que a turma já havia
trabalhado na proposta plurilíngue através de um fragmento em língua francesa com
Les Misérables, de Victor Hugo; e, os convidamos a embarcarem na experiência
novamente.
Depois, entregamos o excerto em língua espanhola, denominado CAPÍTULO 1:
Que trata de la condición y ejercicio del famoso hidalgo D. Quijote de la
Mancha.
Escola Estadual Campina Grande, ____/______/ 2015. Disciplina: Língua Portuguesa Professor: Josimar Alves Série: 8º Turma: ____ Turno: Noite Aluno (a): __________________________________________________
Boa noite! A Intercompreensão de Línguas Românicas, conhecida como (IC) faz com que
você compreenda as línguas irmãs (Espanhol, Italiano, Francês, além de outras línguas) e o mais interessante é que essa metodologia vai auxiliar a você a melhorar o seu conhecimento em Língua Portuguesa.
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Lembra que você realizou uma atividade com um fragmento do texto Les Misérables, de Victor Hugo? A história era sobre Jean Valjean, um ex-presidiário, que foi buscar apoio para sobreviver em uma Igreja. Agora você vai ler um pequeno trecho sobre Don Quijote de la Mancha, de Miguel de Cervantes. Vamos embarcar nessa experiência novamente?
Amplexo, Josimar Alves – seu professor.
Don Quijote de la Mancha, de Miguel Cervantes
Primera parte CAPÍTULO 1: Que trata de la condición y ejercicio del famoso hidalgo D. Quijote de la
Mancha En un lugar de la Mancha, de cuyo nombre no quiero acordarme, no ha mucho
tiempo que vivía un hidalgo de los de lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor. Una olla de algo más vaca que carnero, salpicón las más noches, duelos y quebrantos los sábados, lentejas los viernes, algún palomino de añadidura los domingos, consumían las tres partes de su hacienda. El resto della concluían sayo de velarte, calzas de velludo para las fiestas con sus pantuflos de lo mismo, los días de entre semana se honraba con su vellori de lo más fino.
Tenía en su casa una ama que pasaba de los cuarenta, y una sobrina que no llegaba a los veinte, y un mozo de campo y plaza, que así ensillaba el rocín como tomaba la podadera. Frisaba la edad de nuestro hidalgo con los cincuenta años, era de complexión recia, seco de carnes, enjuto de rostro; gran madrugador y amigo de la caza. Quieren decir que tenía el sobrenombre de Quijada o Quesada (que en esto hay alguna diferencia en los autores que deste caso escriben), aunque por conjeturas verosímiles se deja entender que se llama Quijana; pero esto importa poco a nuestro cuento; basta que en la narración dél no se salga un punto de la verdad.
Es, pues, de saber, que este sobredicho hidalgo, los ratos que estaba ocioso (que eran los más del año) se daba a leer libros de caballerías con tanta afición y gusto, que olvidó casi de todo punto el ejercicio de la caza, y aun la administración de su
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hacienda; y llegó a tanto su curiosidad y desatino en esto, que vendió muchas hanegas de tierra de sembradura, para comprar libros de caballerías en que leer; y así llevó a su casa todos
cuantos pudo haber dellos; y de todos ningunos le parecían tan bien como los que compuso el famoso Feliciano de Silva: porque la claridad de su prosa, y aquellas intrincadas razones suyas, le parecían de perlas; y más cuando llegaba a leer aquellos requiebros y cartas de desafío, donde en muchas partes hallaba escrito: la razón de la sinrazón que a mi razón se hace, de tal manera mi razón enflaquece, que con razón me quejo de la vuestra fermosura, y también cuando leía: los altos cielos que de vuestra divinidad divinamente con las estrellas se fortifican, y os hacen merecedora del merecimiento que merece la vuestra grandeza. (…)
En resolución, él se enfrascó tanto en su lectura, que se le pasaban las noches leyendo de claro en claro, y los días de turbio en turbio, y así, del poco dormir y del mucho leer, se le secó el cerebro, de manera que vino a perder el juicio. Llenósele la fantasía de todo aquello que leía en los libros, así de encantamientos, como de pendencias, batallas, desafíos, heridas, requiebros, amores, tormentas y disparates imposibles, y asentósele de tal modo en la imaginación que era verdad toda aquella máquina de aquellas soñadas invenciones que leía, que para él no había otra historia más cierta en el mundo. (…)
Puesto nombre y tan a su gusto a su caballo, quiso ponérsele a sí mismo, y en este pensamiento, duró otros ocho días, y al cabo se vino a llamar don Quijote, de donde como queda dicho, tomaron ocasión los autores de esta tan verdadera historia, que sin duda se debía llamar Quijada, y no Quesada como otros quisieron decir. Pero acordándose que el valeroso Amadís, no sólo se había contentado con llamarse Amadís a secas, sino que añadió el nombre de su reino y patria, por hacerla famosa, y se llamó Amadís de Gaula, así quiso, como buen caballero, añadir al suyo el nombre de la suya, y llamarse don Quijote de la Mancha, con que a su parecer declaraba muy al vivo su linaje y patria, y la honraba con tomar el sobrenombre della.
A atividade de IC, consistiu na atividade de conduzir os aprendizes à leitura de
um excerto para que pudessem realizar o estudo do texto. Após a leitura, realizada
pelos aprendizes, eles começaram a comentar entre si as similaridades entre a língua
espanhola e a língua portuguesa, além de promoverem um debate sobre a imaginação
e a realidade, sonho e razão e o porquê de a personagem gostar tanto de ler.
Em seguida, entregamos um estudo do texto com cinco questões para que
apresentassem sua compreensão a cerca do excerto. Veja a resposta de um dos alunos
da turma.
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A turma realizou o estudo do texto e ficou comentando as descobertas que
realizaram ao ler o excerto na língua espanhola. Alguns aprendizes falaram que iriam
pesquisar na internet outros textos focalizados em Miguel de Cervantes, bem como
em outros autores espanhóis, pois a proximidade entre as línguas fizeram ver muitas
possibilidades de crescimento linguístico e cultural. Desse modo, para Bakhtin (1997),
a interação ocorre devido às reflexões que o ser humano faz através de suas atitudes
responsivas, ou seja, pelas suas reações-respostas. Acrescentamos a esta noção, a de
Vygotsky (2005) que nos coloca o fato de que o pensamento e a linguagem estão
centrados na motivação dentro de cada um que também exterioriza.
Para finalizar nossa sequência didática, entregamos o excerto na Língua
Materna, não com o intuito de tradução, mas para que os alunos constatassem a
capacidade que eles tiveram de compreensão, pois como nos afirma Filomena
Capucho (2010):
Intercompreensão e tradução são, pois, actividades distintas, que implicam processos distintos. É certo que a intercompreensão pode constitui um primeiro momento de acesso ao sentido, no âmbito de actividade de tradução, mas ela não é suficiente – os processos de tradução são, obrigatoriamente, mais desenvolvidos, mais precisos, implicando, para além da compreensão parcial do dito, da decodificação lexical da mensagem. (CAPUCHO, 2010, p.99).
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Nesse sentido, não devemos confundir o ensino da IC como atividade de
tradução, para não trazer constrangimentos à reflexão do aprendiz, visto que são
processos distintos. Por fim, depois que os aprendizes leram o texto em Língua
Materna, comemoraram suas descobertas e relacionaram com a experiência com a
língua francesa, com o excerto Les Misérables, de Victor Hugo, em aulas anteriores,
chegando à conclusão de que a experiência em sala de aula foi muito válida. Além
disso, notamos mais entusiasmo por parte deles em realizar as atividades de língua
portuguesa, e obtivemos um breve relato do professor de língua inglesa que afirmou
que os alunos estavam mais abertos às atividades que ele estava levando para a sala
de aula.
Dentro do nosso projeto de pesquisa, nessa experiência piloto, devido ao
tempo, não foi possível, desenvolver atividades de IC com outra língua irmã,
especificamente a língua italiana, com excerto Le avventure di Pinocchio, de Carlo
Collodi. Mas nos sentimos satisfeitos, uma vez que conseguimos em sala de aula,
trabalhar duas línguas irmãs (francesa e espanhola), com excertos significantes da
literatura, que proporcionaram aos aprendizes a retomar o gosto pela leitura, bem
como o estimulo para o conhecimento linguístico e cultural.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A sala de aula é um lugar ideal para desenvolvermos pesquisas, bem como
estimular os alunos para que possam vislumbrar caminhos dentro de fora da escola.
Notadamente, a Intercompreensão de Língua Românicas, não é apenas uma proposta
para o Ensino Fundamental, mas pode ser aplicada para todos os níveis de
escolaridade, permitindo ao aprendiz uma visão transcendente e plural da sociedade
vigente com culturas diferentes.
A experiência com o excerto literário Don Quijote de la Mancha, de Miguel de
Cervantes, proporcionou a turma do 8º ano, da Educação de Jovens e Adultos,
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adentrarem mais ainda nas línguas românicas, porque mesmo diferentes, são irmãs e
apresenta também suas similaridades.
Ao aplicarmos a IC no Ensino Fundamental, abrimos novos olhares para o
aprendiz que estava inerte para a leitura e compreensão, além de minimizar
problemas na aprendizagem de LE, bem como auxiliando na melhoria da língua
portuguesa.
Para tanto, é preciso que o professor de LE ou LM não se fixe apenas no sentido
de encontrar uma forma de direcionar a leitura literária, mas trabalhar estratégias de
ensino que permitam o aluno a viver o onírico, mas sem perder de vista a criticidade e
a reflexão da sociedade da qual ele está inserido.
Os postulados teórico-metodológicos aqui apresentados corroboraram para
que compreendêssemos melhor a IC e sua inserção dentro sala de aula. Assim,
esperamos que nossa contribuição sirva para que você leitor-professor-pesquisador,
possa se interessar e adentrar na IC para possibilitar numa abordagem plurilíngue,
novos caminhos para os aprendizes que são ávidos ao conhecimento na escola, bem
como para a vida, focalizados na leitura literária, através das línguas românicas.
REFERÊNCIAS
ALAS-MARTINS, S. Aquisição de saberes múltiplo: Galanet na universidade. REDINTER - Intercompreensão, 2. Chamusca: Edições Cosmos / REDINTER, 2011. ANDRADE, A. I., MELO-PFEIFER, S. & SANTOS, L. Que lugar para a Intercompreensão em contextos de aprendizagem formal? Propostas de inserção curricular de abordagens plurilingues. In: Araújo e Sá, M. H., Hidalgo, R., Melo-Pfeifer, S., Séré A. & Vela, C.. A Intercompreensão em Línguas Românicas: conceitos, práticas, formação. Aveiro: Oficina Digital, 2009 BAKHTIN. Mikail. Estética da criação verbal. Tradução de Maria Emsantina Galvão G. Pereira. 2ed.São Paulo: Martins Fontes, 1997. CANDIDO, Antonio. A vida ao rés-do-chão. Prefácio Para Gostar de Ler. São Paulo: Ática, 1981, volume 1, p. 4-13. CAPUCHO, F. Intercompreensão – Porquê e como? – Contributos para uma fundamentação teórica na noção. REDINTER – Intercompreensão, 1. Chamusca, Edições Cosmos/REDINTER, 2010, p.85-102.
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COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. 2ªed. São Paulo: Contexto, 2012. CERVANTES, Miguel Don Quijote. .http://www.donquijote.org/spanishlanguage/literature/library/quijote/1.asp http://www.donquijote.org/spanishlanguage/literature/library/quijote/2.asp Acesso 20/09/ 2015. SOUZA, R. G. de. Didática do plurilinguismo: efeitos da intercompreensão de línguas românicas na compreensão de textos escritos em português. Tese [Doutorado em Linguística Aplicada] – Programa de Pós Graduação em Estudos da Linguagem. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Departamento de Letras. UFRN, Natal, 2013. VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
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