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JUVENTUDES E DISTINÇÃO: ESTILOS DE VIDA NA “PRACINHA DO
SIQUEIRA CAMPOS”1
Mateus Antonio de Almeida Neto (UFS)
Resumo
Este artigo é o resultado de uma pesquisa de campo realizada entre os anos de 2010 a
2013, em que analisei a problemática das juventudes e das identidades associadas ao
consumo de determinados estilos musicais num Bairro da cidade de Aracaju. Discuti
como tais estilos associados ao rock, ao hip hop, ao reggae e ao pagode configuram
formas de ser entre os jovens que procuram expressar sua presença no espaço público a
partir de questões locais e globais. Procurei compreender quem são estes jovens, como
eles constroem seus sentidos de subjetivação e distinção para com outros jovens e com
os adultos e como eles ocupam e dão sentidos aos lugares do principal espaço de
socialização e lazer do Bairro Siqueira Campos, a Pracinha.
Palavras-chave: Juventudes – Estilos de Vida – Espaço Público.
Este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa de campo realizada através
da observação participante no ano de 2010 a 2013, durante uma vivência mais
prolongada com os jovens que frequentam cotidianamente a “Pracinha do Siqueira”,
oficialmente denominada de Praça Dom José Thomaz no Bairro Siqueira Campos,
cidade de Aracaju (SE). Em geral, eles se identificam com estilos associados à música,
como o pagode, o rock, o hip hop e o reggae. Objetivou-se analisar as tensões, as
práticas, as distinções, o consumo e os gostos associados ao estilo de vida nos usos dos
lugares de lazer e sociabilidades no bairro.
Localizado na Zona Oeste de Aracaju, o Bairro Siqueira Campos tem sua
história associada aos operários do primeiro polo industrial de Sergipe, na década de
trinta do século vinte, e aos trabalhadores com pouca ou nenhuma renda que saíram do
interior com destino a capital a procura de meios para a subsistência e de uma vida
melhor no início do século vinte. Porta de entrada e saída da capital, paulatinamente aí
se desenvolveram práticas ligadas às atividades comerciais e de consumo cultural, que
hoje caracterizam o cotidiano local.
Atualmente, a “Pracinha do Siqueira”, a única do bairro, há grande
concentração e circulação de pessoas, principalmente de jovens que se movimentam
pelas ruas, bares, lanchonetes, escolas e equipamentos urbanos localizadas no seu
1 Trabalho apresentado na 29ª Reunião Brasileira de Antropologia, realizada entre os dias 03 e
06 de agosto de 2014, Natal/RN.
2
interior ou no seu entorno, a trabalho, à procura de drogas2, lazer
3, entretenimento e
redes de sociabilidades4.
Os grupos juvenis pesquisados apresentam características complexas. São de
famílias oriundas de diferentes regiões de Sergipe; não compõe uma faixa etária
uniforme; apresentam perfil socioeconômico similar; alguns são filhos de pais operários
e ex-operários, outros de pais comerciantes e também comerciários, alguns de
funcionários públicos e outros de pais aposentados. A maior parte desses jovens são
moradores do Siqueira Campos, alguns já residiram no bairro e outros estudaram ou
estudam nas instituições escolares do local. Há, ainda, os que frequentam a praça, mas
residem em bairros vizinhos ou em outros pontos da cidade e aparecem vez por outra
em busca de lazer e consumo. Além daqueles que trabalham nos bares e lanchonetes do
próprio local e os flanelinhas (guardadores de carro). Durante a observação, percebi
uma diferenciação entre os considerados “de dentro” em relação aos ditos “de fora”5,
como destaca Magnani (2003) em seus estudos sobre São Paulo. Através das práticas
vivenciadas no cotidiano da praça são experimentados sociabilidades e sentidos de
identificação também associados ao pertencimento ao lugar, neste caso o bairro. O
cotidiano local marca e molda a maneira decisiva de pertença ao lugar.
Na praça, há outra forma de demarcação da diferença entre estes jovens. Há os
que se reúnem em torno de estilos musicais, como o hip hop, o rock, o reggae, que além
de considerados em suas especificidades associados a um dado gosto musical também
2 Expressão nativa usada para se referir ao uso de substâncias psicoativas que alteram a
percepção dos sentidos, entre elas, a bebida alcoólica, a maconha e a cocaína. 3 Segundo Barral (2006, p. 43-45), o lazer tem relação com o ócio, mas é uma categoria tensa,
ambígua e complexa, pois surge como possibilidade de vivência, quando praticada em espaços
de uso coletivo. Para o autor, o lazer ocorre como reposição de energia para o trabalho, como
descanso, divertimento e crescimento pessoal e/ou coletivo, como enriquecimento, aquisição de
informação e momento de consumo. Assim, as práticas de lazer favorecem formas de pensar,
vivenciar e representar a cultura de um grupo, bem como possibilita o exercício de
sociabilidades. 4 Entendo por redes de sociabilidades uma particular modalidade de comunicação e cultura
realizada nos espaços de usos semelhantes tecidas a partir de posturas corporais, gestualidades e
as linguagens como sinais exteriores de pertencimento a um dado grupo ou lugar que combinam
laços de parentesco, vizinhança, procedência, origem, afinidades imaginadas, práticas
desportivas, educacionais, lúdicas, etc associadas ao lazer e ao consumo. São as sociabilidades
realizadas no espaço social da rua que, nesse contexto, configura o mundo dos “chegados” e dos
“brothers”, os quais exercitam sua linguagem e cultura própria. 5 As expressões “de dentro” e “de fora” foram cunhadas por Magnani (2003, p. 89-90) para
identificar os grupos juvenis que usam os espaços de uso coletivo das cidades como lugares nos
quais se adquire visibilidade a partir de uma particular modalidade de comunicação e cultura. O
que o autor denomina de “pedaço”. Para Magnani, o pedaço não é o espaço onde propriamente
as pessoas se conhecem, mas se reconhecem devido os usos semelhantes, as posturas corporais,
as gestualidades e as linguagens.
3
são considerados no conjunto como o grupo dos “alternativos”. Já os jovens que se
reúnem em torno de estilos relacionados ao pagode são denominados “pagodeiros”. Há
também os que são classificados como “zumbis” e os “aviões”. O primeiro, boa parte
deles, tiveram algum tipo de identificação com os estilos já mencionados, mas o vício
associado às drogas ditas ilícitas, entre elas, a maconha, a cocaína e o crack, os levaram
ao afastamento dos grupos devido à perda da confiança e a aparência corporal, como
uma forma de profanação aos estilos. Também são denominados de “nóia”. Já os ditos
“aviões”, possuem uma aparência corporal diversificada: alguns trajam indumentárias
similares aos denominados de alternativos, mas outros têm portes associado aos
pagodeiros, como a forma de andar e os cortes de cabelo estilo moicano, os topetes e as
mechas louras no cabelo. Todavia, são jovens que transitam de forma fluida entre os
grupos juvenis e os espaços da “Pracinha do Siqueira”. Ora estão entre os “pagodeiros”,
ora entre os “alternativos” a procura de clientes para o consumo de drogas, como
também formas de passar o tempo. Estas denominações se dão entre os próprios
frequentadores da praça. Ambos não formam agrupamentos associados a estilos
musicais, mas transitam entre os grupos juvenis.
Esses estilos só podem se apreendidos através de uma vivência mais
prolongada com os comportamentos estudados, “de dentro”, como destaca Magnani
(2003), cujo sistema torna-se visível no espaço social da rua e que se traduz pelo
vestuário, pela aplicação e observação dos códigos de linguagens, as minúcias do ritmo
do andar, além do modo como se evita ou ao contrário se valoriza o outro; é um jogo de
etiquetas, como diria Certeau, (2012, p. 38). Essa vivência, a partir do cotidiano, pode
permitir aos jovens o contato com práticas de uma cultura, a priori, desinteressada do
corpo, da sensibilidade e da razão, mas possibilita inconscientemente a formação de
práticas e técnicas do corpo, as quais oferecem possibilidades de integração voluntária à
vida de agrupamentos socioculturais adquiridas na escola e/ou no espaço social da rua.
Os “alternativos” têm idades entre os dezessete e trinta e três anos. A maior
parte deles cursa ou cursou o Ensino Técnico ligado à tecnologia da informação e de
mecânica de automóveis, entre eles têm os que possuem o Ensino Superior. Alguns
deles não têm uma ocupação definida, outros trabalham em empresas ligadas a
comunicação visual e a tecnologia da informação, alguns têm o seu próprio negócio
associado também a essas áreas de atuação e outros são músicos. Já os “pagodeiros”
têm entre os dezessete e vinte e oito anos, uns possuem o Ensino Fundamental e alguns
o Ensino Médio incompleto. Eles trabalham como dançarinos de bandas de pagode e de
4
forró, alguns são músicos e tem os que vivem de pequenos bicos auxiliando o trabalho
de familiares e amigos.
Os “zumbis” têm idade entre os vinte e trinta e três anos. Boa parte deles
possui o Ensino Fundamental completo, outros o Ensino Médio incompleto. Eles vivem
de pequenos furtos, de praticar golpes nos amigos e familiares, e outros no
desenvolvimento da profissão de flanelinha. Os “aviões” têm idade entre os quinze anos
aos vinte oito anos. A maior parte deles tem o Ensino Fundamental completo. Eles
vivem de fazer “rolo”6, furtos e a venda de drogas. Alguns já praticaram assaltos a casas
lotéricas, agências dos Correios, postos de gasolinas; outros já cumpriram penas.
1. A “Pracinha do Siqueira”: um lugar comum aos “de dentro”
Os estudos sobre as populações jovens têm demonstrado que o lazer possui
uma realidade fundamentalmente ambígua e aspectos múltiplos e contraditórios. Como
destaca Dumazedier (1973, p. 20), o lazer “[...] possui relações sutis e profundas com
todos os grandes problemas oriundos do trabalho, da família e da política que, sob sua
influência, passam a ser tratados em novos termos”. Neste caso, o lazer estaria
vinculado à satisfação pessoal e é expresso como parte da cultura de um dado grupo ou
sociedade. Também estaria relacionado a práticas realizadas em lugares, espaços
públicos, equipamentos urbanos, manifestações artísticas, culturais e desportivas. É
também no tempo-espaço do lazer, portanto, que os signos ganhariam sentido através de
práticas singulares da cultura, reprodutoras e difusoras de processos de identificação que
potencializam diversas formas de sociabilidades (PAIS, 2003; MAGNANI, 2008).
Estudar as juventudes na “Pracinha do Siqueira” me possibilitou perceber
aspectos ligados aos processos de identificação dos grupos e estilos de vida em
evidência, pois esta praça é caracterizada por possibilitar encontros, contatos, trocas,
consumo, sociabilidades, tensões, o lazer e a circulação de práticas culturais juvenis,
principalmente nos finais de semana quando outros jovens se movimentam pelo bairro à
procura de lazer e algum tipo de diversão, como as “baladas” e as drogas. Estes mesmos
grupos juvenis se diferenciam, quando lhes interessa, a partir do consumo de códigos
visuais, sonoros e no modo como usam os espaços públicos para o lazer no Siqueira
Campos. São os gostos e as práticas que demarcam também uma plasticidade na forma
6 Expressão nativa referente à troca e a venda de produtos.
5
de se vivenciar a experiência das juventudes em espaços influenciados por questões
locais e globais. Grosso modo, também fundamenta a maneira dos usuários se portar no
espaço social da rua.
Percebe-se que os processos de identificação, neste caso, são relacionais,
contextuais, tematizados e também demarcados pela experiência da socialização
temporária e de consumo. Não existem identidades fora de contextos. Em si mesmo, o
conceito é sempre relativo a algo específico e que está em jogo. Nessa concepção, o
ponto de partida dos processos de identificação, seja individual ou coletivo, é o fato de
que somos sempre o outro de alguém num dado contexto social. São os encontros, os
contatos, as trocas, os conflitos, a memória e o despertar de um sentimento de pertença a
um dado espaço e afinidades, mesmo imaginadas, que evidenciam definições de
identificação e de estilos. O bairro aparece como o lugar onde a arte de conviver
socialmente com o diferente, mesmo que de forma fragmentada, se liga ao fato da
proximidade e repetição. Nesse tipo de convivência o usuário é reconhecido pelo outro,
na medida em que sua identidade lhe permite assumir o seu lugar na rede de relações
inscritas no ambiente, enfatiza Certeau (2012, p. 40).
Nesse sentido, em relação ao Siqueira Campos, as populações jovens
consideradas “de dentro”, vivenciam o dia a dia na “Pracinha do Siqueira” e interagem
entre si cotidianamente no lugar onde as vivências, os contatos e as práticas juvenis
parecem pulsar no bairro. Mesmo àqueles associados a estilos musicais considerados
“alternativos” mantêm algum tipo de contato com aqueles reconhecidos como
“pagodeiros”, os ditos “zumbis” e os “aviões”. Isso se deve ao fato de vivenciarem
numa faixa etária aproximada os mesmos problemas socioeconômicos, do desemprego,
da educação de baixa qualidade e de um futuro incerto no que diz respeito às
possibilidades de autonomia familiar e o consumo do ambiente social.
Os espaços urbanos de sentidos, nos bairros, principalmente praticados pelas
juventudes, trazem uma aprendizagem social bastante particular e poderosa à vida social
cotidiana. É como se os encontros e a convivência diária, paulatinamente, através de
códigos de conduta e um jogo de etiquetas permitisse inconscientemente a inscrita de
um pacto de vida e uma história em comum, diria Certeau (2012). Assim, os lugares de
sentidos, nesse caso, das juventudes, apresenta uma modalidade interessante de
comunicação e cultura. Torna-se o lugar de reconhecimento do outro como igual.
Aquele que está dentro, necessariamente precisa conhecer os símbolos, os códigos e a
etiqueta local, como também respeitá-los. Os que não estão habituados a esse tipo de
6
conduta e a percepção do jogo da etiqueta local é convidada a sair do território. O
mínimo de desrespeito a um indivíduo dito como “de dentro” automaticamente aciona
mecanismos de identificação com o outro e, em seguida, a expulsão de quem não
percebe a simbologia da etiqueta local. Como destaca Magnani (2003), são
características do “pedaço”.
O território onde se desdobram e se repetem dia a dia determinadas práticas
culturais é antes de tudo o espaço doméstico, o lugar de sentido para os “de dentro”, no
qual se enraíza de forma material e efetivamente o microcosmo familiar de um modo de
vida. “Entra-se em casa, no lugar próprio que, por definição, não poderia ser o lugar de
outrem. Aqui todo visitante é um intruso, a menos que tenha sido explícita e livremente
convidado a entrar” (CERTEAU, 2012, p. 203).
2. Os “alternativos” como estilo de vida: a prática da alteridade
Na “Pracinha do Siqueira”, os ditos “alternativos” compartilham
cotidianamente conversas sobre música, shows, trabalho, composições musicais, bandas
associadas a estilos musicais do interesse de cada um, filmes e videoclipes que podem
ser compartilhados pelos novos mecanismos de acesso ao consumo cultural, entre eles,
a internet, os tablets e a telefonia móvel que se tornaram popularmente comuns a toda
uma geração do tempo presente, embora com intensidade desigual, a depender das
condições socioeconômicas e culturais, dizem Marcon e Tomáz (2012, p.139). Também
compartilham esportes e drogas consideradas por eles próprios como leves; entre elas, a
cachaça e a maconha. Além disso, comentam diversos fatos do cotidiano, como
assuntos de destaque na imprensa brasileira e em sites diversos. Percebe-se, inclusive,
que essas vivências, encontros e contatos acontecem geralmente à noite, sobretudo nos
finais de semana, quando trocam experiências ancoradas em relatos que valorizam e
reproduzem práticas ligadas a uma produção considerada marginal, que é compartilhada
entre amigos. Muitos desses jovens são músicos e vivenciam a produção musical como
processo de identificação e diferenciação em relação aos outros grupos e aos adultos.
É também no espaço da “Pracinha do Siqueira” que os jovens considerados
“alternativos”, levam instrumentos musicais, principalmente o violão, para tocar e
cantar em rodas de amigos. Nesses dias, trajando suas indumentárias e insígnias
características, ao som de música, seja ao tom do violão e voz, ou mesmo nos celulares,
se reúnem em diálogos que podem ultrapassar a madrugada, realizando o que eles
7
denominam de “luau urbano”, onde também fazem uso de bebidas alcóolicas e de
maconha. Em situações mais organizadas ou de modo mais espontâneo os encontros na
praça são momentos em que eles compartilham um estilo de vida comum.
Diz um jovem de trinta e três anos,
O bom mesmo é vir pra cá no final de semana, porque vai ter mais
gente pra conversar. A gente também trabalha e estuda. Na praça, a
gente vai mais nas horas vagas, aí marca com a galera pra
compartilhar o que anda fazendo, “tá ligado?”7
Em síntese, percebe-se que para os jovens considerados “de dentro”, na
“Pracinha do Siqueira”, o tempo ocioso é fundamental como momento que agrega o
grupo por interesse dele próprio, sem as obrigações de relações implicadas pela família,
pelo trabalho ou pela escola.
Pais (2003) e Magnani (2007) já demonstraram que os espaços públicos como
as ruas, os mercados, os parques e as praças são transformados em lugares de lazer,
consumo e sociabilidades nem sempre previsíveis. São lugares onde, mesmo de forma
inusitada, os jovens aparecem como mediadores de intervenção local, a partir do
momento em que ocupam sazonalmente estes espaços de forma não convencionada pela
norma que regulamenta e disciplina tais usos e manifestam formas de estar, de
linguagens estéticas, de códigos visuais e sonoros e de percepções de mundo distintas
da moral convencionada para o lugar, um contra-poder.
Em tais contextos, a questão do grupo etário aparece como marcador de um
tipo de interação com a praça associada ao tempo livre e a uma faceta da vida que está
distante da observação, do controle e da estrutura e poder do âmbito familiar
(MARTÍN-BARBERO, 2008). Os jovens frequentam a praça em dias e horários
específicos, e em cada momento exercitam diferentes modos de vivenciá-la, passando a
ser associados ao ócio e a indisciplina pelos representantes do poder público e pelos
adultos em geral.
Além da distinção entre jovens e adultos, processos de identificação e de
diferenciação também ocorrem entre os jovens. As identidades se processam entre eles a
partir do caráter plástico, do uso de bens materiais e simbólicos associados à música, a
partir dos laços de amizade, da memória relativa a um dado espaço, da procedência, da
distinção étnica, de classe, de gênero, de parentesco e de vizinhança. É também uma
forma de expressar a diferença diante do outro, de manipular códigos que destacam
7 Entrevista concedida por jovem com Ensino Superior, solteiro, 33 anos, reconhecido como da
“galera do heavy metal”, 27/09/2010.
8
distinções entre os grupos. Como diz Hall (2006), esses processos são jogos dialéticos,
marcados por possibilidades de representarem alguma alteridade entre pessoas e grupos
sociais no presente. Ir a “Pracinha do Siqueira” é mais que uma realidade topográfica ou
um mero exercício de passeio; também é o lugar onde se processa a efetividade do
reconhecimento do outro como igual.
Uma das descrições mais utilizadas pelos grupos juvenis considerados
“alternativos” para marcar a diferença em relação aos “pagodeiros” e entre os ditos
“zumbis” e os “aviões”: primeiro, é o fato de considerarem que “os pagodeiros não tem
cultura própria”, pois eles utilizariam os bens culturais distintivos de outras
denominações das culturas juvenis, como o uso de bonés “palheta reta”, calças folgadas,
blusões, tênis e passos de dança que caracterizariam o hip hop. Além de pulseiras,
correntes, piercings, cortes de cabelo estilo moicano e alargadores que caracterizariam
alguns estilos musicais ligados ao rock’ n roll e ao reggae. Ou seja, os “alternativos”
alegam que os “pagodeiros” consomem os ícones entendidos como sendo
caracterizadores da autenticidade dos seus ou de outros grupos de estilo, como se os
profanassem, vulgarizando suas insígnias como modismos passageiros.
Já os considerados “zumbis” e os “aviões”, mesmo com determinadas
especificidades não formam agrupamentos específicos, até podem “colar” no grupo dos
“alternativos”, pois alguns deles trajam insígnias associadas ao grupo, como também
tem uma relação de proximidade, devido o convívio cotidiano na “Pracinha do
Siqueira”, alguns já estudaram juntos e outros são vizinhos, ou compartilham uma
memória relativa a um dado lugar. Raramente, quando isso acontece, aos poucos o
grupo vai se movimentando por outros espaços, se dispersando no sentido de anular tal
presença.
Percebe-se que a simbologia associada à música, como a indumentária, os
acessórios, as linguagens estéticas e as gestualidades corporais são traços de distinção
que caracterizam culturas juvenis e, ao mesmo tempo, sugerem identificar tais
juventudes com construtos de estilos de vida, dos quais os jovens acreditam ser
herdeiros e propagadores, devido ao fato de serem considerados praticantes de um
determinado modo de vida atrelado ao consumo, a gostos típicos e a uma fase específica
da vida. Além de ser uma forma de distinção.
Além de se movimentarem pela “Pracinha do Siqueira”, os agrupamentos
juvenis considerados “de dentro”, demarcam entre eles seus lugares a partir de códigos
visuais, sonoros e estéticos. Como diria Certeau (2012), a regularidade de agrupamentos
9
em um determinado local, memoriza gestos e percursos, guardam sentidos, cheiros e
ruídos que paulatinamente tornam-se familiares. Tais demarcações são tênues e fluidas,
mas respeitadas pelos frequentadores do espaço a partir de uma etiqueta de convívio e
formas de uso do lugar.
As juventudes consideradas “alternativas”, autoidentificadas com estilos
musicais como o rock, o reggae e o hip hop, geralmente se movimentam pelos
gramados atrás das lanchonetes ou ficam embaixo de uma árvore em frente à Igreja
Católica, localizada no entorno da praça, ou param embaixo de outra árvore em frente a
um colégio particular, às vezes se reunindo próximos à quadra de basquete ou ao ponto
de ônibus8. A escolha desses lugares, de certa forma, pode dar-se de forma aleatória, a
depender de como os grupos vão se movimentando e circulando durante a noite. Mas
também pode estar relacionado à própria prática do basquete, ou quando alguns dos
indivíduos dos grupos necessitam utilizar o serviço público de transporte para se
deslocar a outros espaços da cidade. São nesses espaços que esses jovens se encontram,
trocam experiências e dizem “curtir” o seu momento de lazer no bairro, mas também é o
modo pelo qual demarcam experiências diferenciadas perante os outros.
A Praça Dom José Thomaz é o espaço público privilegiado dessas juventudes
autoidentificadas com um estilo de vida dito “alternativo” para a prática do lazer, de
esportes, o bate-papo, o namoro e as trocas de conhecimento sobre as músicas que
gostam e a produção artística e cultural do momento. No entanto, ocupam espaços
menos centrais da praça, afastados dos bares e lanchonetes, em lugares menos
luminosos e um pouco distantes das músicas executadas nos bares da praça. Os ditos
“zumbis” também ocupam espaços menos centrais. Para os “pagodeiros”, no entanto, há
na própria praça bares-lanchonetes que privilegiam o pagode e os estilos afins, como o
forró e o arrocha9, em suas caixas de som. Esses estabelecimentos são frequentados
cotidianamente pelos pagodeiros, onde conversam, paqueram, consomem, trocam
experiências, ouvem música e dançam, principalmente nas noites de quinta-feira,
quando os donos dos estabelecimentos se reúnem para contratar grupos musicais10
. Os
8 Ver Mapa da Movimentação dos Grupos na “Pracinha do Siqueira”.
9 Estilo musical e dança proveniente do estado da Bahia. Tem influências da seresta e da música
brega. É um estilo romântico, que apresenta uma dança sensual tocada ao ritmo de teclado,
saxofone e guitarra. 10
Este projeto acontece sazonalmente, pois depende de autorização da prefeitura municipal e
das autoridades policiais, uma forma de disciplinar os usos dos espaços públicos. Quando não
há essa permissão, devido o número de ocorrências policiais e denúncias sobre tráfico,
perturbação da lei do silêncio, brigas e tentativas de homicídios, os donos dos estabelecimentos
10
denominados de “aviões” também utilizam e consomem esses mesmos espaços, o
diferencial é a forma fluida que se movimentam por esses lugares e o domínio das áreas
entre os bares e lanchonetes.
Diante da intensificação dos contatos entre os jovens e a pluralidade de estilos
de vida estabelecidos na “Pracinha do Siqueira”, este espaço tem sido caracterizado
como lugar onde ocorrem manifestações significativas, em que são acionados códigos
referentes a universos simbólicos diferenciados. Isto quer dizer que a “Pracinha do
Siqueira”, além de ser um espaço de trânsito, de práticas e de afirmação entre as
juventudes consideradas “de dentro”, do bairro, também pode ser vista pelas populações
juvenis de outras localidades como um espaço típico para o lazer e o divertimento
associado a determinados estilos, onde os jovens podem se relacionar não só por meio
de laços de amizades, mas também através do exercício ou da oferta de determinados
serviços pelo meio de estabelecimentos e equipamentos urbanos.
Mapa da Movimentação dos Grupos Juvenis na “Pracinha do Siqueira”
se reúnem e taticamente reordenam o espaço público segundo a ótica do contra-poder,
contratam seguranças, bandas e o som para efervescer o comércio local.
11
Fonte: Designer de Interiores: Viviany Moura de Freitas
Legenda
A. Movimentação dos grupos autoidentificados com o estilo musical do rock, do hip hop e do
reggae.
B. Movimentação dos grupos autoidentificados com o estilo musical do pagode.
C. Movimentação da venda de drogas.
D. Jogos
E. Movimentação dos grupos das Igrejas Evangélicas.
3. Os ditos “zumbis” X os “aviões”
Os jovens denominados de “zumbis”, na “Pracinha do Siqueira”, tem uma
forma peculiar de estilo. Alguns se autodenominam “flanelinhas”: guardam e lavam os
veículos. A maioria abandonaram os estudos para trabalhar e comprar bens de uso. Mas,
o uso diário de drogas, principalmente o crack, contribuiu decisivamente na alteração da
aparência corporal e na relação com os agrupamentos juvenis e os equipamentos
12
urbanos. Com o Ensino Fundamental e raramente o Médio, entretanto, incompleto, o
mercado de trabalho de alguma forma tornou-se bastante estreito para essa juventude.
Usuários intensos e conhecedores da trama sociocultural da pracinha,
paulatinamente passaram a ocupar os espaços destinados a estacionamento e dessa
prática recursos para manter seus vícios e a sobrevivência. Alguns dominam as áreas
destinadas aos veículos de forma tão intensa que pode haver conflitos de interesses e,
ocasionalmente, brigas pelo domínio dos territórios. Outros, os que não têm condições
físicas e muito menos mental, esperam o desaparecimento momentâneo dos donos dos
territórios para ocupar algum espaço. Quando os mesmos aparecem, existe um tipo de
negociação velada para dividir a área. Às vezes, essa negociação pode acaba em conflito
corpo a corpo. Mas, de alguma forma esse conflito acaba em entendimento. Uns vivem
de pequenos furtos aplicados em menores de idades, mulheres e familiares. Há, também,
os que se relacionam com gays para a prática de programa sexual.
Já os “aviões”, alguns cursam e outros cursaram o Ensino Médio. Eles se
deslocam de forma fluida pela “Pracinha do Siqueira”, mas dominam os espaços entre
os bares e lanchonetes, lugares onde vendem e consomem drogas. Seus portes corporais
podem confundir os “de fora”. Ora trajam indumentárias associadas ao estilo hip hop:
bonés “palheta reta”, blusões entre outros acessórios; ora outros estão mais atrelados ao
visual dos “pagodeiros”: com bonés e o “franjão” a mostra, e alguns trajam roupas que
delineiam o corpo, além de piercing pelo rosto, também associado aos “alternativos”. A
distinção entre os jovens ditos como “aviões” e os agrupamentos juvenis de estilo
ocorre de forma eficaz observada pelos “de dentro”, ou através de uma vivencia mais
prolongada no lugar com as juventudes.
Os “aviões” são jovens que residem no Siqueira Campos ou em bairros
adjacentes. No entanto, possuem uma história de vida associada ao local. Uns estudam
ou estudaram nos colégios do bairro, outros moraram e vários frequentam o bairro
devido à convivência com amigos, ou a prática de esportes. A maioria transita pela
pracinha cotidianamente e não fazem distinção do dia pela noite. Alguns denominam os
espaços de domínio de “escritório” e possuem um canal de diálogo com alguns donos
des bares e lanchonetes do lugar, um tipo de acordo velado, “onde um não oportuna o
outro”11
, me confessou um dono de bar.
11
Entrevista concedida por dono de bar com Ensino Superior completo, solteiro, 35 anos
23/07/2012.
13
Há algumas investidas do poder público para minimizar e disciplinar a atuação
desse grupo de jovens na “Pracinha do Siqueira”. Um exemplo foi a implantação de
duas câmeras de monitoramento em ruas próximas a praça, ambas a menos de cinquenta
metros. Uma na Rua Vereador João Claro com Carlos Corrêa e a outra na Neópolis com
Santa Catarina. Outra estratégia foi à edificação de um posto da Polícia Comunitária na
Rua Neópolis com Santa Cataria em frente à praça. Ambas não foram eficazes. Existem
também rondas policias avulsa, mas também dificilmente alteram o cotidiano dos ditos
“aviões”. Alguns já foram presos e outros já cumpriram pena prisional. Mas, boa parte
desses jovens, quando na rua, voltam a bater ponto no dito “escritório” com os outros.
Para toda estratégia disciplinar existe uma antidisciplina. Tarefa fugaz exercida
através das praticas interativas do cotidiano, a partir da experiência vivida com o outro,
da qual se constroem sociabilidades de rua. Essas atividades apresentam aspectos
múltiplos e contraditórios, operacionalizados a partir do uso do tempo livre e antagônico
ao mundo do trabalho, onde os jovens praticam uma vida pública que se mantêm num
equilíbrio instável de forças, o que denomino de contra-poder. Assim, para cada
estratégia do poder público, esses jovens constroem formas táticas para negociar a sua
permanência no lugar. Além dos acordos velados com os donos de bares e lanchonetes
também contam com o silêncio dos que vivenciam o cotidiano local. Usam os espaços
de ajardinamento e alguns bares para esconder os produtos ditos como drogas, entre
eles, a maconha e principalmente a cocaína.
Como dito, uma parcela desses jovens já tiveram seus estilos atrelados aos
autodenominados “alternativos”, ou aos “pagodeiros”. Mas por profanarem as insígnias
identificadoras desses estilos, paulatinamente passaram a se tornar exóticos aos grupos.
Uma forma peculiar de perceber a tematização das identidades diante da alteridade.
4. Auto-exposição como estilo de vida: os “pagodeiros”
A partir de um convívio prolongado com os grupos investigados, durante a
frequência na praça, foi possível perceber que os jovens reconhecidos como pagodeiros
no Siqueira Campos consideram-se artistas, pois apostam na carreira de dançarino em
bandas de forró e de pagode, em detrimento da valorização dos seus estudos. Eles criam
expectativas sobre a possibilidade de que o lazer pode-lhes trazer a subsistência, pelo
menos temporária. Entre quinze jovens pesquisados, nenhum terminou o Ensino Médio,
e a maior parte de seus recursos vem de shows que fazem com tais bandas ou de
14
financiamentos familiares. Embora tenham perfil socioeconômico semelhante: alguns
são filhos de operários, uns de comerciantes e outros de funcionários públicos. No
entanto, alguns deles não residem no Siqueira Campos, mas frequentam o bairro, devido
a relações de amizade ou pelo que o espaço proporciona como lugar de encontro,
consumo e diversão.
Nas entrevistas com o grupo dos pagodeiros, sobre diversos fatos do seu
cotidiano, foi comum eles dizerem ser avessos a estilos musicais e visuais ditos por eles
“agressivos” e ao consumo de drogas e álcool em excesso. Assim sendo, julgam
apresentar diferenças significativas em contraste com outros grupos juvenis
considerados “de dentro”, na “Pracinha do Siqueira”, como os ditos “alternativos”, os
quais, de forma jocosa, denominam de “satanistas”, pelos seus gostos musicais, trajes e
acessórios utilizados.
Os “pagodeiros” estão sempre animados e cuidadosos com o visual ou o modo
como se apresentam. No entanto, essa imagem não é ortodoxa, ora uns estão usando
roupas apertadas e coloridas, ora outros se apresentam com vestimentas e acessórios que
outros grupos juvenis afirmam compor a indumentária do hip hop e dos diversos estilos
do rock’n roll. “Pagodeiro é assim, tem uma diversidade de estilos, mas o que vale é
gostar do ritmo, do swing, é saber dançar e buscar visibilidade onde o cara anda”12
, diz
um jovem que se afirma como pagodeiro.
Essa descrição da aparência corporal, dos gestuais e o conjunto de símbolos
que compõe o processo de identificação dos “pagodeiros”, podem ser associados ao que
Bourdieu (2006) denomina de hexis corporal: um sistema cultural que se expressa em
forma de símbolos, marcados pelo jeito de andar, de falar e de vestir, ou seja, um
conjunto de comportamentos que caracterizam esteticamente como um determinado
grupo se expressa e se imagina como tal.
O pagode é considerado um estilo de música brasileira.13
Neste caso específico,
também é aqui conhecido como samba, que, no contexto atual foi transformado num
produto de massa bastante comercial e de gostos efêmeros no universo das 12
Entrevista concedida por jovem com Ensino Fundamental completo, desempregado, solteiro,
21 anos, reconhecido como “pagodeiro”, 23/07/2010. 13
Musicalmente falando, o pagode em questão é também denominado de pagode baiano.
Segundo Nascimento (2009, p. 2), o pagode baiano às vezes se aproxima do axé music, mas não
se enquadra neste movimento musical, mas sim é um estilo compreendido como expressão da
“música baiana”, um “gênero híbrido, oriundo do samba, mescla a tradição do samba do
recôncavo baiano com algumas intervenções e inovações tecnológicas, incorpora novas
experimentações a partir de tecnologias como o sampler, dialoga com outras tradições regionais
como a chula, também com a música eletrônica e o funk”.
15
possibilidades culturais. Como vimos o grupo de jovens reconhecidos e
autodenominados como pagodeiros, que frequentam o Siqueira Campos, apresentam
sentidos estéticos ambíguos, relacionados a outras culturas juvenis, utilizando
indumentárias e acessórios que também são ditos como do rock e do hip hop, embora o
modo dos usos seja distinto, bem como a composição destes com outros símbolos
ganham outros sentidos.
O contato com meios de comunicação de massa, bens culturais
espetacularizados (Debord, 1997), tais quais as indumentárias e os acessórios ligados
principalmente ao estilo musical do pagode, assim como o estabelecimento de
sociabilidades e consumos específicos, caracterizam bem esse estilo de vida, com o qual
os interlocutores da presente pesquisa dizem se autoidentificar. São jovens que apreciam
as roupas que vestem e gostam de cuidar da sua aparência: “[...] cabelos estilo moicano
com mechas vermelhas ou loiras, sobrancelhas e do corpo em geral. O pagodeiro é um
cara que gosta de chamar atenção, principalmente das meninas, por isso a gente cuida
do look, do visual”14
, diz um jovem de vinte dois anos, proclamando os objetivos de
certo tipo de comportamento. Como admite Bourdieu (2006, p. 85), as técnicas
corporais e os bens culturais constituem verdadeiros sistemas simbólicos, solidários a
todo um contexto cultural e, neste caso, o objetivo de tais escolhas é outro elemento que
distingue o estilo.
Ser “pagodeiro” é gostar do som, é farra, curtição. É o jeito de se
vestir que para mim conta muito, drogas não tem nada a ver com a
gente. Beber a gente bebe, mas é só cerveja. Eu comecei a dançar com
meu irmão mais velho, aí gostei e comecei também. Hoje ele não
dança mais, já passou da idade. Eu assistia muito DVD e sempre
gostei do pagode. A gente do pagode tem muita vaidade. Eu mesmo
gosto de malhar, ficar em forma [...]15
.
A “Pracinha do Siqueira” é um espaço onde as juventudes podem melhor
expressar-se, significar particularidades de seus estilos de vida no bairro, como também
realizar trocas simbólicas entre os diferentes grupos de interesse e expressão. Mesmo
que de forma amena ou conflitante é no espaço público que as singularidades das
juventudes do bairro se expressam, compondo as particularidades de grupos
desvinculadas da hierarquia familiar, escolar, religiosa ou estatal. Neste espaço, a
juventude expressa sua autonomia de escolha sobre o gosto, a identidade e a diferença.
14
Entrevista concedida por jovem com Ensino Fundamental completo, dançarino de bandas de
forró, solteiro, 22 anos, reconhecido como “pagodeiro”, 19/05/2010. 15
Entrevista concedida por jovem que cursou até o 6º Ano do Ensino Fundamental, dançarino
de bandas de pagode, solteiro, 18 anos, reconhecido como “pagodeiro”, 19/05/2010.
16
Cotidianamente é na Praça Dom José Thomaz que os pagodeiros usam o tempo
livre para a prática do lazer, se reúnem para exibir o visual, conversar, dançar, paquerar
e fazer outros tipos de contato. Nos finais de semana, seu espaço de circulação é
acrescido por “casas de pagode” localizadas no bairro. Portanto, evidencia-se que
jovens autoidentificados com o estilo musical do pagode, têm mais oportunidades de se
deslocar e circularem a procura de lazer e divertimento em outros pontos do bairro, pois
esta é uma forma hegemônica de estilo de vida no Siqueira Campos. Encontrei uma
particularidade no sistema das atitudes corporais desses jovens quando observei as
indumentárias, acessórios, linguagens e a marca do andar com as pernas arqueadas,
mexendo os ombros, a cabeça e a boca de forma contínua, como se estivessem
dançando e/ou mascando chicletes. Parece que o simples ato de andar, de se
movimentar está associado a uma coreografia, devido essa singularidade.
Este caso constitui um bom exemplo de juventudes que ocupam espaços
públicos como territórios de subjetivação, trocas e encontros com culturas juvenis
distintas, que se movimentam e se estabelecem a partir de demarcações dos lugares. Os
jovens autodenominados de pagodeiros têm seus pontos de preferência na “Pracinha do
Siqueira”. Paramentados com seus emblemas, chegam diariamente à Praça Dom José
Thomaz em horários próximos ao final da tarde, na hora de saída dos colégios, e se
movimentam nas proximidades do ponto de ônibus e das quadras de esportes16
.
Raramente têm a intenção de praticar alguma atividade desportiva. O objetivo é exibir o
visual e expor-se para conquistar admiração dos que passam. Acreditam ser
reconhecidos por causa do visual, pela forma de andar e alguns por fazerem parte de
bandas sergipanas de forró, axé e pagode, pelo que gostam de ser reconhecidos.
Nos finais de semana, ao anoitecer, quando não estão viajando ou trabalhando
em shows, os jovens pagodeiros se movimentam pelos bares-lanchonetes da “Pracinha
do Siqueira” e se estabelecem nas proximidades do ponto de táxi, em frente a uma feira
de roupas, de bijuterias e de eletroeletrônicos. Nesses lugares, eles conversam,
compartilham seus projetos de vida e dividem passos de danças ao som do pagode
tocados em seus celulares sonoramente potentes e estilizado, como também acessam
shows e coreografias pela internet de telefonia móvel. Depois se dirigirem finalmente às
casas de pagode localizadas no bairro. Também aproveitam o local para beber cerveja
16
Ver Mapa da Movimentação dos Grupos na “pracinha do Siqueira”.
17
ou refrigerante, lanchar, conversar e paquerar, ocupando o tempo ocioso e afirmando-se
no espaço da praça.
É significativo mencionar que jovens ligados à identificação com certos estilos
associados à música, inscrevem com e no corpo atitudes e modos de ser que os
caracterizam. No caso dos jovens reconhecidos como “pagodeiros”, cotidianamente
optam por se vestirem de forma semelhante para que as pessoas pensem que são
“irmãos” e sempre um ajuda ao outro na configuração do visual (do “look”). “A gente
anda junto, trabalha junto e nos vestimos parecidos. Todos pensam que somos irmãos.
Sempre um tá na casa do outro ajudando a se vestir”, destaca um jovem de vinte um
anos 17
.
É interessante observar que os dados da pesquisa demonstram que, para as
juventudes consideradas “de dentro”, na “Pracinha do Siqueira”, ficar neste lugar
cotidianamente é uma das formas de passar o tempo ocioso e estabelecer vínculos
sociais com outros jovens. Além disso, nos finais de semana à noite, a Praça Dom José
Thomaz fica repleta de jovens e demais indivíduos que se deslocam de outros bairros à
procura de formas de ocupar o tempo através dos equipamentos urbanos ali presentes.
As ritualidades cotidianas do grupo juvenil reconhecido como “pagodeiros”, no
uso dos espaços coletivos do Siqueira Campos, expressam uma lógica interna que
acompanha suas preferências pessoais de lazer e sociabilidades. Um dos informantes
revelou que a preferência pelo pagode no “Flamengo Circulista”, localizado na Rua
Neópolis, se dá devido à proximidade com a “Pracinha do Siqueira”, onde existe uma
boa oferta de transporte público e uma grande circulação de pessoas. Além disso, é um
espaço tradicional do samba no bairro. A rua onde esse clube se localiza também tem
uma circulação e um trânsito intenso de carros com sons potentes e de motocicletas,
além de vendedores de bebidas e lanches que redesenham o espaço da rua com suas
tendas, mesas e cadeiras no passeio público. Eles não precisam, portanto,
necessariamente entrar na referida casa de pagode para que possam expor seu visual.
Muitas vezes, ficam nas calçadas em frente ao lugar, dançando, conversando,
paquerando e se exibindo.
Quando optam por entrar no “Flamengo Circulista”, a proximidade com os
seguranças possibilita que eles possam entrar e sair com facilidade - algo que as outras
casas de pagode do bairro não lhes oferecem. “Geralmente a gente fica no Flamengo
17
Entrevista concedida por jovem com Ensino Fundamental incompleto, dançarino de bandas de
pagode, solteiro, 21 anos, reconhecido como “pagodeiro”, 19/05/2010.
18
Circulista porque conhecemos os seguranças e a galera que anda por lá. Mas se tiver
alguma banda boa ou um convite massa para ir pro “Federal” ou o pro “Formiga”, a
gente também vai”, diz um jovem de vinte um anos sobre as casas do gênero no
bairro18
. A “Pracinha do Siqueira” é próxima destes pagodes e vira ponto de encontro
ou de passagem entre os que circulam entre elas nos finais de semana.
4. Distinção, tempo e espaço na “Pracinha do Siqueira”
Movimentar-se pelo Siqueira Campos nos finais de semana à procura de lazer,
seja a pé, de carro ou de motocicleta, exibir-se, escutar os sons e apreciar todo esse
movimento é fundamental para entender os processos de identificação entre os jovens e
suas relações com os espaços de lazer e sociabilidades no bairro. Tanto as ruas quanto a
“Pracinha do Siqueira” tornam-se espaços de sociabilidades, intensificados pelo ritual
cotidiano do vaivém pelas “casas de pagode” nos finais de semana. A própria fila para
comprar os ingressos, o dançar ao lado dos automóveis e das motocicletas, o parar em
frente a um carrinho de bebidas e de lanches pode se transformar em um contexto
atrativo para a exposição dos “pagodeiros” e também pode ser um sinal que a noite está
“bombando”19
.
Particularmente, o gosto por um estilo, através de práticas culturais cotidianas e
dos usos dos lugares de lazer, possibilita a existência de construtos de estilos de vida
que regulam as relações de sociabilidades entre as juventudes, além de se configurar
como uma forma de distinção geracional para os jovens no presente. Os ressentimentos
e o reconhecimento público desses modos de vida tendem a sinalizar a alteridade e
demonstram singularidades típicas dessa fase da vida.
Aqui na “Pracinha do Siqueira” todo mundo conhece todo mundo.
Aqui, mesmo sem a galera gostar do pagode, mas respeita. O ruim é
quando vamos para outros lugares. Porque tem muita censura contra a
gente. Mas aqui não tem tanta, porque todos se conhecem. Mas em
outros lugares eles acham que quem rebola é gay. Olha lá o gay
rebolando a bunda. Essa galera aí é cheia de preconceito,
principalmente no Conjunto Jardim e no Parque dos Faróis. Eu mesmo
já até saí corrido de lá por causa disso. Em Nossa Senhora do
18
Entrevista concedida por jovem com Ensino Fundamental completo, dançarino de bandas de
pagode, solteiro, 21 anos, reconhecido como “pagodeiro”, 22/09/2010. 19
Expressão utilizada por eles significando que há grande movimento de pessoas e agitação no
lugar.
19
Socorro20
, a galera não gosta muito dos “pagodeiros”. Eu acho que é
porque a gente chama a atenção, e tem gente que se incomoda com
isso, e começam a procurar briga. Também tem isso que as pessoas
não gostam porque somos de fora e tal. É por isso que a gente costuma
andar em grupo de cinco ou dez pessoas21
.
Nesse contexto, existe uma política microscópica das diferenças que
cotidianamente se conflituam no bairro, principalmente na Praça Dom José Thomaz,
onde a vida pública pulsa de forma significativa e os jovens demarcam espaços a partir
dos estilos, mas também de práticas desportivas, de procedência, de vizinhança e de
uma memória que é relativa ao espaço e às relações sociais da infância e da
adolescência, muitas vezes perpassadas pela escola. Particularmente, mesmo que os
grupos juvenis apresentem características de identificação distintas, eles se reconhecem
geracionalmente na diferença, pois partilham traços biográficos e sociais similares.
Diz um jovem de vinte dois anos,
Os “pagodeiros” a gente respeita, mas não anda junto não. Mas todo
mundo se conhece por aqui. Pagodeiro pra mim são os caras que
andam com as roupas coloridas e apertadas, mas tem os que imitam os
irmãos do hip hop. Eles são malhados e tem uns que fazem programa.
É só ver eles aí nos bares com os gays. A gente tira onda com a gente
mesmo, e diz um com o outro: deixe de “ser pagodeiro”. O que eu
quero dizer é pra o cara deixar de “ser boiola”. Mas é brincadeira, é só
gozação22
.
Para os agrupamentos juvenis considerados “alternativos”, perceber o corpo a
partir de um conjunto de comportamento atrelado a movimentos de moda, como são
caracterizados os “pagodeiros” nessa narrativa, introjeta uma imagem, mesmo que
estereotipada, associada às características ditas afeminadas. Como diz Bourdieu (2006,
p. 88-89), ainda vivemos em uma sociedade dominada pelos valores masculinos, o que
favorece a postura tosca, grosseira, rude e belicosa. Um homem mais atento aos seus
trajes e a sua aparência “[...] seria considerado muito „encavalheirado‟, ou ainda, o que
dá na mesma, muito afeminado”.
As brincadeiras e as gozações entre os grupos juvenis reconhecidos na
“Pracinha do Siqueira” é algo cotidiano. Além disso, é uma forma corriqueira que os
20
Os Conjuntos Jardim e Parque dos Faróis fazem parte da região metropolitana da cidade de
Aracaju, conhecida como “Grande Aracaju”, mas pertencem ao Município de Nossa Senhora do
Socorro. 21
Entrevista concedida por jovem com Ensino Fundamental completo, dançarino de bandas de
forró, solteiro, 22 anos, reconhecido como “pagodeiro”, 19/05/2010. 22
Entrevista concedida por jovem estudante de curso técnico e músico nas horas vagas, solteiro,
22 anos, reconhecido como da “galera do reggae”, 18/05/2010.
20
jovens têm para demarcar as distinções entre os estilos de vida. Nesse caso, chamar um
jovem autoidentificado com um estilo “alternativo” de “pagodeiro” é considerado como
um tipo de ofensa, mas o contrário também.
Esse tipo de distinção acionado verbalmente entre os grupos juvenis que se
movimentam na “Pracinha do Siqueira”, marca não apenas o gosto por um determinado
estilo de vida, mas também pode demarcar diferenças entre os indivíduos. Relata um
informante de dezessete anos, “Eu sou mais do heavy metal. Meu irmão é pagodeiro. A
gente não se fala há três anos. Mas não é só por causa disso não [...]”23
.
Cada grupo juvenil se movimenta por um lugar específico da Praça Dom José
Thomaz e o tipo de ocupação e utilização dos equipamentos urbanos ajudam na forma
de demarcação dos espaços. No entanto, é a música e o estilo de vida associado a ela
que aparece como um forte elemento no processo de identificação e de distinção entre
os jovens. Aos estilos musicais estão associados as indumentárias, os acessórios, os
cortes de cabelo, as linguagens, as gestualidades corporais e a forma de estar, consumir
e usar os espaços da “Pracinha do Siqueira” e de outros locais de sociabilidade do
bairro.
Os encontros, os contatos e as trocas acontecem no uso social da praça e da
rua, onde os jovens se exibem e se diferenciam. O uso destes espaços coletivos mistura
aspectos da vida privada com a vida pública dos moradores (Menezes, 2004, p. 128) e
de alguns frequentadores do bairro. Tais misturas possibilitam a emergência de um
espaço onde os indivíduos se reconhecem e o convívio é próximo, as sociabilidades e os
laços pessoais e de vizinhança são particularmente favorecidos, mesmo que em
determinadas situações se ressaltem diferenças nos modos de vida e nos sentimentos de
identificação.
De algum modo, os jovens em questão parecem estar inseridos em processos
culturais marcados notoriamente por apelos visuais e sentidos estéticos dissonantes, que
vão além das relações exclusivas com os espaços de convívio. Por isto, eles estabelecem
relações de sociabilidades a partir de afinidades que imaginam que se completam pela
linguagem estética valorizada em torno de um dado estilo. São aglutinações em torno de
um gosto compartilhado com grande capacidade simbólica de mobilização e negociado
com outras variantes de identificação nos espaços coletivos, neste caso a “Pracinha do
Siqueira”.
23
Entrevista concedida por jovem estudante do Ensino Médio, solteiro, 17 anos, reconhecido
como da “galera do heavy metal”, 08/04/2011.
21
Considerações finais
Paulatinamente, através do contato cotidiano com as populações juvenis
reconhecidas neste caso como a “galera do rock”, a “galera do reggae” e a “galera do
hip hop”, que compõem os ditos “alternativos”; e os “pagodeiros”, revelaram que os
usos do espaço-tempo do lazer podem estar ligados a determinadas culturas juvenis, que
podem ser indicadores de estilos de vida distintos, mobilizadores de identificações que
ultrapassam o sentido do divertimento, da falta de vínculos de compromisso, das
relações e atitudes casuais e demarcam relações sociais no espaço público como lugar
de subjetivação.
Os espaços de usos coletivos no Siqueira Campos são plurais, porém, os jovens
autoidentificados com o estilo musical do pagode tem mais oportunidades de uso e
trânsito no bairro, devido à existência de outros ambientes em que são tocadas músicas
de seus estilos nos bares e lanchonetes na “Pracinha do Siqueira” e nas casas de pagode
espalhadas no bairro. Nesse sentido, evidencia-se que esse estilo de música e dança é
uma forma hegemônica de identificação entre os jovens no Siqueira Campos, enquanto
os “alternativos” tornam-se, de certa forma “outsiders”, no sentido que Howard Becker
(2008) deu ao termo.
Para os jovens “alternativos”, o trânsito é menos intenso no bairro e ficam mais
circunscritos aos espaços da “Pracinha do Siqueira”, onde desenvolvem, praticam e
circulam relações de amizades, lazer e projetos de vida. Porém, também transitam por
outros espaços na cidade de Aracaju, distantes do bairro, à procura de lazer e diversão,
como o Parque da Sementeira e a Rua da Cultura, considerados espaços de estilos mais
alternativos (Silva, 2011 e Wanderley, 2008). Todavia, eles consideram a Praça Dom
José Thomaz como um espaço central para o desenvolvimento de suas relações de
sociabilidades, aquisição de informação, articulando as amizades locais adquiridas em
suas trajetórias de vida e demarcando o território da praça também como espaço de
refúgio com relação ao “mundo dos adultos” e como lugar de socialização da juventude
no bairro, o “pedaço”.
Os jovens ditos “zumbis”, que se autodenominam “flanelinhas”, se
movimentam por espaços pré-determinados, àqueles onde podem tirar recursos no
comprimento da sua profissão, nos espaços da praça destinados ao estacionamento de
veículos e motocicletas e também nas ruas onde acontece nos finais de semana os shows
22
de pagode e samba. Além disso, ao anoitecer, também se movimentam pelos espaços da
praça onde podem encontrar jovens vendendo drogas, entre elas, a maconha e a cocaína,
e os equipamentos urbanos destinados ao público infantil, tanto para o consumo dessas
drogas e outras, como a cachaça, quanto para descansar.
Os denominados de “aviões” marcam sua presença na “Pracinha do Siqueira”
nos espaços entre os bares e lanchonetes, nos ditos “escritórios”. Também se
movimentam pelo espaço social da rua onde acontecem as baladas nos finais de semana.
Seus trajes e acessórios, geralmente, pode confundir um frequentador atípico, “de fora”,
e os associá-los aos grupos de estilo atrelado à música.
Ser jovem no Siqueira Campos está relacionado a um conjunto diversificado de
modos de agir e de pensar a vida, associados às novas tecnologias, às formas de
trabalho, ao lazer, às sociabilidades, à diversão e, principalmente, aos estilos musicais
que criam intenções, gostos e modos de sentir-se jovem. No caso que apresentei,
também é ser reconhecido socialmente como tal, a partir de um dado estilo de vida que
demarca a diferença com o que eles consideram o modo de ser da infância e da vida
adulta. Tais compreensões perpassam relações sociais locais atravessadas por consumos
de símbolos culturais locais e globais, muitas vezes associados à forte presença da
música em suas vidas.
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