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8/21/2019 Koellreutter Esttica
1/81
J7
~ O L L R U T T R
ESTETIC
tLl K
Autor. Koellrcuttcr Ha
Ttulo: A procura de um rrumdo
:
8/21/2019 Koellreutter Esttica
2/81
BA-00033796-7
1
I lustraes:
F l v io
ln6eNUl
Edio
japonesa:
Sei y
:tono
tAi u a
Meisei
University Ed
Tokio
1983.
8/21/2019 Koellreutter Esttica
3/81
H.
J
~ O L L R U T T R
A PROCURA DE UM
MUN O
SEM VIS VIS
CReflexes
estticas
em
torno
das artes oriental e ocidental>
t u ~
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aJ.,.
O re i o
de
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b
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:
I
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8/21/2019 Koellreutter Esttica
4/81
1mpre :, . a. . of
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gr.ifica
editora e
mpressos escol res ltda
EXEMPLAR
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n:Jbl. 74
cep
04052
7 ;J136 sao paulo sp
Brasil
8/21/2019 Koellreutter Esttica
5/81
COLECO ENSAIOS
Edio
brasileira
Direitos
reservados pela
EDITORA
NOV S MET S
LTDA
SO
PAULO
BR S 1L
2a.
edio
Printed in
Brazil)
EDITORA
NOV S
MET S
LTDA
C.G.C. 50.618.941/0001 61
INSCRIO 110.049. 156
Rua
Alvaro Rodrigues ~ 58
04582 So Paulo/SP
BR S 1L
06
8/21/2019 Koellreutter Esttica
6/81
CIP
- Brasil.
Catalogao-na
-Publicao
C ma
ra
Brasile i
ra
do Livro.
SP
K82p Koellreutter Hans
Joachim, 1915-
procur
a
~ um
mundo sem
vis--vis :
reflexes est t icas
em torno
das artes
oriental
e ocident
a l
/ H
J
Koellreutter;
traduo e coordenao Saloma Gandelman.
So Paul o :
Ed
. Novas
Metas, 1984.
(Coleo
ensaios;
6)
1. A
r te
2. Arte - Filosofia
3.
Ar
te
oriental
- Japo
4. Esttica I
Titulo.
I I
. Ttulo:
Reflexes
est t icas
em torno
das
artes oriental
e ocidental .
CDD-709.52
-701
-701-17
84-2193
-709.1821
ndi
ces para
catlogo sistematico :
1.
Arte: Filosofia
701
2 .
Art
ocidental 709.1821
3.
Estt ic
a :
Artes
701 . 17
4.
Esttica
compar ada : Artes 701 . 17
5 Japo: Arte
oriental
709.52
8/21/2019 Koellreutter Esttica
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7
PREFACIO
O encontro do misticismo oriental com o pensamento cientfico do
ocidente e suas naturais
implicaes
nos campos social ,
filosfico,
ar t s t ico e cientfico constituem-se,
provavelmente,
noacontecil len
to
l'lais
notvel de nosso sculo.
m seu ivro The Tao of Physics , o fsico americano Fritjof Capra
escreve:
O
pensamento oriental - e
de um modo
mais
geral
o
pen
samento
mstico
-
prov
n
fundo
filosfico
consisten
te
e
relevante para as teorias cientficas contempor
neas; u-na concepo do mundo na qual as descobertas
c i-
entficas
do
homem
convivem
em
perfeita harmonia
com
suas aspiraes espiri tuais
e
crenas religiosas. Os
dois temas bsicos
dessa
concepo
so
a
unidade
e
in
ter-relao
de
todos os
fenmenos e a
natureza intrin
secamente dinmica
do
universo.
Quanto mais
penetramos
no mundo
sub-microscpico,
mais nos damos conta de que
tanto
o fsico moderno,
quanto
o
mstico
oriental , per
cebem o mundo
como
um
sistema
de componentes
insepar
veis, que
interagem
e
esto em
movimento
contnuo, com
o
homem como
parte
integrante desse
sistema .
E
Frit jof continua:
O paralelo
entre a
fsica
moderna e o mist1c1smo ori -
ental chocante, frequentemente encontrando-se
afirma
es
a respeito
das quais quase impossvel dizer se
foram
emitidas por
fsicos ou
msticos orientais .
Conscientes
do
significado
e
alcance
da
convergncia entre as cul
turas em questo, S.
Tanaka e
H.
J
Koellreutter, nas doze cartas
que
se
escreveram
entre
1974 e 1976,
discutem
a necessidade e urgncia
de
un
estudo
cr t ico das culturas, a
seleo de
seus valores
carac
tersticos,
com
vistas
construo de
uma cultura planetria, e a
redescoberta do
homem como parte integrante de
um
todo orgnico.
Dois
intelectuais
que examinam
os
aspectos
predominantes na
forma do
ocidental
e do
oriental
elaborarem seu
pensamento, comas consequen
tes implicaes
na apreenso do real , e partem, na
anlise
dos pro
cessos culturais, de diferentes vises quanto sua natureza:
con
servadora ( a cultura,
baseada
em conservadorismo, parece-me ser a
terra-1T1ater
de
novas idias e
desenvolvimentos,
isto ,
de uMa
transformao
cultural criadora -Tanaka,
quarta carta)
ou
renova
dora { o
conservadorismo se
prende
ao
j
ultrapassado
e
se
opoe ao
criativo -Koellreut ter ,
terceira
carta).
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8/81
O
tema,
atual e polmico,
da
preservaao da cultura nacional e
da
luta contra sua desfigurao provocada
pela avalanchedemanifesta
es
culturais
estrangeiras
que,
diariamente,
lanada
pelos
ve
culos de comun i cao
de
massa
,
pois, atravs das cartas, ampla
mente analisado e debatido.
Ao
confrontarem valores
estticos
e ticos das culturas ocidental e
oriental
-Koellreut ter enfatiza a complementaridade (e no a
ex
cludncia) como
fator de enriquecimento cultural e harmonizao en
tre os
homens -ambos
discutem
suas apreenses e esperanas quanto
ao futuro da humanidade.
Movido
pela idia da
complementaridade e do
jogo
dinmico
entre
in
tuio
mstica
e anlise cientfica, Koellreutter prope, atravs
da
redescoberta
do
originrio,
a
transcendncia
do positivismo ra
cionalista
e excludente, a ser
alcanada,
no campo
art s t ico brasi
leiro
da
a t u a l i d a d e ~ quem s a b e ~
pelo
aproveitamento e integra
o
de
valores, ainda
vivos
nas culturas indgenas
de nosso pas
(que ainda conservam uma cosmogonia
global
e unitria),
em
busca de
uma identidade est i l s t ic que tenda ao universal.
S9toshi Tanaka, nascido
em
1935,
em
Hae Bashi,
Japo,
professor de
alemo na
Universidade de Heisei, Tokio.
Fez
seus estudos
de
lngua
e cultura
germnicas
na Universidade de Keio e na Academia Keio de
lnguas
estrangeiras,
ambas
em
Tokio, posteriormente
aperfeioando
-se na matria,
como bolsista
do
Instituto
Goethe em Hun ich.
H J .
Koellreutter
nasceu em
Freiburg,
Alemanha, em 1915. Discpulo
de Hindemith, Kurt
Thomas
e Herman Scherchen,
entre
outros, proce
de esteticamente, pelo menos
em parte,
do
expressionismo
centro-eu
ropeu,
e tecnicamente, do prprio HindemitheSchoenberg , segundo o
compositor
argentino
Juan
Carlos
Paz.
Forado
pelo
regime nazista, deixou
em
1937,
seu pas
de origem, ra
dicando-se no Brasil, no tempo de Getlio Vargas e do Estado Novo.
Nesse momento, a criao
musical
se apresentava
multo
pouco diver
sificada: a formao
de
instrumentistas e
professores,
incipiente e
inadequada, e o meio art s t ico, carente
de
informao e impregnado
de
preconceitos estticos.
Dentro
dessa
moldura,
em
que
at
mesmo
um
Vil
la-Lobos
servia
cau
sa pol t ica, Koellreutter deu
incio
sua intensa e longa carreira
de
flautista, r ~ g e n t e compositor e pedagogo.
Na revis ta argentina Lact i tud (Buenos Aires, 1944) , Juan Carlos
Paz escreveu:
8/21/2019 Koellreutter Esttica
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Com
a chegada
ao
Bras i 1 ,
em
1937,
de H. J. Koe 11 reut ter ,
pode-se afirmar
que
se
iniciou, naquele pas, uma nova
etapa
de
sua evoluo
musical:
a que une
um
sentido
de
renovao
substancial da criao
a
urna posio de
maior
responsabilidade
do que a
at ento
assumida
pelo
com
positor brasileiro
.
Dando-se conta de
que,
do ponto de vista
scio-cultural,
seria no
campo
do
ensino
que
sua
atuao
se
faria
mais
urgente
e
necessria,
desenvolveu o melhor de seus
esforos
no exerccio do magistrio,
fundando, com a
Pro-Arte, os
Cursos
Internacionais de Frias em
Te
respol
is, Seminrios de
Ksica de So
Paulo,
Rio
de Janeiro,
Bahia
e
Piracicaba, centros
livres
de
experimentao
e
debate
que,
embora
tenham mudado de nome e orientao, continuam
atuando, at
hoje, nos
cenrios arts t ico
e
educacional
brasileiros.
Aps
25 anos
de
trabalho no
Brasil, um
prmio concedido
pela
Ford
Foundation,
em
1962,
permitiu
-
lhe
passar um
ano em Berlim,
como ar
t is ta residente. Nesta
ocasio,
foi convidado
pelo
Instituto Goethe
para organizar seu
setor
de
programao
internacional,
partindo,
em
1965 ,
para
a
ndia, onde,
na
qualidade de diretor daquele Insti tu
to,
permaneceu
at
1969, mantendo,
paralelamente,
sua
atividade
pe
daggica,
na Escola
de
Msica
Ocidental, Nova Dlhi.
m
1970,
em
funo do
cargo,
mudou-se
para Tokio,
tambm l
atuando
no magistrio (Insti tuto
de Msica
Crist, Christo
Kykai Ongaku
Gakko) e na
regncia
do Madrigal
Heinrich
Schtz
.
m
1975, aps
13
anos de
ausncia retornou
ao
Brasil, designado para
a
direo
do
Instituto
Goethe no Rio de
Janeiro,
funo que
exerceu
at
1981.
Ir ao encontro daquilo
que
os
alunos
buscam,
conscientiz-losares
peito
do que
esto
fazendo,
estimular
e
desenvolver
o que
apresen
tam de mais
pessoal
-
para Koellreutter,
o
es t i lo pessoal
um
dos
critrios de
valor
na
obra
de
arte
- foram sempre os
princpios que
nortearam sua
atividade
de
professor.
Da
apreciao
cr t ica
de um
dos
trabalhos
de
Cludio
Santoro,
quan
do seu
aluno,
no qual
uma
nova ordem gramatical j despontava, re
sultou a introduo do serial ismo no
Brasil.
Oprprio
Koellreutter,
at ento
escrevendo
dentro
de
uma
linguagem tonal, em
decorrncia
de
sua atividade didtica,
comeou a explorar a tcnica
dodecafni
ca,
embo ra sem
rigor
pois,
segundo
sua
maneira
de
entender,
orto
doxia
anti-art st ica
e incompatvel com a vanguarda .
m Msica 1941 j despontam algumas das
questes
que sero obje
tos de sua
constante
preocupao:
delineiam-se
tentativas de
supe-
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1
rao do contraste entre
sons
e espao
em
que
esses
ocorrem, pelo
emprego de
uma
srie que, presente em todas as partes da obra, atua
como
continuum,
igualando
em
nvel
e
unificando
as
unidades
estru
turais (gestalten).
Nas
palavras do autor, tudo diferente e, ao
mesmo tempo, i gua 1 .
A linguagem empregada tende a um elementarismo - que
v1r1a
a ca
racterizar seus
trabalhos posteriores - tendo sido evitada, inten
cionalmente, a individualizao
de
qualquer das gestalten .
m 1953, ao viajar pela primeira vez para o oriente, Koel l reutter
entrou
em
contato com a
esttica
de outras culturas musicais, o que
lhe
permitiu corroborar
algumas de
suas
idias,
at
ento
timida
mente manifestas. t. preciso considerar que sua
formaomusical se
deu na Alemanha sob opresso do nazismo, conservador e avesso a
qualquer f o r ~ de expresso no convencional, e mais tarde, sob o
impacto - resultante do choque entre sua
naneira
de pensar e a da
queles entre os quais atuava - de suas prprias experincias.
Os anos compreendidos entre 1953 e 1960 -
perodo
em que
H. J .
Koellreutter ensinou na Bahia - foram, pois, de
crise
intelectual
e ideolgica, da qual
tambm
participaram seus alunos, atravs de
discusses
constantes
a
respeito
da
relatividade
das
idias estt i -
cas e das potencialidades
composicionais
do Material sonoro. Nessa
fase, deixou de escrever obras , para compor ensaios , entre os
quais
Concretion 1960 ,
decisivo
no futuro
desenrolar
dos traba
lhos do
autor,
por sua
estrutura
planiMtrica.
Koel
reutter
define planimetria -
etimologicamente, levantamento
to
pogrf co -
como
uma tcnica
composicional
que funde, em uma estru
tura mae, o
princpio
serial e a
ordenao
particularizada e fun
damental
dos
signos musicais; ou seja, os
elementos
conjuntivos
e
disjuntivos
da composio so
gerados apenas por
um mdulo
bsi
co, segundo as relaes
caractersticas
da
unidade estrutural . O
processo l inear, direcional, substitudo
pelo
multi-direcional -
os signos musicais no mais
se
apresentam no
pentagrama,
~ s dis
postos no plano - o que gera
um
alto grau de aleatorismo; no mais
ocorrem eventos
musicais de
ordem causal (dominante e tnica,
por
exemplo), dual
idades dialeticamente
opostas (dissonncia e
consonn
cias, tempos forte e
fraco,
primeiro e segundo temas, etc . , melo
dia,
harmonia ou
pontos
fixos de referncia.
A pa1avra Concret i on (concreo) no se
refere
ao de
tornar
concreto,
isto ,
ao
ooosto
da abstrao, ou
ao processo
de sol idi
ficao, mas a
uma
nova forma, concreta , de apreenso do tempo,
no mais
dividido
nas trs
fases, passado,
presente e
futuro.
A durao de
Concretion
1960 varia
entre
oi to e vinte
minutos,
no
tendo comeo ou fim. O incio
parece
ocorrer por acaso e o trmino
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11/81
J
se
d por simples
interrupo. Sente-se
a sugesto de pontos, -
nhas e campos, dentro de uma ordem cr-estabelecida de proporoes.
O
som
silncio
e o
silncio
sem, formando-se
um
todo
i l imita
do que leva o ouvinte a
perder
o
senso
da forma , segundo as pala
vras do autor.
O encontro com a musica
clssica
da ndia e com o Gagaku do Japo,
bem como seus estudos no
campo
da
fsica
moderna - com as conse
quentes
implicaes
para
a
filosofia
e a esttica - significaram,
para
Koellreutter,
uma experincia
libertadora e a abertura
para
a
formulao de
idias
condensadas
posteriormente, em uma
esttica do
impreciso (tendncias
substituem ocorrncias
definidas) e do
para
doxal (fundem-se
conceitos
estticos
aparentemente
contraditrios).
Acronon (1
ivre
do tel'lpo medido, do tempo relgio, do metrnomo;
transpondo para a msica: l ivre da mtrica racional, da durao de
finida e determinada, e do compasso) um ensaio no sentido de
uma
realizao musical que
ocorre
em um tempo
qualitativo
-
tel'llpo como
forma de percepo -
cuja vivncia resulta
da relao
deu deter
minado
estado
emocional
com as
diversas
ocorrncias
musicais. A
for
ma da
pea
ternria, varivel,
assimtrica,
de equilbrio
dinmi
co,
semelhante do
ten-chi-jin japons (traduo l i teral : cu,
terra,
homem), forma mvel
de
ordenao
e
relacionamento
assimtri
cos, porm
harmnicos,
de trs elementos diferentes.
A partitura do piano - Acronon ,
planimetricamente estruturado,
foi composto
para piano solista
e orquestra
(sopros
e
percusso)
-
escrita
em
uma esfera
difana e transparente, permite ao pianista
ter
uma
viso
de
todos os
signos musicais, possibilitando-lhe a se
leo das
unidades
estruturais a serem
tocadas,
segundo seu carter
complementar.
O
examedasobrascitadasealeituradascartasevidenciam
a preocupa
o
de Koe 11 reutter
com
as
re
1aes entre ar te e soei edade - arte como
cri ao funciona 1, engajada,
experimenta
1 e transitria, que
se materi
a 1 i za atravsdeestudoseensaios
(ponto
de vista,
alis ,
coincidente
com
a i d ia de ar
te-ao expressa por
Kr iode Andrade
em
O Banquete )
- sendo a arte concebida como fa tors ign i f icativo na construo de um
mundosem vis--vis , integradora,
portanto,
aproximando oriente e
ocidente , e CO llO campo experimenta1 em que novos conce i
tos
e len
t
icos e
consequentemente tambm estticos, ta is
como os
de tempo, espao, causa
e
efeito
podem
ser
investigados,
percebidos
e
vivenciados.
ma
viso,
pois, quetendeaaproximarexpresses ar t s t icasecient f icas , nesse
momento
em
que se constata uma convergncia, i
nveross
mi 1
ao
olhar ct i
co do
oci
denta1,
entre
conceitos f i 1
osf
i
cos
da i ca moderna e o mi
s
t i cismo de
culturas milenares
e de
outros
povos.
Na
nossa era tecnolgica,
o
homem, produto da
cultura mas, simulta
neamente
seu
construtor , no
pode, inevitavelmente,
escapar pres-
8/21/2019 Koellreutter Esttica
12/81
2
so dos veculos
de
comunicao
de massa,
ao mesmo tempo em
que,
exercendo
sua
capacidade
cr t ica e
seletiva, influi
e imprime dire-
tr izes
aos mesmos.
Se,
nas
palavras
do
fsico
Werner
Heisenberg,
compreender significa reconhecer relaes e
ver
o dist into
como
ca-
so
particular
de algo
mais
geral , seguramente
a
construo
de
um
mundo sem fronteiras requer uma descoberta contnua da prpria
dentidade,
redescoberta que l iberta de preconceitos
nacionalistas,
de
opinies
infundadas
e da
reflexo.parcial (Koellreutter, sexta
carta) .
Uma cultura universal,
longe,
pois,
de
representar uma
per-
da de
identidade - que
tanto atemoriza os
homens
de todas as l t -
tudes
- demanda
uma
tomada
de conscincia
das prprias
peculiari-
dades,
o
dist into , pois,
c
8/21/2019 Koellreutter Esttica
13/81
3
Toquio, 2/9/74
Prezado professor Koellreutter:
Acabo
de
ouvir seu novo
trabalho
intitulado
Y
ume no naka no hito ,
(poema concreto do
poeta
japons
SHUTARO MUK I
que sugere a rea
l
idade
como
criao
onrica do homem)
)escr i ta para Koto ,
ins
trumento
tradicional do Japo, e voz falada, sobre um
texto em
l n
gua japonesa. Ouvindo
essa
composio, sente-se a
influncia
da sen
sibilidade e da esttica japonesas. No se tem a
impresso,
no en
tanto,
e
isto
me
surpreendeu,
de
se
t ra tar
de
niponizao .
Admi
ro-lhe
a
capacidade
de ter mantido
sua identidade
e
individualidade,
apesar da
influncia
japonesa.
Seguramente,
o
senhor sabe muito
bem
quo distante est da msica
tradicional
japonesa;
sabe
tambm, e
eu
estou convencido disto, distanciar-se do objeto
alheio
e contem
pl-lo
objetivamente.
Assim,
consegue
domin-lo,
faculdade
que os
ar t is tas japoneses geralmente
no
possuem quando
se
defrontam com
culturas
aliengenas.
Procurarei elucidar o
que acabo de
dizer
por
meio
de
um exemplo:
h,
na
pintura
japonesa
moderna, duas
tendncias
dist intas;
uma, chama
-se nihon-ga ; seus
representantes
visam
pintar
em
est i lo
tradi
cional do Japo. A outra, chama-se ' 'y-ga ; seus representantes vi
sam imitar as tendncias
est i l s t icas
do
ocidente.
E
estranho
que
os
pintores
japoneses nunca tivessem tido a
idia
de
integrar
a
tc
nica e o
contedo
esttico da arte ocidental ao modo
de
pintar da
tradio japonesa.
Nos ltimos tempos, no entanto, alguns
pintores
de ni
hon-ga
procuram faz-lo.
Devo
confessar que,
se
de um lado
admiro,
o individualismo
egocn
tr ico
ocidental,
por
outro,
como
oriental ,
no
posso
evitar sent
lo como
arrogante.
Por
isso, prezado
Sr. Koellreutter,
gostaria
que discutssemos um pouco a respeito
das coisas
que distinguem os
europeus dos japoneses.
Desde sempre,
tive
a
impresso de
que a
diferena
principal entre
ocidentais e japoneses tem suas razes no Cristianismo. Em
todo
o
mundo
ocidental, pela maneira de
viver
e
pensar, sente-se, at ho
je ,
a
sua influncia.
Parece-me
essencial
o
fato
de
ter
o
Cristia
nismo
um nico Deus
que
simboliza
o
Absoluto, com
o
qual
o
Cristo
relaciona
tudo.
Para ns,
o
Absoluto
no
existe.
Aos
nossos
olhos,
tudo
relativo,
os conceitos
de
Bem
e Mal, de
CertoeErrado. Acre
ditamos que, neste
mundo, nada existe que
possa ser considerado
como
Absoluto. Por outro lado,
compreendemos
que, num mundo
de
re
latividade, um
mundo
infinito ,
o
Divino-Absoluto
poderia vir
a
() nota
dos
tradutores
8/21/2019 Koellreutter Esttica
14/81
4
tornar-se uma
necessidade.
t
fcil
compreender que o povo
judeu, a
trs
do qual
havia uma
longa
histria trgica
de
sofrimento
e
t rai
o,
ansiasse
por um
Salvador.
No
se
lhes
apresentava
outra sada
seno procurar proteo
no
Sobrenatural-Absoluto,
em
Deus.
Em um
l ll.lndo em
que tudo pode
falhar, resta
apenas ao
homem recorrer que
le
que,
na
Terra,
no pode
ser
encontrado. Os
europeus
devem
ao
CristianisrTX> o
ter transformado
a negao e o
desespero em esperan
a
e
redeno,
processo
ao qual
os
japoneses
no
precisam
recorrer,
uma
vez
que,
segundo
sua opinio, em sociedade, os conflitos podem
ser solucionados por
"compreenso mtua".
Esta idia se explica pe
lo fato
de
ser
o
Japo
um
pas
de unidade
scio-cultural
incomum.
Nele, praticamente,
quase no
se observa
influncia
de outros
po
vos.
Por
isso, os japoneses,
congregados
em
torno
de
uma nica
tra
dio
cultural , sentem-se identificados
em um
pensamento
co1T1Jm Em
nossa
sociedade,
vontade
de
conservar
essa harmonia desempenha um
papel
muito
importante. Confiar, evitar conflitos
e
procurar
a com
preenso
Mtua
entre
os
homens
constituem, por isso, princpios fun
damentais da
convivncia japonesa.
Assim, o japons
nonecessitado
apoio
do Divino-Absoluto.
Perm
ita-me
um exemplo: imaginerios
uma superfcie
que deve
represen
tar
o
nosso
rrundo da
relatividade.
lmaginerTX>s
um
ponto
colocado
a
cima
dessa superfcie,
sem
ter com ela
qualquer
ligao direta. Es
se
ponto
representa
o
Absoluto.
Enquanto o
ocidental,
de alguma
ma-
neira, tende
a
ligar
a
superfcie com esse ponto,
o
japons pres
cinde disso.
Por
esse processo,
o
ocidental cria um mundo em trs
dimenses. O
japons,
no
entanto, contenta-se com
a
superfcie bi
-dimensional.
Ele no capaz de estabelecer relaes
espaciais em
forma de sistemas
imutveis. Em
sua maneira de sentir , as
relaes
mudam de acordo com o ngulo do
observador.
Tudo simplesmente re
lativo.
E, em
verdade,
o
japons carece
do
senso
de dimenso.
Sen
timo-lo
em
todos
os
terrenos
de
sua
arte
e
cultura.
Assim,
por
exem
plo, falta
msica
japonesa
a harmonia, e
pintura
-
at
o
pe
rodo Edo (1598 a 1867) - a perspectiva,
ou
seja, a representao
racionalista
do
espao
tridimensional. Mas ao japons faltam, no
apenas, senso de dimenso (ri t tai-kn),
mas
tambm o de
separao
(bumri-kn) e o de
distncia
(kyori-kn). A
ausncia
desses
trs
fatores
na conscincia do japons chave da compreenso de sua
cultura. No podemos
esquecer
esse
fato,
se
quisernos e n t ~ n e r ver
dadeiramente
a arte e cultura do Japo. Por
isso mesmo,
nao separa
mos vida
e
arte,
a
qual
faz
parte
integrante do
dia
a
dia.
O japo
ns
no
considera
Sa-d
{em
portugues
erroneamente
traduzido
como
cerimnia
do
ch )
e "Ka-d" {arranjo de
flores) como arte, mas sim
como "D"
(ca' li
nho),
ou seja, caminho da vi
da,
uma
forma de f i
loso
fi
a e
vida.
Da
ser
a arte
japonesa
amena,
sensvel, mas simples,
faltando-lhe,
frequentemente,
fora, profundidade e elevao.
Da rnesma
maneira que as
relaes
do ocidental com a
arte
no
so
mediatas
porque ocorrem atravs do
Absoluto
- o
ponto
queseencon-
8/21/2019 Koellreutter Esttica
15/81
JS
tra fora da superfcie tambm as relaes
entre
os homens no o
~ o eles
se encontram numa superfcie, isolados uns dos outros. Ca
da
um
protegido
por seu
Deus no
se
sente
soli trio.
Assim o
oci
dental v,
na personalidade, na liberdade do
indivduo,
seu
ideal.
Bem
diferente
o
japons; ele
no se liga ao ponto
fora
da super
fcie. O elo que
estabelece aquele
que
cria
com seus
pares
. Quan
do esse
se
rompe
ento
sim,
ele se
sente
soli trio
e
isolado. m
seu ambiente mais
ntimo, cultiva
uma ligao
indissolvel ,
maior
do que a amizade e que no respeita,
necessariamente,
a liberdade do
outro. Ele
se
sente,
em
primeiro lugar, como
parte
dependente da
sociedade.
Aquilo que
resta
uma liberdade cujos
limites
so
t ra
ados
pelos
interesses
sociais.
Talvez
se
possa
explicar,
ento,
por
que o
japons
encontra dificuldade
em se
distanciar
de
objetos es
tranhos sua cultura e
em c o n t e ~ l l o s
objetivamente, isto
, de
frontar-se
verdadeiramente
com outras culturas; se
falta
o
senso
de
distncia,
fal tar tambm a
capacidade
de
defrontar-se
com
elas
e question -
las.
A
falta
de conscincia de s i
mesmo
e a consequente
tendncia
do
japons
de
se orientar pelos
outros e
imit
-
los,
so
as razes
pelas
quais ele aceita, to facilmente e sem cr t ica, a
cultura ocidental. Ao
tentar
entregar-
se
inteiramente a ela,
no
percebe o quanto essa cultura
estranha a seu
prprio
ser.
No
con
segue
pois,
conhecer
verdadeiramente
o
outro
e,
portanto,
a
si
mes
mo.
Ficaria
111.Jito grato
se o senhor
respondesse
a
essa
carta.
Atenciosamente,
8/21/2019 Koellreutter Esttica
16/81
H.
J.
KOELLREUTTER
- Tanka 1
Yume no
naka no
hito
(Shutaro Mukai
partitura (dois
mdulos
8/21/2019 Koellreutter Esttica
17/81
7
Toquio, 27 de novembro de 1974
Prezado professor
Tanaka:
Foi com
grande
interesse que l sua
carta. Ela
revela
u 'la problem
t ica com a qual
tambm eu
-
talvez possa
dizer -
me preocupo
qua
se
que diariamente.
Como
homem e como ar t is ta .
Como home
m,
ar t is ta
e diretor e u ~ Insti tuto
Cultural
da
Repblica Federal
da Alemanha
no
exterior.
O Senhor ouviu meu trabalho Yume no naka no
hito
.
Em
sua opinio,
nessa pea , sente-se a i nfluncia da esttica japonesa . l'\as sente
se, tambm que estou consciente da distncia que me separa da msi
ca tradicional de seu pas.
Sem dvida, estou.
e
fato, nunca tentei imitar msica
japonesa,
muito menos
COfll
-
la,
mas admito, sem acanhamento que a experincia
musical
e emocional
~
vivi
no ano de 1953 - quando, pela primeira vez ,
estive
no
Ja
pao ~ ao entrar em contacto com a msica da corte japonesa, exer
ceu
influncia decisiva
em
minha
atividade
cr iadoraear t s t ica .
No
no sentido de uma riudana provocada por essa experincia , mas sim no
de uma confirmao de ideais
estticos
que f o r ~
os
meus, desde a
juventude.
Tais
ideais
so,
por exemplo: concentrao extrema da
expresso, eco
norii ia de meios, renncia ao pr
azer
exc l us i vamen
te
sensor ia 1 , c 1a
reza
e
preciso,
1
iberao de um conceito de
tempo racionalmente
estabele
cido,
assimetria,
forma aberta e
varivel
e outros conceitos mais . Sem
pre
rejei teiaidiadosom pelo
som.Arneu
ve
r
,osom
sempre o polo
complementar
daquele elemento
fundamental da
msica,
sem o
qual,
a
vivncia
art s t ica no
possvel:
o
silncio.
E
ta
r
efa
do composi
tor anul
- lo, para
depois rest i tu- lo.
O som tem por funo produ
zir enfatizar, intensificar e
conscientizar
o silncio . No
me re
firo ao silncio
no sentido
da no-
existncia
do som,
mas sim no
sentido
de
seijaku , ou seja, calma interior e
equi
1brio,
coro
fundo originrio da vivncia espir i tual ,
condio de
ordenao e
cr i tr io de
contedo
e
valor.
De fato
,
prezado professor, para mim
, msica arte somente quando
- e isto sempre foi assim - permite esquecer o
som
e
causar
um
es
tado de equil
brio
interior . Po r tanto, quando a msica
se
torna
si
lncio
ativo ,
por assi'll
dizer .
Foram esses os ideais que, em 1953,
encontrei
confirmados
no Japo .
Sem a
vivncia
da msica Gagaku do
Japo
e a an 1 i se da mesma , no
teria tido, talvez, a coragem de empregar e
prosseguir
desenvolven
do os
princp
i
os
estticos acima mencionados, parcialmente contr
rios aos da msica tradicional do ocidente.
8/21/2019 Koellreutter Esttica
18/81
8
Estou convencido de
que a l Isica ocidental
perdeu certos valores hu
manos no decorrer
de sua evoluo
histrica
em direo
a um
indivi
dualismo
voltado
para
o
ego
e
um
racionalismo
que
se
acentua
pro
gressivamente. Assim, certos valores humanos
ainda
vigentes no
Ori
ente tero
que
ser
resgatados,
se pretendemos
sobreviver corno
socie
dade tecnolgica de massa
ora
em marcha. Porque simplicidade, pre
ciso, clareza
e inteligibil idade,
oor
exemplo,
so
caractersticas
essenciais comunicao
inter-humana.
Por outro
lado, justamente esta s o c i e d d ~
tecnolqica
de r
assa,
ainda
em
fase inicial ,
que obriga os
japoneses
a
s apropriarem
de
valores da cultura ocidental, inexistentes na
sua
prpria
lradio.
Sem
esses,
a
incluso
dos
japoneses
ou
de
outras culturas
na
socie
dade de massa seria
impossvel.
Refiro-me a caractersticas
CO l'K) re
flexo
objetiva
quantificadora,
liberdade
de
deciso independente
de
grupos,
coragem de experirientar,
cr i t icar questionar, etc.
Entendo
por sociedade
de massa a
constituda por uma pluralidade
de
Indivduos,
cuja
conscincia do eu e sentimento de
responsabili
dade
individual
vn
sendo reduzidos ao
mniMO,
uma sociedade
sem
conscincia
de unidade, tradies
e
est i los ,
no pensar e atuar.
Disso
resulta,
prezado
professor,
que
ocidente
e
oriente no
podem
evi tar
o
questionamento
de um em relao ao
outro.
A mim no entan
to,
parece
ser indiferente
a maneira
pela
qual
ocorre
esse
tipo
de
processo
de assimilao ou
convergncia. Eu
at
diria
queoquestio
namento de valores culturais
aliengenos,
isto ,
daquilo
que nos
separa, e a
aceitao
de outros que, embora estranhos
cultura, te
nham validade
universal,
se tornam, hoje, uma necessidade urgente.
Porque a
sociedade
tecnolgica de massa
ser, sem
dvida, planet
r ia
e
universal;
poder surgir somente quando houver a compreenso
de
valores
diferentes,
estranhos,
mesmo
que
opostos
aos nossos
ideais. Refiro-me
co,.,..,reenso, no
tolerncia.
Tolerncia pode
ser
uma
plida substituio para a falta de
esforo
em
alcanar
a
compreenso, fuga que em nada
contribui para modificar falsas in
terpretaes
ou
superar
a incompreenso entre
os povos.
Estou
consciente, porm, de que a tolerncia representa um estgio
inicial
indispensvel
possibilidade
de reflexo
neste sentido.
Na
sociedade
planetria trata-se, antes de mais
nada,
de valorizar
as
caractersticas
culturais
que nos
diferenciam
e,
ao
rresmo
tempo,
redescobrir o homem
como
parte
integrante
de um todo.
O
senhor, caro
professor,
de op1n1ao que a
distino
essencial
en
t re europeus
e japoneses
reside
no
fato
de
terem os primeiros
in
troduzido em
seu
pensamento o
conceito
o
Absoluto
- do
Eternamente
Vlido
-enquanto
que
os ltimos
no o
fizeram.
Concordo, sem
dvi
da.
O
conceito
do
Absoluto nasce
do modo
racional
e
anal t ico
de
pensar
- o Eternamente
Vlido o
parte
de
um
todo em
constante
8/21/2019 Koellreutter Esttica
19/81
9
transformao
e
estranho ao mundo da vivncia emocional e f t i-
va do Oriente. O
Absoluto
se >re
parte dist inta,
e
por isso, di
flcl
lmente
c o ~ r e e n s v e l
ao
modo
de
pensar
globalizante
oriental.
Nno
creio, porm, que este fato
seja
decorrente do
Cristianismo.
O
pensar cristo, referindo-se a
um
Absoluto, , a meu ver,
sintoma
consequente
de
um
e um mesmo fenmeno: de uma forma que tende a a
preender o homem e o meio ambiente
racionalmente,
o que o
coloca,
por fora, em posio
antagnica ao alm-mundo. E essa forria o
resultado de um processo de mutao da conscincia,
iniciado com
o
homeM
europeu da antiguidade. A busca de uma apreenso racional do
homem
e de seu meio ani>iente
determinou toda
a
histria
ocidental.
Por
ela
pode-se
explicar,
em
ltima
anlise,
todas
as
diferenas
en
tre
o pensar oriental e ocidental.
Entendo
por
conscincia a
capacidade
do homem em apreender os s is
tenas
de
relao
que o determinam e
as
funes de um dado
objeto
a
ser
conscientizado com
o meio ani>iente e o "eu" que o apreende.
Portanto,
no
me refiro
conscincia
como
conhecimento formal,
nem
como mero reconhecimento, ou
qualquer processo
de pensamento,
mas
a
uma
forma de
inter-relacionamento
constante,
um
ato
criativo
de
in
tegrao.
Caractersticas dessa
forma de conscincia do
ocidental,
j obser
vveis na
cultura
europia do
perodo
final da antiguidade, ve
ja-se, por exemplo, o conceito do
Belo em
l a t o irrompem deci
sivamente
no primeiro perodo da Renascena,
em um modo
de pensar
acentuadamente racional
a n a l t i c o
e individualizante.
Modo
que,
finalmente, conduz a uma estranha situao cultural , aparentemente
paradoxal
porque, se
por
um
lado atua
individualizando
e abstrain
do,
por
outro,
quantifica
e
concretiza.
ma
situao,
no
entanto,
que talvez nen seja
to
estranha porque os
contrrios,
no fundo,
nunca se excluem
m u t u m e n t e ~
quando muito se manifestam mais ou
menos acentuadamente mas
se
complementam. Por isso ,
certas
mani
festa es da polmica econmica, cultural e pol t ica,
em
nosso tem
po, sao tanto
individualizantes
(descentralizaao, isolamentoeato
mizao como quantificantes (nivelamento, fabricao em massa, su
per-produo e inflao), tanto abstrao conceituai como quantifi
cao (atravs das teorias cientf icas); so
especializao
e in
vestigao inter
- disciplinar, sistemas sociais democrtico-burgue
ses
e
democrtico
-
socialistas,
mercado
l ivre
e economia
planificada
e assim
por diante.
A mudana da forma de
consc1encia
qual
acabo de me
referir ,
e o
desenvolvimento que resulta da mesma, me parecem, em primeiro lugar
responsveis
pelo que
nos
distingue dos orientais.
m
fenmeno de
ordem
psicolgica
e sociolgica
muito
complexo, do
qual
o Cristia
nismo um entre muitos sintomas.
8/21/2019 Koellreutter Esttica
20/81
2
O
senhor,
prezado
professor,
de opinio que, ao japons, fal ta o
senso
de dimenso.
Pode
ser .
Porque dimenses atuam
dividindo
em
grego,
i
ou c a si
gn
i fica dividir ) , ndi vi dua 1
zando,
e , portan
to,
racionalizando,
medindo,
processo estranho
ao pensar do Oriente,
que visa o
todo
e relativiza tudo.
O
senhor tambm
tem
razo
quando
escreve:
O homem que pensa e
sente
globalmente topoucodivide vida
e
arte. arte,
na vida
cotidiana,
, para o
japons,
mais
importante
- e por isso cr i tr io - do que a
auto-representao individualista e a assim chamada
profundidade
e
elevao da obra ar t s t ica
Toda cultura
estabelece seus
valores
especficos.
eles
acrescenta
valores novos, em suas fases criativas de
desenvolvimento.
Errado
, no entanto,
julgar
os valores de uma determinada cultura
com cri
trios de valor de outra. Fenmenos
culturais,
qualquer que seja
nossa posio diante
deles,
s podem
ser
explicados e compreendidos
a
part i r
da
situao
psicolgica e social que
os
engendrou.
Eis o que devemos aprender,
se
pretendemos construir
um
futuro em
comum
m abrao atencioso,
8/21/2019 Koellreutter Esttica
21/81
2
Toquio, 2 de fevereiro de
975
Prezado professor Koellreutter:
Venho agradecer sua resposta na
qual aborda
uma srie de
pontos
de
vista
que, para
mim so muito interessantes. O fim de sua exposi
c ao
me
fez pensar. O senhor escreve: "toda cu tura apresenta va o
res especficos". Se
eu
o compreendo bem, sua opinio de que esses
valores
devem
ser
respeitados, pois escreve: "errado
julgar
os va
lores de uma determinada cultura com os critrios de outra".
Por outro lado, tendo em vista uma cultura universal em formao,
considera
urgente
e necessar1a, en
nosso
tempo, a aceitao e va
lores universais. Ser que isto no
urna
contradio?
Alm do mais
o senhor enfatiza que, para
s i
indiferente a forma pela qual o
corre o processo de assimilaao de valores aliengenos. Creio que
posso COlll>reender porque sente de
tal
maneira:
o ocidental,
possuin
do uma narcante conscincia de si riesrro, capaz de decidir se deve
ou no
adaptar-se
a
outras
culturas. O japons, no entanto, a quem
falta
esta
conscincia,
e cujo
ideal
a adaptao ao que o cerca,
no pode
ficar
indiferente
ante
a
questo
de
como
ocorre
esse
pro
cesso
de assimilao, para que conserve a autenticidade e
credibi
-
1idade de sua cultura.
m
ninha maneira de compreender, o cos,
francamente grotesco, na cultura e
est i lo
de vida do japons moder
no o resultado do
entrelaamento
de posies incompatveis. As
sim,
ele
mistura o ideal de
convvio
harmnico, ao qual
se
dispe a
sacrificar
qualquer coisa, com o
individualisno ocidental, rararen
te propenso a
abrir mo
de algo
em favor
da comunidade; mistura
tambm conceitos
morais
baseados
em sua
sensibi
idade
estt ica
com
princpios morais
do Cristianismo.
Ficar- lhe - ia ~ t o grato, professor
Koellreutter,
serie explicasse
porque pensa que a cultura japonesa no deve ser medida com cri t
rios de
outra cultura.
Como
europeu,
o
senhor no
pode evitar de
servir -
se
de critrios prprios, estranhos a
ns.
Gostaria
de
dar prosseguimento ao
nosso
dilogo,
agora
j no terre
no da esttica . Em seu prefcio"Kana-
jo"
do
Koki
nsh KI Tsurayuk i
7- 945)
explica
o que a arte
significa
para o japons, e
mostra
o que
distingue
a
estt ica
japonesa
da
ocidental: "o
poema
japons
tem
sua raiz no corao
humano e
suas
folhas, em
milhares
de
pala
vras. O fazer dos homens que vivem nesse mundo variado, e aqui lo
que sentem no corao kokoro)
expressam
at ravs de
objetos
pe rce
bidos pelos olhos e
ouvidos
. A voz do
rouxinol
nas flo r
es
ou a dos
sapos
nas guas . . . qua desses seres vi vos no
estar
se exp ressando
atravs de um canto Tudo que move cu e
terra
sem o enprego da for
a e
causa
compaixo
aos
espri tos e deuses invisveis, que torna
a relao ent re o
homem
e a mulher mais afetuosa e ameniza o corao
8/21/2019 Koellreutter Esttica
22/81
do guerreiro inpetuoso poema, poema nascido no tempo
em
que, pela
primeira vez,
cu
e
terra se abriram .
Nesse prefcio, Tsurayuki
afirma
que o
poeta
possui a capacidade de
influenciar
at espritos
e
deuses . Esta afirmao se encontra em
oposio
id
ia,
ainda presente
na esttica
oci denta
I,
de que Deus,
como ser
sobrenatural,
se
comunica
atravs
do
poeta, sendo este um
instrumento por ele
inspirado. O poeta
japons,
no entanto,
no
ne
cessita de Deus ou de musa para sua arte. Oito em poucas palavras:
a esttica
japonesa
uma teoria que desconhece o Divino; a
ociden
tal ,
no
exist i r ia
sem
tal
conceito. Tsurayuki
coloca-se,
portanto,
em
oposio
tradio esttica
ocidental.
Corao e alma do
poeta
so , em sua concepao, a fonte exclusiva
da
criao potica. Natu
ralmente, tambm hoje,
os ocidentais COl preendem que
Deus no
in
fluencia
a
criao ar t s t ica
do
poeta.
Apesar
disso,
pode acontecer
que as idias de Tsurayuki causem incocnpreenso,
pois,
na esttica
ocidental, de Aristteles e Ploti no, as
artes
fundam-se no
logos
de
um
Deus e na idia
do
cosmos. A
esttica
estico-crist nega,
conforme
sabenos,
o corao
do
homem
como
fonte da
criao
r t s t -
ca. Kesmo
na Renascena , quando o gn o ou a
persona
l
idade
eram
considerados a
fora
propulsora
da
atividade
criadora,
havia a con
vico
de que
as obras
de
arte,
em
ltima
anlise,
seriam
influen
ciadas por um ideal de beleza
absoluto.
Para Leibnitz e Descartes, a sensibilidade estt ica razao obscu
reci da. Os
raciona
1is tas franceses
vem
na forma do
poema
um
que
bra-mar
contra os caprichos do sentimental ismo humano; Kant repre
senta, at certo ponto,
uma exceo.
Hegel, por seu lado, interpre
ta a histria das artes col lO histria da expresso da idia absolu
ta , atravs do poeta. Parece que a idia de que o homem
poderia
se
defrontar com o mundo
sem
o auxlio de
um
ser divino noexist iaat
a segunda metade do
sculo
XIX.
Para
o
japons,
no
entanto,
a
arte
sempre foi, exclusivamente,
expresso
e produto do homem. Por
isso,
o
transmitir
a
expresso
subjetiva, em sua esttica, tornou-
se
o
ponto de partida da criao art st ica. A esttica
ocidental,
porm,
d a esse problema uma
importncia
relativamente pequena .
Para
ela,
no parece essencial a questo,
se,
ou como, a
obra
de arte com
preendida
pelo
observador, ouvinte ou leitor; para o
ocidental, em
ltima anlise
,
ela ainda continua
sendo,
sobretudo, expresso de
um
ideal
de beleza que tem validade universa l .
Viver
exp r
essar
-
se.
O
homem
vive se
cOl'lllnicando.
Na
maneira
de
se
comunicar,
bem como
na
expresso
art st ica, o japons se distingue
do
homem ocidental.
Este,
em ltima instncia,
sempre se expr
essa
levando em
conta
uma idia
do
Absoluto, uma
filosofia
de
vida
ou
deologia
, enquanto que o
primeiro torna
aquilo que
pretende
expres
sar, dependente
das relaes
com seus pares.
Para
o
japons,
da
mxima importncia ser collllreendido pelo
mundo
que o cerca; para o
ocidental
is to no
to relevante. Porisso,
o japons se torna
com
-
8/21/2019 Koellreutter Esttica
23/81
3
plctamente dependente
de
seus pares.
Essa
dependncia
no
entanto
he causa sensao
de segurana; o
fato
de
ter sido
compreendido
representa para ele apenas uma conquista
ocasional.
esse
o
fato
poder-se-ia
dizer
que enriquece
consideravelrrente
sua vida tor
nando-a palpitante.
l\Lenc
osairente
8/21/2019 Koellreutter Esttica
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8/21/2019 Koellreutter Esttica
25/81
5
Toquio, 7 de abril de 1975
Prezado
professor
Tanaka:
O senhor tem razao:
sou
realmente
da opinio de que o exame cr t ico
d o ~ valores de culturas aliengenas e a
aceitao
dos mesmos na
medida em
que
tenhaM ou possam ter validade
universal
tornaram
se, em nosso tempo absolutamente imprescindveis. Porque o desen
volvimento i ~ p r e v i s v e l da
tecnologia
deve fazer-se acompanhar por
reformas
sociais e morais amplas e universais, reformas
que
ficaro
incompletas
sem
o exame cr t ico dos
valores
de
outras
culturas.
A-
credito que
deveramos
estar
p r o ~ t o s
e
no
receiosos, para receber
valores de culturas alheias. A unidade a que SO OS
exortados
a as
pirar,
requer de ns a c o ~ r e e n s o e o reconhecimento de todos os
valores culturais que
a hurianidade
j
criou e continua criando, e
nos obriga a integr- los e compreend-los como partes de um todo .
Essa tese, caro professor, de maneira alguma encontra-se em
contra
dio com a minha constatao de
que
seria errneo julgar os valores
de determinada cultura, com
os
cri trios de valor de uma outra. Mui
to
pelo
contrrio . A discusso dos valores de culturas alheias
s
possvel
se
formos
capazes
de
reconhecer
e compreender
suas
leis
e
qualidades
especficas, independentemente
de sua validade em nossa
prpria cultura. Porque c o m o j comentei em minha
ltima
carta -
valores
culturais
so
o produto de
uma
determinada situao social
e
s
podem ser compreendidos a part i r dela .
O
senhor,
no entanto, tem razo quando
pensa
que, para mim indi
fe
rente a forma pela qual se realiza esse exame cr t ico. Mas no o
compreendo quando v um
cos
na multiplicidade das manifestaes
culturais que caracterizam
a cultura do Japo de hoje. Se,
como
re
petidamente
tem
acentuado,
a harmonia da
convivncia
human
a
,
para
o
japons,
lei suprema, o
Japo,
a meu
ver,
mais do que outras na
es est predestinado a assimilar e integrar
valores
culturais a
lheios,
contribuindo, dessa
maneira,
para a harmonizao de todas
as culturas,
om vistas
a uma
cultura
universal futura .
Trata
-
se, hoje, de
criar
uma conscincia
que
seja capaz
de
perceber
e o ~ r e e n d e r o mundo
como
um
todo
e de adaptar- se a ele criativa
mente.
Tarefa custosa para
o
h o m e ~ ocidental que,
por seu desenvol
vimento histrico, ter no s que reaprender a pensar globalmente,
como
tambm e
principalmente,
a
sentir
como
tal
Ho
se
trata
de
c r iar uma cultura
tediosamente uniforme,
mas sim, de desenvolver um
organismo scio-cultural que se baseie na elaborao e integrao
criativas
de todos os valores culturais da humanidade .
O
Japo,
eu acredito,
capaz
de contribuir consideravelmente
nessa
direo j que, por
tradio, possui
a capacidade de
reconhecer
o
homem
em sua totalidade e de
aproveitar suas
caracterst icas e po-
8/21/2019 Koellreutter Esttica
26/81
6
tencialidades num
desenvolvimento ordenado.A tradio
e
experincia
do
Japo
podem desempenhar um papel 111.1ito importante nesse processo
de
amlgal'll que hoje
se
realiza
por todo
o planeta, contribuindo,
atravs
da comunicao
esttica, para
a
modificao das
relaes
entre arte
e
sociedade,
e
apontando, por essa via, para um
caminho
de humanizao do mundo industrializado.
C0 '1preende-se a
observao
considerando
-
se seu ponto
de vista
segundo a
qual
a
esttica o c i d e ~ t l
atr;bui
uma importncia relat i
vamente pequena
ao
problema da
expresso.
Permita-me porm chamar
sua
ateno
para
o
fato
de
que a
histria
da
arte ocidental, desde
a Renascena, pode
ser interpretada como um
processo contnuo
de
transformar e intensificar a expresso,
processo
que
culmina
num est i lo expressivo eMinentemente
subjetivo,
como
o Expressionismo. O fato de que o "Absoluto", a "ldia Univer
sa
I
' '
e o
' 'Ser
Sobrena
tu
ra
I
' , at nossos dias,
desempenhem
um papel
ligado
a
uma certa tradio, j deveria ter
se
tornado irrelevante
para a esttica
11Dderna
e a concepo da
arte.
A
esttica,
em
nossos
dias, deixa
de
ser a doutrina
subjetivadobe
lo,
tornando
-
se
uma
teoria
racional
e
objetiva
da
percepo
(do
gre
go
"aisthetiks" =sensvel , sensit ivo),
devendo-
se levar
em consi
derao
a
inexistncia
da
objetividade
em
sentido absoluto,
mas
a
penas
como um
mnimo
de subjetividade uma estt ica
que
tambm se
relaciona com
o
"consumidor"
ou seja, o espectador ,
ouvinte, lei
tor,
etc . u na teoria que
descreve
fennenos de comunicao e
de
informao estticas
na
sociedade em
que
tiveraM origem
ou
qual
se
d i r i g e m
c o ~ referncia ao homem, portanto
Ao se an
a
l isar, de imediato, as diferenas entre
o pensar
eosent i r
japons
e
ocidental
preciso
levar-se
em
considerao
o
fato
de que
a ar te e a esttica, no
Japo
e no
ocidente, se
fundam
em duas
for
mas
de conscincia completaMente diferentes
que,
primeira vista,
parecem
diamet
r
almente opostas, mas que,
no
futuro, podero
vir
a
se
complementar ,
enriquecendo-se
mutuamente .
Eu
chamaria
de
"intui
tiva",
no senti
do de
urna capacidade
de
percepo
g 1oba1 i
zante,
a
forma de conscincia em que esto
baseadas
a arte e
esttica tradi
cionais
do Japo, assin
como de
"racionalista", aquela
sobre
a
qual
se
baseia a
arte estabelecida,
t r
adicional
do
ocidente
,
e1:1particular
as
tendncias
est i l s t ic s surgidas entre os sculos
X e XX.
A forma de conscincia que
super-acentua
o
racional,
e que tem
como
veio
mais i111>ortante o pensar analt ico, a postura espiritual res
ponsvel
pela
tradio
judaico-
cris t ,
cuja
importncia
para a
cor l-
preenso do ocidente o senhor, repetidaMente, tem
enfatizado
. O t i -
po "in t uitivo" de conscincia do japons gera uma arte em que ele
mentos
temporais
e
espaciais se correlacionam com uma experincia
intuitiva e afetiva,
para
a qual o
contraste,
indispensvel
forma,
8/21/2019 Koellreutter Esttica
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7
consiste numa correspondncia ambivalente do tanto quanto .
O
tipo racionalista
do
homem ocidental, produz, por
sua
vez,
uma
~ r t
cujos
elementos temporais e espaciais esto sujeitos a uma or
dem
mensurvel, a um processo de abstrao cujo germe o contraste
dualista, dialtico e excludente do ou isto, ou aquilo .
Realisticamente falando, parece
importante
para ns que,
como
con
sequncia de
uma
sociedade planetria em construo, se inicie
um
desenvolvimento que pressuponha, forosamente, a
assimilao
dos va
lores
culturais
orientais
pelo
ocidente, e dos ocidentais, pelo o
riente.
Porque,
caso
nos recusemos a
realizar
a
tarefa
de
acultura
o, receio
que,
inevitavelmente,
estaremos
escolhendo o caminho da
autodestruio
. Porque ns homens, no futuro, s poderemos
viver co
mo coounidade.
Ainda no sabemos
quais
dos valores
da
herana do homem, numa
cul
tura universal, sero definitivar.-ente integrados. Isto depende dos
ideais e dos objetivos que o homem colocar
para
o futuro. Certo
,
no entanto, que uma futura cultura universal fundir valores
cultu
rais
do oriente e do
ocidente,
num jogo dinmico: a
introverso
se
r
compensada
pela
extroverso
e
vice-versa,
a
subjetividade
pela
objetividade e a automao pela frutificao das foras
criativas.
Dessa maneira, aproximar-nos-emos de uma
estrutura
de pensamento
cuja essncia poder ser o paradoxo integrante. Encontramo- nos di
ante do
fato
paradoxal de sermos obrigados a
levar
adiante o proces
so que, sabemos, poder no s
destruir
a humanidade do homem, como
tambm ele mesmo.
Na histria
da humanidade no se eliminam parado
xos passando por cima
deles
ou negando-os; preciso
aceit-los
e
penetrar neles ,
escreve o
filsofo
Georg Picht
em
O Futuro da
hu
manidade .
Acredito
firmemente, caro professor, que nos e as geraoes vindou
ras seremos
exortados
a criar essa cultura
planetria
universal,
mas, somente se cada um de ns
for
capaz
de
se
identificar
com
to
dos
os
seus
aspec
tos, consegui remos
cumprir
essa misso: se tudo que
pensarmos, sentirmos ou fizermos for
pensado,
sentido ou
feito COl ll
referncia
ao todo, a um
equilbrio scio-cultural,
como meio
para
um crescimento
maior.
m
ab
rao .
8/21/2019 Koellreutter Esttica
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8/21/2019 Koellreutter Esttica
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Toquio, 20/05/75
Caro professor Koel lreutter;
Sua idia de una
cultura
planetria universal
soa,
de fato, muito
sedutora. Como japons,
ela
me
parece
ilusria, o pensamento i lus
rio
de
um
europeu que
considera
o futuro da cultura e civil izao
ocidentais
com
ceticismo e procura uma
soluo
no
oriente.
O senhor
da opinio de que ainda no sabemos quais
valores
da herana do
homem
sero integrados
em uma
cultura
universal, e que
isto
depen
der
dos
ideais
e
objetivos
que o
homem
se
propuser para
o
futuro.
Quanto a mim,
creio
que ser novamente o mundo ocidental, e no o
indivduo, a
determinar
os ideais e objetivos futuros. a m b ~ estou
convencido de que o
japons,
mais uma
vez, estar
disposto a seguir
as propostas do ocidente.
Mas
essa cultura, em
ltima
instncia,
se
r novamente ocidental e no universal . . . Dizem, com
razo,
que a
cultura japonesa do
tipo
lunar porque o luar, como
ta l
no
e
xiste; a lua, ela mesl \l, no brilha, mas brilha apenas con o aux
l io
de uma estrela. Assim acontece com a cultura do
Japo;
esta
tam-
bm, na origem, no
existiu
como tal . Tornou-se
importante
apenas
por_
ter aceito, em
tempos
passados,
a
cultura
chinesa, assimilando
-a a sua.
Um exeriplo
caracterstico
deste fato a simplificao, levada a
cabo pelos
japoneses,
dos ideogramas chineses, processodoqual sur
giu a escrita dos primeiros (escrita Kana .
Eu
diria, por isso, que
a cultura japonesa fundamentalmente um
produto
de
adaptao
muito
sensvel aos
estmulos do mundo
exterior,
reagindo fcil
e persis
tentemente
s
influncias
estrangeiras.
Esse processo
de adaptao
ocorre sem planejamento, no se
iq>ortando,
o japons, com contra
dies
aparentemente
lgicas.
Da a
sensao
de
falta
de
unidade
no
desenvolvimento da
arte japonesa.
No se pode
fugir
impresso de
ter sido influenciada,
em
vrios
perodos
da histria, por todo t i -
po de tendncias
externas
ou at . mesmo de ter surgido por
acaso.
O
crtico de arte brasileiro Mario Pedrosa
diz
que
os
esti los da arte
japonesa
so
determinados por
situaes.
At se
poderia
afirmar que
a
arte
do Japo desconhece
estilos
propriamente ditos e se consti
tui, cada vez, segundo a influncia que
sofre.
O senhor, caro
pro
fessor, parece ser da
opinio
de que o
Japo est
predestinadoa as
similar valores
culturais de outros povos, a
transform-los
e a con
tr ibuir
assim,
essencialmente, para
a
harmonizao
de
todas as
culturas,
tendo
em vista
uma
c u l t u r ~ planetria
universal
futura.
COllD
j disse, destino da cultura
japonesa
desenvolver-se sempre
sob influncia de
outras.
m tempos imemoriais de
sua
histria, o
japons
ta
1vez teria consegui do a harmonizao de
todas as
cu1 u
r
as,
porque ento, ele
tinha
tempo suficiente para
assimilar os
-
lores culturais
de outros povos que chegavam
ao
Japo com grandes
lapsos de
tempo. O
japons,
que sempre
se esforou
por alcanar e
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3
at
ultrapassar
a
cultura
ocidental,
cometeu, aps a
restaurao
Meiji, em minha opinio, um grande
erro.
Este, talvez, possa ser
e
lucidado
por
um
exemplo mencionado
por Tsuneari
fukuda
em
seu
livro
Nihon o omou : imaginem que
se faa
o
prprio
nariz,
tomando
co
mo fllOdelo
um
outro, s
porque
este
agrada
especialmente. Escolhe
se,
de todos
os homens, o melhor
de cada
um
olhos amveis,
boca
expressiva, etc, e se junta tudo como uma foto-montagem, na suposi
o
de
que, desta
maneira, se
conseguir
criar beleza. Assim, o
ja
pons
rene,
de culturas
estrangeiras
que
lhe
agradam,
partes
dif i
cilmente reunveis,
na
inteno
de
criar
o melhor e o mais
extraor
dinrio .
Receio,
caro professor,
que a
cultura
universal
que o
senhor
vis
lumbra ser
uma
foto-l'IOlltagem
casualmente
construda que lembra o
Japo do
perodo
Meiji (1868
-1912).
A
situao hodierna em nosso
pas,
no
entanto,
parece-me
ainda
mais
extrema.
Tenho a
impresso
de
que,
atualmente, antes
que o estmago
sinta
fome,
coloca-se
na mesa, ininterruptamente, todo tipo de l -
mentos novos. O
japons, precipitado
e
assduo, esfora-se por co
mer tudo, numa grande
desordem.
As consequncias so os
problemas
crnicos de digesto
que
hoje
o
afligem.
No
se
poderia
considerar
essa
situao um
cos?
Cultura
um
organismo
que,
como
um
todo,
representa
uma
unidade que
s pode
exist i r
quando se
tende,
mais ou menos, a
excluir
o que
vem
de fora.
Porisso,
parece-me
necessria uma atitude conservadora.
Li com
interesse sua afirmao de
que o
japons sente
e pensa
glo
balmente.
Isto,
sem
dvida,
certo.
O
senhor tambm
tem
ra
zio
quando
designa
como
intuitivo , no senti
do de
uma capacidade
de
percepio
global,
o
t ipo
de
conscincia
que
preside
esttica
da
arte tradicional
do
Japo.
Lembro-me, no momento, de
uma exper1en
cia
que
tive
no
Instituto
Goethe,
em
Hunich: o professor
frequente
mente nos mandava descrever ou
interpretar
um determinado quadro.
Falando
sinceramente, isso
me
chocou; a ns
japoneses,
praticamen
te
impossvel
descrever uma obra
de
ar te em palavras,
ou
seja, a
travs de
um processo analtico.
Pouco
inclinados ao pensar plani
ficador-analtico,
no temos,
em
geral,
tendncia
a
analisar
qua
dros
e
obras
de
ar te objetivando
e
procurando aprend-los global
mente. Lembro-me do episdio
em
que o famoso
pintor
Statsu (?-1643)
e o no menos famoso
calgrafo
Ketsu (1558 a 1637)
criaramumaobra
de ar te em comum. Statsu pintou um quadro
com
toda
a
liberdade.
Ketsu,
com seu
pincel,
acrescentou-lhe um verso.
Isto ocorreu
sem
que
tivessem
discutido o assunto anteriormente. Assi
m
ambos
os ar
t istas, adaptando-se
1111tu
amente, sem renunciar sua liberdade in
dividual e colocando
suas
respiraes
em um mesmo r;tmo,
criaram
u
ma obra
de arte
comum
de
perfeita
harmonia.
8/21/2019 Koellreutter Esttica
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3
O
xllogravurista Shik
Munakata 1903-1975)
afirma
a
respeito
de
eu
prpria
atividade
que
em
seu
processo
de
criao
art st ica
no
h
malogros.
Eis uma maneira de
pensar tipicamente japonesa.
Considerando
como um
novo ponto de
partida
o malogro
transforma-se
m
algo
de
positivo
e
portanto
o fracasso
como
ta l
no
existe.
o
contrrio algo
de
mais transcendente e interessante surgir
ultrapassando aquilo que
originariamente
se
pretendeu.
im certa
ocasio
l que
na
entrada
do
Museu Rietberg em
Zurich
ncontra-se a seguinte
classificao
de obras art st icas:
representao
impressionista
representao
construtivista
representao expressionista
o que quer
dizer que todas
as
obras
de
arte em ltima anlise po
deriam
ser classificadas
segundo essas
trs categorias.
Ns,
japo
n ses no entanto ainda poderamos
acrescentar
uma quarta: a
de
lineativa.
Quando
estive
na Europa,
v
e ouvi numerosas
obras
de
arte
que
me
causa ram
a impresso de que nelas tudo
descrito
e
expresso at
o
ltimo detalhe. Esta arte parece-me demasiadamente
eloquente
e at
tagarela
sem
espao
para
o
vazio
e o
silncio. No existe
o
incon
ceb
vel
o vago, o
velado
to pouco a
expresso indecisa
amb
gua) ,
discreta
ou
oculta.
Tudo
claro brilhante
macio
forte
e
extrovertido. Tudo
repleto
e abundante.
Jardim de Pedras no
Te
mp lo de
Ryoan-ji
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3
Til lberg,
As
pedras , Sucia
Frequentando museus e
concertos
na Europa,
senti que
minha
sensi
bilidade
enfraquecia paulatinariente
embora
me
opusesse a
esse tipo
de
arte. Nada me
impressionou
verdadeiramente.
Lembrei-me, por
e
xemplo, da
superfcie
vazia da
aquarela
japonesa
que,
a
meus olhos,
causa uma
impresso bem mais
forte
do que
um
quadro densamente pin
tado.
Lembrei-me da msica
japonesa,
na qual ~ c i t n d o o
s e n h o r ~
no
existe
o som
pelo
som,
mas
sim como meio
para
produzir,
inten
sificar
e conscientizar o
silncio.
Tal
arte, pinturaoumsica,
no
impressionista, construtivista
ou
expressionista.
Ela se funda
em
princpio completamente
diferente,
ou seja, no
princpio
da
suges
to.
No Japo,
a
arte
que apenas delineia se desenvolveu muito. Ne
la, o
artis ta
se
concentra e ~
U nico objeto
concreto, ou ocorrn
ci
a,
como
smbolo que
sugere algo
que est
oculto em
algum
lugar,
na
profundidade.
A ns,
japoneses, parece
que somente
essa arte
possibilita
expressar
o que no pode ser
expresso
. A
concentrao
de meios,
naturalmente, decisiva. Uri
exemplo
explcito
o Haiku,
poema
curto, que consiste em trs versos de 5, 7 e novaC'lente 5
labas. Ele apresenta
um contedo
bem
mais profundo
do
que muitos
romances
verborrgicos.
O
poeta
Bash Hatsuo (1664
-1694 ,
por exemplo,
no seguinte
Haiku
descreve
a
infinitude
do nundo,
colocando
no
centro
de
seu
poema, a
ocorrncia concreta,
ou
seja,
o
m u r ~ u r r
da
gua.
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ru-ru-i-ke 1) -ya 2)
kewa-su 3) - to-bi
- ko-
mu 4)
ml-zu-no- o -
to
5)
1) um
velho
tanque 2)
t rata-se
de uma part cula
emocional)
3) um
sapo
4) sal ta para dentro
5) murmrio da gua
O seu,
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8/21/2019 Koellreutter Esttica
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5
Hunich,
11/07/75
prof.
Tanaka:
\li tura
planetria
universal
um
acontecimento que se im-
~
Ela surge da
necessidade
de
oposio
aos
perigos
do
r ~ c l m
nto
tecnolgico e da automao extremas, atravs de medidas
locducativas essenciais e de uma espcie de revoluo
cultural.
111
qu-;ncia
natural
de
um
desenvolvimento social ao qual no pode
11111ls
escapar.
Se pretendemos
ampliar
as potencialidades
do
ho
c brir novos campos para seu desenvolvimento - e tambm
isto
Imperativo, porque a natureza nos obriqa a controlar e aperfeio
n
civilizao por ns
mesmos
criada - teremos que delimitar o
rr no da cooperao pol t ica, econmica e cultural que
correspon
I os princpios e s
exiqncias
de um mundo uno. A infra-estrutu
t t dessa cultura
universal
ser
uma
sociedade
aberta, uma sociedade
1 ~ c o l h e seres humanos de toda a espcie, independente de oriqem,
n ~
ou
reliqio. A
solidariedade entre os homens ser consequida
atravs
da concentrao em
objetivos
c01T1Uns
portanto, atravs da
~
trans-nacional.
t1ln sociedade
qerar
uma
cultura que se encaminha -
ainda
no o
brmos - para
uma fuso de
caractersticas
raciais
e nacionais
ou
Mra
uma
juno
e
nfase
de valores tradicionais. Certo , no entan
to, que esta
cultura ser de
integrao. No
uma
colcha
de retalhos,
um 1 foto-montagem
como
o
senhor
receia, mas uma unidade
orqnica,
b 1eada na avaliao plena de todos os meios disponveis ao homem
dcrno.
h
cultura,
caro
professor,
que
exclua,
por
princpio
o que
ve
n
d
fora.
E
a posio conservadora hostil
ao desenvolvimento cul
tura 1. Porque
conservadorismo se
prende
ao ui
trapassado e
se
ope ao
criativo.
mim
parece
que
hoje,
mais do que
nunca,
importa que
as culturas se
vltalizen mutuamente.
E isso dentro
de um
intercnbio de
idiasede
experinci as que
se
amplie
constantemente
e na liberdade
de
um mun-
do aberto. No devemos
estar
somente
dispostos
a dar, mas taMbm a
receber e a aprender com os
outros.
(natural
que,
em tal
processo
de
intercmbio
e
interao
cultural,
cometam
-se erros;
a
obra
mal
fei ta
inevitvel. No h processo
histr
ico
amalgamador l ivre de
falhas.
A
histria,
no entanto, anula as imperfeies e separa
trigo.
~ ~
o joio do
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6
Se quisermos sobreviver, teremos que
estabelecer
contactos humanos
mui to es t rei tos. No poderemos nos dar ao 1uxo de nos om i t i rmos. Se
r
preciso nos unir
com
o
objetivo
de
criarmos uma
cultura
comum
acima
das nacionalidades.
Uma tal cultura, naturalmente,
no
siqni
fica a
mistura
indiscriminada de tudo que
l
ou
c,
foi
criado
em perodos de transio, no entanto, difcil evitar
uma
mistura
deste tioo - mas uma inteqrao planejada e consciente.
Perounto-me porm em que medida cada um de ns - portanto, tam
bm
o senhor e eu -
ser
capaz de
solucionar, isto , dejulqar ob
jetivamente o valor
ou
desvalor dos fatores culturais para a
prpria
cultura e a cultura comum.
No ser possvel,
tampouco
evitar
que
as
chamadas
conquistas
da
c i vi
1
izao , os computadores robs e todas
as
esoci
es de mqu inas
cibernticas
-
tambm aquelas
que a muitos
dentre
ns parecem hos
tfs cultura
- sejam aperfeioadas.
Mas
se
aperfeioamos
a
tecno
loqia e a sociedade que
lhe corresoonde,
segundo valores e objetivos
prprios mesmo
assim,
os valores
huma no6 -
e isto o mais impor
tante -
podem
e devem
ser preservados.
Ns
no
ocidente, temos que
reaprender
o
pensar globalizante.
Desde
h
muito nossos
cientistas
mais avanados
tm
nos
alertado
para
a
perda da
faculdade
do pensamento
globalizante, como um
dos fatores
que contribui
para
privar o homem de uma parte essencial de sua ca
pacidade cognitiva. m seu livro Fsica e Filosofia ,
escreveof
sico Werner Heisenberg: a grande
contribuio
cientfica feita
pe
los japoneses, a
partir
da ltima guerra, fsica
terica, ~ o e
ser
interpretada
como
sintoma de certas relaes entre as idias trad i
cionais
do extremo
oriente
e a substncia
filosfica
da
Teoria
Qun
t ica.
O
homem
se acostumar
talvez,
mais
facilmente
ao conceito
quntico da realidade, se no passar pelo pensamento materialista
ingnuo
ainda vigente
na
Europa das
primeiras
dcadas
deste
scu
lo.
Aprendamos ento, com o
Oriente,
o que
uma tradioracionalistade
aproximadamente
400
anos nos fez
esquecer.
Tradio
cujo
desenvol
vimento em
direo
a
uma
forma
materialista
de pensamento - que re
duz a realidade, e portanto,
tambm
a alma e o esprito, condio
de matria -
trouxe
como consequncia
ltima
a atrofia dos
valores
psico-espirituais.
Perda que no pode ser compensada por
atividades
que se ocupam
com
o
pensar
oriental,
to em
moda
entre ns, ociden
tais,
na Europa e nas Amricas.
Manifestaes,
talvez
de
reao
ao
desenvolvimento
materialista,
ou melhor,
ao nosso passado
materia
l ista, em que os excessos, sob forma de exaltao, fanatismo, falta
de senso cr t ico, exagero e deformao lembram sintomas que o se
nhor
caro
professor,
tambm
observa no Japo e
to
veementemente
crit ica.
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7
a economl a e con
Ot nrtl\ tas do Ocidente tero ainda que
r e a p r e n J e ~ t e
de
delinear,
111rnao
de
meios,
aquilo
q u e ~
s7nhor
: h ~ m a
de'
eu
designo
por
a
hci11r, insinuar, aludir. tendenc 1
es
tet 1 ~ qve rflnnc ia
repre
lu lnn l smo arts t ico. Porque a alusao, Isto
e,
'
refere
tambm
11
1,.c,.io
realista,
afirmao
clara - e isto
~ ~ f l um fator
ar
H1unlu1, linguagem
sem
referente externo - consP
francs
Pierre
. . ,,r
LIBtlco Importante. A
esse
r e ~ p e 1 t o ,
o compos1tv CJe
se
revela pau-
inulel escreve: amo a dimensao apenas esboada, rfl que
se
perpetua.
l1tln,1mente;
nela,
no h a pretenso da
obra p(
1
-
. .
Apr nde-se,
por assim dizer, a
viver
na
musica.
f rma de expresso
o
v ramos,
talvez,
cada vez
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