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7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
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U
NIVERSJD DE
DO ESTADO DO RIO DF J
\1\F IRO
e
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Ricardo Vic ira lves dt:
Castro
Vice-rei ora
Maria Christina Paixão Maioli
EDITOR
DA UNIVERSID DE DO
ESTADO DO
RIO
DE JANEI RO
o s lho Editorial
Antonio Augusto
Passos Videira
Fl
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talo Moriconi
p
resident
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Ivo
Barbi
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Luiz Antonio de Castro Santos
Pedro
Colmar Gonça l
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Vellasco
Ernesto Laclau
mancipação diferença
Conrc/enaçiío e ret úiío téc
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Alice Casimiro Lopes
Elizabeth
Mac
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Rio
de Janeir
o
2 11
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 2/15
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Edito ra
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ID
A DE DO ESTADO DO
RIO
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JA : -.E IRO
Rua São Franc isco Xavier. 52 -l - Maracanã
CE
P 205 50 -0 13 - Rio d : Jan
:
1o RJ - Brasil
Tcl. Fax.: :;; (21) 233-l-
07
20 ' 233-l-072 l 233-l-
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Emílio B •:;c:
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CATALOGAÇ
AO
NA FONTE
UERJIREDE SIRIUSINPRO T EC
Ll
4 1 La
cl
au, E
rn
esro , I 935-
Emancipação e d iferença/ Ernes w Lacbu ; coorde
nação e revisão t
écn
ica geral, Alice Casimiro Lopes e
Elizabeth Macedo
Ri
o de Janeiro: EdUERJ, 20 11.
2
22
p.
ISB
N 978-85-7511 - 199-4
I.
C iência
po
lítica - Filosofia.
2. Lib
erdade.
3.
Identidade (Concei
ro
filosófico).
I.
Tfrulo.
C DU32
um
ário
·
S
ob r
e a o rganiz
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ão e o s rr:1
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7
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Lopes
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Ma
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Ag radeciment os publicados na ediç
ão
inglesa ...... ... ... ...... .. .. .... .. .....
19
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Agradeci mento refe
rent
e à e 1ção e1ra . .. .. .... .. .. .. ..... ..... ........ ... -
D a e man cipaç
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à liber
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Unive rsalismo, particu laris
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Por que
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Sujeito d a
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"O
tempo
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Poder e representaç
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...... .. .. .... ................ .................. .... .. .. .... .. ..... 129
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:
l
I
I
a
emancipação
à liberdade
É possível ver a
emancipaç
ão -
uma
noção
que
é
parte de
nosso
imaginário político há
séculos e a cuja desintegração
hoje
assistimos - organizada
em
wrno
de
seis
dim
ensões dis.timas. A
primeira é a
que
poderíamos
chamar
de d : u nsão dicotômica: en
tre o momento
emancipaw
n · · ' >cial
que
o precedeu,
há um
abismo
absoluto, uma
f<.ti..ti l.. ,d
..
r t t
n u i e
A
segunda
é o que se pode considerar uma dimensão holístíca: a emancipação
afeta todas as áreas da vida social, e há uma relação
de
imbricação
essencial entre seus vár ios
conteúdos
nessas diferentes áreas. A ter
ceira dimensão pode ser referida como dimensão de transparência:
se a alienação
em
seus vários aspectos - religioso, político, eco
nômico
etc. - é erradicada, existe
apenas
a coincidência absol
uta
da
essência
humana
consigo
mesma,
e
não há nenhum
espaço
para qualquer
relação
de poder
ou
de
representação. Emancipação
pressupõe
a eliminação do
poder,
a
abolição da
distinção sujeito/
objew
e a gestão -
sem qualquer
opacidade
ou
mediação
-
dos
assuntos da
comunidade
por agemes sociais identificados com o
ponto
de
vista
da totalidade
social.
É
nesse
semido que, no mar-
Traduzido
por
Joanildo A Buriry
(Durham
Universiry). Texro originalmente
pu
blicado
em
Alexandrina S. Moura (org.). U t o p i r ~ e onnttções sociais Recife: Mas
sangana, 1994, pp. 29-45. Revisro pelo rraduwr especialmente para esra edição.
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24
xismo , por
exemplo
, o co
munismo
e a ex tinção do Estado
imp
li
cam logica mente
um
ao ourro.
Uma qu arra dimensão é a da preexistência daquilo que deve
ser emancipado vis-à-vis o aro de emancipação . Não existe G
man-
cipação sem opressão, e não há op ressão sem a prese nça de algo
que
é
tolhido
em seu livre descnvolvimenro pelas forças opressi
vas. Emancipação não
é,
nesse sentido, um ato de criação, mas,
ao conrrário,
de
lib
ertação de algo que precede o
aro lib
ena
dor.
O urra
dimensão
é a de fundação
ground),
1
ine
rent
e ao proje
to
de
qualquer
e
mancipa
ção radical . Se o aro
de
e
mancip
ação
é
verda
deiramente radical, se ele vai realmente deixa: para trás
w o
que
0
prece
deu
, rem de ocorrer no nível da "fundação " do
soc
ial. Se
não
há nenhuma fu ndação, se o aro revolucionário deixa um res
íduo
que está para além da cãpacidade rransformado ra da práxis e
man
cipatória, a própria ideia de uma emancipação radical se
torna
contraditór
ia.
Finalmente, podemos
falar
de uma
dimensão racio
nalista. neste ponco que s discursos .:as escarologias seculariza
das
rom
pem com os das religiosas. Para as escatologias religiosas, a
absorção do real no interior
de um
sistema total
de
representação
não requer a racionalidade
dest
e último: basta
que
os de sígnios
in
escruráve is de Deus nos sejam transmitidos por meio da reve
lação . Mas
numa
escatologia secular isso
não
é possível.
Como
a
ideia de uma representabilidadeabsoluta
do
real
não
pode apelar a
qualquer coisa exteri
or
ao próprio real, ela só pode co incidir com
o princípio de uma racionalidade absoluta. Assim, e
mancipação
in t
egral é simplesmente um momento no qual o real deixa de ser
1
N. T.:.
O
termo u ~ d ao
longo deste tcxro designa a ideia de um
fundamento
a.
pa_:m d? qual se
enge,
se explica ou se sustenta um
dad
o
discur
so. Da da a dis
nnçao
ex stc
nte
em português entre fundamento c
fund
ação,
amb
os implicados
no
concct
ro egroun ,
usaremos esses dois termos imcrca mbiavelmente,
dando
~ e n ç ã o
_ao
c ~ ~ t e x r o
da
f r ~ s e
em
_q
ue
o c ~ r r e
o t quivaleme em inglês. O ge
rún
dio,
ou tnfinmv
o,
grormdmg
seca traduz1do por
fundam
entação;
e formdmion,
por
fund
ação.
uma
positividade opaca a nos
con
fronrar. e
no
qual a distúncia
entre esta e o racional é
finalmente
cancelada.
Até
que
ponto essas seis
dimens
ões definem um t
odo
logica
mente unificado? C
onstituem
elas uma cstrumra teór ica coerente?
T
enta
rei mostrar
que
não , e que a afirmação
da
noção clássica de
emancipação e
de
suas muitas va
ri
an t
es envolve a defesa
de
lógicas
incompatíve
is.
Isso não nos deve levar, no enranro, ao simples
abandono
da lógica da ema ncipação. Ao contrário, é joga
nd
o-se
no in terior
do
si
ste ma
de suas incompatibilidades lógicas
que
po
dem
os abrir
caminho
para
novos
discursos liberadores
que
não
mais estejam presos às antinomias e aos becos sem saída a que a
noção clássica de ema ncipação levou.
Começo com a
dimensão
dicotômica. A dicoto mia com
que de
paramos
aqu
i é de um
tipo muiro
particular.
Não
é
uma
simpl
es
diferença e
ntre
os dois elementos
ou
estágios que coexis
tem co
ntemporânea ou
sucessivamente e
que,
desse mo
do,
co
n-
tribuem
para a constituição de suas idenridades d iferen
ciais. Se estamos falando
de
ema ncipação real, o o
urro
qu e se
opõe à identidade
emancipada não pode
ser um outro purame
nte
po
s itivo
ou neutro,
mas um "ourro"
que
impeça a in teira co ns
tituição da
identidade do primeiro
elemento. Nesse sentido, a
dic
oromia envolvida
no
ato e
mancipatório
está numa relação de
solidariedade lógica
com no
ssa quarta dimensão - a preexistência
da
identidade
a ser
emancipada
vis-à-vis o aro de
emancipação.
fácil ver por quê: sem essa preexistência, não haveria qualquer
identidade a reprimir ou impedir de se desenvolver inte
iramente,
e a
própria
noção
de emancipação
se
tornaria
sem
sentido.
Ora,
um
a conclusão inevitável segue daí: uma verdadeira emancipa
ção
requer
um oucro" real - isco é, um "outro que não possa
ser reduzido a
qualquer
das figuras do
mesmo .
Mas, nesse caso,
entre a identi
dad
e a ser e
ma nci
pa da e o
outro que
se lhe
opõe,
não pode haver qualquer objetividade positiva subjacente e que
constitua
a
identidade de ambos
os polos
da
dicotomia.
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Uma consideração
muito
simples pode ajuda r a c :sc larccer
esse pontO.
Suponhamos que
haja
um
processo objetivo mais
pro
fundo dando sentido a
ambos
os lados
da
dicotomia. Se
é
ass
im,
o
abismo qu e con
st
iwi a
dicotomi
a perde seu
caráter
radical. Se ela
não é
constimtiva, mas
an t
es a expressão
de um
processo positivo ,
o
outro
não
pode
ser
um ourro
real
dado qu
e a d ico romia
é
fundada
numa necessidade objetiva, a dimensão oposiciona1 ta
m
bém é necessária c, no caso, é parte
da
identidade das
duas
forças
que se confrontam.
A percepção
do ourro como um
outro
radical
só pode ser aparente.
Se
uma
pe
dra
se
quebra quando
se
choca
com o
utra
, seria absurdo dizer
que
a segun da
pedr
a nega a idenci
dade da primeir
a -
ao contrário,
ser
quebrada em cenas circuns
tâncias expressa a id
en tidad
e
da pedra
ramo
quantO perman
ec
er
inaltera da se
as c
ircunstân
cias forem diferentes . A característica
de um pro
cesso objetivo
é que
ele
reduz sua
própria lógica
à to
talidade
de seus
mo m
e
ntos
constimtivos.
O
outro
só
pode ser
o
resultado de uma
diferenciação
interna do mesmo
e,
conse
quentemente,
é inteiramente
subordinado
a este
úlêimo. Mas não
é essa a alreridadc
que
o
abismo
do ato
emancipa
tório requer.
Não
haveria nenhuma ruptura, nenhuma verdadeira em a
ncipação
, se
o
ato co
n
stitmivo
desta fosse
apenas
o resultado
da
diferenciação
interna
do sistema opressor.
Isso
pode
ser expr
imido de
maneira ligeiramente diferente
ao
dizer-se que, se a emancipação for verdadeira, será incompatí
vel
com qualquer tipo de
explicação objetiva .
Posso certamente
expli
ca
r
um conjunto de
c
ircun
stânci
as
qu
e tornaram possíveL a
em e
r
gênc
ia
de
um
siste
ma op
resso
r
T
ambém
posso explicar como
forças
antagô
nicas àquele
sistema
foram
constituídas
e evoluíram.
Mas
o
estrito
m
omento da
confr
ontação entre ambas, se
o abismo
for
radicaL será refratário a qualquer tipo de explicação objetiva.
Enrr
e
dois
discursos incompatíveis,
cada qual constituindo
o polo
de um antagonismo
en tre
ambos, nã
o ex
ist
e
qualquer ponto em
comum,
e o
momento
exato
do
c
hoqu
e
entre
eles
não pode
ser
explicado em te
rmos b j e t i
i ób' 4ue o
mom
e
nto
anragonístico seja
pur
ame me aparente l o conr1m>
entre
as f
orç
as
sociais seja assimilado a
um
processo narural - co
mo
no choque
c
ntr
e as
duas
pe
dra
s. Mas, como disse. isso
incom
pacível
co
m a
<lreridade reque
rida
pelo aw fundanrc
de emanc
ipação.
Ora,
se a
di m
ensão
dicotômica
r
eq
uer a
alreridade
radical
de um
pass
ado que rem de
s< :r lançado fora , ela é
inco
mpadvel
com a maior parte das ou tras
que apresenr
ei
co
mo
consriwrivas
da
noção clássica
de
e
ma n
cipação . Em
prim
eiro lugar, o radicalis
mo
dicotômico e o
fundamento
radical são incomp
adv
eis. Co
mo
vimos, a c
ondição
do
ab
is
mo
r
ad
ical
que
a lógi ca
emancipatór
ia
requer
é
a
alteridade
irredutível
do sistema
o
pr
esso'r é rej.eita
do. Então,
não pode
haver qualquer
fundamento um
co expltcan
do tanto a
ord
em
qu
e é rejeitada qu nto a
ordem que
a e
man
cipa-
cão
inau
gu ra.
, A alt
ernativa
é clara:
ou
bem a e
man
cipa
ção
é
radical, e nes-
se caso ela
tem de
se r
seu próprio n r o
e confinar o
que
é
excl
uíd
o a
uma
alceridade radical
constiruída
pelo
mal ou
pela
irracionalidade; ou bem existe
um
fundamenro ma is
profund
o
que
estabeleça as ligações racionais enrre a
ordem pr
ee
manciparória,
a
nova
or d
em
emancipada
e a transição
en t
re a
mbas
m
cujo
caso a emancipação
não
pode ser considerada
uma
verdadeira
fun-
dação radical.
Os filósofos do Iluminis
mo
foram perfeiran1ente
canse-
qu entes quando afirmaram que, se uma sociedade racional f o s ~ e
uma ordem
totalmente
desenvolvida resu ltante
de
um
rompi
mento
radical
com
o passado,
qualqu
er
org
anização prévia
àquele
rompimento
só
po der
ia ser
concebida
como
produto
da
ign
orân
cia e da
loucura
d
os homens,
isro é,
como privada
de
qualquer
racionalidade. A d ificuldade,
entretanto,
é
que,
se o
ato fundante
de uma sociedade
ve
rdadeiramente
racional for
co
nce
bido como
a vitória
sobre
as forças irracionais
do pa
ssa
do
- forças
qu
e
nada
cêm
em com um com
a
nova or dem
vitoriosa
-
o
ato
fundante em
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
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si não poderá ser racional, mas
el
e p róprio se rá totalmente:
contin
genre c depe nderá
de
u
ma
rdaç:ío de: p1>dc r. Nesse caso. a
ordem
soc
ial
eman
cipada se rorna
puramenre conr
ingen re e
não
pode
ser considerada a libertação de
qualquer
essência hu mana
ve rdadeira. C
hegamo
s ao mesmo d ik:ma de
an t
es : se qui
sermos
afi
rmar
a racionalidade e a
perm
ant::n ci
:t
da
no
va ordem
soc
ial
que
es
tamos
es tabele
cendo,
tc:remos de esre
nder
a racion alidade ao aro
fundanre em si e, como resultado, à ord em
soc
ial
qu
e deve ser der
rubada- e então o radi
ca
lismo da dimensão dicotôm ica
desapar
e
ce
. Se, ao co
ntrár
io, afirmarmos o radicalismo desta úl tima,
ramo
o
aro
fundanre quanto a o rdem
so<.:ial
resultante dele se tornarão
inrei
ram
enrc conringenres - isto é, as condições de um exteri or
r r u t
pe
rma
nente estão criad_as c o
que
agora desaparece é a
dtmensão
de fundação da noção cl ássica de emancipação.
. Essa incompatibili
dade
do discurso
da
emancipação em re
a
dtmens
ão
dicotômi
ca e a
de
fundação cria
duas
matrizes
fund
a
mentais
em r ~ o
das qu ais rodas as ourras dirnen
s ões
são organi
zadas . Co mo dtsse, a
pr
eexistência dos oprimidos vis-à-vis a fo r
ça
o p r ~ s s o r a
é um corolário do radicalismo do abismo requerido
pela
dtrn
ensão
dicotômi
ca - se os
op r
imidos
não
preexisris
sem
à
o rdem
opress
ora, seriam
um
efeito des
ca,
e,
ne
sse caso, abismo
não seria consriru.
ri
v?. Outra questão é se o abismo
não
é repre
m d ~ pelos opnmtdos por meio de formas de identificação qu e
pressupoem
a presen
ça
do opressor. Voltarei a esse pomo.)
Ma
s
rodas as outras dimensões requer
em
logicamente a presen
ça
de
um
f u n d a m n t ~ ~ o s i r i v
e
são,
con
seque
ntemenre
,
incompadv
eis
a c o n s m ~ t t v d a d e do abismo requerido pela dimensão dico
~ t ~ O ho tsmo seria impossível, a menos que um fun da memo
posmvo do
soc
ial unificasse numa roralidade aurossuficiente a va
de seus processos parciais - antagonismos e dicotomi as in
M as aí o abismo rem de ser interno à ordem soc ial, e não
uma l m h ~ d ~ v i s ó
separa
ndo
a ordem social
de
algo fora dela.
Transpa rencJa requer plena representabilidade, e não há q ualquer
l ).t CIIJ 11h rp.n .tP 1 li ·..:rd.tdt. 2 :
possibilidade de alcançá-la se a opacidade im:rc: nrç à alceridade
radical for co n
st
itutiva das relações sociais.
hn.1lmeme
. co mo vi
mos, nas escarologias secu larizadas roral re
pr
esenrabilidadc é e
qui
valente a con hecirncnro absoluto - e
nr
e
ndid
o c omo roral re
dução
do real ao racional - e iss o só pode se r alcan
ça
do
se
o o
utro
for
reduzido ao
me
s
mo.
Entã
o,
podemos
ve
r
qu
e os discursos de e
mancip
ação têm
sido histO ricamente constituídos por meio da junção de duas li
nhas
inco mpatíveis de pensamento :
urna
,
que
pressupõe a ob
jetividade e ple
na
represem abilidade do social; e outra,
que só
se
sust
e
nta sob
re a
de
monstraç
ão de que
há um a
bismo qu
e ror
na qualquer objetividade social, em última a ná
li
se, imposs ível.
Ora
, o pomo importante é
que
essas
duas linh
as de p
ensamento
opo
stas não são simples erros an alíticos demre os quais
podemos
escolher
um
e formul ar
um di
scurso ernancipatório livre
de in
consistências lógicas.
É
afirmando am ba
s as
linhas qu
e a
noção
de emancipação
adqu
ir
e sign ifi
ca
do.
Eman
cipação
sign
if i
ca
ao
mesmo tempo fundação /oundation) radical e exclusão rad ical -
isto é, ela
postula
ao
mesmo tempo
um fundam ento do
soc
ial e
sua imposs ibili
da d
e.
É
necessário que urna sociedade emancipada
seja plena
mente
tr
an
spa
rente para si mesma e q ue essa
transpa
rência seja constituída pela dem a r
cação
de uma
opacid
ade es
sencia l -
resultando
disso
que
a
linha demarcatór
ia
não pode
ser
pensada desde
o lado da transpa rência e
que
a própria
transpa
rência se ro
rna
opaca. É preciso
que urna
socie
dade
raciona l seja
urna
rora li
dade
fechada em si mesma , que
subor
di ne a si rodos
os s
eu
s processos
pa r
ciais;
porém,
os limites dessa
confi
guração
holí
srica - sem os qu a is esta não existiria de forma alguma - só
podem ser es t
ab
elecidos pela
di f
erenciação entre ela (a
configura
ção) e um exterior ir racional e informe. C oncluímos assim
que
as
duas
linhas de pensa
mento
são log i
ca
mente inco
mpatív
eis e que,
no
entanro,
requisitam-se mutuamente: na ausência de
ambas,
roda
a noção de emancipação desmoronaria.
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 7/15
30 E m , t n c i p . t ~ : Í < ' di fcr<·nç:t
O qu e
resulta,
no
<:ma mo
,
d<.:ssa
incom p
nibilidad
e l
ó-
gica ? D e
que ma
neira a
no
ç
ão de
emancip
ação desmorona
em
dec
or rência
daquela?
Está
claro
qu e
eb
só se des
inte
gra
num
terreno
lógico,
mas
isso
não quer
dizer
de modo
alg um
que
isso
sc:ja
sufici
e me
para r o r n
inop
eranre
socialmente - a
mt.:n
os ,
n:
Huralmem
e,
que
ador
em
os
a
hipó
tese
abs
urda
de
que
o t
erreno
soc
ial seja es truturado
co mo
um te
rr
eno lógico c que pr
oposi-
ções
contrad itórias
não possam ter
cfcrividade soc
ial.
D c v ~ : m
distinguir
c
uidadosam
ence a
esta
altura
duas afirmações muito
diferemes. A
primeira
é a
de que
o princípio da
co m
radição
não
se api ica à
sociedade
e, em decorrência, a
lguém
po
de
es tar e n
ão
estar
no mesmo lugar ao mesmo tempo, ou o mesmo projeto de
lei tenha sido promu lgado e
não
promu lgado etc.
Não
acho que
a
lguém
t
eria coragem
de formular esse
tipo de proposição. No
e
ntanto
, é uma
proposição rotalrnenrc diferente
af
irmar
qu e as
práticas sociais
constroem
conceiros
e
instituiçõ
es
cujo
funcio-
namento inr
e
rior
seja
baseado na
ope
ração de
lóg icas
incompa-
tíveis. E n
ão há obviamente aqui qualquer negação do
princípio
da
comradiçã
o,
porque dizer
o
contrário seria
af
irmar
qu e é
log icamcme
co n traditório
formular
proposições co ntraditóri
as,
o
que
certamente n
ão
é o
caso
. Agora, se a
operação
de lógicas
comraditórias pode
perfeitamente
esta
r na
raiz de
muitas
ins-
tituições e
práticas
sociais, surge o problema
de até
que ponto
tal operação é possível.
Seria
o caso de lógicas
incompatív
eis
operarem
no interior da
sociedade,
mas
não
se
este
nderem à
so ciedade como
um
todo? O u seja, formular proposições con-
traditórias se ria em cenas circunstâncias um requisito lógico
para que a
sociedade
corno um todo
não
fosse
contraditória?
Estamos aqui
próximos
à astúcia da razão de Hegel. E é claro
que
aq
u i
estamos
lidando com
urna
hipótese ontológica, e
não
com um requisiro lógico. Essa
hipót
ese ontológica
não
é nada
mais do que
uma
nova formu
l
ação da
d
imensão de fundaç
ão"
que discuti anteriormente.
i
l
j
l
J
l
l
I
\ 1 1<;
o
que
dizer
da hipótc\
C
em si? É ~ : l a
l
og
icamcntt.: im
pecável,
sc:n
do nossa rardà a p e n 1 dcrcrmin:u se c:sr:i c\.·n ou
er
rada? Evid t: nte qu<.: não. po rq ue : tudo o qu e foi clico s o b r ~ : i c a
do fundamento e suas
dimensó
t:S concomitantes - rramp. tr
C:
n
cia, holismo erc. - apl ica-se in rt: iramcnrc aqui. A rr:=tn : .parl: ncia,
co
mo vimos,
constitui
-se
num
n
:
rreJJ
O p
do
aro de
e x d u
~ : i . o
da
opacidade:
. E o
que
dizer
sobre
o
ato de
exclusão em si, a
difêrença
constitLJLi
va
entre transparência < : opacidade: ela rranspart:nte
ou
opa
ca?
Está claro
que
a
alternat
iva é
ind
ccidíveP e q ue os dois
movim
emos igualme
nte
possíveis
tornar
o opaco
transparente
e
o rransparenre,
opa o rurvam
a limpide<.
da
alrernariva.
To
da
essa digressão sobre o status
de cont
radições lógicas na
sociedade é
importante
para nos
n s c i e n t i z
t e dois aspecros
que
rêm de ser levados
em coma ao
se lidar
com
os jogos
de lingua-
gem que podem ser j
ogados dentr
o
da
lógica
da
emancipação. O
primeiro é que, se o re
rmo
"
eman
cipação" ainda
pode
t
er
sentido,
é impossível renunciar a
qua
lquer um
de
seus do1s lados inco
mpa
tÍveis. Antes, devemos jogar um contra o ourro de mo do a serem
especificados. O segundo aspecto é que esse duplo e contraditório
requisiro não é simplesmente algo que tenhamos de afirm ar
se
se
rem de manter emancipação
como
um termo político relcvanre. Se
o problema rodo fosse esse, poderíamos evirá- lo apenas neg
ando
que em
ancipação seja
um
conceito válido c
afirmand
o a validade
N. T.: Na faha de um c:quivalenre
em
ponuguês qm: co rrespondesse fielmcnre
aos m:ologismos inglcsc:s undecidability, undecidttb e, o p t : ~ m o s neste
li
vro, por
m : ~ n t e r
o neo-logismo para o adjetivo, traduzindo-o d
e:
forma um
ramo
c:s
tranha
e não usual - indecidí
vel-
enquanto tr:1du1.imos o substantivo com o indecidi-
biLidad
e
C laro esd que os termos não implicam um a suspensão da capacidade
de decidir, um imobilismo, mas a situação em que, por um lado, não é possível
fundamentar racional e radicalmente as razões de uma decisão, senão pelo re
conhecimento da contingê ncia de tal decisão, e em que, por outro, o co nteúdo
da decisão não está predeterminado por nenhum processo objetivo subjacente a
cada uma das alternativas entre as quais se decide. Em tal siwação , hes itação e
decisão são duas dimensões do mesmo processo. Por exemplo, qu er-se salienrar
a imp ossibilidade de se oprar enrrc universalismo e particularismo, de m:meira
racional c fundamentada, co
mo
será discutido no próximo capírulo.
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
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de
u
ma da:-. duas
lógicas romad
as
scpa rada memt:. ivlas precisarnen
re
isso não
po:-.; ívd
:
no
ssa
an
<
l
ise nos k:vou u
HJc\u
s
ão de:
que
os lados conrradi córios requerem a presença e ao mesmo rempo
t
exclusão
um
do
ou
rro: ca
da um é
a
co
ndi ção
ramo de
possibi
icladc
q u
anro de i m p o s ~ do
O
Lmo.
Assim,
não
es
tamos
lida
nd
o
s
im
ples
mcnr
e
com
urna
incompacibil
id
adc
lógica, mas ames
com
um a real indecicl ibilida
de
emre os do
is
belos.
ss
nos indica ,1
ma n
eira pela
qual
a l
óg
ica
ela em a
ncipação rem
ele
ser
abordada:
observa
ndo
-se os efeitos que resultam ela subversão
de
ca
da um de
seus lados m ~ n r í v pelo ourro. A própria possibilidade des
sa an álise resu lta do
que
foi diro an te
riorment
e: a operação social
de duas lógicas incompatíveis não consiste numa anu lação pura e
sim ples
de
seus respectivos efeitos, m as num conj unto específico de
de fo
rm açõ
es
mútuas.
É
iss
o
qu
e e me
ndo
por
s
ubv
ersão.
Como
se
cada um
a das
ló
gicas
incompad
veis press
upu
sesse
uma
roral
op
e
raç
ão qu
e a
outra
está negando,
co
mo se tal n
eg
ação lev
as
se a
uma
s
ub
versão
cl
escritível
da esuurura intern
a
ele
ca
da
uma dc;as. Ao
analisar esses efeitos subversivos, não
estamo
s presencia
ndo
o sur
gim e
nto de
algo
totalment
e novo que deixa ambas as lógicas
par
a
trás,
ma
s ames um
afastamento
siste
máti
co daquilo que
ele
outra
forma
seria
sua
ple
na
operação.
Ames
que passássemos a es
cr
ever o padrão geral desse afas
tamento
tínham
os ele considerar, entretanto, a mane
ir
a pela qual
discursos emanciparórios clássicos lidaram com nossas dimensões
basicamente incompatíveis, que
não
passaram totalmente desperce
bidas.
Um
disc
ur
so
de
emancipação radical emergiu pela primeira
vez com o cristianismo, e sua forma específica era a s lv ção Com
elementos parcialmente herdados elo Apocalipse judaico, o cristia
nismo apresentava a imagem ele
um
futuro da
humanidad
ou
pós-humanidade
-
elo qual todo
mal teria sido erradicado.
Am b
as
as dimensões,
dicotômica
e
ele
fundação, esrão
pr
esentes aqui: a
história do mundo é uma permanente lu ta entre os santos e as for
ças
elo
mal, e não há terreno
comum
e
ntr
e eles; a socieda
de futura
será perfeira. sem quaisquer d ivisões imernas. qualquer opa cidade
ou
alienação;
as
vá rias alternativas na luta
comra
as fo rças do mal
e
0
triunfo final de Deus são
conh
ecidos pela revelação.
Ora
nes
se q:.taclro mundializame vemos su rgir uma dificu ldade que não
é
ou
tra senão o rec
onhecimento
teológico de nossas duas
dimen
sões inco
mp
atíveis. D eus é todo-poderoso e
infinitam
e
nt
e
bom.
Como
criador
ex n iw el
e melo o qu e há,
é
a fo
me
e o
fundamento
absolutos ele todos os seres criados. Nesse caso, c
omo
explicarmos a
presença do mal no mundo? A alternativa é cla ra: ou D eus
é.
r o c l
podcroso e fome
de tudo
o que há - e aí ele não
pod
e ser mfint
ra
bondade por
que é responsável pela presença
elo
mal no mundo;
ou ele não é responsável por aquela e, logo, não é todo -poderoso.
Aparece aqui o mesmo probl
em
a que coloquei em termos não
teológicos:
ou
a dicotomia separando bem e mal é radical, sem pon
ro
em
comum
enrre os doi s polos,
ou
existe
um
tal terreno co
mum
e nesse caso o radicali
smo da
oposição
em
re
bem e mal
é
nublado.
O pensamemo criscão, con frontado por essa alternativa, osfllou en
tre (a) a afirmação
de que
os desígnios
de Deu
s são inesc
rut
áveis e o
dil
em
a res ulrava elas limitações
ela
razão
humana
-
de
forma que o
problema foi posto de lado sem solução - e (b) a busca ele
uma so
lução que, para ser o
mínimo
consistente, só poderia
mant
er a ima
em de
Deus como fome absoluta ao
afirmar
,
ele uma man
eira ou
t
ele outra, o caráter necessário
elo
mal. Eriugena, ao defender, no re-
nascimemo ca rolíngio, que Deus alcança sua perfeição
por
meio elas
fas es ele transição que envolvem finitucle, contingência e o mal, deu
início a uma tradição que, passando pelo misticismo nórdico, Ni
colau
el
e
Cu
sa e
Espin
osa, chegaria a s
eu
clímax
em
H
eg
el e Marx.
A vis
ão
cristã
ela hi
stória
também
se
defrontou com outro
pro
blema-
dessa feita s
em
c
ontradição-
o ela
incomen
surabi lidade
exis
tent
e entre a
univ
ers
alidade da
tarefa a ser realizada e a
limita
ção
dos agentes finitos res
pon
sáveis
por
ela. A categoria da encarna
ção
foi
c
on
ce
bid
a a
fim
de
mediar
entre essas
dua
s realidades inc
o
mensuráveis. O pa
radigm
a
de toda
enca rna
ção é, naturalmente
, o
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
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advenro de próprio C risto, mas cada um dos momenros uni
ve
rsais
na história
do
mundo é marcado
por
intervenções divinas nas
qua
is
corpos finiros têm de ass umir tarefàs
que
não escavam
de
maneira
nen huma predeterminadas por sua finirude concreta. A dialética da
encarnação
pr
ess
upõe
a distância infinita entre o
corpo encarname
e a tare('l encarnada.
É
somente
a mediação de
De
us
que
estabelece
uma ponte emre os dois,
por
motivos que es
capam
à razão humana.
Voltando
às nossas várias dimensões de emancipação, pode
mos dizer que,
no
discurso cristão, a transparência é assegurada
no
nível da representação
mas não
no
do
conhecimento. A revelação
nos
dá
uma
repr
esentação da tOtalidade da história, mas a racio
nalidade que
se exp ressa naquela história
sempre nos
escapará. É
por isso
que
a
dimensão
racionalista
tinha de
est
ar ausente
das
narrativas teológicas da salvação.
É
esse
abismo entre
representação e racionalidade
que
as
escatologias
modernas tentarão
preencher. Uma vez
que Deus
não
mais se
encontra
em
primeiro plano
como
garamia
de plena repre
senrabilidade, a
fundação
tinha de
demonstrar
suas habilidades
wralizadoras sem
qualquer
recurso a uma distância
infinita
em
relação àquilo que ela incorpora. Assim, plena representação só se
torna possível como plena racionalidade. A primeira consequên
cia dessa guin
ada
moderna é que o movimento
insinu
ado nas ver
sões panteístas e semipanreísras
do
cristianismo é agora levado a
suas
conclusões lógicas. Se há um fundamento a partir do qual a
história humana se
mostra
como
puramente racional-
e,
portan
to,
inteirameme aurotransparente -
mal, opacidade e alteridade
ó podem ser o resultado
de
representações parciais e distorcidas.
Quanto mais a
dimensão
de
fundação
se impõe, mais a alceridade
irrecuperável
do abismo inerente
à dimensão
dicotômica
rem
de
ser
descartada
como
falsa consciência.
Mencionei
anter
i
ormente
a astúcia
da
razão hegeliana.
Mas
as versões
marxianas
do mesmo princípio
não
ficam atrás.
Basta l
embrar
a descrição de emergência e desenvolv
im
ento de so-
r
l
J
J
l
ciedades
antagôni
cas: o
com
uni
smo
primi ti\·o Linha de se desinre
orar <
fim
de
desenvolver as for
ç as
produtivas
da humanidade;
o
desenvolvimemo destas requeria -
como
sua condição histórica e
lógica- a passagem pelo inferno de sucessivos reg imes explorado
res; e é sornenrc ao final
do
processo, qu
ando
a história atinge seu
clímax
num
novo
comun
is
mo
-
que
representa
um
desenvolvi
mento a mais das forças
prod
ut ivas- que o sentido e a raciona li
dade de rodo o sofrimento anterior finalmenre se mostram.
Como
Hegel disse, a história universal não é o terreno
da
felicidade. Tudo
_ escravidão, obscurantismo, terrorismo, exploração,
Auschw
itz -
revela, desde o ponto privilegiado da história universal,
sua
subs
tância racional. Rejeição radical, antagonismo, incompatibilidades
éticas - em
suma
qualquer coisa ligada
à_dimensão
dicotômica
- perrencem ao domínio das superestruturas, ao modo pelo qual
os arores sociais vivem (disrorcidamenre) suas relações
com
suas
condições reais.
Como
foi
clico
num
famoso rexro:
As mudanças nas bases econômicas levam cedo ou tarde à trans
formação de toda a imensa superestrurura. Ao se
eswd
arem tais
transformações, é
sempre
necessár io distinguir cmrc a transfor
mação material das condições econômicas de produção,
que
pode ser distinguida com a precisão das ciências naturais, e as
formas legais, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas - em
síntese, ideológicas - pelas quais os homens romam consciência
deste conflito e lutam
contra
ele. Assim como não se julga
um
indivíduo pelo
que
ele acha de si mesmo, também não se pode
julgar um tal período
de
transformação por sua consciência, mas,
ao contrário, sua consciência deve ser explicada a par tir das con
tradições da vida material , a partir dos conflitos existentes entre
as forças sociais de produção e relações de produção.
3
3
Karl Marx.
A contribution
t
the critique o political economy.
Londres: Lawrence
and Wisharr, 1971, p. 24.
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 10/15
~ . . r11.:ssa leitura . dim<.:nsão dicotô mi ca .,c m rna uma
- - ~ u p c r e u r u r a da
d i r n e n ~ ã o
de F u n d a e a em anc
ipa
ção se
transforma num m
c:
ro adorno retórico d< :
um
o . : ~ s o substan
tivo q ue: deve se r cmcndido em termos inteiramen te diferentes.
Co mo resulcado disso. o s ~ . : g u n d o req uis
it
o lógico dL·ssa
ess
c:n
cialista
é
que
remos d
e:
ahandona
r cotalm
enre
a c i.dética
da
enc
arnação
.
Como
vimos,
a enca
rn
a
ção
requ er
uma li
gaç
ão entre
os
do
is
elementos via a mediação de um terceiro ex terno a eles,
de
ta l modo
que
, cnrregues a si
mesmos,
há
uma
disrância intrans
ponível e
nt r
e os do is pr
im
e
ir
os
elementos;
isto é, se m o tercei
ro elemenro não exi
stir
ia
nenhuma
ligação
entre
eles. Assim , a
enca
rn a
ção era possível na medida em qw.: Deus era
pane
do
explanans po rém,
se
Ele recua para o fundo da ce
na
, a cone
xão
en tre universalidade encarnada e corpo enca rn anrc torna-se
impo
ssíve l.
Qu
er di zer, u
ma
escarologia
plenamem
e racionalista
e
se
cular rem de demonstrar a possibilid ade de um aror un iver
s sU que
esteja para além da
contr
adição
enrre
particularidade e
univ
ersalidade, ou melhor,
um
acor
cuja
parricularidade expresse
direrameme, sem
qualquer
sistema de medi a
çõ
es, a
pura
c
uni
versal essência humana. Esse aror, para Marx, é o proletariado,
cuja
parcicularidade expressa a universalidade de ral
modo
di re
tamente que seu advemo é concebido como o fim da necessida
de de
qu
a lquer processo de represemação. N enhum a encarnação
rem lugar aqui. Mas, se olharmos
mais
de perco, veremos qu e esse
ator, apresentado como o único que pode levar a cabo um verda
deiro processo de emancipação, é precisamente aquele pa ra
quem
"emancipação se
torn
a
um termo insignificante
. Como c
on
s
truirmo
s a
identidade
desse ator? O
agente da emanc
ip
ação
rem
de s
er
um cuja
identidad
e seja
bloqueada
em
sua
constituição/
des
envolvim
e
nto
p
ela exist
ência de um regime opressivo.
Conru
do, s o
processo
de des
in t
egração do regime e o
de
formação do
ator emancipatório são
o mesmo, então dificilme
nte podem
os
I
I
I
I
l
I
dizer qu(. ele 5 oprimido pelo me :-mo i m ~ o c o n ~ r i t u
Podemos. é cla ro,
argumtma
r que o proktanado e p roduto do
cksenvnlvi
menw
capitalista , pois somente este
cr
ia a
separa
ç
ão
cncre
0
produ tGr d ir
em
e a propried ade dos meios de
ma
s isso s6 exp lica a emergência do proletariado co mo uma posi
ção de s uj eito
pa rticular no interior
da
d a d e
~ i r a l i
não
a
emer
gência
do
proletariado
co
mo
SLIJe
iro e
ma_nC1?ad
or. Para
ter este úl timo. precisa m os
demons
tra r que o capl(ahsra nega no
trabalhado r algo que n
ão
é mero prod uto do c
ap
ita li
smo
. Em
nossos rermos: precisamos
mostrar
que há
uma
di me nsão a ma
cronística que não é reducívcl a
um
fundame nto único . O u seja ,
D . .
a condi ção da ve
rdad
eira emancipaç
ão
é, co
mo
me ncion e •, uma
opacidade constituti
va
que
nenhuma fundamentação pode erra
dica r. Isso significa que as duas
operações
de fechamento que
fundaram o discurso po lítico
da
mo dernidade têm de ser eles
feiras. Se a
mod
erni da de iniciou-se por meio
de um
estritO en
laçamenro entre represcmabilidade c
c ~ m e n t o :
a o ~ a c i d a d .
constiwti\'a resultante da dialética da emanctpação
Impli
ca que a
sociedade
não
é
mais transparente ao co nhecimento
e qu
uma
vez que D eus não esrá ma is lá
pa
ra s u b s
t i t ~ i r
revelação - t
oda
repres
entação
será c e s s a n m e m ~
parcial
e
te r
_a
lu
var cont
ra
0
pano
de
fundo de um
a essencial Irrc
pr
es
entabt
lidade.
Além
di sso, essa
opacidad
e co
nstitutiva retira
o
funda
mento que havia poss
ibilitado
ir
além
da dial
ét
ica
da a ç ã ~ ,
visto que não
há ma i
s
uma
sociedade transparente ~ u a l o um
versa possa mostrar-se de ma neira di re ta c não mediatJzada. M as
nova meme, s D eus não
está
ma is lá, asseg
ur
ando por Sua
pala-
vra
0
conhecimento
de
um
destino
univ
ersal que escapa à razão
humana, a opacidade também
não pode
lev
ar
a uma restauração
da dialética da encarnação.
A morre
da fundação parece levar
à
morte do univer
sa
l e à disso lução da s Juras sociais em mero
par
ticularismo. Essa é a oucra di mensão da l
óg
ica ernanciparória qu e
salicnrei
anteriormente:
se a
au
sência
de
uma
fundaç
ão
é
a condi-
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 11/15
ção
da emancipação rad ical, o radicalismo
do
aro cm
ancip
ar6 rio
fundauo
r não
pode
< :r
concebi
do de o urra m
ane
ira sen ão co
mo
um
ato
de
fundamencação
.
Assin1, é co mo se. qua lquer
que
seja a di reção qu e tomar
mos
a emancipação se
torne
im possível. No encanro, lan ço uma
dúvida ames
de passarmos o ates t
ado
de
óbito. Pois,
embo
ra te
nham sido exp loradas as
conseq
uênci as lógicas que
segue
m de
cada um a das alrern:uivas separadamente,
ainda não
foi dito
nada sobre os dciros que poderiam derivar da
interação
social
dessas du as impossibilidad es simétricas. Consideremos a
ques
rão cuidadosamente.
A
emancipação
está
estritamente
vinculada ao destino do
univ
ersal. Quer a dimensão de fundação prevaleça,
quer
a
eman
cipação
venha
a ser um verdadeiro ato de fundação radical,
sua
p e r f o r m a n c ~
não
pode ser obra de qualquer agência social parti
culansta. VImos que estas duas dimensões -
fundação
e
abismo
r :o J ical - são realmente inco
mpatív
eis, mas ambas as alrernativas
requerem igualmente a prese
nça
do universal.
Sem
a
emeraência
do universal
no
terreno histórico, a
emanc
ipação seria i m p o ~ s í v e l
. No
pensamenro
teológico, como vimos, essa presença do
untversal era garantida pel a lógica da encarnação que
mediava
entre a
finitude particularisra
e a tarefa universal. E nas esca
r?logias
secularizadas
o universal tinha de
surgir sem qualquer
tipo
de mediação:
a "classe universal"
em
Marx pode re
alizar
seu
trabalho
emancipacório porque ela se wrnou precisamente,
pu:a essência humana que abandonou qualquer filiação parricu
la:tsra. Ora .a impossibilidade lógica
Li
lei ma, de um
abismo
que
sep verdadelfamente radical
ou
da dissolução da emancipação
l g u ~ ~
:ersão da "astúcia
da
razão", parece
destruir
a
pró
pna posstbdtdade
de
quaisquer
efeitos roralizances. Com isso, o
Lin.ico terr
eno
em
que
o universal p
oderia emerai
a
totalidade
I o
soc
ta -
aparentemente
desapareceu.
Isso
significa
que
o
uni-
versal,
na
impossibilidade
da emancipação
como
seu
co rolário
I
j
I
necessário. nos de i
xa num mu
ndo
purament
e parricu lari sra, c rn
que os
arar
es sociais perst..:guem apenas
objt..:
rivos l
imirado
s? Um
instante de
rdlexão é
hasranre pa ra nos mos(J'ar que essa conclu
são não é adequada .
·' Panicularismo'' é um conc
eito
ess<.:ncialmenre relaciona :
algo
é
particul
ar
em relação a
ou
eras particular idades e o
conjunto
delas pressu
põe
uma
wra
l idadc soc ial
no
in terior
da
q ual elas são
constituídas. Assim, se a própria noção de wrali
dade
soc i
al
está
em questão, a de iden
tidad
es "
part
iculares" é igualmeme ameaça
da. A ca tegoria de wral idade cont inu a nos rondando pelos efeiws
que derivam de
sua
ausência.
Essa última colocação abre cam
inh
o para um a
fo
rma de
conceber a relação ent re parri
cu
larismo e universalisn:o
que di f
ere
canto da encarnação
de
um
no
ouuo quanto do cancela
memo
de
sua diferença e
que de
faro, cria a possibilidade
de
novos discursos
de liberação . Estes vão, certamente, além
da
emancipação, mas
são construídos por
meio
de
movimentos
que
ocorrem no
sist
ema
de alternativas gerado por aquela.
Consideremos
, para começar,
qualquer
antagonismo social-
por exemplo,
uma minoria
nacio
nal que é oprimida por um Estado auroritário.
Existe aqui um abismo enrre os dois, e já
sabemos que
há em rodos
s
abismos
uma ind
e
cidibilidade
básica
quanto
a
qual de seus dois lados a linha divisória pertence. Suponhamos
que
em
cerro
pomo as
outras
forças
antagonistas
- um a invasão
estrangeira, forças
econômicas
hostis etc. -
intervenham
. A mi
noria
nacional
verá
todas
como
am
eaças equivalentes co
ntra
sua
identidade própria.
Ora se
há
equivalência, isso significa
que
algo igualmente presente em
todas
as diferentíssimas forças an
tagônicas se expressa por meio delas. Esse
elemento
comum
no
entanto não pode ser algo positivo, porque do
pomo
de vista de
suas
características positivas concretas, cada
uma
dessas forças
diferem da outra.
Logo
rem de ser algo puramente negativo: a
ameaça que
cada
uma põe à identidade nacional.
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 12/15
40 Ema ncop
.tc. í
o
,. 1 1 ~
.•
Co nclui-se que numa r c t . 1 ~ o i i o de c q u i v a l c n cada
um
dos
rermos c
quivaknrc
s funcion a
como um símbolo
da ncgar;
vidadc co mo tal , de cerra o ~ s i b i l i a d universal que pcnetra
a idemiclade em ques tão . Posw
em
outros termos: nu ma rdação
anragonísrica. aquilo qu é· funcion a co mo o polo negativo de c;na
id
e
ntidad
e é c
on
s
titutiv
a
mente
Ji
vi
dido. Todos
os
seus conteúdo
s
ex
pr
essam
uma
ne
garividadc : ~ 1 que
os
transc
e
nd
e .
Por
isso, o
polo "positivo"
ta
m
bé
m n
ão
pode
ser reduzido
a seus
co
nteúdos
concretos:
se o que se
lhes opõe C:
a forma
univ
ersal da negarivi
dade
c
omo
ta
l,
esses conreüdos têm de expressar
por
m
eio de sua
r
elação
equivalencial a forma
uni
ve rsa
de
plen iwde
ou
identi-
da
de
. N ão estamos lid a
nd
o
aqui
com a "neg
ação
de
terminad
a''
no sentido hcgcliano: enquanto esta
pro
cede
da ap
a rente posi
tividade do concreto e "circula" por meio de conteLklos semp re
de
termin
ados, nossa noção de negarividade
depende
do
fracasso
de constiruiç
ão
de
roda
de t
e
rminação
.
Essa divisão
constitutiva mo
stra a
em
ergência
do uni
ve rsal
no seio
do a r . Mas
mosrra
tamb
ém
que
a relação e
nt r
e
particularidade e universalidad e é
essenc
ialmenre
in
stável e
ind
e
cidível.
Que conreüdo panicular
iria
en
c
arnar
a universalidade
era
uma
decisão
de Deus nas
escarologias cristãs, e estava
conse-
qu enre,
inteirament
e fixado e predeterminado. C omo a univer-
salidade
aurorransparente
era
um
momenro
no alto desenvolvi
roe
mo
racional
da
particul
ar
idade, que ator particular ir ia abolir
sua distância
em
relação
ao
universal era algo igualmente ftxado
por determinações essenciais
na
visão hegelo-marxista
da
hi
stó
ria.
Todavia
se o universal res
ulta
de
uma
divisão c
onscitutiva
em
gue a negação de uma
identidad
e particular transforma esta no
símbolo
da
id
e
ntidade
e p l
enitude como
tais,
então remo
s
de con-
cluir que:
a) o universal
não tem
ne
nhum conteúdo próprio
mas
é uma
plen itude ausente
ou melhor o
sign
ificame
de
pleniwde
em
si, da
própria
ideia d e
pl
e
nitud
e; b) o universal
só pode
surcrir
do particular
, pois
apenas
a negação de
um conteúdo p rticul r
tran-Jo
a e s L ~ o : no ímhnlo de uma univcrsalida<.k que o trans
cende; , ) como . no cnonto o universal - romado
em
si mesmo
_é um ;;ignificante vazio.
ua comcú
do particular o simbolizará é
aluo
qu .- pod
e ser cktr'
rminado por um
a análise do
particular
si nem
do u n i v e r ~ a l em
s
i.
A relação
entre
os
do
is
dep
end e
do
conrexro
do a n t a ~
e é, no es
trito scmido
do te
rmo
um a
0
e
ração hcgem
onicL
É
c
omo
se a
linh
a indecidível
que
separa os
p
d c . . d . l' .
doi s po los
da
dicotomia rivessc
expan
.
ido
seus ere1ros e_ tc
t v e ~ s
ao in terio r dos pr
óp
rios po los, à
pr
ópria relação
entre umversa
li-
dad e c particularidade.
C o nside
remo
s.
à
luz dessas
conclusões
o qu e aco
nt
ece c
om
as se is
dimensões da
no
ção de
e
mancipação
apresentadas no iní
cio. A dimensão
de
fun dação é incomp arível com a emancipação
c nos em aporias lógicas insuperáveis. Será que isso,
entre
tanto, significa
que
não
pode
mos manter mais qu aisquer ligações
com
a
noçã
o
de
"
funda
ç
ão
",
que
esta
tenha de
s
er meram
e
nt
e
aoandonada? Obviamenre
não, q
uand
o
meno
s porque desagrega
ção e panicu l
ar
ism o - que co nstituem a única alternativa possível
- press
upõem
e
ao mesmo
t
em p
o ne
gam
a
no
ção
de fundaç
ão.
É possível, no emamo faze r da
inter
ação dessas l
óg
icas
incompatíveis o lugar mesmo
de
certa produtividade política.
A
particularidad
e
tanw
nega
quanto requer totalidade
- isto. é,
fundação. Esses
movim
entos contraditórios se expressam naquilo
qu e rem
si
do
denominado
divisão
co
n
st
itutiva
de roda
identidade
concreta. A totalidade é impossível c ao mesmo tempo requisitada
pelo particular: nesse sent ido, es tá presente no particular co
mo
aquilo qu
e está ausente,
como uma constitutiva que
força
'
N. T.:
·'Falta" traduz, neste livro, o
termo
laca
niano e manque
em inglês
lack.
O n:rmo "
f:'llta
tem origem na psicanálise la
ca
niana e
i n d i c ~
divi são fun_da-
mental que ao mesmo tempo possibilita a i d e n ~ i ~
c ~ ç ã o
do SLIJC tO _e t o r ~ a
possível de se torali
ur
de governar tOdo o rernw_no de sua
p ~ o p n a t ~ e n u d a d e .
Sua uriliz:tção chama a atenção para a simultaneadade de sentt_dos: o de
uma falha ou fissura geológica. o de um hiato entre a .'deaa de
t o ~ a l t ~ a d e
identidade) c suas "enc:
un a
ções" c
on
cretas e o de um vazto es rruwraJ (e tnrolera-
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 13/15
42 Emancip,u;5o < di krenv
co
nsranremcnt < : parricular ,t se r mais d o
que
ele mesmo, a as
s
umir um
papel un iver
sa que s Í
pode ser precário e não
sutura
do . F por isso que: podem.os ter
uma
po lírica democrát ica:
uma
sucessão
de
i d e n r
< : : ~
fin itas e particulares que
renram
assumir
tare fas unive rsais que as ultrapassam,
ma
s
que,
em
de
corrência,
nun
ca são capazes
de
ocultar
inn.:iramen
te
a distância
emre
rarefa
e
idenridadc
- e podem se
mpre
ser s
ub
s
tituíd
as
por
g
rupos
ahe
r
nativ
os.
ln
complerude e proviso riedade pe
rt
encem
à
essência
da
d<.:mocracia.
Não
é preciso
dizer que
a dimensão holística move-se na
mesma
linha
que
a
dimensão
de
fundação:
as
duas
são, de faro,
a mesma
dimen
são, visca
de
ân g
ulo
s diferenres. Quanto à di me
n
são racional ista, devemos leva r em conra
que
a
virad
a sec ula rista
da
moclemidade envolveu ramo a afirmação
de que
o sentido
da
história não deve se r enco
ntrado
fora
da
história mesma, de
que
n
ão
h á
nenhum
po
der sobrenatura
l
operando como origem
últi
ma d e rud?.
que
existe, q u
anto
a
afirmação, muiro
dife
reme, de
qu
e essa sucessão p
ur
amente mundana
de
eventos é
um
processo
in t
eiramente
racional,
qu
e os seres
humanos
são capazes
de do
minar imelec
tualm
e
me.
Assim, a raz
ão
reoc
upa
o
terreno que
o
cristianismo
havia
atribuído a
Deus
. Mas o eclipse
da
f
un dação
priva a razão
de sua
capacidade total izante, e apenas a primeira afirmação (ou ames
compromisso) - o caráter
inrramundano
de roda explicação - se
m a
ntém.
A razão é necessária, mas
também
impo
ssível. A presen
ça
de
sua ausência se
mostra
naquelas várias tentativas
de
racio
nalizar o mundo levadas a
cabo
por agentes sociais finiros.
Preca
rie
dade
e fracasso
em último
re
cu
rso (se persiscirmos em m e
dir
o
su
cesso
por meio
de um
velho
padrão racionalista) são certamente
o
destino
dessas tentativas, mas por mei o desse fracasso ganhamos
vel) que precisa
ser pr
eenchido por
al
gum princípio ou co
nteúd
o de[Crminado.
t
imponam
e m:tn[Cr-sc essa múhipla referência sempre em mente.
r
I
. lv
1
~ n . : c do <.1UC: a L c'rrcza
que
m o s p
er
dc:n-
a g:o t.l ç · • , ·• _ _ . . _
d
\.tb ·rd -.J·- \ l v i ~
1)
di
h::n.:nr<.:S
rormas
de
tdemthcaçau,
o: cena t.: ,, ' • • . ,
i
mpo
tc:nres para
nos prender
nas redes de
logtcl ma pelavd
.
0 mesmo
se
aplica à
dimen
s:io
de
rransparen c
ta: p l ~ n s ~ : n
rabilidade não es i mais lá co
mo
p o s s i b i l i ~ a d e mas tsso não
que
r
d izer que sua n
ec
e
:.s idad
e Lenha s ido erradJCada .. . .
Esse
ab
i
smo inrran
spo nível e
nt r
e posstbiltdade
e e c e s ~ t -
dade leva direramenre ao
que
N ietzschc.: chamou de
''g
uerra
de
· eraço-es Se seres flniros e limi tados tentam co nh ecer o
10rerpr ·
mundo
e rorná- lo rrans
par
enre a si
me
smos, é
impos
sível
que
essa
I
. ·tacão e Ftnirude
não
se jam
transmitidas
aos
producos de
sua
tml ' d .
atividade íntelecmal. Nesse s
enrido,
o aba
ndon
o a asptraçao a
conhecimento abso
lu ro
rem
efeiros
esrimulanre
s: po r
um d d .
lado, os seres hu man os
podem
se reconhecer
como
ver a etros
·adores e n
ão
mais c
omo
recipienres
pa
ssivos
de
uma estrutura
cn d
predeterminada;
por
o
utro
, c
omo
o_s agentes soc_ia is e
re
conhecer sua
flnitude con creta,
nm
guem po de asptrar a ser a
v e r d a d e i r a ~ o n s c i do mundo.
Isso
ab
re
caminho para uma
int
eraç
ão
sem-Ftm
enrre
várias perspectivas e
rorna
ainda
mais dis-
tant
e a poss
ibilidade de
qualquer
sonho
to ralirário. , .
Que dizer daqueles aspeccos
que
são incompanvets com a
dimensão
de
fundação e dos
que dependem
dela? Como remos
visro, a
dimen
são dicotômica
pre
ssu
põe
a l
oca
lização
estrutural
de uma funda
ção e,
ao
mesmo
tempo
, a rorna
disp
ensável.
Só
há
esse lucrar no nível d e um
fund
am ento d o social se o
ab
ismo que
a dic
ocomi
a for radical do
ponro de
vista d e sua lo li-
z ção
;
mas a
operação que
a
di
c
otomi
a real i
za
- a
sep r çã
o
enrr
e
e
mancipaç
ão e um passado totalmente alheio - é
incompatível
com a noção de uma locali
zação
estrumral.
Ora, como
no caso das ouuas dimensões, algumas conse-
quências positivas resultam desse
duplo
m o v i m ~ n t
de
u t o p o
s
icionamento
e retirada d o
fundam
e
nto.
O maiS
Importante
e
que
, se, p
or
um
lado,
nenhuma
dicotomia
é
absolut
a,
não po
d e
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 14/15
44
haver
nenhum aro
Fu
nd ação in r
c iramcnte r . - o l u c
se
.
po r
ourro, t:'>Sa
dico romi7.ação não
resulta
dt:
uma
n ç ã o da
al c
erid
ade ra
dica l.
mas .
ao conr rú io, da
p r
óp
ria
imposs
i
bi
li
dade
de
su
a w ra l e
rrad
ic
ação,
enr
5o
: : ~ s p
arc
iais e p
recá
rias
tê
m de ser
co
n
st
i
ruti
vas d o
tecido socia
Essa
precariedade
e
in
co
mpl
e
rud
e d as Ír
om
e iras
qu
e c
on
s ciru
c :
m a
di
visão
soc
ia l es tão
n a ra iz da possibilidade contempo râ nea de um,t au tono rnização
das Iucas s
oc
iais - os c ha m ados no
vos
m
ov
im encos socia is - . em
vez de s ubo rdiná-l as a
um
a
fronteir
a un a qu e
se r
ia a ún i ca fo nte
de divisão s
ocial.
Fin a lmente, a preexistência
: : ~
idemi da d e a se r
e ma nc
ipada
vis -à-vis as forças
op r
ess
iva
s também é
subvertida
e s
ubmetid
a
ao
m
es m
o m
ov
im e
nt
o contra
di t
ó rio q
ue as ou
t ras
dimensões e
xp
e
rimentam. Em discur
sos
clá
ss icos, as
id
e
nridad
es
e ma nc
ipad
as tinham d e
pr eex
isrir ao a ro de n c i p ç ã o e m
decorr
ênci a de s
ua alt
e
rid
a
de
ra
di ca
l vis-à-vis
as
fo
rças qu
e
se
lhes
opunham. Ora,
é
verdad
e
que
is
so
é
inevir
;ivel
em qualquer
luta antago
nísti
ca ; m as
se,
ao mesmo te mp o, a dico
ro
mi z
aç
ão
não for radical - cori'ro acabamos d e ver qu e não po de ser - a
identidade
da
s
força
s op r
es
sivas
te r
á de es
tar
de alguma
forma
inscrita na
identidade
em
busca de em a
ncip
ação. E
ssa
sit u
aç ã
o
contraditória
é
e
xpre
ssa na in dec
idibilidade
entre a inrernalidade
e a ex te
rnalidad
e do
opre
ss
or
em
relaçã
o ao o
primido: se
r o pri
mido é
parte
de minha id
e
ntidade como um
s
ujeito lutando por
e
ma n
c
ipaç
ã
o.
Sem a
pr ese nça do
opressor,
minha identidad
e
se
ria diferent
e.
Sua con
s tituição
requ
er e s
im u
l
ta n
eamente reje
ita
a
pres
e
nça
do
outro.
As
Iucas sociais
co
nt empo rân eas estão po ndo em p rim e iro
p lano esse movimento contraditório que os
discursos
emancipa
tórios ranco das escatologias religiosas
quanto das
modernas secu
larizadas
haviam
ocultado e
reprimido.
Es
tamos hoje
admitindo
nossa
própria finitude e as possibilidades
políticas
que
ela
enseja .
Este
é o ponto em
que
os
dis
c
urso
s po te
ncialment
e libe
ra
tórios de nossa
e
ra pós-moderna
têm de ser inici
ados. Podemos
I
>
t
Jl
. l lh .lp.H,.IO ••
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P.tr.l
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go ri
ming t
he
pa
r.ldoxe > of contcmporary
politics.
An i n c c : r v i ~ : w with
ErnestO
La
cbu .
Angelaki
Ox fo rd , 1994. I : 3.
pp
. tí5 i0 ) :
O
.li.
c 1\.N.: Em seu rr:to
1 lho.
a caregori
1 d e s l o : ~ m c n w
r
em assumido um
papel
~ d : 1 ' '{ 1 ma
is cc
nr ra l.
l
s<>o
ocorn.:
~ c i a e n t c em re
lação à sua a firm aç
ão
de
que
'o <ksl
ocamento C
a
~ > n t c
b
li
ber
dade'.
V:irias questões s
urgem
aqui
so
bre a
rdação cm
re
dc
slocamcnco
..
liberd:tde. c sobre: a n
atu
reza
da próp
ria libcrdade.
Nossa princi
pa
l
pr
eoc
up
aç:io
é
com .1
nar ur
e·w
do
mov
im
entO do dcslocame
nr
o
à ' liberdade'. Como devcm
os entender .1 nawrcza d ~ : s s a a d e ~
Você se d is
tancia
muito
clarame
nt
e
de
o
mr as
ab
ord
ag
c.:n
s q
ue t:
nfarizam a ' l
ib
erdade
de um
sujeitO dor;.•do
de
idenrid.ldt·
po
siriva'
fvew
n : J l ~ c t i o n s
on rhe
revolwion o ou r
rime V ~ : r s o 1990, p. 60 , .t rgum<.:nrando que a
li berdad
e a
qui s<.:
refc.:re a uma
'f:tlha ~ : s r r u w r
A<>
sim .
,,
liberdade n:io possui contd1do positivo, mas
é
um a
'm
era possibilidade'. Co ntudo, vista d e ~ d t . : a p e r ~ p e c t i v a do desl
ocamento. não
h:í
Ji
bc.:
nladt:
algum
a aqui. A 11lha da esr nuura <.:nt con sriruir plename
nt
e o sujeiro
forç.1 o sujei
to
a ser s
ujciw.
a romJr um.1 decisão, a agir, a se id
emificar de
no vo.
Nós
temos
qu
e respon
der
.
não somos
livres. Parece,
po
rranc
o, qu
e a relação des
l
ocarn
en rollib
er
dade poderia ser
ma is pro du
tiv
amen t
e pens
ad
a e
nf
a
tiza ndo
-se
t:tnro a
di
m
ensão da
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de
sua
impossib
ilid
ade.
Q uer
diz
e
r,
<
fll vc·t de sim plesme
nt
e rc.:r liberda
de
para agir, escolher,
num
senrido sarrreano,
o
momento da
liberdade e
da
possibilidade
é
simultaneamente o
mo
me
nto de
minha maior res
tr
ição; da
nã
o
li
berdade. Levar
em
c
onta
es
ta última dimensã
o
po
de
ri
a - para
vo
ltar à nossa s
itu
ação
co ntempo
rân
e a -
aju
da
r a fazer se
ntido
da
cxperic;ncia
de
desloca m
ento como
n
ão
sen
do ipso
focro
al
go
positivo e d igno
de
cc
l<.:bração
. Em
ou r
ras pal
av ra
s, v
oe.::
c o n c o : : ~ r qu
e e
nf
à rizar o rerror e a força
no
; \ r n a
da libcr
dade
t
em que
ser parte
de
no
ssa
própria
abo
r
dagem
das
po
ssi
bilidades
que
se orig
inam num
deslocame
nto profundo?
E.L:
Eu
não
pode
ri a estar mai s
de
acordo com sua conclusão. Co mo vocês con
vincen
te
mente ressaltam , a e
xp
eriência do deslocamento não é
ipso foc
to 'algo
positivo e
di
g
no
de celebração'.
Ma
s isso também significa que, se a libe
rdad
e e
o deslocam ento est
ão
relacio
nados da
forma como sugeri - o qu e vocês parecem
aceitar - , en do a
própri
a experiência
da
liberdade
é ambígua.
Por essa razão,
emb ora como cu disse, eu con
corde
com sua co nclusão, n
ão
posso os seg
uir
nas
eta
pa
s inte
rm
ediárias de sua argumentação,
qu
ando vocês
afirm
am que, por
q
ue
a fa lha da es
trutura
'fo rça o suj eito a s er sujeito' ,
quan do
so
mos fo
rç
ad
os a
7/27/2019 LACLAU Da Emancipação a Liberdade
http://slidepdf.com/reader/full/laclau-da-emancipacao-a-liberdade 15/15
responder, não
so
mos livres. Se ass
im
o fora. cerramence estaríamos no
mdhor
dos
mund
os possíveis: o v ilão da história seria o 'dcsl
oc
amcnro
',
e
nquant
o a '
li
berdade', c
omo
tota l ausé:l;c ia de limiraçâo. pode ria ser manrida como um valor
positivo
inconraminado. Mas, com o vocês
mc:
smos rec
onhe
cem, e
ss
a solução im
pecáv
el
é
impossível : a liberdade é o deslocarnenro não podc.:m ser separados dessa
maneira. Por um lado, uma liberdade a que o deslo
ca
mento não força a
es
colher
não seria minha liberdade, mas a libcrdade
da
estr u tura
que.:
me construiu como
suje
itO.
Por outro. urna liberdade que é minha liberdade, q ue evita os defeiros
tanto da liberdade espinosiana, reduzida à consciênc ia
da
necessidade, quamo
da liberdade sanreana, de escolher sem ter fundarnencos para fazê-lo. só pode ser
a liberdade de
uma
f llha
es
tru tural - isco é, um d
es
locamc.:nro. Mas, neste caso,
a ambiguidade do des locamento (o que vocês chamam de 'o terror e a força no
âmago da liberdade') conramina a própria liberdade. A liberdade é cão liberra
dora quanco escravizance, revigorante e traumática, capacitadora e desrrur iva.
Nu ma sociedade fra
gm
entada e heterogênea, os espaços da liberdade certamen
te aumentam. M as esse não é um fenômeno uniformc::mente pos itivo, porque
também instala naqueles espaços a ambiguidade da liberdade. Como resultado,
surge a possibilidade de tentativas mais radicais de renunciar à liberdade do que
aquelas
que con
hecemos do passado. e a lib
er
dade
e
o des loca
ment
o cam inh
am
juncos, é no terr
eno
de
uma
liberdade generalizada
que
experiências
co
mo as do
cocalicarismo contemporâneo tornam-se possíveis. Se
é
assim,
is
so s ignifica que
a busca por uma liberdade absolura para o sujeito é o m esmo que uma busca
por um deslocamento irrest rito e a total desintegração do tecido social. Também
significa
que
uma sociedade democrática que se
torn
ou uma ordem social viável
não será uma sociedade inteiramente livre, mas uma que negociou de maneira
específica a dualidade liberdade/niio liberdade.
J
I
I
j
I
j
I
n
versalismo particularismo e a
questão da identidade·
Mu im se fala hoje sobre idenridades sociais, nacionais e po-
líricas. A morre do sujeita , que, não faz muiw temp o , foi o rgu
lhosamente
anunc
iada urbi et orbi
foi
sucedida por um novo e di
fundido interesse nas múltiplas identidades que es tão emergindo
e proliferando no
mund
o conremporâneo. E
ss
es
do
is mov
imentos
não
es
tão, enrrera
nw
, em cão
mar
cado e
dramátic
o contraste entre
si como somos tenta4:>s a crer à primeira vista. T alve1. a morre
do
Sujeito (com S maiúsculo) tenha sido a principal precondição
para esse renovado inreresse na
questão da subjetividade. Talvez
seja a própria impossibilidade de se remeterem as expressões co n
cretas e finitas de uma subjetividade multifacética a um centro
uan
scendenre que permita concentrarmos nossa atenção sobre a
multiplicidade em si. Os gestas fundantes dos anos 1960 ainda
estão conosco, possibilitando as explorações teóricas e políticas
nas quais nos enga
jamos
hoje.
Se, no enca
nt o
, surgiu esse hi
atO
temporal e
mr
e o que se
havia coroado teoricamente concebível e o que efetivamente se
conseguiu, foi porque uma segunda e mais sutil tentação cercou o
Traduzido por Joanildo A. Burity (Durham Unive rsiry). Texto r i g i n l m e r ~ t e
blicado em Ernesto Laclau. Universalismo, parricularismo c a questão da rdenn ·
dade . Revisra Novos Rumos São Paulo, 1993, ano 8, n. 21. Revisto pelo tradutOr
especialmente para esta edição.
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