Lavinia Schuler - Faccini · Eixo 1 – Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia . ......

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Núcleo de Telessaúde Técnico-Científico do Rio Grande do Sul Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS

Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia - PPGEPI Faculdade de Medicina - FAMED

Módulo 2 de 6 Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia

Lavinia Schuler - Faccini

Genéticas

Outras razões

80% das doenças raras são genéticas

No Brasil 2% a 3% do total de nascidos vivos têm alguma anomalia congênita, esta é a segunda causa de mortalidade infantil e é responsável por mais de 1/3 das internações pediátricas. Estima-se minimamente 60.000 novos casos por ano. Consideradas as doenças de manifestação tardia o percentual fica em torno de 5%. Incluem-se entre as anomalias congênitas as condições que, embora a alteração genética esteja presente no nascimento só irão se manifestar mais tarde na vida.

Eixo 1 – Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia

Além das condições detectáveis ao nascimento, este eixo inclui toda anomalia funcional ou estrutural do desenvolvimento do feto, decorrente de fator originado antes do nascimento, seja genético, ambiental ou desconhecido, mesmo quando o defeito não for aparente no recém-nascido e só se manifeste mais tarde (OPAS, 1984). Inclui também doenças neurodegenerativas, bem como qualquer doença genética, em especial as causadas por genes principais ou mendelianos, ou seja, de herança autossômica dominante, autossômica recessiva e ligadas ao cromossomo X.

Eixo 1 – Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia

A. FUNÇÃO DA ATENÇÃO BÁSICA: Cabe à Atenção Básica detectar ou aventar a suspeita de anomalia congênita (isolada ou múltipla) e fazer os encaminhamentos necessários. Em caso de problemas clínicos associados, providenciar os encaminhamentos de acordo com a necessidade. O indivíduo e sua família devem ser acompanhados, preferencialmente, no seu território, pela equipe de atenção básica durante e após o processo de definição diagnóstica.

Eixo 1 – Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia

B. PROCEDIMENTOS DA ATENÇÃO BÁSICA: Na consulta, a anamnese deve ser feita com especial atenção para antecedentes gestacionais e de parto; evolução do desenvolvimento neuropsicomotor; histórico familiar positivo; consanguinidade parental; exposição a agentes físicos, químicos e/ou biológicos; exame físico completo, com realização de antropometria e cuidado para a percepção de sinais dismórficos. Também deve ser feito acompanhamento de rotina na Atenção Básica.

Eixo 1 – Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia

B. PROCEDIMENTOS DA ATENÇÃO BÁSICA:

Ainda cabe à Atenção Básica oferecer consulta médica para avaliação e eventual encaminhamento a Serviço Especializado ou Serviços de Referência em DR, fundamentada em anamnese e exame físico, com coleta dos dados referentes à situação apresentada, podendo incluir: Doença Rara diagnosticada: anamnese completa, com especial atenção à história familiar, exame físico meticuloso, incluindo os aspectos morfológicos;

Eixo 1 – Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia

Eixo 1 – Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia

B. PROCEDIMENTOS DA ATENÇÃO BÁSICA: Ainda cabe à Atenção Básica oferecer consulta médica para avaliação e eventual encaminhamento a Serviço Especializado ou Serviços de Referência em DR, fundamentada em anamnese e exame físico, com coleta dos dados referentes à situação apresentada, podendo incluir: Futura descendência: anamnese completa, com especial atenção à história familiar e presença de consanguinidade. Coletar o máximo de informações sobre os casos que motivaram a consulta, se possível examinando-os ou coletando dados prévios mais objetivos sobre a afecção (exames subsidiários, consultas, relatórios médicos, laudos de exames complementares, especialmente biopsias/necropsias).

Eixo 1 – Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia

B. PROCEDIMENTOS DA ATENÇÃO BÁSICA:

Ainda cabe à Atenção Básica oferecer consulta médica para avaliação e eventual encaminhamento a Serviço Especializado ou Serviços de Referência em DR, fundamentada em anamnese e exame físico, com coleta dos dados referentes à situação apresentada, podendo incluir: Caracterizar adequadamente a consanguinidade: realizar exame físico cuidadoso, considerando a suspeita diagnóstica e o fato de indivíduos de isolados geográficos poderem ter uma maior incidência de doenças raras, necessitando de uma vigília constante da Atenção Básica. Gestações de risco: anamnese completa, história familiar, laudos de ultrassons e outros exames complementares;

Eixo 1 – Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia

B. PROCEDIMENTOS DA ATENÇÃO BÁSICA:

Ainda cabe à Atenção Básica oferecer consulta médica para avaliação e eventual encaminhamento a Serviço Especializado ou Serviços de Referência em DR, fundamentada em anamnese e exame físico, com coleta dos dados referentes à situação apresentada, podendo incluir: Doença Rara diagnosticada: anamnese completa, com especial atenção à história familiar, exame físico meticuloso, incluindo os aspectos morfológicos;

Eixo 1 – Anomalias Congênitas ou de Manifestação Tardia

B. PROCEDIMENTOS DA ATENÇÃO BÁSICA: Ainda cabe à Atenção Básica encaminhar e referenciar de forma regulada o paciente com anomalia congênita isolada ou com anomalias congênitas múltiplas a Serviços de Atenção Especializada ou Serviços de Referência em DR, com relatório clínico resumido. Independentemente do diagnóstico etiológico, em caso de deficiências físicas múltiplas ou isoladas, de atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, cumpre encaminhar para terapias de apoio no CER.

A Genética na Atenção Básica

Motivos comuns de encaminhamento para avaliação genética • Malformações congênitas;

• História familiar de doença genética;

• Abortos de repetição ou infertilidade ;

• Diagnóstico pré-natal para idade materna avançada;

• Consanguinidade;

• Exposição a drogas, fármacos ou teratógenos reconhecidos;

• Diagnóstico recente de doença genética;

• Avaliação de predisposição genética (teste genético preditivo);

• Acompanhamento após teste positivo para doença genética (p. ex. teste do pezinho);

• Dúvidas sobre componente genético de condições médicas comuns.

A Genética na Atenção Básica

IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO GENÉTICA DETALHADA O diagnóstico preciso é a primeira e mais importante etapa do cuidado do paciente. Todas as informações posteriores que serão transmitidas ao paciente e sua família serão relacionadas a um diagnóstico específico.

Qual é o diferencial do diagnóstico de uma doença genética em relação ao das outras doenças

• Diagnóstico correto; • Tratamento correto; • Informação do risco de recorrência.

Doenças genéticas 1. Alterações cromossômicas

Síndrome de Down

London Hospital Reports, 3:259-262,1866

Doenças genéticas 2. Doenças ocasionadas por um único gene

Monogênicas

Doenças monogênicas Ocasionadas por um único par de genes

Autossômica dominante

• neurofibromatose

Doenças monogênicas Ocasionadas por um único par de genes

Autossômica recessiva

• Osteogenese Imperfeita tipo III

Doencas monogenicas Recessiva ligada ao X

Doenças multifatoriais: Genes + Ambiente

Vários defeitos congênitos

• Lábio leporino

Espinha bífida (meningocele)

Herança não tradicional • Expansão de trinucleotídeos

• Doenças por mutação no DNA mitocondrial

• Imprinting

Aconselhamento Genético

• AG é um processo de comunicação que lida com os problemas humanos associados à ocorrência ou ao risco de ocorrência de uma doença genética em uma família;

• Este processo envolve a participação de pessoas capacitadas apropriadamente, com o objetivo de ajudar o indivíduo ou a família a compreender os aspectos envolvidos, incluindo o diagnóstico, o curso provável da doença e o manejo disponível;

• Ainda, o AG tem o papel de avaliar como a hereditariedade contribui para a doença e o risco de recorrência nos familiares, bem como compreender as opções para lidar com o risco de recorrência;

• O AG também fornece subsídio para escolha do curso de ação que pareça apropriado à família, em função dos seus riscos e objetivos; a agir de acordo com sua decisão e a adaptar-se à doença da melhor maneira possível, considerando-se tanto um membro da família afetado quanto o risco de recorrência daquela doença.

Aconselhamento Genético

AG envolve • a existência prévia ou o estabelecimento de diagnóstico

de determinada doença; • a interpretação de achados e estimativas de riscos

genéticos para pessoas clinicamente normais com familiares que apresentam diagnóstico de doença rara documentada;

• a transmissão das informações relativas à etiologia, à evolução, ao prognóstico e ao risco de recorrência;

• as estratégias de tratamento e prevenção, além de recomendações para acompanhamento e elaboração de relatório final a ser entregue ao consulente.

Aconselhamento Genético

O AG –poderá ser indicado nas seguintes situações: a) Pessoas com doenças genéticas raras previamente

diagnosticadas sem AG e seu familiares; b) Indivíduos, casais e gestantes com questionamento

sobre riscos individuais ou para prole futura em função de doença genética rara (confirmada ou sob suspeita) na família;

c) Gestantes/casais com suspeita de doença genética rara na gestação em curso que ainda não tenham sido encaminhados para o AG.

O AG não é diretivo

É vedado ao profissional que realiza o AG recomendar, sugerir ou indicar condutas às famílias e/ou indivíduos, ou exigir deles alguma postura. As decisões tomadas por esses últimos devem ser absolutamente livres e pessoais, sendo isentas de qualquer influência ou procedimentos externos, por parte de profissionais ou de instituições.

Como se faz um diagnóstico: etapas da avaliação genética

• Reunir informações;

• Estabelecer/verificar o diagnóstico;

• Avaliar o risco;

• Transmitir a informação;

• Acompanhar a médio – longo prazo.

Como se faz um diagnóstico: etapas da avaliação genética

1. REUNIR INFORMAÇÕES

• História dos pais: idade, ocupação, outras gestações, doenças agudas ou crônicas, procedência, etnia;

• História da gravidez: complicações, duração da exposição a um teratógeno;

• História peri-natal: tipo de parto, condições de nascimento, peso, estatura, perímetro cefálico, índice de Apgar, tempo de permanência no hospital e intercorrências;

• Evolução do paciente: saúde, crescimento, desenvolvimento neuropsicomotor, avaliações já realizadas.

Como se faz um diagnóstico: etapas da avaliação genética

1. Reunir informações

Obter a história familiar: heredograma;

Uniformizar a informação dos familiares.

Heredograma

Neurofibromatose

Hipercolesterolemia familiar

Acondroplasia

Doença de Huntington

Doença de Machado-Joseph

• Homens e mulheres afetados em igual proporção e com a mesma probabilidade de transmitir o fenótipo aos seus descendentes;

• Transmissão vertical: RR 50%;

• Penetrância/expressividade/mutação nova.

Autossômica Dominante

Autonomia Recessiva

• Afeta homens e mulheres

em igual proporção;

• Afeta apenas uma geração de uma irmandade;

• Herda-se um alelo mutante de cada genitor (normais);

• Consangüinidade freqüente;

• Risco de recorrência na irmandade é de 25%

O Heredograma é fundamental para definir o modo de herança

Hemofilia A

Daltonismo

Distrofia Muscular de Duchenne

XHXh

XHXh

XHY

XHY

XHY

XHXh

XhY

XHY XhY

XhY

Normal

Afetado • Afeta homens predominantemente;

• Transmissão através de portadora para seus filhos homens;

• Homens afetados não transmitem a doença para seus filhos do sexo masculino;

• Filhas mulheres de afetados são sempre portadoras

Como se faz um diagnóstico: etapas da avaliação genética

2. EXAME FÍSICO

• Medidas antropométricas;

• Malformações maiores;

• Defeitos menores (dismorfias);

• Dermatoglifos;

• Fotografia.

Como se faz um diagnóstico: etapas da avaliação genética

3. A SÍNTESE

• Dados positivos: resumo dos achados importantes da história e exame físico.

• Malformações isoladas ou múltiplas?

• Deficiência intelectual ou alterações neurológicas?

• Existe um padrão característico? Comparação com experiência pessoal ou com a literatura!!!

Como se faz um diagnóstico: etapas da avaliação genética

4. A AVALIAÇÃO COMPLEMENTAR

• Solicitação de avaliação de outros especialistas;

• Exames de imagem (sistema nervoso central, ossos, órgãos internos);

• Exames genéticos:

o Qual exame? (Cariótipo, testes bioquímicos, análise do DNA. aCGH);

o Em qual tecido deve ser realizado? (sangue, pele, líquido amniótico, vilosidade coriônica);

Como se faz um diagnóstico em genética

• Diagnóstico clínico: herança multifatorial, herança desconhecida, algumas heranças mendelianas com gene conhecido mas muitas mutações;

• Exames genéticos: Cariótipo, testes bioquímicos, análise do DNA.

Alterações Cromossômicas

• Déficit de crescimento;

• Deficiência intelectual;

• Sinais dismórficos;

• Malformações de órgãos internos - Cardiopatia congênita.

Etapas da Avaliação Genética

5. A INTERVENÇÃO

• Tratamento

• Aconselhamento genético: etiologia, prognóstico, risco de recorrência, possibilidades de manejo do risco (opções reprodutivas), possibilidade de diagnóstico pré-natal;

• Seguimento: acompanhamento da evolução, complicações, testagem de outros familiares, opções reprodutivas para o afetado.

Exemplo de uma doença com critérios de diagnóstico clínico bem definidos : Neurofibromatose tipo 1

6 ou + manchas café-com-leite (pré-puberes: > 5mm;

pós-puberes: > 15mm); 2 ou + neurofibromas (≥ 1 plexiforme); Efélides axilares ou inguinais; Glioma óptico; 2 ou + nódulos de Lisch; Lesão óssea típica; Familiar de 1o. Grau afetado.

National Institutes of Health Consensus Development Conference Critérios para Neurofibromatose tipo 1 (2 ou mais dos seguintes)

Caso clínico: Menino de 10 anos tem 10 MCCL > 0,5cm diâmetro e um glioma óptico. A família perguta sobre o diagnóstico e o risco de recorrência para outros filhos e para os filhos do menino. Não há outros familiares com achados parecidos. Explicações: - Mutação nova no gene NF1 ? - Expressividade variável ? - Penetrância incompleta ? - Diagnóstico incorreto ? - Paternidade falsa ?

DMD

HLX

DMD

HLX

DMD

HLX

Distrofia Muscular de Duchenne: Ocorrência de um caso isolado de DMD: três explicações possíveis: conseqüências distintas em relação a risco para outros familiares

O menino afetado tem um novo gene mutante

A mãe de um menino afetado é portadora devido a um novo

gene mutante

A mãe e a avó de um menino afetado são

portadoras

A INTERVENÇÃO

• Tratamento;

• Aconselhamento genético: etiologia, prognóstico, risco de recorrência, possibilidades de manejo do risco (opções reprodutivas), possibilidade de diagnóstico pré-natal;

• Seguimento: acompanhamento da evolução, complicações, testagem de outros familiares, opções reprodutivas para o afetado.

Onde informar-se

ORPHANET http://www.orpha.net/consor/cgi-bin/index.php?lng=PT

Alô Genetica: 0800 642 6761 alogenetica@ufrgs.br

OMIM http://www.ncbi.nlm.nih.gov/omim

GeneReviews http://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK1116/

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