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7/25/2019 Lidiane Nascimento Leao2
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CONSIDERAES SOBRE A TICA DO DISCURSO DE JRGEN
HABERMAS
Lidiane Nasciment Le!
RESUMO
O presente artigo uma anlise crtica das objees propostas por Torven Hviid Nielsen
teoria moral e tica de Jrgen Habermas !ara compreender a posi"o de Habermas# no
$ue se re%ere re%le&"o tica e moral# necessrio partir da distin"o entre tr's possveis
usos da ra("o prtica) o uso pragmtico# o uso tico e o uso moral Nesse sentido# a
anlise do artigo concentra*se nas principais caractersticas da tica do discurso de
Habermas# com o objetivo de clari%icar +,- o conceito de moralidade e a rela"o entre
justia# direito e solidariedade. +/- a %undamenta"o dada por Habermas sua tica do
discurso em termos de pragmtica universal. e por %im# +0- apresentar a distin"o entre
moral e tica no conte&to da rela"o entre sistema e mundo da vida
"ALA#RAS CHA#ES
1T234. 5O647. J89T2:4. ;26 and et=ics o% Jrgen Habermas To understand t=e position
o% Habermas# in ?=ic= et=ics and moral re%ers to t=e re%lection# it is necessar> to leave
%rom t=e distinction bet?een t=ree possible uses o% t=e practical reason) t=e pragmatic
use# t=e et=ical use and t=e moral use 2n t=is sense# t=e anal>sis o% t=e article isconcentrated in t=e main c=aracteristics o% t=e et=ics o% t=e discourse o% Habermas# ?it=
t=e objective to clari%> +,- t=e concept o% moralit> and t=e relation bet?een justice# rig=t
and solidarit>. +/- t=e recital given b> Habermas to =is et=ics o% t=e discourse in terms o%
universal pragmatic. and %inall># +0- moral and et=ics present t=e distinction bet?een in
t=e conte&t o% t=e relation bet?een s>stem and ?orld o% t=e li%e
@5estranda no !rograma de !As*Bradua"o em ;ireito da 8niversidade Cederal do !ar D 8C!4 na lin=ade pes$uisa E3onstitucionalismo# ;emocracia e ;ireitos =umanosF e rea de concentra"o E!rote"o
Judicial dos ;ireitos CundamentaisF# bolsista 34!
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$E%&ORDS
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n"o com uma simples solu"o# mas a mel=or solu"o# a$uela $ue resultado do
consentimento de todos os concernidos 9ua maior relevQncia est# indubitavelmente# em
pretender o %im da arbitrariedade e da coer"o nas $uestes $ue circundam toda a
comunidade# propondo uma maneira de =aver uma participa"o mais ativa e igualitria
de todos os cidad"o nos litgios $ue os envolvem e# concomitantemente# obter a t"o
almejada justia
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estruturalista da ra("o. a isto Habermas respondeu com o conceito de racionalidade
comunicativa
!or sua ve(# noDiscurso filosfico da modernidadeHabermas tratou de mostrar
$ue o pensamento ajustado idia de Erepresenta"oF pode ser dissolvido por algo
distinto $ue o derrotismo dos desconstrutivistas ou o conte&tualismo dos
neoaristotlicos
4 partir de uma autocrtica intersubjetiva da ra("o o %ilAso%o alem"o respondeu a
Eboa conjunturaF +$ue por certo n"o deve ser considerada por cima de toda suspeita- $ue
=oje go(a a tica %ilosA%ica# e investigou assuntos $ue o =aviam interessado desde
sempre em cone&"o com a tica comunicativa de 5ead !ortanto# a tica do discurso
conecta*se como j sucedia em 5ead# com instituies da teoria moral Iantiana semassumir suas premissas individualistas
;iante disso# observa*se $ue n"o =ouve uma Eevolu"oF ou Etransi"oF das
idias =abermasianas de $uestes sociolAgicas para $uestes de tica %ilosA%ica Na
verdade# o $ue se percebe um %ilAso%o $ue n"o parou no tempo e $ue se dispe a
dialogar diante das $uestes $ue l=e s"o postas pelas di%erentes circunstQncias =istAricas
/ JUSTIA1 DIREITO1 SOLIDARIEDADE E OS DILEMAS DA TICADISCURSI#A
4 tica do discurso re%ere*se a situaes especi%icamente modernas +assim como
tambm a Teoria da ao comunicativae oDiscurso filosfico da modernidade- Nesse
sentido# Habermas de%ende a ilustra"o/e a modernidade contra o tradicionalismo# por
um lado# e contra o pAs*modernismo# por outro
3omo sugere a classi%ica"o de pretenses de validade $ue se esboar no tApico
seguinte# o carter cognitivista da tica do discurso demanda uma separa"o radical entre
$uestes de ordem normativa e $uestes de ordem valorativa 9omadas s preocupaes
deontolAgicas# %ormalistas e universalistas# tambm presentes na tica discursiva# estas
caractersticas0 %a(em com $ue sua ar$uitetura conceitual ten=a como implica"o a
e&clus"o de $uestes de ordem valorativa do campo de interesses da %iloso%ia moral# ou
do objeto de pes$uisa de uma sociologia da moral 6estringindo o seu %oco de interesse
es%era normativa# a tica do discurso o%erece uma compreens"o estrita ou mnima da
tica# limitando como seu objeto central) a justia ;esse modo# a tica do discurso
/9obre a organi(a"o da ilustra"o# 3% H4L
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e&clui a orienta"o tradicional da teoria moral para o bem ou a %elicidade +ou para uma
combina"o de ambos-
re#
incompatvel com as condies da vida moderna No entanto# observa*se $ue Nielsencomete um e$uvoco# pois a solu"o proposta por Habermas para o perigo em $ue se
encontram todas as morais tradicionais e substanciais n"o um retorno s virtudes
tradicionais como prope 5c2nt>re
3om e%eito# Habermas v' na obra Tras la virtudduas debilidades !or uma parte#
5ac2nt>re pe as coisas muito %ceis) ao eleger como alvo a teoria de 4 Be?irt= est
escol=endo um e&emplo atpico# bem %cil de criticar# de posi"o universalista# em lugar
de dialogar com 6a?ls# ;?orIin ou 4pel!or outro lado# ao recorrer ao conceito aristotlico de pr&is# 5c2nt>re se v' em
apuros diante do pluralismo# inevitvel na modernidade# de diversas %ormas de vida
todas elas igualmente legtimas 5c2nt>re busca e&trair o e$uivalente de algo $ue
4ristAteles podia considerar Abvio) com o $ue cabe substituir operaltemeta%sico de $ue
em 4ristAteles objeto apoliscomo %orma e&emplar de vida na $ual os =omens# e# por
certo# todos os =omens $ue n"o sejam escravos ou brbaros# podem reali(ar o telosde
uma vida boaV4 isto Habermas responde $ue e&atamente por$ue na modernidade a %iloso%ia j
n"o $uem pr*julga a pluralidade e multiplicidade de projetos individuais de vida e de
%ormas de vida coletivas. justamente por$ue o modo de viver permanece inteiramente
nas m"os dos indivduos sociali(ados e somente pode ser %eito julgamento a partir da
perspectiva do participante. precisamente por isso# a$uilo $ue poderia convencer a todos
se retrai e redu( aoprocedimentode %orma"o racional da vontade comum
4lm do mais# Habermas rejeita a orienta"o tradicionalista e restringe sua tica
$uest"o da justia# por$ue nas condies modernas de vida nen=uma das tradies $ue
competem entre si podeprima faciepretender possuir uma validade geral T"o pouco
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nas $uestes praticamente relevantes se pode# portanto# basear as ra(es $ue podem
resultar convincentes na autoridade de tradies in$uestionadasU No entanto# se se
deseja decidir as $uestes normativas $ue estabelecem a conviv'ncia elementar# n"o por
meio da viol'ncia direta ou velada# por meio da press"o# da in%lu'ncia# ou do poder dos
interesses mais %ortes# sen"o mediante a convic"o sem viol'ncia# obtida sobre a base de
um acordo racionalmente motivado# ent"o se ter de concentrar a decis"o no crculo de
$uestes $ue resultam acessveis a um julgamento imparcial
Nessa lin=a# Habermas a%irma $ue n"o se pode esperar uma resposta vinculante
para todos ao se perguntar o $ue bom para mim# ou bom para nAs ou para ele
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Iantianas e das correspondentes es%eras de valor# de sorte $ue as $uestes de justia sA
podem ser tratadas sob um e o mesmo aspectoV
Yue uma norma seja justa ou redunde em interesses de todos n"o signi%ica outra
coisa sen"o $ue a norma merece recon=ecimento ou vlida ;essa %orma# para
Habermas a justia n"o nada material# n"o um EvalorF# sen"o uma dimens"o de
valide( 4ssim como as oraes descritivas podem ser verdadeiras# ou seja# e&pressar o
$ue o caso# assim as oraes normativas podem ser corretas +richtig- e e&pressar o $ue
se deve %a(er !orm a um nvel distinto est"o os di%erentes princpios e normas# $ue t'm
um contedo espec%ico# independentemente de $ue sejam vlidos ou n"o
!or e&emplo# e&istem diversos princpios de justia distributiva 9"o os
princpios materiais de justia como Ea cada um segundo suas necessidadesF ou Ea cadaum segundo seu rendimentoF ou Ea cada um uma parte igualF J# os princpios relativos
igualdade de direitos# $uais sejam os princpios de igual respeito por todos# do igual
trato $ue a todos se deve# o de igualdade na aplica"o das leis# se re%erem outra classe
de problemas Neste caso# Habermas entende $ue n"o se trata da distribui"o de bens e
servios# sen"o do asseguramento de liberdades e intangibilidades
4ssim# todos estes princpios de justia podem %undamentar*se desde o ponto de
vista da universali(a"o e pretender valide(prima facie !orm# somente atentando aoscasos concretos poder decidir*se qualdestes princpios# $ue podem competir entre si#
resulta o ade$uado em cadaconte&to concreto vem asigni%icar# por um lado# uma sistemati(a"o e reinterpreta"o da teoria do discurso prtico =abermasiana e#
por outro lado# uma e&tens"o dessa tese ao campo espec%ico do ;ireito !ara uma e&posi"o maisdetal=ada da in%lu'ncia da teoria do discurso de Habermas na %ormula"o da teoria da argumenta"o
jurdica de 4le&># 3% 4T2
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relaes sociais# n"o roles %i&os# e deriva das $uestes morais de interesses em con%lito e
n"o de um c=o$ue de direitos
!ara demonstrar como essas provveis di%erenas se subsumem sob um conceito
%ormal de justia# Habermas trata em paralelo os dois primeiros e os dois ltimos pontos
de vistas esboados por Nielsen Nesse sentido# a%irma $ue a impress"o de $ue ticas
deontolAgicas como a Iantiana obrigam a passar por alto ao outro concreto e sua
situa"o particular somente surge por uma concentra"o unilateral em $uestes de
%undamenta"o# a $ual evitvel 3om isto se perde de vista a problemtica espec%ica
da aplica"o 4 constela"o nica ane&ada a cada caso concreto necessitado de decis"o#
os traos concretos das pessoas implicadas# somente entram em jogo depois de restados
resolvidos os problemas de %undamenta"oR Ou seja# preciso primeiro se preocupar em%undamentar para depois resolver os problemas de aplica"o
!ara Habermas a ra("o prtica em absoluto sA pode se %a(er valer por inteiro em
discursos de %undamenta"o 4inda $ue a %undamenta"o de normas da ra("o prtica se
e&presse no princpio de universali(a"o# no caso de aplica"o de normas somente se
impe o princpio de ade$ua"o < $uando se t'm presentes# a complementaridade da
%undamenta"o e da aplica"o# ent"o# se v' como a tica do discurso pode dar conta
dessas reservas $ue Nielsen compartil=a com 3arol Biligan e com 9=e>la Len=abib!osto isso# Habermas passa a segunda obje"o de $ue as ticas deontolAgicas
somente se concentram nos direitos# e n"o nas necessidades# e de $ue %rente aos aspectos
de rol institucionalmente %i&ados passam por alto as relaes de pertin'ncia a grupos
!ara o sociAlogo alem"o $uando em uma retrospec"o de tipo =istArico se
considera o individualismo da tradi"o Iantiana# tal reserva est justi%icada. porm ele
n"o cr' $ue isso a%ete a tica do discurso 2sto por$ue# esta adota o delineamento
intersubjetivista do pragmatismo e entende o discurso prtico como uma prtica pblicade recproca assun"o comum de perspectivas) cada um se v' obrigado a adotar a
perspectiva de $ual$uer outro com o %im de e&aminar se uma regula"o tambm
aceitvel desde a perspectiva da compreens"o $ue de si e do mundo tem $ual$uer outro
Nesse caso# a justia e a solidariedade s"o as duas caras de uma mesma moeda#
por$ue o discurso prtico# por um lado# dei&a a aceita"o ou rec=ao da proposta de $ue
R E!or isso# os discursos de %undamenta"o e de aplica"o precisam abrir*se tambm para o usopragmtico e# especialmente# para o uso tico*poltico da ra("o prtica T"o logo uma %undamenta"o
racional coletiva da vontade passa a visar programas jurdicos concretos# ela precisa ultrapassar as%ronteiras dos discursos da justia e incluir problemas do auto*entendimento e da compensa"o deinteressesF H4L
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se trate em m"os de cada um# e neste sentido da ra("o da compreens"o individualista da
igualdade de direitos. por outra parte# no discurso permanece intacto esse lao social $ue
impele a todos os participantes na argumenta"o a tornarem*se conscientes de sua
pertin'ncia a uma comunidade ilimitada de comunica"o 9omente $uando est
assegurada a consist'ncia da comunidade de comunica"o $ue# com a assun"o ideal de
rol# e&ige de todos $ue se pon=am empaticamente no lugar de cada um olvidando de si
mesmo# podem reprodu(ir*se essas relaes de recon=ecimento recproco sem as $uais
tambm a identidade de cada indivduo tenderia por acabar se desmoronando
!ortanto# a proposta de Habermas para a incorpora"o da dimens"o valorativa no
campo de preocupaes da tica discursiva se d atravs do recon=ecimento do carter
constitutivo do princpio de solidariedade# ao lado do princpio dejustia# na de%ini"odos problemas de ordem moral 2nspirado nas idias de 5ead# Habermas c=ama a
aten"o para a importQncia do engajamento do ser =umano em processos de sociali(a"o
como condi"o para a individua"o# ou para $ue ten=a incio e se desenvolva o processo
de %orma"o da pessoa[indivduo 1 atravs deste processo $ue a identidade
constituda# e esta estaria marcada por %ragilidades e inseguranas crXnicas cuja
suavi(a"o seria uma tare%a precpua da moralidade ;esse modo# a moralidade atuaria
em dois planos) +,- na postula"o do respeito igualdade de direitos entre todos osindivduos e[ou# na modernidade# no respeito liberdade subjetiva da individualidade
inalienvel# vinculado ao princpio dejustia. e# +/- na prote"o da Erede de relaes
intersubjetivas de recon=ecimento mtuo atravs das $uais os indivduos sobrevivem
como membros de uma comunidadeF# onde compartil=am o mesmo mundo da vida e os
mesmos valores# e $ue est vinculado ao princpio de solidariedade
4pAs abordar a rela"o entre justia e solidariedade# Habermas apresenta o seu
entendimento a respeito da separa"o entre moral e direito Nesse ponto# Nielsen$uestiona) deve*se entender a moral e o direito na modernidade somente como duas
%ormas distintas de institucionali(a"o de procedimentos $ue servem a um mesmo
propAsitoV
;e acordo com Habermas# o direito positivo e a moral pAs*convencional se
complementam mutuamente e recobrem a eticidade tradicional 4 partir de um ponto de
vista normativo n"o di%cil entender a necessidade de complementa"o $ue tem as
normas morais %undamentadas em termos universalistas 8ma norma $ue resiste o teste
da universali(a"o# somente merece recon=ecimento geral sob o pressuposto de $ue
tambm# %aticamente# seja seguida por todos 1 justamente esta condi"o $ue uma moral
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re%le&iva# isto # uma moral $ue =aja rompido com as auto*evid'ncias prAprias da
eticidade concreta# n"o pode garantir*se por si sA 4ssim# s"o as prAprias premissas do
e&igente modo de %undamenta"o $ue caracteri(a uma moral pAs*convencional $ue
comeam gerando um problema de e&igibilidade) a observQncia de uma norma vlida
somente pode esperar*se de algum $ue possa estar seguro de $ue tambm todos os
demais observem a norma
!orm# em ant e no primeiro liberalismo prevalece uma idia do imprio da lei#
$ue sugere $ue mesmo o ordenamento jurdico de nature(a e&clusivamente moral# o
$ue# em todo caso# n"o mais $ue uma %orma de implementa"o da moral !ara
Habermas# esta assimila"o do direito moral errXnea 3om o elemento poltico do
direito entram em jogo momentos de nature(a completamente distinta Nem todas asmatrias $ue precisam de# e s"o acessveis a# uma regula"o jurdica s"o do tipo moral \
4inda $uando a atividade legislativa se =ouvesse apro&imado o su%iciente das condies
ideais de uma %orma"o discursiva da opini"o e vontade comuns# as decises do
legislador n"o poderiam basear*se somente em ra(es morais# e muito menos as de um
legislador ligado s condies do
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o direito se baste com a legalidade do comportamento# isto # com um comportamento de
acordo com as normas-. e# na e&pectativa normativa de $ue o sistema jurdico em
conjunto merea recon=ecimento por contar a seu %avor com boas ra(es internas +da
$ue o direito tem de %a(er possvel em todo momento algo mais $ue a legalidade# isto #
uma obedi'ncia baseada na convic"o de $ue o ordenamento jurdico legtimo-
= O UNI#ERSO DA MORALIDADE E A >UNDAMENTA'O DA TICA DODISCURSO
4 tica do discurso tem como objeto primordial o universo da moralidade# em
sentido antiano# e# como tal# se orienta por uma delimita"o precisa de seu raio de
a"o ;iante disso# Nielsen concentra seus $uestionamentos sobre o tema da%undamenta"o $ue Habermas %a( da tica do discurso em termos de pragmtica %ormal
e# em especial# ao desenvolvimento $ue o %ilAso%o alem"o submete a anlise $ue %a(
Toulmin em The "ses of Argument# os Ejogos de linguagemF de Sittgenstein e a
Egramtica universalF de 3=omsI> para obter uma pragmtica %ormal
Nesse sentido# Nielsen pergunta se todo esse conceito de pragmtica %ormal n"o
%oi em de%initivo obtido de uma m generali(a"o de e&emplos das %amlias de lnguas
indoeuropias 9egundo o entrevistador# L 7ee S=or% comparou o standard average
europeancom lnguas n"o europias e encontrou $ue# nessas lnguas# coisas t"o centrais
como# primeiro# a %un"o dos verbos# segundo# a estrutura dos tempos e# terceiro# a
rela"o gramatical de sujeito e predicado s"o em princpio bem distintas das
caractersticas $ue o %ilAso%o alem"o tem por universais !ara Nielsen# parece e&istir toda
uma gama de dados lingsticos $ue pem em $uest"o ou re%utam inclusive a idia de
uma pragmtica %ormal
3ontra essa obje"o# Habermas a%irma $ue a =ipAtese de 9apir*S=or% %oi
detal=adamente discutida nos anos cin$enta com resultados negativos em conjunto
!ara o %ilAso%o Abvio $ue as estruturas super%iciais das distintas lnguas particulares
podem divergir pro%undamente entre si# sem $ue isso seja Abice para uma concordQncia
na estrutura semQntica bsica das oraes assertAricas simples ou na estrutura
pragmtica bsica da situa"o de %ala +por e&emplo# pronomes pessoais# e&presses
ind&icas de espao e tempo-
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conceitos de segunda ordem e outras n"o
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em $ue o ordenamento do Emundo socialF n"o pode ser constitudo Eindependentemente
de toda a validadeF e# portanto# reivindica uma valide( anterior at mesmo
proclama"o das normas em $uest"o,P
5as# este substrato social caracterstico da idia de valide( ou corre"o
normativa tem implicaes signi%icativas para uma teoria moral $ue se pretende
cognitivista !ois# se se pretende separar as normas vlidas da$uelas $ue n"o o s"o# se
%a( necessrio desenvolver uma no"o de validade distinta da idia de vig'ncia social,,
!ara Habermas# ao passo $ue entre os estados de coisas e&istentes e os
enunciados verdadeiros e&iste uma rela"o unvoca# a e&ist'ncia ou valide( social das
normas n"o $uer di(er nada ainda acerca da $uest"o se estas tambm s"o vlidas Temos
$ue distinguir entre o %ato social do recon=ecimento intersubjetivo e o %ato de umanorma ser digna de recon=ecimento !ode =aver boas ra(es para considerar como
ilegtima a pretens"o de valide( de uma norma vigente socialmente. e uma norma n"o
precisa# pelo simples %ato de $ue sua pretens"o de valide( poderia ser resgatada
discursivamente# encontrar tambm um recon=ecimento %actual
1 neste ponto $ue a de%ini"o de um princpio de universali(a"o aparece como
um passo essencial para o empreendimento# na medida em $ue atravs dele $ue o
processo de %undamenta"o da di%erena entre vig'ncia social e validade poder serconcreti(ado Neste conte&to# o imperativo categArico Iantiano +Eaja de %orma $ue a
m&ima de sua vontade poderia# ao mesmo tempo# se manter como um princpio para
uma lei universalF- substitudo por um princpio +tico*discursivo- de argumenta"o
moral ];^ e por um princpio de universali(a"o ]8^)
];^ _ Eapenas poder"o manter suas pretenses de validade a$uelas normas $ue
poderiam contar com o consentimento de todos os concernidos em sua capacidade
en$uanto participantes num discurso prticoF2sto # dentro desta perspectiva# em princpio toda norma vlida encontraria o
assentimento de todos os concernidos# se eles tivessem oportunidade de participar de um
discurso prtico
,PEN"o compreendemos a validade de um enunciado normativo no sentido da e&ist'ncia de um estado decoisas. pensamos apenas $ue a norma correspondente# $ue deve reger nossa pr&is# merecerecon=ecimento 8ma norma $ue merece recon=ecimento n"o pode ser desmentida por um ]mundo^ $uerecuse ]jogar junto^F H4L
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]8^ _ E!ara uma norma ser vlida as conse$'ncias intencionais e n"o
intencionais $ue sua observQncia generali(ada tem para os interesses de cada um devem
ser livremente aceitas por todosF
UNDAMENTA'O DA TICA DODISCURSO
Yual ostatusda Esitua"o ideal de %alaFV 1 parcialmente contra%ticaV Ou
parte de uma sociedade %ingida como mundo da vidaV Ou se trata de uma
=ipostati(a"oV Ou como se relacionam entre si estas tr's tesesV ;e acordo com Nielsen#
Habermas se re%ere primeira tese e&pressamente em sua Conscincia moral e ao
comunicativa 4 segunda tese se obtm $uando se considera a tica do discurso como
um desenvolvimento da$uelas tr's %ices mencionadas em Teoria da ao
comunicativa# $ue s"o necessrias $uando se $uer entender a sociedade em conjunto
como mundo da vida 4 terceira tese# %inalmente# atribuda Habermas por Sol%gang
,/Tendo sido derivado da lAgica %ormal# em sentido estrito# o Trilema de 5nc==ausen a%irma $ue astentativas de %undamenta"o %ilosA%ica# ` entendidas a$ui como empreendimentos puramente dedutivos
`# implicariam necessariamente em pelo menos uma de tr's alternativas) +,- no regresso in%inito# +/- numcrculo lAgico# e[ou +0- na decis"o arbitrria de interromper o processo de apresenta"o de ra(es
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9c=luc=ter $ue a%irma $ue a prApria lAgica da argumenta"o $ue o %ilAso%o alem"o
desenvolve comporta $ue a situa"o ideal de %ala se trans%orme de um pressuposto
necessrio da comunica"o em um ideal da realidade# %icando assim =ipostati(ada
7ogo de incio# Habermas dei&a de lado a segunda posi"o por$ue no lugar em
$ue Nielsen indica se trata de uma concep"o do mundo da vida $ue ele mesmo rec=aa
por idealista J# a primeira posi"o di( somente $ue a comunidade ilimitada +no espao
social e no espao =istArico- de comunica"o uma EidiaF +em sentido Iantiano-# e $ue#
portanto# nossas situaes e%etivas de argumenta"o somente podem apro&imar*se
Orientamos*nos em cada ponto do tempo por essa idia $uando nos es%oramos para
$ue# a#se escutem todas as vo(es relevantes# b#possam valer os mel=ores de todos os
argumentos disponveis tendo em conta o estado presente de nosso saber e c#somente acoer"o sem coeres $ue e&ercem os bons argumentos determina as posturas de
a%irma"o ou nega"o dos participantes 9em embargo# de nen=um modo# re%uta
Habermas# E=ipostati(ei a comunidade ilimitada de comunica"o# convertendo*a de uma
suposi"o necessria em um ideal da realidadeF# como disse 9c=luc=ter para%raseando a
Sellmer
;e %ato# o discurso =abermasiano corresponde ao processo de avalia"o crtica de
reivindicaes de validade apresentadas por atores sociais $ue visam ao entendimentomtuo por meio do consenso 4ssim# o pressuposto do discurso a situa"o ideal de
%ala# ou seja# um conte&to livre de domina"o tal $ue permita aos participantes c=egar ao
entendimento mtuo !ortanto# v'*se a$ui um aspecto da teoria =abermasiana $ue
%re$entemente mal compreendido) a situa"o ideal de %ala n"o requisito pr$viopara a
prtica da racionalidade comunicativa e sim um pressuposto assumido pelos
participantes de um discurso aut'ntico
Nesse conte&to# Habermas utili(a EsistemaF e Emundo da vidaF como conceitosde es%eras sociais $ue se distinguem por seus respectivos mecanismos de integra"o# isto
# pelos mecanismos de concatena"o de interaes Nos Qmbitos de a"o Eintegrados
socialmenteF esse encadeamento ou %orma"o de se$'ncias se produ( atravs da
consci'ncia dos atores ou atravs da compreens"o de %undo $ue t'm do mundo da vida#
ao $ual l=es intuitivamente presente. nos Qmbitos de a"o Esistematicamente
integradosF a ordem se estabelece objetivamente# por assim di(er# Epor cima das cabeas
dos participantesF# e isso por via de uma compenetra"o %uncional e de uma
estabili(a"o recproca de conse$'ncias da a"o
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Na temtica acerca da desobedi'ncia civil# Nielsen aponta $ue Habermas tomou
o conceito sist'mico de
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de%initivamente eticidade de moralidade# Habermas retoma o conceito de racionalidade
comunicativa $ue compreende vrios aspectos de validade# n"o somente o moral da
validade deXntica de mandatos e aes ;a $ue a racionalidade de uma %orma de vida
n"o se mede somente pelos conte&tos normativos ou pelos potenciais de motiva"o $ue
E%acilitamF a tradu"o dos ju(os morais pAs*convencionais prtica 9em embargo#
Habermas tem a impress"o de $ue na =ora de decidir sobre o grau de liberalidade de uma
sociedade essencial ter presente em $ue medida os padres de sociali(a"o e as
instituies# a cultura poltica# as tradies $ue garantem a identidade de seus membros#
e as prticas cotidianas# representam uma %orma n"o coativa# n"o autoritria de eticidade
em $ue uma moral autXnoma pode encarnar*se# ou seja# tomar uma %orma concreta
Yuando# adotando a atitude reali(ativa de um teArico moral +ou tambm de umparticipante na argumenta"o- Habermas distingue entre moralidade e eticidade# ele tem
em vista um assunto distinto $ue a$uele $uando no papel de sociAlogo ele compara as
idias morais dos indivduos observados ou o contedo moral de seus princpios
jurdicos com as prticas estabelecidas nessa sociedade# com as %ormas de mani%esta"o
da eticidade concreta !orm# inclusive desta perspectiva sociolAgica as coisas n"o se
apresentam como se# por assim di(er# toda a substQncia normativa se encerrasse nas
cabeas de $uem julga moralmente +ou na letra dos te&tos jurdicos-# isto # %icasseabsorvida e consumida pela moral universalista Naturalmente# tambm a pr&is tica em
$ue %aticamente se tem crescido e a $ue %aticamente se est =abituado# por muito $ue
possa desviar da moral vigente# participa tambm dessa substQncia normativa
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termos de teoria do discurso Bnter mostra $ue o princpio de ade$ua"o# da mesma
%orma $ue o de universali(a"o# %a( valer a imparcialidade no julgamento de $uestes
prticas# possibilitando assim um acordo racionalmente %undado Tambm nos discursos
de aplica"o nos atemos s ra(es $ue n"o somente valem para mim ou para ti# sen"o
$ue em princpio podem valer para $ual$uer um
4inda no campo da aplica"o# Nielsen observa $ue Habermas de%ende o
cognitivismo tico contra os cticos# e dei&a de lado os sentimentos morais !orm estes
entram de novo em jogo# no mais tardar# $uando da aplica"o de normas
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4 este ltimo $uestionamento# Habermas responde de %orma bril=ante) E3reio
$ue a tare%a da %iloso%ia aclarar as condies sob as $uais# as $uestes morais assim
como# as $uestes ticas podem ser respondidas racionalmente pelos prAprios
implicados ;o ponto de vista moral# $ue nos permite ver em comum os interesses
suscetveis de universali(a"o# responde uma decis"o tica por um modo de vida
consciente# $ue a $ue comea dando a uma pessoa ou a um grupo a atitude correta
para# ) lu* de um pro(eto de vida autntico+ assumir criticamente sua prpria biografia
ou as tradi,es configuradoras da identidade grupal !orm# na resposta concreta s
$uestes substanciais de justia ou de uma vida aut'ntica# de uma vida n"o %alida# a
%iloso%ia n"o pode se substituir aos participantes !ode ajudar a evitar con%uses. pode
e&igir $ue n"o se con%undam as $uestes morais com as $uestes ticas# e $ue n"o asresponda a partir de uma perspectiva inade$uada !or isso advogo por uma compreens"o
estreita# asctica# da teoria moral e inclusive da tica# para dei&ar espao para uma teoria
crtica da sociedadeF,U
CONSIDERAES >INAIS
4pAs a anlise crtica das idias e conceitos principais presentes na entrevista $ue
Jrgen Habermas concedeu a Torven Hviid Nielsen# cujo objetivo era tra(er para a
re%le&"o o carter dialAgico da tica e da moral presente na teoria =abermasiana# conclui*
se $ue s"o relevantes as contribuies de Habermas para a %iloso%ia contemporQnea# seja
no Qmbito da linguagem# da tica ou do direito
3om e%eito# o debate encerra uma srie de desa%ios e possibilidades para se
compreender a posi"o de Habermas no $ue se re%ere re%le&"o tica e moral
Observou*se $ue $uando Habermas %ala em consci'ncia moral e agir comunicativo
re%ere*se s $uestes relacionadas com o carter dialAgico da moral $ue abrangeconceitos elementares# como) o princpio de universali(a"o# a tica do discurso e a
teoria do desenvolvimento da consci'ncia moral Nesse sentido# o princpio de
universali(a"o# segundo Habermas# %undamenta a tica do discurso ;essa %orma# o
princpio de universali(a"o# uma ve( $ue integra uma rela"o de %ala# poder
possibilitar a $uem participar de uma argumenta"o# c=egar aos mesmos ju(os sobre a
aceitabilidade de normas de a"o
,UH4L
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Nesse sentido# a tica de discurso surge como uma teoria da linguagem# com
carter moral# capa( de potenciali(ar os processos de comunica"o 4ssim# em
Habermas# a teoria moral a teoria da a"o# do discurso prtico ;a a importQncia de se
estabelecer certos pressupostos pragmticos de argumenta"o# capa(es de garantir $ue
todos possuam igual direito e oportunidade no uso da palavra# n"o podendo =aver
distor"o resultante de di%erenas de poder e in%lu'ncia# ressaltando*se a importQncia do
=bito de ir ao %undo das $uestes 4gir# por ve(es perigoso# mas a a"o a ess'ncia
da vida
Observou*se tambm $ue Habermas prope duas abordagens teAricas possveis
sociedade) o sistema e o mundo da vida 9istema re%ere*se denominada ]reprodu"o
material^# regida pela lAgica instrumental +ade$ua"o de meios a %ins- 5undo da vidare%ere*se ]reprodu"o simbAlica^# ou seja# da rede de signi%icados $ue compem
determinada vis"o de mundo# aten=am eles aos %atos objetivos# s normas sociais ou aos
contedos subjetivos Nesse conte&to# con=ecido o diagnAstico =abermasiano da
coloni(a"o do mundo da vida pelo sistema * a crescente instrumentali(a"o
desencadeada pela modernidade# sobretudo com o surgimento do direito positivo# $ue
reserva o debate normativo aos tcnicos e especialistas
4nte todo o e&posto# conclui*se $ue =odiernamente a teoria tica e moral deHabermas apresenta*se como um procedimento vivel para a concreti(a"o de um
projeto de vida aut'ntico e consciente 4inda $ue a teoria =abermasiana esteja sujeita
crtica de estar limitada ao conte&to das sociedades de Lem*
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A tica da Disc-ss! e a :-est! da #e.dade 9"o !aulo) 5artins Contes#
/PPU
Di.eit e Demc.acia; ent.e 5acticidade e (a*idade Mol , / ed Trad de
Clvio Leno 9iebeneic=ler 6io de Janeiro) Tempo Lrasileiro# /PP0
#e.dade e J-sti5ica6!; ensais 5i*s)5ics 9"o !aulo) ola# /PPU
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